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ISSN 1984-0012 [email protected] Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO COMO MODALIDADE DE ATUAÇÃO TERAPÊUTICA: REFLEXÕES A PARTIR DE UM CASO CLÍNICO Andréa Martins de Andrade 1 Cássio Eduardo Soares Miranda 2 RESUMO: Partindo do pressuposto que a intervenção no processo psicodiagnóstico pode propiciar resultados terapêuticos, o presente estudo objetiva averiguar, por meio da análise de um caso clínico infantil, como o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modalidade de atuação terapêutica. Para tanto, foi realizado um psicodiagnóstico infantil, envolvendo sete sessões, com realização de entrevista inicial, entrevista de anamnese, sessões ludodiagnósticas, aplicação do Teste “O Desenho da Figura Humana – DFH III” e entrevista devolutiva, visando investigação e intervenção nas dificuldades apresentadas pela criança e por sua família. Os resultados revelaram que o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modelo de atuação terapêutica na medida em que não é utilizado apenas como recurso de avaliação de sinais e sintomas, mas de intervenções como acolhimento e conscientização de comportamentos problemas dos analisantes, permitindo que estes saiam da posição passiva de objeto de estudo e se tornem responsáveis pela busca de mudanças. Palavras-chave: Psicodiagnóstico interventivo. Ludodiagnóstico. Intervenção familiar. ABSTRACT: 1 Psicóloga, Graduada pela Universidade Nove de Julho - UNINOVE/SP, Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UNILESTE. Especialista em “Clínica Psicanalítica na Contemporaneidade” – UNILESTE/MG. 2 Psicanalista, Doutor em Estudos Lingüísticos pela UFMG.

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Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012.

PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO COMO MODALIDADE DE

ATUAÇÃO TERAPÊUTICA: REFLEXÕES A PARTIR DE UM CASO

CLÍNICO

Andréa Martins de Andrade 1

Cássio Eduardo Soares Miranda 2

RESUMO:

Partindo do pressuposto que a intervenção no processo psicodiagnóstico pode propiciar

resultados terapêuticos, o presente estudo objetiva averiguar, por meio da análise de

um caso clínico infantil, como o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como

modalidade de atuação terapêutica. Para tanto, foi realizado um psicodiagnóstico

infantil, envolvendo sete sessões, com realização de entrevista inicial, entrevista de

anamnese, sessões ludodiagnósticas, aplicação do Teste “O Desenho da Figura

Humana – DFH III” e entrevista devolutiva, visando investigação e intervenção nas

dificuldades apresentadas pela criança e por sua família. Os resultados revelaram que o

psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modelo de atuação terapêutica na

medida em que não é utilizado apenas como recurso de avaliação de sinais e sintomas,

mas de intervenções como acolhimento e conscientização de comportamentos

problemas dos analisantes, permitindo que estes saiam da posição passiva de objeto

de estudo e se tornem responsáveis pela busca de mudanças.

Palavras-chave: Psicodiagnóstico interventivo. Ludodiagnóstico. Intervenção familiar.

ABSTRACT:

1 Psicóloga, Graduada pela Universidade Nove de Julho - UNINOVE/SP, Especialista em Psicopedagogia

pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UNILESTE. Especialista em “Clínica Psicanalítica na Contemporaneidade” – UNILESTE/MG. 2 Psicanalista, Doutor em Estudos Lingüísticos pela UFMG.

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Assuming that their intervention can provide psycho therapeutic results, this study aims

to determine, through analysis of a clinical case of children, as the psycho can work as

interventive modality of therapeutic action. To that end, we conducted a psycho child,

involving seven sessions, with completion of initial interview, anamnesis interview,

ludodiagnósticas sessions, application of the Test "The Human Figure Drawing - HFD III"

and interview feedback session, seeking investigation and intervention in the difficulties

presented by the child and his family. The results revealed that the psycho interventionist

can work as a model of therapeutic action in that it is not only used as a resource

assessment of signs and symptoms, but as host of interventions and awareness of

behavior problems of analysands, allowing them to leave the position passive object of

study and become responsible for seeking change.

Keywords: Interventive psychodiagnostic - ludodiagnóstico - family intervention.

Introdução

O psicodiagnóstico se estabeleceu no Brasil como prática clínica pautado no modelo

médico de atuação. Seus procedimentos visavam a ações observáveis e quantitativas,

devido a sua ênfase na Psicometria, que buscava resultados mais fiéis para aquele

momento histórico. Com o desenvolvimento científico e histórico, o psicodiagnóstico

passou a ser percebido dentro de um referencial terapêutico, associando a investigação

à possibilidade de entendimento dos mecanismos que possivelmente produzem as

doenças, dando origem a uma proposta investigativa e interventiva que propicie

mudanças terapêuticas.

Pensando nas mudanças sofridas no processo psicodiagnóstico, os autores desta

pesquisa têm como objetivo analisar um caso clínico de psicodiagnóstico infantil para

verificar como o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modalidade de

atuação terapêutica. O presente estudo se justifica pela relevância de perceber o

psicodiagnóstico como um processo que vai além da investigação de sinais e sintomas

e exige intervenções específicas que podem produzir efeitos terapêuticos, que

enriquecem e ampliam a prática profissional do Psicólogo.

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O psicodiagnóstico teve sua origem na conscientização de que as doenças mentais não

eram advindas de castigos divinos ou possessões, mas análogas às doenças físicas

(ANCONA-LOPEZ, 1984). Nasceu da psicologia clínica, que foi iniciada por Linghter

Witmer em 1896, e se fundamentou na tradição médica, produzindo efeitos marcantes

na identidade profissional do psicólogo (CUNHA, 2003).

Influenciado pelo modelo médico, o psicodiagnóstico era realizado por meio de

avaliações psicométricas, que valorizavam os aspectos técnicos da testagem. Foi um

período em que, apenas, utilizavam testes para obter dados que revelassem uma série

de traços ou descrições da capacidade de uma pessoa, desconsiderando suas

características peculiares relacionadas ao contexto total (CUNHA, 2003). O psicólogo

atuava de modo “objetivo”, visando, apenas, ao contato com aspectos parciais da

personalidade humana, não estabelecendo compromissos com suas características

pessoais e afetivas (TRINCA, 1984).

Por muito tempo, o psicodiagnóstico foi percebido como um processo que envolvia a

aplicação de testes como forma de satisfazer a solicitação de outros profissionais, tais

como psiquiatras, neurologistas, pediatras, etc (OCAMPO & COLABORADORES,

1981). Nesse contexto, o processo psicodiagnóstico era visto, somente, como meio de

investigação e levantamento de demandas a serem tratadas posteriormente por outros

profissionais.

Ainda hoje, o psicodiagnóstico é considerado por muitos profissionais como um meio

somente de investigação de sintomas físicos, psíquicos e suas causas. Entretanto é

relevante considerar que esse processo não envolve somente a investigação, mas

também oferece espaço de acolhimento, escuta compreensiva dos problemas e

dificuldades do paciente, além de outras intervenções também consideradas

terapêuticas. Contudo, Paulo (2004) pontua que o psicodiagnóstico permite uma

intervenção eficaz quando possibilita a apreensão da dinâmica intrapsíquica do

paciente, compreensão de sua problemática e intervenção nos aspectos determinantes

dos desajustamentos responsáveis por seu sofrimento psíquico.

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Paulo (2006), em trabalho posterior, destaca que, nas últimas décadas, foi possível

perceber o processo evolutivo do psicodiagnóstico, anteriormente visto somente como

avaliação e investigação com finalidade de encaminhamento. Sobre esse aspecto, os

autores Barbieri (2002), Trinca (2002) e Tardivo (2004) pontuam que, na atualidade,

podem-se encontrar estudos que revelam uma nova concepção de psicodiagnóstico:

além da possibilidade diagnóstica, acrescenta a intervenção terapêutica.

Tal como foi abordado por diversos autores, o psicodiagnóstico vem sofrendo

modificações relevantes nas últimas décadas, o que demanda uma gama maior de

estudos e práticas, que abordem seu desenvolvimento no campo da investigação e

intervenção.

Este estudo objetiva averiguar, por meio da análise de um caso clínico infantil, como o

psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modalidade de atuação terapêutica.

Além disso, busca compreender melhor o psicodiagnóstico, considerando relevante

percebê-lo como um processo que vai além da investigação de sinais e sintomas, mas

que exige enquadre e intervenções específicas que podem produzir efeitos

terapêuticos.

Segundo Andrade (1998), o psicodiagnóstico não demanda somente a aplicação e uso

de provas e testes, cabe ao profissional, o trabalho de investigar o paciente em seus

aspectos biológicos, ambientais e sócio-culturais, para ter dados consistentes no

planejamento de ações. Assim, o diagnóstico constitui um momento fundamental no

processo terapêutico, pois proporciona aquisição de informações relevantes à atuação

profissional.

Andrade (1998) aponta, ainda, que o diagnóstico eficaz e bem sucedido prevê, entre

vários aspectos, o conhecimento das causas das dificuldades do paciente e a

consideração de suas capacidades e aptidões. Também, se faz necessário considerar a

capacidade de observação do terapeuta, o conhecimento sobre a variabilidade de

recursos disponíveis e de medidas a serem tomadas diante de determinados

diagnósticos. Sobretudo, o terapeuta deve ficar atento, não somente ao problema

apresentado diretamente pelo paciente e seus familiares, mas também à busca de

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percepção do problema real, que muitas vezes, é revelado de maneira indireta, no

decorrer do processo diagnóstico.

Analisando os pressupostos de Andrade (1998), é possível perceber a importância da

preparação do profissional que realiza o psicodiagnóstico: ele deve aperfeiçoar-se

técnica e teoricamente para, além de perceber o problema real do paciente, auxiliá-lo

na busca de uma saída possível para a resolução de suas dificuldades.

Alguns profissionais, durante a realização do psicodiagnóstico, podem se defrontar com

a dificuldade de analisar a origem dos problemas do paciente e, posteriormente, intervir

de maneira efetiva, visando à resolução de seus conflitos e dificuldades. Embora essa

dificuldade seja real, autores como Alves, Barbieri & Jacquemin (2007) concluem que,

mesmo percebendo considerável diferença entre as atividades de avaliação diagnóstica

e intervenção, os relatos de experiências de pacientes que se submeteram a entrevistas

e aplicações de testes indicam a possibilidade de se observarem os efeitos terapêuticos

durante o processo de investigação diagnóstica.

Becker (2002) relata que a atitude de prontidão do psicólogo em intervir (sinalizando,

esclarecendo ou resignificando) possibilita que sejam revelados, no paciente, recursos

para compreensão e mudança na condição problema. Paulo (2005) complementa a

hipótese de Becker, afirmando que, em psicodiagnóstico com modalidade interventiva,

o paciente se torna ativo no processo e o profissional compartilha a todo instante da

compreensão do problema apresentado.

Considerando, tal como apontam Anastasi e Urbina (2000), que as condições ideais

para a avaliação diagnóstica devem entrelaçar a diversificação de informações oriundas

de observações, análise das funções mentais e dados da história do analisado, o

psicodiagnóstico, realizado nesse estudo, envolveu entrevistas, anamnese e aplicação

de testes, que buscaram criar condições para que fosse possível detectar e intervir nas

causas prejudiciais ao desenvolvimento global do indivíduo analisado.

Como esse trabalho aborda a análise de um psicodiagnóstico infantil, é relevante frisar

que o seu processo compôs um formato diferente, uma vez que a criança utiliza-se de

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recursos especiais de comunicação. Tal como enfatiza Werlang (2003) e Aberastury

(1962), as atividades lúdicas podem funcionar para a criança como espaço de

comunicação e estruturação de conflitos com possibilidade de elaboração. Em função

disso, atividades lúdicas compuseram o processo.

Em seus estudos, Werlang (2003) descreve que, geralmente, as crianças se expressam

por meio de ações que são realizadas de acordo com suas possibilidades emocionais,

maturacionais, cognitivas e sociais. Portanto, ao realizar um psicodiagnóstico infantil,

cabe ao profissional construir um espaço lúdico que possibilite a comunicação e

compreensão da criança sobre suas fantasias e dificuldades. Considerando, ainda, que

cada criança apresenta características peculiares a depender da idade, os instrumentos

utilizados devem apresentar versões diversas de acordo com a faixa etária e

maturacional que a criança se encontra.

Brenelli (2001) afirma que o jogo e o brincar constituem mediadores importantes de

expressão da criança e têm sido muito utilizados por psicólogos e psicopedagogos na

prática de diagnóstico infantil por permitirem conhecer a realidade da criança. Além de

recurso de expressão para a criança, Lemos (2007) pontua que o brincar atua como

possibilitador de experimentação e se transforma em um mecanismo de produção de si

mesmo que amplia a criação de novos mundos, novas formas de pensar, sentir e agir,

permitindo a elaboração de supostos conflitos inconscientes.

Santa-Rosa (2008) destaca que em psicodiagnóstico infantil a compreensão da família

(cuidador) ocupa um lugar de destaque, considerando que essa é determinante na

constituição da criança e, portanto, deve-se averiguar qual é a sua interferência na

origem do sintoma apresentado pela criança.

Santa-Rosa (op. cit.) destaca, ainda, que, diante das evidências de que as primeiras

relações familiares servem de base para a constituição do psiquismo, é possível haver

influências familiares no surgimento das dificuldades psicológicas infantis. Entretanto,

nas etapas de entrevistas diagnósticas é indispensável a análise da dinâmica familiar e

intervenção nos comportamentos apresentados como problemas, que podem interferir

negativamente no processo de desenvolvimento saudável da criança.

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Ao abordar a importância da intervenção associada à investigação nas etapas iniciais

de uma avaliação diagnóstica, é relevante considerar o que pressupõe Winnicott (1948):

na primeira entrevista podem surgir elementos que demandam tempo para ressurgir

novamente, ressaltando que é possível e não causa danos a realização de intervenção

terapêutica nesse momento. Tal afirmação reforça a importância, nos casos de

psicodiagnóstico infantil, da intervenção terapêutica durante as entrevistas iniciais com

os familiares, quando se busca atuar na modificação da dinâmica familiar que interfere

nos sintomas apresentados pela criança.

2. Metodologia

O Caso Clínico apresentado neste estudo constitui uma experiência clínica vivenciada

pela Psicóloga Andréa Andrade, um dos autores deste artigo. Tal experiência foi eleita

para ser transcrita devido à qualidade e riqueza de suas informações. A construção do

artigo ocorreu com a orientação do autor Psicanalista Cássio Miranda e a utilização dos

dados clínicos para fins científicos se deu mediante a assinatura do termo de

consentimento pelos sujeitos envolvidos na pesquisa.

O método psicodiagnóstico interventivo foi aplicado em uma menina de nove anos e

onze meses, aqui nomeada de Sophie. O processo psicodiagnóstico foi realizado

durante sete sessões, os quais envolveram entrevista inicial, entrevista de anamnese,

sessões ludodiagnósticas, sessão de aplicação do Teste “O Desenho da Figura

Humana – DFH III” e entrevista devolutiva.

O processo psicodiagnóstico infantil aconteceu neste trabalho por meio da investigação

e da intervenção nas dificuldades manifestadas pela criança avaliada e por sua família,

a qual foi representada pela mãe. A atuação interventiva associada à investigação

envolveu uma proposta mais ampla de atuação, enriquecendo a prática profissional do

Psicólogo e gerando efeitos marcantes para os sujeitos desta pesquisa.

2.1. Procedimento

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As primeiras duas sessões do psicodiagnóstico interventivo foram realizadas com a

presença de Sophie e sua mãe. Nelas foram realizadas a entrevista inicial e a entrevista

de anamnese que ocorreram de maneira semidirigida, de forma a possibilitar o

conhecimento sobre a queixa e sobre o histórico da paciente. De acordo com os dados

obtidos nesse período inicial, Sophie apresentava dificuldades nas avaliações

escolares, mesmo não mostrando qualquer entrave no processo de aprendizagem

educacional na escola e em casa.

Para melhor esclarecimento da origem das dificuldades de Sophie, posteriormente ela

foi submetida a três sessões ludodiagnósticas, que buscavam criar um espaço favorável

à estruturação, por meio dos brinquedos e jogos, dos seus conflitos básicos, defesas e

fantasias, para que pudessem ser expressos e trabalhados. Essa possibilidade de

atuação está fundamentada em Aberastury (1962), Brenelli (2001) e Werlang (2003).

O processo de análise dos dados emergentes nas entrevistas iniciais e nas sessões

lúdicas com Sophie indicou a hipótese de não haver atraso no seu desenvolvimento

cognitivo, mas bloqueio emocional, o que comprometia seu desempenho durante as

avaliações escolares. Com o propósito de melhor averiguar a origem das dificuldades

de Sophie foi administrado o teste DFH III na sexta sessão diagnóstica. O DFH III foi

eleito para compor esse processo psicodiagnóstico por ser um teste projetivo,

padronizado para crianças brasileiras na faixa etária de 05 a 12 anos, considerado

como medida de desenvolvimento cognitivo/ conceitual.

Finalizando o processo psicodiagnóstico, a sessão de Entrevista Devolutiva permitiu

que Sophie e sua mãe pudessem avaliar os resultados e refletir sobre as possibilidades

para resolução dos problemas e dificuldades enfrentados por ambas.

3. Relato da experiência: Psicodiagnóstico Interventivo

3.1. Histórico da paciente e queixa

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Sophie foi para o atendimento acompanhada da mãe, a qual se apresentou interessada

e participativa durante todo o processo psicodiagnóstico. O pai não pôde participar por

motivo de trabalho, tal como relatou a mãe. Sophie morava com os pais e uma irmã um

ano mais velha. Seu pai era comerciante e sua mãe dona de casa. Era uma criança que

não apresentava atraso no desenvolvimento motor e nem problemas de saúde.

Segundo a mãe, Sophie é uma criança vaidosa, meiga e gentil, que normalmente

vivenciava bons relacionamentos sociais no contexto escolar e no meio onde vivia. No

que se referia ao relacionamento com a irmã, foi descrito como bom, embora houvesse

alguns desentendimentos que duravam pouco tempo.

Sophie foi encaminhada para o atendimento por indicação da escola, a qual alegou que

era uma menina inteligente, participava das atividades cotidianas do contexto escolar,

porém, apresentava dificuldades durante as avaliações corriqueiras da escola, obtendo

notas abaixo da média exigida para a aprovação. A mãe relatou que antes e durante as

avaliações, Sophie vivenciava momentos de estresse e angústia, inclusive, tinha

desmaiado em casa na manhã de um dia em que faria uma avaliação escolar, mas

despertou rapidamente e, levada ao hospital, o médico examinou e concluiu não

apresentar motivo aparente para a causa do desmaio.

No decorrer da entrevista inicial, a mãe relatou que não entendia a razão da filha

apresentar dificuldades no processo de avaliação escolar, já que ela era uma mãe

presente que acompanhava os estudos da filha, ficando, diariamente, horas estudando

com ela para garantir sua aprendizagem e preparo para a realização das avaliações.

Destacou que se esforçava ao máximo para que sua filha pudesse concluir seus

estudos, coisa que ela sempre desejou para si e foi impedida por seus pais e marido.

A mãe relatou que foi uma excelente aluna e tinha prazer em ir à escola, mas sua mãe,

quando queria castigá-la, a impedia de sair de casa para estudar, até que chegou um

dia em que, definitivamente, não a deixou continuar os estudos. Depois, casou-se

bastante jovem e se dedicou, exclusivamente, ao lar.

Nesse momento do discurso, ocorreu a primeira intervenção. Considerando que o

desejo da mãe em relação à continuidade de sua formação escolar apresentava-se

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latente, pressupôs-se que isso poderia estar sendo direcionado para Sophie em forma

de uma excessiva cobrança no que se referia aos estudos, o que poderia estar

interferindo no seu desempenho durante o processo de avaliação escolar. A mãe,

emocionada, assentiu e tomou consciência de suas cobranças relativas à busca do

sucesso escolar da filha.

3.2. Sessões ludodiagnósticas

No início da primeira sessão ludodiagnóstica, Sophie foi informada de que aquele

espaço poderia ser utilizado para ela realizar a atividade que desejasse e que seria

acompanhada no desenvolvimento da tarefa escolhida. Sophie explorou os materiais

disponibilizados na sala, escolheu desenhar e durante um período de aproximadamente

trinta minutos desenhou em silêncio.

Após o termino do desenho, Sophie relatou que havia feito uma menininha e a sua mãe.

Foi pedido para Sophie falar mais sobre o que havia desenhado e ela respondeu: “a

mãe pediu à menininha para aguar as plantas e ela estava com o regador jogando água

nas florezinhas”. Foi perguntado o que mais e Sophie continuou: “Às vezes, a mãe da

menininha pede a ela pra fazer alguma coisa e ela não faz direito. A menininha quer

impressionar a mãe, mas não consegue, porque tudo acaba dando errado. A mãe da

menininha percebe o esforço dela, sente pena e diz: eu sei que você queria fazer isso

para me agradar e deu errado”.

Diante do relato de Sophie, foi perguntado o que leva a menininha a querer tanto

impressionar a mãe e ela respondeu que gostaria que a mãe ficasse orgulhosa dela.

Continuou dizendo que tudo acabava dando errado, piorando ainda mais as coisas e a

menininha fica envergonhada.

Para que Sophie pudesse se perceber no seu discurso foi perguntado se algum dia

aconteceu com ela alguma situação parecida com a história da menininha. Sophie

respondeu que sim, acrescentando: “muitas vezes”. Lembrou-se de um dia que

planejou uma apresentação na escola e ensaiou muito porque queria que a sua mãe

ficasse orgulhosa, mas na hora de apresentar, olhou para a mãe em meio às pessoas e

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não conseguiu dizer nada. Sua voz não saía e estava sendo vista por todos da escola,

vivenciando uma situação vergonhosa. Neste momento foi realizada outra intervenção,

pontuando a Sophie a percepção de sua angústia e frustração frente às tentativas mal

sucedidas de impressionar a mãe.

Na segunda sessão ludodiagnóstica, Sophie elegeu a caixa de blocos de madeira (com

ilustração de um castelo na caixa) que estava na estante junto aos brinquedos e jogos.

Durante o processo de montagem do castelo, Sophie apresentava-se tensa e com

excessiva organização das peças, seguindo com precisão a seqüência de montagem

ilustrada na caixa do brinquedo. Ao terminar a montagem, foi realizada outra

intervenção, mostrando para Sophie o seu comportamento rígido durante a atividade.

Sophie respondeu que normalmente procura seguir com cautela qualquer indicação

para não errar.

Foi perguntado a Sophie: “Não se pode errar?” Ela respondeu que até pode errar, mas

quando isso acontece, sua mãe sempre diz que se ela tivesse seguido corretamente as

indicações não tinha acontecido o erro. Foi dito para Sophie a percepção da excessiva

exigência de sua mãe e a frustração que ela vivencia por medo de errar. Sophie teve

um insight, dizendo que tal exigência ocorre até mesmo em relação aos seus estudos,

fazendo com que ela fique com tanto medo de tirar notas baixas e deixar a mãe triste

que, na hora da prova, ela nem consegue lembrar o que estudou.

Na terceira sessão ludodiagnóstica, Sophie chegou tranqüila, mostrou-se comunicativa

e atenta. Ao final desta sessão, a mãe de Sophie ao buscá-la na recepção do

consultório relatou que estava naturalmente diminuindo suas cobranças excessivas em

relação aos estudos da filha e já notava que Sophie apresentava-se mais tranqüila tanto

no que se referia aos estudos, quanto no desenvolvimento de outras atividades ou

brincadeiras. Relatou ainda, que naquela semana Sophie estava em fase de avaliações

e obteve nota máxima em quatro das avaliações realizadas.

3.3. O Teste: O Desenho da Figura Humana – DFH III

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A análise do teste DFH III revelou que Sophie apresenta o desenvolvimento cognitivo/

conceitual avaliado entre a “Média/ Abaixo Média”, comparado à amostra

experimentada para validação do teste com faixa etária equivalente a dela. O resultado

obtido foi avaliado dentro da faixa de confiança de 95%. Comparando os resultados

obtidos nos desenhos das figuras feminina e masculina, pode-se observar que Sophie

apresentou 84.5% dos itens esperados, 65.5% dos itens comuns, 31% dos itens

incomuns e 35% dos itens excepcionais, normalmente esperados para a sua idade.

3.4. Entrevista devolutiva

A sessão de Entrevista Devolutiva permitiu que Sophie e sua mãe pudessem analisar o

processo psicodiagnóstico como um todo, apresentando o percurso seguido desde a

Entrevista Inicial até o fechamento do caso. Foi relatado para ambas que a análise do

teste DFH III avaliou que Sophie não apresenta atraso no desenvolvimento cognitivo e

os dados apresentados durante todo o processo diagnóstico mostraram que as

dificuldades vividas por Sophie durante as avaliações escolares pareciam estar

relacionadas a bloqueios emocionais. Esses bloqueios se deviam à maneira que Sophie

vivenciava as cobranças excessivas da mãe, as quais se tornavam fonte de sofrimento

e angústia. Novamente, a mãe de Sophie destacou a redução de suas cobranças em

relação aos estudos da filha e enfatizou as mudanças evidenciadas no processo

escolar.

4. Análise do Caso Sophie

Santa-Rosa (2008), afirma que a família compõe o ambiente determinante no processo

de constituição da criança e pode interferir, sobretudo, no surgimento de problemas.

Faz-se necessário, portanto, a verificação na família do que pode estar interferindo na

origem e manutenção do comportamento problema da criança. Desta forma, é

percebido no caso Sophie que suas dificuldades em obter êxito nas avaliações

escolares estavam intimamente relacionadas à maneira como ela vivenciava as

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cobranças excessivas da mãe, a qual buscava se realizar no sucesso escolar da filha, o

que se tornava em fonte de sofrimento e angústia para Sophie.

Analisando a origem da queixa apresentada, inicialmente, pela mãe de Sophie, foi

imprescindível o trabalho de investigação do problema real, assim como aborda

Andrade (1998). Inicialmente, as dificuldades escolares de Sophie se apresentavam

focadas apenas nela, mas, no decorrer da entrevista inicial, foram aparecendo indícios

de dificuldades existentes na relação mãe/filha. No entanto, a intervenção realizada na

entrevista inicial com a mãe de Sophie pode ter sido importante para o desenrolar do

processo interventivo diagnóstico, auxiliando-a na percepção dos seus desejos

frustrados em relação aos próprios estudos, que a levava a exigir de maneira acentuada

o bom desempenho escolar da filha.

Na entrevista inicial, a mãe, representando o ambiente familiar de Sophie, passou a ter

consciência de como sua postura poderia interferir no comportamento problema da filha

e buscou desenvolver recursos para lidar com o seu próprio desejo frustrado em

relação à continuidade de sua formação escolar, modificando sua postura em relação à

Sophie. Isso comprova a teoria de Winnicott (1948): existe possibilidade de intervenção

profissional efetiva na primeira entrevista diagnóstica.

O conteúdo apresentado durante as sessões ludodiagnósticas confirmou a hipótese

levantada no período de entrevista inicial, de que Sophie vivenciava as cobranças

excessivas da mãe como fonte de sofrimento e isso constituía um bloqueio nos seus

potenciais criativos.

É relevante destacar que o espaço oferecido a Sophie nas sessões ludodiagnósticas

permitiu a tomada de consciência de suas dificuldades e o desenvolvimento de recursos

psíquicos para mudança de sentimentos.

Werlang (2000), Brenelli (2001) e Aberastury (1962) sustentam que as crianças

apresentam características próprias de comunicação e requerem a construção de um

espaço lúdico que permita a expressão por meio de ações. Pôde-se comprovar a teoria

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com a criação do espaço ludodiagnóstico que viabilizou a expressão dos sentimentos

de Sophie.

Na primeira sessão ludodiagnóstica, por meio da construção do desenho e da história,

Sophie expressou sua necessidade de impressionar sua mãe e sua frustração por não

conseguir realizar seus intentos.

A segunda sessão ludodiagnóstica mostrou, por meio de tensão e excessiva

organização na montagem do castelo, a aflição de Sophie e a busca de controle da

situação. Devido à maneira sofrida que vivenciava as exigências da mãe, Sophie tinha

desenvolvido um medo de errar e, por isso, realizava a atividade seguindo de maneira

rígida a indicação.

A intervenção realizada nessa sessão levou Sophie a ter consciência de seus

comportamentos rígidos e possibilitou um insight. Sophie associou as suas dificuldades

nas avaliações escolares com as cobranças da mãe, percebendo que isso gerava nela

sentimentos de medo e ansiedade, o que provocava o bloqueio na lembrança do

conteúdo teórico estudado durante as avaliações escolares.

Por meio da maneira com que lidou com o brincar durante as primeiras sessões

ludodiagnósticas, Sophie não só expressou o seu mundo interno, como também pôde

compreender melhor suas fantasias e dificuldades. Após as primeiras sessões

ludodiagnósticas, Sophie apresentou-se mais tranqüila, evidenciando a diminuição de

suas angústias. Por intermédio do brincar, teve possibilidade de experimentação das

suas vivências e sentimentos, reproduzindo a si mesma e criando novas maneiras de

experimentar o mundo, permitindo, dessa forma, a elaboração de seus conflitos

inconscientes emergentes, tal como destacou Lemos (2007).

Na entrevista devolutiva, ficaram evidentes as mudanças tanto na relação mãe/filha,

quanto no desenvolvimento de ambas. Sobre esse aspecto, é possível pontuar que as

intervenções realizadas durante o processo psicodiagnóstico, tais como o acolhimento

das angústias da paciente e de sua mãe, a escuta compreensiva de suas dificuldades e

conscientização da dinâmica existente na relação mãe/filha funcionaram como um

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suporte emocional e como motor mobilizador de recursos psíquicos de ambas,

auxiliando-as na superação de suas dificuldades.

A administração do teste DFH III auxiliou na compreensão da origem das dificuldades

de Sophie, revelando não haver defasagem de desenvolvimento cognitivo/ conceitual

da paciente. As dificuldades dela foram relacionadas a bloqueios emocionais, assim

como percebido no decorrer das entrevistas.

Com o processo psicodiagnóstico trabalhado com Sophie priorizou-se uma investigação

detalhada dos seus problemas. O resultado do teste DFH III compõe o

psicodiagnóstico, mas não determina seus resultados. Como aponta Andrade (1998), é

importante não focalizar apenas nos resultados advindos do uso de testes, mas levar

em conta os resultados obtidos por meio de uma análise global do sujeito.

5. Considerações finais

O resultado do psicodiagnóstico do caso Sophie mostrou que o seu desenvolvimento

cognitivo/conceitual foi avaliado na média, considerado como o esperado para sua

idade. Esse dado evidenciado durante o processo de investigação do problema de

Sophie, não se apresentou devido a sua incapacidade de aprendizagem em nível

maturacional, mas porque Sophie vivenciava um bloqueio de ordem emocional que

interferia no seu desempenho durante a realização das avaliações escolares. Acredita-

se que tal bloqueio tenha surgido como conseqüência da dificuldade que Sophie

apresentava ao lidar com a excessiva exigência da mãe em relação ao seu

comportamento, gerando frustração e angústia.

As intervenções ocorridas durante o processo psicodiagnóstico permitiram que Sophie e

sua mãe pudessem tomar consciência da origem de suas dificuldades e mobilizassem

recursos psíquicos de mudanças. A mãe reconheceu seus desejos frustrados em

relação à continuidade de sua formação escolar e se apropriou da responsabilidade de

satisfação dos próprios desejos, diminuindo suas cobranças em relação ao

comportamento de Sophie.

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Sophie teve uma notável diminuição das defesas e ansiedades, obtendo êxito nas

avaliações escolares realizadas nesse período. Contudo, Sophie e sua mãe foram

encaminhadas para assistência psicológica, com intuito de continuar o trabalho das

questões emocionais apresentadas no psicodiagnóstico.

Ao associar a atuação interventiva à investigação no decorrer deste trabalho, tornou-se

possível o desenvolvimento de uma proposta mais completa de atuação, o que

enriqueceu a prática profissional do psicólogo, ao mesmo tempo em que produziu

efeitos positivos para a vida dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Esse fato propiciou a

reflexão crítica sobre os aspectos diversos dos problemas emergentes e contribuiu para

a busca de soluções possíveis para tais problemas.

Através da análise do caso Sophie, foi possível perceber que o psicodiagnóstico pode

funcionar como modelo de atuação terapêutica na medida em que não é utilizado

apenas como recurso de avaliação de sinais e sintomas, mas como um processo que

envolve a compreensão das dificuldades, acolhimento, esclarecimento e

conscientização de comportamentos problemas. Por meio de tais intervenções, que

podem ser consideradas terapêuticas, o paciente tem a possibilidade de sair da posição

passiva de apenas objeto de investigação e tornar-se responsável pelas próprias

mudanças, com a mobilização de recursos próprios para busca de transformação.

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