Andrés Eduardo Aguirre Antúnez - A Relação Terapêutica Em Busca de Uma Humanologia

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7/21/2019 Andrés Eduardo Aguirre Antúnez - A Relação Terapêutica Em Busca de Uma Humanologia http://slidepdf.com/reader/full/andres-eduardo-aguirre-antunez-a-relacao-terapeutica-em-busca-de-uma 1/12 L A T I N - A M E R I C A N J O U R N A L O F F U N D A M E N T A L P S Y C H O P A T H O L O G Y O N L I N E ano VI, n. 2, nov/2 006 84  Este artigo é um depoimento clínico no qual o autor elabora um diálogo com a sensibilidade clínica de Donald Winnicott, a compreensão empática de Eugène Minkowski e com o comunitário  poético em Pablo Neruda, respectivamente, quanto aos encontros terapêuticos, o ímpeto vital e o destino comum dos homens. O autor relaciona a dois breves relatos de experiência clínica com uma criança e sua mãe e com uma paciente adulta e propõe uma forma de compreender a clínica realizada com esses casos. Nesse depoimento não utiliza construtos teóricos para explicar as vicissitudes desta clínica, mas uma fenomenologia do vivencial, no qual se aventura em busca de uma humanologia na clínica. Palavras-chave:  Psicoterapia, fenomenologia, poesia  Andrés Eduardo Aguirre Antúnez  Lati n-Am eric an Jou rnal of Fund amen tal Psyc hopa thol ogy on Line, VI, 2, 84-95  A relação terapêutica em busca de uma humanologia

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84 Este artigo é um depoimento clínico no qual o autor elabora um

diálogo com a sensibilidade clínica de Donald Winnicott, acompreensão empática de Eugène Minkowski e com o comunitário

 poético em Pablo Neruda, respectivamente, quanto aos encontros

terapêuticos, o ímpeto vital e o destino comum dos homens. O autor 

relaciona a dois breves relatos de experiência clínica com uma criança

e sua mãe e com uma paciente adulta e propõe uma forma de

compreender a clínica realizada com esses casos. Nesse depoimento

não utiliza construtos teóricos para explicar as vicissitudes desta

clínica, mas uma fenomenologia do vivencial, no qual se aventura em

busca de uma humanologia na clínica.

Palavras-chave: Psicoterapia, fenomenologia, poesia

 Andrés Eduardo Aguirre Antúnez

 Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on Line, VI, 2, 84-95

 A relação terapêutica embusca de uma humanologia

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Introdução

Este depoimento de experiências clínicas compreende a relaçãoterapêutica a partir de uma perspectiva fenomenológica e humanística. Arelação entre paciente e terapeuta será expressa fundamentalmente por umrecorte de duas vinhetas de casos clínicos articuladas ao pensamento de

Winnicott a partir da psicanálise aplicada às necessidades de seu pacientee o segundo, Eugène Minkowski e sua peculiar compreensãofenomenológica da psicopatologia e, enfim, o discurso comunitário dePablo Neruda, que nos abre outras possibilidades de articulações naclínica.

É importante nessa perspectiva compreender o gesto com tantaimportância quanto a palavra propriamente dita. A palavra tem sentidoquando se apresenta como ação no mundo, pois abre possibilidades deser. De acordo com Safra (1999) ao lidar com seres humanos, osterapeutas presenciam uma busca por parte do paciente da possibilidadede humanizar-se.

Trabalharei sobre citações de cada autor, que carregam em si um

ponto em comum: o uso de analogias de características musicais paracompreender o clima que se estabelece na relação com o outro e avalorização do ambiente na constituição de si, a musicalidade da vida emcomunidade.

A música e o ambiente em Donald Winnicott,

Eugène Minkowski e Pablo Neruda

A partir das consultas terapêuticas de Winnicott (1971) cominúmeras crianças sem condições, por algumas razões, de submeter-se a

uma análise clássica da interpretação do inconsciente, do trabalho natransferência e com a resistência, ele propunha algo distinto, o lugar dosatendimentos eram os mais diversos, o tempo das sessões eram variáveise o espaçamento entre sessões mais longo.

A relação terapêutica é fruto de um encontro entre as necessidadesde um com a disponibilidade do outro. Quando Winnicott (1978) afirmaque não existe um bebê sem a sua mãe, ele atentava para a importância

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do ambiente na constituição de si. Nesse sentido o terapeuta é parte do ambienteque ajuda o outro na busca de alívio a seus sofrimentos.

“Para se utilizar a experiência mútua, deve-se ter em conta a teoria dodesenvolvimento emocional da criança e o relacionamento desta com os fatoresambientais” (Winnicott, 1971, p. 11). Essa colocação de Winnicott é importantena clínica por apresentar a necessidade de avaliar o meio ambiente imediato dacriança. Winnicott se ancorava na teoria do desenvolvimento infantil de modo nãodeliberado, pois fazia parte de si e fluía nele.

Para Winnicott (ibid., p. 9-19), nas consultas terapêuticas, o analista é

colocado como objeto subjetivo1 do paciente. A análise de transferência einterpretação não é usada, salvo que as entrevistas se estendam e se crie umaintimidade maior onde a transferência e as resistências se estabeleçam. Ele alertavapara a importância de ter um ambiente com condições mínimas para ajudar. Umacriança que sai da consulta terapêutica e retorna para uma situação familiar ousocial anormal não encontra provisão ambiental necessária a esse tipo de trabalho.

Winnicott (1978, p. 9-19) se posiciona como terapeuta usando uma analogiacom a música do seguinte modo: “pode-se comparar minha posição com aquelado violoncelista, que primeiro trabalha a técnica e depois começa realmente a tocara música. Nada se obtém senão um pouco de satisfação ao se extrair de umapartitura uma performance virtuosa”. O que ele buscava nesse tipo de trabalhoera mostrar a técnica, pois tocar a música seria outro processo, próximo a uma

análise engajada.Após percorrer por esses aspectos da psicanálise de acordo com a

necessidade do paciente em Winnicott, nos voltamos para a fenomenologia.Segundo Tatossian (2006, p. 24) “a fenomenologia demanda a passagem do realao possível e do fato à essência”, bem como recusa todo pré-julgamento; afenomenologia tem um modo de trabalhar em fluxo com implicações filosóficase psicopatológicas. A compreensão do fundamento temporal da subjetividade e oconceito de experiência são fundamentais e centrais nesta perspectiva. ParaTatossian, o pensamento de Minkowski é espontaneamente fenomenológico emseu estilo de exposição.

Os conceitos que destaco em Minkowski sobre a música e o ambiente estãoimplícitos na noção de élan vital, na observação do contato vital com a realidade,

na vibração em uníssono e na expressão.

1. O Objeto subjetivo nasce da experiência de ilusão que dá início à existência de um sentido desi mesmo. O objeto subjetivo acontece no campo de experiência onipotente, onde não hádiferenciação entre eu e o não-eu. O objeto é primeiro objeto subjetivo para posteriormente serobjetivamente percebido (Safra, 1999).

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Em 25 de novembro de 1922, em Zurich, na CXIII Assembléia da SociedadeSuíça de Psiquiatria, Minkowski (1970) expressa a primeira comunicação sobrea análise fenomenológica de um caso de um homem de 66 anos com delíriomelancólico com quem conviveu dia e noite durante dois meses. Descreve comminúcias como o porvir nesse paciente era distinto do porvir de seu interlocutor.Tratava-se de um profundo transtorno da conduta geral frente à vida e em relaçãoao futuro. Ele afirma que se o élan vital e o desejo se debilitam, o futuro se fechadiante de nós e os limites do campo do existir se tornam imprecisos eesfumaçados.

O élan vital é o ímpeto vital e pessoal que orienta a conduta na vida emdireção ao futuro e se manifesta ao exterior mediante a obra pessoal em todas assuas matizes. O élan vital regula as relações com o ambiente e forma parte daimagem que nós criamos. Há nele um elemento de expansão, o devir, relacionadoa um sentimento positivo, a alegria, ao prazer que acompanha toda açãointencional ou a solução consciente de um conflito vivido (Minkowski, 1970,p. 26).

A constatação em Minkowski (1927, p. 263-83) da perda do contato vitalcom a realidade em pacientes esquizofrênicos e também na concepção bleulerianaque privilegia a fragilidade das associações, o leva a referir que o psicopatologistadeveria ver além dos sintomas, observando o ser diante dele em sua totalidade.Ele comenta que no âmbito psiquiátrico “não temos só o paciente, senão todo ser

humano diante de nós. Nós mesmos formamos parte do ambiente no qual opaciente está destinado a viver e a evoluir. Comprovamos que se não temos contatoafetivo com o esquizofrênico, não equivale a dizer que deveríamos tentarestabelecê-lo?” (p. 270). É necessário tentar vibrar em uníssono com nossosemelhante, termo que tomou emprestado de Bleuler. Assim haveria um vínculocom o íntimo de sua personalidade permitindo ao terapeuta compenetrar-se como paciente.

Diferente dos diagnósticos realizados pela razão Minkowski (ibid., p. 263-83)propunha não um diagnóstico por sentimento, mas um diagnóstico porcompenetração, que levasse em conta a empatia e as ressonâncias frente aoencontro com o outro. Ele relatou que ao longo da carreira todo psiquiatracomprova – mais de uma vez – que a partir do momento que considera seu

paciente incurável, ele – médico – se transforma em outro diante do paciente.Nesta situação Minkowski (1927, p. 281) comenta que “uma das cordas que seestende de homem a homem deixa de vibrar nele”.

A noção de esquizofrenia leva Minkowski a uma compreensão que essesindivíduos rompem os laços com o ambiente, porém sua atitude perturbadapoderia ser combatida a partir do comportamento que se tem em direção aoesquizofrênico. “É possível retirar do violino quebrado um canto lento, mas

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melodioso” expressa Minkowski (1927, p. 281). O contato vital pode serobservado em qualquer pessoa.

Minkowski (1965, p. 101-5) relata que nos dirigimos ao ser humano, assimcomo nós o temos vivo diante de nós, portador privilegiado dessa afetividade ede sofrimento humano, parte integrante da existência humana. O sofrimento si-tua o homem e é um dos caracteres essenciais do destino humano que nos atra-vessa inteiramente e nos aproxima do vivido. Ele destacava a solidariedade inter-humana, o movimento de simpatia no olhar ou no aperto de mão. Compartir algocom alguém nos leva às raízes de nossa vida afetiva e a conhecer o nós como fruto

do encontro humano. É inerente à condição humana a necessidade de compreen-são, por isso nesta abordagem tenta-se penetrar em mundos fechados ou sabero por quê de sua inacessibilidade. Trata-se de um esforço de penetração e compre-ensão que permite apreciar a afetividade ou a sua deficiência. Vibrar em uníssonocom o meio ambiente mostra uma boa afetividade, com recursos e fraquezas.

O conceito de expressão revela a ação de exprimir e como se exprime,sempre em direção a alguém, ao ambiente. A expressão em seu movimento emdireção ao exterior se endereça sempre a alguém, postula um expectadorcompreensivo e a interação de dois semelhantes (ibid., 1999, p. 125).

Winnicott usava a técnica como foco principal, Minkowski atentava para aapreciação do humano no homem. Encontro em um poeta um olhar refinadoquanto à compreensão humana, o que contribuirá nas reflexões dos casos

acompanhados.O poeta chileno Pablo Neruda, na ocasião de seu discurso ao receber o

prêmio Nobel de literatura em 1971 inicia o discurso falando de uma longatravessia pelas Cordilheiras dos Andes em sua fuga clandestina. O poeta foiacompanhado por quatro homens que conheciam a região e seus perigos e quemarcavam o trajeto com seus facões, de modo que teriam pistas para o retornoapós completar a missão e deixar Neruda só com seu destino.Neruda (2001, p. 21-8) contempla a construção humana e a memória de viajantesdesconhecidos que por ali passaram e finalizaram sua vida. O caminho era difícil.Neruda conta de um ritual que vivenciou “dentro de um círculo mágico, comohóspedes de um recinto sagrado” e mais tarde comenta “compreendi então de umamaneira imprecisa, ao lado de meus impenetráveis companheiros, que existia uma

comunicação de desconhecido a desconhecido, que havia uma solicitação, umasúplica e uma resposta mesmo nos mais longínquos e distantes desertos destemundo”. Neruda quis recompensar os quatro homens e pagar pelo auxíliooferecido: “pelo inesperado amparo que veio a nosso encontro, eles rechaçaramnosso oferecimento. Nos haviam servido e nada mais”. Neruda comenta que nessenada mais silencioso havia muitas coisas subentendidas, reconhecimento ou osmesmos sonhos.

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Na segunda parte do discurso Pablo Neruda conta que não aprendeu emlivros nenhuma receita para compor um poema e que não deixaria conselhos. Eleconfessa que narrou e reviveu o curso de sua vida para explicar-se a si mesmo.Para Neruda (2001, p. 28) “a poesia é uma ação passageira ou solene em queentram emparelhadas a solidão e a solidariedade, o sentimento e a ação, a intimidadeda gente mesmo, a intimidade do homem e a secreta revelação da natureza”. Nopercurso de sua vida poética ele refere que o maior inimigo da poesia era a faltade concordância do poeta, não tanto quem a professa ou a resguarda. E maisadiante: “Cada um de meus versos quis instalar-se como um objeto palpável; cada

um de meus poemas pretendeu ser um instrumento útil de trabalho; cada um demeus cantos aspirou servir no espaço como signos de reunião onde se cruzaramos caminhos, ou como fragmento de pedra ou de madeira em que alguém, outros,os que virão, puderam depositar os novos signos” (ibid., p. 33).

No discurso Neruda (ibid., p. 21-53) relatou as passagens, as dificuldades,as aventuras, os rituais sagrados de pessoas que encontravam pelo caminho, oslugares míticos e comentou: “Não sei se aquilo eu o vivi ou o escrevi, não sei sefoi verdade ou poesia, transição ou eternidade os versos que experimentei naquelemomento, as experiências que cantei mais tarde”. Em seguida afirmou o seguinte:“de tudo isso, amigos, surge um ensinamento que o poeta deve aprender dosdemais homens. Não há lugar deserto inconquistável. Todos os caminhos levamao mesmo ponto, a comunicação do que somos. E é preciso atravessar a solidão

e a aspereza, a incomunicação e o silêncio, para chegar ao recinto mágico em quepodemos dançar rudemente ou cantar com melancolia, mas nessa dança e nessacanção estão consumados os mais antigos ritos da consciência de ser homens eacreditar no destino comum”. Neruda tinha uma profunda consciência de serhomem e do destino comum a todos.

Relato comentado de experiências clínicas

Em duas vinhetas de casos clínicos vivenciados em instituição pública desaúde apresentar-se-á um modo de trabalhar que integra aproximações

fenomenológicas e intervenções psicodinâmicas. Para tanto, usarei nomesfictícios. Várias modificações foram realizadas para garantir a privacidade e nãoidentificação das pessoas, de modo que não se alterasse a temática para discussão:a experiência vivida.

Primeiro caso: Dinho, um menino de dez anos, veio à consulta comsua mãe Valéria. Ele nunca conhecera seu pai. A mãe, sobrecarregada comas funções paternas e maternas que se deparava nos cuidados a seu filho e

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por não tolerar os comportamentos agressivos dele, solicitou auxíliopsicológico.

Marcamos um encontro, Dinho entrou na sala junto com a mãe, ele estavatriste e cabisbaixo e em seu olhar uma expressão de quem queria chorar. Valériaapresentou-se com olhos lacrimejantes, uma mistura de desamparo e raiva e sequeixava do fraco desempenho escolar do filho, que não estudava em casa, quenão correspondia às suas expectativas, que batia em colegas e desrespeitava pro-fessores e a ela mesma.

O clima que senti era de alta tensão. A mãe perguntou se eu queria falar com

Dinho a sós. Pensei que sua pergunta indicava que ela preferia se ausentar docontato naquele momento, então comentei que se Dinho concordasse eu aceita-ria. Ele fez gestos afirmativos com a cabeça. Levantamo-nos e indiquei o cami-nho da sala de espera à mãe.

Dinho se manteve em silêncio durante vinte minutos, eu também. No entanto,fiz uma intervenção verbalizando que estava ali para ajudá-lo. Dinho levantou orosto, olhou para mim e deixou cair algumas lágrimas em seu rosto. Passei a mãoem sua cabeça e o olhei com ternura. Expressei que tinha impressão dele estarse sentindo muito pressionado, ele respondia a intervenção com gestos afirmati-vos da cabeça. Estávamos no fim da consulta e perguntei se ele gostaria de vol-tar a se encontrar comigo outro dia; ele aceitou.

Em nosso brincar e encontros semanais pude estabelecer diálogos com Dinhoe seu sofrimento. Ele revelava com muita dor que ao irritar a mãe tinha a inten-ção de que ela olhasse para ele. Nossa relação se estabeleceu com muita sintoniae vitalidade, e isso contrastava com os comportamentos agressivos descritos. Obrincar em si mesmo foi terapêutico e por vezes conversávamos durante a ses-são, deitados no chão ou sentados no divã encostados na parede, a ação físicaficava em repouso.

Valéria estava bastante deprimida e pouco tolerante com seu próprio sofri-mento naquela época. Então ofereci a ela consultas mensais com o objetivo derefletir sobre o processo terapêutico e para tentar sensibilizá-la quanto às suas ne-cessidades de ser cuidada.

Com o passar do tempo, a violência dirigida a seu filho diminuiu conside-

ravelmente e passaram a se respeitar mais que antes, estavam mais equilibrados.A melhora no rendimento escolar se fez presente. Essa experiência mostrou-meque a relação terapêutica na infância demanda trabalhar com uma dupla-transfe-rência, com a criança e com os responsáveis; e que é necessário uma atitudeempática, atenta e compreensiva diante do que se apresentava na relação e, emcertas ocasiões, esperar que tal situação se resolvesse a partir de nosso testemu-nho clínico.

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Do ponto de vista Winnicottiano, a privação do amor da mãe que Dinho sen-tia parecia se expressar em atos anti-sociais na escola, que foram diminuindo gra-dativamente. Ao se recuperar da atenção materna que almejava dada sua neces-sidade, Dinho abandonou os atos que expressava como comunicação de sentimen-tos de privação do amor do outro.

Como pudemos observar desde o primeiro contato com Dinho o silêncio foiuma presença, as lágrimas dele e da mãe indicavam necessidade de acolhimento.Em seu desenvolvimento sofre com a ausência do pai, o fator ambiental carecede uma presença paterna. Nesse primeiro contato o analista é colocado como ob-

 jeto subjetivo do paciente.Valéria representava um ambiente com condições mínimas para ajudar e en-contrar provisão ambiental necessária. Avaliei o meio ambiente imediato de Dinhocomo disposto a colaborar. Acolheu-se o primeiro momento como técnica, assessões seguintes como música intensa e dinâmica em criatividade. Pudemos to-car a música em seu ritmo e em encontros engajados.

Em minha corporeidade sentia a tensão e o desamparo deles. De acordo coma fenomenologia em Minkowski, o brincar com Dinho vibrava em uníssono demodo que se estabelecia maior intimidade entre nós, o que permitia a ambos umcompenetrar-se. Houve empatia e as ressonâncias frente ao encontro com Dinhosempre foram de um contato vital com a realidade. Dinho revelou-me seu sofri-mento, do qual participava em seu destino, que o atravessava e nos aproximava

do vivido. A solidariedade e a simpatia estavam presentes desde o início. Valériarespeitou essa intimidade e mostrou confiança no trabalho.

A partir de Neruda se desenhava um percurso e uma travessia repleta de di-namismo na relação. Naquele momento eu era o companheiro que não deixouDinho só com seu destino. Da desarmonia inicial navegamos rumo à busca deharmonia nas relações. O caminho era difícil, mas o destino era comum. Eu re-conhecia seus sonhos, aparentados com facetas dos meus. A vivência passagei-ra na sessão e/ou no processo terapêutico, como um gesto poético em sua açãopassageira, emparelhou a solidão e a solidariedade, o sentimento e a ação, a inti-midade da relação. Dinho recuperou sua esperança em uma relação paterna nãosó comigo, mas com uma bela referência masculina em sua vida real.

Segundo caso: uma moça que acompanhei trazia um sofrimento pelo luto que

vivia diante da perda de alguém muito próximo. Sonia apresentava uma estrutu-ra de personalidade obsessiva e controladora que camuflava vivências depressi-vas e um intenso medo de enlouquecer.

Em certa ocasião eu estava muito cansado. Sonia demandava muita atençãode minha parte, qualquer distração era estímulo para a expressão de sua agressi-vidade, que ela tentava evitar a todo custo. Ela verbalizava em detalhes e minú-cias cada fato da semana. Com inúmeros pormenores descrevia cada ação ocorri-

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da em seu cotidiano. Em meus raciocínios Sonia estava privada desta atenção emseu ambiente e tentava resgatar isso na relação comigo, assim era seu modo decaptar minha atenção.

Nessa sessão, por momentos meu pensamento não foi sintônico com as mi-núcias descritivas de suas condutas durante a semana. No final da sessão, quandonos dirigimos rumo à porta de saída da sala, Sonia pára e antes de sair, comen-ta: “obrigada por me ouvir, estava preso em minha garganta tudo isso, sabe? Meupai não deixava que eu me expressasse e eu me submeti muitos anos a isso, desdecriança, obrigada, tô aliviada!”. Isso me surpreendeu e me despertou para a im-

portância de acompanhar o outro em escuta terapêutica silenciosa como interven-ção, cujo resultado aparece no gesto em fala de Sonia. Ela chegava à própria in-terpretação, que colocava em devir sua ação.

Esta paciente precisava que eu a acompanhasse com poucas intervençõesverbais e sem sair do compasso, caso contrário, sentia-se terrivelmente ameaçadapela própria agressividade. Gradativamente pudemos conversar e elaborar essa di-ficuldade, abrindo um sentido inédito para a compreensão da agressão em suavida.

Como terapeuta estava acolhendo sua ansiedade (Winnicott, 1984). Quan-do me distraia logo despertava. Isso me assustava e me deparava com uma sen-sação que a deixava cair na minha capacidade de sustentação. Estava cansado,sentia-me capturado e aprisionado em seu discurso e ainda lutava para continu-

ar ouvindo com atenção e sem distrações as atualizações de sua história.Meu cansaço revelava uma desafinação com Sonia de forma que se estabe-

lecia um vínculo no qual compenetrávamos em movimentos opostos: eu me per-guntando aonde ela chegaria no que verbalizava e ela, animada e narrando memó-rias do seu vivido, experimentando uma nova vivência de relação.

É interessante perceber que apesar de minha afinação ser outra, a pacienteteve um contato vital com a realidade que reapresentava como sensação de con-quista em sua verbalização final. A solidariedade se revelou em mim pelo silêncioatento. Sonia almejava a expressão de seus sentimentos aprisionados. O devir setornou presente. Ela se expressava e expressava a alguém sua gratidão(Minkowski, 2002).

O quadro que pintava no percurso desta sessão e travessia era bastante re-

petitivo no comportamento. Sonia expressava um excesso de verbalização comose quisesse se esvaziar. Ela me colocava em lugar de um companheiro atento noolhar e silencioso nas palavras. O caminho que Sonia me apresentava era solitá-rio e fechado durante a sessão e aberto na última frase. A vivência passageira nesteencontro exigia muito de mim, era a poesia do controle. A partir da solidão sen-tida pelo terapeuta revelou-se um reconhecimento pela ação de solidariedade noacompanhar terapêutico (Neruda, 2001).

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Considerações finais

O que se pode apreender do humano e como? Frente ao poema nos abrimosao desconhecido e aos mistérios humanos. A leitura vibra em nós. Nesse sentido,conheci o modo de ser dessas pessoas e as ressonâncias do contato. Oacolhimento empático de seus gestos, a tolerância, e principalmente, acompreensão permitiram que cada paciente se apropriasse aos poucos de seumodo de ser, de sua biografia em sua cultura.

Oferecemos a possibilidade ao outro de narrar a sua própria história, a seumodo, acompanhando-o cuidadosamente. Assim aconteceu com Dinho em seubrincar ativo, vigoroso e muito criativo, no desespero e na esperança de Valéria,nos detalhes essenciais da vida de Sonia. O narrar é um modo de veicular expe-riências e também o gesto de narrar é por si uma experiência pura (Safra, 2006).

Essas experiências mostram que muitos dos sofrimentos humanos quepresenciamos nesta era da excessiva informatização são decorrentes de nossoambiente mais amplo, da dominância de um mundo técnico baseado na imagemvirtual, do tempo da velocidade excessiva, e se originam da falta de compreensãohumana, como constatamos nos desencontros entre a necessidade de Dinho coma de sua mãe, a falta de compreensão do ambiente de Sonia, com o qual ela viviacomo impedimento de sua liberdade de se expressar.

Estabelecemos uma interlocução com cada pessoa a partir do estar com eem contato empático ao sofrimento humano. Não se trata de uma psicologiaafetiva ou caridosa, nem catártica, mas trata-se de uma aventura responsável emisteriosa, que eu denomino de humanologia, pois o estudo do humano está paraalém do estudo da psique da psicologia, de determinadas funções da cogniçãohumana, da análise das representações subjetivas e de conteúdos latentes, maspróximo ao estudo do humano em si, de como acontece na relação, suasvicissitudes. Neste ensaio buscou-se compreender os pacientes a partir daressonância empática e musical e a importância do reconhecimento da ação epresença do terapeuta no ambiente de convivência dessas pessoas.

Quando Neruda (2001, p. 28) denomina que “a poesia é uma ação passageiraou solene em que entram por pares medidas de solidão e a solidariedade, o

sentimento e a ação, a intimidade da gente mesmo, a intimidade do homem e asecreta revelação da natureza” o poeta mostra peculiaridades fundamentais darelação terapêutica, a solidão de Dinho e Sonia em aliança com a solidariedade doterapeuta frente às dores destes. Os encontros vividos com Dinho, Valéria e Soniaforam passageiros no tempo e eternizados em imagens e memória. O terapeutapode como o poeta ter consciência da condição humana e acreditar em um destinocomum. O terapeuta acompanha o paciente em sua harmonia ou desarmonia.

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L A T I N - A M E R I C A N

J O U R N A L O F

F U N D A M E N T A L

P S Y C H O P A T H O L O G YO N L I N E

ano VI, n. 2, nov/2 006

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A missão dos quatro companheiros e acompanhantes do poeta, aopercorrerem um percurso, se assemelha à missão que a dupla terapeuta-pacientebusca em um processo terapêutico. Ao fim de cada sessão ou processo terapêuticoo paciente segue com seu destino, mas marcas são plantadas no espírito de cadaum.

A fenomenologia por Minkowski auxiliou-me a acompanhar essas pessoase a estar sensível aos fenômenos que se apresentaram tal como são. Com cadauma das pessoas se configurou uma música e um intento de afinação. A partir daconfiança e da crença na possibilidade de humanizar as experiências pudemos

recuperar algo de si e re-situar as experiências na realidade vivida.Ao buscar uma ação terapêutica a partir da abordagem ao estudo do humano

– humanologia – e ao oferecer encontros se permite um destinar o devir, por vezesadormecido, sendo possível despertar o amor que permite a cada pessoa vivercriativamente e aceitar o sofrimento inerente à vida; é possível revelar o humanopor meio da análise dos fenômenos que acontecem nas relações humanas e daro estatuto de ciência humana a esse encontro. Entre as consultas terapêuticas eo modo de contatar a realidade observamos o destino comum de todos os homens,como uma presença que se destaca.

Referências

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1923-1965 d’Eugène Minkowski – Psychopathologie – Expression et Langage – 

Phénoménologie – Cahiers du Groupe Françoise Minkowska, n. 15, p. 101-5.

____ (1970). Estudio Psicologico y analisis fenomenologico de un caso de melanco-lia esquizofrenica – 1923. In: MINKOWSKI, E; GEBSATTEL, V. E. V; STRAUSS, E. W. Antro-

 pologia de la alienación. Caracas: Monte Avila Editores.

____ (1999). L’expression. In: MINKOWSKI, E. Vers une cosmologie – fragments

 philosophiques. Paris: Petite Bibliothèque Payot, p. 121-30.

____ (2002).  La schizophrénie. Psychopathologie des schizoïdes et des

schizophrènes. Paris: Éditions Payot. (Original publicado em 1927)

NERUDA, P. (2001). La poesía no habrá cantado e vano. Santiago: Libro del Ciudadano.

SAFRA, G. (1999). A face estética do self . 1 ed. São Paulo: Unimarco.

____ (2006). Desvelando a memória do humano. O brincar, o narrar, o corpo, o sa-

grado, o silêncio. São Paulo: Edições Sobornost.

TATOSSIAN, A. (2006). A fenomenologia das psicoses. São Paulo: Escuta.

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 ARTIGOSano VI, n. 2, nov/2 006

95

WINNICOTT, D. W. (1978). Da pediatria à psicanálise. 2. ed. Rio de Janeiro: FranciscoAlves.

____ (1984). Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Rio de Janeiro: Imago.(Original publicado em 1971)

Resumos

 Este artículo es un relato clínico en el cual el autor hace un diálogo con la

sensibilidad clínica de Donald Winnicott, la comprensión empática de Eugène Minkowski y el comunitário poético en Pablo Neruda, respectivamente, cuánto a la

consulta terapéutica, el ímpeto vital y la destinación común de los hombres. El autor 

relacionó dos breves historias de la experiencia clínica con un niño y su madre y un

 paciente adulto y considera una forma de comprender la clínica utilizada en estos

casos. En esta presentación no se aporta a lo teórico para explicar las vicisitudes de

esta clínica, pero si a una fenomenologia del vivido, en el cual se aventura en busca

de una humanologia en la clínica.

Palabras claves: Psicoterapia, fenomenología, poesía

Cet article est un rapport clinique dans lequel l’auteur a un dialogue avec la

sensibilité clinique de Donald Winnicott, la compréhension empathique d’Eugène

 Minkowski et le poétique communautaire de Pablo Neruda, respectivement; en ce quiconcerne les rencontres thérapeutiques, l’ élan vital et le destin commun des hommes.

 L’auteur rapporte deux courtes histoires d’expériences cliniques avec un enfant et sa

mère et avec une patiente adulte et il propose une manière pour comprendre la clinique

réalisée dans ces cas. Dans ce rapport il n’utilise pas de construction théorique pour 

expliquer les vicissitudes de cette clinique, mais une phénoménologie du vécu, dans

lequel íl s´aventure à la recherche d’une “humanologie” dans la clinique.

Mots clés: Psychothérapie, phénoménologie, poésie

This article is a clinical deposition in which the author makes a dialogue with

the clinical sensitivity of Donald Winnicott, the empathy relation of Eugène Minkowski

and the poetical communitarian in Pablo Neruda, respectively, concerning the

therapeutic meetings, the élan vital and the common destiny of the men. The author relates the two brief stories of clinical experience with a child and its mother and with

an adult patient and considers one way to understand the clinic carried through with

these cases. In this deposition, the author does not use theoretic constructions to

explain the vicissitudes of this clinic, but a phenomenology of the experience, in which

we venture in search of a “human-logy” in the clinic.

Key words: Psychotherapy, phenomenology, poetry