AnáLise- Poemas II Parte- MAR PORTUGUÊS

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 “O Infante” Um percurso de leitura possível... MENSAGEM “Possessio maris” ( “Posse dos mares”) O domínio do mar permitiu estabelecer ligações entre os povos (“Que o mar unisse / Já no separasse”)! O mar "unciona# ent o# como um símbolo da vida e da morte$ um re"%gio (“&agna mater” ' a grande me protectora)$ um re"leo do cu! 1.º poema – “O Infante” Tema = o son*o (como epresso da vontade divina)  +o ,!- verso# o poeta re"ere a relaço entre a vontade divina# o son*o *umano e a obra  produ.ida# ou sea# para 0ue a obra nasça# preciso 0ue 1eus 0ueira e 0ue o 2omem son*e!!! ( “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” )!(a"irmaço aiomática)  3 obra dos portugueses aparece # assim# como epresso de algo superior ' o deseo de 1eus4 “Deus quis que a terra fosse toda uma, / Que o mar unisse, já não separasse./ Sagroute, e foste des!endando a espuma” 3 acço portuguesa vista como uma "orma de uni"icaço dos povos# atravs do mar# 0ue se tornou igualmente um espaço "ísico uni"icante# uma ve. 0ue permitia a unio dos continentes e no a sua separaço! 5sta ideia concreti.a 6se# de uma "orma eplícita# na 7!8 estro"e4 “" a or#a branca foi de i#ha em continente, / $#areou, correndo, at% ao fim do mundo” ! 9 permitido# portanto# atravs do mar# o con*ecimento de novas terras e novas gentes! +ote6se 0ue# para o poeta# este con*ecimento surge como a reali.aço de uma vontade 0ue está para alm do ser *umano# uma vontade divina# pois "oi permitida# ao povo portugu:s# uma viso totali.ante da terra4 “" !iuse a terra inteira, de repente, / Surgir, redo nda, do a&u# profundo.” A missão dos portugueses foi cumprida no passado, falta, porém cumprir o presente...  Os 1escobrimentos portugueses so encarados como um sinal de carácter tr anscende nte# uma obra *umana 0ue re"lectiu uma aspiraço 0ue se situa para alm de si mesma! 9# pois# nesse sentido# 0ue o sueito potico# em tom de prece# evoca a intervenço divina4 “$umpriuse o 'ar, e o (mp%rio se desfe&. / Senh or , fa#ta cump rir se Portuga# )”  Ou sea! 3pesar de# no passado# Portugal ter cumprido a misso de unir a terra# atravs do mar# essa con0uista do mar no "oi su"iciente (o imprio

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“O Infante” 

Um percurso de leitura possível...

MENSAGEM

“Possessio maris” 

( “Posse dos mares”)

O domínio do mar permitiu estabelecer ligações entre os povos(“Que o mar unisse / Já no separasse”)!

O mar "unciona# ento# como um símbolo da vida e da morte$ umre"%gio (“&agna mater” ' a grande me protectora)$ um re"leo do cu!

1.º poema – “O Infante” Tema = o son*o (como epresso da vontade divina)

 +o ,!- verso# o poeta re"ere a relaço entre a vontade divina# o son*o *umano e a obra produ.ida# ou sea# para 0ue a obra nasça# preciso 0ue 1eus 0ueira e 0ue o 2omem son*e!!! (“Deus

quer, o homem sonha, a obra nasce” )!(a"irmaço aiomática)

 3 obra dos portugueses aparece# assim# como epresso de algo superior ' o deseo de 1eus4“Deus quis que a terra fosse toda uma, / Que o mar unisse, já não separasse./ Sagroute, e foste

des!endando a espuma” 

3 acço portuguesa vista como uma "orma de uni"icaço dos povos# atravs do mar# 0ue setornou igualmente um espaço "ísico uni"icante# uma ve. 0ue permitia a unio dos continentes e no asua separaço! 5sta ideia concreti.a6se# de uma "orma eplícita# na 7!8 estro"e4 “" a or#a branca foi de

i#ha em continente, / $#areou, correndo, at% ao fim do mundo” !

9 permitido# portanto# atravs do mar# o con*ecimento de novas terras e novas gentes! +ote6se

0ue# para o poeta# este con*ecimento surge como a reali.aço de uma vontade 0ue está para alm doser *umano# uma vontade divina# pois "oi permitida# ao povo portugu:s# uma viso totali.ante da terra4“" !iuse a terra inteira, de repente, / Surgir, redonda, do a&u# profundo.”

A missão dos portugueses foi cumprida no passado, falta, porém cumprir o presente...

 Os 1escobrimentos portugueses so encarados como um sinal de carácter transcendente# uma

obra *umana 0ue re"lectiu uma aspiraço 0ue se situa para alm de si mesma! 9# pois# nesse sentido#0ue o sueito potico# em tom de prece# evoca a intervenço divina4 “$umpriuse o 'ar, e o (mp%rio

se desfe&. / Senhor, fa#ta cumprirse Portuga#)”   Ou sea!  3pesar de# no passado# Portugal ter cumprido a misso de unir a terra# atravs do mar# essa con0uista do mar no "oi su"iciente (o imprio

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material des"e.6se)! 3ssim sendo# "alta cumprir uma nova misso4 "alta concreti.ar um novo son*o ' ode alcançar um imp%rio espiritua#.

"uest#es relacionadas com a linguagem $figuras de estilo e recursos morfossint%cticos&

 3s "ormas verbais# no ,!- verso# tradu.em a gradaço sem;ntica 0ue consiste na evoluço doelemento passivo# en0uanto vontade divina# para o elemento activo ' produço mani"esta4“Deus quer  , o homem sonha , a obra nasce”!

 Os substantivos# ainda no ,!- verso# consagram a unio da trilogia 1eus / *omem / obra#numa relaço de causalidade!

 3 oposiço entre os verbos “unir” e “separar” 4 “Deus quis que a terra fosse toda uma, / Que o mar unisse , já não separasse”!  +estes versos# o mar no aparece como elemento deseparaço em relaço < terra$ pelo contrário# o percurso *umano# atravs da água# ligaterrit=rios# unindo as "ronteiras e os *omens!

 3 imagem# sugerida nos %ltimos versos da 7!8 estro"e (“" !iuse a terra inteira, de repente, / 

 Surgir, redonda, do a&u# profundo” )# con"irma a ideia de "uso entre os elementoscosmog=nicos# o 2omem e o >riador! 3 circularidade o princípio da Per"eiço e da aus:nciade diviso4 o mundo o círculo$ o a.ul pro"undo# 0ue se associa ao cu# surge como o seu

 princípio criador! ?rata6se# pois# de uma imagem onde convergem as ideias de causalidade#temporalidade e mani"estaço# apontadas no ,!- verso (,!8 estro"e)!

  3 an%fora  e constru'ão anaf(rica  @“ Deus quer   (...) /  Deus  quis (...)”; “ "   a orlabranca(...) / (...) / "  iu!se a terra inteira (...)”A sugerem o destino emanado por 1eus e o seucumprimento# numa sucesso temporal reali.ada pelo 2omem!

 3meton)mia (“"a#rou!te, e foste desendando a espuma”) o ,!- espaço 0ue aparece# numa

aluso ao mar (a0ui apresentado como “espuma”)!

 3 imagem# na epresso “a or#a branca” # 0ue sugere a "orma 0ue a água toma unto <s proasdos navios 0ue se deslocam$ ainda uma re"er:ncia ao espaço marítimo penetrado pelos

 portugueses$

 3 utili.aço do pronome pessoal e das formas *er+ais na .- pessoa do singular indicam o povo portugu:s como o povo eleito para reali.ar a determinaço divina4 a de unir os espaços ' “"a#rou!te , e foste desendando (...)”; “Quem te sa#rou criou!te $ortu#u%s”!

 3 utili.aço de letras maisculas4 os vocábulos “'ar”  e “(mp%rio”  (para alm de “Deus” e“"enhor”# 0ue so sempre escritos desta "orma# dada a sua conotaço religiosa) surgem ambosescritos com carateres mai%sculos# o 0ue en"ati.a a sua relaço e a sua import;ncia no contetototal 0ue o poema! Para 0ue estes se situem no mesmo nível eistencial# de 0ue# de "acto#"a.em parte# seria necessário reali.ar# de"initivamente# a trilogia# 0ue se pode representar doseguinte modo4

/ar

0ortugalImpério

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Be pudssemos "ec*ar o tri;ngulo num círculo# teríamos ento# con0uistado o Quinto Cmprio#símbolo da per"eiço do universo criado# 0ue# segundo o poeta# acontecerá um dia!

0lano Ideol(gico

9 de realçar o plano tripartido subacente a este poema# ou sea# o divino# o *umano e omaterial! 3 concreti.aço da demanda de inspiraço divina mais no 0ue a glori"icaço de umavontade transcendente atravs da acço dos portugueses 0ue# ultrapassando6se a si mesmos#

construíram um imprio! D vontade de 1eus submeteram6se os portugueses# son*ando e desvendandoos mares# reali.ando uma obra incomensurável e universal# criando um universo 0ue# apesar de ostranscender# l*es permitiu ascender a um nível superior ao dos *umanos e reali.ar o deseo de 1eus!

Eoi por vontade de 1eus 0ue partiram  "oi por son*ar 0ue con0uistaram  "oi por acreditar 0ueconstruíram um imprio  "oi por deiarem de son*ar 0ue a obra "icou inacabada!

3o desaparecimento do son*o# para sempre adiado# sucede o apelo do poeta4

“Senhor, fa#ta cumprirse Portuga#)” 

3o Portugal grandioso dos 1escobrimentos sucede agora um Portugal sem identidade# sem

espírito de con0uista# sem "uturo e sem gl=ria! 3 apatia do povo portugu:s tradu.6se no incumprimentodo país# en0uanto naço una e indivisa# sem ideais e sem a *egemonia totali.ante 0ue o condu.iria aoestabelecimento do Quinto Cmprio# ou sea# < concreti.aço "inal da vontade de 1eus!

InfanteOutra proposta de an%lise

F! Gocabulário4

! Bagrar 6 (. tr.) con"erir caráter sagrado a$ consagrar$ santi"icar$ venerar como coisa sagrada!

,! ?ema4 O sono (como epresso da vontade divina)

H! 5strutura 5terna4

O poema constituído por tr2s estrofes (0uadras)# os *ersos são decass)la+os# com os acentos na setae dcima sílabas! Bo versos de ritmo largo (no geral ternário# mas <s ve.es binário)! 5ste ritmo# largamenterepousado# convm a um discurso carregado de simbolismo# em 0ue mais importante o 0ue está nasentrelin*as# do 0ue o 0ue denota a pr=pria letra! 3 rima, sempre cru3ada# segundo o es0uema rimático 3I3I#>1>1# 5E5E# permite 0ue certas palavras chaes do poema se encontrem em posições de desta0ue# no "im dosversos# como &nasce', &uma', &mundo', &$ortu#u%s', &sinal', &ortu#al'!

! 5strutura Cnterna4

  O desenvolvimento do assunto processa6se em tr:s partes# ou tr:s momentos!  !A primeira parte  constituída apenas pelo primeiro *erso# 0ue contm uma a"irmaço tripartida detipo aiomático (eidente, intuitio,, incontestáel, que tem carácter de aioma ! $ro$osi*ão que não carece de demonstra*ão,

máima, adá#io, senten*a)# ou a"orístico (aforismo+ $receito moral, máima, senten*a)4 Deus quer, o homem sonha, a obranasce. Os tr:s termos desta a"irmaço seguem6se segundo a ordem l=gica causa6e"eito4 o agente ou causa pr=ima da obra (e"eito) o *omem# mas a causa remota# o primeiro determinante# 1eus! Be 1eus no0uisesse# o *omem no son*aria e a obra no nasceria! +ote6se 0ue o sentido a"orístico da "rase tem um valor universal4 o substantivo homem re"ere6se ao ser *umano em geral e obra designa 0ual0uer acço *umana! O poema parte# pois# de uma concepço providencialista da vida *umana!

  A segunda parte do teto (do segundo verso da ,8 estro"e at ao "im da 7!8 ) apresenta6nos a vontade de1eus 0ue 0uer toda a terra unida pelo mar (0ue a separava)# con"iando essa misso ao Cn"ante# 0ue levou# como por encanto# essa &orla branca' at ao "im do mundo# surgindo# em viso miraculosa# &a terra... redonda, doa-ul $rofundo'! >omo se v:# esta segunda parte do teto subdivide6se em tr:s# momentos4 a acço de 1eus# aacço do Cn"ante (*er=i ungido por 1eus e a reali.aço da obra (o grandioso "eito 0ue transcende as "orças*umanas# pr=prio de *er=is)!

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  A terceira parte  constituída pela %ltima estro"e# em 0ue se transpõe para o povo portugu:s a gl=ria doCn"ante (&Quem te sa#rou criou!te $ortu#u%s')! O povo portugu:s "oi# pois# o eleito por 1eus para esta "açan*a!&as o poeta assinala tambm o desmoronar6se do imprio dos mares (&o m$rio se desfe-')# prevendo# noentanto# urna nova acço para renovaço e engrandecimento de Portugal (&falta cum$rir!se ortu#al')!  G:6se# portanto# 0ue o assunto evoluciona primeiro do geral (universal) para o particular4 o &homem' e a&obra' do primeiro verso t:m aplicaço universal# ao passo 0ue# na segunda parte# o &homem' se particulari.ano Cn"ante e a &obra' na epopeia marítima! 1á6se# depois# na passagem da segunda para a %ltima parte do poema# uma mudança de sentido oposto4 transiço de um plano particular (Cn"ante) para um plano geral (osPortugueses)!

  Geri"ica6se no poema uma din;mica de tipo *egeliano! Já no primeiro verso aparece a sucesso tripartida41eus 6 o *omem 6 a obra! &as onde se veri"ica mais claramente a din;mica da tese# antítese e síntese na %ltimaestro"e! Pela vontade de 1eus (causa remota) e pelo 0uerer e acço do *omem portugu:s (causa pr=ima)#reali.ou6se a epopeia marítima# &0um$riu!se o mar' (tese)# mas# logo a seguir# &o m$rio se desfe-' (antítese)!1á6se o des;nimo nacional# uma pausa no camin*o glorioso do nosso povo! 1aí a s%plica do poeta ao Ber 0uedá origem a tudo4 &"enhor, falta cum$rir!se ortu#al1'!!! Bugere6se# pois# uma nova acço de 1eus e do *omem portugu:s# de "orma a repor# ou a acrescentar ainda mais# a gl=ria do povo luso (síntese 0ue uma nova tese)!5sta nova din;mica tem de começar como no princípio# em 1eus! 1e novo se vai repetir a mesma se0u:nciacausal do primeiro verso do poema4 um impulso de 1eus um son*o do *omem 6 e uma nova epopeia!

K! 4stilo relacionado com o assunto!  O poeta teve em vista realçar a "unço iniciática do Cn"ante na obra dos 1escobrimentos# acço essa 0ue

l*e "oi con"iada pela pr=pria divindade! 1aí o emprego de palavras carregadas de conotações simb=licas! 3ssim#a epresso Lsagrou6teM# talve. ligada na mente do poeta < palavra Bagres (o Cn"ante de Bagres)# sugere aescol*a do Cn"ante para uma misso divina (&Deus quer')! O "acto de o poeta usar mai%sculas em &2ãe'  e&m$rio' revela o mesmo processo á usado no poema &auis'# destinado a dar <s palavras uma dimensomarcadamente simb=lica! 3 pr=pria palavra &mar'  símbolo do descon*ecido# do mistrio! 1aí as epressões&desendando a es$uma'# (des"a.endo o mistrio)# &nos deu sinal' (dar um sinal dar a c*ave para deci"rar omistrio)# 0ue denunciam á o levantar de um vu# o camin*ar para a plena lu.! 3s palavras# ou epressões&es$uma' (branca)# &orla, branca', &clareou', &sur#ir' (sair das sombras# revelar6se)# &do a-ul $rofundo' (domar imenso# do "undo do mistrio)# com todo o seu conte%do simb=lico# eprimem a passagem do mistrio paraa plena lu.! 5sta passagem apresenta6se como repentina# espectacular# miraculosa! 9 o 0ue sugere a epresso4&3 iu!se a terra inteira, de re$ente, / "ur#ir redonda...'

  5sta viso da &terra redonda'# surgida repentinamente# sugere a ideia de 0ue a obra dos portugueses oreali.ar de um plano divino! O redondo# a es"era# o símbolo da per"eiço c=smica# da unidade# da obracompleta e per"eita 0ue 1eus 0uis4 &Deus quer... / Deus quis que a terra fosse toda uma...'  O pr=prio &nfante' surge6nos a0ui mais como o símbolo do *er=i portugu:s escol*ido por 1eus para ser agente da sua vontade do 0ue como ser individual4 &Quem te sa#rou criou!te $ortu#u%s'!

9 nítido no poema um certo pendor dramático# no s= atendendo < tenso emocional# 0ue se revelasobretudo na segunda est;ncia# com a viso da terra redonda surgindo magicamente do a.ul pro"undo# mas#tambm# por0ue *á tr:s personagens4 o sueito emissor (o poeta)# 1eus e o Cn"ante! Be os dois %ltimos no "alam#o primeiro dirige6se ao Cn"ante (&sa#rou!te', &Quem te sa#rou', &em ti') e interpela 1eus (&"enhor, faltacum$rir!se ortu#al')! 2á portanto um diálogo# pelo menos implícito (sugerido)# o 0ue está de *armonia com ocarácter misterioso# messi;nico# do poema!  O teto começa com os *er+os no tempo presente (&quer', &sonha', &nasce')# de *armonia com o

discurso aiomático ou a"orístico do primeiro verso# passa para o tempo passado (&quis', &sa#rou!te', &foi',&clareou', &iu!se') narrativo de acontecimentos passados# para regressar ao tempo presente  (&4altacum$rir!se ortu#al')! A sucessão presente 5 passado 5 presente sugere a din6mica egeliana, % referida,da tese, ant)tese e s)ntese e seu retorno.  3p=s a primeira aventura vitoriosa dos portugueses (&o m$rio se fe-')# veio o des;nimo! Por isso# o poeta eclama# voltando6se para 1eus4 &"enhor, falta cum$rir!se ortu#al'! 5ste presente &falta' con"ere <"rase uma sugesto de urg:ncia# necessidade!  +ote6se 0ue esta %ltima "rase do teto# com toda a sua indeterminaço e ambiguidade# untamente comtodas as palavras e epressões carregadas de conotações simb=licas (á assinaladas atrás) dá ao poemacaracterísticas simbolistas!  O %ltimo verso s= indirectamente "ormula uma s%plica a 1eus! 3penas se enuncia perante 5le um "acto4&falta cum$rir!se ortu#al'! Begundo a tcnica simbolista# mais belo sugerir do 0ue a"irmar por claro! 3lm

disso# esta enunciaço da s%plica# no em "orma imperativa# mas em "orma in"ormativa# relaciona6se com ascaracterísticas messi;nicas do teto4 o povo portugu:s o eleito de 1eus$ basta 0ue 1eus vea o 0ue "alta aPortugal para 0ue desencadeie as acções necessárias para restabelecer a gl=ria do seu povo!  5sta din;mica cíclica6messi;nica da *ist=ria de Portugal no se encontra apenas neste poema deEernando Pessoa$ vimo6la tambm nNOs 5us6adas de >amões4 no %ltimo >anto# claro o incitamento do poeta a1! Bebastio (&eniado $or Deus') para 0ue repon*a e# se possível# acrescente a gl=ria de Portugal!

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  3s "rases so curtas4 seis "rases correspondem cada uma a um verso! Csto está tambm dentro datcnica simbolista4 eprimir muito com poucas palavras! +ote6se# por eemplo# 0ue o %ltimo verso do poema sugere mais do 0ue claramente a"irma! 9 uma "rase aberta a muitos cambiantes de sentidos4 noa"irma claramente# sugere!

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HORIZONTE

O horizonte é símbolo do indefinido, do longe, do mistério, do desconhecido, do mundo a descobrir, do

objetivo a atingir.

 

Através da apóstrofe inicial, "Ó mar anterior a nós", o sujeito poético dirigese ao mar desconhecido, aindan!o descobertonavegado.

 

#a $% estrofe encontramos uma oposi&!o implícita. A oposi&!o refere o mar anterior aos 'escobrimentos

portugueses ("medos", "noite", "cerra&!o", "tormentas", "mistério" substantivos )ue cont*m a ideia de

desconhecido, )ue remetem para a face oculta da realidade+ e o mar posterior a esse feito ("coral e praias e

arvoredos", "'esvendadas", "Abria", "-plendia" palavras )ue cont*m a ideia de descoberta+.

 

A epress!o "naus da inicia&!o" (v. /+ é uma refer*ncia 0s naus portuguesas )ue, impulsionadas pelos ventos

do "sonho", da "esp1ran&a" e da "vontade", abriram novos caminhos e deram início a um novo tempo.

 

A segunda estrofe é essencialmente descritiva. 2ssa descri&!o é feita por aproima&3es sucessivas, de um

plano mais afastado para planos mais próimos4 5Ao longe6 a "7inha severa da longín)ua costa" (8 o

horizonte+9 5Ao perto6 ":uando a nau se aproima, erguese a encosta 2m ;rvores"9 "<ais perto", ouvemse

os "sons" e percebemse as "cores"9 "no desembarcar" v*emse "aves, flores".

 

O sujeito poético, na =ltima estrofe, apresenta uma defini&!o poética de sonho4 O sonho é ver o invisível,

isto é, ver para l; do )ue os nossos olhos alcan&am (ver longe+9 o sonho é procurar alcan&ar o )ue est; maisalém (é esfor&arse por chegar mais longe+9 o sonho é alcan&araceder 0 >erdade, sendo )ue esta con)uista

constitui o prémio de )uem por ela se esfor&a. 'e salientar, a)ui, o uso do presente do indicativo "é" )ue

confere, a estes versos, um car;cter intemporal e program;tico.

 

#o verso $ da terceira estrofe temos o uso da antítese verinvisíveis.

 

#os versos $/$? é refor&ada a passagem do abstrato ao concreto. 2ssa passagem é refor&ada pela

acumula&!o, no verso $?, de nomes concretos, precedidos de artigos definidos4 "A ;rvore, a praia, a flor, a

ave, a fonte".

 

2ste poema apresentanos o sonho como motor da a&!o dos 'escobrimentos. @ o sonho )ue, movido pela

esperan&a e pela vontade, desperta no homem o desejo de conhecer, de procurar a verdade.

 

O título "orizonte" evoca um espa&o longín)uo )ue se procura alcan&ar funcionando, assim, como uma

espécie de met;fora da procura, como um apelo da distBncia, do "7onge", 0 eterna procura dos mundos por

descobrir.

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  "im ?odos estes vocábulos encerram uma conotaço 0ue se opõe< transpar:ncia e 0ue permite a imaginaço de um

mar  um espaço “alm”! O mar está conotado com anoite# por0ue se trata da uni"icaço de 7 elementos

  noite   ' um espaço "ísico e um momentotemporal ' aos 0uais suba. o mesmo

  cavernas signi"icado simb=lico e contetual4“* 'ostrengo que está no fim do mar / 

  +a noite de breu ergueuse a !oar / 

   2istrio  -... ” 

“O Mostrengo” - Um percurso de leitura possível...

Tema! o mistrio!O “mostrengo”# 0ue remete para a "igura de 3damastor# criada por uís de >amões# n 7s

 5us6adas# simboli.a# no poema (tal como a "igura mítica camoniana)# os receios 0ue dominam oinconsciente *umano "ace ao descon*ecido# "ace ao mistrio!

2á# no poema# um conunto de palavras 0ue se ligam < ideia de mistrio# meta"ori.ada pela"igura do “mostrengo”! ?ratam6se dos seguintes vocábulos4

 O mostrengo aparece a “voar” e o seu movimento prende6se com a dominante ascensional4 “ergueu6se a voar” ' a elevaço signi"ica a transcend:ncia em relaço < condiço *umana# ou sea# a0uilo 0ue o2omem no domina “-... / Quem !em poder o que s eu posso, / -...” 

5sta imagem "unciona# igualmente# como uma substituiço da acço 0ue este desea reali.ar! O

mostrengo # pois# uma criaço do inconsciente *umano# 0ue uni"ica dois princípios4 o medo e odeseo! O seu discurso aponta# aliás# nesse sentido4 “-... Quem % que ousou entrar / +as minhas

ca!ernas que não des!endo, / 'eus tectos negros do fim do mundo0/ -...” 

 3 indignaço do “mostrengo” (como tambm a do 3damastor) surge associada a 7 "actores4 signi"ica# por um lado# a "orma de elogiar e de enaltecer os "eitos *er=icos dos portugueses#0ue ousaram “penetrar os vedados terminus”$ por outro lado# trata6se de dar vo. aos receios 0ue ecoam num todo colectivo e 0ue adv:m do"acto de o ecesso de ousadia poder levar a conse0u:ncias bastante negativas!

5stamos perante o pensamento estruturador do mito de caro# a0uele 0ue voou to alto#0ue caiu desastrosamente# 0uando o calor do Bol l*e derreteu as asas! O medo # de "acto# umaconstante# ao longo de todo o poema# atravs das "leões do verbo “tremer”4 “3 o homem doleme disse tremendo” / “3 o homem do leme tremeu e disse” / “3 disse no fim de tremer  tr%se-es”!

 3 vontade *umana # no poema# associada < vontade do rei (“"#1ei D. 2oão Segundo” )# cuoar0utipo condu. < ideia de 1eus! 5 o “homem do #eme”   á no apenas um indivíduo$ elerepresenta um Povo e uma outra vontade! @O "acto de a palavra “Povo” estar escrita em letra mai%sculamostra 0ue# neste conteto# esta palavra sin=nimo no s= da dignidade e coragem dos portugueses#mas tambm da universali.aço da0ueles# 0ue# como os nossos navegadores# reali.aram obras 0ue

 permitiram o alcance do >on*ecimento$ "unciona pois como sin=nimo de “2umanidade”!A 7im+ologia do n.º 8

O n!- H simboli.a a trilogia 2omem  >osmos / Rniverso  1eus

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1eus# ser uno# divide6se# em acto de criaço#em 7 outras "ormas de eist:ncia4 2omem e Rniverso!

3 vontade divina torna6se# pois# manifesta'ão4 a conduta dos 2omens na ?erra o produto de umadeterminaço superior! 5 aos na*egadores nacionais  con"erida a sim+ologia dos 8 reis magos!

de reis4 en0uanto seres 0ue desvendam os mares# alcançando poderes sobre esse espaço$

de pregadores4 por0ue reali.am# atravs da acço# a0uilo 0ue 1eus desea para a2umanidade$ de profetas4 por0ue a sua obra um sinal$ um indício dos tempos 0ue esto para vir!

Be repararmos nas re"er:ncias ao n!- H# neste poema# constatamos 0ue so "eitas primeiramente pelomostrengo (,!8 est!# vv! H6$ 7!8 est!# vv! ,76,H) e depois pelo “*omem do leme” (H!8 est!# vv! ,S# 7F e7,)! Csto mostra 0ue o *omem conseguiu neutrali.ar o “mostrengo”# o medo# uma ve. 0ue actuavamovido por uma vontade 0ue l*e era superior4 a vontade divina!

 9re*e refle:ão acerca do lé:ico do poema!

3s palavras “fim”  e “noite”  ad0uirem um signi"icado especí"ico no poema! 3mbos os substantivosse relacionam com a ideia de transiço para algo 0ue está para alm da0uilo 0ue de"inem ' o “fimdo mar”  ou o “fim do mundo”  so metá"oras do inconsciente *umano$ a “noite”  pressupõe atransiço para outro momento temporal4 o dia! 5stes vocábulos ligam6se# pois# ao mistrio 0ueenvolveu a acço dos portugueses# um povo 0ue conseguiu ultrapassar a “noite de breu” # dando acon*ecer “novos mundos ao &undo”!

 3 epresso “3 roda”  tradu. o movimento do mostrengo e este simboli.a# por0ue ligado < imagemdo círculo# a renovaço subacente a cada ciclo! 3 simbologia desta epresso prende6se# pois# <Toda da 5ist:ncia (ou < Toda da Borte)# isto # remete para as di"erentes trans"ormações do ser!

 +este sentido# en"rentar o mostrengo signi"ica a superaço de um determinado estado!

O leme simboli.a o rumo em direcço ao >on*ecimento# isto # a acço *umana# "ruto de umaoutra vontade# 0ue superior ao 2omem!

;alor da fle:ão do *er+o “tremer”!

 ' +uma primeira "ase# o verbo “tremer” aparece no <erndio# remetendo para a continuidadeda acço# ou sea# evidenciando um certo tempo# em 0ue o medo dominou o “*omem do leme”4“3 o homem do leme disse tremendo”;

 ' +a segunda est;ncia# a "orma verbal encontra6se no pretérito perfeito# o 0ue tradu. umaacço acabada (diluindo6se a ideia de continuidade# 0ue apresenta o verbo na ,!8 est;ncia)4 “3 ohomem do leme tremeu e disse”$

O verbo indica# a0ui# a diminuiço do receio do *omem do leme!

 ' +a terceira est;ncia# o Infiniti*o sugere a superaço do medo# o 0ue# aliás coaduvado pelare"er:ncia ao n%mero tr:s 0ue# at ento# se ligava ao movimento do mostrengo ' o momentoem 0ue o *omem supera os seus pr=prios "antasmas e assume a sua acço4 “3 disse no fim detremer  tr%s e-es / (...) / "ou um oo que quer o mar que teu” !

A forma de di%logo!

O diálogo entre o mostrengo e o “*omem do leme” a representaço das vo.es do consciente e doinconsciente# no momento em 0ue o indivíduo decide ultrapassar os limites 0ue# de alguma "orma#

 parecem opor6se < sua conduta!

;alor do ltimo *erso de cada estrofe!

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Eunciona como uma espcie de re"ro!  5ste verso signi"ica# no poema# a reali.aço de umaacço 0ue supera a pr=pria vontade *umana!

;alor das repeti'#es!

 +as duas primeiras est;ncias# as repetições intensi"icam a acço dominadora do mostrengo#sugerida pelo movimento circular# 0ue remete para a ideia do aprisionamento (do laço)4 “8

roda da nau !oou tr4s !e&es, / 5oou tr4s !e&es a chiar” (,!8 est!)$ “Disse o mostren#o, e rodoutr4s !e&es / 6r4s !e&es rodou imundo e #rosso” (7!8 est!)!

 +a %ltima est;ncia# as repetições tornam nítidas as "ases de *esitações e de deciso do “*omemdo leme”4 “6r4s !e&es do #eme as mãos er#ueu / 6r4s !e&es ao #eme as re$rendeu, / 3 disse no

 fim de tremer tr4s !e&es+” +esta %ltima est;ncia# a palavra “leme” aparece ve.es# indicando# simbolicamente# os

pontos cardeais# ou sea# a totalidade da0uilo 0ue mani"estaço# revelaço# para o 2omem# e0ue ele terá 0ue descobrir# atravs do manuseamento do leme!

 0lano Ideol(gico!

Tecon*ecimento da estagnaço social 0ue ani0uilava o Portugal do início do sculo$

Te"er:ncia a um conteto *ist=rico# 0ue preconi.a a mudança e a renovaço# com vista aoaper"eiçoamento do ser *umano!

1escobrimentos como "orma de iniciaço da 2umanidade# em direcço ao con*ecimento!

>umprimento de uma vontade divina# atravs da acço dos portugueses ' indício do Quinto

Cmprio!

 Tom épico do poema!

O 0ue mais coloca este teto dentro da poesia pica o seu conte%do# a sua "inalidade4 o“*omem do leme” representa todo um povo 0ue 0uer o mar e 0ue no se deia vergar pelo monstro“imundo e grosso”# símbolo de todos os medos do “mar sem "undo”!

?oda a din;mica deste poema se orienta para nos pUr perante uma luta desigual entre o monstroinvencível# 0ue o mar# e a teimosia *er=ica de Portugal!

3 %ltima "ala do “*omem do leme” ( a mais longa de todas) aponta o segredo da sua coragem#0ue no nasce dele# mas l*e vem do alto# e constitui o "ec*o do poema! 2á# pois# no "inal do teto# asugesto de 0ue o povo portugu:s vai continuar a luta contra o 0ue *umanamente invencível# o “mar sem "undo”!  5stamos# portanto# no mundo dos *er=is# pelo 0ue podemos di.er 0ue este poema tem adin;mica da poesia pica!

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INTERTEXTUALIDADE

Poemas: “Mostrengo” de Mensagem e “Adamastor” d OsLusíadas

7emelan'as!

>onte%do pico4 de um lado# surge a "orça invencível do mar$  do outro# a vontade "rrea de um marin*eiro# 0ue representa a "orça de um

 povo 0ue 0uer o mar!

O "im dos dois epis=dios elevar os portugueses ao nível da *eroicidade!

iferen'as!

 "pisdio do 7igante 8damastor -*s 9us:adas  Poema “* 'ostrengo” -'ensagem 

 Te"er:ncias *ist=ricas4 reinado de 1! &anuel C$ passagem do >abo da Ioa 5sperança# pela armadade Gasco da Vama# em demanda da ndia!

  Te"er:ncias *ist=ricas4 reinado de 1! Joo CC$ passagem do cabo das ?ormentas por Iartolomeu1ias!

  2á# de certa "orma# no teto de E! Pessoa umamaior verosimil*ança# pois sabe6se 0ue "oi noreinado de 1! Joo CC 0ue se ultrapassou o >abodas ?ormentas# símbolo do mar intransponível!

 O gigante aparece# progressivamente# dotado deuma dimenso *umana$ ele # bem ao eito

camoniano# vítima de uma dolorosa e malsucedida *ist=ria de amor!

  3 "igura criada por >amões# 0ue personi"ica os perigos e os medos 0ue o mar representa# aterra(aterrori.a)# sobretudo# pelas proporçõesgigantescas e pela "orma estran*a!

 O mostrengo no tem direito a uma identidade$ uma “coisa” in"orme# cua carga peorativa

re"orçada pelo emprego do su"io “6engo”! E!Pessoa optou# pois# por imaginar o mostrengo#"a.endo6o símbolo do terror 0ue o mar representa!

  5ste símbolo# criado por Pessoa# aterrori.amais pelo aspecto repugnante do 0ue pelotaman*o!

 O interlocutor do Vigante tem um rosto e umavo.4 Gasco da Vama!

 O interlocutor do &ostrengo o símbolo de um povo$ um *er=i mítico 0ue tem uma misso a

cumprir! 3 "orça pica do 3damastor dilui6se um poucono lirismo da 7!8 parte do epis=dio# 0uando oVigante# ao longo da sua *ist=ria# se considera um*er=i "rustrado4 o Vigante declara6se vencido

 pelos males de amor!

 O &ostrengo neutrali.ado pela imposiço davontade de um povo (representado na pessoa do“*omem do leme”)# 0ue no abdica da sua misso!

Eernando Pessoa "oi# portanto# mais simbolista do 0ue >amões# o 0ue no admira vistas as pocasdi"erentes em 0ue os dois poetas se situam! Pela mesma ra.o# o teto de Pessoa mais curto do 0ue o

de >amões# e# por isso mesmo# mais denso# mais simbolista# sendo nele mais importante o 0ue sesugere do 0ue o 0ue se a"irma claramente!

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“Mar Português” 

Um percurso de leitura possível...

Tema! o mar# en0uanto desgraça e gl=ria do povo portugu:s!

 i*isão do poema em partes! 7 partes

1.- parte = 1.- estrofe ∑ o sueito potico# usti"ica com dados concretos# as contrapartidas negativas 0ue o

mar nos troue4 para 0ue o mar "osse nosso# mes c*oraram# "il*os re.aram em vo e noivas"icaram por casar$

.- parte = .- estrofe

∑ trata6se de uma re"leo do sueito potico4 pergunta se valeu a pena suportar taisdesgraças# respondendo ele pr=prio 0ue “6udo !a#e a pena / Se a a#ma não % pequena” #

isto # tudo vale a pena# 0uando o ser *umano dotado de uma alma de aspirações in"initas!3s grandes dores so o preço das grandes gl=rias4 1eus pUs “o perigo e o abismo” no mar#mas nele “ 0ue espel*ou o cu”# isto # a gl=ria!

>.9. –  1e assinalar# nesta segunda parte# a interrogaço ret=rica# 0ue inicia a 7!8 estro"e4

“5a#eu a pena0” 

O sueito potico responde < pergunta atravs de H "rases simb=licas 0ue so# no "undo# H"ormas ecepcionais de eprimir simbolicamente a mesma realidade4 a dor o preço da gl=ria! ?ratam6se das seguintes "rases4

1.- frase  (“6udo !a#e a pena / Se a a#ma não % pequena” )    sugere a grande.a da alma*umana# sempre pronta a desear o impossível# o 0ue pode proporcionar a gl=ria# isto # a *eroicidade!∏  ?udo vale a pena para atingir o ideal son*ado!

.- frase (“Quem quer passar a#%m do ;ojador / 6em que passar a#%m da dor” )  nesta "rase# aepresso “passar alm do Ioador” deve entender6se em sentido simb=lico# isto 4 vencer asdi"iculdades$ conseguir a gl=ria deseada$ atingir a *eroicidade! &as# para isso# preciso “passar alm

da dor”!

8.- frase (“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / 'as ne#e % que espe#hou o c%u” )  apesar de o mar# com o seu perigo e abismo# ser a causa dos so"rimentos *umanos# "oi nele 0ue 1eus“espel*ou o cu”# ou sea# representa tambm um motivo de gl=ria para o nosso povo!

 +estas H "rases eistem 7 elementos antitticos4 o desagradável ( pena / dor / perigo)$

  o agradável ( tudo valeu a pena$ os

  portugueses passaram alm doIoador# alm da dor# tendo6l*es sido possível alcançar o cu!

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 (sto quer di&er que o Destino p<e sempre a dor como caminho ou pre=o da g#ria.

 ?ar%cter épico5dram%tico do poema

O poema começa e termina com a re"er:ncia ao “mar” !

 +a ,!8 estro"e# o sueito potico# numa espcie de lamento# apresenta o “mar salgado” comocausador das “lágrimas de Portugal”$

 +a 7!8 estro"e o mar á aparece como o local onde 1eus “espel*ou o cu”!

3 grande for'a épico5dram%tica do poema está# precisamente# na contraposiço antittica 0uese desenvolve no seu decurso4

 ' por um lado# o aspecto desastroso dos 1escobrimentos (,!8 estro"e)$

 ' por outro lado# o seu aspecto glorioso (7!8 estro"e)!

Outra proposta de análise

9. :efere sucintamente o assunto deste $oema.

  5ste poema re"ere o so"rimento por 0ue preciso passar para se obter a gl=ria (con0uista do mar)!

. <nalisa o $oema quanto = forma.

  ?rata6se de um poema constituído por duas setil*as de versos octossilábicos e decassilábicosagudos# de ritmo sempre binário (pr=prio da meditaço lírica e no da pica como em 7s 5us6adas,0ue alterna com o ritmo ternário)! O es0uema rimático 33II>># de rimas emparel*adas#coincidindo as palavras importantes do poema com a sua posiço destacada em "inal de verso + sal,

ortu#al, choraram, re-aram, mar, >ojador, dor e cu.

?. ro$@e uma diisão em $artes e justifica!a.

  Partindo da diviso "ormal# o poema poder6se6ia dividir em duas partes# compreendendo a primeirasetil*a# em sentido lato# os aspectos desagradáveis do empreendimento glorioso 0ue "oram os1escobrimentos A(...) lá#rimas de ortu#al1, (...) choraram, (...) re-aram, (...) ficaram $or casar (...)B; e a segunda setil*a# os aspectos agradáveis conseguidos pelos portugueses @Cudo alea $ena (...), (...) es$elhou o cuB).

Rma outra proposta poderia incluir uma diviso em tr:s partes# e0uivalendo a primeira <eclamaço inicial do poeta (vv! ,67)# na 0ual# atravs da ap=stro"e# metá"ora e *iprbole# se sinteti.am

a dor e as desgraças pelas 0uais os portugueses passaram para con0uistar# uni"icar o mar$ numasegunda parte# enumeram6se# concreti.am6se os sacri"ícios dos aduvantes de tal empresa (mes# "il*os#noivas)$ e# numa terceira e %ltima parte# apresenta6se uma relaço de causa6e"eito no sentido daobtenço de gl=ria atravs de penosas acções# mas 0ue se tomaram compensadoras (Cudo ale a

 $ena/"e a alma não $equena., Deus ao mar o $eri#o e o abismo deu,/2as nele que es$elhou ocu.).

. 4a- o leantamento dos recursos estil6sticos $resentes no $oema

  5pressões Gersos Tecursos 5stilísticos

6666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666  E mar sal#ado... F mar1    ,6W 3p=stro"e$ personi"icaço  quanto do teu sal/"ão

 ortu#al1   ,67 2iprbole$ metá"ora$ aliteraço  quanto... quantas... Quantos...  ,6W Tepetiço$ construço ana"=rica

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  quantas... mar1   Galeu a $enaH   X Cnterrogaço ret=rica  "e a alma não $equena.   Y &etá"ora  (... ) $assar alm do >ojador   Cem que $assar alm da dor.   S6,F Tepetiço$ paralelismo  Deus ao mar o $eri#o e o abismo  deu   ,, 2iprbato

 ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ 

I. 3$lica a e$ressiidade da a$Fstrofe inicial e final da $rimeira estrofe.

  O sueito de enunciaço usa esta ap=stro"e (F mar sal#ado, F mar1)  para realçar odestinatário/receptor desta estro"e 6 o mar# no 0ual mes# "il*os e noivas perderam os seus entes0ueridos (vv! H6W)! Berve igualmente para destacar a responsabili.aço e culpa 0ue so atribuídas aomar na dor e so"rimento sentidos por a0ueles! O "acto de a estro"e ser iniciada e "inali.ada pela mesmaap=stro"e remete para um círculo "ec*ado4 a re"leo gira em torno do mar# ele o protagonista# o ser responsável# a origem e a causa da alteraço na vida de seus *omens!

J. 3$lica a e$ressiidade da interro#a*ão que inicia a se#unda estrofe.

  ?ratando6se de uma interrogaço ret=rica# o sueito de enunciaço no a dirige a ningum#interroga6se a si e dá# logo de seguida# a resposta# dividida em tr:s "rases (vv! X6Y# S6,F# ,,6,7) 0ue

 usti"icam o cari. de tal sacri"ício! 3 interrogaço ret=rica representa a d%vida e a 0uesto 0ue osindivíduos da poca dos 1escobrimentos sentiam e colocavam sobre a pertin:ncia# a necessidade de talsacri"ício (Galeu a $enaH), < 0ual se segue o per"il dos 0ue# com "irme.a e convicço# se lançavam <aventura (Cudo ale a $ena/"e a alma não $equena)! Pode tambm estar a representar/simboli.ar o pessimismo da0ueles 0ue se opun*am <s 1escobertas pelos riscos 0ue acarretavam (lembremos osigni"icado do Gel*o do Testelo de 7s 5us6adas) ou dos 0ue actualmente lamentam o es"orçoempreendido pelos seus antepassados para serem donos de um vasto imprio# 0ue *oe# ou na poca deEernando Pessoa# praticamente no eiste! 3 "orma verbal no pretrito per"eito do indicativo (aleu)

vem reiterar tal ideia (como o Poeta "a. repetidamente em outros poemas de  2ensa#em), deiando ler nas entrelin*as 0ue será um imprio di"erente 0ue Portugal terá 0ue aspirar4 o da língua e cultura

 portuguesas# sem 0uais0uer limites no espaço e no tempo!

K. 7s dois Lltimos ersos do $oema fornecem!nos uma caracteri-a*ão antittica do mar. 3idencia!a.

  5ssa antítese visível no paralelo estabelecido entre o lado negativo do mar 6 os perigos# asameaças 0ue proporciona/contm 6 e o lado positivo 6 bele.a# esplendor# re"leo do cu! Bendo o mar uma das obras de 1eus (Deus... deu), este criou6o com tal contraste para 0ue "osse simultaneamente

 belo e perigoso# atraente e misterioso# deseável e inatingível! 1etectam6se nestes versos (tal como emoutros) a tragdia a par da gl=ria# 0ue so duas "acetas inerentes < aventura marítima# con"erindo ao

 poema uma intenço pica!

M. < $ontua*ão , sem dLida, um elemento fundamental nos tetos $oticos. justifica, a$oiando!teneste $oema.

  Bendo a "unço emotiva da linguagem a0uela 0ue predomina ou a mais importante num teto lírico#a pontuaço # pois# um elemento "undamental# visto ser um dos aspectos 0ue contribuem para a suaconcreti.aço# ou sea# a epresso pessoal de sentidos e emoções comporta uma "orte carga emotiva0ue# a nível escrito# se torna visível pela pontuaço usada! +este caso# as eclamações usadas na

 primeira estro"e transmitem o desaba"o e o lamento do poeta pelo preço inerente < con0uista do mar! Já

na segunda estro"e# as a"irmações "uncionam como constatações de algo 0ue vem# de alguma "orma# usti"icar e dar ra.o ao desaba"o inicial$ a interrogaço tem valor simb=lico# tal como "icou patente naresposta n- W!

N. 3$lica o t6tulo conferido ao $oema

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  O título contm o cerne do poema# uma ve. 0ue o epíteto (dado pelo adectivo $ortu#u%s)identi"ica de imediato o dono da0uele mar4 o po*o portugu2s$ tal vai ser reiterado logo nos versosiniciais# 0uando se atribui a 0ualidade de ser sal#ado  < presença das lá#rimas de ortu#al   6 os

 portugueses no s= so responsáveis pela uni"icaço dos mares (vv! S6,7)# como det:m a posse / a patente do mar# pois passaram in%meras provações at o conseguirem atravessar e dominar (vv! H6W# lF#,,) e daí a manutenço do sal  das suas lágrimas no mar# "a.endo parte da sua pr=pria composiço!

9O. 7 $oeta eicula uma isão $ositia ou ne#atia acerca do marH

  Partindo do levantamento de vocábulos# constatamos a eist:ncia de um maior n%mero de palavrasde cari. negativo (lá#rimas, cru-armos   (cru. e0uivalente a sacri"ício choraram, ficaram $or casar, dor, $eri#o, abismo  ) e a leitura da primeira estro"e encamin*a6nos tambm para certanegatividade# na medida em 0ue se atribui ao mar a responsabilidade pelas lá#rimas   c*oradas#re"orçando esta culpa com a *iprbole dos vv! ,67! 1estaca6se muito especialmente a dor dos

 portugueses# por ter sido de Portugal 0ue partiu o maior n%mero de navegadores# *omens coraosos edestemidos# pelos 0uais "oram derramadas essas lá#rimas $ aliás# so estas as causas do mar ser salgado e# por tal# o mar será sempre um mar portugu:s (note6se a import;ncia do título 6 c"! respostan!- S)! O %ltimo verso começa por alterar a perspectiva inicial visto re"erir a ambiço e o deseo de

con0uista / posse do *omem como m=bil da aventura+ ara que fosses nosso, F mar # v! W! 3 segundaestro"e canali.a a responsabilidade para o ser *umano 0ue anseia con*ecer# descobrir# con0uistar (Cudo ale a $ena / "e a alma não $equena.  vv! X6Y) e 0ue sacri"ica a sua vida em prol da gl=ria0ue pretende alcançar4 Quem quer $assar alm do >ojador / Cem que $assar alm da dor., vv! S6,F!

99. nsere a mensa#em deste $oema num conteto histFrico adequado e justifica a tua res$osta.

  Bendo Eernando Pessoa um poeta do sculo [[# aparentemente no "oi buscar o assunto deste poema < sua actualidade# antes < poca dos 1escobrimentos e# muito particularmente# < participaço portuguesa nesse empreendimento renascentista ("ão lá#rimas de ortu#al1 # v! 7) em 0ue sedesvendaram novos camin*os# se cru.aram os mares < procura do descon*ecido# se des"i.eram muitas

"amílias com a morte e desaparecimento de seus *omens! 5sta temática no invulgar em EernandoPessoa pois# se nos lembrarmos de 7 2ostren#o # por eemplo# e tantos outros poemas de

 2ensa#em,  podemos inseri6los no mesmo conteto! +ote6se# no entanto# 0ue a Eernando Pessoainteressa colocar# por semel*ança e# ao mesmo tempo# por contraste# a este vasto imprio portugu:smaterial e e"mero 6 um outro# 0ue seria tambm de *egemonia portuguesa# mas intemporal#concreti.ado pela íngua e >ultura portuguesas ou# ento# por uma maneira $rF$ria de ser $ortu#u%s.

9. 3stabelece afinidades temáticas com 7 2ostren#o do mesmo autor 5us6adas de 5u6s de 0am@es.

  1e entre os m%ltiplos epis=dios de 7s 5us6adas 0ue ealtam o povo portugu:s como *er=i# oepis=dio do 3damastor representa a vit=ria do *omem sobre as "orças da nature.a# enaltecendo6se#desta "orma# o patriotismo e *eroísmo de um povo! +o poema \7 2ostren#o  de Eernando Pessoa#destaca6se a supremacia do homem do leme\ 6 *er=i aventureiro# voluntarioso# 0ue contrasta com omar at ento invencível (o mostrengo)$ igualmente de ealtaço patri=tica o conte%do do poema2ar ortu#u%s, o 0ual elege o povo portugu:s como so"redor na demanda de gl=ria e imortalidadeconseguidos no mar! 3 intertetualidade entre este %ltimo poema e o epis=dio do Gel*o do Testelo de7s 5us6adas tambm bem not=ria4 a destruiço dos lares pela aus:ncia e o so"rimento pelo amor "raternal# "ilial e conugal$ note6se# no entanto# 0ue# en0uanto o Gel*o do Testelo crítico da empresados 1escobrimentos# por0ue no per"il*a da mentalidade renascentista# o poema de Eernando Pessoa elogioso em relaço a tal empreendimento# reservando a sua perspectiva crítica para o con"ronto com asua contemporaneidade!

9?. 5ocali-a o $oema na estrutura eterna de 2ensa#em.

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  O poema locali.a6se na segunda parte desta obra igualmente intitulada 2ar ortu#u%s,  0uecontm do.e composições# a 0ual trata da reali.aço do *omem partindo de um eemplo desupremacia concreti.ado no mar!

 Interte:tualidade com *s 9us:adas

?ompara'ão entre o epis(dio do ;elo do @estelo d *s 9us:adas 

e o poema “/ar 0ortugu2s” da 'ensagem

>amões e Eernando Pessoa alin*am na mesma temática4 a imortalidade alcança6se com avit=ria sobre o so"rimento!

4pis(dio do ;elo do @estelo*s 9us:adas

  corresponde

 contrapõe

0oema “/ar 0ortugu2s” 'ensagem

D “dura inquieta=ão d> a#ma” “Se a a#ma não % pequena”  

3o “choro das mães, esposas, fi#hos”  O c*oro das mes# a re.a dos "il*os# o pranto das noivas 0ue perderam osseus namorados!

O 5e#ho do 1este#o  um epis=dio em 0uese critica os 1escobrimentos e# como tal#em todo o teto# *á uma atmos"era de dor e pessimismo!

  “ 'ar Portugu4s”  um poema em0ue se louvam os 1escobrimentos!1esta "orma# a atmos"era deso"rimento 0ue deles resultou vaicondu.ir < con0uista do 3bsoluto!

 +o mar e na sua con0uista simboli.a6se a ess:ncia de um ideal4 ser6se portugu:s!O mar símbolo do so"rimento# mas nele 0ue se espel*a o cu# símbolo do 3bsoluto#

 por isso a con0uista do mar tambm a partil*a do absoluto# o aceder ao divino! >ome"eito# neste poema da  2ensa#em, o sueito potico mostra 0ue a dor depura o ser *umano e a reali.aço *umana absoluta está na síntese do imanente (algo 0ue eistesempre# 0ue no desaparece) e do transcendente (mar ] cu)!