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1 CEM – CADERNO DE EXERCÍCIOS MASTER ANALISTA TRF 5ª REGIÃO PORTUGUÊS Plano Intensivo

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GM

CEM – CADERNO DE EXERCÍCIOS MASTER

ANALISTA

TRF

5ª REGIÃO

PORTUGUÊS

Plano Intensivo

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GM

Sumário

Questões ................................................................................................................................... 3

Gabarito ................................................................................................................................ 217

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Questões

Questão 1: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Fatos da Língua Portuguesa (porque, por que, porquê e por quê; onde, aonde e

donde; há e a, etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

Está correto o emprego de ambos os elementos sublinhados em:

a) Se o por quê da importância primitiva de Paraty estava na sua localização estratégica, a

importância de que goza atualmente está na relevância histórica porque é reconhecida.

b) Ninguém teria porque negar a Paraty esse duplo merecimento de ser poesia e história, por

que o tempo a escolheu para ser preservada e a natureza, para ser bela.

c) Os dissabores por que passa uma cidade turística devem ser prevenidos e evitados pela

Casa Azul, porque ela nasceu para disciplinar o turismo.

d) Porque teria a cidade passado por tão longos anos de esquecimento? Criou-se uma estrada

de ferro, eis porque.

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e) Não há porquê imaginar que um esquecimento é sempre deplorável; veja-se como e por

quê Paraty acabou se tornando um atraente centro turístico.

Questão 2: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Fatos da Língua Portuguesa (porque, por que, porquê e por quê; onde, aonde e

donde; há e a, etc)

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas e níveis de instrução têm

emoções, cultivam passatempos que manipulam as emoções, atentam para as emoções dos

outros, e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e

procurando evitar emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada

caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas criaturas não humanas têm

emoções em abundância; entretanto, existe algo acentuadamente característico no modo

como as emoções vincularam-se a ideias, valores, princípios e juízos complexos que só os

seres humanos podem ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma

música e por filmes banais cujo poder não devemos subestimar.

Embora a composição e a dinâmica precisas das reações emocionais sejam moldadas em cada

indivíduo pelo meio e por um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das reações

emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes evolutivos. As emoções são parte dos

mecanismos biorreguladores com os quais nascemos, visando à sobrevivência. Foi por isso

que Darwin conseguiu catalogar as expressões emocionais de tantas espécies e encontrar

consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes culturas as emoções são tão

facilmente reconhecidas. É bem verdade que as expressões variam, assim como varia a

configuração exata dos estímulos que podem induzir uma emoção. Mas o que causa

admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa

semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o indutor pode bloquear o progresso de

uma emoção que já estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa tragédia

deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a suspensão de um estado

sistematicamente induzido de medo e compaixão.

Não precisamos ter consciência de uma emoção, com frequência não temos e somos

incapazes de controlar intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num estado de

tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia dos motivos responsáveis por esse estado

específico. Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém

frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento inconsciente de emoções

também explica por que não é fácil imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer

genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma região profunda do tronco

cerebral. A imitação voluntária feita por quem não é um ator exímio é facilmente detectada

como fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais,

quer no tom de voz.

(Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São

Paulo, Cia das letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)

... há indícios de que a maioria das reações emocionais, se não todas... (2o parágrafo)

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Mantendo-se o mesmo tipo de relação que estabelece na frase acima, o segmento sublinhado

preenche corretamente a lacuna desta frase:

a) Todos, ...... você, riram-se do acidente.

b) O palestrante não obteve outra coisa ...... escárnio.

c) Fala três línguas, ...... quatro.

d) Não expressou ...... emoções negativas.

e) Havia um ...... em seu exame.

Questão 3: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Acentuação

Considere a tirinha reproduzida abaixo.

(Revista Língua Portuguesa, ano 4, n. 46. São Paulo: Segmento, agosto de 2009, p.7)

Seguindo-se a regra determinada pelo novo acordo ortográfico, tal como referida no primeiro

quadrinho, também deixaria de receber o acento agudo a palavra:

a) Tatuí.

b) graúdo.

c) baiúca.

d) cafeína.

e) Piauí.

Questão 4: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Acentuação

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O museu é considerado um instrumento de neutralização – e talvez o seja de fato. Os objetos

que nele se encontram reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos

políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas: a maior

parte presta homenagem às potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas

são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra os fatos da

realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de

sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a

qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências políticas são apagadas. A

violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

desempenhar um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na pacificação

dos museus.

Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem sido retirados de seu

contexto. Desde então, dois pontos de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o

primeiro, o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada de seus

pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de

despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as exalta.

Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como um

estado letárgico.

A colocação em museu foi descrita e denunciada frequentemente como uma desvitalização

do simbólico, e a musealização progressiva dos objetos de uso como outros tantos escândalos

sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a razão do "escândalo". Para que haja

escândalo, é necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica

escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar que valor foi previamente

sacralizado. A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida

autêntica? A integridade do Contexto original? Estranha inversão de perspectiva. Porque,

simultaneamente, a crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio,

um órgão de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem, é realmente "o lugar

simbólico onde o trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais ultrajante".

Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam em toda parte. É a ação

do tempo, conjugada com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)

Atente para as afirmativas abaixo.

I. Em ... presta homenagem às potências dominantes.., o sinal indicativo de crase pode ser

suprimido excluindo-se também o artigo definido, sem prejuízo para a correção.

II. O acento em "têm" é de caráter diferencial, em razão da semelhança com a forma singular

"tem", diferentemente do acento aplicado a "porém", devido à tonicidade da última sílaba,

terminada em "em".

III. Os acentos nos termos "excelência" e "necessário" devem-se à mesma razão.

Está correto o que consta em

a) I, II e III.

b) I, apenas.

c) I e III, apenas.

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d) II, apenas.

e) II e III, apenas.

Questão 5: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Morfologia

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

No primeiro parágrafo,

a) se, em vez de As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz, tivéssemos "As

Cartas do amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz", o sentido a ser atribuído ao segmento

seria rigorosamente o mesmo.

b) a construção cartas de Ofélia a Pessoa está correta, mas a variante com a presença do

artigo definido − "cartas da Ofélia ao Pessoa" − também é legitimada pelo padrão culto

escrito.

c) a substituição de foram dadas a público 23 anos após a morte do poeta por "foram

publicadas quando faziam 23 anos da morte do poeta" mantém o sentido e a correção

originais da frase.

d) a palavra assim tem, no contexto, valor idêntico ao encontrado em "Humor assim nunca

vi".

e) a frase A primeira durou de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929

a janeiro de1930 contém inadequação, pois, tal como acontece depois de segunda, uma

vírgula deveria suceder a palavra primeira ("A primeira, durou...")

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Questão 6: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Substantivo

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

Flexiona-se de maneira idêntica a lugares-comuns a palavra

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a) ave-maria.

b) amor-perfeito.

c) salário-maternidade.

d) alto-falante.

e) bate-boca.

Questão 7: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos e tempos verbais

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

O emprego, a grafia e a flexão dos verbos estão corretos em:

a) A revalorização e a nova proeminência de Paraty não prescindiram e não requiseram mais

do que o esquecimento e a passagem do tempo.

b) Quando se imaginou que Paraty havia sido para sempre renegada a um segundo plano, eis

que ela imerge do esquecimento, em 1974.

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c) A cada novo ciclo econômico retificava-se a importância estratégica de Paraty, até que, a

partir de 1855, sobreviram longos anos de esquecimento.

d) A Casa Azul envidará todos os esforços, refreando as ações predatórias, para que a cidade

não sucumba aos atropelos do turismo selvagem.

e) Paraty imbuiu da sorte e do destino os meios para que obtesse, agora em definitivo, o

prestígio de um polo turístico de inegável valor histórico.

Questão 8: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos e tempos verbais

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

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GM

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

... mas encontro nele pouco que confirme a leitura hollywoodiana.

O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o grifado acima está em:

a) A tecnologia humana não deve ir além de uma ordem...

b) Um antigo provérbio latino adverte...

c) ... homem de ciência que buscou criar um homem à sua própria semelhança...

d) ... quão benignos sejam os propósitos do transgressor...

e) ... estratégia mais “despojada” que se poderia conceber.

Questão 9: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos e tempos verbais

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O arroz da raposa

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

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(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

Ou pretendia.

O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o grifado acima está em:

a) ... ao que der ...

b) ... virava a palavra pelo avesso ...

c) Não teria graça ...

d) ... um conto que sai de um palíndromo ...

e) ... como decidiu o seu destino de escritor.

Questão 10: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos e tempos verbais

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

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GM

Tinham seus prediletos ... (4º parágrafo)

O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o grifado acima está em:

a) Dumas consentiu.

b) ... levaram com eles a instituição do “lector”.

c) ... enquanto uma fileira de trabalhadores enrolam charutos...

d) Despontava a nova capital mundial do Havana.

e) ... que cedesse o nome de seu herói...

Questão 11: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos e tempos verbais

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

O LIVRO

Jorge Luis Borges (escritor)

Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro.

Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua

visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de

seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Dediquei parte de minha vida às letras, e creio que uma forma de felicidade é a leitura. Outra

forma de felicidade − menor − é a criação poética, ou o que chamamos de criação, mistura de

esquecimento e lembrança do que lemos.

Devemos tanto às letras. Sempre reli mais do que li. Creio que reler é mais importante do que

ler, embora para se reler seja necessário já haver lido. Tenho esse culto pelo livro. É possível

que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético. E não quero que seja patético;

quero que seja uma confidência que faço a cada um de vocês; não a todos, mas a cada um,

porque “todos” é uma abstração, enquanto “cada um” é algo verdadeiro.

Continuo imaginando não ser cego; continuo comprando livros; continuo enchendo minha

casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 da Enciclopédia

Brockhaus. Senti sua presença em minha casa − eu a senti como uma espécie de felicidade. Ali

estavam os vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e

gravuras que não posso ver. E, no entanto, o livro estava ali. Eu sentia como que uma

gravitação amistosa partindo do livro. Penso que o livro é uma felicidade de que dispomos,

nós, os homens.

(Adaptado de: BORGES, Jorge Luis. Cinco visões

pessoais. 4. ed. Trad. de Maria Rosinda R. da Silva. Brasília: UnB, 2002. p. 13 e 19)

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14

GM

No período: É possível que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético, o autor

utiliza os verbos dizer e parecer no presente do subjuntivo. Encontram-se estes mesmos

tempo e modo verbais em:

a) é a criação poética, ou o que chamamos de criação.

b) mistura de esquecimento e lembrança do que lemos.

c) quero que seja uma confidência.

d) com uma letra gótica que não posso ler.

e) uma felicidade de que dispomos.

Questão 12: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se

poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu

engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas

que, de qualquer modo, é resultado de viver.

Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as

ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas ideias.

São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-

se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou

surpreendente.

C.D.A.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 3)

...em que estas anotações vadias foram feitas...

Observando o contexto em que a frase acima foi empregada, a sua transposição para a voz

ativa produz corretamente a seguinte forma verbal:

a) fizeram-se.

b) tinha feito.

c) fiz.

d) faziam.

e) poderia fazer.

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GM

Questão 13: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Atentando-se para a voz verbal, é correto afirmar que em

a) Por bondade abstrata nos tornamos atrozes ocorre um caso de voz passiva.

b) A ideia de fuga tem sido alvo de crítica severa o elemento sublinhado é agente da passiva.

c) Amemos a ilha a transposição para a voz passiva resultará na forma verbal seja amada.

d) E por que nos seduz a ilha? não há possibilidade de transposição para a voz passiva.

e) tudo isso existe fora das ilhas a transposição para a voz passiva resultará na forma verbal

tem existido.

Questão 14: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

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GM

(Obs.: "Departamento", palavra encontrada na citação feita no excerto, corresponde a uma

divisão administrativa do território francês.)

"Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo do Estado francês,

passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa. A tese do autor

é que a hipertrofia da capital francesa impedia o desenvolvimento das demais regiões e

cidades do território nacional. Herança histórica de diferentes regimes políticos, o

centralismo se traduz através da concentração do poder político, administrativo, econômico

e cultural na capital francesa, em detrimento da Province1. Podemos situar uma primeira fase

do centralismo de Estado, em que a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado)

foi concretizada, sob o regime de monarquia absolutista de Luís XVI, no século XVII. No

entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791. Este princípio

foi aplicado até a mudança para o regime republicano, formando a República "una e

indivisível" nas diversas Constituições do Estado francês até hoje. A solidificação institucional

e administrativa desse princípio, que garante a abrangência e a eficiência do poder executivo

central, foi realizada por Napoleão I, enquanto Primeiro Cônsul (eleito), e na segunda fase da

sua permanência no poder, enquanto Imperador. A organização institucional e administrativa

do Estado francês é, em grande parte, oriunda desta época.

A Constituição do 22 frimaire na VIII mantém o departamento, mas sua administração é

profundamente modificada. A lei do 28 pluviôse na VIII (17 de fevereiro de 1800) institui os

préfets2, nomeados e revocados pelo Primeiro Cônsul, em seguida pelo Imperador.

Encarregados da administração, os préfets são o órgão executivo único do departamento.

Designam os prefeitos e os ajudantes dos municípios de menos de 5000 habitantes e

propõem ao Primeiro Cônsul, e em seguida ao Imperador, a nomeação dos outros prefeitos.

(...) Constituem a chave-mestra de um Estado centralizado que vê o seu resultado sob o

Império.

1 Province é um termo genérico que designa todo o território que não é Paris.

2 A palavra préfet não pode ser traduzida por prefeito, pois não representa o mesmo cargo.

Os préfets, mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, ainda existem

atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a lei de descentralização de

1982.

(Adaptado de Antoinette Kuijlaars. "A política por detrás da técnica: o processo de

recentralização na organização da assistência social na França". In: Estudos de Sociologia no

29: Revista Semestral do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em

Sociologia. UNESP − Araraquara, 2 sem. de 2010, p.491-492)

...a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos...

Transpondo a frase acima para a voz passiva, a forma verbal encontrada é:

a) tinha sido vencida.

b) eram vencidos.

c) vencera.

d) foi vencida.

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17

GM

e) fora vencido.

Questão 15: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto apresentado abaixo.

Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o

progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.

Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza

em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e,

em particular, das Nações Unidas.

A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo

aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam

sanções e uso da força.

A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos

individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da

constituição das Nações Unidas, em 1945.

Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a

paz internacional passou por várias etapas. Em meados da década de 90 surgiram vozes que,

motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional

permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade

de proteger".

A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base

em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no

Conselho de Segurança − órgão dotado de competência primordial e intransferível pela

manutenção da paz e da segurança internacionais.

O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança.

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral,

observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser

contemplado como último recurso.

Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito

internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos

direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência

de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das

circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.

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GM

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força

militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

(Adaptado de Antonio de Aguiar Patriota. “Direitos humanos e ação diplomática”. Artigo

publicado na Folha de S. Paulo, em 01/09/2011, e disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/- ministro-estado-relacoes-exteriores/direitos-humanos-e-acaodiplomatica-

folha-de-s.paulo-01-09-2011).

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional [...] observe outro preceito ...

Transpondo-se o segmento grifado acima para a voz passiva, a forma verbal resultante será:

a) é observado.

b) seja observado.

c) ser observado.

d) é observada.

e) for observado.

Questão 16: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Menino do mato

Eu queria usar palavras de ave para escrever.

Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.

Ali a gente brincava de brincar com palavras tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na

pedra!

A Mãe que ouvira a brincadeira falou:

Já vem você com suas visões!

Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis e nem há pedras de sacristias por aqui.

Isso é traquinagem da sua imaginação.

O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes.

O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de

ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça

aberta na solidão de uma pedra.

Eram novidades que os meninos criavam com as suas palavras.

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GM

Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um sapo com olhar de árvore.

Então era preciso desver o mundo para sair daquele lugar imensamente e sem lado.

A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas pela inocência.

O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias para a gente bem entender a voz das

águas e dos caracóis.

A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias.

Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia.

(BARROS, Manoel de, Menino do Mato, em Poesia Completa, São Paulo, Leya, 2013, p. 417-

8.)

A frase que admite transposição para a voz passiva está em:

a) Isso é traquinagem da sua imaginação.

b) ... nem há pedras de sacristias por aqui.

c) Já vem você com suas visões!

d) ... para sair daquele lugar imensamente e sem lado.

e) ... para a gente bem entender a voz das águas e dos caracóis.

Questão 17: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

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GM

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Ocorrem adequada transposição de voz verbal e perfeita correlação entre tempos e modos

na seguinte passagem:

I. A vaidade, uma vez justificável, deixa de ser um vício abominável. = Se a justificarmos, a

vaidade já não seria um vício abominável.

II. Ele toleraria a vaidade, desde que pudesse justificá- la. = A vaidade seria tolerada, desde

que ela pudesse ser justificada por ele.

III. Ele não vê como poderia justificar a vaidade que eventualmente o assalta. = A vaidade não

é vista justificada por ele, quando eventualmente é por ela assaltado.

Está correto o que consta APENAS em

a) I.

b) II.

c) III.

d) I e II.

e) II e III.

Questão 18: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

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GM

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

A alteração da voz do verbo poder, nas duas vezes em que ocorre no último parágrafo, deverá

resultar nas seguintes formas, respectivamente:

a) se poderia − se pode

b) poder-se-ia − podem-se

c) poderiam-se − pode-se

d) se poderiam − podem-se

e) se poderiam − se pode

Questão 19: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Vozes (voz passiva e voz ativa)

O museu é considerado um instrumento de neutralização – e talvez o seja de fato. Os objetos

que nele se encontram reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos

políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas: a maior

parte presta homenagem às potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas

são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra os fatos da

realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de

sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a

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GM

qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências políticas são apagadas. A

violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

desempenhar um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na pacificação

dos museus.

Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem sido retirados de seu

contexto. Desde então, dois pontos de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o

primeiro, o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada de seus

pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de

despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as exalta.

Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como um

estado letárgico.

A colocação em museu foi descrita e denunciada frequentemente como uma desvitalização

do simbólico, e a musealização progressiva dos objetos de uso como outros tantos escândalos

sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a razão do "escândalo". Para que haja

escândalo, é necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica

escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar que valor foi previamente

sacralizado. A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida

autêntica? A integridade do Contexto original? Estranha inversão de perspectiva. Porque,

simultaneamente, a crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio,

um órgão de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem, é realmente "o lugar

simbólico onde o trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais ultrajante".

Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam em toda parte. É a ação

do tempo, conjugada com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)

A frase que NÃO admite transposição para a voz passiva encontra-se em:

a) ... o acesso das obras a um status estético que as exalta.

b) ... elas protestam contra os fatos da realidade, os poderes...

c) Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas...

d) O museu, por retirar as obras de sua origem...

e) ... a crítica mais comum contra o museu apresenta-o...

Questão 20: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Conjunção

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

O LIVRO

Jorge Luis Borges (escritor)

Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro.

Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua

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GM

visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de

seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Dediquei parte de minha vida às letras, e creio que uma forma de felicidade é a leitura. Outra

forma de felicidade − menor − é a criação poética, ou o que chamamos de criação, mistura de

esquecimento e lembrança do que lemos.

Devemos tanto às letras. Sempre reli mais do que li. Creio que reler é mais importante do que

ler, embora para se reler seja necessário já haver lido. Tenho esse culto pelo livro. É possível

que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético. E não quero que seja patético;

quero que seja uma confidência que faço a cada um de vocês; não a todos, mas a cada um,

porque “todos” é uma abstração, enquanto “cada um” é algo verdadeiro.

Continuo imaginando não ser cego; continuo comprando livros; continuo enchendo minha

casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 da Enciclopédia

Brockhaus. Senti sua presença em minha casa − eu a senti como uma espécie de felicidade. Ali

estavam os vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e

gravuras que não posso ver. E, no entanto, o livro estava ali. Eu sentia como que uma

gravitação amistosa partindo do livro. Penso que o livro é uma felicidade de que dispomos,

nós, os homens.

(Adaptado de: BORGES, Jorge Luis. Cinco visões

pessoais. 4. ed. Trad. de Maria Rosinda R. da Silva. Brasília: UnB, 2002. p. 13 e 19)

Nos trechos O livro, porém, é outra coisa (do primeiro parágrafo) e reler é mais importante do

que ler, embora para se reler seja necessário já haver lido (do terceiro), as conjunções, no

contexto dos parágrafos, estabelecem, respectivamente, relação de

a) causa e condição.

b) consequência e finalidade.

c) adição e temporalidade.

d) oposição e concessão.

e) proporção e contraste.

Questão 21: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Conjunção

O museu é considerado um instrumento de neutralização – e talvez o seja de fato. Os objetos

que nele se encontram reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos

políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas: a maior

parte presta homenagem às potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas

são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra os fatos da

realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de

sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a

qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências políticas são apagadas. A

violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

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GM

desempenhar um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na pacificação

dos museus.

Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem sido retirados de seu

contexto. Desde então, dois pontos de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o

primeiro, o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada de seus

pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de

despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as exalta.

Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como um

estado letárgico.

A colocação em museu foi descrita e denunciada frequentemente como uma desvitalização

do simbólico, e a musealização progressiva dos objetos de uso como outros tantos escândalos

sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a razão do "escândalo". Para que haja

escândalo, é necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica

escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar que valor foi previamente

sacralizado. A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida

autêntica? A integridade do Contexto original? Estranha inversão de perspectiva. Porque,

simultaneamente, a crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio,

um órgão de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem, é realmente "o lugar

simbólico onde o trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais ultrajante".

Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam em toda parte. É a ação

do tempo, conjugada com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)

A violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

desempenhar um papel de pacificação social.

Mantendo-se, em linhas gerais, o sentido original, caso a segunda frase seja subordinada à

primeira, o período resultante será:

a) Como a violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida, o museu parece

desempenhar um papel de pacificação social.

b) A violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida, de maneira que o museu

parece desempenhar um papel de pacificação social.

c) A violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida; portanto, o museu parece

desempenhar um papel de pacificação social.

d) O museu parece desempenhar um papel de pacificação social, uma vez que a violência de

que participavam, ou que combatiam, é esquecida.

e) Conquanto o museu pareça desempenhar um papel de pacificação social, a violência de

que participavam, ou que combatiam, é esquecida.

Questão 22: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Conjunção

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25

GM

Os Beatles eram um mecanismo de criação. A força propulsora desse mecanismo era a

interação dialética de John Lennon e Paul McCartney. Dialética é diálogo, embate, discussão.

Mas também jogo permanente. Adição e contradição. Movimento e síntese. Dois

compositores igualmente geniais, mas com inclinações distintas. Dois líderes cheios de ideias

e talento. Um levando o outro a permanentemente se superar.

As narrativas mais comuns da trajetória dos Beatles levam a crer que a parceria Lennon e

McCartney aconteceu apenas na fase inicial do conjunto. Trata-se de um engano. Mesmo

quando escreviam separados, John e Paul o faziam um para o outro. Pensavam, sentiam e

criavam obcecados com a presença (ou ausência) do parceiro e rival.

Lennon era um purista musical, apegado a suas raízes. Quem embarcou na vanguarda musical

dos anos 60 foi Paul McCartney, um perfeccionista dado a experimentos e delírios

orquestrais. Em contrapartida, sem o olhar crítico de Lennon, sem sua verve, os mais

conhecidos padrões de McCartney teriam sofrido perdas poéticas. Lennon sabia reprimir o

banal e fomentar o sublime.

Como a dialética é uma via de mão dupla, também o lado suave de Lennon se nutria da

presença benfazeja de Paul. Gemas preciosas como Julia têm as impressões digitais do

parceiro, embora escritas na mais monástica solidão.

Nietzsche atribui caráter dionisíaco aos impulsos rebeldes, subjetivos, irracionais; forças do

transe, que questionam e subvertem a ordem vigente. Em contrapartida, designa como

apolíneas as tendências ordenadoras, objetivas, racionais, solares; forças do sonho e da

profecia, que promovem e aprimoram o ordenamento do mundo. Ao se unirem, tais forças

teriam criado, a seu ver, a mais nobre forma de arte que jamais existiu.

Como criadores, tanto o metódico Paul McCartney como o irrequieto John Lennon

expressavam à perfeição a dualidade proposta por Nietzsche. Lennon punha o mundo abaixo;

McCartney construía novos monumentos. Lennon abria mentes; McCartney aquecia

corações. Lennon trazia vigor e energia; McCartney impunha senso estético e coesão.

Quando os Beatles se separaram, essa magia se rompeu. John e Paul se tornaram

compositores com altos e baixos. Fizeram coisas boas. Mas raramente se aproximaram da

perfeição alcançada pelo quarteto. Sem a presença instigante de Lennon, Paul começou a

patinar em letras anódinas. Não se tornou um compositor ruim. Mas os Beatles faziam melhor.

Ironicamente, o grande disco dos ex-Beatles acabou sendo o álbum triplo em que George

Harrison deglutiu os antigos companheiros de banda, abrindo as comportas de sua produção

represada durante uma década à sombra de John e Paul. E foi assim, por estranhos caminhos

antropofágicos, que a dialética de Lennon e McCartney brilhou pela última vez.

(Adaptado de: DANTAS, Marcelo O. Revista Piauí. Disponível em:

http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/beatles. Acesso em: 20/02/16)

Quando os Beatles se separaram, essa magia se rompeu. (7o parágrafo)

Considerado o contexto, a oração subordinada da frase acima estabelece noção de

a) conformidade.

b) tempo.

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GM

c) comparação.

d) proporcionalidade.

e) consequência.

Questão 23: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Pronomes

O museu é considerado um instrumento de neutralização – e talvez o seja de fato. Os objetos

que nele se encontram reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos

políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas: a maior

parte presta homenagem às potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas

são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra os fatos da

realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de

sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a

qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências políticas são apagadas. A

violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

desempenhar um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na pacificação

dos museus.

Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem sido retirados de seu

contexto. Desde então, dois pontos de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o

primeiro, o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada de seus

pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de

despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as exalta.

Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como um

estado letárgico.

A colocação em museu foi descrita e denunciada frequentemente como uma desvitalização

do simbólico, e a musealização progressiva dos objetos de uso como outros tantos escândalos

sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a razão do "escândalo". Para que haja

escândalo, é necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica

escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar que valor foi previamente

sacralizado. A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida

autêntica? A integridade do Contexto original? Estranha inversão de perspectiva. Porque,

simultaneamente, a crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio,

um órgão de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem, é realmente "o lugar

simbólico onde o trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais ultrajante".

Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam em toda parte. É a ação

do tempo, conjugada com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)

... suas financiadoras

Suas diferenças funcionais...

... seu caráter mais violento...

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27

GM

Os pronomes dos trechos acima referem-se, respectivamente, a:

a) vitórias militares − manifestações − museu

b) vitórias militares − obras modernas − museu

c) potências dominantes − obras modernas − trabalho de abstração

d) potências dominantes − manifestações − trabalho de abstração

e) potências dominantes − obras modernas – museu

Questão 24: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Sintaxe

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo.

Estará adequada a nova correlação entre os tempos e os modos verbais caso se substituam os

elementos sublinhados da frase acima, na ordem dada, por:

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GM

a) Se eu vier a pensar − seduziria − constituíam

b) Quando eu ficava pensando − seduzira − constituiriam

c) Se eu vier a pensar − terá seduzido − viriam a constituir

d) Quando eu pensava − houvesse de seduzir − tinham constituído

e) Se eu viesse a pensar − seduziria − constituiriam

Questão 25: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Sintaxe

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

(Obs.: "Departamento", palavra encontrada na citação feita no excerto, corresponde a uma

divisão administrativa do território francês.)

"Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo do Estado francês,

passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa. A tese do autor

é que a hipertrofia da capital francesa impedia o desenvolvimento das demais regiões e

cidades do território nacional. Herança histórica de diferentes regimes políticos, o

centralismo se traduz através da concentração do poder político, administrativo, econômico

e cultural na capital francesa, em detrimento da Province1. Podemos situar uma primeira fase

do centralismo de Estado, em que a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado)

foi concretizada, sob o regime de monarquia absolutista de Luís XVI, no século XVII. No

entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791. Este princípio

foi aplicado até a mudança para o regime republicano, formando a República "una e

indivisível" nas diversas Constituições do Estado francês até hoje. A solidificação institucional

e administrativa desse princípio, que garante a abrangência e a eficiência do poder executivo

central, foi realizada por Napoleão I, enquanto Primeiro Cônsul (eleito), e na segunda fase da

sua permanência no poder, enquanto Imperador. A organização institucional e administrativa

do Estado francês é, em grande parte, oriunda desta época.

A Constituição do 22 frimaire na VIII mantém o departamento, mas sua administração é

profundamente modificada. A lei do 28 pluviôse na VIII (17 de fevereiro de 1800) institui os

préfets2, nomeados e revocados pelo Primeiro Cônsul, em seguida pelo Imperador.

Encarregados da administração, os préfets são o órgão executivo único do departamento.

Designam os prefeitos e os ajudantes dos municípios de menos de 5000 habitantes e

propõem ao Primeiro Cônsul, e em seguida ao Imperador, a nomeação dos outros prefeitos.

(...) Constituem a chave-mestra de um Estado centralizado que vê o seu resultado sob o

Império.

1 Province é um termo genérico que designa todo o território que não é Paris.

2 A palavra préfet não pode ser traduzida por prefeito, pois não representa o mesmo cargo.

Os préfets, mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, ainda existem

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29

GM

atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a lei de descentralização de

1982.

(Adaptado de Antoinette Kuijlaars. "A política por detrás da técnica: o processo de

recentralização na organização da assistência social na França". In: Estudos de Sociologia no

29: Revista Semestral do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em

Sociologia. UNESP − Araraquara, 2 sem. de 2010, p.491-492)

Os préfets [...] ainda existem atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a

lei de descentralização de 1982.

Considerado o enunciado acima, é correto afirmar:

a) A frase acolhe fatos que se dão em distintas dimensões temporais, dispondo-os em ordem

cronológica.

b) A preposição até expressa um limite posterior de tempo, como em "Ele ficará no cargo até

encontrar um substituto competente".

c) A presença da vírgula aposta a atualmente é obrigatória, pois o padrão culto escrito não

legitima nenhuma outra possibilidade de pontuação da frase, como, por exemplo, a presença

somente do ponto final.

d) A substituição de atualmente por "na contemporaniedade" não afetaria a correção da

frase.

e) No contexto, a palavra ainda demarca excesso temporal.

Questão 26: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Sintaxe

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A dor, juntamente com a morte, é sem dúvida a experiência humana mais bem repartida:

nenhum privilegiado reivindica ignorância em relação a ela ou se vangloria de conhecê-la

melhor que qualquer outro. Violência nascida no próprio âmago do indivíduo, ela dilacera sua

presença e o esgota, dissolve-o no abismo que nele se abriu, esmaga-o no sentimento de um

imediato sem nenhuma perspectiva. Rompe-se a evidência da relação do indivíduo consigo e

com o mundo.

A dor quebra a unidade vivida do homem, transparente para si mesmo enquanto goza de boa

saúde, confiante em seus recursos, esquecido do enraizamento físico de sua existência, desde

que nenhum obstáculo se interponha entre seus projetos e o mundo. De fato, na vida

cotidiana o corpo se faz invisível, flexível; sua espessura é apagada pelas ritualidades sociais

e pela repetição incansável de situações próximas umas das outras. Aliás, esse ocultar o corpo

da atenção do indivíduo leva René Leriche a definir a saúde como “a vida no silêncio dos

órgãos”. Georges Canguilhem acrescenta que ela é um estado de “inconsciência em que o

sujeito é de seu corpo”.

(Adaptado de: BRETON, David Le. Antropologia da Dor, São Paulo, Editora Fap-Unifesp,

2013, p. 25-6)

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GM

Violência nascida no próprio âmago do indivíduo, ela dilacera sua presença e o esgota,

dissolve-o no abismo que nele se abriu, esmaga-o no sentimento de um imediato sem

nenhuma perspectiva. (1o parágrafo)

Uma redação alternativa para a frase acima, em que se mantêm a correção e, em linhas gerais,

o sentido original, está em:

a) Violência que, ao nascer no próprio interior do indivíduo, de modo a dilacerar e esgotar sua

presença, dissolve-se no abismo que nele foi aberto, esmagando-lhe o sentimento de um

imediato sem nenhuma expectativa de futuro.

b) Ela, enquanto violência nascida em seu interior, dilacera a presença do indivíduo, em que

pese seu esgotamento, dissolvendo-se no abismo que nele passou a existir, esmagando-se no

sentimento de um momento sem nenhuma esperança.

c) Violência nascida em cuja essência a presença do indivíduo é dilacerada, a ponto de esgotá-

lo e de dissolvê-lo no abismo em que se configura, uma vez que o esmaga no sentimento de

um presente imediato sem perspectiva.

d) Ela é violência que nasce no próprio cerne do indivíduo, de maneira a dilacerar sua

presença e a esgotá-lo, a ponto de dissolvê-lo no abismo que nele passa a existir, esmagando-

o no sentimento de um presente sem expectativa de futuro.

e) Ela, como violência que nasce no interior do indivíduo, cuja presença dilacera e esgota, é

dissolvida pelo abismo que nele se abriu, de tal modo que lhe esmaga o sentimento de um

tempo presente sem esperança de futuro.

Questão 27: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Sintaxe

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A dor, juntamente com a morte, é sem dúvida a experiência humana mais bem repartida:

nenhum privilegiado reivindica ignorância em relação a ela ou se vangloria de conhecê-la

melhor que qualquer outro. Violência nascida no próprio âmago do indivíduo, ela dilacera sua

presença e o esgota, dissolve-o no abismo que nele se abriu, esmaga-o no sentimento de um

imediato sem nenhuma perspectiva. Rompe-se a evidência da relação do indivíduo consigo e

com o mundo.

A dor quebra a unidade vivida do homem, transparente para si mesmo enquanto goza de boa

saúde, confiante em seus recursos, esquecido do enraizamento físico de sua existência, desde

que nenhum obstáculo se interponha entre seus projetos e o mundo. De fato, na vida

cotidiana o corpo se faz invisível, flexível; sua espessura é apagada pelas ritualidades sociais

e pela repetição incansável de situações próximas umas das outras. Aliás, esse ocultar o corpo

da atenção do indivíduo leva René Leriche a definir a saúde como “a vida no silêncio dos

órgãos”. Georges Canguilhem acrescenta que ela é um estado de “inconsciência em que o

sujeito é de seu corpo”.

(Adaptado de: BRETON, David Le. Antropologia da Dor, São Paulo, Editora Fap-Unifesp,

2013, p. 25-6)

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GM

Considere as frases abaixo.

I. Ao se suprimirem as vírgulas do trecho A dor, juntamente com a morte, é sem dúvida a

experiência humana..., o verbo deverá ser flexionado no plural.

II. Na frase Georges Canguilhem acrescenta que ela é um estado de “inconsciência em que o

sujeito é de seu corpo”, pode-se acrescentar uma vírgula imediatamente após inconsciência,

sem prejuízo para a correção.

III. Na frase De fato, na vida cotidiana o corpo se faz invisível, flexível; sua espessura é apagada

pelas ritualidades sociais..., o ponto e vírgula pode ser substituído, sem prejuízo para a

correção e o sentido original, por dois-pontos.

Está correto o que se afirma APENAS em

a) II e III.

b) I e II.

c) I.

d) II.

e) I e III.

Questão 28: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Sintaxe

Em nossa cultura, ...... experiências ...... passamos soma-se ...... dor, considerada como um

elemento formador do caráter, contexto ...... pathos pode converter-se em éthos.

Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na ordem dada:

a) às − porque − a − em que

b) às − pelas quais − à − de que

c) as − que − à − com que

d) às − por que − a − no qual

e) as − por que − a − do qual

Questão 29: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Sintaxe

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Menino do mato

Eu queria usar palavras de ave para escrever.

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GM

Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.

Ali a gente brincava de brincar com palavras tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na

pedra!

A Mãe que ouvira a brincadeira falou:

Já vem você com suas visões!

Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis e nem há pedras de sacristias por aqui.

Isso é traquinagem da sua imaginação.

O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes.

O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de

ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça

aberta na solidão de uma pedra.

Eram novidades que os meninos criavam com as suas palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um sapo com olhar de árvore.

Então era preciso desver o mundo para sair daquele lugar imensamente e sem lado.

A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas pela inocência.

O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias para a gente bem entender a voz das

águas e dos caracóis.

A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias.

Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia.

(BARROS, Manoel de, Menino do Mato, em Poesia Completa, São Paulo, Leya, 2013, p. 417-

8.)

Considere as frases abaixo.

I. No verso O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias, o verbo destacado pode

ser flexionado no plural, sem prejuízo para a correção e o sentido original.

II. Em seguida ao termo voz, no verso e na sua voz uma candura de Fontes, pode-se

acrescentar uma vírgula, sem prejuízo para a correção e o sentido original.

III. Sem que nenhuma outra alteração seja feita, no verso e nem há pedras de sacristias por

aqui, o verbo pode ser substituído por existe, mantendo-se a correção e o sentido original.

Está correto o que se afirma APENAS em

a) II e III.

b) I e III.

c) II.

d) III.

e) I e II.

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GM

Questão 30: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sintaxe

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

Há relação de causa e consequência, respectivamente, entre

a) a abertura dos portos americanos a fugitivos cubanos e a produção de charutos

estabelecida em solo americano.

b) o apoio dos Estados Unidos aos revolucionários e a proclamação da independência cubana

por Céspedes.

c) as medidas de restrição ao comércio adotadas pelo governo espanhol e a tomada do poder

por um líder revolucionário.

d) a imigração de cubanos para os Estados Unidos à procura de trabalho e o amplo apoio dado

pelo país aos revolucionários.

e) a transformação da pequena vila de Key West em uma importante comunidade produtora

de charutos e a abertura dos portos americanos a fugitivos cubanos.

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GM

Questão 31: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sintaxe

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

Afirma-se corretamente:

a) Em pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói... (4º parágrafo), o elemento destacado é

um pronome.

b) O elemento destacado no segmento ... uma escolha tão popular que um grupo de

trabalhadores... (4º parágrafo) NÃO é um pronome.

c) Em que pagavam o “lector” do próprio salário... (4º parágrafo), o elemento destacado

substitui leituras.

d) Em com o que parece ser uma atenção enlevada (3º parágrafo), o elemento destacado

refere-se a “charutos”.

e) Em Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos... (3º parágrafo), o elemento

destacado NÃO é um pronome.

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GM

Questão 32: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sintaxe

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

Quatro anos depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi

capturado e fuzilado por soldados espanhóis. (1º parágrafo)

Uma redação alternativa para a frase acima, em que se mantêm a correção, a lógica e, em

linhas gerais, o sentido original, está em:

a) Em março de 1874, após ter percorrido um período de quatro anos, um tribunal cubano

depusera Céspedes, quando soldados espanhóis o capturou e fuzilou.

b) Após um período de quatro anos, um tribunal cubano depôs Céspedes, e, em março de

1874, soldados espanhóis capturaram-no e fuzilaram-no.

c) Depois de transcorridos um período de quatro anos, Céspedes foi deposto pelo tribunal

cubano, o qual, em março de 1874, foi capturado e fuzilado pelos soldados espanhóis.

d) Em março de 1874, quatro anos depois de ter sido deposto por um tribunal cubano,

Céspedes foi capturado por soldados espanhóis, que lhe fuzilaram.

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GM

e) Transcorridos quatro anos, um tribunal cubano depõe Céspedes, posto que, em março de

1874, soldados espanhóis lhe capturam e fuzilam.

Questão 33: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sintaxe

Atenção: Para responder à questão de número, considere o trecho abaixo.

Reunir-se para ouvir alguém ler tornou-se uma prática necessária e comum no mundo laico

da Idade Média. Até a invenção da imprensa, a alfabetização era rara e os livros, propriedade

dos ricos, privilégio de um pequeno punhado de leitores.

Embora alguns desses senhores afortunados ocasionalmente emprestassem seus livros, eles

o faziam para um número limitado de pessoas da própria classe ou família.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto, op.cit.)

Atente para o que se afirma abaixo.

I. No segmento ... a alfabetização era rara e os livros, propriedade dos ricos..., a vírgula

colocada imediatamente após livros foi empregada para indicar a supressão de um verbo.

II. No texto, não se explicitam as razões pelas quais o ato de ouvir alguém ler tenha se tornado

uma prática necessária e comum no mundo laico da Idade Média.

III. No segmento ... eles o faziam para um número limitado de pessoas..., o elemento sublinhado

refere-se a “emprestavam livros”.

Está correto o que se afirma APENAS em

a) II e III.

b) II.

c) I e II.

d) I e III.

e) III.

Questão 34: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Sintaxe

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

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GM

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

No primeiro período do segundo parágrafo, as duas orações que não se subordinam a

nenhuma outra contêm os seguintes verbos:

a) conserva − experimento

b) terem ocorrido − conserva

c) tornaram − penetra

d) tornaram − experimento

e) conserva − penetra

Questão 35: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Sintaxe

Os Beatles eram um mecanismo de criação. A força propulsora desse mecanismo era a

interação dialética de John Lennon e Paul McCartney. Dialética é diálogo, embate, discussão.

Mas também jogo permanente. Adição e contradição. Movimento e síntese. Dois

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GM

compositores igualmente geniais, mas com inclinações distintas. Dois líderes cheios de ideias

e talento. Um levando o outro a permanentemente se superar.

As narrativas mais comuns da trajetória dos Beatles levam a crer que a parceria Lennon e

McCartney aconteceu apenas na fase inicial do conjunto. Trata-se de um engano. Mesmo

quando escreviam separados, John e Paul o faziam um para o outro. Pensavam, sentiam e

criavam obcecados com a presença (ou ausência) do parceiro e rival.

Lennon era um purista musical, apegado a suas raízes. Quem embarcou na vanguarda musical

dos anos 60 foi Paul McCartney, um perfeccionista dado a experimentos e delírios

orquestrais. Em contrapartida, sem o olhar crítico de Lennon, sem sua verve, os mais

conhecidos padrões de McCartney teriam sofrido perdas poéticas. Lennon sabia reprimir o

banal e fomentar o sublime.

Como a dialética é uma via de mão dupla, também o lado suave de Lennon se nutria da

presença benfazeja de Paul. Gemas preciosas como Julia têm as impressões digitais do

parceiro, embora escritas na mais monástica solidão.

Nietzsche atribui caráter dionisíaco aos impulsos rebeldes, subjetivos, irracionais; forças do

transe, que questionam e subvertem a ordem vigente. Em contrapartida, designa como

apolíneas as tendências ordenadoras, objetivas, racionais, solares; forças do sonho e da

profecia, que promovem e aprimoram o ordenamento do mundo. Ao se unirem, tais forças

teriam criado, a seu ver, a mais nobre forma de arte que jamais existiu.

Como criadores, tanto o metódico Paul McCartney como o irrequieto John Lennon

expressavam à perfeição a dualidade proposta por Nietzsche. Lennon punha o mundo abaixo;

McCartney construía novos monumentos. Lennon abria mentes; McCartney aquecia

corações. Lennon trazia vigor e energia; McCartney impunha senso estético e coesão.

Quando os Beatles se separaram, essa magia se rompeu. John e Paul se tornaram

compositores com altos e baixos. Fizeram coisas boas. Mas raramente se aproximaram da

perfeição alcançada pelo quarteto. Sem a presença instigante de Lennon, Paul começou a

patinar em letras anódinas. Não se tornou um compositor ruim. Mas os Beatles faziam melhor.

Ironicamente, o grande disco dos ex-Beatles acabou sendo o álbum triplo em que George

Harrison deglutiu os antigos companheiros de banda, abrindo as comportas de sua produção

represada durante uma década à sombra de John e Paul. E foi assim, por estranhos caminhos

antropofágicos, que a dialética de Lennon e McCartney brilhou pela última vez.

(Adaptado de: DANTAS, Marcelo O. Revista Piauí. Disponível em:

http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/beatles. Acesso em: 20/02/16)

... tanto o metódico Paul McCartney como o irrequieto John Lennon expressavam à perfeição

a dualidade...

O verbo que possui, no contexto, o mesmo tipo de complemento que o da frase acima está

empregado em:

a) Os Beatles eram um mecanismo de criação.

b) Fizeram coisas boas.

c) ... a mais nobre forma de arte que jamais existiu.

d) ... criavam obcecados com a presença (ou ausência)..

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GM

e) ... que a dialética de Lennon e McCartney brilhou pela última vez.

Questão 36: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Análise Sintática

Atenção: Para responder à questão de número, considere o trecho abaixo.

Reunir-se para ouvir alguém ler tornou-se uma prática necessária e comum no mundo laico

da Idade Média. Até a invenção da imprensa, a alfabetização era rara e os livros, propriedade

dos ricos, privilégio de um pequeno punhado de leitores.

Embora alguns desses senhores afortunados ocasionalmente emprestassem seus livros, eles

o faziam para um número limitado de pessoas da própria classe ou família.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto, op.cit.)

Mantêm-se a correção e as relações de sentido estabelecidas no texto, substituindo-se

Embora (2o parágrafo) por

a) Contudo.

b) Desde que.

c) Porquanto.

d) Uma vez que.

e) Conquanto.

Questão 37: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Análise Sintática

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Um programa a ser adotado

O PET − Programa de Educação pelo Trabalho − está fazendo dez anos, que serão

comemorados num evento promovido pelo TRF4, que contará com representantes da Fase −

Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul.

Há dez anos seria difícil imaginar um interno da Fase em cumprimento de medida

socioeducativa saindo para trabalhar em um tribunal e, no final do dia, retornar à fundação.

Muitos desacreditariam da iniciativa de colocar um adolescente infrator dentro de um

gabinete de desembargador ou da Presidência de um tribunal. Outros poderiam discriminar

esses jovens e desejá-los longe do ambiente de trabalho.

Todas essas barreiras foram vencidas. Em uma década, o PET do TRF4 se tornou realidade,

quebrou preconceitos, mudou a cultura da própria instituição e a vida de 154 adolescentes

que já passaram pelo projeto. São atendidos jovens entre 16 e 21 anos, com escolaridade

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GM

mínima da 4ª série do ensino fundamental. O tribunal enfrenta o desafio de criar, desenvolver

e, principalmente, manter um programa de reinserção social. Os resultados do trabalho do

PET com os menores que cumprem medida socioeducativa na Fase são considerados muito

positivos quando se fala de jovens em situação de vulnerabilidade social. Durante esses dez

anos, 45% dos participantes foram inseridos no mercado de trabalho e muitos já concluíram

o ensino médio; cerca de 70% reorganizaram suas vidas e conseguiram superar a condição de

envolvimento em atividades ilícitas.

Na prática, os jovens trabalham durante 4 horas nos gabinetes de desembargadores e nas

unidades administrativas do tribunal. Recebem atendimento multidisciplinar, com

acompanhamento jurídico, de psicólogos e de assistentes sociais. Por meio de parcerias com

entidades, já foram realizados cursos de mecânica, de padaria e de garçom. Destaque a

considerar é o projeto “Virando a página”: oficinas de leitura e produção textual, coordenadas

por servidores do TRF4 e professores e formandos de faculdades de Letras.

(Adaptado de: wttp://www2.trf4.jus.br/trf4/

controlador.php? acao= noticia_visualizar&id_noticia=10129)

Ambos os elementos sublinhados são exemplos de uma mesma função sintática na frase:

a) Muitos desacreditaram de tais iniciativas.

b) São atendidos jovens com idade entre 16 e 21 anos.

c) Recebem atendimento multidisciplinar e acompanhamento jurídico.

d) Vários jovens já concluíram os estudos e reorganizaram a vida.

e) “Virando a página” é uma iniciativa que deveria ser imitada por outras associações.

Questão 38: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Análise Sintática

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Ao cabo de uma palestra, perguntaram-me se concordo com a tese de que só é possível

filosofar em alemão. Não foi a primeira vez. Essa questão se popularizou a partir de versos da

canção “Língua”, de Caetano Veloso (“Está provado que só é possível filosofar em alemão”).

Ocorre que os versos que se encontram no interior de uma canção não estão necessariamente

afirmando aquilo que afirmariam fora do poema. O verso em questão possui carga irônica e

provocativa: tanto mais quanto a afirmação é geralmente atribuída a Heidegger, filósofo cujo

tema precípuo é o ser. Ora, logo no início de “Língua”, um verso (“Gosto de ser e de estar”)

explora um privilégio poético-filosófico da língua portuguesa, que é a distinção entre ser e

estar: privilégio não compartilhado pela língua alemã. Mas consideremos a tese de Heidegger.

Para ele, a língua do pensamento por excelência é a alemã. Essa pretensão tem uma história.

Os pensadores românticos da Alemanha inventaram a superioridade filosófica do seu idioma

porque foram assombrados pela presunção, que lhes era opressiva, da superioridade do latim

e do francês.

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GM

O latim foi a língua da filosofia e da ciência na Europa desde o Império Romano até a segunda

metade do século XVIII, enquanto o alemão era considerado uma língua bárbara. Entre os

séculos XVII e XVIII, a França dominou culturalmente a Europa. Paris foi a nova Roma e o

francês o novo latim. Não admira que os intelectuais alemães − de origem burguesa − tenham

reagido violentamente contra o culto que a aristocracia do seu país dedicava a tudo o que era

francês e o concomitante desprezo que reservava a tudo o que era alemão. Para eles, já que a

França se portava como a herdeira de Roma, a Alemanha se identificaria com a Grécia. Se o

léxico francês era descendente do latino, a morfologia e a sintaxe alemãs teriam afinidades

com as gregas. Se modernamente o francês posava de língua da civilização universal, é que

eram superficiais a civilização e a universalidade; o alemão seria, ao contrário, a língua da

particularidade germânica: autêntica, profunda, e o equivalente moderno do grego.

Levando isso em conta, estranha-se menos o fato de que Heidegger tenha sido capaz de

querer crer que a superficialidade que atribui ao pensamento ocidental moderno tenha

começado com a tradução dos termos filosóficos gregos para o latim; ou de afirmar que os

franceses só consigam começar a pensar quando aprendem alemão.

Estranho é que haja franceses ou brasileiros que acreditem nesses mitos germânicos, quando

falam idiomas derivados da língua latina, cujo vocabulário é rico de 2000 anos de filosofia, e

que tinha − ela sim − enorme afinidade com a língua grega.

(CICERO, A. A filosofia e a língua alemã. In: F. de São Paulo.

Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustradi/fq0505200726. htm. Acesso em:

08/06/2014)

... o culto que a aristocracia do seu país dedicava a tudo o que era francês... (3º parágrafo)

O segmento que possui a mesma função sintática do grifado acima está também grifado em:

a) ... a morfologia e a sintaxe alemãs teriam afinidades com as gregas. (3º parágrafo)

b) ... a afirmação é geralmente atribuída a Heidegger, filósofo cujo tema precípuo é o ser. (2º

parágrafo)

c) Estranho é que haja franceses ou brasileiros... (5º parágrafo)

d) O latim foi a língua da filosofia e da ciência na Europa... (3º parágrafo)

e) ... a superficialidade que atribui ao pensamento ocidental moderno... (4º parágrafo)

Questão 39: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Análise Sintática

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Antônio Vieira é, desde o século XVII, um modelo de nosso idioma, a ponto de Fernando

Pessoa, na Mensagem, chamá-lo de “Imperador da língua portuguesa”. Em uma de suas

principais obras, o Sermão da Sexagésima, ensina como deve ser o estilo de um texto:

“Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. Como hão de ser as

palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o

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GM

estilo da pregação, muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo

baixo; as estrelas são muito distintas, e muito claras e altíssimas. O estilo pode ser muito claro

e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que

entender nele os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura, e o

mareante para sua navegação, e o matemático para as suas observações e para os seus juízos.

De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler nem escrever, entendem as

estrelas, e o matemático que tem lido quantos escreveram não alcança a entender quanto

nelas há.”

Vieira mostra com as estrelas o que sejam a distinção e a clareza. Não são discordantes, como

muitos de nós pensamos: uma e outra concorrem para o mesmo fim. Nada mais adequado que,

ao tratar de tais virtudes do discurso, fizesse uso de comparação. Este procedimento

Quintiliano, no século II d.C., já considerava dos mais aptos para conferir clareza, uma vez que

estabelece similaridades entre algo já sabido pelo leitor e aquilo que se lhe quer elucidar. Aqui,

compara o bom discurso ao céu, que é de todos conhecido.

(Tales Ben Daud, inédito)

Os elementos sublinhados em ... quantos escreveram não alcança a entender quanto nelas

há... (2º parágrafo) possuem, respectivamente, a mesma função que os sublinhados em:

a) Este procedimento Quintiliano, no século II d.C...

b) O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura...

c) As estrelas são muito distintas e muito claras.

d) ... ao tratar de tais virtudes do discurso...

e) ... e o matemático para as suas observações e para os seus juízos.

Questão 40: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Função sintática dos pronomes

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

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Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Amemos as ilhas, mas não emprestemos às ilhas o condão mágico da felicidade, pois quando

fantasiamos as ilhas esquecemo-nos de que, ao habitar ilhas, leva-se para elas tudo o que já

nos habita.

Evitam-se as viciosas repetições da frase acima substituindo-se os elementos sublinhados, na

ordem dada, por:

a) lhes emprestemos − lhes fantasiamos − habitá-las

b) emprestemos-lhes − as fantasiamos − habitar-lhes

c) as emprestemos − fantasiamo-las − as habitar

d) lhes emprestemos − as fantasiamos − habitá-las

e) as emprestemos − lhes fantasiamos − habitar-lhes

Questão 41: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Função sintática dos pronomes

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

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44

GM

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

A substituição do elemento grifado pelo pronome correspondente, com os necessários

ajustes no segmento, foi realizada corretamente em:

a) adverte os espectadores dos sustos = lhes adverte dos sustos

b) vão engolindo cidades inteiras ao crescerem = vão engolindo-nas ao crescerem

c) distorceram suas fontes de modo a impedir = distorceram-nas de modo a impedir

d) determinou a sua temática através da estratégia = determinou-lhe através da estratégia

e) que buscou criar um homem à sua própria semelhança = que buscou-o criar à sua própria

semelhança

Questão 42: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Colocação pronominal (sintaxe)

O pior no meu entender está na poesia brasileira, tanto quanto a nossa literatura não

imediatamente comercial, ter sido convertida, no empenho de fazê-la alcançar um público

mais amplo do que o cada vez mais arredio público frequentador de livrarias, em remédio

chato de tomar. Indicados pelos professores como leitura obrigatória a alunos sem maior

curiosidade intelectual, esses livros, essas antologias ministradas sob receita pedagógica

traem a finalidade precípua da literatura, que é a de deleitar. Dou a este verbo uma etimologia

poética, pouco me importando saber se é falsa, possível ou verdadeira. Vejo-o nucleado na

palavra “leite”, o alimento primeiro e essencial que reconcilia o nascituro com o mundo no qual

se vê repentinamente atirado, sem consulta prévia, e que o faz imaginá-lo, como nos poemas

de William Blake, antes o paraíso dos prazeres da idade da inocência que o prosaico reino de

deveres da idade da experiência.

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45

GM

(Adaptado de: PAES, José Paulo. Apud. SILVA, Marcia Cristina. José

Paulo Paes: entre o crítico literário e o poeta para crianças. Revista FronteiraZ, São Paulo, n.

8, julho de 2012.)

fazê-la alcançar − Vejo-o nucleado − faz imaginá-lo

Os pronomes dos segmentos acima se referem, respectivamente, a:

a) literatura não imediatamente comercial – este verbo – o paraíso

b) literatura não imediatamente comercial − leite − o alimento primeiro

c) leitura obrigatória − o alimento primeiro − o mundo

d) poesia brasileira − o nascituro − o paraíso

e) poesia brasileira − este verbo − o mundo

Questão 43: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

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46

GM

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

A expressão de que preenche adequadamente a lacuna da frase:

a) Os projetos e atividades ...... implementamos na Casa Azul visam à harmonia de Paraty.

b) O prestígio turístico ...... veio a gozar Paraty não cessa de crescer, por conta de novos

projetos e atividades.

c) O esquecimento ...... Paraty se submeteu preservou-a dos desgastes trazidos por um

progresso irracional.

d) A plena preservação ambiental, ...... Paraty faz por merecer, é uma das metas da Casa Azul.

e) Os ciclos econômicos do ouro e do café, ...... tanto prosperou Paraty, esgotaram-se no

tempo.

Questão 44: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

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47

GM

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

A frase cujo verbo permite transposição para a voz passiva é:

a) ... nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus...

b) O filme começa com um prólogo...

c) ... porque cedeu a uma predisposição da natureza humana...

d) O Frankenstein original de Shelley é um livro rico...

e) ... e não cumpriu o dever de qualquer criador...

Questão 45: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

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48

GM

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

Essa emancipação nos confronta com o vazio.

O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em:

a) Essa é a fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem.

b) Grandiosa pelo poder que confere à ciência e aos seus sacerdotes...

c) Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança de Deus...

d) A era da religiosidade terminou no Ocidente...

e) O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência.

Questão 46: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

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49

GM

... deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado.

O segmento grifado na frase acima preenche corretamente a lacuna frase:

a) Os temas ...... tratava eram sempre ligados de algum modo à religião e a fenômenos que a

ciência não conseguia explicar.

b) Preferia gastar todo o tempo necessário na minuciosa execução do trabalho ...... não tivesse

de refazê-lo depois.

c) Suas leituras e seus estudos, ...... nunca deixava de fazer alusão, eram o que havia de mais

caro para ele.

d) Mais do que um simples sonho, tinha sido um horrível pesadelo, ...... não conseguia mais

deixar de pensar.

e) Os projetos mais mirabolantes e de mais difícil realização eram aqueles ...... mais ficava

entusiasmado.

Questão 47: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O arroz da raposa

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

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50

GM

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

Ao se substituir o elemento grifado em um segmento do texto, o pronome foi empregado de

modo INCORRETO em:

a) Julio Cortázar tem um conto = Julio Cortázar tem-no

b) ele encontrou esta frase = ele encontrou-a

c) desarticular as palavras = desarticular-lhes

d) dava arroz à raposa = dava-lhe arroz

e) não só encantou o menino = não só o encantou

Questão 48: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto apresentado abaixo.

Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o

progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.

Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza

em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e,

em particular, das Nações Unidas.

A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo

aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam

sanções e uso da força.

A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos

individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da

constituição das Nações Unidas, em 1945.

Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a

paz internacional passou por várias etapas. Em meados da década de 90 surgiram vozes que,

motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional

permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade

de proteger".

A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base

em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no

Conselho de Segurança − órgão dotado de competência primordial e intransferível pela

manutenção da paz e da segurança internacionais.

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51

GM

O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança.

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral,

observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser

contemplado como último recurso.

Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito

internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos

direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência

de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das

circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força

militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

(Adaptado de Antonio de Aguiar Patriota. “Direitos humanos e ação diplomática”. Artigo

publicado na Folha de S. Paulo, em 01/09/2011, e disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/- ministro-estado-relacoes-exteriores/direitos-humanos-e-acaodiplomatica-

folha-de-s.paulo-01-09-2011).

... o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito internacional ...

O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em:

a) Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos direitos humanos ...

b) ... o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa ...

c) A ONU constitui o foro privilegiado para ...

d) Em meados da década de 90 surgiram vozes que ...

e) ... a relação [...] passou por várias etapas.

Questão 49: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Crase

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

Page 52: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

52

GM

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

Não deixa de ser paradoxal o fato de o crescimento da descrença, que parecia levar ...... uma

ampliação da liberdade, ter dado lugar ...... escalada do fundamentalismo religioso, ...... que se

associam manifestações profundamente reacionárias.

Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na ordem dada:

a) a − à − a

b) à − a − a

c) a − a − à

d) à − à − a

e) a − à − à

Questão 50: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Crase

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

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53

GM

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

Em à luz dessa correspondência, o emprego do sinal indicativo da crase está em conformidade

com o padrão culto escrito, assim como o está na seguinte frase:

a) É esse barulho desmedido à toda hora do dia e da noite, sem o mínimo respeito pela lei que

regulamenta o direito ao silêncio.

b) Encomendou o vestido de noiva, mas logo depois cancelou o pedido, considerando que era

um gasto muito superior à suas posses.

c) Estou me dirigindo diretamente àqueles que trouxeram a boa nova, para agradecer-lhes o

empenho e a consideração.

d) Sua ida à Curitiba foi motivada por grande paixão, a que tem pelas obras do escritor Dalton

Trevisan, que nasceu nessa cidade e nela reside.

e) A capacidade de adequar-se à diferentes situações de desafio e a persistência em

encontrar soluções criativas fizeram dele um grande administrador.

Questão 51: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Crase

Atenção: Para responder à questão, considere o texto apresentado abaixo.

Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o

progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.

Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza

em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e,

em particular, das Nações Unidas.

A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo

aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam

sanções e uso da força.

Page 54: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

54

GM

A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos

individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da

constituição das Nações Unidas, em 1945.

Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a

paz internacional passou por várias etapas. Em meados da década de 90 surgiram vozes que,

motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional

permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade

de proteger".

A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base

em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no

Conselho de Segurança − órgão dotado de competência primordial e intransferível pela

manutenção da paz e da segurança internacionais.

O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança.

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral,

observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser

contemplado como último recurso.

Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito

internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos

direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência

de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das

circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força

militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

(Adaptado de Antonio de Aguiar Patriota. “Direitos humanos e ação diplomática”. Artigo

publicado na Folha de S. Paulo, em 01/09/2011, e disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/- ministro-estado-relacoes-exteriores/direitos-humanos-e-acaodiplomatica-

folha-de-s.paulo-01-09-2011).

Do mesmo modo que no segmento ameaça à paz e à segurança, o sinal indicativo de crase

também está corretamente empregado em:

a) O mais grave foi a ameaça à integridade física da vítima.

b) A crise econômica ameaça à preservação do acervo de vários museus.

c) Certos animais reagem agressivamente a ameaças à seus interesses.

d) Houve ameaça à grupo de manifestantes presos durante protesto.

e) A censura ameaça à liberdade de criação.

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55

GM

Questão 52: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Crase

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

QUANDO A CRASE MUDA O SENTIDO

Muitos deixariam de ver a crase como bicho-papão se pensassem nela como uma ferramenta

para evitar ambiguidade nas frases.

Luiz Costa Pereira Junior

O emprego da crase costuma desconcertar muita gente. A ponto de ter gerado um balaio de

frases inflamadas ou espirituosas de uma turma renomada. O poeta Ferreira Gullar, por

exemplo, é autor da sentença “A crase não foi feita para humilhar ninguém”, marco da

tolerância gramatical ao acento gráfico. O escritor Moacyr Scliar discorda, em uma deliciosa

crônica “Tropeçando nos acentos”, e afirma que a crase foi feita, sim, para humilhar as

pessoas; e o humorista Millôr Fernandes, de forma irônica e jocosa, é taxativo: “ela não existe

no Brasil”.

O assunto é tão candente que, em 2005, o deputado João Herrmann Neto propôs abolir esse

acento do português do Brasil por meio do projeto de lei 5.154, pois o considerava “sinal

obsoleto, que o povo já fez morrer”. Bombardeado, na ocasião, por gramáticos e linguistas que

o acusavam de querer abolir um fato sintático como quem revoga a lei da gravidade,

Herrmann logo desistiu do projeto.

A grande utilidade do acento de crase no a, entretanto, que faz com que seja descabida a

proposta de sua extinção por decreto ou falta de uso, é: crase é, antes de mais nada, um

imperativo de clareza. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase − em outras, só o

contexto resolve o impasse. Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido de

uma frase, lembrados por Celso Pedro Luft no hoje clássico Decifrando a crase: cheirar a

gasolina X cheirar à gasolina; a moça correu as cortinas X a moça correu às cortinas; o homem

pinta a máquina X o homem pinta à máquina; referia-se a outra mulher X referia-se à outra

mulher.

O contexto até se encarregaria, diz o autor, de esclarecer a mensagem; um usuário do idioma

mais atento intui um acento necessário, garantido pelo contexto em que a mensagem se

insere. A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala, não tanto na escrita. Exemplos de dúvida

fonética, sugeridos por Francisco Platão Savioli: “A noite chegou”; “ela cheira a rosa”; “a polícia

recebeu a bala”. Sem o sinal diacrítico, construções como essas serão sempre ambíguas. Nesse

sentido, a crase pode ser antes um problema de leitura do que prioritariamente de escrita.

(Adaptado de: PEREIRA Jr., Luiz Costa. Revista Língua

portuguesa, ano 4, n. 48. São Paulo: Segmento, outubro de 2009. p. 36-38)

Acerca dos exemplos utilizados nos dois últimos parágrafos para ilustrar o papel da crase na

clareza e na organização das ideias de um texto, é correto afirmar:

a) quando se escreve cheirar a gasolina, o sentido do verbo é de “feder” ou “ter cheiro de”.

b) em a polícia recebeu a bala, afirma-se que a polícia foi vitimada pelo tiro.

c) na frase À noite chegou, “noite” assume função de sujeito do verbo chegar.

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56

GM

d) no trecho a moça correu as cortinas, o verbo assume o sentido de “seguir em direção a”.

e) em o homem pinta à máquina, diz-se que o objeto que está sendo pintado é a máquina.

Questão 53: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Crase

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas e níveis de instrução têm

emoções, cultivam passatempos que manipulam as emoções, atentam para as emoções dos

outros, e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e

procurando evitar emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada

caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas criaturas não humanas têm

emoções em abundância; entretanto, existe algo acentuadamente característico no modo

como as emoções vincularam-se a ideias, valores, princípios e juízos complexos que só os

seres humanos podem ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma

música e por filmes banais cujo poder não devemos subestimar.

Embora a composição e a dinâmica precisas das reações emocionais sejam moldadas em cada

indivíduo pelo meio e por um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das reações

emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes evolutivos. As emoções são parte dos

mecanismos biorreguladores com os quais nascemos, visando à sobrevivência. Foi por isso

que Darwin conseguiu catalogar as expressões emocionais de tantas espécies e encontrar

consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes culturas as emoções são tão

facilmente reconhecidas. É bem verdade que as expressões variam, assim como varia a

configuração exata dos estímulos que podem induzir uma emoção. Mas o que causa

admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa

semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o indutor pode bloquear o progresso de

uma emoção que já estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa tragédia

deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a suspensão de um estado

sistematicamente induzido de medo e compaixão.

Não precisamos ter consciência de uma emoção, com frequência não temos e somos

incapazes de controlar intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num estado de

tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia dos motivos responsáveis por esse estado

específico. Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém

frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento inconsciente de emoções

também explica por que não é fácil imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer

genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma região profunda do tronco

cerebral. A imitação voluntária feita por quem não é um ator exímio é facilmente detectada

como fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais,

quer no tom de voz.

(Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da consciência. Trad. Laura Teixeira Motta.

São Paulo, Cia das letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)

Ao se reescrever um segmento do texto, o sinal indicativo de crase foi empregado de modo

correto em:

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GM

a) Frequentemente não temos consciência de uma emoção, pois somos incapazes de à

controlar propositadamente.

b) Essa é, à propósito, a semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

c) Por sinal, à essa semelhança imputa-se a causa da arte ser capaz de cruzar fronteiras.

d) A partir dessa semelhança, permite-se à arte cruzar fronteiras.

e) À uma região profunda do tronco cerebral atribui-se o ponto de partida de reações como

um sorriso nascido de um prazer genuíno.

Questão 54: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

As normas de concordância verbal estão plenamente observadas na frase:

a) Evitem-se, sempre que possível, qualquer excesso no convívio humano: nem proximidade

por demais estreita, nem distância exagerada.

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GM

b) Os vários atrativos de que dispõem a vida nas ilhas não são, segundo o cronista,

exclusividade delas.

c) Cabem aos poetas imaginar espaços mágicos nos quais realizemos nossos desejos, como a

Pasárgada de Manuel Bandeira.

d) Muita gente haveriam de levar para uma ilha os mesmos vícios a que se houvesse rendido

nos atropelos da vida urbana.

e) A poucas pessoas conviria trocar a rotina dos shoppings pela serenidade absoluta de uma

pequena ilha.

Questão 55: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

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GM

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

As normas de concordância estão inteiramente respeitadas neste livre comentário sobre o

texto:

a) De bons livros dificilmente se faz bons filmes, costuma declarar, com a ênfase das

formulações paradoxais, importantes críticos de cinema.

b) É bastante incomum que se enalteça as adaptações cinematográficas de modo tão enfático

como se faz com os livros que lhes deu origem.

c) Hão de realizar grandes adaptações os diretores que somarem à cultura literária um

profundo conhecimento da arte cinematográfica e das diferenças que as separam.

d) A manutenção da figura do narrador que há nos livros, com raríssimas exceções,

dificilmente se justificam na adaptação que dele se faz para as telas do cinema.

e) Mais de uma vez já foi dito que a obsessão pela fidelidade aos livros a ser adaptados são o

primeiro passo para o fracasso de um filme.

Questão 56: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto apresentado abaixo.

Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o

progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.

Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza

em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e,

em particular, das Nações Unidas.

A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo

aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam

sanções e uso da força.

A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos

individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da

constituição das Nações Unidas, em 1945.

Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a

paz internacional passou por várias etapas. Em meados da década de 90 surgiram vozes que,

motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional

permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade

de proteger".

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60

GM

A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base

em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no

Conselho de Segurança − órgão dotado de competência primordial e intransferível pela

manutenção da paz e da segurança internacionais.

O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança.

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral,

observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser

contemplado como último recurso.

Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito

internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos

direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência

de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das

circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força

militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

(Adaptado de Antonio de Aguiar Patriota. “Direitos humanos e ação diplomática”. Artigo

publicado na Folha de S. Paulo, em 01/09/2011, e disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/- ministro-estado-relacoes-exteriores/direitos-humanos-e-acaodiplomatica-

folha-de-s.paulo-01-09-2011).

O verbo flexionado no singular que também pode ser corretamente flexionado no plural, sem

que nenhuma outra alteração seja feita na frase, está destacado em:

a) Para promover os direitos humanos, a consolidação da democracia em todos os países é

extremamente necessária.

b) Cada um dos países do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas

(ONU) há de zelar pela manutenção dos Direitos Humanos.

c) A comunidade internacional trata os direitos humanos de forma global, justa e equitativa,

em pé de igualdade e com a mesma ênfase.

d) A maior parte dos países compreende que o direito ao trabalho é de vital importância para

o desenvolvimento de povos e nações.

e) A declaração de Direitos Humanos de Viena, de 1993, reconhece uma série de direitos

fundamentais, como o direito ao desenvolvimento.

Questão 57: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

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GM

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: Para responder à questão de número, considere o texto abaixo.

Foi por me sentir genuinamente desidentificado com qualquer espécie de regionalismo que

escrevi coisas como: "Não sou brasileiro, não sou estrangeiro / Não sou de nenhum lugar, sou

de lugar nenhum"/ "Riquezas são diferenças".

Ao mesmo tempo, creio só terem sido possíveis tais formulações pessoais pelo fato de eu

haver nascido e vivido em São Paulo. Por essa ser uma cidade que permite, ou mesmo propicia,

esse desapego para com raízes geográficas, raciais, culturais. Por eu ver São Paulo como um

gigante liquidificador onde as informações diversas se misturam, gerando novas

interpretações, exceções.

Por sua multiplicidade de referências étnicas, linguísticas, culturais, religiosas, arquitetônicas,

culinárias...

São Paulo não tem símbolos que dêem conta de sua diversidade. Nada aqui é típico daqui. Não

temos um corcovado, uma arara, um cartão postal. São Paulo são muitas cidades em uma.

Sempre me pareceram sem sentido as guerras, os fundamentalismos, a intolerância ante a

diversidade.

Assim, fui me sentindo cada vez mais um cidadão do planeta. Acabei atribuindo parte desse

sentimento à formação miscigenada do Brasil.

Acontece que a miscigenação brasileira parece ter se multiplicado em São Paulo, num

ambiente urbano que foi crescendo para todos os lados, sem limites.

Até a instabilidade climática daqui parece haver contribuído para essa formação aberta ao

acaso, à imprevisibilidade das misturas.

Ao mesmo tempo, temos preservados inúmeros nomes indígenas designando lugares, como

Ibirapuera, Anhangabaú, Butantã etc. Primitivismo em contexto cosmopolita, como soube

vislumbrar Oswald de Andrade.

Não é à toa que partiram daqui várias manifestações culturais.

São Paulo fragmentária, com sua paisagem recortada entre praças e prédios; com o ruído dos

carros entrando pelas janelas dos apartamentos como se fosse o ruído longínquo do mar; com

seus crepúsculos intensificados pela poluição; seus problemas de trânsito, miséria e violência

convivendo com suas múltiplas ofertas de lazer e cultura; com seu crescimento

indiscriminado, sem nenhum planejamento urbano; com suas belas alamedas arborizadas e

avenidas de feiura infinita.

(Adaptado de: ANTUNES, Arnaldo. Alma paulista. Disponível em

http://www.arnaldoantunes.com.br).

O verbo flexionado no plural que também estaria corretamente flexionado no singular, sem

que nenhuma outra alteração fosse feita, encontra-se em:

a) Não é à toa que partiram daqui várias manifestações culturais...

b) Sempre me pareceram sem sentido as guerras...

c) São Paulo são muitas cidades em uma.

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GM

d) São Paulo não tem símbolos que dêem conta de...

e) ... onde as informações diversas se misturam...

Questão 58: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: Para responder à questão de número, considere o texto abaixo.

Foi por me sentir genuinamente desidentificado com qualquer espécie de regionalismo que

escrevi coisas como: "Não sou brasileiro, não sou estrangeiro / Não sou de nenhum lugar, sou

de lugar nenhum"/ "Riquezas são diferenças".

Ao mesmo tempo, creio só terem sido possíveis tais formulações pessoais pelo fato de eu

haver nascido e vivido em São Paulo. Por essa ser uma cidade que permite, ou mesmo propicia,

esse desapego para com raízes geográficas, raciais, culturais. Por eu ver São Paulo como um

gigante liquidificador onde as informações diversas se misturam, gerando novas

interpretações, exceções.

Por sua multiplicidade de referências étnicas, linguísticas, culturais, religiosas, arquitetônicas,

culinárias...

São Paulo não tem símbolos que dêem conta de sua diversidade. Nada aqui é típico daqui. Não

temos um corcovado, uma arara, um cartão postal. São Paulo são muitas cidades em uma.

Sempre me pareceram sem sentido as guerras, os fundamentalismos, a intolerância ante a

diversidade.

Assim, fui me sentindo cada vez mais um cidadão do planeta. Acabei atribuindo parte desse

sentimento à formação miscigenada do Brasil.

Acontece que a miscigenação brasileira parece ter se multiplicado em São Paulo, num

ambiente urbano que foi crescendo para todos os lados, sem limites.

Até a instabilidade climática daqui parece haver contribuído para essa formação aberta ao

acaso, à imprevisibilidade das misturas.

Ao mesmo tempo, temos preservados inúmeros nomes indígenas designando lugares, como

Ibirapuera, Anhangabaú, Butantã etc. Primitivismo em contexto cosmopolita, como soube

vislumbrar Oswald de Andrade.

Não é à toa que partiram daqui várias manifestações culturais.

São Paulo fragmentária, com sua paisagem recortada entre praças e prédios; com o ruído dos

carros entrando pelas janelas dos apartamentos como se fosse o ruído longínquo do mar; com

seus crepúsculos intensificados pela poluição; seus problemas de trânsito, miséria e violência

convivendo com suas múltiplas ofertas de lazer e cultura; com seu crescimento

indiscriminado, sem nenhum planejamento urbano; com suas belas alamedas arborizadas e

avenidas de feiura infinita.

(Adaptado de: ANTUNES, Arnaldo. Alma paulista. Disponível em

http://www.arnaldoantunes.com.br).

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GM

As regras de concordância estão plenamente respeitadas em:

a) O crescimento indiscriminado que se observa na cidade de São Paulo fazem com que

alguns de seus bairros sejam modificados em poucos anos.

b) Devem-se às múltiplas ofertas de lazer e cultura a atração que São Paulo exerce sobre

alguns turistas.

c) Apesar de a cidade de São Paulo exibir belas alamedas arborizadas, deveriam haver mais

áreas verdes na cidade.

d) O ruído dos carros, que entram pelas janelas dos apartamentos, perturbam boa parte dos

paulistanos.

e) Na maioria dos bairros de São Paulo, encontram-se referências culinárias provenientes de

diversas partes do planeta.

Questão 59: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

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GM

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se de modo a concordar em número com

o elemento sublinhado na frase:

a) Vaidades, (haver) muitas delas pelo mundo; poucas são, no entanto, as que se justificam.

b) Todo aquele que (abominar) as fraquezas humanas deveria buscar discerni-las e qualificá-

las, antes de as julgar.

c) Aos avanços tecnológicos (poder) seguir-se uma sensata parceria com outras atividades de

que o homem é capaz.

d) Em que (consistir), em nossa época, práticas efetivamente humanistas, que nos definam

pelo que essencialmente somos?

e) A quantos outros vícios não se (curvar) quem costuma julgar a vaidade como o mais

abominável de todos?

Questão 60: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Um programa a ser adotado

O PET − Programa de Educação pelo Trabalho − está fazendo dez anos, que serão

comemorados num evento promovido pelo TRF4, que contará com representantes da Fase −

Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul.

Há dez anos seria difícil imaginar um interno da Fase em cumprimento de medida

socioeducativa saindo para trabalhar em um tribunal e, no final do dia, retornar à fundação.

Muitos desacreditariam da iniciativa de colocar um adolescente infrator dentro de um

gabinete de desembargador ou da Presidência de um tribunal. Outros poderiam discriminar

esses jovens e desejá-los longe do ambiente de trabalho.

Todas essas barreiras foram vencidas. Em uma década, o PET do TRF4 se tornou realidade,

quebrou preconceitos, mudou a cultura da própria instituição e a vida de 154 adolescentes

que já passaram pelo projeto. São atendidos jovens entre 16 e 21 anos, com escolaridade

mínima da 4ª série do ensino fundamental. O tribunal enfrenta o desafio de criar, desenvolver

e, principalmente, manter um programa de reinserção social. Os resultados do trabalho do

PET com os menores que cumprem medida socioeducativa na Fase são considerados muito

positivos quando se fala de jovens em situação de vulnerabilidade social. Durante esses dez

anos, 45% dos participantes foram inseridos no mercado de trabalho e muitos já concluíram

o ensino médio; cerca de 70% reorganizaram suas vidas e conseguiram superar a condição de

envolvimento em atividades ilícitas.

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GM

Na prática, os jovens trabalham durante 4 horas nos gabinetes de desembargadores e nas

unidades administrativas do tribunal. Recebem atendimento multidisciplinar, com

acompanhamento jurídico, de psicólogos e de assistentes sociais. Por meio de parcerias com

entidades, já foram realizados cursos de mecânica, de padaria e de garçom. Destaque a

considerar é o projeto “Virando a página”: oficinas de leitura e produção textual, coordenadas

por servidores do TRF4 e professores e formandos de faculdades de Letras.

(Adaptado de: wttp://www2.trf4.jus.br/trf4/

controlador.php? acao= noticia_visualizar&id_noticia=10129)

O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se, obrigatoriamente, em uma forma do

plural para preencher de modo adequado a lacuna da frase:

a) A situação de vulnerabilidade social que a tantos jovens ...... (constranger) pode ser

plenamente superada por programas como o PET.

b) Aos desafios de criar, desenvolver e sobretudo manter um programa de reinserção social

...... (corresponder), felizmente, um número expressivo de conquistas.

c) Durante mais de dez anos só ...... (vir) a crescer a convicção de que as medidas adotadas pelo

PET eram bastante eficazes.

d) A muitos daqueles que torceram o nariz para as iniciativas do PET não ...... (ocorrer) que tais

medidas afirmativas poderiam ser tão eficazes.

e) A um projeto como o “Virando a página” ...... (dever) emprestar todo o apoio os agentes

envolvidos na reabilitação dos menores infratores.

Questão 61: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

ANTES QUE O CÉU CAIA

Líder indígena brasileiro mais conhecido no mundo, o ianomâmi Davi Kopenawa lança livro e

participa da FLIP enquanto relata o medo dos efeitos das mudanças climáticas sobre a Terra.

Leão Serva

Davi Kopenawa está triste. “A cobra grande está devorando o mundo”, ele diz. Em todo lugar,

os homens semeiam destruição, esquentam o planeta e mudam o clima: até mesmo o lugar

onde vive, a Terra Indígena Yanomâmi, que ocupa 96 km2 em Roraima e no Amazonas, na

fronteira entre Brasil e Venezuela, vem sofrendo sinais estranhos. O céu pode cair a qualquer

momento. Será o fim. Por isso, nem as muitas homenagens que recebe em todo o mundo

aplacam sua angústia.

Ele decidiu escrever um livro para contar a sabedoria dos xamãs de seu povo, a criação do

mundo, seus elementos e espíritos. Gravou 15 fitas em que narrou também sua própria

trajetória. “Não adianta só os brancos escreverem os livros deles. Eu queria escrever para os

não indígenas não acharem que índio não sabe nada.”

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GM

A obra foi lançada em 2010, na França (ed. Plon), e no ano passado, nos EUA, pela editora da

universidade Harvard. Com o nome “A Queda do Céu”, está sendo traduzido para o português

pela Companhia das Letras. No fim de julho, Davi vai participar da Feira Literária de

Paraty/FLIP, mas a versão em português ainda não estará pronta. O lançamento está previsto

para o ano que vem.

O livro explica os espíritos chamados “xapiris”, que os ianomâmis creem serem os únicos

capazes de cuidar das pessoas e das coisas. “Xapiri é o médico do índio. E também ajuda

quando tem muita chuva ou está quente. O branco está preocupado que não chove mais em

alguns lugares e em outros tem muita chuva. Ele ajuda a nossa terra a não ficar triste.”

Nascido em 1956, Davi logo cedo foi identificado como um possível xamã, pois seus sonhos

eram frequentados por espíritos. Xamã, ou pajé, é a referência espiritual de uma sociedade

tribal. Os ianomâmis acreditam que os xamãs recebem dos espíritos chamados “xapiris” a

capacidade de cura dos doentes. Davi descreve assim sua vocação: “Quando eu era pequeno,

costumava ver em sonhos seres assustadores. Não sabia o que me atrapalhava o sono, mas já

eram os xapiris que vinham a mim”. Quando jovem, recebeu a formação tradicional de pajé.

Com cerca de 40 mil pessoas (entre Brasil e Venezuela), em todo o mundo os ianomâmis são

o povo indígena mais populoso a viver de forma tradicional em floresta. Poucos falam

português. Davi logo se tornou seu porta-voz.

(Adaptado de: SERVA, Leão. Revista Serafina.

Número 75. São Paulo: Folha de S. Paulo, julho de 2014, p. 18-19)

Sobre a flexão de alguns verbos utilizados no texto são feitas as seguintes afirmações:

I. Em Os ianomâmis acreditam que os xamãs recebem dos espíritos chamados xapiris, o verbo

“receber” está no plural porque concorda com o sujeito cujos núcleos são “ianomâmis” e

“xamãs”.

II. Em E também ajuda quando tem muita chuva ou está quente, o verbo “ajudar” concorda

com o sujeito elíptico “xapiri”.

III. Em O céu pode cair a qualquer momento, o verbo “poder” concorda em número com “céu”,

sujeito simples no singular.

Está correto o que se afirma APENAS em

a) II e III.

b) I e III.

c) I e II.

d) I.

e) III.

Questão 62: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

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GM

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

O verbo que pode ser indiferentemente flexionado no singular ou no plural encontra-se em:

a) ... enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia...

b) Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de

renovação.

c) Veja, os Beatles, foram à Índia...

d) O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

e) ... onde samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos...

Questão 63: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

O museu é considerado um instrumento de neutralização – e talvez o seja de fato. Os objetos

que nele se encontram reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos

políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas: a maior

parte presta homenagem às potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas

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GM

são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra os fatos da

realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de

sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a

qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências políticas são apagadas. A

violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

desempenhar um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na pacificação

dos museus.

Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem sido retirados de seu

contexto. Desde então, dois pontos de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o

primeiro, o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada de seus

pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de

despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as exalta.

Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como um

estado letárgico.

A colocação em museu foi descrita e denunciada frequentemente como uma desvitalização

do simbólico, e a musealização progressiva dos objetos de uso como outros tantos escândalos

sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a razão do "escândalo". Para que haja

escândalo, é necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica

escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar que valor foi previamente

sacralizado. A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida

autêntica? A integridade do Contexto original? Estranha inversão de perspectiva. Porque,

simultaneamente, a crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio,

um órgão de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem, é realmente "o lugar

simbólico onde o trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais ultrajante".

Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam em toda parte. É a ação

do tempo, conjugada com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)

A respeito da concordância verbal, é correto afirmar:

a) Em "A aquisição de novas obras devem trazer benefícios a todos os frequentadores", a

concordância está correta por se tratar de expressão partitiva.

b) Em "Existe atualmente, no Brasil, cerca de 60 museus", a concordância está correta, uma

vez que o núcleo do sujeito é "cerca".

c) Na frase "Hão de se garantir as condições necessárias à conservação das obras de arte", o

verbo "haver" deveria estar no singular, uma vez que é impessoal.

d) Em "Acredita-se que 25% da população frequentem ambientes culturais", a concordância

está correta, uma vez que a porcentagem é o núcleo do segmento nominal.

e) Na frase "A maioria das pessoas não frequentam o museu", o verbo encontra-se no plural

por concordar com "pessoas", ainda que pudesse, no singular, concordar com "maioria".

Questão 64: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

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GM

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas e níveis de instrução têm

emoções, cultivam passatempos que manipulam as emoções, atentam para as emoções dos

outros, e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e

procurando evitar emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada

caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas criaturas não humanas têm

emoções em abundância; entretanto, existe algo acentuadamente característico no modo

como as emoções vincularam-se a ideias, valores, princípios e juízos complexos que só os

seres humanos podem ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma

música e por filmes banais cujo poder não devemos subestimar.

Embora a composição e a dinâmica precisas das reações emocionais sejam moldadas em cada

indivíduo pelo meio e por um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das reações

emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes evolutivos. As emoções são parte dos

mecanismos biorreguladores com os quais nascemos, visando à sobrevivência. Foi por isso

que Darwin conseguiu catalogar as expressões emocionais de tantas espécies e encontrar

consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes culturas as emoções são tão

facilmente reconhecidas. É bem verdade que as expressões variam, assim como varia a

configuração exata dos estímulos que podem induzir uma emoção. Mas o que causa

admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa

semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o indutor pode bloquear o progresso de

uma emoção que já estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa tragédia

deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a suspensão de um estado

sistematicamente induzido de medo e compaixão.

Não precisamos ter consciência de uma emoção, com frequência não temos e somos

incapazes de controlar intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num estado de

tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia dos motivos responsáveis por esse estado

específico. Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém

frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento inconsciente de emoções

também explica por que não é fácil imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer

genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma região profunda do tronco

cerebral. A imitação voluntária feita por quem não é um ator exímio é facilmente detectada

como fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais,

quer no tom de voz.

(Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São

Paulo, Cia das letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)

As normas de concordância estão plenamente respeitadas na redação da seguinte frase:

a) Ainda que se admita que o aprendizado e a cultura alteram a expressão de uma emoção e

conferem-lhe novos significados, constata-se que as emoções dependem de mecanismos

cerebrais estabelecidos de modo inato.

b) O impacto integral e duradouro dos sentimentos requer a consciência, pois somente com

o advento de um sentido do “eu” tornam-se conhecidos os sentimentos pelo indivíduo que os

possuem.

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GM

c) As emoções são adaptações singulares que integram o mecanismo, especialmente das

espécies mais desenvolvidas, com os quais os organismos regulam sua sobrevivência.

d) Emoções de todas as gradações, como consequência de um poderoso mecanismo de

aprendizado de importância vital para a sobrevivência, torna-se inseparável de nossa ideia de

bem e de mal.

e) Não se pode observar o sentimento que um outro vivencia, mas alguns aspectos da emoção

que o originou é perfeitamente observável por outra pessoa.

Questão 65: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)

Os Beatles eram um mecanismo de criação. A força propulsora desse mecanismo era a

interação dialética de John Lennon e Paul McCartney. Dialética é diálogo, embate, discussão.

Mas também jogo permanente. Adição e contradição. Movimento e síntese. Dois

compositores igualmente geniais, mas com inclinações distintas. Dois líderes cheios de ideias

e talento. Um levando o outro a permanentemente se superar.As narrativas mais comuns da

trajetória dos Beatles levam a crer que a parceria Lennon e McCartney aconteceu apenas na

fase inicial do conjunto. Trata-se de um engano. Mesmo quando escreviam separados, John e

Paul o faziam um para o outro. Pensavam, sentiam e criavam obcecados com a presença (ou

ausência) do parceiro e rival.

Lennon era um purista musical, apegado a suas raízes. Quem embarcou na vanguarda musical

dos anos 60 foi Paul McCartney, um perfeccionista dado a experimentos e delírios

orquestrais. Em contrapartida, sem o olhar crítico de Lennon, sem sua verve, os mais

conhecidos padrões de McCartney teriam sofrido perdas poéticas. Lennon sabia reprimir o

banal e fomentar o sublime.

Como a dialética é uma via de mão dupla, também o lado suave de Lennon se nutria da

presença benfazeja de Paul. Gemas preciosas como Julia têm as impressões digitais do

parceiro, embora escritas na mais monástica solidão.

Nietzsche atribui caráter dionisíaco aos impulsos rebeldes, subjetivos, irracionais; forças do

transe, que questionam e subvertem a ordem vigente. Em contrapartida, designa como

apolíneas as tendências ordenadoras, objetivas, racionais, solares; forças do sonho e da

profecia, que promovem e aprimoram o ordenamento do mundo. Ao se unirem, tais forças

teriam criado, a seu ver, a mais nobre forma de arte que jamais existiu.

Como criadores, tanto o metódico Paul McCartney como o irrequieto John Lennon

expressavam à perfeição a dualidade proposta por Nietzsche. Lennon punha o mundo abaixo;

McCartney construía novos monumentos. Lennon abria mentes; McCartney aquecia

corações. Lennon trazia vigor e energia; McCartney impunha senso estético e coesão.

Quando os Beatles se separaram, essa magia se rompeu. John e Paul se tornaram

compositores com altos e baixos. Fizeram coisas boas. Mas raramente se aproximaram da

perfeição alcançada pelo quarteto. Sem a presença instigante de Lennon, Paul começou a

patinar em letras anódinas. Não se tornou um compositor ruim. Mas os Beatles faziam melhor.

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GM

Ironicamente, o grande disco dos ex-Beatles acabou sendo o álbum triplo em que George

Harrison deglutiu os antigos companheiros de banda, abrindo as comportas de sua produção

represada durante uma década à sombra de John e Paul. E foi assim, por estranhos caminhos

antropofágicos, que a dialética de Lennon e McCartney brilhou pela última vez.

(Adaptado de: DANTAS, Marcelo O. Revista Piauí. Disponível em:

http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/beatles. Acesso em: 20/02/16)

O elemento que justifica a flexão verbal da frase está sublinhado em:

a) Gemas preciosas como Julia têm as impressões digitais do parceiro...

b) ... também o lado suave de Lennon se nutria da presença benfazeja de Paul.

c) Em contrapartida, sem o olhar crítico de Lennon, sem sua verve, os mais conhecidos

padrões de McCartney teriam sofrido perdas poéticas.

d) A força propulsora desse mecanismo era a interação dialética de John Lennon e Paul

McCartney.

e) ... tais forças teriam criado, a seu ver, a mais nobre forma de arte...

Questão 66: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Pontuação

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

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GM

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

A pontuação está plenamente adequada na frase:

a) O cronista, diante da possibilidade de habitar uma ilha, enumera uma série de argumentos

que, a princípio, desqualificariam as supostas vantagens de um insulamento, mas, ao fim e ao

cabo, convence-se de que está na ilha a última chance de desfrutarmos nossa liberdade.

b) O cronista diante da possibilidade, de habitar uma ilha, enumera uma série de argumentos,

que a princípio desqualificariam as supostas vantagens de um insulamento, mas ao fim e ao

cabo, convence-se de que está na ilha a última chance de desfrutarmos nossa liberdade.

c) O cronista diante da possibilidade de habitar uma ilha enumera uma série de argumentos,

que a princípio, desqualificariam as supostas vantagens de um insulamento; mas ao fim e ao

cabo convence-se, de que está na ilha a última chance de desfrutarmos nossa liberdade.

d) O cronista, diante da possibilidade de habitar uma ilha enumera uma série de argumentos,

que a princípio, desqualificariam as supostas vantagens de um insulamento mas, ao fim e ao

cabo convence-se de que está na ilha, a última chance de desfrutarmos nossa liberdade.

e) O cronista, diante da possibilidade de habitar uma ilha enumera uma série de argumentos

que a princípio, desqualificariam as supostas vantagens de um insulamento; mas ao fim e ao

cabo, convence-se de que, está na ilha, a última chance de desfrutarmos nossa liberdade.

Questão 67: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Pontuação

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

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GM

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

Atente para as seguintes afirmações sobre a pontuação empregada em segmentos do texto.

I. ... o primeiro grande filme “falado” de monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua

temática através da estratégia mais “despojada” que se poderia conceber.

A retirada da vírgula colocada imediatamente depois de Hollywood redundaria em prejuízo

para a correção e o sentido original.

II. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da apresentação dos títulos), durante o

qual...

Os parênteses poderiam ser substituídos por travessões, sem prejuízo para a correção e a

lógica.

III. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um assunto

inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores.

A substituição do travessão por uma vírgula resultaria em prejuízo para a correção e a lógica.

Está correto o que se afirma em

a) I, apenas.

b) I e II, apenas.

c) II e III, apenas.

d) III, apenas.

e) I, II e III.

Questão 68: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Pontuação

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

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À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

O período em que a pontuação está inteiramente adequada é:

a) Tema dos mais polêmicos a clonagem divide opiniões, não apenas entre agnósticos e

religiosos como seria de se esperar mas, igualmente, entre os adeptos incondicionais da

ciência, e aqueles que mesmo não crendo, em Deus, acreditam haver limites que o homem não

deve ultrapassar.

b) Tema, dos mais polêmicos, a clonagem divide opiniões não apenas entre agnósticos e

religiosos, como seria de se esperar mas, igualmente, entre os adeptos incondicionais da

ciência e aqueles, que mesmo não crendo em Deus, acreditam haver limites que o homem não

deve ultrapassar.

c) Tema dos mais polêmicos a clonagem, divide opiniões não apenas entre agnósticos e

religiosos, como seria de se esperar, mas igualmente entre os adeptos, incondicionais da

ciência, e aqueles que mesmo não crendo em Deus acreditam haver limites, que o homem não

deve ultrapassar.

d) Tema dos mais polêmicos, a clonagem divide opiniões não apenas entre agnósticos e

religiosos, como seria de se esperar, mas igualmente entre os adeptos incondicionais da

ciência e aqueles que, mesmo não crendo em Deus, acreditam haver limites que o homem não

deve ultrapassar.

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GM

e) Tema dos mais polêmicos, a clonagem divide opiniões, não apenas entre agnósticos e

religiosos, como seria de se esperar, mas igualmente, entre os adeptos incondicionais da

ciência e aqueles que mesmo não crendo em Deus, acreditam haver limites, que o homem não

deve ultrapassar.

Questão 69: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Pontuação

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia.

A frase acima está corretamente pontuada, como também o está o seguinte enunciado:

a) Tido seu estudo como o mais perspicaz entre os inúmeros que a obra do arquiteto já

inspirou; foi agraciado com significativo prêmio em dinheiro e bela medalha comemorativa.

b) Como fotógrafo, sempre em simbiose com sua máquina, busca a focagem exata para

apreender o objeto que quer fixar, com isto que lhe parece fundamental; a imagem iluminada.

c) A segunda parte do projeto, já bastante adiantado é a que implica a construção de casas;

para famílias em situação de risco.

d) Em nosso tempo, o gosto musical não pode ter uma só medida; as composições são

inúmeras, os ritmos são os mais variados, o diálogo entre estilos é o mais apurado.

e) A discussão que tiveram foi motivada pela escolha da melhor funcionária a ser contratada,

a saber; a mais habilidosa no trato com idosos.

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GM

Questão 70: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Pontuação

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O arroz da raposa

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

Está inteiramente adequada a pontuação da frase:

a) Como já se disse, poeta é aquele que, ao aplicar-se conscientemente à difícil arte do

desaprender, passa a ver o mundo com olhar infantil, despido das camadas de preconceitos e

prejuízos que, quase sempre à nossa revelia, acumulamos ao longo da vida adulta.

b) Como, já se disse, poeta é aquele que ao aplicar-se conscientemente à difícil arte do

desaprender, passa a ver o mundo, com olhar infantil, despido das camadas de preconceitos e

prejuízos, que quase sempre à nossa revelia, acumulamos ao longo da vida adulta.

c) Como já se disse poeta é aquele, que ao aplicar-se conscientemente à difícil arte do

desaprender, passa a ver o mundo com olhar infantil despido das camadas de preconceitos e

prejuízos que, quase sempre à nossa revelia acumulamos, ao longo da vida adulta.

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GM

d) Como já se disse poeta, é aquele que ao aplicar-se conscientemente à difícil arte do

desaprender, passa a ver o mundo com olhar infantil despido das camadas de preconceitos, e

prejuízos, que quase sempre à nossa revelia acumulamos ao longo da vida adulta.

e) Como já se disse, poeta é aquele que ao aplicar-se, conscientemente, à difícil arte do

desaprender passa a ver, o mundo, com olhar infantil despido das camadas de preconceitos e

prejuízos que quase sempre, à nossa revelia, acumulamos ao longo da vida adulta.

Questão 71: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Pontuação

Atenção: Para responder à questão, considere o texto apresentado abaixo.

Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o

progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.

Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza

em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e,

em particular, das Nações Unidas.

A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo

aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam

sanções e uso da força.

A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos

individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da

constituição das Nações Unidas, em 1945.

Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a

paz internacional passou por várias etapas. Em meados da década de 90 surgiram vozes que,

motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional

permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade

de proteger".

A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base

em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no

Conselho de Segurança − órgão dotado de competência primordial e intransferível pela

manutenção da paz e da segurança internacionais.

O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança.

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral,

observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser

contemplado como último recurso.

Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito

internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos

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GM

direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência

de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das

circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força

militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

(Adaptado de Antonio de Aguiar Patriota. “Direitos humanos e ação diplomática”. Artigo

publicado na Folha de S. Paulo, em 01/09/2011, e disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/- ministro-estado-relacoes-exteriores/direitos-humanos-e-acaodiplomatica-

folha-de-s.paulo-01-09-2011).

Atente para as afirmações abaixo.

I. Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se

traduza em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do

multilateralismo e, em particular, das Nações Unidas. (2o parágrafo)

Na frase acima, uma vírgula poderia ser colocada imediatamente após sociedade, sem

prejuízo para a correção e o sentido.

II. O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança. (7o parágrafo)

As vírgulas que isolam o segmento em determinada situação específica podem ser

substituídas por travessões, sem prejuízo para a correção.

III. Em meados da década de 90 surgiram vozes que, motivadas pelo justo objetivo de impedir

que a inação da comunidade internacional permitisse episódios sangrentos como os da

Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade de proteger". (5o parágrafo)

Na frase acima, uma vírgula poderia ser colocada imediatamente após 90, sem prejuízo para

a correção e o sentido.

Está correto o que consta APENAS em

a) II.

b) I.

c) I e III.

d) II e III.

e) I e II.

Questão 72: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Pontuação

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GM

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Menino do mato

Eu queria usar palavras de ave para escrever.

Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.

Ali a gente brincava de brincar com palavras tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na

pedra!

A Mãe que ouvira a brincadeira falou:

Já vem você com suas visões!

Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis e nem há pedras de sacristias por aqui.

Isso é traquinagem da sua imaginação.

O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes.

O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de

ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça

aberta na solidão de uma pedra.

Eram novidades que os meninos criavam com as suas palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um sapo com olhar de árvore.

Então era preciso desver o mundo para sair daquele lugar imensamente e sem lado.

A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas pela inocência.

O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias para a gente bem entender a voz das

águas e dos caracóis.

A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias.

Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia.

(BARROS, Manoel de, Menino do Mato, em Poesia Completa, São Paulo, Leya, 2013, p. 417-

8.)

Em uma redação em prosa, para um segmento do poema, a pontuação se mantém correta em:

a) A Mãe, que tinha ouvido a brincadeira, falou: “Já vem você com suas visões!” Porque

formigas nem têm joelhos ajoelháveis, nem há pedras de sacristias por aqui: “Isso é

traquinagem da sua imaginação”.

b) A Mãe que tinha ouvido a brincadeira, falou: − Já vem você com suas visões! Porque

formigas nem têm joelhos ajoelháveis, nem há pedras de sacristias por aqui: − Isso é

traquinagem da sua imaginação.

c) A Mãe, que tinha ouvido a brincadeira falou: “Já vem você com suas visões!, porque

formigas, nem têm joelhos ajoelháveis, nem há pedras de sacristias por aqui. Isso é

traquinagem da sua imaginação”.

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GM

d) A Mãe que tinha ouvido a brincadeira, falou: “Já vem, você com suas visões!”; porque

formigas nem têm joelhos ajoelháveis e nem há pedras de sacristias por aqui. Isso é

traquinagem da sua imaginação.

e) A Mãe que, tinha ouvido a brincadeira, falou: “Já vem você com suas visões!” Porque

formigas, nem têm joelhos ajoelháveis, nem há pedras de sacristias por aqui. “Isso, é

traquinagem da sua imaginação”.

Questão 73: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Pontuação

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

Sem prejuízo para o sentido original e a correção gramatical,

a) uma vírgula pode ser inserida imediatamente após “revolucionários”, no segmento... o

governo americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key

West tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. (2o parágrafo)

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GM

b) o segmento ... que imigraram para os Estados Unidos... (3º parágrafo) pode ser isolado por

vírgulas.

c) uma vírgula pode ser inserida imediatamente após “leituras”, no segmento o material

dessas leituras em voz alta, decidido..., contanto que se suprima a vírgula colocada

imediatamente após “alta” (4º parágrafo).

d) a vírgula colocada imediatamente após os parênteses que isolam o segmento ... que

pagavam o “lector” do próprio salário (4º parágrafo), pode ser suprimida.

e) a vírgula colocada imediatamente após Céspedes, no segmento ... Carlos Manuel de

Céspedes, e duzentos homens mal armados... (1º parágrafo) pode ser suprimida.

Questão 74: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Pontuação

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

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GM

Quanto à pontuação, a frase inteiramente correta é:

a) Para Edward Said, a linguagem, é o terreno de onde partem os humanistas, uma vez que é

nela que se estabelecem, não apenas as relações de sentido, mas também o desafio de o leitor

divisar e compartilhar as escolhas produzidas pelo escritor.

b) Para Edward Said a linguagem é o terreno, de onde partem os humanistas, uma vez que é

nela que se estabelecem não apenas as relações de sentido mas, também, o desafio de o leitor

divisar, e compartilhar as escolhas produzidas pelo escritor.

c) Para Edward Said, a linguagem é o terreno de onde partem os humanistas, uma vez que é

nela que se estabelecem não apenas as relações de sentido, mas também o desafio de o leitor

divisar e compartilhar as escolhas produzidas pelo escritor.

d) Para Edward Said, a linguagem, é o terreno de onde partem os humanistas uma vez que, é

nela, que se estabelecem não apenas as relações de sentido, mas também o desafio de o leitor

divisar e compartilhar, as escolhas produzidas pelo escritor.

e) Para Edward Said, a linguagem é o terreno de onde partem os humanistas uma vez que é

nela, que se estabelecem não apenas as relações de sentido, mas também o desafio, de o leitor

divisar e compartilhar, as escolhas produzidas pelo escritor.

Questão 75: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Pontuação

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Antônio Vieira é, desde o século XVII, um modelo de nosso idioma, a ponto de Fernando

Pessoa, na Mensagem, chamá-lo de “Imperador da língua portuguesa”. Em uma de suas

principais obras, o Sermão da Sexagésima, ensina como deve ser o estilo de um texto:

“Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. Como hão de ser as

palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o

estilo da pregação, muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo

baixo; as estrelas são muito distintas, e muito claras e altíssimas. O estilo pode ser muito claro

e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que

entender nele os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura, e o

mareante para sua navegação, e o matemático para as suas observações e para os seus juízos.

De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler nem escrever, entendem as

estrelas, e o matemático que tem lido quantos escreveram não alcança a entender quanto

nelas há.”

Vieira mostra com as estrelas o que sejam a distinção e a clareza. Não são discordantes, como

muitos de nós pensamos: uma e outra concorrem para o mesmo fim. Nada mais adequado que,

ao tratar de tais virtudes do discurso, fizesse uso de comparação. Este procedimento

Quintiliano, no século II d.C., já considerava dos mais aptos para conferir clareza, uma vez que

estabelece similaridades entre algo já sabido pelo leitor e aquilo que se lhe quer elucidar. Aqui,

compara o bom discurso ao céu, que é de todos conhecido.

(Tales Ben Daud, inédito)

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GM

Quanto à pontuação, atente para as afirmações abaixo:

I. No segmento Não são discordantes, como muitos de nós pensamos: uma e outra

concorrem..., os dois-pontos introduzem uma oposição ao que vinha sendo dito na frase.

II. Mantendo-se a correção e, em linhas gerais, o sentido original, a vírgula imediatamente

após "disposição", em Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras,

não pode ser suprimida.

III. No segmento ... e o mareante para sua navegação... uma vírgula poderia ser acrescentada

imediatamente após “mareante”, uma vez que ali se subentende a expressão “acha

documentos”.

Está correto o que consta APENAS em

a) II.

b) II e III.

c) I e III.

d) I e II.

e) III.

Questão 76: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Pontuação

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

QUANDO A CRASE MUDA O SENTIDO

Muitos deixariam de ver a crase como bicho-papão se pensassem nela como uma ferramenta

para evitar ambiguidade nas frases.

Luiz Costa Pereira Junior

O emprego da crase costuma desconcertar muita gente. A ponto de ter gerado um balaio de

frases inflamadas ou espirituosas de uma turma renomada. O poeta Ferreira Gullar, por

exemplo, é autor da sentença “A crase não foi feita para humilhar ninguém”, marco da

tolerância gramatical ao acento gráfico. O escritor Moacyr Scliar discorda, em uma deliciosa

crônica “Tropeçando nos acentos”, e afirma que a crase foi feita, sim, para humilhar as

pessoas; e o humorista Millôr Fernandes, de forma irônica e jocosa, é taxativo: “ela não existe

no Brasil”.

O assunto é tão candente que, em 2005, o deputado João Herrmann Neto propôs abolir esse

acento do português do Brasil por meio do projeto de lei 5.154, pois o considerava “sinal

obsoleto, que o povo já fez morrer”. Bombardeado, na ocasião, por gramáticos e linguistas que

o acusavam de querer abolir um fato sintático como quem revoga a lei da gravidade,

Herrmann logo desistiu do projeto.

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GM

A grande utilidade do acento de crase no a, entretanto, que faz com que seja descabida a

proposta de sua extinção por decreto ou falta de uso, é: crase é, antes de mais nada, um

imperativo de clareza. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase − em outras, só o

contexto resolve o impasse. Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido de

uma frase, lembrados por Celso Pedro Luft no hoje clássico Decifrando a crase: cheirar a

gasolina X cheirar à gasolina; a moça correu as cortinas X a moça correu às cortinas; o homem

pinta a máquina X o homem pinta à máquina; referia-se a outra mulher X referia-se à outra

mulher.

O contexto até se encarregaria, diz o autor, de esclarecer a mensagem; um usuário do idioma

mais atento intui um acento necessário, garantido pelo contexto em que a mensagem se

insere. A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala, não tanto na escrita. Exemplos de dúvida

fonética, sugeridos por Francisco Platão Savioli: “A noite chegou”; “ela cheira a rosa”; “a polícia

recebeu a bala”. Sem o sinal diacrítico, construções como essas serão sempre ambíguas. Nesse

sentido, a crase pode ser antes um problema de leitura do que prioritariamente de escrita.

(Adaptado de: PEREIRA Jr., Luiz Costa. Revista Língua

portuguesa, ano 4, n. 48. São Paulo: Segmento, outubro de 2009. p. 36-38)

A melhor explicação para o uso da vírgula, na frase do último parágrafo “Nesse sentido, a crase

pode ser antes um problema de leitura do que prioritariamente de escrita”, é:

a) “As orações coordenadas aditivas ligadas pela conjunção e devem ser separadas por vírgula

se os sujeitos forem diferentes. Se o sujeito for o mesmo, não há o uso da vírgula, presume-

se”.

b) “As orações adverbiais, desenvolvidas ou reduzidas, podem iniciar o período, findá-lo ou

interpor-se na oração principal. Quase sempre aparecem separadas ou isoladas por vírgula”.

c) “O vocativo é um termo relacionado com a função fática da linguagem; como regra, isola-

se por vírgula”.

d) “A datação que se segue a nomes de documentos, periódicos, atos normativos, locais etc.,

como regra geral, separa-se ou isola-se por vírgula”.

e) “É comum vir isolado por vírgula o vocábulo ou expressão com valor retificativo ou

explanatório, embora, às vezes, possa aparecer sem esse sinal de pontuação”.

Questão 77: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Pontuação

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

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GM

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

Sem prejuízo para a correção e o sentido, pode-se acrescentar uma vírgula imediatamente

após o termo

a) "E", em E se o rompimento não foi universal...

b) "Mas", em Mas não é bom usar de qualquer recurso...

c) "e", em ... se assusta e foge logo

d) "Mas", em Mas foi com o samba que João Gilberto...

e) "Mas", em Mas como, Chico, mais um samba?

Questão 78: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Pontuação

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

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GM

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

Sem que se altere o sentido da frase, todas as vírgulas podem ser substituídas por travessão,

EXCETO em:

a) Não se trata de defender a tradição, família ou propriedade...

b) Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu amigo, um homem...

c) Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa...

d) ... como precipitada, entre nós, de que estaria morto...

e) Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz...

Questão 79: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Pontuação

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas e níveis de instrução têm

emoções, cultivam passatempos que manipulam as emoções, atentam para as emoções dos

outros, e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e

procurando evitar emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada

caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas criaturas não humanas têm

emoções em abundância; entretanto, existe algo acentuadamente característico no modo

como as emoções vincularam-se a ideias, valores, princípios e juízos complexos que só os

seres humanos podem ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma

música e por filmes banais cujo poder não devemos subestimar.

Embora a composição e a dinâmica precisas das reações emocionais sejam moldadas em cada

indivíduo pelo meio e por um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das reações

emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes evolutivos. As emoções são parte dos

mecanismos biorreguladores com os quais nascemos, visando à sobrevivência. Foi por isso

que Darwin conseguiu catalogar as expressões emocionais de tantas espécies e encontrar

consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes culturas as emoções são tão

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GM

facilmente reconhecidas. É bem verdade que as expressões variam, assim como varia a

configuração exata dos estímulos que podem induzir uma emoção. Mas o que causa

admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa

semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o indutor pode bloquear o progresso de

uma emoção que já estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa tragédia

deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a suspensão de um estado

sistematicamente induzido de medo e compaixão.

Não precisamos ter consciência de uma emoção, com frequência não temos e somos

incapazes de controlar intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num estado de

tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia dos motivos responsáveis por esse estado

específico. Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém

frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento inconsciente de emoções

também explica por que não é fácil imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer

genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma região profunda do tronco

cerebral. A imitação voluntária feita por quem não é um ator exímio é facilmente detectada

como fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais,

quer no tom de voz.

(Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São

Paulo, Cia das letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)

O acréscimo de uma ou mais vírgulas no segmento original resultou em alteração de sentido

em:

I. ... e, em grande medida, governam suas vidas...

II. ... cultivam passatempos, que manipulam as emoções...

III. ... porém, frequentemente, não se consegue ter certeza.

Atende ao enunciado APENAS o que consta em

a) II e III.

b) I e II.

c) II.

d) I e III.

e) III.

Questão 80: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

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GM

Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se

poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu

engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas

que, de qualquer modo, é resultado de viver.

Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as

ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas ideias.

São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-

se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou

surpreendente.

C.D.A.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 3)

...admitindo-se que elas tenham um avesso...

Respeitando a situação em que foi empregada a frase acima, a ÚNICA reformulação

INCORRETA para o segmento destacado é:

a) no caso de se admitir que.

b) caso se admita que.

c) tomando-se como pressuposto que.

d) visto que é patente que.

e) aceitando como hipótese que.

Questão 81: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

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GM

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

Articulam-se como uma causa e seu efeito, respectivamente, os seguintes elementos:

a) É do esquecimento que vem o tempo lento / Estava na rota do café

b) a cidade fervia de agitação / foi lançada para fora das rotas econômicas

c) estrada de ferro criada por D. Pedro / Um caminho de pedra cortava a floresta

d) A cidade volta a conviver com o presente / o asfalto da BR-101

e) Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado / sem apagar as pegadas

Questão 82: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

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GM

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

Atente para estas frases, do 5o parágrafo do texto:

I. Não podemos contar com a sorte.

II. Daqui para frente, preservar é suor.

Para articulá-las de modo a preservar o sentido do contexto, será adequado uni-las por

intermédio deste elemento:

a) no entanto.

b) ainda assim.

c) haja vista que.

d) muito embora.

e) por conseguinte.

Questão 83: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

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GM

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

Victor fracassou porque cedeu a uma predisposição da natureza humana...

O elemento grifado na frase acima tem o mesmo sentido de:

a) ainda que.

b) conquanto.

c) enquanto.

d) embora.

e) uma vez que.

Questão 84: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

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92

GM

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

... uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

No contexto da frase acima, é correto dizer que o segmento grifado possui sentido de

a) consequência.

b) finalidade.

c) concessão.

d) proporção.

e) condição.

Questão 85: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

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GM

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

Alguns dados biográficos são necessários para se entender essas cartas [...].

Na frase acima, a expressão para se entender

a) equivale a uma outra construção, em que se emprega o subjuntivo.

b) exprime um fato improvável.

c) exemplifica o uso de para com sentido adversativo, como em "Não fez o suficiente para a

promoção".

d) equivale à forma correta "afim de se entender".

e) equivale à forma correta "à se entender".

Questão 86: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

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GM

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

a) O emprego de Mas sinaliza que, a despeito do que poderia ser considerado positivo, há algo

que pode ser tomado como danoso à tarefa realizada, produzindo, assim, efeitos negativos.

b) O segmento há nisso tudo um detalhe intrigante exprime julgamento contemporâneo

acerca do conjunto da obra de Immanuel Kant.

c) A forma verbal saíra está empregada com valor de pretérito imperfeito do indicativo,

exprimindo fato costumeiro.

d) Os parênteses indicam que a informação neles acolhida é considerada irrelevante pelo

autor.

e) A última frase equivale, em formulação igualmente correta, a "Não sendo este um fato que

se leve em conta, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-comuns".

Questão 87: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

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95

GM

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

Considerando o modo como estão articuladas as ideias no texto, o segmento que se constitui

como conclusão é:

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96

GM

a) (linha 3) há nisso tudo um detalhe intrigante.

b) (linhas 5 e 6) a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara.

c) (linhas 8 e 9) seu valor seria muito frágil.

d) (linha 10) outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

e) (linha 12) o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que acabou por

levar o aiatolá Khomeini ao poder.

Questão 88: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Page 97: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

97

GM

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

No texto,

a) (linha 8) o pronome eu foi empregado em circunstância que o torna expressão exclusiva da

pessoa do autor, sem possibilidade de ser extensivo a outro ser.

b) (linha 8) o pronome seu (seu valor) remete a um contexto.

c) (linha 10) a expressão do mundo pode ser substituída por "mundiais" sem prejuízo do

sentido original.

d) (linhas 10 e 11) que forçam o pensamento a se reorientar equivale a "que forçam a

reorientação do pensamento", formulação também em concordância com o padrão culto

escrito.

e) (linha 11) o pronome tais (tais acontecimentos) remete direta e exclusivamente aos

acontecimentos relacionados ao Irã, posteriormente citados.

Questão 89: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Page 98: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

98

GM

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

No raciocínio desenvolvido na frase em que está inserido, o segmento que é tomado como

pressuposto é:

a) (linha 10) "Há muitos acontecimentos do mundo".

b) (linha 16) Se a força da ideia [...] pode nos cegar.

c) (linha 18) Entre estes dois polos.

d) (linhas 18 e 19) Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano".

e) (linha 21) Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da indecisão.

Questão 90: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

(Obs.: "Departamento", palavra encontrada na citação feita no excerto, corresponde a uma

divisão administrativa do território francês.)

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99

GM

"Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo do Estado francês,

passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa. A tese do autor

é que a hipertrofia da capital francesa impedia o desenvolvimento das demais regiões e

cidades do território nacional. Herança histórica de diferentes regimes políticos, o

centralismo se traduz através da concentração do poder político, administrativo, econômico

e cultural na capital francesa, em detrimento da Province1. Podemos situar uma primeira fase

do centralismo de Estado, em que a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado)

foi concretizada, sob o regime de monarquia absolutista de Luís XVI, no século XVII. No

entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791. Este princípio

foi aplicado até a mudança para o regime republicano, formando a República "una e

indivisível" nas diversas Constituições do Estado francês até hoje. A solidificação institucional

e administrativa desse princípio, que garante a abrangência e a eficiência do poder executivo

central, foi realizada por Napoleão I, enquanto Primeiro Cônsul (eleito), e na segunda fase da

sua permanência no poder, enquanto Imperador. A organização institucional e administrativa

do Estado francês é, em grande parte, oriunda desta época.

A Constituição do 22 frimaire na VIII mantém o departamento, mas sua administração é

profundamente modificada. A lei do 28 pluviôse na VIII (17 de fevereiro de 1800) institui os

préfets2, nomeados e revocados pelo Primeiro Cônsul, em seguida pelo Imperador.

Encarregados da administração, os préfets são o órgão executivo único do departamento.

Designam os prefeitos e os ajudantes dos municípios de menos de 5000 habitantes e

propõem ao Primeiro Cônsul, e em seguida ao Imperador, a nomeação dos outros prefeitos.

(...) Constituem a chave-mestra de um Estado centralizado que vê o seu resultado sob o

Império.

1 Province é um termo genérico que designa todo o território que não é Paris.

2 A palavra préfet não pode ser traduzida por prefeito, pois não representa o mesmo cargo.

Os préfets, mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, ainda existem

atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a lei de descentralização de

1982.

(Adaptado de Antoinette Kuijlaars. "A política por detrás da técnica: o processo de

recentralização na organização da assistência social na França". In: Estudos de Sociologia no

29: Revista Semestral do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em

Sociologia. UNESP − Araraquara, 2 sem. de 2010, p.491-492)

No entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791.

Levando em conta o acima transcrito, é correto afirmar:

a) A locução No entanto indica não somente contraposição ao enunciado anterior, mas a

eliminação dele.

b) A substituição de em que por "na qual" preserva o sentido original e é legitimada pelo

padrão culto escrito.

c) A presença da palavra durante sinaliza que a forma verbal mais adequada à frase seria "foi

sendo dado".

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100

GM

d) Na designação de 1791, a forma correta é "um mil, setecentos, noventa e um".

e) Em o princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791, o

segmento grifado constitui o agente da ação expressa pela forma verbal.

Questão 91: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

(Obs.: "Departamento", palavra encontrada na citação feita no excerto, corresponde a uma

divisão administrativa do território francês.)

"Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo do Estado francês,

passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa. A tese do autor

é que a hipertrofia da capital francesa impedia o desenvolvimento das demais regiões e

cidades do território nacional. Herança histórica de diferentes regimes políticos, o

centralismo se traduz através da concentração do poder político, administrativo, econômico

e cultural na capital francesa, em detrimento da Province1. Podemos situar uma primeira fase

do centralismo de Estado, em que a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado)

foi concretizada, sob o regime de monarquia absolutista de Luís XVI, no século XVII. No

entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791. Este princípio

foi aplicado até a mudança para o regime republicano, formando a República "una e

indivisível" nas diversas Constituições do Estado francês até hoje. A solidificação institucional

e administrativa desse princípio, que garante a abrangência e a eficiência do poder executivo

central, foi realizada por Napoleão I, enquanto Primeiro Cônsul (eleito), e na segunda fase da

sua permanência no poder, enquanto Imperador. A organização institucional e administrativa

do Estado francês é, em grande parte, oriunda desta época.

A Constituição do 22 frimaire na VIII mantém o departamento, mas sua administração é

profundamente modificada. A lei do 28 pluviôse na VIII (17 de fevereiro de 1800) institui os

préfets2, nomeados e revocados pelo Primeiro Cônsul, em seguida pelo Imperador.

Encarregados da administração, os préfets são o órgão executivo único do departamento.

Designam os prefeitos e os ajudantes dos municípios de menos de 5000 habitantes e

propõem ao Primeiro Cônsul, e em seguida ao Imperador, a nomeação dos outros prefeitos.

(...) Constituem a chave-mestra de um Estado centralizado que vê o seu resultado sob o

Império.

1 Province é um termo genérico que designa todo o território que não é Paris.

2 A palavra préfet não pode ser traduzida por prefeito, pois não representa o mesmo cargo.

Os préfets, mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, ainda existem

atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a lei de descentralização de

1982.

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101

GM

(Adaptado de Antoinette Kuijlaars. "A política por detrás da técnica: o processo de

recentralização na organização da assistência social na França". In: Estudos de Sociologia no

29: Revista Semestral do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em

Sociologia. UNESP − Araraquara, 2 sem. de 2010, p.491-492)

Considerem-se o trecho do documento que trata da Constituição e as notas de rodapé.

I. Tendo em conta o que o elemento de composição re− pode significar na língua portuguesa,

entende-se que os encarregados da administração do departamento tanto podiam ser

nomeados mais de uma vez, como podiam ter sua nomeação anulada pelo Primeiro Cônsul e,

posteriormente, pelo Imperador.

II. O segmento mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos exprime

verdade que não impede a verdade expressa em ainda existem atualmente.

III. Em mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, a forma verbal, que

é exigida pelo emprego de mesmo que, expressa fato considerado como certeza,

diferentemente do que o subjuntivo poderia expressar.

Está correto o que se afirma em

a) I, II e III.

b) I e II, apenas.

c) II e III, apenas.

d) II, apenas.

e) I, apenas.

Questão 92: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O arroz da raposa

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

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102

GM

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

Não teria graça se só melhorasse.

O elemento grifado na frase acima pode ser corretamente substituído por:

a) conquanto.

b) porquanto.

c) caso.

d) pois.

e) embora.

Questão 93: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A dor, juntamente com a morte, é sem dúvida a experiência humana mais bem repartida:

nenhum privilegiado reivindica ignorância em relação a ela ou se vangloria de conhecê-la

melhor que qualquer outro. Violência nascida no próprio âmago do indivíduo, ela dilacera sua

presença e o esgota, dissolve-o no abismo que nele se abriu, esmaga-o no sentimento de um

imediato sem nenhuma perspectiva. Rompe-se a evidência da relação do indivíduo consigo e

com o mundo.

A dor quebra a unidade vivida do homem, transparente para si mesmo enquanto goza de boa

saúde, confiante em seus recursos, esquecido do enraizamento físico de sua existência, desde

que nenhum obstáculo se interponha entre seus projetos e o mundo. De fato, na vida

cotidiana o corpo se faz invisível, flexível; sua espessura é apagada pelas ritualidades sociais

e pela repetição incansável de situações próximas umas das outras. Aliás, esse ocultar o corpo

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103

GM

da atenção do indivíduo leva René Leriche a definir a saúde como “a vida no silêncio dos

órgãos”. Georges Canguilhem acrescenta que ela é um estado de “inconsciência em que o

sujeito é de seu corpo”.

(Adaptado de: BRETON, David Le. Antropologia da Dor, São Paulo, Editora Fap-Unifesp,

2013, p. 25-6)

Os pronomes grifados nos segmentos ... enraizamento físico de sua existência, ... sua

espessura é apagada... e ... ela é um estado de inconsciência... (2o parágrafo) referem-se,

respectivamente, a:

a) enraizamento físico, corpo e atenção do indivíduo.

b) homem, corpo e saúde.

c) dor, vida cotidiana e saúde.

d) enraizamento físico, corpo e vida no silêncio.

e) homem, vida cotidiana e saúde.

Questão 94: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Um programa a ser adotado

O PET − Programa de Educação pelo Trabalho − está fazendo dez anos, que serão

comemorados num evento promovido pelo TRF4, que contará com representantes da Fase −

Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul.

Há dez anos seria difícil imaginar um interno da Fase em cumprimento de medida

socioeducativa saindo para trabalhar em um tribunal e, no final do dia, retornar à fundação.

Muitos desacreditariam da iniciativa de colocar um adolescente infrator dentro de um

gabinete de desembargador ou da Presidência de um tribunal. Outros poderiam discriminar

esses jovens e desejá-los longe do ambiente de trabalho.

Todas essas barreiras foram vencidas. Em uma década, o PET do TRF4 se tornou realidade,

quebrou preconceitos, mudou a cultura da própria instituição e a vida de 154 adolescentes

que já passaram pelo projeto. São atendidos jovens entre 16 e 21 anos, com escolaridade

mínima da 4ª série do ensino fundamental. O tribunal enfrenta o desafio de criar, desenvolver

e, principalmente, manter um programa de reinserção social. Os resultados do trabalho do

PET com os menores que cumprem medida socioeducativa na Fase são considerados muito

positivos quando se fala de jovens em situação de vulnerabilidade social. Durante esses dez

anos, 45% dos participantes foram inseridos no mercado de trabalho e muitos já concluíram

o ensino médio; cerca de 70% reorganizaram suas vidas e conseguiram superar a condição de

envolvimento em atividades ilícitas.

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104

GM

Na prática, os jovens trabalham durante 4 horas nos gabinetes de desembargadores e nas

unidades administrativas do tribunal. Recebem atendimento multidisciplinar, com

acompanhamento jurídico, de psicólogos e de assistentes sociais. Por meio de parcerias com

entidades, já foram realizados cursos de mecânica, de padaria e de garçom. Destaque a

considerar é o projeto “Virando a página”: oficinas de leitura e produção textual, coordenadas

por servidores do TRF4 e professores e formandos de faculdades de Letras.

(Adaptado de: wttp://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php? acao=

noticia_visualizar&id_noticia=10129)

O PET já se revelou um programa de sucesso, todos reconhecem os serviços do PET, graças a

esses serviços do PET os menores infratores alcançam rápida inserção social, razão pela qual

muitos tributam ao PET uma plena gratidão.

Evitam-se as viciosas repetições do texto acima substituindo-se o s elementos sublinhados,

na ordem dada, por:

a) lhe reconhecem os serviços − aos quais − lhe tributam

b) o reconhecem seus serviços − a cujos − lhe tributam

c) lhe reconhecem os serviços − a quem − tributam-no

d) reconhecem-lhe os serviços − a estes − o tributam

e) reconhecem-nos os serviços − a eles − tributam-lhe

Questão 95: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Ao cabo de uma palestra, perguntaram-me se concordo com a tese de que só é possível

filosofar em alemão. Não foi a primeira vez. Essa questão se popularizou a partir de versos da

canção “Língua”, de Caetano Veloso (“Está provado que só é possível filosofar em alemão”).

Ocorre que os versos que se encontram no interior de uma canção não estão necessariamente

afirmando aquilo que afirmariam fora do poema. O verso em questão possui carga irônica e

provocativa: tanto mais quanto a afirmação é geralmente atribuída a Heidegger, filósofo cujo

tema precípuo é o ser. Ora, logo no início de “Língua”, um verso (“Gosto de ser e de estar”)

explora um privilégio poético-filosófico da língua portuguesa, que é a distinção entre ser e

estar: privilégio não compartilhado pela língua alemã. Mas consideremos a tese de Heidegger.

Para ele, a língua do pensamento por excelência é a alemã. Essa pretensão tem uma história.

Os pensadores românticos da Alemanha inventaram a superioridade filosófica do seu idioma

porque foram assombrados pela presunção, que lhes era opressiva, da superioridade do latim

e do francês.

O latim foi a língua da filosofia e da ciência na Europa desde o Império Romano até a segunda

metade do século XVIII, enquanto o alemão era considerado uma língua bárbara. Entre os

séculos XVII e XVIII, a França dominou culturalmente a Europa. Paris foi a nova Roma e o

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105

GM

francês o novo latim. Não admira que os intelectuais alemães − de origem burguesa − tenham

reagido violentamente contra o culto que a aristocracia do seu país dedicava a tudo o que era

francês e o concomitante desprezo que reservava a tudo o que era alemão. Para eles, já que a

França se portava como a herdeira de Roma, a Alemanha se identificaria com a Grécia. Se o

léxico francês era descendente do latino, a morfologia e a sintaxe alemãs teriam afinidades

com as gregas. Se modernamente o francês posava de língua da civilização universal, é que

eram superficiais a civilização e a universalidade; o alemão seria, ao contrário, a língua da

particularidade germânica: autêntica, profunda, e o equivalente moderno do grego.

Levando isso em conta, estranha-se menos o fato de que Heidegger tenha sido capaz de

querer crer que a superficialidade que atribui ao pensamento ocidental moderno tenha

começado com a tradução dos termos filosóficos gregos para o latim; ou de afirmar que os

franceses só consigam começar a pensar quando aprendem alemão.

Estranho é que haja franceses ou brasileiros que acreditem nesses mitos germânicos, quando

falam idiomas derivados da língua latina, cujo vocabulário é rico de 2000 anos de filosofia, e

que tinha − ela sim − enorme afinidade com a língua grega.

(CICERO, A. A filosofia e a língua alemã. In: F. de São Paulo.

Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustradi/fq0505200726. htm. Acesso em:

08/06/2014)

De acordo com o contexto, o elemento que introduz uma oração em que se restringe o sentido

do antecedente está grifado em:

a) ... ou de afirmar que os franceses só consigam... (4º parágrafo)

b) ... pela presunção, que lhes era opressiva, da superioridade do latim e do francês. (2º

parágrafo)

c) ... já que a França se portava como a herdeira de Roma... (3º parágrafo)

d) um privilégio (...), que é a distinção entre ser e estar... (2º parágrafo)

e) ... os versos que se encontram no interior de uma canção... (2º parágrafo)

Questão 96: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Antônio Vieira é, desde o século XVII, um modelo de nosso idioma, a ponto de Fernando

Pessoa, na Mensagem, chamá-lo de “Imperador da língua portuguesa”. Em uma de suas

principais obras, o Sermão da Sexagésima, ensina como deve ser o estilo de um texto:

“Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. Como hão de ser as

palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o

estilo da pregação, muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo

baixo; as estrelas são muito distintas, e muito claras e altíssimas. O estilo pode ser muito claro

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GM

e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que

entender nele os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura, e o

mareante para sua navegação, e o matemático para as suas observações e para os seus juízos.

De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler nem escrever, entendem as

estrelas, e o matemático que tem lido quantos escreveram não alcança a entender quanto

nelas há.”

Vieira mostra com as estrelas o que sejam a distinção e a clareza. Não são discordantes, como

muitos de nós pensamos: uma e outra concorrem para o mesmo fim. Nada mais adequado que,

ao tratar de tais virtudes do discurso, fizesse uso de comparação. Este procedimento

Quintiliano, no século II d.C., já considerava dos mais aptos para conferir clareza, uma vez que

estabelece similaridades entre algo já sabido pelo leitor e aquilo que se lhe quer elucidar. Aqui,

compara o bom discurso ao céu, que é de todos conhecido.

(Tales Ben Daud, inédito)

O nexo lógico entre as orações da primeira frase do texto é semelhante ao que ocorre em:

a) Nada mais adequado que (...) fizesse uso de comparação. (3º parágrafo)

b) ... já considerava dos mais aptos para conferir clareza... (3º parágrafo)

c) Aqui, compara o bom discurso ao céu, que é de todos conhecido. (3º parágrafo)

d) ... tão alto que tenham muito que entender nele... (2º parágrafo)

e) E nem por isso temais que pareça o estilo baixo... (2º parágrafo)

Questão 97: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Antônio Vieira é, desde o século XVII, um modelo de nosso idioma, a ponto de Fernando

Pessoa, na Mensagem, chamá-lo de “Imperador da língua portuguesa”. Em uma de suas

principais obras, o Sermão da Sexagésima, ensina como deve ser o estilo de um texto:

“Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. Como hão de ser as

palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o

estilo da pregação, muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo

baixo; as estrelas são muito distintas, e muito claras e altíssimas. O estilo pode ser muito claro

e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que

entender nele os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura, e o

mareante para sua navegação, e o matemático para as suas observações e para os seus juízos.

De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler nem escrever, entendem as

estrelas, e o matemático que tem lido quantos escreveram não alcança a entender quanto

nelas há.”

Vieira mostra com as estrelas o que sejam a distinção e a clareza. Não são discordantes, como

muitos de nós pensamos: uma e outra concorrem para o mesmo fim. Nada mais adequado que,

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GM

ao tratar de tais virtudes do discurso, fizesse uso de comparação. Este procedimento

Quintiliano, no século II d.C., já considerava dos mais aptos para conferir clareza, uma vez que

estabelece similaridades entre algo já sabido pelo leitor e aquilo que se lhe quer elucidar. Aqui,

compara o bom discurso ao céu, que é de todos conhecido.

(Tales Ben Daud, inédito)

... chamá-lo de “Imperador da língua portuguesa” (1º parágrafo)

... tão claro que o entendam os que não sabem... (2º parágrafo)

... tão alto que tenham muito que entender nele os que sabem (2º parágrafo)

Nos segmentos acima, os pronomes sublinhados referem-se, respectivamente, a:

a) Antônio Vieira - estilo - muito

b) Fernando Pessoa - estilo - os que sabem

c) imperador - céu - muito

d) Antônio Vieira - céu - estilo

e) imperador - estilo - os que sabem

Questão 98: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

DEPOIMENTO

Fernando Morais (jornalista)

O que mais me surpreendia, na Ouro Preto da infância, não era o ouro dos altares das igrejas.

Nem o casario português recortado contra a montanha. Isso eu tinha de sobra na minha

própria cidade, Mariana, a uma légua dali. O espantoso em Ouro Preto era o grande Hotel−

um prédio limpo, reto, liso, um monólito branco que contrastava com o barroco sem violentá-

lo. Era “o Hotel do Niemeyer”, diziam. Deslumbrado com a construção, eu acreditava que seu

criador (que supunha chamar-se “Nei Maia”) fosse mineiro − um marianense, quem sabe?

A suspeita aumentou quando, ainda de calças curtas, mudei-me para Belo Horizonte. Era

tanto Niemeyer que ele só podia mesmo ser mineiro. No bairro de Santo Antônio ficava o

Colégio Estadual (a caixa d’água era o lápis, o prédio das classes tinha a forma de uma régua,

o auditório era um mataborrão). Numa das pontas da vetusta Praça da Liberdade, Niemeyer

fez pousar suavemente uma escultura de vinte andares de discos brancos superpostos, um

edifício de apartamentos cujo nome não me vem à memória. E, claro, tinha a Pampulha: o

cassino, a casa do baile, mas principalmente a igreja.

Com o tempo cresceram as calças e a barba, e saí batendo perna pelo mundo. E não parei de

ver Niemeyer. Vi na França, na Itália, em Israel, na Argélia, nos Estados Unidos, na Alemanha.

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108

GM

Tanto Niemeyer espalhado pelo planeta aumentou minha confusão sobre sua verdadeira

origem. E hoje, quase meio século depois do alumbramento produzido pela visão do “Hotel do

Nei Maia”, continuo sem saber onde ele nasceu. Mesmo tendo visto um papel que prova que

foi na Rua Passos Manuel número 26, no Rio de Janeiro, estou convencido de que lá pode ter

nascido o corpo dele. A alma de Oscar Niemeyer, não tenham dúvidas, é mineira.

(Adaptado de: MORAIS, Fernando. Depoimento. In: SCHARLACH,

Cecília (coord.). Niemeyer 90 anos: poemas testemunhos cartas. São Paulo: Fundação

Memorial da América Latina, 1998. p. 29)

O sentido das palavras surpreendia e espantoso (ambas do primeiro parágrafo) é

posteriormente retomado no texto pela palavra:

a) suspeita.

b) vetusta.

c) suavemente.

d) memória.

e) alumbramento.

Questão 99: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

DEPOIMENTO

Fernando Morais (jornalista)

O que mais me surpreendia, na Ouro Preto da infância, não era o ouro dos altares das igrejas.

Nem o casario português recortado contra a montanha. Isso eu tinha de sobra na minha

própria cidade, Mariana, a uma légua dali. O espantoso em Ouro Preto era o grande Hotel −

um prédio limpo, reto, liso, um monólito branco que contrastava com o barroco sem violentá-

lo. Era “o Hotel do Niemeyer”, diziam. Deslumbrado com a construção, eu acreditava que seu

criador (que supunha chamar-se “Nei Maia”) fosse mineiro − um marianense, quem sabe?

A suspeita aumentou quando, ainda de calças curtas, mudei-me para Belo Horizonte. Era

tanto Niemeyer que ele só podia mesmo ser mineiro. No bairro de Santo Antônio ficava o

Colégio Estadual (a caixa d’água era o lápis, o prédio das classes tinha a forma de uma régua,

o auditório era um mataborrão). Numa das pontas da vetusta Praça da Liberdade, Niemeyer

fez pousar suavemente uma escultura de vinte andares de discos brancos superpostos, um

edifício de apartamentos cujo nome não me vem à memória. E, claro, tinha a Pampulha: o

cassino, a casa do baile, mas principalmente a igreja.

Com o tempo cresceram as calças e a barba, e saí batendo perna pelo mundo. E não parei de

ver Niemeyer. Vi na França, na Itália, em Israel, na Argélia, nos Estados Unidos, na Alemanha.

Tanto Niemeyer espalhado pelo planeta aumentou minha confusão sobre sua verdadeira

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109

GM

origem. E hoje, quase meio século depois do alumbramento produzido pela visão do “HOTEL

do Nei Maia”, continuo sem saber onde ele nasceu. Mesmo tendo visto um papel que prova

que foi na Rua Passos Manuel número 26, no Rio de Janeiro, estou convencido de que lá pode

ter nascido o corpo dele. A alma de Oscar Niemeyer, não tenham dúvidas, é mineira.

(Adaptado de: MORAIS, Fernando. Depoimento. In: SCHARLACH,

Cecília (coord.). Niemeyer 90 anos: poemas testemunhos cartas. São Paulo: Fundação

Memorial da América Latina, 1998. p. 29)

No contexto do texto, o autor utiliza os pronomes seu (no primeiro parágrafo) e sua (no

último) para se referir, respectivamente, a:

a) Nei Maia e Oscar Niemeyer.

b) GRANDE HOTEL e Oscar Niemeyer.

c) Ouro Preto e HOTEL do Nei Maia.

d) Mariana e Rua Passos Manuel.

e) Hotel do Niemeyer e Rio de Janeiro.

Questão 100: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos, Conjunções

etc)

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

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110

GM

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

As plantações de bananeiras que a cobrem...

... com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas...

... que sai de um enorme lótus castanho e rosado...

Os pronomes sublinhados referem-se respectivamente a:

a) bruma − seiva − mão

b) planície − troncos − mão

c) planície − troncos − dedos

d) Terra − seiva − mão

e) bruma − troncos − dedos

Questão 101: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Semântica

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

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111

GM

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:

a) pondo-me a coberto de (1o parágrafo) = recobrindo-me com

b) estouvada confraternização (1o parágrafo) = insensível comunhão

c) se alcançaria tal mercê (2o parágrafo) = se granjearia essa graça

d) crítica severa e indiscriminada (3o parágrafo) = análise séria e circunstanciada

e) acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas (3o parágrafo) = induzem as exemplares

mortalidades

Questão 102: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Semântica

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O arroz da raposa

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

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112

GM

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

O segmento cujo sentido está adequadamente expresso em outras palavras é:

a) sobretudo do que pretendo dizer = mormente do que tenciono exprimir

b) a frase é bastante surrealista = a oração é um tanto quanto pictórica

c) O risco de piorar é fundamental = A possibilidade de onerar é insofismável

d) tentei uma série de anagramas = busquei diferentes antíteses

e) virava a palavra pelo avesso = trocava o vocábulo de lugar

Questão 103: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Semântica

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A dor, juntamente com a morte, é sem dúvida a experiência humana mais bem repartida:

nenhum privilegiado reivindica ignorância em relação a ela ou se vangloria de conhecê-la

melhor que qualquer outro. Violência nascida no próprio âmago do indivíduo, ela dilacera sua

presença e o esgota, dissolve-o no abismo que nele se abriu, esmaga-o no sentimento de um

imediato sem nenhuma perspectiva. Rompe-se a evidência da relação do indivíduo consigo e

com o mundo.

A dor quebra a unidade vivida do homem, transparente para si mesmo enquanto goza de boa

saúde, confiante em seus recursos, esquecido do enraizamento físico de sua existência, desde

que nenhum obstáculo se interponha entre seus projetos e o mundo. De fato, na vida

cotidiana o corpo se faz invisível, flexível; sua espessura é apagada pelas ritualidades sociais

e pela repetição incansável de situações próximas umas das outras. Aliás, esse ocultar o corpo

da atenção do indivíduo leva René Leriche a definir a saúde como “a vida no silêncio dos

órgãos”. Georges Canguilhem acrescenta que ela é um estado de “inconsciência em que o

sujeito é de seu corpo”.

(Adaptado de: BRETON, David Le. Antropologia da Dor, São Paulo, Editora Fap-Unifesp,

2013, p. 25-6)

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GM

... esse ocultar o corpo da atenção do indivíduo...

... definir a saúde como “a vida no silêncio dos órgãos”.

(final do texto)

Os segmentos acima expressam, respectivamente,

a) consequência e finalidade.

b) condição e necessidade.

c) consequência e condição.

d) causa e finalidade.

e) causa e decorrência.

Questão 104: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Semântica

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Page 114: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

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GM

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

Em relação à primeira parte da frase, o segmento ... orientam São Paulo e o seu porto de Santos

para o café expressa:

a) finalidade.

b) causa.

c) decorrência.

d) conformidade.

e) proporcionalidade.

Questão 105: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Semântica

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

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GM

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

A oração ... de tal modo se sucedem em espiral...:

a) expressa a consequência da oração precedente, além de introduzir matiz de intensidade.

b) além de introduzir a causa da oração anterior, expressa certo grau de intensidade.

c) além de introduzir complemento de modo ou instrumento, expressa uma consequência.

d) expressa condição, aliada a certo grau de proporcionalidade.

e) expressa concessão, resultante de uma relação de proporcionalidade.

Questão 106: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Semântica

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas e níveis de instrução têm

emoções, cultivam passatempos que manipulam as emoções, atentam para as emoções dos

outros, e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e

procurando evitar emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada

caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas criaturas não humanas têm

emoções em abundância; entretanto, existe algo acentuadamente característico no modo

como as emoções vincularam-se a ideias, valores, princípios e juízos complexos que só os

seres humanos podem ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma

música e por filmes banais cujo poder não devemos subestimar.

Embora a composição e a dinâmica precisas das reações emocionais sejam moldadas em cada

indivíduo pelo meio e por um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das reações

emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes evolutivos. As emoções são parte dos

mecanismos biorreguladores com os quais nascemos, visando à sobrevivência. Foi por isso

que Darwin conseguiu catalogar as expressões emocionais de tantas espécies e encontrar

consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes culturas as emoções são tão

facilmente reconhecidas. É bem verdade que as expressões variam, assim como varia a

configuração exata dos estímulos que podem induzir uma emoção. Mas o que causa

admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa

semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o indutor pode bloquear o progresso de

uma emoção que já estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa tragédia

deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a suspensão de um estado

sistematicamente induzido de medo e compaixão.

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GM

Não precisamos ter consciência de uma emoção, com frequência não temos e somos

incapazes de controlar intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num estado de

tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia dos motivos responsáveis por esse estado

específico. Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém

frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento inconsciente de emoções

também explica por que não é fácil imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer

genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma região profunda do tronco

cerebral. A imitação voluntária feita por quem não é um ator exímio é facilmente detectada

como fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais,

quer no tom de voz.

(Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São

Paulo, Cia das letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)

O segmento grifado adquire sentido de alternância em:

a) Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém frequentemente não se

consegue ter certeza. .

b) Mas o que causa admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a

diferença.

c) O acionamento inconsciente de emoções também explica por que não é fácil imitá-las...

d) ... alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais, quer no tom de

voz.

e) ... a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma música e por filmes banais...

Questão 107: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Sinônimos e Antônimos

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

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GM

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

Essa é a fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem.

De acordo com o contexto, os termos grifados acima têm, respectivamente, o sentido de:

a) magnânima e assustadora.

b) imensa e inatingível.

c) extraordinária e repulsiva.

d) soberba e temerária.

e) sublime e sedutora.

Questão 108: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Sinônimos e Antônimos

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

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GM

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

O segmento do texto que está corretamente compreendido é:

a) anedota / particularidade curiosa ou jocosa que acontece à margem dos eventos mais

importantes relacionados a uma personagem ou situação histórica.

b) o embate necessário para nos orientarmos no pensamento / a formalidade necessária para

validarmos a orientação do pensamento.

c) Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente / Alguma aventura que eu

fruísse em todos os seus pormenores.

d) limitado e restrito a um contexto / circunscrito a uma situação por si só estreita.

e) como o melhor exemplo de acuidade / segundo os parâmetros da melhor oratória.

Questão 109: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sinônimos e Antônimos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

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GM

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

Sem que se faça nenhuma outra alteração na frase, mantêm- se o sentido original do texto e a

correção gramatical ao se substituir

a) enlevada por “espontânea”, no segmento com o que parece ser uma atenção enlevada. (3º

parágrafo)

b) quando por “à medida que”, no segmento A guerra dos dez anos começou quando um

fazendeiro cubano ... (1º parágrafo)

c) de antemão por “com antecedência”, no segmento decidido de antemão pelos operários.

(4º parágrafo)

d) Tinham por “Os leitores possuíam”, no segmento Tinham seus prediletos. (4º parágrafo)

e) ansioso por “vultoso”, no segmento ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição

ao comércio. (2º parágrafo)

Questão 110: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sinônimos e Antônimos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Um programa a ser adotado

O PET − Programa de Educação pelo Trabalho − está fazendo dez anos, que serão

comemorados num evento promovido pelo TRF4, que contará com representantes da Fase −

Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul.

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GM

Há dez anos seria difícil imaginar um interno da Fase em cumprimento de medida

socioeducativa saindo para trabalhar em um tribunal e, no final do dia, retornar à fundação.

Muitos desacreditariam da iniciativa de colocar um adolescente infrator dentro de um

gabinete de desembargador ou da Presidência de um tribunal. Outros poderiam discriminar

esses jovens e desejá-los longe do ambiente de trabalho.

Todas essas barreiras foram vencidas. Em uma década, o PET do TRF4 se tornou realidade,

quebrou preconceitos, mudou a cultura da própria instituição e a vida de 154 adolescentes

que já passaram pelo projeto. São atendidos jovens entre 16 e 21 anos, com escolaridade

mínima da 4ª série do ensino fundamental. O tribunal enfrenta o desafio de criar, desenvolver

e, principalmente, manter um programa de reinserção social. Os resultados do trabalho do

PET com os menores que cumprem medida socioeducativa na Fase são considerados muito

positivos quando se fala de jovens em situação de vulnerabilidade social. Durante esses dez

anos, 45% dos participantes foram inseridos no mercado de trabalho e muitos já concluíram

o ensino médio; cerca de 70% reorganizaram suas vidas e conseguiram superar a condição de

envolvimento em atividades ilícitas.

Na prática, os jovens trabalham durante 4 horas nos gabinetes de desembargadores e nas

unidades administrativas do tribunal. Recebem atendimento multidisciplinar, com

acompanhamento jurídico, de psicólogos e de assistentes sociais. Por meio de parcerias com

entidades, já foram realizados cursos de mecânica, de padaria e de garçom. Destaque a

considerar é o projeto “Virando a página”: oficinas de leitura e produção textual, coordenadas

por servidores do TRF4 e professores e formandos de faculdades de Letras.

(Adaptado de: wttp://www2.trf4.jus.br/trf4/ controlador.php? acao=

noticia_visualizar&id_noticia=10129)

No contexto, o sentido do elemento sublinhado em

a) Outros poderiam discriminar esses jovens (2º parágrafo) é o de distinguir, enfatizar.

b) em cumprimento de medida socioeducativa (2º parágrafo) é o de observância,

atendimento.

c) manter um programa de reinserção social (3º parágrafo) é o de remissão, retroação.

d) em situação de vulnerabilidade social (3º parágrafo) é o de impropriedade, informalidade.

e) Recebem atendimento multidisciplinar (4º parágrafo) é o de socialista, democrático.

Questão 111: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Sentidos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se

poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu

engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas

que, de qualquer modo, é resultado de viver.

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GM

Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as

ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas ideias.

São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-

se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou

surpreendente.

C.D.A.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 3)

Está traduzida corretamente a seguinte expressão do texto:

a) os antigos moralistas escreviam máximas / os filósofos da Antiguidade compunham

poemas didáticos.

b) alguma coisa que, ajustada às limitações do meu engenho / algo que se ajustasse

exclusivamente à minha capacidade criativa.

c) em que estas anotações vadias foram feitas / nos quais estes breves e casuais escritos

foram registrados.

d) sem que pretenda convencê-lo do que penso / negando que ele aceite meus pensamentos.

e) São palavras que [...] aspiram a enveredar pelo avesso das coisas / são termos que

concretizam o desejo de desnudar só o lado nocivo das coisas.

Questão 112: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Sentidos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A aproximação das duas Américas

Ufano-me de falar nesta instituição, digna da cidade que, pelo seu crescimento gigantesco(a),

vem assombrando o mundo(b) como a mais avançada de todas as estações experimentais de

americanização. Em Chicago, melhor do que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar

o processo sumário(c) que usais para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio

de aclimação, frutos genuinamente americanos. Aqui estamos em frente de uma das cancelas

do mundo(d), por onde vêm entrando novas concepções sociais(e), novas formas de vida e que

é uma das fontes da civilização moderna. O tributo à ciência do qual nasceu esta universidade

foi o mais benfazejo emprego de uma fortuna dedicada à humanidade. Aumentar a velocidade

com que cresce a ciência é de longe o maior serviço que se poderia prestar à raça humana. A

própria religião não teria o poder de trazer à terra o reino de Deus sem o auxílio da ciência, na

época de progresso que se anuncia e de que não podemos ainda fazer ideia. Aumentando o

número de homens capazes de manejar os delicados instrumentos da ciência, de

compreender-lhes as várias linguagens e de aproveitar-lhes os mais altos sentidos, as

universidades trabalham mais depressa que qualquer outro fator para esse dia de adiantados

conhecimentos que, no futuro, hão de transformar por completo a condição humana.

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GM

(Conferência pronunciada por Joaquim Nabuco a 28 de agosto de 1908 na Universidade de

Chicago. Essencial Joaquim Nabuco. Organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello.

São Paulo: Penguin Classics, Companhia das Letras, 2010, p. 548)

Na organização do texto, é apresentado como causa o seguinte segmento:

a) pelo seu crescimento gigantesco.

b) vem assombrando o mundo.

c) pode-se acompanhar o processo sumário.

d) Aqui estamos em frente de uma das cancelas do mundo.

e) por onde vêm entrando novas concepções sociais.

Questão 113: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Sentidos

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

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GM

A informação objetiva contida numa expressão ou frase de efeito literário está

adequadamente reconhecida em:

a) os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de antepassados (2o parágrafo) = os barcos que lá

se encontram foram herdados dos antecessores

b) escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo (3o parágrafo) = dava embarque

ao ouro trazido por muares e cativos

c) em 1855, a cidade inteira se aposentou = ano em que se decretou a inatividade de todos os

seus funcionários

d) Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de sua gente e das marés (4o parágrafo) =

acomodou-se ao ritmo das canções de seu povo e aos sons da natureza

e) o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de Paraty virarem ouro novamente (5o parágrafo)

= a valorização imobiliária reviveu a pujança dos antigos ciclos econômicos

Questão 114: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Sentidos

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

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GM

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

O segmento cujo sentido está adequadamente expresso em outras palavras é:

a) asco visceral pela aparência = profunda aversão pelo aspecto

b) desde o arquetípico [...] ao recente mega-sucesso = do antiquado [...] à estrondosa inovação

desmedida

c) nem uma diatribe acerca dos perigos = sequer um colóquio em torno das obliterações

d) um assunto inverossímil = uma pauta imperfectível

e) seus amigos livres-pensadores = seus companheiros de pensamento volúvel

Questão 115: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sentidos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

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125

GM

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Ao se definir a condição de humanistas, no segundo parágrafo do texto, contempla-se a

atividade específica de um ...... quando se fala em ...... .

Preenchem, adequada e respectivamente, as lacunas da frase acima:

a) tecnocrata − estudo das formações sociais

b) antropólogo − arte literária que projeta e dá forma em linguagem simbólica aos desejos

mais íntimos

c) historiador − direitos constituídos

d) jurista − papel dos indivíduos

e) filósofo − pensamento que se pensa a si mesmo para pensar o mundo.

Questão 116: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Sentidos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

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GM

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Considerando-se o contexto do primeiro parágrafo, traduz-se adequadamente o sentido de

um segmento em:

a) condená-la implacavelmente = injuriá-la inapelavelmente

b) contingência humana = essencialidade humanista

c) antes reconhecer do que descartar = admitir em vez de rejeitar

d) naturezas diferentes = ocasiões anômalas

e) mérito abstrato da pessoa = vantagem inigualável do sujeito

Questão 117: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Sentidos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Ao cabo de uma palestra, perguntaram-me se concordo com a tese de que só é possível

filosofar em alemão. Não foi a primeira vez. Essa questão se popularizou a partir de versos da

canção “Língua”, de Caetano Veloso (“Está provado que só é possível filosofar em alemão”).

Ocorre que os versos que se encontram no interior de uma canção não estão necessariamente

afirmando aquilo que afirmariam fora do poema. O verso em questão possui carga irônica e

provocativa: tanto mais quanto a afirmação é geralmente atribuída a Heidegger, filósofo cujo

tema precípuo é o ser. Ora, logo no início de “Língua”, um verso (“Gosto de ser e de estar”)

explora um privilégio poético-filosófico da língua portuguesa, que é a distinção entre ser e

estar: privilégio não compartilhado pela língua alemã. Mas consideremos a tese de Heidegger.

Para ele, a língua do pensamento por excelência é a alemã. Essa pretensão tem uma história.

Os pensadores românticos da Alemanha inventaram a superioridade filosófica do seu idioma

porque foram assombrados pela presunção, que lhes era opressiva, da superioridade do latim

e do francês.

O latim foi a língua da filosofia e da ciência na Europa desde o Império Romano até a segunda

metade do século XVIII, enquanto o alemão era considerado uma língua bárbara. Entre os

séculos XVII e XVIII, a França dominou culturalmente a Europa. Paris foi a nova Roma e o

francês o novo latim. Não admira que os intelectuais alemães − de origem burguesa − tenham

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GM

reagido violentamente contra o culto que a aristocracia do seu país dedicava a tudo o que era

francês e o concomitante desprezo que reservava a tudo o que era alemão. Para eles, já que a

França se portava como a herdeira de Roma, a Alemanha se identificaria com a Grécia. Se o

léxico francês era descendente do latino, a morfologia e a sintaxe alemãs teriam afinidades

com as gregas. Se modernamente o francês posava de língua da civilização universal, é que

eram superficiais a civilização e a universalidade; o alemão seria, ao contrário, a língua da

particularidade germânica: autêntica, profunda, e o equivalente moderno do grego.

Levando isso em conta, estranha-se menos o fato de que Heidegger tenha sido capaz de

querer crer que a superficialidade que atribui ao pensamento ocidental moderno tenha

começado com a tradução dos termos filosóficos gregos para o latim; ou de afirmar que os

franceses só consigam começar a pensar quando aprendem alemão.

Estranho é que haja franceses ou brasileiros que acreditem nesses mitos germânicos, quando

falam idiomas derivados da língua latina, cujo vocabulário é rico de 2000 anos de filosofia, e

que tinha − ela sim − enorme afinidade com a língua grega.

(CICERO, A. A filosofia e a língua alemã. In: F. de São Paulo.

Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustradi/fq0505200726. htm. Acesso em:

08/06/2014)

Considerando-se o contexto, mantêm-se as relações de sentido estabelecidas pelo texto no

que se afirma em:

a) Segundo a tese de Heidegger, os pensadores românticos da Alemanha exploraram a

superioridade filosófica do seu idioma, apesar de terem sido assombrados pela presunção de

superioridade do francês, que se considerava, erroneamente, a língua do pensamento por

excelência.

b) A despeito de, entre os séculos XVII e XVIII, disseminar-se a ideia de que o alemão era uma

língua inadequada para representar a civilização moderna, a França domina culturalmente a

Europa, Paris se torna a nova Roma, e o francês, por conseguinte, o novo latim.

c) Porquanto o francês tenha sido eleito como a língua da civilização universal, o alemão −

equivalente moderno do grego − reteve em si os traços distintivos da particularidade

germânica, cuja autenticidade vai de encontro à superficialidade dos tempos modernos.

d) Depreende-se que o verso “Gosto de ser e de estar”, do início da canção “Língua”, possui

carga irônica e provocativa, visto que, embora o tema precípuo de Heidegger seja o conceito

do “ser”, explora um privilégio poético-filosófico da língua portuguesa.

e) Uma vez que o francês e o português são idiomas derivados da língua latina, cuja afinidade

com a língua grega era enorme, estranha-se que haja franceses ou brasileiros que acreditem

em mitos como o de que os franceses só conseguem começar a pensar quando aprendem

alemão.

Questão 118: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coerência

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128

GM

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

Ofélia foi [...] o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia.

Outra formulação para a frase acima que, preservando a clareza e a correção, gera sentido

equivalente é:

a) Ofélia e Pessoa foram ambos o único amor.

b) Os dois − Ofélia e Pessoa − tiveram um único amor recíproco.

c) Os únicos amores de Ofélia e Pessoa foram eles próprios.

d) Ofélia e Pessoa amaram unicamente um ao outro.

e) Ofélia e Pessoa amaram-se unicamente a si próprios.

Questão 119: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coerência

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

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129

GM

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

É legítima a seguinte assertiva, formulada a partir do trecho transcrito acima:

a) A substituição de Diante de um acontecimento por "Face um acontecimento" mantém a

correção da frase.

b) A substituição de tal como a obra de Cage por "similar da obra de Cage" não prejudicaria

nem o sentido, nem a correção originais.

c) A expressão diante da é exigência da forma verbal Abdicar, com que se inicia a frase.

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130

GM

d) Numa escala ascendente de vigor, o pior de todos os erros é o que ocupa o lugar mais baixo

na graduação.

e) A escolha da forma verbal infinitiva Abdicar sinaliza que o autor volta sua atenção em

especial para a ação, não, por exemplo, para quem pudesse praticá-la.

Questão 120: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Coerência

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

(Obs.: "Departamento", palavra encontrada na citação feita no excerto, corresponde a uma

divisão administrativa do território francês.)

"Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo do Estado francês,

passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa. A tese do autor

é que a hipertrofia da capital francesa impedia o desenvolvimento das demais regiões e

cidades do território nacional. Herança histórica de diferentes regimes políticos, o

centralismo se traduz através da concentração do poder político, administrativo, econômico

e cultural na capital francesa, em detrimento da Province1. Podemos situar uma primeira fase

do centralismo de Estado, em que a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado)

foi concretizada, sob o regime de monarquia absolutista de Luís XVI, no século XVII. No

entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791. Este princípio

foi aplicado até a mudança para o regime republicano, formando a República "una e

indivisível" nas diversas Constituições do Estado francês até hoje. A solidificação institucional

e administrativa desse princípio, que garante a abrangência e a eficiência do poder executivo

central, foi realizada por Napoleão I, enquanto Primeiro Cônsul (eleito), e na segunda fase da

sua permanência no poder, enquanto Imperador. A organização institucional e administrativa

do Estado francês é, em grande parte, oriunda desta época.

A Constituição do 22 frimaire na VIII mantém o departamento, mas sua administração é

profundamente modificada. A lei do 28 pluviôse na VIII (17 de fevereiro de 1800) institui os

préfets2, nomeados e revocados pelo Primeiro Cônsul, em seguida pelo Imperador.

Encarregados da administração, os préfets são o órgão executivo único do departamento.

Designam os prefeitos e os ajudantes dos municípios de menos de 5000 habitantes e

propõem ao Primeiro Cônsul, e em seguida ao Imperador, a nomeação dos outros prefeitos.

(...) Constituem a chave-mestra de um Estado centralizado que vê o seu resultado sob o

Império.

1 Province é um termo genérico que designa todo o território que não é Paris.

2 A palavra préfet não pode ser traduzida por prefeito, pois não representa o mesmo cargo.

Os préfets, mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, ainda existem

atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a lei de descentralização de

1982.

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131

GM

(Adaptado de Antoinette Kuijlaars. "A política por detrás da técnica: o processo de

recentralização na organização da assistência social na França". In: Estudos de Sociologia no

29: Revista Semestral do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em

Sociologia. UNESP − Araraquara, 2 sem. de 2010, p.491-492)

A frase que acolhe afirmação correta é:

a) (linhas 1 e 2) Em "Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo

do Estado francês, passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua

francesa, a locução destacada indica início de um processo.

b) (linhas 1 e 2) Em de título de livro contestando o centralismo do Estado francês, passou a

ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa, o gerúndio exprime ideia

de tempo.

c) (linha 3) O segmento Herança histórica de diferentes regimes políticos constitui

caracterização de termo citado na frase imediatamente anterior.

d) (linha 3) Em o centralismo se traduz através da concentração do poder político, a palavra

destacada pode ser substituída, sem qualquer outra alteração na frase, por "mediante", sem

que haja prejuízo do sentido e da correção originais.

e) (linha 11) O segmento em grande parte equivale a "em demasia".

Questão 121: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Linguagem

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

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132

GM

Considere a frase Da primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de

uma dezena e as assertivas abaixo.

I. A autora valeu-se de duas distintas formas que a língua oferece para indicar "quantidade

não precisamente determinada, mas superior à cifra fornecida".

II. A forma verbal pode, na dependência de contextos, equivaler a "procederam", "tiveram

origem", ou a "foram conservadas", supondo-se, neste último caso, que outras cartas podem

ter sido escritas, mas podem ter-se perdido.

III. A substituição de ficaram por "proviram" não afeta nem o sentido, nem a correção

originais.

É correto o que se afirma em

a) I, II e III.

b) I e II, apenas.

c) I e III, apenas.

d) III, apenas.

e) I, apenas.

Questão 122: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se

poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu

engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas

que, de qualquer modo, é resultado de viver.

Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as

ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas ideias.

São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-

se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou

surpreendente.

C.D.A.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 3)

Nas palavras que prefaciam sua obra, Carlos Drummond

a) compara-se aos antigos moralistas por também preconizar, em seus escritos, normas de

comportamento.

b) desqualifica a produção de antigos moralistas ao chamar de "mínimas" o que eles

denominavam "máximas".

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133

GM

c) assume, bem humorado, não ter a sabedoria de traduzir em palavras a sua experiência, que,

em si, gera conhecimento elevado.

d) deixa entrever seu entendimento de que qualquer vivência produz justo conhecimento,

até as tímidas ou desajeitadas, até as não convencionais.

e) defende a exploração de ângulos obscuros da vida, lugar em que, de modo secreto, se

agasalham as verdades que constituem a legítima sabedoria.

Questão 123: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: As composições a seguir estão entre as "anotações" de Carlos Drummond de

Andrade. Considera-as para responder à questão.

Rei

O rei nunca está nu no banho;

cobre-se de adjetivos.

Ao tornar-se carta de baralho, e não o baralho inteiro,

o rei propicia o advento da República.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 193)

Sobre as composições acima, é plausível a seguinte interpretação:

a) a palavra Rei, que significa "chefe de Estado investido de realeza; príncipe soberano de um

reino; monarca", sinaliza que as sentenças do autor, exclusivamente de sentido literal,

expressam pensamentos restritos a esse tipo de soberano.

b) o emprego de cobre-se impõe o entendimento de que o rei é sempre o agente da ação em

que está envolvido, cabendo à corte contemplá-lo, inclusive na intimidade.

c) a palavra adjetivos remete às qualificações elogiosas que revestem a figura dos que detêm

o poder, sugerindo tanto que o poderoso se afasta de sua real natureza, quanto a prática da

bajulação.

d) a consideração da carta de baralho, em oposição ao baralho inteiro, conduz ao

entendimento de que a renúncia à realeza é encarada como a perda máxima da dignidade.

e) a frase o rei propicia o advento da República é de teor hipotético, equivalendo a forma

verbal a "propiciaria", visto que Ao tornar-se corresponde a "Caso se tornasse".

Questão 124: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

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134

GM

Atenção: As composições a seguir estão entre as "anotações" de Carlos Drummond de

Andrade. Considera-as para responder à questão.

Rei

O rei nunca está nu no banho;

cobre-se de adjetivos.

*

Ao tornar-se carta de baralho, e não o baralho inteiro,

o rei propicia o advento da República.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 193)

Contribuem para que as "anotações" de Carlos Drummond enunciem observação de valor

geral o emprego

a) do presente do indicativo e dos artigos "o" e "a".

b) dos artigos "o" e "a" e do plural, em adjetivos.

c) do plural, em adjetivos, e do mesmo título para duas distintas composições.

d) do mesmo título para duas distintas composições e da formulação breve − duas pequenas

linhas em cada composição.

e) da formulação breve − duas pequenas linhas em cada composição − e do plural, em

adjetivos.

Questão 125: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A aproximação das duas Américas

Ufano-me de falar nesta instituição, digna da cidade que, pelo seu crescimento gigantesco,

vem assombrando o mundo como a mais avançada de todas as estações experimentais de

americanização. Em Chicago, melhor do que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar

o processo sumário que usais para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio

de aclimação, frutos genuinamente americanos. Aqui estamos em frente de uma das cancelas

do mundo, por onde vêm entrando novas concepções sociais, novas formas de vida e que é

uma das fontes da civilização moderna. O tributo à ciência do qual nasceu esta universidade

foi o mais benfazejo emprego de uma fortuna dedicada à humanidade. Aumentar a velocidade

com que cresce a ciência é de longe o maior serviço que se poderia prestar à raça humana. A

própria religião não teria o poder de trazer à terra o reino de Deus sem o auxílio da ciência, na

época de progresso que se anuncia e de que não podemos ainda fazer ideia. Aumentando o

número de homens capazes de manejar os delicados instrumentos da ciência, de

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135

GM

compreender-lhes as várias linguagens e de aproveitar-lhes os mais altos sentidos, as

universidades trabalham mais depressa que qualquer outro fator para esse dia de adiantados

conhecimentos que, no futuro, hão de transformar por completo a condição humana.

(Conferência pronunciada por Joaquim Nabuco a 28 de agosto de 1908 na Universidade de

Chicago. Essencial Joaquim Nabuco. Organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello.

São Paulo: Penguin Classics, Companhia das Letras, 2010, p. 548)

Em seu discurso, Joaquim Nabuco

a) dá sequência à ideia inicial − Ufano-me de falar nesta instituição − pela minuciosa descrição

dos sentimentos que o consternam naquele momento.

b) ressalta os aspectos que, segundo seu julgamento, motivam o fato de Chicago, naquele

momento, vir assombrando o mundo.

c) faz um enérgico tributo à ciência, objeto principal de suas considerações, sem conseguir

disfarçar certo ressentimento de americano do sul.

d) atribui à religião o adequado encaminhamento da ciência, de que resultam as propícias

possibilidades deste campo de conhecimento.

e) expressa temor pelos futuros aspectos negativos do progresso, de que dependeriam as

transformações da condição humana.

Questão 126: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A aproximação das duas Américas

Ufano-me de falar nesta instituição, digna da cidade que, pelo seu crescimento gigantesco,

vem assombrando o mundo como a mais avançada de todas as estações experimentais de

americanização. Em Chicago, melhor do que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar

o processo sumário que usais para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio

de aclimação, frutos genuinamente americanos. Aqui estamos em frente de uma das cancelas

do mundo, por onde vêm entrando novas concepções sociais, novas formas de vida e que é

uma das fontes da civilização moderna. O tributo à ciência do qual nasceu esta universidade

foi o mais benfazejo emprego de uma fortuna dedicada à humanidade. Aumentar a velocidade

com que cresce a ciência é de longe o maior serviço que se poderia prestar à raça humana. A

própria religião não teria o poder de trazer à terra o reino de Deus sem o auxílio da ciência, na

época de progresso que se anuncia e de que não podemos ainda fazer ideia. Aumentando o

número de homens capazes de manejar os delicados instrumentos da ciência, de

compreender-lhes as várias linguagens e de aproveitar-lhes os mais altos sentidos, as

universidades trabalham mais depressa que qualquer outro fator para esse dia de adiantados

conhecimentos que, no futuro, hão de transformar por completo a condição humana.

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GM

(Conferência pronunciada por Joaquim Nabuco a 28 de agosto de 1908 na Universidade de

Chicago. Essencial Joaquim Nabuco. Organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello.

São Paulo: Penguin Classics, Companhia das Letras, 2010, p. 548)

O autor, ao empregar o segmento

a) às estações experimentais de americanização, revela entender que o norte-americano, à

época, ainda não tinha desenvolvido o sentimento de nacionalidade.

b) melhor do que em qualquer outro ponto, nega a possibilidade de que haja mais de uma

estação americana em que se produzam frutos genuinamente nacionais.

c) pode-se acompanhar o processo sumário, insinua crítica ao processo citado, por não

respeitar o necessário protocolo.

d) para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio de aclimação, frutos

genuinamente americanos, exemplifica o que concebe por americanização.

e) estamos em frente de uma das cancelas do mundo, advoga para Chicago a legítima

autoridade para acatar ou condenar uma conquista científica americana.

Questão 127: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

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GM

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Em suas divagações sobre as ilhas, o autor vê nelas, sobretudo, a positividade de

a) um espaço ideal, cujas características naturais o tornam uma espécie de reduto ecológico,

que faz esquecer os artifícios urbanos.

b) um repouso do espírito, de vez que não é possível usufruir os benefícios do insulamento em

meio a lugares povoados.

c) um sucesso pessoal, a ser obtido pela paz de espírito e pela concentração intelectual que

somente o pleno isolamento garante.

d) uma libertação possível, pois até mesmo os bons homens acabam por tolher a prática

salvadora da verdadeira liberdade.

e) uma solidão indispensável, pois a felicidade surge apenas quando conseguimos nos

distanciar dos nossos semelhantes.

Questão 128: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

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GM

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Atente para as seguintes afirmações:

I. A expressão fuga relativa, referida no 1o parágrafo, diz respeito ao equilíbrio que o autor

considera desejável entre a conveniente distância e a conveniente aproximação, a se

preservar no relacionamento com os semelhantes.

II. No 2o parágrafo, todas as razões aventadas para explicar a irresistível sedução de uma ilha

são consideradas essenciais, não havendo como entender essa atração sem se recorrer a elas.

III. No 3o parágrafo, o autor se vale de amarga ironia quando afirma que o exercício da

liberdade pessoal, benigno em si mesmo, é a causa da falta de liberdade dos povos que mais

lutam por ela.

Em relação ao texto está correto SOMENTE o que se afirma em

a) I.

b) II.

c) III.

d) I e II.

e) II e III.

Questão 129: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

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GM

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Quando afirma, no início do 3o parágrafo, que nenhuma dessas excelências me seduz mais do

que as outras, o autor deprecia, precisamente, estes clássicos atributos das ilhas:

a) a hostilidade agreste, a solidão plena e a definitiva renúncia à solidariedade.

b) a poesia do mundo natural, o exclusivo espaço da solidão e a realização do ideal de

felicidade.

c) a monotonia da natureza, o conforto da relativa solidão e a surpresa da felicidade.

d) a sedução mágica da paisagem, a valorização do espírito e a relativização da felicidade.

e) a fuga da vida urbana, a exaltação da bondade e o encontro da liberdade verdadeira.

Questão 130: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

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140

GM

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

Paraty é apresentada, fundamentalmente, como uma cidade

a) cuja vocação turística se manifestou ao mesmo tempo em que foi beneficiada pelos ciclos

econômicos do café e do ouro.

b) que se beneficiou de dois ciclos econômicos do ouro, muito embora espaçados entre si por

mais de um século.

c) cuja história foi construída tanto pela participação em ciclos econômicos como pela longa

inatividade que a preservou.

d) cujo atual interesse turístico deriva do fato de que foi convenientemente remodelada para

documentar seu passado.

e) que sempre respondeu, com desenvoltura e sem solução de continuidade, às demandas

econômicas de várias épocas.

Questão 131: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

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141

GM

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

Atente para as seguintes afirmações:

I. A frase É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty faz alusão ao período em que a

cidade deixou de se beneficiar de sua importância estratégica nos ciclos do ouro e do café.

II. O texto sugere que o mesmo turismo que a princípio valoriza e cultua os espaços históricos

e naturais preservados traz consigo as ameaças de uma séria degradação.

III. Um longo esquecimento, condição em princípio negativa na escalada do progresso, acabou

sendo um fator decisivo para a atual evidência e valorização de Paraty.

Em relação ao texto, está correto o que se afirma em

a) I, II e III.

b) I e II, somente.

c) II e III, somente.

d) I e III, somente.

e) II, somente.

Questão 132: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

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142

GM

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

No confronto entre a obra original de Shelley e sua versão cinematográfica hollywoodiana, de

1931, o autor ressalta

a) o elogio da tecnologia no livro e sua demonização no filme, que chega a tratá-la como o

maior de todos os males.

b) a diversidade temática do livro e o tema monocórdio do filme, que inclusive não aparece

no enredo original.

c) o rigor científico presente no livro e a vulgarização dos métodos mais caros à ciência no

filme.

d) o respeito aos limites da natureza no livro e a transgressão da ordem natural das coisas no

filme.

e) o ateísmo defendido no livro e a visão de mundo cristã que o filme veicula, muito combatida

no enredo original.

Questão 133: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

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143

GM

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

A tecnologia humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus

ou estabelecida pelas leis da natureza. (1o parágrafo)

A afirmação acima é expressão

a) do parecer dos autores de livros que trataram do tema com grande sutileza.

b) da crença de Shelley, anunciada antes mesmo de se fazer menção a seu livro.

c) de um pensamento tão caro aos latinos quanto o provérbio com que se abre o ensaio.

d) da convicção do autor, que é corroborada pelos roteiristas de Hollywood.

e) do sentido que o autor depreende dos filmes de monstros de Hollywood.

Questão 134: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

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144

GM

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

Ao aludir à existência de um projeto original para o homem, no primeiro parágrafo do texto, a

autora conclui que a crença em Deus fazia da vida humana

a) um peso quase intolerável, pois a condição humana seria sempre confrontada com a

inatingível perfeição e plenitude do criador.

b) uma fantasia, ainda que bela, em que se negava ao homem o livre-arbítrio para seguir o

próprio destino, não lhe cabendo senão atingir a perfeição projetada.

c) um enredo muito pouco compreensível, na medida em que o fim estaria no começo e o

começo só no fim se daria a conhecer.

d) um roteiro pré-determinado, que devia desenvolver-se com o aprimoramento da criatura

na direção da perfeição idealizada pelo criador.

e) uma verdadeira incógnita, já que a criatura, por mais que se esforçasse, estaria sempre

muito longe de atingir a perfeição divina.

Questão 135: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Page 145: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

145

GM

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

As expressões que caracterizam a antiga e extinta era da religiosidade e a religiosidade pós-

moderna de modo a ressaltar o contraste entre elas são, respectivamente:

a) condição humana e forças celestes.

b) fantasia bonita e forças celestes.

c) grandeza dos ideais e servidão milenar.

d) grandeza dos ideais e ambições terrenas.

e) plenitude divina e fantasia infantil.

Questão 136: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Page 146: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

146

GM

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

Ao referir-se à ciência e aos seus sacerdotes, no último parágrafo, a autora

a) aproxima ironicamente a ciência da religião, pois os cientistas, com a clonagem, parecem

acreditar no seu poder sobre o destino humano tanto quanto os ministros da igreja.

b) enaltece a substituição da igreja pela ciência, que acabou por tomar a seu cargo tudo o que

era de responsabilidade daquela, inclusive a tarefa de determinação do destino humano.

c) reconhece o poder dos cientistas no mundo contemporâneo que, com a clonagem, estão

chegando cada vez mais perto de operar o milagre da criação, que só à religião era dado

realizar.

d) critica os cientistas envolvidos com a clonagem pelo fato de não terem se libertado

completamente das crenças religiosas, ao acreditarem que o destino não pode ser controlado

pelo homem.

e) alude sutilmente às contradições humanas, na medida em que os cientistas, mesmo

afirmando sua descrença em Deus, tentam imitar a criação divina por meio da clonagem.

Questão 137: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

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147

GM

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

No excerto, a autora

a) fundamenta, primeiramente, a necessidade de se conhecerem dados biográficos do poeta,

para, em seguida, oferecer os primeiros dados sobre a vida de Fernando Pessoa.

b) imputa à demora na publicação das cartas de Ofélia o atraso na compreensão da

integralidade da obra do poeta, atraso desnecessário, visto o exíguo número delas.

c) demonstra cuidado com informações que presta, ressaltando os limites dentro dos quais

certos dados podem ser tomados como plausíveis.

d) demarca com precisão o tempo em que Ofélia e Pessoa se corresponderam, pois da

correção das datas depende a credibilidade de que cada um foi o único amor do outro.

e) torna incontestável, ao não citar o nome da obra com as cartas de Ofélia e, ao contrário,

citar já no início a íntegra do título da obra com as do poeta, que não atribui méritos às cartas

da amada de Pessoa.

Questão 138: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

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148

GM

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

No segundo parágrafo,

a) em abordagem de assunto em princípio afeto ao indivíduo em sua vida privada, a autora

argumenta valendo-se de fórmula que enuncia uma observação de valor universal.

b) está expressa a ideia de que seria natural tanto se aceitar a necessidade de dados

biográficos, quanto se acatar a insuficiência deles, quando se visa à compreensão do citado

autor.

c) Entender um amor é o mesmo que "O entendimento amoroso".

d) considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão exprime uma

advertência.

e) se a autora estivesse tratando de mais de um poeta, a forma correta a ser empregada seria

"indivíduo-poetas".

Questão 139: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

Page 149: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

149

GM

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

O namoro foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas,

como se diz vulgarmente, "não deu certo".

Considerado o acima transcrito, é correta a seguinte afirmativa:

a) pode-se entender que breve no tempo factual, longo na duração existencial constitui

caracterização de intenso.

b) a expressão foi intenso e tenso exprime na sua forma o caráter conflituoso do namoro, pois

constitui jogo de palavras entre "não tenso" (dado o elemento de formação in-, exprimindo

negação) e "tenso".

c) o emprego de mas sinaliza que, do modo como o namoro foi caracterizado anteriormente,

não produziu nenhuma expectativa de que pudesse dar certo.

d) a retirada da vírgula aposta a mas preserva a correção da frase.

e) ao empregar as aspas, a autora evidencia seu julgamento de que a expressão constitui

vulgaridade que deve ser evitada.

Questão 140: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

As Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz foram dadas a público 23 anos após

a morte do poeta1; as cartas de Ofélia a Pessoa foram publicadas recentemente2. Possuímos,

assim, a íntegra da correspondência entre os dois. O namoro teve duas fases. A primeira durou

de março a novembro de 1920; a segunda, de setembro de 1929 a janeiro de 1930. Da

primeira fase, ficaram trinta e tantas cartas; da segunda, pouco mais de uma dezena.

Ofélia foi, ao que se sabe, o único amor de Pessoa; Pessoa, o único amor de Ofélia. O namoro

foi intenso e tenso, breve no tempo factual, longo na duração existencial; mas, como se diz

vulgarmente, "não deu certo". Alguns dados biográficos são necessários para se entender

essas cartas; e naturalmente insuficientes para se entender esse amor. Entender um amor é

sempre uma pretensão vã; considerando-se a complexidade do indivíduo-poeta em questão,

querer compreender melhor sua obra à luz dessa correspondência seria uma pretensão

desmedida.

1 Cartas de amor de Fernando Pessoa. Lisboa/Rio de Janeiro; Ática/Camões, 1978.

Page 150: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

150

GM

2 Lisboa, Assírio-Alvim, 1996.

(Leyla Perrone-Moisés. "Sinceridade e ficção nas cartas de amor de Fernando Pessoa". In:

Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. Org. Walnice Galvão, Nádia Battella

Gotlib. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 175)

A correlação entre pretensão vã e pretensão desmedida

a) está construída com base no paralelismo entre são necessários e (são) naturalmente

insuficientes.

b) não está edificada a partir de idênticos parâmetros.

c) corresponde à relação entre "pretensão estéril" e "pretensão excessivamente estéril".

d) implica a consideração da desigualdade entre o amor vivido por um indivíduo comum e o

amor que um poeta deseja transformar em versos.

e) pressupõe que a obra de um poeta não admite compreensão.

Questão 141: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

Page 151: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

151

GM

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

O autor

a) cita a obra de Kant para divulgar, em linguagem acessível, a influência que esse filósofo

exerceu, por séculos, no pensamento do Ocidente, aspecto que constitui o eixo do texto

publicado no jornal.

b) realiza aproximação entre distintos pontos de vista para proceder à análise do que cada

um tem de positivo e de negativo no que se refere ao conhecimento especulativo da

Antropologia.

c) manifesta sua compreensão acerca dos erros que cometemos, criticando o fato de

estarmos arraigados a ideias ultrapassadas e paralisados quanto à aceitação de teorias

filosóficas mais modernas.

d) faz referência a uma peça musical por ter motivado reflexão que, segundo seu

entendimento, ilumina importante aspecto do comportamento humano, o de como lidar com

a angústia da indecisão.

e) considera inconsistente por si só o conhecimento oferecido pelos livros e relatos que se

possa ouvir de quem viveu os fatos, propondo que esse saber se submeta ao alicerce do

pensamento filosófico que a tradição legou aos homens da atualidade.

Questão 142: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Page 152: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

152

GM

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

Ao mencionar

a) (linha 13) o aparecimento de artigos no jornal "Corriere dela Sera", o autor deixa entrever

a intensidade da adesão do filósofo ao projeto de acompanhar de perto a citada revolução.

b) (linha 18) estes dois polos, o autor refere-se à força da ideia e à crença de que não há nada

de novo sob o sol.

c) (linha 18) uma peculiar afirmação, o autor explicita julgamento altamente elogioso, em

decorrência da positividade inerente à palavra peculiar.

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153

GM

d) (linha 19) que Adorno volta para casa e escreve, o autor enuncia duas ações que são

consideradas permanentes na vida de Adorno.

e) (linha 20) que o melhor a fazer era dizer, o autor valeu-se de expressão equivalente a "o

melhor que poderia ser feito era dizer".

Questão 143: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Page 154: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

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GM

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

Considere o último parágrafo do texto e as afirmações que seguem.

I. Nele, o autor faz a recolha das ideias mais importantes desenvolvidas na argumentação e as

enfeixa em frases conclusivas, que, em consequência da densidade do raciocínio

desenvolvido, são marcadas pelo tom cerradamente dogmático.

II. Nele, o autor, valendo-se do plural majestático, faz uma avaliação em prejuízo próprio,

reconhecendo com humildade o mal que o erro várias vezes cometido pode acarretar a

outrem.

III. Nele, o autor expressa juízos de valor acerca do fenômeno que está sendo apreciado, sem,

entretanto, deixar de salvaguardar possíveis ocorrências singulares desse mesmo fenômeno.

O texto abona APENAS

a) I.

b) II.

c) III.

d) I e II.

e) II e III.

Questão 144: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

(Obs.: "Departamento", palavra encontrada na citação feita no excerto, corresponde a uma

divisão administrativa do território francês.)

"Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo do Estado francês,

passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa. A tese do autor

é que a hipertrofia da capital francesa impedia o desenvolvimento das demais regiões e

cidades do território nacional. Herança histórica de diferentes regimes políticos, o

centralismo se traduz através da concentração do poder político, administrativo, econômico

e cultural na capital francesa, em detrimento da Province1. Podemos situar uma primeira fase

do centralismo de Estado, em que a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado)

foi concretizada, sob o regime de monarquia absolutista de Luís XVI, no século XVII. No

entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791. Este princípio

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155

GM

foi aplicado até a mudança para o regime republicano, formando a República "una e

indivisível" nas diversas Constituições do Estado francês até hoje. A solidificação institucional

e administrativa desse princípio, que garante a abrangência e a eficiência do poder executivo

central, foi realizada por Napoleão I, enquanto Primeiro Cônsul (eleito), e na segunda fase da

sua permanência no poder, enquanto Imperador. A organização institucional e administrativa

do Estado francês é, em grande parte, oriunda desta época.

A Constituição do 22 frimaire na VIII mantém o departamento, mas sua administração é

profundamente modificada. A lei do 28 pluviôse na VIII (17 de fevereiro de 1800) institui os

préfets2, nomeados e revocados pelo Primeiro Cônsul, em seguida pelo Imperador.

Encarregados da administração, os préfets são o órgão executivo único do departamento.

Designam os prefeitos e os ajudantes dos municípios de menos de 5000 habitantes e

propõem ao Primeiro Cônsul, e em seguida ao Imperador, a nomeação dos outros prefeitos.

(...) Constituem a chave-mestra de um Estado centralizado que vê o seu resultado sob o

Império.

1 Province é um termo genérico que designa todo o território que não é Paris.

2 A palavra préfet não pode ser traduzida por prefeito, pois não representa o mesmo cargo.

Os préfets, mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, ainda existem

atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a lei de descentralização de

1982.

(Adaptado de Antoinette Kuijlaars. "A política por detrás da técnica: o processo de

recentralização na organização da assistência social na França". In: Estudos de Sociologia no

29: Revista Semestral do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em

Sociologia. UNESP − Araraquara, 2 sem. de 2010, p.491-492)

Compreende-se corretamente que Antoinette Kuijlaars

a) fundamenta sua opinião desfavorável ao centralismo francês na ideia de que é esse o juízo

corrente entre os franceses.

b) cita obra cujo título traduz a visão de que a infertilidade de zonas periféricas condiciona o

crescimento de áreas urbanas já altamente produtivas.

c) presta esclarecimento que legitima a dedução de que o centralismo francês é ilustrado até

no vocabulário.

d) mostra que a facilidade da língua francesa em absorver neologismos é diretamente

proporcional ao seu zelo em conservar palavras que, por sua especificidade, impedem até sua

tradução.

e) avalia positivamente a Revolução Francesa no que se refere a seu papel na centralização

do poder político.

Questão 145: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

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156

GM

O arroz da raposa

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

No texto, o autor sugere que

a) as frases mais estranhas seriam aquelas mais plenas de sentido.

b) as palavras só adquiririam sentido quando lidas pelo avesso.

c) o conhecimento do Brasil atual só pode ser aprofundado por meio da poesia.

d) o conto “Satarsa”, de Julio Cortázar, seria autobiográfico.

e) a poesia só seria válida quando colocada a serviço da atuação política.

Questão 146: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O arroz da raposa

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157

GM

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

Atente para as afirmações abaixo.

I. A frase Sem essa consciência, não há poeta pode ser corretamente reescrita do seguinte

modo: Não há essa consciência em quem não seja poeta.

II. A frase este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de

escritor tem seu sentido corretamente reproduzido nesta outra construção: este palíndromo,

além de ter encantado o menino Cortázar, decidiu o seu destino de escritor.

III. Em Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, a

substituição do verbo é por parecia implica a alteração do segmento grifado para um menino

aberto ao que desse e viesse.

Está correto o que consta em

a) I, II e III.

b) II, apenas.

c) I e III, apenas.

d) II e III, apenas.

e) I, apenas.

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158

GM

Questão 147: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto apresentado abaixo.

Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o

progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.

Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza

em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e,

em particular, das Nações Unidas.

A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo

aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam

sanções e uso da força.

A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos

individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da

constituição das Nações Unidas, em 1945.

Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a

paz internacional passou por várias etapas. Em meados da década de 90 surgiram vozes que,

motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional

permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade

de proteger".

A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base

em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no

Conselho de Segurança − órgão dotado de competência primordial e intransferível pela

manutenção da paz e da segurança internacionais.

O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança.

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral,

observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser

contemplado como último recurso.

Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito

internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos

direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência

de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das

circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força

militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

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159

GM

(Adaptado de Antonio de Aguiar Patriota. “Direitos humanos e ação diplomática”. Artigo

publicado na Folha de S. Paulo, em 01/09/2011, e disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/- ministro-estado-relacoes-exteriores/direitos-humanos-e-acaodiplomatica-

folha-de-s.paulo-01-09-2011).

Ao considerar o posicionamento do Brasil, o autor do texto

a) critica a inoperância da comunidade internacional que, em sua visão, desde a criação da

Carta da ONU, nada fez para assegurar a defesa dos direitos humanos e, assim, provocou

guerras e genocídios.

b) assinala a diferença entre responsabilidade de proteger e responsabilidade ao proteger, o

que significa que o país defende o uso de ações militares para restaurar a paz apenas como

último recurso.

c) entende como necessário, embora não desejável, lançar mão da força militar, ainda que

sem a legitimação do Conselho de Segurança da ONU, para garantir a proteção dos direitos

humanos em situações de conflito.

d) reconhece a necessidade de se recorrer à ação coercitiva, ou seja, à intervenção militar,

sempre que a segurança internacional for posta em risco, conforme consagrado na

Conferência de Viena de 1993.

e) estabelece, de modo realista, um elo automático entre a coerção e a promoção da

democracia, o que justifica a primazia da intervenção militar, medida necessária nos casos em

que a promoção da paz evidentemente não se daria pelo diálogo.

Questão 148: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A dor, juntamente com a morte, é sem dúvida a experiência humana mais bem repartida:

nenhum privilegiado reivindica ignorância em relação a ela ou se vangloria de conhecê-la

melhor que qualquer outro. Violência nascida no próprio âmago do indivíduo, ela dilacera sua

presença e o esgota, dissolve-o no abismo que nele se abriu, esmaga-o no sentimento de um

imediato sem nenhuma perspectiva. Rompe-se a evidência da relação do indivíduo consigo e

com o mundo.

A dor quebra a unidade vivida do homem, transparente para si mesmo enquanto goza de boa

saúde, confiante em seus recursos, esquecido do enraizamento físico de sua existência, desde

que nenhum obstáculo se interponha entre seus projetos e o mundo. De fato, na vida

cotidiana o corpo se faz invisível, flexível; sua espessura é apagada pelas ritualidades sociais

e pela repetição incansável de situações próximas umas das outras. Aliás, esse ocultar o corpo

da atenção do indivíduo leva René Leriche a definir a saúde como “a vida no silêncio dos

órgãos”. Georges Canguilhem acrescenta que ela é um estado de “inconsciência em que o

sujeito é de seu corpo”.

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160

GM

(Adaptado de: BRETON, David Le. Antropologia da Dor, São Paulo, Editora Fap-Unifesp,

2013, p. 25-6)

Conforme o texto, a

a) saúde, ao contrário da dor, torna o homem apto à percepção corporal, uma vez que não

impõe barreiras inflexíveis.

b) dor, ao contrário da saúde, possibilita ao homem a tomada de consciência sobre seu

próprio corpo.

c) dor, como sintoma da doença, estabelece uma relação de pertença entre corpo e sujeito.

d) saúde, como estado de plenitude, torna perceptível a cisão entre corpo e sujeito.

e) dor, diferentemente da saúde, leva ao ocultamento do sujeito frente a seu corpo.

Questão 149: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Arquivologia/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Menino do mato

Eu queria usar palavras de ave para escrever.

Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.

Ali a gente brincava de brincar com palavras tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na

pedra!

A Mãe que ouvira a brincadeira falou:

Já vem você com suas visões!

Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis e nem há pedras de sacristias por aqui.

Isso é traquinagem da sua imaginação.

O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes.

O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de

ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça

aberta na solidão de uma pedra.

Eram novidades que os meninos criavam com as suas palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um sapo com olhar de árvore.

Então era preciso desver o mundo para sair daquele lugar imensamente e sem lado.

A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas pela inocência.

O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias para a gente bem entender a voz das

águas e dos caracóis.

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161

GM

A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias.

Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia.

(BARROS, Manoel de, Menino do Mato, em Poesia Completa, São Paulo, Leya, 2013, p. 417-

8.)

De acordo com o poema,

a) os sentidos atribuídos às palavras pelo menino adequavam- se, na verdade, às ideias

normais, que, por seu turno, iam constituindo sua compreensão de mundo.

b) os absurdos, muito embora concernentes à poesia, eram compreendidos pela mãe como

fruto da ignorância do menino.

c) as visões a que a mãe se refere são, para o menino, alterações no sentido usual das ideias,

com que reinventava o mundo que o cercava.

d) as novidades que o mundo apresentava ao menino precisavam de palavras novas para

serem descritas, pois a linguagem se mostrava pobre para a imensidão de seu mundo.

e) as imagens vistas pelo menino eram reflexo de sua imaginação, livre da linguagem de que

fazia uso para descrevê-las.

Questão 150: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

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162

GM

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

Afirma-se corretamente:

a) No 4º parágrafo, o autor emite um juízo de valor a respeito do hábito levado pelos

trabalhadores cubanos aos Estados Unidos.

b) O texto se inicia com a apresentação do contexto histórico que culminou na implantação

de um costume levado pelos cubanos para fábricas de charuto americanas.

c) O texto se desenvolve a partir de reminiscências do próprio autor a respeito de uma

situação vivenciada por ele em determinado contexto histórico.

d) No primeiro parágrafo, o autor introduz o assunto principal sobre o qual irá tratar no texto,

qual seja, a imigração de operários cubanos para os Estados Unidos.

e) O interesse da imprensa americana, estabelecido no 3º parágrafo, foi determinante para a

disseminação, no país, de costumes introduzidos por operários cubanos em Key West.

Questão 151: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A guerra dos dez anos começou quando um fazendeiro cubano, Carlos Manuel de Céspedes,

e duzentos homens mal armados tomaram a cidade de Santiago e proclamaram a

independência do país em relação à metrópole espanhola. Mas a Espanha reagiu. Quatro anos

depois, Céspedes foi deposto por um tribunal cubano e, em março de 1874, foi capturado e

fuzilado por soldados espanhóis.

Entrementes, ansioso por derrubar medidas espanholas de restrição ao comércio, o governo

americano apoiara abertamente os revolucionários e Nova York, Nova Orleans e Key West

tinham aberto seus portos a milhares de cubanos em fuga. Em poucos anos Key West

transformou-se de uma pequena vila de pescadores numa importante comunidade produtora

de charutos. Despontava a nova capital mundial do Havana.

Os trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos levaram com eles a instituição do

“lector”. Uma ilustração da revista Practical Magazine mostra um desses leitores sentado de

pernas cruzadas, óculos e chapéu de abas largas, um livro nas mãos, enquanto uma fileira de

trabalhadores enrolam charutos com o que parece ser uma atenção enlevada.

O material dessas leituras em voz alta, decidido de antemão pelos operários (que pagavam o

“lector” do próprio salário), ia de histórias e tratados políticos a romances e coleções de

poesia. Tinham seus prediletos: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo,

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163

GM

tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor pouco

antes da morte dele, em 1870, pedindo-lhe que cedesse o nome de seu herói para um charuto;

Dumas consentiu.

Segundo Mário Sanchez, um pintor de Key West, as leituras decorriam em silêncio

concentrado e não eram permitidos comentários ou questões antes do final da sessão.

(Adaptado de: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São

Paulo, Cia das Letras, 1996, p. 134-136)

Depreende-se do texto que

a) a atividade de ler em voz alta, conduzida pelo “lector”, permitia que os operários

produzissem mais, pois trabalhavam com maior concentração.

b) o hábito de ler em voz alta, levado originalmente de Cuba para os Estados Unidos,

relaciona-se ao valor atribuído à leitura, que é determinado culturalmente.

c) os operários cubanos homenagearam Alexandre Dumas ao atribuírem a um charuto o

nome de um dos personagens do escritor.

d) ao contratar um leitor, os operários cubanos podiam superar, em parte, a condição de

analfabetismo a que estavam submetidos.

e) os charuteiros cubanos, organizados coletivamente, compartilhavam a ideia de que a

fruição de um texto deveria ser comunitária, não individual.

Questão 152: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão de número, considere o texto abaixo.

Foi por me sentir genuinamente desidentificado com qualquer espécie de regionalismo que

escrevi coisas como: "Não sou brasileiro, não sou estrangeiro / Não sou de nenhum lugar, sou

de lugar nenhum"/ "Riquezas são diferenças".

Ao mesmo tempo, creio só terem sido possíveis tais formulações pessoais pelo fato de eu

haver nascido e vivido em São Paulo. Por essa ser uma cidade que permite, ou mesmo propicia,

esse desapego para com raízes geográficas, raciais, culturais. Por eu ver São Paulo como um

gigante liquidificador onde as informações diversas se misturam, gerando novas

interpretações, exceções.

Por sua multiplicidade de referências étnicas, linguísticas, culturais, religiosas, arquitetônicas,

culinárias...

São Paulo não tem símbolos que dêem conta de sua diversidade. Nada aqui é típico daqui. Não

temos um corcovado, uma arara, um cartão postal. São Paulo são muitas cidades em uma.

Sempre me pareceram sem sentido as guerras, os fundamentalismos, a intolerância ante a

diversidade.

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164

GM

Assim, fui me sentindo cada vez mais um cidadão do planeta. Acabei atribuindo parte desse

sentimento à formação miscigenada do Brasil.

Acontece que a miscigenação brasileira parece ter se multiplicado em São Paulo, num

ambiente urbano que foi crescendo para todos os lados, sem limites.Até a instabilidade

climática daqui parece haver contribuído para essa formação aberta ao acaso, à

imprevisibilidade das misturas.

Ao mesmo tempo, temos preservados inúmeros nomes indígenas designando lugares, como

Ibirapuera, Anhangabaú, Butantã etc. Primitivismo em contexto cosmopolita, como soube

vislumbrar Oswald de Andrade.

Não é à toa que partiram daqui várias manifestações culturais.

São Paulo fragmentária, com sua paisagem recortada entre praças e prédios; com o ruído dos

carros entrando pelas janelas dos apartamentos como se fosse o ruído longínquo do mar; com

seus crepúsculos intensificados pela poluição; seus problemas de trânsito, miséria e violência

convivendo com suas múltiplas ofertas de lazer e cultura; com seu crescimento

indiscriminado, sem nenhum planejamento urbano; com suas belas alamedas arborizadas e

avenidas de feiura infinita.

(Adaptado de: ANTUNES, Arnaldo. Alma paulista. Disponível em

http://www.arnaldoantunes.com.br).

No texto, o autor

a) descreve São Paulo como uma cidade marcada por contrastes de diversas ordens.

b) assinala a relevância da análise de Oswald de Andrade a respeito do provincianismo da

antiga São Paulo.

c) critica o fato de nomes indígenas, ininteligíveis, designarem, ainda hoje, lugares comuns da

cidade de São Paulo.

d) sugere que o trânsito, com seus ruídos longínquos, é o principal problema da cidade de São

Paulo.

e) utiliza-se da ironia ao elogiar a instabilidade climática e a paisagem recortada da cidade de

São Paulo.

Questão 153: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão de número, considere o texto abaixo.

Foi por me sentir genuinamente desidentificado com qualquer espécie de regionalismo que

escrevi coisas como: "Não sou brasileiro, não sou estrangeiro / Não sou de nenhum lugar, sou

de lugar nenhum"/ "Riquezas são diferenças".

Ao mesmo tempo, creio só terem sido possíveis tais formulações pessoais pelo fato de eu

haver nascido e vivido em São Paulo. Por essa ser uma cidade que permite, ou mesmo propicia,

esse desapego para com raízes geográficas, raciais, culturais. Por eu ver São Paulo como um

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165

GM

gigante liquidificador onde as informações diversas se misturam, gerando novas

interpretações, exceções.

Por sua multiplicidade de referências étnicas, linguísticas, culturais, religiosas, arquitetônicas,

culinárias...

São Paulo não tem símbolos que dêem conta de sua diversidade. Nada aqui é típico daqui. Não

temos um corcovado, uma arara, um cartão postal. São Paulo são muitas cidades em uma.

Sempre me pareceram sem sentido as guerras, os fundamentalismos, a intolerância ante a

diversidade.

Assim, fui me sentindo cada vez mais um cidadão do planeta. Acabei atribuindo parte desse

sentimento à formação miscigenada do Brasil.

Acontece que a miscigenação brasileira parece ter se multiplicado em São Paulo, num

ambiente urbano que foi crescendo para todos os lados, sem limites.

Até a instabilidade climática daqui parece haver contribuído para essa formação aberta ao

acaso, à imprevisibilidade das misturas.

Ao mesmo tempo, temos preservados inúmeros nomes indígenas designando lugares, como

Ibirapuera, Anhangabaú, Butantã etc. Primitivismo em contexto cosmopolita, como soube

vislumbrar Oswald de Andrade.

Não é à toa que partiram daqui várias manifestações culturais.

São Paulo fragmentária, com sua paisagem recortada entre praças e prédios; com o ruído dos

carros entrando pelas janelas dos apartamentos como se fosse o ruído longínquo do mar; com

seus crepúsculos intensificados pela poluição; seus problemas de trânsito, miséria e violência

convivendo com suas múltiplas ofertas de lazer e cultura; com seu crescimento

indiscriminado, sem nenhum planejamento urbano; com suas belas alamedas arborizadas e

avenidas de feiura infinita.

(Adaptado de: ANTUNES, Arnaldo. Alma paulista. Disponível em

http://www.arnaldoantunes.com.br).

O autor

a) opõe a oferta de atividades de lazer disponíveis em São Paulo ao seu desapego pessoal por

raízes geográficas, raciais e culturais.

b) atribui a tolerância à miscigenação brasileira à diversidade que se exprime com grande

força em São Paulo.

c) encontra razões plausíveis para a violência da cidade de São Paulo e o crescimento sem

limites de sua área urbana.

d) considera a falta de planejamento urbano da cidade de São Paulo a causa da feiura infinita

de suas avenidas.

e) estabelece uma associação entre a diversidade típica de São Paulo e a falta de um símbolo

que sirva de cartão postal para a cidade.

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166

GM

Questão 154: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

O sentimento da vaidade, ao longo do primeiro parágrafo do texto, é considerado e

qualificado com alguma condescendência

a) pelo fato de ser um defeito natural, de que as pessoas não conseguem livrar-se e contra o

qual é inútil lutar.

b) quando sua razão de ser deriva de alguma efetiva conquista que alcançamos em virtude do

nosso trabalho.

c) pelo fato de que os moralistas, sendo inapelavelmente rigorosos, não conseguem divisar os

méritos espirituais de quem os detém.

d) quando sua razão de ser se deve à generosidade mesma com que a natureza recompensa

os indivíduos por seus méritos pessoais.

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167

GM

e) pelo fato de constituir um vício tolerável, já que a vaidade decorre de alguma razão objetiva

pela qual o sujeito deve se orgulhar.

Questão 155: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Atente para as seguintes afirmações:

I. A condição de humanistas define-se quando o homem mesmo é tomado como a medida

essencial das coisas, razão pela qual um humanista deve desconsiderar parcerias com os

avanços da tecnologia.

II. Para Edward Said, no ato de ler o leitor busca compreender o ponto de vista do autor, não

para necessariamente concordar com ele, mas para reconhecer e ponderar a perspectiva

própria do outro.

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168

GM

III. Acima das representações virtuais, oferecidas pela perspectiva tecnológica, está a busca

de conhecimento efetivo, da beleza real das coisas e de uma melhor distribuição de justiça

social.

Em relação ao texto, está correto o que consta em

a) I, II e III.

b) I e II, apenas.

c) I e III, apenas.

d) II e III, apenas.

e) III, apenas.

Questão 156: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Um programa a ser adotado

O PET − Programa de Educação pelo Trabalho − está fazendo dez anos, que serão

comemorados num evento promovido pelo TRF4, que contará com representantes da Fase −

Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul.

Há dez anos seria difícil imaginar um interno da Fase em cumprimento de medida

socioeducativa saindo para trabalhar em um tribunal e, no final do dia, retornar à fundação.

Muitos desacreditariam da iniciativa de colocar um adolescente infrator dentro de um

gabinete de desembargador ou da Presidência de um tribunal. Outros poderiam discriminar

esses jovens e desejá-los longe do ambiente de trabalho.

Todas essas barreiras foram vencidas. Em uma década, o PET do TRF4 se tornou realidade,

quebrou preconceitos, mudou a cultura da própria instituição e a vida de 154 adolescentes

que já passaram pelo projeto. São atendidos jovens entre 16 e 21 anos, com escolaridade

mínima da 4ª série do ensino fundamental. O tribunal enfrenta o desafio de criar, desenvolver

e, principalmente, manter um programa de reinserção social. Os resultados do trabalho do

PET com os menores que cumprem medida socioeducativa na Fase são considerados muito

positivos quando se fala de jovens em situação de vulnerabilidade social. Durante esses dez

anos, 45% dos participantes foram inseridos no mercado de trabalho e muitos já concluíram

o ensino médio; cerca de 70% reorganizaram suas vidas e conseguiram superar a condição de

envolvimento em atividades ilícitas.

Na prática, os jovens trabalham durante 4 horas nos gabinetes de desembargadores e nas

unidades administrativas do tribunal. Recebem atendimento multidisciplinar, com

acompanhamento jurídico, de psicólogos e de assistentes sociais. Por meio de parcerias com

entidades, já foram realizados cursos de mecânica, de padaria e de garçom. Destaque a

considerar é o projeto “Virando a página”: oficinas de leitura e produção textual, coordenadas

por servidores do TRF4 e professores e formandos de faculdades de Letras.

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169

GM

(Adaptado de: wttp://www2.trf4.jus.br/trf4/

controlador.php? acao= noticia_visualizar&id_noticia=10129)

Atente para as seguintes afirmações:

I. O objetivo central do PET é o aproveitamento de menores infratores em funções

administrativas, exercidas em vários tribunais, de modo que esses menores reponham com

trabalho o que ficaram devendo à sociedade, por conta de atividades ilícitas.

II. A reinserção de jovens infratores no mercado de trabalho é um esforço que enfrenta

preconceitos e barreiras sociais, pois há quem não admita a coexistência em um mesmo

espaço de trabalho entre autoridades e menores envolvidos em práticas ilícitas.

III. O sucesso do PET não está apenas no espírito afirmativo do programa, mas se reflete nos

resultados concretos que apontam, em termos percentuais, uma expressiva inserção de

jovens infratores no mercado de trabalho.

Em relação ao texto, está correto o que consta em

a) I, II e III.

b) I e II, apenas.

c) II e III, apenas.

d) I e III, apenas.

e) II, apenas.

Questão 157: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Ao cabo de uma palestra, perguntaram-me se concordo com a tese de que só é possível

filosofar em alemão. Não foi a primeira vez. Essa questão se popularizou a partir de versos da

canção “Língua”, de Caetano Veloso (“Está provado que só é possível filosofar em alemão”).

Ocorre que os versos que se encontram no interior de uma canção não estão necessariamente

afirmando aquilo que afirmariam fora do poema. O verso em questão possui carga irônica e

provocativa: tanto mais quanto a afirmação é geralmente atribuída a Heidegger, filósofo cujo

tema precípuo é o ser. Ora, logo no início de “Língua”, um verso (“Gosto de ser e de estar”)

explora um privilégio poético-filosófico da língua portuguesa, que é a distinção entre ser e

estar: privilégio não compartilhado pela língua alemã. Mas consideremos a tese de Heidegger.

Para ele, a língua do pensamento por excelência é a alemã. Essa pretensão tem uma história.

Os pensadores românticos da Alemanha inventaram a superioridade filosófica do seu idioma

porque foram assombrados pela presunção, que lhes era opressiva, da superioridade do latim

e do francês.

O latim foi a língua da filosofia e da ciência na Europa desde o Império Romano até a segunda

metade do século XVIII, enquanto o alemão era considerado uma língua bárbara. Entre os

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170

GM

séculos XVII e XVIII, a França dominou culturalmente a Europa. Paris foi a nova Roma e o

francês o novo latim. Não admira que os intelectuais alemães − de origem burguesa − tenham

reagido violentamente contra o culto que a aristocracia do seu país dedicava a tudo o que era

francês e o concomitante desprezo que reservava a tudo o que era alemão. Para eles, já que a

França se portava como a herdeira de Roma, a Alemanha se identificaria com a Grécia. Se o

léxico francês era descendente do latino, a morfologia e a sintaxe alemãs teriam afinidades

com as gregas. Se modernamente o francês posava de língua da civilização universal, é que

eram superficiais a civilização e a universalidade; o alemão seria, ao contrário, a língua da

particularidade germânica: autêntica, profunda, e o equivalente moderno do grego.

Levando isso em conta, estranha-se menos o fato de que Heidegger tenha sido capaz de

querer crer que a superficialidade que atribui ao pensamento ocidental moderno tenha

começado com a tradução dos termos filosóficos gregos para o latim; ou de afirmar que os

franceses só consigam começar a pensar quando aprendem alemão.

Estranho é que haja franceses ou brasileiros que acreditem nesses mitos germânicos, quando

falam idiomas derivados da língua latina, cujo vocabulário é rico de 2000 anos de filosofia, e

que tinha − ela sim − enorme afinidade com a língua grega.

(CICERO, A. A filosofia e a língua alemã. In: F. de São Paulo.

Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustradi/fq0505200726. htm. Acesso em:

08/06/2014)

Depreende-se corretamente do contexto:

a) O domínio cultural da burguesia francesa sobre a aristocracia alemã afetou o modo como

a própria língua alemã passou a ser percebida pelos europeus: muitos julgaram-na,

injustamente, uma língua “bárbara”.

b) As semelhanças entre as línguas alemã e grega foram usadas, no romantismo alemão, como

argumento para rebater a ideia, dominante no país, de que a cultura romana, hegemônica, era

superior à alemã.

c) A suposta primazia da língua alemã foi forjada por pensadores do romantismo alemão, visto

que a noção de que o latim e o francês seriam línguas superiores os oprimia e intimidava.

d) O Romantismo tal como se deu na Alemanha, ao contrário da corrente francesa, buscava

explicar o declínio da civilização moderna a partir dos mitos germânicos fundamentais, que

remontam aos dos gregos.

e) O fato de que a superficialidade do pensamento ocidental, em oposição à profundidade dos

antigos, começa com a tradução de termos filosóficos para o francês corrobora o que se

afirma na canção citada.

Questão 158: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

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171

GM

Ao cabo de uma palestra, perguntaram-me se concordo com a tese de que só é possível

filosofar em alemão. Não foi a primeira vez. Essa questão se popularizou a partir de versos da

canção “Língua”, de Caetano Veloso (“Está provado que só é possível filosofar em alemão”).

Ocorre que os versos que se encontram no interior de uma canção não estão necessariamente

afirmando aquilo que afirmariam fora do poema. O verso em questão possui carga irônica e

provocativa: tanto mais quanto a afirmação é geralmente atribuída a Heidegger, filósofo cujo

tema precípuo é o ser. Ora, logo no início de “Língua”, um verso (“Gosto de ser e de estar”)

explora um privilégio poético-filosófico da língua portuguesa, que é a distinção entre ser e

estar: privilégio não compartilhado pela língua alemã. Mas consideremos a tese de Heidegger.

Para ele, a língua do pensamento por excelência é a alemã. Essa pretensão tem uma história.

Os pensadores românticos da Alemanha inventaram a superioridade filosófica do seu idioma

porque foram assombrados pela presunção, que lhes era opressiva, da superioridade do latim

e do francês.

O latim foi a língua da filosofia e da ciência na Europa desde o Império Romano até a segunda

metade do século XVIII, enquanto o alemão era considerado uma língua bárbara. Entre os

séculos XVII e XVIII, a França dominou culturalmente a Europa. Paris foi a nova Roma e o

francês o novo latim. Não admira que os intelectuais alemães − de origem burguesa − tenham

reagido violentamente contra o culto que a aristocracia do seu país dedicava a tudo o que era

francês e o concomitante desprezo que reservava a tudo o que era alemão. Para eles, já que a

França se portava como a herdeira de Roma, a Alemanha se identificaria com a Grécia. Se o

léxico francês era descendente do latino, a morfologia e a sintaxe alemãs teriam afinidades

com as gregas. Se modernamente o francês posava de língua da civilização universal, é que

eram superficiais a civilização e a universalidade; o alemão seria, ao contrário, a língua da

particularidade germânica: autêntica, profunda, e o equivalente moderno do grego.

Levando isso em conta, estranha-se menos o fato de que Heidegger tenha sido capaz de

querer crer que a superficialidade que atribui ao pensamento ocidental moderno tenha

começado com a tradução dos termos filosóficos gregos para o latim; ou de afirmar que os

franceses só consigam começar a pensar quando aprendem alemão.

Estranho é que haja franceses ou brasileiros que acreditem nesses mitos germânicos, quando

falam idiomas derivados da língua latina, cujo vocabulário é rico de 2000 anos de filosofia, e

que tinha − ela sim − enorme afinidade com a língua grega.

(CICERO, A. A filosofia e a língua alemã. In: F. de São Paulo.

Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustradi/fq0505200726. htm. Acesso em:

08/06/2014)

Deve-se entender, pelo contexto, que

a) a pergunta feita ao autor do texto, sobre a tese de Heidegger retomada pela canção de

Caetano Veloso, encontra resposta negativa no último parágrafo.

b) a afirmação de que os versos que se encontram no interior de uma canção não estão

necessariamente afirmando aquilo que afirmariam fora do poema ressalta o caráter ficcional

da tese apresentada.

c) o autor concorda com a premissa de Heidegger, a partir da qual se conclui que a

superficialidade do pensamento ocidental moderno tenha começado com a tradução dos

termos filosóficos gregos para o latim.

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172

GM

d) a asserção de que o verso em questão possui carga irônica e provocativa encontra

sustentação no seguinte segmento: privilégio não compartilhado pela língua alemã.

e) o privilégio poético-filosófico da língua portuguesa, não compartilhado pela língua alemã,

é o de ostentar vocabulário rico de 2000 anos de filosofia.

Questão 159: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Informática/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Antônio Vieira é, desde o século XVII, um modelo de nosso idioma, a ponto de Fernando

Pessoa, na Mensagem, chamá-lo de “Imperador da língua portuguesa”. Em uma de suas

principais obras, o Sermão da Sexagésima, ensina como deve ser o estilo de um texto:

“Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. Como hão de ser as

palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o

estilo da pregação, muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo

baixo; as estrelas são muito distintas, e muito claras e altíssimas. O estilo pode ser muito claro

e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que

entender nele os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura, e o

mareante para sua navegação, e o matemático para as suas observações e para os seus juízos.

De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler nem escrever, entendem as

estrelas, e o matemático que tem lido quantos escreveram não alcança a entender quanto

nelas há.”

Vieira mostra com as estrelas o que sejam a distinção e a clareza. Não são discordantes, como

muitos de nós pensamos: uma e outra concorrem para o mesmo fim. Nada mais adequado que,

ao tratar de tais virtudes do discurso, fizesse uso de comparação. Este procedimento

Quintiliano, no século II d.C., já considerava dos mais aptos para conferir clareza, uma vez que

estabelece similaridades entre algo já sabido pelo leitor e aquilo que se lhe quer elucidar. Aqui,

compara o bom discurso ao céu, que é de todos conhecido.

(Tales Ben Daud, inédito)

De acordo com o texto,

a) um discurso deve ser claro para seu destinatário específico, de modo que o matemático,

por exemplo, não precise entender necessariamente a linguagem direcionada a marinheiros

ou trabalhadores do campo.

b) a diferenciação que Vieira estabelece entre clareza e distinção, duas virtudes que se

alternam em um mesmo texto, torna-se relevante para atender a públicos distintos −

respectivamente, os mais rudes e os mais estudados.

c) o próprio Fernando Pessoa, ao chamar Vieira de “Imperador da língua portuguesa”, indica-

nos que sua linguagem é distinta, a ponto de prescindir da clareza necessária aos discursos de

matemáticos e mareantes, que fazem uso das estrelas.

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173

GM

d) a comparação que Vieira faz entre o estilo e o céu estrelado é duplamente proveitosa − seja

como explicação, seja como procedimento − para explicitar a complementaridade de duas

virtudes textuais.

e) o céu, não obstante seja um termo comparativo de conhecimento geral, traz, dada sua

elevação, dificuldades de compreensão, característica essa que o aproxima do texto

pretendido por Vieira.

Questão 160: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

DEPOIMENTO

Fernando Morais (jornalista)

O que mais me surpreendia, na Ouro Preto da infância, não era o ouro dos altares das igrejas.

Nem o casario português recortado contra a montanha. Isso eu tinha de sobra na minha

própria cidade, Mariana, a uma légua dali. O espantoso em Ouro Preto era o grande Hotel−

um prédio limpo, reto, liso, um monólito branco que contrastava com o barroco sem violentá-

lo. Era “o Hotel do Niemeyer”, diziam. Deslumbrado com a construção, eu acreditava que seu

criador (que supunha chamar-se “Nei Maia”) fosse mineiro − um marianense, quem sabe?

A suspeita aumentou quando, ainda de calças curtas, mudei-me para Belo Horizonte. Era

tanto Niemeyer que ele só podia mesmo ser mineiro. No bairro de Santo Antônio ficava o

Colégio Estadual (a caixa d’água era o lápis, o prédio das classes tinha a forma de uma régua,

o auditório era um mataborrão). Numa das pontas da vetusta Praça da Liberdade, Niemeyer

fez pousar suavemente uma escultura de vinte andares de discos brancos superpostos, um

edifício de apartamentos cujo nome não me vem à memória. E, claro, tinha a Pampulha: o

cassino, a casa do baile, mas principalmente a igreja.

Com o tempo cresceram as calças e a barba, e saí batendo perna pelo mundo. E não parei de

ver Niemeyer. Vi na França, na Itália, em Israel, na Argélia, nos Estados Unidos, na Alemanha.

Tanto Niemeyer espalhado pelo planeta aumentou minha confusão sobre sua verdadeira

origem. E hoje, quase meio século depois do alumbramento produzido pela visão do “HOTEL

do Nei Maia”, continuo sem saber onde ele nasceu. Mesmo tendo visto um papel que prova

que foi na Rua Passos Manuel número 26, no Rio de Janeiro, estou convencido de que lá pode

ter nascido o corpo dele. A alma de Oscar Niemeyer, não tenham dúvidas, é mineira.

(Adaptado de: MORAIS, Fernando. Depoimento. In: SCHARLACH,

Cecília (coord.). Niemeyer 90 anos: poemas testemunhos cartas. São Paulo: Fundação

Memorial da América Latina, 1998. p. 29)

A afirmação do último parágrafo E não parei de ver Niemeyer, no contexto do texto, permite

a pressuposição de que autor

a) manteve contato pessoal com o arquiteto no exterior.

b) revisitou o hotel construído pelo arquiteto em Mariana.

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174

GM

c) encontrou diversas obras do arquiteto em suas viagens.

d) comprovou em documentos a origem mineira do arquiteto.

e) divulgou a beleza da obra do arquiteto no exterior.

Questão 161: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

DEPOIMENTO

Fernando Morais (jornalista)

O que mais me surpreendia, na Ouro Preto da infância, não era o ouro dos altares das igrejas.

Nem o casario português recortado contra a montanha. Isso eu tinha de sobra na minha

própria cidade, Mariana, a uma légua dali. O espantoso em Ouro Preto era o grande Hotel −

um prédio limpo, reto, liso, um monólito branco que contrastava com o barroco sem violentá-

lo. Era “o Hotel do Niemeyer”, diziam. Deslumbrado com a construção, eu acreditava que seu

criador (que supunha chamar-se “Nei Maia”) fosse mineiro − um marianense, quem sabe?

A suspeita aumentou quando, ainda de calças curtas, mudei-me para Belo Horizonte. Era

tanto Niemeyer que ele só podia mesmo ser mineiro. No bairro de Santo Antônio ficava o

Colégio Estadual (a caixa d’água era o lápis, o prédio das classes tinha a forma de uma régua,

o auditório era um mataborrão). Numa das pontas da vetusta Praça da Liberdade, Niemeyer

fez pousar suavemente uma escultura de vinte andares de discos brancos superpostos, um

edifício de apartamentos cujo nome não me vem à memória. E, claro, tinha a Pampulha: o

cassino, a casa do baile, mas principalmente a igreja.

Com o tempo cresceram as calças e a barba, e saí batendo perna pelo mundo. E não parei de

ver Niemeyer. Vi na França, na Itália, em Israel, na Argélia, nos Estados Unidos, na Alemanha.

Tanto Niemeyer espalhado pelo planeta aumentou minha confusão sobre sua verdadeira

origem. E hoje, quase meio século depois do alumbramento produzido pela visão do “HOTEL

do Nei Maia”, continuo sem saber onde ele nasceu. Mesmo tendo visto um papel que prova

que foi na Rua Passos Manuel número 26, no Rio de Janeiro, estou convencido de que lá pode

ter nascido o corpo dele. A alma de Oscar Niemeyer, não tenham dúvidas, é mineira.

(Adaptado de: MORAIS, Fernando. Depoimento. In: SCHARLACH,

Cecília (coord.). Niemeyer 90 anos: poemas testemunhos cartas. São Paulo: Fundação

Memorial da América Latina, 1998. p. 29)

No último parágrafo, as aspas são utilizadas para destacar o

a) nome indevido que na infância o jornalista atribuía ao criador do prédio.

b) apelido com que o arquiteto era conhecido em sua terra de origem.

c) modo correto de se pronunciar o sobrenome do arquiteto.

d) título do papel que prova o local de nascimento do jornalista.

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175

GM

e) jeito correto de escrever o NOME DO HOTEL cinquenta anos antes.

Questão 162: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

O LIVRO

Jorge Luis Borges (escritor)

Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro.

Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua

visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de

seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Dediquei parte de minha vida às letras, e creio que uma forma de felicidade é a leitura. Outra

forma de felicidade − menor − é a criação poética, ou o que chamamos de criação, mistura de

esquecimento e lembrança do que lemos.

Devemos tanto às letras. Sempre reli mais do que li. Creio que reler é mais importante do que

ler, embora para se reler seja necessário já haver lido. Tenho esse culto pelo livro. É possível

que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético. E não quero que seja patético;

quero que seja uma confidência que faço a cada um de vocês; não a todos, mas a cada um,

porque “todos” é uma abstração, enquanto “cada um” é algo verdadeiro.

Continuo imaginando não ser cego; continuo comprando livros; continuo enchendo minha

casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 da Enciclopédia

Brockhaus. Senti sua presença em minha casa − eu a senti como uma espécie de felicidade. Ali

estavam os vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e

gravuras que não posso ver. E, no entanto, o livro estava ali. Eu sentia como que uma

gravitação amistosa partindo do livro. Penso que o livro é uma felicidade de que dispomos,

nós, os homens.

(Adaptado de: BORGES, Jorge Luis. Cinco visões

pessoais. 4. ed. Trad. de Maria Rosinda R. da Silva. Brasília: UnB, 2002. p. 13 e 19)

No terceiro parágrafo, Borges justifica e reforça o motivo que o levou a dizer cada um, em vez

de todos. No contexto, a diferença entre as duas expressões (cada um e todos) reside no

contraste de sentido, respectivamente, entre:

a) totalidade inclusiva e totalidade exclusiva.

b) negação e afirmação.

c) particularização e generalização.

d) omissão de pessoa e presença de pessoa.

e) nenhuma coisa e alguma coisa.

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GM

Questão 163: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

O LIVRO

Jorge Luis Borges (escritor)

Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro.

Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua

visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de

seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Dediquei parte de minha vida às letras, e creio que uma forma de felicidade é a leitura. Outra

forma de felicidade − menor − é a criação poética, ou o que chamamos de criação, mistura de

esquecimento e lembrança do que lemos.

Devemos tanto às letras. Sempre reli mais do que li. Creio que reler é mais importante do que

ler, embora para se reler seja necessário já haver lido. Tenho esse culto pelo livro. É possível

que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético. E não quero que seja patético;

quero que seja uma confidência que faço a cada um de vocês; não a todos, mas a cada um,

porque “todos” é uma abstração, enquanto “cada um” é algo verdadeiro.

Continuo imaginando não ser cego; continuo comprando livros; continuo enchendo minha

casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 da Enciclopédia

Brockhaus. Senti sua presença em minha casa − eu a senti como uma espécie de felicidade. Ali

estavam os vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e

gravuras que não posso ver. E, no entanto, o livro estava ali. Eu sentia como que uma

gravitação amistosa partindo do livro. Penso que o livro é uma felicidade de que dispomos,

nós, os homens.

(Adaptado de: BORGES, Jorge Luis. Cinco visões pessoais. 4. ed. Trad. de Maria Rosinda R. da

Silva. Brasília: UnB, 2002. p. 13 e 19)

As alternativas apresentam trechos da entrevista que foi concedida por Jorge Luis Borges, em

julho de 1985, ao jornalista Roberto D’Ávila. Borges morreria um ano depois. O trecho da

entrevista que pode ser diretamente relacionado com as informações autobiográficas dadas

no texto indicado para a leitura é:

a) O fracasso e o sucesso são impostores. Ninguém fracassa tanto como imagina. Ninguém

tem tanto sucesso como imagina. Além disso, o que importa o sucesso e o fracasso?.

b) Quando publico um livro, não sei se teve êxito, se está vendendo. O que disse a crítica.

Meus amigos sabem que não devem falar do que escrevo.

c) Nunca li um jornal na vida. Pra que lê-los? É tudo bobagem. Só falam de viagens de

presidentes, congressos de escritores, partidas de futebol.

d) Nasci aqui no centro de Buenos Aires: Rua Tucumán, quatro ou cinco quadras daqui. Toda

a Buenos Aires era de casas baixas com terraços, pátios, campainhas manuais.

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GM

e) Continuo a adquirir livros porque gosto de estar rodeado por eles. Como quando era

menino, já que minhas primeiras lembranças são de livros e acho que minhas últimas o serão

também.

Questão 164: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

QUANDO A CRASE MUDA O SENTIDO

Muitos deixariam de ver a crase como bicho-papão se pensassem nela como uma ferramenta

para evitar ambiguidade nas frases.

Luiz Costa Pereira Junior

O emprego da crase costuma desconcertar muita gente. A ponto de ter gerado um balaio de

frases inflamadas ou espirituosas de uma turma renomada. O poeta Ferreira Gullar, por

exemplo, é autor da sentença “A crase não foi feita para humilhar ninguém”, marco da

tolerância gramatical ao acento gráfico. O escritor Moacyr Scliar discorda, em uma deliciosa

crônica “Tropeçando nos acentos”, e afirma que a crase foi feita, sim, para humilhar as

pessoas; e o humorista Millôr Fernandes, de forma irônica e jocosa, é taxativo: “ela não existe

no Brasil”.

O assunto é tão candente que, em 2005, o deputado João Herrmann Neto propôs abolir esse

acento do português do Brasil por meio do projeto de lei 5.154, pois o considerava “sinal

obsoleto, que o povo já fez morrer”. Bombardeado, na ocasião, por gramáticos e linguistas que

o acusavam de querer abolir um fato sintático como quem revoga a lei da gravidade,

Herrmann logo desistiu do projeto.

A grande utilidade do acento de crase no a, entretanto, que faz com que seja descabida a

proposta de sua extinção por decreto ou falta de uso, é: crase é, antes de mais nada, um

imperativo de clareza. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase − em outras, só o

contexto resolve o impasse. Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido de

uma frase, lembrados por Celso Pedro Luft no hoje clássico Decifrando a crase: cheirar a

gasolina X cheirar à gasolina; a moça correu as cortinas X a moça correu às cortinas; o homem

pinta a máquina X o homem pinta à máquina; referia-se a outra mulher X referia-se à outra

mulher.

O contexto até se encarregaria, diz o autor, de esclarecer a mensagem; um usuário do idioma

mais atento intui um acento necessário, garantido pelo contexto em que a mensagem se

insere. A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala, não tanto na escrita. Exemplos de dúvida

fonética, sugeridos por Francisco Platão Savioli: “A noite chegou”; “ela cheira a rosa”; “a polícia

recebeu a bala”. Sem o sinal diacrítico, construções como essas serão sempre ambíguas. Nesse

sentido, a crase pode ser antes um problema de leitura do que prioritariamente de escrita.

(Adaptado de: PEREIRA Jr., Luiz Costa. Revista Língua portuguesa, ano 4, n. 48. São Paulo:

Segmento, outubro de 2009. p. 36-38)

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GM

Logo na abertura do texto, o autor destaca a importância da crase como uma ferramenta para

evitar ambiguidade nas frases. Ideia semelhante é reafirmada no trecho:

a) O emprego da crase costuma desconcertar muita gente.

b) sinal obsoleto, que o povo já fez morrer.

c) crase é, antes de mais nada, um imperativo de clareza.

d) só o contexto resolve o impasse.

e) A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala.

Questão 165: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Apoio Especializado/Arquitetura/2014

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

ANTES QUE O CÉU CAIA

Líder indígena brasileiro mais conhecido no mundo, o ianomâmi Davi Kopenawa lança livro e

participa da FLIP enquanto relata o medo dos efeitos das mudanças climáticas sobre a Terra.

Leão Serva

Davi Kopenawa está triste. “A cobra grande está devorando o mundo”, ele diz. Em todo lugar,

os homens semeiam destruição, esquentam o planeta e mudam o clima: até mesmo o lugar

onde vive, a Terra Indígena Yanomâmi, que ocupa 96 km2 em Roraima e no Amazonas, na

fronteira entre Brasil e Venezuela, vem sofrendo sinais estranhos. O céu pode cair a qualquer

momento. Será o fim. Por isso, nem as muitas homenagens que recebe em todo o mundo

aplacam sua angústia.

Ele decidiu escrever um livro para contar a sabedoria dos xamãs de seu povo, a criação do

mundo, seus elementos e espíritos. Gravou 15 fitas em que narrou também sua própria

trajetória. “Não adianta só os brancos escreverem os livros deles. Eu queria escrever para os

não indígenas não acharem que índio não sabe nada.”

A obra foi lançada em 2010, na França (ed. Plon), e no ano passado, nos EUA, pela editora da

universidade Harvard. Com o nome “A Queda do Céu”, está sendo traduzido para o português

pela Companhia das Letras. No fim de julho, Davi vai participar da Feira Literária de

Paraty/FLIP, mas a versão em português ainda não estará pronta. O lançamento está previsto

para o ano que vem.

O livro explica os espíritos chamados “xapiris”, que os ianomâmis creem serem os únicos

capazes de cuidar das pessoas e das coisas. “Xapiri é o médico do índio. E também ajuda

quando tem muita chuva ou está quente. O branco está preocupado que não chove mais em

alguns lugares e em outros tem muita chuva. Ele ajuda a nossa terra a não ficar triste.”

Nascido em 1956, Davi logo cedo foi identificado como um possível xamã, pois seus sonhos

eram frequentados por espíritos. Xamã, ou pajé, é a referência espiritual de uma sociedade

tribal. Os ianomâmis acreditam que os xamãs recebem dos espíritos chamados “xapiris” a

capacidade de cura dos doentes. Davi descreve assim sua vocação: “Quando eu era pequeno,

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GM

costumava ver em sonhos seres assustadores. Não sabia o que me atrapalhava o sono, mas já

eram os xapiris que vinham a mim”. Quando jovem, recebeu a formação tradicional de pajé.

Com cerca de 40 mil pessoas (entre Brasil e Venezuela), em todo o mundo os ianomâmis são

o povo indígena mais populoso a viver de forma tradicional em floresta. Poucos falam

português. Davi logo se tornou seu porta-voz.

(Adaptado de: SERVA, Leão. Revista Serafina.

Número 75. São Paulo: Folha de S. Paulo, julho de 2014, p. 18-19)

Considerando as informações do texto, é correto afirmar sobre o autor e o livro apresentados

na reportagem:

a) tendo recebido quando jovem a formação necessária para se tornar pajé, o autor de “A

Queda do Céu” explica no livro as funções dos espíritos xapiris segundo seu povo, os

ianomâmis.

b) originalmente escrito em português, o livro de Davi Kopenawa vem acompanhado de 15

fitas, nas quais o autor relata em língua nativa indígena histórias mitológicas do seu povo.

c) lançado no exterior, durante a FLIP, “A Queda do Céu” motivou muitas homenagens a Davi

Kopenawa, líder indígena brasileiro que já viveu na França e nos Estados Unidos.

d) destinado aos não indígenas, o livro de Davi Kopenawa busca orientar leitores com

problemas de saúde ocasionados pela ação predatória do homem branco sobre o meio

ambiente.

e) narrando sua própria trajetória de porta-voz dos costumes de uma sociedade tribal

tradicional, o autor de “A Queda no Céu” foi homenageado em Paraty por cerca de 40 mil

pessoas.

Questão 166: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

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GM

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

O excerto, que narra a passagem de Lévi-Strauss por Santos, rumo a São Paulo,

a) representa com minúcia uma natureza que foi preservada graças ao desenvolvimento de

Santos, impulsionado pelo cultivo do café.

b) descreve a natureza pujante da região, a despeito de seu desenvolvimento econômico, a

ponto de recorrer a imagens de cunho religioso para melhor ilustrar seu ponto de vista.

c) tece juízo de valor a respeito do desenvolvimento econômico do Brasil, tendo como pano

de fundo sua riqueza natural inexplorada.

d) compara a natureza litorânea de Santos à encontradiça junto ao leito do rio Bramaputra,

com vistas a mostrar, paralelamente, o quão luxuriante é a natureza brasileira.

e) lamenta o comércio que teria destruído praticamente toda a beleza natural, reduzindo-a a

pequenos e secretos lugares, observáveis apenas em expedições como a que conduzia.

Questão 167: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

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GM

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

De acordo com o texto,

a) o convívio harmônico entre as mais variadas tendências é característica encontrada não

apenas em nossa música, mas também em artistas europeus.

b) muito embora o samba seja parte da nova música, o que caracteriza essencialmente sua

originalidade se deve à influência externa.

c) se os elementos novos na música não devem ser descartados peremptoriamente,

tampouco a grande inovação menospreza o que a precede.

d) foi a partir do exemplo estrangeiro que João Gilberto soube revolucionar a música

brasileira, ainda que os elementos para tanto sejam essencialmente locais.

e) há uma nítida diferença entre a música brasileira e a europeia, já que aquela se caracteriza,

ao contrário desta, por uma ausência de diálogo com a tradição.

Questão 168: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

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GM

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

Depreende-se da frase ... nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha que

a) a loucura, o mais das vezes, é vista como uma característica que marca a singularidade,

enquanto a lucidez é um atributo costumeiro da velhice.

b) essas duas características, lucidez e loucura, devem ser vistas com reserva, uma vez que a

fronteira entre ambas nem sempre é clara.

c) as inovações, por mais lúcidas que sejam, devem algo à loucura, pois é mediante o

abandono da causalidade natural que se obtém algo inusitado.

d) ambas as características podem conviver em obras de arte de vanguarda, uma vez que não

são conflitantes.

e) a genialidade pode ter algo de lucidez, embora, para que isso ocorra, tenha de negar a

loucura, podendo ocorrer o inverso, o que caracteriza essencialmente a inovação.

Questão 169: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

O museu é considerado um instrumento de neutralização – e talvez o seja de fato. Os objetos

que nele se encontram reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos

políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas: a maior

parte presta homenagem às potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas

são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra os fatos da

realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de

sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a

qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências políticas são apagadas. A

violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

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GM

desempenhar um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na pacificação

dos museus.

Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem sido retirados de seu

contexto. Desde então, dois pontos de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o

primeiro, o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada de seus

pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de

despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as exalta.

Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como um

estado letárgico.

A colocação em museu foi descrita e denunciada frequentemente como uma desvitalização

do simbólico, e a musealização progressiva dos objetos de uso como outros tantos escândalos

sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a razão do "escândalo". Para que haja

escândalo, é necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica

escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar que valor foi previamente

sacralizado. A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida

autêntica? A integridade do Contexto original? Estranha inversão de perspectiva. Porque,

simultaneamente, a crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio,

um órgão de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem, é realmente "o lugar

simbólico onde o trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais ultrajante".

Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam em toda parte. É a ação

do tempo, conjugada com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)

De acordo com o texto,

a) o museu, enquanto depósito de despojos, confere destaque às características estéticas das

obras, uma vez que apaga seu contexto social de produção.

b) o caráter antagônico dos museus pode ser expresso por dois pontos de vista: o da

neutralização das obras modernas e o da evidenciação das lutas políticas nas obras antigas.

c) a crítica ao museu como um lugar que desmistifica a arte traz em seu bojo uma contradição,

pois as acusações mais comuns lhe imputavam o mais das vezes a sacralização das obras.

d) o contexto original das obras, restaurado pelos museus, não oblitera as razões

sociopolíticas que as engendraram, o que costuma ser motivo de crítica a essas instituições.

e) a junção das mais diversas obras de arte evidencia os conflitos políticos que as motivaram

e que opõem diferentes matrizes estéticas, de modo que a função pacificadora dos museus

pode ser questionada.

Questão 170: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas e níveis de instrução têm

emoções, cultivam passatempos que manipulam as emoções, atentam para as emoções dos

outros, e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e

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GM

procurando evitar emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada

caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas criaturas não humanas têm

emoções em abundância; entretanto, existe algo acentuadamente característico no modo

como as emoções vincularam-se a ideias, valores, princípios e juízos complexos que só os

seres humanos podem ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma

música e por filmes banais cujo poder não devemos subestimar.

Embora a composição e a dinâmica precisas das reações emocionais sejam moldadas em cada

indivíduo pelo meio e por um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das reações

emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes evolutivos. As emoções são parte dos

mecanismos biorreguladores com os quais nascemos, visando à sobrevivência. Foi por isso

que Darwin conseguiu catalogar as expressões emocionais de tantas espécies e encontrar

consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes culturas as emoções são tão

facilmente reconhecidas. É bem verdade que as expressões variam, assim como varia a

configuração exata dos estímulos que podem induzir uma emoção. Mas o que causa

admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa

semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o indutor pode bloquear o progresso de

uma emoção que já estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa tragédia

deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a suspensão de um estado

sistematicamente induzido de medo e compaixão.

Não precisamos ter consciência de uma emoção, com frequência não temos e somos

incapazes de controlar intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num estado de

tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia dos motivos responsáveis por esse estado

específico. Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém

frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento inconsciente de emoções

também explica por que não é fácil imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer

genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma região profunda do tronco

cerebral. A imitação voluntária feita por quem não é um ator exímio é facilmente detectada

como fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais,

quer no tom de voz.

(Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São

Paulo, Cia das letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)

No texto, identifica-se relação de causa e consequência, respectivamente, entre:

a) processos evolutivos de adaptação que remontam a épocas distantes e grande parte das

reações emocionais.

b) a suscitação de uma emoção imprevista e a estratégia por trás de uma obra de arte vulgar

feita para agradar o público em geral.

c) o fato de Darwin ter sido bem-sucedido ao catalogar as expressões emocionais de diversas

espécies e a existência de emoções inerentes à regulação dos organismos.

d) nossa incapacidade de dissimular as emoções e o fato de que não precisamos ter

consciência de uma emoção para que ela aconteça.

e) a capacidade da arte de cruzar fronteiras culturais e o fato das reações emocionais serem

moldadas por uma composição complexa única e exclusiva a cada indivíduo.

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GM

Questão 171: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

Os Beatles eram um mecanismo de criação. A força propulsora desse mecanismo era a

interação dialética de John Lennon e Paul McCartney. Dialética é diálogo, embate, discussão.

Mas também jogo permanente. Adição e contradição. Movimento e síntese. Dois

compositores igualmente geniais, mas com inclinações distintas. Dois líderes cheios de ideias

e talento. Um levando o outro a permanentemente se superar.

As narrativas mais comuns da trajetória dos Beatles levam a crer que a parceria Lennon e

McCartney aconteceu apenas na fase inicial do conjunto. Trata-se de um engano. Mesmo

quando escreviam separados, John e Paul o faziam um para o outro. Pensavam, sentiam e

criavam obcecados com a presença (ou ausência) do parceiro e rival.

Lennon era um purista musical, apegado a suas raízes. Quem embarcou na vanguarda musical

dos anos 60 foi Paul McCartney, um perfeccionista dado a experimentos e delírios

orquestrais. Em contrapartida, sem o olhar crítico de Lennon, sem sua verve, os mais

conhecidos padrões de McCartney teriam sofrido perdas poéticas. Lennon sabia reprimir o

banal e fomentar o sublime.

Como a dialética é uma via de mão dupla, também o lado suave de Lennon se nutria da

presença benfazeja de Paul. Gemas preciosas como Julia têm as impressões digitais do

parceiro, embora escritas na mais monástica solidão.

Nietzsche atribui caráter dionisíaco aos impulsos rebeldes, subjetivos, irracionais; forças do

transe, que questionam e subvertem a ordem vigente. Em contrapartida, designa como

apolíneas as tendências ordenadoras, objetivas, racionais, solares; forças do sonho e da

profecia, que promovem e aprimoram o ordenamento do mundo. Ao se unirem, tais forças

teriam criado, a seu ver, a mais nobre forma de arte que jamais existiu.

Como criadores, tanto o metódico Paul McCartney como o irrequieto John Lennon

expressavam à perfeição a dualidade proposta por Nietzsche. Lennon punha o mundo abaixo;

McCartney construía novos monumentos. Lennon abria mentes; McCartney aquecia

corações. Lennon trazia vigor e energia; McCartney impunha senso estético e coesão.

Quando os Beatles se separaram, essa magia se rompeu. John e Paul se tornaram

compositores com altos e baixos. Fizeram coisas boas. Mas raramente se aproximaram da

perfeição alcançada pelo quarteto. Sem a presença instigante de Lennon, Paul começou a

patinar em letras anódinas. Não se tornou um compositor ruim. Mas os Beatles faziam melhor.

Ironicamente, o grande disco dos ex-Beatles acabou sendo o álbum triplo em que George

Harrison deglutiu os antigos companheiros de banda, abrindo as comportas de sua produção

represada durante uma década à sombra de John e Paul. E foi assim, por estranhos caminhos

antropofágicos, que a dialética de Lennon e McCartney brilhou pela última vez.

(Adaptado de: DANTAS, Marcelo O. Revista Piauí. Disponível em:

http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/beatles. Acesso em: 20/02/16)

É correto depreender do texto:

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GM

I. O autor apresenta o contraste entre Apolo e Dionísio, estabelecido por Nietzsche, com o

propósito de classificar os processos de criação de John Lennon e Paul McCartney à luz de tal

teoria, processos que seriam, respectivamente, dionisíaco e apolíneo.

II. Ao lançar mão do termo “dialética” no último parágrafo, o autor assinala a incongruência da

atitude dos Beatles ao se separarem, uma vez que tal separação ocasionou a derrocada da

criação musical dos membros da banda.

III. O uso do adjetivo “antropofágicos” (último parágrafo) para caracterizar os caminhos

seguidos por George Harrison está relacionado à afirmativa anterior de que o músico teria

“deglutido” os antigos companheiros de banda.

Atende ao enunciado o que consta APENAS em

a) I.

b) II e III.

c) I e II.

d) II.

e) I e III.

Questão 172: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)

O pior no meu entender está na poesia brasileira, tanto quanto a nossa literatura não

imediatamente comercial, ter sido convertida, no empenho de fazê-la alcançar um público

mais amplo do que o cada vez mais arredio público frequentador de livrarias, em remédio

chato de tomar. Indicados pelos professores como leitura obrigatória a alunos sem maior

curiosidade intelectual, esses livros, essas antologias ministradas sob receita pedagógica

traem a finalidade precípua da literatura, que é a de deleitar. Dou a este verbo uma etimologia

poética, pouco me importando saber se é falsa, possível ou verdadeira. Vejo-o nucleado na

palavra “leite”, o alimento primeiro e essencial que reconcilia o nascituro com o mundo no qual

se vê repentinamente atirado, sem consulta prévia, e que o faz imaginá-lo, como nos poemas

de William Blake, antes o paraíso dos prazeres da idade da inocência que o prosaico reino de

deveres da idade da experiência.

(Adaptado de: PAES, José Paulo. Apud. SILVA, Marcia Cristina. José

Paulo Paes: entre o crítico literário e o poeta para crianças. Revista FronteiraZ, São Paulo, n.

8, julho de 2012.)

No texto, o autor

a) exalta as qualidades da poesia não imediatamente comercial, como a produzida pelo poeta

inglês William Blake.

b) repudia a literatura comercial, cujo objetivo precípuo é o de alcançar o grande público.

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GM

c) critica métodos educativos que não levam em consideração a etimologia da palavra

poética.

d) assinala a importância do contato com a poesia se dar como uma fonte de prazer gratuito.

e) expõe a necessidade de que a noção de dever da idade da experiência seja incutida, por

meio da literatura, ainda na infância.

Questão 173: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Clareza e Correção

Dentre as frases abaixo, a única clara e correta é:

a) Ao promover e colaborar com a compreenção desses problemas associados a aspectos

tanto étnico quanto sociais, de cujo enfrentamento tanto se depende, ele fica feliz.

b) É ele quem responde pela mediação e interlocução de sua comunidade com os agentes

públicos, e isso parece ser um alento para voltarem acreditar numa utopia.

c) Sempre foi excessiva a dor associada às minhas dificuldades, mas, com o amadurecimento

intelectual e o trabalho como educador, fez-me ver que isso só me fortaleceu.

d) Daqui a pouco deve haver nova onda de ataques, como se anunciou, desencadeado pelos

grupos mais radicais, que expontaneamente assumiram o iminente litígio.

e) Os extratos das suas contas-correntes comprovam como são exíguos os recursos de que

dispõe, prova inconteste de que dilapidou sua herança, em total menosprezo àqueles que o

criaram.

Questão 174: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Clareza e Correção

Está redigida de modo claro e em conformidade com o padrão culto escrito a seguinte frase:

a) Idôneo, com extraordinário senso de medida, e sempre atuando com discrição, era o mais

cotado para ascender ao cargo a cuja disputa ninguém jamais se furtava.

b) Quem quizesse afagar o ego do velho casmurro, lhe bastava oferecer dois dedos de prosa

e toda a paciência para ouvirlhe em suas detalhadas lembranças do tempo da guerra.

c) A estrutura do setor de compras possui aspectos que sem dúvida, faz o funcionário perder-

se ao fazer os lançamentos, deixando para a chefia que o façam.

d) Todos devem ter o direito da integração cultural, o que depende, em última instância, dos

que tomam decisões respeitarem o princípio universal da igualdade de oportunidades.

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GM

e) Surpreende a proposta feita anteontem, na diretoria pela secretária geral, segundo a qual,

porque não prouvemos o depósito de material de limpeza, tenhamos de providenciá-lo a

nossas próprias expensas.

Questão 175: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Clareza e Correção

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Divagação sobre as ilhas

Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude

e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado

dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a

arte do bom viver: uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade

dos regatos − tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe,

com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra

firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade − “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta,

para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada, mas será que se procura realmente nas ilhas

a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole

extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais do que as

outras, nem todas juntas constituem a razão do meu desejo. A ideia de fuga tem sido alvo de

crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo,

fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem

consumir-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele

mesmo. Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que

da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento

de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas e inúteis carnificinas.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir.

Amemos a ilha.

(Adaptado de Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o autor dessa crônica:

a) O poeta Drummond escreveu num poema o verso “Ilhas perdem o homem”, o que significa

estar contraditório com o que especula diante das ilhas neste seu outro texto.

b) “Ilhas perdem o homem” − asseverou Drummond num poema seu, manifestando

sentimento bem diverso do que expõe nessa crônica de Passeios na ilha.

c) Ao contrário do que defende na crônica, há um poema de Drummond cujo o verso “Ilhas

perdem o homem” redunda num paradoxo diante da mesma.

d) Paradoxal, o poeta Drummond é autor de um verso (“Ilhas perdem o homem") de flagrante

contraste ao que persigna numa crônica de Passeios na ilha.

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GM

e) Se nessa crônica Drummond enaltece o ilhamento, num poema o verso “Ilhas perdem o

homem” se compraz ao agrupamento, não à solidão humana.

Questão 176: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Clareza e Correção

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

É preciso reconstruir, devido à má estruturação, a seguinte frase:

a) A posição de Paraty possibilitou-lhe a proeminência econômica de que gozou durante os

ciclos econômicos do ouro e do café, pelo menos até o ano de 1855.

b) A passagem do tempo, que pode ser ingrata em muitas situações, acabou conferindo a

Paraty os encantos históricos de uma cidade que se preservou durante seu longo

esquecimento.

c) A Associação Casa Azul, nesse texto promocional, apresenta-se como instituição cuja

finalidade precípua é a preservação da cidade histórica de Paraty.

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GM

d) Caso não haja controle de iniciativa oficial ou particular, a cidade de Paraty desfruta da

condição de ser um polo turístico, o que também constitui um risco de degradação.

e) A referência a caminhos de pedra que impedem a pressa não é só uma imagem poética

relativa ao tempo: reporta-se ao calçamento físico das ásperas ruas de Paraty.

Questão 177: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Clareza e Correção

Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.

À sua imagem e semelhança

Já se foi o tempo em que os homens acreditavam ter sido feitos à imagem e semelhança de

Deus. Era uma fantasia bonita, que dizia respeito à grandeza dos ideais e à insignificância da

condição humana. Se o projeto original do ser humano correspondia à imagem e semelhança

de Deus, cada homem particularmente se sabia tão dessemelhante da plenitude divina que

deveria viver buscando a perfeição a que estaria destinado. O sentido de uma vida se

escreveria, assim, de trás para a frente; era preciso agir de tal modo a fazer valer a aposta

antecipada do Criador a respeito de suas criaturas.

A era da religiosidade terminou no Ocidente, libertando os homens da servidão milenar em

relação aos planos traçados por um Outro onipotente, onisciente e onipresente. O homem

contemporâneo continua procurando um mestre a quem servir e, em última instância, vai

encontrá-lo em algumas representações inconscientes, onde se preserva a fantasia infantil

sobre a onipotência do Outro. Por outro lado, o desamparo deixado pela falta de um Deus

provocou uma onda de novos fundamentalismos religiosos. Mas a religiosidade pós-moderna

é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as

ambições terrenas dos fiéis.

O homem ocupa hoje o centro de sua própria existência. Essa emancipação nos confronta com

o vazio. Não há Ninguém lá, de onde esperávamos que um Pai se manifestasse para dizer o

que deseja de seus filhos. Não fomos feitos para corresponder à imagem e semelhança de

Deus nenhum. Trata-se agora de reproduzir a imagem e semelhança de nós mesmos. Essa é a

fantasia, ao mesmo tempo grandiosa e hedionda, da clonagem. Grandiosa pelo poder que

confere à ciência e aos seus sacerdotes, supostamente capazes de abolir o acaso e a

indeterminação da vida. Hedionda − pelas mesmas razões.

(Trecho adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S. Paulo, Boitempo, 2011,

p.109-10)

A frase redigida com clareza e correção gramatical e ortográfica é:

a) Não é a toa que se diz que futebol e religião não se discute, pois sempre que surge este

debate exalta-se os ânimos e todos hão de tomar uma atitude defensiva.

b) Estamos de fato vivendo em uma outra era, onde haveria mais liberdade, ainda que nos

sentimos muito mais sós do que antes sentiamos.

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GM

c) Para os que aceitam e creem em Deus, todos os caminhos já estão traçados e aos homens

só cabem percorrê-los de modo a cumprir os desígneos divinos.

d) Muitos cientistas, ao fazerem a apologia da ciência e criticarem a religião com acidês

inaudita, ficando no mesmo patamar dos religiosos mais intransigentes.

e) Os agnósticos parecem ter uma postura equilibrada, tão distante do sectarismo dos muito

devotos como do radicalismo dos ateus mais extremados.

Questão 178: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Clareza e Correção

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

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GM

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano", Adorno volta para

casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Suponha-se que o autor quisesse relatar, com suas próprias palavras, o que Adorno escreveu,

em vez de citar a frase deste filósofo. A formulação aceitável para o segmento em destaque,

considerado o contexto e o padrão culto escrito, seria:

a) e rápido registra que não soube exatamente o que pensar.

b) e escreve logo que: não sei exatamente o que pensar.

c) e, escrevendo imediatamente, afirmou que "Eu não sei exatamente o que pensar".

d) e chegou a por em seus escritos que não havia como saber o que pensar.

e) e, ato contínuo, consigna que não sabia exatamente o que pensar.

Questão 179: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Clareza e Correção

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O arroz da raposa

Julio Cortázar tem um conto que sai de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino brinca de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a

mexer com as palavras. Para diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino de

Cortázar, que devia ser ele mesmo, virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a

leitura pode ser feita de trás para diante é uma aventura.

E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, a palavra é ROMA. Lida ao contrário, também faz

sentido. Deixa de ser ROMA e vira AMOR. Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma

bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir

daí que o mundo pode ser arrumado de várias maneiras. Não só o mundo das palavras. É a

partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora.

Ou piora. Não teria graça se só melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura

humana. Mas estou me afastando da história do Cortázar. E sobretudo do que pretendo dizer.

Ou pretendia. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, como o

menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz a la zorra el abad”. Em

português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa?

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GM

Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista, mas o que

importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás para diante. E fica igualzinha. Pois

este palíndromo não só encantou o menino Cortázar, como decidiu o seu destino de escritor.

Isto sou eu quem digo.

Ele percebeu aí que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Sem essa

consciência, não há poeta, nem poesia. Como a criança, o poeta tem um olhar novo. Lê de trás

para diante. Cheguei até aqui e não disse o que queria. Digo então que tentei uma série de

anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe virando pelo avesso a gente acha o sentido?

(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011. p.296-

7)

Julio Cortázar tem um conto que ...... de um palíndromo − “Satarsa”. Um menino ...... de

desarticular as palavras. No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a ......

com as palavras.

Respeitando-se a correção gramatical, as lacunas da frase acima podem ser preenchidas, na

ordem dada, por:

a) se prende - joga - conviver

b) procede - distrai-se - praticar

c) nasce - entretém-se - manipular

d) se inspira - cuida - cultivar

e) provém - ocupa-se - lidar

Questão 180: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Clareza e Correção

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Vaidade do humanismo

A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que

habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas

rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma

contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que

descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e

com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde

não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos

do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que

enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor esforço, pelo nosso

trabalho de humanistas.

Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos

constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa

a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem

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GM

simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda

tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de

vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa

busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo − todas estas

dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual

palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho

− Humanismo e crítica democrática − afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem

que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é

uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o

compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor − compartilhamento justificado não

necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na

avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que

seja esta a nossa vaidade de humanistas.

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

a) O título mesmo do livro de Edward Said é considerado uma inspiração, uma plataforma de

trabalho para quem se disponha a exercer o papel de um autêntico humanista.

b) Já pela sugestão, o livro de Edward Said, cujo o título é tão inspirador, torna-se também

uma plataforma de trabalho para quaisquer humanistas que dele se acerquem e por ele se

interessem.

c) Quem se dispor a desenvolver uma plataforma de trabalho encontrará plena inspiração já

no título do livro de Edward Said, onde a sugestão de humanismo é inequívoca.

d) Edward Said, ao atribuir a seu livro o título que tanto condiz com sua plataforma de

trabalho, já por si mesmo o fez inspirador para quem o instigue como meta de um verdadeiro

humanismo.

e) Um autêntico sentido de prática humanista se infere do título do livro de Edward Said, pelo

qual uma inspiração de trabalho já parece ali consolidado, tal uma plataforma de altas

sugestões.

Questão 181: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2014

Assunto: Clareza e Correção

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Um programa a ser adotado

O PET − Programa de Educação pelo Trabalho − está fazendo dez anos, que serão

comemorados num evento promovido pelo TRF4, que contará com representantes da Fase −

Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul.

Há dez anos seria difícil imaginar um interno da Fase em cumprimento de medida

socioeducativa saindo para trabalhar em um tribunal e, no final do dia, retornar à fundação.

Muitos desacreditariam da iniciativa de colocar um adolescente infrator dentro de um

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GM

gabinete de desembargador ou da Presidência de um tribunal. Outros poderiam discriminar

esses jovens e desejá-los longe do ambiente de trabalho.

Todas essas barreiras foram vencidas. Em uma década, o PET do TRF4 se tornou realidade,

quebrou preconceitos, mudou a cultura da própria instituição e a vida de 154 adolescentes

que já passaram pelo projeto. São atendidos jovens entre 16 e 21 anos, com escolaridade

mínima da 4ª série do ensino fundamental. O tribunal enfrenta o desafio de criar, desenvolver

e, principalmente, manter um programa de reinserção social. Os resultados do trabalho do

PET com os menores que cumprem medida socioeducativa na Fase são considerados muito

positivos quando se fala de jovens em situação de vulnerabilidade social. Durante esses dez

anos, 45% dos participantes foram inseridos no mercado de trabalho e muitos já concluíram

o ensino médio; cerca de 70% reorganizaram suas vidas e conseguiram superar a condição de

envolvimento em atividades ilícitas.

Na prática, os jovens trabalham durante 4 horas nos gabinetes de desembargadores e nas

unidades administrativas do tribunal. Recebem atendimento multidisciplinar, com

acompanhamento jurídico, de psicólogos e de assistentes sociais. Por meio de parcerias com

entidades, já foram realizados cursos de mecânica, de padaria e de garçom. Destaque a

considerar é o projeto “Virando a página”: oficinas de leitura e produção textual, coordenadas

por servidores do TRF4 e professores e formandos de faculdades de Letras.

(Adaptado de: wttp://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php? acao=

noticia_visualizar&id_noticia=10129)

É preciso corrigir, por falha estrutural, a redação deste livre comentário sobre o texto:

a) Não são pequenos os desafios que enfrenta o TRF4, em seu programa de reinserção social

de jovens infratores − programa que, felizmente, já se revelou bastante eficaz.

b) Já está comprovada a eficácia do programa implantado pelo TRF4 com a finalidade de

reinserir jovens infratores no mercado de trabalho.

c) Jovens infratores, que muitos considerariam irrecuperáveis, vêm apresentando notáveis

progressos, apoiados por programa de reinserção social implantado pelo TRF4.

d) Com vistas às medidas implantadas pelo TRF4, jovens infratores estão sendo amparados

pelo PET, pelos quais os resultados inquestionáveis já se fazem sentir de modo concreto.

e) Comprovam-se na prática os excelentes resultados obtidos pelo TRF4, ao implantar o PET

e possibilitar, por meio desse programa, a plena reabilitação social de jovens infratores.

Questão 182: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se

poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu

engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas

que, de qualquer modo, é resultado de viver.

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GM

Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as

ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas ideias.

São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-

se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou

surpreendente.

C.D.A.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 3)

... que não chega a alcançar a sabedoria mas que, de qualquer modo, é resultado de viver.

Iniciando o segmento acima com "que, de qualquer modo, é resultado de viver", a sequência

que preserva o sentido original e a correção é:

a) porém não chega a alcançar a sabedoria.

b) ainda que não chegue a alcançar a sabedoria.

c) e não chega assim a alcançar a sabedoria.

d) considerando que não chega a alcançar a sabedoria.

e) sendo o caso que não chegue a alcançar a sabedoria.

Questão 183: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/"Sem Especialidade"/2012

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Paraty

É do esquecimento que vem o tempo lento de Paraty. A vida vagarosa − quase sempre

caminhando pela água −, o saber antigo, os barcos feitos ainda hoje pelas mãos de

antepassados, os caminhos de pedra que repelem e desequilibram a pressa: tudo isso vem do

esquecimento. Vem do dia em que Paraty foi deixada quieta no século XIX, sem razão de

existir.

Até ali, a cidade fervia de agitação. Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro

e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta para conectar Paraty à sua

época e ao centro do mundo.

Mas, em 1855, a cidade inteira se aposentou. Com a estrada de ferro criada por D. Pedro II,

Paraty foi lançada para fora das rotas econômicas. Ficou sossegada em seu canto, ao sabor de

sua gente e das marés. E pelos próximos 119 anos, Paraty iria formar lentamente, sem se dar

conta, seu maior patrimônio.

Até que chegasse outro ciclo econômico, ávido por lugares onde todos os outros não

houvessem tocado: o turismo. E assim, em 1974, o asfalto da BR-101 fez as pedras e a cal de

Paraty virarem ouro novamente. A cidade volta a conviver com o presente, com outro Brasil,

com outros países. É então que a preservação de Paraty, seu principal patrimônio e meio de

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GM

vida, escapa à mão do destino. Não podemos contar com a sorte, como no passado. Agora,

manter o que dá vida a Paraty é razão de muito trabalho. Daqui para frente, preservar é suor.

Para isso existe a Associação Casa Azul, uma organização da sociedade civil de interesse

público. Aqui, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia. Nesta casa, o tempo pulsa com cuidado, sem apagar as pegadas.

(Texto institucional- Revista Piauí, n. 58, julho 2011)

Aqui, nesta casa, criamos projetos e atividades que mantenham o tecido urbano e social de

Paraty em harmonia.

A frase acima foi reelaborada, sem prejuízo para a correção e a coerência, nesta nova redação:

a) É para manter em harmonia o tecido urbano e social de Paraty que se criam projetos e

atividades nesta casa.

b) A fim de que se mantenham o tecido urbano e social de Paraty em harmonia que criamos

nesta casa projetos e atividades.

c) São projetos e atividades que criamos nesta casa com vistas a harmonia aonde se mantenha

o tecido urbano e social de Paraty.

d) Nesta casa, cria-se projetos e atividades visando à manter-se o tecido urbano e social de

Paraty de modo harmonioso.

e) Os projetos e atividades criados nesta casa é para se manter em harmonia tanto o tecido

urbano quanto o social de Paraty.

Questão 184: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Judiciária/Execução de Mandados/2012

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

A natureza humana do monstro

Um antigo provérbio latino adverte: “Cuidado com o homem de um só livro”. Hollywood, no

entanto, conhece apenas um tema quando realiza filmes de monstros, desde o arquetípico

Frankenstein, de 1931, ao recente mega-sucesso Parque dos dinossauros. A tecnologia

humana não deve ir além de uma ordem decretada deliberadamente por Deus ou

estabelecida pelas leis da natureza. Não importa quão benignos sejam os propósitos do

transgressor, tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos,

enormes coelhos com dentes afiados, formigas gigantes nos esgotos de Los Angeles ou

mesmo fenomenais bolhas assassinas que vão engolindo cidades inteiras ao crescerem. Esses

filmes, no entanto, originaram-se de livros muito mais sutis e, nessa transmutação,

distorceram suas fontes de modo a impedir até o mais vago reconhecimento temático.

A tendência começou em 1931, com Frankenstein, o primeiro grande filme “falado” de

monstro a sair de Hollywood, que determinou a sua temática através da estratégia mais

“despojada” que se poderia conceber. O filme começa com um prólogo (antes mesmo da

apresentação dos títulos), durante o qual um homem bem vestido, em pé sobre o palco e com

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GM

uma cortina atrás de si, adverte os espectadores dos sustos que talvez levem. Em seguida,

anuncia a temática mais profunda do filme: a história de “um homem de ciência que buscou

criar um homem à sua própria semelhança, sem considerar os desígnios de Deus”.

O Frankenstein original de Shelley é um livro rico, com inúmeros temas, mas encontro nele

pouco que confirme a leitura hollywoodiana. O texto não é nem uma diatribe acerca dos

perigos da tecnologia, nem uma advertência sobre uma ambição desmesurada contra a ordem

natural. Não encontramos nenhuma passagem que trate da desobediência a Deus − um

assunto inverossímil para Mary Shelley e seus amigos livres-pensadores. Victor Frankenstein

é culpado de uma grande deficiência moral, mas o seu crime não consiste em transgredir uma

ordem natural ou divina por meio da tecnologia.

O seu monstro era um bom homem, num corpo assustadoramente medonho. Victor fracassou

porque cedeu a uma predisposição da natureza humana − o asco visceral pela aparência do

monstro − e não cumpriu o dever de qualquer criador ou pai ou mãe: instruir a sua progênie e

educar os outros para aceitála.

(Adaptado de Stephen Jay Gould. Dinossauro no palheiro. S. Paulo, Cia. das Letras, 1997,

p.79-89)

... tamanha arrogância cósmica não pode senão levar a tomates assassinos, enormes coelhos

com dentes afiados...

A frase acima pode ser reescrita, mantendo-se a correção e a lógica, com a substituição do

segmento grifado por:

a) pode levar tão somente a.

b) não pode levar a nada se não a.

c) não pode levar à exceção de.

d) pode levar a tudo menos a.

e) pode não levar apenas a salvo de.

Questão 185: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

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GM

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da indecisão seria o pior de todos os

erros.

A redação que, clara e correta, preserva o sentido original da frase acima é:

a) De fronte a angústia da indecisão, o medo gera desistência deste tempo, sendo esse o pior

de todos os erros.

b) O mais grave dos erros consistiria em renunciar a este tempo, por conta do medo à vista da

angústia da indecisão.

c) Por causa do medo da angústia quando há indecisão, desistir deste tempo seria um erro

superior, em vista de todos os outros.

d) Apresentar-se-ia como o pior de todos os erros se este tempo fosse renegado, oriundo do

medo em vista da angústia da indecisão.

e) A angústia da indecisão e seu medo frente a ela gerando recusa deste tempo, seria o pior

de todos os erros.

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Questão 186: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

(Obs.: "Departamento", palavra encontrada na citação feita no excerto, corresponde a uma

divisão administrativa do território francês.)

"Paris e o deserto francês", de título de livro contestando o centralismo do Estado francês,

passou a ser parte das expressões correntemente usadas na língua francesa. A tese do autor

é que a hipertrofia da capital francesa impedia o desenvolvimento das demais regiões e

cidades do território nacional. Herança histórica de diferentes regimes políticos, o

centralismo se traduz através da concentração do poder político, administrativo, econômico

e cultural na capital francesa, em detrimento da Province1. Podemos situar uma primeira fase

do centralismo de Estado, em que a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado)

foi concretizada, sob o regime de monarquia absolutista de Luís XVI, no século XVII. No

entanto, grande passo na centralização do poder político foi dado durante a Revolução

Francesa de 1789, em que a corrente dos jacobinos venceu a corrente dos girondinos: o

princípio do Reinado "un et indivisible" foi consagrado na constituição de 1791. Este princípio

foi aplicado até a mudança para o regime republicano, formando a República "una e

indivisível" nas diversas Constituições do Estado francês até hoje. A solidificação institucional

e administrativa desse princípio, que garante a abrangência e a eficiência do poder executivo

central, foi realizada por Napoleão I, enquanto Primeiro Cônsul (eleito), e na segunda fase da

sua permanência no poder, enquanto Imperador. A organização institucional e administrativa

do Estado francês é, em grande parte, oriunda desta época.

A Constituição do 22 frimaire na VIII mantém o departamento, mas sua administração é

profundamente modificada. A lei do 28 pluviôse na VIII (17 de fevereiro de 1800) institui os

préfets2, nomeados e revocados pelo Primeiro Cônsul, em seguida pelo Imperador.

Encarregados da administração, os préfets são o órgão executivo único do departamento.

Designam os prefeitos e os ajudantes dos municípios de menos de 5000 habitantes e

propõem ao Primeiro Cônsul, e em seguida ao Imperador, a nomeação dos outros prefeitos.

(...) Constituem a chave-mestra de um Estado centralizado que vê o seu resultado sob o

Império.

1 Province é um termo genérico que designa todo o território que não é Paris.

2 A palavra préfet não pode ser traduzida por prefeito, pois não representa o mesmo cargo.

Os préfets, mesmo que não tenham mais o poder de nomeação dos prefeitos, ainda existem

atualmente, e eram encarregados do poder executivo local até a lei de descentralização de

1982.

(Adaptado de Antoinette Kuijlaars. "A política por detrás da técnica: o processo de

recentralização na organização da assistência social na França". In: Estudos de Sociologia no

29: Revista Semestral do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em

Sociologia. UNESP − Araraquara, 2 sem. de 2010, p.491-492)

Podemos situar uma primeira fase do centralismo de Estado, em que a tentativa de

centralização (outras já haviam fracassado) foi concretizada, sob o regime de monarquia

absolutista de Luís XVI, no século XVII.

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GM

Considerado o acima transcrito, a substituição que mantém o sentido e a correção originais é

a de

a) Podemos situar por "Eu e outros estudiosos situamos".

b) em que a tentativa por "cuja tentativa".

c) a tentativa de centralização (outras já haviam fracassado) por "uma tentativa de

centralização, entre outras, anteriormente fracassadas,".

d) já por "de imediato".

e) XVII por "décimo sétimo".

Questão 187: FCC - AJ TRF5/TRF 5/Judiciária/"Sem Especialidade"/2013

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Atenção: Para responder à questão, considere o texto apresentado abaixo.

Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o

progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.

Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza

em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e,

em particular, das Nações Unidas.

A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo

aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam

sanções e uso da força.

A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos

individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da

constituição das Nações Unidas, em 1945.

Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a

paz internacional passou por várias etapas. Em meados da década de 90 surgiram vozes que,

motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional

permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia, forjaram o conceito de "responsabilidade

de proteger".

A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base

em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no

Conselho de Segurança − órgão dotado de competência primordial e intransferível pela

manutenção da paz e da segurança internacionais.

O acolhimento da responsabilidade de proteger teria de passar, dessa maneira, pela

caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos

implicam ameaça à paz e à segurança.

Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar,

a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral,

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GM

observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser

contemplado como último recurso.

Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra os princípios do direito

internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos

direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência

de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das

circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força

militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

(Adaptado de Antonio de Aguiar Patriota. “Direitos humanos e ação diplomática”. Artigo

publicado na Folha de S. Paulo, em 01/09/2011, e disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/- ministro-estado-relacoes-exteriores/direitos-humanos-e-acaodiplomatica-

folha-de-s.paulo-01-09-2011).

Devemos evitar, especialmente, posturas que venham a contribuir − ainda que indiretamente

− para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e

dos direitos humanos.

Mantendo-se a correção e a lógica, uma redação alternativa para a frase acima está em:

a) Deve ser especialmente evitada posturas que possam contribuir, embora de maneira

apenas indireta, para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da

democracia e dos direitos humanos.

b) Posturas que contribuem, para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a

promoção da democracia e dos direitos humanos, devem ser especialmente evitados, ainda

que indiretamente.

c) Ainda que contribua, apenas indiretamente, para o estabelecimento de elo automático

entre a coerção e a promoção da democracia e dos direitos humanos, tais posturas devem ser

especialmente evitadas.

d) Posturas que contribuam, mesmo que de maneira indireta, para o estabelecimento de elo

automático entre a coerção e a promoção da democracia e dos direitos humanos, devem ser

especialmente evitadas.

e) Conquanto contribuam apenas de modo indireto, posturas que estabeleçam elo

automático entre a coerção e a promoção da democracia e dos direitos humanos, devem ser

especialmente evitados.

Questão 188: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

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GM

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

Mantendo-se a correlação verbal na primeira frase do texto, a substituição de Depois que por

“Caso”, acarretará as seguintes mudanças nas formas verbais:

a) fartasse − terá − iria consumir

b) fartara − tivera − consumira

c) teria fartado − teria tido − teria consumido

d) tenha fartado − terá − consumirá

e) tivesse fartado − teria − consumiria

Questão 189: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

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GM

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

Uma redação alternativa para o segmento ... mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua

gracilidade inquieta, comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para

criar uma atmosfera primordial, sem prejuízo da correção e do sentido, está em:

a) conquanto seja a fragilidade mesma do colorido, aliada à graciosidade fugaz, em

contraposição à riqueza consolidada da outra, que contribui para a formação de um clima

primaz.

b) não obstante a própria instabilidade da coloração, à sua gratuidade pode-se comparar o

fausto despreocupado da outra, que contribui para instaurar um ambiente primevo.

c) todavia, é devido à própria fragilidade do tom − à sua graciosidade irrequieta − posta em

paralelo com o fausto inabalável da outra, que contribui para inventar um ambiente

primordial.

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205

GM

d) mas é, no entanto, a própria delicadeza do matiz, sua gratuidade inconstante, que,

comparada ao luxo estável da outra, contribui para a conformação de um meio ambiente

ancestral.

e) é, todavia, porque a própria fragilidade da coloração e a sua graciosidade instável,

comparada ao fausto tranquilo da outra, contribuem para conformar uma ambientação

primitiva.

Questão 190: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

Page 206: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

206

GM

As orações reduzidas ... para encontrarmos igual a ela... e ... estendendo-se perante o meu

olhar..., no contexto em que ocorrem, podem ser distendidas da seguinte forma:

a) para que tivéssemos encontrado igual a ela / de modo que se estendem perante o meu

olhar

b) para que encontremos igual a ela / as quais se estendem perante o meu olhar

c) para que encontrássemos igual a ela / que se estendem perante o meu olhar

d) para que encontrássemos igual a ela / quando se estendem perante o meu olhar

e) para que encontremos igual a ela / desde que se estendam perante o meu olhar

Questão 191: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

No segmento ... nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele se assusta e foge

logo, o termo sublinhado pode ser substituído, mantendo-se a lógica e o sentido original, por:

a) exceto se

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207

GM

b) salvo

c) do contrário

d) não obstante

e) por mais que

Questão 192: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Reescritura de Frases. Substituição de palavras ou trechos de texto.

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?"

Mantendo-se, em linhas gerais, o sentido original, o trecho acima está corretamente reescrito,

em um único período, em:

a) Cheguei a São Paulo quando um repórter, questionando-me por que mais um samba – se

eu não achava que isso já estava superado –, provocou-me.

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208

GM

b) Quando um repórter, recém-chegando a São Paulo, provocou-me questionando porque

mais um samba e se eu não acharia que isso já estaria superado.

c) Quando um repórter me provocou e me questionou: por que mais um samba e se eu não

acho que isso já está superado?

d) Chegando a São Paulo, um repórter me provocou ao questionar-me por que eu iria

escrever mais um samba e se eu não achava que isso já estivesse superado.

e) Recém-chegado a São Paulo, fui provocado por um repórter, que me questionava por que

mais um samba e se eu não achava que isso já estava superado.

Questão 193: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se

poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu

engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas

que, de qualquer modo, é resultado de viver.

Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as

ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas ideias.

São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-

se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou

surpreendente.

C.D.A.

(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record,

2007, p. 3)

Sobre o que se tem no texto, afirma-se com correção:

a) o emprego de Andei colabora para que se imprima à frase um aspecto durativo, tal como

ocorre em "Anda a reclamar de tudo, depois que ele viajou".

b) a expressão ou seja introduz explicação acerca do que seria a vontade de escrever.

c) o segmento o que se poderia chamar de mínimas expressa possibilidade bastante

improvável, dado o caráter aleatório do nome proposto.

d) se a expressão pedacinhos de papel fosse substituída por uma única palavra, estaria

correto o emprego de "papelzinhos".

e) reorganizando a frase ajustada às limitações do meu engenho, ela estaria correta assim

"ajustada à mim, se for levado em

conta as limitações do meu engenho".

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209

GM

Questão 194: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A aproximação das duas Américas

Ufano-me de falar nesta instituição, digna da cidade que, pelo seu crescimento gigantesco,

vem assombrando o mundo como a mais avançada de todas as estações experimentais de

americanização. Em Chicago, melhor do que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar

o processo sumário que usais para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio

de aclimação, frutos genuinamente americanos. Aqui estamos em frente de uma das cancelas

do mundo, por onde vêm entrando novas concepções sociais, novas formas de vida e que é

uma das fontes da civilização moderna. O tributo à ciência do qual nasceu esta universidade

foi o mais benfazejo emprego de uma fortuna dedicada à humanidade. Aumentar a velocidade

com que cresce a ciência é de longe o maior serviço que se poderia prestar à raça humana. A

própria(a) religião não teria o poder de trazer à terra o reino de Deus sem o auxílio da ciência,

na época de progresso que se anuncia e de que não podemos ainda fazer ideia(b).

Aumentando(c) o número de homens capazes(d) de manejar os delicados instrumentos da

ciência, de compreender-lhes as várias linguagens(d) e de aproveitar-lhes os mais altos

sentidos, as universidades trabalham mais depressa que qualquer outro fator(e) para esse dia

de adiantados conhecimentos que, no futuro, hão de transformar por completo a condição

humana.

(Conferência pronunciada por Joaquim Nabuco a 28 de agosto de 1908 na Universidade de

Chicago. Essencial Joaquim Nabuco. Organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello.

São Paulo: Penguin Classics, Companhia das Letras, 2010, p. 548)

Sobre o que se tem no texto, afirma-se com correção:

a) O emprego de própria torna mais decisivo o argumento a favor do auxílio prestado pela

ciência.

b) Em de que não podemos ainda fazer ideia, o termo destacado equivale a "ao menos", tal

como se nota em "Ainda se aceitassem me receber, poderia justificar-me".

c) É aceitável o entendimento de que Aumentando equivale a "Se aumentassem".

d) Em de compreender-lhes as várias linguagens, o pronome remete a homens capazes.

e) O segmento qualquer outro fator é legitimado pelo padrão culto escrito, como também o é

a seguinte estrutura: "quaisquer que seja os fatores".

Questão 195: FCC - AJ TRF1/TRF 1/Administrativa/2011

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

A aproximação das duas Américas

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210

GM

Ufano-me de falar nesta instituição, digna da cidade que, pelo seu crescimento gigantesco,

vem assombrando o mundo como a mais avançada de todas as estações experimentais de

americanização. Em Chicago, melhor do que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar

o processo sumário que usais para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio

de aclimação, frutos genuinamente americanos. Aqui estamos em frente de uma das cancelas

do mundo, por onde vêm entrando novas concepções sociais, novas formas de vida e que é

uma das fontes da civilização moderna. O tributo à ciência do qual nasceu esta universidade

foi o mais benfazejo emprego de uma fortuna dedicada à humanidade. Aumentar a velocidade

com que cresce a ciência é de longe o maior serviço que se poderia prestar à raça humana. A

própria religião não teria o poder de trazer à terra o reino de Deus sem o auxílio da ciência, na

época de progresso que se anuncia e de que não podemos ainda fazer ideia. Aumentando o

número de homens capazes de manejar os delicados instrumentos da ciência, de

compreender-lhes as várias linguagens e de aproveitar-lhes os mais altos sentidos, as

universidades trabalham mais depressa que qualquer outro fator para esse dia de adiantados

conhecimentos que, no futuro, hão de transformar por completo a condição humana.

(Conferência pronunciada por Joaquim Nabuco a 28 de agosto de 1908 na Universidade de

Chicago. Essencial Joaquim Nabuco. Organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello.

São Paulo: Penguin Classics, Companhia das Letras, 2010, p. 548)

Em Chicago, melhor do que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar o processo

sumário que usais para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio de aclimação,

frutos genuinamente americanos.

Na frase acima,

a) um deslocamento que alteraria substancialmente o sentido original seria este: "Melhor do

que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar, em Chicago..."

b) o emprego da forma verbal usais confirma que, em seu discurso, Joaquim Nabuco dirige-se

ao interlocutor com o pronome de tratamento "Vossa Excelência".

c) o segmento para conseguir estaria corretamente substituído por "para que seja

conseguido".

d) a preposição de, em de plantas alienígenas, expressa ideia de procedência.

e) substituindo ao fim de curto estágio de aclimação por "finalizando a fase probatória da

aclimatação", a correção e o sentido originais estariam preservados.

Questão 196: FCC - AJ TRF2/TRF 2/Apoio Especializado/Taquigrafia/2012

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta suas

considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses,

alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.

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211

GM

Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje,

Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-

comuns.

Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em

acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O

acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para

nos orientarmos no pensamento.

Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e

restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.

Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso.

"Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá

Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."

E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que

acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo

apareceram no jornal "Corriere dela Sera".

As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De

fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar,

o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.

Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo,

Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano",

Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".

Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a

fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o

pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da

indecisão seria o pior de todos os erros.

Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão

prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos

acontecimentos.

(Wladimir Safatle. "Ideias e acontecimentos". Folha de S. Paulo, opinião, 3/1/2012, p.2)

De fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas

espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a

todos.

Considerado o período acima, em seu contexto, afirma-se com correção:

a) De fato exprime que é indiscutível a avaliação positiva que o autor faz da compreensão do

filósofo.

b) A frase introduzida por mas expressa que tudo que Foucault compreendeu não

corresponde a nada além do que a função mesma de um filósofo exigiria.

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212

GM

c) A forma verbal apreender equivale, nessa situação de uso, à sua homônima "aprender".

d) O padrão culto escrito não aconselha, nessa situação de uso, o emprego de deles,

apontando a forma "de eles" como a desejável.

e) Em a todos, se, em vez de todos, estivesse a forma "todas as pessoas", o acento gráfico

indicativo da crase seria obrigatório: à todas as pessoas.

Questão 197: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia

escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que

forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma

procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De

amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros

do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra

lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos

encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas

plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se

estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por

riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma

nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de

bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo

que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar

na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,

comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera

primordial.

Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que

árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas

por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a

estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda

parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem

tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de

quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de

alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha

de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o

meu olhar como espécimes de museu.

(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)

Considere as frases abaixo.

Page 213: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

213

GM

I. O segmento que se estende de uma planície inundada até uma bruma nacarada constitui

explicação do termo antecedente, de maneira que poderia ser iniciado por “que é”, sem

prejuízo para o sentido.

II. Neste mesmo segmento, as vírgulas poderiam ser substituídas por ponto-e-vírgulas, uma

vez que se trata de uma sequência de características atribuídas a um mesmo termo.

III. No mesmo período, a oração iniciada por emergindo pode tanto subordinar-se a

assemelha-se como a Terra.

Está correto o que consta em

a) III, apenas.

b) I, II e III.

c) I e II, apenas.

d) I e III, apenas.

e) II, apenas.

Questão 198: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais

um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de

atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz

o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um

coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu

amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me

censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de

uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como

nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde

samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus

cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a

antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião,

entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo

que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,

já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou

propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da

nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação

pra exportar coisa alguma.

Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é

bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele

se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura

é genial, como nem toda lucidez é velha".

Page 214: ANALISTA TRF 5ª REGIÃO - s3-sa-east-1.amazonaws.com · Estava na rota do café, e escoava o ouro no lombo do burro e nas costas do escravo. Um caminho de pedra cortava a floresta

214

GM

(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes,

Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29)

Considere as afirmativas abaixo.

I. O termo "coisa" pode ser substituído por "o" com função de pronome, uma vez que, no

período, retoma o segmento que o antecede.

II. As orações "de atacar os outros" e "de defender a tradição" servem de complemento ao

sentido do verbo a que se referem.

III. Na frase Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu..., o pronome "que" retoma

"samba", além de ser elemento subordinante a introduzir uma nova oração.

Está correto o que consta de

a) II e III, apenas.

b) I, II e III.

c) I e II, apenas.

d) I, apenas.

e) III, apenas.

Questão 199: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Administrativa/2016

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

O museu é considerado um instrumento de neutralização – e talvez o seja de fato. Os objetos

que nele se encontram reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos

políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e conquistas: a maior

parte presta homenagem às potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas

são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra os fatos da

realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de

sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a

qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências políticas são apagadas. A

violência de que participavam, ou que combatiam, é esquecida. O museu parece assim

desempenhar um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na pacificação

dos museus.

Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem sido retirados de seu

contexto. Desde então, dois pontos de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o

primeiro, o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada de seus

pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de

despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as exalta.

Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como um

estado letárgico.

A colocação em museu foi descrita e denunciada frequentemente como uma desvitalização

do simbólico, e a musealização progressiva dos objetos de uso como outros tantos escândalos

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GM

sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a razão do "escândalo". Para que haja

escândalo, é necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica

escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar que valor foi previamente

sacralizado. A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida

autêntica? A integridade do Contexto original? Estranha inversão de perspectiva. Porque,

simultaneamente, a crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio,

um órgão de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem, é realmente "o lugar

simbólico onde o trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais ultrajante".

Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam em toda parte. É a ação

do tempo, conjugada com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)

Na frase Diante de cada crítica escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar

que valor foi previamente sacralizado, a oração sublinhada complementa o sentido de

a) um substantivo, e pode ser considerada como interrogativa indireta.

b) um verbo, e pode ser considerada como interrogativa direta.

c) um verbo, e pode ser considerada como interrogativa indireta.

d) um substantivo, e pode ser considerada como interrogativa direta.

e) um advérbio, e pode ser considerada como interrogativa indireta.

Questão 200: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2016

Assunto: Análise das estruturas linguísticas do texto

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas e níveis de instrução têm

emoções, cultivam passatempos que manipulam as emoções, atentam para as emoções dos

outros, e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e

procurando evitar emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada

caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas criaturas não humanas têm

emoções em abundância; entretanto, existe algo acentuadamente característico no modo

como as emoções vincularam-se a ideias, valores, princípios e juízos complexos que só os

seres humanos podem ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por uma

música e por filmes banais cujo poder não devemos subestimar.

Embora a composição e a dinâmica precisas das reações emocionais sejam moldadas em cada

indivíduo pelo meio e por um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das reações

emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes evolutivos. As emoções são parte dos

mecanismos biorreguladores com os quais nascemos, visando à sobrevivência. Foi por isso

que Darwin conseguiu catalogar as expressões emocionais de tantas espécies e encontrar

consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes culturas as emoções são tão

facilmente reconhecidas. É bem verdade que as expressões variam, assim como varia a

configuração exata dos estímulos que podem induzir uma emoção. Mas o que causa

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admiração quando se observa o mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa

semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.

As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o indutor pode bloquear o progresso de

uma emoção que já estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa tragédia

deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a suspensão de um estado

sistematicamente induzido de medo e compaixão.

Não precisamos ter consciência de uma emoção, com frequência não temos e somos

incapazes de controlar intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num estado de

tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia dos motivos responsáveis por esse estado

específico. Uma investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém

frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento inconsciente de emoções

também explica por que não é fácil imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer

genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma região profunda do tronco

cerebral. A imitação voluntária feita por quem não é um ator exímio é facilmente detectada

como fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração dos músculos faciais,

quer no tom de voz.

(Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São

Paulo, Cia das letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)

Considerando-se o segundo parágrafo do texto, é correto afirmar:

a) O segmento assim como pode ser substituído por "conquanto", sem prejuízo da correção

e do sentido.

b) Sem prejuízo da correção, a expressão do alto pode ser substituída por “a distância”.

c) A supressão da crase no segmento visando à sobrevivência, embora correta

gramaticalmente, acarreta mudança ao sentido original.

d) Caso o verbo “resultar”, originalmente flexionado no singular, seja flexionado no plural,

haverá prejuízo para a correção.

e) Admite transposição para a voz passiva a frase que as expressões variam.

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GM

Gabarito

1) C 2) C 3) C 4) A 5) B 6) B 7) D 8) D 9) B 10) D

11) C 12) C 13) C 14) D 15) B 16) E 17) B 18) D 19) B 20) D 21) B 22) B 23) D 24) E 25) E 26) D 27) A 28) D 29) E 30) A 31) B 32) B 33) D 34) A 35) B 36) E 37) D 38) C 39) B 40) D 41) C 42) E 43) B 44) E 45) B 46) C 47) C 48) E 49) A 50) C 51) A 52) B 53) D 54) E 55) C 56) D 57) C 58) E 59) D 60) E 61) A 62) D 63) E 64) A 65) E 66) A 67) B 68) D 69) D 70) A 71) D 72) A 73) A 74) C 75) E 76) E 77) A 78) A 79) C 80) D 81) E 82) E 83) E 84) B 85) A 86) A 87) C 88) D 89) B 90) B 91) A 92) C 93) B 94) A 95) E 96) D 97) A 98) E 99) B 100) B

101) C 102) A 103) E 104) C 105) B 106) D 107) C 108) A 109) C 110) B 111) C 112) A 113) B 114) A 115) E 116) C 117) E 118) D 119) E 120) A 121) B 122) D 123) C 124) A 125) B 126) D 127) D 128) A 129) B 130) C 131) A 132) B 133) E 134) D 135) D 136) A 137) C 138) A 139) A 140) B 141) D 142) A 143) C 144) C 145) D 146) D 147) B 148) B 149) C 150) B 151) C 152) A 153) E 154) B 155) D 156) C 157) C 158) A 159) D 160) C 161) A 162) C 163) E 164) C 165) A 166) B 167) C 168) A 169) C 170) A 171) E 172) D 173) E 174) A 175) B 176) D 177) E 178) E 179) E 180) A 181) D 182) B 183) A 184) A 185) B 186) C 187) D 188) E 189) E 190) C 191) C 192) E 193) A 194) A 195) D 196) D 197) D 198) D 199) C 200) B