ANEEL 2012 Energia Renovavel Energia Hidraulica

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Atlas de Energia Elétrica do Brasil Derivados de Petróleo | Capítulo 7 49 3 Energia Hidráulica Parte II Fontes renováveis Eletronorte

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  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil

    Derivados de Petrleo | Captulo 7

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    3Energia Hidrulica

    Parte IIFontes renovveis

    Elet

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  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil

    Captulo 7 | Derivados de Petrleo

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    Box 3

    O caminho da gua na produo de eletricidade

    Para produzir a energia hidreltrica necessrio integrar a va-zo do rio, a quantidade de gua disponvel em determinado perodo de tempo e os desnveis do relevo, sejam eles naturais, como as quedas dgua, ou criados artificialmente.

    J a estrutura da usina composta, basicamente, por barragem, sistema de captao e aduo de gua, casa de fora e verte-douro, que funcionam em conjunto e de maneira integrada. A barragem tem por objetivo interromper o curso normal do rio e permitir a formao do reservatrio. Alm de estocar a gua, esses reservatrios tm outras funes: permitem a for-mao do desnvel necessrio para a configurao da energia hidrulica, a captao da gua em volume adequado e a regu-larizao da vazo dos rios em perodos de chuva ou estiagem. Algumas usinas hidroeltricas so chamadas a fio dgua, ou seja, prximas superfcie e utilizam turbinas que aproveitam a velocidade do rio para gerar energia. Essas usinas fio dgua reduzem as reas de alagamento e no formam reservatrios para estocar a gua ou seja, a ausncia de reservatrio dimi-nui a capacidade de armazenamento de gua, nica maneira de poupar energia eltrica para os perodos de seca. Os siste-mas de captao e aduo so formados por tneis, canais ou

    condutos metlicos que tm a funo de levar a gua at a casa de fora. nesta instalao que esto as turbinas, formadas por uma srie de ps ligadas a um eixo conectado ao gerador. Durante o seu movimento giratrio, as turbinas convertem a energia cintica (do movimento da gua) em energia eltrica por meio dos geradores que produziro a eletricidade. Depois de passar pela turbina, a gua restituda ao leito natural do rio pelo canal de fuga. Os principais tipos de turbinas hidruli-cas so: Pelton, Kaplan, Francis e Bulbo. Cada turbina adapta-da para funcionar em usinas com determinada faixa de altura de queda e vazo. A turbina tipo Bulbo usada nas usinas fio dgua por ser indicada para baixas quedas e altas vazes, no exigindo grandes reservatrios.

    Por ltimo, h o vertedouro. Sua funo permitir a sada da gua sempre que os nveis do reservatrio ultrapassam os limites recomendados. Uma das razes para a sua abertura o excesso de vazo ou de chuva. Outra a existncia de gua em quantidade maior que a necessria para o armaze-namento ou a gerao de energia. Em perodos de chuva, o processo de abertura de vertedouros busca evitar enchen-tes na regio de entorno da usina.

    Canal

    Duto

    Casa de fora

    Gerador

    TurbinaRio

    Linhas de transmissode energia

    Reservatrio

    Fluxo de gua

    Perfil esquemtico de usina hidreltrica

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    Energia Hidrulica | Captulo 3

    3Energia Hidrulica

    3.1 INFORMAES GERAIS

    A gua o recurso natural mais abundante na Terra: com um volume estimado de 1,36 bilho de quilmetros cbicos (km3) recobre 2/3 da superfcie do planeta sob a forma de oceanos, calotas polares, rios e lagos. Alm disso, pode ser encontrada em aquferos subterrneos, como o Guarani, no Sudeste brasi-leiro. A gua tambm uma das poucas fontes para produo de energia que no contribui para o aquecimento global o principal problema ambiental da atualidade. E, ainda, reno-vvel: pelos efeitos da energia solar e da fora da gravidade, de lquido transforma-se em vapor que se condensa em nuvens, que retornam superfcie terrestre sob a forma de chuva.

    Mesmo assim, a participao da gua na matriz energtica mun-dial pouco expressiva e, na matriz da energia eltrica, decres-cente. Segundo o ltimo relatrio Key World Energy Statistics, da International Energy Agency (IEA), publicado em 2008, entre 1973 e 2006 a participao da fora das guas na produo to-tal de energia passou, conforme o Grfico 3.1 abaixo, de 2,2% para apenas 1,8%. No mesmo perodo, como mostra a seguir o Grfico 3.2, a posio na matriz da energia eltrica sofreu recuo acentuado: de 21% para 16%, inferior do carvo e do gs natural, ambos combustveis fsseis no-renovveis, cuja com-busto caracterizada pela liberao de gases na atmosfera e

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    20,516,0

    Gs natural

    6,2

    0,9

    Nuclear

    10,2 10,1

    Biomassa

    2,2 1,8

    Hidrulica

    0,6 0,1Outras

    renovveis

    2006

    1973

    %

    46,1

    Petrleo

    34,4

    26,0

    Carvo

    24,5

    Grfico 3.1 - Matriz energtica nos anos de 1973 e 2006. Fonte: IEA, 2008.

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil52

    Captulo 3 | Energia Hidrulica

    sujeitos a um possvel esgotamento das reservas no mdio e longo prazos. Vrios elementos explicam esse aparente para-doxo. Um deles relaciona-se s caractersticas de distribuio da gua na superfcie terrestre. Do volume total, a quase to-talidade est nos oceanos e, embora pesquisas estejam sendo realizadas, a fora das mars no utilizada em escala comer-cial para a produo de energia eltrica (para detalhamento, ver captulo 5). Da gua doce restante, apenas aquela que flui por aproveitamentos com acentuados desnveis e/ou grande vazo pode ser utilizada nas usinas hidreltricas caractersti-cas necessrias para a produo da energia mecnica que mo-vimenta as turbinas das usinas.

    Alm disso, embora desde a Antiguidade a energia hidrulica tenha sido usada para gerar energia mecnica nas instalaes de moagem de gros, por exemplo no sculo XX passou a ser aplicada, quase integralmente, como matria-prima da eletrici-dade. Assim, a participao na produo total da energia final, que tambm inclui a energia mecnica e trmica, fica compro-metida. J a reduo da participao na matriz da energia eltri-ca tem a ver com o esgotamento das reservas.

    Nos ltimos 30 anos, tambm de acordo com levantamentos da IEA, a oferta de energia hidreltrica aumentou em apenas dois locais do mundo: sia, em particular na China, e Amri-ca Latina, em funo do Brasil, pas em que a hidreletricidade responde pela maior parte da produo da energia eltrica. Nesse mesmo perodo, os pases desenvolvidos j haviam explorado todos os seus potenciais, o que fez com que o volume

    produzido registrasse evoluo inferior ao de outras fontes, como gs natural e as usinas nucleares. De acordo com o estu-do sobre hidreletricidade do Plano Nacional de Energia 2030, elaborado pela EPE, so notveis as taxas de aproveitamento da Frana, Alemanha, Japo, Noruega, Estados Unidos e Su-cia, em contraste com as baixas taxas observadas em pases da frica, sia e Amrica do Sul. No Brasil o aproveitamento do potencial hidrulico da ordem de 30%.

    Mesmo nessas ltimas regies, a expanso no ocorreu na velocidade prevista. Entre outros fatores, o andamento de alguns empreendimentos foi afetado pela presso de car-ter ambiental contra as usinas hidreltricas de grande porte. O principal argumento contrrio construo das hidreltri-cas o impacto provocado sobre o modo de vida da popula-o, flora e fauna locais, pela formao de grandes lagos ou reservatrios, aumento do nvel dos rios ou alteraes em seu curso aps o represamento.

    Apesar das presses, a China mantm inalterado o cronogra-ma da construo de Trs Gargantas que dever ser a maior hidreltrica do mundo, quando for concluda em 2009. Trs Gar-gantas ter capacidade instalada de 18.200 MW (megawatts), ao superar a binacional Itaipu, no Brasil, com 14 mil MW. No Brasil, as usinas de Jirau e Santo Antnio, no rio Madeira (re-gio Norte), so pilares da expanso da oferta de energia eltri-ca prevista para o perodo 2006-2015. No entanto, dificuldades na obteno do licenciamento ambiental e mudana no eixo da barragem podem provocar o atraso na construo de Jirau.

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    21,020,1

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    %

    Carvo Petrleo Gs Natural Nuclear Hidreltrica Outras

    2006

    1973

    38,3

    24,7

    12,114,8

    3,3

    Grfico 3.2 - Gerao de energia eltrica no mundo por tipo de combustvel nos anos de 1973 e 2006.Fonte: IEA, 2008.

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil 53

    Energia Hidrulica | Captulo 3

    O que a energia hidreltrica

    A energia hidreltrica gerada pelo aproveitamento do fluxo das guas em uma usina na qual as obras civis que envolvem tanto a construo quanto o desvio do rio e a formao do re-servatrio so to ou mais importantes que os equipamentos instalados. Por isso, ao contrrio do que ocorre com as usinas termeltricas (cujas instalaes so mais simples), para a cons-truo de uma hidreltrica imprescindvel a contratao da chamada indstria da construo pesada.

    A primeira hidreltrica do mundo foi construda no final do s-culo XIX quando o carvo era o principal combustvel e as pesquisas sobre petrleo ainda engatinhavam junto s que-das dgua das Cataratas do Nigara. At ento, a energia hi-drulica da regio tinha sido utilizada apenas para a produo de energia mecnica. Na mesma poca, e ainda no reinado de D. Pedro II, o Brasil construiu a primeira hidreltrica, no munic-pio de Diamantina, utilizando as guas do Ribeiro do Inferno, afluente do rio Jequitinhonha, com 0,5 MW (megawatt) de po-tncia e linha de transmisso de dois quilmetros.

    Em pouco mais de 100 anos, a potncia instalada das unidades aumentou significativamente chegando a 14 mil MW, como o caso da binacional Itaipu, construda em parceria por Brasil e Paraguai e hoje a maior hidreltrica em operao do mundo. Mas, o princpio bsico de funcionamento para produo e transmisso da energia (para detalhes, ver Box 3) se mantm inalterado. O que evoluiu foram as tecnologias que permitem a obteno de maior eficincia e confiabilidade do sistema.

    As principais variveis utilizadas na classificao de uma usina hidreltrica so: altura da queda dgua, vazo, capacidade ou potncia instalada, tipo de turbina empregada, localizao, tipo de barragem e reservatrio. Todos so fatores interdepen-dentes. Assim, a altura da queda dgua e a vazo dependem do local de construo e determinaro qual ser a capacidade instalada - que, por sua vez, determina o tipo de turbina, barra-gem e reservatrio.

    Existem dois tipos de reservatrios: acumulao e fio dgua. Os primeiros, geralmente localizados na cabeceira dos rios, em locais de altas quedas dgua, dado o seu grande porte permitem o acmulo de grande quantidade de gua e funcionam como estoques a serem utilizados em perodos de estiagem. Alm disso, como esto localizados a montante das demais hidreltri-cas, regulam a vazo da gua que ir fluir para elas, de forma a

    permitir a operao integrada do conjunto de usinas. As unidades a fio dgua geram energia com o fluxo de gua do rio, ou seja, pela vazo com mnimo ou nenhum acmulo do recurso hdrico.

    A queda dgua, no geral, definida como de alta, baixa ou mdia altura. O Centro Nacional de Referncia em Pequenas Centrais Hidreltrica (Cerpch, da Universidade Federal de Itaju-b Unifei) considera baixa queda uma altura de at 15 metros e alta queda, superior a 150 metros. Mas no h consenso com relao a essas medidas.

    A potncia instalada determina se a usina de grande ou mdio porte ou uma Pequena Central Hidreltrica (PCH). A Agncia Nacional de Energia Eltrica (Aneel) adota trs classificaes: Centrais Geradoras Hidreltricas (com at 1 MW de potncia instalada), Pequenas Centrais Hidreltricas (entre 1,1 MW e 30 MW de potncia instalada) e Usina Hidreltrica de Energia (UHE, com mais de 30 MW).

    O porte da usina tambm determina as dimenses da rede de transmisso que ser necessria para levar a energia at o cen-tro de consumo (ver Captulo 1). Quanto maior a usina, mais distante ela tende a estar dos grandes centros. Assim, exige a construo de grandes linhas de transmisso em tenses alta e extra-alta (de 230 quilovolts a 750 quilovolts) que, muitas vezes, atravessam o territrio de vrios Estados. J as PCHs e CGHs, ins-taladas junto a pequenas quedas dguas, no geral abastecem

    Usina hidreltrica de Marimbondo.Fonte: Banco de imagens de Furnas.

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil54

    Captulo 3 | Energia Hidrulica

    3.2 POTENCIAIS, PRODUO E CONSUMO NO MUNDO

    Ser favorecido por recursos naturais que se transformam em fontes de produo de energia estratgico para qualquer pas. Entre outros fatores, porque reduz a dependncia do su-primento externo e, em conseqncia, aumenta a segurana quanto ao abastecimento de um servio vital ao desenvolvi-mento econmico e social. No caso dos potenciais hdricos, a esses argumentos favorveis, somam-se outros dois: o baixo custo do suprimento na comparao com outras fontes (car-vo, petrleo, urnio e gs natural, por exemplo) e o fato de a operao das usinas hidreltricas no provocar a emisso de gases causadores do efeito estufa. A energia hidreltrica classificada como limpa no mercado internacional.

    De acordo com o estudo Statistical Review of World Energy, publicado em junho de 2008 pela BP Global (Beyond Pe-troleum, nova denominao da British Petroleum) o maior

    pequenos centros consumidores inclusive unidades industriais e comerciais e no necessitam de instalaes to sofisticadas para o transporte da energia.

    No Brasil, de acordo com o Banco de Informaes da Gerao (BIG) da Aneel, em novembro de 2008, existem em operao 227 CGHs, com potncia total de 120 MW; 320 PCHs (2,4 mil MW de potncia instalada) e 159 UHE com uma capacidade total instalada de 74,632 mil MW. Em novembro de 2008, as usinas hidreltricas, independentemente de seu porte, respon-dem, portanto, por 75,68% da potncia total instalada no pas, de 102,262 mil MW, como mostra a Tabela 3.1 abaixo.

    Tabela 3.1 - Empreendimentos em operao em novembro de 2008

    Tipo Quantidade Potncia outorgada (kW) Potncia fiscalizada (kW) %

    CGH 227 120.009 146.922 0,11

    EOL 17 272.650 289.150 0,26

    PCH 320 2.399.598 2.381.419 2,29

    SOL 1 20 20 0

    UHE 159 74.632.627 74.851.831 71,20

    UTE 1.042 25.383.920 22.585.522 24,22

    UTN 2 2.007.000 2.007.000 1,92

    Total 1.768 104.815.824 102.261.864 100,0

    Fonte: Aneel, 2008.

    No passado, o parque hidreltrico chegou a representar 90% da capacidade instalada. Esta reduo tem trs razes. Primeira, a necessidade da diversificao da matriz eltri-ca prevista no planejamento do setor eltrico de forma a aumentar a segurana do abastecimento. Segunda, a di-ficuldade em ofertar novos empreendimentos hidrulicos pela ausncia da oferta de estudos e inventrios. A terceira, o aumento de entraves jurdicos que protelam o licencia-mento ambiental de usinas de fonte hdrica e provocam o aumento constante da contratao em leiles de energia de usinas de fonte trmica, a maioria que queimam deriva-dos de petrleo ou carvo.

    consumidor mundial de energia hidreltrica em 2007 era a Organizao para Cooperao Econmica e Desenvolvimen-to (OCED), que congrega as naes mais desenvolvidas do mundo: 1,306 mil TWh, respondendo por 41,7% do consumo total. Como mostra a Tabela 3.2 a seguir, por pas, os maio-res consumidores mundiais foram China (482,9 TWh, volume 10,8% superior ao do ano anterior e correspondente a 15,4% no ranking mundial), Brasil (371,5 TWh, aumento de 6,5% so-bre 2006 e 11,9% do total) e Canad (368,2 TWh sobre 2006).

    De certa forma, a IEA, com dados de 2006, corrobora essa re-lao. Segundo a Agncia, os dez pases mais dependentes da hidreletricidade em 2006 eram, pela ordem: Noruega, Brasil, Venezuela, Canad, Sucia, Rssia, ndia, Repblica Popular da China, Japo e Estados Unidos. Com pequenas variaes com relao posio no ranking, eles tambm figuram na relao

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil 55

    Energia Hidrulica | Captulo 3

    de maiores produtores: Repblica Popular da China, Canad, Brasil, Estados Unidos, Rssia, Noruega, ndia, Japo, Venezuela e Sucia. Abaixo, a Tabela 3.3 mostra a dependncia dos pases com relao hidreletricidade.

    A incluso, nessa relao, de pases em desenvolvimen-to, como Brasil, Rssia, ndia e China decorre dos inves-timentos em hidreletricidade realizados nos ltimos 30 anos com intensidade muito maior que no passado. Ainda

    Tabela 3.2 - Maiores consumidores de energia hidreltrica (2006 e 2007) em TWh

    Pas 2006 2007 Variao Participao

    1o China 435,8 482,9 10,8% 15,4%

    2o Brasil 348,8 371,5 6,5% 11,9%

    3o Canad 355,4 368,2 3,6% 11,7%

    4o Estados Unidos 292,2 250,8 -14,2% 8,0%

    5o Rssia 175,2 179,0 2,2% 5,7%

    6o Noruega 119,8 135,3 12,9% 4,3%

    7o ndia 112,4 122,4 8,9% 3,9%

    8o Venezuela 82,3 83,9 1,9% 2,7%

    9o Japo 96,5 83,6 -13,4% 2,7%

    10o Sucia 61,7 66,2 7,3%- 2,1%

    Fonte: BP, 2008.

    Tabela 3.3 - Participao da hidreletricidade na produo total de energia eltrica em 2006

    Pas %

    1o Noruega 98,5

    2o Brasil 83,2

    3o Venezuela 72,0

    4o Canad 58,0

    5o Sucia 43,1

    6o Rssia 17,6

    7o ndia 15,3

    8o China 15,2

    9o Japo 8,7

    10o Estados Unidos 7,4

    Outros pases 14,3

    Mundo 16,4

    Fonte: IEA, 2008.

    conforme a IEA, em 1973, a sia (sem considerar a China) respondeu por 4,3% da produo total de energia hidre-ltrica, de 1.295 TWh (terawatts-hora) no ano. Em 2006, essa participao quase dobrou, ao atingir 7,8% de um total de 3.121 TWh. Na China, a evoluo foi de 2,9% para 14%. Na Amrica Latina, o comportamento se repete com maior intensidade: um salto de 7,2% para 21%, estimulado princi-palmente pelos investimentos realizados no Brasil, conforme o Grfico 3.3 na pgina a seguir.

    Hidreltrica de Itaipu.Fonte: Banco de imagens de Itaipu.

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil56

    Captulo 3 | Energia Hidrulica

    maiores potenciais tecnicamente aproveitveis de energia hidrulica no mundo. Outras regies com grandes potenciais so Amrica do Norte, antiga Unio Sovitica, ndia e Brasil. Ainda de acordo com o estudo, na ndia tambm h grande expanso das hidreltricas: em 2004 estavam em construo 10 mil MW, com 28 mil MW planejados para o mdio prazo.

    Segundo informa o Plano Nacional de Energia 2030 com base em dados de 2004, a China o pas que mais investe em ener-gia hidreltrica. Alm de Trs Gargantas, naquele ano manti-nha em construo um total de 50 mil MW de potncia, para dobrar a capacidade instalada no pas. Como pode ser ob-servado no Figura 3.1 abaixo, a China tem, tambm, um dos

    2006

    1973

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    70%

    80%

    OECD Amrica Latina China AntigaUnio Sovitica

    sia (sem China) frica Pases europeusfora da OECD

    Oriente Mdio

    Grfico 3.3 - Participao relativa da hidreletricidade no mundo.Fonte: IEA, 2008.

    Figura 3.1 - Principais potenciais hidreltricos tecnicamente aproveitveis no mundo.Fonte: EPE, 2007.

    Brasil 10%

    Congo 5%

    ndia 5%

    Rssia 12%

    China 13%

    Canad 7%

    EUA 4%

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil 57

    Energia Hidrulica | Captulo 3

    3.3 POTENCIAIS E GERAO HIDRELTRICA NO BRASIL

    Em 2007, segundo os resultados preliminares do Balano Ener-gtico Nacional (BEN), elaborado pela Empresa de Pesquisa Ener-gtica, a energia de fonte hidrulica (ou hidreletricidade) respon-deu por 14,7% da matriz energtica brasileira, sendo superada por derivados da cana-de-acar (16,0%) e petrleo e derivados (36,7%). Na oferta interna de energia eltrica, que totalizou 482,6 TWh (aumento de 4,9% em relao a 2006), a energia de fonte hidrulica produzida no pas representou 85,6%, constituindo-se, de longe, na maior produtora de eletricidade do pas.

    Alm disso, em todo o mundo, o Brasil o pas com maior po-tencial hidreltrico: um total de 260 mil MW, segundo o Plano 2015 da Eletrobrs, ltimo inventrio produzido no pas em 1992. Destes, pouco mais de 30% se transformaram em usi-nas construdas ou outorgadas. De acordo com o Plano Na-cional de Energia 2030, o potencial a aproveitar de cerca

    Tabela 3.4 - As dez maiores usinas em operao, regio e potncia

    Nome Potncia (kW) Regio

    Tucuru I e II 8370000 Norte

    Itaip (parte brasileira) 6300000 Sul

    Ilha Solteira 3444000 Sudeste

    Xing 3162000 Nordeste

    Paulo Afonso IV 2462400 Nordeste

    Itumbiara 2082000 Sudeste

    So Simo 1710000 Sudeste

    Governador Bento Munhoz da Rocha Neto (Foz do Areia) 1676000 Sudeste

    Jupi (Engo Souza Dias) 1551200 Sudeste

    Porto Primavera (Engo Srgio Motta) 1540000 Sudeste

    Fonte: Aneel, 2008.

    de 126.000 MW. Desse total, mais de 70% esto nas bacias do Amazonas e do Tocantins/Araguaia, conforme mostra o Mapa 3.1 na pgina a seguir.

    A concentrao das duas regies no se relaciona apenas com a topografia do pas. Tem a ver, tambm, com a forma como o par-que hidreltrico se desenvolveu. A primeira hidreltrica de maior porte comeou a ser construda no Nordeste (Paulo Afonso I, com potncia de 180 MW), pela Companhia Hidreltrica do S. Francisco (Chesf, estatal constituda em 1948). As demais, erguidas ao longo dos 60 anos seguintes, concentraram-se nas regies Sul, Sudeste e Nordeste (com o aproveitamento integral do rio So Francisco), como mostra a Tabela 3.4 abaixo. No Norte foram construdas Tu-curu, no Par, e Balbina, no Amazonas. Mas apenas nos anos 90 a regio comeou a ser explorada com maior intensidade, com a construo da Usina Serra da Mesa (GO), no rio Tocantins.

    Assim, em 2008, a maioria das grandes centrais hidreltricas brasileiras localiza-se nas bacias do So Francisco e, princi-palmente, do Paran, particularmente nas sub-bacias do Pa-ranaba, Grande e Iguau, apesar da existncia de unidades importantes na regio Norte. Os potenciais da regio Sul, Sudeste e Nordeste j esto, portanto, quase integralmen-te explorados. O Mapa 3.2 logo a seguir mostra as regies do pas classificadas de acordo com o nvel de utilizao de seus aproveitamentos.

    O estudo sobre energia hidreltrica constante do PNE 2030 relaciona o potencial de aproveitamento ainda exis-tente em cada uma das bacias hidrogrficas do pas. A bacia do rio Amazonas a maior, com um potencial de 106 mil MW, superior potncia j instalada no Brasil, em 2008, de 102 mil MW. Nesse ano, existem em operao nesta bacia apenas cinco Unidades Hidreltricas de Ener-gia (UHE): Balbina (AM), Samuel (RO), Coaracy Nunes (AP), Curu-Una (PA) e Guapor (MT).

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil58

    Captulo 3 | Energia Hidrulica

    At 1.200

    1.201 a 6.000

    6.001 a 18.000

    acima de 18.000

    Potencial total (MW)

    VenezuelaColmbia

    SurinameGuiana

    Francesa

    Guiana

    Peru

    Bolvia

    Chile

    Argentina

    Paraguai

    Uruguai

    Capital Federal

    Capitais

    Diviso Estadual

    Convenes Cartogrficas

    EPE, 2008. ATLAS DE ENERGIA ELTRICA DO BRASIL - 3 EDIOFonte: Escala Grfica:

    O L

    N

    S0 500250km

    40 W50 W60 W70 W

    0 S

    10 S

    20 S

    30 S

    0 S

    10 S

    20 S

    30 S

    MAPA 3.1 - Potencial Hidreltrico por Bacia Hidrogrfica - 2008

    AmazonasAtlntico Nordeste

    OcidentalAtlntico Nordeste

    Oridental

    Araguaia - Tocantins

    Parnaba

    So Francisco

    Atlntico Leste

    Atlntico Sudeste

    Atlntico Sul

    Paran

    Paraguai

    Uruguai

    O c e a n o A t l n t i c o

    Aproveitado

    Inventrio

    Estimado

    1% 72%27%

    72%19% 9%

    44%

    40%

    16%

    58%31% 11%

    28%

    64%

    8%

    40%51% 9%

    30%

    32%

    38%

    27%

    48%

    25%

    16%

    27%

    57%

    22%78%

    15%85%

    5%

    80%

    15%

    Observaes: 1- potencial aproveitado inclui usinas existentes em dezembro de 2005 e os aproveitamentos em construo ou com concesso outorgada; 2- inventrio nesta tabela indica o nvel mnimo de estudo do qual foi objeto o potencial; 3- valores consideram apenas 50% da potncia de aproveitamentos binacionais; 4- Foi retirado o potencial das usinas exclusivamente de ponta.

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil 59

    Energia Hidrulica | Captulo 3

    0 a 1.000.000

    1.000.001 a 5.000.000

    5.000.001 a 10.000.000

    acima de 10.000.001

    Potncia Instalada por Estado (kW)

    VenezuelaColmbia

    SurinameGuiana

    Francesa

    Guiana

    Peru

    Bolvia

    Chile

    Argentina

    Paraguai

    Uruguai

    Capital Federal

    Capitais

    Diviso Estadual

    Convenes Cartogrficas Potncia (kW)

    RR

    AM

    AC

    PA

    TO

    MA

    PI

    CERN

    PB

    PE

    ALSE

    BA

    GO

    MT

    RO

    MS

    SP

    MG ES

    RJ

    PR

    SC

    RS

    DF

    AP

    Boa Vista

    Manaus

    Porto VelhoRio Branco

    Palmas

    Belm

    So Luis

    Teresina

    Recife

    Macei

    Aracaju

    Salvador

    Braslia

    Goinia

    Cuiab

    Campo Grande

    Belo Horizonte

    Vitria

    Rio de Janeiro Trpico de Capricrnio

    Equador

    So PauloCuritiba

    Porto Alegre

    Florianpolis

    Fortaleza

    Natal

    Joo Pessoa

    Macap

    O c e a n o A t l n t i c o

    At 100.000

    100.001 a 1.000.000

    1.000.001 a 4.000.000

    acima de 4.000.001

    Aneel, 2008. ATLAS DE ENERGIA ELTRICA DO BRASIL - 3 EDIOFonte: Escala Grfica:

    O L

    N

    S0 500250km

    40 W50 W60 W70 W

    0 S

    10 S

    20 S

    30 S

    0 S

    10 S

    20 S

    30 S

    MAPA 3.2 - Potncia Instalada por Estado em 2008

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil60

    Captulo 3 | Energia Hidrulica

    A bacia do Tocantins/Araguaia possui potencial de 28.000 MW, dos quais quase 12.200 MW j esto aproveitados pelas UHEs Serra da Mesa e Tucuru. Do potencial a ser aproveitado 90%, porm, sofrem alguma restrio ambiental.

    na bacia do Amazonas, no rio Madeira, que esto localiza-das as principais usinas planejadas para os prximos anos e includas no Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) do Governo Federal. Ambas so classificadas como projetos estruturantes, considerados como iniciativas que proporcio-nam expanso da infra-estrutura no caso, a oferta de ener-gia eltrica - no mdio e longo prazo e, ao mesmo tempo, demonstram capacidade para estimular o desenvolvimento econmico, tecnolgico e social. Por isso, mobilizam governo, centros de pesquisa, universidades e iniciativa privada. Uma dessas usinas Santo Antnio, licitada em 2007, com capaci-dade instalada de 3.150 MW. A outra Jirau, licitada em 2008, com 3.300 MW de potncia. Ambas constam do Banco de In-formaes de Gerao da Aneel que, em novembro de 2008, alm das PCHs e CGHs, registra 15 usinas hidreltricas j ou-torgadas, mas cuja construo ainda no havia sido iniciada.

    Outra bacia importante a Tapajs. Em 2008, a Aneel estuda viabilidade de trs aproveitamentos no rio Teles Pires todos de carter estruturante que somam 3.027 MW. Alm des-ses, um estudo encaminhado pela Eletrobrs Aneel prev a construo de cinco usinas com capacidade total de 10.682 MW no prprio Tapajs. Outra a bacia do rio Xingu, para a qual est prevista a construo da Usina de Belo Monte, que, segundo a Empresa de Pesquisa Energtica (EPE), dever en-trar em obras at o fim da dcada, com potncia instalada de 5.500 MW. Em fase de construo em novembro de 2008, o BIG relaciona 21 empreendimentos. Destes, os maiores, no-vamente, podem ser observados na regio Norte. Entre eles destaca-se a usina de Estreito, com 1.087 MW de potncia no rio Tocantins, e Foz do Chapec, com 855 MW, no rio Uruguai, regio Sul do pas. No total, tanto as UHEs apenas outorgadas quanto aquelas j em construo devero agregar 13.371 MW potncia instalada do pas.

    3.4 SUSTENTABILIDADE E INVESTIMENTOS SOCIOAMBIENTAIS

    O setor eltrico brasileiro possui uma matriz energtica bem mais limpa, com forte participao de fontes renovveis j que o parque instalado concentrado em usinas hidreltricas que

    Casa de fora - Usina hidreltrica de Corumb.Fonte: Acervo TDA.

  • Atlas de Energia Eltrica do Brasil 61

    Energia Hidrulica | Captulo 3

    no se caracterizam pela emisso de gases causadores do efeito estufa (GEE). Mais de 70% das emisses de GEE do pas esto re-lacionadas ao desmatamento e s queimadas. Tanto que a maior contribuio ao Plano Nacional de Mudanas Climticas tende a ser a intensificao de projetos de eficincia energtica que, ao proporcionar a reduo do consumo, diminuem a necessidade de novas usinas.

    Os maiores entraves expanso hidreltrica do pas so de natureza ambiental e judicial. No final de 2007 e incio de 2008 uma polmica ocorreu entre os formadores de opinio quando veio a pblico que a maior parte das obras estava atrasada em funo da dificuldade para obteno do licen-ciamento ambiental provocada por questionamentos na justia, aes e liminares. Os opositores argumentam que as construes, principalmente na regio da Amaznia, provo-cam impacto na vida da populao, na flora e fauna locais, por interferirem no traado natural e no volume de gua dos rios. Entretanto, necessrio construir novas usinas -com impacto socioambiental mnimo - para produzir a energia suficiente para o crescimento econmico e ampliao da oferta de empregos.

    Por conta das dificuldades de aceitao existentes nas co-munidades e da presso de grupos organizados particu-larmente Organizaes No-Governamentais (ONGs) am-bientalistas os empreendedores tm alocado recursos para projetos de mitigao do impacto, tanto de carter ambiental quanto social. Desenvolver os projetos de ma-neira sustentvel buscando os resultados econmicos e,

    Usina hidreltrica de Tucuru.Fonte: Eletronorte.

    simultaneamente, compensando os impactos socioambien-tais provocados pelas usinas tem sido uma tendncia na construo das hidreltricas. Ao contrrio do que aconteceu nos anos 50 e 70, crescente o nmero de empreendimen-tos que procura desenvolver uma relao mais integrada e de longo prazo com as comunidades afetadas.

    Mas, o entendimento entre as partes dificultado tambm por indefinies de carter legal. Apenas como exemplo, uma dessas indefinies relacionava-se, no segundo se-mestre de 2008, ao uso das terras indgenas para os apro-veitamentos energticos. Outra, ao tratamento a ser dado aos potenciais hidreltricos e as respectivas linhas de trans-misso frente proposta do Plano Nacional de reas Pro-tegidas, em elaborao no segundo semestre de 2008, que pretendia transformar, por lei, 64% do territrio do pas em rea de preservao ambiental.

    REFERNCIAS

    Agncia Nacional de Energia Eltrica (Aneel) disponvel em www.

    aneel.gov.br

    BP Global disponvel em www.bp.com

    Empresa de Pesquisa Energtica (EPE) disponvel em www.epe.

    gov.br

    International Energy Agency (IEA) disponvel em www.iea.org