Anéis. Princípios sem fim - Espiral do Tempo · Anéis. Princípios sem fim Por Marionela Gusmão...

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Anéis. Princípios sem fim Por Marionela Gusmão a China, o anel simbolizava o ciclo indefinido sem solução de continuidade. Vários museus que conservam peças do antigo Egipto possuem numerosos e variados anéis que mostram a importância deste ornamento naquela civilização. Também usados na Grécia antiga como selo ou sinete, os anéis encontrados em vários túmulos, no Bósforo, têm a forma de aros de ouro com pedras gravadas. Segundo Gaston Oerfberr, o aro com pedras que constitui o anel é uma invenção oriental que só se divulgou na Grécia, e depois em Roma, por volta do século VI a.C. As pedras mais usadas eram o onix, jaspe, ametista e cornalina. O aro era, então, em ouro, ferro, âmbar ou marfim. O anel na civilização romana acompanhou as transformações da vi- da social. No século II da nossa era, o anel de ouro foi introduzido nos esponsais como símbolo de fidelidade. E, muito mais tarde, um missal do século XI contém duas ladaínhas diferentes para a bênção dos anéis nupciais. O anel nupcial, tal como o anel do bis- po ou do papa, é o sinal de uma aliança ou de um voto. Salientamos que a tradição indica que os noivos, no acto do casa- mento, devem trocar anéis. Esta troca significa e evoca, sob o plano espiritual, a relação que se estabelece entre eles em dois sentidos opostos, isto é, uma dialética duplamente subtil em que cada um dos cônjuges se torna mestre e escravo do outro. O anel simboliza no Cristianismo a ligação fiel livremente aceite. Ele está ligado ao tempo e ao cosmos. O texto de Pitágoras diz: «Não coloqueis a imagem de Deus sobre o vosso anel», mostrando N 056 | ESPIRAL ESPIRAL | 057 Pequeno aro de metal ou de outra matéria, o anel é uma jóia muito antiga – um objecto de culto que pela sua configuração simboliza um princípio sem fim e que tem uma riquíssima história milenar. 01. Anel Saphorin da Versace 02. Anel de compromisso, em esmalte verde e negro, com um diamante em bruto montado em caixa. séc.XV 03. Rafael. (1483-1520): ‘O Casa- mento da Virgem’, vendo-se São José a entregar-lhe o anel, 1504. 03. 02. S P EDITORIAL SUMÁRIO PERFÍL CORREIO LEITOR CALEIDOSCÓPIO EM FOCO REPORTAGEM OPINIÃO ENSAIO CRÓNICA ENTREVISTA TÉCNICA 01.

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Anéis.Princípios sem fimPor Marionela Gusmão

a China, o anel simbolizava o ciclo indefinido

sem solução de continuidade. Vários

museus que conservam peças do antigo

Egipto possuem numerosos e variados

anéis que mostram a importância deste

ornamento naquela civilização. Também

usados na Grécia antiga como selo ou sinete,

os anéis encontrados em vários túmulos, no

Bósforo, têm a forma de aros de ouro com pedras gravadas.

Segundo Gaston Oerfberr, o aro com pedras que constitui o anel é

uma invenção oriental que só se divulgou na Grécia, e depois em

Roma, por volta do século VI a.C. As pedras mais usadas eram o

onix, jaspe, ametista e cornalina. O aro era, então, em ouro, ferro,

âmbar ou marfim.

O anel na civilização romana acompanhou as transformações da vi-

da social. No século II da nossa era, o anel de ouro foi introduzido

nos esponsais como símbolo de fidelidade. E, muito mais tarde, um

missal do século XI contém duas ladaínhas diferentes para a

bênção dos anéis nupciais. O anel nupcial, tal como o anel do bis-

po ou do papa, é o sinal de uma aliança ou de um voto.

Salientamos que a tradição indica que os noivos, no acto do casa-

mento, devem trocar anéis. Esta troca significa e evoca, sob o plano

espiritual, a relação que se estabelece entre eles em dois sentidos

opostos, isto é, uma dialética duplamente subtil em que cada um

dos cônjuges se torna mestre e escravo do outro.

O anel simboliza no Cristianismo a ligação fiel livremente aceite.

Ele está ligado ao tempo e ao cosmos. O texto de Pitágoras diz:

«Não coloqueis a imagem de Deus sobre o vosso anel», mostrando

N056 | ESPIRAL ESPIRAL | 057

Pequeno aro de metal ou de outra matéria, o anel é uma jóia muito antiga – um objecto de culto que pelasua configuração simboliza um princípio sem fim e que tem uma riquíssima história milenar.

01. Anel Saphorin da Versace

02. Anel de compromisso, em

esmalte verde e negro, com um

diamante em bruto montado em

caixa. séc.XV

03. Rafael. (1483-1520): ‘O Casa-

mento da Virgem’, vendo-se São

José a entregar-lhe o anel, 1504.

03.

02.

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01.

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que Deus não deve ser associado ao tempo. Este conceito tem duas

interpretações: uma bíblica (não evocar o nome de Deus em vão) e

outra ética (manifestação de uma existência livre e sem entraves).

Os primeiros cristãos, à imitação dos gentios, usavam aros nos de-

dos e Clemente de Alexandria aconselhou o uso de anéis com ima-

gens de pombas, de peixes ou de âncoras. No aspecto esotérico, cer-

tos autores garantem que o aro possui poderes mágicos. Em

qualquer caso, usar um anel é abrir uma porta, entrar «num caste-

lo, numa caverna, no paraíso…».

Anéis e diamantes no matrimónio

Oferta tradicional na Antiga Roma, o anel, símbolo do ciclo da vida

e da eternidade, funcionava como o juramento público entre o

homem e a mulher. Os cristãos adoptaram este costume e foi assim

que o anel passou a fazer parte da cerimónia matrimonial. Contu-

do, só no século XV o significado de eternidade conferido ao anel

foi reforçado pelo diamante, símbolo da fidelidade conjugal.

No entanto, lendas sobre as propriedades místicas do diamante

foram passando de gerações. Centenas de anos a.C., na Índia, onde

os diamantes foram primeiramente encontrados, acreditava-se que

esta pedra preciosa protegia das cobras, veneno, doenças, ladrões e

todas as forças do mal. Assim, o diamante valia mais pelo seu

poder mágico do que pela sua natureza. Ainda nessa região da Ásia

meridional, a cor do diamante reflectia a casta de quem o usava, e

já os mais brancos tinham cotação muito elevada.

O diamante (cujo nome vem do grego ‘adamas’, que significa in-

vencível) foi eleito, pela sua perenidade como símbolo do compro-

misso para toda a vida. Desde o brilho suave do diamante em bru-

to, do Renascimento, até à incrível pirotecnia de elegante

sofisticação do século XXI, o anel de diamantes é como um círculo

encantado – o presente que melhor testemunha o amor e a lealdade

entre um homem e uma mulher, o que, com maior rigor, sela as

promessas feitas que culminam no casamento.

Nos tempos medievais, as classes mais elevadas casavam-se com

anéis de pedras preciosas. No século XV, o diamante, símbolo da fi-

delidade conjugal, devido à resistência ao fogo e ao aço, passou a

fazer parte do ritual do casamento, tornando-se vulgar nos anéis de

noivado das classes médias elevadas.

Assim, encontramos uma carta escrita, em 1477, pelo arquiduque

Maximiliano, antes do seu noivado com Maria de Borgonha, que

diz: «Nos esponsais, Sua Graça deve usar um anel com diamante e

O anel de diamantes é como um círculo encantado sem fim;

é o presente que melhor testemunha o amor eterno e a leal-

dade entre homem e mulher e que sela as promessas feitas

Anéis

01. Anéis Looping da Mauboussin

02. Casamento de Rainier e Grace do Mónaco

03. Anel de compromisso com diamantes séc. XVIII

04. Lorenzo Lotto. ‘Casamento de Messer Marsílio e Sua

Noiva’; o par está retratado no momento da colocação

do anel, sob os olhares amorosos de Cupido

04.03.02.

01.

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também um anel de ouro».

De formação octaédrica (oito faces), com duas pirâmides unidas

pela base, o diamante era montado com a pirâmide de baixo com-

pletamente escondida na cravação do anel, sobressaindo ostensiva-

mente a pirâmide superior. As quatro faces desta última, que fi-

cava a descoberto, reflectiam a luz. A estrutura destes diamantes

correspondia ao simbolismo das pirâmides egípcias. Acreditava-se

frequentemente que debaixo das pirâmides estava enterrada a ou-

tra metade – a parte do demónio – com as mesmas formas e pro-

porções exactas.

Longe de se sentirem constrangidos pelo peso de engastes fecha-

dos, os ourives usaram a imaginação e a visão apaixonada nos seus

desenhos para enaltecer o prestígio do diamante. Estas pedras eram

então encastoadas, em anéis cada vez mais elaborados como, por ex-

emplo, rosáceas, letras do alfabeto e a flor de lis (símbolo da virgem),

afinal um emblema apropriado para uma noiva jovem e inocente.

No interior dos aros dos anéis foram-se inscrevendo pequenos po-

emas. Surgiram os chamados anéis ‘poesie’ onde as palavras secre-

tas de amor eram, muitas vezes, decoradas com rosas envolvidas

em raios solares realçados por vivos esmaltes. Existem muitos ex-

emplos de mensagens gravadas nos anéis.

Brilhos e rebrilhos do século XVIII

Para os mais abastados e instruídos, o século XVIII proporcionou

uma cintilante constelação de anéis de noivado e casamento. A des-

coberta de diamantes no Brasil aumentou enormemente a sua ofer-

ta. Por outro lado, as jóias com diamantes foram-se tornando mais

atraentes.

Ao mesmo tempo, a melhoria da luz das velas contribuíu para o

acréscimo dos acontecimentos nocturnos, ocasião privilegiada para

estas pedras reluzentes se darem a apreciar no seu máximo esplen-

dor. Todas as damas elegantes gostavam de aparecer com os seus de-

dos ostentando diamantes que podiam ser brancos ou de ligeira cor.

Nenhuma outra pedra tinha o carisma do diamante e foi por isso que

ele se converteu no cúmplice favorito da mulher em sociedade.

Para satisfazer o desejo do brilho, as técnicas de polimento foram,

uma vez mais, aperfeiçoadas. O talhe em forma de rosa foi ultra-

passado pelo corte do brilho redondo. Nos meados do século XVIII,

o desenho das jóias, em geral, e naturalmente, dos anéis, acusou a

influência do despreocupado espírito ‘rocaille’. As pedras passaram

a estar cada vez mais em foco. O tema dos corações surgiu em

muitas variantes, engastados com diamantes brancos e amarelos,

atravessados por flechas aos pares, coroados ou atados por laços.

A partir de 1770 esses símbolos foram substituídos por declarações

de amor sublinhadas por letras em diamantes – ‘recordação,

amizade, amor’ – em cravações planas, esmaltadas de azul escuro e

emolduradas de pérolas ou diamantes de talhe em rosa. Bonita, deli-

cada, colorida, a joalharia feminina deste tipo era a forma perfeita de

expressar a elegância e o gosto requintado da época do séc.XVIII.

Os anéis de compromisso, percursores das alianças de diamantes

que se oferecem actualmente como símbolo de amor eterno, eram

os mais apreciados. Os anéis protectores, também com diamantes,

criados para se usarem sobre o precioso anel de compromisso,

tornaram-se muito populares.

Os múltiplos estilos do século XIX

No início do século XIX, a mulher frágil e adorada, venerada até,

encontrava-se firmemente instalada no seu pedestal. As jóias com-

binavam perfeitamente com a sua idealizada posição social. Eram

belas, femininas, sentimentais.

Símbolos de amor, corações, coroas e flores ultrapassaram o sécu-

lo anterior e seguiram a mulher. O mesmo aconteceu com o anel

03.Anéis

02.

01. Anéis Audemars Piguet

02. Casamento de Carlos e Diana

03. Hans Ewort. Retrato de Maria

Tudor – rainha que desdenhou dos

anéis de compromisso quando casou

com Filipe II de Espanha, mas no re-

trato ostenta anéis de diamantes

01.

Todas as damas elegantes

gostavam de aparecer com

os seus dedos ostentando

anéis com pedras preciosas

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PLACE VENDÔME

relógio lady m

ALMANSIL: alberto felício joalheiros BRAGA: ourivesaria tesouro da sé CASCAIS: torres joalheiros COIMBRA: 17 horas joalharia LEIRIA: carlos joalheiros

LISBOA: torres joalheiros, lazuli joalheiros, morais joalheiros, severino relojoeiros MAFRA: dona jóia PORTO: ferdior jóias

a beleza esconde-se

onde menos se espera.

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062 | ESPIRAL

comemorativo. Anéis executados em primoroso detalhe, alber-

gavam os retratos dos amados. Mechas dos seus cabelos ou de cri-

anças carinhosamente adoradas, usavam-se ocultas em relicários,

broches e anéis.

Mas, paralelamente a este apelo ao sentimento e à delicadeza, a

joalharia do século XIX era também uma importante forma de sim-

bolizar o ‘status’. A Revolução Industrial enriqueceu muita gente.

Os homens de negócios bem sucedidos mostravam publicamente

o seu novo riquismo carregando as mulheres de jóias. Assim, o dia-

mante cotizou-se cada vez mais. Em 1870, com a grande descober -

ta das minas de diamantes do continente africano, a procura

igualou a oferta. O diamante, como símbolo de ‘status’, passou a

ser acessível a um leque mais vasto de consumidores.

Para os casais mais novos, a escolha do diamante de compromisso

recaía, normalmente, sobre o solitário ou sobre uma combinação

de várias pedras mais pequenas. Por esta época estava estabelecido

que a noiva podia esperar dois anéis: um de compromisso, com

uma pedra preciosa, e outro idêntico ao actual anel de casamento

que, no período vitoriano, não era mais do que uma fina argola de

ouro. Catálogos da especialidade desse tempo testemunham a

grande variedade de desenhos (muitos dos quais ao preço de duas

libras): solitários, meios aros, grupos simples ou duplos, leques,

painel, ‘navette’, entrecruzados ou ainda o anel de duas partes co-

mo o ‘tu e eu’.

O corte em brilhante era o mais apreciado. A um lapidador

veneziano, de nome Peruzzi, foi atribuída a primeira versão de 58

facetas, mas só no século XIX o brilho e o poder do diamante

foram completamente revelados.

O novo e rico abastecimento de diamantes brutos influenciou o de-

senho. Assim, os realces passaram a ser dados ao anel e também à

própria pedra. O solitário (diamante polido e facetado), tornou-se o

top da moda e a forma revolucionária de o encastoar, da autoria da

casa Tiffany, é hoje a mais universal.

Os famosos joalheiros Tiffany, de Nova Iorque, inventaram uma

cravação espectacular onde a pedra fica suspensa por seis garras

minúsculas. Esta cravação permitiu a exposição à luz de cada face-

ta da pedra, obtendo-se assim um fascinante jogo de luminosidade.

Anéis

02. 03. 04.

01. 02. 03. e 04. Anéis da colecção Golden Diamonds, Chopard

01.

Diferente do antigo estilo de cravejamento, que cobria tudo menos

a ‘mesa’ da pedra, onde as imperfeições podiam passar desaperce-

bidas, a montagem da Tiffany constituíu um teste delicado à quali-

dade do diamante (corte, cor e pureza).

Durante o próspero séc. XIX ninguém usufruíu mais da joalharia

que a rainha Victória, personagem que possuía uma enorme

colecção de jóias criadas por Garrard. Em 1850, a colecção da rai-

nha Victoria foi valorizada com o ‘Koh-I-Noor’ (‘Montanha de Luz’),

então o maior diamante do mundo, que lhe fora oferecido pela

‘East India Company’.

O século XIX trouxe grandes mudanças no desenho da joalharia.

Inicialmente, a sua inspiração baseava-se nos sentimentos delica-

dos e imaginativos da época pós-revolucionária. Por altura de 1860,

as mulheres dóceis, até aí colocadas num pedestal inofensivo,

reclamaram o direito ao voto, à educação e às novas liberdades. A

joalharia, correspondendo a este espírito, tornou-se vasta, arrojada

e atrevida. No final do século emergiu um espírito de livre pensa-

mento romântico e a Arte Nova trouxe de volta ao desenho uma

flexível delicadeza. Durante todas estas mudanças, a beleza res-

plandecente e a indestrutibilidade do anel de diamante conti-

nuaram a ser o mais importante símbolo de amor e felicidade.

Actualmente, a joalharia é pródiga na criação de anéis ao sabor dos mais

intímos desejos do séc. XXI e é escolher na Maubossin, na Versace e

noutras grandes marcas de prestígio o modelo que mais agrada com a

ideia segura de que um anel é sempre um princípio sem fim.

Actualmente, a joalharia é

pródiga na criação de anéis

ao sabor dos mais intímos

desejos do novo século XXI

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