ANDRÉIA CRISTINA DA SILVA KOBELINSKIsiaibib01.univali.br/pdf/Andreia Kobelinski.pdf · À...

128
ANDRÉIA CRISTINA DA SILVA KOBELINSKI O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SOB O OLHAR DA SUSTENTABILIDADE: O CASO DE SANTA CRUZ DO TIMBÓ – PORTO UNIÃO –SC Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI Centro de Educação da UNIVALI Balneário Camboriú 2005

Transcript of ANDRÉIA CRISTINA DA SILVA KOBELINSKIsiaibib01.univali.br/pdf/Andreia Kobelinski.pdf · À...

  • ANDRÉIA CRISTINA DA SILVA KOBELINSKI

    O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SOB O OLHAR DA SUSTENTABILIDADE:

    O CASO DE SANTA CRUZ DO TIMBÓ – PORTO UNIÃO –SC

    Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI Centro de Educação da UNIVALI

    Balneário Camboriú 2005

  • 2

    ANDRÉIA CRISTINA DA SILVA KOBELINSKI

    O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SOB O OLHAR DA SUSTENTABILIDADE:

    O CASO DE SANTA CRUZ DO TIMBÓ – PORTO UNIÃO –SC

    Defesa de dissertação de Mestrado,

    apresentada no Programa de Pós-

    Graduação em Turismo e Hotelaria da

    Universidade do Vale do Itajaí, para a

    obtenção do Título de Mestre sob a

    orientação do Professor Dr. Paulo dos

    Santos Pires.

    Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI Centro de Educação da UNIVALI

    Balneário Camboriú 2005

  • 3

    BANCA EXAMINADORA:

    _____________________________________________ Professor Dr. Paulo dos Santos Pires

    (Orientador)

    ______________________________________________ Professor Dra. Doris van de Meene

    Ruschmann (Examinadora-titular)

    ______________________________________________ Professor Dr. Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira

    (Examinador-titular)

    ______________________________________________

    Professor Dr. Marcus Pollete (Examinador-suplente)

    ______________________________________________

    Professora Dra. Elaine Ferreira (Examinadora-suplente)

  • 4

    DEDICATÓRIA

    Dedico este trabalho a Deus, ser supremo da criação, que, em todos os momentos foi, e sempre será, refúgio e alegria em meus dias. Ao meu esposo Michel Kobelinski, pela paciência, dedicação, críticas e compreensão dessa dedicação à pesquisa e redação deste trabalho. E como isto foi gratificante! Como você já disse, que a nossa vitória seja compensadora!. Aos familiares um agradecimento especial: José Correia da Silva e Maria Zita da Silva que me deram a vida e, mesmo a distância, sempre estiveram projetando e torcendo por mais esta vitória. Eu também não poderia esquecer da amiga de “viagem”, companheira das idas e vindas a Balneário Camboriú. Nádia, você é uma pessoa especial que Deus colocou no meu caminho. Foi a minha companheira das horas felizes e dos momentos decisivos. Apesar da distância de nossos lares, a enorme amizade se mostrou mais forte. Amiga, obrigada por tudo. Deus a ilumine sempre.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Agradecer é ato de humildade e grandeza do ser no mundo e diante dele. O nascer e o pôr-do-sol, os seres vivos, as pessoas a nossa volta, enfim, todas as coisas compõem algo que considero sagradas e necessárias às nossas conquistas e empreendimentos. Agradeço profundamente às pessoas que participaram desta etapa de minha vida, reconhecendo o seu grande valor.

    Ao Professor Dr. Paulo dos Santos Pires, por seu conhecimento e dedicação durante os nossos encontros, mesmo com as suas atribulações corriqueiras. Obrigada pelas horas proveitosas nas quais concretizamos um ideal que agora vem a público, esforço este sem o qual não seria possível o direcionamento e a construção deste trabalho. Aos Professores do Curso Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria da Univali, pelo empenho e dedicação nas discussões em sala de aula, no despertar do senso crítico nos acadêmicos, apoio e encaminhamento dos trabalhos. Aos professores, Dra. Doris de van Meene Ruschmann, Dr. Marcus Polette (Dra. Roselys Izabel Correa dos Santos), Dr. Paulo dos Santos Pires o reconhecimento. Durante a qualificação seus comentários e críticas foram relevantes ao redimensionamento do trabalho apresentado. Às secretárias do curso de mestrado, que sempre nos atenderam prontamente: Norma, Márcia, Cristina e Rita. Aos amigos da turma de 2003, que souberam cultivar a amizade, carinho, alegria. A troca de conhecimento e a amizade, dentro e fora da sala-de-aula serão lembranças que sempre guardarei comigo. Que essa amizade, nosso bem comum, seja perpétua em nossos corações. À direção da UnC – Universidade do Contestado – Campus Canoinhas, pelo apoio concedido ao desenvolvimento da pesquisa. À direção da Faculdade Municipal da Cidade de União da Vitória – FACE/ UNIUV, pelo apoio concedido e incentivo financeiro para participação em eventos que contribuiram para este trabalho e conhecimento profissional, sem medir esforços. À Profa. Fahena Horbatiuk, pela correção e atenção a este trabalho. Aos atores sociais entrevistados - poder público, sociedade civil organizada, comunidade local, iniciativa privada - que prontamente se colocaram à disposição para atender nossas solicitações. Por fim, a todos que torceram, apoiaram e auxiliaram de alguma forma, para que este trabalho fosse realizado com pleno sucesso. Muito obrigada.

  • 6

    “A missão do ser humano não é estar sobre as

    coisas, dominando-as, mas ficar ao seu lado,

    cuidando delas, pois ele é parte responsável da

    imensa comunidade terrenal e cósmica.”

    Leonardo Boff, 2004.

  • 7

    SUMÁRIO

    LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE SIGLAS LISTA DE ANEXOS LISTA DE APÊNDICES RESUMO ABSTRACT 1 INTRODUÇÃO 2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO...................................................... 22 2.1 Localização geográfica................................................................................................ 24 2.2 Aspectos biofisicos..................................................................................................... 25 2.3 Infra-estrutura básica e turística.................................................................................. 32 2.4 Aspectos históricos..................................................................................................... 49 2.5 A criação do município de Porto União...................................................................... 53 3 REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................... 58 3.1 Desenvolvimento e sustentabilidade........................................................................... 58 3.2 Sustentabilidade do turismo........................................................................................ 62 3.3 Turismo no espaço rural.............................................................................................. 69 3.4 Planejamento e gestão do turismo............................................................................... 72 4 METODOLOGIA ....................................................................................................... 80 4.1 População e amostragem............................................................................................. 82 4.2 Técnicas de pesquisa e instrumentos para coleta de dados......................................... 83 4.3 Processamento e análise dos dados............................................................................. 85 5 RESULTADOS ............................................................................................................ 86

  • 8

    5.1 Poder Público.............................................................................................................. 86 5.2 Sociedade Civil Organizada........................................................................................ 92 5.3 Iniciativa Privada........................................................................................................ 97 5.4 Comunidade Local...................................................................................................... 102 5.5 Discussão integrada dos resultados............................................................................. 106 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 112 6.1 Recomendações........................................................................................................... 113 7 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 117

  • 9

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 – Rio Timbó em São Pedro do Timbó......................................................................23

    Figura 02 – Localização do município de Porto União e distrito de Santa Cruz do Timbó.....24

    Figura 03 – Plantação de álamo nas proximidades do Rio Timbó..........................................30

    Figura 04 – Igreja na Sede Santa Cruz do Timbó.....................................................................31

    Figura 05 – Acesso ao distrito de Santa Cruz do Timbó..........................................................32

    Figura 06 - Trevo de acesso na BR 280....................................................................................33

    Figura 07 – Sinalização na entrada do distrito de Santa Cruz do Timbó..................................33

    Figura 08 – Vista da entrada do distrito de Santa Cruz do Timbó............................................34

    Figura 09 – Vista da Pousada Morro Alto................................................................................37

    Figura 10 - Vista da Pousada Morro Alto – lado esquerdo da estrada......................................37

    Figura 11 – Pousada Dona Maria..............................................................................................38

    Figura 12 – Vista do Rio Timbó próximo da Pousada Dona Maria.........................................38

    Figura 13 – Vista da Pousada Schreiner...................................................................................39

    Figura 14 – Vista da Pousada São Pedro..................................................................................40

    Figura 15 – Rio Timbó – BR 280 visto da ponte .....................................................................43

    Figura 16 – Cachoeira de São Pedro.........................................................................................44

    Figura 17 – Cachoeira do Rio Bonito.......................................................................................45

    Figura 18 – Cachoeira do Rio dos Pardos.................................................................................46

    Figura 19 - Festa no Pavilhão da Igreja em Santa Cruz do Timbó...........................................48

    Figura 20 - Festa no Pavilhão da Igreja em Santa Cruz do Timbó – Grupo 3ª. Idade..............48

    Figura 21 – Vista aérea dos municípios de Porto União e União da Vitória............................54

    Figura 22 – Vista de Propriedade com gado leiteiro.................................................................55

    Figura 23 – Cultivo de Soja......................................................................................................56

    Figura 24 – Rio Timbó - no distrito de Santa Cruz do Timbó..................................................57

  • 10

    Figura 25 – Rio Timbó - no distrito de Santa Cruz do Timbó..................................................57

    Figura 26 – Pilares da Sustentabilidade....................................................................................65

    Figura 27 – Ciclo de Vida das Destinações Turísticas..............................................................81

    Figura 28 – Fluxograma do Processo de desenvolvimento da metodologia.............................85

    Figura 29 - Visão dos atores sociais do poder público com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada............................91 Figura 30 – Visão dos atores sociais da sociedade civil organizada com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada................................................................................................................................96 Figura 31 – Visão dos do atores sociais da iniciativa privada com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada...............................................................................................................................101 Figura 32 – Visão dos do atores sociais da comunidade local com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada...............................................................................................................................106

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 – Opinião do Poder Público em relação aos benefícios do turismo na região.........86

    Tabela 02 - Opinião do Poder Público em relação aos malefícios do turismo na região.........87

    Tabela 03 - Opinião da Sociedade Civil Organizada em relação aos benefícios do turismo na

    região.........................................................................................................................................92

    Tabela 04 - Opinião da Sociedade Civil Organizada em relação aos malefícios do turismo na

    região.........................................................................................................................................93

    Tabela 05 – Opinião da Iniciativa Privada em relação aos benefícios do turismo na

    região........................................................................................................................................97

    Tabela 06 - Opinião da Iniciativa Privada em relação aos malefícios do turismo na

    região........................................................................................................................................98

    Tabela 07 - Opinião da Comunidade Local em relação aos benefícios do turismo na

    região.......................................................................................................................................102

    Tabela 08 - Opinião da Comunidade Local em relação aos malefícios do turismo na

    região.......................................................................................................................................103

  • 12

    LISTA DE SIGLAS

    AMURC - Associação dos Municípios da Região do Contestado

    ADR-PLAN - Agência de Desenvolvimento Regional Integrado do Planalto Norte

    Catarinense.

    BESC – Banco do Estado de Santa Catarina

    CASAN - Companhia Catarinense de Águas e Saneamento

    CERH -Conselho Estadual de Recursos Hídricos

    CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina SA

    CONTUR – Conselho de Turismo e Meio Ambiente de Porto União

    COPEL – Companhia Paranaense de Energia Elétrica

    EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo

    EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

    ECOIGUAÇU – Organização não governamental de proteção ao ecossistema do rio Iguaçu

    ECOVALE – Empresa de Saneamento do Vale do Iguaçu

    FACE – Faculdade Municipal da Cidade de União da Vitória-PR

    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    OMT - Organização Mundial do Turismo

    PND - Plano Nacional de Desenvolvimento

    PNT – Plano Nacional de Turismo

    PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

    SDS - Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Santa Catarina)

    UNEP - Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas

    WWF - Fundo Mundial para a Vida Selvagem

  • 13

    LISTA DE ANEXOS

    Anexo 1 – Folder Promocional de Porto União....................................................................127

    Anexo 2 - Termo de consentimento livre...............................................................................128

  • 14

    LISTA DE APÊNDICES

    Apêndice A – Roteiro de Entrevistas.....................................................................................123

    Apêndice B – Roteiro de Observação....................................................................................126

  • 15

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho foi analisar o atual desenvolvimento do turismo no distrito de Santa Cruz do Timbó – Porto União/SC, sob a perspectiva da sustentabilidade. Para esse fim foram realizadas entrevistas com representantes do Poder Público, Sociedade Civil Organizada, Iniciativa Privada e Comunidade local. O instrumento de pesquisa foi constituído de forma a buscar uma visão desses segmentos sociais a respeito do paradigma da sustentabilidade. A ênfase do trabalho partiu das dimensões social, cultural, econômica e ecológica/ambiental propostas pela OMT – Organização Mundial do Turismo. Além disso, procurou-se conhecer as ações desses atores sociais no desenvolvimento do turismo e seu conhecimento acerca do turista que visita a região. Para a área objeto de estudo, a modalidade de turismo praticada foi identificada como turismo no espaço rural, destacando-se o turismo de pesca, e de forma discreta, o ecoturismo. O suporte e atendimento a esses “visitantes” é realizado por proprietários de pousadas que garantem uma infra-estrutura simples. As cachoeiras e grutas são atrativos potenciais que também estão sendo buscados pelos turistas. As principais dificuldades para o desenvolvimento do turismo apontadas pelos entrevistados foram: falta de planejamento turístico, falta de infra-estrutura pública e turística; falta de investimentos; divulgação; maior apoio do Poder Público; mão-de-obra qualificada, integração entre aos segmentos envolvidos com a atividade. O intuito do trabalho foi contribuir com um instrumento de mensuração para o Planejamento do Turismo Municipal, uma vez que tais princípios da sustentabilidade e de articulação entre os setores sociais envolvidos não são satisfatórios, sendo necessárias ações concretas e responsáveis, para que o desenvolvimento do turismo na região pesquisada seja uma realidade.

  • 16

    ABSTRACT

    The objective of this work was to analyze the current development of the tourism in the district of Santa Cruz Timbó-Porto União/SC, under the perspective of the sustainability. For that end interviews were accomplished with representatives of the Public Power, Organized Civil association, Private initiative and local Community. The research instrument was constituted from way to look for a vision of those social segments regarding the paradigm of the sustainability. The emphasis of the work left of the dimensions social, cultural, economical and ecológica/ambiental proposed by OMT- World Organization Tourism. Besides, he/she tried to know those social actors' actions in the development of the tourism and his knowledge concerning the tourist that visits the area. For the area study object, the modality of tourism practiced was identified as tourism in the rural space, standing out the fishing tourism, and in discreet way, the ecotourism. The support and service the those “visitors” it is accomplished by proprietors of lodgings that guarantee a simple infrastructure. The waterfalls and grottos are attractive potential that are also being looked for by the tourists. The main difficulties for the development of the tourism appeared by the interviewees were: lack of tourist planning, lack of public and tourist infrastructure; lack of investments; popularization; larger support of the Public Power; skilled labor, integration enters to the segments involved with the activity. The intention of the work was to contribute with a mensuration instrument for the Planning of the Municipal Tourism, once such beginnings of the sustainability and of articulation among the involved social sections are not satisfactory, being necessary concrete and responsible actions, so that the development of the tourism in the researched area is a reality.

  • 17

    INTRODUÇÃO

    As mudanças globais e suas implicações no cotidiano dos indivíduos são uma

    constante fonte de reflexão social. A busca pelas belezas naturais, pela cultura, por

    conhecimento de lugares e pessoas de diferentes sociedades, tornou-se um desejo de

    consumo na sociedade pós-moderna, que procura por meio do lazer e do turismo, uma forma

    de canalizar o stress do cotidiano e alcançar momentos de plena satisfação. Ruschmann

    (2001, p.9) faz referência a essa questão, principalmente em relação aos ambientes naturais:

    [...] a “busca do verde” e a “fuga” dos tumultos dos grandes conglomerados urbanos pelas

    pessoas que tentam recuperar o equilíbrio psicofísico em contato com ambientes naturais

    durante o seu tempo de lazer”.

    Atualmente o turismo é um dos setores da economia que mais tem-se destacado

    mundialmente. Segundo dados da OMT, apresentados no Plano Nacional de Turismo (2003-

    2007), o turismo é responsável por um a cada nove empregos gerados em todo o mundo. Ora,

    isso propicia uma reflexão sobre a relação turismo e desenvolvimento, ou seja, como o

    turismo pode ser um desencadeador do desenvolvimento de um país, região ou uma

    localidade? Ou, por outro lado, como ele pode ser exatamente o contrário, traduzindo-se em

    transtornos sociais irreversíveis, principalmente em países em desenvolvimento?

    Nesse contexto, muito se tem discutido acerca das políticas públicas e das

    possibilidades que norteiam e balizam o crescimento e desenvolvimento do turismo, para que

    tome caminhos em que a gestão seja adequada a cada realidade, sejam elas nacionais,

    regionais ou locais (RODRIGUES, 2002; CRUZ, 2002, SILVEIRA, 2002).

    No Brasil a preocupação com o direcionamento do turismo passa a ter uma maior

    importância após 1966, em que a primeira política referente ao setor se efetivou com o

    Decreto lei nº 55, referendando a criação do Sistema Nacional de Turismo, composto na

    época pela Embratur, CNTUR e também com ligação ao Ministério das Relações Exteriores.

    Esse primeiro esforço organizacional do setor do turístico foi válido, embora naquele

    momento o direcionamento tenha privilegiado a atividade hoteleira. Contudo, a partir de

    1990, tomaram-se outros rumos, com ações mais efetivas, observando a importância do

    surgimento do PNT (Plano Nacional de Turismo), no sentido de reorganizar a Política de

    Turismo Nacional.

    Atualmente o Turismo faz parte das prioridades do Governo Brasileiro, que busca

    gerar oito bilhões de dólares em divisas mediante diretrizes expostas no atual Plano Nacional

    de Turismo (2003-2007). Essa preocupação “organizacional” é mais bem entendida com a

  • 18

    criação do Ministério do Turismo. No entanto, mesmo com tais ações por parte do Governo

    Federal, há muito a se fazer nos planos regionais e municipais no que diz respeito à

    implementação das atividades turísticas e suas interações com as diversidades ambientais e

    culturais.

    Diante desse contexto, a ênfase deste trabalho voltou-se para o estudo do turismo em

    uma localidade situada no interior do estado de Santa Catarina, levantando questões em um

    contexto local. Isso permitiu analisar o “atual” cenário turístico e propiciar reflexões acerca

    do desenvolvimento do turismo, concatenando, em sua essência, proposições e contribuições

    ao desenvolvimento de políticas públicas locais e para regiões com características similares à

    área objeto de estudo.

    O município de Porto União – SC - localiza-se no extremo Norte do Planalto

    Catarinense, região dotada de recursos naturais parcialmente preservados, que atraem um

    público que busca contato com a natureza, com atividades ligadas aos rios, quedas d’água e à

    paisagem “natural”. Porto União também é conhecida como a Capital Nacional do

    Steinhaeger, devido a bebida ser produzida e engarrafada no município, e possuir

    propriedades muito particulares de aroma e sabor.

    O objeto de pesquisa refere-se ao distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidade de

    São Pedro do Timbó, localidades rurais do município de Porto União, que chamam a atenção

    de toda a comunidade pelo movimento recente de pessoas e pela atividade turística praticada

    atualmente.

    As pousadas às margens do Rio Timbó oferecem lazer a quem chega à localidade em

    busca de atividades ligadas à pesca e, indiretamente, procura uma gastronomia típica da

    região. A atividade turística é recente, desenvolve-se a partir do ano de 2000, quando ganha

    maior expressão e se consolida com a promoção de torneios de pesca. Esses “eventos”

    tiveram o apoio do poder público, do Instituto Eco Iguaçu, empresas locais e pessoas da

    comunidade. Tais atividades trouxeram ao público em geral afeto à atividade de pesca

    esportiva amadora e, motivaram a vinda de visitantes e turistas, muitos deles oriundos da

    capital paranaense. 1

    Por outro lado, as políticas públicas para o desenvolvimento de turismo local ainda são

    incipientes e desordenadas. A atividade turística vem ocorrendo, no entanto, o município é

    1 Nos campeonatos que aconteceram anualmente até 2002, não foi efetuada a contabilização da demanda. No entanto, por meio de informações oficiais, obtidas junto aos responsáveis pelos eventos, durante as entrevistas e também em conversas informais, estima-se que cada evento recebeu cerca de duas mil pessoas. Ressalta-se que o torneio de pesca esportiva não se realizou em 2003, em razão das condições climáticas desfavoráveis na data prevista.

  • 19

    desprovido de um plano para o turismo municipal. Isso pode ocasionar um futuro não muito

    promissor para a atividade. Em outros termos, se não houver planejamento e envolvimento

    dos atores sociais, o desenvolvimento do turismo local não será sustentável. Portanto, o ponto

    chave neste trabalho é o da sustentabilidade, entendendo-a como um ponto problemático a ser

    refletido no contexto das ações, práticas e interações que envolvem os atores envolvidos.

    No entanto, deve-se observar que as propostas e questões ligadas ao desenvolvimento

    sustentável do turismo vão além da dimensão ecológica, pois compreendem também a

    melhoria das condições econômicas e sociais das populações locais (SILVEIRA, 1997).

    Analisar a forma como vem ocorrendo o turismo, em Santa Cruz do Timbó,

    comunidade de São Pedro do Timbó, e o estado atual de seu desenvolvimento, caracteriza o

    estudo desta pesquisa. Sua finalidade é proporcionar subsídios que poderão contribuir para um

    futuro planejamento do turismo local, e para diretrizes de políticas de desenvolvimento,

    baseadas nas premissas da sustentabilidade da atividade turística referenciadas pela OMT –

    Organização Mundial do Turismo.

    O Objetivo Geral deste trabalho consistiu em analisar o desenvolvimento do turismo

    no distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidade de São Pedro do Timbó (Porto União –

    SC), na perspectiva da sustentabilidade. Procurou-se avaliar o atual estágio do turismo nas

    áreas objeto de estudo e, ao mesmo tempo, analisar a sustentabilidade do turismo pela visão

    dos atores sociais envolvidos com a atividade. Além disso, elaborou-se um conjunto de

    informações imprescindíveis para um futuro Plano de Desenvolvimento do Turismo do

    município de Porto União/SC, orientado para a sustentabilidade do Turismo.

    Nessa discussão temática, o presente trabalho é um estudo que poderá contribuir para

    os segmentos envolvidos com o turismo local, buscando abarcar questões que são de extrema

    importância na academia, bem como na execução de ações públicas e particulares que possam

    agregar valor para atividade em âmbito local e, principalmente, servir como elemento de

    avaliação para outros estudos, sem a pretensão de esgotar o assunto.

    Nesse contexto, justifica-se a preocupação de realizar este estudo, em função de a

    pesquisadora residir no município há três anos, conhecer a localidade elegida, além da

    predileção pelo turismo praticado na natureza e a preocupação, como docente, em pesquisar a

    área em que está inserida, no intuito de contribuir, de alguma maneira, para o turismo local,

    bem como para outros estudos em municípios que apresentem realidade similar, ou seja,

    turismo com base local.

    No que concerne a um plano de desenvolvimento voltado para o turismo local, o

    município não possui um direcionamento específico, apesar de recentemente a Prefeitura

  • 20

    Municipal ter formado um Conselho de Turismo e Meio Ambiente - CONTUR, composto por

    pessoas da iniciativa privada, poder público e sociedade civil e já ter confeccionado folder

    promocional (Anexo 1).

    Nesse sentido, o relevante envolvimento do poder público, da iniciativa privada e da

    própria comunidade, por meio do conselho é um primeiro passo para definir ações que

    beneficiem os diversos segmentos envolvidos com a atividade turística. Entretanto, o conselho

    não tem o poder de executar ações, mas de analisar variáveis e sugerir formas que se julguem

    adequadas para o desenvolvimento do turismo em uma localidade, e que nem sempre é o que

    acontece.

    Contudo, as ações que refletem o planejamento para o turismo local, no município de

    Porto União, neste momento, apresentam-se incipientes. Isso não quer dizer que algumas

    discussões sejam levantadas no CONTUR, e que algumas ações sejam levadas junto ao poder

    público para análise. Acontece que há uma diferença enorme entre o que se “discute” e o que

    se coloca em prática e realmente se transforma em algo útil e valorável para a comunidade e

    “turistas”.

    Apesar disso, o turismo vem ocorrendo em algumas localidades do interior do

    município, principalmente em Santa Cruz do Timbó e comunidade de São Pedro do Timbó,

    independentemente dessas ações. O surgimento de novos empreendimentos turísticos ligados

    à hospedagem e à pesca esportiva que poderá ser, ao olhar da pesquisadora, uma opção de

    emprego e renda para as pessoas da comunidade e, empreendedores, mas ainda é uma

    realidade que não é percebida integralmente por todos os atores sociais. O que se faz são

    “tentativas” de acompanhar tal quadro de desenvolvimento turístico, de modo que o

    planejamento é sempre algo que vem depois.

    Em função dessa “nova” opção, há diversas questões de ordem econômica, social,

    cultural e ambiental, que abarcam a sustentabilidade do turismo, seja ele nacional, regional,

    estadual e municipal, trazendo um arcabouço de possibilidades que devem ser avaliadas e

    analisadas. A reflexão sobre as questões em torno do paradigma da sustentabilidade se faz

    presente, em razão do atual desenvolvimento do turismo, observando que sem um

    planejamento para ordenação e gerenciamento, o turismo pode resultar em diversos problemas

    que afetarão não só a comunidade local e sua cultura, mas também todo o entorno ambiental.

    Diante desse contexto, pode-se afirmar que o turismo deve representar formas e

    possibilidades que possam intermediar os preceitos da sustentabilidade da atividade, buscando

    minimizar os aspectos negativos e maximizar os benefícios para as atuais e próximas

    gerações. Sendo assim, verifica-se que o planejamento efetivo deve buscar a análise dos

  • 21

    diversos aspectos de uma localidade, bem como, o estágio de desenvolvimento da atividade o

    que é de extrema importância e se faz presente como problemática deste trabalho.

    A partir das questões levantadas, buscou-se o embasamento teórico, com a

    finalidade de suprir e sustentar a abordagem proposta. Foram essenciais ao desenvolvimento

    destas reflexões, estudos relacionados ao Turismo em Espaço Rural, Sustentabilidade do

    Turismo, Planejamento e Gestão do Turismo.

  • 22

    2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

    O distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidade de São Pedro do Timbó pertence à

    zona rural do Município de Porto União-SC, sendo uma região “movida” pela produção

    agrícola e pelo extrativismo vegetal. No entanto, começa a despontar com outra atividade

    socioeconômica de extrema importância: o turismo.

    Essa atividade foi estimulada nessas localidades, em função das características

    naturais, isto é, vegetação parcialmente preservada, além da proximidade e facilidade de

    acesso aos afluentes do rio Iguaçu - com destaque para o Rio Timbó - pelos recursos

    pesqueiros e hídricos que são consideráveis pelo fato de apresentar um índice mínimo de

    poluição2 (fig.1).

    Outro motivo que deve ser levado em consideração refere-se aos empreendimentos

    turísticos que se estabeleceram nas referidas localidades, pelo fluxo regular de pessoas nesse

    espaço, principalmente nos finais de semana, despertando a atenção de alguns moradores para

    investir em pequenos empreendimentos.

    Inicialmente os meios de hospedagem para a pesca e o lazer restringia-se a algumas

    famílias que alojavam em suas residências, amigos e parentes que vinham passar algum

    período no interior, além de viajantes que se deslocavam até a localidade, a fim de realizar

    atividades comerciais.

    A primeira iniciativa de acomodar pessoas que visitavam Santa Cruz do Timbó e São

    Pedro para a prática das atividades ligadas ao lazer e à pesca resultou na inauguração da

    pensão Pousada São Pedro.3 A Pousada da Dona Maria, a princípio, hospedava somente

    vendedores viajantes. Foi o primeiro meio de hospedagem local e hoje também disponibiliza

    suas instalações para o público que procura o lazer e o entretenimento.

    2 Informações técnicas sobre o Rio Timbó foram levantadas na reunião extraordinária do comitê do Rio Timbó para discussão da minuta dos termos de referência, para elaboração do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Timbó, promovido pela SDS – Secretaria de Desenvolvimento Regional do Estado de Santa Catarina, nos dias 28 e 29 de janeiro de 2004, no auditório da UNC – Universidade do Contestado – Núcleo de Porto União. O índice de piscosidade do Rio não foi referendado, mas será levantado no referido plano. 3 Depoimentos obtidos junto aos proprietários das pousadas durante o processo de entrevistas.

  • 23

    Figura 01: Rio Timbó – Margens na Pousada São Pedro (São Pedro do Timbó) Fonte: Arquivo da autora – Março de 2004

    Contudo, o fator propulsor para que a atividade turística se estabelecesse na região

    interiorana de Porto União/SC foram as promoções de campeonatos de pesca do lambari,

    trutas e saicangas que se realizaram a partir do ano de 2000.4

    Estima-se que o fato de a região ter sido promovida em função desses campeonatos de

    pesca tenha originado a fidelidade do público que visita a região, principalmente nas épocas

    de temporada de verão (novembro a março), finais de semana e feriados prolongados.

    Segundo relatos dos proprietários dos empreendimentos de hospedagem, apesar de não

    serem dados oficializados mediante arquivo ou banco de dados, a taxa de ocupação na

    temporada é excelente, chegando a 100%, principalmente nos dias que antecedem aos

    feriados. Isso vem-se repetindo a cada ano, pois o público que freqüenta a localidade acaba

    trazendo outras pessoas adeptas da atividade pesqueira, para conhecer e desfrutar a

    tranqüilidade da área rural, por meio da famosa propaganda “boca a boca”.5

    4 A estimativa da Prefeitura Municipal de Porto União para a demanda de visitantes nos períodos de campeonato, é de aproximadamente 2000 a 2500 pessoas por campeonato. 5 Relatos obtidos em entrevistas informais com os atores sociais ligados ao turismo e discussão em sala de aula com acadêmicos do Curso de Turismo da FACE – Fundação Faculdade Municipal da Cidade de União da Vitória.

  • 24

    2.1 Localização Geográfica

    O Município de Porto União/SC está situado geograficamente no 3° Planalto na

    microregião do Médio Iguaçu, localizado no extremo norte do Estado de Santa Catarina,

    divisa com a cidade de União da Vitória, Estado do Paraná. Possui uma população de 31.858

    habitantes, sendo 26.579 na zona urbana e 5.279 na zona rural, com um alto índice de

    alfabetização: 95,4% (IBGE,2000) 6. Possui as seguintes coordenadas: Latitude 26º 14’ 17” e

    Longitude 51º 04’42”, conforme EMBRAPA (2004).

    Aproximadamente 2.000 indivíduos estão residindo dentro da área do objeto de

    pesquisa (distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidades adjacentes) – zona rural.7 (fig.2).

    Figura 02: Mapa Ilustrativo. Localização da área objeto de estudo – Distrito de Santa Cruz do Timbó – Porto União /SC. Fonte: Adaptado pela autora de http://www.guianet.com.br e http://www.mapainterativo.ciasc.gov.br/

    6 Disponível em www.ibge.gov.br . Consulta realizada em 12 de janeiro de 2004. 7 Segundo Informações da Coordenação de Indústria,Comércio e Turismo da Prefeitura de Porto União.

  • 25

    2.2 Aspectos biofísicos

    O Município de Porto União possui uma área de 851, 24 km² e a sua altitude média é

    de 755 metros acima do nível do mar (IBGE, 2000) 8. O município limita-se, ao norte com

    municípios de União da Vitória e Paula Freitas, ao sul com os Municípios de Matos Costa e

    Arroio do Meio, a leste, com o Município de Irineópolis e, a oeste, com os Municípios de

    Porto Vitória e General Carneiro, esses dois últimos no Estado do Paraná.

    Porto União possui uma paisagem edificada, diferenciada de sua fisiografia original.

    Isso decorreu em função da ação antrópica9, provocada em diversos períodos, desde a sua

    fundação, que se deu com o povoamento da região por volta de 1863. 10

    O marco da mudança da paisagem natural foi a extração madeireira, impulsionada

    pelo advento da construção da estrada de ferro que ligava São Paulo ao Rio Grande do Sul,

    que hoje se encontra desativada em vários trechos, inclusive no de União da Vitória/PR e

    Porto União /SC.

    A mata nativa, composta de espécies nobres e de alto valor econômico como o

    pinheiro-araucária (Araucária angustifólia), a imbuia (Ocotea porosa) e a canela (Ocotea

    puberula) 11, foram extraídas em grande quantidade dada à farta mão-de-obra e a facilidade de

    transporte, através dos vapores no rio Iguaçu e a estrada de ferro, fatores decisivos para região

    tornar-se um importante centro exportador de madeira (REITZ, 1979).12

    2.2.1 Hidrografia

    A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Santa

    Catarina, pelos princípios da Política Estadual de Recursos Hídricos expressos na lei n.º

    10.949, de 9 de novembro de 1998, criou 10 Regiões Hidrográficas (RH). A Bacia do Rio

    8 Disponível em www.ibge.gov.br . Consulta realizada em 12 de janeiro de 2004. 9 Referente à ação humana. 10 A localidade anteriormente era denominada por Entreposto de Nossa Senhora das Vitórias, antes da divisão de limites entre Paraná e Santa Catarina em 1916 (Guerra do Contestado). 11 Sobre as particularidades, freqüência, quantidade e emprego ver REITZ (1979, p. 135, 191, 243). 12 REITZ, em sua obra “madeiras do Brasil”. Ed. Lunardelli, 1979 (p. 11), refere que “desde os primórdios de sua ocupação pelo elemento europeu, viu-se o estado de Santa Catarina como um crescente centro de exploração e exportação de madeiras, graças à sua rica e vasta área, originariamente coberta por densas e vigorosas florestas, no seio das quais vicejavam árvores fornecedoras de preciosas madeiras, que desde logo, chamaram a atenção dos colonizadores. Além de afirmar que de 1950 a 1970 a devastação das florestas em Santa Catarina se tornou alarmante, e 1960 é notório a diminuição gradativa e a escassez da mata nativa no Planalto Catarinense”.

  • 26

    Timbó faz parte da RH 5, denominada Planalto de Canoinhas - e tem 11.058 Km².13 O

    Planalto de Canoinhas também é composto pelas bacias do Rio Negro, Rio Canoinhas e Rio

    Iguaçu, possuindo uma abrangência de cinco, seis e quatro municípios respectivamente.

    A bacia do Rio Iguaçu apresenta área de drenagem total de aproximadamente 63 mil

    km², e dessa 16,7% está localizada em território catarinense e os 83,3% restantes, no Estado

    do Paraná.

    Nessa região hidrográfica, os Rios Timbó e Jangada têm como função drenar a região,

    sendo importantes tributários do Iguaçu, em uma área de drenagem na ordem de 980 km². O

    Rio Timbó está diretamente ligado ao objeto de pesquisa, visto que a localidade elegida

    encontra-se em partes à sua margem esquerda dentro dos limites do município.

    A área de abrangência da Bacia Hidrográfica do Rio Timbó corresponde à totalidade

    da área de drenagem do Rio Timbó, descrita pela SDS - Secretaria de Estado do

    Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos

    (CERH), incluindo todas as sub-bacias de seus formadores e afluentes, desde sua nascente no

    Planalto dos Campos Gerais, a aproximadamente 1250m de altitude, até sua foz no Rio

    Iguaçu, perfazendo-se uma extensão de 129 km e abrangendo uma área de 2.760 Km². 14

    Os principais afluentes pela margem direita são: Rio Tamanduá, Rio Timbozinho e

    Rio Madalena, e pela margem esquerda: Rio Caçador Grande, Rio Cachoeira, Rio Bonito e

    Rio dos Pardos.

    Nos registros do Posto Fluviométrico de Santa Cruz do Timbó, a cerca de 20 km de

    sua foz, o Rio Timbó apresentou uma vazão média mensal de 92,2 m³/s, no período entre

    1974 e 1998. Já no período de 1998 até 2001, a vazão média mensal foi de 89.25 m³/s. A

    vazão mais baixa registrada foi de 16.45 m³/s para o mês de maio de 2000, e a maior foi de

    487m³/s, para o mês de outubro de 1998. 15

    Quanto ao relevo, a bacia apresenta um perfil fortemente ondulado em 55% de seu

    percurso; 30% são representados por uma topografia ondulada e montanhosa e, os 15%

    restantes, um relevo plano e suavemente ondulado. 16

    Apesar da considerável rede hidrográfica existente, a região apresenta algumas

    evidências de escassez de água em determinadas sub-bacias, quando confrontados aos dados

    13 Termos de Referência n°00/03 - Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do

    Rio Timbó. 14 Termos de Referência n°00/03 - Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica do Rio

    Timbó. 15 Ibidem 16 Ibidem

  • 27

    de vazões de estiagens com diferentes usos. É o caso da bacia do Rio Timbó, na confluência

    com o Rio Iguaçu, onde a situação na época de estiagem é preocupante.

    Considerando a qualidade da água, a situação se apresenta relativamente boa, quando

    comparada às demais bacias hidrográficas do estado. Mesmo assim, devem-se observar os

    seguintes focos de degradação dos recursos hídricos da região: esgotos domésticos, efluentes

    industriais, poluição por resíduos de agrotóxicos, de maneira especial, por lavouras,

    reflorestamentos e suinocultura. 17

    2.2.2 Clima

    O clima de Porto União é caracterizado como subtropical mesotérmico úmido, com

    verões frescos, e invernos com freqüentes geadas, época em que os termômetros chegam a

    três graus negativos (-3°C), com possibilidade de até quinze graus negativos (-15°C). A

    temperatura média anual é de 17,2°C graus, com precipitação média anual de 1.478 mm, e

    umidade relativa média anual de 80,42%. 18

    Não existe estação seca, caracterizando-se o mês de outubro como o mais chuvoso e o

    mês de abril como o mais seco. 19 No entanto evidencia-se que em alguns períodos

    caracterizados pelas chuvas estão ocorrendo os chamados períodos de “estiagem”,

    proporcionando alguns problemas para a agricultura e para a atividade pesqueira na região, o

    que possibilita reflexos negativos no que permeia o turismo local, em determinadas épocas,

    dependente em grande parte dos recursos hídricos da região.

    2.2.3 Relevo

    O relevo do município de Porto União apresenta como unidades mais importantes

    planícies e planalto, tendo em grande parte um relevo acidentado, com montanhas, morros e

    elevações, formando uma paisagem singular.20

    Considerou-se para o exposto a Região RH 5 denominada como Planalto de

    Canoinhas. O relevo apresenta-se, em 55% da região, terrenos ondulado e forte-ondulado,

    15% do relevo plano e suave ondulado (próximo aos rios) e 29% fortemente ondulado e

    17 Discussão levantada na reunião do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Timbó, realizada em 28 de janeiro de 2004 no Auditório da Universidade do Contestado – Núcleo de Porto União. 18 Fontes: IBGE. Recursos naturais e meio ambiente: uma visão do Brasil,1993. Atlas Escolar de Santa Catarina,1991. 19 Fonte: Dnaee e Climerh, in Diagnóstico Geral de Bacias Hidrográficas de Santa Catarina, 1997.

  • 28

    montanhoso. 21 Conforme o Atlas Escolar de Santa Catarina (1991, p. 94) a “ Microrregião,

    em sua grande maioria apresenta a unidade de relevo do Patamar de Mafra, com colinas

    baixas, em superfície regular e quase plana. No oeste, aparece o Planalto Dissecado

    Rio/Iguaçu/Rio Uruguai. Nos vales dos Rio Iguaçu e Negro, surgem as Planícies Fluviais.”

    Essas características ressaltam as “belezas” da região, compostas por quedas-d’águas e

    a presença do Rio Timbó (afluente do Rio Iguaçu), apresentando um potencial turístico

    dotado de aspectos que tornam a localidade diferenciada e atraente para as atividades turismo

    e lazer. Conforme afirma Pires (2001, p.128) em relação à qualidade visual da paisagem e a

    sua diversidade, como é o caso, onde:

    [...] se constitui num atributo de qualidade paisagística com forte impacto na percepção estética visual enriquecida pela presença simultânea, de uma variedade de componentes diferenciados entre si dada a sua natureza (relevo, água, vegetação, atividades humanas), e em razão de sua expressão estética (forma, cor, textura, linha, escala, espaço) e, ao mesmo tempo, integrados compondo um cenário visualmente variado e, por isso, atraente.

    2.2.4 Cobertura vegetal

    Na região do Planalto de Canoinhas - RH 5, apresenta-se parte da vegetação primária,

    composta principalmente pela Floresta Ombrófila Mista. Este tipo de floresta é limitada às

    áreas de Planalto e partes elevadas de serras, se caracterizado pela presença de algumas

    espécies específicas, destacando-se o Pinheiro do Paraná (Araucária angustifólia), entre

    outras. (MONTEIRO, 1967; REITZ, 1979). 22

    Além dessa formação, a cobertura vegetal original também era constituída pela

    Floresta Ombrófila Densa e por Savana (campos do planalto meridional).23 No caso da

    Floresta Ombrófila Mista, parte dessa formação foi extraída pelo corte da madeira de lei ou

    devastada para ceder lugar à agricultura ou às pastagens (REITZ, 1979).

    20 Atlas Escolar de Santa Catarina, 1991-p. 19 21 Diagnóstico Geral de Bacias Hidrográficas de Santa Catarina, 1997 – p. 50. 22 Monteiro (1967) se refere a este tipo de cobertura vegetal afirmando que a mata de araucárias é a formação mais original da região, ocupando extensão considerável do planalto, associando-se aos campos, com os quais apresenta grande variedade de arranjos, predominando o pinheiro do Paraná, a imbúia e a erva-mate, que proporcionou intensa exploração comercial, principalmente em relação à exploração do pinho. Pág. 94 23 Esta caracterização da cobertura vegetal foi citada com base nas descrições de Raul M. Klein, constantes do mapa Fitogeográfico de Santa Catarina (1978), bem como as informações constantes no Atlas de Santa Catarina (1986) e no estudo de cobertura vegetal do estado de Santa Catarina, elaborado pela Fundação do Meio Ambiente FATMA, in Diagnóstico Geral de Bacias Hidrográficas de Santa Catarina,1997 – pág. 52.

  • 29

    Em função de esse tipo de floresta se encontrar em terreno bastante acidentado e de

    difícil acesso, ainda são encontrados alguns remanescentes da floresta original.

    Na divisa entre os municípios de Porto União e Irineópolis, encontram-se áreas de

    Formações Pioneiras, isto é, vegetação constituída de espécies colonizadoras de ambientes

    instáveis, que correspondem às herbáceas fluviais. Nessa região, as arbustivas e as herbáceas

    desenvolvem-se sobre planícies aluviais e fluvio-lacustres, com ou sem agrupamentos de

    algumas espécies de palmeiras. Geralmente essas vegetações recebem os nomes de ciperáceas

    e gramíneas altas. 24

    Precisamente na área objeto de pesquisa, pode-se constatar a presença de

    remanescentes da floresta original em alguns trechos, associados a campos agricultáveis, bem

    como, trechos esparsos de mata ciliar (Rio Timbó) na extensão que margeia o distrito de

    Santa Cruz do Timbó e comunidade São Pedro do Timbó.

    Observa-se a presença de reflorestamento de Pinus sp em algumas áreas, além do

    cultivo de 400 hectares da espécie exótica denominada Álamo (Populus alba)25, que se

    localiza muito próximo à mata ciliar (fig. 3). Segundo moradores da região, a pulverização de

    produtos químicos para o controle fito-sanitário da plantação de Álamo está sendo efetuada

    por pequenos bimotores e, em função disso, surge a preocupação da própria população de

    uma possível contaminação do Rio Timbó.

    24 Termos de Referência n°00/03 - Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica do Rio Timbó. 25 Disponível em http://www.ceha-madeira.net/elucidario/a/ala4.html

  • 30

    Figura 03 - Cultivo de Álamo e mata ciliar (fundo) – distrito de Santa Cruz do Timbó Fonte: Arquivo da autora – março de 2004

    2.2.5 Uso e ocupação do território

    Porto União sofreu modificações, como quase todo o espaço habitado pelo homem,

    principalmente, no que se refere à área rural. Esse ambiente modificado ainda apresenta

    resquícios de uma flora composta por formação de Floresta Ombrófila Mista.

    Hoje parte da área rural desenvolve atividades agrícolas ligadas às culturas de milho,

    soja, mandioca, arroz, cevada, feijão, batata, cebola, alho, fumo, maçã, amendoim e melancia.

    Em outras propriedades, desenvolve-se a pecuária (gado de corte, gado leiteiro), suinocultura

    e avicultura. 26

    Existem no interior do Município de pequenas indústrias produtoras de fumo,

    moveleiras, de papel e celulose. Além disso, de forma isolada, há o extrativismo mineral, com

    um porto de extração de areia, cujo acesso se dá pela estrada que liga a BR 280 ao distrito de

    Santa Cruz do Timbó e à comunidade de São Pedro do Timbó.

    A paisagem também reflete uma mudança recente, em função do surgimento do

    turismo nas áreas ribeirinhas. Onde predominava somente a agricultura, agora se interpõem

    26 Dados fornecidos pela Secretaria de Indústria e Comércio e Turismo de Porto União e apresentada no guia Porto União: Caminho das Águas, 2001.

  • 31

    pousadas-pesqueiros, que buscam oferecer momentos de lazer aos turistas que apreciam a

    pesca esportiva e o contato com o campo. Dessa forma, a paisagem, a partir das ações

    antrópicas condicionadas à construção de estruturas de apoio, está-se modificando

    gradativamente.

    O Município possui uma arquitetura rica e variada, apresentando residências que

    datam do início do século XX, retratando as inspirações européias, que os imigrantes de

    origem alemã, italiana, ucraniana, polonesa e árabe trouxeram, proporcionando uma

    diversidade no que diz respeito à arquitetura. É importante salientar que muitas dessas

    residências estão em precário estado de conservação, de forma que é vital, em um futuro

    planejamento para o turismo, que seja contemplada a parte arquitetônica (patrimônio

    material), pois é um elemento que pode apresentar um rico potencial para o turismo histórico-

    cultural. Na área rural, podem-se observar ainda instalações simples, alguns casarões, e

    também igrejas que trazem a beleza da arquitetura do início do século XX (fig.4).

    Figura 04: Igreja na sede do distrito de Santa Cruz do Timbó- Porto União Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004

  • 32

    Figura 05: Acesso ao distrito de Santa Cruz do Timbó- Porto União, a partir da BR 280 Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004

    2.3 Infra-Estrutura Básica e Turística

    2.3.1 Sistema viário

    O Município de Porto União está localizado no extremo norte do Estado de Santa

    Catarina, distante a 483 km da capital, Florianópolis, ligada pela rodovia BR 280 até Joinville

    e, depois pela BR 101. Possui rodoviária intermunicipal e interestadual.

    Da sede do Município de Porto União até o acesso para o distrito de Santa Cruz do Timbó e,

    São Pedro do Timbó, percorre-se cerca de 30 quilômetros pela BR 280, no sentido Porto

    União - Joinville (fig. 6). A partir do trevo de acesso a estrada não é pavimentada; a distância

    desse ponto até Santa Cruz do Timbó (distrito) é de 12 quilômetros e, aproximadamente de 8

    quilômetros por outra estrada não pavimentada até São Pedro do Timbó (fig. 7 e 8).

    Atualmente as estradas apresentam boas condições de uso para veículos de passeio e são

    cascalhadas. 27

    27 A prefeitura municipal de Porto União está periodicamente mantendo a Infra-estrutura de acesso às localidades.

  • 33

    Figura 06: BR 280: Trevo de acesso para o Distrito de Santa Cruz do Timbó - Porto União. Destaque para a sinalização. Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004

    Figura 07: Sinalização na entrada do Distrito de Santa Cruz do Timbó - Porto União Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004

  • 34

    Figura 08: Vista da Entrada do Distrito de Santa Cruz do Timbó (do lado direito – ginásio de esportes) Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004.

    O transporte rodoviário de Porto União a Santa Cruz e São Pedro do Timbó é

    realizado pela empresa Autoviação São Pedro, que disponibiliza três horários durante a

    semana (segunda a sábado) e um horário aos domingos – ida e volta.

    2.3.2 Sistema de saneamento

    O sistema de saneamento no Distrito de Santa Cruz do Timbó e São Pedro, no que diz

    respeito ao abastecimento de água é atendido pela CASAN - Companhia Catarinense de

    Águas e Saneamento, mediante um poço artesiano localizado na sede do distrito. No entanto,

    parte das residências ainda se utilizam de fontes naturais que estão presentes em suas

    propriedades, e inclusive nas pousadas.

    Os resíduos provenientes de esgotos domésticos são armazenados em fossas sépticas e

    filtros.28 Sendo este um fator ou indicador para a sustentabilidade da atividade, percebe-se já

    uma falha, pois o fato de não haver esgoto tratado pode influenciar na poluição do rio. O

    distrito ainda não tem uma estação de tratamento de resíduos e drenagem pluvial. O sistema

    de coleta de lixo é realizado pela empresa ECOVALE – que recolhe duas vezes por mês o lixo

  • 35

    reciclável (plásticos, metal, vidro, papel). Esse sistema de coleta de lixo acontece apenas no

    Distrito de Santa Cruz do Timbó. Na comunidade de São Pedro do Timbó, todo o lixo

    produzido pelas pousadas e demais propriedades é queimado e enterrado na própria

    propriedade, levado até a Santa Cruz do Timbó ou é levado para a sede do Município de Porto

    União, cujo destino é o aterro sanitário. O lixo orgânico geralmente é enterrado nas

    propriedades com a finalidade de se obter o adubo orgânico. 29

    2.3.3 Sistema energético

    O sistema de energia elétrica é fornecido pela CELESC – Centrais Elétricas de Santa

    Catarina SA, atende 517 propriedades rurais, 300 residenciais (na sede do distrito), 22

    industriais e 51 pontos comerciais, e a energia é proveniente da subestação da COPEL –

    Companhia Paranaense de Energia, em União da Vitória-PR, repassando para a subestação da

    CELESC que trabalha com 23 kv.30

    2.3.4 Sistema de telecomunicações

    O sistema de telecomunicações é atendido pela Brasil Telecom para telefones

    residenciais fixos e atendido pela cobertura das empresas TIM e VIVO para telefones móveis,

    nas imediações do distrito de Santa Cruz do Timbó. No entanto, em São Pedro não há sinal

    disponível.

    O Distrito possui telefones públicos, sendo oito orelhões em Santa Cruz do Timbó e

    uma linha central comunitária que atende São Pedro do Timbó, ligada a sete ramais

    residenciais e comerciais.

    Santa Cruz do Timbó possui 200 telefones residenciais/comerciais e um posto de

    atendimento na sede do Distrito, junto à agência de Correios e Telégrafos. 31 As redes de

    comunicações televisivas são captadas pelos sistemas de parabólicas e as estações de rádio

    AM e FM da região são captadas pelos sinais de ondas médias e curtas.

    28 Segundo informações do Engenheiro responsável do setor de Planejamento da Prefeitura de Porto União. 29 Estas informações foram obtidas junto à administração da ECOVALE e visitas in loco. 30 Dados fornecidos por Paulo Fernando Lusa, eletricista da CELESC, Porto União/SC. 31 Dados fornecidos pela atendente do posto da Telepar/Correios de Santa Cruz do Timbó, Srta. Michele Luciane Ridzmann.

  • 36

    2.3.5 Serviços de apoio

    Os serviços de apoio são de extrema importância na atividade turística. Dessa forma,

    pode-se destacar, na localidade, a presença de serviços bancários (Banco do Estado de Santa

    Catarina - BESC), serviços de comunicação (posto de correios e telefônico), serviço de apoio

    ao transporte (posto de combustível), serviços de saúde (posto de saúde e farmácia), além de

    três minimercados e lojas de artigos diversos (confecções, calçados e armarinhos).

    Segundo informações da Administração Municipal de Porto União, pretende-se

    construir um pequeno hospital e um Centro de Eventos para atender o segmento de turismo de

    negócios.

    2.3.6 Equipamentos e serviços turísticos

    Os equipamentos turísticos são as instalações básicas utilizadas na atividade turística

    e compreendem os setores de alojamento e/ou hospedagem, alimentos e bebidas, transportes

    turísticos, animação turística e informações turísticas (RUSCHMANN, 2002, p.135). Na

    localidade estudada podemos citar os seguintes equipamentos e serviços turísticos:

    2.3.6.1 Alojamento/Hospedagem

    Os equipamentos de alojamento/hospedagem, como afirma Ruschmann (2002,

    p.135), [...] requerem instalações como hotéis, motéis, pousadas, acampamentos, albergues,

    residências secundárias, quartos em casas de família e pensões [...]. A seguir são destacados

    os seguintes equipamentos presentes na região eleita para a pesquisa:

    Pousada Morro Alto

    Localizada no distrito de Santa Cruz do Timbó, distante 9 km da BR-280,

    disponibiliza serviços de hospedagem, alimentação (pensão completa), lazer (trapiches para

    pesca e churrasqueiras) e espaço para festas. Possui quinze unidades habitacionais com

    acomodações simples, e apenas oito delas oferecem banheiro privativo (fig. 9 e 10). A

    pousada ainda oferece aos turistas a possibilidade de saborear os pescados, ou então efetuar a

    limpeza e o congelamento deles, para que sejam levados, quando do retorno do turista. Esse

    procedimento também é efetuado pelas demais pousadas.

  • 37

    Figura 09: Vista da Pousada Morro Alto Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004

    Figura 10: Vista da Pousada Morro Alto do lado esquerdo da estrada Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004

  • 38

    Pousada Dona Maria

    Localizada na sede do distrito de Santa Cruz do Timbó, a 13 km da BR-280, foi a

    primeira pousada em Santa Cruz do Timbó a hospedar representantes comerciais. Hoje ela

    atende turistas que desejam ficar na sede do Distrito, oferecendo pensão completa. Possui um

    restaurante anexo à pousada, servindo comida caseira, no almoço e jantar (fig. 11 e 12).

    Figuras 11 e 12: Pousada Dona Maria e vista do Rio Timbó, próximo à pousada. Fonte: Lúcio Colombo – 2004 Pousada Schreiner

    Localizada no Distrito de São Pedro do Timbó, a 18 km da BR-280, está em

    funcionamento desde abril de 2002. A estrutura da pousada era um Moinho de Cereais, possui

    uma arquitetura rústica, que lembra sua antiga funcionalidade. Atualmente disponibiliza oito

    unidades habitacionais e a intenção é a ampliação em função da demanda, principalmente na

    temporada de verão. Disponibiliza o serviço de alimentação (pensão completa), salão de

    festas, mesa de sinuca, trapiches, botes para pesca, churrasqueira, pasto com a presença de

    ovinos, além do serviço de limpeza de peixes (fig.13).

  • 39

    Figura 13: Vista da Pousada Schreiner Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004

    Pousada São Pedro

    Localizada na sede do Distrito de São Pedro do Timbó, a 20 km da BR-280, essa

    pousada foi a pioneira na atividade turística, conforme afirma Benassi (2003, p.30): “[...] Em

    1989 existia uma pensão (casa de comércio) que abrigava os viajantes que passavam pela

    região. Esses viajantes foram quem descobriram a grande quantidade de peixes que existia no

    Rio Timbó. Logo a fama do lugar se espalhou e começaram as procuras por turistas[...].”

    A idéia de construir algo direcionado ao turismo partiu de amigos dos proprietários

    da pousada; inicialmente eram três unidades habitacionais, hoje se somam treze, com previsão

    para ampliação, devido ao aumento da demanda, principalmente por famílias acompanhadas

    de crianças. A pousada fornece pensão completa e serviço de limpeza de peixes. Para o lazer

    são disponibilizados trapiche e botes para pesca, e planeja-se a construção de uma piscina,

    como mais uma alternativa de lazer para as famílias, principalmente para o público infantil.

    Além da área própria à pesca, a pousada possui um acordo com o proprietário de outra área,

    distante três quilômetros do local, nas margens do Rio Timbó, para que os hóspedes possam

  • 40

    utilizá-la como alternativa. O gerente da pousada ainda acompanha os grupos que desejam

    conhecer as grutas e cachoeiras da região, mas ainda não possui um roteiro formatado (fig.

    14).

    Figura 14: Vista da Pousada São Pedro Fonte: Lúcio Colombo - 2004

    Camping Rio Bonito

    O Camping Rio Bonito no momento não está disponibilizando seu espaço para o lazer,

    por razões desconhecidas. A área é ampla e contém um estacionamento considerável, espaço

    para festas e área de camping, sendo localizado praticamente ao lado da Cachoeira do Rio

    Bonito (200 metros).

    Camping e Pesqueiro Bela Vista

    Localizado a oito quilômetros do acesso pela BR 280, sentido Santa Cruz do Timbó,

    possui restaurante com opções da culinária local, ampla área de camping, situado às margens

    do Rio Timbó, proporcionando a atividade de pesca esportiva.

  • 41

    2.3.7 Recursos turísticos

    Os recursos turísticos abrangem elementos naturais, atividades humanas ou qualquer

    outro produto gerado pelo homem, que possa motivar o deslocamento de pessoas, cuja

    motivação seja curiosidade ou a possibilidade de efetuar alguma atividade física ou

    intelectual. (DIAS, 2003, p.57). Ainda se pode ressaltar que esses recursos são classificados

    em naturais (geomorfológicos e biogeográficos) e culturais. (DIAS, 2003).

    Com este trabalho não se pretende inventariar os atrativos turísticos municipais, mas

    apenas destacar aqueles recursos mais relevantes em função do objeto e do tema de estudo.

    2.3.7.1 Recursos naturais

    Os recursos naturais de ordem geomorfológica e hidrológica são formados pela ação

    da natureza e, por outro lado, os de ordem biogeográfica compreendem as manifestações de

    vida animal e vegetal. (DIAS, 2003). Segundo Barretto (1991, p.47), os recursos naturais são

    recursos turísticos “[...] que já existiam na natureza antes da intervenção do homem”. Nesse

    sentido eles são representados pelos elementos de natureza geomorfológica e hidrológica

    (PIRES, 2003), e também pelas informações sucintas relacionadas às condições de acesso a

    eles. O conjunto das informações desses atrativos turísticos foi obtido em visitas in loco,

    pesquisa documental, e dados da Coordenação da Indústria, Comércio e Turismo de Porto

    União.

    2.3.7.1.1 Elementos de natureza geomorfológica

    Cavernas ou Grutas de São Pedro

    Nas proximidades da pousada São Pedro, pode-se contemplar três grutas. Segundo

    moradores da região, foi refúgio de pessoas durante a Guerra do Contestado (1916). Lá os

    turistas podem observar a formação e a entrada das grutas, mas não podem entrar, pois há

    acomodação das rochas e constantes desabamentos. Ao lado da entrada das grutas, foi

    construída uma capelinha, onde os turistas podem fazer orações durante a visitação.

  • 42

    Grutas da Barra Grande

    Entre as quatro grutas de Barra Grande, a maior delas possui uma extensão de

    aproximadamente 74 metros de profundidade, segundo informações de moradores locais.

    Nesses relatos os moradores informam sobre os artefatos líticos encontrados em seu interior,

    como pedras polidas, pontas de lança e alguma peças de utensílios de povos indígenas32.

    2.3.7.1.2 Elementos de natureza hidrológica

    Rio Timbó

    O Rio Timbó nasce nas proximidades do Município de Santa Cecília (Campos Gerais),

    interior do Estado de Santa Catarina e é um dos principais afluentes do Rio Iguaçu. Possui

    129 quilômetros de extensão e abrange uma área de 2.760 km². Os principais afluentes pela

    margem direita são: Rio Tamanduá, Rio Timbozinho e Rio Madalena, e pela margem

    esquerda: Rio Caçador Grande, Rio Cachoeira, Rio Bonito e Rio dos Pardos.

    O distrito de Santa Cruz do Timbó e a comunidade de São Pedro compreendem cerca

    de 30 quilômetros de extensão das margens esquerda do Rio Timbó, ou seja, o rio margeia

    essas localidades, sendo uma referência para o distrito.

    O Rio Timbó oferece tanto à população local, como aos visitantes, a possibilidade de

    usufruir a pesca amadora, sendo o motivo principal da atividade turística na região, e a

    espécie de peixe que se apresenta em maior abundância é o lambari (fig.15).

    32Sobre populações indígenas mais recentes Seben (1992), relata que no século XVIII várias expedições fluviais buscavam os campos de Guarapuava, e todas essas expedições passaram por Porto União, que em relatos de viagem, eram descritos com a presença de índios botocudos e caigangues nesta região.

  • 43

    Figura 15: Rio Timbó – visto da Ponte na BR 280 Fonte: Lúcio Colombo – 2004

    Cachoeira São Pedro ou Barra do Rio Bonito

    A cachoeira São Pedro ou Barra do Rio Bonito localiza-se na propriedade do Senhor

    Irineu Reisdörfer. O acesso é pela BR-280 até São Pedro do Timbó; na estrada antiga para o

    Despraiado, percorre-se cerca de dois quilômetros em estrada não pavimentada. Possui difícil

    acesso, chega-se até a queda caminhando cerca de um quilômetro pela margem do rio, a

    dificuldade de acesso é compensada pelo cenário natural (fig. 16).

  • 44

    Figura 16: Cachoeira São Pedro Fonte: Lúcio Colombo – 2004

    Cachoeira do Alonso

    O acesso à Cachoeira do Alonso se dá pela BR 280 até São Pedro do Timbó, na

    estrada antiga para localidade denominada Despraiado, percorrendo-se três quilômetros em

    estrada não pavimentada. Essa cachoeira localiza-se na propriedade do Sr. Laurindo

    Reisdörfer. A trilha de acesso à cachoeira tem cerca de 1,5 quilômetro e não apresenta

    grandes obstáculos. Possui uma queda de cerca de 30 metros de altura.

  • 45

    Cachoeira do Despraiado

    Com cerca de 70 metros de altura, destaca-se pela paisagem singular, composta por

    um paredão de pedras adentrando um vale. Pelo leito do Rio Timbó chega-se próximo à queda

    d’água. O acesso a esse local é pela comunidade de São Pedro do Timbó, pela estrada nova

    até a localidade do despraiado, em fazenda com o mesmo nome, percorrendo cerca de quinze

    quilômetros em estrada não pavimentada. Observa-se que não existe caminho demarcado para

    o acesso, podendo ocorrer por dentro da fazenda, ou por fora, pelas margens do rio.

    Cachoeira do Rio Bonito

    Possui uma queda de aproximadamente 30 metros de altura. O acesso é via São Pedro

    do Timbó até a localidade de Rio Bonito, percorrendo cerca de 5,5 quilômetros. O acesso se

    dá por meio de duas trilhas. O local possui em suas proximidades um Camping, cujo

    funcionamento não está ocorrendo no momento, por motivo desconhecido (fig. 17).

    Figura 17: Cachoeira do Rio Bonito Fonte: Lúcio Colombo – 2004

  • 46

    Cachoeira do Rio dos Pardos

    A cachoeira do Rio dos Pardos possui uma beleza singular, seu acesso se dá a partir da

    sede do Distrito de Santa Cruz do Timbó, pela estrada para Barra Grande – Lajeado das Antas

    e Rio dos Pardos. Fica a dezessete quilômetros de Santa Cruz do Timbó. Pode-se salientar que

    o acesso a essa cachoeira é considerado difícil. Existe uma trilha de cerca de um quilômetro

    até o afluente Rio Perau, dando acesso até a cachoeira com mesmo nome. Do lado oposto,

    tem-se uma visão privilegiada do Salto do Rio dos Pardos, que se destaca pela exuberância da

    vegetação do entorno e pelos seus 72 metros de altura. A cachoeira é também limítrofe dos

    Municípios de Porto União e Matos Costa (fig. 18).

    Figura 18: Cachoeira do Rio dos Pardos Fonte: Lúcio Colombo – 2004

  • 47

    Existem diversas cachoeiras e corredeiras no interior do Município, totalizando cerca

    de 130, segundo informações da Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo de Porto União.

    Citaremos apenas algumas Cachoeiras mais conhecidas: Cachoeira do Quati, Cachoeira do

    km 13, Cachoeira do Rio Pintado, Cachoeira do Rio Bugio, Cachoeira São Martinho de

    Baixo, Cachoeira São Martinho de Cima, Cachoeira do Legru, Cachoeira do Campestre, entre

    outras, que deverão ser avaliadas num futuro inventário turístico.

    2.3.7.2 Recursos culturais

    Os recursos culturais dividem-se em imateriais e materiais, os de ordem imaterial, [...]

    são elementos que sofrem ou sofreram intervenção da ação humana, ou foram estabelecidos

    por motivos culturais ou comerciais [...] (DIAS, 2003, p.59). O autor ainda enfatiza que esses

    recursos podem se dividir em recursos culturais históricos, ou seja, aqueles que foram

    deixados por civilizações, e mesmo aqueles lugares históricos, que tiveram significado sócio-

    político. Recursos culturais contemporâneos não comerciais, como, por exemplo, as

    bibliotecas e museus e os recursos culturais contemporâneos comerciais, que são as

    manifestações promovidas por organizações públicas e privadas que oferecem entretenimento,

    como parques de diversões e espetáculos culturais. Para o levantamento dos recursos

    culturais, os procedimentos de pesquisa seguiram os mesmos princípios de seleção dos

    recursos naturais.

    Festas

    As festas religiosas são realizadas nas paróquias com o apoio da comunidade e

    acontecem nos meses de maio e junho, em homenagem a Santa Cruz e ao Padroeiro São

    Pedro, além de comemorações do aniversário do Distrito. Nessas festas são apresentados

    grupos de danças folclóricas das etnias presentes na região a exemplo do grupo alemão da 3ª.

    Idade (fig. 19 e 20).

  • 48

    Figura 19: Festa no Pavilhão da Igreja de Santa Cruz do Timbó Fonte: Arquivo da autora – 05 de setembro de 2004.

    Figura 20: Festa no Pavilhão da Igreja de Santa Cruz do Timbó - Grupo da 3ª. Idade – danças alemãs Fonte: Arquivo da autora – 05 de setembro de 2004.

  • 49

    Gastronomia Devido à influência germânica, italiana, ucraniana, polonesa, e árabe, é muito comum

    encontrarmos pratos típicos referentes a esses grupos humanos. Na região do objeto de

    pesquisa, o “lambari frito” tornou-se um prato típico da localidade, geralmente servido com

    arroz branco, saladas diversas, mandioca e outros acompanhamentos, sendo considerada a

    famosa “comida caseira”.

    Em relação aos recursos culturais materiais (edificações), a Prefeitura Municipal de

    Porto União não possui inventário do Patrimônio Histórico Cultural. No entanto há diversos

    casarões em estilos arquitetônicos europeus, provenientes das etnias que se fixaram na

    localidade, além de pequenas igrejas de beleza peculiar, que guardam em seus interiores

    gravuras e pinturas retratando as raízes culturais dessas etnias.

    2.4 Aspectos Históricos

    A história da cidade de Porto União coaduna com a de sua “irmã gêmea” “União da

    Vitória”. As duas cidades constituem um só núcleo urbano dividido por questões político-

    administrativas (Guerra do Contestado).

    O marco histórico de “Porto União da Vitória” ocorreu no período colonial, em

    meados do século XVIII, período em que nove expedições exploraram e ocuparam o interior

    da então Capitania de São Paulo e, “descobriram”os Campos de Guarapuava.

    Com a finalidade de chegar às missões espanholas do rio Uruguai, em 1769, o então

    Capitão Antonio da Silveira Peixoto, por ordem do Governador Capitão General, Dom Luiz

    Antonio de Souza Botelho Mourão, empreende bandeira exploradora na zona meridional da

    Capitania. Partindo dos Campos de Corityba, seu destino era explorar a região Sul, hoje

    Estado do Paraná, e na época era a 5a. Comarca de São Paulo. Saindo do porto de Caiacanga –

    município de Porto Amazonas, percorre o Rio Iguaçu e funda a localidade de Porto da Vitória

    (entreposto Nossa Senhora das Vitórias), onde a maior parte da expedição permaneceu

    edificando as primeiras construções da localidade que, embora rústicas, serviram de base para

    as futuras cidades.

    Em 1770, a expedição do Tenente Cândido Xavier de Almeida e Souza, tendo

    atravessado o rio Iguaçu, descobriu os Campos de Guarapuava. Todas as expedições que

    passaram pela região, na época habitada por índios botocudos e caingangues, faziam as

    paradas nessa localidade. Logo após, em 1772, o entreposto de Nossa Senhora das Vitórias,

  • 50

    passa a ser comandado pelo sargento-mor Francisco José Monteiro, enviado pelo governo

    paulista. Tornou-se dessa forma, referência obrigatória, paraquantos que quisessem navegar

    no Rio Iguaçu, e o ponto de partida para a exploração, no meridiano da Capitania.

    A necessidade de encontrar um caminho que diminuísse a distância entre os Campos

    de Palmas e Palmeira, fez com que Pedro Siqueira Cortes, em 12 de abril de 1842, descobrisse

    a passagem do Vau no Rio Iguaçu, por onde as tropas podiam embarcar e desembarcar,

    utilizando também o transporte fluvial (SEBEN, 1992). 33

    A denominação do entreposto de Nossa Senhora das Vitórias foi alterada para Porto

    União da Vitória em 1855, e para Freguesia de União da Vitória em 1877. Em 1881 tem início

    a navegação a vapor por toda a extensão no Rio Iguaçu, com o transporte de carga e de

    passageiros. 34

    A partir de 1886, chegam os primeiros colonos de origem européia (quinze famílias),

    de origem alemã, trazidas de São Francisco do Sul/SC pelo Coronel Amazonas. Essas famílias

    trabalhavam em atividades agropastoris e começaram a criar o núcleo de ocupação nessa

    região e, em seguida, aportam colonos de outras etnias como poloneses, ucranianos,

    austríacos e russos. No início do século XX chegam os libaneses (MONTEIRO 1953;

    CARDOSO & WESTPHALEN, 1986; SEBEN, 1992; FAGUNDES, 2002).35

    Pelo Decreto n° 54, de 27 de março de 1890, a freguesia foi elevada à categoria de vila

    e pelo Decreto n°55, do mesmo dia, mês e ano, foi criado o Município de Porto União da

    Vitória, com território desmembrado do município de Palmas. 36

    33 Passagem do Vau é conhecido como o local onde os tropeiros faziam sua passagem e parada durante suas viagens, localizado às margens do Rio Iguaçu. Esse local era de fácil acesso, e o gado podia passar pelo leito do rio. Hoje há um monumento que serve de marco divisório entre os Estados de Santa Catarina e Paraná e as cidades de Porto União e União da Vitória. 34 O Rio Iguaçu tornou-se a forma mais fácil para o transporte da população ribeirinha e das cargas de erva-mate e madeira, além do sal vindo de Paranaguá, que se destinava aos campos de Palmas. Desde o primeiro momento da história de Porto União da Vitória, o rio exerce grande influência sobre a vida de seus moradores e no desenvolvimento da economia (SEBEN, 1992). 35 Monteiro (1953) faz referência à questão do povoamento do Brasil Meridional e às formas primitivas de ocupação. Com relação à ocupação da área centro-sul do Paraná, o povoamento colonial europeu difere sensivelmente dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Logo após a guerra franco-prussiana (1870), diminui a corrente imigratória de alemães, a implantação colonial se fez presente pelos contingentes eslavos, principalmente por poloneses e ucranianos. No entanto, muitas colônias foram estabelecidas em áreas mistas de mata e Campo, No caso de União da Vitória essas colônias se estabeleceram em função da estrada-de-ferro. Cardoso & Westphalen (1986), confirmam que o período de 1860 a 1880 foi grandemente movimentado pelo estabelecimento de colônias em todo o território do Paraná, referendando que na década de 1870, o programa oficial de colonização foi dinamizado, na administração do Presidente Adolpho Lamenha Lins. Seben enfatiza que com a chegada dos eslavos nessa região, foram provocadas diversas transformações no aspecto cultural. Na agricultura foi introduzido plantio de novas espécies, como o trigo, o centeio, a cevada e o linho e também equipamento próprios para a moagem de grãos. 36 Ver em Ferreira (1996), uma analogia geral sobre a construção e origem do município de União da Vitória e de outros municípios do Estado do Paraná.

  • 51

    Outro fato importante é a construção de uma linha ferroviária, que tinha por finalidade

    principal, a interligação das Províncias do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato

    Grosso e São Paulo, alcançando as fronteiras da Argentina e Paraguai. Esse foi um dos

    acontecimentos mais importantes para a região Sul do Brasil e teve aspecto relevante para

    economia de Porto União da Vitória, à medida que favoreceu o fluxo de produtos e

    intensificou a exploração madeireira e ervateira (SEBEN, 1992).

    A partir disso o Município começa a desenvolver-se, passando de uma localidade onde

    as atividades eram ligadas à agropecuária, para atividades comerciais, com a chegada dos

    trilhos da empresa Brazil Railway Company, holding do grupo Farquhar, que construiu o

    trecho da linha ferroviária São Paulo/ Rio Grande, no trecho Porto União/Rio Uruguai.37

    2.4.1 A Guerra do Contestado

    Em 1912, inicia-se a Guerra do Contestado, que se prolonga até 1916, quando as

    tropas de Forças do Regimento de Segurança do Paraná partiram de Porto União da Vitória

    (local de concentração militar), para as proximidades do Município de Irani, com a finalidade

    de acabar com grupos de revoltosos liderados por um monge (João Maria).

    Essa guerra tinha por motivo questões políticas, sociais e culturais, além de questões

    limítrofes territoriais mal resolvidas, que vinham desde o século XVII, entre Paraná e Santa

    Catarina.

    O Supremo Tribunal Federal oficializou o ganho da causa, em 1916, da região

    contestada para Santa Catarina, ocasionando revolta entre os paranaenses desta região, que, na

    ocasião, não aceitaram a jurisdição catarinense (FAGUNDES, 2002, WAIBEL, 1953). 38

    Para Tonon (2002, p.11), esse movimento ocorrido no início do século XX, nas

    regiões serranas de Santa Catarina e Sul do Paraná, foi denominado “Contestado” em “[...]

    decorrência da dubiedade na disputa de limites entre os dois Estados, durante um longo

    período. A vasta área disputada compreendia cinqüenta mil quilômetros quadrados; região

    rica em erva-mate, araucárias e pastos nativos. Viviam em território disputado cerca de 20 mil

    sertanejos [...]”.

    37 Seben (1992) aponta que a inauguração alterou o panorama sociocultural do Município, provocando, nessa época, a criação de hotéis, centro comercial e a praça, em função da nova classe de trabalhadores ferroviários, que desempenharam um importante papel na sociedade local. 38 Waibel faz referência à região que foi outrora por muito tempo, palco de muitas brigas “contestações”, primeiro entre Argentina e Brasil e depois entre os Estados do Paraná e Santa Catarina.

  • 52

    Foi criada a expectativa separatista, depois de diversas reuniões, e o deputado José

    Cleto da Silva decidiu pela concepção de um Estado Federado Independente, cujo nome seria

    “Missões”. A junta governativa seria composta por Coronel Amazonas Marcondes e

    Francisco Cleve, e a Capital Estadual seria União da Vitória. Em função do estabelecimento

    da linha denominada Wenceslau Braz, que determinou o Acordo de Limites entre os dois

    estados, no ano de 1916, a maioria da junta Governativa Provisória do Estado das Missões

    acabou aceitando os termos de acordo, apesar de algumas resistências.

    Na ocasião da Guerra do Contestado, houve o primeiro acidente aéreo brasileiro,

    vitimando o famoso Capitão Ricardo João Kirk, mais conhecido como Capitão Kirk, na

    cidade vizinha de General Carneiro e foi velado em União da Vitória (SEBEN, 1992).

    Uma passagem interessante é a exploração documentada pelo Capitão Kirk da região

    banhada pelo rio Timbó (área do objeto de pesquisa), onde foram feitas aplicações militares,

    durante um vôo de estréia:

    Porto União, 19 de janeiro de 1915. Ao Sr. Coronel Eduardo Sócrates – Parte sobre o serviço de exploração. Levamos a vosso conhecimento que, segundo as instruções que nos destes, partimos hoje, às 11 horas e cinqüenta minutos, no aeroporto bi-place “General Setembrino”, em viagem de exploração sobre os rios Iguaçu e Timbó, durante vôo de ida e regresso, uma hora de tempo. Subindo o rio Timbó, rumo Norte, encontramos um grupo de casinhas, destacando-se três de pintura branca;; esse grupo, supomos, ser Vila Nova de Timbó; antes vimos também próximo a Vila Nova, alguns casebres ou ranchos inteiramente desertos, observamos que nada denuncia em Vila Nova, existirem habitantes. Subindo o Timbó. Ainda vimos uma casa branca e algumas casinhas amontoadas de coisas informes, como madeira empilhada; nesse lugar passa um pequeno rio que supomos ser o Timbózinho. Ainda aí, não vimos ninguém, Continuando Timbó acima, um outro pequeno rio afluente da margem esquerda supomos ser o Cachoeira; na confluência do rio Cachoeira com o Timbó, não vimos casas, fumaça, nada que denunciasse a presença de pessoas, e mes