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Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de
Apoio Deciso.
Instituto de Altos Estudos Militares
Lisboa, 30 de Outubro de 2003
i
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
RESUMO
Este trabalho representa o resultado de uma reflexo sobre o tema da gesto do risco. O seu
objectivo consiste em fazer uma anlise da integrao da gesto do risco no processo de tomada
de deciso, contribuindo para o levantamento das necessidades que se colocam sua eventual
aplicao a todos os sectores de actividade do Exrcito.
Com uma abordagem em que aceitamos o desafio de combinar os conhecimentos do
comportamento humano com os da teoria da deciso, procuramos demonstrar a importncia da
anlise de risco como ferramenta de apoio tomada de deciso e dar resposta questo central
por ns levantada.
De uma forma simples, a gesto do risco apresentada como um processo racional e
estruturado de apoio tomada de deciso, usado em todos os nveis e actividades da organizao,
com a finalidade de reduzir e controlar os riscos que se colocam a uma determinada misso,
permitindo que esta possa ser cumprida com um mnimo de perdas ou danos.
Pareceu-nos lgico adoptar uma aproximao sociocognitiva para descrever o processo de
gesto do risco, partindo da ideia bsica de risco, da sua percepo e da sua aceitao. Esta
aproximao incluiu factores diversificados, de nvel organizacional e cultural para a definio
do problema, de contexto e da personalidade do decisor para avaliao e aceitao do risco.
Procuramos tambm salientar que a gesto de risco , para alm da competncia tcnica, uma
qualidade humana e, para alm de um saber-fazer, um saber-estar.
De seguida, com o intuito de identificar as estruturas e metodologias de gesto do risco
utilizadas noutras organizaes, estudmos os modelos de gesto de risco do Exrcito dos
Estados Unidos da Amrica e da Fora Area Portuguesa.
Conscientes que o critrio mais importante da demarcao cientfica a objectivao, e de
maneira a obter a percepo o mais correcta possvel dos factos e do seu contexto, aplicmos um
inqurito para analisar o estado da arte da gesto do risco no Exrcito Portugus.
Conclumos que para alm da necessria uniformizao da terminologia e das definies
associadas gesto do risco, so necessrias medidas que possibilitem a organizao de uma
estrutura de suporte que sirva de apoio aos decisores militares, bem como a difuso de uma
metodologia adequada.
ii
Risk Analysis: A Support Tool for Decision-Making.
ABSTRACT
This project is the result of a study on the subject of risk management. Its objective is to
analyse the incorporation of risk management in the decision-making process, thus contributing
towards an overview of the needs related to its possible application in all sectors of Army
activity.
We have accepted the risk of adopting an approach which combines knowledge from the
fields of both human behaviour and decision theory, and have sought to demonstrate the
importance of risk assessment as a support tool for decision-making, as well as to provide an
answer for the main issue raised by ourselves.
Put simply, risk management is presented as a rational and structured support process for
decision-making, and is used at all levels and in all activities of the organisation, in order to
minimise and control risks related to a certain mission, thus allowing said mission to be
accomplished with minimum loss or damage.
It seemed logical to adopt a sociocognitive approach to describe the risk management
process, centred on the basic idea of risk, its perception and acceptance. This approach includes
organisational and cultural factors in problem definition, as well as factors related to context and
to the personality of the decision-maker for the evaluation and acceptance of the risk. We have
also sought to emphasise that, besides being a technical skill, risk management is also a human
quality, and that in addition to know-how, it is also knowing-how-to-be.
Subsequently, with the aim of identifying risk management structures and methodologies
used in other organisations, we studied risk management models in both the United States
Army and the Portuguese Air Force.
Aware that objectivation is the most important criterion in scientific demarcation, and in
order to obtain as accurate an understanding as possible of the facts and respective context, we
carried out a survey to analyse the art of risk management in the Portuguese Army.
We concluded that, apart from the necessary standardisation of terminology and definitions
associated to risk management, it is also necessary to implement measures that allow for the
diffusion of risk management methodology, as well as the organisation of a support structure for
military decision-makers.
iii
Analyse du Risque: Un Outil Dappui la Dcision.
RSUM
Ce travail reprsente le rsultat dune rflexion sur le thme de la gestion du risque. Son
objectif consiste faire une analyse dintgration de la gestion du risque dans le processus de
prise de dcision pour les besoins qui se posent sur son ventuelle application tous les secteurs
dactivit de larme.
Comme un abordage o nous acceptons le risque de concilier les connaissances du
comportement humain avec celles de la thorie de la dcision, nous cherchons dmontrer
limportance de lanalyse de risque comme un outil dappui la prise de dcision et donner une
rponse la question centrale que nous avons pose.
Dune forme simple, la gestion du risque est prsente comme un procd rationnel et
structur dappui la prise de dcision, utilis tous les niveaux et par toutes les activits de
lorganisation dans le but de contrler les risques qui se prsentent face une mission,
permettant que celle-ci puisse tre accomplie avec un minimum de pertes et de dommages.
Il nous a paru logique dadopter une approximation sociocognitive pour dcrire le
processus de gestion de risque, partant de lide de base de risque, de sa perception et de son
acceptation. Cette approximation inclut des facteurs organisationnels et de culture pour la
dfinition du problme et les facteurs du contexte et de la personnalit du dcideur pour
lvaluation et lacceptation du risque. Nous cherchons aussi mettre en vidence que la gestion
de risque est, au-del de la comptence technique, une qualit humaine et plus quun savoir-faire,
cest un savoir-tre.
Ensuite, dans le but didentifier les structures et les mthodologies de gestion du risque
utilises dans dautres organisations, nous avons tudi les modles de gestion de risque de
lArme des tats-Unis dAmrique et de lArme de lAir Portugaise.
Conscients que le critre le plus important de la dmarcation scientifique est lobjectivation
et de manire obtenir la perception la plus correcte possible des faits et de leur contexte, nous
avons instaur une enqute pour analyser ltat de lart de la gestion du risque dans lArme
Portugaise.
Nous en avons conclu quau del de la ncessit duniformisation de la terminologie et des
dfinitions associes la gestion du risque, il faut des mesures qui rendent possible la diffusion
de sa mthodologie et lorganisation dune structure dappui qui serve de support aux dcideurs
militaires.
iv
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
DEDICATRIA
Ao meu pai, falecido em 10 de Outubro de
2003, que me ensinou o valor da amizade, da
honestidade e do trabalho.
v
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
AGRADECIMENTOS
Concluir este trabalho foi um desejo que acabo de concretizar. Tal no seria possvel sem o
apoio dos amigos e familiares.
Por isso, gostaria de comear por agradecer a todos os camaradas envolvidos neste projecto e
que, directa ou indirectamente, aceitaram partilhar a sua vivncia e experincia. Destaco os
contributos dos Senhores Tenentes-generais Antnio Marques Abrantes dos Santos e Antnio de
Jesus Bispo e do Senhor Tenente-coronel Paulo Fernandes Soares, pelos conhecimentos e
opinies pessoais que me transmitiram sobre o tema.
Acrescento ainda um agradecimento especial ao Tenente-coronel Lus Fonseca, Comandante
da TF GOLF (PO) em misso de servio na Bsnia-Herzegovina e aos Tenentes-coronis Jos
Bento e Joo Pedro Thomaz, pela sua disponibilidade e colaborao.
Pela preciosa ajuda que me foi disponibilizada, gostaria de manifestar o meu agradecimento
Diviso de Recursos do Estado-Maior General das Foras Armadas, Inspeco-Geral do
Exrcito, ao Gabinete de Preveno de Acidentes da Inspeco-Geral da Fora Area, Diviso
de Informaes Militares do Estado-Maior do Exrcito, ao Comando Operacional das Foras
Terrestres, ao Comando da Logstica e ao Batalho de Informaes e Segurana Militar.
Agradeo profundamente ao meu orientador do trabalho, Senhor Tenente-coronel Nuno
Duarte, pelo seu apoio permanente, confiana e liberdade que me concedeu.
Aos meus camaradas do Curso de Estado-Maior agradeo os incentivos e conselhos sensatos
que me deram para a realizao deste trabalho.
Para a Dra. Maria de Lurdes Ramos Gonalves, que teve a gentileza de aceitar a ingrata
tarefa de fazer as revises necessrias ao texto, os meus sinceros agradecimentos.
O meu agradecimento ficaria incompleto se no inclusse tambm a minha famlia, em
especial a minha mulher e o meu filho Gonalo, a quem nem sempre tenho dado toda a ateno,
apoio e carinho que me merecem. Pela sua infinita pacincia e compreenso, ofereo-lhes o
testemunho da minha gratido.
vi
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
LISTA DE ABREVIATURAS
5-M Man, Media, Machine, Management, Mission AAA Artilharia Antiarea AFFSC (E) Air Forces Flight Safety Committee Europe AJP Allied Joint Publication ALM Almirante BISM Batalho de Informaes e Segurana Militar BTF British Task Force CAL Comando Administrativo e Logstico CAR Cdigo de Avaliao do Risco CC Carro de Combate CE Corpo de Exrcito CEG-IST Centro de Estudos de Gesto do Instituto Superior Tcnico CEM Curso de Estado-Maior CEME Chefe do Estado-Maior do Exrcito CEMFA Chefe do Estado-Maior da Fora Area CINAMIL Centro de Investigao da Academia Militar CLAFA Comando Administrativo e Logstico da Fora Area CMA Centro de Medicina Aeronutica Cmd I CE Comando do Primeiro CE Cmd Inst Comando da Instruo Cmd Pess Comando do Pessoal Cmd Log Comando da Logstica CMSM Campo Militar de Santa Margarida COCINV Comisso Central de Investigao COFA Comando Operacional da Fora Area COFT Comando Operacional das Foras Terrestres CPESFA Comando de Pessoal da Fora Area CPOS A/S Curso de Promoo a Oficial Superior das Armas e Servios CSE Conselho Superior do Exrcito CSDE Conselho Superior de Disciplina do Exrcito CTAT Corpo de Tropas Aerotransportadas
DSAM Delegado de Segurana de Armamento e Msseis DSAME Delegado de Segurana de Armamento e Msseis da Esquadra DST Delegado de Segurana em Terra DSTE Delegado de Segurana em Terra da Esquadra EBE Estrutura de Base do Exrcito EC Eurocopter ECE Estrutura de Comandos do Exrcito ENGAER Engenheiro Aeronutico ENGEL Engenheiro Electrnico EUA Estados Unidos da Amrica FAP Fora Area Portuguesa FFAA Foras Armadas
vii
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
FM Field Manual FND Fora Nacional Destacada FOPE Fora Operacional Permanente do Exrcito FSWG Flight Safety Working Group FT Fora Tarefa Gab Gabinete GALE Grupo de Aviao Ligeira do Exrcito GPA Gabinete de Preveno de Acidentes GEN General GML Governo Militar de Lisboa GU Grande Unidade HMS Her Majestys Ship IAEM Instituto de Altos Estudos Militares IGE Inspeco-Geral do Exrcito IGFA Inspeco-Geral da Fora Area IRG Iraquian Republican Guard ISFA Instituto de Sade da Fora Area JMRE Junta Mdica de Recurso do Exrcito LPM Lei de Programao Militar NC Normas Complementares NH NOHEMA NVG Night Vision Goggles M/A Modalidade de Aco MARME Mecnico de Armamento e Msseis da Esquadra METT-TC Mission, Enemy, Terrain and Weather, Troops, Time Available and Civil
Considerations MGEN Major-general MITM-TC Misso, Inimigo, Terreno, Meios, Tempo Disponvel, Consideraes Civis MOOTW Military Operations Other Than War OOp Ordem de Operaes Op Operacional ORM Operational Risk Management OSAM Oficial de Segurana com Armamento e Msseis OSV Oficial de Segurana de Voo OSVE Oficial de Segurana de Voo da Esquadra OSVU Oficial de Segurana de Voo da Unidade OST Oficial de Segurana em Terra OTAN Organizao do Tratado do Atlntico Norte PIL Piloto PILAV Piloto Aviador PO Portugal QG Quartel-General
viii
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
ix
RAF Royal Air Force RC Regulamento de Campanha RFA Regulamento da Fora Area RM Regio Militar RMN Regio Militar do Norte RMS Regio Militar do Sul ROE Roles of Engagement ROA Restrict Operations Area SA Surface to Air SHST Segurana, Higiene e Sade no Trabalho SOP Standing Operating Procedures SS Air to Air STANAG Standardization Agreement TF Task Force TGEN Tenente-general TMMT Tcnico de Manuteno de Material de Terra TMMA Tcnico de Manuteno de Material Aeronutico TMMEL Tcnico de Manuteno de Material Electrnico TMAEQ Tcnico de Manuteno de Armamento e Equipamento TMAEQ/PQ Tcnico de Manuteno de Armamento e Equipamento Paraquedista TecPrevSeg Tcnicos de Preveno e Segurana TO Teatro de Operaes TWA Trans World Airlines WFZ Weapon Free Zone U/E/O Unidade, Estabelecimento e rgo US United States USAAAVS US Army Agency for Aviation Safety USS United States Ship VCEME Vice-Chefe do Estado-Maior do Exrcito ZM Zona Militar ZMA Zona Militar dos Aores ZMM Zona Militar da Madeira
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
NDICE
RESUMO ii
ABSTRACT iii
RSUM iv
DEDICATRIA v
AGRADECIMENTOS vi
LISTA DE ABREVIATURAS vii
INTRODUO 1
CAPTULO I - FUNDAMENTOS DA GESTO DO RISCO 5
1. CONCEITO DE RISCO 5
1.1. Definio de Risco 5
1.2. Tipos de Risco 8
2. CONCEITO E FINALIDADE DA GESTO DO RISCO 9
2.1. Conceito de Gesto do Risco 9
2.2. Finalidade da Gesto do Risco 9
3. PRINCPIOS E NVEIS DA GESTO DO RISCO 11
3.1. Princpios da Gesto do Risco 11
3.2. Nveis da Gesto do Risco 12
4. ATITUDES PERANTE O RISCO 13
4.1. Atributos do Risco 13
4.2. Cultura Organizacional 15
5. INTEGRAO DA GESTO DO RISCO NO PROCESSO DE DECISO MILITAR 16
CAPTULO II - ESTUDO DE CASOS 18
1. MODELO BSICO 18
2. O CASO DO EXRCITO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMRICA 20
2.1. Generalidades 20
2.2. Processo de Gesto de Riscos 21
2.3. US Army Safety Center 25
3. O CASO DA FORA AREA PORTUGUESA 26
3.1. Generalidades 26
3.2. Preveno de Acidentes 27
x
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
xi
3.3. Organizao da Preveno de Acidentes 288
3.4. Gesto do Risco Operacional 29
CAPTULO III - ANLISE DO EXRCITO PORTUGUS 30
1. ESTRUTURA ORGNICA DO EXRCITO 30
1.1. Breve Descrio da Estrutura Orgnica do Exrcito 30
1.2. Processo de Transformao do Exrcito 31
2. ESTRUTURA DE TOMADA DE DECISO NO EXRCITO 32
3. INSTRUMENTOS EXISTENTES PARA APOIO TOMADA DE DECISO DE RISCO 34
3.1. Anurio Estatstico do Exrcito 34
3.2. Trabalhos da Comisso para o Estudo das Campanhas de frica 35
3.3. Relatrios das Foras Nacionais Destacadas 34
4. O RISCO E A GESTO DO RISCO NO EXRCITO PORTUGUS
4.1. A Situao Actual no Exrcito 37
4.2. Anlise de Dados dos Inquritos Aplicados entre 22 e 30 de Setembro de 2003 aos
Alunos do CEM 2003/2005 e do CPOS A/S 2003/2004 37
4.3. Anlise dos Contactos Informais Estabelecidos com Alguns Comandantes de Foras
Nacionais Destacadas 39
5. LACUNAS DETECTADAS E REAS PRIVILEGIADAS DE IMPLEMENTAO 40
5.1. Lacunas Detectadas 40
5.2. reas Privilegiadas de Implementao 41
CONCLUSES 43
PROPOSTAS 46
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 51
APNDICES E ANEXOS 54
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
NDICE DE FIGURAS
Figura 1 Etapas do Processo de Gesto do Risco 10
Figura 2 Classificao de Culturas de Deal e Kennedy 16
Figura 3 Integrao da Gesto do Risco no Processo de Deciso Militar 17
Figura 4 Ciclo de Deciso Baseado na Anlise do Risco 19
Figura 5 Organograma do Processo de Deciso no Planeamento dos Risco 20
Figura 6 Modelo de Gesto do Risco do Exrcito dos EUA 22
Figura 7 Modelo de Anlise dos 5-M 23
Figura 8 Modelo de Preveno de Acidentes 27
Figura 9 Organizao do Exrcito 31
Figura 10 Organizao Provvel Aps a Transformao do Exrcito 32
Figura 11 Organograma do Gabinete de Anlise de Risco e de Preveno de Acidentes da
IGE 47
Figura 12 Organograma do Gabinete de Anlise de Risco e de Preveno de Acidentes
do COFT, Comandos Funcionais, ZMA, ZMM e GU do Exrcito 48
Figura 13 Organograma da Seco de Anlise de Risco e de Preveno de Acidentes
das U/E/O 49
Figura 14 Matriz da Avaliao do Risco 70
Figura 15 Organograma da Preveno de Acidentes na FAP 73
Figura 16 Organograma do Gabinete de Preveno de Acidentes da FAP 73
NDICE DE TABELAS
Tabela 1 Baixas do Exrcito em Mortos e Feridos Causadas por Acidentes em Servio,
durante o Ano de 2001 34
Tabela 2 Baixas do Exrcito em Mortos e Feridos, at 1 de Maio de 1974 36
Tabela 3 Principais Causas de Acidentes Mortais, at 1 de Maio de 1974 35
Tabela 4 Principais Causas de Acidentes Mortais no Exrcito dos EUA 36
Tabela 5 Principais Causas de Acidentes Mortais em Misses de Apoio Paz e de
Cooperao Tcnico-Militar, at 1 de Julho de 2003 37
Tabela 6 Matriz de Avaliao do Risco para a Operao de Desembarque Anfbio 62
xii
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
xiii
NDICE DE GRFICOS
Grfico 1 reas Preferenciais para Emprego da Gesto do Risco 39
NDICE DE APNDICES
Apndice 1 Proposta de Uniformizao da Terminologia e das Responsabilidades Associadas
Gesto do Risco 56
NDICE DE ANEXOS
Anexo A Casos Reais de Aplicao dos Princpios da Gesto do Risco 61
Anexo B Responsabilidades pela Implementao da Gesto do Risco 66
Anexo C Lista de Perigos por Categorias 68
Anexo D Matriz de Avaliao do Risco 70
Anexo E Organizao, Atribuies e Responsabilidades pela Preveno de Acidentes
na Fora Area Portuguesa 73
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
1
INTRODUO
Escrever sobre o risco e a gesto do risco, mesmo que se trate de simples contributos, no
uma tarefa fcil. Na realidade, estes conceitos abrangem um vasto campo nos domnios do
conhecimento cientfico e militar, com aplicaes em reas bastante diversificadas.
Os riscos foram durante muito tempo considerados como acidentes previsveis, cujos factores
podiam ser identificados pela cincia e cujos efeitos seriam evitados pelo emprego de tcnicas
especficas. Com base nesta interpretao, o seu tratamento tendeu a ser do controlo exclusivo de
especialistas permitindo uma tomada de deciso racional1, no sentido de um controlo perfeito
dos riscos. Assim sendo, a contestao das decises era atribuda ignorncia e irracionalidade
dos profanos.
No entanto, uma srie de casos marcantes nos domnios do ambiente e da sade,
nomeadamente, as polmicas sobre o armazenamento de resduos nucleares e a crise dita das
vacas loucas, retirou o monoplio do tratamento do risco aos especialistas. Longe de se limitar
troca de argumentos de natureza cientfica, o seu tratamento passou a envolver consideraes
de natureza muito mais diversificada.
Esta reformulao do problema dos riscos parece-nos tanto mais justificada quanto maiores
so as incertezas2. De acordo com Yannick Barthe, num contexto de incertezas, a tomada de
deciso torna-se delicada e as decises j no podem assentar na autoridade indiscutvel da
cincia. Tm de combinar diferentes legitimidades e ir ao encontro de compromissos racionais
entre interesses heterogneos (2000, 172). A gesto dos riscos sofreu portanto vrias evolues
que parecem caminhar no sentido de uma abordagem mais pragmtica. J no se trata de
alimentar a iluso do seu controlo tcnico, mas sobretudo de organizar a responsabilidade
colectiva atravs de mtodos que permitam uma experimentao e uma aprendizagem colectiva.
No que respeita definio do objectivo do estudo, pretendemos esclarecer como que a
anlise do risco se pode constituir numa ferramenta de apoio tomada de deciso militar,
contribuindo para o levantamento das necessidades que se colocam sua eventual aplicao a
todas as actividades do Exrcito. Deste modo, propomo-nos identificar a terminologia e as
definies associadas ao processo de gesto do risco que devem ser uniformizadas, determinar
1 Os modelos de deciso racional incidem normalmente sobre a caracterizao do decisor ou sobre a estrutura metodolgica. A aproximao racional a este assunto consiste na construo de um modelo onde se incluem as vrias etapas, metodologias e instrumentos do processo tpico de deciso, de forma a minimizar os elementos irracionais (intuitivos, emocionais ou tradicionais), no sentido de obter decises ptimas num ambiente de total transparncia (Uma Aproximao Teoria da Deciso, 2000, 43). 2 A cincia e a tcnica revelam-se muitas vezes incapazes de responder a questes de forma segura.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
uma estrutura organizativa que lhe sirva de apoio, definir as atribuies e competncias dos seus
rgos e apresentar um conjunto de ferramentas que sirvam para apoio na tomada da deciso de
risco.
A importncia do estudo reside na percepo que temos sobre a necessidade de
implementar medidas que reduzam a exposio dos militares e civis do Exrcito a riscos
desnecessrios, que possibilitem a difuso de uma metodologia de gesto de riscos e a
organizao de uma estrutura de suporte. A actualidade e pertinncia deste estudo, parece-nos
bem expressa na afirmao proferida pelo Director-Geral de Poltica de Defesa Nacional, Major-
general (MGEN) Pinto Ramalho, a qual contm muitos aspectos da problemtica em questo:
Qualquer processo de reforma estrutural do instrumento militar, quer em termos
organizativos, quer no quadro do pessoal ou do material, tem de permitir o seu
emprego com oportunidade, eficincia e eficcia, perspectivar a garantia do xito da
misso atribuda e garantir a segurana das tropas empregues (conferncia realizada
ao Curso de Estado-Maior (CEM), IAEM, 24 de Junho de 2003).
Estabelecemos como delimitao do estudo a identificao de lacunas e a deteco de reas
privilegiadas de esforo para implementao prtica da gesto do risco no Exrcito Portugus, o
levantamento das estruturas, procedimentos e competncias necessrias, para que a anlise de
risco se constitua como uma ferramenta de apoio deciso.
No que refere ao corpo de conceitos, por uma questo de mtodo, decidimos apresentar
todos os conceitos e definies no primeiro captulo deste trabalho.
A metodologia empregue iniciou-se com uma pesquisa bibliogrfica e documental sobre o
assunto em estudo. No que concerne documentao em anlise, numa perspectiva
interdisciplinar, esta revelou-se extraordinariamente extensa e de difcil seleco. Na
generalidade, encontrava-se muito dispersa e em lngua estrangeira. O esforo de pesquisa
tornou-se, assim, mais difcil e mais lento do que seria normal. Nalguns casos, sucedeu mesmo
que a localizao tardia e muitas vezes casual da informao, obrigou a rever textos e a prpria
articulao do trabalho.
De seguida, definimos a questo central que guiou toda a nossa investigao. De forma a
construirmos um modelo que sirva ao Exrcito Portugus, concentramo-nos no estudo dos
modelos adoptados pelo Exrcito dos Estados Unidos da Amrica (EUA) e pela Fora Area
Portuguesa (FAP). O motivo que nos levou a estudar os casos atrs citados, residiu no facto de se
tratarem de modelos de sucesso e na possibilidade de identificar estruturas e procedimentos
perfeitamente definidos. Por sua vez, na anlise do estado da arte da gesto de risco no
Exrcito Portugus, seguimos uma metodologia que teve como instrumento de observao no
2
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
s o questionrio, mas tambm entrevistas e conversas informais com algumas entidades e
muitos camaradas de armas.
Definimos como questo central Que modelo de gesto de risco para o Exrcito
Portugus?. Foram levantadas hipteses orientadoras do estudo, com base na percepo
pessoal de que:
- necessrio e urgente desenvolver tentativas e esforos para integrar a gesto do risco em
todas as actividades do Exrcito;
- Devem ser criados rgos com a responsabilidade de apoiar os decisores militares
fornecendo-lhe informao sobre potenciais riscos, suportada em dados histricos e actuais;
- A cultura organizacional favorvel implementao de uma metodologia de gesto de
riscos;
- Os modelos de gesto de risco em uso no Exrcito dos EUA e na FAP constituem exemplos
de sucesso, com estruturas e procedimentos perfeitamente definidos, que podem ser
perfeitamente adaptados e aplicados ao Exrcito Portugus;
- O sucesso da sua implementao exige o desenvolvimento de novas competncias, pelo que
deve ser includo nos currculos de todos os cursos militares matrias versando a gesto do
risco.
A organizao e contedo do estudo pretendem abranger, no s a rea terica relativa ao
risco e gesto do risco, mas assuntos de natureza mais prtica, articulados directamente com a
realidade do Exrcito Portugus. A organizao do trabalho comporta uma introduo, trs
captulos de desenvolvimento e uma parte final de concluses e propostas.
De natureza conceptual, o primeiro captulo introduz o leitor no tema. Neste captulo,
pretendemos expor os principais elementos tericos prprios da gesto do risco. No Anexo A,
atravs da apresentao de algumas experincias vividas em operaes militares, procuramos
concretizar alguns destes conceitos.
No captulo seguinte, apresentamos os modelos de gesto do risco adoptados pelo Exrcito
dos EUA e pela Fora Area Portuguesa. Dedicamos especial ateno aos aspectos de natureza
organizativa e metodolgica que nos iro permitir aferir da aplicabilidade destes modelos ao
Exrcito Portugus.
Por sua vez, o terceiro captulo concentra-se na anlise do estado da arte da gesto do risco
no Exrcito Portugus, tendo em vista o levantamento de lacunas e a deteco de reas
privilegiadas de esforo, para implementao prtica da gesto do risco. Este captulo
materializa, em nosso entender, a parte mais valiosa deste trabalho.
Terminamos o estudo com a apresentao das concluses e de um conjunto de propostas que
3
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
4
julgamos adequadas e ajustadas aos objectivos deste estudo.
Em anexo encontra-se um conjunto de documentos de interesse complementar, de natureza
mais tcnica, cuja leitura se nos afigura como indispensvel para uma melhor compreenso do
tema abordado neste trabalho.
Temos a perfeita conscincia de que este trabalho no se esgota aqui e que apresenta alguns
riscos. Riscos ligados profundidade desejada no tratamento do tema e, principalmente, o risco
de no correspondermos s expectativas de quem ler este trabalho.
O que desejamos de facto, se tal for possvel, que esta nossa modesta e esforada
contribuio possa, no mnimo, contribuir para a melhoria da compreenso da natureza e da
diversidade dos riscos e dos meios e mtodos utilizados para os detectar e limitar as suas
consequncias.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
5
CAPTULO I FUNDAMENTOS DA GESTO DO RISCO
1. Conceito de Risco
Mesmo que a maioria de ns no esteja familiarizado com a sua definio formal, todos
temos um sentido inato de risco, por este estar presente em todas as nossas actividades, no
podendo nunca ser eliminado. Diariamente, controlamos riscos pessoais, os quais do forma a
muitos dos nossos comportamentos. De um modo simples, podemos afirmar que a maioria destas
decises so instantneas e automticas, orientadas por anos de experincia acumulada que
aproveitamos para situaes idnticas ou similares.
Conceptualmente, o risco aparece como algo que est ligado a decises futuras, em que a
oportunidade para avanar no pode ser conseguida sem uma anlise prvia do risco.
Segundo Roger Scoy (1992), o risco no um problema mas sim algo que essencial para
progredir e cuja falha frequentemente uma parte chave da aprendizagem. De acordo com este
autor, todos ns devemos aprender a ponderar as consequncias negativas do risco, face aos
benefcios potenciais das oportunidades que lhe esto associadas.
1.1. Definio de Risco
As definies de risco tendem a variar entre fontes. No entanto, a grande maioria das
definies decompem o risco numa causa e num efeito. A causa tem associada uma
probabilidade de ocorrncia e o efeito tem uma dimenso ou impacto.
Em linguagem comum, o risco pode ser definido como a possibilidade de uma perda ou
dano3, desvantagem ou destruio. O dicionrio Michaelis Moderno Dicionrio da Lngua
Portuguesa (2002, 1849), define risco como a possibilidade de perigo, incerto mas previsvel,
que ameaa de dano a pessoa ou a coisa e identifica o risco profissional como sendo o perigo
inerente ao exerccio de certas profisses, o qual compensado pela taxa adicional de
perigosidade.
Numa abordagem inicial sobre a problemtica de risco, a anlise destas duas definies
revela-se de extrema importncia por permitir identificar e relacionar os conceitos de perigo e
perigosidade, cuja compreenso se nos afigura como essencial para o desenvolvimento deste
trabalho.
Na realidade estas duas palavras correspondem a dois conceitos completamente diferentes. 3 Uma perda descreve um impacto negativo numa actividade, com uma qualidade diminuda, custos aumentados, concluso atrasada ou at mesmo a falha; o dano , invariavelmente, causado por um acidente e este, por seu turno, sempre resultado do factor que imediatamente o precede (Alberto Srgio S. R. Miguel, 1995, 44 e 45).
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
6
Na opinio de Joo Pedro Thomaz4 (14 de Fevereiro de 2003), o perigo pressupe a conscincia
de que uma situao contm potencial para produzir consequncias negativas, podendo por vezes
ser quantificvel e constituir-se numa ameaa. Por sua vez, na situao de perigosidade, no
existe a percepo de que esta possa vir a produzir efeitos nefastos. O exemplo mais simples que
pode ser utilizado para distinguir estes dois conceitos o de uma criana que no tem
conscincia de que se colocar os dedos numa tomada elctrica pode sofrer um dano (situao de
perigosidade) enquanto que um adulto que assiste a tudo tem a percepo dos efeitos negativos
que esse acto pode acarretar (situao de perigo). No poderamos deixar de salientar que,
quando abordamos a questo da gesto de risco, nos encontramos perante situaes em que
existe uma conscincia do perigo associado a uma determinada actividade ou situao.
No domnio da gesto de projectos, Antnio Miguel define risco como qualquer ameaa
consecuo de um ou mais objectivos fundamentais do projecto (2002, 63). Procurando
objectivar um pouco mais este conceito, no mbito da gesto de projectos a nvel do Exrcito,
podemos afirmar que se os requisitos de um sistema de armas no forem bem compreendidos,
temos um risco. Este risco pode ameaar os custos totais do projecto, visto que podemos ser
obrigados a cancelar ou renegociar os requisitos para que ele venha a realizar os objectivos que
falhmos pelo facto de, inicialmente, no terem sido completamente definidos. E, quase por
definio, este risco ameaa directamente os objectivos da organizao.
O programa de aquisio de helicpteros ligeiros EC 635 para o Grupo de Aviao Ligeira
do Exrcito, constitui-se como um bom estudo de caso. Ao analisarmos os dados recolhidos no
Comando da Logstica (3 de Maro de 2003), constatamos que a deciso de equipar este
helicptero com sistema mssil constituiu um risco.
Na realidade, todos os modelos de helicpteros ligeiros encontram-se armados apenas com
sistemas canho, foguetes e metralhadoras.
Muito provavelmente, os decisores no consideraram os riscos de programa, de prazos, de
custos, tcnicos e de manuteno que resultavam da introduo deste requisito operacional5. O
facto de todo o projecto de adaptao e a certificao e credenciao do mssil ter de ser
4 Oficial do Exrcito Portugus e investigador do Centro de Estudos de Gesto do Instituto Superior Tcnico (CEG-IST) e do Centro de Investigao da Academia Militar (CINAMIL). 5 Chester Simmons considera que os riscos de projecto podem resultar de factores externos ou internos organizao e destaca os seguintes perigos: polticos, contratuais, cultura e prioridades da organizao, limitaes de pessoal, competncia e experincia dos decisores, constrangimento oramentais, do prazo estabelecido no poder ser cumprido com os recursos humanos, materiais e financeiros atribudos, estimativas mal elaboradas, falta de compreenso de exigncias e convenincia poltica, do desempenho de um equipamento no corresponder ao exigido e dos custos de operao e manuteno de um sistema em termos de tempo, pessoal e recursos materiais no serem bem avaliados (Risk Management, http://sparc.airtime. co.uk/users/wysywig/risk_1.htm, 21 Maro 2003).
http://www.earthlink.com/%7Ecwsimmons/http://sparc.airtime.%20co.uk/users/wysywig/risk_1.htm
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
7
executado de raiz, num curto prazo de tempo6, acabou por se constituir como um dos factores de
fracasso do projecto.
Paradoxalmente, o no cancelamento7 do contrato de aquisio dos helicpteros representaria
graves problemas para o Exrcito. As infra-estruturas e o software de apoio operao e
manuteno dos sistemas apresentavam atrasos que iriam comprometer todo o projecto.
Este caso constitui um bom exemplo de como a introduo da anlise de risco permitiria
reduzir as ameaas que se colocavam ao projecto, nomeadamente, a tomada de decises bem
informadas em condies de incerteza e a correco atempada dos atrasos nas actividades que
constituam responsabilidade do Exrcito. Apesar do fracasso atrs mencionado, no programa
NH-90, continua a no ser realizada qualquer anlise aos riscos do projecto. Esta postura
contrasta com a posio da firma fornecedora que, em todos os briefings, reserva tempo para
realizar essa anlise, procedendo monitorizao dos riscos.
Para van der Heijden (1997, 11) "...desenvolver uma organizao slida e prspera exige a
compreenso do seu enquadramento, tanto como a da prpria organizao... a base do
problema relaciona-se com o facto da gesto estratgica ter lugar num contexto de incerteza
acerca do futuro" e o grau em que se podem fazer afirmaes teis sobre o futuro diferir de caso
para caso. Na opinio deste autor possvel identificar trs categorias de incertezas: os riscos, as
incertezas estruturais e as incertezas imprevisveis e "inconhecveis". Neste contexto, em que a
prospectiva tem como principal instrumento de simulao os cenrios, o risco aparece definido
como uma incerteza susceptvel de predio, em que h suficientes precedentes histricos, sob
a forma de acontecimentos similares, que tornam possvel estimar as probabilidades dos vrios
resultados possveis.
No domnio militar, o Exrcito dos Estados Unidos da Amrica, define risco como a
probabilidade de ocorrncia de uma falha ou perda durante a exposio a uma situao de
perigo (FM 100-14, 1998, Glossary-2).
No essencial, este conceito de risco coincide com a definio adoptada pela Fora Area
Portuguesa e apresentada no 1 draft do seu Manual de Gesto de Risco Operacional (ORM,
1998, 1).
Uma vez que o conceito de risco dominante neste trabalho e se verifica uma quantidade de
definies sua volta, convm adoptar uma definio que seja suficientemente ampla para servir
como ponto de partida e que permita envolver todas as actividades do Exrcito, das quais nos
6 Assinado em Outubro de 1999, o contrato previa a entrega de nove helicpteros num prazo de 24 meses. Em Janeiro de 2000, data do visto do Tribunal de Contas, foi iniciada a contagem do prazo. 7 Despacho de 15 de Agosto de 2002, Ministro da Defesa Nacional.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
8
permitimos destacar o treino e as operaes militares, a higiene e segurana do trabalho e os
projectos de aquisio de novos equipamentos,
Assim, neste trabalho, optamos por definir risco como um modo de actuar ou de no
actuar, em circunstncias de incerteza, que nos expe a possveis perdas em ordem a alcanar
um resultado esperado (Herbert Kindler, 1992,14).
1.2. Tipos de Risco
Qualquer situao contm em si um determinado grau de risco. Quando analisamos os riscos
a assumir numa determinada actividade ou operao, deparamo-nos com vrios tipos de risco.
A Fora Area Portuguesa classifica os riscos da seguinte forma: risco identificado, no
identificado, total, aceitvel, no aceitvel e risco residual (ORM, 1998, 7). O risco identificado
aquele que pode ser determinado atravs de anlises tcnicas e o risco no identificado um
risco real e importante que no foi quantificado. O risco total a soma do risco identificado com
o risco no identificado. Por sua vez, o risco aceitvel uma parte do risco identificado que
persiste sem controlo, aceite por quem toma a deciso e o risco no aceitvel aquele que no
pode ser tolerado. Finalmente, o risco residual o que fica depois da aplicao de todos os
esforos de gesto. a soma do risco aceitvel com o risco no identificado.
Como veremos quando abordarmos o modelo bsico da gesto do risco, o processo de
deciso com base na anlise do risco consiste na aferio do julgamento do risco com a sua
aceitao, isto , na verificao de que o risco percebido se encontra num nvel inferior ao risco
aceitvel, para que uma deciso possa ser positiva. Assim, numa aproximao sociocognitiva do
risco podemos proceder sua desagregao em trs tipos distintos8: o risco real, o risco
percebido e o risco aceitvel. O primeiro corresponde ao risco induzido por uma determinada
situao ou comportamento. O risco percebido definido como o nvel de risco atribudo pelo
decisor a essa situao ou comportamento. Por ltimo, o risco aceitvel o risco que o decisor
aceita correr.
No mbito do presente trabalho consideramos os tipos de risco apresentados nas NC 10-00-
09 (O Processo da Deciso Militar), aprovadas para utilizao no IAEM. De acordo com estas
normas, os riscos a assumir nas operaes militares so classificados em risco tctico e risco
de acidentes. O risco tctico est associado aos acidentes resultantes da presena do inimigo no
campo de batalha e o risco de acidentes inclui todo o tipo de riscos que no so classificados
como tcticos (2002, 2-10). Importa referir que o FM 100-14 considera, igualmente, a
8 Esta classificao defendida por vrios autores dos quais destacamos Yaacov Vertzberger, 1998, 18 e 19 e Antnio Bispo, 2000, 55 a 58.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
9
existncia destes dois tipos de riscos (1998, 2-2).
2. Conceito e Finalidade da Gesto do Risco
2.1. Conceito de Gesto do Risco
A Associao Brasileira de Gesto de Riscos9 define a gesto de risco como um conjunto de
tcnicas que visa reduzir ao mnimo os efeitos das perdas acidentais, enfatizando o tratamento
dos riscos que possam causar danos pessoais, materiais, ao meio ambiente e imagem da
organizao.
Para o Exrcito dos EUA, a gesto de risco um processo que consiste na identificao e
anlise dos perigos identificados, na determinao e controlo dos riscos associados aos perigos
e na tomada de decises em que os benefcios superem os custos (FM 100-14, 1998, Glossary -
3). O General Dennis Reimer, Chefe do Estado-Maior do Exrcito dos EUA no perodo entre 20
de Junho de 1995 e 21 de Junho de 1999, acrescentou a esta definio a ideia de que essa
ferramenta de apoio deciso devia ser completamente integrada no planeamento e conduo
das operaes militares tendo em vista a preservao do potencial de combate de uma fora e,
consequentemente, possibilitar a sua aplicao no momento decisivo.
De acordo com o definido no RC 130-1 (OPERAES), potencial de combate o valor
resultante da combinao dos meios materiais com a fora moral de uma unidade. portanto a
resultante de todos os meios e aces que uma unidade pode aplicar contra um adversrio e da
sua capacidade de evitar ou limitar as aces que contra ela so dirigidas (Volume I, 1987, 3-
4). A exposio de uma fora a riscos desnecessrios reduz o seu potencial de combate e pode
afectar negativamente a confiana dos subordinados no seu comandante.
Integrando as ideias apresentadas at ao momento, podemos definir gesto de risco como um
processo (ver figura 1) que visa a tomada de decises e a implementao de medidas de controlo
para eliminar ou reduzir os efeitos dos perigos identificados.
2.2. Finalidade da Gesto do Risco
A gesto do risco10 uma ferramenta de apoio deciso, usada em todos os nveis da cadeia
de comando, para permitir uma antecipao aos perigos, reduzir potenciais perdas e aumentar a
probabilidade de sucesso da misso. Ao fornecer todos os dados disponveis em termos de
conhecimento e experincia, a gesto do risco permite aumentar o nvel de informao
9 Associao Brasileira de Gerncia do Risco, http://www.abgr.com.br/, 12 de Maro de 2003. 10 A doutrina de referncia utiliza a designao Risk Management e a Fora Area Portuguesa emprega a designao Gesto do Risco Operacional (Operational Risk Management).
http://www.abgr.com.br/
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
disponvel para a tomada de deciso e reduzir os riscos a nveis aceitveis.
Podemos assim afirmar que a finalidade da gesto do risco no eliminar o risco, mas
control-lo para que a misso possa ser cumprida com um mnimo de perdas ou danos
(Antnio Bispo, 19 de Maio de 2003).
Figura 1 Etapas do Processo de Gesto do Risco
Supervisar
Implementar controlos
Continuar com a superviso at ao final da operao
No
Listar as principais etapas da operao
Determinar a gravidade
Determinar a probabilidade
Identificar os perigos e as causas relacionadas com
cada etapa
Informar autoridade superior
No
Houve mudanas?
Sim
No
Sim
possvel
implementar os controles neste
nvel?
Sim
Sim
Sim
No
No
Eta
pa 1
. Ide
ntifi
ca
o do
sper
igos
Etapa 4. Implementar medidas de controlo
Etapa 5.Superviso e avaliao
Eta
pa 2
. An
lise
dos
perig
os e
det
erm
ina-
o
dos r
isco
s
Determinar o nvel de riscoOs
controlos so Determinar as opes
Eta
pa 3
. Ide
ntifi
ca
o e
deci
so
das m
edid
as d
e eficazes? de controlo do risco
Com os controlos possvel implementados os mudar os con-trolos neste
nvel? benefcios so
maiores do que os
cont
rolo
custos?
10
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
11
3. Princpios e Nveis da Gesto do Risco
3.1. Princpios da Gesto do Risco
Todas as aces associadas gesto de risco so orientadas por princpios bsicos. Estes
princpios variam de acordo com a fonte e tm a sua essncia em casos histricos. Face aos
ensinamentos colhidos do passado, podem ser limitados a quatro:
- No aceitar riscos desnecessrios;
- Tomar a deciso de risco no nvel de comando adequado;
- Integrar a gesto de risco no planeamento, preparao e execuo da misso;
- Aceitar o risco apenas quando os benefcios superam o custo.
Os casos apresentados no Anexo A deste trabalho, constituem exemplos de aplicao destes
princpios.
De acordo com o princpio de no aceitar riscos desnecessrios, a eliminao dos riscos
no necessrios constitui o principal objectivo da gesto de risco. Ao aceitarem um determinado
risco, os decisores devem ter um perfeito entendimento da relao custo-benefcio envolvida na
operao. A aceitao de um risco que poderia ter sido eliminado ou reduzido deve ser entendida
como uma displicncia que poder produzir danos no potencial de combate de uma fora e
afectar negativamente no apenas os recursos disponveis, mas tambm a capacidade de
liderana. A aceitao do risco no pode equivaler ao desejo imprudente de apostar no sucesso,
devendo ser aceites apenas os riscos necessrios ao estrito cumprimento da misso.
O princpio de tomar a deciso de risco no nvel de comando adequado evidencia a
obrigatoriedade das decises de risco serem tomadas pelos decisores directamente responsveis
pela misso. Prudncia, experincia11, julgamento, intuio e alerta situacional so
caractersticas fundamentais para uma tomada de decises de risco eficaz. Quando for verificado
que o risco associado misso muito elevado, ou extrapola a inteno inicial do comandante,
devem ser solicitadas instrues adicionais ou submeter a deciso aprovao do escalo
sup
erior.
O terceiro princpio refere a necessidade de integrar a gesto do risco no planeamento,
preparao e execuo da misso. Os riscos so mais facilmente controlados quando os perigos
so identificados na fase inicial do planeamento. Assim, ao receber a misso, o comandante,
assessorado pelo seu estado-maior, realiza um estudo detalhado de todas as variveis envolvidas
e elabora um plano para gerir os riscos referentes modalidade de aco escolhida. Durante o
11 A tomada de deciso de risco um processo subjectivo pelo que dever ser treinada de forma contnua, em todos os nveis de comando, de modo a proporcionar um bom grau de eficincia na sua utilizao.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
12
planeamento da operao ou da actividade so inventariados todos os perigos que possam
constiturem-se em riscos para o cumprimento da misso. Os riscos so quantificados e os seus
controlos devem ser definidos e implementados, at que se atinja o risco residual definido como
ace
izao das
am
num
gra
ue leva deteriorao inevitvel e desnecessria dos
cursos disponveis (ORM, 1998, II-1).
3.2
r aplicada em trs nveis:12 critico ou inopinado, deliberado e em
pro
ursos disponveis,
re
itvel pelo comandante na sua directiva de planeamento.
Todo este processo contnuo e deve estar integrado, pois qualquer dado novo pode elevar o
grau de risco a um patamar inaceitvel o que obrigar, forosamente, a uma actual
eaas e ao subsequente desenvolvimento e implementao de novos controlos.
Por ltimo, devemos aceitar o risco apenas quando os benefcios superam os custos. O
risco inerente a qualquer actividade militar e est presente em todas as operaes. Por exemplo,
se o treino da fora no reproduzir com aceitvel realismo as situaes esperadas em combate,
temos o risco de falhar o cumprimento da misso. Porm, num cenrio de conhecidas restries
oramentais, a perda de meios humanos com custos de formao elevados e de materiais
tecnicamente sofisticados durante misses de treino, compromete a misso do Exrcito
u, provavelmente maior que o adiamento ou cancelamento de um determinado exerccio.
Para a Fora Area Portuguesa, o no cumprimento deste princpio constitui sinnimo de
gesto inadequada, ineficaz e perigosa, q
re
. Nveis da Gesto do Risco
A gesto de risco pode se
fundidade ou estratgico.
Muito embora seja desejvel a conduo de um estudo em profundidade para todas as
misses, o tempo e os recursos necessrios nem sempre estaro disponveis. Assim, de acordo
com a misso, a situao, o tempo disponvel, a proficincia do pessoal e os rec
sponsabilidade do decisor seleccionar o nvel de gesto de risco a aplicar.
O nvel crtico ou inopinado consiste na aplicao do processo de gesto do risco numa
situao que requer uma deciso num curto espao de tempo. Para o efeito realizada uma
rpida reviso verbal ou mental da situao, utilizando os princpios bsicos da gesto de risco e
considerando as cinco etapas do processo mostrado na figura 1, sem a necessidade de se fazer o
registo por escrito. O nvel tempo crtico aplicado e tem grande utilidade durante actividades de
treino e em operaes ou num cenrio de crise que exija uma resposta imediata.
12 Introduo ao Gerenciamento do Risco Operacional, www.daerm.mar.mil.br/sipaerm/DOCS/ GRO-SIPAAerM.PDF, 15 de Fevereiro de 2003.
http://www.daerm.mar.mil.br/sipaerm/DOCS/%20GRO-SIPAAerM.PDFhttp://www.daerm.mar.mil.br/sipaerm/DOCS/%20GRO-SIPAAerM.PDF
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
13
par
nformao. Inclui a
def
contingncia para
operaes militares, novas misses, aquisio de novos equipamentos, desenvolvimento de
o e de treino e a manuteno de sistemas vitais.
4. A
icativo, a quantificao adiantada da sua probabilidade e do seu impacto
des
Nestas circunstncias,
ind
ticularmente til na escolha da modalidade de aco mais adequada para situaes inopinadas
que surjam durante a execuo de uma operao.
Por sua vez, o nvel deliberado consiste em aplicar completamente as cinco etapas do
processo de gesto do risco no planeamento de uma operao ou na avaliao de um
procedimento. Baseia-se na experincia e tcnicas de brainstorming para a identificao dos
perigos e definio dos controlos sendo, portanto, mais eficaz quando conduzido em grupo. A
aplicao do nvel deliberado requer tempo, recursos humanos e o registo da i
inio das etapas da operao, a reviso dos procedimentos padronizados, a verificao da
manuteno dos equipamentos, o treino necessrio e planos de contingncia.
Finalmente, o nvel em profundidade ou estratgico consiste na aplicao do processo
deliberado mas com uma avaliao bastante profunda, quer na identificao dos perigos como na
avaliao de riscos, envolvendo a pesquisa em bancos de dados, o uso de diagramas e de
ferramentas de anlise, testes formais e o levantamento a longo prazo dos perigos relacionados
com a operao, incluindo, por vezes, o auxlio de peritos qualificados. Este nvel equivale a um
estudo profundo para identificao dos perigos e seus riscos associados em operaes ou
sistemas complexos, ou quando os riscos no so perfeitamente compreendidos. Exemplos de
aplicaes do nvel em profundidade incluem a elaborao de planos de
tcticas, de planos de instru
titudes Perante o Risco
4.1. Atributos do Risco
A maioria das decises tem associado um certo grau, maior ou menor, de incerteza, pois
envolvem acontecimentos futuros cuja previsibilidade assume sempre algum grau de dificuldade.
Uns defendem que no se pode controlar adequadamente esta incerteza se no pudermos
quantificar a probabilidade do seu impacto. Outros afirmam que a menos que o risco tenha um
impacto signif
necessria, sendo que a insistncia na quantificao pode conduzir paralisia da anlise
sobre o risco.
Em questes complexas, mal definidas, muito dinmicas e sobre forte presso de tempo,
como so as questes que se colocam ao decisor militar no campo de batalha, normalmente
impossvel quantificar o risco com alguma credibilidade.
ependentemente da realizao de uma anlise quantitativa ou qualitativa de casos idnticos
registados no passado, para os atributos do risco que um decisor olha.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
14
Estes atributos, consoante a sua manifestao numa situao concreta, criam uma percepo
do
s de comportamentos.
o que
env
13 atravs dos quais
pro
uma ideia
com
do ri ssim,
clareza, em
- presenta-se como um factor de conteno;
- o da consequncia faz diminuir a percepo do risco; por outras
-
a a
oltando situao anterior, sem custos elevados;
- tos que mais condiciona a deciso. Para
risco. esta percepo do risco, confrontada com a atitude do decisor perante o risco, que
condiciona a deciso e d origem a tipos diferente
Esta atitude do decisor perante o risco classificada, pela generalidade dos autores, como
avessa ao risco, neutral ou propensa ao risco.
De uma forma um tanto simplista, poderamos dizer que o decisor mais avesso ao risco
aquele que est disposto a pagar o preo mais elevado para evitar assumir uma decis
olva riscos. Por sua vez, o decisor mais propenso ao risco aquele que pretende explorar as
oportunidades de sorte, especialmente quando os benefcios so suficientemente elevados.
Antnio Bispo (2000, 78) designa um conjunto de atributos qualitativos
cura dimensionar o risco. Esses atributos so os seguintes: clareza, severidade, surpresa,
prazo, complexidade, controlabilidade, reversibilidade e responsabilizao.
A associao de comportamentos tpicos definio dos atributos dar-nos-
portamental por parte dos decisores. Nestas circunstncias, podemos afirmar que os atributos
sco esto associados s consequncias da deciso ou do comportamento. A
- Os decisores tm uma tendncia para assumir mais os riscos numa situao de
que existe uma maior percepo do risco, do que numa situao confusa;
A severidade do risco a
- A surpresa contribui para o exagero da percepo do risco, dado que na mente do decisor
tudo poder acontecer;
O tempo de materializa
palavras, a percepo do risco diminuda sempre que a projeco das consequncias
feita para o longo prazo;
- Num decisor avesso ao risco, a complexidade da situao agrava a percepo do risco e
tem um efeito contrrio nos decisores propensos ao risco;
No que respeita controlabilidade, se o decisor julga que as suas decises no do origem
a efeitos imprevistos, a percepo de risco diminui e, consequentemente, aument
propenso ao risco. Da mesma forma, o decisor assume com maior facilidade o risco se
julga que pode corrigir uma deciso, v
- Neste caso, podemos afirmar que a reversibilidade da deciso aumenta a tolerncia ao
risco e faz diminuir a sua percepo;
Finalmente, a responsabilizao um dos atribu
13 De acordo com este autor (2000, 77), os atributos qualitativos dizem respeito s vrias categorias de resultados provenientes da evoluo previsvel da situao, ou seja, das suas consequncias.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
15
Antnio Bispo, o julgamento posterior sobre o que foi decidido condiciona a percepo do
ados de uma
org
identificados no nvel mais baixo da hierarquia no so
com
ulturas genricas com base em duas medidas: o grau de risco
ass
risco e o grau de propenso ou averso ao mesmo.
4.2. Cultura Organizacional
De entre os factores14 que se relacionam com a envolvente do risco e que contribuem para a
justificao de diferentes comportamentos, vamos analisar um pouco melhor o factor cultura.
De acordo com Sebastio Teixeira (1998, 173), a cultura de uma organizao pode definir-se
como um conjunto de valores, crenas e hbitos partilhados pelos membros de uma
organizao que interagem com a sua estrutura formal produzindo normas de comportamento.
A cultura organizacional influencia o mtodo de deciso, a comear pela forma como se gera o
consenso e se atribuem responsabilidades, na maneira como se encara o indivduo, o grupo, a
hierarquia e a sociedade, como se interpreta uma situao e se efectuam os clculos dos riscos.
Para este autor, a tolerncia ao risco, definida como a medida como os empreg
anizao so encorajados a ser agressivos, inovadores e a enfrentar o risco, constitui uma
das caractersticas primrias que captam a essncia da cultura de uma organizao.
Organizaes com uma cultura avessa ao risco recompensam, geralmente, quem gere a crise
e punem aqueles que identificaram as razes pelas quais o projecto no pode prosseguir. Neste
tipo de organizaes, os riscos
unicados ao nvel onde estes poderiam ser correctamente analisados e onde um plano de
contingncia seria desenvolvido.
Apesar de cada organizao ter uma cultura prpria que a distingue das outras organizaes,
tendo em conta algumas caractersticas comuns, possvel agrupar as organizaes de acordo
com os tipos de culturas. Uma das classificaes mais conhecidas deve-se a Deal e Kennedy, que
identificaram quatro tipos de c
ociado actividade da organizao e a velocidade do feedback das informaes sobre o
sucesso das decises de gesto.
A cultura risco elevado feedback rpido caracteriza-se pela capacidade para tomar
decises rpidas e saber viver com o risco. claramente o tipo de cultura da organizao militar
em campanha. A cultura risco reduzido feedback rpido caracterstica das organizaes
que desenvolvem um volume elevado de operaes, como o caso das organizaes comerciais.
Por sua vez, a cultura tipo risco elevado feedback lento anda associada a empresas que
investem somas elevadas e que tm de esperar muitos anos at saber se a deciso foi ou no
14 Antnio Bispo considera os seguintes factores de avaliao e de preferncia de risco: contexto, cultura, organizao social, factores cognitivos, motivacionais e de dinmica de grupo relativos ao prprio centro de deciso.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
16
adequada. Finalmente, a cultura risco reduzido feedback lento prpria de organizaes em
que os trabalhadores so cautelosos e com uma mentalidade proteccionista. Em tempo de paz,
possvel identificar este tipo de cultura em muitas das U/E/O do Exrcito.
parece-nos que o esforo da organizao deveria ser no sentido de
desenvolver e manter, permanentemente, uma cultura de risco em tudo semelhante exigida em
rminada operao ou actividade,
bas
Fonte: Adaptado de Sebastio Teixeira, 1998, 177.
Figura 2 Classificao de Culturas de Deal e Kennedy
Importa salientar que o Exrcito desenvolve actividades que se podem enquadrar em todos
estes tipos de culturas. No entanto, por a generalidade das actividades desenvolvidas no Exrcito
apresentarem riscos elevados,
campanha (cultura do tipo 2).
5. Integrao da Gesto do Risco no Processo de Deciso Militar
Durante o processo de tomada de deciso, o comandante permanentemente confrontado
com o dilema de cumprir a misso atribuda sua unidade e de garantir a proteco da fora. A
definio do grau de risco que deve ser aceite numa dete
eada na relao custo benefcio, uma responsabilidade exclusiva do comandante e dever
ser expressa objectivamente na sua directiva de planeamento.
Constituindo-se como parte integrante do processo de deciso militar, a anlise dos riscos e a
gesto dos mesmos, d ao comandante uma ferramenta para equilibrar as necessidades de
proteco da fora com os objectivos da misso. No entanto, a nica forma de assegurar que a
gesto do risco completamente integrada no processo de deciso, consiste em envolver todos os
Qua
ntid
ade
de ri
sco
Velocidade de feedback
Cultura 3
Risco reduzido Feedback lento
Cultura 2
Risco elevado
Feedback rpido
Cultura 1
Risco elevado Feedback lento
Cultura 4
Risco reduzido
Feedback rpido
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
17
militares pertencentes fora. Assim sendo, os comandos subordinados gerem os riscos dentro
das suas esferas de atribuies, cabendo-lhes ainda executar as medidas de controlo
det
deciso militar e o Anexo B detalha as responsabilidades dos comandantes, dos oficiais de
Estado-Maior e dos co tivas im
Processo de
M
Identificao dos Perigos Perigos e
Determinao dos Riscos
Desenvolvimento dos Controlos e
Tomada de Deciso de Risco
o das Medidas
de Controlo
Superviso
erminadas pelo comando superior. Por sua vez, o combatente individual executa as medidas
de segurana padro, definidas para a sua funo.
A figura 3 mostra a integrao dos cinco passos da gesto do risco no processo de tomada de
mbatentes individuais, rela
Anlise dos
plementao da gesto do risco.
Deciso ilitar
Implementa- eAvaliao
Re a X cepo dMisso Anlise da X X Misso
For o X X X muladas M/A Anlise das X X X M/A C X omparaodas M/A Aprovao das M/A X
Difuso de
OOp Planos e X
Treinos X X X X X 15
Execuo15 X X X X X
0-14, 2-1.
Figura 3 Integrao da Gesto do Risco no Processo de Deciso Militar
Fonte: Traduzido e adaptado de FM 10
15 Todas as caixas aparecem marcadas para enfatizar a continuidade da avaliao dos riscos durante o decorrer da misso.
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
CAPTULO II ESTUDO DE CASOS
O captulo I forneceu terminologia e conceitos sobre o risco e a gesto do risco. Neste
captulo, propomo-nos analisar alguns modelos de gesto do risco.
Assim, aps a apresentao de um modelo que designamos por modelo bsico, concentramos
a nossa ateno no estudo dos modelos adoptados pelo Exrcito dos EUA e pela Fora Area
Portuguesa. Com excepo dos dados respeitantes ao US Army Safety Center, a generalidade
dos elementos referentes ao modelo adoptado pelo Exrcito americano so uma traduo do
captulo 2 do FM 100-14 (Risk Management Process, 1998, 2-0 a 2-21). No caso especfico da
FAP, os elementos apresentados constituem uma compilao de dados retirados do RFA 330-1
(Preveno de Acidentes, 1999) e de contactos informais estabelecidos com o Gabinete de
Preveno de Acidentes (GPA) da Inspeco-Geral da Fora Area (IGFA).
1. Modelo Bsico
O modelo bsico adopta uma aproximao sociocognitiva para descrever o processo de
gesto do risco, partindo da ideia bsica de risco, da sua percepo e da sua aceitao. Esta
aproximao incluiu factores organizacionais e de cultura para a definio do problema, e os
factores do contexto e da personalidade do decisor para avaliao e aceitao do risco. Neste
sentido, os aspectos psicolgicos, sociolgicos e cognitivos so fundamentais.
O modelo parte de uma determinada situao que pode suscitar a percepo de ameaas ou
de condies de oportunidade. Esta situao tem associado um risco real. Para Antnio Bispo,
este risco objectivo, independente do decisor e a sua anlise s ser possvel de realizar se o
decisor dispuser de toda a informao sobre o evoluir da situao (2000, 55).
Consequentemente, o decisor pode aperceber-se ou no de que a sua deciso envolve um
determinado risco. Por este motivo, o modelo bsico atribui uma grande importncia percepo
do risco, a qual afectada pelo grau de incerteza e apresenta uma natureza subjectiva resultante
da experincia do decisor, do seu mapa cognitivo e do contexto organizacional.
Resultado de uma avaliao baseada em factores j identificados, o decisor estima um nvel
de risco para a situao ou comportamento, o qual se designa por risco percebido. este tipo de
risco que vai ser confrontado com o risco aceitvel e, no caso de o custo ser considerado
sustentvel d origem deciso.
Uma vez produzida a deciso, h que explorar a informao de retorno, constituindo-se um
ciclo determinado por um melhor conhecimento da situao e que pode originar a reviso dos
riscos.
18
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
19
Fonte: Traduzido e adaptado de Yaacov Y. I. Vertzberger, 2000, 19.
Figura 4 Ciclo de Deciso Baseado na Anlise do Risco
Para alm do ciclo de deciso baseado na anlise do risco, importa referir que no modelo
bsico todos os riscos so planeados por quem possui o conhecimento e os recursos para lidar
com eles de forma eficaz. De uma forma muito simplista, a fase de planeamento transforma a
informao sobre os riscos, em decises e aces (presentes e futuras) e visa responder s
seguintes perguntas:
- Quem responsvel16 por um risco? (atribuio de responsabilidades);
- O que se deve ou pode fazer? (definio da abordagem);
- O que se deve fazer e em que medida? (definio das aces).
O organograma do processo de deciso no planeamento dos riscos pode ser visualizado na
figura 5.
O problema que se coloca neste modelo o de saber de que forma podemos estabelecer
margens de confiana quanto determinao das consequncias previstas e da probabilidade da
sua materializao.
Num mundo cada vez mais dominado pelo no racional, por maior que seja o esforo de
objectividade, nunca poderemos eliminar os aspectos de avaliao subjectiva, muitas vezes
determinados por elementos de natureza emotiva. No modelo bsico, a experincia dos
comandantes e das pessoas que preparam os elementos de deciso assume um papel de
fundamental, em particular na forma como afecta os resultados e probabilidades.
Situao Oportunidade Risco Real Risco Percebido
Risco Aceitvel Deciso Implementao Resultado
16 Responsabilizar-se pelo risco implica reter a responsabilidade pelo sucesso ou falha da misso, ficar com a tarefa de desenvolver e implementar medidas de controlo, e manter a autoridade para atribuir recursos para as aces de controlo do risco. A responsabilidade pelo risco pode ser delegada ou transferida. O primeiro caso corresponde a reter a responsabilidade do risco delegando, para outrem, a tarefa de desenvolver e implementar medidas de controlo e a responsabilidade para atribuir os recursos necessrios. Por sua vez, transferir a responsabilidade corresponde a reconhecer que os riscos podem ser tratados de forma mais adequada por algum noutra parte da organizao e, consequentemente, todas as responsabilidades so transferidas para esse algum.
Feedback 1 Feedback 2 Feedback 3
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
Fonte: Antnio Miguel, 2002, 99.
Figura 5 Organograma do Processo de Deciso no Planeamento dos Risco
2. O Caso do Exrcito dos Estados Unidos da Amrica
2.1. Generalidades
No final da dcada de oitenta, o Exrcito dos EUA introduziu o processo de gesto de riscos
nas suas actividades de treino e operacionais e na aquisio de novos equipamentos. Esta deciso
teve como finalidade primria reduzir o elevado nmero de acidentes que se verificavam durante
Reviso dos Riscos
Plano de
Contingncia
Plano Reduo
Lista de Tarefas 1 ____________ 2 ____________ 3 ()
NoSim
Aceitar Reduzir Observar
PesquisarPlano de pesquisa
Monitorizao dos riscos
Necessito agir sobre
este risco?
NoPosso viver com este
risco?
SimSim
No
Sim
No
Delega Transfere
No No
Sim Sim
Descrio do Risco Contexto
A gesto
deste risco uma tarefa
minha?
Impacto Gravidade O Data de ocorrncia risco Classificao interno minha
organizao? Ordenao
Mantm
Sei o suficiente sobre este
risco?
Responsabilidade
Abordagem
Aces
suficiente uma lista tarefas?
20
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
21
o treino militar e, consequentemente, proteger e preservar os recursos humanos e materiais17.
Apesar de todos os esforos, as estatsticas referentes a 1990, publicadas pelo US Army Safety
Center, centro de referncia para assuntos de segurana no Exrcito americano, registavam a
ocorrncia de 8696 acidentes. Destes acidentes resultaram 320 mortos, 6535 feridos e danos
materiais da ordem dos 159 milhes de dlares (http://safety.army.mil, 24 de Agosto de 2003).
Alarmados com estes dados estatsticos, no incio da dcada de noventa, o Exrcito
americano estabeleceu como objectivo integrar a gesto do risco em todas as suas actividades e
nos comportamentos individuais de todos os militares e civis. O envolvimento pessoal do
Comandante do Exrcito (General Eric Shinseki) e de todos os comandantes na preveno de
acidentes e uma perfeita compreenso da importncia da utilizao do processo de gesto do
risco na preservao do potencial de combate, conduziram ao sucesso desta deciso. De acordo
coma a mesma fonte, doze anos mais tarde, o nmero de acidentes encontrava-se reduzido para
2625, com 185 mortes, 1747 feridos e um prejuzo ligeiramente superior a 77 milhes de dlares.
Presentemente, a gesto do risco aplicada em todas as actividades do Exrcito dos EUA.
Trata-se de um processo intimamente relacionado com os factores da deciso, com aplicao em
todo o espectro de operaes militares, actividades e processos empregues no Exrcito dos EUA.
de salientar que a anlise de riscos se encontra perfeitamente integrada no processo de deciso
militar, assumindo-se como uma ferramenta essencial no apoio tomada de deciso.
2.2. Processo de Gesto de Riscos
O processo de gesto de riscos empregue pelo Exrcito dos EUA encontra-se esquematizado
na figura 6. O primeiro e o segundo passo do processo compreendem a etapa convencionalmente
designada de avaliao ou anlise de risco18. Nos passos seguintes, so desenvolvidas as aces
que permitem gerir os riscos.
O primeiro passo do processo consiste na identificao dos perigos com que podemos ser
confrontados durante o planeamento, preparao e execuo da operao. Os perigos podem ser
identificados recorrendo a vrios modelos de anlise. De acordo com o FM 3-100.12, os mais
comuns so os modelos METT-TC e 5-M19 (2001, II-8).
O primeiro modelo utiliza os factores de deciso como ferramenta para identificao dos
perigos que afectam os riscos tcticos e de acidentes.
17 Nesta poca, a gesto do risco era encarada como uma funo exclusiva dos Oficiais de Segurana. 18 A anlise de risco e avaliao de risco, so termos frequentemente utilizados como sinnimos, embora a anlise de risco seja mais vasta incluindo os aspectos de gesto de risco (Isabel Rovisco, 1996). 19 METT-TC (Mission, Enemy, Terrain and Weather, Troops and Support Available, Time Available and Civil Considerations); 5-M (Man, Machine, Media, Management and Mission).
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
22
Fonte: Traduzido e adaptado de FM 100-14, 1998, 2-20.
Figura 6 Modelo de Gesto
Por sua vez, o modelo dos 5-M constitui-se como uma ferramenta alternativa para
det
do Risco do Exrcito dos EUA
erminao dos perigos durante a anlise da misso. De acordo com este modelo, o sucesso ou
falha da misso depende das relaes que se estabelecem entre os cinco elementos que
constituem o sistema homem, mquina, meio, gesto e misso.
Passo 1. Identificao dos perigos (aplicar MITM-TC)
Passo 2. Anlise dos perigos e determinao dos riscos
Estimar a probabilidade
Estimar a gravidade
Determinar o nvel de risco para cada perigo e o risco
global da misso
Passo 3. Desenvolvimento dos controlos e tomada de deciso de risco
Desenvolver controlos
Deciso de risco
Determinar o nvel de risco residual para cada perigo e o risco residual
global da misso
Passo 4. Implementar controlos
Passo 5. Superviso e avaliao
Superviso Avaliao
Misses Misses Misses
Lies aprendidas
Novos perigos
Novos controlos
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
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Fonte: Air Force Civil Engineers ORM Handbook, 2002, 4.
Figura 7 Modelo de Anlise dos 5-M
O Anexo C permite visualizar um conjunto de categorias de perigos que resultam de uma
anlise simplista dos factores de deciso e dos 5-M. Estas categorias podem ser utilizadas para
identificar outras subcategorias de perigos que se colocam ao cumprimento da misso ou
actividade.
No passo correspondente anlise dos perigos e determinao dos riscos, so
determinadas as consequncias directas que cada perigo pode ter sobre a operao. Compreende
a avaliao da probabilidade de ocorrerem os perigos identificados no primeiro passo e da
gravidade da perda ou dano que resulta da exposio a cada um desses perigos. O produto20
destas duas variveis corresponde ao grau do risco de cada um dos perigos que no foi possvel
eliminar. O risco global da operao, determinado quando for identificado mais do que um
perigo, corresponde sempre ao grau de risco mais elevado estimado para os vrios perigos21. O
uso de uma matriz de avaliao do risco (ver Anexos A e D), embora no seja indispensvel,
pode ser til na determinao dos riscos.
O terceiro passo diz respeito ao desenvolvimento dos controlos e tomada de decises de
risco. Uma vez identificados os riscos e medidos os seus efeitos sobre o sucesso da misso, o
comandante deve actuar no sentido de eliminar os perigos e de controlar os riscos. Esta fase do
processo consiste, inicialmente, na definio das medidas de controlo para reduzir os riscos a um
nvel aceitvel, iniciada pelos riscos mais elevados. De acordo com o FM 100-14 (1998, 2-14),
20 De acordo com Boehm, a exposio ao risco ser definida pela relao ER = Prob (Ri) x Perda (Ri), em que Prob (Ri) a probabilidade de ocorrncia de um risco (Ri) e Perda (Ri) o valor da perda caso o risco se materialize (1989, 6). 21 A determinao da mdia dos graus de risco estimados para os vrios perigos no tem qualquer validade e constitui um erro.
Meio
HomemGesto
Misso
Mquina
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
os tipos de controlos a implementar pertencem a uma das seguintes trs categorias:
- Controlos educacionais, baseados na experincia e no nvel de instruo militar das
unidades e dos indivduos. Elevados padres de treino contribuem, de forma decisiva, para
a implementao eficaz das medidas de controlo desenvolvidas nesta fase;
- Controlos fsicos, utilizados para alertar as unidades e os militares sobre a existncia de um
ou mais perigos;
- Controlos evasivos, aplicados quando os comandantes adoptam aces para evitar a
exposio aos perigos identificados.
As medidas de controlo a desenvolver no devem interferir nos objectivos a serem atingidos
e, para serem eficazes, devem ser apropriadas, viveis e aceitveis. A responsabilidade da
implementao deve ser atribuda a unidades com capacidade para implementar as medidas
desenvolvidas, e os benefcios ganhos com a implementao dos controlos devem compensar os
gastos com os recursos e o tempo gasto na sua implementao.
Aps o desenvolvimento dos controlos, requerida a tomada de decises de risco. a fase
em que o comandante deve decidir se os controlos so suficientes e aceitveis e o que fazer com
o risco, isto , se os deve aceitar, evitar, delegar ou transferir.
Se o risco for no aceitvel, a deciso dever ser no sentido de alterar as medidas
desenvolvidas anteriormente ou de implementar novas medidas. Eventualmente, a m/a poder ser
modificada, alterada ou rejeitada. Caso exista necessidade de implementar medidas de controlo
que estejam fora da capacidade de uma unidade, dever ser informado o escalo superior.
O desenvolvimento das medidas de controlo e a tomada de decises de risco ocorrem durante
as fases de formulao, anlise, comparao e aprovao das modalidades de aco (M/A), do
processo de deciso militar (ver figura 3).
A implementao dos controlos consiste em aplicar as medidas de controlo seleccionadas
para reduo dos riscos, colocando todos os meios e recursos necessrios disposio dos
responsveis pela sua execuo. Os controlos no devem estabelecer restries que
comprometam o sucesso da misso, e a sua implementao tem incio com a difuso do plano
ou ordem de operaes. A chave para garantir o sucesso desta fase consiste em assegurar que as
medidas de controlo sejam convertidas em ordens claras e simples, perfeitamente entendidas em
todos os nveis. Durante a sua implementao, a competncia dos comandantes e a auto-
disciplina de todos os militares assumem uma importncia fundamental. Como regra
fundamental de registar que no caso de alguma medida de controlo no ser implementada,
dever ser tomada uma nova deciso de risco, no nvel adequado.
A ltima fase do processo corresponde superviso e avaliao. Durante a preparao e
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Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
execuo da misso, todos os comandantes asseguram que os seus subordinados entendam e
executem as medidas de controlo implementadas e que saibam como gerir os riscos inerentes
mesma. A superviso consiste em verificar que as medidas de controlo implementadas
continuam eficazes e em detectar qualquer mudana nos parmetros da operao. Sempre que se
justifique, os comandantes devem proceder a alteraes nas medidas em uso ou implementar
novas medidas, de modo a manter o risco num nvel aceitvel. Por sua vez, a avaliao
realizada durante o decorrer e no final da misso. uma responsabilidade repartida em que todos
os militares avaliam o modo como o processo de gesto do risco foi aplicado, a eficcia dos
controlos estabelecidos e relatam lies apreendidas, para que no futuro outros militares possam
beneficiar das experincias vividas e dos ensinamentos recolhidos.
2.3. US Army Safety Center
O US Army Safety Center tem as suas origens na criao e posterior incremento da Aviao
do Exrcito. Do seu historial, por considerarmos de interesse para o presente trabalho,
destacamos os seguintes aspectos:
- Entre 1974 e 1978, o US Army Safety Center era designado por US Army Agency for
Aviation Safety (USAAAVS) e encontrava-se na dependncia directa do Inspector General
(Inspector-Geral do Exrcito);
- Em 1978, passou a ser designado com o actual nome e a estar na dependncia do
Comandante do Pessoal (Deputy Chief of Staff for Personnel). A sua misso foi alterada de
forma a englobar no s a responsabilidade pela segurana area mas tambm a
responsabilidade pela segurana terrestre;
- Em Outubro de 1983, o Commander of Army Safety Center passou a designar-se como
Deputy Director of Army Safety e o Safety Center passou a ter responsabilidades de
estado-maior na implementao do Programa de Segurana do Exrcito e a servir como
principal rgo de assessoria do Estado-Maior do Exrcito (Department of the Army) sobre
a preveno de acidentes;
- Desde Julho de 1987, o Commander of the Safety Center passou a ser designado por
Director of Army Safety. Pela primeira vez a funo foi assumida por um oficial general o
qual, atravs do Director of the Army Staff, responde perante o Chefe do Estado-Maior do
Exrcito (Army Chief of Staff).
Presentemente, o Safety Center possui pessoal responsvel pela administrao do Programa
de Segurana do Exrcito (Army Safety Program) e apoio a todos os comandantes na integrao
da gesto do risco em todas as actividades das suas unidades. Enquanto a segurana
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Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
inteiramente reconhecida como um programa de comandantes, o pessoal do Safety Center (48
militares e 76 civis) apoia os comandantes fornecendo-lhes informao oportuna sobre perigos,
riscos e informao sobre controlos. Atravs da disponibilizao de informao sobre potenciais
riscos, suportada em dados histricos e actuais, a pgina oficial do US Army Safety Center
contribui de forma decisiva para o sucesso deste objectivo.
3. O Caso da Fora Area Portuguesa
3.1. Generalidades
Nas Foras Armadas (FFAA), a Fora Area Portuguesa foi pioneira na avaliao dos riscos
relacionados com uma variada gama de actividades profissionais. A necessidade de se organizar
um sistema eficiente de segurana de voo, fez com que fosse criada uma estrutura voltada para a
investigao e preveno de acidentes. Desde ento, as actividades desenvolvidas tm
contribudo para a criao de uma mentalidade de segurana, dentro da qual a preocupao de
identificar e reduzir os riscos relacionados com a actividade area, est sempre presente. O
sucesso alcanado pode ser comprovado atravs da verificao das estatsticas de acidentes
aeronuticos que envolvem aeronaves da FAP. A ocorrncia de um pequeno nmero de acidentes
reflecte, directamente, a mentalidade de segurana existente nas unidades operacionais da Fora
Area Portuguesa.
Acresce referir que a FAP tem a responsabilidade de estabelecer e manter contacto com
organismos nacionais e internacionais e de integrar o Air Forces Flight Safety Committee Europe
AFFSC (E) e o Flight Safety Working Group (FSWG) da Organizao do Tratado do Atlntico
Norte (OTAN), o que lhe impe a necessidade de se manter actualizada com os modernos
processos e tcnicas de gesto de risco.
Presentemente, a FAP encontra-se empenhada em aplicar os princpios da gesto do risco a
todas as suas actividades. Para o efeito, elaborou um primeiro draft do Manual de Gesto do
Risco Operacional (ORM) e ministra instruo de ORM nos cursos de oficiais e sargentos, nos
cursos de segurana de voo e nos estgios para comandantes de unidades. O processo de gesto
do risco encarado como um mtodo de apoio tomada de deciso e apresenta uma metodologia
muito idntica do modelo adoptado pelo Exrcito dos EUA. Por motivos que nos parecem
bvios, os aspectos relacionados com os riscos de acidentes continuam a predominar sobre os
associados aos riscos tcticos.
O modelo adoptado pela FAP e a estrutura que lhe serve de suporte, so descritos nos
pargrafos que se seguem e encontram-se esquematizados no Anexo E.
26
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
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3.2. Preveno de Acidentes
Na sua generalidade, as actividades desenvolvidas na Fora Area apresentam riscos muito
elevados. Por sua vez, os meios humanos e materiais tm custos de formao bastante grandes e
valores patrimoniais superiores generalidade dos equipamentos utilizados nas Foras Armadas.
Consequentemente, a preservao destes recursos constitui uma das principais preocupaes da
FAP.
Em concordncia com estes objectivos, a FAP desenvolve programas e planos de
preveno de acidentes que cobrem todas as suas reas de actividade. Atravs da sua aplicao
prtica pretende:
- Antecipar aces que permitam eliminar os perigos ou que contribuam para reduzir os
riscos de acidentes;
- Evitar que as aces de preveno se apoiem apenas nas concluses e recomendaes
retiradas das investigaes sobre acidentes anteriores;
- Contribuir para o desenvolvimento de um elevado grau de operacionalidade.
A metodologia da preveno de acidentes pode ser traduzida pelo modelo da figura que se
segue.
Fonte: Alberto Miguel, 1995, 73.
Figura 8 Modelo de Preveno de Acidentes
Intro
du
o de
Alte
ra
es
Identificao e Avaliao da Situao de Risco
Controlo de Resultados
Seleco de Medidas Correctivas
Desenvolvimento de Tcnicas de Preveno de Acidentes e de Controlo de Perdas
Aplicao de Medidas Correctivas
Anlise de Risco: Uma Ferramenta de Apoio Deciso.
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No mbito da preveno de acidentes, a Fora Area regista como fundamentais os seguintes
aspectos:
- Todo e qualquer acidente ou ocorrncia d origem a uma investigao de ocorrncia.
Durante a investigao, so desenvolvidos esforos para identificar as causas do acidente e
para determinar com preciso qual a sua influncia no desenrolar dos acontecimentos. Deste
modo ser possvel adoptar as medidas correctivas adequadas e prevenir a sua repetio no
futuro. Importa relevar que a investigao de ocorrncia independente de todo e qualquer
outro procedimento que venha a ser adoptado e que os seus resultados s podem ser
utilizados no mbito da preveno de acidentes;
- A preveno de acidentes , a todos os nveis, uma responsabilidade do comandante ou
chefe. O empenhamento pessoal do comandante apresenta-se como fundamental para o
sucesso do desenvolvimento e aplicao do programa. A postura dos subordinados ser
sempre o reflexo do apoio, orientao, motivao, interesse e esforo que o comandante lhe
dedicar;
- Por ltimo, a organizao da preveno de acidentes determina que, a cada nvel de deciso,
o comandante ou chefe, seja apoiado por especialistas nesta matria. No mbito das suas
competncias funcionam como assessores e conselheiros tcnicos, contribuindo para que o
cumprimento da misso da Unidade se concretize com um mnimo de perdas e danos.
Importa referir que os seus assessores para a preveno no tm qualquer autoridade
executiva para determinar aces.