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Análise do Retorno de Ações Ordinárias das Companhias Petrobras e Vale por Ocasião
da Troca de Presidentes
Autores: Larissa R. Terra, Márcio Mellaci, Eduardo N. Kawabuchi, Cirineu Costa
Instituição: PUC – SP.
RESUMO
O artigo tem como objetivo, analisar o impacto no valor das ações ordinárias da
Petrobrás e da Vale, na data de posse de seus novos presidentes no período de 2001 a 2011. É
um tema de relevância crescente, considerando a importância destas companhias no mercado
brasileiro e a contribuição destas ações para a composição do índice da bolsa de valores de
São Paulo. Portanto, a pesquisa visa verificar se houve geração de retornos anormais,
estatisticamente significativos, nas ações PETR3 e VALE3. Para efetivar a análise, utilizou-se
a metodologia de estudo de eventos, empregada por Campbell, Lo e Mackinley (1997), para
comparação da diferença na média dos retornos anormais (anteriores e posteriores ao evento).
Foi estabelecido o nível de significância de 5% para validação dos resultados. Para os cálculos
dos retornos anormais e análise dos testes estatísticos foi utilizado o software Microsoft Excel
Office 2010. Concluímos que o p-value indica a ocorrência de retornos anormais somente nas
janelas da Vale em 2011, o que contraria a tese de que o mercado reagiu de forma eficiente.
Deve-se destacar a destruição da riqueza dos investidores das ações ordinárias da Vale em
2011 em 2,16% no período pós o evento.
Palavras-Chave: Troca de Presidente, Mercado de Capitais, Estudo de Evento.
ABSTRACT
This article analyzed the impact on the value of the common stock of Petrobras and
Vale, in the date of possession of their new president in the period from 2001 to 2011. It is a
subject of increasing relevance, considering the importance of these companies in the
Brazilian market and the contribution of these actions to the composition of Bovespa index.
Therefore, the research aims to determine if happened abnormal returns, statistically
significant in PETR3 and VALE3. To do the analysis, we used the event study methodology,
employed by Campbell, Lo and Mackinley (1997), for comparing the difference in average
abnormal returns (before and after the event). We used the significance level of 5%, to
validate the results and to calculate the abnormal returns and for the analysis of the statistical
tests we used the software Microsoft Office Excel 2010. We conclude that the p-value
indicates the occurrence of abnormal returns only in the Vale windows in 2011, which
counters the view that the market didn´t reacted efficiently. It is worth mentioning the
destruction of wealth for investors of Vale stocks in 2011 equivalent to 2.16% in the period
after event.
Keywords: Exchange for President, Stock Market, Event Study.
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1. INTRODUÇÃO
Em abril de 2011, a Vale passou por uma troca de presidente muito polêmica, com a
substituição de Roger Agnelli por Murilo Pinto, o que envolveu interesses políticos. Tanto os
acionistas controladores quanto o mercado financeiro em geral, não achavam necessária a
substituição do presidente. Seus resultados eram excelentes para a companhia, porém ele nem
sempre compartilhava os mesmos interesses do governo. Existia, para o mercado financeiro, o
temor sobre o grau de influência que o governo poderia ter sobre as decisões do novo
presidente.
Diante de um evento tão importante para o mercado nacional, algumas dúvidas foram
levantadas: o processo de substituição na estrutura diretiva das empresas pode causar ganhos
ou perdas de capital e impactar na rentabilidade dos ativos? Até que ponto a saída de um
presidente (CEO-chief executive officer) impacta sobre o desempenho das ações de empresas
de capital aberto? Visando responder essas perguntas, o presente artigo analisa o impacto no
valor das ações ordinárias das duas maiores empresas do país, a Petrobras (PETR3) e Vale
(VALE3) na data da posse de seus novos presidentes entre 2001 e 2011. Durante o período
ocorreram duas trocas no comando da Vale, em 2001 e 2011 e na Petrobras ocorreram três
alterações no comando, em 2002, 2003 e 2005.
Na Petrobrás serão analisadas as posses e as substituições dos seguintes CEO’s:
Henri Philippe Reichstul (24Mar1999-21Dez2001)
Francisco Roberto André Grós (02Jan2002-02Jan2003)
José Eduardo Dutra (02Jan2003-22Jul2005)
Sérgio Gabrielli (atual)
E na Vale serão analisadas as posses e as substituições dos seguintes CEO’s:
Roger Agnelli (2001-2011)
Murilo Pinto de Oliveira Ferreira (atual)
Em face da importância das companhias Petrobras e Vale para o mercado brasileiro e
da relevante contribuição destas ações para a composição do índice da bolsa de valores de São
Paulo, acreditamos que o tema trará uma importante contribuição teórica para a academia.
Dessa maneira, a pesquisa verifica se houve geração de retornos anormais, estatisticamente
significativos, nas ações PETR3 e VALE3.
1.1 Metodologia
Optou-se pela aplicação da técnica de estudo de eventos, empregada por Campbell, Lo
e Mackinley (1997), para verificar a ocorrência de retornos anormais estatisticamente
significativos, nas ações ordinárias das empresas Vale (Vale3) e Petrobras (Petr3) na data
imediatamente subsequente a posse dos novos presidentes no período de 2001 a 2011. A
amostra é composta pelas ações ordinárias das empresas Vale e Petrobras e o período de teste
compreende as janelas de 1, 3, 5 e 10 dias imediatamente anteriores e posteriores ao evento da
troca de presidentes.
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1.2 Hipótese Testada
H0 – Ocorrência de retorno normal estatisticamente significativo, interpretado pelo
coeficiente de significância p-value, após a ocorrência do evento.
A hipótese alternativa seria:
H1 – A não ocorrência de retorno normal estatisticamente significativo, interpretado
pelo coeficiente de significância p-value, após a ocorrência do evento.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Risco Não Sistemático
Os primeiros modelos gerais para risco e retorno eram em grande parte subjetivos e
variavam bastante de investidor para investidor. Com o desenvolvimento da moderna teoria
de carteiras no início dos anos 50, surgiram modelos quantitativos e específicos de projeções
de risco e retorno que tem sido amplamente aceitos (DAMODARAN, 1997). As finanças
modernas aceitam duas formas de risco: o sistemático e o não sistemático. O risco não
sistemático, afeta um pequeno número de ativos e pode ser atenuado ou eliminado através da
diversificação de carteiras, é a parcela do risco total não influenciada pelas variáveis
econômicas e sim por fatores específicos pelo qual as empresas podem passar.
Segundo Ross, Westerfield e Jordan (2008), o risco não sistemático pode ser
eliminado sem custos pela empresa, por isso, esse risco não possui prêmio, já que o mercado
não premia os riscos corridos desnecessariamente. Já o risco sistemático trata das incertezas
quanto à situação econômica geral ou forças às quais as empresas estão sujeitas, por exemplo,
o PIB, taxas de juros ou a inflação e que não pode ser eliminado através da diversificação dos
investimentos. Portanto independentemente do número de ativos que colocamos em uma
carteira, o risco sistemático não vai desaparecer. A medida utilizada para avaliar a quantidade
de risco em um ativo em relação a um ativo com risco médio é o coeficiente beta.
2.2 Hipótese do Mercado Eficiente
O conceito foi formalmente proposto por Fama (1970). Um mercado de capitais
eficiente é um mercado que fornece sinais precisos para alocação de recursos. Os investidores
podem tomar decisões sob a suposição de que o mercado estabelece um preço justo ao ativo e
a qualquer momento mudanças de informações refletem imediatamente no preço. Para o autor
na HME (hipótese de mercado eficiente) os agentes possuem um comportamento racional
ilimitado e expectativas homogêneas, todos têm a mesma distribuição de probabilidades dos
retornos dos ativos já que as informações econômicas estão disponíveis a todos.
Para Van Horne (1995) um mercado eficiente tem definição semelhante àquele que
utiliza todas as informações relevantes e disponíveis na economia para estabelecimento do
preço de um título e, consequentemente, se houver mudanças no ambiente os preços dos
ativos se ajustam instantaneamente. Basicamente essa hipótese acredita que não é possível
usar preços passados para prever preços futuros. Ainda que o investidor preste atenção a
novas informações, no momento em que é capaz de percebê-las os preços já estarão
reajustados. Para os autores Ross, Westerfield e Jordan (2008), o conceito de HME é “um
mercado no qual os preços dos títulos refletem as informações disponíveis”. São mercados de
capitais bem organizados como a bolsa de Nova Iorque que, na prática, é um mercado
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considerado eficiente onde podem existir ineficiências, mas elas são relativamente pequenas e
pouco comuns.
É possível verificar três formas de eficiência, segundo Ross, Westerfield e Jordan
(2008), que se distinguem de acordo com o grau de eficiência do mercado. São elas: fraca,
semiforte ou forte. Um mercado eficiente de forma forte é aquele em que todas as
informações, públicas ou privadas, estão refletidas no preço da ação. Já um mercado eficiente
de forma semiforte, acontece quando só as informações públicas, como as extraídas das
demonstrações financeiras, estão refletidas no preço atual da ação. E por último um mercado
eficiente de forma fraca é aquele que no mínimo o preço atual da ação reflete os preços
passados, ou seja, incorporam informações públicas passadas.
Um dos motivos para a utilização do conceito de mercado de capitais eficientes para
esse estudo é por conta da metodologia utilizada, estudo de evento. Como afirma McWilliams
e Siegel (1997), em um mercado eficiente qualquer informação financeira relevante que acaba
de ser revelada para investidores é instantaneamente incorporada aos preços das ações.
Portanto, como um evento é algo resultante de novas informações relevantes, um pesquisador
pode identificar eventos significativos por seu impacto sobre os preços das ações das
empresas, definindo um período de dias durante o qual o impacto do evento será medido, ou
seja, a janela do evento. A hipótese de mercado eficiente deve ser conciliada com uma janela
de evento relativamente curta, já que o efeito do evento deve ser incorporado rapidamente no
preço das ações, caso contrário a utilização do método de estudo de evento é inadequado.
Damodaran (1997) trabalha as evidências de estudos relacionados à eficiência de
mercado. Em geral os resultados obtidos são contraditórios. O consenso na área está entre a
visão de que o mercado na maioria das vezes é eficiente e a visão de que há ineficiências
significativas no mercado financeiro. A conclusão do autor é que existem evidências fortes de
irregularidade no comportamento do mercado financeiro que estão relacionadas com os
fatores de risco sistemáticos.
Para finalizar o tema, existem teóricos que contestam a ortodoxia do mercado de
capitais eficiente na área da ciência financeira, como Costa (2008, p. 118-120), que acredita
que a substituição da HME como paradigma principal está próxima, já que essa teoria não
soluciona mais os problemas levantados na área, portanto esse paradigma se encontra no
limite da evolução. Ele evidencia como um dos possíveis candidatos a substituir a HME, as
finanças comportamentais, que surge como uma tentativa de melhor resolução dos contra-
exemplos, assunto que será aprofundado a seguir.
2.3 Finanças Comportamentais
Essa vertente tem ganhado cada vez mais espaço na área de finanças. Começou com
uma publicação dos psicólogos Kahneman e Tversky (1979), em um trabalho que apresenta
uma crítica à teoria da utilidade esperada e a tomada de decisão baseada no risco, o que era
uma afronta a hipótese de mercado eficiente, assim abrindo espaço ao início do conceito de
finanças comportamentais.
Para iniciar a definição do tema é importante ressaltar os estudos de Costa (2008),
onde defende o conceito emergente de novas finanças, ele acredita que a ciência financeira
moderna pode estar passando por uma revolução científica, já que seu paradigma principal, a
HME, está em crise, o que pode resultar no surgimento de um novo paradigma baseado nas
finanças comportamentais ou na teoria do caos. As finanças comportamentais visam explicar
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e entender as decisões financeiras dos agentes e o comportamento do mercado, através de
conceitos presentes na economia, psicologia e sociologia e se apresenta como a melhor das
promessas para a resolução dos contra-exemplos.
Diferente da hipótese de mercado eficiente, as finanças comportamentais não explicam
o comportamento financeiro baseando-se apenas na concepção de risco. Além disso, as
finanças comportamentais se dividem em dois grupos: vieses no processo cognitivo (de
tomada de decisões) e limites ao aprendizado. Vieses no processo cognitivo se referem a
todos os processos inerentes a natureza humana, como o conjunto dos processos mentais no
pensamento e na percepção, ou seja, a forma como a nossa natureza limita a percepção de um
problema e a da tomada de decisão sobre ele, os quais não são possíveis de serem eliminados
do ser humano. Limites ao aprendizado são limites naturais humanos que impedem o
indivíduo de aprender com os erros e errar cada vez menos, está relacionado a experiências
externas durante a vida e podem ser reduzidos com o tempo (MILANEZ, 2003).
De acordo com El-Erian (2008) nosso comportamento e a capacidade para tomada de
decisões são guiados pela junção de diferentes sistemas neurológicos, que em algum momento
podem estar sujeitos à tensão interior e a resultados conflitantes, o que impede o homem de
ser guiado unicamente pela racionalidade ilimitada, explicação que complementa a crença das
finanças comportamentais. No entanto, Santos e Santos (2005) explanam sobre a dicotomia
entre o pensamento racional, que acredita que é técnica e padronizado a ação de investidores
no mercado e as novas correntes de pensamento que acreditam que a realidade não pode ser
racionalmente determinada, já que a alta complexidade das relações entre os indivíduos não
possibilitam que o investidor analise todo o conjunto de informações disponíveis para tornar
somente racional sua decisão de investimento.
Na defesa do tema, Costa (2008) acredita que nas finanças comportamentais os
elementos que contradizem a racionalidade não são irrelevantes, já que podem produzir
desvios notáveis no comportamento do mercado. A hipótese do mercado eficiente acredita
que existem indícios prejudiciais ao exercício da racionalidade total, mas não acredita que
esses desvios são grandes o suficiente para afetar consideravelmente o comportamento do
mercado. Portanto, as finanças comportamentais além de desacreditar na racionalidade
ilimitada do ser humano, procuram estudar as emoções e limitações cognitivas que podem
influenciar o agente no processo de decisão sobre um investimento e identificar a forma como
esses fatores impactam o desempenho do mercado financeiro.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 Introdução
Na investigação do impacto da mudança na presidência das empresas Vale e Petrobras
sobre os retornos de ações ordinárias durante o período de 2001 a 2011, utilizou-se a
metodologia de Estudo de evento. Segundo Corrado (2009) o estudo de evento vem se
tornando muito comum para pesquisas no mercado de capitais, com número crescente de
artigos especialmente em revistas e jornais especializados. Trata-se de um método que
consiste na verificação da influência de determinados eventos no desempenho das empresas,
através da investigação dos efeitos e reflexos no mercado de títulos da empresa (SOARES,
ROSTAGNO e SOARES, 2002).
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Campbell, Lo e Mackinley (1997) definem estudo de evento como o método pelo qual
é possível medir o efeito de um evento econômico no valor de uma determinada empresa e
utiliza um modelo de geração de retorno de ações, considerado padrão, denominado de
retorno normal ou esperado, que é tido como o retorno que o título teria caso o evento não
ocorresse. Depois disso, para identificar um comportamento anormal nos períodos próximos a
um evento específico analisado, calcula-se a diferença entre o retorno esperado fornecido pelo
modelo e o retorno observado no período de análise. Isto é, focaliza-se a determinação de
retornos anormais de títulos nos dias próximos ou na data do anúncio de um evento. Esse
retorno anormal é considerado um desvio dos retornos dos títulos ex ante não condicionados
ao evento (KLOECKNER, 1995).
O fato de a variância dos retornos aumentarem quando próxima à data de divulgação
do evento, indica que este contém informações relevantes. Tal método é possível e eficaz em
decorrência da hipótese que, devido à racionalidade do mercado, o efeito de um evento será
refletido imediatamente nos preços dos ativos.
A utilização do estudo de evento nesta pesquisa visou:
Testar a hipótese nula de que o mercado eficientemente incorpora novas informações,
sejam elas esperadas ou não esperadas; e
Examinar o impacto de um determinado evento na riqueza dos acionistas de uma
determinada empresa mantendo-se a hipótese de mercado eficiente.
3.2 Amostra Pesquisada e Banco de Dados
Para este estudo foram utilizadas as ações ordinárias das empresas Vale e Petrobras no
período de 2001 a 2011. A amostra analisada é composta por duas das principais empresas
listadas na bolsa de Valores de São Paulo e somente suas ações ordinárias representam
5,652% da carteira teórica do Ibovespa em 31de maio de 2011, sendo 2,907% da PETR3
(Petrobras ON) e 2,745 da VALE3 (Vale ON). Neste período ocorreram trocas no comando
da Vale em 2001 e em 2011, já na Petrobras ocorreram alterações no comando em 2002, 2003
e 2005.
Os retornos das ações obtidos do banco de dados Yahoo Finance. No cálculo dos
retornos das ações ordinárias, foram utilizados os valores de mercado das empresas (cotações
de fechamento diárias das ações ordinárias multiplicadas pela quantidade de ações da
empresa) e comparados com o retorno do IBOVESPA.
3.3 Períodos de Análise
Foram formadas, a partir da ocorrência do evento mudança na presidência das
empresas, diferentes janelas de tempo, compostas de períodos em dias, para avaliar o
comportamento dos retornos das ações ordinárias antes e após a ocorrência do evento. Para
extrair considerações e avaliar o comportamento do preço das ações ordinárias foram
selecionadas inicialmente quatro janelas antes e após o evento sistêmico. São elas: [-1; +1], [-
3; +3], [-5; +5] e [-10; +10].
A escolha dessas quatro janelas visou avaliar se, de fato, o mercado incorpora
imediatamente e de forma eficiente as novas informações no preço das ações (janelas [-1; +1],
[-3; +3] e [-5; +5]), sejam elas esperadas ou não esperadas, ou se isso ocorre de forma mais
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demorada – daí a inclusão das janelas [-10; +10]. Em princípio, o resultado esperado era que
não ocorressem retornos anormais em razão da mudança na presidência destas empresas.
3.4 Retornos Normais e Anormais
O estudo de evento consiste em avaliar o comportamento de uma variável qualquer a
partir de um evento específico. A principal idéia é calcular se o evento ocorrido gerou algum
desvio no resultado esperado. Este desvio no resultado esperado é mais conhecido por retorno
anormal (RA). Segundo Vachadze (2001), esta metodologia se tornou uma aplicação
estatística muito utilizada em finanças e que outros profissionais aplicam para estimar o
impacto de diferentes divulgações de informações no preço de ações.
Como o foco da pesquisa é analisar o retorno anormal dos títulos (RAit) ao redor de
determinado evento, dado um modelo de determinação de retornos normais, utilizou-se a
seguinte fórmula:
RAit = Rit – E(Rit) (1)
Rit é o retorno observado, E(Rit) o retorno calculado pelo modelo e t o tempo do
evento. O retorno normal (Rit) foi calculado utilizando-se o Modelo de Retornos Ajustados ao
Mercado, descrito por Camargos e Barbosa (2003), que consiste em encontrar a diferença do
retorno da ação em relação ao retorno do índice de mercado, neste caso a BOVESPA (Brasil),
S&P500 (EUA) e a FTSE (Inglaterra), numa mesma data utilizando-se a forma logarítmica.
O uso do logaritmo natural visa obter uma melhor aderência à distribuição normal dos
retornos, premissa dos testes estatísticos paramétricos (SOARES; ROSTAGNO; SOARES,
2002), conforme mostra a expressão a seguir:
O modelo é expresso por:
RAit = LN [ (Pt+1/Pt0) / (It+1/ It0) ] (2)
Que pode ser reescrita como:
RAit = LN (Pt+1/Pt0) - LN (It+1/ It0) (3)
Sendo:
Pt0: valor de mercado a preço corrente das empresas na data-base;
Pt+1: valor de mercado a preço corrente das empresas em um dia t posterior;
It0: cotação do índice de mercado em uma database;
It+1: cotação do índice de mercado em um dia t posterior.
Uma vez calculados os retornos anormais, estes foram acumulados (somados) em cada
um dos dias relativos para todas as empresas, para então proceder-se aos testes estatísticos. A
agregação dos retornos anormais foi realizada pela técnica do Retorno Anormal Acumulado
(RAA), conforme assinalado por Campbell, Lo e Mackinlay (1997), e os retornos foram
acumulados no tempo (Equação 4) e pelos títulos (Equação 5):
( ) ∑ (4)
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( )
∑ ( ) (5)
3.5 Procedimento para Validação do Teste
Para a validação dos resultados, utilizou-se o nível de significância de 5%. A hipótese
do aumento da riqueza seria confirmada se a diferença estatística entre as médias fosse
comprovada e a média posterior fosse superior à média anterior. Para a preparação dos dados,
dos cálculos dos retornos anormais e da análise dos testes estatísticos utilizaram-se o software
Microsoft Excel Office 2010.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
A tabela de comparação entre os retornos das ações antes e depois do evento
demonstra que na janela [-1,+1], praticamente todas as ações ordinárias tiveram uma queda no
seu retorno, demonstrando que o mercado costuma reagir negativamente logo após a
ocorrência do evento. Na Janela [-3,+3], o mercado apresenta uma recuperação em relação à
queda inicial do retorno. Isso demonstra que o mercado começa a estabilizar os valores das
ações dentro de um curto espaço de tempo (três dias após o evento), sinal de eficiência de
mercado. Nas demais janelas, os valores obtidos não nos remetem a conclusões objetivas.
Tabela 1: Janelas de comparação de retornos antes e após os eventos
Janela
Dias
Relativos Vale 2001 Vale 2011
Petrobras
2002
Petrobras
2003
Petrobras
2005
[-1] 4,95% -0,21% 1,23% 1,54% 2,15%
1 [+1] -5,51% -2,02% 1,51% -0,61% -0,91%
variação -10,47% -1,81% 0,27% -2,15% -3,05%
[-3,-1] 4,16% -2,59% 5,05% -2,63% 2,69%
2 [+1,+3] -1,89% -3,40% 1,23% 1,63% 0,80%
Desvio -6,05% -0,81% -3,82% 4,26% -1,89%
[-5,-1] 1,37% 0,02% 5,05% -2,63% -0,34%
3 [+1,+5] -0,06% -4,65% -0,27% 6,75% 1,34%
Desvio -1,43% -4,67% -5,31% 9,38% 1,68%
[-10,-1] 0,23% 0,34% 8,34% 5,94% -1,07%
4 [+1,+10] -5,39% -2,16% -7,35% 10,47% 5,91%
Desvio -5,62% -2,50% -15,69% 4,53% 6,98%
Fonte: Elaborado pelos autores. Verifica-se pela análise da tabela de resumo dos testes estatísticos do estudo de
eventos, que o p-value indica a ocorrência de retornos anormais somente em janelas da Vale
em 2011, o que demonstra que o mercado reagiu eficientemente em todos os evento com
exceção ao evento de 2011. Os retornos anormais acumulados obtidos em 2011 demonstram
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que, no prazo de 10 dias pós-evento, são estatisticamente significativos. Deve-se destacar a
destruição da riqueza dos investidores de ações ordinárias da Vale em 2011 em 2,16% no
período analisado.
Tabela 2: Resumo dos testes de estudo de eventos Empresa Vale 2001 Vale 2011 Petrobras 2002 Petrobras 2003 Petrobras 2005
Dias
Relativos p-Value RAA p-Value RAA p-Value RAA p-Value RAA p-Value RAA
[+1] 0,8381 -3,27% 0,0457 5,18% 0,2067 4,70% 0,8699 -4,09% 0,4131 0,90%
[+1,+3] 0,7154 0,13% 0,0543 5,73% 0,2678 3,81% 0,8589 -4,47% 0,4437 1,21%
[+1,+5] 0,5614 1,70% 0,0561 6,90% 0,2948 2,55% 0,7669 0,49% 0,4261 0,51%
[+1,+10] 0,5762 -4,40% 0,0428 9,74% 0,4323 -3,90% 0,5374 4,58% 0,3546 3,61%
Fonte: Elaborado pelos autores.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal do artigo foi analisar, se as mudanças nos cargos de presidência
das companhias Petrobrás e Vale, contribuíram para a geração de retornos anormais
estatisticamente significativos nas suas ações ordinárias. As ações ordinárias destas duas
empresas representam 5,652% do volume de ações negociadas na BOVESPA.
Na Petrobrás foram analisadas as posses e as substituições dos seguintes CEO’s:
Henri Philippe Reichstul (24Mar1999-21Dez2001)
Francisco Roberto André Grós (02Jan2002-02Jan2003)
José Eduardo Dutra (02Jan2003-22Jul2005)
Sérgio Gabrielli (atual)
Na Vale foram analisadas as posses e as substituições dos seguintes CEO’s:
Roger Agnelli (2001-2011)
Murilo Pinto de Oliveira Ferreira (atual)
A Petrobrás, historicamente, teve presidentes não oriundos do ramo petrolífero e a
transição entre os quatro últimos foi realizada sem muito nervosismo no mercado financeiro.
A empresa é sólida e possui corpo técnico competente, o que ajuda nas transições dos cargos
de presidência.
Nas ações da Vale, foi detectado retorno anormal na janela que abrange a substituição
de Roger Agnelli por Murilo Pinto. O que pode ter ocorrido, devido ao fato que os acionistas
controladores e o mercado em geral não achavam necessária a substituição do presidente
anterior, pois ele apresentava resultados excelentes para a companhia. Como Roger Agnelli
não preparou um substituto da casa e a decisão ficou a cargo de headhunters, o resultado foi
que o mercado temia uma politização na sua substituição devido ao empenho do governo na
campanha de substituição.
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Portanto, considerando o teste p-value, a hipótese H0 não foi confirmada, ou seja,
ocorreram retornos anormais estatisticamente significativos nas ações ordinárias da Vale em
2011, o que indica que o mercado não reagiu de forma eficiente após a ocorrência do anúncio
da troca de presidente.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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