Análise Textual - Aula 3

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Aula 3: Textualidade - coesão sequencial. Articulações sintáticas e relações semânticas Objetivos: Analisar os processos que constituem um texto; Identificar as relações sintático-semânticas em segmentos do texto na tarefa de identificação da mensagem (disjunção, explicação, relação causal, conclusão, comparação etc.). Na aula passada falamos de texto, dos mecanismos que garantem um amontoado de frases ser efetivamente um texto etc. Agora temos mais conhecimento para tratar da textualidade (o mesmo que tessitura do texto), termo que utilizamos na aula anterior para identificar as conexões e a coerência. Nessa aula, para aprofundar o assunto, trabalharemos mais aspectos relacionados à coesão como fonte de auxílio à coerência textual. Também vimos a noção de hipertexto, lembra-se? Agora será importante lermos/interpretarmos o conteúdo de determinado texto que envolva outros mecanismos, além da linguagem verbal, para a comunicação da mensagem. Coesão sequencial e a relação com o sentido Quando falamos que um texto se caracteriza por apresentar uma ideia completa, queremos dizer que as informações estão conectadas umas às outras coerentemente, ou seja, estabelece-se relações lógicas entre as ideias contidas no texto. A coesão sequencial que garante a textualidade é facilitada pela utilização de conectivos, como preposições e conjunções. Veja agora novos exemplos de coesão sequencial: Adição Também, e, ainda, não só, mas também, além disso. ex. Fiz Análise Textual e Metodologia Científica. Proporção

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Curso de Letras Estácio

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Aula 3: Textualidade - coeso sequencial. Articulaes sintticas e relaes semnticas

Objetivos: Analisar os processos que constituem um texto; Identificar as relaes sinttico-semnticas em segmentos do texto na tarefa de identificao da mensagem (disjuno, explicao, relao causal, concluso, comparao etc.).

Na aula passada falamos de texto, dos mecanismos que garantem um amontoado de frases ser efetivamente um texto etc. Agora temos mais conhecimento para tratar da textualidade (o mesmo que tessitura do texto), termo que utilizamos na aula anterior para identificar as conexes e a coerncia. Nessa aula, para aprofundar o assunto, trabalharemos mais aspectos relacionados coeso como fonte de auxlio coerncia textual.Tambm vimos a noo de hipertexto, lembra-se?Agora ser importante lermos/interpretarmos o contedo de determinado texto que envolva outros mecanismos, alm da linguagem verbal, para a comunicao da mensagem.

Coeso sequencial e a relao com o sentido

Quando falamos que um texto se caracteriza por apresentar uma ideia completa, queremos dizer que as informaes esto conectadas umas s outras coerentemente, ou seja, estabelece-se relaes lgicas entre as ideias contidas no texto.

A coeso sequencial que garante a textualidade facilitada pela utilizao de conectivos, como preposies e conjunes. Veja agora novos exemplos de coeso sequencial:

AdioTambm, e, ainda, no s, mas tambm, alm disso.ex. Fiz Anlise Textual e Metodologia Cientfica.Proporo medida que, quanto mais, ao passo que, proporo queex. Quanto mais estudava, mais ganhava dinheiro.ConformidadeComo, segundo, conforme, consoanteex. Segundo a orientao do professor, comearemos o estgio em breve.Condio Se, caso, desde que, contanto queex. Voc pode ter um bom emprego, desde que se dedique faculdade.FinalidadePara que, a fim de que, com o objetivo de, com o intuito deex. Com o intuito de conseguir a vaga na faculdade, ela estudava oito horas todos os dias.Lembra-se de que falamos de incoerncia na aula passada?

A juno de informaes de forma inadequada um dos principais motivos da falta de coerncia nos textos.

Veja um novo exemplo:

O clima esteve muito adequado neste perodo; porm, a colheita foi excelente.

Ao lermos esse texto pensamos logo: Porm foi excelente? Como assim? Isso no bvio? J que o clima foi favorvel, logicamente a colheita foi boa. A surpresa seria ter um clima ruim e mesmo assim uma colheita boa ou um clima timo e a colheita ruim.O porm nos traz a ideia da adversidade, no mesmo? Ento, jamais poderia ser utilizado para juntar essas informaes. Por causa da presena dele, temos uma mensagem incoerente.

No existe uma forma nica de fazer a conexo das ideias. Entretanto, dentre as vrias possibilidades, provvel que haja junes inadequadas como mostrou o exemplo com o erro. Assim, deduzimos que nem todas as conexes so possveis para formar uma ideia completa, coerente. Isso nos leva a perceber que essas junes, que podemos chamar de articulaes sintticas, devem ser utilizadas para encontrar o sentido adequado.Chegamos, ento, a uma importante informao: so as articulaes sintticas que estabelecem as relaes semnticas.

Mesmo sendo possvel perceber a relao existente entre as frases a presena dos elementos articuladores facilitaria muito a apresentao das ideias.

Voc consegue pensar em elementos articuladores que poderiam ser usados nestes exemplos?

Concluso: Quem l tem boas ideias. Devemos ler mais.Explicao: O mdico ainda no chegou. Ele est fazendo uma cirurgia.Finalidade: O advogado foi ao frum. Dar andamento no processo.

Finalidade:

O advogado foi ao frum ______________ dar andamento no processo.

a fim de; com o objetivo de; para.

Concluso:

Quem l tem boas ideias, ____________ devemos ler mais.

portanto; assim; logo.

Explicao:

O mdico ainda no chegou ______________ ele est fazendo uma cirurgia.

visto que; uma vez que; pois; porque, j que.

Os elementos articuladores fazem parte do que chamamos de articulaes sintticas, funo responsvel pelo estabelecimento das relaes semnticas.

Ao ler um texto, necessitamos estabelecer relaes sinttico-semnticas (causa, consequncia, comparao, disjuno etc.). Isso porque essas relaes estabelecem sentido no que se quer comunicar e a arrumao das informaes obedece ao estabelecimento do sentido.O que isso quer dizer exatamente?Quer dizer que as palavras, as expresses com as quais ligamos as ideias, estabelecem significados, conduzem o sentido das mensagens. Sendo assim, no se pode utilizar um elemento qualquer para conectar as informaes. importante, portanto, que tenhamos em mente de forma clara os tipos de relaes que podemos estabelecer entre as informaes

Quadro das principais relaes sinttico-semnticas

Classificao da relao e Principais elementos articuladores adio: e, tambm, ainda, no s, mas tambm, alm disso oposio/concesso: mas, porm, contudo, entretanto, no entanto, embora, apesar de, mesmo que explicao/causalidade: porque, pois, visto que, uma vez que, j que comparao: tal qual, mais que, menos que, como condio: se, caso, desde que, quando alternncia ou disjuno: ou...ou, ora...ora, seja...seja, quer...quer temporalidade/proporo: no momento em que, medida que, quando, enquanto, quanto mais...mais, proporo que finalidade: a fim de, com o objetivo de, para conformidade: segundo, conforme, de acordo com, como concluso: portanto, assim, logo

Veja agora um trecho do discurso proferido pela escritora Zlia Gattai ao tomar posse no Quadro de Membros Efetivos da Academia Brasileira de Letras, em 21 de maio de 2002, ocupando a cadeira 23, que era do escritor Jorge Amado, com que foi casada por 56 anos.

Observe, em destaque, alguns elementos articuladores utilizados pela escritora. Depois, clique neles para ver a classificao:

Meu pai emocionava-se ao nos narrar suas prprias histrias. Digo suas prprias histrias porque acredito que ele as inventava medida quenos ia contando. Ele prprio se empolgava e isso eu percebia, nos momentos mais emocionantes, ao notar arrepios em seu pescoo. Embora falasse correntemente o portugus, papai s contava histrias em italiano, matava dois coelhos com um tiro s: divertia os filhos e ensinava-lhes a sua lngua natal.

Com mame a coisa j era diferente: emboratambm tivesse grande imaginao, preferia nos contar trechos de romances que lia e filmes que assistia s quintas-feiras, na sesso das senhoras e senhoritas. Embora tivesse tido pouco estudo, pois as condies financeiras da famlia no lhe permitiram frequentar sala de aula por mais de alguns meses, mame lia correntemente e nas leituras em voz alta dava nfase, empolgando a quem a ouvisse.

No texto, vimos que h um encadeamento de ideias que promove a textualidade, que lhe do sentido. Isso ocorre porque so estabelecidas relaes sinttico-semnticas adequadas.

MAS ATENO!

Para identificar as relaes sinttico-semnticas estabelecidas pelos articuladores, necessrio observar o sentido que pode ser depreendido do texto.

Memorizar a classificao de cada articulador no suficiente para compreender a sua funo.

Observe, por exemplo, que no texto de Zlia Gattai o articulador PORQUE introduz uma explicao, ao passo que o articulador sinttico POIS tanto introduz uma ideia de explicao quanto de causalidade.

Programa de reflexes e debates para a Conscincia Negra Por Felipe Cndido da Silva (estudante premiado pela composio do texto a seguir) Todos sabemos que no mundo h grandes diferenas entre pessoas e que, por estupidez e ignorncia, cria-se o preconceito, que gera muitos conflitos e desentendimentos, afetando muita gente. Porm, onde esto os Direitos Humanos que dizem que todos so iguais, se h tanta desigualdade no mundo? Manchetes de jornais relatam: Homem negro sofre racismo em loja; Mulheres recebem salrios mais baixos que os homens; Rapaz homossexual espancando na rua; Jovens de classe alta colocam fogo em mendigo; Hospitais pblicos em condies precrias no conseguem atender pacientes; nibus no param para idosos. Escola em mau estado interditada e alunos ficam sem aula; e muitas outras barbaridades. Isso mostra que os governantes no esto fazendo a sua parte. Mas pequenos gestos do dia a dia como preferir descer do nibus quando um negro entra nele; sentar no lugar de idosos, gestantes e deficientes fsicos, humilhar uma pessoa por sua religio, opo sexual ou por terem profisses mais humildes mostram que tambm precisamos mudar. A questo da etnia vem sendo discutida no mundo todo, inclusive no Brasil, que um pas mestio, onde ocorre a mistura, principalmente, de negros, brancos e ndios. Por mais que se diga que todas as pessoas so iguais, independente da cor de sua pele, o racismo continua existindo. Msicas, brincadeiras, piadas e outras formas so usadas para discriminar os negros. At mesmo a violncia se faz presente, sem nenhum motivo lgico. As escolas fazem sua parte criando disciplinas que mostram a importncia que cada cultura tem para a cultura geral do pas. E educando as crianas para que no cometam os mesmos erros dos mais velhos, pois preconceito se aprende, ningum nasce com ele. Enfim, cada pessoa pode fazer a sua parte, acabando com qualquer tipo de discriminao que existe, com qualquer tipo de preconceito que sente, percebendo que todos ns somos iguais, independente de raa, credo, idade, condio social ou opo sexual. Esse o primeiro passo para que cada um respeite os direitos dos outros. O direito de um acaba quando comea o do outro. E com a populao conhecendo seus direitos e praticando seus deveres ela fica mais unida. E a voz que grita para que os direitos humanos sejam exercidos soar bem mais alta, pois j diz o ditado: A unio faz a fora.

IMPORTANTE: O texto acima mostra a coeso sequencial e articuladores sintticos destacados: porm, mas, enfim, pois.

Como se conjuga um empresrio:

Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se...

Neste texto, a coerncia depreendida da sequncia ordenada dos verbos com os quais o autor mostra o dia a dia de um empresrio. O autor no precisou utilizar elementos coesivos para construir um texto.

Voc j ouviu a msica Boa sorte?

Aperte o play e escute agora a cano, prestando bastante ateno na primeira parte da letra, interpretada por Vanessa da Mata.

s isso No tem mais jeito Acabou, boa sorte

No tenho o que dizer So s palavras E o que eu sinto No mudar

Tudo o que quer me dar demais pesado No h paz

Tudo o que quer de mim Irreais Expectativas Desleais

Mesmo, se segure Quero que se cure Dessa pessoa Que o aconselha

H um desencontro Veja por esse ponto H tantas pessoas especiais

Notou que, assim como no texto Como se conjuga um empresrio, no h elos coesivos na letra dessa msica?

Percebeu como h um esforo para tentarmos estabelecer as relaes entre as partes?

Uma das tentativas para transformar a letra dessa msica em um texto coeso seria a seguinte:

Se s isso, ento no tem mais jeito. Por isso, acabou. Desejo-lhe boa sorte.

No tem mais o que dizer, pois o que eu sinto no mudar. O que eu falaria, ento, seriam apenas palavras, nada representariam.

Tudo o que voc quer me dar demais para mim. Tornou-se pesado, no me traz paz.

Tudo o que voc quer de mim irreal e so expectativas desleais.Viu? Quando utilizamos elos coesivos facilitamos a compreenso de nossos interlocutores.

Nos processos seletivos muito comum pedirem aos candidatos para escreverem redaes, no mesmo? A coeso e a coerncia so os principais pontos analisados na hora da avaliao do texto.

A partir de agora voc ver dicas para escrever um texto coeso e coerente e tirar de letra essa etapa do processo seletivo. Vamos l!

Clique nos nmeros:

1. Conectivos

As relaes sinttico-semnticas permitem a conexo entre as oraes e, por serem to importantes, bastante vlido que voc aprenda algumas dessas conjunes e as suas influncias.

Assim, quando voc se tornar bem ntimo delas, ter mais segurana na hora de aplic-las e, com certeza, seu texto ser mais claro e coerente, j que voc conseguir estabelecer com mais facilidade as conexes em seu texto.

2. Estruturas sintticas

Ao revisar seu texto verifique se os verbos que voc utilizou esto sendo aplicados de maneira adequada e se esto dizendo realmente aquilo que voc pretendia, isto , veja se existe um verbo mais especfico, que no d margem para o seu leitor interpretar de forma equivocada.

Ao fazer essa reviso bom checar se os complementos verbais que voc utilizou esto de acordo e tambm as preposies, para evitar problemas de regncia, por exemplo.

3. Perodos Longos

Quando escrevemos perodos muito longos as chances de cometermos erros aumentam consideravelmente. Portanto, opte por escrever perodos mais curtos e objetivos. Voc perceber que essa ttica auxilia inclusive na pontuao correta de seu texto. Veja um exemplo:

Em 1988 o time foi profissionalizado por ocasio do ttulo de Campeo da Segunda Diviso Estadual, na poca da administrao de Luiz Gonalves Lima, Luiz Negrinho, usando o uniforme composto por camisa com listras horizontais verdes e brancas, calo verde e meias verdes, para comemorar o ttulo e para homenagear o membro-fundador, j falecido, que foi presidente do time por muito tempo, e que, mesmo morto, deveria estar pulando de alegria, por ter dedicado toda a sua vida para conquistar o direito de jogar entre os melhores, de jogar com as estrelas que tanto admirava e ver seu time brilhar na televiso aos domingos.

Observando esse longo perodo, que apresenta informaes bem variadas, verificamos como esse tipo de construo pode prejudicar o entendimento.

4. Fatores de Coerncia

Seguem alguns fatores que auxiliam na formao de textos coesos, que voc sempre deve observar na hora de escrever:

O conhecimento de mundo e a preocupao em compartilhar esse conhecimento com os interlocutores;

O domnio das regras da lngua, possibilitando a combinao dos elementos lingusticos que sero compreendidos pelos interlocutores que tambm dominam essas regras;

Os prprios interlocutores, considerando a situao em que se encontram, as suas intenes de comunicao e a funo comunicativa do texto. A coerncia diz respeito inteno comunicativa do emissor, mas sempre interagindo, de maneira cooperativa, com o seu interlocutor.

Luci Elaine de Jesus, em seu artigo Anlise Lingustica, como desatar esse n?, diz que, embora a coeso no seja condio suficiente para que enunciados se constituam em textos, so os elementos coesivos que do a eles maior legibilidade e evidenciam as relaes entre seus diversos componentes.

Provamos isso ao analisar os exemplos da msica Boa sorte e do texto Como se conjuga um empresrio. Notamos como os elos coesivos, apesar de no serem essenciais, ajudam na compreenso do texto.

Porm, a coerncia em textos didticos, expositivos, jornalsticos, por exemplo, pela necessidade de serem sempre claros, j dependem da utilizao explcita de elementos coesores.

Vimos, nesta aula, portanto, que a coeso no garante a coerncia, embora influencie o seu estabelecimento. Assim, percebemos que coerncia e coeso se completam no processo de produo e compreenso do texto.