ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um...

41
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE CONTAGEM DE MATERIAL PARTICULADO EM MEDICAMENTOS INJETÁVEIS Marina Miyuki Ishihara Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador(a): Prof.(a). Dr(a) Vladi Olga Consigliere de Matta Co-orientador(a): Felipe Rebello Lourenço São Paulo 2018

Transcript of ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um...

Page 1: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE

CONTAGEM DE MATERIAL PARTICULADO EM MEDICAMENTOS

INJETÁVEIS

Marina Miyuki Ishihara

Trabalho de Conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo.

Orientador(a):

Prof.(a). Dr(a) Vladi Olga Consigliere

de Matta

Co-orientador(a): Felipe Rebello

Lourenço

São Paulo

2018

Page 2: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................... 3

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................... 4

LISTA DE QUADROS ............................................................................................. 5

LISTA DE TABELAS ............................................................................................... 6

RESUMO................................................................................................................. 8

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9

1.1 Material particulado ....................................................................................... 9

1.2 Obscurecimento da Luz ............................................................................... 10

1.3 Microscopia .................................................................................................. 11

1.4 Amostragem e especificações farmacopeicas. ............................................ 12

1.5 Justificativa .................................................................................................. 13

2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 15

2.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 15

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 15

3. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................. 16

3.1. Amostras ..................................................................................................... 16

3.2 Métodos ....................................................................................................... 16

3.2.1. Obscurecimento da Luz ....................................................................... 16

3.2.2. Microscopia .......................................................................................... 18

3.3. Análise estatística ....................................................................................... 22

4. RESULTADOS .................................................................................................. 24

4.1 Ácido Zoledrônico (4 mg) ............................................................................. 24

4.2 Oxaliplatina 50 mg ....................................................................................... 25

4.3 Oxaliplatina 100 mg ..................................................................................... 26

4.4 Análise estatística ........................................................................................ 28

5. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 34

6. CONCLUSÕES ................................................................................................. 39

7. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 40

Page 3: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

LISTA DE ABREVIATURAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

EPI Equipamento de Proteção Individual

FDA Food and Drug Administration

USP United States Pharmacopeia

Page 4: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Princípio do funcionamento de um contador de partículas baseado no

Obscurecimento da Luz. .................................................................................. 11

Figura 2 - Seringa do contador de partículas. .................................................. 17

Figura 3 - Material de filtração para análise de material particulado pela técnica

de Microscopia. ................................................................................................ 19

Figura 4 - Placas de Petri com membranas filtrantes após a etapa de filtração

das amostras analisadas pelo Método de Microscopia. ................................... 20

Figura 5 - Partícula retida na membrana filtrante na análise de água

ultrapurificada, sem luz proveniente do iluminador lateral. ............................... 21

Figura 6 - Partícula retida na membrana filtrante na análise de água

ultrapurificada, com luz proveniente do iluminador lateral. ............................... 22

Figura 7 - Partículas de tamanho maior que 10 µm e menor que 25 µm na parte

superior e maior que 25 µm na parte inferior, encontradas na análise de

oxaliplatina 100 mg pela técnica de Microscopia. ............................................ 28

Page 5: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Número máximo de partículas ≥10 e 25 µm permitido pelo Método 1

(Obscurecimento da Luz), conforme o volume declarado no recipiente. .......... 12

Quadro 2 - Número máximo de partículas ≥10 e 25 µm permitido pelo Método 2

(Microscopia), conforme o volume declarado no recipiente. ............................ 12

Quadro 3 - Medicamentos analisados com suas respectivas embalagens, formas

farmacêuticas e número de análises realizadas pelas técnicas de

Obscurecimento da Luz e Microscopia. ........................................................... 16

Quadro 4 - Comparação entre os métodos de contagem de material particulado,

mostrando suas vantagens e desvantagens. ................................................... 35

Page 6: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz (Análise 1).............................................................................. 24

Tabela 2 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Microscopia (Análise 1). ................................................................................... 24

Tabela 3 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz (Análise 2).............................................................................. 24

Tabela 4 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Microscopia (Análise 2). ................................................................................... 25

Tabela 5 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz (Análise1)............................................................................... 25

Tabela 6 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Microscopia (Análise 1). ................................................................................... 25

Tabela 7 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz (Análise 2).............................................................................. 25

Tabela 8 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Microscopia (Análise 2). ................................................................................... 26

Tabela 9 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz (Análise 1).............................................................................. 26

Tabela 10 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Microscopia (Análise 1). ................................................................................... 27

Tabela 11 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz (Análise 2).............................................................................. 27

Tabela 12 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Microscopia (Análise 2). ................................................................................... 27

Tabela 13 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz (Análise 3).............................................................................. 27

Tabela 14 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de

Microscopia (Análise 3). ................................................................................... 27

Tabela 15 - Média do número de partículas ≥10 µm encontradas pelas técnicas

Obscurecimento da Luz e Microscopia e a diferença entre elas. ..................... 29

Tabela 16 - Resultados da média e desvio padrão entre as diferenças (descritas

na Tabela 15), em número de partículas. ......................................................... 29

Page 7: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

Tabela 17 - Média do número de partículas ≥25 µm encontradas pelas técnicas

Obscurecimento da Luz e Microscopia e a diferença entre elas. ..................... 30

Tabela 18 - Resultados da média e desvio padrão entre as diferenças (descritas

na Tabela 17). .................................................................................................. 30

Tabela 19 - Intervalos de confiança 95% calculados para as partículas ≥ 10 e 25

µm. ................................................................................................................... 32

Tabela 20 - Intervalos calculados a partir das especificações de cada método

conforme a Farmacopeia Americana (2017). ................................................... 33

Tabela 21 - Comparação entre os resultados da análise de material particulado

de ácido zoledrônico referentes ao medicamento referência e melhor formulação

citados no trabalho de Prasanthi, 2017 e às análises do presente trabalho. ... 37

Page 8: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

RESUMO

ISHIHARA, M. M. Análise comparativa entre métodos analíticos de contagem de material particulado em medicamentos injetáveis. 2018. 41. f. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Palavras-chave: Material particulado, Obscurecimento da Luz, Microscopia.

A análise de material particulado em medicamentos injetáveis é de grande importância, visto que pode oferecer diversos tipos de danos à saúde do paciente. A presença de material particulado em formulações injetáveis e parenterais tem sido uma das principais causas para recalls. De acordo com a Farmacopeia Americana, United States Pharmacopeia (U.S. Pharmacopeia, 2017), o ensaio de material particulado pode ser realizado por duas técnicas dependendo das características físico-químicas do medicamento. Uma delas, conhecida como Obscurecimento da Luz, é aplicada preferencialmente para a análise de partículas subvisíveis em injeções e preparações parenterais que apresentam baixa viscosidade e a outra técnica, definida como Microscopia, é atribuída a amostras de baixa limpidez e alta viscosidade. O presente trabalho teve como objetivo aplicar os métodos Obscurecimento da Luz e Microscopia para contagem de partículas ≥10 e 25 µm em medicamentos injetáveis e comparar os resultados das análises, considerando a forma farmacêutica, aplicabilidade dos métodos, especificações farmacopeicas e informações encontradas na literatura. Para isso, o número de partículas ≥10 e 25 µm foi contabilizado pelos métodos de Obscurecimento da Luz e Microscopia em três medicamentos injetáveis diferentes, sendo eles, ácido zoledrônico 4 mg, oxaliplatina de 50 e 100 mg. A partir da quantidade de amostras disponíveis para realizar os testes, foi possível realizar duas análises de ácido zoledrônico 4 mg, duas análises de oxaliplatina de 50 mg e três análises de oxaliplatina 100 mg, pelos métodos de Obscurecimento da Luz e Microscopia. Uma análise estatística foi realizada a partir da definição de intervalos de equivalência para as partículas de tamanho ≥10 e 25 µm. Todos os medicamentos analisados apresentaram resultados satisfatórios, conforme a especificação de cada método de análise na Farmacopeia Americana. A análise de partículas ≥10 µm pelo método de Obscurecimento da Luz apresentou resultados 100 vezes maior em relação ao número de partículas do mesmo tamanho obtido pela Microscopia. Os métodos de contagem de material particulado apresentaram resultados diferentes, tendo em vista os diferentes princípios de contagem de partículas. No entanto, através da análise estatística realizada, conclui-se que, para os medicamentos analisados nesse trabalho, os métodos de contagem de material particulado por Obscurecimento de Luz e Microscopia podem ser considerados equivalentes no momento de aprovar ou reprovar um produto farmacêutico para esse parâmetro e o método por Obscurecimento de Luz apresentou-se mais vantajoso que a Microscopia, levando em consideração a maior facilidade e agilidade na execução da análise, rastreabilidade de dados e aproveitamento das amostras para realização de outros testes.

Page 9: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

9

1. INTRODUÇÃO

1.1 Material particulado

O material particulado em medicamentos injetáveis é definido como sendo

partículas estranhas, móveis, não dissolvidas, além de bolhas de gás, não

intencionalmente presentes no produto final (U.S. PHARMACOPEIA, 2017).

Existem diversas fontes de material particulado, como o meio ambiente,

materiais de embalagem, componentes da formulação, interações entre o

produto e o material de embalagem e partículas formadas durante o processo

(LANGILLE, 2013).

O material particulado pode ser classificado conforme sua fonte ou

tamanho da partícula. Em relação à origem do material particulado, a

Farmacopeia Americana (2012) aborda em seu Capítulo <1788> Methods for the

Determination of Particulate Matter in Injections and Ophthalmic Solutions, que,

as partículas podem ser de origem extrínseca ou intrínseca. As partículas de

fonte extrínseca são definidas como partículas estranhas, que não fazem parte

da formulação, embalagem ou processo de fabricação. Já as partículas de

origem intrínseca são associadas à embalagem, formulação, processo de

fabricação ou à instabilidade apresentada pelo medicamento ao longo do tempo,

como a presença de sais de fármacos insolúveis ou a degradação da

embalagem. A Farmacopeia Americana ainda caracteriza partículas inerentes

ao produto, como partículas de proteínas ou componentes da formulação.

Em relação ao tamanho das partículas, o material particulado pode ser

classificado em dois tipos: partículas visíveis, com tamanhos entre 50 e 200 µm

e as subvisíveis, com tamanho a partir de 10 µm (NARHI et al., 2009).

Em função do risco envolvido para a saúde do paciente, as agências

reguladoras determinam análise e quantificação das partículas visíveis em todo

o lote produzido de injetável que pode ser automatizada ou manual. Na análise

manual, cada unidade (ampola, por exemplo) é examinada contra fundos escuro

e claro, sob determinada intensidade luminosa e padronizada distância do olho

humano. A análise da quantidade de partículas visíveis também pode ser

automatizada, desde que o método não seja destrutivo e podem ser usadas as

seguintes técnicas: a interação com a luz refletida pela partícula é capturada em

Page 10: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

10

imagens digitais com iluminação diferente e, alternativamente, a iluminação

direta pode ser imposta para criar uma sombra. Existem especificações bem

definidas nas farmacopeias sobre a quantidade de unidades contaminadas e o

número de partículas por unidade (NARHI et al., 2009).

Em relação às partículas subvisíveis, a Farmacopeia Americana (2017),

estabelece limites para a quantidade dessas partículas, harmonizados com a

Farmacopeia Europeia e a Farmacopeia Japonesa, descritos no Capítulo <788>

Particulate Matter in Injections. O capítulo apresenta dois testes para a

quantificação de partículas: contagem de partículas pelo Método 1 (conhecido

como Obscurecimento ou Bloqueio de Luz) e pelo Método 2 (Microscopia). Para

a análise de partículas subvisíveis, o Método 1 é preferencialmente aplicado. No

entanto, em alguns casos pode ser necessário realizar o teste pela técnica de

Obscurecimento da Luz, seguida pela Microscopia, com o objetivo de confirmar

a adequabilidade de aplicação do método ao medicamento em análise.

1.2 Obscurecimento da Luz

O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico,

composto por um feixe de luz que é projetado através da amostra. Caso a

partícula obstrua esse feixe, essa obstrução resulta em um pulso, permitindo

uma determinação automática do tamanho da partícula, assim como a

quantidade, de acordo com o tamanho (MAHLER et al., 2008; NARHI et al.,

2009). A Figura 1 ilustra esse processo, no qual, as partículas passam pela célula

de fluxo sobre uma região de luminosidade intensa, proveniente de uma fonte de

luz, que se propaga através de uma lente. À medida que as partículas vão

passando, uma certa quantidade de luz é bloqueada, formando sombras, que

são relacionadas ao tamanho delas. O detector então identifica esse decréscimo

de luz e cria um pulso elétrico correspondente, proporcional ao tamanho da

partícula. Os pulsos são então contados e categorizados por faixa de tamanho e

convertidos em contagem de partículas (BORCHERT et al., 1986).

Page 11: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

11

Figura 1 - Princípio do funcionamento de um contador de partículas baseado no Obscurecimento da Luz.

Fonte: Huang (2008).

1.3 Microscopia

O Método 2 baseia-se na contagem de partículas através de um

microscópio binocular, ajustado para 100 ampliações, no qual a amostra líquida

passa primeiramente por um filtro para reter o material particulado e as partículas

capturadas com tamanho igual ou maior que 10 e 25 µm são contadas (U.S.

Pharmacopeia, 2017). De acordo com Farmacopeia Americana, nem todas as

preparações parenterais podem ser analisadas por um ou ambos os métodos.

Quando o Método 1 não é aplicável, no caso de medicamentos que apresentam

baixa limpidez e alta viscosidade, como emulsões, coloides e preparações

lipossomais, a contagem de partículas deve ser realizada pelo Método 2. Da

mesma forma, para produtos que produzem bolhas de ar ao serem arrastados

para o sensor do contador de partículas, a contagem por Microscopia pode ser

exigida. Caso a viscosidade do produto seja tão alta de modo a inviabilizar a

análise por qualquer um dos métodos, uma diluição quantitativa com diluente

apropriado é realizada, a fim de reduzir a viscosidade, possibilitando a execução

do teste.

Page 12: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

12

1.4 Amostragem e especificações farmacopeicas.

De acordo com a Farmacopeia Americana (2017), é recomendado que

para amostras com volume rotulado maior que 100 mL ou amostras de volume

maior ou igual a 25mL, 10 unidades individuais sejam testadas. Para amostras

com volume rotulado menor que 25 mL, o conteúdo de 10 ou mais frascos devem

ser reunidos, para que seja obtido no mínimo 25 mL.

Os Quadros 1 e 2 apresentam as especificações de acordo com o volume

declarado no recipiente, dos métodos 1 e 2, respectivamente.

Quadro 1 - Número máximo de partículas ≥10 e 25 µm permitido pelo Método 1 (Obscurecimento da Luz), conforme o volume declarado no recipiente.

Tamanho da partícula Recipiente com volume

maior que 100 mL

Recipiente com volume

menor ou igual a 100 mL

≥10 µm 25 partículas/mL 6000

partículas/recipiente

≥25 µm 3 partículas/mL 600 partículas/recipiente

Fonte: U.S.Pharmacopeia, 2017.

Quadro 2 - Número máximo de partículas ≥10 e 25 µm permitido pelo Método 2 (Microscopia), conforme o volume declarado no recipiente.

Tamanho da partícula Recipiente com volume

maior que 100mL

Recipiente com volume

menor ou igual a 100 mL

≥10 µm 12 partículas/mL 3000

partículas/recipiente

≥25 µm 2 partículas/mL 300 partículas/recipiente

Fonte: U.S.Pharmacopeia, 2017.

Conforme descrito anteriormente, esses limites sobre a quantidade de

partículas preconizados pela Farmacopeia Americana, estão harmonizados com

a Farmacopeia Europeia e a Farmacopeia Japonesa. Em relação à Farmacopeia

Brasileira (5ª edição, 2010), os testes de material particulado em medicamentos

injetáveis são abordados no item “5.1.7.1. PARTÍCULAS SUB-VISÍVEIS”. Em

comparação à Farmacopeia Americana, a Farmacopeia Brasileira descreve os

Page 13: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

13

mesmos métodos de análise de material particulado. No entanto, a Farmacopeia

Brasileira além de estabelecer limites para soluções injetáveis em recipientes

com volume maior que 100 mL e menor ou igual a 100 mL, também apresenta

uma especificação para “Pós para injetáveis em recipientes, com volume

declarado, igual ou menor que 100 mL” para o método por Obscurecimento da

Luz, no qual a amostra reconstituída cumpre o teste se a média do número de

partículas ≥10 µm não for superior a 10000 partículas/recipiente e a média do

número de partículas ≥25 µm não for superior a 1000 partículas/recipiente.

1.5 Justificativa

A presença de partículas estranhas visíveis ou subvisíveis em

formulações injetáveis ou parenterais tem sido uma das principais razões para

recalls (TAWDE, 2015). No período de 2008-2012, a Food and Drug

Administration (FDA) relatou 22% dos recalls para medicamentos injetáveis

estéreis devido à presença de partículas visíveis (TAWDE, 2015). De acordo com

a FDA, alguns dos motivos para o recall desses produtos foi a presença de aço

inoxidável, cabelo humano, partículas de vidro e material particulado

provenientes de fibras de celulose, vidro e PVC.

O material particulado pode ser extremamente prejudicial quando

introduzido na corrente sanguínea, podendo causar reações adversas ao

paciente como embolia pulmonar, granuloma pulmonar, disfunção do sistema

imune, infarto e até a morte (LANGILLE, 2013; NARHI et al., 2009).

O risco do paciente associado aos medicamentos injetáveis contendo material

particulado depende de vários fatores, como a via de administração utilizada, o

tamanho, forma e composição das partículas, o número de partículas injetadas,

e a população de pacientes (LANGILLE, 2013).

Em relação à via de administração do medicamento, a via intravenosa

apresenta um maior volume de distribuição de fluidos, tornando possível a

deposição de partículas em todo o corpo. Como o tamanho das veias aumenta

na direção do fluxo sanguíneo, a maioria das partículas injetadas pela via

intravenosa percorrem os pulmões através da artéria pulmonar e chega no

coração através do sistema venoso. Considerando que o diâmetro dos capilares

é de aproximadamente 6 - 8 µm, grande parte das partículas maiores que esse

intervalo de tamanho permanece nos capilares pulmonares, com partículas

Page 14: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

14

menores passando pelos pulmões e depositando-se em órgãos como o fígado e

o baço, onde são processadas por células fagocitárias do sistema

reticuloendotelial (ILLUM et al., 1982).

Em um estudo realizado com coelhos, partículas de poliestireno

radiomarcadas de diferentes tamanhos foram injetadas e mostraram deposição

rápida de partículas de 15,8 µm nos pulmões, enquanto partículas de 1,27 µm

foram depositadas principalmente no fígado (ILLUM et al., 1982).

Tendo em vista os diversos efeitos adversos que o material particulado

presente em medicamentos injetáveis pode causar nos pacientes, é de grande

importância a correta determinação da quantidade de partículas subvisíveis nos

produtos farmacêuticos com objetivo de garantir a qualidade, segurança e

eficácia do medicamento.

Page 15: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

15

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Aplicar os métodos Obscurecimento da Luz e Microscopia para contagem

de partículas ≥ 10 e 25 µm em medicamentos injetáveis e comparar os resultados

das análises, considerando a forma farmacêutica, aplicabilidade dos métodos,

especificações farmacopeicas e informações encontradas na literatura.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Realizar a contagem de partículas ≥ 10 e 25 µm em ácido zoledrônico 4 mg,

oxaliplatina de 50 e 100 mg em contador de partículas baseado no princípio de

Bloqueio de Luz e em microscópio óptico;

- Realizar análise estatística para comparação dos resultados, estabelecendo

um intervalo de equivalência entre os dois métodos de análise para as partículas

≥ 10 e 25 µm;

- Identificar as vantagens e desvantagens de cada método de análise durante as

execuções dos testes.

Page 16: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

16

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Amostras

Foram analisados três medicamentos injetáveis diferentes, sendo eles,

ácido zoledrônico 4 mg, oxaliplatina de 50 e 100 mg.

Os três medicamentos citados foram analisados pelas técnicas de

Obscurecimento da Luz e Microscopia (Quadro 3), conforme a quantidade de

amostras disponíveis para as análises e de acordo com os métodos descritos no

Capítulo <788> “Particulate Matter in Injections” da Farmacopeia Americana

(2017).

Todas as amostras analisadas pelas duas técnicas, pertenciam a um

mesmo lote de fabricação, de acordo com cada medicamento.

Quadro 3 - Medicamentos analisados com suas respectivas embalagens, formas farmacêuticas e número de análises realizadas pelas técnicas de Obscurecimento da Luz e Microscopia.

Medicamento

Apresentação

Obscurecimento

da Luz

Microscopia

Ácido Zoledrônico

4 mg

Frasco-ampola contendo 5

mL de solução injetável 2 2

Oxaliplatina

50 mg

Frasco-ampola com 50 mg

de pó liofilizado 2 2

Oxaliplatina

100 mg

Frasco-ampola com 100

mg de pó liofilizado 3 3

Fonte: Próprio autor.

3.2 Métodos

3.2.1. Obscurecimento da Luz

As análises feitas por essa técnica foram realizadas no contador de

partículas (marca Hach, modelo HIAC 9705), munido de um amostrador de

seringa de 25 mL (Figura 2), com funcionamento baseado no princípio de

Page 17: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

17

bloqueio de luz, devidamente calibrado com partículas esféricas de tamanhos

conhecidos entre 10 e 25 μm, dispersas em água livre de partículas.

Figura 2 - Seringa do contador de partículas.

Fonte: Próprio autor.

Antes de realizar o preparo das amostras para contagem das partículas,

todo material utilizado, como os frascos de vidro onde seria colocado o conjunto

das amostras, seringa e agulha para reconstituir as amostras de oxaliplatina,

foram lavados com água ultrapurificada. Assim, em uma sala exclusiva para

análise de medicamentos oncológicos, utilizando os devidos EPI´s (luvas,

máscara, óculos e macacão de segurança e propés), foram realizados os

preparos das amostras em uma cabine de segurança biológica (marca Grupo

Veco, modelo Biosafe B2), conforme o seguinte método:

- Ácido Zoledrônico 4 mg: o conteúdo de 10 frascos, com 5 mL cada, foi reunido

em um recipiente, com volume final de 50 mL de amostra.

Page 18: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

18

- Oxaliplatina 50 mg: cada frasco com 50 mg de pó liofilizado foi reconstituído

com 10 mL de água ultrapurificada e o conteúdo de 10 frascos foi reunido em

um recipiente, com volume final de 100 mL de amostra reconstituída.

- Oxaliplatina 100 mg: cada frasco com 100 mg de pó liofilizado foi reconstituído

com 20 mL de água ultrapurificada e o conteúdo de 10 frascos foi reunido em

um recipiente, com volume final de 200 mL de amostra reconstituída.

Todos os frascos foram homogeneizados por meio de 20 inversões

consecutivas lentas e suaves antes de serem abertos. O conteúdo de todos os

frascos reunidos em um recipiente foi deixado em repouso por aproximadamente

dois minutos para eliminação de bolhas de ar.

Com o contador de partículas ligado, antes de realizar a leitura das

amostras, foi necessário realizar primeiramente a leitura de cinco amostras de 5

mL de água livre de partículas, com o objetivo de verificar a adequabilidade do

ambiente, da vidraria e da água utilizada. Caso o número de partículas maiores

que 10 μm excedesse a 25, para o volume total de 25 mL, o ambiente não

apresentaria condições para o teste.

Depois da leitura da água ultrapurificada e visto que não havia mais de

uma partícula maior que 25 μm por mL, as amostras dos medicamentos foram

analisadas.

Com o recipiente contendo as amostras no equipamento, foram feitas

quatro corridas com 5 mL de amostra, sendo que a primeira corrida foi

descartada e o resultado do teste foi dado pela média do número de partículas

obtidas nas três corridas seguintes.

3.2.2. Microscopia

As análises feitas por essa técnica foram realizadas utilizando o

microscópio óptico (marca Olympus, modelo DX51), com luminária lateral.

O material de filtração era composto por um frasco para filtração de 500

mL, funil, base, rolha, garra, mangueira e bomba de vácuo.

Antes de iniciar o preparo das amostras, todo material utilizado foi

devidamente lavado com água ultrapurificada, garantindo que nenhuma partícula

proveniente dos materiais ou do ambiente interferisse na contagem de partículas

no microscópio.

Page 19: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

19

Após a lavagem de todos os componentes, o material de filtração foi

montado, dentro de uma cabine de segurança biológica. Assim, primeiramente

o frasco de filtração foi conectado à bomba de vácuo através da mangueira, a

rolha foi encaixada no frasco e um filtro foi colocado sobre a base. A membrana

filtrante (cinza, quadriculada com poros de 0,45 µm) teve seus dois lados lavados

com água ultrapurificada antes de ser colocada sobre o filtro, com o auxílio de

uma pinça, também devidamente lavada. Em seguida, o funil foi encaixado e

fixado através da garra, como o apresentado pela Figura 3.

Figura 3 - Material de filtração para análise de material particulado pela técnica de

Microscopia.

Fonte: Próprio autor.

Com o material de filtração montado e a bomba de vácuo ligada, o funil

foi enxaguado com a água ultrapurificada, da parte superior para a inferior,

interna e externamente.

Para verificar a adequabilidade do ambiente, da vidraria e da água

utilizada, 50 mL da água ultrapurificada foi passada pela membrana filtrante. Se

partículas de tamanho igual ou maior que 25 μm ultrapassassem o número de

cinco, o ambiente não apresentaria condições para realizar o teste. Como a

Page 20: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

20

contagem de partículas igual ou maior que 25 μm nessa membrana não foi mais

que 5 em nenhuma das análises, o ambiente estava adequado para realizar os

testes com as amostras dos medicamentos.

Após a verificação do ambiente e de todo material utilizado, as amostras

foram preparadas, com a utilização dos devidos EPI´s, seguindo o mesmo

método de preparo que aquele empregado para a técnica por Bloqueio de Luz.

Após serem homogeneizadas e passadas pelas 20 inversões

consecutivas, as amostras estavam prontas para serem filtradas. Assim, os

frascos foram abertos e todo o conteúdo foi passado pelo material de filtração,

através da aplicação do vácuo, fazendo com que as partículas ficassem retidas

na membrana filtrante. Após a filtração do conteúdo de 10 frascos de cada

medicamento, a parede interna do funil foi lavada com água ultrapurificada. O

vácuo foi mantido até que a superfície da membrana filtrante ficasse isenta de

líquido. Com a bomba de vácuo desligada, a membrana filtrante foi, então,

retirada e inserida em uma placa de Petri, com o auxílio de uma pinça, conforme

ilustrado pela Figura 4. A membrana foi seca, deixando a placa ligeiramente

aberta dentro da cabine.

Figura 4 - Placas de Petri com membranas filtrantes após a etapa de filtração das amostras analisadas pelo Método de Microscopia.

Fonte: Próprio autor.

Page 21: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

21

A membrana seca foi levada ao microscópio para contagem das

partículas. Assim, foi feita uma varredura de toda a membrana filtrante sobre a

luz refletida do iluminador lateral, contando o número de partículas de tamanho

superior ou igual a 10 μm e o número de partículas de tamanho superior ou igual

a 25 μm que formavam uma “sombra” através da luz proveniente do iluminador

lateral. As Figuras 5 e 6 ilustram esse processo.

Figura 5 - Partícula retida na membrana filtrante na análise de água ultrapurificada, sem luz proveniente do iluminador lateral.

Fonte: Próprio autor.

Page 22: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

22

Figura 6 - Partícula retida na membrana filtrante na análise de água ultrapurificada, com luz proveniente do iluminador lateral.

Fonte: Próprio autor.

Após a contagem de todas as partículas de tamanho igual ou maior que

10 e 25 μm retidas em uma membrana, o número encontrado foi dividido por 10,

obtendo-se o resultado da análise em número de partículas por recipiente,

conforme a especificação da Farmacopeia Americana (2017).

3.3. Análise estatística

Para avaliação dos resultados das análises foram utilizados os programas

Minitab® (versão 17) e Excel® (versão 2016). Com o objetivo de avaliar a

diferença entre os dois métodos de análise, uma média das diferenças de

resultados entre os dois métodos foi calculada para as partículas de tamanho ≥

10 e 25 µm (Tabelas 16 e 18).

Assim, primeiramente as médias do número de partículas de tamanho ≥

10 e 25 μm, obtidas pelo método de Bloqueio de Luz foram pareadas com o

número de partículas de tamanho ≥10 e 25 μm obtidos pelo método de

Microscopia.

Após o pareamento dos dados das análises obtidos pelos dois métodos,

foi calculada a diferença entre eles (Tabelas 15 e 17). Depois dessa etapa, foram

Page 23: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

23

calculados a média e o desvio padrão dos resultados do cálculo da diferença e

foi verificado se esses resultados apresentavam distribuição normal.

Com os dados da média e desvio padrão, foi possível calcular um intervalo

de confiança de 95% para os dois métodos, a fim de avaliar se ambos são

equivalentes para aprovar ou reprovar um produto.

Para avaliação dos intervalos de confiança, foi definido um intervalo com

base nos valores da especificação de cada teste, conforme descrito na

Farmacopeia Americana, 2017. Assim, para avaliação do número de partículas

maiores ou iguais a 10 μm, foi calculada a diferença entre a máxima quantidade

dessas partículas que pode ser encontrada pela técnica de Bloqueio de Luz e

pela técnica de Microscopia, obtendo-se: 6000 – 3000 = 3000. Considerando,

portanto, a diferença de especificação entre as técnicas Obscurecimento de Luz

e Microscopia, foi determinado um intervalo de equivalência entre as técnicas (-

1500 a 1500 partículas/recipiente). Ou seja, as técnicas podem ser consideradas

equivalentes se as diferenças entre as respostas estiverem compreendidas

dentro do intervalo de equivalência.

Para avaliação do número de partículas de maiores ou iguais a 25 μm, o

mesmo método foi aplicado, apresentando um intervalo entre -150 e 150.

Page 24: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

24

4. RESULTADOS

As análises das amostras de ácido zoledrônico 4 mg e de oxaliplatina de

50 e 100 mg foram realizadas conforme os métodos descritos nos itens 3.1.1. e

3.1.2. Os resultados das análises estão apresentados nos itens 4.1, 4.2 e 4.3, de

acordo com cada medicamento analisado, em número de partículas por

recipiente.

4.1 Ácido Zoledrônico (4 mg)

Foram realizadas duas análises de contagem de material particulado para

cada técnica. Em cada análise, foi utilizado o conteúdo de 10 frascos, totalizando

40 frascos analisados. Todos os frascos pertenciam a um mesmo lote de

fabricação.

Tabela 1 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Bloqueio de Luz (Análise 1).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

1ª Corrida 28 6 2ª Corrida 22 3 3ª Corrida 20 1 Média 23,33 3,33

Fonte: Próprio autor.

Tabela 2 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Microscopia (Análise 1).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

7,6 2,9 Fonte: Próprio autor.

Tabela 3 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Bloqueio de Luz (Análise 2).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

1ª Corrida 24 1 2ª Corrida 39 3 3ª Corrida 36 0 Média 33 1,33

Fonte: Próprio autor.

Page 25: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

25

Tabela 4 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Microscopia (Análise 2).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

5,4 5,1 Fonte: Próprio autor.

Com base nestes resultados, é possível observar que o número de

partículas ≥10 µm encontrados pelo método de Bloqueio de Luz foi bem inferior

em relação à máxima quantidade preconizada pela Farmacopeia Americana

(2017), que é de 6000 partículas por recipiente. Além disso, os números de

partículas ≥25 µm encontrados pelas duas técnicas foram próximos.

4.2 Oxaliplatina 50 mg

Assim como na análise de ácido zoledrônico 4 mg, foram realizadas duas

análises de contagem de material particulado por técnica. Em cada análise, foi

utilizado o conteúdo de 10 frascos, totalizando 40 frascos analisados. Todos os

frascos pertenciam a um mesmo lote de fabricação.

Tabela 5 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Bloqueio de Luz (Análise1).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

1ª Corrida 412 10 2ª Corrida 408 2 3ª Corrida 402 4 Média 407,33 5,33

Fonte: Próprio autor.

Tabela 6 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Microscopia (Análise 1).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

7,4 4,2 Fonte: Próprio autor.

Tabela 7 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Bloqueio de Luz (Análise 2).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

1ª Corrida 220 4 2ª Corrida 254 0 3ª Corrida 264 4 Média 246 2,67

Fonte: Próprio autor.

Page 26: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

26

Tabela 8 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Microscopia (Análise 2).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

7,5 1,4 Fonte: Próprio autor.

Com base nesses resultados, é possível observar que, assim como na

análise de ácido zoledrônico 4 mg, os números de partículas ≥25 µm

encontrados pelas duas técnicas foram próximos.

Também é possível verificar que, diferentemente da análise de ácido

zoledrônico 4 mg, os números de partículas ≥10 µm encontradas pela técnica de

Bloqueio de Luz apresentaram uma maior variação entre elas. Enquanto a

análise de ácido zoledrônico 4 mg apresentou uma diferença de

aproximadamente 10 unidades para partículas ≥10 µm, a análise de oxaliplatina

50 mg apresentou uma diferença de aproximadamente 160 partículas.

4.3 Oxaliplatina 100 mg

Foram realizadas três análises de contagem de material particulado por

técnica. Em cada análise, foi utilizado o conteúdo de 10 frascos, totalizando 60

frascos analisados. Todos os frascos pertenciam a um mesmo lote de

fabricação.

Na Figura 7 podem ser observadas partículas de tamanho maior que 10

µm e menor 25 µm na parte superior e maior que 25 µm na parte inferior,

encontradas na análise de oxaliplatina 100 mg pela técnica de Microscopia.

Tabela 9 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Bloqueio de Luz (Análise 1).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

1ª Corrida 1504 12 2ª Corrida 1408 24 3ª Corrida 1448 8 Média 1453,33 14,67

Fonte: Próprio autor.

Page 27: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

27

Tabela 10 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Microscopia (Análise 1).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

6,5 4,2 Fonte: Próprio autor.

Tabela 11 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Bloqueio de Luz (Análise 2).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

1ª Corrida 484 4 2ª Corrida 444 0 3ª Corrida 544 0 Média 490,67 1,33

Fonte: Próprio autor.

Tabela 12 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Microscopia (Análise 2).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

7,9 5,6 Fonte: Próprio autor.

Tabela 13 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Bloqueio de Luz (Análise 3).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

1ª Corrida 876 12 2ª Corrida 996 16 3ª Corrida 1044 12 Média 972 13,33

Fonte: Próprio autor.

Tabela 14 - Número de partículas ≥10 e 25 µm encontradas pela técnica de Microscopia (Análise 3).

Partículas ≥10 µm Partículas ≥25 µm

7,5 6,1 Fonte: Próprio autor.

Page 28: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

28

Figura 7 - Partículas de tamanho maior que 10 µm e menor que 25 µm na parte superior e maior que 25 µm na parte inferior, encontradas na análise de oxaliplatina

100 mg pela técnica de Microscopia.

Fonte: Próprio autor.

A partir dos resultados das análises desse medicamento, podemos

observar que houve uma grande variação entre os números de partículas

encontradas, principalmente em relação às partículas ≥10 µm pelo método de

Bloqueio de Luz. Com base no menor e maior número de partículas encontradas

nesse caso, podemos notar a diferença de aproximadamente 960 partículas.

Além disso, pode-se afirmar que esse medicamento foi o que apresentou as

maiores quantidades de partículas encontradas pelo método de Bloqueio de Luz,

tanto para as partículas ≥10 µm quanto para as partículas ≥25 µm.

4.4 Análise estatística

Na Tabela 15 estão calculadas as médias de número de partícula ≥10

µm encontradas pelas técnicas Obscurecimento da Luz e Microscopia e o

resultado da diferença entre elas. Na Tabela 16 estão os resultados de média e

desvio padrão da diferença entre as médias de partículas ≥10 µm encontradas

pelas técnicas Obscurecimento da Luz e Microscopia.

Page 29: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

29

Tabela 15 - Média do número de partículas ≥10 µm encontradas pelas técnicas Obscurecimento da Luz e Microscopia e a diferença entre elas.

Medicamentos Obscurecimento da Luz

Microscopia Diferença entre Médias

Ácido zoledrônico 1 23,33 7,6 -15,73

Ácido zoledrônico 2 33 5,4 -27,6

Oxaliplatina 50 mg 1 407,33 7,4 -399,93

Oxaliplatina 50 mg 2 246 7,5 -238,5

Oxaliplatina 100 mg 1 1453,33 6,5 -1446,83

Oxaliplatina 100 mg 2 490,67 7,9 -482,77

Oxaliplatina 100 mg 3 972 7,5 -964,5

Fonte: Próprio autor. Os números 1, 2 e 3, referem-se à cada réplica (Análise 1, 2 ou 3)

Tabela 16 - Resultados da média e desvio padrão entre as diferenças (descritas na Tabela 15), em número de partículas.

Média Desvio padrão

-510,84 524,05 Fonte: Próprio autor. Os números 1, 2 e 3, referem-se à cada réplica (Análise 1, 2 ou 3)

Na Tabela 17 estão calculadas as médias de número de partícula ≥25

µm encontradas pelas técnicas Obscurecimento da Luz e Microscopia e o

resultado da diferença entre elas. Na Tabela 18 estão os resultados de média e

desvio padrão da diferença entre as médias de partículas ≥25 µm encontradas

pelas técnicas Obscurecimento da Luz e Microscopia.

Page 30: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

30

Tabela 17 - Média do número de partículas ≥25 µm encontradas pelas técnicas Obscurecimento da Luz e Microscopia e a diferença entre elas.

Medicamentos Obscurecimento da Luz

Microscopia Diferença entre Médias

Ácido zoledrônico 1 5,33 4,2 -1,13

Ácido zoledrônico 2 2,67 1,4 -1,27

Oxaliplatina 50 mg 1 14,67 4,2 -10,47

Oxaliplatina 50 mg 2 1,33 5,6 4,27

Oxaliplatina 100 mg 1 13,33 6,1 -7,23

Oxaliplatina 100 mg 2 3,33 2,9 -0,43

Oxaliplatina 100 mg 3 1,33 5,1 3,77

Fonte: Próprio autor. Os números 1, 2 e 3, referem-se à cada réplica (Análise 1, 2 ou 3)

Tabela 18 - Resultados da média e desvio padrão entre as diferenças (descritas na Tabela 17).

Média Desvio padrão

-1,78 5,40 Fonte: Próprio autor.

Nos Gráficos 1 e 2, estão ilustrados os resultados dos testes de

normalidade da distribuição das respostas das análises realizadas nas amostras

pelos dois métodos aplicados.

Page 31: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

31

Gráfico 1 - Gráfico de probabilidade dos resultados do cálculo da diferença entre o número de partículas ≥10 µm, obtidos pelos métodos de Bloqueio de Luz e Microscopia.

Fonte: Minitab (versão 17).

Gráfico 2 - Gráfico de probabilidade dos resultados do cálculo da diferença entre o número de partículas ≥25µm, obtidos pelos métodos de Bloqueio de Luz e Microscopia.

Fonte: Minitab (versão 17).

Page 32: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

32

A partir dos resultados de p-valor apresentados nos Gráficos 1 e 2,

podemos afirmar que os valores da diferença entre as médias do número de

partículas ≥ 10 e 25 µm, obtidos pelos métodos de Bloqueio de Luz e Microscopia

apresentam uma distribuição normal. Ou seja, como em ambos os casos o p-

valor foi maior que 0,05, os resultados apresentam uma distribuição normal.

Confirmada a distribuição normal dos dados, foi possível calcular os

intervalos de confiança de 95% (IC95%) para os dois métodos, com emprego do

programa Excel® que aplicou a seguinte equação:

𝐼𝐶 = 𝑋 ± 𝑡 ×𝑆

√𝑛

Na qual:

- 𝐼𝐶 = Intervalo de confiança;

- 𝑋 = Média entre as diferenças;

- n = Quantidade de valores do cálculo de diferença entre as médias. Neste caso

igual a 7;

- t foi calculado através da função INVT (probabilidade,graus_liberdade), com

probabilidade de 0,1 associada à distribuição t de Student bicaudal e graus de

liberdade igual a 6, referente a n – 1;

- S = Desvio padrão entre as médias das diferenças.

Os limites estabelecidos pelo intervalo de confiança calculado para as

partículas ≥ 10 e 25 µm encontram-se a seguir, nas Tabelas de 19 e 20.

Tabela 19 - Intervalos de confiança 95% calculados para as partículas ≥ 10 e 25 µm.

Partículas ≥ 10 µm Partículas ≥ 25 µm

(-895,73 ; -125,94) (-5,75 ; 2,18)

Fonte: Próprio autor.

Page 33: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

33

Tabela 20 - Intervalos calculados a partir das especificações de cada método conforme a Farmacopeia Americana (2017).

Partículas ≥ 10 µm Partículas ≥ 25 µm

(-1500 ; 1500) (-150 ; 150)

Fonte: Próprio autor.

A partir dos IC95% calculados para as partículas ≥ 10 e 25 µm, pode-se

observar que ambos se encontram dentro dos seus respectivos limites

calculados a partir das especificações preconizadas pela Farmacopeia

Americana (2017). Logo, é possível afirmar que os métodos de Bloqueio de Luz

e Microscopia não apresentam diferença em relação à aprovação ou reprovação

do teste contagem de material particulado.

Page 34: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

34

5. DISCUSSÃO

Tendo em vista que o princípio de contagem de partículas é totalmente

diferente pelos métodos de Obscurecimento da Luz e Microscopia, os resultados

obtidos pelas duas técnicas para contagem de partículas foram diferentes,

principalmente para as partículas ≥10 µm. A partir dos dados apresentados,

pode-se observar que o número de partículas encontradas por recipiente pela

técnica de Microscopia não foi maior que 10 (o máximo encontrado foi de 7,9

partículas ≥10 µm na amostra de oxaliplatina 100 mg), enquanto que pela técnica

de Obscurecimento da Luz, o número máximo de partículas ≥10 µm encontrado

foi de 1453 (também na amostra de oxaliplatina 100mg). Esses resultados já

eram esperados uma vez que as especificações da Farmacopeia Americana são

também bastante distintas. Para partículas ≥10 µm o número de partículas

presentes não pode ser superior a 6000 pelo Bloqueio de Luz e 3000 pela

Microscopia. Já para as partículas ≥25 µm, a quantidade de partículas não deve

exceder a 600 pelo Bloqueio de Luz e 300 pela Microscopia.

Assim, os resultados observados estão concordantes com o descrito por

Narhi e colaboradores (2009), que avaliam que os resultados de contagem

obtidos por Microscopia são muitas vezes de ordens de grandeza inferiores aos

relatados pelo método de Obscurecimento da Luz. No presente trabalho foi

obesrevada uma diferença maior que 100 vezes entre o número de partículas

≥10 µm encontrado pelas duas técnicas.

Com base na análise estatística realizada podemos verificar que, apesar

dos métodos de análise apresentarem resultados diferentes, eles podem ser

considerados equivalentes no momento de aprovar ou reprovar uma análise. Ou

seja, caso o resultado do método de Bloqueio de Luz seja reprovado, a

Microscopia também apresentará um resultado fora da especificação

estabelecida pelo método farmacopeico. Logo, se um produto farmacêutico for

reprovado pelo método de Bloqueio de Luz, o uso do método da Microscopia não

será uma alternativa para que o mesmo medicamento seja aprovado. Vale

ressaltar que isso é válido para os produtos que não apresentam alta viscosidade

ou não formam bolhas durante a leitura pelo método de Bloqueio de Luz, como

os medicamentos analisados nesse trabalho. Além disso, a equivalência entre

os métodos durante a aprovação ou reprovação de um produto não deve ser

aplicada no caso de injetáveis de proteína com ação terapêutica, visto que, para

Page 35: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

35

esses medicamentos, o Capítulo <787> “Subvisible Particulate Matter in

Therapeutic Protein Injections”, da Farmacopeia Americana (2017) ressalta que,

devido à interferência de algumas partículas de proteínas e suas características

físicas (frágeis ou translúcidas), os resultados obtidos pela Microscopia não são

equivalentes àqueles obtidos pelo Obscurecimento da Luz e, nesses casos, os

dois métodos não podem ser considerados intercambiáveis.

Em relação às vantagens e desvantagens de cada método de análise, foi

elaborado um quadro a seguir (Quadro 4), citando as principais características

observadas durante as execuções das análises.

Quadro 4 - Comparação entre os métodos de contagem de material particulado, mostrando suas vantagens e desvantagens.

(Continua)

Obscurecimento da Luz Microscopia

- Menor tempo de execução da

análise. É realizada em apenas

alguns minutos;

- Análise automatizada, o

equipamento que realiza todo o

processo de contagem de partículas,

tornando a técnica muito mais fácil;

- Maior rastreabilidade de dados

referentes à análise. Os resultados da

análise, a data e a hora na qual foi

realizada podem ser armazenados

pelo software do equipamento;

- Menor quantidade de materiais

necessários para realizar a análise. É

necessário apenas o equipamento

contador de partículas;

- Maior tempo de execução da

análise. É realizada em

aproximadamente 2 horas;

- Análise mais sujeita ao erro, visto

que é a própria pessoa que conta

manualmente cada partícula;

- Menor rastreabilidade de dados. Os

resultados da análise podem ser

facilmente alterados, visto que é um

processo manual e não há garantia

sobre o armazenamento dos

resultados da análise;

- Maior quantidade de materiais

necessários para realizar a análise.

Além do microscópio, são necessários

o material para filtração, membrana e

placa de Petri;

Page 36: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

36

(Conclusão)

Obscurecimento da Luz Microscopia

- O restante da amostra pode ser

utilizado para realizar outros testes,

uma vez que a Farmacopeia

Americana exige a análise de no

mínimo 10 recipientes (para aqueles

que apresentam volume menor ou

igual a 25 mL), mas apenas 25 mL são

utilizados para realizar o teste;

- Método não indicado para análise de

medicamentos viscosos, pois há

grande chance de formação de

bolhas, que podem ser contadas

como partículas, gerando resultados

falso positivos;

- Método capaz apenas de contar e

fornecer o tamanho das partículas.

- Análise destrutiva, visto que todo

material a ser analisado passa pela

membrana filtrante e não pode ser

aproveitado para realizar outros

testes;

- Método capaz de analisar

medicamentos viscosos, uma vez que

passam normalmente pela membrana

filtrante através da aplicação do

vácuo;

- Método capaz de identificar o

formato, tamanho, cor e possível

composição (vidro, fibra, metal) da

partícula (REYNOLDS;

LUNCEFORD, 2009).

Fonte: Próprio autor.

Apesar da Microscopia apresentar diversas desvantagens em relação ao

Obscurecimento da Luz conforme as informações citadas no Quadro 4, de

acordo com Narhi e colaboradores (2009), a Microscopia apresenta a vantagem

de ser um método direto, com 100% da amostra sendo analisada e todas as

partículas retidas no filtro sendo contadas. No entanto, isso depende se todas as

partículas serão realmente retidas e facilmente visualizadas no microscópio.

Com base nas análises realizadas por esse método, pode-se afirmar que

ele é capaz de identificar exatamente uma partícula, sendo possível também

observar seu formato, cor e fonte, conforme descrito no Quadro 4. Assim, a

Microscopia é um método que pode apresentar uma importante aplicabilidade

em análises investigativas relacionadas às partículas presentes em um produto

farmacêutico. Por exemplo, caso uma análise de material particulado seja

reprovada pelo método de Bloqueio de Luz para determinado produto, este pode

ser analisado no microscópio, verificando quais são as características das

Page 37: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

37

partículas presentes e a partir delas investigar se houve algum tipo de

contaminação por materiais como vidro, fibra ou metal.

Em relação à análise de ácido zoledrônico, Prasanthi e colaboradores

(2017), realizaram um trabalho com o objetivo de avaliar a formulação de ácido

zoledrônico, pó liofilizado, para reconstituição com água para injetáveis e

apresentaram o teste de material particulado (realizado em contador de

partículas pelo método de Bloqueio de Luz) como parte dos ensaios de controle

de qualidade. Com o objetivo de comparar os resultados encontrados na

literatura com os resultados obtidos no presente trabalho, o quadro a seguir

apresenta o número de partículas encontradas em cada estudo, sendo o ácido

zoledrônico (4 mg) representado pela média das duas análises realizados por

Bloqueio de Luz (Tabelas 1 e 3) no presente estudo.

Tabela 21 - Comparação entre os resultados da análise de material particulado de ácido zoledrônico referentes ao medicamento referência e melhor formulação citados no trabalho de Prasanthi (2017) e às análises do presente trabalho.

Tamanho de

partículas

Zoldonat

(medicamento

referência)

Melhor formulação

(Prasanthi, 2017)

Ácido

zoledrônico

(4mg)

≥10 µm 3595 781 28,2

≥25 µm 91.8 10.8 2,3

Fonte: Prasanthi, 2017.

Com base nas informações descritas na Tabela 21, pode-se afirmar que

os números de partículas encontrados no trabalho citado foram maiores em

relação àqueles obtidos no presente trabalho, principalmente para partículas de

tamanho ≥10 µm. Isso talvez pode ser justificado pelas diferentes formas

farmacêuticas do ácido zoledrônico. Tendo em vista que, o medicamento

referência e o citado no artigo são apresentados como pó liofilizado para

reconstituição e o produto analisado neste estudo é uma solução injetável, pode-

se dizer que a forma em pó liofilizado apresenta resultados de partículas

subvisíveis maiores daqueles de uma solução injetável. Isso também pode ser

observado a partir dos dados do presente trabalho, no qual a oxaliplatina de 50

Page 38: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

38

e 100 mg que apresentam como forma farmacêutica pó liofilizado para solução

injetável, mostraram resultados superiores ao ácido zoledrônico.

Page 39: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

39

6. CONCLUSÕES

- Os métodos de contagem de material particulado por Bloqueio de Luz e

Microscopia podem ser considerados equivalentes no momento de aprovar ou

reprovar uma análise para os medicamentos analisados nesse trabalho;

- A análise de partículas ≥10 µm pelo método de Bloqueio de Luz apresentou

resultados maior que 100 vezes em relação ao número de partículas do mesmo

tamanho obtidos pela Microscopia;

- Medicamentos que apresentam pó liofilizado como forma farmacêutica

apresentam maior quantidade de partículas ≥ 10 µm, obtidas pelo método de

Bloqueio de Luz, em relação a soluções injetáveis;

- O método de contagem de material particulado por Bloqueio de Luz apresentou-

se mais vantajoso que a Microscopia, levando em consideração a maior

facilidade e agilidade na execução da análise, rastreabilidade dados e

aproveitamento das amostras para realização de outros testes.

Page 40: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

40

7. BIBLIOGRAFIA

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia Brasileira, volume 1. 5. ed. Brasília, 2010. BORCHERT, Steven J. et al. Particulate Matter in Parenteral Products: A Review. PDA Journal Of Pharmaceutical Science And Technology, Kalamazoo, v. 40, n. 5, p.212-241, 1986. HUANG, Chi-ting et al. Quantitation of Protein Particles in Parenteral Solutions Using Micro-Flow Imaging. Journal Of Pharmaceutical Sciences, Massachusetts, v. 98, n. 9, p.3058-3071, set. 2009. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022354916330945?via=ihub>. Acesso em: 10 abr. 2018. ILLUM, Lisbeth et al. Blood clearance and organ deposition of intravenously administered colloidal particles. The effects of particle size nature and shape. Internacional Journal Of Pharmaceutics, v. 12, n.2-3, p 135–146, 1982. LANGILLE. S. E. Particulate Matter in Injectable Drugs Products. PDA Journal of Pharmaceutical Science and Technology, New Hampshire, p 186-200, 2013. MAHLER, Hanns-christian et al. Protein Aggregation: Pathways, Induction Factors and Analysis. Journal Of Pharmaceutical Sciences, Basel, v. 98, n. 9, p.2909-2934, set. 2008. NARHI, Linda O. et al. A Critical Review of Analytical Methods for Subvisible and Visible Particles. Current Pharmaceutical Biotechnology, Thousand Oaks, v. 10, n. 4, p.373-381, 2009. PRASANTHI, M Mary et al. FORMULATION AND EVALUATION OF ZOLEDRONIC ACID FOR INJECTION BY LYOPHILIZATION TECHNIQUE. International Research Journal Of Pharmacy, Guntur, v. 8, n. 2, p.50-56, 10 mar. 2017. REYNOLDS, Susan; LUNCEFORD, Ryan. Analyzing Particulate Matter on Medical Devices: Manufacturers can employ test method strategies to minimize health risks of intravenous medical devices. 2009. Medical Device & Diagnostic Industry. Disponível em: <https://www.mddionline.com/analyzing-particulate-matter-medical-devices>. Acesso em: 15 abr. 2018. TAWDE, Suprita A. Particulate Matter in Injectables: Main cause for Recalls. Journal Of Pharmacovigilance, v. 03, n. 01, p.1-2, 2015.

Page 41: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS ANALÍTICOS DE …€¦ · O Método 1 consiste no uso de um contador de partículas eletrônico, composto por um feixe de luz que é projetado

41

UNITED States Pharmacopeia <1788> Methods for the Determination of Particulate Matter in Injections and Ophthalmic Solutions. USP 35; US Pharmacopeial Convention: Rockville, MD, p 945-954, 2012. UNITED States Pharmacopeia <787> Subvisible Particulate Matter in Therapeutic Protein Injections. USP 40; US Pharmacopeial Convention: Rockville, MD, p 663-665, 2017. UNITED States Pharmacopeia <788> Particulate Matter in Injections. USP 40; US Pharmacopeial Convention: Rockville, MD, p 665-669, 2017.

____________________________ ____________________________

Data e assinatura do aluno(a) Data e assinatura do orientador(a)

26/04/2018 26/04/2018