ANÁLISE SÓCIO-AMBIENTAL DOS IMPACTOS PROVOCADOS … · De acordo com Metzger (2003), diz que “a...
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ANÁLISE SÓCIO-AMBIENTAL DOS IMPACTOS PROVOCADOS PELA
ENCHENTE DO RIO UNA, NO MUNICÍPIO DE PALMARES-PE.
Osvaldo Eliziário do Nascimento
Licenciando em Geografia pela UFPE
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo principal exemplificar o desiquilíbrio quando
um fator se sobrepõe sobre os demais, caso do econômico em relação ao social e
ambiental. Acrescente a tudo isso um evento climático de grande magnitude sobre uma
área que sofreu profundas ações humanas históricas, caso da monocultura da cana-de-
açúcar, no município de Palmares-PE. O trabalho mostra que a dinâmica do clima em
nosso globo terrestre pode não causar nenhum desastre, entretanto, os danos podem serem
referenciados como desastres naturais a partir do momento em que os seus sistemas
físicos ambientais sofreram ações antrópicas. Foi realizado um levantamento
bibliográfico das literaturas ligadas aos impactos ao meio ambiente, bem como um
trabalho de campo com registro fotográfico de cada localidade atingida pelo evento, além
de conversas informais com moradores situados às margens do rio Una. O artigo relata a
enchente no Rio Una, em Palmares-PE., ocorrida no ano de 2010, o referido município
foi atingido por uma forte enxurrada, que beneficiada pela declividade, desceu do topo
dos morros com forte energia, a maioria desnudos, provocou grandes prejuízos ao meio
ambiente e a sociedade, principalmente aos residentes às margens do aludido rio.
Palavras Chaves: Eventos extremos. Rio Una. Palmares.
INTRODUÇÃO
O estudo descrito no presente trabalho, teve como motivo principal a questão dos
grandes eventos climáticos quando eles ocorrem em uma área que sofreu profundas
alterações humanas, principalmente àquelas centenárias, caso do desmatamento na zona
da “Mata Atlântica” pernambucana, para o plantio em grande escala da cana-de-açúcar.
Quando ocorre eventos extremos em um local com alto nível de ações humanas, o
resultado será semelhante ao ocorrido no ano de 2010, no município de Palmares, Estado
de Pernambuco, atingido por uma enchente no Rio Una causada devido ao alto índice
pluviométrico. Em decorrência dos citados agentes climáticos, onde a concentração
ocorreu na bacia hidrográfica do mencionado rio, fez com que suas águas descendo do
topo das climas com uma forte energia devastadora, causou grandes prejuízos a sociedade
local.
Naquela data, conforme órgãos governamentais afins, ocorreu uma combinação
de agentes climáticos, entre eles as “Ondas de Leste”, “Complexos Convectivos”,
“Brisas” e “Instabilidades Atmosféricas”, os quais atuando numa área de intensa
modificação humana, vez que o referido município faz parte da mesorregião da Mata
Meridional (ANDRADE, 1991), inserido no contexto da economia canavieira, onde
durante séculos vem sofrendo com o intenso desmatamento em suas reservas florestais,
atualmente com pequenos focos no topo de suas colinas. Além disso, às margens do rio
Una, que corta o centro de sua cidade, foi explorada com construções de moradias,
comércio, prestadora de serviços e logradouros públicos, alguns deles com pilares dentro
rio.
Podemos dizer que um grande evento climático pode ter o seu aumento em sua
configuração, a partir do momento em que outros agentes vindos de forma conjunta,
provocará um resultado desastroso. Ou seja, de acordo com as literaturas sobre o clima
brasileiro, no Nordeste as Ondas de Leste, são aquelas com características de instabilidade
no campo do vento e da temperatura da superfície do mar, é o principal sistema que
favorece as chuvas do RGN até a Bahia. Esse evento associado as perturbações de Leste
(conglomerados de nuvens), produzem intensas chuvas e dependendo do relevo, forte
inundações são verificadas em áreas costeiras e, podem ter uma penetração no continente
de até 400 km. O complexo Convectivo, que nas mesmas condições anteriores, aumentam
a capacidade pluviométrica durante a combinação desses agentes.
A ação humana no meio ambiente é o principal fator dos impactos na natureza,
até mesmo nos primórdios tempos da caverna, que após explorar uma determinada área,
mudavam-se para outros intactos, e assim, sucessivamente. O tempo passou e a situação
cada vez mais piorou. A humanidade, para atender suas necessidades com o grande
crescimento demográfico, foi obrigada a se instalar em locais impróprios, como por
exemplo às margens dos rios, locais que são severamente atingidos quando ocorre um
poderoso evento climático.
São várias as definições sobre “impactos ambientais”, no entanto, todas
causadoras de desequilíbrio no meio ambiente e na sociedade e, algumas delas bem
específica, como a defendida por Moreira ( 1992, apud SANCHÉZ, 2008, p. 133), o qual
diz que é “qualquer alterações no meio ambiente em um ou mais de seus componentes,
provocada por uma ação humana”. Tal definição corrobora plenamente quando um dos
elementos da natureza sofre perda, caso da vegetação, e quando maior for a sua
intensidade, também maior será o prejuízo para a sociedade, como o ocorrido no
município de Palmares, município do Estado de Pernambuco.
Outra definição bem interessante e oportuna para o presente trabalho, é o que é
citado por Wathern (1998, apud SANCÉZ, 2008, p. 7), dizendo que o impacto ambiental
“é a mudança em um parâmetro ambiental, num determinado período e numa determinada
área, que resulta de uma dada atividade, comparada com a situação que ocorreria se essa
atividade não tivesse sido iniciada”. Ou seja, se nessa área estivesse em perfeita harmonia
ambiental, com a paisagem em estado natural, sem sofrer qualquer alteração humana,
caso ocorresse um evento fora do normal, essa localidade não teria grandes
consequências. Entretanto, se sofreu ações antrópicas, os resultados serão trágicos, caso
da enchente do Rio Una, que se não tivesse sofrido alterações de sua nascente até sua foz,
mesmo sendo de grande intensidade, não teria ocorrido um “desastre natural”.
1. OBJETIVOS
1.1. GERAL
Identificar as questões sociais e ambientais decorrentes da enchente no Rio Una,
que atravessa o centro da cidade do município de Palmares, no Estado de Pernambuco.
1.2. ESPECÍFICOS
Analisar de que forma as construções às margens do rio Una intensificaram os
impactos ambientais em seu percurso no aludido município pernambucano;
Caracterizar as ações humanas que vem ocorrendo nessa área remanescente de Mata
Atlântica, responsáveis por grande parte dos impactos sócios-ambientais;
Identificar quais os procedimentos desenvolvidos pelos governantes como forma de
prevenção as cheias que ocorrem sistematicamente no Rio Una.
2.METODOLOGIA
Neste trabalho será utilizada uma metodologia para identificar os problemas nos
sistemas ambientais nos trechos do Rio Una, estudado para esta pesquisa, para que seja
encontrada uma forma de amenizar os grandes prejuízos que causaram a enchente no
mencionado rio. Para isso, foi desenvolvido uma atividade de campo, com documentação
fotográfica no local de estudo, além de conversas informais com moradores da localidade.
Para completar a análise de campo, uma criteriosa pesquisa bibliográfica,
inclusive nos órgãos públicos competentes, fará parte dos trabalhos, e ainda, artigos sobre
o assunto, para então identificar a dinâmica que se desenvolveu nestes espaços, como o
forte desmatamento que ocorreu nessa área para a monocultura canavieira.
3.RESULTADOS PRELIMINARES
Foi realizado trabalho de campo em boa parte das margens do Rio Una, onde
ocorreram grandes impactos a sociedade local devido à grande enchente decorrente da
alta pluviometria que abateu sobre o município de Palmares-PE. Os registros fotográficos
comprovam a violência das águas sobre as construções instaladas nas proximidades do
rio Uma, além de alguns relatos de moradores que foram afetados pela forte enchente
nunca antes vista. Tais fatos servirão para uma ampla discussão sobre a influência humana
no meio ambiente, onde a visão é quase que totalmente voltada para a questão econômica,
a qual é priorizada perante ao sócio-ambiental. O rio Una corta o município de Palmares
que está situado na mesorregião da Mata Sul do Estado de Pernambuco, conforme o mapa
na figura 01 de localização. Está compreendido na região do Estado que apresenta os
maiores valores médios anuais de chuva. O regime de chuvas regional está ligado a ação
de um sistema atmosférico extratropical, a frente Polar Atlântica e as Ondas de Leste
(ANDRADE, 2003).
Figura 1- Mapa do Município Palmares-PE.
Fonte: ITEP
O município de Palmares, está situado numa área que compreende os “Mares de
Morros”, também chamados como Colinas da Zona da Mata ou como as Áreas
Mamemolares Tropical-Atlânticas Florestadas (AB’SABER, 2007), onde diz que
correspondem a compartimentos de relevo originados em terrenos cristalinos da porção
Oriental de Pernambuco. São feições de relevo elaboradas por processo de erosão fluvial,
em condições climáticas úmidas, correspondendo às colinas com topos planos ou
ligeiramente ondulados entre o Planalto da Borborema e o Oceano Atlântico. Palmares-
PE., que pertence a Mesorregião da Mata Pernambucana, sob o domínio das colinas da
Zona da Mata Sul, de clima As’ (quente e úmido) com chuvas outono-inverno, o que
Cidade de Palmares
provoca uma pluviometria acima 1.800 mm, tendo o Rio Una o mais importante da região
da Mata.
De acordo com Metzger (2003), diz que “a fragmentação da Floresta Atlântica
pode ser entendida como o grau de ruptura de uma unidade da paisagem, inicialmente
contínua. Esse processo foi responsável pela fragmentação da Mata Atlântica, e o
Nordeste brasileiro perdeu extensas áreas para o cultivo da cana-de-açúcar,
principalmente neste Estado, onde essa atividade econômica continua sendo a mais
importante deste Estado. Analisando essa citação percebe-se perfeitamente o encaixe do
Município de Palmares-PE., o qual localizado na região da Mata Sul pernambucana,
destaca-se como uma das principais áreas produtoras de cana-de-açúcar desde a sua
colonização, o que fez ser levar um grande contingente de trabalhadores rurais ao seu
município. Esse fato de sobrecarga humana, pressionou ainda mais as construções
impróprias, entre elas as que ocorreram às margens do Rio Una.
No trabalho de campo, foi registrada fotograficamente distintas causas (figuras 02
e 03), a primeira com o assoreamento do leito do rio e a propagação de plantas aquáticas,
e a segunda pelo governo local, com a construção de um calçadão às margens do rio para
evitar novas construções. No local, o domínio interfluvial caracteriza-se por colinas
planas, onde registra-se poucas porções de mata nativa nos topos, devido ao plantio da
cana de açúcar, E moradias em suas encostas. Enquanto no domínio fluvial, apesar da boa
calha, encontra-se com grande concentração de plantas aquáticas (baronesas).
Figura 02 – Ponte sobre o Rio Una, presença farta de plantas aquáticas
Fonte: Osvaldo Nascimento, 2015
Figura 03 – Plantação de gramíneas e calçadão, as margens do Rio Una, Palmares-PE.
Fonte: Osvaldo Nascimento, 2015
Percorrendo na margem direita ao centro da cidade, para verificar os danos
causados pela enchente no ano de 2010, notou-se as irregularidades no tocante as formas
de uso e ocupação da terra, onde a população, sem nenhuma fiscalização por parte do
município, construiu imóveis para moradias e comércio, às margens do rio Una, fatos
comprovados por registros fotográficos (4 e 5), precisamente suas ruínas. Para saber o
que realmente ocorreu naquele fatídico dia do ano de 2010, foram tomadas algumas
declarações de moradores que sofreram com o inesperado desastre natural conjugado com
as ações humanas antrópicas na localidade.
Figura 04 – Vê-se moradias que foram atingidas pela enchente de 2010
Fonte: Osvaldo Nascimento, 2015
Figura 05 – Casas atingidas pelas águas até o duplex
Fonte: Osvaldo Nascimento, 2015
Durante o trabalho de campo, em conversa informal, o Sr. Luiz Bento da Silva,
aposentado, de 71 anos de idade, disse que a enchente de 2010 foi a maior que as
anteriores, de 1978 e 2000, afirmou que perdeu tudo e ela durou mais de 02 dias, em
seguida, mostrou o local onde era situado o seu imóvel devastado, conforme se vê na
figura 06. Disse ainda, que ele, os parentes e os vizinhos foram afetados, e que tiveram
de morar em outro lugar, onde receberam ajuda governamental de R$ 150,00 (Cento e
cinquenta reais) para o aluguel até irem morarem em uma das casas construídas em área
mais alta e distante do rio, além de móveis. Alegou não existir ações da prefeitura local
para prevenir de enchentes nem uma proposta de interação com os gestores públicos.
Figura 06 – Local onde era localizada a casa do Sr. Luiz Bento
Fonte: 06 Osvaldo Nascimento, 2015
Constam ainda as narrativas de moradores da localidade, o sr. “Betinho”, o qual é
dono de uma marcenaria denominada “Só Móveis” (figura 07), situada às margens do Rio
Una, com as vigas erguidas dentro do leito do rio, e que apesar de ter consciência do
perigo em ser atingido por outra enchente, resolveu reconstruir parte do seu imóvel e
retornar suas atividades. O Sr. Antônio, também na conversa informal, e que na ocasião
estava limpando o local onde era a sua residência (figura 08), afirmou que também iria
construir nova moradia, apesar de estar morando em casa de familiares e aguardando ser
contemplado com uma das novas moradias. Todos foram enfáticos em afirmarem que não
houve qualquer interferência dos governantes locais durante as construções dos imóveis
nas margens do Rio Una, nem antes e nem depois, pois várias casas estão sendo
reconstruídas, como se percebe na figura 09.
Figura 07 – Marcenaria “Só Móveis”, do Sr. “Betinho”, às margens do Rio Una
Fonte: Osvaldo Nascimento, 2015
Figura 08 – Capinação no local onde a residência do Sr. Antônio
Fonte: Osvaldo Nascimento, 2015
Figura 09 – Algumas residências duplex atingidas e reconstruídas
Fonte: Osvaldo Nascimento, 2015
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho foi elaborado com o objetivo de diagnosticar os problemas que são
causados mediante eventos extremos climático em áreas que sofreu grandes modificações
humanas, caso do município de Palmares, no Estado de Pernambuco. No ano de 2010,
uma combinação de eventos climáticos que cominou com uma grande enchente no Rio
Una, o qual não suportando a grande quantidade de águas em sua calha, provocou
enormes prejuízos a sociedade local. Além da verificação de várias construções às
margens do referido rio durante o trabalho de campo, o fenômeno ocorreu precisamente
na cabeceira do mesmo, que bastante alterado com a perda vegetal para o plantio da cana-
de-açúcar, a força pluviométrica ocorreu com grande energia no leito do rio.
Considerando o que foi apurado no trabalho, é de fundamental importância que
novos olhares sejam vistos pelos setores que dominam a economia, que não é só de
grandes lucros a convivência harmoniosa, pois para isso é relevante equilibrar com o
social e o ambiental. Fatos aconteceram, acontecem e vão acontecer caso a mesma visão
global continue prevalecendo, ou seja, a econômica sobre a sociedade-natureza.
BIBLIOGRAFRIA
AB´SABER, Aziz Nacib. Os Domínios de Natureza no Brasil..Potencialidades
Paisagísticas. 4ª Ed. Atelier Editorial, 2007.
ANDRADE, Manuel Correia de Oliveira (Coord.) Atlas Escolar de Pernambuco.
2ªEd.João Pessoa: Grafset, 2003.
METZGER,J. P. Estruturas da paisagem: o uso adequado de métricas. In: JÚNIOR,
L.C. PÁDUA, C.V. & RUDRAN, R. Métodos de estudos em biologia da conservação e
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a Natureza, 2003. 667p.
SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos /
Luis Enrique Sánchez – São Paulo: Oficina de Textos, 2008.