ANÁLISE TRADUTÓRIA DE SETE NEOLOGISMOS … · organizando-os todos em categorias linguísticas e...
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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS ENGENHEIRO COELHO
KERILIN COSTA MAGAIESKI RENATA DE PAULA ARAÚJO
ANÁLISE TRADUTÓRIA DE SETE NEOLOGISMOS ONOMATOPAICOS EM “GRANDE SERTÃO: VEREDAS” DE GUIMARÃES ROSA
ENGENHEIRO COELHO 2014
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KERILIN COSTA MAGAIESKI RENATA DE PAULA ARAÚJO
ANÁLISE TRADUTÓRIA DE SETE NEOLOGISMOS ONOMATOPAICOS EM
“GRANDE SERTÃO: VEREDAS”
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo do curso de Tradutor e Intérprete, sob orientação da Profa. Ms. Sônia M. M. Gazeta.
ENGENHEIRO COELHO
2014
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Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do curso de Tradutor e Intérprete apresentado e aprovado em 1 de Dezembro de
2014.
_________________________________________________ Orientadora: Profa. Ms. Sônia M. M. Gazeta
_________________________________________________ Segunda Leitora: Profa. Dra. Ana M. M. Schäffer
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RESUMO O presente trabalho propõe a análise das traduções de sete neologismos onomatopaicos na obra de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, além de sugerir novas traduções a eles, investigamos as atitudes dos tradutores James L. Taylor e Harriet de Onís diante dos neologismos onomatopaicos. Apresentamos alguns aspectos de Rosa e da história da língua portuguesa à medida que abordamos sobre a construção e dinâmica dos neologismos . Pouco é encontrado sobre o assunto, por isso propomos um desafio aos tradutores de aprofundar os trabalhos sobre o tema que, certamente, tem intimidado o trabalho do tradutor. Extraímos os neologismos onomatopaicos do trabalho de Milton Torres (1995), “O Processo Neológico em ‘Grande Sertão: Veredas’”, no qual o pesquisador analisou um corpus contendo mais de 2300 palavras, organizando-os em categorias linguísticas e gramaticais. Optamos pelos neologismos onomatopaicos por julgarmos importantes na obra de Rosa e por verificar que muitos destes não haviam sido traduzidos. Apesar de os tradutores terem se correspondido com o autor da obra por cartas. Notamos uma certa falta de importância aos neologismos onomatopaicos, o que nos motivou a sugerir traduções que ajudariam os leitores da língua de chegada a terem uma sensação mais aprofundada da obra de Rosa. Analisamos cada um dos sete neologismos, inserindo em tabelas as respectivas frases onde os encontramos. Na tabela colocamos as frases em português da obra original e as frases em inglês da obra traduzida.
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ABSTRACT This term paper proposes the analysis of translations of seven onomatopoeic neologisms in the book of Guimarães Rosa, "The Devil to Pay in the Backlands", and suggests new translations to them, we investigated the actions of the translators James L. Taylor and Harriet Onis about onomatopoeic neologisms. We present some of Rosa's aspects and the Portuguese language history as we approach the construction and neologisms' dynamics. Little is found on the subject, so we propose a challenge to translators to go deeper on the subject, which certainly has intimidated the translator's job. We took the onomatopoeic neologisms from Milton Torres work (1995), "O Processo Neológico em ‘Grande Sertão: Veredas’" in which the researcher analyzed a corpus containing over 2,300 words, arranging them in linguistic and grammatical categories. We opted for the onomatopoeic neologism considering its importance in Rosa's word and because we noticed that many of these had not been translated, although translators had corresponded by letters with the author of the book. We noticed a certain lack of importance to onomatopoeic neologisms, which led us to suggest translations that would help readers of the target language to have a deeper understanding sense of Rosa's work. We analyzed each of the seven neologisms, inserting in chart tables their sentences where we found them. In the chart table we put the phrases in Portuguese of the original work and phrases in English of the translated work.
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7 2 BREVE HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA E SEUS NEOLOGISMOS........ 10 2.1 Neologismo versus Estrangeirismo .................................................................... 12 3 SOBRE GUIMARÃES ROSA: TRADUÇÕES E NEOLOGISMOS .........................16 3.1 Guimarães Rosa e seus tradutores......................................................................22 3.2 Os neologismos de Guimarães Rosa na obra “Grande Sertão: Veredas”.......... 24 4 ANÁLISE TRADUTÓRIA DE SETE NEOLOGISMOS ONOMATOPAICOS EM “GRANDE SERTÃO: VEREDAS” ............................................................................. 27 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 36 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 39
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1 INTRODUÇÃO
Na profissão de tradutor existem diversos desafios que passam
despercebidos aos olhares de muitos; dentre eles, os neologismos podem ser
considerados um desses aspectos desafiadores da linguagem. Um dos autores cuja
obra é rica e desafiadora no que diz respeito aos neologismos é Guimarães Rosa.
Sua obra, traduzida em várias línguas, sempre se apresentou como uma tarefa
tradutória de alta complexidade. Diante disso, o objetivo deste trabalho é apresentar
uma breve análise das traduções de sete dos diversos neologismos da obra de
Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”.
De acordo com o dicionário da Língua Portuguesa “Michaelis”, os termos a
seguir definem-se da seguinte maneira: neologismo – “Palavra criada na própria
língua ou adaptada de outra” -, neologia – “Emprego de vocábulos novos ou de
novas acepções” -, neólogo – “Que, ou quem emprega neologismos”. Conforme
Alves (1996), neologismo é o conceito que se refere a todos os fenômenos novos
que atingem uma língua. Com base nisso, exploramos como é possível traduzir um
fenômeno criado na língua de partida, no caso o português, e passar para a língua
de chegada, no caso o inglês, e como o tradutor pode lidar com a tradução do
mesmo, procurando equivalência existente ou criando um novo neologismo na
língua de chegada.
Como observa Marília Barros (2011, p. 11), “Rosa investigou criteriosamente
as potencialidades da língua, criando assim um modo próprio de se exprimir, que
assombra e desafia seu leitor”. Portanto, se para os próprios leitores nativos da
mesma língua em que a obra foi escrita sabe-se que é um desafio entendê-la,
podemos imaginar as dificuldades enfrentadas por quem traduz; foi o caso dos
tradutores James L. Taylor e Harriet de Onís que aceitaram o grande desafio de
traduzir a obra “Grande Sertão: Veredas” para o inglês como: “The Devil to Pay in
the Backlands”.
Basta conhecer um pouco de Guimarães Rosa para saber que ele dominava
várias línguas, como inglês, francês, alemão, italiano, dentre outras. E, ao nos
aprofundarmos mais em sua biografia, descobrimos, a partir da pesquisa de Bonatti
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(1998), resenhada por Terra (2014), que o autor participou ativamente do trabalho
de tradução de suas obras, trocando diversas correspondências, cerca de 372
cartas, com seus tradutores, dando-lhes conselhos e sugestões, pois ele mesmo
reconhecia que sua escrita não era simples de traduzir. O próprio autor admitiu no
dia 17 de junho de 1963, em uma de suas cartas ao tradutor Curt Meyer-Clason, que
traduzia para o alemão a mesma obra em questão, que “muita coisa, naturalmente,
teria de perder-se, de evaporar-se, por intraduzível”. No entanto, ele ainda
acrescenta, na mesma carta, um fator que vimos como relevante para nossa análise
tradutória: “Mas, que não sejam as coisas vivas, importantes. Nem coisas válidas
para o leitor alemão” (ROSA, 2003, p. 116, apud TERRA, 2014.)
Podemos ver que Guimarães Rosa considerava a grande literatura como
intraduzível. Porém, ao mesmo tempo em que a intraduzibilidade se manifesta, é
preciso considerar que a literatura se torna universal somente pela tradução.
Portanto, quando se trata de um autor como Rosa, cuja obra cria e recria a
linguagem, quem traduz deve considerar a monumental tarefa que tem diante de si,
não somente no nível linguístico, buscando equivalentes na língua de chegada para
palavras que são criadas em determinado contexto social, geográfico, econômico e
cultural, mas também na percepção de que a tradução literária é, sobretudo,
interpretação e co-criação.
Para o desenvolvimento deste estudo, como abordagem metodológica,
seguimos inicialmente a pesquisa bibliográfica, apresentaremos uma breve biografia
do autor, com o intuito principal de entender os motivos que o levaram a produzir
suas obras com características tão peculiares e desafiadoras.
Sendo assim, ao analisarmos com mais detalhes a obra “Grande Sertão:
Veredas”, a partir da pesquisa de Torres (1995) encontramos uma gama variada de
neologismos, destacados em “O Processo Neológico em ‘Grande Sertão: Veredas’”.
Torres analisou um corpus contendo mais de 2300 palavras dessa obra,
organizando-os todos em categorias linguísticas e gramaticais. Dentre as diversas
categorias, optamos por tratar dos sete neologismos onomatopaicos encontrados no
vasto corpus selecionado por Torres. Nossa principal tarefa foi analisar a tradução
desses neologismos específicos na obra original e em sua versão traduzida para o
inglês.
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Ao longo de discussões guiadas pela Dra. Shäffer (2014) na disciplina
“Historiografia da Tradução”, do curso de Tradutor e Intérprete, notamos que
aqueles que não possuem conhecimento profissional da área de tradução acreditam
que a tradução é um processo de equivalência. Portanto, com este trabalho foi
possível constatar que o tradutor é também autor, tendo o desafio de criar quando,
por exemplo, se depara com neologismos. Os tradutores às vezes sentem-se
inseguros quando se deparam com a possível necessidade de criação em suas
traduções. Ao analisarmos a tradução dos neologismos específicos na obra original
e na versão traduzida, encontramos a grande necessidade de propor traduções para
eles. No quarto capítulo sugerimos traduções para as criações neológicas de Rosa,
ignorados pelos tradutores de língua inglesa.
Assim, a pesquisa compõe-se de três capítulos, além dessa introdução e
considerações finais: no capítulo dois, optamos por abordar brevemente
considerações históricas sobre a língua portuguesa, o processo de formação da
língua e as reformas ortográficas sofridas, entre os quais emerge a agregação de
estrangeirismos e sua consequente aceitação ou recusa por parte das entidades
responsáveis pela língua portuguesa no Brasil. Como subtópico, trazemos
considerações sobre a relação entre estrangeirismo e neologismo. No capítulo três,
informamos os leitores um pouco da vida e obra de Guimarães Rosa e sua
característica peculiar de criação neológica.
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2 UMA BREVE HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA E OS NEOLOGISMOS
A língua portuguesa tem sua origem no latim vulgar trazido pelos romanos a
partir do III século a.C., com influência menor de outras línguas. Os romanos
começaram o processo de invasão da Península Ibérica em 218 a.C. Antes da
presença romana na Península, o substrato linguístico do português se formou com
a presença de outros povos que ocuparam a região por migração, comércio ou
invasões contribuindo com o celtibero, celtagalaico, lusitano, grego, etc. Pode-se
considerar que a proto-história da Língua Portuguesa vai do III século a.C. ao XIV
A.D. Com o fim do Império Romano no IV século, deu-se a ocupação de suevos e
visigodos que também deixaram as marcas das línguas germânicas no Português. E
a partir do século VIII foi a vez dos árabes dominarem o território ibérico, deixando
marcas linguísticas principalmente em vocábulos iniciado por –al (almanaque,
almirante, e em topônimos como Algarve, Alcácer).
A língua portuguesa tem cerca de 800 anos. Sua História remonta ao século
XII, quando Dom Dinis fundou a Universidade de Coimbra, promovendo o
desenvolvimento cultural de Portugal. Cardoso (2005, p. 172) escreve: "Esse rei-
trovador ordenou que fosse usada a língua portuguesa nos documentos públicos,
substituindo a língua oficial latina. Mandou também que traduzisse a Bíblia em
português".
A língua escrita teve origem no século XII tendo como documento mais antigo
o Notícia de Fiadores, de 1175 e foi produzido no mesmo círculo em que, em 1196,
seria escrita a mais antiga cantiga trovadoresca, Ora Faz Ost'o Senhor de Navarra,
de João Soares de Paiva. A partir de 1255 os documentos escritos começam a ser
produzidos regularmente. A expansão da língua acontece no final do século XIV e
início do século XVI, onde a língua se transforma radicalmente. Começa a expandir-
se para fora da Europa e começa a ser necessário distinguir entre o português-
europeu e português extra europeu.
A partir do século XVI, com a definição das normas e regras para reger a
língua portuguesa, ou seja, as gramáticas, quando a morfologia e a sintaxe são
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definidas, é que a língua entra em sua fase moderna e a língua portuguesa sofre
mudanças menores.
Em Os Lusíadas, de Luis de Camões (1572), o português é, tanto na
estrutura da frase quanto na morfologia, muito próximo do atual. A Gramática
Tradicional da Língua Portuguesa tentava explicar o processo de derivação na
formação de palavras e a forma usada era a análise diacrônica: estudando a relação
entre termos sucessivos que se substituem uns aos outros no tempo.
A partir de 1970 o estudo dos processos de formação de palavras ganha
relevância na teoria linguística. Chomsky (1970), em seu artigo “Remarks on
nominalization,” argumenta que as nominalizações não podem ser tratadas como
sendo geradas produtivamente por regras fixas. A nominalização é quando um
substantivo remete a um verbo já mencionado, como em: guerreia – guerra., algo
que é importante notar quando tratamos de neologismos, pois muitos deles são
produzidos dessa forma.
No ano de 2009, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou o
Projeto de Lei (PL) 156/2009 no qual previa a obrigatoriedade da tradução de
expressões ou palavras estrangeiras para a língua portuguesa. O texto proposto
pelo deputado Raul Carrion, do partido político PCdoB, ainda deveria ser
encaminhado para sanção do governador Tarso Genro. O que chama atenção na
proposta do deputado é que ele adota a ideia de que usar palavras estrangeiras em
vez do português é visto como “mais bonito” que usar nossa própria língua materna.
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2.1 Neologismo versus Estrangeirismo
O estrangeirismo acontece quando é inserida uma palavra estrangeira no
léxico da língua natural, ou seja, fazer com que palavras já existentes em outra
língua tornem-se parte do léxico de uma língua que antes não era conhecida ou
utilizada. Aqui é válida a definição de léxico. Segundo Marilia Gazola Pessoa Barros
(2011, p. 34)
O léxico pode ser considerado um patrimônio cultural-histórico de uma comunidade, de uma civilização que, no seu processo individual de cognição da realidade, une o vocabulário de novas realidades a modelos formais que configuram o sistema lexical.
O processo acima definido torna a palavra um “neologismo” para a segunda
língua, sendo a primeira, a língua da qual saiu a palavra estrangeira. Temos no
Brasil diversos casos que podemos encontrar no cotidiano. Vemos, por exemplo,
esse fenômeno ocorrer quando uma palavra estrangeira, como SOFTWARE que é
uma palavra da língua inglesa é compreendida pela maioria da população do país
que tem como língua materna o português. Essa palavra é tão comum que é aceita
no vocabulário como sendo uma palavra da língua portuguesa. Aqui ocorreu um
neologismo o que explicaremos mais especificamente no próximo capítulo.
O deputado Carrion (apud ARAÚJO, 2011) durante a defesa do Projeto de
Lei, na Assembleia Legislativa, apresenta um exemplo afirmando que ao utilizar o
diálogo citado, seria entendido pela maior parte da população brasileira, da seguinte
maneira:
Fui ao freezer, abri uma coca diet e sai cantarolando um jingle, enquanto ligava meu disc player para ouvir uma música new age. Precisava de um relax. Meu check up indicava stress. Dei um time e fui ler um bestseller no living do meu flat. Desci ao playground; depois fui fazer o meu cooper. Na rua vi novos outdoors e revi velhos amigos do footing. Um deles comunicou-me aquisição de uma nova maison, com quatro suites e até convidou-me para o open house. Marcamos, inclusive, um happy hour. Tomaríamos um drink, um scotch, de preferência on the rocks. O barman, muito chic, parecia um lord inglês. Perguntou-me se eu conhecia o novo point society da cidade: times square, ali na Gilberto Salomão, que fica perto do Gaf, o La Basque e o Baby Beef, com serviços a la Carte e self-service. (...) Voltei para casa, ou, aliás, para o flat, pensando no day after. O que fazer? Dei boa noite ao meu chofer que, com muito fair play, respondeu-me: good night”.
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De fato, diversas palavras estrangeiras são incluídas diariamente no léxico da
língua portuguesa, desde marcas a expressões que se tornam populares.
Principalmente com o avanço da internet e sua popularização, muitos termos têm
ganhado a boca das pessoas que utilizam estrangeirismos constantemente sem
nem mesmo saber ou perceber. Existem limites para essa liberdade expressiva que
são as normas, ou “sistema de imposições sociais e culturais que variam segundo a
comunidade” (BARROS, 2011, p. 35). Temos como exemplo, segundo Barros
(2011), a “linguagem familiar, linguagem popular, linguagem literária”, entre outras. A
maior parte da população não conhece ou ignora as normas com ou sem
consciência do sistema. Existem porém grandes nomes da literatura que “rompem
conscientemente com a norma, o que, segundo Coseriu (apud BARROS, 2011, p.
35), é algo como o “gosto da época” na arte, eles utilizam no grau mais alto as
possibilidades do sistema”.
Neologismo, de acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, é
“palavra ou expressão nova ou antiga com sentido novo” (FERREIRA, 2010, p. 530);
“palavra criada na própria língua ou adaptada de outra” (MICHAELIS online), ou seja
é uma palavra nova, ou acepção nova de uma palavra já existente na língua. Esse
significado se estende para todas as outras línguas. No decorrer dos anos, os
vocábulos mudam de forma lenta, gradual e ininterrupta. Muitas palavras que
antigamente eram muito utilizadas, hoje não são mais, ou sofreram mudança de
sentido. Para o Dicionário de Linguística (1973), neologismo é o processo de
formação de novas unidades léxicas: “Chama-se neologismo toda palavra de criação
recente ou emprestada há pouco de outra língua, ou toda acepção de uma palavra
já antiga.”
É muito importante destacar que os tradutores têm grande influência nesse
processo, tanto na criação de neologismos quanto na dicionarização dos mesmos
que é o reconhecimento da palavra como parte da língua portuguesa e a sua
inserção em um dicionário. É importante ressaltar que uma palavra somente é
caracterizada como neologismo quando ela é falada e compreendida pela população
mas ainda não foi dicionarizada. A literatura variada proporciona aos tradutores
verdadeiros desafios de tradução, pois ao se deparar com palavras que não
possuem equivalentes na língua de chegada, muitas vezes, quem traduz é forçado a
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criar um neologismo que procurará transmitir a mesma ideia que o autor da língua
de partida tinha em mente, ao escrever.
Alves (1994) destaca que não basta criar um neologismo para que ele se
torne membro do acervo lexical de uma língua. É, na verdade, a comunidade
linguística, pelo uso do elemento neológico ou pela sua não difusão, que decide
sobre a integração ou não dessa nova formação ao idioma. Esta é uma questão
muito importante quando falamos de neologismos, pois, como veremos mais
adiante, muitas palavras criadas por Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”
não são consideradas neologismos, pelo fato de não terem sido usadas pela
comunidade linguística. Embora alguns estudiosos considerem que, pelo fato de não
serem muito conhecidos, os termos usados por Guimarães Rosa não sejam
neologismos, ainda assim pode-se considerar que no mundo sertanejo eram muito
utilizados, e alguns ainda são utilizados até hoje.
Esses processos de criação ou mudança lexical são nominados de acordo
com Alves (apud RIBEIRO 2014, p. 1) como:
Em seu livro Neologismo, criação lexical, Ieda Maria Alves afirma que são processos de formação neológica: neologia fonológica, neologia sintática (derivação, composição, formação por siglas, composição sintagmática), neologia semântica, neologia por empréstimo, conversão, entre outros processos.
Lopes (1901), em seu livro “Neologismos indispensáveis e barbarismos
dispensáveis”, citado em Torres (1995, p. 12), delimita a criação de neologismos:
“Criar neologismos, não a torto e direito, quando não haja necessidade real; mas
formá-los, observando os requisitos e condições que o grande mestre recomenda...
A predileção dos barbarismos é vício de raça. Gostavam os romanos de imitar usos”.
Entre os exemplos dessa criação de neologismos por necessidade real, como
propõe Lopes, estão os léxicos técnicos como esportes, informática e linguagens
especiais como a da publicidade. Nessas áreas geralmente, o procedimento
utilizado é considerado como estrangeirismo, ou peregrinismo: e quando o léxico é
integrado à língua receptora, adaptado gráfica, morfológica ou semanticamente
(ALVES, 1990, p.77).
Certos termos lexicais podem não sofrer adaptações na ortografia, e são
chamados de não aportuguesados ou conhecidos como xenismos quando o termo
continua em sua forma original como em shopping, pizza, skate, show.
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Os neologismos, portanto, têm naturezas variadas e podem surgir a todo o
momento, de forma voluntária ou involuntária. Sobre o uso de maneira voluntária do
neologismo a fim de tanto expressar uma forma popular de se comunicar quanto
para encontrar maneiras melhores e mais precisas de expressão, temos o forte
exemplo do autor Guimarães Rosa que se utiliza de tantos neologismos que criou
uma forma própria de se expressar, com características de linguagem fortes e
criativas que, devido à riqueza e profundidade de conteúdo, nos levaram à análise
de um corpus já selecionado por Torres (1995) para aprofundamento do assunto,
nos próximos capítulos.
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3 SOBRE GUIMARÃES ROSA: TRADUÇÕES E NEOLOGISMOS
Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens (João Guimarães Rosa).
Bem antes de se consagrar escritor e ser reconhecido e premiado diversas
vezes, antes mesmo de descobrir e se entregar ao dom da escrita, Guimarães Rosa
trilhou caminhos nada óbvios, os quais não indicavam a formação de um tão singular
escritor.
Nascido no sertão, em uma pequena cidade chamada Cordisburgo, no interior
do Estado de Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, João Guimarães Rosa marcou
o crescimento da família sendo o primeiro dos seis filhos de Francisca Guimarães
Rosa conhecida como Chiquitinha e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por
‘seu Fulô’ que era comerciante, juiz de paz, caçador de onças e contador de estórias
(NOGUEIRA JR, 2014).
Aos sete anos aproximadamente, Joãozito, como era chamado, começou a
se interessar por línguas estrangeiras e, por conta própria, iniciou os estudos de
francês. Depois de dois anos de estudos independentes, em 1917, chegou a
Cordisburgo o Frei Canísio Zoetmulder, frade franciscano holandês, que se tornou
seu professor de francês e também de holandês. Pouco antes de completar 9 anos
de idade, Joãozito se mudou para a casa dos avós na capital Belo Horizonte, a fim
de estudar e encerrar o então Curso Primário. Ao ingressar no Curso Secundário,
passou pouquíssimo tempo no internato do Colégio Santo Antônio, no município de
São João Del Rei, até que, por não suportar a comida do lugar, voltou à casa dos
avós e se matriculou em uma escola de padres alemães, o Colégio Arnaldo, onde
claro, teve a oportunidade de aprender surpreendentemente rápido mais um idioma,
o alemão (NOGUEIRA JR, 2014).
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O gosto pelas línguas não acabou aí, como ele mesmo descreveu para uma
prima que o entrevistou, virou um poliglota:
Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração (NOGUEIRA JR, 2014).
Apesar do apreço por línguas, ele ingressou na Faculdade de Medicina da
Universidade de Minas Gerais, em 1925, com apenas 16 anos. Ainda cursando
medicina, em 1929, agora sem mais carregar o apelido de infância, Guimarães Rosa
escreveu quatro contos: Caçador de camurças, Chronos Kai Anagke (título grego,
significando Tempo e Destino), O mistério de Highmore Hall e Makiné para um
concurso promovido pela revista O Cruzeiro. Como ele mesmo confessou anos
depois, nesta época escrevia friamente, sem paixão, preso a modelos alheios.
Independente de sua intenção, esses contos marcaram seu ingresso no mundo da
escrita. Todos os contos foram premiados e publicados com ilustrações, em 1929 e
1930 cujo objetivo era ganhar uma recompensa de cem contos de réis (NOGUEIRA
JR, 2014).
Em 1930, seu último ano de faculdade, aos 22 anos, Guimarães Rosa se
casa com Lígia Cabral Penna, então com apenas 16 anos. O casamento acabou
poucos anos depois, mas da união, nasceram duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda em
1930, forma-se em Medicina e segue para clinicar em Itaguara que pertencia ao
município de Itaúna (MG), onde permanece cerca de dois anos praticando a
medicina. Neste período, se relacionou muito bem com a comunidade,
Reconhecendo sua importância no atendimento aos pobres e marginalizados, a ponto de se tornar grande amigo de um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho, mais conhecido por "seu Nequinha", que morava num grotão enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi. Espírita, "Seu Nequinha" parece ter sido o inspirador da figura do Compadre Seu Quelemém, espécie de oráculo sertanejo, personagem de Grande Sertão: Veredas (NOGUEIRA JR, 2014).
Grande Sertão: Veredas é um dos principais livros de Guimarães Rosa, razão
de o escolhermos como material de pesquisa para nossa análise de tradução de
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neologismos onomatopaicos.
Segundo relatos de Nogueira Jr. (2014), diversos foram os fatores para que
Guimarães Rosa abandonasse a prática da medicina no consultório, cerca de dois
anos depois da sua formatura, dentre eles, a sua angústia por não conseguir ajudar
a todos, e o sentimento de impotência por serem em vão as tentativas de acabar
com os males do mundo. No período da Revolução Constitucionalista em 1932, ele
alçou carreira nas Forças Armadas que lhe rendeu o posto de Oficial Médico do 9º
Batalhão de Infantaria que o levou a Barbacena em 1933 para continuar servindo.
Apesar do alto cargo, não lhe era exigido muito no exercício da função, o que
contribui para que ele continuasse estudando com mais dedicação idiomas
estrangeiros e que lhe tenha proporcionado a obtenção de valiosas informações
sobre os acontecimentos da revolução (NOGUEIRA JR, 2014).
Em busca de concursos, Guimarães Rosa foi ao Rio de Janeiro para tentar
uma vaga no Ministério do Exterior, com o objetivo de se afastar da prática da
medicina, que segundo ele, não era sua vocação. Conforme confidenciado a um
colega, Dr. Pedro Moreira Barbosa, ele diz em carta de 10 de Março de 1934, o
seguinte:
Não nasci para isso, penso. [...] Primeiramente, repugna-me qualquer trabalho material; só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um jogador de xadrez, nunca pude, por exemplo, com o bilhar ou com o futebol (NOGUEIRA JR, 2014).
Rosa acabou se classificando, em segundo lugar, no concurso. Apesar da
nova profissão, continuou a escrever para participar de outros concursos literários
que, em 1936 lhe renderam o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras
pela coletânea de poemas Magma. Um ano depois, sob o pseudônimo de "Viator",
concorre ao prêmio Humberto de Campos, com o volume intitulado “Contos”, que em
1946, após uma revisão do autor, se transformaria em “Sagarana”, obra que lhe
rendeu vários prêmios e o reconhecimento como um dos mais importantes livros
surgidos no Brasil contemporâneo. Os contos de Sagarana apresentam a paisagem
mineira em toda a sua beleza selvagem, a vida das fazendas, dos vaqueiros e
criadores de gado, mundo que o próprio Guimarães Rosa habitara em sua infância e
adolescência. Neste livro, o autor já transpõe a linguagem rica e pitoresca do povo,
registra regionalismos, muitos deles jamais escritos na literatura brasileira. Publicado
19
em 1946, a primeira edição de Sagarana se esgotou em uma semana (NOGUEIRA
JR, 2014).
Sua jornada por altos cargos políticos foi grande,
Diplomata por concurso que realizara em 1934, foi cônsul em Hamburgo (1938-42); secretário de embaixada em Bogotá (1942-44); chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura (1946); primeiro-secretário e conselheiro de embaixada em Paris (1948-51); secretário da Delegação do Brasil à Conferência da Paz, em Paris (1948); representante do Brasil na Sessão Extraordinária da Conferência da UNESCO, em Paris (1948); delegado do Brasil à IV Sessão da Conferência Geral da UNESCO, em Paris (1949). Em 1951, voltou ao Brasil, sendo nomeado novamente chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura; depois chefe da Divisão de Orçamento (1953) e promovido a ministro de primeira classe. Em 1962, assumiu a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras. (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2014).
Ainda de acordo com relatos da Academia Brasileira de Letras (2014) em
1952, em visita ao Brasil, Guimarães Rosa fez uma longa viagem ao Mato Grosso
permanecendo por lá longo período de tempo, conhecendo o Estado e a cultura,
onde escreveu o conto "Com o vaqueiro Mariano", que veio ser parte do livro
póstumo “Estas Estórias” (1969). A maior importância dessa excursão foi permitir
que Rosa conhecesse os cenários, os personagens e as histórias que ele recriaria
anos mais tarde em “Grande Sertão: Veredas”, pois em sua estada ele perguntava,
anotava, especulava tudo, a fim de conhecer e decifrar a cultura, fauna, flora, contos
e estórias. Sua simplicidade era marcante, e via-se claramente em suas viagens
pelas regiões mais carentes e sofridas do Brasil, como descreve Velangieri (apud
BARROS, 2011, p. 17):
Mesmo como diplomata, Guimarães Rosa nunca deixou de estar em constante e vivo contato com o sertão de sua terra, ao qual sempre volta, em longas viagens e excursões. Em 1952, por exemplo, fez todo o percurso, a cavalo, conduzindo uma grande boiada, por onze dias pelas estradas montanhosas de uma região quase deserta, compartilhando totalmente os ásperos desconfortos da vida primitiva dos vaqueiros.
Em 1956, com o lançamento de “Corpo de Baile”, Rosa ficou reconhecido
como o “criador de uma das vertentes da moderna linha de ficção do regionalismo
brasileiro, que adquire dimensões universalistas, cuja cristalização artística é
atingida em “Grande Sertão: Veredas”, lançado em maio de 1956” (NOGUEIRA JR,
2014).
O lançamento de “Grande Sertão: Veredas” causou grande impacto no
20
cenário literário brasileiro.
Uma narrativa épica que se estende por 600 páginas, focaliza numa nova dimensão, o ambiente e a gente rude do sertão mineiro. “Grande Sertão: Veredas” reflete um autor de extraordinária capacidade de transmissão do seu mundo (NOGUEIRA JR, 2014).
A escrita da obra foi resultado de um período de dois anos de escrita e de
uma vida de observações e sentimentos compreendidos e incorporados, o livro foi
posteriormente, traduzido para diversas línguas e deve seu sucesso principalmente
às inovações. “Torna-se um sucesso comercial, além de receber três prêmios
nacionais como: o Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; o Carmen
Dolores Barbosa, de São Paulo; e o Paula Brito, do Rio de Janeiro” (NOGUEIRA JR,
2014).
Conforme relata Barros (2011, p. 35) que intrigou a muitos ao longo do tempo
foi o fato de uma leitura tão sólida com uma forma de linguagem desconhecida e por
muitas vezes confusa pode despertar em tantas pessoas tamanho interesse. Fato é
que até então não se havia na história da literatura Brasileira tal forma de escrita,
linguagem, ou modo de expressão. Guimarães Rosa viveu, observou, estudou e
amou o sertão onde nasceu por tantos anos que sua paixão ao escrever é notória.
Sua vontade de fazer com que o leitor compreendesse e sentisse como a vida se
passava ali é quase que palpável. Tal sentimento era tão complexo e profundo que
não lhe parecia cabível nas palavras e expressões de linguagem à sua disposição.
Tamanha era sua vontade de exteriorizar, expressar, fazer entender o sertão, que
ele recorreu a uma linguagem única, original, inovadora e cativante. Com o uso
excessivo de neologismos, Rosa descreve, se apropria e caracteriza cada detalhe
do romance e da realidade presentes na obra “Grande Sertão: Veredas”. Para
Barros (2011, p. 35) “a linguagem de Rosa não pode ser classificada como popular,
regional, culta, ou moderna porque é tudo combinado. É um vocabulário misturado,
mas misturado com muita arte o que torna sua prosa verdadeira expressão poética.”
A partir do sucesso de “Grande Sertão: Veredas”, Rosa passa a se dedicar
mais à escrita e, apesar de em 1958 começar a apresentar problemas de
hipertensão arterial agravados pelo excesso de peso, vida sedentária e o tabagismo,
em 1962 publicou “Primeiras Estórias”, livro que reuniu 21 contos pequenos; em
1967 foi ao México representar o Brasil no I Congresso Latino-Americano de
Escritores e ainda no mesmo ano foi jurado do II Concurso Nacional de Romance
21
Walmap que, pelo valor material do prêmio, é o mais importante do país. Em
meados de 1967 publicou seu último livro, também uma coletânea de contos
intitulada “Tutaméia” (NOGUEIRA JR, 2014).
Depois de quatro anos de adiamento quanto a aceitação, após ser
unanimemente eleito, Rosa decide assumir a cadeira de número dois na Academia
Brasileira de Letras.
Os quatro anos de adiamento eram reflexo do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria. O escritor fez seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras com a voz embargada. Parece pressentir que algo de mal lhe aconteceria. Com efeito, três dias após a posse, em 19 de novembro de 1967, ele morreria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa), mal tendo tempo de chamar por socorro. (NOGUEIRA JR, 2014).
Quando morreu tinha 59 anos, com indicação ao prêmio Nobel de Literatura,
barrado por sua morte. Tinha-se dedicado à medicina, à diplomacia, e,
fundamentalmente às suas crenças descritas em sua obra literária. Suas obras não
morreram com ele, e felizmente temos o prazer de prestigiar as vastas artes
literárias produzidas por este grande autor.
22
3.1 Guimarães Rosa e seus tradutores
As obras de Rosa não foram sucessos apenas dentro do território nacional, e
por chamarem atenção dos leitores internacionais surgiram muitos tradutores
empenhados em conseguir traduzir suas diversas obras escritas. Como afirma Terra
(2014) entendemos que a maneira de escrever de Rosa é pouco conhecida pelas
pessoas comuns falantes da língua portuguesa acostumadas a uma maneira de se
expressar mais conhecida e usada, “ conforme Terra (2014), para esse autor
mineiro, o mote é que as suas palavras produzem efeitos de sentidos desejados que
extrapolem o que consegue fazer a escrita ordinária”.
Uma vez que o autor ainda era vivo, os tradutores de suas obras tiveram o
grande privilégio de comunicar-se diretamente com ele para compreender melhor
suas intenções ao escrever suas obras e tirar dúvidas de interpretação tradutória.
Esta relação autor/tradutor remete ao que Benjamin defende no seu texto “A Tarefa
do Tradutor” (2001, p. 191):
A tradução é uma forma. Para compreendê-la como tal, é preciso retornar ao original. Pois nele reside a lei dessa forma, enquanto encerrada em sua traduzibilidade. A questão da traduzibilidade de uma obra possui um duplo sentido. Ela pode significar: encontrará a obra jamais, dentre a totalidade de seus leitores, seu tradutor adequado? Ou então, mas propriamente: admitirá ela, em conformidade com sua essência, tradução e, consequentemente (em consonância com o significado dessa forma), a exigirá também?
Podemos entender, de acordo com Benjamin, que é importante o tradutor
começar sua trajetória de tradução, voltando ao ponto de partida inicial da obra, seu
autor. É fundamental que o tradutor compreenda as intenções do autor, saiba o valor
das palavras que o mesmo escolheu na obra em questão, questione internamente
sua interpretação pessoal da obra e faça uso de todos os recursos ao seu alcance,
quando isso for possível, porque dificilmente o autor está vivo quando sua obra e
traduzida.
Para Terra (2014), não é trabalho fácil traduzir as obras de Rosa com uma
escrita que cria sem limites, usando um léxico próprio e uma linguagem particular,
podendo até chamar de um idioma seu, uma vez que palavras criadas não
pertencem a qualquer dicionário. De fato, é um grande desafio traduzir suas obras
23
que possuem efeitos de encadeamento rítmico que criam um certo cenário, exigindo
de quem traduz criatividade e familiaridade com o estilo do autor para conseguir
alcançar os efeitos desejados na língua de chegada. (TERRA, 2014)
Por encontrarem tantos desafios na trajetória de tradução da obra de Rosa os
tradutores optaram por trocar cerca de 372 cartas com o autor, entre os anos de
1958 a 1967, conforme Terra (2014); podemos encontrar essas comunicações
arquivadas no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo.
No trabalho de Bonatti (1998), pesquisadora no campo de estudos da tradução,
citada por Terra (2014), podemos notar que os tradutores vivenciaram conflitos,
angústias e tropeços no processo de alcançar os efeitos de sentido desejados por
Rosa, não apenas na língua de partida, mas também na língua de chegada.
24
3.2 Os neologismos de Guimarães Rosa na obra “Grande Sertão: Veredas”
Guimarães Rosa é um autor que, quando citado, remete-nos ao assunto dos
neologismos pela forte e constante presença desse fenômeno em suas obras.
Bonatti relembra em seu trabalho o que disse Rosa, sobre seu descontentamento
com a falta de palavras para expressar coisas e sons, descrever sentimentos e
imagens, ou apenas citar:
Escrevo, e creio que é este o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como usamos no Brasil; entretanto, no fundo enquanto vou escrevendo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros (BONATTI, 1998, p. 99).
A primeira estratégia neológica que Guimarães usa é o estrangeirismo,
utilizando palavras de outras línguas, já a outra é a criação própria, criando palavras
quando acha necessário criar para expressar a si mesmo. A crítica de Rosa quanto
ao que ele descreve, como tirania da gramática e dicionário dos outros nos faz
querer analisar a situação do tradutor ao traduzir; quantas vezes eles são tentados a
criar palavras, ou até repetir a palavra em sua língua original, como o fez Rosa?
Os tradutores de “Grande Sertão: Veredas” foram desafiados por um autor
que possuía seu próprio léxico, um idioma particular, pois era um autor que gostava
de desbravar a língua portuguesa, em todos seus aspectos. O objetivo principal de
quem traduz é tentar ficar o mais próximo possível das intenções do autor, sem se
prender a vastas discussões sobre fidelidade, mas focando na situação da invenção
de palavras e expressões por Rosa.
Diante disso, os passos primários para analisar e compreender como e por
que Guimarães Rosa trabalhava dessa maneira tão única de linguagem, é entender
como os neologismos de Rosa se formaram. Torres (1995) constatou em seu
trabalho que a formação de neologismos acontece basicamente nos processos
normais da seguinte maneira: a) derivação sufixal; b) composição; c) outros
processos.
Contudo, o presente trabalho atende à questão dos neologismos que
reproduzem os sons da natureza na obra de Rosa, selecionados no trabalho de
25
Torres. Sendo os itens A e B mais previsíveis, e por isso representando menos
desafios ao tradutor, decidiu-se focar apenas nos itens da categoria C. Dentre os
vários itens dessa terceira categoria, escolheu-se analisar os neologismos
onomatopaicos, pois este não é um processo de formação de neologismo totalmente
previsível e nem totalmente imprevisível, sendo assim um desafio maior ao tradutor.
É importante antes de tudo, esclarecer a definição de onomatopeia para
então nos aprofundarmos em sua análise neste estudo. Segundo o dicionário
(PRIBERAM, 2014), onomatopeia é o “processo de formação de uma palavra cujo
som imita aproximadamente o som do que significa”. Podemos ainda descrever
também como sendo uma reprodução do som emitido por um ser animado ou por
um objeto quando utilizado termo para o significar.
Guimarães Rosa cria de forma constante neologismos onomatopaicos.
Inclusive dentro da classe das onomatopeias, ele não se contenta em utilizar o
vocabulário que tem à disposição, mas reinventa as sonorizações e cria novas
maneiras de descrever sons, ou seja, onomatopeias. Apesar de criar algumas
derivações de onomatopeias já conhecidas e dicionarizadas, a grande maioria dos
neologismos onomatopaicos de Rosa é de caráter inédito.
De acordo com Torres (1995, p. 151) “Guimarães emprega o processo de
formação onomatopaica com bastante frequência, sob a motivação de prover
registros para as vozes de animais, ruídos da natureza e do cotidiano.” Como é
característica de suas obras, Rosa desenvolve uma forma singular de se expressar
não deixando, no entanto, a raiz da onomatopeia, que é a tentativa de reprodução
do som gerido pelo objeto de atenção, a qual se classifica em quatro categorias
como apresentaremos a seguir.
Do foco principal da presente análise são as onomatopeias que não foram
registradas ou reconhecidas fora da obra de Rosa. Nesta categoria, Torres (1995)
enumera quatro processos de formação de neologismos onomatopaicos que não
são reconhecidos em dicionários: sons da natureza, sons de animais, sons de vozes
humanas e sons de objetos.
Sendo a categoria de sons de animais muito extensa e a dos sons das vozes
humanas muito reduzida, optou-se por analisar, neste trabalho, a categoria dos sons
da natureza em detrimento dos sons dos objetos por simples preferência, pois
26
ambas têm aproximadamente a mesma quantidade de exemplos encontrados pelo
autor.
Ainda na categoria de onomatopeias dos sons da natureza há treze itens na
listagem de exemplos citados por Torres (1995), e dentre estes itens o presente
trabalho apresenta apenas os sete primeiros por uma questão de delimitação de
corpus. As onomatopeias escolhidas para estudo desta pesquisa são as seguintes:
Neologismo Onomatopaico Descrição
Grugir Cachoeira
Issilvo de plim Rio
Bafe-bafe Vento no couro de boi
Troz-troz Chuva
Refinfim Orvalho
Titique Estrelas caindo
Ro-ró Redemoinho
Tendo agora definido as expressões que iremos analisar, podemos destacar
a criatividade do autor e a sua necessidade de expressão. Como já mencionamos,
tamanha era a sua profundidade ao escrever, que as palavras à sua disposição não
lhe eram suficientes. Para levar o leitor a compartilhar da realidade presente na
obra, ele se utilizou não só de expressões típicas do sertão, como inseriu de forma
única uma quantidade surpreendente de neologismos buscando trazer o leitor para
dentro do mundo sertanejo em que ele mesmo havia uma vez vivido.
27
4 ANÁLISE TRADUTÓRIA DE SETE NEOLOGISMOS ONOMATOPAICOS EM “GRANDE SERTÃO: VEREDAS”
A proposta principal do presente trabalho foi analisar a tradução de alguns
neologismos citados na página 25 feita pelos tradutores James L. Taylor e Harriet de
Onís, “The Devil to Pay in the Backlands”.
Como abordamos no capítulo anterior, a obra de Rosa é um desafio para a
tradução. Proença (apud ALVES, 2011, p. 2), mostra que o autor mescla
regionalismos e latinismos, linguagem oral e castiça, formas arcaicas e neologismos,
trazendo a “escrita semântica dos termos etimológicos e translações violentas, de
impulso metafórico ou não”.
Portanto, a obra de Guimarães se iguala à dificuldade de tradução de um
texto poético, conforme Alves (2011, p. 2) observou, ao citar Willemsen (1986, p.
60), tradutor da literatura brasileira para o holandês, que ao tentar traduzir a obra de
Rosa chega a dizer explicitamente que “quase nenhum poema que traduzi, igualou
em dificuldade a uma página de Guimarães Rosa”.
Destacamos dessa obra de Rosa os fragmentos, tanto no texto em português
como no texto em inglês, onde encontramos as sete onomatopeias citadas
anteriormente. Podemos ver que, como explica Campos (1976, p. 22), o romance
“Grande Sertão: Veredas” é um dos casos que “postulariam a impossibilidade [da]
tradução”. Notamos que infelizmente a maioria das onomatopeias não foram
traduzidas. Observamos também que algumas foram simplesmente ignoradas,
juntamente com sua frase, e por fim encontramos somente uma onomatopeia
traduzida seguindo a característica parecida usada por Rosa na mesma frase que na
língua de partida. Abaixo pode-se ver na íntegra os quadros com os fragmentos
onde se encontram esses neologismos e suas traduções a serem analisados.
Português Mas, então, para uma safra razoável de bizarrices, reconselho de o senhor entestar viagem mais dilatada. Não fosse meu despoder, por azías e reumatismo, aí eu ia. Eu guiava o senhor até tudo. Lhe mostrar os altos claros das Almas: rio despenha de lá, num afã, espuma próspero, gruge; cada cachoeira, só tombos. O cio da tigre preta na Serra do Tatú ― já ouviu o senhor gargaragem de
p. 20
28
onça? A garôa rebrilhante da dos-Confins, madrugada quando o céu embranquece ― neblim que chamam de xererém.
Inglês So, to discover out-of-the-ordinary things, I advise you to undertake a more extensive journey. If it wasn’t for my ailments, my stomach upsets and rheumatism, I would go with you. I would show you everything. I would show you the bright heights of the Almas range: the river pouring down, all eagerness, foaming and boiling: every waterfall a cataract. The black jaguar female in the heat in the Serra do Tatú-have you ever heard the rutting scream of a jungle cat? The bright fog over Serra dos Confins, in the early morning when the sky grows light-a kind of fine mist they call xererém.
p. 19
Quadro 1
No quadro 1 podemos perceber que os tradutores não traduziram o grugir da
cachoeira, eles continuaram com as descrições do autor sobre a cachoeira, mas o
som, em si, que ela produz não foi traduzido, perdendo assim o objetivo completo do
autor, que pretendia fazer o leitor perceber tanto a imagem do local quanto o som.
Português Mas sucedia uma duvidação, ranço de desgosto! eu versava aquilo em redondos e quadrados. Só que coração meu podia mais. O corpo não traslada, mas muito sabe, adivinha se não entende. Perto de muita água, tudo é feliz. Se escutou, banda do rio, uma lontra por outra! o issilvo de plim, chupante. ― Tá que, mas eu quero que esse dia chegue! ― Diadorim dizia. ― Não posso ter alegria nenhuma, nem minha mera vida mesma, enquanto aqueles dois monstros não forem bem acabados... E ele suspirava de ódio, como se fosse por amor; mas, no mais, não se alterava.
p. 23
Inglês But I began to feel an uneasiness, a vague discontent. I studied it from every angle. It was simply that my heart asked for more. The body does not speak, but it knows a lot, and divines what it does not understand. How pleasant there by the water. You could hear, over by the river, little sucking whistles of an otter. “Damn it, but I want that day to come!” said Diadorim. “There is no happiness for me, even my life is not my own, until those two monsters have been done away with.” And he sighed with hate, as it might have been with love. So great was his hate that it could not be increased;
p. 23
Quadro 2 O issilvo de plim do autor é traduzido por little sucking whistles no quadro 2. É
facilmente percebido que o tradutor confundiu o som das lontras com a “banda do
29
rio”. Para nós, leitores maternos do português, notamos que o neologismo issilvo de
plim criado pelo autor é para descrever o som do rio, pois durante a leitura o autor
está descrevendo o som que se escuta perto de muita água, mas os tradutores o
traduziram como se fosse o som das lontras: little sucking whistles of an otter. Além
da confusão ao que o som adjetivava, os tradutores se confundiram com a palavra
chupante que vem logo após o issilvo de plim seguido por uma vírgula, colocando-o
como adjetivo do som das lontras. Evidentemente, houve muita confusão de
interpretação dos tradutores, resultando numa grande perda de sentido da frase
original criada por Rosa.
Português ― O mais é o pior! é que tem inimigo, próximo, tocaiando... ― Alaripe me disse. Muito chovido de noite ― as árvores esponjadas. Mesmo dava um frio vento, com umidades. Para agasalhar Medeiro Vaz, tinham levantado um boi ― o senhor sabe! um couro só, espetado numa estaca, por resguardar a pessoa do rumo donde vem o vento ― o bafe-bafe. Acampávamos debaixo de grandes árvores. O barulhim do rio era de bicho em bicheira. Medeiro Vaz jazente numa manta de pele de bode branco ― aberto na roupa, o peito, cheio de cabelos grisalhados.
p. 56
Inglês “That’s not the worst of it,” Alaripe said to me, “the enemy is close by, stalking us.” The rain fell heavily at night, the trees dripped. There was a damp, chilly wind. In order to shelter Medeiro Vaz, they had raised a steer’s hide – you know, sir: a single hide fixed to a stake to shelter a person from the direction in which the wind is blowing. We were camped under some big trees. The sound of the river was like a continuous murmur. Medeiro Vaz was lying on a white goat skin – his shirt open over his chest covered with graying hair.
p. 64
Quadro 3
O som do vento no couro do boi, bafe-bafe, encontrado no quadro 3, foi
ignorado pelos tradutores. Imaginamos que talvez escolheram fazer assim pelo fato
de que esse neologismo veio logo após um travessão, e por não encontrarem uma
palavra correspondente ou conseguirem criar uma opção de neologismo na língua
de chegada, sendo assim, mais fácilapenas “ignorá-lo”. A capacidade de Rosa, ao
criar um neologismo até mesmo para o som do vento no couro do boi, foi perdida
para os leitores da língua inglesa, pois baseado no que se sabe a partir da biografia
30
do autor, os neologismos que ele criava tinha relevância expecífica para o leitor
durante a obra.
Português A tarde foi escurecendo. Ao menos Diadorim me chamou adeparte; ele tramava as lágrimas. ― Amizade, Riobaldo, que eu imaginei em você esse prazo inteiro... ― e apertou minha mão. Avesso fiquei, meio sem jeito. Aí, chamaram: ― Acode, que o chefe está no fatal! Medeiro Vaz, arquejando, cumprindo tudo. E o queixo dele não parava de mexer; grandes momentos. Demorava. E deu a panca, troz-troz forte, como de propósito: uma chuva de arrobas de peso. Era quase sonoite. Reunidos em volta, ajoelhados, a gente segurava uns couros abertos, para proteger a morte dele. Medeiro Vaz ― o rei dos gerais ―; como era que um daquele podia se acabar?! A água caía, às despejadas, escorria nas caras da gente, em fios pingos.
p. 56
Inglês The afternoon was darkening. Finally Diadorim called me aside; he was trying to hold back the tears. “In friendship, Riobaldo, I thought of you the whole time” and he squeezed my hand. I was taken aback, feeling somewhat awkward. Then they called us: “Hurry, the Chief is about to go!” Medeiro Vaz, gasping, approaching the end. His jaw quivered without let up; terrible moments. So long drawnout! And there came a down-pour, a heavy beating rain, as if on purpose. Night had closed in. Kneeling in a circle around him, we held up some hides, to protect him in his dying moments. Medeiro Vaz – King of the Gerais – how could a man like him come to an end? The water fell in torrents, and ran down our faces in rivulets.
p. 65
Quadro 4
O autor descreve “e deu a panca, troz-troz forte, como de propósito: uma
chuva de arrobas de peso”, e os tradutores amenizam a descrição com a seguinte
tradução: “down-pour” e “a heavy beating rain” que em português poderíamos
traduzir como: “aguaceiro” e “uma chuva caindo forte”. Arrobas éuma unidade de
massa geralmente usada para peso de gado (equivalente a mais ou menos 15kg),
portantosubstituí-la por apenas beating, ou pesado, foi uma escolha dos tradutores
para atenuar a intenção de Rosa. O neologismo onomatopaico troz-troz que
descrevia o som da chuva não foi traduzido, tirando assim, mais uma vez, a intenção
do autor de fazer o leitor “ouvir” o som da chuva que ele estava descrevendo.
31
Português Então? Mas esses, que na ocasião prezei, estão goros, remidos, em mim bem morreram, não deram cinza. Não me lembro de nenhum deles, nenhum. O que eu guardo no giro da memória é aquela madrugada dobrada inteira! os cavaleiros no sombrio amontoados, feito bichos e árvores, o refinfim do orvalho, a estrela-d alva, os grilinhos do campo, o pisar dos cavalos e a canção de Siruiz. Algum significado isso tem? Meu padrinho Selorico Mendes me deixava viver na lordeza. No São Gregório, do razoável de tudo eu dispunha, querer querendo. E, de trabalhar seguido, eu nem carecia.
p. 85
Inglês Though I prized them at the time, they are now meaningless, finished, have died completely within me, have left no ashes. I do not remember a one of them, not one. What I do remember to the last detail is that dawn: the riders gathered in the darkness, having the appearance of animals and trees, the drip-drip of the dew, the morning star, the little field crickets, the tread of the horses, and Siruiz’s singing. Does that have any meaning? My godfather Selorico Mendes let me live like a lord. At São Gregório I could have anything I wanted, within reason. And as for working, I didn’t have to.
P 102
Quadro 5
O neologismo onomatopaico destacado no quadro 5 “o refinfim do orvalho” foi
traduzido para o inglês como “the drip-drip of the dew”. A palavra refinfim é
considerada um neologismo no português, e finalmente encontramos uma tradução
equivalente na língua de chegada. Notamos que os tradutores escolheram usar uma
palavra já existente, drip, e criar então um neologismo, usando-a duas vezes,
semelhantemente com o que Rosa fez na língua de partida. Portanto, “drip-drip” foi a
tradução final, e que se traduzida ao pé da letra para o português seria pinga-pinga.
Português O cheiro da terra agoura mal. Capim de beira em fio, que corta a cara. E uns gafanhotos pulam, têm um estourinho, tlique, eu figurava que era das estrelas remexidas, titique delas, caindo por minhas costas. Trabalhos de unha. O capim escorria, do sereno da noite, lagrimado. Ah, e cobra? Pensar que, num corisco de momento, se pode premer mão numa rodilha grossa de cascavel, numa certa morte dessas.
p. 143
Inglês The smell of the ground forebodes evil. Sharp-edged grass stems cut your face. And a grasshopper jumps with a little clicking
p. 173
32
noise-click. I imagined it was the prankish stars letting their little droppings fall on my back. Now you claw your way. The grass is sodden with the night mist. Ah, and snakes? To think that at any moment your hand can press down on a rattler’s thick coil – it is sure death.
Quadro 6
No quadro 6 o neologismo onomatopaico titique, som das estrelas, foi
traduzido como um substantivo do inglês “droppings”. O que era suposto por Rosa
ser uma onomatopeia para o som das estrelas, tornou-se um substantivo: “their little
droppings”; além dessa mudança gramatical, os tradutores adicionaram o adjetivo
“little” que não estava descrito na língua original do texto.
Português E o que era, que estava assombrando o animal, era uma folha seca esvoaçada, que sobre se viu quase nos olhos e nas orelhas dele. Do vento. Do vento que vinha, rodopiado. Redemoinho: o senhor sabe ― a briga de ventos. O quando um esbarra com outro, e se enrolam, o dóido espetáculo. A poeira subia, a dar que dava escuro, no alto, o ponto às voltas, folharada, e ramarêdo quebrado, no estalar de pios assovios, se torcendo turvo, esgarabulhando. Senti meu cavalo como meu corpo. Aquilo passou, embora, o ró-ró. A gente dava graças a Deus. Mas Diadorim e o Caçanje se estavam lá adiante, por me esperar chegar. ― Redemunho! ― o Caçanje falou, esconjurando. ― Vento que enviesa, que vinga da banda do mar... ― Diadorim disse.
p. 169
Inglês What had startled him was a dry flying leaf carried by the wind that was whirling around us that had lodged against his eye and ear. Swirling eddies – you know, wind When one meets another and they whirl together, it is a crazy sight. The dust rises high, in a dark cloud full of flying leaves and broken twigs, with whistling sounds, spinning and jumping like a top. Diadorim and Caçanje had stopped, waiting for me to catch up. “The dust devil!” said Caçanje, cursing. “There is a cross wind blowing from the direction of the ocean,” said Diadorim.
p. 205
Quadro 7 O ró-ró, som do redemoinho, no quadro 7, não foi traduzido. Os tradutores,
para que não tivessem problemas de sentido, ocultaram a frase anterior e a frase
corrente do som. A atitude dos tradutores pode ter sido pelo fato de confusão, ao se
33
depararem com o neologismo onomatopaico e não saberem ao que ele se referia, o
deixaram sem tradução juntamente com a frase anterior.
Nosso principal critério ao realizar a análise tradutória dos neologismos
selecionados baseou-se no conselho do próprio autor: “linha por linha, palavra por
palavra, vírgula por vírgula, PENSAMENTO POR PENSAMENTO.” (grifos do
escritor, apud TERRA, 2014). Com base nisso, pudemos perceber que houve
grande perda de uma das principais características de Guimarães Rosa, a criação
de neologismos, e neste caso especificamente os neologismos onomatopaicos.
Basta uma breve leitura de qualquer uma de suas obras, ou principalmente
“Grande Sertão: Veredas”, para nitidamente notarmos o objetivo do autor de fazer
com que leitor pudesse compreender e sentir como era a vida dentro daquele
enredo. Ao entendermos melhor sua história através da biografia detalhada,
entendemos que os neologismos foram uma forma que o autor encontrou de
expressar esses sentimentos tão complexos e profundos, os quais não foram
possíveis expressar com as palavras já à sua disposição, criando assim uma
linguagem original e cativante de alcançar esse seu objetivo.
Os leitores da língua inglesa dessa obra não podem desfrutar o sabor de
prestigiar esse aspecto criativo e inovador de Rosa, que se vale de tantos
neologismos como recurso para se reproduzir a realidade do sertão. No entanto,
com o intuito de tentar recuperar um pouco dessa perda para os leitores da obra em
sua versão traduzida, propusemos uma opção de tradução para cada um dos seis
neologismos onomatopaicos que foram encontrados sem tradução dentro de nossa
análise, formando assim o último quadro com todas as traduções.
Português Descrição Inglês
Grugir Cachoeira Roaroshing
Issilvo de plim Rio Flowing-‐patter
Bafe-bafe Vento no couro de boi Shwack
Troz-troz Chuva Slosh-‐lash
Refinfim Orvalho Drip-‐drip
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Titique Estrelas caindo Tink
Ro-ró Redemoinho Circast
Criamos o neologismo onomatopaico roaroshing como equivalência de
tradução do original grugir, pois o som da cachoeira em inglês pode ser
representado por roar, como um som forte pela queda da água, e whooshing como o
barulho da água correndo em queda livre. Para issilvo de plim, neologismo
onomatopaico referente ao rio, decidimos traduzir como flowing-patter, uma vez que
o som do rio pode ser descrito como flowing waters, que significa águas correntes, e
patter que significa um som suave, leve e repetido. Já o neologismo onomatopaico
bafe-bafe exigiu uma interpretação mais profunda para chegarmos a uma tradução
com sentido equivalente ao original, reconhecendo assim que o som do vento pode
ser representado por shh e o som de um chicote batendo no couro de boi pode ser
representado por wack.
O próximo neologismo onomatopaico, troz-troz, foi traduzido pelo neologismo
slosh-lash, pois o som da chuva pode ser representado por slosh, que é o ato de
esparramar, e também pode ser representado por lash, que é o ato de mover
violentamente, juntando assim as duas representações somente separadas pelo
hífen. O neologismo onomatopaico refinfim já foi traduzido pelos tradutores na obra,
e não encontramos necessidade de fazer outra tradução, permanecendo assim o
neologimos em inglês drop-drop. O som de estrelas caindo, criado por Rosa como
titique, pode ser representado em inglês pelo mesmo som de qualquer objeto com
material de lata, ou como se diz em inglês tin, e esse mesmo som também pode ser
parecido com o som que fadas encantadas fazem, como no próprio nome de uma
das fadas mais conhecidas ‘tink’er bell, sendo que ao juntar as duas representações
criamos a tradução tink como neologismo onomatopaico em inglês. Por fim, ro-ró
criado por Rosa para representar o som do redemoinho em português, pode ser
descrito em inglês como circular, que significa circular, e fast, que significa rápido,
criando assim o neologismo circast como tradução equivalente em inglês.
Ao fazermos a leitura dessa obra na língua portuguesa e inglesa, observamos
que é de grande importância que esses neologismos sejam traduzidos para que o
leitor da versão traduzida possa, por sua vez, experimentar por completo o prazer de
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ler essa obra de Guimarães Rosa. A seguir podemos observar na carta de Rosa
para Curt Meyer-Clason, tradutor alemão, no dia 17 de junho de 1963, a forma como
ele valorizava que o pensamento de sua obra fosse traduzido com cuidado para que
“as coisas válidas não fossem perdidas”:
Para tanto, porém, o confronto com o original terá de ser feito linha por linha, palavra por palavra, vírgula por vírgula, PENSAMENTO POR PENSAMENTO. Muita coisa, naturalmente, terá de perder-se, de evaporar-se, por intraduzível. Mas, que não sejam as coisas vivas, importantes. Nem coisas válidas para o leitor alemão. Por isso, a ajuda que lhe pode dar o “The Devil to Pay in the Backlands” terá de ser julgada, passo a passo; às vezes, com sábia e esperta desconfiança; mas, sempre, de modo “crítico” (ROSA, 2003, p. 116, grifos do escritor).
O autor teve o tato de entender que muitas coisas seriam perdidas através
das traduções, portanto pediu, com muito cuidado, que os tradutores confrontassem
a obra original, pois sabia que se utilizassem a tradução para o inglês, “The Devil to
Pay in the Backlands”, como fonte primária, as partes e/ou palavras importantes
poderiam ou ser traduzidas diferentemente ou perdidas.
Rosa assume e reconhece que muito de sua obra seria intraduzível, posição
clara na carta acima. Portanto as traduções sugeridas nesse trabalho têm dois
propósitos: proporcionar ao leitor da língua inglesa uma noção maior dos
neologismos onomatopaicos criados pelo autor; incentivar os tradutores profissionais
a serem tradutores-autores, ou seja, que sejam criativos, criando nas traduções os
elementos neológicos do autor, sem abandonar a preocupação de proximidade
semântica com o autor, quando diante de desafios linguísticos, gramaticais ou até
mesmo culturais que não se pode encontrar equivalência na língua de chegada.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Guimarães Rosa é um autor peculiar que não se deixava delimitar pelas
palavras já existentes na língua portuguesa, característica que mais nos motivou
durante a pesquisa: a incrível capacidade de criar palavras, ou neologismos. Ao
pesquisarmos relatos sobre a sua biografia, encontramos fatores importantes que
influenciaram seu estilo, como fatos de sua vida pessoal, escolhas que fez como
profissional, o vasto conhecimento de diversas culturas e línguas que adquiriu logo
nos primeiros anos de vida. Os neologismos onomatopaicos foram uma categoria de
neologismos que mais nos chamou atenção, pois mostrou o cuidado do autor em
querer que o leitor sentisse e visse o ambiente que estava a descrever, o que, sem
dúvida, resultou em grande desafio aos tradutores.
Durante a análise das traduções dos neologismos onomatopaicos
selecionados, percebemos que houve perdas para o leitor das traduções, pois não
desfrutou do aspecto de inovação da obra. Como disse Willemsen (1986, p. 60)
“quase nenhum poema que traduzi, igualou em dificuldade uma página de
Guimarães Rosa”, o que podemos salientar ao criticar os tradutores, pois o nível de
dificuldade de tradução da obra “Grande Sertão: Veredas” é grande e não pode ser
ignorado.
Assumimos o papel de sermos tradutoras-autoras, propondo traduções para
as onomatopeias, por entendermos sua importância para o leitor da língua inglesa,
pois a sensação, ao ler o texto em sua língua original, não é a mesma quando se lê
a obra traduzida. Contudo, o desafio foi grande ao criarmos os neologismos
onomatopaicos em inglês; com isso, pudemos vislumbrar as diversas dificuldades
que os tradutores provavelmente encontraram ao traduzir essa obra.
A dificuldade de tradução se dá também pelo que aponta Monegal (apud
MARQUEZINI, 2006), em seu trabalho “O Buriti e a Rosa: Aspectos da Linguagem
em ‘Grande sertão: Veredas’”:
Logo que o abri [Grande sertão: veredas], descobri porque Guimarães Rosa era (apesar de sua fama no Brasil) um autor ainda desconhecido. Li e reli e tornei a reler as três ou quatro primeiras páginas do romance. Não direi que não entendi nada porque seria
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exagerar. [...] Porém o que eu havia aprendido [de português], e que me permitia circular sem lágrimas pela literatura brasileira ou portuguesa, parecia nada, frente a essas primeiras formidáveis páginas de Grande sertão: veredas.
Devido à dificuldade de entendimento e tradução da linguagem de Rosa, a
partir da década de 1950 vários estudos foram sendo publicados. Um dos primeiros
a tratar do assunto foi M. Cavalcanti Proença (1957), autor que, dentre outros
procedimentos estilísticos, enumera alguns que considera particularmente
característicos de “Grande Sertão”: os jogos sonoros, como o uso de aliterações,
coliterações (repetição alternada de fonemas surdos e sonoros correlatos, rimas
toantes, ritmo e onomatopeias, tudo isso no texto em prosa; e, como já havíamos
destacado, a intenção de prender o leitor através desses sons (onomatopeias) como
aponta Proença (1957): “Para manter em permanente vigília a atenção de quem lê,
todos esses vocábulos de som e forma inusitada funcionam como guizos...”
(PROENÇA, 1957, p. 85).
A questão da fidelidade na tradução é muito discutida, inclusive por Derrida,
citada por Ávila (2008), na tradução de Ottoni “Fidelidade a Mais de Um” (2005b, p.
195):
Apesar de tudo, parece que a tradução deve se esforçar para ser o mais fiel possível, não pela preocupação de exatidão calculável, mas porque ela nos lembra a lei do outro texto, a sua assinatura, esse outro acontecimento que já teve lugar antes de nós, e ao qual nós devemos responder como herdeiros.
As dificuldades enfrentadas pelos tradutores de Rosa e os desafios prováveis
na criação neológica nos fez pensar na atitude dos tradutores na obra de Rosa, pois,
após nossa análise das traduções dos neologismos onomatopaicos escolhidos, nós
também encontramos dificuldades para traduzir de modo a levar entendimento para
o leitor da língua traduzida, sem perda de sentido da intenção do autor.
Nossa intenção ao analisar a tradução dos neologismos onomatopaicos da
obra de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas” e oferecer sugestões de novas
traduções, foi movida pelo fato de percebermos que, após leitura e análise de
autores que discutem a fidelidade de tradução, os leitores da língua inglesa
poderiam não ter a mesma experiência após a leitura dessa obra que o leitor da
língua original. Após analisar, também, a dificuldade de leitura da obra de Rosa,
concluímos que as atitudes dos tradutores, ao se depararem com um neologismo
onomatopaico foram de negligenciar sua importância para a obra, pois, de acordo
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com nossa proposta de novas traduções, apesar do desafio, foi possível traduzi-los,
de modo que a intenção do autor foi mantida sem perdas significativas..
Levantamos a questão da fidelidade também pelo fato de que dos sete
neologismos onomatopaicos em questão, somente um foi traduzido, retirando certa
parte da intenção do autor de mostrar os sons das coisas descritas no texto. As
habilidades exigidas dos tradutores de Rosa ultrapassam aquelas comuns a ponto
de seu texto comparado à poesia e as dificuldades de traduzir este gênero poético.
É visível a limitação de nossa proposta na quantidade de neologismos, pois
Rosa é um autor exemplo quando falamos deste assunto. No entanto, nossa
proposta de tradução e análise poderia se estender facilmente para outros
neologismos, pois o embasamento teórico abrange todos eles. Apontamos que a
tradução de neologismos deve ser feita minuciosamente, levando em consideração
o valor que este agrega a qualquer obra a ser traduzida, pois os neologismos têm a
mesma importância que outras palavras e não deveriam ser deixados para trás no
resultado final da tradução da mesma.
Portanto, o presente trabalho contribuiu para mostrar que é possível ser
tradutores-autores, ou seja, que sejam criativos, criando na tradução elementos
neológicos do autor, sem abandonar a preocupação do autor de proximidade
semântica com o autor, consequentemente sendo fiel à cultura da língua de
chegada, juntamente ao autor da língua de partida.
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