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8/18/2019 Análise Usina.docx http://slidepdf.com/reader/full/analise-usinadocx 1/4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE HUMANIDADES UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA A luz da literatura nos debruçaremos em analisar o processo de modernização da economia açucareira no Nordeste, bem como suas inúmeras implicações nas relações sociais de trabalho e no cotidiano da vida dos homens ordinários envolvidos neste  processo. Utilizaremos como objeto de refleão o livro Usina !"#$%  ), escrito por &os' (ins do )e*o, um dos *randes nomes na produção de romances re*ionalista no +rasil. &os' (ins do )e*o, nascido em $ de junho de "#", no munic-pio de ilar, estado da ara-ba, de tradicional fam-lia de produtores de açúcar, passou a inf/ncia no en*enho 0orredor, propriedade do av1 materno, ap2s a morte prematura de sua mãe. 3ssas viv4ncias dos tempos de menino, em contato com as tradições da sociedade nordestina açucareira, alimentaram *rande parte da sua produção literária e subsidiaram a variada *ama de romances, 5ue o pr2prio autor denominou de 0iclo da 0ana de Açúcar. A obra nos mostrará a transição do velhos e anti5uados en*enhos para as modernas e sofisticadas usinas6 a criação da usina foi fomentada pelos valores capitalista, 5ue tentavam sobrepuja7se ao tradicionalismo das ultrapassadas casas de açúcar. 3m primeiro lu*ar, vamos procurar interpretar a mensa*em perpassada pelos  persona*ens. 8r. &uca representa a visão moderna, empreendedora, 5ueria ser dono de fábrica, almejava poder, ambicioso, tem o sonho de torna7se usineiro e desfrutar de todos os benef-cios 5ue o açúcar pode propicia7lo6 9...:Açúcar s2 dava mesmo lucro compensador com as vanta*ens de uma usina. 3 a rápida ri5ueza da ;ão <'li, invadindo a várzea como um bicho insaciável, devorando  ban*u4s sem pena, fizera o 8r. &uca sonhar com a fábrica, com o prest-*io e as import/ncias de usineiros. Usineiro. Usineiro era um nome 5ue enchia a boca. !)3=>, ?, p. @$. 0ontudo, para tal transição era necessário contar com o aparato t'cnico, ou seja, 8r. &uca teria 5ue ser detentor dos meios de produção no processo de *4nese da usina +om &esus, neste sentido era preciso modernizar6 foram compradas as caldeiras, o vácuo, as turbinas, as folhas de zinco para revestir o ma5uinário e as moendas a custo  baio, para e5uipar o novo empreendimento. 0om isso, sur*iria uma nova mentalidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES

UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA

A luz da literatura nos debruçaremos em analisar o processo de modernização da

economia açucareira no Nordeste, bem como suas inúmeras implicações nas relações

sociais de trabalho e no cotidiano da vida dos homens ordinários envolvidos neste

 processo. Utilizaremos como objeto de refleão o livro Usina !"#$% ), escrito por &os'

(ins do )e*o, um dos *randes nomes na produção de romances re*ionalista no +rasil.

&os' (ins do )e*o, nascido em $ de junho de "#", no munic-pio de ilar,

estado da ara-ba, de tradicional fam-lia de produtores de açúcar, passou a inf/ncia noen*enho 0orredor, propriedade do av1 materno, ap2s a morte prematura de sua mãe.

3ssas viv4ncias dos tempos de menino, em contato com as tradições da sociedade

nordestina açucareira, alimentaram *rande parte da sua produção literária e subsidiaram

a variada *ama de romances, 5ue o pr2prio autor denominou de 0iclo da 0ana de

Açúcar.

A obra nos mostrará a transição do velhos e anti5uados en*enhos para as

modernas e sofisticadas usinas6 a criação da usina foi fomentada pelos valores

capitalista, 5ue tentavam sobrepuja7se ao tradicionalismo das ultrapassadas casas de

açúcar.

3m primeiro lu*ar, vamos procurar interpretar a mensa*em perpassada pelos

 persona*ens. 8r. &uca representa a visão moderna, empreendedora, 5ueria ser dono de

fábrica, almejava poder, ambicioso, tem o sonho de torna7se usineiro e desfrutar de

todos os benef-cios 5ue o açúcar pode propicia7lo6

9...:Açúcar s2 dava mesmo lucro compensador com as

vanta*ens de uma usina. 3 a rápida ri5ueza da ;ão <'li,invadindo a várzea como um bicho insaciável, devorando ban*u4s sem pena, fizera o 8r. &uca sonhar com a fábrica, como prest-*io e as import/ncias de usineiros. Usineiro. Usineiro

era um nome 5ue enchia a boca. !)3=>, ?, p. @$.

0ontudo, para tal transição era necessário contar com o aparato t'cnico, ou seja,

8r. &uca teria 5ue ser detentor dos meios de produção no processo de *4nese da usina

+om &esus, neste sentido era preciso modernizar6 foram compradas as caldeiras, o

vácuo, as turbinas, as folhas de zinco para revestir o ma5uinário e as moendas a custo

 baio, para e5uipar o novo empreendimento. 0om isso, sur*iria uma nova mentalidade

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5ue partiria de pressupostos bur*ueses, novas atitudes seriam 5ue ser tomadas, e essas

surtiram efeito direto na vida da população 5ue habitavam as anti*as senzalas do tempo

do velho &os' aulino. A casa teria 5ue passar por reforma, a cozinha não poderia ficar 

aberta, permitindo o fluo de trabalhadores como outrora, *rades foram constru-das

inviabilizando a entradas das ne*ras, 5ue por sua vez, foram epulsas da casa *rande e

tiveram 5ue procurar outro abri*o, pois sua perman4ncia pr2ima a casa *rande era

sin1nimo de atraso6 BA casa *rande da usina não podia continuar a ser uma casa *rande

de en*enho. 9...: A casa *rande brilhava livre da5uela feiúra. !)3=>, ?, p. @C. 

or outro lado, a usina necessitava de uma *rande 5uantidade de terra, não se

 poderia ceder o m-nimo espaço 5ue fosse favorável para o plantio da flor de cuba, o

 povo 5ue historicamente moravam na várzea tinham 5ue dar lu*ar para os canaviais,

foram obri*ados a subir para caatin*a, terra impropria para a cana6 BNão morava mais

nin*u'm na Dárzea. At' no cemit'rio velho, 5ue diziam 5ue fora dos caboclos,

 plantavam canaE 

!)3=>, ?, p. "??.

;i*nificativas mudanças tamb'm aconteceram no tocante a car*a horária dos

trabalhadores, teriam 5ue dedicar7se doze horas diárias e seis dias por semana, situação

diferente da5uela dos tempos do en*enho em 5ue a rotina de trabalho era determinada

 pelo ciclo solar, al'm disso, como reverteriam toda sua capacidade laborativa para

usina, ficavam impossibilitados de cuidar de seus anti*os roçados, Avelina denunciou a

situação em conversa com 8. 8ondon, esposa do 8r. &uca6

B;2 5ueria 5ue a senhora visse, 8ona 8ondon, a des*raça do povo. Nin*u'm pode plantar, não. >s homens t4m 5ue dar todos os dias para a usina. Fuem não descer para o eito, nãorecebe osdias 5ue deu. Nin*u'm pode adoecer. E !)3=>, ?, p. "??.

 

 Neste -nterim, ocorriam divisões na pr2pria classe trabalhadora da usina6 os

trabalhadores rurais representavam o patamar mais baio, estavam epostos Gs p'ssimascondições de trabalho e vida, seus salários eram recebidos em forma de vale de metais

5ue s2 serviam no barracão do seu 3rnesto, monopolizando, assim, o fornecimento de

alimentos no ;anta )osa. >s operários especializados em determinadas tarefas !caso do

ma5uinista <elipe *ozavam de certos Bbenef-ciosE, como direito G moradia de tijolo,

acesso a luz el'trica e pa*amento em moeda corrente. ;ertanejos completavam o 5uadro

da mão de obra da usina, esses 5uando o sertão se encontrava em per-odos de seca,

desciam esporadicamente as várzeas para realização de trabalhos espec-ficos.

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>s lucros paulatinamente aumentavam, a usina prosperava, entretanto 8r. &uca

tinha consci4ncia de 5ue era necessário continuar modernizando cada vez mais,

introduzindo as novas tecnolo*ias de produção dispon-veis no mercado. 8ois novos

en*enhos teriam 5ue ser aneados a +om &esus por serem estrate*icamente de suma

import/ncia para a usina6 o ;anta f' era necessário pois epandiria a produção para o

norte e o Dertente disponibilizava as nascentes 5ue facilitariam a irri*ação na usina.

 No 5ue concerne aos novos e5uipamentos, empr'stimos foram tomados juntos

aos americanos, seus interesses eram representados pela fi*ura do 8r. ontual, e por sua

vez, ei*iam como *arantia hipotecas dos en*enhos da usina, contudo, era preciso

convencer todos os parentes da fam-lia e 8r. &uca desprendeu todos os esforços para

alcançar tal objetivo6

B> *enro ar*umentou com os fatos. A5uilo era somente umaformalidade. > 8r. ontual pedia a5uelas *arantias parainspirar confiança nos americanos. 3m dois anos estaria pa*o ea +om &esus aparelhada para vinte anos de safra comcapacidade maior 5ue a ;ão <'liE. !)3=>, ?, p. #H.

Ap2s serem feitas todas as ne*ociações, não havia jeito, as previsões para a

usina do 8r. &uca eram as melhores poss-veis, nem mesmo as usinas pernambucanas

seriam superiores G +om &esus. 3m pouco tempo o 8r. &uca seria um dos maiores

usineiros do +rasil, um eperiente usineiro de )ecife, elo*iou entusiasmadamente a

unidade açucareira6

B> usineiro, 5ue viera de )ecife para ver as obras, um tal de8r. 8inis, achou tudo uma perfeição. 3m ernambuco poucas

Usinas estariam aparelhadas como a +om &esus. > material dosamericanos era de primeira 5ualidade e falou da zona,aconselhando a irri*ação com o Dertente. <eito isto poderiamdormir descansados, 5ue dinheiro e lucro não faltariam mais atodos eles. !)3=>, ?, p. ""#.

3ntretanto, o 5uadro 5ue se mostrava bastante favorável para a +om &esus,

começou a entrar em bancarrota6 os e5uipamentos sofreram diversos problemas

t'cnicos, a 5ualidade do açúcar tamb'm não condizia com o tamanho do investimento, a

fim de solucionar o problema um 5u-mico fora contratado recebendo 5uatro contos r'is,

mas não havia jeito, a +om &esus estava fardada a ru-na. A crise aprofundou7se de vez

5uando o preço do açúcar decaiu, o saco 5ue outrora custava sessenta mil r'is, passou a

custar ? mil r'is, al'm disso, os empr'stimos com os a americanos e ver*ara não

estavam em dia, os juros s2 faziam a d-vida aumentar, o 5ue defla*rou a eecução das

hipotecas e decretou de vez o fim da +om &esus, do 8r. &uca e todos os seus6

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A *rande crise do açúcar pe*ou a +om &esus de jeito. 9...: oscompromissos enormes, os cálculos feitos na alta. As despesascom safras *i*antes e a +om &esus sem recursos pr2prios, sem+anco, sem cr'dito para se a*uentar. Fuem visse o 8r. &uca dea*ora não o reconheceria. erdera o entusiasmo, consumira7se

na luta, 5ue era superior Gs suas forças e Gs suas 5ualidades.

!)3=>, ?, p. "IC

;obre o uso da literatura como fonte de saber hist2rico, nos ajuda a pensar o

historiador =ervácio Aranha6

B3m 5ue pese o caráter ficcional da obra literária, isto não

diminui sua import/ncia como fonte para o estudo da hist2ria. Não obstante o romancista crie livremente a trama 5ue compõesua obra e, com ela, situações e persona*ens fict-cios, isto nãoo torna menos sintonizado com o mundo em 5ue vive suaeperi4ncia eistencial, seja profissional, afetiva,etc. Assim,sua obra tende a vir impre*nada dos valores ad5uiridos no

universo cultural em 5ue está mer*ulhadoE!A)ANJA, ?"?,

 p. $

 Neste sentido, partilhando com a ideia do historiador supracitado, o romance

BUsinaE permite7nos perceber a realidade decadente do mundo açucareiro dos fins do

s'culo KLK e in-cio do s'culo KK, reafirmando a possibilidade de diálo*os bem7

sucedido entre o discurso historio*ráfico e o discurso literário.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A)ANJA, =ervácio +atista M Jist2ria e novas lin*ua*ens6 a literatura como fonte de

saber hist2rico. Ln6 LL 0ol25uio Lnternacional de Jist2ria, ?", 0ampina =rande 7 +.

Anais 3letr1nicos do LL 0ol25uio Lnternacional de Jist2ria, ?".

)3=>, &os' (ins do. 

Usina. "".ed. )io de &aneiro6 (ivraria &os' >lmpio 3ditora,

?.