Análise Do Comport. Elasto-Plástico de Um Aço AISI 1045
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MINISTRIO DA EDUCAO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE MINAS, METALRGICA
E DE MATERIAIS
Anlise do Comportamento Elasto-plstico de um Ao AISI 1045 em Baixas
Deformaes
por
Juliana Dagnese
Dissertao para obteno do Ttulo de
Mestre em Engenharia
Porto Alegre, Julho de 2012
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ii
Anlise do Comportamento Elasto-plstico de um Ao AISI 1045 em Baixas Deformaes
por
Juliana Dagnese
Engenheira de Materiais
Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Minas,
Metalrgica e de Materiais, da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, como parte dos requisitos necessrios para a obteno do Ttulo de Mestre.
Mestre em Engenharia
rea de Concentrao: Processos de Fabricao
Orientador: Prof. Dr. Alexandre da Silva Rocha, PPGE3M - UFRGS
Comisso de Avaliao:
Prof. Dr. Diego Rodolfo Simes de Lima, IFSC
Prof. Dr. Mrio Wolfart Jr., IFRS
Prof. Dr. Thomas Rosauro Clarke, UFRGS
Prof. Dr. Telmo Roberto Strohacker
Coordenador do PPGE3M
Porto Alegre, 2012
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iii
Dedico este trabalho minha famlia e em especial ao Dr. Eng. Thomas K. Hirsch que me
auxiliou muito e sua esposa Jutta que sempre me recebeu de braos abertos.
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iv
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v
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, aos meus pais Bernardete Giordani Dagnese e Jandir Antonio Dagnese,
minha irm Cristhiane Dagnese e ao meu namorado Felipe Rodrigues de Almeida Rocha pelo
apoio e suporte em todos os momentos.
Ao meu orientador Professor Dr. Eng. Alexandre da Silva Rocha pela oportunidade,
ensinamentos, suporte e pacincia durante toda a realizao do trabalho.
Ao Dr. Eng. Thomas K. Hirsch, pesquisador e docente do instituto IWT da Universidade de
Bremen, Alemanha pela imensa dedicao, ensinamentos, oportunidades e por todo suporte
ao longo da minha estadia no instituto IWT e ao prprio IWT e sua equipe.
equipe do Grupo de Engenharia de Superfcies do LdTM que me acompanhou durante esta
trajetria e teve papel fundamental durante todo o projeto no qual este trabalho esta inserido,
aos colegas e amigos MSc. Eng. Tomaz Fantin de Souza, MSc. Eng. Guilherme Both, MSc.
Enga. Carla Adriana Theis Soares, graduando em engenharia metalrgica Tiago Brun Coser e
ao graduando em engenharia metalrgica Ricardo Mller de Moura. Agradeo em especial ao
colega e amigo Dr. Eng. Rafael Nunes pelo suporte, conselhos, e pela experincia
compartilhada que foram essenciais.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ao Programa de Ps Graduao em
Engenharia de Minas, Metalrgica e de Materiais e aos professores que fazem a excelncia
deste Programa.
A CAPES e a FINEP pelo apoio financeiro.
Ao CNPq pela oportunidade e bolsa do Programa BRAGECRIM.
equipe do LdTM e aos demais colegas MSc. Eng. Patrik Bonaldi e graduando em
engenharia metalrgica Pedro Conrado, pela convivncia, conselhos, troca de experincias e
amizade.
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vi
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo investigar o comportamento elasto-plstico em baixas
deformaes do fio mquina laminado em ao AISI 1045 destinado a trefilao e processos
subsequentes de beneficiamento. Inicialmente, foi obtido material de quatro diferentes lotes
de fabricao, sendo todas as amostras retiradas aps a etapa de pr-endireitamento do
processo de trefilao. O material foi caracterizado atravs de anlise da composio qumica,
metalogrfica, determinao de tamanho de gro e segregao. Alm disso, o comportamento
elasto-plstico do material em ciclos de trao e compresso foi investigado, identificando-se
o efeito Bauschinger para trs diferentes temperaturas. Os modelos numricos de Ramberg-
Osgood e Ludwig-Hollomon foram utilizados para a definio de uma modelo numrico da
curva para utilizao em trabalhos futuros de simulao computacional. O modelo de Ludwig-
Hollomon foi avaliado como mais satisfatrio para baixas deformaes e foi ento utilizado
para o clculo da curva mdia de quatro lotes. A partir de curvas de escoamento de ao
similar obtidas da literatura, foi possvel obter-se uma extrapolao da curva para diferentes
taxas de deformao, alm da taxa de 0.05s-1, original dos ensaios: 1.6 s-1, 8 s-1, e 40 s-1.
Palavras-chave: ao AISI 1045; efeito Bauschiger, curva de escoamento; Ludwig-Hollomon;
Ramberg-Osgood.
-
vii
ABSTRACT
The purpose of this work is to investigate the elastic-plastic behavior at low strains of steel
rolled coil AISI 1045 intended for cold-drawing and subsequent processes. First, the material
was withdrawn from four different manufacturing batches and all samples were taken from
the pre-straightening process step. The material was characterized by means of chemical and
metallography analysis, grain size and segregation. Furthermore, the elastic-plastic behavior
in tension and compression cycles was investigated and the Bauschinger effect was identified
for three different temperatures. The numerical models Ramberg-Osgood and Ludwig-
Hollomon were the models used in this work to define the flow curve which can be used in
future computer simulation works. The analysis showed that the Ludwig-Hollomon model is
more adequate for low strains ranges. Ludwig-Hollomin was used to calculate the average
flow curve based on the curves of the four batches. By using literature flow curves of similar
steels, it was possible to make an extrapolation and to obtain flow curves at different strain
rates beyond the experimental one: 1.6 s-1, 8 s-1, e 40 s-1.
Keywords: AISI 1045 steel; Bauschiger effect, flow curve; Ludwig-Hollomon; Ramberg-
Osgood;
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viii
NDICE
AGRADECIMENTOS .................................................................................................. v
RESUMO ....................................................................................................................... vi
ABSTRACT ................................................................................................................... vii
NDICE .......................................................................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... x
LISTA DE TABELAS ................................................................................................... xii
LISTA DE SMBOLOS E ABREVIATURAS............................................................ xiii
1 INTRODUO ....................................................................................................... 1
2 REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................... 3
2.1 Deformao dos materiais.........................................................................................3
2.2 Critrios de escoamento para metais dcteis ............................................................4
2.2.1 Critrio de von Mises ...........................................................................................6
2.2.2 Critrio da mxima tenso de cisalhamento (critrio de Tresca)....................7
2.3 Ensaio de Trao e Ensaio de Compresso...............................................................9
2.4 Curva tenso-deformao verdadeira e curva de escoamento ................................10
2.5 Expresso matemtica para a curva de escoamento ................................................12
2.6 Fatores de Influncia ...............................................................................................16
2.6.1 Efeito da microestrutura e composio qumica .............................................16
2.6.2 Segregaes .........................................................................................................19
2.6.3 Efeito dos Elementos Qumicos na Segregao ...............................................21
2.6.4 Efeito do bandeamento nas propriedades mecnicas .....................................23
2.6.5 Efeito da taxa de deformao e da Temperatura............................................24
2.7 Efeito Bauschinger ..................................................................................................27
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ................................................................ 28
3.1 Material e Composio Qumica.............................................................................28
3.2 Anlises Metalogrficas e Macrogrficas ...............................................................29
3.3 Ensaio e parmetros ................................................................................................30
3.4 Expresses matemtica para a curva de escoamento ..............................................34
3.5 Comparao da curva de escoamento com dados da literatura e extrapolao ......35
4 RESULTADOS E DISCUSSES .......................................................................... 38
4.1 Material e Composio Qumica.............................................................................38
4.2 Anlises Metalogrficas e Macrogficas ................................................................38
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ix
4.3 Ensaios mecnicos ..................................................................................................47
4.3.1 Ensaios de trao - Curvas tenso vs deformao ..........................................47
4.3.2 Ensaio de compresso ........................................................................................49
4.3.3 Ensaio de trao-compresso e o Efeito Bauschinger ....................................51
4.4 Expresses Matemticas para as curvas de escoamento .........................................53
4.4.1 Ramberg Osgood.............................................................................................53 4.4.2 Ludwig - Hollomon ............................................................................................56
4.4.3 Ramberg-Osgood vs Ludwig-Hollomon ..........................................................58
4.5 Comparao da curva de escoamento com dados da literatura e extrapolao ......60
5 CONCLUSES:....................................................................................................... 64
5.1 Sugestes para trabalhos futuros.............................................................................65
6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................... 66
-
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1: Superfcie de escoamento de Von Mises. ................................................................ 5
Figura 2.2: Grfico Log-Log da curva tenso versus deformao. Expoente n o expoente de encruamento; K o coeficiente de resistncia ao escoamento. ........................................ 12
Figura 2.3: Propriedades da perlita e esfeiroidita em aos eutetides. (DIETER, 1986) ......... 17
Figura 2.4: Variao das propriedades mecnicas em funo da concentrao de carbono para ao ao carbono de microestrutura constituda de perlita fina. (CALLISTER, et al., 2010)
.......................................................................................................................................... 18 Figura 2.5: Bandas de ferrita com incluses de MnS e bandas de perlita em um ao 10V45
laminado a quente. ............................................................................................................ 24
Figura 3.1: Etapas do processo de trefilao combinada de barras de ao ao carbono. (NUNES, 2008) ................................................................................................................ 28
Figura 3.2: Corpo de prova para testes de trao. 20 mm de comprimento e 5 mm de dimetro. .......................................................................................................................................... 31
Figura 3.3:Execuo do ensaio de compresso. ....................................................................... 32
Figura 3.4: Foto da mquina Gleeble 3500 com controles (esquerda) e cmara e porta-amostras (direita). ............................................................................................................. 33
Figura 3.5: Forma e tamanho da amostra para ensaios de trao uniaxial. .............................. 33 Figura 3.6: Curvas de escoamento para o ao Ck 45 20C, taxas de deformao 0,05s-1, 1.6s-
1, 8s-1, 40s-1. Adaptado de: Fliekurvenatlas metallischer Werkstoffe. ............................ 37
Figura 3.7: Curvas de escoamento para ao AISI 1045 20 C, taxas de deformao 1.6s-1, 8s-1, 40s-1. Adaptado de: banco de dados software Simufact MSC.SuperForm V 10.0..... 37
Figura 4.1: Anlise de incluses seco longitudinal lote D. Presena de incluses alongadas de MnS. ............................................................................................................................. 39
Figura 4.2: Seo axial ataque Nital 2%. Aumento 500 x. A) material lote A. B) material lote
B. C) material lote C.D) material lote D. .......................................................................... 40 Figura 4.3: Distribuio do tamanho de gro seco axial. A) Lote . B) Lote B. C)Lote C. D)
Lote D. .............................................................................................................................. 42 Figura 4.4: Macrografia da seo longitudinal das amostras. Ataque soluo aquosa 50% HCl.
a) Lote A; b)Lote B; c) Lote C; d) Lote D. ....................................................................... 43
Figura 4.5: : Macrografia da seo longitudinal das amostras. Cruzamento das linhas vermelhas tracejadas representa a linha central. Ataque soluo aquosa 50% HCl. a) Lote
A; b)Lote B; c) Lote C; d) Lote D. ................................................................................... 44 Figura 4.6: Macrografia da seo transversal das amostras. Ataque soluo aquosa 50% HCl.
a) Lote A; b)Lote B; c) Lote C; d) Lote D. ....................................................................... 45
Figura 4.7: Macrografia da seo transversal das amostras. Ponto de cruzamento das linhas vermelhas tracejadas representa o centro. Crculo vermelho representa regio de
heterogeneidade da segregao. Ataque soluo aquosa 50% HCl. a) Lote A; b)Lote B; c) Lote C; d) Lote D.......................................................................................................... 46
Figura 4.8: Metalografia seco longitudinal da amostra do lote D. Presena de bandeamento.
.......................................................................................................................................... 47 Figura 4.9: Curvas tenso versus deformao convencionais .................................................. 48
Figura 4.10:Representao das regies de deformao plstica e elstica durante o processo de trefilao (YOSHIDA, et al., 2010). ................................................................................. 49
Figura 4.11. Comparao entre curvas tenso versus deformao verdadeira dos ensaios de
trao e compresso para o material do lote A. ................................................................ 51
-
xi
Figura 4.12: Curvas tenso versus deformao (material lote B) a partir de testes de trao-
compresso para trs diferentes temperaturas (25C, 80C e 120 C). ............................ 52 Figura 4.13: Comparao das curvas de escoamento calculadas via equao Ramberg-Osgood
com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote A. .................................... 54 Figura 4.14: Comparao da curva de escoamento calculada via equao Ramberg-Osgood
com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote B. .................................... 54
Figura 4.15: Comparao da curva de escoamento calculada via equao Ramberg-Osgood com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote C. .................................... 55
Figura 4.16: Comparao da curva de escoamento calculada via equao Ramberg-Osgood com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote D. .................................... 55
Figura 4.17: Comparao da curva de escoamento calculada via equao Ludwig-Hollomon
com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote A. .................................... 56 Figura 4.18: Comparao da curva de escoamento calculada via equao Ludwig-Hollomon
com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote B. .................................... 57 Figura 4.19: Comparao da curva de escoamento calculada via equao Ludwig-Hollomon
com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote C. .................................... 57
Figura 4.20: Comparao da curva de escoamento calculada via equao Ludwig-Hollomon com a curva tenso versus deformao verdadeira para o lote D. .................................... 58
Figura 4.21:Curvas de escoamento obtidas das curvas experimentais e curva mdia calculada. .......................................................................................................................................... 59
Figura 4.22: Curvas tenso versus deformao verdadeira dos lotes e curva de escoamento
mdia calculada a partir do modelo de Ludwig-Hollomon. Destaque para o limite da faixa de representatividade da equao. ........................................................................... 60
Figura 4.23. Valores de tenses de escoamento para o ao AISI 1045 em diferentes deformaes e diferentes taxas de deformao. As linhas representam a tendncia de aumento da tenso de escoamento aumento da taxa de deformao. ............................... 61
Figura 4.24. Curvas de escoamento para diferentes taxas de deformao extrapoladas a partir da curva de escoamento experimental do ao AISI 1045 e dos dados das fontes. ........... 62
Figura 4.25.Comparao da curva de escoamento experimenta com as curvas extradas do banco de dados software Simufact MSC.SuperForm V 10.0. ....................................... 63
Figura 4.26. Comparao da curva de escoamento experimental com as curvas do ao Ck 45
da literatura Fliekurvenatlas metallischer Werkstoffe. ................................................... 63
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xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1: Valores de n e K para metais temperatura ambiente (ASM INTERNATIONAL,
2002). ................................................................................................................................ 13 Tabela 2.2: Testes padres para propriedades mecnicas e as respectivas faixas de taxa de
deformao (KUHN, et al., 2000). ................................................................................... 25
Tabela 3. 1: Composio qumica dos aos AISI 1045 (SAE J403) (% massa).(1) .................. 29 Tabela 3. 2. Composio qumica dos lotes fornecida pelo fabricante (% massa). .................. 29
Tabela 3. 3: Corpos de prova do ensaio de trao-compresso e temperatura do ensaio. ........ 34 Tabela 3. 4: Composio qumica dos materiais DIN Ck45* (Fonte 1). .................................. 36 Tabela 4.1. Composio qumica dos lotes de ao AISI 1045. Anlise por OES. ................... 38
Tabela 4.2: Frao volumtrica de ferrita e tamanho de gro ferrtico. ................................... 41 Tabela 4.3: Propriedades mecnicas por ensaio de trao. ....................................................... 47
Tabela 4.4: Propriedades mecnicas por ensaio de trao. ....................................................... 48
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xiii
LISTA DE SMBOLOS E ABREVIATURAS
0 : Tenso de escoamento inicial/ Tenso limite de elasticidade (MPa)
J2 : segunda invariante do tensor invariante
K : constante para clculo do valor crtico de J2 (representa tenso de escoamento em cisalhamento
puro (toro))
1 : Tenso na direo 1 (MPa)
2 : Tenso na direo 2 (MPa)
3 : Tenso na direo 3 (MPa)
x : Tenso na direo x (MPa)
y : Tenso na direo y (MPa)
z : Tenso na direo z (MPa)
xy : Tenso de cisalhamento no plano xy (MPa)
yz : Tenso de cisalhamento no plano yz (MPa)
xz : Tenso de cisalhamento no plano xz (MPa)
: mxima tenso de cisalhamento
0 : tenso inicial de escoamento em cisalhamento
S: tenso de engenharia (curva tenso vs deformao)
: Tenso verdadeira (curva tenso vs deformao)
P: fora (Nm)
A: rea instantnea (mm2)
A0 : rea inicial (mm2)
L0: comprimento inicial (mm)
e: deformao de engenharia (curva tenso vs deformao)
: deformao verdadeira (curva tenso vs deformao)
n: coeficiente de encruamento
K: coeficiente de resistncia ao escoamento (MPa)
E: mdulo de Young (GPa)
E : deformao elstica verdadeira
: taxa de deformao de engenharia
: taxa de deformao vedadeira
: velocidade da mquina de testes (mm/s)
m : coeficiente de sensibilidade taxa de deformao
C : coeficiente de encruamento.
Q : energia de ativao para o escoamento plstico (cal/gmol)
-
xiv
R : constante universal dos gases [1.987 cal/Kmol]
T: temperatura (Kelvin)
f : frao volumtrica de ferrita
Sp : distncia interlamelar da perlita (mm)
d : dimetro linear mdio do gro de ferrita (mm)
-
1
1 INTRODUO
Nos processos de transformao mecnica, tais como trefilao, laminao,
forjamento, dentre outros, o material deformado plasticamente com o intuito de atingir-se
uma determinada forma final que posteriormente poder sofrer outras operaes de
acabamento e tratamentos trmicos conforme a geometria, dimenses, e propriedades
mecnicas exigidas para o componente. (WANG, 2002). Todas estas operaes tm como
objetivo a mudana de forma do material. Barras de ao so muito utilizadas na indstria de
transformao metal-mecnica para confeco de vrios produtos, tais como arames, tubos,
eixos automotivos, hastes de amortecedores, molas, dentre outros (NUNES, 2008).
A trefilao de barras de ao usualmente utilizada para conferir preciso dimensional
e melhores propriedades mecnicas ao material, com um alto ndice de produtividade. O
processo de trefilao se caracteriza pela trao de barras, arames ou de fio mquina
proveniente do processo de laminao atravs de uma matriz em forma de canal convergente
chamada de fieira ou trefila. A trefilao um processo industrial que acarreta na reduo da
seo transversal e respectivo aumento no comprimento do material (BLACK, et al., 2008). A
maior parte do escoamento plstico causada por esforos de compresso resultantes da
reao do metal com a matriz (DIETER, et al., 2003).
Durante o processo de trefilao combinada de barras, a matria-prima (fio-mquina)
passa por algumas etapas tpicas, tais como o pr-endireitamento do fio mquina, jateamento
para melhoria da condio superficial antes da trefilao, trefilao e endireitamento final por
rolos cruzados quando necessrio garantir a retilinidade. (NUNES, 2008)
A caracterizao do material no que se refere a propriedades mecnicas e
comportamento do mesmo sob deformao plstica essencial para a compreenso dos
fenmenos que influenciam o estado final do componente em cada etapa de um processo de
manufatura que envolve transformao mecnica (BLACK, et al., 2008). A curva de
escoamento de um material descreve a tenso de escoamento do mesmo sob determinadas
condies de deformao, e o perfil desta curva fortemente dependente da temperatura e da
taxa de deformao. O completo entendimento e domnio deste comportamento so
fundamentais para a melhoria dos processos de transformao mecnica como um todo. O
levantamento das curvas de escoamento do material , portanto, essencial para tal domnio e a
partir da determinao destas curvas, possvel a investigao de um modelo matemtico que
-
2
melhor descreva o comportamento do material sob deformao plstica (DIETENBERGER,
et al., 2005).
O modelo numrico um dado de entrada importante para simulao computacional
do processo de trefilao que utiliza esta matria-prima. A compreenso e determinao deste
comportamento tm papel fundamental na melhoria do processo de trefilao combinada em
vista que o perfil de deformao plstica resultante de um processo de transformao
mecnica est fortemente associado com este comportamento plstico e este comportamento
por sua vez, significativamente influenciado por variaes da composio qumica e da
microestrutura. A utilizao de curvas de escoamento como dado de entrada em processos de
simulao computacional que reflitam o particular comportamento plstico, considerando a
condio na qual o material se encontra essencial para obteno de resultados precisos
(Kobayashi, et al., 1989) (HOJNY, et al., 2011).
O principal objetivo desta dissertao investigar o comportamento plstico de um
ao AISI 1045 atravs das suas curvas de escoamento e, alm disso, determinar um modelo
numrico apropriado que descreva o comportamento plstico deste material na faixa de
deformao de interesse. A finalidade desta investigao fornecer dados mais precisos sobre
o material o comportamento plstico do material em questo para futuros estudos de
simulao numrica do processo de trefilao. O material utilizado neste trabalho
proveniente do fio mquina utilizado como matria-prima no processo de trefilao
combinada. O processo de trefilao em questo consiste na reduo do dimetro inicial das
barras de ao AISI 1045 de 21,25 mm para 20,25 mm, ou seja, a reduo em rea de 12,43%.
Trabalhos prvios demonstraram que a deformao global verdadeira sofrida pelo material no
processo de trefilao em questo de 0,13 e portanto o interesse deste trabalho esta na faixa
de deformao at 0,13 (MONDARDO, 2012).
Para a realizao deste estudo, quatro diferentes lotes de material, cujas amostras
foram retiradas aps o fio-mquina passar pela etapa de pr-endireitamento, foram
caracterizados atravs de anlise de composio qumica, metalografia, tamanho de gro e
segregao. As propriedades mecnicas do material e o comportamento elasto-plstico foram
determinados por meio de ensaios de trao. O comportamento no linear da curva tenso-
deformao foi descrito em termos das expresses de Ramberg-Osgood e Ludwig-Hollomon.
Dados da literatura foram utilizados para estimar a curva de escoamento em taxas de
deformao de at 40s-1. O comportamento elasto-plstico tambm foi investigado em ciclos
-
3
de trao e compresso a fim de identificao do efeito Bauschinger em trs diferentes
temperaturas.
importante destacar que este trabalho foi realizado como parte da cooperao
internacional BRAGECRIM (Iniciativa Brasil-Alemanha para Pesquisa em Tecnologia de
Fabricao), dentro do projeto Investigation and improvement of manufacturing process
chain from cold drawing processes to induction hardening reducing dimensional changes
and distortion (Investigao e Melhoramento de uma Rota do Processo de Trefilao
Combinada e Endurecimento por Induo para Minimizao de Distores e Mudanas de
Forma). O projeto BRAGECRIM uma cooperao internacional entre Brasil e Alemanha,
no mbito de gerar conhecimento tecnolgico fundamental, permitindo o desenvolvimento de
solues inovadoras voltadas para a melhoria da qualidade, produtividade e sustentabilidade
dos processos de manufatura, alm da troca de conhecimento entre os pesquisadores dos
pases envolvidos.
2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 Deformao dos materiais
Um material dctil ao sofrer um carregamento mecnico em geral ir exibir a
sequncia de resposta que segue: deformao elstica, deformao plstica e fratura
(HOSFORD, 2010).
O conhecimento das tenses e deformaes envolvidas em processos de deformao
tais como, laminao, forjamento, extruso, trefilao, muito importante. Todos estes
processos envolvem substancial deformao plstica, e a resposta do material ir depender do
seu comportamento elasto-plstico durante o processo de conformao (MEYERS, et al.,
2008).
A teoria da plasticidade lida com o comportamento dos materiais a nveis de
deformao nas quais a lei de Hooke no mais vlida. Diversos aspectos da deformao
plstica tornam a formulao matemtica da teoria da plasticidade mais difcil que a descrio
do comportamento elstico. Tais como (DIETER, 1986):
A deformao plstica no um processo reversvel como a elstica;
-
4
Ao contrrio da deformao elstica que depende somente do estado inicial e final de
tenso e deformao, a deformao plstica depende da trajetria do carregamento;
Na deformao plstica no h uma constante facilmente mensurvel que relaciona
tenso com deformao, como o mdulo de Young para a deformao elstica.
O fenmeno de endurecimento por deformao difcil de ser abordado dentro da
teoria da plasticidade sem a introduo de uma considervel complexidade
matemtica.
Alm dos aspectos citados acima, h tambm vrios aspectos do comportamento real
do material, como anisotropia, histerese elstica e efeito Bauschinger.
2.2 Critrios de escoamento para metais dcteis
Para melhor aprofundar-se nas teorias da plasticidade necessrio conhecer, para um
estado complexo de tenses, o nvel de tenso no qual o material inicia o escoamento plstico.
Os mtodos desenvolvidos para determinar isto so chamados critrios de escoamento, que se
caracterizam pelas funes matemticas que representam a superfcie de escoamento do
material. (MEYERS, et al., 2008).
A superfcie de escoamento uma representao geomtrica da regio matemtica que
delimita a regio elstica da regio plstica no espao de tenso. Na figura 2.1 est
representada a superfcie de escoamento para o critrio de von Mises. O eixo central tem
ngulos iguais com os eixos de tenso principal e representa o componente hidrosttico de
tenso. A deformao plstica ocorre quando o estado de tenso atinge a superfcie do cilindro
(OZTURK, et al., 2011).
O fenmeno de encruamento implica na alterao da superfcie de escoamento na
medida em que o carregamento plstico ocorre. Particularmente no caso do modelo
perfeitamente plstico a superfcie de escoamento permanece fixa, enquanto que nos outros
casos, a evoluo desta superfcie controla por modelos de encruamento (MALAVOLTA,
2008).
Para o critrio de escoamento de Tresca, a superfcie de escoamento um cilindro
hexagonal. importante ressaltar que, apesar da superfcie de escoamento ser um conceito
importante na teoria da plasticidade, no h um extensivo volume de dados experimentais
sobre a forma da superfcie (DIETER, 1986)
-
5
Figura 2.1: Superfcie de escoamento de Von Mises.
Sob carregamento uniaxial, como em ensaio de trao, o escoamento plstico
macroscpico comea no ponto de tenso de escoamento 0. Sob condies de tenses
combinadas, espera-se que o escoamento esteja relacionado com uma combinao particular
de tenses principais (DIETER, 1986)
Os critrios de escoamento so essencialmente relaes empricas. Entretanto, um
critrio de escoamento deve ser consistente com um nmero de observaes experimentais, e
a base que governa este critrio que a presso hidrosttica pura no causa escoamento em
um slido contnuo. Como resultado disso, a componente hidrosttica de um estado complexo
de tenses no influencia na tenso na qual o escoamento ir ocorrer. Portanto, procura-se
pela componente de tenso desviadora a estar envolvida com o escoamento. Alm disso, para
um material isotrpico, o critrio de escoamento deve ser independente da escolha dos eixos,
isto , deve ser uma funo constante. Estas consideraes levam a concluso que o critrio de
escoamento deve ser alguma funo das invariantes da tenso desviadora (LEE, et al., 2011).
2
1
3
0
1 = 2 =3
-
6
O Critrio de Von Mises e o Critrio de Tresca ou Critrio da Mxima Tenso de
Cisalhamento so dois critrios aceitos para prever o incio do escoamento em metais dcteis.
2.2.1 Critrio de von Mises
Von Mises (1913) props que o escoamento ir ocorrer quando a segunda invariante
do tensor invariante J2 exceder um dado valor crtico (LEE, et al., 2011) (DIETER, 1986)
(HOSFORD, 2010) (SCHAEFFER, et al., 2007):
(Equao 2.1)
Onde
( )
( ) ( )
(Equao 2.2)
Para o teste de tenso uniaxial, considera-se que 1 = 0, 2 = 3= 0
(Equao 2.3)
(Equao 2.4)
Substituindo na (equao 2.5):
( )
( ) ( )
(Equao 2.5)
Para um estado com componente cisalhante:
( )
( )
( )
(
)
(Equao 2.6)
A (equao 2.5) e (equao 2.6) prevem que o escoamento ir ocorrer quando a
diferena das tenses do lado direito da equao exceder a tenso de escoamento em tenso
uniaxial 0.
-
7
Para identificar a constante k na (equao 2.1), considera-se o estado de tenso em um
cisalhamento puro, como produzido em um ensaio de toro:
(Equao 2.7)
(Equao 2.8)
No escoamento
(Equao 2.9)
Ento k representa a tenso de escoamento em cisalhamento puro (toro). Portanto, o
critrio de Von Mises prev que a tenso de escoamento em toro ser menor do que a
tenso de escoamento em trao uniaxial de acordo com:
(Equao 2.10)
O critrio de Von Mises implica que o escoamento no dependente de qualquer
tenso normal em particular ou tenso de cisalhamento, e sim que o escoamento depende de
uma funo de todas as trs principais tenses de cisalhamento. Sendo o critrio de
escoamento baseado em diferenas de tenses normais, 1-2, etc., o critrio independente
da componente de tenso hidrosttica. Uma vez que o critrio de Von Mises envolve termos
quadrticos no necessrio conhecer as tenses principais quando utilizada a (Equao 2.6).
2.2.2 Critrio da mxima tenso de cisalhamento (critrio de Tresca)
O critrio de escoamento de Tresca assume que o escoamento ocorre quando a
mxima tenso de cisalhamento alcana o valor de tenso de cisalhamento no teste de trao
uniaxial. A mxima tenso de cisalhamento dada por (DIETER, 1986) (HOSFORD, 2010)
(SCHAEFFER, et al., 2007):
-
8
(Equao 2.11)
Onde 1, a tenso principal de maior valor e 3 a tenso principal de menor valor.
Para trao uniaxial, 1= 0, 2 = 3 = 0, e a tenso de escoamento em cisalhamento 0
igual a 0/2. Substituindo na (Equao 2.11):
(Equao 2.12)
Assim, o critrio de mxima tenso de cisalhamento dado por:
(Equao 2.13)
Para um estado puro de cisalhamento, 1 = -3 = k, 2 = 0, o critrio de mxima tenso
de cisalhamento prev que o escoamento ir ocorrer quando:
(Equao 2.14)
ou
(Equao 2.15)
Assim, o critrio de mxima tenso de cisalhamento pode ser escrito como na
(equao 2.16):
(Equao 2.16)
O critrio de mxima tenso de cisalhamento matematicamente menos complicado
que o critrio de Von Mises, e por esta razo frequentemente usado em projetos de
engenharia. Entretanto, o critrio de mximo cisalhamento no leva em considerao a tenso
principal intermediria e isto devido grande dificuldade que a necessidade de saber
previamente quais so as tenses principais mximas e mnimas. Alm disso, a forma geral do
critrio de mxima tenso de cisalhamento (equao 2.17) muito mais complicada que a do
critrio de Von Mises (equao 2.1), e por esta razo o critrio de Von Mises
preferencialmente utilizado em trabalhos tericos (DIETER, 1986).
-
9
(Equao 2.17)
2.3 Ensaio de Trao e Ensaio de Compresso
O ensaio de trao um dos testes mais comumente utilizado para avaliao das
propriedades mecnicas dos materiais. O teste de tenso realizado agarrando-se as duas
extremidades opostas de um corpo de prova em uma mquina de testes que ir aplicar uma
fora que resultar na elongao gradual do corpo de prova e eventual fratura do mesmo.
Durante este processo, dados de fora e deslocamento so coletados. Quando corretamente
executado, o teste de trao fornece dados que podem quantificar vrias propriedades
mecnicas importantes do material (DAVIS, 2004) (KUHN, et al., 2000)
O teste de trao certamente um dos testes mais largamente utilizado para determinar
vrios aspectos do comportamento mecnico dos materiais, incluindo deformao elstica,
escoamento, deformao plstica e fratura. Apesar disso, a mxima deformao no teste de
trao limitada pela estrico, ou seja, os dados do comportamento plstico do material
durante a deformao obtidos em um teste de trao so vlidos somente at o limite no qual
inicia a estrico (DAVIS, 2004).
O teste de compresso uma alternativa para estudo do comportamento plstico dos
metais em deformaes mais altas do que as deformaes obtidas por ensaio de trao, pois
no ocorre o fenmeno da estrico (HOSFORD, 2010). As caractersticas de deformao
elstica e plstica de materiais policristalinos so geralmente as mesmas sob trao e
compresso. Assim, o mdulo de elasticidade, tenso de escoamento e curvas de escoamento
obtidas de ambos os ensaios, desde que excludos os efeitos do atrito, sero as mesmas. Por
outro lado, a tenso de ruptura e a resistncia mxima dependem de mecanismos de
deformao e fratura localizados, e geralmente apresentaro resultados diferentes em ensaios
de trao e compresso. Sob trao, a resistncia fratura de materiais dcteis determinada
pelo seu comportamento na estrico, que concentra a deformao plstica em pequenas
regies e gera um estado triaxial de tenses na regio do pescoo e propagam a fratura dctil
que se inicia em microcavidades no centro da regio do pescoo. J um material dctil em
compresso, a estrico no ocorre e a gerao de microcavidades e mecanismos de
crescimento que levam a complete separao em trao no finalizam o ensaio de
compresso. A fratura dctil pode se formar, entretanto, na superfcie do corpo de prova com
-
10
atrito que sofreu embarilhamento. Estas fraturas geralmente crescem lentamente e no
resultam na complete separao do corpo de prova, portanto no h limite de carregamento.
Como resultado, no h definio de resistncia fratura em testes de compresso de
materiais dcteis. (KUHN, et al., 2000)
Os corpos de prova de compresso possuem uma geometria cilndrica, relativamente
mais simples, no requerem confeco de rosca ou extremidades alargadas para permitir a
fixao na mquina e utilizam menor quantidade de material (SCHAEFFER, et al., 2007).
Entretanto, dois principais problemas limitam o uso dos testes de compresso: atrito e
flambagem . A fim de amenizar estes efeitos, so utilizados lubrificantes como TeflonTM,
grafite, dissulfeto de Molibdnio, entre os corpos de prova e as placas de compresso
(HOSFORD, 2010).
2.4 Curva tenso-deformao verdadeira e curva de escoamento
A curva tenso versus deformao em carregamento uniaxial, obtida por um
tradicional teste de trao, de fundamental interesse na plasticidade quando esta plotada
em termos de tenso e deformao verdadeira .
A forma da curva tenso versus deformao de um metal e os valores para seus pontos
dependem (DIETER, 1986) (ASM INTERNATIONAL, 2002) (DOEGE, et al., 1986):
Composio
Tratamento trmico e condies do mesmo
Histrico de deformao plstica
Taxa de deformao do teste
Temperatura
Orientao de aplicao da carga aplicada em relao estrutura do corpo de prova
A curva tenso versus deformao tambm conhecida como curva de escoamento,
porque representa as caractersticas bsicas do escoamento plstico do material. Qualquer
ponto na curva de escoamento pode ser considerado a tenso de escoamento para um metal
carregado sob tenso. Ento, se a carga removida em um determinado ponto de deformao
plstica e aps reaplicada, o material apresentar um comportamento elstico at atingir
novamente este ponto de deformao.
-
11
A tenso verdadeira, , expressa em termos da tenso de engenharia, S, por (KUHN,
et al., 2000):
( ) ( ) (Equao 2.18)
A derivao da (equao 2.18) assume volume constante (AL = A0L0) e distribuio
homognea de tenso ao longo da seo til do corpo de prova. Portanto, a (equao 2.18)
deveria ser utilizada somente at o incio do pescoo. Alm da carga mxima, a tenso
verdadeira deveria ser determinada a partir de medies da carga e da rea da seo
transversal, ponto a ponto. No entanto, importante ressaltar que esta tenso verdadeira no
corresponder tenso de escoamento do material, pois a tenso de escoamento pressupe um
estado uniaxial de tenses, o qual no mais ocorrer aps o incio da estrico.
A deformao verdadeira pode ser calculada a partir da deformao de engenharia
(ou deformao convencional):
(Equao 2.19)
Para determinar a deformao verdadeira, a variao instantnea do comprimento (dl)
dividida pelo comprimento l:
(
) (Equao 2.20)
( ) (Equao 2.21)
Esta equao aplicvel somente at o ponto anterior ao incio da estrico. Aps o
carregamento mximo, deformaes localizadas na regio do pescoo excedem
significativamente a deformao de engenharia calculada. Geralmente, a curva de escoamento
linear a partir da carga mxima at a fratura, enquanto em alguns casos sua inclinao
decresce continuamente at a fratura. A formao da regio do pescoo introduz um estado de
tenses triaxiais que dificultam determinar com acuracidade a tenso longitudinal desde o
incio do pescoo at que ocorra a fratura (ASM INTERNATIONAL, 2002).
-
12
2.5 Expresso matemtica para a curva de escoamento
A curva de escoamento de muitos materiais na regio de deformao plstica uniforme
pode ser expressa pela simples relao que descreve um comportamento elasto-plstico com
encruamento isotrpico, conhecida por equao de Hollomon (ASM INTERNATIONAL,
2002) (DIETER, 1986) (DOEGE, et al., 1986) (HOSFORD, 2010):
(Equao 2.22)
onde, n o coeficiente de encruamento e K o coeficiente de resistncia ao escoamento.
Um grfico com eixos logartmicos da tenso verdadeira pela deformao verdadeira
at a carga mxima ir resultar numa linha reta se a (equao 2.22) for satisfeita, conforme
figura 2.2. A inclinao desta linha n, e K a tenso verdadeira no ponto em que a
deformao verdadeira igual a 1, = 1,0. Como mostrado na figura abaixo, o expoente de
encruamento ter valores de n = 0 (slido perfeitamente plstico) a n = 1 (slido elstico).
Para a maioria dos metais, n tem valores entre 0,10 e 0,50 (tabela 2.1).
Figura 2.2: Grfico Log-Log da curva tenso versus deformao. Expoente n o expoente de encruamento; K o coeficiente de resistncia ao escoamento.
Deformao verdadeira [
Lo
g t
en
s
o v
erd
ad
eira [
10-3
10-2
10-1
1 10
n = ab
b
a
K
-
13
Tabela 2.1: Valores de n e K para metais temperatura ambiente (ASM INTERNATIONAL,
2002).
Metais Condio n K (Mpa) K(ksi)
Ao carbono 0.05% Recozido 0,26 530 77
Ao SAE 4340 Recozido 0,15 641 93
Ao carbono 0.6% Temperado e revenido 540C 0,10 1572 228
Ao carbono 0.6% Temperado e revenido 705C 0,19 1227 178
Cobre Recozido 0,54 320 46.4
Lato 70/30 Recozido 0,49 896 130
A taxa de encruamento d /d no idntica ao expoente de encruamento. Da
definio de n:
( )
( )
( )
( )
(Equao 2.23)
ou
(Equao 2.24)
Com frequncia so observados desvios da (equao 2.22), geralmente em baixas
deformaes (103) ou altas (= 1.0). Uma forma comum de desvio para um grfico log-log
da (equao 2.22), resultando em duas linhas retas com diferentes inclinaes.
Em alguns casos, curvas que no apresentam comportamento de acordo com a (equao 2.22)
podem seguir a variao conforme (equao 2.25):
( ) (Equao 2.25)
Onde 0 pode ser considerado como sendo a quantidade de deformao que o material
sofreu antes do teste de tenso (RAO P., et al., 2012).
Outra variao comum da (equao 2.22) a equao de Ludwig:
-
14
(Equao 2.26)
Na qual 0 a tenso inicial de escoamentos, e K e n tm significados similares da
(equao 2.22), porm seus valores devem ser recalculados. Esta equao pode ser mais
satisfatria que a (equao 2.22) porque a ltima implica que a 0 (zero) de deformao
verdadeira, a tenso 0 (zero). J foi observado que 0 pode ser obtido atravs do intercepto
da poro de deformao plstica da curva tenso vs deformao com a linha do mdulo
elstico, por (ASM INTERNATIONAL, 2002):
(
)
( )
(Equao 2.27)
O termo deformao verdadeira nas (equao 2.22) (equao 2.27) deveria depender
somente da deformao plstica:
(Equao 2.28)
(Equao 2.29)
Onde E representa a deformao elstica.
O comportamento no linear da curva tenso-deformao tambm pode ser descrito em
termos da expresso de Ramberg-Osgood (ABDELLA, 2012):
(
)
(Equao 2.30)
A equao Ramberg-Osgood (equao 2.30) foi originalmente desenvolvida para ligas
de alumnio, mas demonstrou-se adequada para outras ligas metlicas no-lineares. A
(equao 2.30) envolve o mdulo de Young inicial (E0), limite de proporcionalidade (p)
correspondente deformao plstica p, e o parmetro n, que determina o incremento de
tenso em funo de deformao (forma da regio de deformao plstica na curva tenso-
-
15
deformao). Para aos mdio carbono, a tenso de escoamento , por definio, adotada
como sendo o limite de proporcionalidade em 0.2% (0.2). Para esta definio de limite de
escoamento de 0,2 % da deformao, a relao tenso-deformao torna-se (ABDELLA, et
al., 2011):
(
)
(Equao 2.31)
Tambm se tornou uma prtica comum determinar o parmetro (n) utilizando-se
0.01% e 0.2% de deformao permanente que leva expresso que segue:
( )
( ) (Equao 2.32)
Porm observa-se que quando as deformaes excedem 0.2% da deformao total
(0.2), a curva Ramberg-Osgood obtida baseada na definio de 0.01% e 0.2% de deformao
torna-se imprecisa, e tende a valores muito altos de tenso, principalmente para metais que
apresentam um baixo valor do coeficiente n.
Considerando esta restrio, Rasmussen (RASMUSSEN, 2001) desenvolveu uma
expresso para curva tenso deformao para ligas de ao inoxidvel vlida para toda a faixa
de deformao:
(
)
(Equao 2.33)
(
)
(Equao 2.34)
Onde,
-
16
(Equao 2.35)
(Equao 2.36)
2.6 Fatores de Influncia
Alguns dos principais fatores que podem exercer influncia e modificar as propriedades
e comportamento dos aos ao carbono, tais como taxa de deformao, microestrututa e
composio qumica, sero abordados nos prximos subcaptulos.
2.6.1 Efeito da microestrutura e composio qumica
As propriedades mecnicas de aos recozidos ou normalizados so controladas pelas
caractersticas de escoamento e fratura da ferrita e pela quantidade, forma e distribuio da
cementita. A resistncia da ferrita depende da quantidade de elementos de liga em soluo
slida e do tamanho de gro da ferrita. O teor de carbono tem um efeito muito significativo
porque controla a quantidade de cementita presente, tanto na forma de perlita quanto na forma
esferoidizada. A resistncia aumenta e a ductilidade diminui com o aumento do percentual de
carbono devido ao aumento da quantidade de cementita na microestrutura. Um ao
normalizado ter uma maior resistncia que um ao recozido porque a maior taxa de
resfriamento utilizada nos tratamentos de normalizao possibilita que as transformaes para
perlita ocorram a temperaturas mais baixas, e resulta em uma perlita mais fina.
Diferenas nas propriedades mecnicas sob trao devido ao formato a diferenas na
microestrutura so mostrados na figura 2.3, onde as propriedades da estrutura esferoidizada
so comparadas com a estrutura lamelar perltica de um ao com o mesmo teor de carbono.
Correlaes empricas entre a composio e o resfriamento tm sido utilizadas para predizer
as propriedades mecnicas de aos com estrutura perltica (DIETER, 1986)
-
17
Figura 2.3: Propriedades da perlita e esfeiroidita em aos eutetides. (DIETER, 1986)
A espessura das lamelas de ferrita e cementita na microestrutura perltica tambm
influencia o comportamento mecnico do material. Perlita fina mais dura e apresenta maior
resistncia, como demonstrado na figura 2.4, que relaciona dureza versus concentrao de
carbono (CALLISTER, et al., 2010).
A razo para este comportamento est relacionada ao fenmeno que ocorre no
contorno da fase -Fe3C. Por esta razo a fase cementita, rgida e resistente, restringe a
deformao da fase ferrita, mais macia, nas regies adjacentes aos contornos; assim, pode-se
dizer que a cementita um reforo da ferrita. O grau de reforo substancialmente maior na
perlita fina devido grande rea de fronteira por unidade de volume do material. Alm disso,
fronteiras de fases servem como uma barreira ao movimento das discordncias da mesma
maneira como os contornos de gro. Para perlita fina h mais fronteiras atravs das quais uma
discordncia dever cruzar durante a deformao plstica. Ento, o maior reforo e restrio
de movimento de discordncias que ocorrem na perlita fina colaboram para sua maior dureza
e resistncia mecnica (CALLISTER, et al., 2010).
Perlita grossa mais dctil que a perlita fina, como ilustrado figura 2.4, que demonstra
a relao de percentual de reduo na rea versus teor de carbono para ambas os tipos de
1600
1200
800
400
20 25 30 350
Tenso [M
Pa]
Dureza, Rockell C
Tens
o de
ruptu
ra
Limite
de res
istnci
a tra
o
Tens
o de e
scoam
ento
35302520
10
20
30
40
50
Porc
enta
gem
Esferoidal
Lamelar
Reduo
de rea
Elongamento
-
18
microestruturas. Este comportamento resulta de uma maior restrio deformao plstica
apresentada pela perlita fina (CALLISTER, et al., 2010)
Figura 2.4: Variao das propriedades mecnicas em funo da concentrao de carbono para
ao ao carbono de microestrutura constituda de perlita fina. (CALLISTER, et al., 2010)
Para um determinado ao, variaes na microestrutura, tais como tamanho de gro,
distncia lamelar da perlita, e fatores de composio, iro influenciar as propriedades
mecnicas. O efeito destas variaes pode ser quantificado na equao para tenso de
escoamento de um ao ferritico e perltico mdio carbono (KRAUSS, 2005)
( ) [ ( ) ]
(Equao 2.37) (
)[ ] ( ) ( )
Na qual f a frao volumtrica de ferrita, Sp a distncia mdia interlamelar da
perlita (a distncia em mm do centro de uma lamela de cementita at a prxima lamela), e d
o dimetro linear mdio do gro de ferrita em mm. O primeiro termo est relacionado
100
120
80
60
40
20
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
0 3 6 9 12 15
80
60
40
20
0
Perlita + Ferrita
Perlita
+
Fe3C
Percentagem Fe 3 C
Energia de
Impacto
Reduo
na rea
Alongamento
Composio (wt% C)
Ene
rgia
de Im
pacto
(ft -
lb
f)
Ductib
ilidad
e (
%)
0
0 3 6 9 12 15
160
140
120
100
80
60
40
1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
350
300
250
200
150
100
Percentagem Fe 3 C
Composio (wt% C)
Perlita + Ferrita
Perlita + Fe3C
Resistncia Trao
Dureza Brinell
Limite de Elasticidade
Nm
ero
de D
ure
za
Brine
ll
MP
a
10
psi
Resis
tncia
T
ra
o e
Lim
ite
de E
lasticid
ade
-
19
contribuio de resistncia mecnica da ferrita, o segundo contribuio da perlita, e os
ltimos dois termos aos efeitos gerais das quantidades de silcio e nitrognio. Conforme a
frao volumtrica da ferrita diminui, mais a distncia interlamelar da perlita dominante
influencia o escoamento. Aumentando do teor de carbono, e com isso a quantidade de perlita,
h uma diminuio significativa da resistncia ao impacto da microestrutura ferrita/perlita. A
temperatura de transio dctil-frgil aumenta para bem acima da temperatura ambiente, e a
energia absorvida diminui, ou seja, o aumento do teor de carbono exerce efeito negativo na
resistncia ao impacto para aos ferrticos eperlticos. Portanto, deve-se tomar cuidado nas
aplicaes de ao com miscroestrutura ferrtica/perltica (KRAUSS, 2005).
2.6.2 Segregaes
O ao uma liga de ferro-carbono que contm, como impurezas normais vrios outros
metais e incluses no metlicas. No ao fundido todos esses elementos esto dissolvidos e
distribudos de modo praticamente uniforme. Essa homogeneidade, porm, no perdura
quando o ao solidifica, porque as impurezas, especialmente o P e o S, no sendo to solveis
no metal slido, tendem em grande parte a se deslocarem para a regio que por ltimo se
solidifica, no caso, o centro do lingote ou da pea.
A parte central a ltima a solidificar-se, no s porque o esfriamento mais lento
nessa regio, tambm, porque as impurezas (especialmente o P) que para a afluem, baixam o
ponto de solidificao do metal. Ao acmulo de impurezas nessa regio dos lingotes e de
certas peas fundidas, d-se o nome de segregao (LESOULT, 2005).
A composio qumica do ao de lingote pode, portanto, apresentar variaes, sendo
mais puro na periferia e na base e mais impuro no centro, normalmente nas proximidades de
vazios. Essa diferena no muito notvel nos teores de Si e Mn; em relao ao carbono,
entretanto, j mais sensvel e muito mais ainda quanto ao P e ao S. Com efeito, as regies
que contm teores de S, de P, ou de ambos, acima de certos limites, apresentam qualidade
mecnicas inferiores. O ao torna-se mais duro, frgil, menos dctil e oferece um campo
favorvel propagao de fissuras.
Em virtude de sua maior dureza e de sua posio central, a zona segregada deforma-se
menos, sob a ao do forjamento e da laminao, que a zona perifrica (DAVIS, et al., 1990).
-
20
A segregao normalmente classificada em dois tipos, a microsegregao e a
macrosegregao.
A microsegregao um fenmeno que ocorre em pequena escala e estende-se por
distncias da ordem do tamanho de gro. A macrosegregao uma segregao de longo
alcance e pode resultar de variaes que ocorrem no lquido antes da frente de solidificao
ter caminhado bastante, ou ento ser resultante do movimento do lquido na zona pastosa
situada atrs da frente de solidificao. Basicamente existem quatro tipos de fatores que
levam a macrosegregaes em lingotes: correntes de conveco induzidas por temperaturas
diferenciadas no lquido, contraes trmica e de solidificao, densidades diferenciadas no
lquido e slido, densidades diferenciadas no lquido interdendrtico, alm de efeitos da
gravidade. Um lingote industrial apresenta em sua estrutura fundida diferentes modelos de
segregao macroscpica que apresentam variaes tanto verticais como horizontais. Ento,
as segregaes produzem material que tem uma faixa de composies e consequentemente
um material que apresenta variao nas propriedades mecnicas e fsicas (BRINKSMEIER, et
al., 2006) (DAVIS, et al., 1990) (HUNKEL, et al., 2007).
A laminao a quente alinha as variaes interdendrticas qumicas em bandas
paralelas direo de laminao, produzindo regies alternadas de concentrao elevada e
baixa de vrios elementos. O Mangans abaixa a atividade do carbono, portanto diminui
efetivamente sua prpria concentrao e assim regies ricas em Mangans tendem a atrair
Carbono. Cromo, de maneira similar, abaixa a atividade do Carbono, enquanto Fsforo,
Silcio e Nquel aumentam a atividade do Carbono causando a rejeio do mesmo das regies
ricas nestes elementos. Aos podem conter uma variedade de componentes, e todos os
elementos segregam em algum grau. A variao residual na composio qumica devido
segregao interdendrtica depende da composio do ao, da estrutura dendrtica inicial de
solidificao, e o tempo e temperatura de imerso e laminao. A ltima condio reduz a
intensidade da segregao devido lenta difusividade dos elementos de liga substitucionais.
Longos tempos de tratamento de homogeneizao a altas temperaturas so necessrias para
eliminar variaes da composio qumica. Geralmente, os processos comercialmente usados
para obteno dos aos no so suficientes para eliminar por completo os gradientes qumicos
que produzem bandeamento. (KRAUSS, 2005)
-
21
2.6.3 Efeito dos Elementos Qumicos na Segregao
Os elementos tpicos da estrutura de aos mdio carbono exercem diferentes influncias em
termos de segregao e propriedades mecnicas. Segue uma reviso dos principais elementos
(CHIAVERINI, 2002) (DAVIS, et al., 1990) (HUNKEL, et al., 2007) (BRINKSMEIER, et
al., 2006) (LESOULT, 2005)
Carbono. O Carbono apresenta tendncia de segregao moderada, e a segregao de
carbono normalmente mais significativa que a segregao de outros elementos. Carbono,
que exerce um maior efeito nas propriedades de aos, o principal elemento endurecedor em
todos os aos. A resistncia mecnica na condio laminado aumenta com o aumento do teor
de carbono (acima de cerca 0.85% C). A ductilidade e a soldabilidade diminuem com o
aumento do carbono.
Mangans. Mangans apresenta uma menor tendncia de macrosegregao do que
qualquer outro dos elementos comuns e tende a formar incluses no-metlicas,
principalmente com o enxofre e estas incluses formam-se em partculas diminutas,
relativamente plsticas, deformando-se e amoldando-se no sentido em que o material
trabalhado. O mangans tambm um agente desoxidante, combinando-se com oxignio (de
preferncia CO ou CO2) formando composto slido MnO e evitando o desprendimento de
bolhas. O MnO no exerce influncia significativa na microestrutura. O mangans que no se
combinou com o enxofre ou com o oxignio pode atuar de duas maneiras: quando o teor de
carbono baixo, ele dissolve na ferrita, aumentando sua dureza e resistncia mecnica; com
teor de carbono mais elevado, admite-se que se forme o composto Mn3C que se associa com o
Fe3C, aumentando ainda mais a dureza e a resistncia do ao. Mangans benfico para a
qualidade da superfcie em todas as faixas de carbono (com exceo de aos de baixo carbono
acalmados) e particularmente benfico em aos ressulfurados. Com aumento do teor de
mangans a ductilidade e a soldabilidade diminuem, mas em menor grau que o carbono.
Mangans tem um forte efeito benfico na temperabilidade dos aos.
Fsforo. Fsforo tambm tende a segregar, porm em menor grau que carbono e
enxofre. O fsforo se caracteriza por ser um tanto incompatvel com o carbono, ou seja, ele
tende a expulsar o carbono da austenita, de modo que, quando no resfriamento se ultrapassa a
linha Ar, as reas originalmente ricas em fsforo ficam praticamente constitudas somente de
ferrita, com ausncia quase completa de perlita. O elemento no possui a tendncia de formar
carbonetos, mas dissolve-se na ferrita, endurecendo-a e aumentando o tamanho de gro
-
22
podendo causar fragilidade a frio e esta tendncia mais grave quanto maior o teor de
carbono. Por outro lado, com o aumento do fsforo, resistncia e a dureza aumentam, a
ductilidade e a resistncia ao impacto (com entalhe) diminuem nos aos em condio
laminada. Os efeitos de diminuio da ductilidade e tenacidade so maiores em aos alto
carbono temperados e revenidos. Fsforo comumente utilizado em aos baixo carbono para
usinagem, uma vez que melhora a usinabilidade.
Enxofre. O Enxofre apresenta maior tendncia segregao do que qualquer dos
outros elementos. O enxofre se apresenta no ao principalmente na forma de incluses de
sulfato. Obviamente, tais incluses aparecem com maior frequncia em aos ressulfurados. O
aumento no teor de enxofre reduz a ductilidade transversal e a tenacidade ao impacto mas tem
um pequeno efeito nas propriedades mecnicas longitudinais. Com o aumento do teor de
enxofre, a soldabilidade diminui. Este elemento tem efeitos negativos na qualidade da
superfcie, particularmente em aos baixo carbono e baixo mangans. Por estas razes, so
especificados limites mximos para a maioria dos aos. A nica exceo para o grupo de
aos para usinagem, nos quais o enxofre adicionado para melhorar a usinabilidade.
Silcio. Silcio menos efetivo que o Mangans em aumento da resistncia e dureza
em produtos laminados e apresenta uma fraca tendncia segregao. Em aos baixo
carbono, Silcio geralmente prejudicial qualidade superficial, e esta condio ainda mais
pronunciada em aos baixo carbono ressulfurados. A principal funo do silcio de agente
desoxidante reagindo com o oxignio e evitando o desprendimento de bolhas.
Outros elementos que podem fazer parte da composio dos aos so alumnio,
elemento desoxidante e como elemento controlador do crescimento de gros nos aos;
hidrognio que pode produzir certa fragilidade no material; nitrognio que se dissolve na
ferrita e produz nos aos de baixo carbono o fenmeno de endurecimento por precipitao;
oxignio que forma uma variedade de xidos lquidos ou gasosos quando o ao est fundido e
quando o ao solidifica, alguns desses xidos permanecem na forma de bolhas, outros
isolados ou combinados com outros xidos formam compostos resultando em incluses no-
metlicas; estanho devido ao emprego de sucata estanhada e pode tornar suscetvel
fragilidade a quente e fragilidade ao revenido.
Demais elementos residuais existentes nas matrias primas empregadas na fabricao
do ao que podem estar presentes, como titnio, vandio, zircnio, cromo e cobre, pouco
afetam, isoladamente, as propriedades. Contudo, como a maioria desses elementos aumenta a
-
23
temperabilidade dos aos, seu efeito adicionado pode ter consequncias indesejveis,
principalmente quando a ductilidade fator crtico, como em aplicaes de estampagem
profunda. Por isso, os fabricantes dos aos devem ter cuidado de reduzir ao mnimo a
quantidade desses elementos nos aos comuns.
2.6.4 Efeito do bandeamento nas propriedades mecnicas
O bandeamento uma condio da microestrutura que se caracteriza por meio de
bandas de diferentes microestruturas alternadas e paralelamente alinhadas com a direo de
laminao dos aos. A causa raiz do bandeamento a segregao interdendrtica e apesar da
segregao estar invariavelmente presente, o bandeamento pode no se desenvolver
dependendo do tamanho de gro austentico e condies de resfriamento que controlam a
transformao da austenita para outras fases. Bandeamento em aos hipoeutticos explicado
pelo efeito dos elementos de liga na temperatura Ar3 do diagrama Fe-Fe3C. Por exemplo, o
Mangans, que geralmente aparece em altas concentraes, frequentemente associado com o
bandeamento. O Mangans estabiliza a austenita e baixa a temperatura Ar3. Como resultado,
em aos com regies de alta e baixa concentrao de mangans, a ferrita se forma primeiro
nas bandas de baixa concentrao de mangans. O Carbono ento rejeitado e o cristal de
ferrita em crescimento se concentra no gro de austenita com altas concentraes de
Mangans, onde se forma a perlita.
Em aos com alta concentrao de incluses alongadas de Sulfeto de Mangans, h um
mecanismo diferente proposto para explicar o bandeamento ferrita-perlita. O bandeamento
mostrado na Figura 2.5, onde ferrita se formou ao redor das incluses de MnS, um exemplo
de bandeamento produzido atravs deste mecanismo. Ambos Mangans e Enxofre segregam e
se formam em regies interdendrticas, e no espera-se que a ferrita, aps trabalho a quente,
nucleie nas regies de alta concentrao de Mangans. No entanto, o Mangans se concentra
em MnS com a diminuio da temperatura de trabalho a quente, esgotando Mangans
inicialmente elevado em torno das incluses, e estimula assim o crescimento de ferrita em
torno das incluses. Com a rejeio de carbono da ferrita ao redor das incluses, a perlita
eventualmente se forma em regies com baixa concentrao de mangans.
-
24
Figura 2.5: Bandas de ferrita com incluses de MnS e bandas de perlita em um ao 10V45 laminado a quente.
O bandeamento pode ou no ter significativa influncia nas propriedades mecnicas, e
devido ao fato do processo de laminao produzir uma microestrutura alinhada em bandas, se
torna difcil distinguir do efeito do alinhamento das partculas de incluses.
O bandeamento pode variar consideravelmente dentro de determinada seco do ao
dependendo das condies de solidificao e de trabalho a quente, em parte devido a
variaes de gradientes qumicos relacionadas dependncia do processo de obteno do ao.
Diferenas qumicas no so ntidas e alternam continuamente entre valores altos e baixos
devido variao dos graus de homogeneizao de trabalho a quente.
Em resumo, a extenso do bandeamento, derivado da segregao residual
interdendrtica presente em certo grau em todos os aos comerciais fundidos e forjados,
extremamente dependente da composio da liga, do tamanho da seco, do processo da usina
e condies de tratamento trmico. Devido a essa dependncia, o bandeamento pode ou no
ter efeitos negativos nas etapas intermedirias do processo ou nas propriedades mecnicas
finais (KRAUSS, 2005).
2.6.5 Efeito da taxa de deformao e da Temperatura
A taxa na qual a deformao aplicada em um corpo de prova de trao exerce
influncia importante sobre a curva tenso versus deformao. A taxa de deformao
definida como , expressa na unidade s-1. As faixas de taxa de deformao que os
Bandas de ferrita Incluses de MnS
-
25
testes de tenso mais conhecidos englobam so mostradas na Tabela 2.2. Aumentando a taxa
de deformao, aumenta-se a tenso de escoamento. Alm disso, a dependncia da tenso de
escoamento com a taxa de deformao aumenta com o aumento da temperatura (KUHN, et
al., 2000).
Se a velocidade da mquina de testes , em:
( )
(Equao 2.38)
A taxa de deformao de engenharia proporcional velocidade. Em uma mquina de
testes moderna, cuja velocidade pode ser definida e controlada com acuracidade, simples
realizar testes a taxas de deformao constantes. A taxa de deformao dada por:
( )
(Equao 2.39)
A equao acima mostra que para uma velocidade constante, a taxa de deformao
verdadeira ir diminuir conforme o corpo de prova alongado ou rea da seo transversal
diminui. Para realizar testes de trao a taxas de deformao verdadeira constantes
necessrio acoplar o controle da velocidade de deslocamento variao do comprimento, a
fim de aumentar-se a velocidade conforme aumento do comprimento. A taxa de deformao
verdadeira correlacionada com a taxa de deformao de engenharia atravs da equao
abaixo:
( )
(Equao 2.40)
Tabela 2.2: Testes padres para propriedades mecnicas e as respectivas faixas de taxa de deformao (KUHN, et al., 2000).
Faixa de taxa de deformao Tipo de teste
10-8 a 10-5 s-1 Ensaio de fluncia carga ou tenso
-
26
constante
10-5 a 10-1 s-1 Teste de trao com mquina hidrulica ou
mecnica
10-1 a 102s-1 Testes dinmicos de trao ou compresso
102 a 104s-1 Testes a altas velocidades usando barras de
impacto
104 a 108s-1 Testes de impacto a altssimas velocidades
usando canhes de presso ou projteis disparados por exploso
A dependncia da tenso de escoamento com a taxa de deformao deformao e
temperatura constantes dada por:
( ) (Equao 2.41)
O expoente m conhecido como coeficiente de sensibilidade taxa de deformao, e
C o coeficiente de encruamento. O expoente m pode ser obtido atravs da inclinao do
grfico de log versus log . Entretanto, uma maneira mais apurada para determinar m um
teste de variao de taxa. Um teste de tenso executado a uma determinada taxa at uma
determinada tenso de escoamento, 1, ento a taxa de deformao aumentada at uma
determinada taxa . A tenso de escoamento aumenta rapidamente para 2. A sensibilidade
taxa de deformao, a certa quantidade de deformao e temperatura constantes, pode ser
obtida pela frmula:
(
)
(
)
( )
( ) (Equao 2.42)
A sensibilidade dos metais taxa de escoamento relativamente baixa (0,5, comumente m assume valores de 0.1 e 0.2 para
os metais.
O escoamento depende da temperatura e esta dependncia representada por:
-
27
(Equao 2.43)
Onde Q a energia de ativao para o escoamento plstico, cal/gmol; R a constante
universal dos gases, 1.987 cal/Kmol; e T a temperatura de teste em Kelvin. O grfico de ln
versus 1/T desta equao resultar numa linha reta de inclinao Q/R (KUHN, et al., 2000).
2.7 Efeito Bauschinger
Uma das principais caractersticas da deformao plstica de metais o fato de que a
tenso de escoamento requerida para produzir escorregamento contnuo aumenta com o
aumento da deformao. O aumento de tenso necessrio para ocorrer o escorregamento por
causa de pr-deformao chamado encruamento. Na maioria dos metais, endurecimento em
uma direo ir afetar o comportamento plstico em outras direes. A manifestao desta
relao conhecida como endurecimento cinemtico. Se uma amostra sofre deformao
plstica uniaxial alm da tenso de escoamento, como por exemplo, em trao, e ento retira-
se o carregamento at novamente zero, e aps aplica-se o carregamento na direo oposta, no
caso em compresso, constata-se que a tenso de escoamento no recarregamento menor que
a tenso de escoamento original. Esta dependncia da tenso de escoamento com a trajetria e
direo de carregamento conhecida como Efeito Bauschinger (HEMMERICH, et al., 2011)
(DIETER, 1986).
O fenmeno de endurecimento mostra-se difcil de ser abordado dentro da teoria da
plasticidade sem a utilizao de uma considervel complexidade matemtica. Devido a esta
dificuldade, o efeito Bauschinger comumente ignorado na teoria da plasticidade, sendo
assim usual assumir que, no casos em que ocorre uma inverso no sentido da deformao, as
tenses de escoamento em tenso e em compresso so iguais. (ABEL, et al., 1972)
Em processos de conformao mecnica, nos quais as deformaes so altas, o efeito
Bauschinger no significativo e comumente ignorado/ relevado. Entretanto, autores
(ABEL, et al., 1972), (ABEL, et al., 1973), (SCHOLTES, et al., 1985) mostraram que,
dependendo da interpretao adotada dos parmetros utilizados para quantificar o efeito
Bauschinger, maior o efeito quanto menor a pr-deformao. Diante desta constatao,
torna-se importante considerar este efeito nas simulaes de processos de conformao
mecnica que podem apresentar baixas deformaes (KADKHODAYAN, et al., 2009).
-
28
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3.1 Material e Composio Qumica
O material utilizado nos experimentos, barras de ao AISI 1045, foi obtido da matria
prima para o processo de trefilao combinada, ou seja, do fio mquina. O processo de
trefilao em questo consiste na reduo do dimetro inicial das barras de ao AISI 1045 de
21,25 mm (fio mquina) para 20,25 mm, ou seja, a reduo em rea foi de 12,43%. Neste
processo de manufatura, barras provenientes do processo de laminao a quente so
primeiramente horizontal e verticalmente endireitadas por uma srie de rolos, etapa conhecida
como pr-endireitamento. Aps o pr-endireitamento, as barras so jateadas e ento trefiladas
com auxilio de lubrificao. Aps a etapa de trefilao, as barras so ento cortadas, polidas e
endireitadas por rolos cruzados. A figura 3.1 ilustra a sequncia de processamento.
Figura 3.1: Etapas do processo de trefilao combinada de barras de ao ao carbono. (NUNES, 2008)
O produto final so barras com um dimetro final especfico resultado da geometria da
matriz da etapa de trefilao, chamada de fieira e posteriormente sofrero diversas operaes
dependendo da aplicao do produto final, tipicamente eixos automotivos.
Durante a produo industrial de ao, sempre h inevitveis leves variaes de
composio qumica e de tamanho de gro e, portanto foi realizada uma seleo de lotes de
barras com diferenas entre as composies qumicas, variando dentro da faixa do ao AISI
1045, e assim quatro lotes foram escolhidos para o trabalho. Na Tabela 3.1 pode-se verificar a
composio qumica de um ao AISI 1045 conforme a norma SAE J403 (SAE
INTERNATIONAL, 2009) e na tabela 3.2 esto detalhadas as composies qumicas dos
lotes fornecidas pelo fabricante.
Pr-endireitamento
Fio-mquina
Jateamento
Trefilao
Corte
Polimento e
Endireitamento (PERC)
-
29
Tabela 3. 1: Composio qumica dos aos AISI 1045 (SAE J403) (% massa).(1)
%C %Mn %P,
Max
%S,
Max
%Cu,
Max(2)
%Ni,
Max(2)
%Cr,
Max(2)
%Mo,
Max(2)
0,43-0,50 0,60-0,90 0,030 0,050 0,35 0,25 0,20 0,06
(1) Quando limites de Silcio so requeridos para barras e semi-acabados, as seguintes faixas so comumente usadas:0,10% max;0,10% a 0,20%;015% a 0,35%;0,20% a 040%;ou 0,30% a 0,60% (2) Elementos residuais para aplicaes especificas devem ser acordados entre fornecedor e comprador. Valores da tabela so indicados quando no h outras especificaes
Tabela 3. 2. Composio qumica dos lotes fornecida pelo fabricante (% massa).
Lote %C %Si %Mn %P %S %Cr %Ni %Mo %W
A 0,43 0,23 0,77 0,02 0,02 0,10 0,06 0,02 0,01
B 0,44 0,24 0,67 0,01 0,02 0,08 0,10 0,01
-
30
MATERIALS, 2010a). O programa de anlise de imagem QWin Pro V3.2.1 tambm foi
utilizado para determinar a porcentagem de fases ferrita (frao volumtrica) e perlita nas
imagens representativas das amostras. Este procedimento foi feito para ambas as sees das
barras, transversal e longitudinal.
A determinao do tamanho mdio de gro baseada na contagem de gros por
unidade de rea, no comprimento da fronteira de gros na unidade de rea, rea dos gros,
nmero de gros interceptados ou interseces de fronteira de gros por unidade de
comprimento, ou comprimento de intercepto de gros. A medio feita para um alto nmero
de gros, ou para todos os gros de uma determinada rea dentro de um campo microscpico
e ento repetida em campos adicionais a fim de obter-se um nmero adequado de medies
que satisfaa o grau de preciso estatstica desejado (AMERICAN SOCIETY FOR TESTING
AND MATERIALS, 2010a).
Assim como a determinao do tamanho mdio de gro ferrtico, o programa de
imagem QWin Pro V3.2.1 tambm foi utilizado para determinar a distribuio do tamanho
de gro das amostras.
Com o intuito de identificar possveis heterogeneidades na microestrutura, foram
realizadas anlises macrogrficas das sees longitudinais e transversais das barras. As
anlises foram realizadas conforme norma ASTM E3-11 (ataque: soluo aquosa 50% HCl).
As razes de heterogeneidades na microestrutura podem ser bandeamento, composio
qumica ou ocorrncia de precipitaes. (BRINKSMEIER, et al., 2006)
3.3 Ensaio e parmetros
A fim de se obter as curvas tenso versus deformao, foram realizados testes de
trao uniaxial utilizando uma mquina de ensaios servo-hidrulica Instron 5985, recurso
disponibilizado pelo Stiffung Institut fr Werkstofftechnik (IWT) da Universidade de Bremen,
Alemanha. Os testes de trao foram realizados para os quatro lotes de materiais de acordo
com a norma de ensaio padro ASTM E 8M-04 (AMERICAN SOCIETY FOR TESTING
AND MATERIALS, 2004). Os corpos de prova utilizados nos testes foram confeccionados
com 20 mm de comprimento e 5 mm de dimetro, conforme figura 3.2. A velocidade do
ensaio utilizada foi de 1x10-4 1/segundo. Clip gauges foram utilizados para medir
deformaes at 3%. Para deformaes mais altas, os clip gauges foram desacoplados e o
-
31
movimento transversal da mquina foi convertido em deformao. A resistncia mecnica
(tenso mxima), tenso de escoamento e alongamento foram determinadas de acordo com a
norma ASTM E 8M-04 (AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS,
2004)e mdulo de elasticidade inicial de acordo com a norma ASTM E111 (AMERICAN
SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS, 2010b).
Figura 3.2: Corpo de prova para testes de trao. 20 mm de comprimento e 5 mm de dimetro.
Assim, foram obtidas quatro curvas tenso versus deformao, uma para cada lote.
O teste de compresso tambm foi realizado para o lote A de acordo com a norma
ASTM E9-09 (AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS, 2009). Os
corpos de prova cilndricos com dimetro de 5 mm e altura de 10 mm foram realizados
utilizando-se a mesma mquina de ensaio servo-hidrulica Instron 5985 e o dispositivo da
Figura 3.3. Extensmetros de resistncia eltrica foram utilizados para monitorar o
deslocamento at 3%. O lubrificante utilizado na rea de contato entre o corpo de prova e as
matrizes para minimizar o efeito do atrito foi Dissulfeto de Molibdnio.
-
32
Figura 3.3:Execuo do ensaio de compresso.
Com o intuito de caracterizar o efeito Bauschinger para o material AISI 1045 utilizado
neste trabalho, foram executados ensaios de trao-compresso, ou seja, uma carga trativa
aplicada no corpo de prova at uma determinada quantidade de deformao plstica, o
carregamento aliviado e ento aplicada uma carga compressiva at atingir-se uma
quantidade de deformao plstica. Os ensaios foram realizados utilizando-se uma mquina
termomecnica Gleeble 3500 que pode ser visualizada na figura 3.4. A mquina de ensaios
Gleeble 3500 tambm foi um recurso disponibilidade pelo Stiffung Institut fr
Werkstofftechnik (IWT) da Universidade de Bremen, Alemanha. Os corpos de prova utilizados
no ensaio foram confeccionados conforme figura 3.5.
Corpo de Prova Matrizes
-
33
Figura 3.4: Foto da mquina Gleeble 3500 com controles (esquerda) e cmara e porta-amostras (direita).
Figura 3.5: Forma e tamanho da amostra para ensaios de trao uniaxial.
-
34
A deformao longitudinal foi medida em dois lados opostos do corpo de prova,
marcas de calibre foram soldadas no corpo de prova a uma distncia de 10 mm ao longo da
extenso da regio de 20 mm do corpo de prova. Extensmetros a laser foram utilizados e o
deslocamento foi medido por meio de dois feixes de laser. A deformao transveral no centro
do corpo de prova foi medida pelo mesmo mtodo.
Os ensaios foram realizados temperatura ambiente e tambm 80C e 120 C, por
meio de aquecimento por conduo. A temperatura medida por termopares no centro do
corpo de prova. Primeiramente, o corpo de prova acoplado na mquina de ensaios
termomecnicos e a cmara despressurizada. O vcuo ento mantido dentro da cmara
durante todo o teste. Em seguida, o corpo de prova aquecido at a temperatura programada e
aps a estabilizao da temperatura ento realizado o teste de trao-compresso taxa de
deformao controlada e constante de 1x10-4 s-1.
Aps o teste completo, o corpo de prova resfriado at a temperatura ambiente por
meio da suspeno do vcuo e retorno da presso ambiente na cmara. Durante o ensaio so
coletados os dados de temperatura (T), tenso ( ), deformao longitudinal ( l ) e
transversal ( r ).
Trs corpos de prova extraidos do lote B foram submetidos aos ensaios de trao-
compresso e a Tabela 3.3 apresenta as condies de cada ensaio. Todos os corpos de prova
foram submetidos carregamento em trao at atingir a deformao total de 0,02 e aps
foram submetidos carregamento em compresso at a deformao total de 0,02.
Tabela 3. 3: Corpos de prova do ensaio de trao-compresso e temperatura do ensaio.
Corpo de Prova Lote do Material Temperatura ( C)
1 B 25
2 B 80
3 B 120
3.4 Expresses matemtica para a curva de escoamento
A partir das curvas tenso vs deformao obtidas atravs dos ensaios de trao
uniaxial dos quatro lotes, foram determinadas expresses matemticas das curvas de
escoamento. Utilizaram-se dois modelos de curvas de escoamento: o modelo Ramberg-
-
35
Osgood e o modelo Ludwig Hollomon, ambos abordados na seo 2.4. O modelo Ludwig
Hollomon utilizado corresponde a Eq. 2.22 e o modelo Ramberg-Osgood corresponde a Eq.
2.30.
A seguinte metodologia foi seguida para cada uma das quatro curvas:
a) Identificao do limite elstico e da banda de Lders (banda de Lders)
b) Clculo da tenso e deformao verdadeiras.
c) Separao dos dados da poro elstica, banda de Lders e poro de deformao
plstica.
d) Clculo do modulo de Young a partir da poro elstica da curva atravs do Microsoft
Excel solver.
e) Clculo do valor mdio de tenso e deformao da banda de Lders.
f) Clculo da expresso de acordo com a equao Ramberg Osgood para deformaes
at 0,05, 0,06, 0,07 e 0,08 de deformao total atravs do Microsoft Excel solver.
g) Clculo da expresso de acordo com a equao de Ludwig Hollomon para 1% 10%
de deformao total atravs do Microsoft Excel solver.
Aps a determinao das curvas de escoamento, as mesmas foram plotadas e avaliadas
comparando-as com as curvas tenso versus deformao verdadeira. A partir desta anlise o
modelo foi escolhido de acordo com seu comportamento em relao s curvas verdadeiras e o
modelo escolhido foi utilizado para determinao de uma curva de escoamento mdia dos
quatro lotes.
3.5 Comparao da curva de escoamento com dados da literatura e extrapolao
A literatura apresenta diversas curvas de escoamento para ao AISI 1045, com
diferentes comportamentos que variam de acordo com a variao dos fatores que foram
abordados na seo 2.5, tais como composio qumica, tamanho de gro, temperatura, taxa
de deformao.
Uma pesquisa bibliogrfica, na qual curvas de escoamento de diferentes literaturas foram
coletadas, foi realizada a fim de construir-se um banco de dados. Este banco de dados com
curvas de escoamento obtidas em diferentes taxas de deformao serviu de comparativo para
a curva de escoamento mdia obtida neste trabalho.
-
36
O banco de dados utilizado neste trabalho contm curvas de escoamento extradas de duas
principais fontes:
Fonte 1: Fliekurvenatlas metallischer Werkstoffe de Eckart Doege e Heinz Meyer-
Nolkemper Saeed. Editora Hanser. (DOEGE, et al., 1986)
Fonte 2: Banco de dados do software de simulao por elementos finitos Simufact
MSC.SuperForm V 10.0
A partir das curvas de escoamento em diferentes taxas de deformao obtidas das fontes
utilizadas e da curva de escoamento experimental obtida para o material AISI 1045 utilizado
neste trabalho, cuja taxa de deformao do ensaio foi de 0.005s-1, foram realizadas
extrapolaes, a fim de simular qual seria o comportamento deste material em maiores taxas
de deformao.
No grfico da Figura 3.6 podem ser visualizadas as curvas de escoamento do material
Ck45 em duas diferentes condies de composio qumica, W1 e W2, conforme Tabela
3.Erro! Fonte de referncia no encontrada.4.
Tabela 3. 4: Composio qumica dos materiais DIN Ck45* (Fonte 1).
Material Condio %C %Si %Mn %P %S
W1 Recozido 0,52 0,40 0,82 0,036 0,042
W2 Recozido 0,45 0,12 0,48 0,036 0,042
Na Figura 3.7 observam-se as curvas de escoamento do material AISI 1045 conforme banco
de dados do software Simufact MSC.SuperForm V 10.0 (Fonte 2). O software no divulga a
composio qumica do material, pois a curva deve ser interpretada como uma curva genrica.
-
37
Figura 3.6: Curvas de escoamento para o ao Ck 45 20C, taxas de deformao 0,05s-1, 1.6s-1, 8s-1, 40s-1. Adaptado de: Fliekurvenatlas metallischer Werkstoffe.
Figura 3.7: Curvas de escoamento para ao AISI 1045 20 C, taxas de deformao 1.6s-1, 8s-1, 40s-1. Adaptado de: banco de dados software Simufact MSC.SuperForm V 10.0.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
Ten
so
Ve
rdad
eir
a (M
Pa)
Deformao Verdadeira
W1 (0,005 s-1; 20C)
W2 (0,005 s-1; 20C)
W1 (1,6 s-1; 20C)
W2 (1,6 s-1; 20C)
W1 (8 s-1; 20C)
W2 (8 s-1; 20C)
W1 (40 s-1; 20C)
W2 (40 s-1; 20C)
0
200
400
600
800
1000
1200
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35
Ten
so
(M
Pa)
Deformao Verdadeira
AISI 1045/1,6 s-1; 20C
AISI 1045/8 s-1; 20C
AISI 1045/40 s-1; 20C
-
38