Analise Mecanismos(Alberto)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ANÁLISE COMPARATIVA DE MECANISMOS DE COMPRESSÃO PARA APLICAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO DOMÉSTICA Dissertação submetida à UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA para obtenção do grau de MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA ALBERTO RÉGIO GOMES Florianópolis, novembro de 2006.

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Dissertação compressores

Transcript of Analise Mecanismos(Alberto)

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

    ANLISE COMPARATIVA DE MECANISMOS DE COMPRESSO PARA

    APLICAO EM REFRIGERAO DOMSTICA

    Dissertao submetida

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    para obteno do grau de

    MESTRE EM ENGENHARIA MECNICA

    ALBERTO RGIO GOMES

    Florianpolis, novembro de 2006.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

    ANLISE COMPARATIVA DE MECANISMOS DE COMPRESSO PARA

    APLICAO EM REFRIGERAO DOMSTICA

    ALBERTO RGIO GOMES

    Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do ttulo de

    MESTRE EM ENGENHARIA

    ESPECIALIDADE ENGENHARIA MECNICA rea de Concentrao de Engenharia e Cincias Trmicas

    sendo aprovada em sua forma final.

    _____________________________________________________ Prof. Csar Jos Deschamps - Orientador

    _____________________________________________________ Prof. Fernando Cabral - Coordenador do Curso

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________________ Prof. Alvaro Toubes Prata - Presidente

    _____________________________________________________ Prof. Jos Antnio Bellini da Cunha Neto

    _____________________________________________________ Prof. Jader Riso Barbosa Junior

  • ii

    Tudo que est no plano da realidade

    j foi sonho um dia.

    Leonardo da Vinci

  • iii

    Aos meus pais, Olivrio e Denise,

    e aos meus irmos, Alexandre e Deh,

    pela presena e pelos grandes ensinamentos.

    A Lari, pelo

    carinho e presena.

  • AGRADECIMENTOS

    A CAPES e a Whirlpool S.A. Unidade Embraco, pelo financiamento deste trabalho;

    Ao professor Csar Jos Deschamps, pela competente orientao e dedicao, cuja

    contribuio com certeza transcende este trabalho;

    Aos membros da Banca Examinadora, pela disposio em avaliar este trabalho;

    Aos grandes amigos Allan, Gustavo, Felipe e Chieh, pelos ensinamentos, amizade e

    grandes momentos de alegria;

    Aos colegas do POLO Evandro, Kremer, Moiss, Juliano, pela amizade, discusses e

    conhecimentos compartilhados, e a Isabel, Diego e Fabiano pela contribuio direta

    na realizao deste trabalho;

    A todos demais professores e integrantes do POLO pela companhia;

    Aos Eng. Fabrcio, Anfilfilo, Eng. Wilfred, Eng. Ribas, Eng. Fabian, Eng. Rinaldo

    Dietmar e a todos da Whirlpool S.A. Unidade Embraco pelas discusses e

    conhecimentos compartilhados ao longo deste trabalho.

    Ao corpo docente do Programa de Ps Graduao em Engenharia Mecnica pelos

    conhecimentos transmitidos e esforo continuado na busca do saber;

    A todos aqueles que ajudaram na motivao, discusses e entusiasmos ao longo desta

    importante fase de minha vida.

  • SUMRIO

    LISTA DE SMBOLOS viii

    RESUMO xiv

    ABSTRACT xv

    CAPTULO 1 - INTRODUO 1

    1.1. Mecanismos de Compresso ......................................................................................2

    1.2. Objetivos .................................................................................................................11

    CAPTULO 2 - REVISO BIBLIOGRFICA 12

    2.1. Compressor Alternativo ...........................................................................................12

    2.2. Compressor de Pisto Rolante..................................................................................14

    2.3. Compressor de Espirais (Scroll)...............................................................................16

    2.4. Anlise Comparativa de Mecanismos de Compresso ..............................................18

    2.5. Escopo do Trabalho .................................................................................................18

    CAPTULO 3 - MODELOS MATEMTICOS 20

    3.1. Modelagem Matemtica do Compressor Alternativo................................................21

    3.1.1. Volume da cmara de compresso.............................................................................................21

    3.1.2. Propriedades termodinmicas do fluido refrigerante .................................................................23

    3.1.3. Dinmica das vlvulas ...............................................................................................................27

    3.1.4. Fluxo de massa atravs das vlvulas ..........................................................................................28

    3.1.5. Fluxo de massa pela folga entre pisto e cilindro ......................................................................30

    3.2. Modelagem Matemtica do Compressor de Pisto Rolante ......................................31

    3.2.1. Volumes das cmaras de suco e de compresso .....................................................................32

    3.2.2. Propriedades termodinmicas do fluido refrigerante .................................................................35

    3.2.3. Dinmica das vlvulas ...............................................................................................................38

    3.2.4. Fluxo de massa atravs do orifcio de suco e da vlvula de descarga ....................................38

  • Sumrio vi

    3.2.5. Fluxo de massa atravs da folga mnima ...................................................................................38

    3.2.6. Fluxo de massa atravs das folgas laterais da palheta................................................................39

    3.2.7. Fluxo de massa atravs da folga de superfcie do pisto rolante................................................41

    3.2.8. Fluxo de massa atravs da palheta entre as cmaras ..................................................................42

    3.3. Modelagem Matemtica do Compressor de Espirais (Scroll)....................................43

    3.3.1. Volume das cmaras de compresso..........................................................................................44

    3.3.2. Propriedades termodinmicas do fluido refrigerante .................................................................47

    3.3.3. Dinmica das vlvulas ...............................................................................................................50

    3.3.4. Fluxo de massa atravs da vlvula de descarga .........................................................................50

    3.3.5. Fluxo de massa atravs da folga de topo....................................................................................50

    3.3.6. Fluxo de massa atravs da folga de flanco.................................................................................51

    3.4. Avaliao de Desempenho dos Compressores..........................................................52

    3.4.1. Perda de capacidade e eficincia volumtrica............................................................................54

    3.4.2. Perdas de energia e eficincia isentrpica..................................................................................55

    3.5. Concluso................................................................................................................57

    CAPTULO 4 - METODOLOGIA NUMRICA 58

    4.1. Consideraes Iniciais .............................................................................................58

    4.2. Compressor Alternativo ...........................................................................................59

    4.3. Compressor de Pisto Rolante..................................................................................63

    4.4. Compressor de Espirais ( Scroll ) .............................................................................69

    4.5. Validao.................................................................................................................74

    4.6. Procedimentos de Otimizao..................................................................................77

    4.6.1. Introduo ..................................................................................................................................78

    4.6.2. Algoritmos de otimizao ..........................................................................................................80

    4.6.3. Metodologia de otimizao adotada...........................................................................................87

    4.7. Concluso................................................................................................................89

    CAPTULO 5 - RESULTADOS E DISCUSSES 91

    5.1. Consideraes Iniciais .............................................................................................91

  • Sumrio vii

    5.2. Resultados ...............................................................................................................93

    5.2.1. Anlise das perdas de capacidade ..............................................................................................96

    5.2.2. Anlise das perdas de energia ..................................................................................................101

    CONCLUSES GERAIS 114

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 117

  • LISTA DE SMBOLOS

    Smbolos Gerais

    Smbolo Descrio Unidades

    a Raio do crculo de base da curva evolvente [m]

    A4 rea da regio de contato da ponta da palheta com o pisto rolante

    [m2]

    Aee rea efetiva de escoamento atravs da vlvula [m2]

    Aef rea efetiva de fora sobre a vlvula [m2]

    At rea instantnea de troca de calor [m2]

    Bb Espessura da palheta [m]

    C Dimenso caracterstica do pisto rolante [m]

    Cb Comprimento da biela [m]

    COP Coeficiente de performance [adimensional]

    COPpV Coeficiente de performance termodinmico [adimensional]

    cp Calor especfico a presso constante [J/kgK]

    Cpms Distncia entre o pisto e o eixo de manivela no PMS [m]

    Cv Coeficiente de amortecimento da palheta [Ns/m]

    cv Calor especfico a volume constante [J/kgK]

    D Comprimento da palheta no interior do cilindro [m]

    Dcil Dimetro do cilindro [m]

    dm Distncia entre os eixos da manivela e cilindro [m]

    Dod Dimetro do orifcio de descarga [m]

    Dp Dimetro do pisto [m]

    e Excentricidade [m]

    e Energia especfica do gs [J/kg]

  • Lista de Smbolos ix

    f Freqncia real de operao do compressor [Hz]

    fn Freqncia nominal de operao do compressor ou freqncia natural da vlvula

    [Hz]

    Fv Fora sobre a palheta devido ao campo de presses [N]

    sG& Vazo volumtrica [m/s]

    h Entalpia especfica do gs [J/kg]

    h Altura das espirais [m]

    Hc Coeficiente de troca de calor por conveco [W/mK]

    hc Altura do cilindro fixo [m]

    hdes Entalpia especfica do gs na descarga [J/kg]

    hod Altura do orifcio de descarga [m]

    hsuc Entalpia especfica do gs na suco [J/kg]

    k Relao de calores especficos [adimensional]

    K Razo entre os raios do pisto e cilindro [adimensional]

    Kv Constante elstica da palheta [N/m]

    L Comprimento de contato pisto / cilindro [m]

    Lb Comprimento da palheta [m]

    Lo Comprimento mnimo do contato pisto / cilindro [m]

    m& Vazo mssica real bombeada [kg/s]

    bcm& Vazo mssica atravs da folga da palheta da cmara de compresso para a cmara de suco

    [kg/s]

    desm& Vazo mssica na descarga [kg/s]

    fmnm& Vazo mssica pela folga mnima [kg/s]

    fbcm& Vazo mssica do interior da carcaa para a cmara de compresso

    [kg/s]

    fbsm& Vazo mssica do interior da carcaa para a cmara de suco

    [kg/s]

    flm& Vazo mssica atravs da folga de flanco [kg/s]

    mi Massa de gs no interior da cmara de compresso [kg]

    pcm& Vazo mssica atravs do excntrico para a cmara de compresso

    [kg/s]

  • Lista de Smbolos x

    psm& Vazo mssica atravs do excntrico para a cmara de suco

    [kg/s]

    refsucm& Vazo mssica por refluxo na suco [kg/s]

    refdesm& Vazo mssica por refluxo na descarga [kg/s]

    sucm& Vazo mssica perdida por superaquecimento [kg/s]

    supm& Vazo mssica na suco [kg/s]

    tpm& Vazo mssica atravs da folga de topo [kg/s]

    mv Massa equivalente da vlvula [kg]

    vazm& Vazo mssica por vazamento atravs da folga pisto/cilindro

    [kg/s]

    N Freqncia de operao [rpm]

    Nciclos Nmero de ciclos [adimensional]

    Ncam Nmero de cmaras de compresso [adimensional]

    p Presso absoluta [Pa]

    P Passo da curva evolvente [m]

    pcond Presso de condensao [Pa]

    pdes Presso absoluta na cmara de descarga [Pa]

    pevap Presso de evaporao [Pa]

    psuc Presso absoluta na cmara de suco [Pa]

    Q& Troca de calor por conveco [W]

    eQ& Capacidade de refrigerao [W]

    R Constante do gs [J/kgK]

    r Direo radial em coordenadas cilndricas [m]

    rs Razo de presses [adimensional]

    Rb Raio de curvatura da ponta da palheta [m]

    Rc Raio interno do cilindro fixo [m]

    Rcil Raio do cilindro [m]

    Rp Raio do pisto [m]

    Rp Raio externo do pisto rolante [m]

    Rpi Raio interno do pisto rolante [m]

  • Lista de Smbolos xi

    sol Solubilidade de gs refrigerante em leo lubrificante [adimensional]

    t Tempo [s]

    t Espessura das espirais [m]

    Tcond Temperatura de condensao [C, K]

    Tcil Temperatura interna da parede do cilindro [C, K]

    Tevap Temperatura de evaporao [C, K]

    T Temperatura do gs refrigerante [C, K]

    Tsub Temperatura de subresfriamento [C, K]

    Tsup Temperatura de superaquecimento [C, K]

    U Velocidade da palheta [m/s]

    v Volume especfico do gs [m3/kg]

    V Volume [m]

    V Velocidade [m/s]

    V4 Volume formado na regio de contato da ponta da palheta com o pisto rolante

    [m]

    Vb Volume ocupado pela palheta no interior do cilindro [m]

    Vcc Volume da cmara de compresso [m]

    Vcs Volume da cmara de suco [m]

    Vdes Volume deslocado [m]

    Vm Volume morto [m]

    Vod Volume da regio do orifcio de descarga [m]

    Vp Velocidade do pisto no interior do cilindro [m/s]

    Vr Velocidade do gs ao longo da folga pisto / cilindro [m/s]

    rV Velocidade mdia do gs na folga pisto / cilindro [m/s]

    Vrc Volume correspondente a rea varrida no interior do cilindro dada pelo ngulo

    [m]

    Vres Volume residual [m]

    Vrr Volume correspondente [m]

    Vt Volume total do cilindro de compresso [m]

    cW& Potncia eltrica consumida pelo compressor [W]

    wdes Trabalho especfico na descarga [J/kg]

  • Lista de Smbolos xii

    efW& Potncia efetiva entregue ao gs [W]

    wefet Trabalho especfico efetivo [J/kg]

    eixoW& Potncia disponvel no eixo [W]

    indW& Potncia indicada (termodinmica) [W]

    ws Trabalho especfico isentrpico [J/kg]

    wsuc Trabalho especfico na suco [J/kg]

    tericaW& Potncia terica para comprimir o gs [W]

    xv Afastamento da palheta [m]

    vx& Velocidade da palheta [m/s]

    vx&& Acelerao da palheta [m/s]

    y Posio instantnea do pisto no interior do cilindro [m]

    Smbolos Gregos

    Smbolo Descrio Unidades

    ngulo do incio da curva evolvente [graus, rad]

    1 ngulo do arco que forma a ponta da palheta [graus, rad]

    ndice isentrpico [adimensional]

    s Eficincia isentrpica [adimensional]

    v Eficincia volumtrica [adimensional]

    Viscosidade molecular do fluido [Pa s]

    o Viscosidade do leo [Pa s]

    Razo de compresso [adimensional]

    Massa especfica do gs [kg/m]

    ls Massa especfica do gs na linha de suco [kg/m]

    o Massa especfica do leo [kg/m]

    s Massa especfica do gs na suco [kg/m]

    bc Folga entre altura da palheta e cilindro [m]

  • Lista de Smbolos xiii

    f Folga de flanco [m]

    fb Folga no encaixe entre palheta e cilindro [m]

    mn Folga mnima [m]

    p Folga entre altura do pisto rolante e cilindro [m]

    pc Folga pisto / cilindro [m]

    t Folga de topo [m]

    ngulo de giro do motor [graus, rad]

    des ngulo de descarga [graus, rad]

    suc ngulo de suco [graus, rad]

    Velocidade angular do eixo de acionamento [rad/s]

  • RESUMO

    O presente trabalho apresenta uma anlise comparativa do desempenho termodinmico

    de compressores alternativo, de pisto rolante e scroll aplicados refrigerao domstica.

    Tais compressores so largamente utilizados pela indstria de refrigerao e vm atualmente

    competindo no mercado em diferentes aplicaes. A necessidade crescente de produtos com

    alta eficincia e baixo custo requer o conhecimento pleno das caractersticas desses

    compressores e de oportunidades para suas melhorias.

    Os modelos empregados para a simulao dos compressores baseiam-se em uma

    abordagem integral, resultando em um conjunto de equaes diferenciais ordinrias que

    permitem descrever as variaes das propriedades termodinmicas do fluido refrigerante ao

    longo do processo de compresso. Tais equaes so resolvidas numericamente atravs do

    mtodo de Euler, utilizando uma formulao explcita no tempo. Resultados para a dinmica

    de vlvulas, vazamentos, presso e temperatura no processo de compresso so obtidos e

    empregados para avaliar as perdas termodinmicas de potncia e no fluxo de massa, bem

    como o coeficiente de desempenho termodinmico, COPpV, e as eficincias volumtrica e

    isentrpica.

    Os resultados numricos para o desempenho dos compressores foram validados

    atravs da comparao com dados experimentais obtidos em calormetro, verificando-se uma

    boa concordncia dos resultados para os trs compressores analisados. Um outro aspecto

    importante para a consistncia dos resultados e considerado na investigao foi a otimizao

    dos diferentes tipos de compressores em cada condio de refrigerao.

    Constatou-se que o compressor alternativo apresenta a melhor eficincia

    termodinmica, devido s suas menores perdas nos processos de compresso, suco e

    descarga, quando comparado aos demais mecanismos de compresso. Por outro lado, o

    compressor scroll fornece a maior eficincia volumtrica devido a baixas perdas por

    vazamento e inexistncia de efeito negativo do volume morto. O compressor de pisto rolante

    se mostrou o de menor atratividade, com um desempenho comprometido por nveis elevados

    de vazamentos, reduzindo drasticamente as suas eficincias volumtrica e isentrpica.

  • ABSTRACT

    The present work presents a comparative analysis of the thermodynamic performance

    between reciprocating compressor, rolling piston compressor and scroll compressor applied to

    domestic refrigeration. Such compressors are largely used in refrigeration industry and

    currently compete in different applications. The increasing need for high efficiency and low

    cost products requires a deep knowledge of each compressor features as well as the

    identification of alternatives to improve them.

    The models adopted to simulate each compressor are based on an integral formulation,

    resulting in a set of ordinary differential equations, which are solved using a time explicit

    Euler method. Results for valve dynamics, refrigerant leakages, pressure and temperature are

    made available along the compression process and used to assess energy losses and different

    performance parameters, such as the coefficient of thermodynamic performance, COPpV, the

    isentropic efficiency and the volumetric efficiency.

    The numerical results generated by the models were validated through comparisons

    with experimental data for each compressor, obtained in a calorimeter experimental facility.

    Another important aspect considered in the work was the optimization of the compressors in

    each condition chosen for the analysis.

    The reciprocating compressor was seen to return the best coefficient of performance,

    COPpV, due to its low levels of losses associated to the compression, suction and discharge

    processes, in comparison to the other two types of compressors. On the other hand, the scroll

    compressor displayed the best volumetric efficiency due to low levels of leakage and the

    absence of negative effect caused by the dead volume. The rolling piston compressor was

    shown to be the least attractive compression technology for domestic refrigeration due to

    excessive levels of gas leakage, which drastically reduces its isentropic and volumetric

    efficiencies.

  • CAPTULO 1 - INTRODUO

    A importncia dos sistemas de refrigerao no dia a dia inegvel. Seja no

    processamento, armazenamento e transporte de alimentos, na climatizao de ambientes, em

    processos industriais e, mais recentemente, em componentes eletrnicos, a refrigerao est

    sempre presente.

    Dentre as diversas aplicaes da refrigerao destaca-se a domstica, representada por

    refrigeradores residenciais. Tais refrigeradores representam aproximadamente 50% do total de

    sistemas de refrigerao produzidos atualmente e tambm uma grande parcela do consumo de

    energia eltrica residencial.

    Com a necessidade crescente de racionalizao no consumo de energia e de

    preservao dos recursos naturais, a indstria de refrigerao domstica tem o desafio de

    desenvolver sistemas de alta eficincia, baixo consumo e que no agridam o meio ambiente.

    A fim de superar este desafio necessrio aperfeioar os componentes que compem um

    sistema de refrigerao, o que passa pela compreenso detalhada do ciclo de refrigerao e do

    funcionamento de cada um desses componentes.

    Existem diferentes tecnologias de refrigerao, mas a mais empregada utiliza o

    princpio da compresso de vapor, na qual o efeito de refrigerao produzido pela retirada

    de calor do ambiente atravs da evaporao de um lquido a baixa temperatura e presso. A

    partir deste princpio, Perkins props o primeiro equipamento de refrigerao em 1834,

    operando de maneira cclica.

    No dispositivo proposto por Perkins, cujo esquema ilustrado na Figura 1.1, um fluido

    voltil, denominado fluido refrigerante, em condies de baixas temperatura e presso,

    evapora dentro de um trocador de calor (evaporador) que est em contato trmico com o

    ambiente ou substncia que se deseja resfriar. O fluido, por estar a uma temperatura mais

    baixa, retira calor do meio, produzindo o efeito de refrigerao desejado. Aps passar pelo

    evaporador, o vapor admitido e comprimido pelo compressor, elevando sua temperatura e

    presso, sendo em seguida descarregado num segundo trocador de calor, denominado

    condensador. No condensador o fluido entra em contato trmico com o meio externo a uma

    temperatura mais baixa, rejeitando calor e se condensando. Aps sair do condensador, o

    lquido passa pelo dispositivo de expanso, cuja funo reduzir a presso de condensao

  • Introduo 2

    at a presso de vaporizao, retornando em seguida ao evaporador e iniciando um novo

    ciclo.

    Figura 1.1 Esquema do sistema de refrigerao por compresso a vapor proposto por Perkins.

    No ciclo de refrigerao, o compressor tem um papel de grande importncia, pois

    estabelece o aumento da presso do fluido refrigerante e fornece a vazo de fluido refrigerante

    requeridas pelo sistema. A seguir so descritos os principais mecanismos de compresso

    empregados atualmente nos sistemas de refrigerao por compresso a vapor.

    1.1. Mecanismos de Compresso

    Os compressores utilizados em refrigerao podem ser classificados em duas classes

    principais: (i) compressores roto-dinmicos e (ii) compressores de deslocamento positivo.

    Os compressores roto-dinmicos caracterizam-se por fornecer quantidade de

    movimento ao fluido refrigerante, atravs do movimento rotativo de um rotor provido de

    diversas ps. O fluido, aps passar pelo rotor, escoa atravs de um difusor no qual a

    quantidade de movimento convertida em presso. Isto pode ser feito atravs de um

    escoamento axial ou radial. Em refrigerao a grande maioria dos compressores roto-

    dinmicos utiliza escoamento radial e so conhecidos como compressores centrfugos.

    Nos compressores de deslocamento positivo, a compresso de vapor efetuada

    mecanicamente, admitindo-se uma quantidade de gs e comprimindo-o pela diminuio de

    seu volume at atingir a presso desejada da linha de descarga. A Figura 1.2 apresenta os

    principais tipos de compressores de deslocamento positivo, classificados segundo o

    mecanismo de compresso.

    EVAPORADOR

    CONDENSADOR

    Qe

    Qc

    Wc

    Compressor

    Dispositivo de Expanso

    Ambiente Refrigerado

  • Introduo 3

    COMPRESSORES DE DESLOCAMENTO POSITIVO

    Alternativo Rotativo

    Palhetas Scroll Parafuso

    Simples Mltiplas

    Figura 1.2 Principais tipos de compressores de deslocamento positivo.

    At meados da dcada de 1970, os compressores alternativos hermticos e semi-

    hermticos dominavam a indstria de refrigerao, sendo aplicados desde refrigeradores

    domsticos at grandes cmaras frigorficas. Porm, o aumento do preo dos combustveis e a

    presso cada vez maior para o uso racional de energia, estimularam a busca por compressores

    de alta eficincia. Parmetros como tamanho, eficincia, custo e produtividade tornaram-se

    essncias no projeto de compressores. Como resultado disso, houve uma grande mudana no

    projeto dos compressores alternativos e diferentes tecnologias de compresso comearam a

    ser introduzidas em refrigerao, como por exemplo, os compressores rotativos.

    Embora compressores rotativos existissem h muito tempo, os mesmos apresentavam

    problemas tecnolgicos de fabricao e montagem, principalmente com respeito vedao

    entre suas partes mveis. Com o rpido desenvolvimento das tecnologias de fabricao nos

    ltimos 30 anos, novos padres de tolerncias mnimas foram alcanados. Tolerncias de

    forma e de montagem passaram a ser viabilizadas na unidade de micrometro, reduzindo assim

    tambm os valores de folgas de forma dramtica. Desta forma, a produo em massa de

    compressores rotativos comeou a ser vivel, primeiramente para aplicao em

    condicionamento de ar na dcada de 1960 e, posteriormente, na dcada de 1980, em sistemas

    de refrigerao de mdio e grande porte.

    Atualmente os compressores rotativos predominam no mercado de condicionamento

    de ar e so amplamente empregados em sistemas de alta e mdia capacidade de refrigerao.

    Mais recentemente com o desenvolvimento de novos materiais e tecnologias de fabricao de

    alta preciso, alguns destes mecanismos comeam a ser avaliados para aplicao em

    refrigerao domstica.

    O compressor alternativo composto essencialmente por um pisto que se move

    alternadamente dentro de um cilindro e vlvulas automticas para permitir a suco e a

    descarga do fluido refrigerante (Figura 1.3 (a)). O movimento alternativo gerado a partir do

  • Introduo 4

    movimento rotativo do eixo acoplado ao motor eltrico, o qual convertido em movimento

    linear atravs de um mecanismo biela-manivela. O conjunto formado pelo motor e o

    mecanismo de compresso montado no interior de uma carcaa isolada do meio externo, a

    fim de eliminar a perda de gs refrigerante e reduzir os nveis de rudo acstico.

    Compressores com este tipo de montagem so usualmente denominados compressores

    hermticos.

    A Figura 1.3 (b) apresenta de maneira idealizada a evoluo da presso e do volume

    ao longo do processo de compresso em um compressor alternativo. No processo de admisso

    do fluido refrigerante para o interior do cilindro, o pisto move-se para baixo succionando o

    gs refrigerante da cmara de suco atravs da vlvula de suco, que se abre

    automaticamente devido diferena de presso entre a cmara e o cilindro. A admisso de gs

    ocorre at o pisto atingir o ponto C, denominado ponto morto inferior (PMI). Em seguida, o

    pisto inicia seu movimento no sentido oposto e a vlvula de suco imediatamente fechada,

    devido ao aumento da presso no cilindro. A partir deste ponto a presso no interior do

    cilindro aumenta continuamente at atingir o valor da presso na cmara de descarga. A partir

    desse momento, a vlvula de descarga eventualmente se abre, devido fora resultante da

    diferena de presso originada entre o cilindro e a cmara de descarga. A abertura da vlvula

    estabelece o processo de descarga, no qual o gs comprimido liberado para a linha de alta

    presso do sistema de refrigerao. Este processo ocorre at o pisto atingir o ponto morto

    superior (PMS), indicado pela letra A no diagrama da Figura 1.3 (b).

    Em princpio, o gs contido dentro do cilindro deveria ser totalmente descarregado. No

    entanto, a necessidade de prover um espao para o alojamento das vlvulas e para ajustes de

    montagem do mecanismo, faz com que haja sempre uma quantidade remanescente de gs

    dentro do cilindro. O volume associado a esta massa de fluido residual geralmente

    denominado volume morto (Vm).

    Quando o pisto comea o seu movimento descendente a partir do ponto morto

    superior, o gs existente no volume morto reexpandido, conforme representado pela linha

    AB na Figura 1.3 (b), atrasando o ponto em que a presso no interior do cilindro alcana a

    presso da cmara de suco. Isto faz com haja tambm um atraso na abertura da vlvula de

    suco, reduzindo o volume de gs succionado e, assim, deteriorando a eficincia volumtrica

    do compressor.

  • Introduo 5

    Cmara de Suco

    Cmara de Descarga

    Vlvula de Suco

    Vlvula de Descarga

    Cilindro

    Pisto

    Eixo

    CMARA DE COMPRESSO

    Manivela

    Biela

    psuc

    Volume

    A D

    B C

    Pre

    ss

    o

    pdes

    Va

    Vb

    Vc

    Volume Total do Cilindro

    Volume DeslocadoVm

    (a) Mecanismo. (b) Diagrama pV compressor alternativo.

    Figura 1.3 Compressor alternativo.

    Os compressores rotativos, por sua vez, utilizam o prprio movimento rotativo para

    comprimir o gs refrigerante. Porm, semelhante aos compressores alternativos, o conjunto

    motor e compressor tambm montado hermeticamente.

    Conforme pode ser observado na Figura 1.4, o compressor de pisto rolante formado

    essencialmente por dois cilindros, um fixo e outro mvel. O cilindro mvel, tambm

    denominado de pisto rolante, montado no excntrico do eixo de acionamento e gira dentro

    do cilindro fixo. Uma palheta, pressionada por uma mola, empurrada contra o pisto rolante

    dividindo o espao existente entre ambos os cilindros, formando as cmaras de suco e de

    compresso. Diferentemente do compressor alternativo, no h a necessidade de uma vlvula

    de suco, uma vez que as cmaras de suco e de compresso esto separadas fisicamente.

    Na Figura 1.5 pode-se observar a evoluo do processo de compresso em um

    compressor de pisto rolante. Verifica-se na Figura 1.5 (a) que, medida que o pisto rolante

    gira, o volume da cmara de suco aumenta, reduzindo a presso interna e succionando o gs

    refrigerante para o interior da cmara. necessrio um giro completo do pisto rolante para

    que o gs preencha completamente a cmara de suco. Aps o enchimento, o pisto rolante

    comea o seu segundo giro, comprimindo o gs succionado no ciclo anterior. O processo de

    descarga do gs ocorre quando a diferena de presso entre as cmaras de compresso e de

    descarga suficiente para a abertura da vlvula de descarga. De fato, os processos de suco e

    de compresso so realizados de forma simultnea no compressor de pisto rolante, enquanto

  • Introduo 6

    uma poro de gs succionada na cmara de suco, a massa admitida no ciclo anterior est

    sendo comprimida na cmara de compresso.

    CMARA DE COMPRESSO

    Vlvula de Descarga

    Cilindro

    Pisto Rolante

    Palheta

    CMARA DE SUCO

    Excntrico

    A

    A

    CMARA DE

    COMPRESSO

    Cilindro Pisto Rolante

    ExcntricoMancal Principal

    Eixo

    PalhetaMancal Secundrio

    Corte AA

    (a) Vista corte superior. (b) Vista corte frontal.

    Figura 1.4 Esquema tpico de um compressor de pisto rolante.

    90 180 270 360

    (a) Processo de suco

    0 (360) 90 180 270

    (b) Processo de compresso e descarga.

    Figura 1.5 Processo de compresso do compressor de pisto rolante.

    O fato dos processos de suco e compresso ocorrerem simultaneamente em uma

    mesma revoluo do eixo do motor, torna o processo mais contnuo e com menor pulsao,

  • Introduo 7

    quando comparado aos compressores alternativos. Diferentemente do compressor alternativo,

    o interior da carcaa do compressor de pisto rolante preenchido com gs a alta presso, a

    fim de permitir uma melhor vedao das partes mveis. Desta forma, a cmara de suco do

    compressor conectada diretamente linha de baixa presso.

    A tecnologia de compresso empregada no compressor de espirais (scroll) j

    conhecida desde o incio do sculo passado, mas somente em meados da dcada de 1970 este

    compressor passou a ser produzido em escala industrial. Caractersticas positivas tais como

    baixo rudo, poucas partes mveis e alta eficincia volumtrica, vm atraindo muita ateno

    da indstria do setor de refrigerao domstica e, como conseqncia, uma srie de estudos e

    desenvolvimentos.

    Conforme ilustrado na Figura 1.6, o compressor scroll consta de dois elementos em

    forma de espiral, sendo que um deles estacionrio e o outro gira segundo um movimento

    orbital ao redor do centro do eixo do motor. As duas espirais so idnticas, mas so montadas

    com uma diferena de fase de 180, mantida com o uso de um dispositivo anti-rotao,

    conhecido por acoplamento de Oldham. Devido geometria e defasagem das espirais, o

    contato entre as mesmas durante o movimento se d de forma pontual. De acordo com o

    tamanho das espirais podem existir diferentes pontos de contato, formando cmaras de

    compresso entre cada par de pontos de contato. Assim como no caso do compressor de

    pisto rolante, no h a necessidade de uma vlvula de suco. Alm disto, a vlvula de

    descarga somente requerida em aplicaes com alta razo de presso, como no caso da

    refrigerao domstica. A sua construo tambm do tipo hermtica, com a suco sendo

    conectada na parte inferior da carcaa, enquanto que o orifcio de descarga acoplado na

    parte superior e este, por sua vez, conectado linha de descarga.

    Orifcio de Descarga

    Anel de Oldham

    Espiral Mvel

    Espiral Fixa

    CMARA DE COMPRESSO

    A

    A

    Orifcio de Descarga

    Anel de Oldham

    Espiral Mvel

    Espiral Fixa

    CMARA DE COMPRESSO

    Conexo Excntrico

    Corte AA

    (a) Vista corte superior. (b) Vista corte frontal.

    Figura 1.6 Esquema de um compressor scroll.

  • Introduo 8

    O processo de compresso no compressor scroll compreende diversas etapas, algumas

    das quais descritas na Figura 1.7. Conforme pode ser observado, inicialmente surge uma

    regio de suco na parte externa das espirais, indicada na Figura 1.7 (a) pela regio marcada

    na cor cinza. Conforme a espiral mvel se desloca, a posio desta regio vai sendo alterada

    de forma gradativa at que ocorra o contato da extremidade de uma espira contra a outra.

    Neste instante o gs fica aprisionado entre as espirais, formando a primeira cmara de

    compresso (Figura 1.7 (b)). medida que a espiral mvel continua o seu movimento, o gs

    aprisionado vai sendo transportado para a regio central do compressor, sendo comprimido

    atravs da reduo do volume do gs succionado. Ao final do processo de compresso, o gs

    descarregado no centro das espirais, atravs do orifcio de descarga (Figura 1.7 (f)). Deve ser

    observado que durante a operao do compressor, as cmaras de compresso esto sempre

    preenchidas e a compresso ocorre desta maneira de forma contnua (Figura 1.7 (g)).

    (a) 0 (Incio da suco) (b) 360 (Final da suco) (c) 720 (Compresso)

    (d) 840 (Compresso) (e) 1080 (Compresso) (f) 1350 (Descarga)

    (g) Processo contnuo

    Figura 1.7 Processo de compresso do compressor scroll.

  • Introduo 9

    Aps a descrio dos trs compressores importante entender como estes mecanismos

    so avaliados quanto sua performance e quais so as suas principais fontes de ineficincia.

    Para isto, so descritos a seguir alguns dos principais parmetros utilizados na avaliao de

    compressores.

    O desempenho dos compressores usualmente analisado com referncia ao

    coeficiente de performance (COP), definido como:

    c

    e

    W

    QCOP

    &

    &

    =

    (1.1)

    onde eQ& o calor absorvido pelo fluido refrigerante no evaporador (capacidade de

    refrigerao do sistema), e cW& a potncia eltrica consumida pelo compressor. A capacidade

    de refrigerao eQ& pode ser calculada como:

    hmQ = &&e

    (1.2)

    onde m& a vazo de massa bombeada pelo compressor, e h a variao de entalpia do

    fluido refrigerante no evaporador, a qual depende da condio de operao do sistema de

    refrigerao. A avaliao do COP em compressores realizada para condies de sistemas

    padronizadas. Desta forma, possvel a comparao entre os diferentes mecanismos de

    compresso, sem a introduo do efeito dos demais componentes do sistema de refrigerao.

    Ussyk (1984) descreve detalhadamente as principais perdas em eficincia de um

    compressor alternativo de refrigerao domstica, classificando-as em duas categorias: perdas

    de energia e perdas no fluxo de massa.

    As perdas no fluxo de massa apresentam-se na forma de uma reduo de capacidade

    do compressor, sendo devido aos seguintes principais fatores de influncia: volume morto,

    vazamentos atravs da folga entre pisto e cilindro, refluxo em vlvulas, aquecimento do gs

    de suco, mistura do leo lubrificante com o fluido refrigerante e restries ao escoamento

    atravs das vlvulas.

    A Figura 1.8 apresenta um fluxo de energia no compressor, bem como as principais

    perdas de energia. Da potncia eltrica total consumida ( cW& ), parte entregue ao eixo e parte

    dissipada no motor eltrico, devido principalmente ao aquecimento, correntes parasitas e

    histerese. Da potncia disponvel no eixo ( eixoW& ) uma parcela perdida no mecanismo pela

  • Introduo 10

    ao de frico nos componentes de transmisso mecnica, esta parcela denominada perda

    mecnica.

    Descontando as perdas eltricas e mecnicas, tem-se a potncia real entregue ao fluido

    refrigerante, denominada de potncia indicada ( indW& ). Grande parte desta energia utilizada

    para comprimir o fluido refrigerante da presso de suco at a presso de descarga, sendo

    denominada potncia efetiva ( efW& ). O restante da energia perdido nos sistemas de suco e

    descarga, devido a perdas de carga geradas pelas restries (vlvulas e orifcios) em ambos os

    sistemas.

    Segundo Pandeya e Soedel (1978) os processos ideais de compresso e reexpanso em

    compressores so assumidos como adiabticos, obtendo-se desta forma a potncia terica

    necessria para comprimir o gs ( tericaW& ). Da potncia efetiva realmente despendida, grande

    parte utilizada na compresso do fluido refrigerante. Porm, como os processos de

    compresso e reexpanso no so adiabticos, ocorrem perdas devido transferncia de calor

    entre o fluido refrigerante e as paredes da cmara de compresso, alm das irreversibilidades

    associadas ao prprio ciclo. Todas as perdas inerentes ao processo de compresso (perdas nos

    sistemas de suco e descarga e na compresso) so denominadas perdas termodinmicas.

    Entrada de Potncia Eltrica ( Wc )

    Potncia Transmitida ao Eixo ( Weixo

    )

    Potncia Indicada ( Wind

    )

    Potncia Efetiva ( Wef )

    Potncia Terica ( Wterica

    )

    Perdas no Motor Eltrico

    Perdas Mecnicas

    Perdas nos Sistemas de Suco

    e Descarga

    Perdas nos Processos de Compresso e Expanso

    .

    .

    .

    .

    .Perdas Termodinmicas

    Figura 1.8 Fluxo de perda de energia em um compressor Ussyk (1984).

    As perdas termodinmicas so as de maior magnitude em compressores, representando

    de 60 a 75 % da potncia total consumida, de acordo com o mecanismo de compresso.

  • Introduo 11

    comum na anlise de compressores de refrigerao o uso de um coeficiente de performance

    termodinmico (COPpV) para avaliar somente as perdas termodinmicas, e definido como:

    ind

    e

    W

    QCOPpV

    &

    &

    =

    (1.3)

    O emprego da relao (1.3) permite a comparao direta do desempenho

    termodinmico de diferentes mecanismos de compresso.

    Como j citado anteriormente, em refrigerao domstica, o desempenho aliado ao

    baixo custo de fabricao essencial para o sucesso comercial de um determinado

    compressor. Deste modo, a determinao do melhor mecanismo para cada uma das aplicaes

    fundamental para as empresas de compressores. No desenvolvimento do projeto de um

    compressor, o COPpV utilizado nas fases inicias para avaliar as melhores tecnologias de

    compresso a serem empregadas. Alm disto, o COPpV auxilia tambm na definio

    preliminar da geometria da cmara de compresso e dos sistemas auxiliares, tais como

    vlvulas, a partir da qual se pode iniciar os dimensionamentos do mecanismo de transmisso e

    do motor eltrico.

    1.2. Objetivos

    Dada a importncia dos compressores alternativos para a refrigerao domstica e,

    mais recentemente, com os grandes avanos tecnolgicos dos compressores rotativos de

    pisto rolante e scroll, o entendimento e o desenvolvimento detalhados dos mesmos se tornam

    essenciais para a indstria de refrigerao. Dentro deste contexto, o presente trabalho objetiva

    elaborar uma anlise termodinmica comparativa desses mecanismos de compresso

    aplicados refrigerao domstica, auxiliando no projeto e no desenvolvimento destes

    compressores. Alm disto, a presente anlise indica tambm os pontos crticos para a

    aplicao de cada um desses compressores, permitindo que se identifiquem os

    desenvolvimentos tecnolgicos necessrios para torn-los competitivos.

  • CAPTULO 2 - REVISO BIBLIOGRFICA

    Vrios trabalhos tm sido desenvolvidos ao longo dos anos para a anlise dos diversos

    mecanismos de compresso, utilizando enfoques experimental, analtico e numrico. Dentro

    deste conjunto de trabalhos, podem ser encontradas muitas anlises de compressores

    alternativos, de pisto rolante e scroll. Nas prximas sees so revisados alguns dos

    trabalhos mais relevantes sobre os trs mecanismos supracitados, bem como algumas anlises

    comparativas dos mesmos.

    2.1. Compressor Alternativo

    A partir do trabalho de Soedel (1974), Ussyk (1984) desenvolveu uma metodologia de

    simulao numrica para representar as caractersticas de funcionamento de um compressor

    hermtico alternativo, empregando uma formulao integral para a variao das propriedades

    no interior da cmara de compresso. O processo de compresso do fluido refrigerante

    modelado segundo um processo politrpico, considerando o comportamento de gs real para a

    determinao da temperatura. O fluxo de massa atravs das vlvulas de suco e de descarga

    obtido com referncia vazo do escoamento compressvel isentrpico em bocais. As

    palhetas empregadas nas vlvulas so consideradas como lminas flexveis engastadas, com

    os seus movimentos dados por superposies de modos de vibraes livres. Finalmente, o

    modelo tambm considera o vazamento de fluido refrigerante atravs da folga entre o pisto e

    o cilindro. Os resultados das simulaes para a presso do gs no interior do cilindro e

    movimentos das palhetas comparados com resultados experimentais so satisfatrios.

    Entretanto, a utilizao de um expoente politrpico e a necessidade de diversos parmetros

    experimentais nos modelos so limitaes relevantes da metodologia.

    Prata et al. (1992) implementaram um modelo para a anlise trmica de um

    compressor alternativo, a partir de um balano de energia em diferentes componentes do

    compressor. Para a obteno das propriedades do fluido refrigerante dentro do cilindro,

    utilizaram uma formulao integral da primeira lei da termodinmica, incluindo variaes

    temporais de massa e energia. As temperaturas do fluido na cmara de suco, na cmara de

    descarga, no filtro da descarga e no ambiente interno do compressor, bem como nas paredes

    do cilindro e da carcaa do compressor, foram obtidas atravs de um balano de energia em

  • Reviso Bibliogrfica 13

    regime permanente para vrias posies dentro do compressor. Neste balano, os coeficientes

    globais de transferncia de calor em cada componente do compressor foram determinados

    experimentalmente, com exceo do coeficiente de transferncia de calor entre o refrigerante

    e as paredes do cilindro, o qual foi obtido com o emprego de correlaes disponveis na

    literatura. Para o clculo dos fluxos de massa nas vlvulas de suco e de descarga, e atravs

    da folga entre o pisto e o cilindro, Prata et al. (1992) utilizaram as mesmas rotinas

    empregadas por Ussyk (1984). O modelo foi aplicado na anlise trmica de um compressor de

    refrigerao domstica e os resultados para temperaturas nos componentes do compressor,

    coeficiente de performance do compressor e fluxo de massa atravs de vlvulas foram

    comparados com dados experimentais, indicando que os principais efeitos trmicos sobre o

    desempenho do compressor foram representados de forma satisfatria.

    Com relao ao comportamento dinmico das vlvulas de compressores, Matos (2002)

    apresentou um modelo numrico bidimensional para a vlvula de descarga considerando os

    efeitos de turbulncia e compressibilidade. Para tanto, o autor empregou uma metodologia de

    volumes finitos para obteno da soluo do escoamento atravs da vlvula e um modelo com

    um grau de liberdade para representar a dinmica da mesma. Vrios resultados do campo de

    presso atravs das vlvulas foram obtidos e comparados com dados experimentais,

    mostrando boa concordncia e representando de forma mais precisa diversos fenmenos

    inerentes ao sistema de descarga, quando comparados aos resultados de Ussyk (1984).

    Mais recentemente, Pereira (2006) apresentou uma formulao diferencial para a

    anlise dos sistemas de vlvulas em compressores alternativos. No modelo desenvolvido,

    atravs da metodologia de volumes finitos, o escoamento atravs dos sistemas de suco e de

    descarga foi resolvido, com a dinmica das vlvulas sendo representada atravs de um modelo

    massa-mola amortecido com um grau de liberdade. O movimento alternativo do pisto foi

    tambm includo no modelo, de tal forma que o ciclo completo de operao pde ser avaliado.

    Modelos bidimensionais foram utilizados previamente para analisar de forma independente os

    sistemas de suco e descarga. Posteriormente, modelos tridimensionais foram adotados para

    a simulao de geometrias reais de compressores, incluindo todos os detalhes de filtros de

    suco e de descarga, bem como da placa de vlvulas. O trabalho analisou as parcelas de

    consumo pertinentes a cada um dos componentes do compressor e prope novas concepes

    para os sistemas de descarga.

    Dentre os estudos voltados anlise da dinmica e perdas mecnicas em compressores

    alternativos destaca-se o trabalho de Wisbeck (2000), no qual foi realizada uma modelagem

    de mancais radiais acoplados e sujeitos a carregamentos dinmicos. O modelo utilizado

  • Reviso Bibliogrfica 14

    considera o acoplamento entre dois mancais radiais sobre um mesmo eixo, levando em

    considerao os deslocamentos e desalinhamentos radiais, incluindo tambm o atrito slido e

    o desgaste. A equao de Reynolds governante do problema de lubrificao foi resolvida

    atravs de uma metodologia de volume finitos. A metodologia desenvolvida mostrou ser

    capaz de prever a rbita dos mancais, o consumo de energia por atritos slido e viscoso, a

    vazo lateral de leo, a espessura mnima de filme de leo e o desgaste, mostrando ser assim

    uma importante ferramenta para o projeto e o desenvolvimento de mancais radiais.

    2.2. Compressor de Pisto Rolante

    Uma caracterstica muito importante para o desempenho do compressor de pisto

    rolante o vazamento de fluido refrigerante, atravs das diversas folgas de suas peas mveis,

    durante o processo de compresso. O ponto de vazamento de maior relevncia ocorre entre as

    cmaras de compresso e de suco, na folga radial formada entre as paredes do cilindro e do

    pisto rolante, denominada de folga mnima. Costa et al. (1990) propuseram um modelo para

    estimar a vazo de fluido refrigerante na folga mnima, considerando a hiptese de

    escoamento incompressvel de leo puro. A estimativa do vazamento de fluido refrigerante

    obtida atravs da solubilidade do fluido refrigerante no leo para a condio de equilbrio.

    Alm do modelo de vazamento, uma outra grande contribuio de Costa et al. (1990) foi a

    apresentao de uma visualizao experimental do vazamento, na qual se observaram a

    presena de bolhas de fluido refrigerante junto folga mnima. Deste modo, concluram que

    uma anlise mais detalhada, incluindo a modelao do escoamento bifsico na folga, seria de

    grande importncia para a compreenso e previso precisa do vazamento.

    Padhy e Dwivedi (1994) apresentaram uma metodologia de simulao de compressores

    de pisto rolante, baseada em balanos de energia e de massa, propondo uma correlao para

    a transferncia de calor entre o fluido refrigerante e as paredes slidas do compressor. Os

    coeficientes de transferncia de calor, avaliados atravs de relaes semi-empricas, foram

    adaptados para cada parte do compressor. Modelos foram tambm utilizados para avaliar as

    perdas eltricas, consideradas como fontes de calor no balano de energia, e as perdas por

    frico em partes mveis. Resultados prximos a dados experimentais foram observados para

    a temperatura em diferentes pontos do compressor, a transferncia de calor entre os

    componentes e a perda mecnica.

    Puff e Souza (1994) desenvolveram um cdigo computacional para a simulao do

    funcionamento de compressores de pisto rolante, incluindo a modelagem do processo de

    compresso, das perdas mecnicas e da dinmica do mecanismo. O cdigo fornece opes

  • Reviso Bibliogrfica 15

    para a modelao do processo de compresso (politrpico ou primeira lei da termodinmica),

    para o fluido refrigerante (gs ideal ou gs real) e para o clculo dos coeficientes de

    transferncia de calor. Os autores realizaram tambm ensaios experimentais para a

    determinao da eficincia e do perfil trmico de um compressor de pisto rolante para a

    validao da metodologia de simulao. Os resultados numricos demonstraram boa

    concordncia com os dados experimentais, indicando que o cdigo pode ser adotado para o

    estudo e o projeto de compressores de pisto rolante. O cdigo de Puff e Souza (1994)

    adotado neste trabalho para a simulao do compressor de pisto rolante. O detalhamento de

    cada um dos modelos que compem a metodologia sero apresentados nos prximos

    captulos.

    Gasche (1996) realizou uma anlise detalhada do vazamento pela folga mnima,

    descrevendo diversos modelos da literatura e apresentando uma proposta que leva em

    considerao a presena do escoamento bifsico. Esse trabalho uma fonte de referncia

    importante para a compreenso dos fenmenos envolvidos no vazamento pela folga mnima

    de compressores de pisto rolante.

    Ooi e Wong (1997) apresentaram uma anlise de potncias termodinmica e mecnica

    associadas a um compressor de pisto rolante de refrigerao domstica, considerando os

    fluidos refrigerantes R12 e R134a. Um modelo analtico foi empregado para o clculo do

    processo de compresso e de perdas mecnicas, com uma equao para gs real usada para

    avaliar as mudanas do estado termodinmico do fluido refrigerante. Um dado relevante

    apresentado no trabalho o percentual correspondente s perdas mecnica e termodinmica,

    conforme ilustrado na Tabela 2.1 para os dois fluidos refrigerantes em anlise. Observa-se que

    as perdas mecnicas so significativas no desempenho deste tipo de compressor. Os

    resultados numricos foram comparados com dados experimentais e o erro mximo

    encontrado foi de aproximadamente 10 %.

    Tabela 2.1 Distribuio de perdas mecnicas e termodinmicas em um compressor de pisto rolante, (Ooi e

    Wong, 1997).

    Descrio das Perdas R12 R134a

    Potncia Indicada / Potncia de Eixo [%] 85,9 84,8

    Perda Mecnica / Potncia de Eixo [%] 14,1 15,2

  • Reviso Bibliogrfica 16

    2.3. Compressor de Espirais (Scroll)

    Morishita et al. (1984) desenvolveram um modelo analtico para o funcionamento do

    compressor scroll, introduzindo os principais parmetros geomtricos das espirais na

    caracterizao das cmaras de compresso. Os autores consideraram o volume deslocado

    como um dado de entrada e a variao da presso ao longo das cmaras foi estimado atravs

    de um processo politrpico. Atravs da estimativa para a presso do fluido refrigerante

    durante a compresso, as foras tangenciais, radiais e axiais foram calculadas. Equaes de

    movimento para a espiral mvel juntamente com o acoplamento de Oldham foram definidas

    e, ao final, modelo simplificado para descrever a dinmica do mecanismo e a evoluo da

    presso ao longo do processo foi obtido.

    Hayano et al. (1988) desenvolveram modelos para calcular as perdas por frico entre

    as partes mveis lubrificadas de um compressor scroll, fornecendo resultados em

    concordncia satisfatria com dados experimentais. Uma anlise de perdas por atrito indicou

    que as maiores perdas ocorrem nos mancais primrio e secundrio e entre as espirais, sendo

    que as perdas por atrito entre as espirais corresponderam a 15 % das perdas totais por frico.

    Os autores fizeram tambm um levantamento experimental das principais perdas no

    compressor scroll, resumido na Tabela 2.2, observando que as perdas por atrito, vazamento e

    superaquecimento so importantes neste tipo de compressor.

    Tabela 2.2 Inventrio de perdas para um compressor scroll, dados de Hayano et al. (1988).

    Descrio das Perdas Potncia / Potncia Total Consumida [%]

    Potncia efetiva 63,2

    Perdas por sobrepresso na descarga 1,1

    Perdas por vazamento e superaquecimento 15,0

    Perdas por frico 7,7

    Perdas no motor eltrico 13,0

    Puff e Krueger (1992) desenvolveram uma metodologia para a simulao de

    compressores do tipo scroll e analisaram a influncia de parmetros, tais como nmero de

    cmaras de compresso e folgas entre as espirais, sobre a eficincia do compressor. As

    simulaes foram realizadas para a aplicao em condicionamento de ar e os resultados

    mostraram as seguintes tendncias:

  • Reviso Bibliogrfica 17

    i. O aumento do nmero de volumes de compresso, com o volume deslocado

    mantido constante, provoca uma queda da eficincia termodinmica. Isto

    ocorre porque o gs atinge a presso de descarga antes de alcanar o orifcio de

    descarga, aumentando a perda por sobrepresso. Por outro lado, as perdas

    mecnica e mssica mantiveram-se praticamente constantes;

    ii. Mantendo os demais parmetros fixos e aumentando as folgas entre as espirais

    acarretou em maiores nveis de vazamento entre as diversas cmaras, como j

    era esperado. O maior vazamento reduz tanto a eficincia mssica quanto a

    eficincia termodinmica, esta ltima devido energia adicional requerida para

    comprimir novamente a massa que vazou de uma cmara para outra;

    iii. Atravs da variao dos principais parmetros construtivos do compressor, de

    modo a manter o mesmo volume deslocado, verificou-se que existe um ponto

    de timo para a geometria das espirais em relao eficincia do compressor.

    Por exemplo, para pequenos dimetros das espirais necessrio um aumento

    considervel da altura das mesmas, disto resultam elevadas perdas por

    vazamento, que reduzem a eficincia volumtrica. Por outro lado, alturas

    demasiadamente pequenas geram valores elevados para os dimetros das

    espirais e, conseqentemente, altas excentricidades, que aumentam as perdas

    mecnicas.

    Neste trabalho, a metodologia desenvolvida por Puff e Krueger (1992) usada como

    base para a simulao do compressor scroll. Maiores detalhes dos modelos includos na

    metodologia so fornecidos nos prximos captulos.

    Groll et al. (2002) apresentam uma descrio detalhada dos principais modelos

    matemticos necessrios para caracterizar o processo de compresso de um compressor scroll.

    Alm disso, os autores realizaram um anlise trmica do compressor a partir da primeira lei

    da termodinmica, calculando instantaneamente o estado do fluido refrigerante ao longo do

    movimento da espiral mvel. Os processos associados suco e descarga, vazamentos,

    transferncia de calor em cada cmara foram identificados e modelados durante todo o

    processo de compresso. O trabalho de Groll et al. (2002) uma fonte importante para a

    compreenso e anlise do funcionamento de compressores do tipo scroll.

  • Reviso Bibliogrfica 18

    2.4. Anlise Comparativa de Mecanismos de Compresso

    Ozu e Itami (1981) apresentaram um estudo terico e experimental de compressores

    de pisto rolante e alternativo aplicados ao condicionamento de ar, realizando uma

    comparao entre as suas eficincias. O compressor de pisto rolante apresentou perda

    mecnica mais elevada, no entanto, deixou evidente duas caractersticas positivas: eficincia

    volumtrica mais elevada, perdas menores em vlvulas. De fato, como os processos de

    suco, compresso e descarga so realizados simultaneamente, a velocidade do gs nas

    vlvulas cai aproximadamente pela metade. Mesmo com perdas por frico mais elevadas, o

    compressor de pisto rolante apresentou uma eficincia maior do que a do compressor

    alternativo.

    Collings et al. (2002) realizaram um estudo comparativo entre os compressores scroll,

    alternativo e de pisto rolante, utilizando o CO2 como fluido refrigerante. No trabalho foram

    analisados vazamentos, superaquecimento e torque. Um grande potencial para a vedao de

    vazamentos foi observado para os compressores scroll e alternativo, mas neste ltimo foi

    verificado picos elevados de torque. Os autores concluram que, para o uso do CO2 como

    fluido refrigerante, no existe uma tecnologia que seja mais eficiente nos trs aspectos

    analisados.

    2.5. Escopo do Trabalho

    Como pode ser observado da reviso bibliogrfica, a maioria dos trabalhos disponveis

    na literatura considera a anlise de compressores de forma isolada, com muito poucas anlises

    comparativas. Mesmo para os estudos comparativos encontrados, no h uma anlise para

    capacidades de refrigerao domstica. Alm disto, os trabalhos que consideram os

    compressores alternativo, scroll e de pisto rolante, no fornecem uma anlise detalhada de

    perdas termodinmicas. Na maioria dos casos, as principais caractersticas de cada mecanismo

    so levantadas experimentalmente e, ento, extrapoladas de forma qualitativa para a condio

    que se deseja analisar junto s demais tecnologias.

    Em funo do exposto acima, o presente trabalho tem os seguintes objetivos

    especficos:

    i. Analisar e implementar modelos termodinmicos para a simulao de

    compressores alternativo, scroll e de pisto rolante;

  • Reviso Bibliogrfica 19

    ii. Desenvolver uma estratgia para a anlise comparativa do desempenho

    termodinmico de compressores;

    iii. Fornecer uma anlise crtica sobre o desempenho termodinmico dos

    compressores alternativo, scroll e de pisto rolante na faixa de capacidade da

    refrigerao domstica.

  • CAPTULO 3 - MODELOS MATEMTICOS

    O processo de compresso em um compressor de deslocamento positivo pode ser

    descrito por vrios fenmenos interagindo simultaneamente num curto perodo de tempo. Os

    modelos matemticos tm por objetivo descrever estes fenmenos, de tal maneira que a

    simulao possa retratar fielmente o ciclo de operao do compressor.

    Soedel (1974) descrevem uma metodologia integral generalizada para a simulao de

    compressores de deslocamento positivo e demonstram que os fenmenos que ocorrem durante

    a operao desses mecanismos podem ser descritos pelo acoplamento de quatro conjuntos de

    equaes:

    i. Equaes que descrevem as variaes geomtricas em funo do ngulo de

    giro do eixo do motor, tais como: variao do volume das cmaras de

    compresso, movimento das partes mveis inerentes bomba de compresso e

    outras informaes pertinentes geometria do compressor;

    ii. Equaes termodinmicas que descrevem a variao da presso e da

    temperatura durante o processo de compresso e expanso do fluido

    refrigerante nas cmaras de compresso;

    iii. Equaes para a avaliao de fluxos de massa durante o processo, incluindo

    vazamentos.

    iv. Equaes para a dinmica dos sistemas de vlvulas e que definem a acelerao,

    velocidade e deslocamento das mesmas em cada instante de tempo;

    Os resultados de presso, temperatura, fluxo de massa pelas vlvulas de suco e de

    descarga, vazamentos e movimento de vlvulas, caracterizam o desempenho do compressor

    durante o ciclo de operao. Ao final deste captulo, so introduzidas as equaes auxiliares

    que permitem avaliar o desempenho e identificar as diferentes ineficincias do compressor.

    No captulo seguinte so descritas as metodologias numricas para a soluo do sistema de

    equaes necessrio para a simulao de compressores.

  • Modelos Matemticos 21

    3.1. Modelagem Matemtica do Compressor Alternativo

    Como descrito no Captulo 1, o compressor alternativo possui uma cmara de

    compresso composta por um pisto mvel que se movimenta de forma alternada no interior

    de um cilindro fixo. Na regio superior do cilindro so posicionados os orifcios de suco e

    descarga juntamente com as suas respectivas vlvulas, de tal forma que em um mesmo ciclo

    ocorrem os processos de suco e descarga. Os modelos aqui apresentados baseiam-se nos

    trabalhos de Ussyk (1984), Prata et al. (1992) e Matos (2002).

    3.1.1. Volume da cmara de compresso

    O volume instantneo da cmara de compresso, V( ), mostrado na Figura 3.1

    definido pela posio instantnea do pisto, y( ), pelo dimetro do cilindro, Dcil, e pelo

    volume morto, Vm.

    mcil Vy

    DV += )(

    4)(

    2

    pi

    (3.1)

    y

    r

    C b

    e

    dm

    Dcil

    Volume de Compresso - V()

    0

    PMS

    Figura 3.1 Parmetros inerentes ao clculo do volume no compressor alternativo.

    De acordo com o sistema de coordenadas (r, y) indicado na Figura 3.1, cuja origem

    situada no ponto morto superior (PMS) e a linha de centro passando sobre o eixo do motor, a

    posio do pisto y( ) para um sistema biela-manivela pode ser escrita como:

    ( )[ ]2122 ))(sen()cos()( mbpms deCeCy +=

    (3.2)

  • Modelos Matemticos 22

    onde Cpms distncia entre o ponto morto superior (PMS) e o eixo da manivela, e a

    excentricidade, Cb o comprimento da biela e dm o desalinhamento entre os eixos da

    manivela e do cilindro. Maiores detalhes sobre a equao (3.2) podem ser encontrados no

    trabalho de Matos (2002).

    Substituindo a equao (3.2) na equao (3.1), resulta a seguinte relao:

    ( )( )[ ] mmbpmscil VdeCeCDV ++= 21222

    ))(sen()cos(4

    )( pi

    (3.3)

    O ngulo de giro pode ser relacionado com o tempo t e com a velocidade angular do

    eixo de acionamento (=2pif), pela expresso = t. Dada freqncia de operao em

    rotaes por minuto, N, tem-se =2piN/60. Desta forma:

    tNpi

    30=

    (3.4)

    Deste modo, substituindo a equao (3.4) na equao (3.3), obtm-se a variao do

    volume do cilindro de compresso em funo do tempo:

    mmbpmscil Vdt

    NeCt

    NeC

    DtV +

    +

    =21

    222

    )30

    sen(30

    cos4

    )( pipipi

    (3.5)

    A Figura 3.2 ilustra o volume deslocado pelo pisto ao se mover do ponto morto

    superior (PMS) at o ponto morto inferior (PMI), evidenciando tambm o volume morto

    quando o pisto est no PMS.

    y

    r

    Volume Morto - Vm

    0

    e

    y

    rVolume Deslocado - Vdes

    0

    (a) Ponto morto superior (PMS). (b) Ponto morto inferior (PMI).

    Figura 3.2 Posio dos pontos de mnimo e mximo deslocamento do pisto no compressor alternativo.

  • Modelos Matemticos 23

    Desconsiderando o efeito do desalinhamento entre os eixos, dm, o volume deslocado

    dado pelo dimetro do pisto, Dp, e pelo curso total percorrido, 2e:

    eD

    Vp

    des 24

    2

    =

    pi

    (3.6)

    O desalinhamento dm gera um pequeno acrscimo no volume deslocado, porm

    desprezvel para efeito de clculos.

    3.1.2. Propriedades termodinmicas do fluido refrigerante

    A determinao das propriedades termodinmicas do gs no interior da cmara de

    compresso realizada atravs da equao de conservao da energia (Bejan, 1997), aplicada

    ao volume de controle representado na Figura 3.3:

    ( )i

    vc sv

    jjjjii WQdAVvpedet

    && +=++

    .

    (3.7)

    onde os subndices i e j denotam, respectivamente, propriedades avaliadas no interior do

    volume de controle e sobre as superfcies de controle do volume. As propriedades so

    consideradas uniformes no interior da cmara e as temperaturas das paredes slidas constantes

    ao longo do ciclo.

    VOLUME DE CONTROLE

    msuc

    mdes

    mvaz

    . .

    .

    Q

    W

    Figura 3.3 Volume de controle para o balano de energia no compressor alternativo.

  • Modelos Matemticos 24

    Na equao (3.7), e representa a energia especfica do gs, dada pela soma das

    energias interna, u, cintica, V2/2, e potencial, gz. As energias cintica e potencial podem ser

    desprezadas, de modo que e = u. Introduzindo a definio de entalpia, dada por h = u + pv, a

    equao da energia pode ser escrita da seguinte forma:

    i

    vc sv

    jjii WQdAVhdut

    && +=+

    .

    (3.8)

    O trabalho realizado sobre o gs, iW& , que aparece na equao (3.8), pode ser avaliado

    por:

    dt

    dpW iii

    =&

    (3.9)

    onde, pi a presso instantnea do gs no interior da cmara de compresso e dtd i a taxa

    da variao do volume da cmara de compresso.

    Por outro lado, a taxa de transferncia de calor entre o gs e as paredes do cilindro, Q& ,

    pode ser avaliada de:

    )( iciltc TTAHQ =&

    (3.10)

    onde Hc o coeficiente de transferncia de calor por conveco, At a rea instantnea de

    troca de calor, Tcil a temperatura da parede interna do cilindro e Ti a temperatura do gs no

    interior da cmara de compresso. O coeficiente de transferncia de calor Hc estimado

    atravs da correlao de Annand (1963), sugerida por Prata et al. (1992) como sendo a mais

    adequada para compressores alternativos.

    Os dois termos do lado esquerdo da equao (3.8) representam, respectivamente, a

    energia do gs no interior do volume de controle e a energia que atravessa as fronteiras devido

    entrada ou sada de gs. Para fins de implementao computacional, esses termos podem ser

    expressos de forma conveniente pelas seguintes relaes:

    dt

    dmu

    dt

    dumum

    dt

    ddu

    t

    ii

    iiii

    vc

    ii +== )(

    (3.11)

    jj

    sv

    jj hmdAVh &=

    .

    (3.12)

  • Modelos Matemticos 25

    onde mi a massa de gs no interior da cmara de compresso, dtdmi taxa de variao da

    massa no interior da cmara de compresso, enquanto que jm& e hj so, respectivamente, o

    fluxo de massa e a entalpia cruzando as fronteiras. Substituindo as equaes (3.9), (3.10),

    (3.11) e (3.12) na equao (3.8) e isolando o termo de variao de energia interna com o

    tempo, resulta na seguinte expresso:

    dt

    dmuhm

    dt

    dpTAHTAH

    dt

    dum iijj

    iiitcciltc

    ii

    = &

    (3.13)

    Empregando as relaes termodinmicas (Bejan, 1997),

    dt

    dvp

    T

    pT

    dt

    dTc

    dt

    du ii

    v

    iivi

    i

    +=

    (3.14)

    dt

    dm

    m

    v

    dt

    d

    m

    1

    mdt

    d

    dt

    dv i

    i

    ii

    ii

    ii

    =

    =

    (3.15)

    e substituindo-as na equao (3.13), pode-se rearranjar e simplificar os diversos termos,

    obtendo-se:

    +

    =

    dt

    dmv

    T

    p

    dt

    d

    T

    pAH

    cm

    Thm

    dt

    dmhTAH

    cm

    1

    dt

    dT ii

    vi

    ii

    vi

    itc

    vii

    ijj

    iiciltc

    vii

    i&

    (3.16)

    Pode-se escrever a equao (3.16) no seguinte formato compacto:

    ii BTA

    dt

    dT=

    (3.17)

    onde,

    = jj

    iiciltc

    vii

    hmdt

    dmhTAH

    cmA &

    1

    (3.18)

    +=

    dt

    dmv

    T

    p

    dt

    d

    T

    pAH

    cm

    1B ii

    vi

    ii

    vi

    itc

    vii (3.19)

    Para determinar a variao de massa com o tempo e a massa contida no interior da

    cmara de compresso necessrio avaliar os fluxos de massa envolvidos no processo. Os

    principais fluxos de massa durante o ciclo de operao do compressor alternativo so os que

  • Modelos Matemticos 26

    ocorrem atravs da vlvula de suco, sucm& , e atravs da vlvula de descarga, desm& . Deve ser

    mencionado que, em algumas situaes, pode ocorrer refluxo nas vlvulas de suco e de

    descarga; tais fluxos de massa so denotados neste trabalho por refsucm& e refdesm& ,

    respectivamente. Finalmente, atravs da folga entre o pisto e o cilindro ocorre tambm um

    vazamento de fluido refrigerante, representado aqui por vazm& . Os refluxos atravs das vlvulas

    de suco e de descarga so decorrentes das caractersticas da dinmica das vlvulas, gerando

    uma perda de capacidade do compressor. J o vazamento ocorre devido movimentao do

    pisto e diferena de presso entre a cmara de compresso e o ambiente interno da carcaa

    do compressor. Os modelos para o clculo de cada um desses fluxos de massa sero descritos

    posteriormente.

    Aplicando a conservao da massa ao volume de controle obtm-se a expresso para a

    variao da massa no interior da cmara de compresso com o tempo (equao (3.20)).

    )( refdesrefsucvazdessuci mmmmm

    dt

    dm&&&&& +=

    (3.20)

    Do balano de energia, tm-se:

    )( desrefdesirefsucivazidessucsucjj hmhmhmhmhmhm &&&&&& +=

    (3.21)

    onde hi, hsuc e hdes denotam as entalpias do gs na cmaras de compresso, de suco e de

    descarga, respectivamente. Substituindo estas expresses nas equaes (3.18) e (3.19) e

    fazendo as devidas simplificaes, tem-se:

    [ ])()(1 idesrefdesisucsucciltcvii

    hhmhhmTAHcm

    A ++= &&

    (3.22)

    +

    += )mmmmm(v

    T

    p

    dt

    d

    T

    pAH

    cm

    1B refdesrefsucvazdessuci

    vi

    ii

    vi

    itc

    vii

    &&&&&

    (3.23)

    Finalmente, as propriedades termodinmicas do gs na cmara de compresso so

    obtidas atravs da equao de estado para gs real disponveis no cdigo computacional

    REFPROP 7.0 (NIST, 2002).

    Assim, atravs da equao (3.17) e da equao de estado, possvel obter os valores

    da temperatura, Ti, e da presso, pi, na cmara de compresso ao longo de um ciclo completo

    de operao do compressor.

  • Modelos Matemticos 27

    3.1.3. Dinmica das vlvulas

    As vlvulas usadas em compressores de refrigerao so em sua grande maioria do

    tipo automtica, ou seja, a prpria diferena de presso atravs da vlvula determina o seu

    movimento. Segundo Krueger (1988), um modelo de viga engastada com um nico grau de

    liberdade satisfatrio para caracterizar a dinmica de vlvulas de compressores. Usualmente,

    o movimento da vlvula modelado atravs de um sistema massa-mola-amortecedor,

    conforme representado graficamente na Figura 3.4 e matematicamente pela equao (3.24).

    m.

    xv,final

    m.

    xv

    Kv

    Cv C

    v xv

    Kv xv

    .

    F(t)

    (a) Modelo viga engastada. (b) Modelo movimento massa/mola/amortecimento.

    Figura 3.4 Sistema de vlvula usados em compressores de refrigerao Gasche (1996).

    )()()()( txmtxCtxKtF vvvvvvv &&& =

    (3.24)

    As variveis aparecendo na equao acima possuem os seguintes significados:

    Fv - fora atuando sobre a palheta;

    mv - massa equivalente da vlvula;

    Kv - coeficiente de rigidez da vlvula;

    Cv - coeficiente de amortecimento da vlvula;

    xv, vx& , vx&& - deslocamento, velocidade e acelerao da vlvula.

    A fora total sobre a vlvula, Fv(t), pode ser subdividida em trs parcelas distintas: i)

    fora devido ao campo de presso do escoamento atuando sobre a vlvula, ii) fora de

    colamento devido presena de um filme de leo entre a palheta o seu assento e iii) fora de

    pr-tenso eventualmente imposta na montagem das vlvulas. A fora de colamento

    indesejada, pois geralmente atrasa a abertura das vlvulas, sendo de difcil quantificao e

    controle, enquanto que a fora de pr-tenso uma opo de projeto. A fim de simplificar a

    modelagem, no presente trabalho considera-se somente a presena da fora devido ao campo

    de presso do escoamento, cuja magnitude obtida atravs do conceito de rea efetiva de

    fora, Aef, conforme a seguinte expresso:

  • Modelos Matemticos 28

    pAtF efv =)(

    (3.25)

    onde p representa a diferena de presso atravs da vlvula. A rea efetiva de fora pode ser

    entendida como a rea que quando multiplicada pela diferena de presso p resulta na fora

    Fv(t). Os valores de Aef podem ser obtidos experimentalmente ou numericamente para

    diferentes aberturas da vlvula, ou seja, Aef = f(xv).

    Conhecida a fora Fv(t), a equao (3.24) pode ser resolvida a partir da condio

    inicial, correspondente vlvula fechada, na qual 0=vx e 0=vx& . Integrando numericamente

    a equao (3.24), pode-se obter o deslocamento e a velocidade da vlvula em qualquer

    instante de tempo.

    3.1.4. Fluxo de massa atravs das vlvulas

    De acordo com Ussyk (1984), o escoamento atravs das vlvulas pode ser modelado

    com referncia a um escoamento compressvel isentrpico em um bocal, considerando as

    condies de estagnao a montante do bocal, e permitindo que o escoamento no bocal seja

    subcrtico ou crtico. A Figura 3.5 mostra um esquema do sistema de vlvulas e o modelo

    proposto.

    msuc

    mdes

    . .

    pupTup

    pdownTdown

    AeeEstagnao

    m.

    (a) Esquema sistemas de vlvulas. (b) Modelo bocal.

    Figura 3.5 Modelo para clculo de fluxo de massa atravs das vlvulas.

    Ussyk (1984) demonstrou que a vazo de massa atravs de vlvulas pode ser

    determinada atravs da seguinte expresso:

  • Modelos Matemticos 29

    k)1k(

    sk

    2

    sup

    upee rr)1k(RT

    k2pAm

    +

    =&

    (3.26)

    onde, Aee - rea efetiva de escoamento;

    pup, pdown - presso a montante e a jusante, respectivamente;

    rs - razo de presses, updowns ppr = ;

    Tup - temperatura a montante do escoamento;

    k - relao de calores especficos, vp cck = ;

    R - constante do gs.

    No caso de escoamento crtico, existente quando ))1(2()( )1( + kpp kkupdown , a

    razo de presso determinada pela seguinte expresso:

    )1(

    1

    2

    +=

    kk

    sk

    r

    (3.27)

    A equao (3.26) empregada tambm para a condio de refluxo, mas as condies a

    montante e jusante so alteradas de forma a serem consistentes com a direo do escoamento.

    A Tabela 3.1 mostra as condies de fluxo normal e de refluxo para as vlvulas de suco e

    descarga.

    Tabela 3.1 Condies de contorno para o fluxo e refluxo atravs da vlvula de suco e descarga.

    Vlvula Condio de Fluxo pup pdown Tup Aee

    Fluxo isuc pp psuc pi Tsuc )( vsuceesuc xfA = Suco

    Refluxo suci pp pi psuc Ti )( vsuceerefs xfA =

    Fluxo desi pp pi pdes Ti )( vdeseedes xfA = Descarga

    Refluxo ides pp pdes pi Tdes )( vdeseerefd xfA =

    Percebe-se que a equao (3.26) emprega um coeficiente de ajuste, Aee, que corrige a

    vazo obtida para a condio de escoamento isentrpico para a condio real. Este coeficiente

    denominado rea efetiva de escoamento e, da mesma forma como realizado para a rea

    efetiva de fora, deve ser obtido de forma experimental ou numrica, para cada posio de

    abertura da vlvula.

  • Modelos Matemticos 30

    3.1.5. Fluxo de massa pela folga entre pisto e cilindro

    O fluxo de massa atravs da folga entre as paredes do pisto e do cilindro o principal

    ponto de vazamento de gs refrigerante, afetando diretamente a eficincia volumtrica do

    compressor. Alm disto, o vazamento afeta tambm a eficincia isentrpica, pois a quantidade

    de energia utilizada na compresso da parcela de massa vazada perdida. Deste modo,

    importante poder prever o fluxo de massa atravs dessa folga.

    Durante o processo de compresso, a presso no interior da cmara de compresso se

    eleva, gerando uma diferena em relao presso do gs dentro da carcaa, o qual est em

    contato com o pisto. Alm desta diferena de presso, a velocidade e a posio do pisto ao

    longo do curso tm tambm influncia sobre o fluxo de massa vazado.

    Lilie e Ferreira (1984), a partir de um modelo simplificado, deduziram as equaes

    para a determinao do vazamento, levando em considerao os parmetros mostrados na

    Figura 3.6. De acordo com esse modelo, necessita-se conhecer os valores da presso, pi, e da

    densidade, i, dentro da cmara de compresso, o valor da presso na carcaa, psuc, a

    velocidade instantnea do pisto, Vp, e a geometria da bomba (Rp e Rcil).

    msuc

    mdes

    mvaz

    . .

    .

    z

    r

    Rp

    Rc

    pc/2

    L

    Vp

    Vr

    psuc

    pi,

    i mvaz

    .

    pi

    psuc

    Figura 3.6 Parmetros envolvendo o vazamento de gs atravs da folga pisto / cilindro.

    Considerando escoamento unidimensional laminar de um fluido newtoniano, pode-se

    determinar o perfil de velocidade do gs ao longo da folga, Vr.

    21

    2

    ln4

    )(Cr

    C

    L

    rppV sucir +

    =

    (3.28)

  • Modelos Matemticos 31

    onde, a viscosidade dinmica e r a coordenada radial entre Rp e Rcil. As constantes C1 e

    C2 so determinadas a partir das condies de contorno, as quais para o presente so dadas

    por: para r = Rp a V = Vp e para r = Rcil a V = 0.

    A substituio dessas condies na equao (3.28) fornecem C1 e C2, permitindo

    reescrev-la da seguinte forma:

    +

    =

    cilcil

    cilsuci

    cil

    p

    rR

    r

    K

    K

    R

    r

    L

    Rpp

    R

    r

    K

    VV ln

    ln

    )1(1

    4

    )(ln

    ln

    222

    (3.29)

    onde, K a razo entre os raios do pisto e cilindro (K = Rp / Rcil).

    Finalmente, com o perfil de velocidade possvel se determinar a velocidade mdia do

    gs na folga:

    +

    +

    +=

    K

    K

    K

    K

    L

    Rpp

    KK

    KKKVV cilsucipr ln

    1

    1

    1

    8

    )(

    )1(ln2

    ln21 2

    2

    42

    2

    22

    (3.30)

    A velocidade instantnea do pisto, Vp, que aparece na equao acima obtida atravs

    da derivada da equao (3.2) que expressa a sua posio em funo do tempo:

    dt

    dytVp =)(

    (3.31)

    Por outro lado, o comprimento do contato entre as paredes do cilindro e do pisto, L,

    dado por:

    )cos1( += eLL o

    (3.32)

    onde, Lo o comprimento mnimo de contato.

    Finalmente, a vazo em massa do vazamento dada pelo produto entre a rea de

    passagem da folga, a velocidade mdia e a densidade do gs na folga (assumi-se i):

    ( )[ ]4RVAVm pccilpcirpassagemirvaz pi==&

    (3.33)

    3.2. Modelagem Matemtica do Compressor de Pisto Rolante

    Diferentemente do compressor alternativo, o compressor de pisto rolante possui duas

    cmaras operando simultaneamente, uma cmara de suco e uma cmara de compresso.

  • Modelos Matemticos 32

    Deste modo, necessrio definir as equaes para a variao do volume e relaes

    termodinmicas para cada uma dessas cmaras.

    Alm dos modelos para calcular o processo de compresso, deve-se determinar a

    posio e a velocidade da palheta no interior da cmara de compresso atravs de relaes

    geomtricas entre a posio do pisto rolante e da palheta ao longo do processo. Como o

    detalhamento da dinmica do mecanismo no o escopo deste trabalho, foram utilizadas as

    equaes descritas no trabalho de Gasche (1996) para a determinao da posio e da

    velocidade da palheta em cada instante de tempo.

    3.2.1. Volumes das cmaras de suco e de compresso

    A Figura 3.7 mostra as cmaras de compresso e de suco formadas durante o ciclo

    de operao do compressor e os parmetros envolvidos no clculo de seus volumes. As

    relaes geomtricas para a obteno dos volumes a serem apresentadas a seguir so descritas

    em detalhes em Gasche (1996).

    AB

    D

    C = A + B

    R c

    Rp

    eO

    c

    Op

    P

    v

    v

    Rb

    Bb

    A4

    P

    1

    Detalhe da Ponta da Palheta

    F

    G

    Cmara de Compresso

    Cmara de Suco

    Figura 3.7 Parmetros geomtricos relativos s cmaras de suco e compresso no compressor de pisto

    rolante.

    O volume de compresso dado por:

    ( ) ( ) ( ) bcstcc VVVV =

    (3.34)

  • Modelos Matemticos 33

    onde, Vt o volume total, Vcs( ) o volume da cmara de suco e Vb( ) o volume

    ocupado pela palheta no interior do cilindro.

    O volume total, Vt, formado pelo volume deslocado, Vdes, pelo volume do orifcio de

    descarga, Vod, e pelo volume formado na regio de contato da ponta da palheta com o pisto

    rolante, V4.

    4VVVV oddest ++=

    (3.35)

    O volume deslocado corresponde ao volume interno do cilindro menos o volume

    ocupado pelo pisto rolante:

    ( )2p2ccdes RRhV pi=

    (3.36)

    enquanto os volumes Vod e V4 so dados por:

    = od

    odod h

    DV

    4

    2pi

    (3.37)

    chAV 44 =

    (3.38)

    Nas equaes acima, Dod e hod so o dimetro e a altura, respectivamente, do orifcio de

    descarga, Rc o raio interno do cilindro fixo, Rp o raio externo do pisto rolante e hc a

    altura do cilindro. A rea A4 obtida das caractersticas geomtricas da palheta, representadas

    pela espessura Bb e pelo raio da curvatura da ponta da palheta Rb.

    ( )24

    cos

    21

    21

    4

    bbbbb RRBBRA =

    (3.39)

    O ngulo 1 que aparece na expresso anterior calculado atravs da seguinte relao

    trigonomtrica:

    =

    b

    b

    R

    B

    2arcsen1

    (3.40)

    O volume da cmara de suco dado por:

    ( ) ( )2

    )()()(

    btrrrrccsV

    VVVV =

    (3.41)

  • Modelos Matemticos 34

    onde Vrc( ) o volume correspondente rea no interior do cilindro definida pela regio

    entre os pontos F Oc G, Vrr( ) o volume correspondente rea no interior do pisto rolante

    definida pela regio entre os pontos P Op G . Finalmente, Vtr( ) o volume correspondente a

    rea do tringulo OcOpP. Cada um desses volumes est indicado nas relaes (3.42) a (3.45).

    ( ) ccrc hRV2

    2

    1=

    (3.42)

    ( ) ( )( ) senarcsen2

    1 2 ERhRV cprr +=

    (3.43)

    ( ) CheV ctr sen21

    =

    (3.44)

    ( ) 42VDBhV bcb =

    (3.45)

    onde,

    22sen1cos ERReC p +=

    (3.46)

    pR

    eER =

    (3.47)

    CRD c =

    (3.48)

    Utilizando a equao (3.4), que relaciona com o tempo t e a freqncia de operao

    em rotaes por minuto, possvel obter o volume de compresso e o volume de suco em

    relao ao tempo.

    Uma dimenso geomtrica importante em compressores de pisto rolante o volume

    residual ao final do processo de compresso. No momento em que o pisto rolante passa sobre

    o orifcio de descarga, forma-se uma regio entre o pisto e a palheta e o gs comprimido

    nesta regio, por meio do canal do orifcio de descarga, entra em contato com a cmara de

    suco, conforme indicado na Figura 3.8. O volume residual obtido a partir da equao do

    volume de compresso para a posio angular correspondente passagem do pisto rolante

    sobre o orifcio de descarga, este ponto define a posio angular do orifcio no cilindro e

    denominado de ngulo de descarga (des).

    ( ) ( ) ( )desbdescstdesccres VVVVV ==

    (3.49)

  • Modelos Matemticos 35

    des

    Volume Residual - Vres

    Figura 3.8 Volume residual no compressor de pisto rolante.

    3.2.2. Propriedades termodinmicas do fluido refrigerante

    Da mesma forma como para o compressor alternativo, a determinao das

    propriedades termodinmicas durante o processo de compresso se d atravs da equao da

    conservao da energia. Porm, no caso do compressor de pisto rolante, tem-se dois volumes

    de controle, um para a cmara de compresso e outro para a cmara de suco, sendo

    necessrio o desenvolvimento de equacionamentos distintos. A Figura 3.9 mostra os dois

    volumes de controle em anlise e os fluxos de massa associados ao ciclo de operao do

    compressor de pisto rolante.

    W

    Q

    msuc

    .

    W

    Q

    Vcc

    Vcs

    mdes

    .m

    des

    .

    .m

    pd

    .

    .m

    ps

    .

    .m

    fmn

    .

    .m

    fbs

    ..m

    fbc

    .

    .m

    bc

    .

    (a) Volumes de controle. (b) Fluxos de massa envolvidos durante o processo.

    Figura 3.9 Volumes de controle para anlise da primeira lei no compressor de pisto rolante.

    Do mesmo desenvolvimento apresentado para o compressor alternativo, chega-se

    equao (3.16) para os volumes de compresso e de suco. No caso do compressor de pisto

  • Modelos Matemticos 36

    rolante, os coeficientes de transferncia de ca