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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA
rea Departamental de Engenharia Civil
Anlise do Comportamento Ssmico de uma
Barragem Gravidade Tipo
RICARDO JOS GROSSO MIRANDA
(Licenciado em Engenharia Civil)
Trabalho Final de Mestrado para obteno do grau de Mestre em Engenharia
Civil na rea de Especializao de Estruturas
Orientadores:
Doutor Paulo Jorge Henriques Mendes, Prof. Adjunto (ISEL)
Doutor Eduardo Martins Bretas, LNEC
Jri:
Presidente: Mestre Cristina Ferreira Xavier de Brito Machado, Prof. Coordenadora de
Mestrado (ISEL)
Vogais:
Doutor Nuno Miguel Monteiro Azevedo, Investigador LNEC
Doutor Paulo Jorge Henriques Mendes, Prof. Adjunto (ISEL)
Novembro de 2017
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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA
rea Departamental de Engenharia Civil
Anlise do Comportamento Ssmico de uma
Barragem Gravidade Tipo
RICARDO JOS GROSSO MIRANDA
(Licenciado em Engenharia Civil)
Trabalho Final de Mestrado para obteno do grau de Mestre em Engenharia
Civil na rea de Especializao de Estruturas
Orientadores:
Doutor Paulo Jorge Henriques Mendes, Prof. Adjunto (ISEL)
Doutor Eduardo Martins Bretas, LNEC
Jri:
Presidente: Mestre Cristina Ferreira Xavier de Brito Machado, Prof. Coordenadora de
Mestrado (ISEL)
Vogais:
Doutor Nuno Miguel Monteiro Azevedo, Investigador LNEC
Doutor Paulo Jorge Henriques Mendes, Prof. Adjunto (ISEL)
Novembro de 2017
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Dedicatria
Mariana
por toda a fora
e apoio, sempre,
por tudo.
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i
Agradecimentos
Queria deixar os meus profundos agradecimentos a todos os que me apoiaram e
que contriburam para a concluso deste trabalho, que significa um grande passo
na minha formao acadmica e na minha evoluo pessoal.
Agradeo, com grande estima, ao meu orientador, Engenheiro Paulo Mendes, toda
a pacincia, boa disposio, incentivo e dedicao, tudo isto essencial na concluso
deste trabalho, mas tambm toda a aprendizagem e conhecimentos transmitidos
ao longo do meu percurso acadmico que me permitiram evoluir profissionalmente
e pessoalmente.
Agradeo ao meu orientador, Engenheiro Eduardo Bretas, toda a disponibilidade,
transmisso de conhecimentos, bibliografia e sugestes pertinentes que me
ajudaram na realizao deste trabalho.
A toda a minha famlia, em particular aos meus pais, s minhas irms Sara e
Daniela e minha afilhada Bianca, agradeo por todo o apoio e carinho ao longo
da minha vida e por todo o incentivo para a elaborao deste trabalho e ao longo
do meu percurso acadmico.
Mariana, por todo o carinho, incentivo, conselhos e por todos os momentos que
partilhmos, por ser a minha maior fonte de inspirao e motivao, porque sem
ela nada disto teria sido possvel, por tudo.
Finalmente, a todos os meus amigos, por todo o apoio, fundamental em toda a
realizao deste trabalho.
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RESUMO
O presente trabalho aborda o dimensionamento de barragens gravidade, a
verificao da sua segurana estrutural e a sua anlise ssmica, a qual pode ser
realizada atravs de diversos mtodos, que se abordam no presente trabalho.
Na introduo ao tema, apresentada uma abordagem geral sobre os vrios tipos
de barragens, bem como as suas finalidades e caractersticas. So tambm
analisadas as diferenas entre os regulamentos portugueses e internacionais.
Seguidamente feita uma caracterizao pormenorizada das barragens gravidade.
Paralelamente, so analisadas as aes atuantes numa barragem de gravidade
tipo, as combinaes dessas aes, aplicveis a cenrios correntes e a cenrios de
rotura. Procura-se tambm demonstrar como se deve executar a verificao de
segurana deste tipo de barragens.
So tambm analisados os mtodos de anlise ssmica indicados para a verificao
de segurana das barragens gravidade, incluindo uma explicao geral de
aplicao de cada mtodo, bem como as formas de clculo destes mtodos.
Por fim, analisado um caso de estudo, onde executada a verificao de
segurana de uma barragem gravidade tipo, atravs de uma rotina de clculo
desenvolvida em MatLab. Os resultados obtidos so depois comparados com os de
outros programas de clculo estrutural mais robustos, como o SAP2000, de
maneira a comparar e verificar as diferenas entra os resultados obtidos.
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iv
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v
ABSTRACT
The following dissertation approaches the design of gravity dams, their safety
evaluation and seismic analysis, which can be accomplished through several
methods, which are approached in the present essay.
As a theme introduction, a general approach is presented on the various types of
dams, as well as their purposes and characteristics. The differences between
Portuguese and international regulations are also analyzed. Afterwards, is given
a detailed characterization of the gravity dams. At the same time the actions
applicable to this type of dams are analyzed, the combinations of these actions,
applicable to both current scenarios and failure scenarios. It is also demonstrated
how to perform the safety evaluation of a gravity dam.
Also evaluated are the seismic analysis methods indicated for the safety
evaluation, including a general explanation of each method, as well as the method
of calculation of each seismic analysis method.
Lastly, a case study is analyzed, where the safety evaluation of a gravity dam is
performed, through a routine developed in MatLab. The obtained results are
afterwards compared with other more robust structural calculation programs,
such as Sap2000, in order to compare and verify the differences between the
obtained results.
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PALAVRAS CHAVE / KEYWORDS
Barragens gravidade de beto / Concrete gravity dams
Dimensionamento de barragens gravidade / Gravity dams design
Verificao de segurana de barragens / Dams safety evaluation
Anlise ssmica / Seismic analysis
Mtodo do coeficiente ssmico / Seismic coefficient method
Mtodo dos Elementos Finitos / Finite element method
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viii
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ix
NDICE
CAPTULO 1. INTRODUO ................................................................................ 1
1.1 Enquadramento do tema ............................................................................................... 1
1.2 Objetivos ........................................................................................................................ 3
1.3 Organizao do trabalho ................................................................................................ 3
CAPTULO 2. INTRODUO AO ESTUDO DAS BARRAGENS GRAVIDADE ................. 5
2.1 Consideraes iniciais .................................................................................................... 5
2.2 Breve reviso histrica ................................................................................................... 9
2.3 Caracterizao das barragens gravidade ....................................................................... 15
2.4 Regulamentao de segurana em barragens ................................................................ 20
2.5 Aes atuantes .............................................................................................................. 24
2.5.1 Peso Prprio ................................................................................................ 26
2.5.2 Presses Hidrostticas .................................................................................. 26
2.5.3 Subpresses .................................................................................................. 26
2.5.4 Variaes da Temperatura ............................................................................ 30
2.5.5 Ao Ssmica ............................................................................................... 31
2.5.6 Impulsos de terras e sedimentos ..................................................................... 32
2.5.7 Ao do gelo ................................................................................................ 32
2.6 Combinaes de aes ................................................................................................... 32
2.7 Verificao da segurana .............................................................................................. 36
2.7.1 Segurana ao deslizamento ............................................................................ 37
2.7.2 Segurana ao derrubamento ........................................................................... 40
2.7.3 Segurana das tenses internas da barragem e na superfcie da fundao.......... 41
2.8 Consideraes finais ...................................................................................................... 42
CAPTULO 3. MTODOS DE ANLISE DO COMPORTAMENTO SSMICO .................. 45
3.1 Consideraes iniciais ................................................................................................... 45
3.2 Caracterizao das aes ssmicas................................................................................. 45
3.2.1 Mtodo do coeficiente ssmico........................................................................ 46
3.2.2 Mtodo da fora lateral equivalente ................................................................ 48
3.2.3 Anlise por espectros de resposta ................................................................... 50
3.2.4 Anlise ao longo do tempo ............................................................................. 51
3.3 Exemplo de aplicao e validao de uma ferramenta computacional ......................... 51
3.3.1 Fluxograma do funcionamento geral da rotina de clculo em MatLab ............... 55
3.3.2 Determinao do centro de gravidade da barragem .......................................... 55
3.3.3 Determinao das tenses mximas internas da barragem ............................... 56
3.3.4 Combinao 1 Cenrio corrente PP+FI(SBP) .......................................... 57
3.3.5 Combinao 2 Cenrio corrente PP+PH+SP+FI(SBP)+Phd(SBP) ........... 61
3.3.6 Combinao 3 Cenrio de rotura PP+PH+SP+FI(SMP)+Phd(SMP) ........ 67
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x
3.3.7 Combinao 4 Cenrio de rotura PP+PH(Cheia)+SP(Cheia) .................... 72
3.4 Consideraes finais ...................................................................................................... 75
CAPTULO 4. ANLISE DE UM CASO DE ESTUDO ................................................. 77
4.1 Consideraes iniciais ................................................................................................... 77
4.2 Modelo estrutural e combinaes de aes ................................................................... 77
4.3 Anlise modal ............................................................................................................... 79
4.4 Anlise atravs de espectros de resposta ...................................................................... 81
4.5 Anlise dos resultados obtidos ...................................................................................... 88
4.6 Consideraes finais ...................................................................................................... 92
CAPTULO 5. CONCLUSO E PERSPETIVAS FUTURAS .......................................... 95
5.1 Concluso ...................................................................................................................... 95
5.2 Perspetivas futuras ....................................................................................................... 96
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xi
SIMBOLOGIA
a Acelerao ssmica horizontal
A rea do plano horizontal
B Largura da base da barragem
C Coeso
FC Fase Construtiva
FI Foras de Inrcia
FPM Fator de participao da massa
FR Resultante das foras resistentes ou estabilizantes
FS Resultante das foras derrubantes ou solicitantes
FSder Fator de segurana ao derrubamento
FSdesl Fator de segurana ao deslizamento
g Acelerao gravtica
H Altura do nvel de gua
HG Altura da galeria
HJ Altura da barragem a jusante
HM Altura da barragem a montante
I Momento de inrcia
K Rigidez do sistema estrutura-fundao
M Massa da estrutura
MR Momento resistente ou estabilizante
MS Momento derrubante ou solicitante
N Esforo normal superfcie de deslizamento
PH Presso hidrosttica
PHD Presso hidrodinmica
PP Peso prprio da estrutura
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xii
S Subpresso
SBP Sismo base de projeto
SME Sismo mximo expetvel
SMP Sismo mximo de projeto
V Esforo Transverso solicitante
Vbeto Volume do beto da barragem
VR Esforo transverso resistente ou estabilizante
XCG Centro de gravidade na direo x
YCG Centro de gravidade na direo y
Letras gregas
Coeficiente ssmico horizontal
Tenso normal
mx Tenso mxima
mxcompresso Tenso mxima de compresso
mxtrao Tenso mxima de trao
Peso volmico da gua
Coeficiente de segurana em relao s foras de atrito
C Coeficiente de segurana referente coeso
ngulo de atrito interno
y - Valor do modo de forma
ngulo do plano inclinado
Abreviaturas
BC Beto Convencional Vibrado
BCC Beto Compactado com Cilindros
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CFBR Comit Franais des Barrages et Rservoirs
FERC Federal Energy Regulatory Commission
ICOLD International Commission of Large Dams
MED Mtodo dos Elementos Discretos
MEF Mtodo dos Elementos Finitos
NPB Normas de Projeto de Barragens
RPB Regulamento de Pequenas Barragens
RSA Regulamento de Segurana e Aes para Estruturas de Edifcios e Pontes
RSB Regulamento de Segurana de Barragens
USACE US Army Corps of Engineers
USBR United States Department of interior - Bureau of Reclamation
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xiv
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
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CAPTULO 1. INTRODUO
1.1 Enquadramento do tema
A necessidade de armazenar e gerir gua, em particular, em zonas de seca e com
poucos recursos hdricos, constituiu, provavelmente, a principal razo para a
construo das primeiras barragens. Este tipo de estruturas fundamental, pois
os recursos de gua doce so cada vez mais limitados, escassos e distribudos de
forma desigual pelas regies.
No caso de Portugal, nos ltimos anos tem-se registado um aumento da
importncia atribuda a estas estruturas, materializada no reforo de potncia e
na construo de diversas barragens. Com o objetivo de elevar o aproveitamento
hidrolgico das capacidades do pas para 70%, foram recentemente construdas
novas barragens (Baixo Sabor, Ribeiradio Ermida e Foz Tua) e tem-se procedido
a reforos de potncia em barragens existentes (Picote, Bemposta, Alqueva,
Venda Nova e Salamonde), estando ainda previsto a construo de novas obras e
realizao de mais reforos de potncia em obras existentes. Na Figura 1.1 mostra-
se a barragem do Alqueva, que tem a maior albufeira em Portugal (e o maior
lago artificial da Europa), situada no rio Guadiana, na zona do Alentejo, trata-se
uma barragem abbada, que sofreu recentemente um reforo de potncia.
Figura 1.1 Barragem do Alqueva.
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Captulo 1. Introduo
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A explorao das barragens no se resume exclusivamente ao armazenamento de
gua, estendendo-se, tambm, produo de energia eltrica, por forma a
fomentar a autossuficincia energtica do pas. Apesar da produo de energia
hidroeltrica ser a principal contribuio das barragens para o desenvolvimento
dos setores de atividade nacional, existem outros fatores tambm importantes
para a sustentabilidade do pas, como o abastecimento de gua s populaes, a
irrigao de terrenos e rega na agricultura, a formao de lagos artificiais e o
controlo de cheias que permite a preveno de inundaes.
No entanto, as barragens tm um risco potencial muito elevado, dado que, na
iminncia de rotura, a rea a jusante provavelmente devastada pela fora da
gua, sendo previsvel que os danos materiais e humanos sejam muito
significativos. Deste modo, fundamental existir um controlo da segurana
estrutural, atravs de modelos que simulem o seu comportamento, em todas as
fases da vida deste tipo de obras, desde a fase de construo at fase final do
perodo de explorao.
Atendendo que Portugal se encontra numa regio propensa ocorrncia de sismos,
para alm de ser necessrio analisar a resposta estrutural das barragens para as
aes estticas tambm importante a anlise do comportamento ssmico destas
obras. Assim, neste trabalho para alm da anlise estrutural de barragens
gravidade para aes estticas (peso prprio, presso hidrosttica, etc.), grande
parte do trabalho dedicado anlise do comportamento ssmico de barragens
gravidade (ver Figura 1.2).
Figura 1.2 Perfil da barragem gravidade de Pedrgo.
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
3
1.2 Objetivos
Com base no enquadramento apresentado anteriormente, foi definido como
principal objetivo para o presente trabalho o estudo do comportamento ssmico
de uma barragem gravidade tipo, atravs de mtodos simplificados e sofisticados
de anlise ssmica, com vista verificao da sua segurana estrutural.
Contudo, para justificar e complementar o objetivo principal, definiram-se um
conjunto de objetivos especficos a desenvolver para a realizao deste trabalho,
os quais se apresentam de seguida:
i. Caracterizao estrutural de barragens gravidade;
ii. Identificao das aes, combinaes de aes, mecanismos de rotura e
critrios de avaliao da segurana de barragens gravidade;
iii. Aplicao de mtodos de anlise ssmica: mtodos simplificados (pseudo-
esttico e pseudo-dinmico) e mtodos sofisticados como o mtodo dos
Elementos Finitos (MEF);
iv. Caso prtico relativo anlise ssmica de uma barragem gravidade tipo
atravs de alguns dos mtodos apresentados;
v. Discusso dos resultados obtidos.
1.3 Organizao do trabalho
O presente trabalho encontra-se estruturado em cinco captulos, incluindo a
introduo, onde se enquadra o tema e se estabelecem objetivos para o trabalho,
as concluses e perspetivas futuras.
No segundo captulo, Introduo ao estudo das barragens gravidade far-se-
uma descrio dos diferentes tipos de barragens, abordando-se as suas vantagens
consoante o tipo de utilizao. Proceder-se- explicao da evoluo das
barragens ao longo do tempo com referncia aos materiais utilizados. Ser tambm
abordado neste captulo a caracterizao estrutural das barragens gravidade e o
funcionamento de um sistema barragem-fundao-albufeira. A identificao e
explicao dos diferentes tipos de aes envolvidas e as respetivas combinaes de
aes, os mecanismos de rotura e os critrios de avaliao de segurana das
barragens gravidade sero tambm analisados. Igual relevncia ter a explicao
dos regulamentos aplicveis a este tipo de barragens.
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Captulo 1. Introduo
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No terceiro captulo, Mtodos de anlise do comportamento ssmico abordar-
se-o diversos mtodos para a anlise ssmica de barragens gravidade, como os
mtodos simplificados e mtodos sofisticados de anlise. Os mtodos simplificados
da ao ssmica consistem na anlise pseudo-esttica atravs do mtodo do
coeficiente ssmico e do mtodo da fora lateral equivalente e, na anlise pseudo-
dinmica atravs de espectros de resposta e do mtodo de anlise ao longo do
tempo. No caso dos mtodos sofisticados iro ser analisados atravs do Mtodo
dos Elementos Finitos (MEF). No mbito deste capitulo ser ainda feito um caso
de validao, onde se pretender verificar a segurana de uma barragem gravidade
atravs dos mtodos mais simplificados de anlise.
No quarto captulo, Anlise de um caso de estudo, ser analisada uma barragem
gravidade tipo, e elaborada uma discusso dos resultados obtidos, em relao
deformada e respetivos deslocamentos do perfil gravidade, e em relao ao campo
de tenses a que esse perfil de gravidade est sujeito, para as aes e combinaes
de aes consideradas no captulo 3.
No quinto captulo, Concluses e perspetivas futuras sero apresentadas as
concluses e as consideraes finais a retirar da realizao deste trabalho, assim
como a apresentao de possveis linhas de investigao para desenvolvimentos
futuros deste trabalho.
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
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CAPTULO 2. INTRODUO AO ESTUDO DAS BARRAGENS
GRAVIDADE
2.1 Consideraes iniciais
As barragens so um tipo de estrutura que evoluiu bastante ao longo do tempo,
no s ao nvel dos materiais utilizados, mas tambm ao nvel do seu tipo
estrutural. Ao executar um projeto de uma barragem, este planeado para servir
vrias finalidades, sendo definidos os objetivos para os quais a barragem ir ser
concebida (Quintela, 1990). Classificam-se como finalidades principais as
seguintes:
i. Barragem para criao de albufeiras Este tipo de barragem tem como
objetivo o armazenamento de gua durante as pocas de chuva, por forma
a que a gua seja utilizada em perodos mais secos. A gua armazenada
pode ser utilizada para diversas finalidades, a rega, o abastecimento de
gua ou a produo de energia eltrica. Este tipo de barragem o mais
comum e na Figura 2.1 pode observar-se um exemplo de uma barragem
deste tipo;
ii. Barragem de derivao Pretende-se, com esta estrutura, a criao de
canais ou condutas para as mais diversas utilizaes, nomeadamente, a
rega, a produo de energia eltrica ou o abastecimento da populao;
iii. Barragem de deteno Com este tipo de barragem pretende-se realizar o
controlo de cheias, evitando a inundao das terras e propriedades a
jusante em que as guas so libertadas gradualmente aps o perodo de
cheias. Outra finalidade deste tipo de barragens poder ser a reteno de
materiais slidos, retendo os materiais que se encontram a contaminar a
gua de forma a no contaminar as guas a jusante da barragem;
iv. Barragem de fins mltiplos Este tipo de barragem caracterizado pela
existncia de vrias finalidades em simultneo.
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
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Figura 2.1 Barragem de Pedrgo (Barragem gravidade), situada no distrito de Beja, que tem
como principais finalidades a produo de energia eltrica e a rega.
No que diz respeito aos materiais utilizados na construo de barragens, os mais
comuns so as barragens de aterro de terra (Figura 2.2) ou de enrocamento
(Figura 2.3), por no requererem condies geolgicas ou geotcnicas de fundao
muito exigentes face aos outros tipos de barragens. Na construo das barragens
tambm bastante frequente a utilizao de materiais como o beto, que sucedeu
s barragens em alvenaria. No passado as barragens de alvenaria eram bastante
usuais, contudo, foram caindo em desuso com a evoluo das barragens de beto.
Hoje em dia, raramente so construdas barragens em alvenaria, exceto em casos
de barragens com altura muito baixa.
Figura 2.2 Barragem de Montargil, situada no distrito de Portalegre (barragem em aterro de
terra).
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
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Figura 2.3 Barragem da Apartadura no distrito de Portalegre (barragem de enrocamento).
A classificao mais comum das barragens de beto quanto estrutura das
mesmas, que podem ser dos seguintes tipos:
i. Barragem gravidade (Figura 2.4) Estas barragens caracterizam-se por
garantir a sua estabilidade atravs do seu peso prprio. Em geral tm um
perfil transversal aproximadamente triangular e o traado em planta
geralmente reto, mas pode ter uma ligeira curvatura com concavidade
voltada para jusante (Batista & Farinha, 2011);
ii. Barragem abbada (Figura 2.5) As barragens abbada ou barragens em
arco tm um volume de beto bastante inferior s barragens gravidade, j
que tm uma curvatura voltada para montante. Utilizam a elevada
resistncia compresso dos arcos para transmitir os efeitos da presso
hidrosttica fundao e aos encontros. Por este facto no necessitam de
um volume to grande de beto para garantir a sua segurana, como sucede
com outros tipos de barragens. As barragens abboda podem ainda ser
referidas como barragens cpula no caso de terem dupla curvatura
(Quintela, 1990);
iii. Barragem de contrafortes (Figura 2.6) Em geral estas barragens so
constitudas por uma estrutura contnua a montante, garantindo assim a
sua estanquicidade. Essa estrutura suportada a jusante por elementos
descontnuos que se designam de contrafortes. Os contrafortes mais comuns
so paredes de beto triangulares, que transmitem a presso da gua que
incide na estrutura s fundaes. As barragens de contrafortes requerem
menos volume de beto do que as barragens gravidade;
iv. Barragem em abbadas mltiplas (Figura 2.7) Este tipo de barragens
no mais do que uma evoluo das barragens em contrafortes.
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
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Nas figuras seguintes podem-se observar alguns exemplos dos vrios tipos
estruturais das barragens acima mencionados, bem como os respetivos perfis
transversais.
Figura 2.4 Barragem de Lagoa Comprida, no distrito de Guarda (barragem gravidade).
Figura 2.5 Barragem do Alto Lindoso, no distrito de Viana do Castelo (barragem abbada).
Figura 2.6 Barragem do Caia, no distrito de Portalegre (barragem de contrafortes).
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
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Figura 2.7 Barragem de Odivelas, no distrito de Beja (barragem em abbadas mltiplas).
As barragens gravidade so as abordadas ao longo deste trabalho. Este captulo
tem como principais objetivos a caracterizao estrutural das barragens
gravidade, a quantificao das aes atuantes e a sua verificao da segurana.
Na seco relativa caracterizao das barragens gravidade sero abordadas as
suas diferentes formas estruturais, os materiais de construo que so aplicados,
entre outros aspetos relevantes para um conhecimento mais aprofundado das
barragens gravidade.
2.2 Breve reviso histrica
O armazenamento e reserva de gua, sobretudo em zonas de seca, onde a
existncia de gua bastante limitada, sempre foi uma preocupao natural das
populaes. As primeiras barragens de que h registo surgiram no mdio oriente,
aproximadamente nos anos 3000 A.C. Cr-se que a primeira barragem construda
tenha sido a barragem de Jawa na Mesopotmia, atual Jordnia, barragem essa
construda em aterro e que abastecia a cidade do deserto de Jawa.
Entre as barragens mais antigas, a que merece especial referncia a barragem
Sadd el-kafara, localizada a sul do Cairo, construda aproximadamente 400 anos
depois da barragem de Jawa. Esta barragem tinha constituio semelhante de
uma barragem em terra, conforme se pode observar na Figura 2.8, e chegou a
atingir os 14 metros de altura e 113 metros de comprimento (E. M. Bretas, 2012).
Figura 2.8 Perfil da barragem Sadd el-kafara.
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
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O povo romano foi o povo que mais desenvolveu a construo de barragens,
provavelmente com a introduo de materiais de construo, como a cal
hidrulica, e outros materiais j tradicionalmente utilizados, como a terra e a
rocha. Foi principalmente na Pennsula Ibrica que foram construdas pelos
romanos algumas das suas mais importantes barragens. As solues estruturais
mais utilizadas eram o perfil de gravidade com seco trapezoidal e o perfil
gravidade reforado com contrafortes. Menos frequentemente, utilizavam a
conjugao de muros de alvenaria e taludes de terra (E. M. Bretas, 2012). Mesmo
nas poucas barragens de terra executadas pelos romanos, era frequentemente
introduzido um elemento em alvenaria para a reteno de gua a montante
(Quintela, Cardoso, & Mascarenhas, 1995).
Algumas das barragens mais antigas do mundo, ainda em funcionamento
localizam-se na Pennsula Ibrica, como o caso das barragens de Proserpina e
de Cornalbo em Espanha. Apesar de terem sido construdas com o objetivo de
abastecimento de gua populao, hoje em dia estas barragens servem apenas
para rega. A soluo construtiva da barragem de Proserpina que se pode observar
na Figura 2.9 passa pela existncia de um muro em alvenaria a montante do
aterro, muro esse que reforado por contrafortes. Esses contrafortes serviam
para, em caso de esvaziamento da albufeira, travar o derrubamento do muro
devido presso da gua instalada no aterro. A barragem de Cornalbo uma
evoluo da barragem de Proserpina, em alternativa ao muro de montante, j que
eram utilizadas clulas de alvenaria inseridas no montante do aterro (Quintela et
al., 1995).
Figura 2.9 Barragem de Proserpina, em Espanha (vista do paramento de montante).
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
11
A barragem de Alcantarilha, localizada perto da cidade de Toledo, considerada
a primeira barragem construda pelos romanos. Datada do sculo II, tem uma
altura de 17 metros e 557 metros de comprimento. Esta barragem era constituda
por duas paredes exteriores em alvenaria e um interior em aterro. A jusante,
existia um talude em terra com o intuito de resistir presso hidrosttica. Ao
contrrio da barragem de Proserpina, esta barragem no tinha contrafortes a
montante, pelo que acabou por ruir, provavelmente porque o muro no resistiu
ao impulso criado pelo talude em aterro aquando de um esvaziamento da albufeira
(E. M. Bretas, 2012).
Foi tambm o povo romano o responsvel pela execuo da primeira barragem
abbada, a barragem de Glanum, que servia para abastecimento de uma vila
romana em Frana. Contudo, essa barragem foi substituda por uma barragem
gravidade no final do sculo XIX.
Os romanos no foram os nicos povos a contribuir para a engenharia das
barragens. Os povos asiticos desenvolveram bastante a conceo das barragens
durante a idade mdia, em particular em pases como o Japo, a China, a India
e o Sri Lanka. Aps a queda do imprio romano, na Europa, praticamente no
existiram desenvolvimentos no que s barragens diz respeito. Foi necessrio passar
praticamente um milnio para voltarem a ser desenvolvidas as estruturas das
barragens.
Em meados do sculo XIX, as barragens comearam a ser efetivamente
dimensionadas. Em 1853, foi publicado o primeiro trabalho cientifico nessa rea
por J. Augustin Tortene de Sazilly, no livro com o ttulo Note Sur un type de
profil dgale rsistance propos pour les murs de rservoirs deau, que definia
efetivamente um critrio cientifico para o dimensionamento das barragens (E. M.
Bretas, Lemos, & Loureno, 2012). No documento referido, Sazilly demonstrou
que, para as barragens gravidade, a forma do perfil transversal mais vantajosa era
a triangular, com a face voltada para montante, conforme se pode verificar na
Figura 2.10. Foi a partir desta publicao que se definiram os primeiros critrios
de dimensionamento, pelo qual a seo da barragem devia evitar a rotura por
deslizamento e por excesso de compresso, sendo este o cenrio mais condicionante
(E. M. Bretas, 2012).
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
12
Figura 2.10 Perfil transversal proposto por Sazilly.
Outro desenvolvimento fundamental no dimensionamento de barragens, foi a
construo da barragem de Furens por F. Emile Delocre, sendo esta a primeira
barragem a ser construda que teve por base o trabalho desenvolvido por Sazilly.
Na fase de projeto, Delocre partiu do perfil triangular determinado por Sazilly e
alterou ligeiramente os fatores de segurana, tendo chegado a um perfil transversal
poligonal, o que permitiu a reduo do volume de material aplicado na construo
da barragem. Na Figura 2.11, possvel observar o modelo proposto por Delocre.
Figura 2.11 Perfil transversal proposto por Delocre.
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
13
O trabalho desenvolvido por S. Rankine em 1872, foi tambm um dos trabalhos
mais marcantes no que diz respeito s barragens naquela altura. Com a publicao
do artigo Report on the design and construction of masonry dams, Rankine
demonstrou a importncia de no existirem traes em qualquer ponto da
barragem, tendo esta sido uma condio essencial para a preveno do cenrio de
derrubamento (E. M. Bretas et al., 2012). Na Figura 2.12, possvel verificar o
modelo proposto por Rankine.
Figura 2.12 Perfil transversal proposto por Rankine.
Aps o acidente na barragem de Bouzey, em 1895, que teve perto de uma centena
de vitimas, passou a ser considerada e valorizada a ao da subpresso, pois at
essa data, nenhum dos trabalhos existentes mencionava essa ao. Apesar de
terem existido algumas roturas de barragens devido subpresso, foi a barragem
de Bouzey que proporcionou maior visibilidade (E. M. Bretas et al., 2012), talvez
por ser no centro da Europa, e em consequncia desse desastre, que surgiu o
primeiro livro cientifico onde a subpresso era j considerada uma das aes a ter
em conta no dimensionamento das barragens (Engineering for masonry dams
publicado em 1917 por W. P. Creager). Apesar deste livro ter apenas surgido em
1917, ter sido a barragem de Vyrnwy, em Inglaterra, a primeira barragem a ser
executada com um sistema de drenagem para a limitao das subpresses.
A primeira vez que foi utilizado o beto como material construtivo nas barragens,
foi na construo da barragem de Boyds Corner em Nova Iorque no ano de 1872.
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
14
Graas utilizao crescente do beto, o dimensionamento das barragens evoluiu
para formas mais complexas, permitindo a utilizao de menos volume de material
e a consequente diminuio dos custos.
Apesar das barragens terem comeado a ser construdas h mais de 5000 anos, a
maior contribuio, em termos de engenharia das barragens, ocorreu nos ltimos
100 anos pois, para a construo de grandes barragens, muito contriburam os
avanos significativos ao nvel do seu dimensionamento e da sua verificao de
segurana.
Tambm a anlise ssmica apresentou bastantes desenvolvimentos. Inicialmente a
ao ssmica era considerada uma fora esttica. Mesmo hoje em dia, este mtodo
ainda aplicado no clculo do cenrio de deslizamento das barragens (o mtodo
simplificado). No foi s ao nvel da engenharia que existiram grandes avanos.
Tambm no que concerne ao ambiente, hoje em dia a compreenso que existe ao
nvel do impacte ambiental que uma construo destas implica um aspeto
bastante importante e que necessrio ter em conta na fase de projeto.
Na Figura 2.13 observa-se a barragem em aterro mais alta do mundo, a barragem
de Nurek, situada no Tajiquisto. Construda no rio Vakhsh, uma barragem de
aterro que atingiu os 300 metros de altura. A construo desta barragem terminou
em 1980. Atualmente a barragem mais alta do mundo a barragem de Jinping-
I, localizada na China que uma barragem em abbada com 305 metros de altura.
Figura 2.13 Barragem de Nurek, no Tajiquisto.
Do ponto de vista da produo de energia eltrica, a barragem Three Gorges a
maior central hidroeltrica do mundo. Construda na China, no rio Yangtze, em
2006, uma barragem do tipo gravidade em beto. Tem como finalidades
principais o controlo de cheias e a gerao de energia, e produz cerca de 22500
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
15
MW de energia eltrica. Pode-se verificar na Figura 2.14 a dimenso da barragem
Three Gorges e tambm a dimenso da albufeira.
Figura 2.14 Barragem Three Gorges, na China.
2.3 Caracterizao das barragens gravidade
As barragens gravidade tm como principal funo, resistirem aos impulsos da
gua que retm somente pela ao do seu peso prprio. Geralmente o traado em
planta deste tipo de barragens reto ou tem uma ligeira curvatura com
concavidade para jusante. O perfil de gravidade em geral aproximadamente
triangular e a relao entre a largura da base e a altura desta definida para
resistir pelo seu peso ao impulso da gua. Normalmente a largura da base
superior a 80% da altura. De seguida apresentam-se as principais vantagens e
desvantagens da utilizao de barragens deste tipo estrutural (Bureau of
Reclamation, 1976).
Vantagens das barragens gravidade:
i. Resistncia, estabilidade e durabilidade;
ii. Adequabilidade a variados tipos de vales, mesmo os vales moderadamente
ingremes, onde as barragens de aterro no so possveis de executar;
iii. Possibilidade de construo em alturas bastante elevadas, caso as
fundaes da barragem sejam em rocha;
iv. Adaptabilidade a sees galgveis;
v. Adequabilidade a zonas de pluviosidade intensa;
vi. Custos de manuteno reduzidos;
vii. Impossibilidade de colapso repentino, por fora da existncia de vrios
sinais de aviso no caso de rotura iminente. Os prejuzos a jusante, so,
assim, minimizados em caso de rotura;
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
16
viii. Possibilidade de construo em qualquer tipo de condies climatricas;
ix. Possibilidade de reduo da sedimentao a montante da barragem.
Quanto s desvantagens associadas a estas barragens, assinalam-se os seguintes
aspetos:
i. Grandes barragens gravidade apenas podem ser construdas com fundaes
slidas em rocha. Caso a fundao seja fraca ou bastante permevel, por
norma, as barragens gravidade s podem chegar aos 20 metros de altura;
ii. O custo inicial de uma barragem gravidade geralmente maior do que uma
barragem de aterro, principalmente caso existam boas terras para utilizar
no aterro em zonas perto da construo;
iii. Em geral as barragens gravidade levam mais tempo de construo do que
barragens em aterro, especialmente onde no existem centrais de beto na
zona da construo;
iv. Requerem tcnicos mais qualificados do que barragens em aterro;
v. Em grande parte das barragens gravidade difcil executar o projeto de
alteamento.
As barragens em beto de pequena e mdia dimenso so na sua grande maioria
do tipo gravidade, pois so as mais econmicas e simples de construir. Estes tipos
de estruturas tm em comum uma seco transversal aproximadamente
triangular, conforme se pode verificar na Figura 2.15, onde se ilustram alguns dos
tipos de seces mais comuns em barragens gravidade. Com o beto comearam
a surgir as barragens gravidade aligeiradas, que tm uma seo vazada de forma
a diminuir o volume de beto despendido na construo da barragem.
Figura 2.15 Diferentes tipos de sees de perfis do tipo gravidade.
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
17
No que diz respeito a este tipo de barragens, podem-se salientar as mais recentes
evolues das barragens gravidade: as barragens descarregadoras e as barragens
mveis. Relativamente s barragens descarregadoras, so caracterizadas por terem
uma soleira descarregadora, normalmente associada a pilares que suportam as
comportas, conforme se pode ver na Figura 2.16, onde a ttulo de exemplo se
mostra uma imagem da barragem de Fratel localizada no Rio Tejo, no distrito de
Portalegre. Esta barragem foi construda em 1973 e tem 48 metros de altura, 240
metros de comprimento e constituda por 6 comportas. Na Figura 2.16, pode-se
tambm observar o perfil transversal da barragem.
Figura 2.16 Barragem de Fratel (Barragem gravidade do tipo descarregadora).
As barragens mveis so outro tipo de barragens gravidade. A Figura 2.17 ilustra
um exemplo de uma barragem gravidade mvel, a barragem de Belver, localizada
no rio Tejo, no distrito de Portalegre, construda em 1952, tem uma altura de 30
metros e um comprimento de 327,5 metros. Nas barragens mveis, grande parte
da seo transversal da albufeira controlada pela rea das comportas (Batista
& Farinha, 2011). Durante a altura das cheias as comportas so colocadas de
forma a no obstrurem a passagem da gua.
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
18
Figura 2.17 Barragem de Belver (Barragem gravidade mvel).
No que concerne aos materiais utilizados na construo de barragens gravidade,
hoje em dia, os mais utilizados so o beto convencional vibrado (BC). Tendo em
conta que no so exigidos grandes requisitos de resistncia ao beto, podem ser
consideradas baixas dosagens de ligante e agregados de grandes dimenses no
fabrico do beto. Este tipo de material apresenta algumas limitaes,
nomeadamente no comprimento das barragens.
Para barragens com um maior desenvolvimento linear ou para menores requisitos
no que toca resistncia do beto, pode utilizar-se o beto compactado com
cilindros (BCC) (Fonseca, 2009). O beto compactado com cilindros tem dosagens
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
19
de ligante ainda mais baixas que o beto convencional vibrado. ainda bastante
comum executar-se uma faixa de pequena espessura, nos paramentos de montante
e jusante, com uma maior dosagem de cimento, garantindo assim uma menor
permeabilidade da gua.
No caso de Portugal, a barragem de Pedrgo foi a primeira barragem a ser
executada em beto compactado com cilindros, situada no distrito de Beja na
bacia hidrogrfica do rio Guadiana, que se pode ver na Figura 2.18.
Figura 2.18 Barragem de Pedrgo (Barragem gravidade em BCC).
As barragens gravidade mais comuns so constitudas, em geral, por duas seces,
a seo no galgvel e a seo galgvel (tambm denominada como
descarregadora). A seo galgvel projetada para ser transbordada, isto , em
caso de cheia, o nvel de gua chega ao limite da barragem e transborda pela zona
galgvel. O material dessa zona normalmente o beto por ser um material que
no se desgasta com a ao da gua. A seo no galgvel habitualmente
concebida para que no haja qualquer tipo de passagem de gua por essa seo.
Uma das mais importantes aes que ocorrem nas barragens gravidade so as
subpresses, porque funcionam como um impulso que ocorre no sentido contrrio
ao peso prprio da barragem (atua como uma diminuio do peso da estrutura).
Este impulso varia com o tempo, com a quantidade de gua a montante e a
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
20
jusante da barragem e est diretamente relacionado com a qualidade do macio
rochoso.
Para contrariar os impulsos, que advm das subpresses, existem tratamentos que
podem ser efetuados para diminuir o efeito das subpresses, sendo os mais comuns
os seguintes: a execuo de uma cortina de impermeabilizao, atravs da injeo
de calda em furos alinhados ao longo da fundao da barragem ou a execuo de
uma rede de drenagem, normalmente feita atravs da galeria de drenagem, caso
esta exista.
2.4 Regulamentao de segurana em barragens
Em Portugal, o regulamento que decreta o controlo de segurana das barragens,
durante toda a sua vida til, , no caso de grandes barragens, o Regulamento de
Segurana de Barragens (RSB, 2007) e no caso de pequenas barragens, o
Regulamento de Pequenas Barragens (RPB, 1993). Segundo o regulamento de
Segurana de Barragens, as barragens podem ser classificadas em dois grupos:
i. As grandes barragens, so as que tenham uma altura igual ou superior a
15 metros (medidos desde a cota mais baixa da superfcie geral das
fundaes at cota do coroamento) ou que tenham uma altura igual ou
superior a 10 metros, mas cuja albufeira tenha uma capacidade superior a
1.000.000 m3;
ii. Barragens de altura inferior a 15 metros, que, no estando includas no
grupo anterior, tenham uma albufeira com capacidade superior a
100.000 m3.
Todas as barragens que no sejam abrangidas pelo Regulamento de Segurana de
Barragens, ficam automaticamente sujeitas s disposies do Regulamento de
Pequenas Barragens.
A qualificao do risco potencial das grandes barragens depende de diversos
fatores, sendo que os danos podem ser bastante significativos no que concerne a
vidas humanas, bens materiais e ambientais (Eduardo Martins Bretas & Batista,
2013). A classificao das barragens avaliada consoante o risco potencial a
jusante da barragem e feita de acordo com a Tabela 2.1:
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
21
Tabela 2.1 - Classe da barragem em funo da ocupao humana (RSB, 2007).
Classe Ocupao humana, bens e materiais
I Residentes em nmero igual ou superior a 25
II
Residentes em nmero inferior a 25, ou infraestruturas e instalaes
importantes ou bens ambientais de grande valor e dificilmente recuperveis
ou existncia de instalaes de produo ou de armazenagem de substncias
perigosas
III As restantes barragens
Esto tambm sujeitas ao Regulamento de Segurana de Barragens, as barragens
que estejam includas na classe I em termos de ocupao humana. Apesar das
Normas de Pequenas Barragens definirem os procedimentos relativamente ao seu
dimensionamento, estas seguem as orientaes definidas pelos regulamentos
internacionais, principalmente a International Commission of Large Dams
(ICOLD).
Nesses regulamentos esto definidos todos os cenrios que so imprescindveis
para a anlise no dimensionamento das barragens, tanto no caso de cenrios
correntes como nos cenrios de rotura. No caso dos cenrios correntes, no se
devem verificar deterioraes apreciveis, j nos cenrios de rotura, no se deve
verificar a rotura global da estrutura (Prata, Bretas, & Lemos, 2012).
A nvel internacional existem diversas normas e regulamentos que ajudaram a
desenvolver a regulamentao interna de muitos pases, como o caso de Portugal.
Os principais regulamentos a nvel internacional so:
i. United States Department of interior Bureau of Reclamation (Bureau of
Reclamation, 1976);
ii. US Army Corps of Engineers (USACE, 1995);
iii. Federal Energy Regulatory Commission (FERC);
iv. Comit Franais des Barrages et Rservoirs (CFBR, 2013).
Conforme se pode perceber, so os regulamentos Norte Americanos que mais
influncia tm na execuo das normas e regulamentos de cada pas, como
acontece com Portugal. Os regulamentos so essenciais para toda a fase de
conceo, construo e explorao das barragens. Estes definem quais so as aes
a considerar, determinam as combinaes de aes com maior probabilidade de
ocorrncia em simultneo, os mecanismos de rotura que se considerao e os
respetivos critrios de verificao da segurana (Prata et al., 2012).
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
22
Segundo as Normas de Projeto de Barragens, o dimensionamento deste tipo de
estruturas deve ter por base diversos estudos, tais como os hidrolgicos,
geolgicos, hidrogeolgicos, sismolgicos e geotcnicos (NPB, 1993):
i. Estudos hidrolgicos pretende-se com estes estudos, obter as
caractersticas fisiogrficas e climatricas da zona em causa, determinar o
nvel de precipitao a que a albufeira estar sujeita, bem como os
respetivos caudais de cheia, qualidade da gua ou as medies do
transporte do slidos afluentes albufeira;
ii. Estudos geolgicos e hidrogeolgicos permitem identificar a geologia da
regio, do local da barragem, as principais caractersticas relevantes para
o projeto, e a caracterizao hidrogeolgica da regio e do local da obra;
iii. Estudos sismolgicos Permitem o estabelecimento do Sismo Mximo
Expectvel (SME), do Sismo Mximo de Projeto (SMP) (que por norma
se adota o SME), e o Sismo Base de Projeto (SBP), de intensidade inferior
ao SMP. A definio destes sismos devers importante, j que cada sismo
ter a sua intensidade e isso permitir conceber os vrios cenrios correntes
e de rotura;
iv. Estudos geotcnicos Estes referem-se principalmente s caractersticas do
macio de fundao da barragem e da albufeira, s propriedades mecnicas
do macio de fundao e dos taludes, como a qualidade do macio rochoso,
a sua permeabilidade, deformabilidade e resistncia, de forma a que seja
possvel definir o tratamento mais indicado para a melhoria das
propriedades do macio.
A Federal Energy Regulatory Commission (FERC) desenvolveu uma
regulamentao especifica aplicvel s barragens gravidade. Esta recomenda que
seja realizada a anlise da estabilidade das barragens gravidade de beto, no s
na fase de projeto mas tambm na fase de explorao das referidas (Prata et al.,
2012). Ainda, atenta determinao das subpresses, indicando que o diagrama
das subpresses trapezoidal, regra geral, assumindo como 100% da presso
hidrosttica de montante ou jusante, consoante o ponto em anlise.
No que diz respeito s aes, todos os regulamentos utilizam genericamente as
mesmas, conforme se pode verificar na Tabela 2.2.
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
23
Tabela 2.2 Quadro comparativo das aes consideradas por cada regulamento.
Aes NPB FERC USBR USACE
Gravticas (peso prprio) X X X X
Trmicas X X X X
Hidrostticas X X X X
Subpresses X X X X
Gelo X X X X
Caudal slido X X X X
Ssmicas X X X X
Elementos estruturais (ancoragens
passivas ou ativas)
X
Escoamento atravs dos descarregadores X
Ocorrncia de cheias X
Impacto de detritos X
Reaes expansivas do beto X
Os regulamentos diferem nas combinaes de aes, logo, os critrios de avaliao
e os fatores de segurana tm igualmente diferenas considerveis. As diferenas
mais relevantes entre os regulamentos acima abordados so os seguintes (Prata
et al., 2012):
i. A NPB e a FERC diferem no critrio de avaliao do deslizamento da
barragem, pois enquanto a FERC apresenta um fator de segurana global,
o regulamento portugus prope diferentes valores para a parcela coesiva
e para o ngulo de atrito interno;
ii. No que diz respeito ao mecanismo de deslizamento, todos apresentam
valores diferentes para o cenrio de rotura (tambm designado por
combinao no usual ou combinao extrema, consoante o regulamento).
Pode-se verificar na Tabela 2.3 as diferenas desses valores;
iii. O USBR e o NPB propem critrios de avaliao diferentes consoante o
mecanismo de rotura se verifique na barragem ou na fundao;
iv. A FERC no preconiza uma combinao de aes que contemple a
ocorrncia de um sismo, ao contrrio dos restantes regulamentos;
v. O USBR no considera o cenrio de cheia;
vi. O USBR determina um conjunto de compresses mnimas existentes na
face de montante, em funo da presso hidrosttica verificada nesses
pontos;
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
24
vii. O USACE prev duas combinaes de aes para a fase de construo da
barragem, circunstncia que no se verifica nos outros regulamentos;
viii. O USACE prope um critrio de avaliao da segurana ao derrubamento;
ix. O NPB o nico que determina que o projetista o principal responsvel
no estabelecimento dos critrios especficos para cada barragem.
Tabela 2.3 Diferenas nos coeficientes de segurana de cada regulamento.
Cenrios NPB FERC USBR USACE
Cenrio corrente ou combinao usual
de aes (com coeso) - 2,0
4,0 2,0 Cenrio corrente ou combinao usual
de aes (sem coeso) 2,5 4,0 1,5
Cenrio de rotura ou combinao no
usual ou extrema de aes (com coeso) - > 1,25
1,3 1,3 Cenrio de rotura ou combinao no
usual ou extrema de aes (sem coeso) 1,2 1,5 1,3
2.5 Aes atuantes
A segurana das barragens gravidade assegurada atravs da verificao de
segurana ao deslizamento, ao derrubamento e nas tenses transmitidas
fundao. Para verificar a segurana de uma barragem gravidade necessrio
definir as principais aes atuantes.
Relativamente quantificao das aes, estas podem ser agrupadas atravs dos
seguintes critrios:
i. Aes estticas e dinmicas;
ii. Aes diretas (foras mssicas ou de superfcie que atuam na estrutura);
iii. Aes indiretas (imposio de deslocamentos ou deformaes).
Outro mtodo de classificao das aes baseia-se nas diferentes fases de vida das
barragens:
i. Durante a construo e at ao primeiro enchimento da albufeira;
ii. Durante o primeiro enchimento da albufeira;
iii. Ao longo do perodo de explorao da barragem.
No perodo entre o incio da construo e o primeiro enchimento da albufeira, as
aes a considerar so as seguintes: o peso prprio do beto; as variaes de
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
25
temperatura no ar; as variaes de temperatura resultante da libertao do calor
da hidratao do beto; a retrao; os movimentos das fundaes durante a
construo e durante as injees para impermeabilizao e a injeo das juntas de
construo.
Durante o primeiro enchimento da albufeira e ao longo do perodo de explorao,
as aes mais importantes so: as aes da gua; as variaes de temperatura no
ar e na gua; as aes dinmicas; os movimentos das fundaes resultantes do
enchimento da albufeira e as variaes do volume de beto.
De seguida enumeram-se as principais aes a considerar na verificao de
segurana das barragens gravidade, que podem ser tambm observadas na Figura
2.19:
i. PP peso prprio da barragem;
ii. PH1 Componente horizontal da presso hidrosttica a montante;
iii. PH2 Componente horizontal da presso hidrosttica a jusante;
iv. PV1 Componente vertical da presso hidrosttica a montante;
v. PV2 Componente vertical da presso hidrosttica a jusante;
vi. S Subpresses;
vii. PHD Presses hidrodinmicas resultantes das aes ssmicas;
viii. FI Foras de inrcia do corpo da barragem.
Figura 2.19 Aes atuantes numa barragem gravidade.
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
26
Para alm das aes mencionadas, em alguns casos necessrio tambm
considerar, as foras resultantes de sedimentos, de gelo, impacto de detritos,
ondulao e movimentos da fundao. Devem tambm ser tidos em conta no
dimensionamento, as deformaes causadas pelas variaes da temperatura, tanto
na fase de construo devido libertao do calor da hidratao do beto, como
na fase de enchimento da albufeira causadas por questes ambientais ou induzidas
(Batista & Farinha, 2011).
2.5.1 Peso Prprio
O peso prprio de uma barragem uma ao gravtica, ao essa, que a maior
ao estabilizante numa barragem gravidade. Considera-se para o peso volmico
do beto, um valor mdio de 24 kNm-3. Considera-se a ao do peso prprio, como
uma fora vertical, no seu centro de gravidade.
2.5.2 Presses Hidrostticas
A presso hidrosttica, a montante e a jusante da barragem, , em qualquer ponto
do paramento, considerada igual ao nvel da gua nesse ponto multiplicado pelo
peso volmico. Considera-se peso volmico da gua 10 kNm-3.
No que concerne a uma barragem de beto, a mesma considerada impermevel,
logo, a ao da gua no corpo da barragem traduz-se na presso hidrosttica nos
respetivos paramentos de montante e jusante. Quando existe sees galgveis,
sabe-se que exercida uma presso da gua nessa seo, mas geralmente essa
presso tem pouco significado pelo que desprezada.
2.5.3 Subpresses
A subpresso uma fora ativa que atua em toda a base do corpo da barragem,
que tem, obrigatoriamente, de ser considerada no dimensionamento. As
subpresses no so afetadas pelas aes ssmicas. Assume-se que a subpresso
varia linearmente desde o nvel de gua a montante at zero ou at ao nvel de
gua a jusante, isto nos casos onde no existe qualquer interveno ao nvel da
drenagem das fundaes, conforme se pode verificar no esquema da Figura 2.20.
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Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
27
Figura 2.20 Ao da subpresso sem drenagem da fundao.
No caso de existir drenagem da fundao, a presso na base, varia linearmente
at presso reduzida pelos drenos e novamente at presso da zona de jusante
da barragem. Normalmente, para estudos preliminares do projeto, a subpresso
na linha dos drenos da base da barragem equivalente presso de jusante
acrescida de 1/3 do diferencial entre as presses de montante e jusante. Na Figura
2.21 possvel verificar a ao das subpresses na base da barragem quando existe
sistema de drenagem, no caso em que a galeria de drenagem se situa a uma cota
inferior do nvel da gua a jusante da barragem.
HM
HJ
w
w
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
28
Figura 2.21 Ao da subpresso no caso em que a soleira da galeria de drenagem est abaixo do
nvel de gua a jusante.
Nas situaes em que a cota de soleira da galeria de drenagem seja superior ao
nvel da gua a jusante da barragem, existe uma ligeira alterao no diagrama
das subpresses, conforme se pode verificar na Figura 2.22.
Figura 2.22 Ao da subpresso no caso em que a soleira da galeria de drenagem est acima do
nvel de gua a jusante.
Existem diversos tratamentos que se podem executar nas fundaes de modo a
reduzir o valor das subpresses. Os mais comuns so as cortinas de
HM
HJ
w
w
w w w
HG
HM
HJ
w
w
w w w
HG
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
29
impermeabilizao e a rede de drenagem. A reduo das subpresses aumenta a
tenso efetiva o que amplifica tambm a segurana da barragem.
A cortina de impermeabilizao cria uma zona no macio que dificulta a passagem
da gua, atravs da reduo da gua que circula na fundao. O processo mais
comum para a execuo da cortina de impermeabilizao consiste na injeo, de
uma srie de furos, base de calda de cimento, alinhados ao longo da insero da
barragem na fundao, com direo normal s principais famlias de
descontinuidades (Batista & Farinha, 2011).
Nas Barragens onde existe galeria de drenagem, a cortina de impermeabilizao
geralmente contruda a partir dessa galeria e os furos so realizados junto ao
hasteal de montante dessa galeria. Um aspeto muito importante a ter em conta
na injeo, o valor das respetivas presses, para no provocar o aumento de
abertura das descontinuidades do macio. A profundidade da cortina de
impermeabilizao normalmente varia entre 0,35 e 0,75 da altura de gua da
albufeira.
A rede de drenagem normalmente executada a partir da galeria de drenagem,
sendo constituda por uma linha de furos localizados a jusante da cortina de
impermeabilizao para recolher e controlar o escoamento (reduzindo dessa forma
o valor das subpresses). No caso de pequenas barragens onde no possvel
construir uma galeria de drenagem (barragens com altura inferior a 12 metros), a
cortina de impermeabilizao dever ser executada a partir de um plinto
construdo no p de montante. Na Figura 2.23 pode-se observar um esquema dos
tratamentos que podem ser executados ao nvel das fundaes, a partir da galeria
de drenagem.
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Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
30
Figura 2.23 Esquema de drenagem da fundao da barragem.
2.5.4 Variaes da Temperatura
As aes trmicas nas barragens so aes importantes em duas fases distintas,
ou seja, na fase de construo da barragem, devido libertao do calor que se
gera durante a cura do beto, e durante o primeiro enchimento da albufeira.
Apesar das variaes trmicas no serem muito preponderantes na verificao de
segurana, por norma so as principais responsveis para fissurao superficial
dos paramentos.
Durante a fase de construo de uma barragem, particularmente durante o
processo de presa e endurecimento do beto, geram-se as tenses iniciais nas
barragens, devido ao calor de hidratao do cimento. Devido a este efeito, e para
tentar minimizar as tenses iniciais geradas entre os blocos betonados, estes so
betonados por camadas com 1,5 a 3,0 metros, tendo cerca de 3 a 4 dias de espera
entre cada betonagem ( imprescindvel evitar as chamadas juntas frias, que
ocorrem caso a betonagem do bloco seguinte seja feita muito tempo depois), isto
permite que o calor gerado no perodo de maior variao trmica seja dissipado
para a atmosfera antes da betonagem seguinte (Batista & Farinha, 2011).
O primeiro enchimento da albufeira gera uma variao trmica bastante grande
no paramento de montante da barragem, apenas passado algum tempo se
consegue atingir o equilbrio trmico da barragem. importante referir que a
temperatura da gua pouco afetada pela temperatura atmosfrica,
principalmente em profundida. Ao nvel das fundaes a variao trmica
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
31
bastante baixa, praticamente no sofrendo alteraes. Depois desse primeiro
enchimento da albufeira, e no caso de condies de explorao correntes, o
paramento de montante est praticamente todo em contacto com a gua, pelo
que apenas superficialmente se sente a variao trmica da gua.
2.5.5 Ao Ssmica
Segundo as Normas de Projeto de Barragens, as aes ssmicas devem ser definidas
por estudos sismolgicos que caracterizam as particularidades da ao ssmica na
zona da barragem. Em fase de projeto devem ser considerados trs tipos de sismos:
i. Sismo Mximo Expetvel (SME) Deve ser estimado probabilisticamente
ou deterministicamente, um sismo com uma probabilidade de ocorrncia
muito baixa, logo associado a um grande perodo de retorno.
ii. Sismo Mximo de Projeto (SMP) Este sismo o mximo nvel de ao
ssmica para que a barragem dimensionada. O SMP o que deve ser
considerado para os cenrios de rotura. No caso de barragens com um risco
potencial elevado, este assume o valor do SME.
iii. Sismo Base de Projeto (SBP) Este tipo deve ser considerado como um
sismo moderado e com grande probabilidade de ocorrncia durante o tempo
de vida til da barragem. O SBP deve ser considerado para os cenrios
correntes.
De acordo com a regulamentao portuguesa em vigor (Eurocdigo 8, 2002), a
ao ssmica dividida em zonas ssmicas, consoante o nvel crescente de
perigosidade na ocorrncia de um sismo (Mendes, 2010). A ao ssmica em
Portugal continental pode ser considerada de duas formas distintas, pode ser
considerada uma ao ssmica afastada (interplaca), onde o territrio Portugus
dividido em 6 zonas, ou no caso de uma ao ssmica prxima (intraplaca), onde
se consideram 3 zonas, conforme se pode observar na Figura 2.24.
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
32
Figura 2.24 Zonamentos ssmicos propostos no Eurocdigo 8 para Portugal continental,
esquerda para aes ssmicas do tipo 1 (referentes a sismos afastados) e direita para aes
ssmicas do tipo 2 (para sismos prximos).
2.5.6 Impulsos de terras e sedimentos
Nas barragens, existe a possibilidade de acumulao de resduos slidos, na parte
inferior do paramento de montante da mesma, o que provoca presses sobre esse
paramento. As presses dos sedimentos sobre a barragem podem assumir a presso
saturada do solo, caso no existam dados mais fiveis. Pelo que se assume que a
presso tem uma componente horizontal de 13,5 kNm-3 e uma componente vertical
de 19 kNm-3(Fonseca, 2009).
2.5.7 Ao do gelo
Em climas mais frios, pode formar-se uma camada superficial de gelo na albufeira,
nesses casos, deve-se considerar a fora exercida por esse impulso no paramento
de montante da barragem. De notar que, nas zonas onde existir fissurao do
beto, a constante formao de gelo pode levar a uma maior deteriorao do beto
(Batista & Farinha, 2011).
2.6 Combinaes de aes
Seguindo as Normas de Projeto de Barragens (NPB, 1993), as combinaes de
aes que devem ser consideradas dividem-se em cenrios correntes e cenrios de
rotura. Na avaliao de segurana dos cenrios correntes, a barragem dever
manter um comportamento essencialmente elstico, no poder ser posto em risco
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
33
o funcionamento da estrutura, no podem ser provocadas perturbaes
significativas no macio de fundao e a cortina de impermeabilizao no dever
perder eficincia. No caso concreto dos cenrios de rotura, no se dever verificar
a rotura global da estrutura, os movimentos dos blocos fissurados no podem
conduzir ao derrubamento da estrutura nem devem originar a passagem de gua
em grandes volumes ou velocidades.
Assim, segundo os critrios das NPB, para os cenrios correntes devem ser
analisadas as seguintes combinaes de aes:
i. Combinao 1 Ao do peso prprio em conjunto com as aes que
ocorram durante a fase construtiva, como o caso da ao trmica
originada com a hidratao do cimento, ao do tratamento das fundaes,
entre outras (Ver Figura 2.25);
Figura 2.25 Aes atuantes para a combinao 1.
ii. Combinao 2 Aes referentes s condies de final da construo em
conjunto com as aes da gua, presses hidrostticas e subpresso, e da
variao trmica (Ver Figura 2.26);
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
34
Figura 2.26 Aes atuantes para a combinao 2.
iii. Combinao 3 Ao do peso prprio da barragem sobreposta com as
aes provenientes das presses hidrostticas, da subpresso e em conjunto
com as aes do gelo e dos sedimentos (Ver Figura 2.27);
Figura 2.27 Aes atuantes para a combinao 3.
iv. Combinao 4 Aes para as condies normais de explorao da
albufeira, nomeadamente as aes do peso prprio, das presses
hidrostticas e da subpresso, incluindo a sobreposio com o sismo base
de projeto (Ver Figura 2.28).
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
35
Figura 2.28 Aes atuantes para a combinao 4.
Quanto aos cenrios de rotura, vo ser analisados as seguintes combinaes de
aes:
i. Combinao 5 Aes normais de explorao sobreposta com as aes
resultantes da cheia, nomeadamente as aes do peso prprio, das presses
hidrostticas, da subpresso e das aes resultantes da cheia (Ver Figura
2.29);
Figura 2.29 Aes atuantes para a combinao 5.
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
36
ii. Combinao 6 Aes relativas s condies normais de explorao,
nomeadamente as aes do peso prprio, das presses hidrostticas, da
subpresso em conjunto com a ao do sismo mximo de projeto (Ver
Figura 2.30).
Figura 2.30 Aes atuantes para a combinao 6.
2.7 Verificao da segurana
A verificao de segurana das barragens gravidade de beto deve ser feita quanto
a alguns critrios:
i. Quanto ao deslizamento, na base e em qualquer plano da barragem;
ii. Quanto ao derrubamento, quer seja na base ou em qualquer plano
horizontal da estrutura;
iii. Em relao s tenses mximas e mnimas transmitidas fundao.
Na Figura 2.31 pode observar-se a representao dos vrios tipos de rotura a que
uma barragem gravidade pode estar sujeita.
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
37
Figura 2.31 Verificao de segurana das barragens gravidade (Batista & Farinha, 2011).
De modo a que os requisitos de segurana de uma barragem gravidade sejam
verificados, deve ser considerada pelo menos uma destas solues (Batista &
Farinha, 2011):
i. Encaixe do perfil gravidade no macio rochoso;
ii. Reduo das subpresses com a execuo de cortinas de impermeabilizao;
iii. Reduo das subpresses com a execuo de redes de drenagem.
2.7.1 Segurana ao deslizamento
Deve ser feita a verificao de segurana ao deslizamento, em relao s superfcies
onde existe maior risco de ocorrer o deslizamento, que por norma, pode no corpo
da barragem em planos paralelos base da barragem, correspondentes s juntas
de betonagem. Pode tambm ocorrer no plano de contacto entre a barragem e a
fundao.
O fator de segurana ao deslizamento dever ser verificado em todas as potenciais
superfcies de deslizamento, isto , que pode ser o contato entre a barragem e a
fundao, juntas de betonagem da estrutura ou qualquer superfcie da barragem,
pelo que a verificao de segurana ao deslizamento fica garantida caso estas
condies sejam verificadas.
O fator de segurana ao deslizamento depende da relao entre as componentes
das foras tangenciais e normais que atuam ao longo da superfcie em analise.
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
38
Esse fator de segurana ao deslizamento dado pela equao (2.1), que representa
a razo entre as foras resistentes ou estabilizantes e as foras solicitantes:
tan
1,0CR
desl
N C A
VFS
V V
(2.1)
Onde:
RV Somatrio do esforo transverso resistente ou estabilizante superfcie de
deslizamento (kN);
V Somatrio do esforo transverso solicitante superfcie de deslizamento
(kN);
N Somatrio do esforo normal superfcie de deslizamento, que inclui a
ao da subpresso, dado que corresponde a um fator de reduo do peso prprio
da estrutura(kN);
- ngulo de atrito interno da superfcie de deslizamento ();
Coeficiente de segurana em relao s foras de atrito;
C Valor caracterstico da coeso (kN/m2);
A rea efetiva de contacto das foras paralelas superfcie de deslizamento
(m2);
C Coeficiente de segurana referente coeso.
Em algumas situaes, a superfcie de deslizamento pode no ser horizontal, por
exemplo, por vezes a superfcie de contacto entre a barragem e a fundao no
horizontal, pelo que, nessas situaes, necessrio decompor as diversas aes em
componentes de esforos transversos e normais ao plano de deslizamento. Nestas
situaes, o fator de segurana ao deslizamento dado pela seguinte expresso
(2.2):
tan
cos sin
1,0cos sin
CR
desl
C APP S V
VFS
V V PP
(2.2)
Onde:
PP Peso prprio da estrutura (kN);
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
39
S Subpresso (kN);
V Resultante do esforo transverso (kN);
ngulo do plano inclinado ().
Segundo as Normas de Projeto de Barragens, os coeficientes de segurana parciais
para as propriedades dos materiais podem ser obtidos da Tabela 2.4:
Tabela 2.4 Coeficientes de segurana parciais (Fonseca, 2009).
Coeficientes de segurana parciais Cenrio Corrente Cenrio de Rotura
Tenses na fundao (atrito) 1,5 a 2 1,2 a 1,5
C (coeso) 3 a 5 -
Tenses no beto
(atrito) 1,5 a 2 1,2 a 1,5
Compresso 4 4
Trao 2,5 -
Relativamente ao cenrio de rotura, os movimentos de blocos fissurados no
devero conduzir ao derrubamento da barragem, nem devem originar passagens
de gua, em grande volume ou velocidade.
tambm importante referir que as foras resistentes so devidas coeso, ao
atrito interno nas superfcies potenciais de deslizamento e aos impulsos
hidrostticos a jusante. As foras solicitantes ou as foras que potenciam o
deslizamento so os impulsos hidrostticos e de sedimentos a montante e os efeitos
dos sismos nas massas do corpo da barragem e os efeitos da gua do reservatrio.
A resultante das tenses tangenciais resistentes V, que se geram na interface de
contacto entre a barragem e a fundao (ou ao longo das descontinuidades
existentes na fundao), deve verificar o critrio de Mohr-Coulomb que dado
pela equao (2.3):
tanV C B N (2.3)
Onde:
V Resultante das tenses tangenciais resistentes;
C Coeso;
B Largura da base da barragem;
N Esforo normal efetivo;
ngulo de atrito interno da superfcie;
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
40
2.7.2 Segurana ao derrubamento
A verificao de segurana ao derrubamento serve para verificar a possibilidade
da barragem sofrer um movimento de rotao no sentido de jusante da barragem,
relativamente a um determinado ponto, este ponto pode ser no contacto entre a
barragem e a fundao, ou numa extremidade de jusante dos diversos planos
horizontais (juntas de betonagem), sendo que dever ser verificada a condio
seguinte:
0R S R SM M M M (2.4)
Sendo que MR o momento resistente, ou estabilizante (originado pelas aes que
garantem a estabilidade da barragem) e MS o momento derrubante (originado
pelas aes que potenciam o derrubamento da barragem). A razo entre o
momento resistente e o momento derrubante designada por fator de segurana
ao derrubamento e que verificado pela seguinte expresso:
R
der
S
MFS
M (2.5)
Em que:
RM Somatrio dos Momentos resistentes ou estabilizantes em relao ao
ponto de derrubamento (kNm);
SM Somatrio dos momentos derrubantes ou solicitantes em relao ao
ponto de derrubamento (kNm);
No que se refere ao derrubamento, a verificao de segurana pode ser feita atravs
de duas abordagens distintas. A primeira abordagem passa pela utilizao de um
fator de segurana global, onde em vez de serem majoradas ou minoradas as aes
(consoante so aes solicitantes ou resistentes), aplicado um coeficiente de
segurana global, pelo que, apenas verificada a segurana caso se verifique a
expresso:
1,5derFS (2.6)
A segunda abordagem feita atravs de um critrio semelhante ao da verificao
de segurana ao deslizamento, onde so majoradas e minoradas as aes,
consoante so aes solicitantes ou resistentes, so tambm aplicados coeficientes
de segurana s propriedades dos materiais. Caso se trate de uma ao
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
41
permanente favorvel, aplicado um coeficiente de segurana de 0,95 ao, caso
seja uma ao varivel desfavorvel, aplicado um coeficiente de segurana de
1,50. No caso de ao permanente desfavorvel, o coeficiente de segurana de
1,00 pelo que no altera essas aes. Os coeficientes de segurana relativos s
propriedades dos materiais so os apresentados na Tabela 2.4. Nesta abordagem
apenas verificada a segurana caso se verifique a equao:
1,0derFS (2.7)
2.7.3 Segurana das tenses internas da barragem e na superfcie da fundao
Relativamente s tenses transmitidas fundao, devem evitar-se traes no p
de montante, pois quando so garantidas tenses de compresso, o derrubamento
no condiciona a verificao de segurana (contudo, essa verificao deve ser na
mesma executada) (Batista & Farinha, 2011). Ao garantir que a tenso de
compresso no paramento de montante superior presso hidrosttica, em todos
os pontos do paramento de montante, fica garantido que no existe entrada de
gua devido existncia de fendas.
As tenses transmitidas fundao ou as tenses internas do corpo da barragem,
podem ser determinados atravs da expresso (2.8), esta determina a distribuio
das tenses ao longo de um plano horizontal:
3 2
62
12
i mx
LMN M N N M
yb LA I b L L L
(2.8)
i Tenso normal num plano horizontal da barragem;
N Resultante das foras verticais acima do plano horizontal;
M Somatrio dos momentos em torno do centro de gravidade do plano
horizontal;
A rea do plano horizontal (por metro de desenvolvimento da barragem);
I Momento de inrcia do plano horizontal em torno do seu centro de gravidade;
y Distncia do plano da linha neutra ao ponto onde se pretende calcular a
tenso;
L Largura do plano horizontal em anlise;
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
42
mx Tenso mxima admissvel.
No que concerne verificao de segurana, devero ser realizadas intervenes
ao nvel das fundaes da barragem, pois caso no sejam executadas algumas das
intervenes em baixo descritas, provavelmente a barragem no verifica a
segurana. Algumas das medidas que podem ser tomadas so:
i. Aumento da resistncia ao corte da fundao;
ii. Estabilizao dos taludes;
iii. Rigidez da fundao;
iv. Melhoria do contacto entre o beto da barragem e a fundao;
v. Reduo da quantidade de gua que circula pela fundao (reduzindo
igualmente o valor das subpresses).
2.8 Consideraes finais
No presente captulo apresentou-se uma breve introduo sobre as barragens em
geral, as suas finalidades, a sua classificao em termos de materiais utilizados na
construo das mesmas e principalmente o tipo estrutural das barragens. Foi
tambm feito um breve enquadramento histrico, onde se demonstraram os
diversos avanos que existiram nas barragens ao longo do tempo.
Tambm se apresentou uma descrio das barragens gravidade, evidenciando-se
as vantagens e desvantagens de construo de um perfil deste tipo, quais as suas
formas mais comuns, as diferentes evolues que as barragens gravidade tiveram
e tambm os materiais utilizados na construo destas barragens.
No menos importante para o estudo das barragens, foi a elaborao da
comparao entre os diversos regulamentos atualmente em vigor, tanto a nvel
nacional como internacional.
Foi ainda realizada uma explicao sobre as aes atuantes que podem incidir
numa barragem gravidade, bem como a combinaes das referidas aes segundo
os regulamentos portugueses, tanto para os cenrios correntes como para os
cenrios de rotura.
Por fim foi abordada a verificao da segurana das barragens e os mecanismos
de rotura que uma barragem gravidade pode ter. Foi demonstrado como se podem
determinar os fatores de segurana de forma a verificar a estabilidade global da
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
43
estrutura, nomeadamente quanto ao deslizamento, ao derrubamento e quanto s
tenses transmitidas fundao.
-
Captulo 2. Introduo ao estudo das barragens gravidade
44
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
45
CAPTULO 3. MTODOS DE ANLISE DO
COMPORTAMENTO SSMICO
3.1 Consideraes iniciais
A avaliao de segurana ssmica de barragens gravidade tem sido uma
preocupao crescente em todo o mundo. Devido evoluo de mtodos mais
avanados, hoje em dia possvel ter uma melhor perceo do comportamento
estrutural das barragens no que aos sismos diz respeito.
A avaliao de segurana das barragens gravidade de beto, deve ser abordada
em diversas fases, de crescente complexidade, comeando numa fase inicial por
uma anlise mais simplista, atravs de mtodos de anlise esttica, at mtodos
bastante mais sofisticados, que incluam procedimentos de analise dinmica,
mtodos esses que sero abordados ao longo deste captulo.
Sero tambm abordados no presente captulo, os diferentes mtodos de anlise
ssmica para as barragens gravidade, que podem ser mtodos simplificados ou
mtodos sofisticados. A utilizao de mtodos simplificados bastante
importante, pois, por norma, com os resultados obtidos com os mtodos
simplificados que se estabelece uma base de comparao para a anlise posterior
atravs dos mtodos de anlise mais sofisticados. Os mtodos simplificados podem
tambm convergir no sentido da definio geomtrica do corpo da barragem.
3.2 Caracterizao das aes ssmicas
Conforme abordado anteriormente, a anlise ssmica das barragens gravidade
pode ser efetuada atravs de mtodos simplificados e mtodos sofisticados. Os
mtodos simplificados so os mtodos designados por mtodo pseudo-esttico e
mtodo pseudo-dinmico. Relativamente aos mtodos mais sofisticados,
salientam-se o Mtodo do Elementos Finitos, o Mtodo dos Elementos Finitos
com elementos de junta e o Mtodo dos Elementos Discretos.
-
Captulo 3. Mtodos de anlise do comportamento ssmico
46
No que diz respeito aos mtodos simplificados, e mais especificamente quanto
anlise pseudo-esttica de uma barragem, esta, pode ser efetuada atravs de dois
mtodos, o mtodo do coeficiente ssmico ou atravs do mtodo da fora lateral
equivalente. A anlise pseudo-dinmica de uma barragem pode ser feita
recorrendo a espectros de resposta ou atravs do mtodo de anlise ao longo do
tempo.
Inicialmente deve ser feita uma anlise simplificada da barragem, por norma,
utilizado o mtodo do coeficiente ssmico (ou mtodo pseudo-esttico), contudo
este tipo de mtodos tm uma limitao bastante grande pois assumem alguns
fatores que no so realistas, como a barragem ser um corpo rgido e a gua no
ser compressvel.
J relativamente aos mtodos pseudo-dinmicos, estes so bastante mais
fidedignos do que os pseudo-estticos, pois j consideram a componente dinmica,
onde as foras de inrcia so amplificadas pela ao do sismo, atravs de um ou
mais modos de vibrao da barragem.
Independentemente do mtodo escolhido para a verificao de segurana de uma
barragem gravidade de beto, esta deve sempre ser dimensionada para ficar dentro
do limite elsticas, at para o sismo mximo expectvel de ocorrer no tempo de
vida til da barragem (Chopra & Corns, 1979).
3.2.1 Mtodo do coeficiente ssmico
A anlise ssmica atravs do mtodo pseudo-esttico, tambm designado de
mtodo do coeficiente ssmico serve acima de tudo para ajudar num
dimensionamento prvio da estrutura da barragem. Este mtodo considera que as
foras de inrcia geradas na barragem e a presso hidrodinmica induzida pelo
sismo, so equivalentes a foras estticas. Este mtodo parte do princpio que uma
barragem gravidade tem uma rigidez bastante elevada, e que, simplificadamente
poder funcionar como um corpo rgido, assume tambm que a gua
incompressvel e no tem em conta a interao da barragem-fundao-albufeira.
Devido considerao de que a barragem funciona como um corpo rgido, e, uma
vez que no existem deformaes da estrutura, ao existir uma acelerao ssmica,
so geradas foras de inrcia proporcionais ao peso da barragem. Pelo que, atravs
deste mtodo, as foras de inrcia so calculadas atravs da acelerao ssmica
-
Anlise do Comportamento Ssmico de uma Barragem Gravidade Tipo
47
numa determinada direo, foras essas que so aplicadas no centro de gravidade
da barragem e que podem ser calculadas pela expresso:
hFI PP
(3.1)
hFI Foras de inrcia horizontais geradas pelo peso da estrutura (kN);
PP Peso prprio da estrutura (kN);
Coeficiente ssmico horizontal
Alm da componente horizontal das foras de inrcia, necessrio tambm
calcular a componente vertical destas, pois quando aplicada no sentido
ascendente tambm uma ao solicitante, ao essa tambm importante na
verificao de segurana da estrutura, principalmente ao derrubamento. A
componente vertical das foras de inrcia pode ser assumida como 50% da
componente horizontal (Fonseca, 2009).
Este mtodo tem por base a formulao desenvolvida por Westergaard, onde a
presso hidrodinmica aplicada a montante da barragem, funcionando como
uma fora hidrosttica. Westergaard definiu um mtodo para o clculo da
distribuio de presso no paramento de montante da barragem e dada pela
seguinte equao:
7
( )8
hdP y H y (3.2)
Onde:
( )hdP y Distribuio da presso hidrodinmica no paramento de montante
devido ao ssmica (kN/ m2);
Coeficiente ssmico horizontal;
Peso volmico da gua (kN/m3);
H Altura do nvel da gua (m);
y Profundida considerada (m).
Atravs desta distribuio de presses no paramento de montante, possvel
determinar o impulso exercido a montante da barragem devido ao ssmica
(CFBR, 2013). Esse impulso, criado pela presso hidrodinmica devido ao sismo,
pode ser definido pela simplificao da equao anterior, que resulta na equao:
-
Captulo 3. Mtodos de anlise do comportamento ssmico
48
27
12hdP H
(3.3)
Em que Phd o impulso causado pela presso hidrodinmica exercida no
paramento de montante devido ao sismo. O ponto de aplicao deste impulso
pode ser obtido atravs da expresso:
0,4PhdH H (3.4)
3.2.2 Mtodo da fora lateral equivalente
O mtodo da fora lateral equivalente outro dos mtodos designado como
pseudo-esttico. Consiste numa simplificao, onde a ao ssmica assume a
forma de vrias foras laterais estticas distribudas