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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL
Aniel Luna de Lima Chagas Musa
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE in vitro DE FRAÇÕES DO VENENO DE Bothrops
jararaca CONTRA Plasmodium falciparum
Porto Velho (RO)
2018
Aniel Luna de Lima Chagas Musa
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE in vitro DE FRAÇÕES DO VENENO DE
Bothrops jararaca CONTRA Plasmodium falciparum
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Biologia
Experimental - PGBIOEXP da
Universidade Federal de Rondônia -
UNIR como pré-requisito para a
obtenção do título de Mestre em
Biologia Experimental.
Orientador: Prof. Dr. Andreimar Martins
Soares
Porto Velho (RO)
2018
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AGRADECIMENTOS
À minha família, em especial ao Ian, meu irmão e orgulho.
À minha namorada, Júlia, por ser a melhor parceira de trabalho e um estímulo
para crescer.
Ao meu orientador, Dr. Andreimar Soares, por ser o exemplo de dedicação que
motiva a todos do laboratório.
Ao Dr. Kayano, pelas conversas e orientações durante o desenvolvimento
deste projeto.
À Drª. Carolina Bioni, chefe da Plataforma de Bioensaios de Malária e
Leishmaniose (Fiocruz), por ser uma pessoa atenciosa e gentil com todos ao
seu redor, além de fornecer os dados de atividade biológica deste trabalho.
Aos amigos e colegas integrantes do grupo CEBio. Em especial ao Ygor, Roni,
Ana, Johnny, Clara, Cláudia e Aleff. Mais especialmente ao Anderson e Jorge,
que contribuíram mais diretamente com o trabalho
Ao Passarini, pela amizade sincera e pela ajuda na confecção deste
manuscrito.
Aos amigos antigos, mas não menos importantes em minha caminhada. Os
“Homens do Alabama”: Saíd, João, Dandhi, Júnior, Késid, Paulo, Sony,
Portuga, Jairo e Wesley.
À Paula Azevedo e demais alunos e técnicos da Plataforma de Bioensaios
contra Malária e Leishmaniose, por participarem da produção dos resultados de
atividade antiplasmodial, citotoxicidade e hemólise utilizados neste trabalho.
Ao Dr. Leonardo Calderon, pelos ensinamentos e incentivo na reta final deste
trabalho.
Aos professores do PGBIOEXP, por me proporcionarem acesso às riquezas do
conhecimento.
Aos funcionários da UNIR e Fiocruz, por manterem a estrutura necessária para
o desenvolvimento deste estudo.
Aos órgãos financiadores que possibilitaram o desenvolvimento deste projeto,
Capes, Cnpq, Finep e Fapero.
RESUMO
A malária é uma doença parasitária que afeta grande parte da população mundial. O complexo ciclo de vida do Plasmodium sp. é um fator que dificulta o desenvolvimento de novas terapias e vacinas eficazes contra esta enfermidade. Além disso, o surgimento de resistência aos fármacos antimaláricos ressalta a importância da investigação de novas substâncias antiplasmodiais. Dentro desse contexto, os compostos naturais representam fontes ricas em moléculas bioativas, o que justifica a sua prospecção em busca de agentes terapêuticos. Os venenos ofídicos são produtos da biodiversidade que concentram grande variedade de moléculas com potencial utilização farmacológica. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi testar in vitro o veneno de Bothrops jararaca e frações proteicas deste material contra formas sanguíneas do P. falciparum. Inicialmente, a peçonha foi submetida à separação por cromatografia líquida de exclusão molecular em resina Superdex G-75, o que gerou 10 frações denominadas de P1g – P10g. Os testes biológicos revelaram a presença de atividade sobre P. falciparum (cepa W2) nas frações P2g, P3g, p4g e p5g (com IC50 variando de 0,1 a 0,59 µg/mL), tendo a fração P2g demonstrado a maior atividade antiplasmodial. Esta fração foi novamente fracionada por cromatografia líquida de troca aniônica em resina Capto-Q ImpRes, sendo obtidas mais cinco frações (P1q - P5q). As quatro últimas foram testadas contra o parasito e se mostraram ativas (com IC50 variando de 0,09 a 0,31 µg/mL). A fração mais potente (P3q) apresentou IC50 médio de 0,09 µg/mL; CC50 sobre células HepG2 maior que 10 µg/mL e índice de seletividade >111. Esta fração não se mostrou hemolítica na concentração de 10 µg/mL e a sua caracterização enzimática demonstrou a existência de dois possíveis componentes majoritários, fosfolipases A2 e uma protease, que podem ter atuada contra o parasito de forma isolada, sinérgica ou aditiva. A fração P3q foi submetida a cromatografia de fase reversa em resina C18 – Discovery, que gerou a separação dos dois grupos majoritários que a compunha. Testes antiplasmodias com estes grupos isolados são necessários para elucidar a forma de atuação antiplasmodial da fração P3q. O presente trabalho revelou a potencial atividade antiplasmodial do veneno de B. jararaca, ressaltando a capacidade antiparasitária contida nas classes de PLA2 e proteases testadas.
Palavras-chave: Malária. Bothrops jararaca. Bioprospecção. Fosfolipase A2.
Protease.
ABSTRACT
Malaria is a parasitic disease that affects great part of the world population. The complex life cycle of Plasmodium spp. difficults the development of new therapies and efficient vacines against this illness. Moreover, resistance to antimalarial drugs highlights the importance of investigating new antiplasmodial substances. Within this context, natural compounds represent rich sources of bioactive molecules, justifying its screening in a search for therapeutic agents. Snake venoms are products of the biodiversity which concentrate a wide variety of molecules bearing potential pharmacological activities. Thus, this study aimed at evaluating the in vitro antiplasmodial activity of B. jararaca crude venom and its protein-rich fractions against erythrocytic forms of P. falciparum. Initially, the venom was subjected to separation via molecular exclusion chromatography on a Superdex G-75 column, generating 10 fractions named P1g – P10g. The biological assays showed that the fractions P2g, P3g, P4g and P5g (IC50 ranging from 0.1 to 0.59 µg/mL) were active against the W2 strain of P. falciparum, with P2g being the most actively fraction. This fraction was further partitioned by anion exchange chromatography on a Capto-Q ImpRes column, generating five fractions (P1q - P5q). The latter four fractions were then screened against P. falciparum, with all of them presenting activity (IC50 ranging from 0.09 to 0.31 µg/mL). The most actively fraction (P3q) presented an average IC50 = 0.09 µg/mL; CC50 against HepG2 cells > 10 µg/mL and Selectivity Index >111. This fraction was not found to be hemolytic at 10 µg/mL. Its enzymatic characterization demonstrated the presence of two possible major compounds: phospholipases A2 and a protease, which could have interfered in the parasite’s life cycle additively, sinergystically or separately. The fraction P3q was subjected to reverse phase chromatography on a C18 – Discovery column, which separated the two groups of major compounds that constituted the fraction. Antiplasmodial assays using these two isolated groups are necessary to unravel the antiplasmodial action of fraction P3q. The present study revealed the antiplasmodial activity of the B. jararaca venom, emphasizing the antiparasitic potential of the evaluated PLA2 and protease classes.
Keywords: Malaria. Bothrops jararaca. Screening. Phospholipase A2. Protease.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ciclo de vida de espécies de Plasmodium causadoras de malária em
humanos ......................................................................................................... 12
Figura 2 - Citoaderência de hemácias infectadas por P. falciparum ................ 16
Figura 3 - Mapa de distribuição da Malária ..................................................... 19
Figura 4 - Bothrops jararaca ............................................................................ 29
Figura 5 - Principais constituintes do veneno da B. jararaca ........................... 33
Figura 6 - Perfil cromatográfico do veneno de B. jararaca por exclusão
molecular Superdex (G-75) ............................................................................. 41
Figura 7 - Perfil eletroforético em SDS-PAGE das frações obtidas a partir da
cromatografia de exclusão molecular do veneno de B. jararaca ..................... 42
Figura 8 - Curvas de dose e resposta das frações P2g, P3g, P4g e P5g ........ 44
Figura 9 - Perfil cromatográfico da fração P2g em coluna de troca anônica
Hitrap Capto- Q ImpRes .................................................................................. 45
Figura 10 - Perfil eletroforético em SDS-PAGE das frações obtidas por
cromatografia de troca aniônica ...................................................................... 46
Figura 11 - Eletroforese SDS Page (15%) das frações P3q, P4q e P5q .......... 47
Figura 12 - Atividade fibrinogenolítica das frações P2q, P3q e P1c................. 48
Figura 13 - Atividade fosfolipásica das frações P2q, P3q, P4q e P5q ............. 49
Figura 14 - Atividade antiplasmodial da fração P3q ........................................ 50
Figura 15 - Atividade antiplasmodial da fração P4q ....................................... 51
Figura 16 - Atividade antiplasmodial da fração P5q ........................................ 52
Figura 17 - Atividade antiplasmodial da artemisinina ...................................... 53
Figura 18 - Teste de hemólise das frações P3q e P5q .................................... 55
Figura 19 - Cromatografia de fase reversa (C18 - Discovery) da fração P3q .. 56
Figura 20 - Cromatografia de fase reversa (C18 – Discovery) da fração P3c .. 57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Características de parasitemia das cinco espécies causadoras da
malária humana .............................................................................................. 17
Tabela 2 - Principais grupos e exemplos de drogas antimaláricas .................. 21
Tabela 3 – Diversidade funcional de svPLA2 ................................................... 26
Tabela 4 - Fármacos derivados de venenos de serpentes comercializadas e em
fases de teste. ................................................................................................. 28
Tabela 5 - Atividade antiplasmodial em cepas W2 do veneno de B. jararaca e
frações geradas a partir de cromatografia de exclusão molecular, determinada
pelo método de Sybr Green ............................................................................ 43
Tabela 6 - Atividade antiplasmodial das frações obtidas por troca aniônica,
determinada pelo método Sybr Green ............................................................ 50
Tabela 7 - Citotoxicidade de frações do veneno de B. jararaca, determinada
pelo método colorimétrico MTT ....................................................................... 53
Tabela 8 - Índice de Seletividade das frações P3q e P5q ............................... 54
Tabela 9 - Venenos botrópicos testados in vitro contra formas sanguíneas de P.
falciparum ....................................................................................................... 58
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AMBIC – Bicarbonato de amônio
CEBio - Centro de Estudo de Biomoléculas Aplicadas à Saúde
BSA – Soro fetal bovino
NH4HCO3– Bicarbonato de amônia
mM– Milimolar
pH – Potencial hidrogeniônico
nm – Nanomolar
kDa – Quilo-dálton
RPMI – Royal Park Memorial Institute
SYBR Green -SYBR® Green Master Mix
PBS - Phosphate Buffer Solution
HPLC – High Performance Liquid Chromatography
IC50 - Concentração de inibição de 50% do crescimento parasitário
CC50 – Concentração citotóxica para 50% da população de células
IS – Índice de Seletividade
SDS – Sodium Dodecyl Sulfate
MTT - 3-(4,5-dimetiltiazol-2il)-2,5-difenil brometo de tetrazolina
PBML – Plataforma de Bioensaios contra Malária e Leishmaniose - Fiocruz
P1g – Fração 1 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P2g - Fração 2 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P3g - Fração 3 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P4g - Fração 4 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P5g - Fração 5 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P6g - Fração 6 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P7g - Fração 7 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P8g - Fração 8 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P9g - Fração 9 obtida por cromatografia de exclusão molecular
P10g - Fração 10 obtida por cromatografia de exclusão molecular
PM – Padrão molecular
P1q – Fração 1 obtida por troca iônica
P2q – Fração 2 obtida por troca iônica
P3q – Fração 3 obtida por troca iônica
P4q – Fração 4 obtida por troca iônica
P5q – Fração 5 obtida por troca iônica
PfEMP1 - Plasmodium falciparum erythrocyte membrane protein 1
PLA2 – Fosfolipase A2
VB - Veneno Bruto
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 11
1.1. Malária .................................................................................................. 11
1.1.1. Introdução à malária ....................................................................... 11
1.1.2. Epidemiologia da malária ................................................................ 17
1.2. Quimioterapia da malária ................................................................... 20
1.2.1. Fármacos utilizados no tratamento da malária ................................ 20
1.2.2. Resistência ..................................................................................... 22
1.3. Venenos ofídicos como fonte de novas terapias ............................. 25
1.4. Bothrops jararaca ............................................................................... 29
1.4.1. Biologia de B. jararaca .................................................................... 29
1.4.2. Proteômica do veneno de B. jararaca ............................................. 29
2. OBJETIVOS ............................................................................................... 33
2.1. Objetivo geral ..................................................................................... 33
2.2. Objetivos específicos ......................................................................... 34
3. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 34
3.1. Obtenção do veneno........................................................................... 34
3.2. Cromatografia de exclusão molecular - Superdex G-75 .................. 34
3.3. Cromatografia de troca aniônica – CaptoQ ImpRes ........................ 35
3.4. Cromatografia de fase reversa – C18 Discovery .............................. 35
3.5. Dosagem de amostras ........................................................................ 35
3.6. Análise eletroforética monodimensional (sds-page)........................ 36
3.9. Testes antimaláricos in vitro contra P. falciparum ........................... 37
3.9.1. Cultivo contínuo da fase eritrocítica do parasito .............................. 37
3.9.2. Sincronização dos parasitos para utilização nos testes in vitro ....... 38
3.9.3. Preparo das placas para os ensaios de quimioterapia .................... 38
3.9.4. Teste de avaliação da atividade antimalárica por Sybr Green ........ 39
3.9.5. Determinação da concentração inibitória de 50% do crescimento do
parasito (IC50) ........................................................................................... 39
3.10. ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE IN VITRO PELO MÉTODO DO MTT
.................................................................................................................... 39
3.11. Índice de seletividade ....................................................................... 40
3.12. Ensaio de hemólise........................................................................... 40
3.13. Análise estatística ............................................................................. 40
4. RESULTADOS ........................................................................................... 41
4.1. Fracionamento do veneno por cromatografia de exclusão molecular
.................................................................................................................... 41
4.2. Eletroforese monodimensional (SDS - PAGE) das frações de
exclusão molecular.................................................................................... 41
4.3. Atividade antiplasmodial das frações de exclusão molecular do
veneno de B. jararaca ................................................................................ 43
4.4. Cromatografia de troca aniônica – HiTrap Capto Q ImpRes ............ 44
4.5. Perfil eletroforético da cromatografia de troca iônica...................... 45
4.8. Atividade antiplasmodial das frações de troca iônica .................... 49
4.7. Atividade citotóxica das frações de troca iônica .............................. 53
4.8. Índice de seletividade (IS) .................................................................. 54
4.9. Ensaios de hemólise.......................................................................... 54
5. DISCUSSÃO ............................................................................................... 58
6. CONCLUSÃO ............................................................................................. 70
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 71
ANEXO 1 – Aprovação do IBAMA para a implantação do banco de
venenos do CEBio. ....................................................................................... 87
ANEXO 2 – Autorização de acesso ao patrimônio genético – CGEN. ....... 88
ANEXO 3 - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP. ............... 89
ANEXO 4 – Resultados de atividade in vitro contra Leishmania
amazonenses das frações de exclusão molecular do veneno de B.
jararaca. ......................................................................................................... 90
11
1. INTRODUÇÃO
1.1. Malária
1.1.1. Introdução à malária
A malária é a doença parasitária de maior importância médica nas
regiões tropicais e subtropicais do planeta (WHITE et al., 2014). Esta e as
demais doenças parasitárias afetam grande parte da população mundial e
atuam como limitantes naturais da qualidade de vida e desenvolvimento de
muitos países.
As protozooses são comuns em países subdesenvolvidos, nos quais o
nível de escolaridade e saneamento básico é baixo. Atualmente, a malária
ocorre em mais de 90 países, sendo considerada pela Organização Mundial da
Saúde uma das 10 principais causas de morte no mundo (WHO, 2016).
A malária é transmitida aos humanos por mosquitos que fazem parte da
família Culicidae e se agrupam dentro do gênero Anopheles. Nas Américas
destacam-se An. darlingi; An. aquasalis; An. albimanus; e An.
pseudopunctipennis como principais transmissores da doença aos humanos
(FORATTINI, 2002). Outras dez espécies têm importância médica em
diferentes regiões, como o An. gambiae, o principal vetor do continente africano
(SINKA et al., 2010).
Os protozoários que causam a doença pertencem ao gênero
Plasmodium, que contem aproximadamente 100 espécies (REY, 2008), sendo
que cinco apresentam relevância médica ao infectar humanos: P. falciparum,
considerado o mais virulento, sendo o maior causador de morte por malária
(WHO, 2016); P. vivax, o mais incidente no Brasil; P. malariae; P. ovale, e P.
knowlesi. Este último foi originalmente descrito como parasita exclusivo de
macacos asiáticos, mas recentemente se mostrou relacionado com infecções
em humanos (WHO, 2016).
A biologia destes protozoários é norteada por um intrincado ciclo
heteroxênico de parasitismo, no qual participam: seres humanos, hospedeiros
intermediários (que sustentam a fase de multiplicação assexuada e o início da
multiplicação sexuada); e mosquitos Anopheles fêmeas, hospedeiros
12
definitivos, nos quais o parasito completa seu ciclo sexuado. A figura 1 resume
as formas de vidas e etapas deste ciclo (CDC, 2014).
Figura 1 - Ciclo de vida de espécies de Plasmodium causadoras de malária em humanos
Ciclo do parasito da malária: Esquema destacando o início da infecção por Plasmodium sp. a partir da alimentação de uma fêmea infectada de anofelino, suas diversas fases de desenvolvimento nas células hepáticas durante o ciclo exo-eritrocitário, a instalação do parasita nas células vermelhas do sangue, com suas fases de desenvolvimento durante o ciclo eritrocitário, formação de gametócitos e reinfecção do inseto vetor. Fonte: Adaptado de CDC (2016).
Após a picada do mosquito, as formas infectantes para os humanos
instalam-se no hospedeiro. Estas formas, os esporozoítos, ao entrarem na
corrente sanguínea, levam em média 30 minutos para chegar ao fígado, órgão
no qual o protozoário desenvolve seu ciclo exoeritrocítico (ALY; VAUGHAN;
KAPPE, 2009).
As células hepáticas são parasitadas e utilizadas como fonte de abrigo e
alimento nessa etapa (STANWAY et al., 2011). Nesse ambiente se inicia o
processo de divisão por esquizogonia (hepática), dando origem às formas
merozoíticas, que rompem os hepatócitos e retornam para a corrente
sanguínea.
13
Na etapa hepática, P. vivax e P. ovale são espécies capazes de se transformar
na forma latente hipnozoíta, que se mantém no fígado e, se não combatida,
pode causar reinfecções (CDC, 2014).
Os merozoítos liberados do fígado são adaptados ao parasitismo de
hemácias. Ao invadir os eritrócitos e consumir seu conteúdo, os merozoítos
promovem modificações na estrutura da membrana celular hospedeira, que
facilitam a importação de nutrientes (WHITE, 2014). Depois da invasão, se
diferenciam em formas trofozoíticas, havendo um aumento da quantidade de
ribossomos e da síntese de proteínas. Este processo é dependente do
consumo da hemoglobina da célula parasitada (TILLEY; DIXON; KIRK, 2011).
O processo de divisão por esquizogonia (agora eritrocítica) se inicia,
gerando a forma esquizonte eritrocítica, que ao completar o processo
esquizogônico forma novos merozoítos. Estes rompem a hemácia e infectam
novos eritrócitos (KOCH; BAUM, 2016). A duração e periodicidade do ciclo
eritrocítico do parasito resultará nos quadros clínicos típicos da malária
(GAZZINELLI et al., 2014).
Durante o ciclo eritrocítico também há a geração de formas
gametocíticas. Por estímulos desconhecidos, trofozoítos imaturos diferenciam-
se em macrogametócitos (femininos) e microgametócitos (masculinos). Estas
são as formas infectantes para os mosquitos (KARUNAJEEWA; MUELLER,
2016).
No vetor invertebrado se dá o ciclo sexuado do parasita, que começa
durante o repasto sanguíneo, quando a fêmea anofelina suga formas
gametocíticas junto ao sangue do qual se alimenta (CDC, 2014). As outras
formas parasitárias, que causariam a doença nos humanos, não podem
sobreviver no estômago do mosquito, sendo digeridas com o restante do
sangue.
O gameta masculino passa por exoflagelação, formando de 6 a 8
microgametas, enquanto o gameta feminino transforma-se em um
macrogameta. Os gametas diferenciados fundem-se no interior do intestino do
inseto, dando origem a um zigoto amebóide, o oocineto, que invade o epitélio
intestinal e diferencia-se em oocisto. Este dá origem a inúmeros esporozoítos,
que migrarão para as glândulas salivares do Anopheles à espera do próximo
repasto sanguíneo (KARUNAJEEWA; MUELLER, 2016).
14
Quanto aos aspectos clínicos, muitos sintomas podem ser associados à
malária, que pode gerar desde quadros inespecíficos e pouco aparentes, até
doença grave com risco de morte (TUTEJA, 2007). Os sintomas são, em sua
maioria, associados ao final da divisão esquizogônica eritrocítica do parasito.
Nesta fase, numerosas substâncias residuais e fatores tóxicos presentes nas
hemácias são liberados na corrente sanguínea em razão da hemólise causada
pelos merozoítos (WHITE, 2014).
O acesso malárico caracteriza-se basicamente por três etapas: 1-
Aumento da temperatura corporal seguida da sensação de frio intenso,
geralmente associada à palidez; 2- Estabelecimento de febre alta (39 – 40 ºC),
calor e forte dor de cabeça; 3- Sudorese, decaimento da temperatura corporal e
sensação de alívio pelo paciente. Sintomas menos comuns são diarreias,
náuseas e vômitos. Em casos graves, pode haver anemia, falência renal,
insuficiência respiratória, acidose, estado de coma e até óbito (WHO, 2015).
1.1.2 Malária grave
A malária grave é uma emergência médica de alto risco. Diversas
variáveis influenciam para o desenvolvimento desta forma da doença. Dentre
elas, a espécie do parasito causador da infecção, os níveis de imunidade inata
e adquirida do paciente, tempo e eficácia do tratamento antimalárico, além de
fatores de risco como gravidez, idade menor que cinco anos e doenças
imunossupressoras. Apesar das espécies P. vivax e P. knowlesi também serem
capazes de desencadear formas graves de malária, a grande maioria dos
casos severos da doença são relacionados às infecções por P. falciparum
(WHO, 2014).
A maior virulência nas infecções por P. falciparum se deve a
características peculiares da espécie durante seu ciclo sanguíneo. Uma delas é
que as hemácias parasitadas por P. falciparum não permanecem na circulação
durante todo o ciclo de vida do parasito (ANTINORI et al., 2012). Após cerca de
24 horas da invasão dos eritrócitos, estas células se encontram aderidas aos
endotélios da microcirculação de diversos órgãos (KYES; HORROCKS;
NEWBOLD, 2001).
A fixação no sistema vascular é uma estratégia do parasito de fuga ao
sistema imune. Com a presença de proteínas aderentes com alta variação, as
15
hemácias infectadas aglomeram-se e se prendem na microcirculação,
garantindo a sua não destruição pelo baço (CRANSTON et al., 1984). Além
disso, os aglomerados de hemácias aumentam o contato dos parasitos com
eritrócitos não infectados (ROWE et al., 2012).
A expressão de proteínas de citoaderência em hemácias infectadas por
P. falciparum gera o sequestro das células nos endotélios. Entre proteínas
polimórficas de várias famílias, a família Erythrocyte Membrane Protein-1
(PfEMP1) é uma das principais envolvidas na aderência das hemácias
infectadas (HVIID; JENSEN, 2015).
Cada parasita contém aproximadamente 60 cópias variantes do gene
(Var) que codifica a PfEMP1, sendo uma cópia expressa de cada vez.
Modificações epigenéticas garantem a expressão concomitante de formas
alternativas desta proteína em subpopulações do parasito. Isso garante o
reestabelecimento da infecção à medida que surgem anticorpos para a versão
preponderante da PfEMP1 que é combatida (HVIID; JENSEN, 2015).
Diferentes fenótipos de ligação causam o sequestro das hemácias nas
redes capilares de diferentes órgãos, o que gera os variados quadros de
malária grave, como a malária cerebral e pulmonar, em que órgãos vitais
sofrem com obstruções em sua microvascularização e consequente hipóxia
(WHO, 2014). Além disso, a liberação concentrada de toxinas acumuladas nas
hemácias pode desencadear uma resposta imune focada, com aumento da
presença de mediadores pró-inflamatórios e consequentes danos teciduais
(ROWE et al., 2012).
Além da adesão aos endotélios, hemácias infectadas se aderem a
hemácias não infectadas, gerando aglomerados celulares chamados de
rosetas. Esta aglomeração pode ser mediada unicamente pelas proteínas de
citoaderência ou também com a participação de plaquetas (Figura 2) (ROWE et
al., 2012).
16
Figura 2 - Citoaderência de hemácias infectadas por P. falciparum
(a) Mecanismos de adesão de eritrócitos infectados por P. falciparum a diferentes células do hospedeiro. (B) Citoaderência de eritrócitos infectados por P. falciparum em culturas in vitro de células endoteliais cerebrais. Visualizado por meio de microscopia ótica de lâminas coradas com giemsa. (c) Rosetas detectadas em culturas in vitro de P. falciparum, visualizadas em microscopia óptica de lâminas coradas com giemsa. (d) Agregação de eritrócitos infectados mediada por plaquetas formadas pela incubação in vitro da cultura de parasitas e plaquetas. Visualização em microscopia óptica em lâminas coradas com giemsa. Fonte: adaptado de Rowe et al (2012).
Em P. falciparum, essa estratégia é tão bem desenvolvida que apenas
eritrócitos infectados com formas jovens do parasita são encontrados na
circulação periférica, um fato descoberto há mais de 100 anos
(MARCHIAFAVA, 1894). Isso demonstra que as formas adultas se encontram
todas sequestradas nos capilares de diversos tecidos, para assim completar o
restante das 48 horas do seu ciclo assexuado (MAC PHERSON et al., 1985).
17
Outra característica que torna o P. falciparum a espécie mais virulenta
de seu gênero é sua competência em infectar hemácias de todas as idades
(Tabela 1). Diferente de outras espécies, como o P. vivax, que infecta apenas
hemácias jovens, ou o P. malariae, que parasita apenas as hemácias maduras,
o P. falciparum ataca todos os eritrócitos. Essa aptidão é uma das
responsáveis pela alta densidade de parasitas por μL no sangue dos pacientes,
o que gera parasitemias de até dois milhões de parasitas por μL (ANTINORI et
al., 2012).
Tabela 1 - Características de parasitemia das cinco espécies causadoras da malária humana
Característica P. falciparum P. knowlesi P. malariae P. ovale P. vivax
Hemácias afetadas
Todas Todas Hemácias maduras
Reticulócitos Reticulócitos
Parasitemia por µL
Média Máxima
20.000-500.000 2.000.000
600-10.000 236.000
6000 20.000
9000 30.000
20.000 100.000
Infecções por P. falciparum podem chegar a parasitemia de até dois milhões de parasitas por μL. Fonte:
Adaptado de Antinori et al. (2012).
1.1.2. Epidemiologia da malária
A pobreza é o maior fator de risco para a malária (LUCAS;
MCMICHAEL, 2005). Cerca de 85% dos infectados por malária são analfabetos
ou possuem apenas educação básica. Em regiões afastadas e sem acesso
adequado à saúde pública, a população mais pobre padece com uma doença
infecciosa evitável e curável (SARGOLZAIE; KIANI, 2014).
Praticamente todas as regiões tropicais e subtropicais do planeta
representam áreas de risco para malária (CDC, 2016). Os principais focos da
doença se encontram na região subsaariana da África, na Ásia e América do
Sul. Atualmente, com 91 países endêmicos para a malária (Figura 3), cerca de
40% da população mundial se encontra em áreas de risco.
No levantamento mais atual da OMS, o ano de 2015 registrou 214
milhões de casos no mundo, dos quais 438 mil evoluíram até a morte.
Aproximadamente 80% das mortes por malária concentram-se em apenas 15
países, a maioria africanos. As crianças menores de cinco anos são as
18
principais vítimas e ainda morrem diariamente pela infecção no continente
africano (WHO, 2016).
Os números epidemiológicos alarmantes podem estar sendo
significativamente subestimados devido à dificuldade em coletar e sistematizar
os dados clínicos desta doença (HAY et al., 2010). Porém, apesar da malária
ainda ser uma doença de alta mortalidade e morbidade, o panorama desde
problema mundial de saúde vem melhorando.
O relatório de 2015 da OMS marcou o fim de um ciclo de políticas
públicas de saúde que resultou em um decréscimo de 60% no número de
mortes por malária em 15 anos. Dentro destes 15 anos, houve uma queda
generalizada no número de incidência de malária e até mesmo a erradicação
da doença em alguns países antes endêmicos (WHO, 2015).
Medidas relativamente simples, como o investimento em telas e
mosquiteiros com inseticidas de longa duração e a utilização em massa de
quimioterapias efetivas (terapias baseadas em combinações de derivados de
artemisinina - ACTs) receberam a maior parte do valor arrecadado para o
combate da malária (MARSH, 2016).
Tal melhora demonstra que a malária é uma doença eliminável e que a
meta de erradicação depende de políticas públicas de investimento. Dentro
desta perspectiva, a OMS lançou um programa de erradicação da malária
vigente de 2016 a 2030, que tem como objetivo para a última data reduzir em
90% a incidência global da malária. A empreitada tem como pilares o aumento
de investimento dos países endêmicos no combate à doença e utilização
correta de fármacos efetivos (WHO, 2015).
19
Figura 3 - Mapa de distribuição da Malária
Fonte: Adaptado de WHO (2016a).
No Brasil, a malária é um problema grave de saúde pública que afeta
toda a região da Amazônia legal (Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato
Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). Essa região concentra cerca
de 90% dos casos da doença no país. Diferente da África, no Brasil
predominam os casos de malária por P. vivax (cerca de 84%), seguidos pelo P.
falciparum (cerca de 16%) e P. malariae (menos de 0,1% de casos
documentados) (FERREIRA; CASTRO, 2016).
Em 2016 foram registrados cerca de 129 mil casos da doença no Brasil.
Este ano apresentou o menor número de relatos em 37 anos (BRASIL, 2015).
Porém, recentemente uma tendência epidemiológica negativa vem se
estabelecendo no Brasil. O ano de 2017 apresentou um aumento de 51% no
número de casos em relação à 2016. Quando comparados os dados obtidos
até março de 2018, percebe-se que a tendência de aumento dos casos se
preserva (SIVEP, 2018). Esse aumento revela a necessidade contínua de
políticas públicas e ações conjuntas entre governo federal, estadual e municipal
para o combate à malária no Brasil.
Rondônia se encontra na região oeste da bacia amazônica e neste
estado foram relatados 7482 casos de malária em 2015 (BRASIL, 2015). As
áreas mais afetadas pela doença são as situadas aos redores dos rios
20
Madeira, Jamari, Candeias e Machado. Em 2015 foram registrados na capital
3.604 casos (BRASIL, 2015), sendo que nas zonas ribeirinhas o número de
pacientes assintomáticos chega a ser cinco vezes superior aos casos
sintomáticos (TADA et al., 2012).
1.2. Quimioterapia da malária
1.2.1. Fármacos utilizados no tratamento da malária
A quimioterapia da malária é um dos pilares que sustenta o combate à
doença. Junto ao controle do mosquito vetor e diagnóstico adequado, o
tratamento quimioterápico é uma ferramenta indispensável na prevenção e
tratamento da malária (WHO, 2010). Seu arsenal conta com substâncias que
atacam o parasita em uma ou mais fases do seu ciclo de vida (BRASIL, 2010):
i) Fármacos que atacam a forma esquizogônica hepática, inibindo o
ciclo exoeritrocítico do parasita e recaídas da doença;
ii) Fármacos que atacam as formas intraeritrocitárias do parasita,
interrompendo o ciclo sanguíneo e combatendo os sintomas clínicos
da doença;
iii) Fármacos que atuam sobre os gametócitos, interrompendo a
infecção de novos vetores da doença.
Os fármacos que combatem as formas eritrocitárias do parasita são
classificados de acordo com suas funções e grupos químicos em: 4-
aminoquinolinas, endoperóxidos, arilaminoalcoóis, antifolatos, antibióticos e
inibidores da cadeia respiratória (DELVES et al., 2012). A tabela 2 resume os
grupos com seus principais exemplos de fármacos comercializados.
21
Tabela 2 - Principais grupos e exemplos de drogas antimaláricas
Quinina
Cloroquina
Amodiaquina
Fluoroamodiaquina
Piperaquina
4-aminoquinolinas
Mefloquina Arilaminoálcoois
Artemisinina
Diidroartemisinina
Arteméter
Arteéter
Artesunato
Endoperóxidos
Lapachol
Atavaquona Inibidores da cadeia de
transporte de elétrons
Lincomicina
Clindamicina Antibiótico
Eritromicina
Azitromicina Antibiótico
Minociclina
Doxicilina Antibiótico
Fonte: Adaptado de Fernández-Álvaro et al. (2016).
22
A artemisinina e seus derivados compõem as drogas antimaláricas mais
rápidas em diminuir a parasitemia nos pacientes. A ação rápida sobre as
formas sanguíneas torna estas drogas importantes ferramentas no controle dos
sintomas da doença (WOODROW; HAYANES; KRISHNA, 2005). Sua
importância para a quimioterapia da malária é tanta que o prêmio nobel de
medicina de 2015 foi para um dos envolvidos na descoberta deste fármaco
(HANBOONKUNUPAKARN; WHITE, 2016)
Os tratamentos atuais recomendados pela OMS baseiam-se em
combinações de drogas baseadas em artemisinina. Com a combinação, fases
diferentes do ciclo evolutivo do parasito podem ser inibidas e o tratamento mais
efetivo diminui o surgimento de resistência (WHO, 2016). As combinações mais
comuns utilizadas no tratamento de malária não complicada são: lumefantrina e
arteméter (Quartem); artesunato e amodiaquina (Coarsucam); artesunado e
mefloquina; diidroartemisinina e piperaquina (WHO, 2010).
Apesar da aparente diversidade de substâncias disponíveis para o
tratamento da malária, a capacidade dos parasitas de desenvolver resistência
explica o grande desafio presente na terapêutica desta doença. O
desenvolvimento de drogas antimaláricas eficazes e seguras remonta um
histórico de ciclos de esperanças seguidos por desilusão (VALE et al., 2005).
1.2.2. Resistência
O P. falciparum desenvolveu níveis de resistência a todos os fármacos
antimaláricos sintéticos, incluindo, mais recentemente, a artemisinina e seus
derivados (WHO, 2016). O surgimento de resistência a artemisinina gera
grande preocupação aos órgãos mundiais de saúde, já que a utilização de
ACTs (terapias baseadas em combinações de derivados de artemisinina) é um
dos pilares no combate atual à doença (DONDORP et al., 2017).
A utilização dos ACTs foi citada pela OMS (2016) como uma das
principais ferramentas utilizadas na redução de 60% do número de mortes por
malária no mundo. O risco de que as cepas resistentes à artemisinina irradiem-
se pelo globo representa uma ameaça às conquistas alcançadas contra essa
doença.
23
Como exemplo das consequências desta ameaça, tem-se o histórico da
cloroquina, um antimalárico sintético que foi largamente utilizado como primeira
linha de combate à doença, mas que hoje apresenta eficácia reduzida contra P.
falciparum. Em conjunto da utilização indiscriminada do inseticida DDT
(dichloro-diphenyl-trichloroethane), este fármaco foi um dos responsáveis pela
eliminação da malária na Europa, EUAs e outros regiões do planeta na década
de 1970 (BUNNAG; HARINASUTA 1987). Entretanto, a resistência dos
parasitas a esta droga emergiu quase simultaneamente no sudeste asiático
(Tailândia – 1957) (HARINASUTA; MIGASEN; BUNNAG, 1962) e na América
do Sul (Colômbia – 1959) (MOORE; LANIER, 1961).
A resistência se espalhou pelas regiões de origem até chegar ao litoral
leste da África em 1978 (CAMPBELL et al., 1979). Em 14 anos, espalhou-se
por todo o continente, gerando um grande custo à vida humana. O número de
mortes por malária no mundo aumentou nos anos 1980 até alcançar um novo
pico em 2004 (MURRAY et al., 2012). A resistência à cloroquina então se
espalhou por todo o mundo de forma a reproduzir quase fielmente a dispersão
dos parasitas (WERNSDORFER; PAYNE, 1991).
As terapias baseadas em derivados de artemisinina foram introduzidas
em meados dos anos 90 como tentativa de conter a malária em regiões como o
sudeste asiático, onde circulavam cepas multirresistentes. Como são drogas
potentes contra as formas sanguíneas do protozoário, a artemisinina e seus
derivados “limpam” a parasitemia mais rapidamente do que qualquer outro
fármaco antimalárico (ASHLEY et al., 2014).
Em 2005 a OMS recomendou que as combinações baseadas em
artemisinina fossem utilizados como drogas de primeira linha em todos os
países em que a malária fosse endêmica. Em 2008 a resistência do P.
falciparum à artemisinina foi descrita pela primeira vez no ocidente do Camboja
(NOEDL; SOCHEAT; SATIMAI, 2009), onde as taxas de falha dos tratamentos
aumentaram rapidamente (WHO, 2014). Desde então, a resistência a
artemisinina cresceu e se espalhou entre outros países do sudeste asiático
(DONDORP et al., 2017).
Refletindo sobre as possíveis causas e mecanismos que geram
resistência, múltiplos fatores parecem correlacionados (PETERSEN;
EASTMAN; LANZER, 2011):
24
(i) Altas taxas de mutações no parasito.
Altas taxas de mutação são vantajosas em situações com mudanças
rápidas de contexto ecológico (SNIEGOWSKI et al., 2000). Isto é o que
acontece quando os parasitos são expostos a pressão seletiva dos fármacos
(PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). Alguns estudos descrevem um
fenótipo mais propenso a desenvolver resistência a múltiplas drogas (ARMD),
presente em regiões da Sudeste asiático. Este fenótipo apresenta taxas
aceleradas de desenvolvimento de resistência (in vitro) quando comparado a
outras cepas. O fenótipo ARMD pode estar associado ao fato da resistência a
novas drogas ter surgido diversas vezes nessa região do planeta (RATHOD;
MCERLEAN; LEE, 1997).
(ii) Alta carga de parasitos.
As altas parasitemias, típicas de P. falciparum, podem propiciar uma
rápida eliminação de mutações deletérias e facilitar a seleção de mutações
com valor adaptativo (HASTINGS; PAGET-MCNICOL; SAUL, 2004).
(iii) A utilização inadequada do tratamento.
O uso inadequado dos fármacos antimaláricos pode resultar no contato
dos parasitas a concentrações sub-ótimas das drogas, o que aumenta a
chance do desenvolvimento da resistência (MÜLLER, 2011). Além do uso
incorreto das drogas, outros eventos podem estar relacionados. Em áreas com
alta transmissão da doença, é comum que pacientes no final do tratamento
antimalárico adquira novamente a doença, o que expõe os novos parasitos a
concentrações baixas do tratamento remanescente (STEPNIEWSKA; WHITE,
2008).
Alguns mecanismos moleculares de resistência foram descritos para P.
falciparum. A resistência a cloroquina e às outras 4-aminoquinolinas se dá pela
mutação no gene K76T. Esta mutação torna uma proteína transportadora do
vacúolo digestivo (PfCRT) capaz de remover seletivamente a cloroquina para o
citosol (SLATER, 1993).
A resistência aos fármacos da classe arilaminoálcoois também parece
estar associada a uma proteína transportadora do vacúolo digestivo.
Amplificações no gene pfmdr1, que codifica a proteína “P. falciparum
multiresistente a drogas 1 – PfMDR1”, está relacionado ao efluxo dos
arilaminoálcoois para o citosol (FAROOQ; MAHAJAN, 2004).
25
A situação atual revela que o monitoramento da resistência representa
um componente fundamental para estratégias de controle e tratamento da
malária. Além disso, a pesquisa de novos compostos antimaláricos se mostra
necessária (WHO, 2016), estratégia em que se enquadra o presente trabalho,
que busca em um veneno ofídico moléculas que possam enriquecer o arsenal
antimalárico.
1.3. Venenos ofídicos como fonte de novas terapias
Os produtos naturais representam a maior fonte de inovação terapêutica
para diversas doenças (CALDERON et al., 2009). As moléculas derivadas de
plantas, animais e microrganismos apresentam rica diversidade estrutural e
uma vasta gama de bioatividade (BASSO et al., 2005; HARVEY; EDRADA-
EBEL; QUINN, 2015)
Mais da metade dos fármacos aprovados desde 1994 são derivados de
compostos naturais. Isso demonstra a importância da biodiversidade no
desenvolvimento de novos fármacos (HARVEY, 2008). No contexto da
quimioterapia da malária, duas importantes drogas são produtos naturais. A
artemisinina é derivada da planta chinesa Artemisia annua (EASTMAN;
FIDOCK, 2009); e a quinina é isolada de espécies de plantas do gênero
Cinchona (DE OLIVEIRA; SZCZERBOWSKI, 2009).
O Brasil acumula uma das maiores reservas de recursos naturais do
planeta, sendo um lugar de grande variedade ecológica e biodiversidade
abundante. O potencial biotecnológico contido nas florestas brasileiras deve ser
explorado sustentavelmente, já que os possíveis produtos gerados agregam
alto valor comercial, revelando um viés de importância econômica pouco
explorada das áreas verdes do país (CALDERON et al., 2009).
Os venenos de muitas serpentes fazem parte das riquezas naturais do
Brasil, que possui 392 espécies de serpentes, sendo que 63 são consideradas
peçonhentas (COSTA; BÉRNILS, 2015). Os venenos ofídicos são substâncias
ricas em biomoléculas. As proteínas e peptídeos compõem mais de 90% do
peso seco destes materiais (CALVETE et al., 2009), que evoluíram com a
função primária de capturar, imobilizar e digerir presas específicas (BARLOW
et al., 2009). Fatores como duplicações, neofuncionalizações gênicas,
mutações pontuais não sinônimas, modificações pós-traducionais e
26
processamentos proteolíticos tornam os venenos de serpente substâncias
complexas e com grande diversidade funcional (CALVETE; JUÁREZ; SANZ,
2007; ZELANIS et al., 2010).
Apesar da função tóxica desempenhada pelos venenos, uma série de
outras atividades são descritas para as moléculas que os compõe. As
fosfolipases A2 de venenos ofídicos (svPLA2), por exemplo, apresentam grande
diversidade funcional. Uma única espécie de serpente pode conter até 15
diferentes tipos de PLA2s, com distintos efeitos tóxicos e farmacológicos
(VALENTIN; LAMBEAU, 2000). Alguns dos efeitos podem ser independentes
da ação enzimática dessas proteínas, como o efeito miotóxico, que é um
importante mecanismo no envenenamento botrópico (GUTIÉRREZ;
LOMONTE, 1995). As diversas atividades descritas para svPLA2 (Tabela 3)
demonstram uma complexa variabilidade funcional destas proteínas, que pode
ser explorada para o desenvolvimento de fármacos e ferramentas moleculares.
Tabela 3 – Diversidade funcional de svPLA2
Fonte: Adaptado de Kini (2003)
Junto à grande diversidade funcional das proteínas que compõem os
venenos de serpentes, a alta seletividade por alvos moleculares torna este
Efeitos farmacológicos de Fosfolipases A2 de venenos ofídicos
Neurotoxicidade Pré-sináptica Pós-sináptica
Miotoxicidade Mionecrose local Miotoxicidade sistêmica
Cardiotoxicidade Efeito Anticoagulante Inibição de agregação plaquetária Estimulação de agregação plaquetária Atividade hemolítica
Atividade indutora de hemoglobinúria Hemorragia interna Atividade convulsivante Atividade hipotensiva Atividade indutora de edema Danos a órgãos e tecidos
Danos ao fígado, rim, pulmão, testículos, hipófise
27
material biológico promissor como fonte de moléculas com aplicações
farmacológicas (UTKIN, 2015). De fato, os venenos ofídicos serviram como
base para o desenvolvimento de fármacos. O exemplo mais conhecido é o do
Captopril, um potente anti-hipertensivo desenvolvido a partir de um peptídeo
potenciador de bradicinida (BPP) isolado do veneno de Bothrops jararaca
(CUSHMAN et al., 1977).
Em 1970, o desenvolvimento deste fármaco marcou a nova era do
desenvolvimento de drogas baseadas em venenos (KING, 2013). O Sucesso
comercial do Captopril exaltou o potencial tecnológico contido nos venenos
ofídicos. Além disso, o desenvolvimento da estrutura química deste fármaco a
partir do modelo molecular de um peptídeo natural tornou-se um paradigma
para o design racional de drogas (VAN DONGEN et al., 2002).
A estrutura dos peptídeos de ação hipotensiva isolados do veneno de B.
jararaca (Bj-BPPs), em sua forma natural, não se mostrava efetiva ao ser
ministrada por via oral (GAVRAS et al., 1978). Essa estrutura serviu como
molde para o desenvolvimento de uma molécula menor, que preservava os
mesmos efeitos biológicos e atendia as propriedades farmacocinéticas exigidas
para um fármaco (CAMARGO et al., 2012). A remodelação foi baseada em
experimentos com modelos de enzimas, substratos e inibidores, que permitiram
a identificação e modificação química da região C-terminal de uma Bj-BPP,
culminando na fórmula do Captopril (CUSHMAN, 1977).
Além do Captopril, diversos outros fármacos foram desenvolvidos a partir
de constituintes de venenos ofídicos. A tabela 4 lista alguns dos remédios
aprovados pela FDA (Food and Drug Administration), órgão de vigilância e
fiscalização do governo norte-americano, e outros que ainda estão em fase de
teste.
28
FDA: Food and Drug Administration. Fonte: adaptado de Chan e colaboradores (2016)
Venenos ofídicos também apresentam atividade microbicida. Estudos in
vitro demonstraram a capacidade destas substâncias em inibir bactérias,
fungos e protozoários (GONÇALVES et al., 2002; STÁBELI et al., 2005;
GOMES et al., 2005). O veneno de B. jararaca, em específico, foi investigado
contra fungos (GOMES et al., 2005) e os protozoários Trypanosoma cruzi e
Leishmania major (GONÇALVES et al., 2002), demonstrando moléculas ativas.
O grupo CEBio, em colaboração com o grupo PBML, publicou trabalhos
que indicam a ação antiplasmodial de venenos botrópicos. Kayano e
colaboradores (2015) revelaram efeito antiplasmodial no veneno de B. brazili e
em uma metaloprotease (BbMP-1). Grabner e colaboradores (2017)
evidenciaram capacidade semelhante no veneno de B. marajoensis e em uma
fosfolipase A2 homóloga (BmajPLA2-II). Estes e outros estudos (GUILLAUME
et al., 2004; CASTILLO et al., 2012; QUINTANA et al., 2012; MALUF et al.,
2016; TERRA et al., 2015) revelam classes de proteínas de venenos ofídicos
com atividade antiplasmodial. Tais achados justificam a prospecção dos
Tabela 4 - Fármacos derivados de venenos de serpentes comercializadas e em fases de teste.
29
venenos ofídicos em busca de modelos químicos para o desenvolvimento de
novos fármacos antimaláricos.
1.4. Bothrops jararaca
1.4.1. Biologia de B. jararaca
A B. jararaca (Wied, 1824) - Figura 4 - é uma serpente peçonhenta
pertencente à família Viperidae e sub-família Crotalinae (MELGAJERO, 2003).
Figura 4 - Bothrops jararaca
Espécime adulto de B. jararaca e sua distribuição geográfica no Brasil.
Fonte: Adaptado de www.ambiente.sp.gov.br/parque-da-cantareira e de Fundação Nacional de
Saúde, 2001.
A B. jararaca distribui-se geograficamente entre o Norte da Argentina e
Nordeste do Paraguai, sendo mais frequente no Brasil, onde é recorrente no
Sul e Sudeste. Sendo a espécie mais encontrada no Sudeste do país, é a
principal causadora de acidentes ofídicos nessa área (cerca de 90% dos
acidentes) (BRASIL, 2001).
Os sintomas do envenenamento por esta serpente devem-se as três
principais atividades deste veneno: proteolítica, que resulta em edema
inflamatório no local da picada; hemorrágica, com danos aos endotélios,
sangramento local e sistêmico; e pró-coagulante, que, in vivo, leva ao consumo
dos fatores de coagulação e gera hemorragia (VARANDA; GIANNINI, 1999).
1.4.2. Proteômica do veneno de B. jararaca
Uma variedade de pelo menos 100 diferentes proteínas é descrita entre
os venenos ofídicos (SERRANO et al., 2005), sendo que estas podem
30
apresentar ou não atividade enzimática. Dentre as enzimaticamente ativas
encontram-se as proteases, fosfolipases, fosfodiesterases, colinesterases,
catalases, ATPases, aminotransferases, L-aminoácido-oxidases,
hialuronidases e NAD nucleosidases (CALVETE; JUÁREZ; SANZ, 2007).
Mesmo sem atividade enzimática, diversas outras proteínas compõem os
venenos ofídicos e demonstram atividades biológicas, como as lectinas do tipo
C, desintegrinas, miotoxinas, neurotoxinas, proteínas secretoras ricas em
cisteína (CRISPs), fatores de crescimento, inibidores de proteases, peptídeos
natriuréticos, peptídeos potenciadores de bradicinina entre outros (MC
CLEARY; KINI, 2013).
Com pelo menos 42 diferentes proteínas constituindo o veneno da B.
jararaca (FOX et al., 2006), as metaloproteases representam boa parte
(aproximadamente 42%) das proteínas expressas nesta peçonha, com as três
classes presentes: PI (3,8%), PII (9,4%) e PIII (29,6%) (SOUSA et al., 2013).
Este grupo de hidrolases depende da ligação a um metal, em geral o
zinco, em seu sítio catalítico para tornarem-se enzimaticamente ativas.
Apresentam massa molecular que varia de 20 a 100 kDa e são divididos, de
forma geral, em três grupos de acordo com a organização e presença de
domínios não catalíticos, que interferem no mecanismo de ação de cada
subgrupo.
A classe PI apresenta em sua estrutura madura apenas o domínio
metaloprotease (M). A classe PII é formada pelo domínio M seguido pelo
domínio desintegrina (D). A classe PIII apresenta, além dos domínios M e D, o
domínio rico em cisteína (C). A subdivisão PIIId ainda conta com um domínio
do tipo lectina (FOX; SERRANO, 2008).
São moléculas responsáveis pelo edema e mionecrose no local da
picada, assim como pelo quadro sistêmico de hemorragia. Os efeitos locais se
devem principalmente à ação sobre componentes proteicos de capilares e
vênulas, gerando a degradação de estruturas de matriz extracelular e lâmina
basal, que mantêm a integridade do sistema vascular (GUTIÉRREZ et al. 2005;
2006).
Do ponto de vista bioquímico, as metaloproteases geram um efeito pró-
coagulante in vitro, já que ativam e consomem fatores de coagulação como o
fibrinogênio (SANTORO et al., 2008). Uma das mais bem estudada
31
metaloproteases isolada do veneno de B. jararaca é a jararagina, uma enzima
de alta massa molecular (PAINE et al., 1992).
Outro grupo de proteases que compõe cerca de 11% do veneno de B.
jararaca são as serinoproteases (SOUSA et al., 2013). Estas enzimas
compreendem uma grande variedade de peptidases que apresentam um
resíduo de serina ativo em sua tríade catalítica (SERRANO; MAUROUN, 2005).
São glicoproteínas expressas como zimogênios de cadeia simples, com massa
molecular variável de 26 a 67 kDa, massa esta que depende da quantidade de
glicosilações da molécula (MATSUI; FUJIMURA; TITANI, 2000).
As serinoproteases apresentam uma grande variedade de substratos. No
envenenamento, estas proteínas afetam diversos sistemas, gerando
principalmente distúrbios hemostáticos, afetando a cascata de coagulação, o
sistema complemento, plaquetas sanguíneas entre outros (SERRANO;
MAROUN, 2005). Um exemplo de serinoprotease isolada do veneno de B.
jararaca é a KN-BJ, um grupo de enzimas ativadoras de fibrinogênio
(SERRANO et al., 1998).
O estudo proteômico do veneno da B. jararaca demonstrou que,
diferente da maioria dos demais venenos botrópicos, as lectinas compõem
grande parte deste veneno (cerca de 20%) (SOUSA et al., 2013). Em especial
as lectinas do tipo C, proteínas homodiméricas de subunidades com
aproximadamente 14 kDa cada ligadas por ponte disulfeto (SARTIM;
SAMPAIO, 2015). A pesar de não demonstrarem atividade catalítica, essas
moléculas são capazes de desempenhar funções biológicas, como ligação
seletiva a carboidratos e aglutinação de hemácias (LEPENIES; LEE;
SONKARIA, 2013).
As L-aminoácido oxidases são componentes importantes deste veneno,
representando cerda de 10% das proteínas avaliadas pelo estudo proteômico
de Sousa e colaboradores (2013). Estas são, em sua maioria, flavoenzimas
homodímeras da classe das oxirredutases, atuando na desaminação de L-
aminoácidos, gerando como subprodutos peróxido de hidrogênio e amônia.
Apresentam como co-fatores o FAD (dinucleotídeo de flavina e adenina) ou
FMN (mononucleotídeo de flavina) ligados de forma covalente a sua estrutura.
Pesquisas sugerem que estas enzimas podem ser citotóxicas, gerar agregação
plaquetária e apoptose celular (GUO et al., 2012).
32
As fosfolipases secretadas do tipo A2 são importantes toxinas dos
venenos botrópicos, apesar de representar apenas 3% das proteínas do
veneno de B. jararaca (SOUSA et al., 2013). Apresentam baixa massa
molecular (13 – 15 kDa), cinco a oito pontes dissulfeto e ação enzimática
dependente de Ca2+ (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1995; STÁBELI et al., 2012). A
ação enzimática catalisa a quebra da ligação éster de fosfolipídeos na posição
sn2, gerando lisofosfolipídeos e ácidos graxos como produtos (DENNIS et al.,
2011).
Os ácidos graxos liberados, como o ácido araquidônico, podem
desempenhar a função de segundo mensageiro. Estes sinalizadores estão
envolvidos em diversas funções celulares, como proliferação, diferenciação e
apoptose. Além disso, são precursores de eicosanoides, que são mediadores
inflamatórios e participam da transdução de sinais celulares (BURKE; DENNIS,
2009). Os lisofosfolipídeos gerados pela ação enzimática das PLA2s também
podem atuar na sinalização celular, no remodelamento de fosfolipídeos, assim
como podem desestabilizar membranas e provocar hemólise (DENNIS et al.,
2011).
As PLA2s que apresentam o aminoácido lisina na posição 49 (ao invés
do aminoácido aspartato, presente em PLA2 enzimaticamente ativas) são
incapazes de estabilizar o Ca2+ em seu sítio ativo. Por isso apresentam baixa
ou inexistente atividade catalítica. Apesar disso, PLA2s Lys49 desempenham
funções biológicas, como efeito miotóxico, atividade edematogênica e
anticoagulante (LOMONTE, 2009).
Devido ao efeito pró-inflamatório e miotóxico, as PLA2s são uma das
principais responsáveis pelos danos no local da picada. No envenenamento por
B. jararaca este efeito é menos pronunciado quando comparado aos efeitos do
veneno de B. moojeni, por exemplo (ZAMUNÉR et al., 2004). Fato que é
relacionado com a baixa presença de PLA2 contido no veneno de B. jararaca.
Outros componentes integram o veneno de B. jararaca em menor escala,
como os peptídeos potenciadores de bradicinina (BPPs), proteínas secretadas
ricas em cisteína (CRISPs), fator de crescimento de endotélio vascular
(CIDADE et al., 2006), fatores de crescimento de nervo, fosfodiesterases entre
outros (SOUSA et al., 2013). A figura 5 representa de forma resumida os
33
principais componentes do veneno de B. jararaca em suas proporções
analisadas por técnicas proteômicas.
Figura 5 - Principais constituintes do veneno da B. jararaca
(SVMPs) Metaloproteases de venenos ofídicos; (SVSPs) Serinoproteases de venenos ofídicos; CLEC (Lectina-de tipo C); (PLA2) Fosfolipase A2; (LAAOs) L-aminoácido oxidases. Fonte: adaptado de Sousa et al. (2013).
Considerando as informações expostas sobre a resistência do P.
falciparum e a necessidade do desenvolvimento de novos fármacos
antiplasmodiais, o veneno de B. jararaca foi escolhido como modelo de estudo
para investigação de proteínas com atividade antiplasmodial.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Estudar a atividade antimalárica in vitro do veneno de Bothrops jararaca
contra formas sanguíneas de Plasmodium falciparum, realizando um
fracionamento direcionado por atividade antiplasmodial.
SVMPs42%
SVSPs11%
CLEC23%
PLA23%
LAAOs10%
Outros11%
SVMPs
SVSPS
CLECL
PLA2
LAAOs
Outros
34
2.2. Objetivos específicos
• Fracionar compostos proteicos do veneno de Bothrops jararaca,
caracterizando parcialmente os seus aspectos bioquímicos;
• Investigar a atividade in vitro das frações do veneno de B. jararaca
contra P. falciparum;
• Analisar a citotoxicidade in vitro das frações ativas do veneno em cultura
de cepa celular HepG2.
• Avaliar a ação hemolítica das frações ativas em eritrócitos humanos;
• Calcular o índice de seletividade das frações ativas testadas.
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Obtenção do veneno
O veneno de Bothrops jararaca foi obtido do banco de venenos do
Centro de Estudos de Biomoléculas Aplicadas à Saúde (CEBio) da Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), unidade situada na Universidade Federal de
Rondônia (UNIR). O veneno desidratado foi mantido refrigerado no banco de
venenos até o momento do uso. Autorização do IBAMA sob número 27131-3
(Anexo 1). Autorização do CGEN/MMA sob número 010627/2011-1 (Anexo 2).
3.2. Cromatografia de exclusão molecular - Superdex G-75
Replicatas de 10 mg do veneno de B. jararaca foram suspensos em 500
µL de tampão Bicarbonato de amônio (NH4HCO3 – AMBIC) 50 mM, pH 8,0 e
centrifugadas a 9,3x103 g por 10 minutos. O conteúdo solubilizado foi
submetido a fracionamento cromatográfico em resina de exclusão molecular
Superdex G-75 (30 x 1 cm) previamente equilibrada com o tampão de diluição
da amostra. O procedimento foi realizado em sistema de FPLC ÄKTA purifier™
(GE Healthcare Lifescience). A eluição das amostras foi realizada sob
gradiente isocrático com Ambic 50 mM e fluxo de 0,5 mL/minuto. As amostras
foram monitoradas em 215 e 280 nm, coletadas manualmente, secas em um
evaporador centrífugo a vácuo e armazenadas em temperatura de -20°C.
35
3.3. Cromatografia de troca aniônica – CaptoQ ImpRes
A fração de interesse obtida no passo cromatográfico anterior foi diluída
em 1 mL de tampão bicarbonato de amônio (NH4HCO3 – AMBIC) 50 mM, pH
8,0 e centrifugada a 9,3x103 g por 10 minutos. O conteúdo solubilizado foi
submetido a fracionamento cromatográfico em coluna de troca aniônica Capto
Q ImpRes (3 x 1 cm) previamente equilibrada com o tampão de diluição da
amostra e fracionadas sob gradiente linear de Ambic 500 mM pH 8,0 em 10
volumes de coluna. O procedimento foi realizado em sistema de FPLC ÄKTA
purifier™ (GE Healthcare Lifescience). As amostras foram monitoradas em 215
e 280 nm, coletadas manualmente, secas em um evaporador centrífugo a
vácuo e armazenadas em temperatura de -20°C.
3.4. Cromatografia de fase reversa – C18 Discovery
A fração de interesse obtida na cromatografia de troca aniônica foi
solubilizada em 1 mL de solução aquosa de ácido trifluoracético (TFA) 0,1%
(Solução A), e submetida ao fracionamento pela cromatografia de fase reversa
em resina Discovery C18 (25 x 4,6 mm - Supelco), previamente equilibrada
com a solução A (0,1% TFA) e eluída sob gradiente de 0 a 70% de solução B
(99,9% (v/v) de acetonitrila (ACN) e 0,1% de ácido trifluoroacético (TFA (v/v))
por 10 volumes de coluna, sob fluxo de 1 mL/minuto. O procedimento foi
realizado em sistema de FPLC ÄKTA purifier™ (GE Healthcare Lifescience). As
amostras foram monitoradas em 215 e 280 nm, coletadas manualmente, secas
em um evaporador centrífugo a vácuo e armazenadas em temperatura de -
20°C.
3.5. Dosagem de amostras
Antes de iniciar a quantificação de proteínas presentes nas amostras, foi
realizada a preparação de uma curva padrão de cinco pontos (0,125; 0,25; 0,5;
1,0 e 1,4 mg/mL) utilizando BSA (Albumina de Soro Bovino – Bio-Rad Protein
Assay) 1,4 mg/mL, juntamente com os reagentes A e B presentes no kit DC
Protein Assay da Bio-Rad e conforme as instruções presentes no manual do
36
fabricante. Esta curva foi utilizada como patâmetro de densidade ótica para a
dosagem das amaostras.
Para quantificação de proteínas utilizou-se o DC Protein Assay Kit da
Bio-Rad, composto pelos reagentes A e B. Tal procedimento seguiu o princípio
de Lowry e colaboradores (1951), com modificações. Os ensaios foram
realizados em triplicata em placa de 96 poços, utilizando-se 5 μL da amostra a
ser analisada juntamente com 25 μL do Reagente A e 200 μL do Reagente B.
A placa foi incubada por 15 minutos em ambiente escuro e a leitura realizada
em espectrofotômetro com absorbância de 750 nm.
3.6. Análise eletroforética monodimensional (sds-page)
A eletroforese em gel de poliacrilamida 12,5% (m/v) na presença de
dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) foi realizado em condições redutoras
conforme descrito por Laemmli (1970). Após a corrida eletroforética, o gel foi
fixado em solução aquosa de metanol 40% (v/v) e ácido acético 7% (v/v) por 15
minutos. As bandas de proteínas foram evidenciadas por meio da imersão em
solução contendo Coomassie Brillant Blue G-250® 0,08% (m/v), sulfato de
alumínio 8% (m/v), ácido o-fosfórico 1,6% (m/v) e metanol 20% (v/v) pelo
período de 15 minutos. O excesso de corantes foi retirado por imersão em
solução descorante contendo etanol 4% e ácido acético 7% (v/v) em água.
Várias trocas desta solução foram realizadas até a obtenção do gel com
coloração adequada. O marcador de peso molecular utilizado foi o Precision
Plus Protein™ Unstained Protein Standards (Bio-Rad – 1610363) de 250 a 10
kDa. A imagem do gel foi obtida com uso de equipamento Image scanner® (GE
Healthcare Lifesc).
3.7. Atividade fibrinogenolítica
A atividade foi determinada segundo metodologia descrita por Rodrigues
e colaboradores (2000) com modificações, no qual 10 μL de solução de
fibrinogênio bovino (2,5 mg/mL de fibrinogênio em Tampão fosfato-salino - PBS
pH 8,0) foram incubadas com 20 μg das frações a 37 ˚C por duas horas. A
37
reação foi interrompida pela adição de 20 μL de tampão TRIS-HCl 0,05 M, pH
8,0, contendo 10 % (v/v) 2-mercaptoetanol, 2 % de SDS (v/v) e 0,05 % azul de
bromofenol (m/v). As amostras foram submetidas a eletroforese SDS-PAGE e
separada sob tensão constante de 150V por 75 minutos. O processo de
fixação, coloração e descoloração foram feitos como descrito no tópico 3.6.
3.8. Atividade fosfolipásica
O procedimento foi realizado conforme descrito por Petrovic e
colaboradores (2001), com modificações. A atividade fosfolipásica foi
determinada utilizando como substrato uma solução contendo 5 mg de 4-nitro-
3-(octanoiloxi) benzoico (4N3OBA) diluído em 5,4 mL de acetonitrila (ACN).
Alíquotas de 0,1 mL foram secas e mantidas a -20°C. Cada tubo contendo
4N3OBA foi diluído em 1,2 mL de tampão de amostra (Tris-HCl 10 mM em pH
8,0, CaCl2 10 mM e NaCl 100 mM) e mantido no gelo. Para determinação
da atividade fosfolipásica, foi aplicado 190 μL de reagente 4N3OBA
combinados com 10 μL de amostra ou água (branco) e, imediatamente,
incubados a 37°C. A absorbância (425 nm) foi mensurada em intervalos de 1
minuto por um período de 30 minutos.
3.9. Testes antimaláricos in vitro contra P. falciparum
As frações do veneno de B. jararaca, já dosadas e liofilizadas, foram
solubilizadas em água MiliQ para utilização nos testes biológicos. Os testes de
atividade antiparasitária foram realizados na Plataforma de Quimioterapia da
Malária e Leishmaniose (Fiocruz - RO).
3.9.1. Cultivo contínuo da fase eritrocítica do parasito
Nos ensaios de atividade antimalárica foram utilizadas formas
sanguíneas de um clone de P. falciparum Cloroquina-resistente (W2). Os
parasitos foram cultivados em hemácias humanas sob condições estabelecidas
por Trager e Jensen (1976) com pequenas variações.
As células foram cultivadas em garrafas de cultura, com hematócrito a
2%, diluídos em meio de cultura RPMI 1640 (Sigma-Aldrich) suplementado com
38
25 mM de Hepes (Sigma-Aldrich), 21 mM de bicarbonato de sódio (Sigma-
Aldrich), 11 mM de glicose (Sigma-Aldrich), 40 μg/mL de gentamicina e 10%
(v/v) de AlbuMAX I. As garrafas foram mantidas em dessecadores a 37°C em
mistura gasogênica contendo 5% de O2, 5% de CO2 e 90% de N2.
Diariamente, foram realizadas trocas do meio de cultura e a parasitemia
foi monitorada em esfregaços sanguíneos, fixados com metanol, corados com
Giemsa e visualizados em microscópio óptico com objetiva de imersão
(1.000x). A utilização de sangue humano no projeto foi aprovada pelo CEP
(Comitê de Ética em Pesquisas), sob o nº: CAAE - 44899715.2.0000.0011
(Anexo 3).
3.9.2. Sincronização dos parasitos para utilização nos testes in vitro
Os cultivos com predomínio de anéis utilizados nos ensaios de
quimioterapia foram obtidos por meio de sincronização com sorbitol, conforme
descrito na literatura (LAMBROS; VANDERBERG, 1979). O hematócrito e a
parasitemia, pré-determinados para cada teste, foram ajustados com a adição
de hemácias e meio RPMI completo em quantidades adequadas.
3.9.3. Preparo das placas para os ensaios de quimioterapia
Culturas de parasitos sincronizadas com predomínio de trofozoítos
imaturos de P. falciparum foram distribuídas em microplacas de 96 poços.
Foram adicionados 180 μL/poço de meio de cultura RPMI contendo 0,5% de
parasitemia e 2% de hematócrito para os testes com Sybr Green.
Anteriormente a adição da suspensão dos parasitos, 20 µL dos compostos a
serem testados foram adicionados à placa teste, em triplicatas de diferentes
concentrações seriadas (10 – 0,05 µg/mL ou 0,5 - 0,0009 µg/mL), visando a
avaliação da concentração mínima inibitória para 50% do crescimento dos
parasitas (IC50). Como controle positivo foi usado artemisinina (50 ng/mL), e
como controle negativo foram utilizadas hemácias infectadas sem adição dos
compostos químicos, além de um branco contendo hemácias não infectadas
sem tratamento. As placas foram incubadas a 37 ºC por 48 h.
39
3.9.4. Teste de avaliação da atividade antimalárica por Sybr Green
No ensaio com o intercalante fluorescente de DNA Sybr Green I
(adaptado de SMILKSTEIN et al., 2004), as placas contendo os parasitos e os
compostos testados tiveram o sobrenadante descartado. Para a lavagem das
hemácias foi adicionado 100 µL de PBS 1x por poço e então centrifugado a
700g por 10 min.
Após, o sobrenadante foi novamente descartado e adicionado 100 µL do
tampão de lise (20 mM Tris, pH 7,5; 5 mM EDTA; 0,008%; p/v saponina;
0,08%, v/v Triton X-100) com SYBR Green I (2 µL de Sybr a cada 10 mL de
tampão) homogeneizado e transferido para a placa de 96 poços com 100 µL
de PBS 1x na qual seria realizada a leitura. Após incubar por 30 min a
temperatura ambiente, a fluorescência foi medida em fluorímetro com excitação
de 485 nm e emissão de 590 nm em ganho de 100.
3.9.5. Determinação da concentração inibitória de 50% do crescimento do
parasito (IC50)
A inibição do crescimento de 50% dos parasitos foi determinada a partir
de curvas dose-resposta estimadas em função de regressão não linear. Foi
utilizado o programa Origin (OriginLab Corporation, Northampton, MA, EUA),
para estimar o valor de IC50.
3.10. ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE IN VITRO PELO MÉTODO DO MTT
A citotoxicidade foi determinada por meio do método colorimétrico do
MTT (3- 4,5-dimetiltiazol-2-il-2,5-difenil tetrazólio) (MOSMANN, 1983). Após o
período de incubação (48h) das frações com as células de hepatocarcinoma
humano (HepG2), foi adicionado em cada poço 20 μL de MTT a uma
concentração de 5 mg/mL-1 em PBS (p/v) e as placas incubadas por quatro
horas em estufa 37 °C. Ao final desse período, o meio de cultura, juntamente
com o excesso de MTT, foi desprezado e, em seguida, 100 μL de DMSO
(Sigma-Aldrich) adicionados a cada poço. A leitura óptica foi realizada em
espectrofotômetro de microplacas em comprimento de onda de 570 nm.
40
3.11. Índice de seletividade
O índice de seletividade (IS) das amostras testadas foi obtido calculando
a razão entre o valor de CC50 e o de IC50. Valores maiores que 10 foram
considerados indicativos de seletividade contra o parasita, enquanto valores
abaixo de 10 foram consideradas não seletivos (KATSUNO et al., 2015).
3.12. Ensaio de hemólise
Os ensaios foram realizados como descrito por Wang e colaboradores
(2010). As frações foram diluídas em PBS 1X estéril. Após diluição das
frações, 20 µL das amostras foram adicionadas a 180 µL de uma suspensão de
eritrócitos humanos a 1% em microplacas de fundo em “U”. As microplacas
foram incubadas por 30 min a 37 °C em agitação a cada 5 minutos. Após
incubação, as placas foram centrifugadas a 1000g por 10 minutos e o
sobrenadante transferido para microplaca de leitura em fundo chato. O
sobrenadante foi lido em um espectrofotômetro de microplacas (Biochrom
modelo: Expert plus) a 540 nm. Para calcular a porcentagem de hemólise
0,05% de saponina foi usado como controle positivo (100% de hemólise), como
controle negativo foi usado o sobrenadante das hemácias não lisadas (branco).
% hemólise = Absorbância da amostra – absorbância do branco Absorbância do controle com saponina
3.13. Análise estatística
Para a análise estatística dos dados foi utilizado o software Origin.
Todos os testes foram considerados significativos quando apresentaram um
valor de p ≤ 0,05.
41
4. RESULTADOS
4.1. Fracionamento do veneno por cromatografia de exclusão molecular
Por meio do fracionamento em coluna de exclusão molecular (Superdex
G-75), o veneno de B. jararaca foi dividido em 10 frações (Figura 6)
identificadas como P1g – P10g.
Figura 6 - Perfil cromatográfico do veneno de B. jararaca por exclusão molecular Superdex (G-75)
Perfil cromatográfico do veneno de B. jararaca (10 mg) em resina Superdex G-75 (1 x 30 cm), equilibrada previamente com AMBIC 50mM, pH 8,0. As frações foram eluídas em modo isocrático com o mesmo tampão de equilíbrio, em fluxo de 0,5 mL/min. A eluição das amostras foi monitorada na absorbância de 280 nm e a coleta foi manual. A cromatografia gerou 10 frações denominadas de P1g – P10g.
As frações obtidas a partir do primeiro passo cromatográfico foram
dosadas e submetidas à eletroforese monodimensional SDS-PAGE.
4.2. Eletroforese monodimensional (SDS - PAGE) das frações de exclusão
molecular
Após a dosagem das frações cromatográficas, foram utilizados 15 µg de
cada para a eletroforese monodimensional SDS-PAGE. O perfil eletroforético
das frações demonstrou a distribuição de diversas moléculas, que
42
apresentaram massas relativas variando entre < 10 kDa até >75 kDa (Figura
7).
Figura 7 - Perfil eletroforético em SDS-PAGE das frações obtidas a partir da cromatografia de exclusão molecular do veneno de B. jararaca
Eletroforese monodimensional em gel de poliacrilamida 12,5% em condições redutoras e desnaturantes. VB: Veneno de B. jararaca. PM: Padrão molecular. P1g – P8g: Frações obtidas a partir da cromatografia de exclusão molecular (15µg cada, com exceção de P6g, P7g e P8g, com 60 µg cada).
A fração P1g apresentou o grupo de proteínas de maior massa presente
no veneno. Além disso, também apresentou grupos de proteínas com massas
de aproximadamente 30, 35 e 15 kDa. A fração P2g apresentou bandas com
massas relativas próximas a 30 e 15 kDa. A fração P3g aparece no
cromatograma incorporada ao pico P2g (Figura 6). O perfil eletroforético refletiu
este fato, já que ambas apresentaram grupos proteicos semelhantes, mesmo
que também existam bandas exclusivas em cada uma dessas frações.
A fração P4g apresentou duas bandas proteicas mais aparentes com
massa relativa de aproximadamente 25 e 15 kDa. A fração P5g apresentou
uma banda mais aparente na altura relativa a 25 kDa e outras menos
aparentes com massas superiores e inferiores. As frações P6g, P7g e P8g não
foram detectadas quando utilizado 15 µg de cada para o gel. No resultado
apresentado foram adicionados 60 µg dessas amostras no gel, resultando no
aparecimento de bandas na altura de aproximadamente 25 kDa.
43
4.3. Atividade antiplasmodial das frações de exclusão molecular do
veneno de B. jararaca
A atividade antiplasmodial das frações e veneno de B. jararaca foi
mensurada pela técnica fluorimétrica Sybr Green. Dois ou mais testes foram
realizados em datas diferentes e cada um foi feito em triplicata. A média da
triplicata de cada teste foi utilizada para a confecção de uma média final entre
os testes independentes. As médias de inibição, em 50%, do desenvolvimento
da cultura do parasito, assim como seu respectivo desvio padrão, podem ser
observados na Tabela 5.
Tabela 5 - Atividade antiplasmodial em cepas W2 do veneno de B. jararaca e frações geradas a partir de cromatografia de exclusão molecular, determinada pelo método de
Sybr Green
Amostras testadas IC50 (µg/mL) (média ± desvio padrão)
Veneno 0,44 ± 0,05
P1g 8,06 ± 2,2
P2g 0,10 ± 0,01
P3g 0,12 ± 0,01
P4g 0,59 ± 0,02
P5g 0,53 ± 0,04
P6g 12,2 ± 2,7
P7g 14,1 ± 0,04
P8g 6,39 ± 0,5
Artemisinina 0,006 ± 0,001
Os resultados de atividade inibitória contra formas sanguíneas de P. falciparum foram expressos pela média dos valores de IC50 (Concentração Inibitória de 50% dos parasitos) com desvio padrão. A artemisinina foi utilizada como controle positivo para os testes. Veneno: Veneno de B. jararaca. P1g – P10g: frações obtidas por meio de cromatografia de exclusão molecular.
As frações P2g, P3g, P4g e P5g demonstraram-se ativas contra as
cepas W2 de P. falciparum, com IC50 variando de 0,1 – 0,59 µg/mL. O veneno
total atingiu IC50 na concentração média de 0,44 µg/mL. As frações P2g e P3g
foram mais potentes que o veneno total, apresentando perfis de inibição
estatisticamente iguais. O decaimento da população de parasitas em contato
com as frações mais potentes pode ser observado na figura 8.
44
Figura 8 - Curvas de dose e resposta das frações P2g, P3g, P4g e P5g
Decaimento da parasitemia de populações de P. falciparum expostas a diferentes concentrações seriadas das frações. Eixo Y: Inibição da cultura (em %). Eixo X: Concentração da fração em (µg/mL). Parasitemia avaliada com intercalante fluorescente de DNA – Sybr Green. A: Curva de dose-resposta da fração P2g. B: Curva de dose-resposta da fração P3g. C: Curva de dose-resposta da fração P4g. D: Curva de dose-resposta da fração P5g.
Os gráficos demonstram uma relação de dose resposta, em que o
aumento da concentração das frações é acompanhado pelo aumento da
inibição do crescimento parasitário. As frações P2g e P3g apresentam as
curvas com decaimento da parasitemia mais acentuadas, revelando sua alta
capacidade de inibição dos parasitas. A fração P2g foi escolhida para maior
investigação, já que, junto a fração P3g, foi a mais potente contra o parasito e
obteve o melhor rendimento cromatográfico.
4.4. Cromatografia de troca aniônica – HiTrap Capto Q ImpRes
A fração P2g foi recromatografada em coluna de troca aniônica, gerando
cinco frações denominadas de P1Q - P5Q (Figura 9).
45
Figura 9 - Perfil cromatográfico da fração P2g em coluna de troca anônica Hitrap Capto- Q ImpRes
Perfil cromatográfico de P2g (aproximadamente 5 mg) em resina Capto Q ImpRes (1 x 3cm), previamente equilibrada com AMBIC 50 mM, pH 8,0. As frações foram eluídas em gradiente linear de 0 a 75% de AMBIC 500 mM, pH 8,0 (tampão B), com fluxo de 1 mL/min. A eluição das amostras foi monitorada em comprimento de onda de 280 nm e a coleta foi manual. O gradiente de tampão B é representado pela linha verde. A cromatografia gerou cinco frações denominadas de P1Q – P5Q.
A fração P1Q foi a única a ser eluída antes do início do gradiente,
revelando que a grande maioria das proteínas da amostra interagiram
eletrostaticamente com a coluna. Os picos P2Q, P3Q E P4Q foram adsorvidos
com o gradiente superior a 40% de tampão B, enquanto a fração P5Q só foi
eluída após injeção de 100% do tampão B.
4.5. Perfil eletroforético da cromatografia de troca iônica
O perfil eletroforético das frações obtidas pela cromatografia de troca
aniônica pode ser observado na figura 10.
46
Figura 10 - Perfil eletroforético em SDS-PAGE das frações obtidas por cromatografia de troca aniônica
Eletroforese monodimensional em gel de poliacrilamida 12,5% em condições redutoras e desnaturantes. PM: Padrão molecular. P2q – P51: Frações obtidas a partir da cromatografia de troca aniônica. Foram utilizados 15 µg de cada amostra para o gel.
A fração P1Q não apresentou rendimento cromatográfico suficiente para
os testes de caracterização bioquímica e biológica. A fração P2Q apresentou
duas bandas proteicas próximas com massa relativa de 30 kDa e uma banda
de baixa massa molecular. A fração P3Q apresentou uma banda na faixa de
massa relativa a 30 kDa e outra banda na altura de 15 kDa. As frações P4Q e
P5Q apresentaram grupos proteicos de massas muito semelhantes na altura
relativa a 15 kDa e abaixo disso.
Para possibilitar a melhor visualização das frações P3q, P4q e P5q,
novas eletroforeses foram feitas, desta vez com 15% de poliacrilamida (Figura
11).
47
Figura 11 - Eletroforese SDS Page (15%) das frações P3q, P4q e P5q
Eletroforese monodimensional em gel de poliacrilamida 15% em condições redutoras e desnaturantes. A - PM: Padrão molecular. P3q: Fração obtida a partir de cromatografia de troca aniônica. B - PM: Padrão molecular. P4q e P5q: Frações obtidas a partir da cromatografia de troca aniônica. Foram utilizados 15 µg de cada amostra para o gel.
Com o gel de 15% de poliacrilamida, foi possível identificar a presença
de mais uma banda na fração P3q, com massa relativa inferior a 15 kDa. A
melhor visualização das bandas das frações P4q e P5q demonstrou a presença
de possíveis isoformas com massa relativa de aproximadamente 15 kDa.
4.6. Atividade proteolítica das frações de troca iônica
A fim de caracterizar enzimaticamente as frações obtidas a partir do
segundo passo cromatográfico, as frações que apresentaram bandas proteicas
com massa correspondente a proteases (P2q e P3q) foram submetidas ao
teste de atividade proteolítica sobre o fibrinogênio.
48
Figura 12 - Atividade fibrinogenolítica das frações P2q, P3q e P1c
As frações foram incubadas com fibrinogênio a 37ºC durante duas horas. Após o período de incubação, as amostras foram reduzidas e submetidas a SDS-PAGE 12,5%. PM: Padrão molecular. Fibr: Fibrinogênio (cadeias α, β e γ). 1: Veneno de B. jararaca (20 µg) + Fibrinogênio. 2: Fração P2q (20 µg) + Fibrinogênio. 3: Fração P3q (20 µg). 4: Fração P3q (20 µg) + Fibrinogênio. 5: Fração P3q (20 µg) + Fibrinogênio + EDTA. 6: Fração P3q (20 µg) + Fibrinogênio + PMSF. 7: P1c (20 µg) +Fibrinogênio.
O veneno total e as frações P2q, P3q e P1c (Fração P1c – Figura 19)
apresentaram atividade proteolítica. O veneno degradou a cadeia α do
fibrinogênio, enquanto as frações P2q, P3q e P1c foram capazes de degradar
as cadeias α e γ. A fração P3q foi testada na presença de dois inibidores
proteolíticos, o EDTA, inibidor específico de metaloproteases, e o PMSF,
inibidor específico de serinoproteases. Apenas na presença de PMSF a ação
proteolítica da fração P3q foi inibida.
4.7. Atividade fosfolipásica das frações de troca iônica
Para identificar possíveis PLA2 contidas nas frações obtidas da troca
iônica, as amostras P2q, P3q, P4q e P5q foram testadas sobre o substrato
4N3OBA. O perfil de atividade pode ser visto na figura 13.
49
Figura 13 - Atividade fosfolipásica das frações P2q, P3q, P4q e P5q
Atividade fosfolipásica das frações (10 µg de cada) avaliada sobre o substrato 4N3OBA. Absorbância monitorada em 425 nm. *Significante em relação ao branco. **Não significante em relação ao branco. VB Jararaca: Veneno de B. jararaca. BthTx-II: fosfolipase A2 isolada do veneno de Bothrops jararacuçu. P2q – P5q: frações obtidas por meio de cromatografia de troca aniônica. Branco: tampão de amostra.
O veneno de B. jararaca e a fração P3q apresentaram atividade
fosfolipásica, sendo que a fração P3q foi mais ativa do que o veneno total. As
frações P2q, P4q e P5q não apresentaram atividade fosfolipásica sobre o
substrato testado.
4.8. Atividade antiplasmodial das frações de troca iônica
O resultado de atividade antiplasmodial das frações de troca aniônica
(Tabela 6) revelou amostras com atividade antiparasitária
50
Tabela 6 - Atividade antiplasmodial das frações obtidas por troca aniônica, determinada pelo método Sybr Green
Amostras testadas IC50 (µg/mL) (média ± desvio padrão)
P2q >10
P3q 0,09 ± 0,04
P4q 0,31 ± 0,005
P5q 0,25 ± 0,05
Artemisinina 0,006 ± 0,001
Os resultados de atividade inibitória contra formas sanguíneas de P. falciparum foram expressos pela média dos valores de IC50 (Concentração Inibitória de 50% dos parasitos) com desvio padrão. A artemisinina foi utilizada como controle positivo para os testes. P2q – P5q: frações obtidas por meio de cromatografia de troca aniônica.
A fração P2q não se mostrou ativa na concentração máxima utilizada
para o teste. Já a fração P3q apresentou o melhor resultado de inibição deste
estudo, alcançando seu IC50 médio com 0,09 µg/mL. As frações P4q e P5q
também se mostraram potentes e apresentaram perfis de inibição
estatisticamente semelhantes entre si.
Os gráficos a seguir apresentam as curvas estimadas de dose e
resposta de cada fração. Os quadros revelam a inibição (em %) da cultura de
parasitos para cada concentrações seriadas utilizada.
Figura 14 - Atividade antiplasmodial da fração P3q
Figura A - Coluna 1: Concentrações seriadas em µg/mL da fração P3q. Coluna 2: Inibição da parasitemia (em %). Coluna 3- Desvio padrão. Figura B – Curva de dose e resposta da fração P3q. Ic50 em µg/mL. Eixo Y: Inibição da cultura (em %). Eixo X: Concentração da fração em (µg/mL). Parasitemia avaliada com intercalante fluorescente de DNA – Sybr Green.
51
A Fração P3q foi a mais potente em inibir a cultura de P. falciparum. Na
concentração de 10 µg/mL, esta fração gerou uma inibição média de 81,7%. A
curva de dose e resposta demonstra que concentrações inferiores a 0,15
µg/mL são capazes de inibir em 50% o desenvolvimento dos parasitos. Mesmo
a concentração mínima utilizada no teste (0,02 µg/mL) foi capaz de inibir cerca
de 30% do desenvolvimento da cultura.
Figura 15 - Atividade antiplasmodial da fração P4q
Figura A - Coluna 1: Concentrações seriadas em µg/mL da fração P4q. Coluna 2: Inibição da parasitemia (em %). Coluna 3- Desvio padrão. Figura B – Curva de dose e resposta da fração P3q. Ic50 em µg/mL. Eixo Y: Inibição da cultura (em %). Eixo X: Concentração da fração em (µg/mL). Parasitemia avaliada com intercalante fluorescente de DNA – Sybr Green.
A fração P4q foi ativa contra o parasita. A inibição máxima (77%) dos
parasitos foi alcançada na concentração de 5 µg/mL desta fração.
52
Figura 16 - Atividade antiplasmodial da fração P5q
Figura A - Coluna 1: Concentrações seriadas em µg/mL da fração P5q. Coluna 2: Inibição da parasitemia (em %). Coluna 3- Desvio padrão. Figura B – Curva de dose e resposta da fração P3q. Ic50 em µg/mL. Eixo Y: Inibição da cultura (em %). Eixo X: Concentração da fração em (µg/mL). Parasitemia avaliada com intercalante fluorescente de DNA – Sybr Green.
A fração P5q também se mostrou competente contra o parasita. Apesar
de apresentar um IC50 maior em relação a fração P3q (que obteve o melhor
IC50 deste estudo), a fração P5q foi capaz de promover inibição média de
80,8% na concentração de 5 µg/mL, enquanto a fração P3q, nessa mesma
concentração inibiu 74,9% dos parasitos.
53
Figura 17 - Atividade antiplasmodial da artemisinina
Figura A - Coluna 1: Concentrações seriadas em ng/mL de artemisinina. Coluna 2: Inibição da
parasitemia (em %). Coluna 3- Desvio padrão. Figura B – Curva de dose e resposta da fração
P3q. Ic50 em ng/mL. Eixo Y: Inibição da cultura (em %). Eixo X: Concentração da fração em
(ng/mL). Parasitemia avaliada com intercalante fluorescente de DNA – Sybr Green.
A artemisinina demonstrou um grande poder de inibição dos parasitos. O
IC50 médio de 0,007 µg/mL revela a eficiência deste fármaco em interromper o
ciclo eritrocítico do P. falciparum.
4.7. Atividade citotóxica das frações de troca iônica
A citotoxicidade das amostras foi estimada por meio da avaliação da
inibição de células HepG2 em contato com as frações. A tabela 2 resume as
médias de CC50 (concentração citotóxica para 50% das células) das amostras
estudadas.
Tabela 7 - Citotoxicidade das frações mais potentes obtidas por meio de cromatografia de troca aniônica, determinada pelo método colorimétrico MTT
Os resultados da atividade citotóxica das frações frente à linhagem de células HepG2 foram expressos pela média dos valores de CC50 (Concentração Citotóxica de 50% da linhagem celular).
As frações P3q e P5q não foram citotóxicas com as concentrações
testadas. Na concentração máxima usada nos testes (10 µg/mL), as frações
inibiram apenas 7% da cultura de HepG2.
Amostras testadas CC50 (µg/mL)
P3q >10 P5q >10
54
4.8. Índice de seletividade (IS)
Os resultados de Índice de Seletividade foram calculados a partir da
divisão dos resultados de CC50 pelos de IC50. As frações com IS maiores que
10 foram consideradas seletivas. Os resultados estão resumidos na Tabela 8.
Tabela 8 - Índice de Seletividade das frações P3q e P5q
Amostras
testadas
IC50 (µg/mL) (média ±
desvio padrão) W2
CC50 (µg/mL) (média ±
desvio padrão) HepG2
Índice de Seletividade
IS
Resultado
P3q 0,09 ± 0,04 ≥ 10 ≥111 Ativo–
Seletivo
P5q 0,25 ± 0,05 ≥ 10 ≥40 Ativo-
Seletivo
Resultados da atividade antiplasmodial (IC50); Citotoxicidade contra células HepG2 (CC50) e Índice de seletividade (IS) das frações mais potentes contra formas sanguíneas de P. falciparum. Foram consideradas ativas as frações com IC50 <1 µg/mL. Foram consideradas seletivas as frações com IS > 10.
4.9. Ensaios de hemólise
As frações P3q e P5q foram testadas em relação a sua ação hemolítica.
Ambas não foram hemolíticas na concentração máxima utilizada no teste, 10
µg/mL (Figura 18).
55
Figura 18 - Teste de hemólise das frações P3q e P5q
Avaliação da atividade hemolítica das frações na concentração de 10 µg/mL sobre cultura com 1% de hemácias. A saponina 0,05% foi utilizada como controle positivo (CP) e o sobrenadante de hemácias não lisadas foi o controle negativo (CN). Absorbância medida em 540 nm. A - CP: saponina 0,05%; CN: hemácia 1%; P5q: 10 µg/mL da fração P5q. B - CP: saponina 0,05%; CN: hemácia 1%; P3q: 10 µg/mL da fração P3q.
CROMATOGRAFIA DE FASE REVERSA – C18 (Discovery)
A fração com o menor IC50 (P3q) foi refracionada em cromatografia de
fase reversa – C18 (Discovery 25 x 0,45 cm), podendo o perfil cromatográfica e
eletroforético serem observados na figura 19.
56
Figura 19 - Cromatografia de fase reversa (C18 - Discovery) da fração P3q
A: Perfil cromatográfico da fração P3q (aproximadamente 1 mg) em resina Discovery - C18 (25 x 0,45cm), previamente equilibrada com ácido trifluoracético (TFA) 0,1%. As amostras foram eluídas em gradiente linear de 0 a 70% de acetonitrila (ACN) + TFA 0,1% (tampão B), com fluxo de 1 mL/min. A eluição das amostras foi monitorada em 280 nm e a coleta foi manual. O gradiente de tampão B é representado pela linha verde. A cromatografia gerou três frações denominadas de P1c – P3c. B: Eletroforese monodimensional em gel de poliacrilamida 12,5% em condições redutoras e desnaturantes. PM: Padrão molecular. P3q: Fração obtida por cromatografia de troca aniônica. P1c e P3c: amostras obtidas por cromatografia de fase reversa (C18). Foram utilizados 15 µg de cada amostra para o gel.
O perfil cromatográfico revelou três picos, denominados de P1c – P3c. A
eletroforese dessas frações revelou a presença de uma molécula com alto grau
de pureza na amostra P1c (que apresentou atividade proteolítica no neste
fibrinogenolítico - Figura 12), enquanto a fração P3c apresentou as três bandas
que compõem a fração de origem (P3q). A fração P2c não apresentou
rendimento cromatográfico suficiente para o teste eletroforético.
A fração P3c foi submetida a uma nova cromatografia de fase reversa
(C18 – Discovery), gerando o perfil cromatográfico e eletroforético apresentado
na figura 20.
57
Figura 20 - Cromatografia de fase reversa (C18 – Discovery) da fração P3c
A: Perfil cromatográfico da fração P3c (aproximadamente 1 mg) em resina Discovery - C18 (25 x 0,45cm), previamente equilibrada com ácido trifluoracético (TFA) 0,1%. As amostras foram eluídas em gradiente linear de 0 a 70% de acetonitrila (ACN) + TFA 0,1% (tampão B), com fluxo de 1 mL/min. A eluição das amostras foi monitorada em 280 nm e a coleta foi manual. O gradiente de tampão B é representado pela linha verde. A cromatografia gerou um pico denominado de P1d. B: Eletroforese monodimensional em gel de poliacrilamida 12,5% em condições redutoras e
desnaturantes. PM: Padrão molecular. P1d: amostra obtidas por cromatografia de fase reversa
(C18). Foram utilizados 15 µg de amostra para o gel.
A cromatografia de fase reversa da fração P3c gerou um pico
cromatográfico denominado de P1d. Em eletroforese, esta fração apresenta
duas bandas com massa relativa próxima a 15 kDa como principais
constituintes.
58
5. DISCUSSÃO
Apesar da queda recente de 60% dos casos de morte por malária
(WHO, 2015), o surgimento de resistência aos ACT’s ressalta a importância da
investigação de novas substâncias antimaláricas. Este trabalho se insere no
contexto de busca por novas moléculas antiplasmodiais, com o veneno de B.
jararaca sendo testado pela primeira vez contra formas intraeritrocitárias de P.
falciparum.
Outros venenos botrópicos foram investigados contra o P. falciparum e
exibiram efeito inibitório de crescimento parasitário in vitro, como descrito na
tabela 9.
Tabela 9 - Venenos botrópicos testados in vitro contra formas sanguíneas de P. falciparum
Serpente IC50 médio Autores
B. asper 0,13 μg/mL CASTILLO et al., 2012
B. brazili 0,17 μg/mL KAYANO et al., 2015
B. marajoensis 0,14 μg/mL GRABNER et al., 2017
B. jararaca 0,44 μg/mL Presente trabalho
Venenos de serpentes de outros gêneros e até de outras famílias se
mostraram capazes de inibir o P. falciparum. No estudo de Quintana e
colaboradores (2012) o veneno de Crotalus durissus cumanensis apresentou
IC50 de 0,17 ± 0,03 μg/mL.
A Micrurus spixii, serpente da família Elapidae, teve seu veneno testado
contra formas sanguíneas de P. falciparum, apresentando IC50 < 0,78 μg/mL
(TERRA et al., 2015). Tais achados revelam que a capacidade de inibição in
vitro de formas sanguíneas de P. falciparum é comum entre venenos ofídicos
diferentes.
Além dos resultados antiplasmodias alcançados por outros venenos
botrópicos, a escolha do veneno de B. jararaca foi baseada em estudos que
demonstram a presença de atividade microbicida, incluindo ação antifúngica
(GOMES et al., 2005) e antiparasitária (GONÇALVES et al., 2002; DEOLINDO
et al., 2010) neste veneno. Para investigar o seu potencial antiplasmodial,
buscou-se prospectar suas proteínas, avaliando características bioquímicas,
59
atividade antiplasmodial in vitro e citotoxicidade das amostras obtidas do
veneno.
Como etapa inicial, avaliou-se o efeito do veneno de B. jararaca sobre P.
falciparum resistente à cloroquina (cepa W2). Pelo método fluorimétrico Sybr
Green (SMILKSTEIN et al., 2004), que utiliza um intercalante de DNA, foi
possível mensurar as taxas de inibição de populações de parasitos em contato
com diferentes concentrações do veneno. Conforme a Tabela 1, foi observado
que o veneno apresentou atividade antiplasmodial em concentrações inferiores
a 0,5 µg/mL.
A análise desse resultado pode se dar sob a luz da revisão de Pink e
colaboradores (2005), que propõe critérios quantitativos para triagem in vitro de
substâncias antiparasitárias. Segundo esta revisão, para ser considerada ativa,
uma substância deve apresentar IC50 igual ou inferior a 1 µg/mL. Apesar deste
parâmetro ser baseado em moléculas isoladas, o veneno de B. jararaca se
encaixa como uma substância ativa (IC50 de 0,44 µg/mL), justificando a
investigação da ação antiplasmodial das moléculas que compõem essa
mistura.
Com a ação antiplasmodial confirmada para o veneno de B. jararaca, os
próximos passos desta pesquisa tiveram como objetivo fracionar o veneno de
forma guiada pela atividade antiplasmodial. O intuito desta metodologia foi de
testar todo o conteúdo proteico do veneno e selecionar o grupo de moléculas
mais potentes contra o P. falciparum.
Os métodos cromatográficos são vastamente utilizados para o
fracionamento e isolamento de proteínas de venenos ofídicos (STÁBELI et al.,
2012; LOMONTE et al., 2014). Por se tratar de uma técnica analítica,
preparativa e que garante o fracionamento de misturas complexas
(WIEDERSCHAIN, 2004), a utilização desse sistema foi conveniente com os
objetivos deste estudo.
O primeiro passo cromatográfico foi feito em coluna de exclusão
molecular Superdex G-75. Essa técnica fraciona os constituintes de uma
mistura por diferenças em suas massas moleculares (WIEDERSCHAIN, 2004).
Nesse sistema cromatográfico, as primeiras frações devem conter as proteínas
de maior massa (75 kDa ou mais), já que estas não adentram aos poros e são
eluídas mais rapidamente. As moléculas menores percorrem um caminho
60
maior, já que são capazes de penetrar nos poros e sofrer o processo de
filtragem. Isso faz com que as últimas frações contenham as menores
moléculas da mistura cromatografada (WIEDERSCHAIN, 2004).
A cromatografia de exclusão molecular do veneno de B. jararaca gerou
10 frações (Figura 6), um grau resolutivo próximo do observado no estudo de
De Vieira Santos e colaboradores (2008), em que a exclusão molecular foi
utilizada como primeiro passo no isolamento de uma L-aminoácido-oxidase do
veneno de B. jararaca; e do trabalho de Da Silva e colaboradores (2012), que
utilizou a resina Superdex G-75 como primeiro passo no isolamento de uma
metaloprotease (BJ-PI2) do mesmo veneno.
Analisando o perfil eletroforético das 10 frações (Figura 7), é possível
notar que o primeiro pico, P1g, contém as moléculas de maior massa do
veneno. Também é possível observar a presença de bandas com altura relativa
de média massa (próxima a 35 kDa) e baixa massa (próxima a 15 kDa) nessa
mesma fração. Isso sugere um processo de arraste das proteínas menores
pelas maiores durante o processo cromatográfico, ou a degradação proteolítica
da fração pelas próprias proteases que contem. Esta última hipótese é
levantada pela presença de uma banda de aproximadamente 75 kDa, massa
equivalente à metaloproteases de calasse PIII, e de 30 e 35 kDa, massas
equivalentes a metaloproteases de classe PII e serinoproteases de venenos
ofídicos (SOUSA et al., 2013).
Observando o perfil eletroforético das demais frações, nota-se que o
possível fenômeno de arraste (ou degradação proteolítica) ocorreu de forma
generalizada. Apesar disso, o fracionamento gerou amostras com conteúdo
diferentes que puderam ser testadas contra o P. falciparum.
O teste antiplasmodial feito com as frações provenientes da
cromatografia de exclusão molecular revelou que a atividade inibitória se
concentrou nas frações P2g, P3g, P4g e P5g (Tabela 1), o que indica que as
moléculas responsáveis pela atividade antiparasitária do veneno estão
presentes nessas frações. Considerando o potencial antiparasitário dos
componentes da fração P2q e o seu rendimento cromatográfico, optou-se por
selecionar esta fração para posteriores experimentos, visando identificar as
moléculas responsáveis pela inibição do crescimento do P. falciparum.
61
Para o fracionamento do conteúdo proteico da fração P2g foi realizada
cromatografia de troca aniônica (Capto Q ImpRes). Esta resina apresenta como
ligante um grupamento amina quaternário, que se ioniza adquirindo carga
positiva. Durante a cromatografia, moléculas carregadas negativamente
interagem eletrostaticamente com esta resina. Com a injeção gradual do
tampão B (AMBIC 500 mM), as moléculas acopladas à coluna foram eluídas
diferencialmente (WIEDERSCHAIN, 2004).
Utilizando para esta cromatografia um tampão com pH 8,0 (AMBIC),
criou-se um ambiente em que a maioria das proteínas do veneno estivessem
acima do seu ponto isoelétrico e, portanto, desprotonadas (com carga líquida
negativa), favorecendo assim a interação das proteínas com a resina. Esta
escolha foi feita baseada no estudo de Andrião-Escarso e colaboradores
(2000), que, por meio da comparação de perfis de troca catiônica de venenos
botrópicos, demonstraram que o conteúdo do veneno de B. jararaca é
majoritariamente ácido.
O perfil cromotográfico gerado revelou cinco frações denominadas de
P1q - P5q. Observando o perfil cromatográfico, percebe-se que a grande
maioria das moléculas foram eluídas após a injeção do tampão B, o que indica
que as proteínas cromatografadas tinham pontos isoelétricos ácidos e
interagiram eletrostaticamente com a coluna.
Quatro frações geradas pela cromatografia de troca aniônica (P2q –
P5q) foram submetidas à eletroforese SDS-PAGE. O perfil eletroforético
(Figura 10) revelou a presença de bandas com massa de aproximadamente 30
kDa nas frações P2q e P3q. Nessas mesmas frações também aparecem
bandas de baixa massa, com altura relativa a aproximadamente 15 kDa e 13
kDa. As frações P4q e P5q apresentaram bandas muito próximas na faixa entre
13 e 15 kDa (Figura 11).
Como a massa relativa de 30 kDa é correspondente às proteases, e a de
13 a 15 kDa às fosfolipases (SOUSA et al., 2013), foram feitos testes de
caracterização enzimática para estes grupos de proteínas.
A avaliação da atividade fosfolipásica foi mensurada sobre o substrato 3-
octanoiloxi-benzóico (4N3OAB). O ataque hidrolítico de PLA2 ao substrato gera
um produto cromogênico, o ácido 4-nitro-3-hidroxi-benzóico. Assim sendo, a
medição por espectrofotometria da geração deste produto tornou possível
62
identificar fosfolipases nas frações, assim como o nível de atividade enzimática
destas (HOLZER; MACKESSY, 1996).
Sob esta metodologia, o veneno de B. jararaca apresentou baixa
atividade fosfolipásica, resultado que vai ao encontro do estudo de
caracterização proteômica deste veneno (SOUSA et al., 2013), que revela que
as PLA2s compõem cerca de apenas 3% das proteínas. Além do veneno,
somente a fração P3q demonstrou conter fosfolipases enzimaticamente ativas
(Figura 13). As frações P4q e P5q não apresentaram atividade fosfolipásica, o
que pode indicar que sejam compostas por PLA2s homólogas (Lys49 ou outra
variante sem atividade enzimática). Essa possibilidade é levantada pois a faixa
de massa relativa no gel (13 a 15 kDa) e a presença de possíveis isoformas
(Figura 11 -B) são características de PLA2 (KINI, 2003).
Embora isoformas de PLA2 apresentem massas moleculares, pontos
isoelétricos e sequência primária similares, podem desempenhar ações
farmacológicas diferentes (TAKASAKI; YUTANI; KAJIYASHIKI, 1990; GAO et
al., 2001). As características bioquímicas semelhantes dificultam o isolamento
e purificação de um único grupo de isoformas, requisitando para tal o uso de
técnicas mais sofisticadas, como o emprego de resinas mais resolutivas e
espectrometria de massa (KINI, 2003). Para a confirmação da classe à qual as
proteínas das frações P4q e P5q pertencem, devem ser feitos outros
experimentos, como a investigação da atividade miotóxica, que é comum para
PLA2s homólogas (KINI, 2003) ou sequenciamento de aminoácidos.
A caracterização da atividade proteolítica das frações foi feita sobre o
substrato fibrinogênio (Figura 12). Após as duas horas de incubação, o veneno
de B. jararaca foi capaz de degradar a cadeia α do fibrinogênio, enquanto as
frações P2q, P3q demonstraram a capacidade de degradar as cadeias α e γ. A
fração P3q teve sua atividade proteolítica inibida pelo PMSF, um inibidor
específico de serinoprotease (SERRANO et al., 1995), o que indica que esta
seja a classe de protease presente na fração P3q e que aparece com alto grau
de pureza na amostra P1c (Figura 19).
Do veneno de B. jararaca, foram isoladas serinoproteases com massas
relativas próximas à protease presente na fração P3q e purificada em P1c
(massa de aproximadamente 30 kDa). Nishida e colaboradores (1994) isolaram
a Bothrombin, uma serinoprotease do veneno de B. jararaca ativadora de
63
fibrinogênio, com massa relativa de 35 kDa. A PA-BJ é uma serinoprotease
isolada do veneno de B. jararaca que promove agregação plaquetária, com
massa relativa de 30 kDa (SERRANO et al., 1995). Novos testes de
caracterização bioquímica da amostra P1c são necessários para a confirmação
da hipótese de que contenha um serinoprotease, assim como para a
identificação de qual molécula se trata.
Após os experimentos de caracterização enzimática das frações obtidas
a partir da cromatografia de troca aniônica, o teste antiplasmodial com as
mesmas demonstrou que a fração P2q não apresentou atividade inibitória,
enquanto as frações P3q, P4q e P5q foram potentes contra o parasito (Tabela
6). A fração P3q apresentou o melhor IC50 (0,09 µg/mL) e a fração P5q (IC50 de
0,25 µg/mL) foi capaz de inibir aproximadamente 80% do crescimento
parasitário na concentração de 5 µg/mL (Figura 16 A).
A potente atividade antiplasmodial da fração P3q pode estar relacionada
à ação individual das proteínas que compõem esta fração. Como os
experimentos de caracterização enzimática indicam a existência de PLA2s e
uma serinoprotease na fração P3q, a ação antiplasmodial pode ser relacionada
a estes grupos proteicos.
Outras Fosfolipases A2 de venenos ofídicos foram testadas in vitro contra
o P. falciparum e se mostraram ativas. Do veneno de B. asper, duas
fosfolipases A2 (uma enzimaticamente ativa e outra não) foram testadas contra
formas sanguíneas de P. falciparum. O melhor resultado foi obtido com a PLA2
enzimaticamente ativa, que apresentou IC50 médio de 1,42 µg/mL. A PLA2 sem
atividade enzimática apresentou IC50 de 22,9 µg/mL, indicando que a inibição
do parasita pode depender da atividade hidrolítica das PLA2 (CASTILLO et al.,
2012)
No estudo de Quintana e colaboradores (2012), a Crotoxina B - uma
PLA2 enzimaticamente ativa - isolada do veneno de Crotalus durissus
cumanensis - foi testada contra formas sanguíneas de P. falciparum,
demonstrando IC50 médio de 0,6 µg/mL.
O valor de IC50 alcançado em ambos estudos anteriores é maior que o
apresentado pela fração P3q (0,09 µg/mL), ressaltando a capacidade
antiplasmodial das moléculas que compõem esta fração.
64
Diversos estudos investigaram a ação de PLA2 sobre membranas
celulares, incluindo os possíveis mecanismos de ação destas proteínas contra
o P. falciparum. É reconhecido que o ataque de PLA2 hidrossolúveis a
membranas celulares depende da penetração da enzima na camada lipídica.
Estudos com filmes de monocamadas lipídicas demonstram que as
fosfolipases apresentam perfis de penetração diferentes (DEMEL et al., 1975).
Moll e colaboradores (1990) investigaram a capacidade de penetração
de uma PLA2 modificada em hemácias saudáveis e infectadas por P. knowlesi.
A enzima isolada do pâncreas de porco teve adicionada covalentemente em
sua estrutura uma cadeia lipídica longa. A alteração tornou a PLA2 capaz de
atacar somente os eritrócitos infectados, que apresentam uma permeabilidade
de membrana aumentada em comparação aos eritrócitos saudáveis.
Essa permeabilidade aumentada é consequência das modificações
estimuladas pelo parasita na célula hospedeira. Estudos como o de Hsiao e
colaboradores (1991) mostram que durante a fase de maturação eritrocítica de
P. falciparum, algumas mudanças estruturais na membrana plasmática das
hemácias são evidenciadas, como a modificação da composição dos
fosfolipídeos e expressão de proteínas de citoaderência eletrodensas (ROWE
et al., 2009).
Apesar de PLA2s terem sido utilizadas para o estudo da composição de
membrana de eritrócitos parasitados (JOSHI; GUPTA, 1988; MAGUIRE;
PRUDHOMME; HERMAN, 1991), não havia estudos que investigassem a
influência destas enzimas sobre a fisiologia do parasito. Até que Deregnaucourt
e Schrével (2000) avaliaram a atividade antiplasmodial de PLA2 tóxicas
(obtidas de venenos de abelhas e serpentes) e não tóxicas (obtidas de
pâncreas suíno e bovino). Ambos os tipos de PLA2 inibiram o parasito, mas
com diferenças marcantes.
As PLA2s tóxicas obtiveram IC50 variando entre 1.1 – 200 pM (a PLA2
isolada da abelha Apis mellifera foi a mais potente do estudo). As PLA2s não-
tóxicas foram menos potentes, com IC50 variando de 0,14 – 1 µM. Outra
diferença de atuação foi notada a partir de testes em tempos definidos sobre
culturas sincronizadas. Percebeu-se que as formas trofozoíticas imaturas eram
as únicas sensíveis às PLA2s tóxicas, enquanto as fosfolipases pancreáticas
mataram o parasita em todas as fases do seu desenvolvimento.
65
Ainda nesse estudo, foi demonstrado que os mesmos efeitos
antiplasmodiais são reproduzidos pelo uso de soro humano previamente
incubado com as PLA2s. Lipoproteínas purificadas do soro tratado com a PLA2
de A. mellifera foram capazes de inibir o parasito, indicando a ação indireta das
PLA2.
Em 2004, o mesmo grupo de pesquisa investigou a ação antiplasmodial
de sete PLA2 (GUILLAUME et al., 2004). Além das PLA2s de A. mellifera e de
pâncreas, fosfolipases de escorpião e outras serpentes foram testadas.
Novamente, todas as PLA2 foram ativas contra P. falciparum, sendo a de A.
mellifera a mais potente, enquanto as pancreáticas foram as menos potentes.
O mesmo perfil de inibição foi alcançado com o uso de soro humano tratado
com as respectivas PLA2s. Além disso, testes feitos em culturas com AlbuMAX
II, um meio desprovido de lipoproteínas e com 10 vezes menos fosfolipídeos,
geraram o decaimento em mais de mil vezes do poder antiplasmodial das
PLA2s.
No presente trabalho, o AlbuMAX foi utilizado para suplementar as
culturas de P. falciparum utilizadas nos testes antiplasmodiais. A utilização
deste composto pode ter influenciado os resultados de inibição parasitária da
fração P3q, que demonstra conter PLA2s enzimaticamente ativas. A verificação
desta hipótese pode se dar com a utilização de soro humano em testes
antiplasmodias futuros com esta fração, avaliando se o IC50 irá sofrer
mudanças significativas.
Os experimentos in vitro de Guillaume e colaboradores (2004) indicam
um mecanismo indireto de ação antiplasmodial das PLA2, que dependente da
hidrólise do soro humano. No contexto da quimioterapia da malária, como esse
tipo de ação poderia ser explorada?
Estudos demonstram que PLA2 participam da imunidade inata, ativando
células fagocitárias em resposta imune a bactérias (MADSEN; INADA; WEISS,
1996; BALESTRIERI et al., 2009); além disso, a presença de níveis elevados
de PLA2 circulante foi associada a casos severos de malária (VADAS et al.,
1992; VADAS et al., 1993). Entender o papel dessas moléculas na
fisiopatologia da doença pode gerar novas estratégias quimioterápicas e o
avanço no combate à malária.
66
Em contraponto à hipótese de que a ação antiplasmodial de PLA2 seja
indireta e dependa da ação enzimática, PLA2 homólogas (enzimaticamente
inativas) que são capazes de inibir o parasito possivelmente desempenham um
mecanismo de ação alternativo.
Em estudo de Grabner e colaboradores (2017), uma PLA2 homóloga
(BmajPLA2-II) desempenhou atividade antiplasmodial com IC50 médio de 6,41
µg/mL. No presente trabalho, as frações P4q e P5q apresentaram IC50 de 0,31
µg/mL e 0,25 µg/mL, respectivamente. Se confirmado que o conteúdo destas
frações contem PLA2 homólogas, pode-se deduzir que a ação antiplasmodial
destas moléculas não dependeu da atividade enzimática. Um dos mecanismos
alternativos que pode estar associado ao efeito antiplasmodial é ação da
porção C terminal das PLA2, que desestabiliza membranas fosfolipídicas e
aumenta a permeabilidade celular (LOMONTE; RANGEL, 2012).
Além da PLA2, a presença de uma protease na fração P3q pode estar
relacionada à sua atividade antiplasmodial. Estudos que testem
serinoproteases de venenos ofídicos contra o P. falciparum e outros
protozoários são escassos. Porém, no estudo de Kayano e colaboradores
(2015), a metaloprotease de classe P-I “BbMP-1”, isolada do veneno de B.
brazili, foi testada contra formas sanguíneas de P. falciparum, obtendo um IC50
médio de 3,2 µg/mL. A comparação direta com P3q demonstra um perfil de
atividade antiplasmodial 35 vezes maior da fração em relação à metaloprotease
citada.
Assim como a hipótese de atuação independente das proteínas da
fração P3q sobre o parasito, a possibilidade de ação sinérgica ou aditiva deve
ser considerada. Os venenos de serpente são, de maneira geral, coquetéis de
substâncias que agem de forma conjunta (CALVETE; LOMONTE, 2015).
Sendo assim, o sinergismo entre moléculas de venenos ofídicos é um
fenômeno comum. Esse tipo de interação pode se dar a nível intermolecular e
supramolecular, gerando o aumento da atividade de moléculas que atuam
sobre um mesmo alvo, seja molecular, metabólico ou fisiológico (LAUSTSEN,
2016). Para confirmar a existência ou não da ação sinérgica ou aditiva na
fração P3q, as moléculas que a compõe devem ser testadas de forma isolada.
Se houver diminuição ou ausência da atividade antiplasmodial, o processo
sinérgico pode ser inferido.
67
A fração P3q, que obteve o melhor IC50 do estudo, foi refracionada em
resina C18, a fim de separar as PLA2s e a protease que a compõe,
possibilitando o teste antiplasmodial com estes grupos isolados. A
cromatografia em fase reversa (C18) é uma técnica com maior poder
resolutivo, que tem como princípio a separação de moléculas a partir de
pequenas diferenças de hidrofobicidade. Esse sistema é considerado de fase
reversa, pois apresenta uma resina com alto caráter hidrofóbico. Isso gera
interações hidrofóbicas fortes que, para serem desfeitas, necessitam da
utilização de soluções menos polares (quando comparadas à água) como a
acetonitrila (WIEDERSCHAIN, 2004).
A fração P1c, gerada a partir deste passo cromatográfico, apresentou
em eletroforese uma banda com alto grau de pureza com massa de
aproximadamente 30 KDa. Esta amostra foi testada em relação a sua atividade
fibrinogenolítica e demonstrou atividade proteolítica (Figura 12). Como a fração
(P3q) que deu origem a esta amostra aparenta conter uma serinoprotease,
indica-se que a fração P1c contenha esta classe de molécula. A fração P3c
apresentou perfil eletroforético semelhante ao da fração de origem (Figura 19).
A fração P3c foi submetida a uma segunda cromatografia em fase
reversa, que gerou a amostra P1d (Figura 20). Esta apresenta duas bandas
com massa relativa de 15 e 13 KDa, indicando que seja composto por PLA2s.
As frações P1c e P1d serão testadas contra o P. falciparum, teste que deve
responder quais das classes de proteínas foi a responsável pela atividade
antiplasmodial, ou se houve ação sinérgica entre elas.
Além dos testes antiplasmodiais e a busca pelos valores de IC50, neste
trabalho foi investigado o perfil citotóxico (CC50) das frações em uma linhagem
de hepatócitos humanos. Essa estratégia leva em consideração que
substâncias com poder inibitório contra o parasito devam atuar em
concentrações não tóxicas para o hospedeiro, viabilizando assim o seu uso em
medidas terapêuticas (PINK et al., 2005).
A citotoxicidade das frações foi avaliada sobre células de
hepatocarcinoma humano (HepG2). A escolha desta linhagem se deu por
serem células de manejo facilitado e conservarem características das células
nas quais os fármacos são metabolizados. Além disso, uma etapa importante
do ciclo de vida do parasita se dá em células hepáticas (MATOS et al., 2016),
68
sendo que as próprias HepG2 se mostram capazes de abrigar in vitro o
desenvolvimento de espécies murinas de plasmódio (CALVO-CALLE et al.,
1994).
Após o período de incubação das frações com a cultura de HepG2, a
utilização do sal MTT permitiu a avaliação da viabilidade das células de
hepatocarcinoma. Como o sal MTT é oxidado nas mitocôndrias pela enzima
sucinato desidrogenase, gerando formazam (um cristal de cor arroxeada), foi
possível quantificar a geração do produto por espectrofotometria, relacionando
os níveis de absorbância com a integridade metabólica da célula (STOCKERT
et al., 2012).
As frações P3q e P5q não foram citotóxicas na concentração máxima
testada, 10 µg/mL (Tabela 7), apresentando inibição do crescimento celular
menor que 10% nesta concentração.
Outros compostos de venenos ofídicos foram testados sob a mesma
metodologia. O estudo de Kayano e colaboradores (2015) testou a
metaloprotease BbMP-1 (isolada de B. brazili) contra células HepG2. A
molécula apresentou CC50 maior ou igual a 200 µg/mL. Uma PLA2 homóloga
isolada no trabalho de Grabner e colaboradores (2017) não se mostrou tóxica
na concentração de 150 µg/mL. Terra e colaboradores (2015) testaram o
veneno de Micrurus spixii contra HepG2 sob a mesma metodologia, verificando
que o veneno não desempenhou atividade citotóxica em concentrações de 200
µg/mL. Tais estudos demonstram proteínas de venenos ofídicos com baixa
capacidade de inibir células HepG2.
A partir dos resultados de CC50, foi possível criar uma relação entre
estes valores e os de IC50, possibilitando a indicação de ação seletiva das
frações. O cálculo do índice de seletividade (IS) foi feito com a divisão entre o
valor de CC50 pelo de IC50, sendo que resultados altos indicam ação seletiva
(KATSUNO et al., 2015).
A fração P3q apresentou IS maior ou igual a 111 (Tabela 8). Isso indica
que a concentração necessária para inibir as HepG2 é, no mínimo, 111 vezes
maior que a necessária para inibir o parasito. A fração P5q apresentou IS ≥ 40.
Os trabalhos de Kayano e colaboradores (2015), Grabner e colaboradores
(2017) e Terra e colaboradores (2015) usam um parâmetro que estabelece que
resultados de IS maiores que 10 indicam ação seletiva. Levando esses artigos
69
em consideração, ambas as frações (P3q e P5q) apresentam alta seletividade
contra o parasito.
Porém, os estudos acima referenciam este parâmetro com o trabalho de
Bézivin e colaboradores (2003), um artigo que investiga a ação de extratos de
liquens contra diversas linhagens tumorais. Neste trabalho, não foi proposta a
criação de um parâmetro de seletividade para parasito/célula de mamíferos,
sendo na verdade estabelecido que valores de IS maiores que três são
“interessantes” para screenings que objetivem identificar compostos com
potencial ação anticâncer (i.e., seletivos para linhagens tumorais). Além disso,
o estudo não usou células HepG2, e os extratos que foram testados são de
uma natureza muito diferente à composição dos venenos ofídicos.
Na revisão de Katsuno e colaboradores (2015), são estabelecidos
critérios para direcionar o screening de compostos contra doenças infecciosas,
incluindo a malária. Os critérios para validação de atividade antiplasmodial são:
(i) IC50 < 1 µM contra linhagens multirresistentes do parasito; (ii) Índice de
seletividade >10 (entre ação citotóxica em células de mamíferos/ ação inibitória
do Plasmodium spp).
Além dos parâmetros para a validação de atividade, o estudo indica
características que, se presentes em uma substância, devem torná-la prioritária
no screnning. São elas: (i) IC50 < 100 nM contra linhagens multirresistentes do
parasito; (ii) IS > 100 (entre ação citotóxica em células de mamíferos/ ação
inibitória do Plasmodium spp). (iii) Apresentar, preferencialmente, um novo
mecanismo de ação antiplasmodial; (iv) Ter eficácia in vivo, com utilização oral
e capaz de diminuir a parasitemia em 90% com concentração < 50 mg/Kg
(KATSUNO et al., 2015).
Como no presente estudo não se conhece a massa molecular dos
compostos testados, os resultados não podem ser expressos em molaridade,
impossibilitando a checagem do critério de inibição antiplasmodial indicado.
Apesar disso, a fração P3q apresentou IS > 111, o que se encaixa no padrão
de seletividade mencionado (KATSUNO et al., 2015).
Quando comparado o valor de IC50 da fração P3q (0,09 µg/mL) com o
controle positivo, o fármaco artemisinina (IC50 de 0,006 µg/mL), percebe-se a
droga é 15 vezes mais potente. Porém, deve-se levar em consideração que a
70
quantidade de princípio ativo por µg é diferente entre a fração P3q e a
artemisinina, já que a concentração molar é desigual.
Além das HepG2, hemácias humanas foram testadas frente a
concentrações seriadas das frações P3q e P5q (Figura 18). Este teste visou
verificar se a atividade antiplasmodial não foi consequência de uma ação
hemolítica das frações. A fração P3q não foi hemolítica na concentração
máxima testada (10 µg/mL), indicando que a dose necessária para atingir o
IC50 (0,09 µg/mL) é, no mínimo, 100 vezes menor do que a necessária para
causar hemólise. A fração P5q também não foi hemolítica na concentração de
10 µg/mL, confirmando a hipótese de que ambas não causaram hemólise
durante os testes antiplasmodiais.
6. CONCLUSÃO
✓ O veneno de B. jararaca foi ativo contra formas sanguíneas da cepa W2
de P. falciparum, com IC50 médio de 0,44 µg/mL;
✓ O fracionamento do veneno de B. jararaca gerou 10 frações por
cromatografia de exclusão molecular (P1g – P10g);
✓ As frações P2g, P3g, P4g e P5g foram potentes em inibir o crescimento
parasitário (IC50 variando entre 0,1 – 0,59 µg/mL), com destaque a
fração P2g, de IC50 médio de 0,1 µg/mL;
✓ O refracionamento da fração P2g por cromatografia de troca aniônica
gerou mais cinco frações (P1q - P5q);
✓ A fração P3q apresentou o melhor IC50 deste trabalho (0,09 µg/mL);
✓ A fração P3q demonstrou ser composta majoritariamente por uma
protease e fosfolipases A2, e estes grupos de moléculas podem ter
atuado de forma independente ou sinérgica contra o parasito.
✓ A fração P5q apresentou IC50 de (0,25 µg/mL), o que demonstra que
também contém potencial antiplasmodial.
✓ As frações P3q e P5q não foram citotóxicas contra células HepG2 na
concentração de 10 µg/mL.
✓ As frações P3q e P5q foram seletivas contra o parasito, com IS > 111 e
>40, respectivamente.
✓ As frações P3q e P5q não foram hemolíticas.
71
✓ O alto valor de IS e a ausência de atividade hemolítica indica a potente e
seletiva ação das frações contra o P. falciparum.
✓ O isolamento e caracterização bioquímica das moléculas que compõem
as frações P3q e P5q é essencial para a melhor compreensão da ação
antiplasmodial destas.
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ANEXO 1 – Aprovação do IBAMA para a implantação do banco de
venenos do CEBio.
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ANEXO 2 – Autorização de acesso ao patrimônio genético – CGEN.
89
ANEXO 3 - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP.
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ANEXO 4 – Resultados de atividade in vitro contra Leishmania
amazonenses das frações de exclusão molecular do veneno de B.
jararaca.
Amostras testadas IC50 (µg/mL) (média ± desvio padrão)
Veneno de B. jararaca 11,9 ±3,7 P1g >100 P2g >100 P3g >100 P4g >100 P5g >100 P6g >100 P7g >100 P8g >100 P9g >100 Pentamidina 0,11 ± 0,01
P1g – P9g: Frações obtidas por meio de cromatografia de exclusão molecular
do veneno de B. jararaca. Avaliação da parasitemia por teste colorimétrico com
Resazurina. Médias obtidas de dois testes em triplicata.