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ANÁLISE DO IMPACTO DA DIVULGAÇÃO DE NOTÍCIAS NA LIQUIDEZ DE AÇÕES DO MERCADO BRASILEIRO Amannda Ecard Dacache Isabelle Dutra Letouzé Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: André Assis de Salles Rio de Janeiro Agosto 2014

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ANÁLISE DO IMPACTO DA DIVULGAÇÃO DE NOTÍCIAS

NA LIQUIDEZ DE AÇÕES DO MERCADO BRASILEIRO

Amannda Ecard Dacache

Isabelle Dutra Letouzé

Projeto de Graduação

apresentado ao Curso de Engenharia

de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: André Assis de Salles

Rio de Janeiro

Agosto 2014

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ANÁLISE DO IMPACTO DA DIVULGAÇÃO DE NOTÍCIAS

NA LIQUIDEZ DE AÇÕES DO MERCADO BRASILEIRO

Amannda Ecard Dacache

Isabelle Dutra Letouzé

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinada por:

_________________________________________

Dr. Prof. André Assis de Salles

_________________________________________

Dra. Profa. Rosemarie Bröker Bone

_________________________________________

Dr. Prof. José Roberto Ribas

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

AGOSTO de 2014

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Dacache, Amannda Ecard

Letouzé, Isabelle Dutra

Análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de

ações do mercado brasileiro/Amannda Ecard Dacache e Isabelle

Dutra Letouzé. – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2014.

XI, 44 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: André Assis de Salles

Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/Curso de

Engenharia de Produção, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 41-43.

1. Heurística da Disponibilidade 2. Liquidez de Ações.

3. Divulgação de Notícias. 4. Análise Estatística.

I. Salles, André de Assis. II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

De Produção. III. Análise do impacto da divulgação de

notícias na liquidez de ações do mercado brasileiro.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações do mercado

brasileiro

Amannda Ecard Dacache

Isabelle Dutra Letouzé

Agosto/2014

Orientador: André de Assis Salles

Curso: Engenharia de Produção

O trabalho proposto é fundamentado em estudos sobre vieses no julgamento e

tomada de decisão dos indivíduos, mais precisamente a Heurística da Disponibilidade,

na qual as pessoas subestimam ou superestimam a probabilidade de eventos por atribuir

maior peso às informações mais recentes e de rápido acesso na memória. Sendo assim,

com base nos dados de liquidez das ações das principais empresas do mercado de ações

brasileiro e no levantamento de notícias publicadas sobre tais empresas, foi realizada

uma análise estatística de dados e da associação das notícias com a liquidez de cada

uma das ações selecionadas para este trabalho. Como proposta, esta análise procurou

testar a hipótese de existência de vieses no julgamento e tomada de decisão associados à

negociação de ações, tendo como base a heurística da disponibilidade. Testes de

correlação e regressão mostraram que existe significância estatística dos resultados, mas

que os coeficientes encontrados não são tão fortes quanto o previsto, sugerindo que os

modelos selecionados podem ser aprimorados. A hipótese não foi rejeitada, mas ainda

há muito espaço para aprofundar o estudo, ampliando e diferenciando a metodologia de

pesquisa e análises estatísticas.

Palavras-chaves: Heurística da Disponibilidade, Liquidez, Divulgação de Notícias,

Mercado de Ações Brasileiro.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

LIQUIDITY ANALYSIS: THE IMPACT OF NEWS PUBLISHMENT ON SHARE’S

LIQUIDY IN THE BRAZILIAN STOCK MARKETTÍTULO DO PG EM INGLÊS

Amannda Ecard Dacache

Isabelle Dutra Letouzé

Agosto/2014

Advisor: André de Assis Salles

Course: Manufacturing/Industrial Engineering

The present work is based on studies concerning biases in judgment and decision

making, specifically the Availability Heuristics, in which people underestimate or

overestimate the probability of events by heavily weighting recent information that

easily comes to mind. Hence, considering the share’s liquidity data of the leading

companies in Brazil's stock market and on their published news in the same period, an

statistical analysis of these data and the association between published news and

liquidity of each share selected here will be made. This analysis aims to test the

hypothesis of the existence of biases in judgment and decision making related to

trading, based on the availability heuristics. Correlation and regression tests report that

the results are statistically significant, but the coefficients founded are not strong

enough, suggesting that the models selected can be improved. The hypothesis hasn’t

been rejected, but there is still space for further analysis, expanding and diversifying the

research methodology and statistical tests.

Keywords: Availability Heuristic, Liquidity, News Publishment, Brazilian Stock Market.

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Às nossas mães.

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Eu, Amannda Ecard Dacache, agradeço, primeiramente, à minha família. Aos

meus pais, por terem sempre priorizado a minha educação, e pelo apoio e carinho

durante toda a minha trajetória, se sacrificando para me dar nada menos que o melhor.

Aos meus irmãos, pelo companheirismo, e aos meus avós, pela admiração, preocupação

e amor incondicional. Meu agradecimento especial vai à minha avó Mariná Dacache, in

memoriam, que com certeza esteve comigo todo esse tempo.

Ao Vitor, que esteve ao meu lado nos últimos anos, pela amizade, carinho,

paciência e incentivo. Obrigada por me fazer querer ser sempre melhor e partilhar dos

mesmos sonhos e ideias. Sem sua inspiração, este trabalho não seria o mesmo.

À Isabelle, a amiga-irmã que eu ganhei na Engenharia de Produção e que passou

por todo esse caminho ao meu lado. Aquela com quem eu posso partilhar tudo, sabendo

que serei entendida, e que permanecerá para sempre em minha vida como colega de

turma, companheira de estudos, amiga e dupla do projeto de graduação.

Aos bons professores que marcaram minha vida. Os conhecimentos e exemplos

passados foram muito além da sala de aula e, hoje, sou uma pessoa melhor graças a isso.

Eu, Isabelle Dutra Letouzé, agradeço à minha mãe, que me tornou a pessoa eu

eu sou hoje através dos seus ensinamentos e educação. Obrigada por ser sempre o meu

porto seguro, mas, principalmente, por ser a “engenheira de produção” dos meus

sonhos, me impulsionando a correr atrás deles e cada vez querer mais.

Ao meu pai, por me mostrar a força que eu possuo, tudo que eu sou capaz,

mesmo quando tudo parece estar dando errado. As minhas avós, vovó, in memoriam, e

mémé, pelas histórias de exemplo, os mimos, as risadas e os momentos doces, que me

fizeram entender que a vida é feita de obstáculos, mas que todos podem ser

ultrapassados, serei o seu eterno “tesouro” e sua eterna “petit fille”.

À minha amada família: meus padrinhos, sempre presentes com suas palavras

sábias e sensatas , palavras desafiadoras, além de algumas muitos puxões de orelha, bem

dados; minhas primas, ou irmãs mais velhas, Ana e Patricia, que em um momento

crucial de decisão, me proporcionaram palavras de orientação e conselho.

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À minha “segunda família”, aquela que eu escolhi, que me acolheu e que me deu

dois irmãos, Fábio e Thiago, para implicar, brincar, brigar e rir, principalmente das

brigas.

À minha dupla do PG e PCP2, minha entidade, Amannda, por suas inúmeras

virtudes. Entre elas, paciência, determinação, foco, inteligência, responsabilidade e

amizade. Amizade essa que pretendo levar para a vida.

Ao meu maior companheiro nessa jornada de 6 anos, Moysés. Obrigada por ser

meu melhor amigo, por ter compartilhado de todas as minhas neuras e dificultades e

também das minhas conquistas. Você consegue extrair uma risada na minha tristeza, me

acalmar no meu desespero e clarear as minhas dúvidas.

E por último, mas não menos importante, gostaria de agradecer aos meus

amigos, os que desde o colégio sempre acreditaram no meu potencial, Ju, Bela, Helô,

Lopes, Stern, Jéssica e Anne; as que desde o trote e a primeira semana de aula eu divido

as risadas e compartilho desabafos, Ana e Roberta; os que vivenciaram ao meu lado um

dos anos mais incríveis e desafiadores da minha vida, Thompy, Maury, Fê, Thais e

Julia; e a que apesar de estarem fisicamente no outro extremo do planeta, nunca esteve

tåo próxima de mim, Lailla. Sem o apoio de vocês, cada um a sua maneira, não teria

sido tão bem sucedida nessa empreitada.

Em conjunto, agradecemos ao nosso professor e orientador André de Assis

Salles, por acreditar em nossa ideia e torná-la realidade. Sua orientação, dedicação e

disponibilidade foram indispensáveis para que esse trabalho fosse realizado.

Admiramos não só sua competência, mas também sua camaradagem.

Aos nossos amigos e colegas de turma, agradecemos pela amizade, estudos,

viagens, companheirismo e lealdade. Sem suas presenças, nossa passagem pela UFRJ

não teria sido tão marcante e divertida.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela oportunidade de estudar em uma

das melhores universidades do Brasil e, principalmente, pelo espaço de aprendizado,

professores e todos os que contribuíram nesses cinco anos de graduação.

A Deus.

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"Para enxergar claramente,

basta mudar a direção do olhar."

Antoine de Saint-Exupéry

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 1

2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................... 4

2.1. Julgamento e Tomada de Decisão Racional ....................................... 4

2.2. Heurísticas e Viéses ............................................................................... 5

2.2.1. Heurística da Disponibilidade ........................................................... 6

2.2.1.1. Viés devido à recuperação de ocorrências ....................................... 6

2.2.1.2. Viés devido à efetividade de um ajuste de busca .............................. 7

2.2.1.3. Viés de imaginabilidade ................................................................... 7

2.2.1.4. Correlação espúria ........................................................................... 7

2.3. Divulgação de notícias .......................................................................... 8

2.4. Liquidez de Ações ................................................................................. 9

3. METODOLOGIA ................................................................................... 11

3.1. Amostra Selecionada .......................................................................... 11

3.1.1. Dados históricos das Ações ............................................................ 11

3.1.2. Determinação da Liquidez .............................................................. 12

3.1.3. Notícias Divulgadas ........................................................................ 13

3.2. Análises Estatísticas ............................................................................ 15

3.2.1. Análise de Correlação ..................................................................... 15

3.2.2. Análise de Regressão Linear .......................................................... 18

4. RESULTADOS OBTIDOS .................................................................... 26

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 39

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 41

ANEXO A .......................................................................................................... 44

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Seleção das empresas e código das ações .................................................................................. 11

Tabela 2: Ranking de empresas pela medida de liquidez ILIQ .................................................................. 26

Tabela 3: Ranking de empresas pela medida de liquidez FR .................................................................... 27

Tabela 4: Resumo da amostra de notícias por empresa ........................................................................... 28

Tabela 5: Resumo da amostra de notícias por tipo .................................................................................. 29

Tabela 6: Comparação ranking de liquidez ILIQ e FR e notícias ................................................................ 30

Tabela 7: Análise de Correlação entre liquidez FR e notícias .................................................................... 31

Tabela 8: Análise de Correlação entre liquidez ILIQ e notícias ................................................................. 32

Tabela 9: Intervalo de Confiança do Coeficiente de Correlação entre liquidez FR e notícias ..................... 33

Tabela 10: Análise de Correlação entre Notícias Boas e Ruins ................................................................. 34

Tabela 11: Análise de Regressão para o Modelo 1 (Liquidez FR e Total de Notícias) ............................... 35

Tabela 12: Análise de Regressão para o Modelo 2 (Liquidez FR e Notícias Boas e Ruins) ........................ 36

Tabela 13: Metodologia de classificação das notícias divulgadas. .......................................................... 44

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1. INTRODUÇÃO

Estudos sobre Finanças Comportamentais vêm sendo desenvolvidos há muitas

décadas e ainda constitui uma área em desenvolvimento. Fundamentada nas

características intrínsecas dos seres humanos, que estão sujeitos a vieses que

influenciam o processo decisório, as Finanças Comportamentais une elementos de

Psicologia Cognitiva, Economia e Finanças para compreender o comportamento

humano no mercado financeiro (PASSOS, et al., 2012).

Diferente de outros enfoques dados a Finanças, a área de Finanças

Comportamentais baseia-se nos pressupostos de que os agentes tomam decisões sobre

os investimentos apoiados não apenas em aspectos racionais, como sugerido

tradicionalmente, mas enviesados por conta do seu comportamento psicológico

complexo. Esta nova área de estudo busca aperfeiçoar as pesquisas referentes às

finanças para torná-las mais próximas da realidade buscando respostas para as

anomalias encontradas no mercado.

As Finanças Comportamentais ganharam evidência com o trabalho dos

psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman, ganhador do prêmio Nobel de Economia

em 2002, principalmente pelo desenvolvimento da Prospect Theory: an analysis of

decision under risk (Teoria da Perspectiva: uma análise de decisão sob risco) em 1979

(KAHNEMAN & TVERSKY, 1979). Os autores estabeleceram uma base cognitiva

para os erros humanos comuns, utilizando heurísticas. Dentre os processos heurísticos

estudados por Kahneman e Tversky, está a Heurística da Disponibilidade, desenvolvida

em 1973, tema central do presente trabalho. Tal heurística diz que os indivíduos

atribuem maior peso às informações mais recentes ou disponíveis no processo decisório,

superestimando ou subestimando a probabilidade de um evento ou resultado, baseando

suas decisões na expressividade que o evento tem em sua memória (KAHNEMAN &

TVERSKY, 1973).

Sendo assim, pode-se perceber que os vieses ocasionados pela Heurística da

Disponibilidade estão relacionados às informações vívidas e recentes, que não

obrigatoriamente são as mais prováveis. É muito comum as pessoas estipularem

probabilidades de eventos baseados em experiências que são rapidamente acessíveis na

memória, ou seja, que estão mais recentes, esquecendo informações antigas, talvez até

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mais importantes. O entendimento desta heurística leva a um questionamento sobre a

divulgação de notícias relacionadas ao mercado financeiro. Notícias de diferentes tipos,

de conotação boa ou ruim, poderiam impactar no julgamento e na tomada de decisão

nas negociações de um investidor no mercado de ações, mais especificamente na

liquidez das ações?

O presente estudo tem como objetivo testar a hipótese de que a Heurística da

Disponibilidade exerce influência sobre o julgamento e tomada de decisão do investidor

no mercado de ações frente às notícias divulgadas pelos meios de comunicação. As

análises aqui realizadas, ainda que incipientes, procuram servir de projeto piloto ou

como um teste prévio da referida hipótese que, se os resultados obtidos forem

satisfatórios, poderão ser replicados em análises mais aprofundadas.

Sendo um projeto piloto, a metodologia aplicada poderá ser vista como um

primeiro passo para a análise, com possibilidade de aprofundamento ou até mesmo uma

sugestão de reestruturação da metodologia. A escolha das medidas para se verificar a

associação entre as notícias divulgadas e as negociações no mercado de ações têm como

propósito indicar caminhos para novos estudos.

No que se refere à amostra utilizada, o estudo proposto tem limitações, pois,

como observado, o objetivo não é fazer uma vasta e profunda análise do tema. Serão

coletadas amostras suficientes para se ter uma análise preliminar do tema. Assim, os

dados coletados serão referentes ao mercado de capitais brasileiro e a um meio de

comunicação nacional.

A relevância de tal estudo pode ser destacada pelo fato de, nos últimos anos, o

Brasil vir apresentando um significativo desenvolvimento de seu mercado de capitais,

principalmente após a estabilização da espiral inflacionária. Por isso, cada vez mais,

empresas têm buscado o mercado de capitais para se financiar, sendo o mercado de

ações o que mais se beneficiou com isto. Considerando a representatividade do mercado

de ações na alavancagem de empresas brasileiras, todas as possíveis anomalias que o

afetam precisam ser observadas e estudadas. Dessa forma, não somente os investidores

se beneficiarão com tal conhecimento, mas as empresas poderão fundamentar suas

estratégias nessas informações (COSTA & SALLES, 2010).

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Além disso, os meios de comunicação de massa são significativamente

influenciadores nos julgamentos e tomadas de decisões dos indivíduos e das próprias

empresas. O entendimento da correlação entre o papel dos meios de comunicação e o

mercado de ações pode fornecer insights para novas formas de posicionamento da

empresa, preocupação com imagem, etc.

Este trabalho está estruturado de forma a contextualizar o leitor sobre a

problemática aqui tratada, indicar como foi realizada a análise, mostrar os resultados e

apresentar as considerações finais. Para tanto, optou-se por dividi-lo em 5 seções:

Introdução, Referencial Teórico, Metodologia, Resultados Obtidos e Considerações

Finais.

Na Introdução, contextualizou-se o tema, demonstrou-se sua relevância e o

objetivo desse trabalho. Em seguida, no Referencial Teórico, com o propósito de

apresentar informações para o entendimento do trabalho, foi feita uma explanação sobre

tomada de decisão, heurísticas, divulgação de notícias e liquidez. A terceira parte trata

da metodologia adotada no trabalho, explicitando os critérios de seleção da amostra, as

medidas de liquidez escolhidas e os modelos estatísticos que foram utilizadas para

realizar a análise. No capítulo seguinte, serão apresentados os resultados e realizada

uma análise sobre esses descobrimentos. Ao final do trabalho serão feitas as

considerações finais do mesmo, indicando os objetivos alcançados, as considerações

mais significativas e, por se tratar de um estudo preliminar, sugestões para

aprofundamento ou ampliação do tema aqui discutido.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Julgamento e Tomada de Decisão Racional

Todos os dias, as pessoas passam por momentos em que precisam decidir algo.

Podem ser desde situações simples, como qual roupa usar para ir trabalhar, a situações

complexas de origens diversas, como uma decisão estratégica do gerenciamento da sua

empresa, um plano de tratamento de um paciente ou a formação da sua carteira de

ações. Independente da complexidade, o que todos esses problemas têm em comum é a

existência de um conjunto de opções disponíveis para serem escolhidas e as

probabilidades dos resultados e consequências relacionados a cada opção. Esse tipo de

situação é chamado de problema de tomada de decisão.

Existem dois tipos de tomada de decisão: irracional e racional. A primeira é

aquela que nós realizamos baseados em sentimentos e intuições, que não possuem uma

lógica por trás. Já a segunda categoria, apesar de não existir uma definição precisa,

apresenta um consenso quanto aos pré-requisitos de consistência e coerência que ela

deve cumprir. Por exemplo, o Teorema de Bayes prescreve uma reação considerada

correta a novas informações, onde se tem uma inferência estatística das probabilidades

a priori na hora de se calcular uma probabilidade a posteriori condicionada (De

BONDT & THALER, 1985).

No entanto, seguindo estudos que unem a estatística e a psicologia, observou-se

que as pessoas constantemente não tomam decisões 100% racionais como definido

acima. De acordo com Kahneman e Tversky (1981), o termo “quadro de tomada de

decisão” é utilizado para indicar a concepção do tomador de decisão sobre as opções, os

resultados destas e suas probabilidades. Existem dois fatores principais que estabelecem

as características desse quadro, são eles: os hábitos, normas e características pessoais do

tomador de decisão e a formulação do problema (KAHNEMAN & TVERSKY, 1981).

Outro conceito que influencia a tomada de decisão, por facilitar o processo

decisório, são as chamadas heurísticas, a serem explicadas na próxima seção.

Entretanto, seja pelo quadro de tomada de decisão ou pelas heurísticas, atualmente

existe um grande debate na academia sobre a real motivação das decisões tomadas pelos

indivíduos e como esses fatores podem levar o indivíduo a cometer erros de raciocínio.

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2.2. Heurísticas e Viéses

No dia a dia, é comum as pessoas usarem atalhos mentais para o julgamento e

tomada de decisão. São as chamadas heurísticas, processos criados com o objetivo de

encontrar soluções para um problema. Contudo, tais atalhos podem gerar uma visão

distorcida da realidade, levando a pessoa a fazer julgamentos enviesados e tomar

decisões baseadas no senso comum e não na real probabilidade dos eventos.

Segundo Kahneman & Tversky (1974), as pessoas tendem a confiar em um

número limitado de princípios heurísticos, que simplificam as atividades de avaliar

probabilidades e de prever valores a simples atividades de julgamento. Três dessas

heurísticas são: (i) representatividade, (ii) ajuste e ancoragem e (iii) disponibilidade

(KAHNEMAN & TVERSKY, 1974).

A primeira, Heurística da Representatividade, diz que as pessoas tendem a

avaliar as probabilidades de acordo com o grau de semelhança entre dois eventos. Nessa

heurística, alguns dos vieses são: insensibilidade à probabilidade a priori, quando as

pessoas possuem algum tipo de informação não estatística e tendem a utilizá-las em

detrimento da probabilidade Bayesiana; insensibilidade ao tamanho das amostras;

concepção errônea da possibilidade, quando as pessoas tendem a achar que os

resultados de uma amostra deverão representar a população como um todo. Isso pode

levar a uma superinterpretação dos resultados ou uma escolha errada do tamanho da

amostra - Lei dos Pequenos Números (SPIEGEL, 2013), insensibilidade à

previsibilidade e ilusão de validade.

Um estudo feito por Bondt e Thaler (1085) sobre comportamento de mercado e

psicologia nas tomadas das decisões que podem levar a reações exageradas, tomou

como base a heurística da representatividade. Eles explicam que os indivíduos tendem a

dar mais importância a informações mais recentes. Aplicando isso ao Mercado de

Ações, essa tendência das pessoas acaba sendo errônea, uma vez que as flutuações

diárias das ações não são suficientes para refletir o mercado como um todo e a decisão

de vender ou comprar ações tem que ser analisada mais profundamente (De BONDT &

THALER, 1985).

A Heurística de Ajuste e Ancoragem representa a tendência das pessoas em

confiar exageradamente, se ancorar em uma parte ou traço de uma informação ao tomar

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decisões. Alguns dos vieses causados por isso são os ajustes insuficientes, viés na

avaliação ou estimativa de eventos conexos e desconexos, ancoragem na avaliação de

distribuições de probabilidades subjetivas, etc.

Por último, a Heurística da Disponibilidade, tema que originou a hipótese testada

no presente trabalho, será detalhada a seguir.

2.2.1. Heurística da Disponibilidade

Dentre as heurísticas mais comuns, está a heurística da disponibilidade, na qual a

pessoa avalia a frequência e probabilidade dos eventos pela facilidade com que tais

ocorrências e relações vêm à mente (KAHNEMAN & TVERSKY, 1973). Com base

nisto, é mais provável que as pessoas acreditem em algo, somente por encontrar, pelo

menos, um exemplo disso e que não acreditem em algo, por nunca terem visto ou

ouvido falar antes.

Os estudos de Kahneman e Tversky (1973) mostraram que as pessoas

conseguem acessar a “disponibilidade” com rapidez e acurácia. Além disso, a facilidade

com que os eventos podem ser trazidos à mente influencia na construção do julgamento

com relação à frequência. Ou seja, os eventos que são fáceis de lembrar ou imaginar são

percebidos como mais frequentes, procedimento denotado como heurística da

disponibilidade (KAHNEMAN & TVERSKY, 1973). Essa heurística disponibiliza um

procedimento para estimar a probabilidade de um evento, a frequência de coocorrências

e a numerosidade de uma classe (KAHNEMAN, 2012). Porém, utilizar esse

procedimento pode levar a erros sistemáticos, que chamamos de vieses. Podemos

encontrar quatro importantes vieses no julgamento humano, descritos abaixo

(KAHNEMAN & TVERSKY, 1974).

2.2.1.1. Viés devido à recuperação de ocorrências

Alguns fatores podem levar as pessoas a acharem que algo ocorre com maior

frequência, devido à facilidade que têm para recuperar certas ocorrências ou subclasses

de uma determinada classe. Um desses fatores é a familiaridade do individuo com certas

ocorrências. Um exemplo prático disso é: se falarem uma lista de nomes de homens e

mulheres famosas e em seguida perguntarem se existem mais homens ou mulheres na

lista, se as mulheres forem mais famosas que os homens, a resposta tenderá para

mulheres. Outro fator que impacta o julgamento das pessoas é o quão recente são as

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informações de uma classe. Assuntos mais atuais costumam ser mais relevantes e

impactam mais as probabilidades subjetivas. Por exemplo, quando alguém vê notícias

de um acidente de avião, a probabilidade subjetiva de ocorrer outro acidente de avião é

aumentada para o indivíduo. Por último, a importância dos assuntos para a pessoa faz

com que tenha uma facilidade maior de lembrá-los em detrimento de assuntos menos

importantes.

2.2.1.2. Viés devido à efetividade de um ajuste de busca

Esse viés consiste na tendência humana de acreditar em algo que você lembra

em maior quantidade, pois estava mais disponível na sua memória, acontece com maior

frequência. Isso pode ser exemplificado em uma situação, quando te perguntam com

qual taxa de frequência aparecem palavras abstratas, como por exemplo, “amor”,

“felicidade” e palavras concretas como “janela” e “terra” em um texto. O natural é você

tentar trazer a mente em quantos contextos diferentes você consegue utilizar palavras

abstratas e concretas. Se a frequência das palavras é julgada pela disponibilidade dos

contextos, você achará que as palavras abstratas são mais fáceis de serem utilizadas, e

com isso mais frequentes em um texto do que as palavras concretas.

2.2.1.3. Viés de imaginabilidade

Esse viés ocorre quando você deve avaliar a frequência de uma classe que não

há na sua memória, mas que existe uma regra para gerá-la. Com essa regra, geramos

ocorrências e, em geral, julgamos a frequência pela facilidade com que conseguimos

gerar a ocorrência.

2.2.1.4. Correlação espúria

O efeito da correlação espúria descreve a situação em que o indivíduo acredita

que existe uma correlação ou associação entre dois eventos, que de fato não existe. A

heurística da disponibilidade consegue justificar esse fenômeno de forma natural. A

pessoa acredita que a frequência da coocorrência dos dois eventos baseia-se no quão

forte é a associação entre eles. Ou seja, quando essa ligação é fraca, as pessoas julgam

que a frequência de coocorrência dos eventos é baixa.

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2.3. Divulgação de notícias

A heurística da disponibilidade consegue explicar porque algumas questões são

negligenciadas pelo público, enquanto outras são relevantes. Isso é causado pelo

tamanho da cobertura da mídia sobre o assunto. Aqueles que são mencionados com

menor frequência fogem à memória do público e os tópicos com maior volume de

notícias tendem a ser mais proeminentes. Isso pode causar um fenômeno chamado de

cascata da disponibilidade, ou seja, uma “cadeia de eventos autossustentável”. Essa

cadeia começa na divulgação de uma informação, a principio considerada pouco

significativa cujo segmento do público acaba por se interessar. Consequentemente, a

mídia aumenta o seu foco nesse assunto, o que pode levar a população a um frenesi

muito grande, devido ao tamanho da relevância dada ao assunto.

Aplicando ao mercado de ações, a maioria dos acionistas, principalmente os que

não conhecem profundamente o mercado financeiro, acaba por fazer negociações

baseadas em informações mais evidentes e recentes, em mudanças repentinas e

temporárias no mercado divulgadas pelos meios de comunicação, prejudicando o

investimento que deveria ter rendimento superior a longo prazo. Pode-se sugerir, além

disso, a reação pelo efeito manada, em que ações têm seus valores modificados

bruscamente por conta da reação de outros.

Podem-se separar em duas categorias os tipos de divulgação de notícias, a saber:

as divulgações financeiras das empresas, que são obrigatórias, e as divulgações feitas

pelos meios de comunicação, relacionadas direta ou indiretamente à empresa. A

divulgação de notícias sobre empresas abertas, ou disclosure, é o ato de fornecer todas

as informações relevantes de uma empresa que podem influenciar a decisão do

investidor. Para fazer parte da Bolsa de Valores, as empresas precisam seguir todos os

requisitos e regulamentos de divulgação financeira ou disclosure.

Diversos estudos já foram feitos sobre a relação entre as divulgações financeiras

e o retorno das ações das empresas, sobre a qualidade ou quantidade dessas

informações, entre outros, buscando-se uma relação entre as informações divulgadas e a

possível reação do investidor a elas (LAMBERT, et al., 2006).

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No caso da divulgação de notícias feitas pelos meios de comunicação, pode-se

crer que são levadas em consideração as informações passadas pelas empresas em suas

divulgações financeiras. Dessa forma, pode-se supor que as notícias divulgadas pelos

meios de comunicação já incorporam de certa forma tanto as informações financeiras do

disclosure quanto informações sobre a empresa, o setor e o mercado que influenciam

também o investidor.

Além disso, as notícias também são classificadas por sua conotação positiva ou

negativa, ou seja, se são notícias boas ou ruins. Tal classificação também pode

ocasionar diferentes correlações com as ações negociadas nas empresas, dependendo do

tipo de notícia. Um estudo recente, feito por Veronesi (1999), procurou a correlação

entre notícias boas e ruins com a volatilidade das ações, fundamentado na ideia de que a

incerteza dos investidores sobre fatores importantes que afetam a economia podem

impactar a volatilidade das ações, quando notícias boas são divulgadas em momentos

ruins e vice versa (VERONESI, 1999).

A literatura recente mostra que é crescente o interesse em analisar do papel dos

meios de comunicação e do comportamento humano no mercado de ações. Assim, é

relevante buscar uma correlação entre a divulgação de notícias feita pelos meios de

comunicação sobre empresas com ações na bolsa e a liquidez de tais ações.

2.4. Liquidez de Ações

Liquidez representa a facilidade com que um ativo pode ser transacionado no

mercado, ou seja, a facilidade com que ele pode ser convertido em dinheiro. A agilidade

de conversão de um investimento sem perda significativa de seu valor, mede a sua

liquidez. Pode-se entender, então, como o interesse do mercado em negociar este ativo

(LYRA, et al., 2012). Quanto menor a liquidez do ativo, maior a dificuldade de negociá-

lo. Sendo assim, por possuir um risco de liquidez maior, ou seja, por não ser

transacionado tão rápido quanto o decréscimo do seu valor, o retorno exigido de um

ativo de baixa liquidez tende a ser maior. Em um caso extremo em que a liquidez seja

nula, não existem negócios neste mercado e, consequentemente, ele deixaria de existir,

visto que o seu objetivo de ser um espaço que possibilite a troca de ativos não será mais

cumprido (FERNANDEZ, 1999).

Page 21: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

10

A liquidez no mercado de capitais é um conceito muito complexo de se observar

e mensurar, pois suas propriedades não podem ser captadas em uma única medida.

Sendo assim, apesar de diversas propriedades serem atribuídas à liquidez, não há até

hoje um consenso sobre qual seria a propriedade ideal (AMIHUD, 2002).

Muitos estudos foram feitos para compreender quais são as propriedades da

liquidez e como mensurá-la. Dentre os trabalhos mais importantes está o de von Wyss

(2004), ao observar que a liquidez é uma variável multidimensional e deve ser

mensurada através de características como o tempo de execução de uma ordem de

compra ou venda de um ativo ao preço de mercado, habilidade de se comprar e vender

um ativo ao mesmo tempo e ao mesmo preço, possibilidade de se comprar ou vender

certo volume de um ativo sem interferir em sua cotação e a capacidade de negociar um

volume de ações sem afetar de forma significativa a cotação da mesma (von WYSS,

2004).

Page 22: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

11

3. METODOLOGIA

3.1. Amostra Selecionada

3.1.1. Dados históricos das Ações

Baseado no artigo desenvolvido por Lyra (2012) sobre a relação entre o retorno

e a liquidez no mercado brasileiro, o critério de seleção das empresas brasileiras

selecionadas para a análise foi escolher, dentre as empresas citadas, as que fossem de

diferentes setores (LYRA, et al., 2012). Assim como no estudo supracitado, foram

selecionadas as empresas com maior volume financeiro médio negociado para cada

setor, segundo a classificação da BM&FBOVESPA. As empresas selecionadas estão

listadas na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1: Seleção das empresas e código das ações Fonte: Elaboração Própria

Empresas Código Setor da Economia

1 Cia de Bebidas das Américas - AMBEV AMBEV3 Bebidas

2 Cia Bras. de Distribuição - Grupo Pão de Açúcar PCAR4 Alimentos

3 WEG S.A. WEGE3 Bens Industriais

4 Marcopolo POMO4 Material Rodoviário

5 Vale S.A. VALE5 Mineração

6 Cia. Siderúrgica Nacional - CSN CSNA3 Siderurgia

7 Cia Tec. Norte de Minas - Coteminas CTNM4 Vestuário

8 Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás PETR4 Petróleo

9 Itaú Unibanco Holding S.A. ITUB4 Bancos

10 Embraer S.A. EMBR3 Material Aeronáutico

11 Souza Cruz S.A. CRUZ3 Fumo

12 Cia Saneamento Básico do Estado de São Paulo SBSP3 Saneamento

13 Cosan S.A. Indústria e Comércio CSAN3 Açúcar e Álcool

14 PDG Realty S.A. Empr. E Partic. PDG3 Construção Civil

15 Cia Energética de MG - CEMIG CMIG4 Energia Elétrica

16 ALL América Latina Logística ALLL3 Logística

Foram selecionados setores de consumo não cíclico, consumo cíclico, petróleo,

transporte logístico, energia elétrica, financeiro, bens industriais, materiais básicos,

construção civil e utilidade pública. Dentro de cada um desses foram realizadas mais

aberturas e selecionada a empresa de maior importância, segundo os critérios

previamente estabelecidos. Do setor de consumo não cíclico, para o setor de Alimentos

selecionou-se o Grupo Pão de Açúcar, para Bebidas a AMBEV, para Fumo a Souza

Cruz e para Açúcar e Álcool a Cosan. Já para o setor de consumo cíclico, a empresa

Page 23: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

12

Coteminas de vestuário é destacada. Dos setores de petróleo, transporte logístico,

energia elétrica e financeiro tem-se a Petrobrás, a ALL Logística, a CEMIG e o Banco

Itaú-Unibanco, respectivamente. No que se refere ao setor de bens industriais, constam

a Embraer para o setor de material aeronáutico, Weg para bens industriais e Marcopolo

para material rodoviário. A Vale para mineração e a CSN para siderurgia formam as

empresas representantes do setor de materiais básicos. Para completar a lista das

empresas selecionadas, nos setores de construção civil e utilidade pública as empresas

que se destacaram foram a PDG Realty e a SABESP, respectivamente.

Os dados primários utilizados foram cotações diárias de fechamento em R$ de

ações das empresas escolhidas, o volume financeiro diário negociado e o número de

negócios realizados no dia, no período de 22 de julho de 2013 a 22 de julho de 2014.

Todas as informações foram coletadas no terminal da Bloomberg.

3.1.2. Determinação da Liquidez

Com base no estudo de von Wyss (2004), buscou-se uma medida de liquidez que

tornasse possível um cálculo, através de informações do mercado acionário brasileiro,

de fácil acesso ao público e com dados históricos suficientes (von WYSS, 2004). Além

disso, buscou-se também manter um alinhamento com o artigo de Lyra (2012), que

também aborda a liquidez (LYRA, et al., 2012).

Sendo assim, uma das medidas utilizadas, proposta por Amihud (2002), é a

medida de iliquidez denominada ILIQ. A ILIQ é a razão entre o módulo do retorno

diário de um ativo sobre o volume financeiro negociado no dia. Esta medida expressa a

sensibilidade do preço de um ativo, de acordo com seu volume financeiro, que é

negociado diariamente. Por se tratar de uma medida de iliquidez, seu resultado é

inversamente proporcional à liquidez da ação. Sua fórmula é descrita a seguir, onde �� representa o retorno no período � e �� o volume financeiro negociado no período

� �AMIHUD, 2002�.

����� � |��| ��⁄

Outra medida considerada, também presente no estudo de Von Wyss (2004) e

proposta por Ranaldo (2000), é a razão de fluxo, denominada FR, que mede se a

negociação é feita em poucas transações grandes ou muitas transações pequenas

(RANALDO, 2000). Como a liquidez aumenta com o número de transações e o volume

Page 24: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

13

financeiro negociado, quanto maior a razão de fluxo, maior a liquidez. Sua fórmula

pode ser vista abaixo, onde �� representa o número de negócios no período � e �� o

volume financeiro no período �.

��� � �� � �� Com base nestas medidas, foram calculadas, para cada dia do período de 22 de

julho de 2013 a 22 de julho de 2014, as duas medidas de liquidez. Calculando a média

diária de cada medida de liquidez, para cada ação, foi possível elaborar um ranking para

cada uma dessas medidas, com ordem decrescente de liquidez. A fim de classificar a

liquidez das ações, as duas amostras foram divididas em três partes iguais. Onde: a

primeira parte é de alta liquidez; a segunda de média liquidez; e a terceira de baixa

liquidez.

3.1.3. Notícias Divulgadas

Além disso, foi necessário fazer uma coleta de dados das informações

divulgadas, no período estudado, sobre essas empresas. Para isso, foi escolhido um

meio de comunicação para a seleção de notícias a respeito das empresas selecionadas -

no caso, a internet por meio de notícias online. A fim de restringir a quantidade de

notícias analisadas, decidiu-se focar em um só site de divulgação: o Valor Econômico.

Foi feita uma pesquisa do número de notícias divulgadas diariamente. Além disso, foi

feita uma classificação entre notícias boas, ruins e neutras. Para tal classificação, foram

determinadas diversas premissas e limitações para que a análise fosse coerente e

conclusiva.

Primeiramente, a pesquisa restringiu-se apenas às notícias que contivessem uma

citação da empresa em questão, não considerando notícias do setor, mercados

influentes, etc. se estas não citassem explicitamente a empresa. A classificação entre

notícias boas, ruins e neutras leva em consideração somente o que se refere à empresa e

não à notícia como um todo. Por exemplo, uma notícia ruim sobre uma empresa

concorrente com uma citação positiva sobre a empresa analisada é considerada uma

notícia boa. Já as notícias neutras são citações sobre a empresa que não oferecem

conotação positiva nem negativa, não tendo uma interpretação conclusiva sobre a sua

classificação.

Page 25: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

14

A classificação entre notícias boas, ruins e neutras foi feita subjetivamente pelas

autoras do trabalho. Parte da amostra de notícias coletadas está demonstrada, como

exemplo, no ANEXO A, com notícias sobre o Grupo Pão de Açúcar: data, título, tipo de

notícia e a classificação. Neste anexo, pode-se observar a metodologia utilizada para tal

classificação. Dentre as notícias boas, estão as notícias relativas à Bolsa, com

crescimento das ações das respectivas empresas; à situação financeira da empresa,

quando positiva; às estratégias da empresa, como uma união que renderá muitos

benefícios; etc. Já dentre as notícias ruins, pode-se citar notícias sobre: a queda da

Bovespa ou das ações da empresa; prejuízos ou declínio do lucro da empresa; ameaça

de concorrentes; escândalos políticos envolvendo a empresa; mudança de governança

que prejudique a imagem da empresa; etc. As notícias neutras foram situações

peculiares nas quais a empresa selecionada é citada de forma imparcial ou não tem

relação com a conotação positiva ou negativa da notícia.

Na seção de resultados, é apresentado um resumo dos dados coletados de cada

empresa, com quantidade total de notícias coletadas no período de 22 de julho de 2013 a

22 de julho de 2014 e com a quantidade de notícias discriminadas em boas, ruins e

neutras. Como as notícias não necessariamente são divulgadas nos dias de abertura da

Bolsa de Valores, todas as notícias divulgadas, nos dias em que a Bolsa não operou,

foram relacionadas ao primeiro dia de abertura da Bolsa, após a data de divulgação.

Como o tipo de notícia pode influenciar de maneiras diferentes na liquidez, foi

analisado, para cada notícia coletada, qual era a sua classificação por tipo. Estes tipos

poderiam ser: Finanças, Empresas, Política, Brasil e Outras, que são notícias menos

frequentes, relacionadas a Agronegócios, Carreira, Cultura e Estilo, Legislação e

Tributos, Eleições 2014, Internacional etc. As notícias de Finanças são basicamente

associadas às informações sobre o desempenho das ações, relatórios do mercado de

ações, dados contábeis da empresa (principalmente oriundos da divulgação financeira,

disclosure), etc. As notícias sobre Empresas são ligadas ao setor do mercado ao qual ela

está inserida, às empresas concorrentes, às estratégias empresariais, etc. Notícias

pertencentes à classificação Política são referentes às políticas macroeconômicas que

afetam a ação e a empresa de modo geral, escândalos políticos, etc. Notícias sobre o

Brasil são, principalmente, as relacionadas à conjuntura política e econômica, pois

afetam exclusivamente ao país.

Page 26: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

15

3.2. Análises Estatísticas

Com as informações das amostras em mãos, análises estatísticas são elaboradas

para se testar a hipótese proposta: se existe relação e/ou influência entre as notícias

divulgadas pelos meios de comunicação e a liquidez das ações. Para isso, serão feitas

análises de correlação e regressão para atender aos respectivos fins. A base

metodológica de tais cálculos será descrita a seguir.

De acordo com Gujarati (2011), o principal objetivo da análise de correlação é

medir a força ou o grau de associação linear entre duas variáveis. Ela está estritamente

relacionada à análise de regressão, mas, conceitualmente, é muito diferente. Enquanto o

coeficiente de correlação mede a força dessa associação linear, a análise de regressão

não está interessada preferencialmente em tal medida. Em vez disso, a análise de

regressão busca estimar ou prever o valor médio de uma variável com base nos valores

fixos de outras variáveis (GUJARATI & PORTER, 2011).

Dentre algumas diferenças da regressão e da correlação relatadas por Gujarati

(2011), pode-se dizer que na análise de regressão existe uma assimetria na maneira

como as variáveis dependentes e explanatória são tratadas. Nela, supõe-se que a variável

dependente é estatística, aleatória ou estocástica, ou seja, tem distribuição probabilística,

e que as variáveis explanatórias têm valores fixos (em amostras repetidas). Na análise

de correlação, por outro lado, tratam-se quaisquer duas variáveis simetricamente, não

existindo distinção entre as variáveis dependente e explanatória e, além disso, supõe-se

que as duas variáveis são aleatórias. Em suma, a maior parte da teoria da correlação

baseia-se na premissa da aleatoriedade das variáveis, enquanto boa parte da teoria de

regressão está condicionada à premissa de que a variável dependente é estocástica, mas

as variáveis explanatórias são fixas ou não estocásticas (GUJARATI & PORTER,

2011).

3.2.1. Análise de Correlação

Como já dito anteriormente, a análise de correlação observa a medida da

variação conjunta das variáveis (ou co-variação) em um diagrama de dispersão. Para

isso, utiliza-se o coeficiente de correlação � (rô), uma medida do grau de associação

entre duas variáveis, que é definido como a razão da covariância pelos desvios padrões

das variáveis estudadas, como indicado na equação abaixo (SALLES, 2010)

Page 27: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

16

���, �� � ��� � �������

Deve-se lembrar que o cálculo do � é aplicado a cálculos de correlação

populacional. Para calcular a correlação amostral utiliza-se:

��, �� � �� � !"#$ % �"#��"$�&!"#' % �"#�'&!"$' % �"$�'

Para cada empresa, todas as variáveis analisadas (liquidez FR, total de notícias

diárias, notícias boas e notícias ruins) foram correlacionadas entre si e demonstradas em

uma matriz com os seus respectivos coeficientes de correlação . Segundo Gujarati

(2011), podem-se salientar algumas das propriedades de :

1. Pode ser positivo ou negativo, dependendo do sinal do termo no numerador da

equação, que mede a covariação amostral das duas vaiáveis. Quando positiva, significa

que uma variável aumenta quando a outra cresce e, quando negativa, as variáveis

variam em direções opostas;

2. Situa-se entre os limites -1 e +1, sendo, para valores positivos:

0 - Correlação Nula

0 ( ) 0.3 - Correlação Fraca

0.3 ( ) 0.7 - Correlação Moderada

0.7 ( ) 1 - Correlação Forte

� 1 - Correlação Perfeita

3. A correlação nula não significa necessariamente que � e � são independentes.

Porém, se � e � são estatisticamente independentes, o coeficiente de correlação entre

elas é zero.

4. Possui natureza simétrica, isto é, o coeficiente de correlação entre � e � é o

mesmo que aquele entre � e �;

5. É independente da origem e da escala;

6. É uma medida de associação linear e não de uma associação não linear;

Page 28: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

17

7. Mesmo sendo uma medida de associação linear entre duas variáveis, ela não

implica necessariamente qualquer relação de causa e efeito.

De acordo com Salles (2010), também se considera a correlação espúria, que é a

existência de um coeficiente de correlação entre duas variáveis sem nenhuma

explicação lógica e de causa e efeito para isso. As causas mais frequentes da ocorrência

de correlações espúrias são, por exemplo, a distribuição não equilibrada dos dados, a

relação entre quocientes de variáveis que apresentam o mesmo denominador, e a relação

de variáveis que foram multiplicadas por uma delas (SALLES, 2010).

É possível testar a hipótese de que o coeficiente de correlação linear é igual a

zero, ou seja, fazer um teste de significância estatística do coeficiente de correlação. Se

a hipótese é rejeitada, o coeficiente de correlação tem significância estatística. Em geral,

um teste de significância utiliza os resultados amostrais para verificar a veracidade ou

falsidade de uma hipótese nula (SALLES, 2010).

./: � 0

.1: 2 0

A estatística de teste é dada por:

�/ � 3 ! % 21 % '

Onde:

� = estatística do teste;

! = tamanho da amostra;

= estimativa do coeficiente de correlação linear

A estatística do teste ou estimador t, segue uma distribuição t de Student com

(! % 2) graus de liberdade, sob a possibilidade da hipótese nula ./ � 0. A hipótese

nula ( � 0) é rejeitada, se o módulo de t for maior que o valor crítico para a estatística

do teste bilateral, para um nível de significância α, com (n – 2) graus de liberdade.

�4 '5 ;78'

Page 29: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

18

Também é possível construir um intervalo de confiança para r. Assim, pode-se

observar com probabilidade (1-α) quais são os Limites Inferiores de Confiança e

Limites Superiores de Confiança (intervalo de confiança) do coeficiente de correlação

(MONTGOMERY & PECK, 1992). O intervalo de confiança é dado por:

9 : � ��4 '5 ;78'�

Sendo que:

� � 31 % '! % 2

3.2.2. Análise de Regressão Linear

Conforme Gujarati (2011), a análise de regressão tem como objetivo estudar a

dependência de uma determinada variável, a variável dependente (�), com relação a

uma ou mais variáveis distintas, as variáveis explanatórias (�), de forma a estimar e/ou

prever o valor médio da primeira, em termos dos valores conhecidos ou fixados das

segundas. Em outras palavras, podemos dizer que o valor da média condicional de � é

dado por uma função da variável explanatória �, escrito de sua forma simbólica como

;��|�<� � =��<�. Essa equação é conhecida como função de regressão populacional

(FRP) ou função de esperança condicional (FEC). A função linear de regressão

populacional é considerada uma das mais importantes e utilizadas. Ela é dada por:

;��|�<� � >1 ? >'��<�

Na qual >1 e >' são parâmetros desconhecidos, denominados coeficientes de regressão.

>1 e >' também são conhecidos como intercepto e coeficiente angular, respectivamente.

Sua especificação estocástica é conhecida por:

�< � ;��|�<� ? @< � >1 ? >'��<� ? @< Onde @< é o erro estocástico ou resíduo. A FRP pode ser obtida a partir da função de

regressão amostral, onde se substitui os parâmetros pelos seus respectivos estimadores.

Existem inúmeros métodos para estimar a FRP a partir da FRA. O mais

utilizado, por ser intuitivamente convincente e matematicamente mais simples que

outros, é o Método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). Atribuído a Carl

Friedrich Gauss, ele tem por objetivo estimar/calcular os valores dos estimadores >1 e

Page 30: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

19

>'. Porém, em uma análise de regressão, procura-se realizar inferências relativas aos

verdadeiros >1 e >' (GUJARATI & PORTER, 2011). Para isso, utilizamos os Modelos

Clássicos de Regressão Linear (MCRL) simples e múltiplo, dependendo do número de

variáveis explanatórias. Pode-se dizer que, para utilizá-los, devem-se cumprir alguns

pressupostos, listados abaixo:

1. O modelo de regressão deve ser linear nos parâmetros, embora não

precise ser linear nas variáveis;

2. Os valores de � devem ser fixos ou independentes do termo de erro

estocástico;

3. O valor médio do termo de erro estocástico ei é zero

4. A variância do termo de erro estocástico é homocedástica, isto é, a

dispersão dos resíduos é constante ao longo da regressão, independente

do valor de �;

5. Não pode haver autocorrelação entre os termos de erro estocástico;

6. O número de observações n deve ser maior que o número de parâmetros

a serem estimados

7. Os valores de � não podem ser os mesmos, ou seja, deve haver

variabilidade dos valores de �;

8. Não há multicolinearidade exata entre as variáveis explanatórias (quando

houver mais de uma), ou seja, é necessário que não haja uma relação

linear exata entre os regressores.

9. Ausência de erro de especificação no modelo utilizado, ou seja, não

ocorreram erros na concepção do modelo, como, por exemplo, a escolha

incorreta das variáveis ou da forma funcional da relação entre as

variáveis dependentes e explanatórias.

Este estudo tem como objetivo verificar a dependência da variação da liquidez

diária de cada ação em relação ao número de notícias diárias divulgadas. Para isso,

foram realizadas duas análise de regressão. No primeiro caso, a variação da liquidez

diária da ação (variável dependente) é relacionada com o número total de notícias

diárias (variável explanatória única), enquanto no segundo caso, a variação da liquidez

diária da ação (variável dependente) é relacionada com o número de notícias diárias

boas (variável explanatória 1) e ruins (variável explanatória 2).

Page 31: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

20

Sob a conjectura de que os pressupostos não estão sendo violados, foram

construídos dois modelos de regressão linear para estimar a variável média das

variações da liquidez diária das ações a ambas as análises de regressão explicadas

acima, um de regressão simples, Modelo 1, e um de regressão múltipla, Modelo 2,

respectivamente. Suas formas estocásticas são descritas a seguir.

Modelo 1:

∆�<� � >1 ? >'�<� ? @<� Onde:

• ∆�<� = variação da medida de liquidez FR da ação B no dia �;

• >1 = intercepto

• >' = coeficiente de regressão

• �<� = número de notícias total divulgadas no dia t da ação i;

• @<� = erro estocástico.

Modelo 2:

∆�<� � >1 ? >'�<�C ? >D�<�8 ? @<� Onde:

• ∆�<� = variação da medida de liquidez FR da ação B no dia �;

• >1 = intercepto

• >' e >D = coeficientes de regressão

• �<�C = número de notícias boas divulgadas no dia t da ação i;

• �<�8 = número de notícias ruins divulgadas no dia t da ação i;

• @<� = erro estocástico.

Testes foram realizados para garantir a não violação dos pressupostos para estes

modelos. Por exemplo, o teste de Durbin-Watson pode ser observado nos resultados

obtidos nos testes com os modelos de regressão para detectar a presença de

autocorrelação entre as séries utilizadas no modelo. Além disso, a análise de correlação

feita entre as variáveis referentes às notícias boas e às noticias ruins foi realizada para

verificar o pressuposto da multicolinearidade.

Page 32: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

21

Assumindo que todos os pressupostos estão sendo respeitados, é feita a análise

de regressão para estimar o ß1, o intercepto, e o ß2 e ß3, os coeficientes de regressão.

Também se observa o valor-p (o valor da probabilidade), também conhecido como nível

de significância exato ou observado. Mais tecnicamente, o valor-p é definido como o

menor nível de significância que uma hipótese nula pode ser rejeitada (GUJARATI &

PORTER, 2011).

Contudo, considerando uma segunda conjectura em que há violação dos

pressupostos, especialmente o de homocedasticidade, foi selecionado outro tipo de

modelo para que se consiga realizar as duas análises entre a variável dependente e as

explanatórias supracitadas sem ser tendencioso. Mas, antes de descrever o modelo

utilizado, é preciso relembrar alguns conceitos importantes e explicar porque essa

mudança de modelos é necessária.

A começar pela heterocedasticidade, podemos defini-la como a não

uniformidade da dispersão dos resíduos ao longo da linha de regressão, ou seja, a

variância dos resíduos não é constante (SALLES, 2010). Essa característica entra em

conflito com um dos principais pressupostos para utilização do modelo clássico de

regressão linear. Existem inúmeros motivos para que o modelo seja heterocedástico.

Nesse caso específico, uma possível razão para essa ocorrência é a assimetria na

distribuição de um ou mais dos regressores incluídos no modelo. Segundo Gujarati

(2011), o problema de se persistir no uso de procedimentos comuns de teste, apesar da

heterocedasticidade, quais que sejam as conclusões a que se chegue ou as inferências

feitas poderão ser equivocadas (GUJARATI & PORTER, 2011).

Outro conceito importante é o de séries temporais. Uma série temporal é um

processo estocástico, ou seja, uma coleção de variáveis aleatórias ordenadas no tempo,

que pode ser ou não estacionário. O conceito de estacionariedade se baseia na

constância da média, variância e autocovariâncias (entre dois períodos de tempo)

independente do ponto que observar. A não ocorrência da estacionariedade pode ser

denominada modelo de passeio aleatório (GUJARATI & PORTER, 2011). Esse tipo de

série é muito vista no mercado de ações, ao se analisar os preços das ações ou taxas de

câmbio e pode causar análises errôneas, se não houver conhecimento de que a série é

não estacionária. Diz-se que essas séries seguem um passeio aleatório. De maneira

Page 33: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

22

resumida, diferenciar o modelo de passeio aleatório é uma maneira de se tratar a não

estacionariedade dele.

Todas as essas características, quando se trata de séries temporais financeiras,

como os preços de ativos, podem ser justificada pelo fenômeno da aglomeração de

volatilidade, ou seja, em determinados períodos existem grandes oscilações e em outros

períodos as variações são menores. Esse fenômeno pode ser explicado pela observação

feita por Philip Franses (GUJARATI & PORTER, 2011), economista holandês:

“Uma vez que os dados [da série temporal financeira] refletem o

resultado do comércio entre compradores e vendedores em, por exemplo,

mercado de ações, muitas fontes de notícias e outros eventos econômicos

exógenos podem ter um impacto no padrão da série temporal dos preços

dos ativos. Dado que as notícias podem levar a interpretações variadas,

e também dado que eventos econômicos específicos como uma crise de

petróleo podem durar por algum tempo, frequentemente observamos que

grandes observações positivas ou grandes observações negativas em

séries temporais tendem a aparecer em aglomerados.”

Tendo isso em mente, na análise de regressão envolvendo séries temporais, se o

modelo de regressão incluir não só os valores correntes, mas também um ou mais

valores defasados da variável dependente entre suas variáveis explanatórias, é

denominado modelo autorregressivo, como sugere Gujarati (2011). Para a estimação

desse modelo, a teoria clássica dos mínimos quadrados pode não ser diretamente

aplicável a ele. Isso ocorre por dois motivos: pela presença de variáveis estocásticas e

pela possibilidade de correlação serial. No segundo caso, se uma variável explanatória

em um modelo de regressão está correlacionada com o erro estocástico, os estimadores

de MQO não são apenas tendenciosos, mas também não são consistentes, isto é, os

estimadores não se aproximam de seu valor populacional verdadeiro mesmo que ao

tamanho da amostra seja aumentado (GUJARATI & PORTER, 2011).

E, para o caso específico da aglomeração de volatilidade, existem dois modelos

que podem ser utilizados para capturar as características: o modelo de

heterocedasticidade condicional autorregressiva (ARCH, do inglês autoregressive

conditional heteroscedasticity) e o modelo de heterocedasticidade condicional

autorregressiva generalizada (GARCH, do inglês generalized autoregressive

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23

conditional heteroscedasticity). Gujarati (2011) explica que, como o próprio nome

sugere, a heterocedasticidade ou variância desigual pode ter uma estrutura

autorregressiva na qual a heterocedasticidade observada ao longo de diferentes períodos

pode ser autocorrelacionada (GUJARATI & PORTER, 2011).

No modelo original ARCH (LONTRA & SALLES, 2012), a variância é

modelada em função dos resíduos e é estimada da seguinte forma:

�E�' � F ? G H<I�8<'J

<K1

Onde:

�E�' = Estimativa da variância no tempo t;

I�8<' = Resíduos da estimativa do retorno do ativo no perídot-1;

L = Número de períodos anteriores a t utilizados para estimar a variância.

O modelo de GARCH, uma forma estendida do ARCH, teve um termo

adicionado à equação de variância, passando a depender, também, da variância anterior,

além dos resíduos anteriores (LONTRA & SALLES, 2012). Nesta extensão do modelo,

a variância é modelada da seguinte forma:

�E�' � F ? G H<I�8<'J

<K1? G >M�E�8M'

NMK1

Com as seguintes restrições:

F O 0, L O 0, P Q 0, H< Q 0 @ >M Q 0 No caso do presente trabalho, as variáveis citadas p e q, que indicam o número

de períodos anteriores utilizados para as variáveis das equações, foram de um período

para ambos os modelos ARCH e GARCH. Em suma, utilizou-se o modelo ARCH(1) e

GARCH(1,1).

Duas derivações do modelo GARCH foram propostas, chamadas

respectivamente de IntegratedGARCH (IGARCH) e ExponentialGARCH (EGARCH).

A primeira inclui duas restrições: considera que o intercepto é igual a zero e que o

somatório dos coeficientes de regressão se igualam a 1 (LONTRA & SALLES, 2012).

F � 0;

Page 35: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

24

G H<J

<K1? G >M

NMK1

� 1

A segunda, EGARCH, busca captar desvios assimétricos feitos por informações

positivas e negativas, além de ponderar as observações, dando mais peso às informações

mais recentes que às informações mais antigas (LONTRA & SALLES, 2012). A

variância é modelada da seguinte forma:

log���'� � F ? G UH< � |I�8<| ? �V< � I�8<���8< WN<K1

? GX>< � log���81' �YJ<K1

Com isso, tendo em vista a segunda conjectura, de violação dos pressupostos

para o modelo linear de regressão – a volatilidade das séries analisadas (variação da

medida de liquidez), que indica a heterocedasticidade – o presente trabalho modela a

variância da variável dependente (variação da medida de liquidez) para os dois modelos

supracitados (Modelo 1 e Modelo 2), utilizando o método de inferência estatística da

família ARCH. Sendo assim, foram testadas diversas combinações de modelos (entre os

modelos de regressão linear para modelar a média e os modelos da família ARCH para

modelar a variância) para se escolher os que melhor explicavam os dados das séries

analisadas. Para todos os testes, foi utilizado o software EViews, programa estatístico

utilizado para análise econométrica. Em cada modelo, foram estimados para cada ação

todos os quatro tipos de modelos da família ARCH, combinados com as distribuições de

probabilidade Normal e t-Student. Em suma, um total de 16 combinações de modelos e

distribuições de probabilidade foram testadas para se encontrar o melhor modelo que

explicasse a amostra.

A seleção do melhor modelo foi feita através do erro padrão e dos critérios de

informação de Akaike (AIC - Akaike Information Criterion) e de Schwartz (BIC -

Bayesian Information Criterion). O erro padrão é uma medida da precisão da média

amostral calculada, sendo que quanto menor o erro-padrão, mais precisa é a média

amostral. O critério de informação de Akaike mede, por meio da ponderação entre o

número de variáveis presentes em um modelo e sua conformidade com os dados, a

adequação de um modelo estatístico analisado. O modelo é definido como:

Page 36: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

25

�Z � @'[/7 �]]!

Também apresentado na forma:

ln _�Z � `2a! b ? ln `�]]! b

onde:

a = número de regressores (incluindo o intercepto);

! = número de observações

Ao compararmos dois ou mais modelos, o modelo com o valor mais baixo de

AIC é preferido (LONTRA & SALLES, 2012). Segundo Gujarati (2011), “uma

vantagem do AIC é que é útil não só dentro da amostra, mas também fora dela,

prevendo o desempenho de um modelo de regressão”.

Já o critério de Schwartz, que também mede a adequação do modelo estatístico,

penaliza de forma mais enfatizada os modelos com mais parâmetros, ocasionando em

um maior trade-off entre o poder de explicação do modelo e sua complexidade. Sua

fórmula é descrita a seguir:

c�Z � ![/7 �]]!

ou

ln c�Z � `a!b ln ! ? ln `�]]! b

Onde 2 a !5 ln ! representa o fator de penalidade do modelo.

Assim como no AIC, o BIC pode ser usado para comparar o desempenho do

modelo quando as previsões são feitas dentro e fora da amostra. Neste caso, quanto

menor o valor resultante, mais adequado é o modelo estatístico analisado (LONTRA &

SALLES, 2012).

Page 37: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

26

4. RESULTADOS OBTIDOS

Nesta seção serão apresentados os dados e as análises gerados a partir da

metodologia empregada. Inicialmente, a partir das ações das empresas selecionadas para

este trabalho e seus dados históricos diários de variação do retorno, volume financeiro e

quantidade de ações negociadas no período de 22 de julho de 2013 a 22 de julho de

2014, foram calculadas as médias diárias das medidas de liquidez ILIQ e FR no período

para cada ação.

Primeiramente, a média diária da medida de liquidez ILIQ foi listada em ordem

crescente de valor, por se tratar de uma medida de iliquidez, para que se pudesse fazer

um ranking de liquidez de ações, exposto na Tabela 2. Neste ranking, as ações foram

divididas em três grupos: alta, média e baixa liquidez. As sete primeiras empresas

(Petrobras, Vale, PDG Realty, Itaú, Ambev, CSN e CEMIG) são as empresas mais

líquidas, segundo a medida ILIQ. A Marcopolo, Embraer, Souza Cruz e Cosan são as

empresas do grupo intermediário, de média liquidez. Já as demais (Sabesp, Grupo Pão

de Açúcar, Coteminas e WEG) são as empresas com valores de liquidez baixos.

Tabela 2: Ranking de empresas pela medida de liquidez ILIQ Fonte: Elaboração Própria

Empresas Ação Medida ILIQ Liquidez

1 Petrobras PETR4 5,8E-10

Alta

2 Vale VALE5 7,9E-10 3 PDG Realty PDGR3 1,0E-09 4 Itaú ITUB4 1,1E-09 5 AMBEV AMBEV3 1,1E-09 6 CSN CSNA3 3,1E-09 7 CEMIG CMIG4 3,8E-09 8 ALL ALLL3 6,1E-09

Média 9 Marcopolo POMO4 6,1E-09 10 Embraer EMBR3 6,7E-09 11 Souza Cruz CRUZ3 1,0E-08 12 Cosan CSAN3 1,1E-08

Baixa

13 Sabesp SBSP3 1,2E-08 14 Grupo Pão de Açúcar PCAR4 1,6E-08 15 Coteminas CTNM4 2,1E-05 16 WEG WEGE3 3,0E+02

Para a medida de liquidez FR, também foi feito o mesmo procedimento, listando

um ranking de na ordem decrescente das empresas, que pode ser observado na Tabela 3.

Page 38: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

27

No primeiro grupo, para as empresas de alta liquidez, encontram-se a Petrobras, Vale,

PDG Realty, Itaú, AMBEV e CSN. Com média liquidez estão as empresas CEMIG,

Marcopolo, ALL, Embraer e Sabesp. Por último, as empresas do grupo de baixa

liquidez são a Souza Cruz, a Cosan, Grupo Pão de Açúcar, WEG e Coteminas.

Tabela 3: Ranking de empresas pela medida de liquidez FR Fonte: Elaboração Própria

Empresas Ação Medida ILIQ Liquidez

1 Petrobras PETR4 1,3E+12

Alta

2 Vale VALE5 4,7E+11 3 PDG Realty PDGR3 3,7E+11 4 Itaú ITUB4 2,7E+11 5 AMBEV AMBEV3 1,9E+11 6 CSN CSNA3 9,8E+10 7 CEMIG CMIG4 4,9E+10

Média

8 Marcopolo POMO4 3,6E+10 9 ALL ALLL3 2,9E+10 10 Embraer EMBR3 1,8E+10 11 Sabesp CRUZ3 1,1E+10 12 Souza Cruz SBSP3 7,9E+09

Baixa

13 Cosan CSAN3 6,1E+09 14 Grupo Pão de Açúcar PCAR4 3,0E+09 15 WEG WEGE3 1,6E+09 16 Coteminas CTNM4 1,8E+06

Pode-se perceber que estes rankings apresentam resultados muito próximos,

alterando a posição de apenas algumas empresas entre os grupos. As sete primeiras

empresas, com maior medida de liquidez em ambos os casos, estão inclusive listadas na

mesma ordem no ranking.

Para a amostra de notícias, foram coletados os dados diários de notícias no

mesmo período (22 de julho de 2013 a 22 de julho de 2014), sendo estes dados o total

de notícias diárias, notícias boas, notícias ruins e notícias neutras. Abaixo, um resumo

sobre a amostra pode ser visto na Tabela 4. As informações são apresentadas em ordem

decrescente de número de notícias encontradas neste período, com as respectivas

quantidades de notícias boas, ruins e neutras discriminadas.

Page 39: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

28

Tabela 4: Resumo da amostra de notícias por empresa Fonte: Elaboração Própria

# Empresa

Total de Notícias

Classificação (Qtd) Classificação (%) Boa Ruim Neutra Boa Ruim Neutra

1 Petrobras 1948 926 891 131 47.5% 45.7% 6.7%

2 Vale 1040 546 457 37 52.5% 43.9% 3.6%

3 Itaú 579 289 172 118 49.9% 29.7% 20.4%

4 Embraer 203 122 62 19 60.1% 30.5% 9.4%

5 SABESP 192 56 126 10 29.2% 65.6% 5.2%

6 CSN 159 84 74 1 52.8% 46.5% 0.6%

7 AMBEV 152 81 61 10 53.3% 40.1% 6.6%

8 ALL 148 52 61 35 35.1% 41.2% 23.6%

9 PDG Realty 111 37 65 9 33.3% 58.6% 8.1%

10 CEMIG 111 67 43 1 60.4% 38.7% 0.9%

11 Cosan 108 60 46 2 55.6% 42.6% 1.9%

12 Grupo Pão de Açúcar 100 73 24 3 73.0% 24.0% 3.0%

13 Souza Cruz 43 18 24 0 41.9% 55.8% 0.0%

14 Marcopolo 12 7 5 0 58.3% 41.7% 0.0%

15 Coteminas 11 10 1 0 90.9% 9.1% 0.0%

16 WEG 10 10 0 0 100% 0.0% 0.0%

- Total 4927 2438 2112 376 49.5% 42.9% 7.6%

Além disso, as notícias totais diárias coletadas foram classificadas por tipo,

dados que estão dispostos na Tabela 5. Pode-se observar que as notícias sobre Finanças

são muito significativas para todas as empresas, muito provavelmente pelo já citado

disclosure, que obriga as empresas a divulgarem dados pertinentes às suas ações ao

público. Além das notícias baseadas no disclosure, a mídia preocupa-se muito com os

dados contábeis da empresa e com a especulação de seus ativos. Notícias classificadas

como Empresas também são muito expressivas, por passarem informações sobre o

mercado, concorrentes e situação da empresa analisada, fatos muito comuns e de ampla

divulgação. Algumas empresas, como a Petrobras, Sabesp e Coteminas, que possuem

relação com o Governo ou que possuem algum representante ativamente político,

possuem uma porcentagem muito maior de notícias relacionadas à Política. Por tratar-se

de empresas brasileiras, as notícias relacionadas ao Brasil também têm peso relevante

na amostra.

Page 40: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

29

Tabela 5: Resumo da amostra de notícias por tipo Fonte: Elaboração Própria

Empresa

Total de Notícias

Tipo de Notícia (%) Brasil Empresas Finanças Política Outros

1 Petrobras 1948 9.0% 17.9% 52.9% 17.9% 2.4%

2 Vale 1040 1.2% 8.3% 89.7% 0.2% 0.7%

3 Itaú 579 3.5% 12.3% 79.4% 0.7% 4.1%

4 Embraer 203 3.9% 40.4% 48.3% 3.4% 3.9%

5 SABESP 192 16.1% 42.7% 26.0% 14.6% 0.5%

6 CSN 159 0.6% 15.7% 79.9% 0.6% 3.1%

7 AMBEV 152 1.3% 21.7% 76.3% 0.0% 0.7%

8 ALL 148 10.8% 29.1% 55.4% 0.0% 4.7%

9 PDG Realty 111 0.9% 9.9% 89.2% 0.0% 0.0%

10 CEMIG 111 14.4% 28.8% 52.3% 3.6% 0.9%

11 Cosan 108 4.6% 20.4% 60.2% 0.0% 14.8%

12 Grupo Pão de Açúcar 100 4.0% 64.0% 30.0% 0.0% 2.0%

13 Souza Cruz 43 2.3% 74.4% 74.4% 2.3% 4.7%

14 Marcopolo 12 8.3% 50.0% 25.0% 8.3% 8.3%

15 Coteminas 11 9.1% 9.1% 0.0% 81.8% 0.0%

16 WEG 10 0.0% 90.0% 0.0% 0.0% 10.0%

- Total 4927 6.0% 19.2% 64.6% 8.2% 2.5%

Como forma de comparar os rankings feitos para as medidas de liquidez e

quantidade de notícias, uma tabela comparativa visa agrupar tais resultados e mostrar as

suposições que podem ser feitas a respeito da correlação entre as séries. A Tabela 6

mostra que os resultados das medidas de liquidez e de quantidade de notícias são

ordenados de forma similar, sugerindo a possibilidade de uma correlação entre eles e, se

confirmada, uma possível influência das notícias na liquidez.

Page 41: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

30

Tabela 6: Comparação ranking de liquidez ILIQ e FR e notícias Fonte: Elaboração Própria

Ranking Qtd. de Notícias Ranking ILIQ Ranking FR 1 PETR4 PETR4 PETR4 2 VALE5 VALE5 VALE5 3 ITUB4 PDGR3 PDGR3 4 EMBR3 ITUB4 ITUB4 5 SBSP3 AMBEV3 AMBEV3 6 CSNA3 CSNA3 CSNA3 7 AMBEV3 CMIG4 CMIG4 8 ALLL3 ALLL3 POMO4 9 PDGR3 POMO4 ALLL3 10 CMIG4 EMBR3 EMBR3 11 CSAN3 CRUZ3 SBSP3 12 PCAR4 CSAN3 CRUZ3 13 CRUZ3 SBSP3 CSAN3 14 POMO4 PCAR4 PCAR4 15 CTNM4 CTNM4 WEGE3 16 WEGE3 WEGE3 CTNM4

Visto isso, seguiu-se para uma análise de correlação, fazendo-se uma

combinação entre as séries de Medidas de Liquidez diária (ILIQ e FR) e as séries de

Total de Notícias diário e de quantidade de Notícias Boas e Ruins diárias, do período de

22 de julho de 2013 e 22 de julho de 2014. Na primeira análise de correlação, utilizou-

se a variável Medida de Liquidez FR diária relacionando-se com as variáveis: Total de

Notícias diárias, Quantidade de Notícias Boas diárias e Quantidade de Notícias Ruins

diárias. Os resultados desta análise podem ser observados na Tabela 7.

Page 42: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

31

Tabela 7: Análise de Correlação entre liquidez FR e notícias Fonte: Elaboração Própria

Análise Correlação FR e Notícias

FR – Total FR – Boas FR - Ruins

r Significância r Significância r Significância

1 Petrobrás 0,37 Sim 0,30 Sim 0,19 Sim

2 Vale 0,29 Sim 0,25 Sim -0,06 Não

3 PDG Realty 0,21 Sim 0,14 Não 0,10 Não

4 Itaú 0,32 Sim 0,39 Sim -0,02 Não

5 CSN 0,39 Sim 0,38 Sim 0,15 Não

6 AMBEV 0,42 Sim 0,33 Sim 0,30 Sim

7 CEMIG 0,29 Sim 0,17 Sim 0,25 Sim

8 ALL 0,70 Sim 0,75 Sim 0,19 Sim

9 Marcopolo 0,50 Sim -0,01 Não 0,75 Sim

10 Embraer 0,46 Sim 0,33 Sim 0,35 Sim

11 SABESP 0,23 Sim 0,15 Não 0,17 Sim

12 Cosan 0,33 Sim 0,28 Sim 0,21 Sim

13 Souza Cruz -0,01 Não 0,28 Sim 0,16 Sim

14 Grupo Pão de Açúcar 0,45 Sim 0,39 Sim 0,24 Sim

15 WEG 0,07 Não 0,07 Não - -

16 Coteminas -0,03 Não - - 0,00 Não

Para cada combinação, foi encontrado o coeficiente de correlação e, com ele,

feito um Teste de Significância com um H de 1%. Quando a hipótese de correlação nula

é aceita, não há significância. Quando a hipótese é rejeitada, há significância. Pode-se

observar que a maioria dos resultados apresenta significância a 1% para a Medida de

Liquidez FR. Seus valores de coeficiente de correlação ( ) estão divididos em

correlação fraca e moderada, sendo a correlação fraca a mais frequente. Apenas duas

empresas apresentaram correlação forte entre a liquidez e notícias. A ALL Logistics

apresentou correlação forte entre a medida de liquidez FR e Total de Notícias e

Quantidade de Notícias Boas diárias. A Marcopolo apresentou forte correlação entre a

medida de liquidez FR e Notícias Ruins. Outro ponto interessante de ser destacado é a

não significância dos coeficientes de correlação entre a liquidez e notícias ruins para a

maioria das empresas mais liquidas do ranking, além da correlação fraca, mostrando que

tal tipo de notícia, não tem praticamente relação alguma com a liquidez de tais

empresas. Por último, as empresas WEG e Coteminas, que não possuem nenhuma

notícia ruim nem boa durante este período analisado respectivamente, ficaram com os

coeficientes de correlação da combinação destas variáveis com a liquidez faltando. Isso

se repete para todas as outras análises de correlação.

Page 43: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

32

O mesmo procedimento foi feito para a Medida de Liquidez ILIQ, que está

representado na Tabela 8. Neste caso, os resultados encontrados foram diferentes. Os

resultados do Teste de Significância foram, em sua maioria, negativos, mostrando que

não há significância na maioria das correlações entre a liquidez ILIQ e as notícias. Além

disso, os coeficientes de correlação estão muito próximos de zero ou de correlação nula,

indicando uma correlação muito fraca.

Tabela 8: Análise de Correlação entre liquidez ILIQ e notícias Fonte: Elaboração Própria

Análise Correlação ILIQ e Notícias

ILIQ – Total ILIQ – Boas ILIQ - Ruins

r Significância r Significância r Significância

1 Petrobrás -0,01 Não 0,02 Não -0,06 Não 2 Vale 0,04 Não -0,01 Não 0,08 Não 3 PDG Realty 0,19 Sim 0,06 Não 0,20 Sim 4 Itaú 0,06 Não 0,05 Não 0,03 Não 5 CSN 0,30 Sim 0,16 Sim 0,28 Sim 6 AMBEV 0,00 Não 0,19 Sim 0,06 Não 7 CEMIG 0,15 Não 0,13 Não 0,08 Não 8 ALL 0,08 Não 0,03 Não 0,08 Não 9 Marcopolo 0,00 Não 0,03 Não -0,03 Não 10 Embraer -0,01 Não -0,02 Não 0,01 Não 11 SABESP 0,17 Sim 0,18 Sim 0,08 Não 12 Cosan 0,05 Não 0,07 Não -0,02 Não 13 Souza Cruz 0,03 Não 0,06 Não 0,09 Não 14 Grupo Pão de Açúcar -0,06 Não -0,05 Não -0,04 Não 15 WEG -0,07 Não -0,07 Não - - 16 Coteminas -0,03 Não - - -0,02 Não

Como os resultados da análise de correlação e do teste de significância da

Medida de Liquidez ILIQ com as notícias não foram satisfatórios, pode-se concluir que

esta medida, que leva em consideração o retorno das ações, não tem a relação esperada

pela hipótese testada, sendo rejeitada. Já a Medida de Liquidez FR apresentou

resultados satisfatórios, tendo apenas algumas empresas com coeficientes de correlação

não significantes para todas as notícias. Com isso, foi feito um cálculo para o intervalo

de confiança de tais coeficientes de correlação, que pode ser visto na Tabela 9.

Page 44: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

33

Tabela 9: Intervalo de Confiança do Coeficiente de Correlação entre liquidez FR e notícias Fonte: Elaboração Própria

IC α=10% FR e Notícias

FR – Total FR – Boas FR - Ruins

r LIC LSC r LIC LSC r LIC LSC

1 Petrobrás 0,37 0,27 0,47 0,30 0,20 0,40 0,19 0,09 0,29

2 Vale 0,29 0,19 0,39 0,25 0,15 0,35 -0,06 -0,16 0,04

3 PDG Realty 0,21 0,11 0,32 0,14 0,04 0,25 0,10 0,00 0,20

4 Itaú 0,32 0,22 0,42 0,39 0,29 0,49 -0,02 -0,12 0,08

5 CSN 0,39 0,29 0,49 0,38 0,28 0,47 0,15 0,05 0,25

6 AMBEV 0,42 0,32 0,51 0,33 0,23 0,42 0,30 0,20 0,39

7 CEMIG 0,29 0,19 0,39 0,17 0,07 0,27 0,25 0,15 0,35

8 ALL 0,70 0,62 0,77 0,75 0,67 0,82 0,19 0,12 0,27

9 Marcopolo 0,50 0,40 0,59 -0,01 -0,10 0,08 0,75 0,66 0,84

10 Embraer 0,46 0,37 0,56 0,33 0,23 0,42 0,35 0,26 0,45

11 SABESP 0,23 0,12 0,33 0,15 0,05 0,26 0,17 0,07 0,27

12 Cosan 0,33 0,23 0,43 0,28 0,18 0,37 0,21 0,11 0,31

13 Souza Cruz -0,01 -0,12 0,09 0,28 0,17 0,39 0,16 0,06 0,27

14 Grupo Pão de Açúcar 0,45 0,35 0,54 0,39 0,30 0,49 0,24 0,14 0,33

15 WEG 0,07 -0,03 0,18 0,07 -0,03 0,18 - - -

16 Coteminas -0,03 -0,14 0,07 - - - 0,00 -0,10 0,11

Nesta tabela, estão demonstrados os coeficientes de correlação entre as variáveis

Liquidez FR, Total de Notícias, Quantidade de Notícias Boas e Quantidade de Notícias

ruins, bem como os seus respectivos Limites Inferiores de Confiança (LIC) e Limites

Superiores de Confiança (LSC). Neste caso, para um H de 10% ou índice de confiança

de 90%, os intervalos de confiança são aproximadamente 0,2 para os coeficientes de

correlação. Ou seja, há uma probabilidade de 90% de a correlação analisada estar entre

os limites inferiores e superiores demonstrados.

Complementando a análise de correlação, também foi verificada a correlação

entre notícias boas e ruins. Os resultados com o coeficiente de correlação para cada

empresa, bem como o Teste de Significância com H de 1%, estão demonstrados na

Tabela 10 a seguir. Os coeficientes de correlação entre as notícias boas e ruins

apresentaram correlação fraca, muito próximo da nula. Além disso, a maioria dos seus

testes de significância aceitou a hipótese da correlação nula ( � 0), ou seja, o

coeficiente de correlação não tem significância. Sendo assim, os resultados apontam que

não há correlação entre essas variáveis.

Page 45: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

34

Tabela 10: Análise de Correlação entre Notícias Boas e Ruins Fonte: Elaboração Própria

Análise de Correlação Notícias Boas e Ruins r Significância

1 Petrobrás -0,27 Sim 2 Vale -0,68 Sim 3 PDG Realty -0,08 Não 4 Itaú -0,11 Não 5 CSN -0,04 Não 6 AMBEV -0,18 Sim 7 CEMIG 0,02 Não 8 ALL -0,08 Não 9 Marcopolo -0,02 Não 10 Embraer 0,05 Não 11 SABESP -0,07 Não 12 Cosan 0,04 Não 13 Souza Cruz 0,01 Não 14 Grupo Pão de Açúcar 0,03 Não 15 WEG - - 16 Coteminas - -

Partindo agora para a análise de regressão, como explicado na metodologia,

foram estimados modelos tanto para a média da variação da medida de liquidez, quanto

para a variância. A variação medida de liquidez FR foi escolhida para ser utilizada

como variável dependente dos modelos em oposição à medida ILIQ, pois, como

observado na análise de correlação, não existe uma correlação entre as séries do ILIQ

com as de notícias. Isso também pode ser explicado pelo fato de que, por levar em

consideração no seu cálculo o retorno diário das ações, dado que foi extraído da

Bloomberg, continha muitos valores nulos. Essa grande quantidade de dados nulos

prejudicam o processo de determinação do melhor modelo.

Os testes foram feitos com violação ou não dos pressupostos, a fim de achar os

melhores modelos que explicassem as variáveis. É importante realçar que ao simular os

modelos, foi obtido os valores do teste de Durbin-Watson, descartando a possibilidade

de existência de autocorrelação entre as variáveis. Além disso, as regressões foram

feitas com as séries das empresas que estão no grupo de alta liquidez, no ranking da

medida de liquidez FR e no primeiro grupo, no ranking de notícias no período estudado,

22 de julho de 2013 a 22 de julho de 2014.

Page 46: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

35

Após realizar as estimativas do Modelo 1, que faz a regressão da variável

medida de liquidez FR em relação ao total de notícias, a Tabela 11, abaixo, resume os

resultados obtidos para cada ação. Nela estão listados os coeficientes de regressão ß, os

seus respectivos valores p, o erro-padrão (SE - standard error), os critérios utilizados

para seleção dos modelos (AIC e BIC), o tipo dos modelos de variância que foram

considerados bem sucedidos e a distribuição de probabilidade desses modelos.

Tabela 11: Análise de Regressão para o Modelo 1 (Liquidez FR e Total de Notícias) Fonte: Elaboração Própria

Ação ß1 (p-Valor)

ß2 (p-Valor) AIC BIC SE Modelo

Selecionado Distrib. de

Probabilidade

1 Petrobrás 0.165 0.022

3.24 3.31 1.60 GARCH Normal (0.000) (0.000)

2 Vale - 0.073

3.10 3.14 1.28 ARCH Normal (0.000)

3 Itaú - 0.139

3.55 3.61 1.95 GARCH Normal (0.000)

4 Embraer - 0.626

4.31 4.32 2.08 - - (0.000)

5 SABESP - - - - - - -

6 CSN - 0.799

5.99 6.00 4.82 - - (0.001)

7 AMBEV - 0.110

3.14 3.21 1.64 EGARCH Normal (0.000)

8 PDG Realty - -0.032

3.90 3.97 2.15 EGARCH Normal (0.002)

Pode-se observar que todos os coeficientes de regressão selecionados possuem

significância, a partir do valor nulo dos valores p. Pelos valores do SE e dos critérios de

informação, podemos observar que foram selecionados os modelos com melhor

adequação ao modelo proposto. No caso da Embraer e da CSN, não foi selecionado

nenhum modelo para a variância. Já para a SABESP, não houve modelos satisfatórios

para a média e para a variância. Com esses resultados, pode-se perceber que o total de

notícias divulgadas explica a média e a variância da variação da liquidez, por ter

significância estatística. Porém, a influência é muito baixa, uma vez que os coeficientes

de regressão são muito baixos.

Page 47: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

36

Ao considerar a análise de regressão do Modelo 2, no qual as variáveis

explanatórias são as variáveis Notícias Boas e Notícias Ruins, o mesmo procedimento

feito anteriormente foi realizado. Os resultados dos modelos estimados para explicar as

variações da liquidez, medida pelo FR, através das notícias classificadas como boas e

ruins são mostrados na Tabela 12, da mesma forma que para o Modelo 1.

Tabela 12: Análise de Regressão para o Modelo 2 (Liquidez FR e Notícias Boas e Ruins) Fonte: Elaboração Própria

Ação ß1 (p-Valor)

ß2 (p-Valor)

ß3 (p-Valor) AIC BIC SE Modelo

Selecionado Distrib. de

Probabilidade

1 Petrobrás - 0.068 0.011

3.20 3.27 1.60 GARCH Normal (0.000) (0.574)

2 Vale - 0.109 0.048

3.07 3.13 1.29 ARCH Normal (0.000) (0.006)

3 Itaú -0.084 0.104 0.234

3.49 3.58 1.98 GARCH Normal (0.000) (0.001) (0.000)

4 Embraer -0.218 0.111 0.502

3.07 3.17 2.24 GARCH t-Student (0.000) (0.060) (0.000)

5 SABESP - 0.479 -0.282

4.65 4.74 6.35 EGARCH Normal (0.000) (0.000)

6 CSN - 0.442 0.260

3.28 3.37 4.88 GARCH t-Student (0.000) (0.001)

7 AMBEV 0.290 0.175 0.809

3.71 3.78 1.56 ARCH Normal (0.012) (0.030) (0.000)

8 PDG Realty

- 0.503 0.293 3.79 3.87 2.09 GARCH Normal

(0.004) (0.044)

Os resultados encontrados para o Modelo 2 diferem entre as empresas. Para a

Petrobras, os dados apontam que as notícias boas têm uma influência maior que as

notícias ruins, uma vez que o coeficiente de regressão ß2 apresenta significância

estatística, enquanto o coeficiente ß3 não apresenta. Já a PDG, o melhor modelo

estimado aponta que existe significância estatística do coeficiente de regressão ß2,

enquanto para o coeficiente ß3 a hipótese de significância estatística só pode ser aceita

ao nível de significância de 4%. Isso indica que não existe assimetria com relação ao

tipo de notícia divulgado, mas aponta que existe significância estatística das notícias.

Para as empresas Vale, AMBEV, Itaú e Sabesp, os resultados do melhor modelo

estimado para verificar a assimetria das notícias divulgadas apontam indiferença na

variação da liquidez medida pelo FR, entre as notícias classificadas como boas e ruins,

Page 48: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

37

mas apontam que existe significância estatística das notícias. Para a Embraer e CSN, os

resultados também apontam indiferença e o modelo não é satisfatório. Em suma, não se

pode concluir que a classificação de notícias boas e ruins têm influências diferentes na

liquidez das ações das empresas analisadas.

De uma maneira geral, o que pode ser analisado dos modelos de regressão linear

usados para estimar a média, tanto para o modelo 1 quanto para o modelo 2, é que eles

não são de todo satisfatórios. O modelos de regressão linear testados apresentaram

coeficientes de regressão muito fracos, apesar de ter significância (detectada pelo valor-

p) e valores não tão baixos para os critérios de seleção quanto os esperados, mostrando-

se pouco eficiente para demonstrar o tipo de relação entre a variável dependente e a(s)

explanatória(s). Quanto a isso, podemos fazer três inferências sobre a causa do resultado

obtido com as regressões lineares para a média. O primeiro é que o modelo é

heterocedástico, onde as séries possuem uma variância muito grande em determinados

períodos e, em outros, uma variância mais controlada. Séries relacionadas ao mercado

de ações costumam apresentar o fenômeno chamado de aglomeração de volatilidade e,

pode-se dizer que séries relacionadas a notícias também sofrem esse fenômeno. Como

foi dito por Philip Frases (GUJARATI & PORTER, 2011) e citado anteriormente, uma

vez que dados de séries temporais financeiras refletem, por exemplo, o mercado de

ações, fontes de notícias e outros eventos econômicos também podem ter um impacto

no padrão da série temporal dos preços dos ativos. Como as notícias divulgadas pela

mídia geram diferentes interpretações e julgamentos tendenciosos, pode-se perceber

que, nas séries temporais, grandes observações positivas ou negativas tendem a aparecer

em aglomerados.

Outro fator que pode ter sido o motivo do resultado não satisfatório para esse

tipo de modelo é a possibilidade da série ser não estacionária. Isso porque a variável

dependente escolhida para os modelos, a variação da medida de liquidez FR (volume

negociado), é calculada a partir do produto do volume financeiro e do número de

negócios. Assim, como no caso da série do preço das ações, existem períodos em que o

volume negociado é muito alto e outros em que ele é baixo. Isso pode vir a indicar a

falta de estacionariedade, levando falta de um valor constante para a média, variância e

autocovariâncias (entre dois períodos diferentes).

Page 49: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

38

A terceira e última possibilidade que pode ter levado à falta de adequação de

modelos é a ordem dos acontecimentos. Para a elaboração deste trabalho, partiu-se do

pressuposto que após os investidores lerem a notícia, eles tomariam suas decisões e

fariam as movimentações que aumentariam a liquidez de algumas empresas e

diminuiriam a de outras, englobando nessa ideia o conceito de cascata de

disponibilidade. A cascata de disponibilidade, como explicado no capítulo 2 de

Referencial Teórico, considera que uma notícia de pouca importância gera certa

curiosidade do público, que faz com que tenham mais notícias sobre o assunto, aumente

o interesse do público e, assim, continua de forma cíclica, podendo gerar um frenesi

com consequências de “efeito manada”. Além disso, pode ser possível que

movimentações de grandes investidores, baseados em análises de longo prazo e não em

apenas notícias diárias, causem um impacto grande e acabem por gerar as notícias.

Nesse caso, os meios de comunicação passariam a ter um caráter passivo, com o

objetivo apenas de informar os fatos ocorridos e poderiam causar alterações na

especificação do modelo.

Já, os modelos autorregressivos para estimar a variância, por considerar a

violação dos pressupostos, ou seja, principalmente que o modelo é heterocedástico,

obtiveram resultados melhores nos testes, mas, ainda assim, não houve um consenso de

qual modelo do tipo ARCH (ARCH, GARCH, EARCH ou IARCH) utilizar de forma a

generalizar para todas as empresas.

Page 50: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

39

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou verificar a hipótese da relação entre a liquidez de ações de

empresas do mercado de ações brasileiro e a divulgação de notícias na mídia, mais

especificamente de notícias online divulgadas pelo site Valor Econômico, no período de

22 de Julho de 2013 a 22 de Julho de 2014, a respeito das empresas analisadas no

trabalho. Tal hipótese é fundamentada em estudos sobre a Heurística da

Disponibilidade, na qual os indivíduos atribuem maior peso às informações mais

recentes ou disponíveis no processo decisório, modificando a probabilidade subjetiva de

tal evento de forma tendenciosa.

Através de uma análise estatística de correlação e de regressão entre a variável

medida de liquidez e a variável divulgação de notícias, tanto o total diário de notícias

quanto as notícias discriminadas em boas e ruins, foram constatados os seguintes

resultados: há significância na correlação entre a medida de liquidez FR e as notícias,

apesar dos valores dos coeficientes de correlação apontarem, em sua maioria, para

associações fracas ou moderadas; os resultados obtidos com a estimação dos modelos

de regressão para explicar a variação de liquidez, dada por FR, através do total de

notícias apontam significância estatística dos coeficientes de regressão, ou seja, o total

de notícias divulgadas explica a média e a variância da variação da liquidez, contudo

tais coeficientes de regressão são baixos, indicando baixa influência das variáveis

explanatórias; para o modelo de regressão que busca verificar a existência de uma

assimetria entre as notícias boas em ruins para explicar a variação da liquidez FR,

apesar de estatisticamente significantes, apontam indiferença nos resultados, não se

podendo concluir se existe a assimetria.

Cabe ressaltar a dificuldade encontrada para a coleta de dados para formar a

amostra. As restrições na coleta de notícias limitaram o período de estudo, que fizeram a

amostra representar uma parcela pequena da população. Assim, as conclusões retiradas

deste trabalho poderiam ser melhoradas com uma análise de uma amostra mais

abrangente, com notícias coletadas em mais meios de divulgação para investidores do

mercado de ações, por exemplo, através dos sell sides, como Goldman Sachs, Barclays,

Morgan Stanley, JP Morgan, e jornais/revistas como a Bloomberg e Reuters,

principalmente, e por um período maior de tempo, com agrupamentos para atenuar a

volatilidade das séries. Outra forma de ampliar o estudo seria utilizar um modelo que

Page 51: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

40

consiga captar o possível delay entre a liberação das informações, ou notícias, e a ação

de comprar e vender de ações que impactam na liquidez. Como sugestão de ampliação

deste trabalho, também se pode citar a possibilidade de analisar o mercado como um

todo. Ou seja, calculando a liquidez total, a partir do somatório do volume financeiro e a

quantidade de negociações de todas as principais empresas, e total de notícias

divulgadas sobre estas, testam-se as hipóteses de correlação e assimetria entre notícias

boas e ruins. Também é possível analisar de maneira ainda mais aprofundada se os tipos

de notícias, tais como notícias contábeis, políticas e setoriais entre outras, explicam a

variação da liquidez de formas diferentes, quando classificadas como boas ou ruins.

No que tange aos modelos de análise de regressão, é importante frisar a

dificuldade na escolha de um modelo em absoluto, dados os pressupostos dos modelos

de regressão. A escolha do método, suas abordagens e as diferentes distribuições de

probabilidade que podem ser utilizadas para encontrar o melhor modelo também tornam

o processo mais lento, já que são infinitas combinações que podem ser feitas, sugerindo

que os estudos sobre o tema devem prosseguir e serem constantemente aprimorados.

A partir da análise dos resultados obtidos, pode-se inferir que a relação entre as

notícias divulgadas pelos meios de comunicação e a liquidez das empresas podem ser

oriundas da especulação. As notícias retratam situações que geram especulações e

também podem estar relatando tal especulação. A especulação que move o mercado de

ações, estimulando o processo de compra e venda, é determinante para liquidez dos

ativos financeiros. Em suma, as notícias e a especulação são indispensáveis para

promover liquidez das ações e movimentar o mercado.

Sendo assim, a hipótese sugerida no presente trabalho, sobre a relação entre a

liquidez e a divulgação de notícias, não foi descartada. O estudo mostra que existe certo

grau de associação entre as variáveis analisadas. Porém, conclui-se que os modelos de

regressão linear escolhidos para expor o modo como elas estão relacionadas, apesar de

serem significativos estatisticamente, não relatam da forma mais apropriada e precisa a

influência das notícias na liquidez. Tal fato não invalida futuras análises, pelo contrário,

aponta que as sugestões aqui dadas podem aproximar os modelos da realidade através

de outros métodos de inferência estatística e metodologia na coleta de dados.

Page 52: análise do impacto da divulgação de notícias na liquidez de ações ...

41

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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44

ANEXO A

Tabela 13: Metodologia de classificação das notícias divulgadas. Fonte: Elaboração Própria

GPA Notícia Tipo de Notícia

Classificação

15/7/2014 Receita do Casino cai 1,3% no 2º trimestre, pressionada por câmbio Empresas Boa

14/7/2014 Especulação eleitoral após Copa leva Bovespa ao maior nível em 9 meses Finanças Boa

14/7/2014 Bovespa parece comprar tese de que vexame da seleção prejudicará Dilma Finanças Boa

14/7/2014 Bolsa sobe e dólar cai com especulação sobre pesquisas eleitorais Finanças Ruim

14/7/2014 Família Diniz vende ações do Grupo Pão de Açúcar em leilão na Bolsa Empresas Ruim

11/7/2014 Pão de Açúcar: Receita líquida atinge R$ 15,2 bilhões no trimestre Empresas Boa

18/6/2014 Bovespa vai aos 55 mil pontos, embalada pelo vencimento de opções Finanças Ruim

5/6/2014 Bovespa cede à pressão vendedora mesmo após surpresa positiva com BCE

Finanças Boa

5/6/2014 Após euforia com BCE, Bovespa sofre pressão vendedora Finanças Boa

4/6/2014 Depois de quatro anos, Carrefour volta a abrir lojas no Brasil Empresas Ruim

2/6/2014 Dados industriais da China e dos EUA impulsionam juros e dóla Finanças Boa

15/5/2014 As razões que lebam o brasileiro a se tornar sócio da rede Empresas Boa

13/5/2014 Presidente do Carrefour descarta hiótese de Abilio integrar conselho Empresas Boa

13/5/2014 Abilio se torna acionista do Carrefour Carreira Neutra

7/5/2014 Leia as manchetes de hoje dos principais jornais brasileiros Brasil Boa

6/5/2014 Casino anuncia plano de união da Nova Pontocom e Cdiscout Empresas Boa

6/5/2014 Bovespa avança com nova onda de rumores sobre pesquisas eleitorais Finanças Boa

6/5/2014 Boato eleitoral volta à cena e faz Ibovespa encostar nos 54 mil pontos Finanças Boa

30/4/2014 Grupo Pão de Açúcar pode operar franquias de supermercados no país Empresas Boa

29/4/2014 Lucro líquido do Pão de Açúcar sube 3,1% no 1º trimestre Empresas Boa

17/4/2014 Francisco Valim deixa presidência da Via Varejo Empresas Ruim

11/4/2014 Receita do Pão de Açúcar fica perto de R$ 15 bilhões no trimestre Empresas Boa

7/4/2014 Casino eleva participação direta e indireta no Pão de Açúcar Empresas Boa

4/4/2014 Bovespa devolve ganhos no dia, mas sobe 2,6% na semana Finanças Boa

4/4/2014 Bovespa devolve ganhos pressionada por forte correção em Nova York Finanças Boa

26/3/2014 Pão de Açúcar cresce mais que concorrentes e lidera ranking do setor Empresas Boa

14/3/2014 Abilio Diniz nega que esteja negociando sociedade com Carrefour Empresas Boa

3/3/2014 Recibos de ações de empresas brasileiras têm queda na bolsa de NY Finanças Ruim

18/2/2014 Casino quer manter avanço em loja de conveniência e atacado no Brasil Empresas Boa

18/2/2014 Lucro do Casino cai quase 20% em 2013 Empresas Ruim

14/2/2014 Bovespa registra ganho na semana e sustenta os 48 mil pontos Finanças Boa

14/2/2014 Bolsa recupera os 48 mil pontos com ALL, Cosan e BM&FBovespa Finanças Boa

14/2/2014 Destaques Empresas Boa

13/2/2014 Via Varejo tem forte alta no lucro Empresas Boa

12/2/2014 Klein busca novos negócios para investir Empresas Boa

11/2/2014 CVM cobra R$ 250 mil de Abilio Diniz para encerrar processo Empresas Neutra

5/2/2014 Unilever é maior anunciante do país pelo segundo ano consecutivo Empresas Boa

4/2/2014 Grupo Pão de Açucar é a varejista com mais reclamações em 2013 Empresas Ruim