ANEXO 1 DADOS DA INSTITUIÇÃO Nome: Centro de … · missão promover a agroecologia como...

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ANEXO 1 DADOS DA INSTITUIÇÃO Nome: Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata Endereço: Sitio Alfa - Violeira - Zona Rural - Caixa Postal 128 Cep.: 36.570-000 - Viçosa-MG Telefone: (31) 3892-2000 Executora de Chamada pública de Ater (X) Sim Qual? Chamada Pública nº13/2013, ATER Agroecologia, Lote 29 ( ) Não DADOS DO AGENTE DE ATER Nome: Breno de Mello Silva Sitio Alfa - Violeira - Zona Rural - Caixa Postal 128 Cep 36.570-000 - Viçosa-MG Telefone: (31) 3892-2000 E-mail: [email protected] ; [email protected] ; [email protected] ; DADOS QUE IDENTIFIQUEM A PRÁTICA Nome do Agricultor (a) (es) (as) ou organização da agricultura familiar: Sindicato de Trabalhadores/as Rurais (STR), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais na Agricultura Familiar (SINTRAF), Universidade Federal de Viçosa (UFV), além de Associações de Agricultores Familiares, Cooperativas de Crédito Solidário, Associações de Escolas Família Agrícola, Grupos de Jovens Rurais, Associações de Mulheres Trabalhadoras Rurais, Cooperativas de Produção, Associações de Terapeutas Naturais e representantes de Pastorais de Igreja, de Comunidade Quilombola, entre outros. Essa experiência acontece principalmente em seis municípios: Araponga, Caparaó, Divino e Espera Feliz, Acaiaca e Pedra Dourada, mas com o Projeto ATER Agroecologia esses municípios serão ampliados. Comunidade: Telefone: E-mail: Georeferenciamento: CATEGORIA DA BOA PRÁTICA DE ATER Eixo II. Nova Ater, letra b. Metodologia de Ater

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ANEXO 1

DADOS DA INSTITUIÇÃO

Nome: Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata

Endereço: Sitio Alfa - Violeira - Zona Rural - Caixa Postal 128 – Cep.:

36.570-000 - Viçosa-MG

Telefone: (31) 3892-2000

Executora de Chamada pública de Ater (X) Sim Qual? Chamada

Pública nº13/2013, ATER Agroecologia, Lote 29 ( ) Não

DADOS DO AGENTE DE ATER

Nome: Breno de Mello Silva

Sitio Alfa - Violeira - Zona Rural - Caixa Postal 128 – Cep 36.570-000 -

Viçosa-MG

Telefone: (31) 3892-2000

E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected];

DADOS QUE IDENTIFIQUEM A PRÁTICA

Nome do Agricultor (a) (es) (as) ou organização da agricultura familiar:

Sindicato de Trabalhadores/as Rurais (STR), Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais na Agricultura Familiar (SINTRAF), Universidade

Federal de Viçosa (UFV), além de Associações de Agricultores Familiares,

Cooperativas de Crédito Solidário, Associações de Escolas Família

Agrícola, Grupos de Jovens Rurais, Associações de Mulheres

Trabalhadoras Rurais, Cooperativas de Produção, Associações de

Terapeutas Naturais e representantes de Pastorais de Igreja, de Comunidade

Quilombola, entre outros.

Essa experiência acontece principalmente em seis municípios:

Araponga, Caparaó, Divino e Espera Feliz, Acaiaca e Pedra Dourada, mas

com o Projeto ATER Agroecologia esses municípios serão ampliados.

Comunidade:

Telefone:

E-mail:

Georeferenciamento:

CATEGORIA DA BOA PRÁTICA DE ATER

Eixo II. Nova Ater, letra b. Metodologia de Ater

Boas Práticas de ATER na Agricultura Familiar e na Reforma

Agrária:

“Os Intercâmbios Agroecológicos na Zona da

Mata de Minas Gerais como metodologia de

construção coletiva do conhecimento”

Viçosa – MG

2015

1. Introdução

- Caracterização da situação antes da execução da prática.

Com a expansão do modelo da revolução verde em escala global, a agricultura

familiar/camponesa foi fortemente impactada, tanto nas questões socioculturais

relacionadas aos territórios como no distanciamento da relação Homem - Natureza.

Com isso, esses sujeitos sociais passaram a desenvolver estratégias para se reproduzir

nos territórios. Assim, iniciou-se não apenas um processo de luta pela defesa dos

territórios, como também a busca da gestão autônoma e ecológica destes territórios,

sendo nesse mesmo período que se deu a fundação dos Sindicatos de Trabalhadores/as

Rurais (STRs) e do CTA-ZM.

O Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM) tem como

missão promover a agroecologia como ciência, prática e movimento, contribuindo para

o fortalecimento das organizações, a equidade nas relações de gênero e gerações e a

melhoria da condição de vida das famílias agricultoras, em todas as suas dimensões:

econômica, social, ambiental, política e cultural.

Na trajetória de fortalecimento e ampliação da agroecologia, este conjunto de

sujeitos tem enfrentado uma série desafios instrumentais, técnicos, científicos e também

desafios de natureza metodológica (Cardoso e Ferrari, 2006). Apesar da dificuldade

inicial de superar o difusionismo, comum entre os técnicos extensionistas tradicionais, a

preocupação com a construção coletiva do conhecimento sempre esteve presente nos

trabalhos do CTA-ZM. Neste processo, ferramentas como o Diagnóstico Rápido (ou

Rural) Participativo, e os referenciais teórico-metodológicos da Pesquisa-Ação foram de

muita importância. Muitas foram as estratégias adotadas, e cada vez mais ficou evidente

a necessidade de entrelaçar saberes populares e científicos nos processos de construção

do conhecimento agroecológico e que esta construção encerra um grande desafio de

natureza metodológica (CARDOSO e FERRARI, 2006).

Para isso, as práticas de ATER empregadas pelo CTA-ZM antes de 2007

fundamentavam-se no que se conhece como programas de formação: Programa de

formação de monitores (PFM), Programa de formação em gênero (PFG) e Programa de

formação de agricultores (PFA). Enquanto prática de ATER, o objetivo do PFM era de

formar agricultores e agricultoras para que se tornassem referência em suas respectivas

comunidades enquanto multiplicadores das práticas de ATER. O PFG buscava uma

formação em feminismo e o protagonismo da mulher na agricultura familiar. Os

encontros de ambos os programas (PFG e PFM) aconteciam mensamente na sede do

CTA. Tal fato distanciava os agricultores de sua realidade o que diminuiu o potencial de

se colocar em prática o conjunto de propostas. Em contrapartida, o PFA acontecia nas

comunidades e tinha como objetivo a formação de agricultores frente a problemas

técnicos da época, tais como plantio morro abaixo, monocultura de café, uso intensivo

de agrotóxicos etc. Cada encontro ocorria mensalmente, tinha um tema específico e era

de abrangência regional, em que os agricultores de toda a região eram convidados a

participar.

A partir dessas experiências e da participação do CTA em Redes nacionais e

internacionais, nos aproximamos da metodologia denominada “Campesino a

Campesino” ou “Camponês a Camponês” (CAC), em ampla disseminação nos países da

América Central. Com isso, podemos afirmar que a metodologia dos Intercâmbios

Agroecológicos na Zona da Mata tem forte influência, do CAC, das metodologias de

Diagnósticos Participativos, e da Educação Popular de Paulo Freire.

- Aspectos gerais da prática: local da realização, época de realização e o que

apoia.

Essa metodologia está em curso na Zona da Mata de Minas Gerais há mais de

seis anos, caracterizada como um processo horizontal de construção do conhecimento

agroecológico. Para a construção da agroecologia, muitos desafios técnicos e

metodológicos precisavam e precisam ser superados. Isto porque a agroecologia não é

definida apenas por um conjunto de técnicas, mas também por um processo social,

tendo como base a horizontalidade e a construção de novos saberes. Um dos desafios

neste processo é como entrelaçar os saberes populares e científicos. Na Zona da Mata,

este desafio tem sido enfrentado com os Intercâmbios Agroecológicos. A partir dessa

prática de ATER, forma-se uma verdadeira rede de conhecimentos que vem

contribuindo para ampliar a agroecologia nesta região de Minas Gerais.

Os intercâmbios agroecológicos são realizados nas propriedades dos/as

agricultores/as familiares nos municípios em que o CTA atua, não havendo uma

periodicidade pré-definida, mas, de acordo com as realidades locais. Inicialmente foram

seis municípios priorizados: Araponga, Caparaó, Divino e Espera Feliz, Acaiaca e Pedra

Dourada, mas com a ampliação do trabalho da entidade, especialmente com o Projeto

ATER Agroecologia, novos municípios participarão.

A estratégia é desenvolvida, basicamente, pela parceria entre Sindicato de

Trabalhadores/as Rurais (STR) e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

na Agricultura Familiar (SINTRAF), Universidade Federal de Viçosa (UFV), e CTA-

ZM. No entanto, outros parceiros como Associações de Agricultores Familiares,

Cooperativas de Crédito Solidário, Associações de Escolas Família Agrícola, Grupos de

Jovens Rurais, Associações de Mulheres Trabalhadoras Rurais, Cooperativas de

Produção, Associações de Terapeutas Naturais e representantes de Pastorais de Igreja,

de Comunidade Quilombola, entre outros, também são sujeitos importantes de acordo

com a realidade de cada município.

Trata-se de estimular a troca de conhecimentos de “camponês a camponês”,

reduzindo a centralidade no técnico, assumindo os agroecossistemas de cada família

agricultora como território de produção de conhecimento. O técnico não deve, com isto,

negar seus conhecimentos, mas sim se preocupar em tornar a interação entre

conhecimento popular e conhecimento científico o mais inteligível e dialógico possível.

Por isso, cabe a ele aprofundar constantemente seus conhecimentos, tanto na literatura

científica quanto nos conhecimentos acumulados historicamente pelas famílias e

comunidades agricultoras.

2. Objetivo da prática

Os Intercâmbios Agroecológicos objetivam, a partir de um conjunto de

dispositivos metodológicos, promover o processo de aprendizagem a partir da

socialização do conhecimento entre agricultores, técnicos, estudantes e professores.

Trata-se de uma análise conjunta do agroecossistema/Unidade Familiar de

Produção/Propriedade e normalmente trata-se de temas envolvendo a biodiversidade, os

solos, a água, a comercialização, as organizações da agricultura familiar etc. A intenção

é sensibilizar sobre estas temáticas gerais, e diagnosticar e mapear a realidade da

comunidade local.

É possível também, porém menos comum, o aprofundamento em determinado

tema, já que, ao definirmos o tema e a data do próximo intercâmbio, de acordo com a

demanda dos/as agricultores/as, damos o enfoque e fazemos coletivamente o

aprofundamento.

3. Descrição da experiência

Os Intercâmbios Agroecológicos constituem uma metodologia que articula

diversos procedimentos técnicos para a análise de agroecossistemas, alguns presentes

nos Diagnósticos Rápidos Participativos, como a Caminhada Transversal, e outros já

consagrados na Educação Popular, como os Círculos de Cultura, propostos por Paulo

Freire.

Para a realização dos Intercâmbios ocorre um processo de mobilização da

comunidade/agricultores/as, que antecede o evento e é realizado normalmente pelo STR

ou SINTRAF do município. A mobilização pode ser feita por outras entidades, ou

pessoas, caso o Sindicato não seja parceiro da ação ou não tenha condições de

mobilizar.

Toda a família participa dos intercâmbios: jovens, crianças e adultos. Com

relação à participação das crianças, em alguns casos, faz-se um grupo somente de

crianças, sob a orientação de um ou mais adultos. Com elas desenvolve-se as mesmas

atividades dos adultos, ou outras atividades, como pinturas, jogos educativos, roda de

cirandas, de histórias entre outras.

Os temas abordados nos intercâmbios são definidos coletivamente, de acordo

com as necessidades das famílias agricultoras e em geral relacionam-se ao manejo e

conservação do solo, manejo das plantas espontâneas, adubos verdes, criação,

alimentação e bem-estar animal, sistemas agroflorestais, compostagem, biofertilizantes

e caldas naturais, homeopatia, sementes e variedades crioulas, proteção de nascentes e

mananciais, turismo rural, comercialização e beneficiamento, segurança e soberania

alimentar e nutricional, políticas públicas para o campo, gênero, cultura e cidadania,

agrotóxicos, entre outros.

Os Intercâmbios Agroecológicos iniciam com uma mística (oração, poesia,

dinâmica de grupo etc), normalmente puxada pela comunidade/agricultores/as, e com a

apresentação dos participantes e entidades presentes. Em seguida, a família agricultora

conta a sua história de vida e da propriedade. É neste momento que diversos elementos

do passado são resgatados, tais como cultivos, trabalho, festas, transportes,

concentração fundiária, entre outras. Esta etapa normalmente é muito emocionante e

envolvente. Acrescenta-se ainda, que muitas vezes os próprios filhos não conhecem

muitos aspectos da história familiar, sendo um momento de profundas reflexões. Após a

história de vida e da propriedade da família agricultora todos realizam uma Caminhada

pela propriedade (Figura 1). A intenção é permitir que o grupo conheça o

agroecossistema daquela unidade familiar.

Cada participante deve ter em mãos, ao final da caminhada, um elemento

qualquer que lhe despertou interesse. Ao retornarem ao terreiro da casa, forma-se uma

roda de conversas e cada participante apresenta o elemento, dizendo por que tal

elemento lhe chamou a atenção. Este é um momento de socialização, sendo livre a

manifestação para sugestões e comentários, havendo troca de experiências e vivências.

Desta forma acontece a problematização, e muitas trocas de conhecimentos acontecem.

Além disso, as dúvidas podem ser esclarecidas, como, por exemplo, a partir de

perguntas do por que se manteve uma árvore no meio do cafezal, ou como manejam o

solo entre outras.

Figura 1 - Momento em uma caminhada pela propriedade familiar (Fonte: Fabrício Zanelli).

Os técnicos presentes possuem o importante papel de incentivar ao máximo o

diálogo entre o grupo. Geralmente, esperam pela resposta dos agricultores e, somente na

sequência é que auxiliam nas respostas (Figura 2). Caso seja um tema que gere muitas

dúvidas, recomendasse o aprofundamento da questão em um próximo Intercâmbio.

Existem variações no desenvolvimento da experiência em cada município. Em

alguns casos tal aprofundamento ocorre por meio de oficinas durante os intercâmbios

e/ou em outros momentos, visitas a outras propriedades com maior experiência na

temática, e até cursos. No caso da realização nos intercâmbios, as oficinas são

planejadas para ocorrerem em uma propriedade que já foi visitada. Desta forma, não é

necessário repetir a história da família e, às vezes, também não se realiza a caminhada.

Com isto mais tempo pode ser dedicado às oficinas.

Figura 2- Socialização dos elementos trazidos com a Caminhada pela propriedade (Fonte: Fabrício

Zanelli)

Faz parte da metodologia, ao fim da socialização, a troca de mudas e sementes

entre os/as participantes, e o lanche/merenda agroecológica (mesa da partilha). Para

esses dois momentos, durante a mobilização, os/as participantes são estimulados a

levarem para os intercâmbios sementes e mudas para troca, e também um alimento para

ser partilhado. No momento da partilha cada agricultora ou agricultor apresenta/conta a

história do alimento que trouxe. Os alimentos são um interessante ponto de reflexão,

pois refletem a diversidade cultural, social e ambiental da região. Os alimentos mais

comumente trazidos são feitos com produtos da propriedade ou da comunidade. É um

momento importante em que se relaciona a produção agroecológica com a saúde e com

a segurança alimentar na agricultura familiar.

Após a merenda, ou mesmo antes, são dados os informes e encaminhamentos.

Neste momento é definida a família/propriedade onde irá ocorrer o próximo

Intercâmbio, bem como o dia e a temática, caso existam propostas neste sentido. O

encontro é encerrado também com uma mística (quase sempre de mãos dadas), que

pode ser como no início: uma oração, poesia, dinâmica ou etc. (Figura 3).

Figura 3- Momento da mística de encerramento gerando motivação e união e mesa da partilha ao

centro. (Fonte: Fabrício Zanelli)

Síntese dos passos dos Intercâmbios Agroecológicos da Zona da Mata Mineira:

1. Mobilização

2. Mística de abertura

3. Apresentação dos participantes

4. História da família/comunidade

5. Caminhada pela propriedade e ou oficinas

6. Socialização das observações feitas durante a caminhada

7. Informes e Encaminhamentos

8. Trocas de sementes e mudas

9. Merenda agroecológica

10. Mística de encerramento

3.1. Caracterização considerando os elementos apresentados no item 7 (Critério de

Avaliação) referenciados nos objetivos da PNATER, apresentando o processo e os

resultados alcançados.

Segue abaixo a caracterização da experiência metodológica dos intercâmbios a partir

dos princípios da Pnater:

I - desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização adequada dos

recursos naturais e com a preservação do meio ambiente;

A experiência metodológica dos Intercâmbios Agroecológicos, como o próprio nome já

demonstra, está focada nos princípios da Agroecologia (PNAPO) e do desenvolvimento

rural sustentável, entendendo a transição agroecológica como parte do processo.

II - adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar,

interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a

democratização da gestão da política pública;

A referida metodologia está embasada em metodologias participativas e com enfoques

multidisciplinares já consagrados, como a Travessia ou Caminhada Transversal dos

Diagnósticos Rápidos (ou rurais) Participativos, nos Círculos de Cultura da Educação

Popular de Paulo Freire, e na metodologia “Campesino a Campesino” (CAC). Além

disso, a metodologia está baseada nos princípios da Agroecologia.

III - adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como enfoque

preferencial para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis;

Os princípios da agricultura de base ecológica e da agroecologia já estão presentes não

só nos intercâmbios mas também na missão do CTA-ZM: promover a agroecologia

como ciência, prática e movimento, contribuindo para o fortalecimento das

organizações, a equidade nas relações de gênero e gerações e a melhoria da condição

de vida das famílias agricultoras, em todas as suas dimensões: econômica, social,

ambiental, política e cultural.

VI - equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia;

Em todos os intercâmbios, assim como nos diversos trabalhos do CTA-ZM, a equidade

nas relações de gênero e geração é priorizada. Nos intercâmbios toda a família participa:

jovens, crianças e adultos. Com relação à participação das crianças, em alguns casos,

faz-se um grupo somente de crianças, sob a orientação de um ou mais adultos. Com elas

desenvolve-se as mesmas atividades dos adultos, ou outras atividades, como pinturas,

jogos educativos, roda de cirandas, de histórias entre outras. Como variação do uso da

metodologia, os intercâmbios também podem ser realizados com grupos de mulheres.

V - contribuição para a segurança e soberania alimentar e nutricional.

Essa temática da segurança e soberania alimentar e nutricional, também está presente

nos princípios da agroecologia já adotados por nós. Ainda, os momentos da troca de

sementes e da mesa da partilha que compõe a metodologia dos Intercâmbios

Agroecológicos, além de promover a discussão em torno da segurança e da soberania

alimentar, também estão sendo replicadas por agricultores/as e suas organizações em

outros espaços.

4. Resultados e depoimentos

Os relatórios dos últimos cinco anos mostram a realização de, em média, 25

intercâmbios agroecológicos por ano na Zona da Mata de Minas Gerais, aos quais

compareceu um número médio de 15 a 25 participantes, entre homens, mulheres e

jovens. Quando ocorrem os intercâmbios ampliados (maior número de famílias são

convidadas pelas lideranças da comunidade para participar do intercâmbio) o número de

participantes chega a aproximadamente 150 pessoas. Considerando os 25 intercâmbios

realizados por ano, sendo alguns de natureza ampliada, em torno de 650 participam

desses encontros anualmente (ZANELLI, 2015).

Uma das mais importantes mudanças relatadas é a conscientização. Muitos

participantes relatam a importância dos Intercâmbios, não apenas para conscientizar

sobre os impactos causados pela agricultura convencional (como degradação dos solos,

contaminações causadas por agrotóxicos, vulnerabilidade à propagação de pragas e

doenças), como também a conscientização sobre a importância das práticas

agroecológicas (como a alimentação diversificada para a segurança alimentar e

nutricional, a conservação dos solos e as “interações alelopáticas” entre as plantas, o

controle natural das pragas e doenças, o cuidado com os dejetos humanos e a saúde da

família, as relações de gênero etc).

Em consequência da conscientização, os agricultores também relatam um

conjunto de práticas adotadas como consequência da participação nos Intercâmbios,

especialmente em relação à diversificação dos agroecossistemas. Atualmente as

lavouras agroecológicas de café estão consorciadas com mandioca, bananeiras, árvores

frutíferas e outras árvores responsáveis pelo sombreamento e contribuindo com a

atração de insetos polinizadores, e a ciclagem de nutrientes. Não apenas as lavouras

estão diversificadas, mas também os quintais, pomares e hortas seguem se

diversificando e trazendo excelentes frutos conforme relatou uma agricultora: “A

primeira vez que eu consegui colher as verduras lá de casa e consegui saí da horta com

uma bacia com beterraba, cenoura, cebolinha... uma cabeça de repolho, couve, meu tio

tava até lá em casa fazendo uma varanda eu falei assim: é tio, é maravilhoso plantar,

mas melhor ainda é você poder colher e ver uma diversidade dessa numa bacia assim”.

Tendo em vista o aumento da produção diversificada, os intercâmbios

agroecológicos representaram espaços importantes para os agricultores apresentarem

suas práticas produtivas, consórcios entre as hortaliças, e o uso de caldas,

biofertilizantes e de microrganismos eficientes. Portanto, os intercâmbios são a

oportunidade de um agricultor, com toda a sua experiência, apresentar aos demais os

resultados de seus trabalhos, com potencial de se tornar uma fonte de motivação para

aqueles que o estão visitando. Ao mesmo tempo, a visita de outros agricultores também

motiva a família que está recebendo a ampliar e aperfeiçoar suas práticas, além de

incorporar novos conhecimentos. E como afirmou um agricultor: “Quanto mais

agroecológica é a propriedade, digamos assim, mais prazer sente a pessoa em

compartilhar isso. A gente ganha muito conhecimento com essa área né?”.

No município de Divino-MG, os intercâmbios desdobraram-se em mutirões de

criação animal e de poda dos sistemas agroflorestais. Nos mutirões, um grupo de

agricultores maneja um sistema em conjunto, sendo este também um momento de troca

de conhecimentos das práticas de manejo dos sistemas agroflorestais, de outras áreas do

agroecossistema e até mesmo da criação animal. Os mutirões, com iniciativa e condução

dos próprios agricultores, destacam-se por sua maior autonomia, reduzindo assim a

dependência de técnicos para estarem articulando o movimento nas comunidades.

Além das mudanças no manejo agroecológico nas propriedades, os intercâmbios

agroecológicos também são um espaço de discussões mais amplas, como o acesso às

políticas públicas, a exemplo do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),

do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Programa Nacional do Crédito

Fundiário e do Programa Nacional de Habitação Rural. Em relação ao PAA e PNAE, em

alguns municípios algumas das dificuldades na produção de hortaliças foram superadas

a partir das discussões nos intercâmbios.

Assim, os diferentes momentos dos Intercâmbios Agroecológicos tem sido

estimuladores do diálogo e de trocas de conhecimentos, expressando o seu forte

potencial educativo. Não cabe ao técnico ou do pesquisador o papel de transferir o

conhecimento mas sim de buscar o desenvolvimento de mecanismos que estimulem os

participantes a se expressarem, a exporem suas experiências, em um processo onde a

transferência do conhecimento dá lugar ao diálogo, que requer uma aproximação

dinâmica na direção do objeto (FREIRE, 1983).

5. Potencialidades e limites

O potencial educativo destas experiências é impressionante. A cada encontro os

participantes voltam para casa com cartilhas, sementes e mudas; e, além disso, cheios de

aprendizados novos, construídos ali durante a caminhada pelo cafezal do vizinho, pela

horta, pela cozinha da casa entre outros espaços. Informações e conhecimentos

renovados e aprofundados durante os momentos de socialização são apreendidos mais

facilmente diante de ambientes de sociabilidade, onde a família agricultora dialoga com

outras famílias agricultoras e se veem na experiência uma das outras e exatamente por

isto, reconhecem sua capacidade de experimentar, de praticar, de viver a agroecologia. É

possível afirmar que os Intercâmbios Agroecológicos tem se constituído como uma

importante estratégia educativa, contribuindo com a transformação dos

agroecossistemas, das famílias agricultoras, das paisagens, das relações entre as

comunidades e suas organizações, entre outros. É preciso ouvir, sentir, ver e conhecer

como as famílias agricultoras produzem conhecimento ao manejarem seus

agroecossistemas. É preciso reconhecer que o conhecimento popular, ao ser entrelaçado

ao conhecimento técnico, mediante metodologias que estimulem o diálogo, permite

construir a agroecologia com maior consistência e pujança.

Em relação aos limites, observamos que quando há a necessidade de

aprofundamento em determinados temas os intercâmbios podem não ser a melhor

estratégia, tanto pelo número grande de pessoas que costumam participar como pelo

interesse no aprofundamento de determinados temas. No entanto, é nos intercâmbios

que a necessidade de aprofundamento aparece, e também é nele que pensamos

conjuntamente qual o melhor formato para o aprofundamento, que pode ser um

intercâmbio em outra propriedade com mais experiência no tema ou outro formato

como oficinas e cursos por exemplo.

6. Replicabilidade

A experiência da Zona da Mata tem inspirado outras experiências. Grupos de

agricultores de várias regiões do Brasil visitam a região em busca de aprendizados. Em

outros estados do Brasil (Sergipe, por exemplo) foi iniciada a experiência dos

intercâmbios a partir da experiência na Zona da Mata.

Encorajamos, assim, a todos os técnicos e pesquisadores a incorporarem os

Intercâmbios Agroecológicos como metodologia de trabalho no fortalecimento da

Agroecologia, assim como a incorporação pelas organizações e famílias de agricultores,

como já acontece em alguns municípios como é o caso já citado de Divino-MG.

7. Depoimentos:

- Agricultor (a) familiar, representante da experiência apresentada (já apresentado nos

resultados).

8. Autores e Colaboradores

Autores:

Eugênio Martins de Sá Resende (Eng. Agrônomo. Técnico do Projeto ATER

Agroecologia do CTA-ZM.)

Breno de Mello Silva (Eng. Agrônomo. Coordenador Executivo do CTA-ZM. e

Coordenador do Projeto ATER Agroecologia do CTA-ZM.)

Rafael Mauri (Eng. Agrônomo. Mestre em Fisiologia Vegetal pela UFV.

Bolsista do Projeto ECOAr – Núcleo de Educação do Campo e Agroecologia da UFV.

Chamada 81/2013 CNPq/MDA/MEC/MAPA/MPA/MCTI)

Fabrício Vassalli Zanelli (Geógrafo. Mestre em Educação pela UFV. Bolsista do

Projeto Comboio de Agroecologia do Sudeste. Chamada 81/2013 CNPq/MDA)

Colaboradores:

Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM), Sindicatos de

Trabalhadores Rurais (STRs), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais na

Agricultura Familiar (SINTRAF), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Associações

de Agricultores Familiares, Cooperativas de Crédito Solidário, Associações de Escolas

Famílias Agrícolas, Grupos de Jovens Rurais, Associações de Mulheres Trabalhadoras

Rurais, Cooperativas de Produção, Associações de Terapeutas Naturais e representantes

de Pastorais de Igreja, de Comunidade Quilombola, entre outros.

9. Referências Bibliográficas

CARDOSO I. M., FERRARI E.A. Construindo o conhecimento agroecológico:

trajetória de interação entre ONG, universidade e organizações de

agricultores. Revista Agriculturas, v.3 nº 4. Dezembro de 2006, p.28-32

(disponível: http://agriculturas.leisa.info)

FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 8ª Edição. Rio de Janeiro, Editora Paz e

Terra, 1983.

ZANELLI, F.V.; CARDOSO, I.M.; SILVA, L.H.; MIRANDA, É.L.; SILVA, B.M.;

COSTA, L.S.F. Intercâmbios agroecológicos: processos educativos impulsionando a

agroecologia. Livro MDA (no prelo).

ZANELLI, F.V. Educação do campo e territorialização de saberes: contribuições

dos intercâmbios agroecológicos. Dissertação (Mestrado em Educação). Viçosa:

Universidade Federal de Viçosa, 2015. 146p.