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ANÁLISE COMPARATIVA TÉCNICO-ORÇAMENTÁRIA DA OTIMIZAÇÃO, ATRAVÉS DA NBR 15.575-2 (ABNT, 2013), DE UMA ESTRUTURA DIMENSIONADA PELA NBR 6118 (ABNT, 2014)
Paulo Eduardo de Melo Paris (Engenheiro Civil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná);
[email protected] Anderson Renan Vicini (Engenheiro Civil formado pela Universidade Tuiuti do Paraná);
[email protected] Eduardo Carneiro Viechniewski (Engenheiro Civil formado pela Universidade Tuiuti do
Paraná); [email protected] Ricardo Augusto Voss (Professor de graduação da Universidade Tuiuti do Paraná);
Resumo: Realizar-se-á neste trabalho a otimização dos elementos estruturais, utilizando
como base a NBR 15575-2 (ABNT, 2013), de uma estrutura pré-dimensionada levando em
considerações os parâmetros da norma NBR 6118 (ABNT, 2014), analisando a segurança e
estabilidade da edificação, e realizando o comparativo orçamentário para execução da
estrutura. A metodologia da análise consistiu em um estudo de caso, onde com o auxílio do
software TQS foi realizada a modelagem estrutural de uma edificação popular, utilizando os
carregamentos permanentes e acidentais normativos e reduzindo-se a seção dos elementos
estruturais, dimensionados pela NBR 6118 (ABNT, 2014), em 1 cm por tentativa. Com os
resultados foi observado que com a redução “ótima” nos elementos, onde não havia erros
que prejudicassem a segurança e estabilidade da edificação, ocorreu uma economia de
9,98%, através do orçamento realizado com o auxílio da tabela SINAPI.
Palavras-chave: Superestrutura. Otimização estrutural. Orçamento.
TECHNICAL-BUDGETARY COMPARATIVE ANALYSIS OF THE
OPTIMIZATION, THROUGH NBR 15.575-2 (ABNT, 2013), OF A
STRUCTURE DIMENSIONED BY NBR 6118 (ABNT, 2014)
Abstract: Perform in this work of optimization of the selected elements, using NBR 15575-2
(ABNT, 2013), based on a pre-dimensioned structure that takes into account the parameters
of the NBR 6118 standard (ABNT, 2014), analyzing a security and stability of the building,
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and realization or comparative budget for the execution of the structure. An analysis
methodology consisted of a case study, in which, with the aid of the TQS software, a
structural modeling of a popular building was carried out, using the normative permanent and
accidental loaders and using the section of the original elements, dimensioned by NBR 6118
(ABNT , 2014), in 1 cm per attempt. With the results observed with an “optimal” reduction in
the elements, where there were no errors that impair the safety and stability of the
modification, there was a saving of 9.98%, through the budget made with the help of the
SINAPI table.
Keywords: Superstructure. Structural optimization. Budget.
1. INTRODUÇÃO
Pokes Neto e Müller (2016) afirmam que entre os edifícios mais antigos e os atuais são
perceptíveis as diferenças, como a classe do concreto utilizado, a quantidade de aço
aplicada e também os cobrimentos adotados para as armaduras que compõem os
elementos estruturais, mostrando a evolução das normas relacionadas ao projeto e
desempenho de estruturas em concreto.
A norma vigente atualmente no Brasil que trata deste assunto é a NBR 6118 (ABNT,
2014), onde estabelece os requisitos básicos exigíveis para o projeto de estruturas de
concreto simples, armado e protendido, excluídas aquelas em que se empregam concreto
leve, pesado ou outros especiais.
As estruturas são compostas de um ou mais elementos estruturais, ligados entre si e
ao meio exterior, de modo a formar um conjunto estável, isto é, capaz de receber
solicitações externas, absorvê-las internamente e transmiti-las até seus apoios, onde estas
solicitações externas encontrarão seu sistema estático equilibrante (SUSSEKIND, 1974).
Os elementos estruturais são peças, geralmente com uma ou duas dimensões
preponderantes sobre as demais (vigas, lajes, pilares, etc). O modo como são arranjados
pode ser chamado de sistema estrutural. Alguns comportamentos são dependentes apenas
desse arranjo, não sendo influenciados pelo material com que são feitos os elementos
(CARVALHO; FIGUEIREDO, 2017).
Ainda segundo Carvalho e Figueiredo (2017), para o dimensionamento das
estruturas, um dos métodos a ser utilizado é o de cálculo na ruptura (ou dos estados
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limites). O Estado Limite Último (ELU) está relacionado ao colapso total ou parcial da
estrutura, que determina a interrupção no uso da edificação, ao todo ou em parte.
De acordo com o item 11.8 da NBR 6118 (ABNT, 2014), o carregamento atuante na
estrutura é definido pela combinação das ações com probabilidade de ocorrer
simultaneamente durante um período pré estabelecido. Essas combinações devem ser
feitas de modo a encontrar os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura. Em relação à
verificação de segurança ao estado limite último e de serviço, esta deve ser feita em função
de combinações últimas e de serviço, respectivamente.
Segundo o item 10.3 da NBR 6118 (ABNT, 2014), a segurança aos seguintes
Estados Limites Últimos deve ser atendida pelo:
a) estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo
rígido;
b) estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu
todo ou em partes, devido às solicitações normais e tangenciais, admitindo-se
verificações separadas destas solicitações;
c) estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu
todo ou em partes, considerando os efeitos de segunda ordem;
d) estado limite último provocado por solicitações dinâmicas;
e) estado limite último de colapso progressivo;
f) estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu
todo ou em partes, considerando exposição ao fogo, conforme a NBR 15200 (ABNT,
2012);
g) estado limite último da capacidade resistente da estrutura, considerando ações
sísmicas, de acordo com a NBR 15421 (ABNT, 2006);
h) outros estados limites últimos que eventualmente possam ocorrer em casos
especiais.
Todos os elementos estruturais usualmente são dimensionados neste estado limite,
e depois é feito a verificação para cada Estado Limite de Serviço (ELS), exceto para
estruturas de concreto protendido onde o processo é invertido. O ELU é sempre
caracterizado pela ruína ou esgotamento da capacidade resistente última, trata-se de uma
situação na qual se espera que a estrutura nunca atinja, com os coeficientes dos materiais
minorados e os esforços solicitantes majorados, tornando mais difícil as estruturas atingirem
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este limite de resistência. Kimura (2007) alerta que o uso da edificação é inviabilizado
quando é atingido o ELS.
Já o Estado Limite de Serviço (ELS) é definido no item 10.4 da NBR 6118 (ABNT,
2014), como o estado limite relacionado ao conforto do usuário, durabilidade, aparência e
boa utilização das estruturas, seja em relação aos usuários, como à maquinas e
equipamento a qual a estrutura suporta.
Segundo Fusco (1981), a lei de Hooke só tem valor para deformações inferiores ao
limite elástico do material estudado. Esse comportamento é apresentado até um
determinado limite que, quando ultrapassado, faz com que o material deixe de respeitar a
relação de proporcionalidade. Com isso, temos que recorrer à verificação ELS.
1.1 PARÂMETROS DE SEÇÕES DE ACORDO COM A NBR 6118 (ABNT, 2014)
Os pilares são definidos pela NBR 6118 (ABNT, 2014) como elementos lineares de
eixo reto, usualmente dispostos na vertical, em que as forças normais de compressão são
preponderantes. As cargas exercidas nos pilares geralmente derivam das vigas e lajes, e
transmitem as mesmas para a fundação da edificação, que por sua vez transmite ao solo,
na grande maioria dos casos (BORGES, 2015).
Por sua vez a NBR 6118 (ABNT, 2014) diz que os pilares possuem algumas
restrições de dimensões, onde a seção transversal de pilares e pilares-parede maciços,
qualquer que seja a sua forma, não pode apresentar dimensão menor que 19 cm, e
restrições de áreas, pois em qualquer caso não se permite pilar com seção transversal de
área inferior a 360 cm². Em casos especiais, permite-se a consideração de dimensões entre
14 cm e 19 cm, desde que os esforços solicitantes sejam majorados por um ϒn, que varia
entre 1,25 para a dimensão de 14 cm a 1,0 para 19 cm.
As vigas são, de acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014), elementos lineares em que
a flexão é preponderante. Elas têm como função a absorção dos esforços provenientes da
laje, e distribuí-las aos pilares. Além disso, as vigas podem formar pórticos rígidos
juntamente com os pilares, garantindo a segurança pela ação do vento, assegurando a
estabilidade global (CUNHA, 2014).
Quanto ao dimensionamento, pode-se analisar da seguinte forma: as seções
transversais não podem apresentar larguras menores que 12 cm, e vigas-parede 15 cm. Há
possibilidade de redução dos limites para um mínimo absoluto de 10 cm, todavia, se deve
atender alguns requisitos já explícitos na norma NBR 6118 (ABNT, 2014), que são:
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• Alojamentos das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros
elementos estruturais, respeitando os espaçamentos e cobrimentos
estabelecidos na própria norma;
• Lançamento e vibração do concreto de acordo com a NBR 14931 (ABNT, 2004).
Já as lajes são os elementos estruturais que suportam diretamente os
carregamentos verticais diretos dos pavimentos, o que causa uma solicitação
predominantemente de flexão. Segundo a norma NBR 6118 (ABNT, 2014), para lajes
maciças os limites de espessura a serem respeitados são:
• 7 cm para cobertura não em balanço;
• 8 cm para lajes de piso não em balanço;
• 10 cm para lajes em balanço;
• 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total menor ou igual a 30 kN;
• 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total maior que 30 kN.
1.2 NORMA DE DESEMPENHO – NBR 15575 (ABNT, 2013)
A NBR 15575 (ABNT, 2013), popularmente conhecida como norma de desempenho, refere-
se à questão de desempenho de edificações residenciais, em que presa pelo conforto,
segura, vida útil, acessibilidade e estabilidade das construções.
Verifica-se que esta norma busca através de regras, que devem ser cumpridas nos
novos projetos e construções, a mudança do paradigma sobre as construções e resgatar a
função da edificação como um habitat seguro, por meio da qual ele possa se defender das
hostilidades climáticas do meio em que vive (CBIC, 2013).
As estruturas dos edifícios estão em foco na parte 2 da NBR 15575 (ABNT, 2013).
Ela propõem que para residências de até 2 pavimentos, cuja altura entre o respaldo da
fundação de cota mais baixa até o topo da cobertura não ultrapasse 6,0 m, não há
necessidade de atendimento às dimensões mínimas dos componentes estruturais
estabelecidas nas normas de projetos estruturais, incluindo a NBR 6118 (ABNT, 2014),
resguardada a demonstração da segurança e estabilidade e atendidos os demais requisitos
previstos na norma.
Portanto, este estudo tem por objetivo realizar a otimização estrutural, seguindo a
NBR 15575-2 (ABNT, 2013), de uma residência unifamiliar com estrutura pré-dimensionada
pela NBR 6118 (ABNT, 2014), garantido a estabilidade e segurança da edificação, e
comparando os custos para a realização das duas estruturas.
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2. METODOLOGIA
Para a realização do estudo foi utilizado o software de dimensionamento estrutural
TQS. O software servirá como base para a resolução do caso estrutural em pauta,
realizando o dimensionamento completo da estrutura da edificação. O software tem seu
sistema compatibilizado com a norma NBR 6118 (ABNT, 2014), onde ao se alimentar o
software com seções menores que o mínimo estabelecido pela norma, o mesmo redige um
aviso automático sobre o risco dessa utilização, entretanto, não inviabiliza a inserção.
2.1. ESTRUTURA DO ESTUDO DE CASO
A edificação adotada no estudo trata-se de uma residência unifamiliar térrea com
área de 52,97 m², constituída de sala, 02 quartos, banheiro, cozinha, área de serviço e
garagem. O projeto arquitetônico original foi desenvolvido para a região de Ponta Grossa, no
Paraná, para o programa “Minha Casa, Minha Vida”. A estrutura será modelada em concreto
armado, com a utilização dos elementos estruturais lajes, vigas e pilares. A classe de
agressividade ambiental adotada foi a Classe II – Moderada, que leva em consideração o
tipo de ambiente como urbano, riscos de deterioração pequeno, resistência característica do
concreto (fck) de, no mínimo, 25 MPa e cobrimentos mínimos de lajes, vigas/pilares e
elementos estruturais em contato com o solo de 2,5 cm, 3,0 cm e 3,0 cm, respectivamente.
O desenho arquitetônico da edificação utilizada como referência é apresentado na Figura 1.
FIGURA 1 – PLANTA BAIXA DE REFERÊNCIA
FONTE: AUTORES, 2019
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2.2. CARREGAMENTOS PERMANENTES E ACIDENTAIS
Os carregamentos permanentes consistiram no peso próprio dos elementos estruturais, que
são calculados automaticamente pelo software, e pela carga de revestimento, considerada
como 0,1 tf/m².
Para a carga acidental foi adotada uma ação de 0,05 tf/m² nas lajes, conforme a NBR
6120 (ABNT, 2017), que cita este valor para forros acessíveis apenas para manutenção e
sem estoque de materiais.
Na laje L102 foi acrescido 0,5 tf em sua carga devido ao reservatório de água de 500
Litros, que foi utilizado tendo como base a NBR 5626 (ABNT, 1998), que menciona a
necessidade de 150 litros/pessoa para residências, e considerando 3 pessoas na residência;
Nas vigas baldrames foi considerada uma carga distribuída de uma parede de 2,7 m
de altura, totalizando um carregamento de 0,25 tf/m.
Como velocidade do vento (V0) foi utilizado o valor de 42 m/s, característico da região
de Ponta Grossa - PR.
2.3. COMBINAÇÕES
O software TQS gera as combinações de forma automática, onde utiliza os
parâmetros de cálculo da NBR 8681 (ABNT, 2003) de ações e segurança nas estruturas.
São levadas em consideração as combinações últimas, para o dimensionamento das
armaduras, que visa garantir a segurança da estrutura, e as combinações de serviço para
análise de flechas, fissuração e vibração, além de procurar garantir um bom funcionamento
da edificação no dia-a-dia (TQS Informática, 2019).
2.4. MODELAGEM DA ESTRUTURA NO SOFTWARE
Para o dimensionamento da edificação no TQS, foram arbitrados valores de dimensões para
pilares, vigas e lajes para que a estrutura esteja correta nas dimensões recomendadas pela
NBR 6118 (ABNT, 2014).
Foram adotados, ao todo, 13 pilares, onde utilizou-se o valor mínimo permitido pela
norma, com dimensão de 14x26 cm, majorando-se os esforços em 25% e obtendo uma área
de seção de 364 cm².
Para as vigas foram adotadas as dimensões de 14x36 cm, totalizando uma área de
504 cm², tanto para as 21 vigas superiores, quando as 13 vigas baldrames. Sua altura foi
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pré-dimensionada levando em consideração o maior vão da estrutura, de 3,56 m, e
utilizando a fórmula empírica de L/10, sendo L o vão.
Foram modeladas 6 lajes, de acordo com o arranjo estrutural adotado, com
espessura de 10 cm, acima do mínimo recomendado pela NBR 6118 (ABNT, 2014), para
evitar vibrações, ou flechas, excessivas.
Utilizou-se uma tensão admissível de 5 kgf/cm² no solo, para a obtenção das
medidas das sapatas, que foi calculada automaticamente pelo software, onde obteve-se
uma dimensão de 0,75x0,85 m, totalizando 6375 cm² de área, com 50 cm de altura, e vigas
baldrames, com a mesma seção das vigas superiores, interligando-as. A análise da
fundação não foi levada em consideração no estudo, apenas a superestrutura.
As Figuras 2 e 3 apresentam as plantas de fôrmas que deram origem ao modelo
estrutural de partida, onde a disposição dos elementos estruturais foi disposta seguindo o
desenho arquitetônico, já apresentada anteriormente.
FIGURA 2 – PLANTA DE FÔRMAS DO PISO
FONTE: AUTORES, 2019
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FIGURA 3 – PLANTA DE FORMAS DA COBERTURA
FONTE: AUTORES, 2019
A Figura 4 apresenta as vistas 3D, da modelagem.
FIGURA 4 – VISTAS EM PERSPECTIVA DA MODELAGEM ESTRUTURAL (a) Isométrico (b) Frontal (c) Lateral
FONTE: AUTORES, 2019
A partir da modelagem concluída, sob os aspectos da NBR 6118 (ABNT, 2014), foi
iniciada a redução dos elementos estruturais, com a proposta oferecida pela NBR 15575-2
(ABNT, 2013), que não cita parâmetros mínimos para os elementos estruturais, somente
alerta sobre a inserção de mais coeficientes para a segurança da estrutura. As tentativas se
deram reduzindo a espessura das lajes, e a dimensão das vigas e pilares em 1 cm, cada,
por tentativa. Após verificar que a estrutura não possuía erros, na tentativa, o programa
gerava um quantitativo dos materiais a serem utilizados para realizar os comparativos
orçamentários necessários.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da metodologia empregada foi possível obter os resultados sobre a análise
estrutural realizada pelo software, para elucidação sobre a segurança e estabilidade da
edificação, assim como o comparativo dos custos globais nos elementos estruturais.
Quando realizada a tentativa onde foi proporcionada uma quantidade de erros
significativos, cuja qual, o software não conseguiu detalhar alguns dos elementos estruturais
dispostos na modelagem, ou foi alertado o aumento de seções para a estabilidade da
edificação, a análise foi interrompida, e para o comparativo de orçamentos foi utilizada a
modelagem com as últimas dimensões aceitas e detalhadas pelo sistema.
3.1 OTIMIZAÇÃO ESTRUTURAL
Foram realizadas 8 tentativas de otimização da estrutura, e após a análise de todas as
tentativas realizadas no programa, foi verificado o dimensionamento ideal, sem ocorrer
impossibilidades técnicas para o detalhamento, na sétima tentativa, com seção de pilares de
266 cm², vigas com 406 cm² e lajes com 8 cm de espessura. As seções detalhadas em cada
tentativa estão demonstradas na Tabela 1.
TABELA 1 – VALORES DE SEÇÕES POR TENTATIVA
Tentativa Espessura Laje
Dimensão da viga
Dimensão do pilar
NBR 6118 10 cm 14x36 cm² 14x26 cm² 1 9 cm 14x35 cm² 14x25 cm² 2 8 cm 14x34 cm² 14x24 cm² 3 8 cm 14x33 cm² 14x23 cm² 4 8 cm 14x32 cm² 14x22 cm² 5 8 cm 14x31 cm² 14x21 cm² 6 8 cm 14x30 cm² 14x20 cm² 7 8 cm 14x29 cm² 14x19 cm² 8 8 cm 14x28 cm² 14x18 cm²
FONTE: AUTORES, 2019
Foi fixado a espessura de 8 cm das lajes, a partir da segunda tentativa de redução,
por ocorrer erro, em todas as tentativas, com 7 cm de espessura.
Os esforços e disposições de armaduras dos pilares, para a situação respeitando os
limites estabelecidos pela norma NBR 6118 (ABNT, 2014) são demonstrados da Tabela 2.
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TABELA 2 – ESFORÇOS E ARMADURAS DOS PILARES (NBR 6118)
Pilar Seção
(cm)
Solicitação
Normal
(tf)
Momento
na direção
"x" (tf.m)
Momento
da direção
"y" (tf.m)
Barras
utilizadas (mm)
As
utilizado
(cm²)
P1 14x26 4,5 16,1 8,3 4ø10 3,14
P2 14x26 8,8 31,5 11,2 4ø10 3,14
P3 14x26 3,8 13,5 5,2 4ø10 3,14
P4 14x26 11 -17,2 -3 4ø10 3,14
P5 14x26 11,9 42,4 1,3 4ø10 3,14
P6 14x26 5,6 19,9 0,9 4ø10 3,14
P7 14x26 5,9 21,2 0,5 4ø10 3,14
P8 14x26 11,3 40,4 1,3 4ø10 3,14
P9 14x26 5,7 20,2 0,5 4ø10 3,14
P10 14x26 1,7 6,2 0,1 4ø10 3,14
P11 14x26 11,7 41,7 0,3 4ø10 3,14
P12 14x26 14,9 53,4 1,5 4ø10 3,14
P13 14x26 8,2 29,2 0,3 4ø10 3,14 FONTE: AUTORES, 2019
Quanto ao dimensionamento dado após a redução, baseado pela NBR 15575-2
(ABNT, 2013), chegou-se ao arranjo de armaduras exibido na Tabela 3.
TABELA 3 – ESFORÇOS E ARMADURAS DOS PILARES (TENTATIVA 7 – NBR 15575-2)
Pilar Seção
(cm)
Solicitação
Normal
(tf)
Momento
na direção
"x" (tf.m)
Momento
da direção
"y" (tf.m)
Barras
utilizadas (mm)
As
utilizado
(cm²)
P1 14x19 1,4 5,1 3,2 4ø10 3,14
P2 14x19 4,9 17,6 5,3 4ø10 3,14
P3 14x19 4,6 16,7 5,9 4ø10 3,14
P4 14x19 9,9 35,6 15,2 4ø16 8,04
P5 14x19 4,3 -28,2 -6,2 4ø10 3,14
P6 14x19 9,4 34,1 0,3 4ø10 3,14
P7 14x19 9,8 35,5 1,2 4ø10 3,14
P8 14x19 6,6 23,9 0,6 4ø10 3,14
P9 14x19 12,5 45,3 1,3 4ø10 3,14
P10 14x19 9,5 34,2 0,5 4ø10 3,14
P11 14x19 3,7 13,5 0 4ø10 3,14
P12 14x19 7,3 26,5 0,8 4ø10 3,14
P13 14x19 3,1 11,2 0,1 4ø10 3,14 FONTE: AUTORES, 2019
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Observa-se que as armaduras mantiveram-se as mesmas em ambos os casos, com
exceção do pilar P4, onde houve a necessidade de 4ø16mm, na sétima tentativa, mas como
a economia obtida com concreto e fôrmas, pela redução de seções, é maior, este aumento
de bitola não influenciou o resultado final.
As armaduras para as vigas baldrames sofreram aumento de área de aço apenas
nas vigas V3 e V5, para armadura negativa do extremo esquerdo e na viga V2b para o
negativo do extermo direito. Já nas vigas superiores ocorreram aumento de área de aço
apenas para armaduras positivas, nas vigas: V104, V107, V112, V114, V117 V120.
Apesar deste aumento, no comparativo global houve redução no somatório de áreas
de aço necessárias em todos os casos da tentativa 7, comparado à modelagem conforme a
NBR 6118 (ABNT, 2014).
As armaduras positivas (meio do vão do tramo) e negativas (extremidades do tramo)
das baldrames e vigas superiores, dimensionadas de acordo com a NBR 6118 (ABNT,
2014), são detalhadas nas Tabelas 4 e 5, respectivamente.
TABELA 4 – ESFORÇOS E ARMADURAS DAS VIGAS BALDRAMES (NBR 6118)
LOCALMsd
(kN.m)
AS
necessário
(cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd
(kN.m)
AS
necessário
(cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd
(kN.m)
AS
necessário
(cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
V1a 1349,738 0,970 2Ø8 1 1255,186 0,900 2Ø8 1 1363,208 0,980 2Ø10 1,6
V1b 1475,142 1,060 2Ø10 1,6 1590,020 1,140 2Ø10 1,6 1349,463 0,970 2Ø8 1
V2a 1614,306 1,160 2Ø10 1,6 1492,387 1,070 2Ø10 1,6 1794,646 1,290 2Ø10 1,6
V2b 1600,389 1,150 2Ø10 1,6 1938,709 1,390 2Ø10 1,6 2170,270 1,560 2Ø10 1,6
V3 1753,470 1,260 2Ø10 1,6 2092,132 1,500 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V4 2463,208 1,770 3Ø10 2,4 2036,342 1,460 2Ø10 1,6 2017,238 1,450 2Ø10 1,6
V5 1795,219 1,290 2Ø10 1,6 2175,817 1,560 2Ø10 1,6 1752,910 1,260 2Ø10 1,6
V6 1669,972 1,200 2Ø10 1,6 1394,754 1,000 2Ø8 1 1391,198 1,000 2Ø8 1
V7a 1405,559 1,010 2Ø8 1 1297,122 0,930 2Ø8 1 1474,670 1,060 2Ø10 1,6
V7b 1502,974 1,080 2Ø10 1,6 1631,863 1,170 2Ø10 1,6 1377,286 0,990 2Ø8 1
V8a 1725,637 1,240 2Ø10 1,6 1645,810 1,180 2Ø10 1,6 1975,502 1,420 2Ø10 1,6
V8b 2031,799 1,460 2Ø10 1,6 2454,768 1,760 3Ø10 2,4 1961,590 1,410 2Ø10 1,6
V9 2240,545 1,610 2Ø10 1,6 2147,922 1,540 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V10 2031,799 1,460 2Ø10 1,6 1687,653 1,210 2Ø10 1,6 1683,350 1,210 2Ø10 1,6
V11a 2073,548 1,490 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4 2490,245 1,790 3Ø10 2,4
V11b 1725,637 1,240 2Ø10 1,6 1966,604 1,410 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V12a 1516,891 1,090 2Ø10 1,6 1394,754 1,000 2Ø8 1 1641,614 1,180 2Ø10 1,6
V12b 1516,891 1,090 2Ø10 1,6 1645,810 1,180 2Ø10 1,6 1752,910 1,260 2Ø10 1,6
V12c 1586,473 1,140 2Ø10 1,6 1757,391 1,260 2Ø10 1,6 1460,758 1,050 2Ø10 1,6
Momento Positivo - Meio do Vão Momento Negativo - Extremo Esquerdo Momento Negativo- Extremo Direito
FONTE: AUTORES, 2019
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 13 de 19
TABELA 5 – ESFORÇOS E ARMADURAS DAS VIGAS SUPERIORES (NBR 6118)
LOCAL Msd (kN.m) AS (cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd (kN.m) AS (cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd
(kN.m)
AS
(cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
V101 1064,722 0,760 2Ø8 1 1064,722 0,760 2Ø8 1 1064,722 0,760 2Ø8 1
V102 1639,146 1,170 2Ø10 1,6 1246,872 0,890 2Ø8 1 1162,813 0,830 2Ø8 1
V103 1443,009 1,030 2Ø8 1 1386,969 0,990 2Ø8 1 1190,832 0,850 2Ø8 1
V104 4385,065 3,130 4Ø10 3,2 1176,823 0,840 2Ø8 1 1176,823 0,840 2Ø8 1
V105 2984,086 2,130 3Ø10 2,4 1288,901 0,920 2Ø8 1 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V106 1961,371 1,400 3Ø10 2,4 1372,960 0,980 2Ø8 1 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V107 3138,194 2,240 2Ø10 1,6 1737,214 1,240 2Ø10 1,6 1274,891 0,910 2Ø8 1
V108 1975,381 1,410 2Ø10 1,6 1639,146 1,170 2Ø10 1,6 1204,842 0,860 2Ø8 1
V109 1667,165 1,190 2Ø10 1,6 1260,881 0,900 2Ø8 1 1162,813 0,830 2Ø8 1
V110 1541,077 1,100 2Ø10 1,6 1218,852 0,870 2Ø8 1 1302,911 0,930 2Ø8 1
V111 1681,175 1,200 3Ø10 2,4 1162,813 0,830 2Ø8 1 1400,979 1,000 2Ø8 1
V112 2479,733 1,770 2Ø8 1 2479,733 1,770 3Ø10 2,4 2479,733 1,770 3Ø10 2,4
V113 1064,744 0,760 3Ø10 2,4 1064,744 0,760 2Ø8 1 2465,723 1,760 2Ø8 1
V114 2325,626 1,660 2Ø10 1,6 1148,803 0,820 2Ø8 1 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V115 1779,244 1,270 2Ø10 1,6 1302,911 0,930 2Ø8 1 1176,823 0,840 2Ø8 1
V116 2059,439 1,470 2Ø10 1,6 1428,999 1,020 2Ø8 1 1218,852 0,870 2Ø8 1
V117 2269,586 1,620 2Ø10 1,6 1541,077 1,100 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V118 1779,244 1,270 2Ø10 1,6 1302,911 0,930 2Ø8 1 1176,823 0,840 2Ø8 1
V119 1681,175 1,200 2Ø10 1,6 1162,813 0,830 2Ø8 1 1400,979 1,000 2Ø8 1
V120 3026,115176 2,16 3Ø10 2,4 1471,02821 1,05 2Ø10 1,6 0 0 2Ø5 0,4
V121 1779,243645 1,27 2Ø10 1,6 1779,243645 1,27 2Ø10 1,6 1779,244 1,27 2Ø10 1,6
Momento Positivo - Meio do Vão Momento Negativo - Extremo Esquerdo Momento Negativo- Extremo Direito
FONTE: AUTORES, 2019
Já os arranjos de armaduras dimensionadas após a redução de seções, conforme
permite a NBR 15575-2 (ABNT, 2013), são detalhadas nas Tabelas 6 e 7.
TABELA 6 – ESFORÇOS E ARMADURAS DAS VIGAS BALDRAMES (TENTATIVA 7 – NBR 15575-2)
LOCALMsd
(kN.m)AS (cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd
(kN.m)AS (cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd
(kN.m)AS (cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
V1a 855,292 0,781 2Ø8 1 801,381 0,730 2Ø8 1 876,910 0,801 2Ø8 1
V1b 931,358 0,850 2Ø8 1 1021,113 0,930 2Ø8 1 864,899 0,790 2Ø8 1
V2a 1019,015 0,930 2Ø8 1 955,234 0,870 2Ø8 1 1149,549 1,050 2Ø10 1,6
V2b 1008,058 0,920 2Ø8 1 1767,733 1,610 2Ø10 1,6 2091,084 1,910 3Ø10 2,4
V3 1106,673 1,010 2Ø8 1 2042,225 1,860 3Ø10 2,4 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V4 1555,916 1,420 2Ø10 1,6 2020,266 1,840 2Ø10 1,6 1477,991 1,350 2Ø10 1,6
V5 1128,587 1,030 2Ø8 1 2130,063 1,940 3Ø10 2,4 1653,161 1,510 2Ø10 1,6
V6 1051,887 0,960 2Ø8 1 889,356 0,810 2Ø8 1 886,795 0,810 2Ø8 1
V7a 887,529 0,810 2Ø8 1 823,478 0,750 2Ø8 1 941,535 0,860 2Ø8 1
V7b 953,272 0,870 2Ø8 1 1043,072 0,950 2Ø8 1 875,847 0,800 2Ø8 1
V8a 1084,758 0,990 2Ø8 1 1054,052 0,960 2Ø8 1 1259,030 1,150 2Ø10 1,6
V8b 1281,987 1,170 2Ø10 1,6 1998,307 1,820 3Ø10 2,4 1488,939 1,360 2Ø10 1,6
V9 1413,473 1,290 2Ø10 1,6 1603,037 1,460 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V10 1281,987 1,170 2Ø10 1,6 1076,011 0,980 2Ø8 1 1072,912 0,980 2Ø8 1
V11a 1303,901 1,190 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4 2299,098 2,100 3Ø10 2,4
V11b 1084,758 0,990 2Ø8 1 1273,646 1,160 2Ø10 1,6 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V12a 953,272 0,870 2Ø8 1 900,336 0,820 2Ø8 1 1051,016 0,960 2Ø10 1,6
V12b 953,272 0,870 2Ø8 1 1526,179 1,390 2Ø10 1,6 1653,161 1,510 2Ø10 1,6
V12c 997,101 0,910 2Ø8 1 1130,910 1,030 2Ø10 1,6 1127,653 1,030 2Ø8 1
Momento Positivo - Meio do Vão Momento Negativo - Extremo Esquerdo Momento Negativo- Extremo Direito
FONTE: AUTORES, 2019
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 14 de 19
TABELA 7 – ESFORÇOS E ARMADURAS DAS VIGAS SUPERIORES (TENTATIVA 7 – NBR 15575-2)
LOCAL Msd (kN.m) AS (cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd (kN.m) AS (cm²)
Barras em
projeto
(mm)
AS
utilizado
(cm²)
Msd
(kN.m)AS
Barras em
projeto
(cm)
AS
utilizado
(cm²)
V101 683,721 0,620 2Ø8 1 672,968 0,610 2Ø6,3 0,63 672,968 0,610 2Ø6,3 0,63
V102 1047,717 0,950 2Ø8 1 794,379 0,720 2Ø8 1 739,214 0,670 2Ø8 1
V103 915,374 0,830 2Ø8 1 838,511 0,760 2Ø8 1 794,379 0,720 2Ø8 1
V104 3639,438 3,300 3Ø12,5 3,75 750,247 0,680 2Ø8 1 772,313 0,700 2Ø8 1
V105 2415,263 2,190 3Ø10 2,4 1048,139 0,950 2Ø8 1 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V106 1235,203 1,120 2Ø10 1,6 1048,139 0,950 2Ø8 1 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V107 2966,693 2,690 4Ø10 3,2 1268,800 1,150 2Ø10 1,6 816,445 0,740 2Ø8 1
V108 1246,232 1,130 2Ø10 1,6 1048,139 0,950 2Ø8 1 772,313 0,700 2Ø8 1
V109 1058,746 0,960 2Ø8 1 805,412 0,730 2Ø8 1 739,214 0,670 2Ø8 1
V110 981,545 0,890 2Ø8 1 772,313 0,700 2Ø8 1 772,313 0,700 2Ø8 1
V111 1058,746 0,960 2Ø8 1 739,214 0,670 2Ø8 1 805,412 0,730 2Ø8 1
V112 1610,175 1,460 2Ø10 1,6 1610,825 1,460 2Ø10 1,6 1610,825 1,460 2Ø10 1,6
V113 683,773 0,620 2Ø8 1 673,016 0,610 2Ø6,3 0,63 673,016 0,610 2Ø6,3 0,63
V114 1907,948 1,730 3Ø10 2,4 761,280 0,690 3Ø6,3 0,945 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V115 1466,804 1,330 2Ø10 1,6 827,478 0,750 2Ø8 1 750,247 0,680 2Ø8 1
V116 1312,403 1,190 2Ø10 1,6 926,776 0,840 2Ø8 1 783,346 0,710 2Ø8 1
V117 2007,205 1,820 3Ø10 2,4 805,412 0,730 2Ø8 1 0,000 0,000 2Ø5 0,4
V118 1544,004 1,400 2Ø10 1,6 827,478 0,750 2Ø8 1 750,247 0,680 2Ø8 1
V119 1069,774 0,970 2Ø8 1 739,214 0,670 2Ø8 1 893,677 0,810 2Ø8 1
V120 2724,063955 2,47 2Ø12,5 2,5 1081,238389 0,98 2Ø8 1 0 0 2Ø5 0,4
V121 1169,031495 1,06 2Ø10 1,6 1169,502747 1,06 2Ø10 1,6 1169,503 1,06 2Ø10 1,6
Momento Positivo - Meio do Vão Momento Negativo - Extremo Esquerdo Momento Negativo- Extremo Direito
FONTE: AUTORES, 2019
A Tabela 8 apresenta a quantidade, em kg, de aço necessário para a laje com
espessura de 10 cm, modelado pela NBR 6118 (ABNT, 2014).
TABELA 8 – ESFORÇOS E ARMADURAS DAS LAJES (NBR 6118)
LNH LNV LPH LPV
5 17,56 - - -
6,3 39,69 55,62 59,78 79,14
Total 57,25 55,62 59,78 79,14
BitolaQuantidade (kg)
FONTE: AUTORES, 2019
Já na Tabela 9 estão descritas a quantidade, em kg, das armaduras obtida pela
redução da laje para 8 cm, conforme tentativa 7.
TABELA 9 – ESFORÇOS E ARMADURAS DAS LAJES (TENTATIVA 7 – NBR 15575-2)
LNH LNV LPH LPV
5 17,56 - 48,66 -
6,3 40,67 53,17 - 78,40
Total 58,23 53,17 48,66 78,40
BitolaQuantidade (kg)
FONTE: AUTORES, 2019
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 15 de 19
Para a estrutura conforme a NBR 6118 (ABNT, 2014) são necessários 251,78 kg de
aço para armadura de lajes, enquanto na tentativa otimizada são necessários 238,46 kg. Ou
seja, além da redução de concreto, pela diminuição da espessura da laje, também há
redução de 13,32 kg de aço.
Ao analisar a estrutura da oitava tentativa, com seção de pilares de 252cm², vigas de
392cm² e laje com espessura de 8 cm houveram alguns elementos que o programa não
conseguiu dimensionar, como os pilares P12 e P13, onde o problema se deu que em todas
as configurações de armadura definidas pelo sistema, a resistência obtida foi inferior à
solicitação na seção crítica do pilar. Como solução, poderia se adotar uma resistência de
concreto maior que a utilizada, logo, iria ocasionar um maior custo, com isso inviabilizando o
propósito do estudo.
Para a viga V10 o problema se deu pela ruína da biela comprimida, onde a força
cortante atuante de cálculo relativa à ruína das diagonais comprimidas de concreto foi igual
a 31,90 tf, ultrapassando o valor limite resistente que era de 11,33 tf. Junto a isso também
impôs algumas soluções, mas para todas iria acrescer o gasto material, como o aumento da
seção do elemento ou a resistência do concreto utilizado.
Já para as lajes não foi encontrado um arranjo de armaduras compatível com as
solicitações atuantes para dimensionamento tanto para a flexão positiva, como para a flexão
negativa.
3.2 ORÇAMENTO DA EXECUÇÃO DA ESTRUTURA
A partir da modelagem de acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014), o software TQS gerou,
automaticamente, o quantitativo de concreto, fôrmas e aço para a execução da estrutura. A
Tabela 10 demonstra o quantitativo, em m³, e de concreto e fôrmas, em m².
TABELA 10 – CONSUMO DE CONCRETO E FÔRMAS
Pilares Vigas Lajes Fundações Pilares Vigas Lajes FundaçõesTérreo 1,3 2,6 4,2 - 28,1 38 41,6 -
Baldrame/Contra-Piso - 2,6 4,7 - - 36,3 47,5 -Sapatas/Blocos - - - 2,8 - - 0 8,3
Total 1,3 5,2 8,9 2,8 28,1 74,3 89,1 8,3
Concreto (m³) Fôrmas (m²)Pavimento
FONTE: AUTORES, 2019
A Tabela 11 demonstra o quantitativo de aço, por kg, separados por bitola obtido por
esta modelagem.
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TABELA 11 – CONSUMO DE AÇO POR ELEMENTO ESTRUTURAL
5 6,3 8 10Térreo 147,5 237,3 89,6 307,3
Fundação 67,1 264,4 13,9 250Total 214,6 501,7 103,5 557,3
Pavimento Bitolas (mm)
FONTE: AUTORES, 2019
Já o quantitativo de concreto/fôrmas e aço, para a redução na tentativa 7, de acordo
com a NBR 15575-2 (ABNT, 2013), é apresentado nas Tabelas 12 e 13, respectivamente.
TABELA 12 – CONSUMO DE CONCRETO E FÔRMAS
Pilares Vigas Lajes Fundações Pilares Vigas Lajes FundaçõesTérreo 0,9 2,1 3,3 - 23,2 32,6 41,6 -
Baldrame/Contra-Piso - 2,1 3,8 - - 30,6 47,5 -Sapatas/Blocos - - - 2,8 - - 0 8,3
Total 0,9 4,2 7,1 2,8 23,2 63,2 89,1 8,3
Pavimento Concreto (m³) Fôrmas (m²)
FONTE: AUTORES, 2019
TABELA 13 – CONSUMO DE AÇO POR ELEMENTO ESTRUTURAL
5 6,3 8 10 12,5 16Térreo 191,6 186,3 105,3 232,7 30,6 27,3
Fundação 121,8 193,4 51,8 194 - -Total 313,4 379,7 157,1 426,7 30,6 27,3
Pavimento Bitolas (mm)
FONTE: AUTORES, 2019
Após o levantamento de materiais, foi realizado o orçamento para a execução da
estrutura. Foi adotado como base de preços a tabela SINAPI, com valores atualizados de
março de 2019. Os preços unitários para cada item é demonstrado na Tabela 14.
TABELA 14 – PREÇOS UNITÁRIOS DE AÇO, CHAPA DE COMPENSADO, RIPA E CONCRETO C25 PELA TABELA SINAPI
Ø (mm)
Preço da Barra de Aço
Preço da Chapa de Compensado por metro quadrado
Preço da Ripa por
metro
Preço por metro cúbico do concreto
C25
5 R$8,61
R$73,88 R$1,22 R$250,10
6,3 R$14,46 8 R$26,16 10 R$34,80
12,5 R$51,66 16 R$84,64
FONTE: AUTORES, 2019
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A partir da realização do orçamento para cada tentativa, foi gerado o Gráfico 1, onde
observa-se a diminuição do custo global a cada redução de seções.
GRÁFICO 1 – COMPARATIVO ORÇAMENTÁRIO POR TENTATIVA
FONTE: AUTORES, 2019
Obteve-se na estrutura de acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014) um valor total para
a realização da estrutura de R$ 10.935,43, enquanto com a redução nos elementos,
conforme permite a NBR 15575-2 (ABNT, 2013), obteve-se um custo global de R$ 9.844,19,
ou seja, R$ 1091,24 de economia. A Tabela 15 apresenta os custos, por material, detalhado,
para comparativo entre as duas estruturas.
TABELA 15 – COMPARATIVO DE CUSTO ENTRE A NBR 6118 E A TENTATIVA 7
Materiais NBR 6118 (ABNT,
2014) NBR 15572-2 (ABNT, 2013) Diferença
Chapa de Compensado R$ 4.432,80 R$ 3.915,64 -11,67% Ripas R$ 85,40 R$ 85,40 - Aço R$ 3.766,17 R$ 3.742,31 -0,63% Concreto R$ 2.651,06 R$ 2.100,84 -20,75% Total R$ 10.935,43 R$ 9.844,19 -9,98%
FONTE: AUTORES, 2019
4. CONCLUSÕES
Através dos resultados é visto que apesar das dimensões de vigas e pilares estarem abaixo
da recomendada pela norma de concreto NBR 6118 (ABNT, 2014), na tentativa 7, a
estrutura apresentou estabilidade e segurança, devido aos baixos valores de solicitações
característicos de estruturas de pequeno porte, como a analisada, além do alívio de
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carregamento do peso próprio devido às reduções de seções. Assim, a redução de seções
em estruturas com altura de até 6 metros, conforme permitido pela NBR 15575-2 (ABNT,
2013), acompanhada de uma análise detalhada da estrutura é viável e gera menores gastos
com materiais e maior agilidade na execução da obra.
Na questão orçamentária observa-se que em todos os itens, exceto ripas que
permaneceu o mesmo, houve diminuição do custo para execução, onde no custo global a
economia foi de 9,98%, ou seja, em um âmbito geral para comparação, se concluiu que a
cada 10 estruturas executadas teríamos o custo de somente 9, se utilizada essas seções
reduzidas, assim como abordado, com parâmetros da NBR 15575 (ABNT, 2013).
REFERÊNCIAS
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CORREIA, R. CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Disponível em: <http://www.cbic.org.br/sala-de-imprensa/noticia/abnt-publicanorma-de-desempenho-15575-desempenho-de-edificacoes-habitacio> Acesso em: 13 out. 2014, 12:27:30. CUNHA, J. Estruturas de concreto armado. Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Civil, 198 p. Apostila, 2014. FUSCO, P. B. Estruturas de Concreto: Solicitações Normais. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981. KIMURA, A. Informática aplicada em estruturas de concreto armado. São Paulo: PINI, 2007. POKES NETO, Carlos Alberto; MULLER, Rodrigo Oliveira. Evolução tecnológica e normativa na elaboração de projetos de edificações em concreto armado. Curitiba, 2016. SUSSEKIND, J. C. Curso de Análise Estrutural - volume I - Estruturas Isostáticas. Porto Alegre – Rio de Janeiro: Editora Globo, 1981. TQS INFORMATICA. Disponível em: < http://www.tqs.com.br/>. Acesso em 07 de agosto de 2019.
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ANÁLISE DE MOTIVAÇÃO E SATISFAÇÃO NA INSTALAÇÂO DE PAINÉIS SOLARES FOTOVOLTAICOS POR MEIO DE MAPAS COGNITIVOS FUZZY
Márcio Mendonça (Prof. Dr., UTFPR); [email protected] Thiago Rossato Francisco (Acadêmico, UTFPR)
Lucas Botoni de Souza (Acadêmico, UTFPR) Thiago Minato (Gerente Marketing, Eletrotrafo/Comtrafo)
Rodrigo Henrique Cunha Palácios (Prof. Dr., UTFPR); [email protected]
Resumo: O uso de energias limpas e renováveis reduz a emissão de gases poluentes que
contribuem para a destruição da camada de ozônio, provocado o chamado efeito estufa.
Essas formas de energia também são uma medida que tornam o mundo menos dependente
de fontes esgotáveis. Entre eles, destacamos o solar, eólica e a piezoelétrica. O crescente
desenvolvimento da tecnologia de captura e conversão de energia solar em eletricidade está
favorecendo cada vez mais a instalação de painéis solares. Todos os fatores relevantes que
afetam a decisão de compra e o nível de satisfação apresentado pelos clientes na instalação
de painéis solares fotovoltaicos instalados em suas residências foram identificados e
mapeados. Utilizando-se da lógica fuzzy, mais especificamente mapas cognitivos fuzzy,
quantificou-se o grau de satisfação desses clientes. Segundo o mapa cognitivo fuzzy
desenvolvido, verificou-se que os principais motivos para a demanda e instalação de painéis
solares são a economia de longo prazo e a independência da rede elétrica.
Palavras-chave: Mapas Cognitivos Fuzzy, Energia solar, Satisfação do Cliente, Energia
Eólica, Painéis fotovoltaicos, Energia Piezoelétrica.
ANALYSIS OF MOTIVATION AND SATISFACTION IN SOLAR
PANELS PHOTOVOLTAIC INSTALLATION THROUG MAPS
FUZZY COGNITIVE
Abstract: The use of clean and renewable forms of energy reduces the emission of polluting
gases that contribute to the destruction of the ozone layer, caused by the so-called
greenhouse effect. These forms of energy are also a measure that makes the world less
dependent on exhaustible sources. Among them, we highlight solar, wind and piezoelectric.
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 2 de 21
The growing development of the technology of capturing and converting solar energy into
electricity is increasingly favoring the installation of solar panels. All the relevant factors that
affect the purchase decision and the satisfaction level presented by the clients in the
installation of photovoltaic solar panels installed in their homes were identified and mapped.
Using fuzzy logic, more specifically fuzzy cognitive maps, the degree of satisfaction of these
clients was quantified. According to the developed fuzzy cognitive map, it was verified that
the main reasons for the demand and installation of solar panels are the long-term economy
and the independence of the electricity grid.
Keywords: Fuzzy Cognitive Maps, FCM, Solar Energy, Customer Satisfaction, Wind Energy,
Photovoltaic Panels, Piezoelectric Energy.
1. INTRODUÇÃO
A necessidade do uso de fontes de energia limpa está aumentando devido as previsões de
disponibilidade em longo prazo, significando que devemos ter consciência de que nossos
recursos energéticos são limitados. O conceito de energia limpa é frequentemente
associada à fontes renováveis, isso ocorre porque não produzem resíduos e não possuem
limitações quantitativas em comparação com os combustíveis fósseis, minerais e nucleares.
Nenhum tipo de exploração de energia é completamente limpa. Segundo Villalva, a
instalação de geradores eólicos causa a morte de aves, produz ruídos audíveis e modifica a
paisagens. Na fabricação de aerogeradores e células fotovoltaicas são utilizados
componentes tóxicos (VILLALVA, 2017). Usinas térmicas solares usam alguns fluidos
tóxicos durante a instalação. As usinas hidrelétricas também não são totalmente limpas, pois
a sua instalação exige uma grande quantidade de matéria-prima, além das inundações que
altera de forma irreversível o meio ambiente.
No entanto, enquanto toda a exploração de energia provoca mudanças no ambiente,
as fontes renováveis são de longe as menos prejudiciais. O investimento em fontes
renováveis de eletricidade reduz significativamente as emissões de poluentes, reduzindo
também o efeito estufa. Existem várias aplicações para essas fontes de energia, mas o
maior interesse fica concentrado na geração de eletricidade que possui uma demanda cada
vez mais crescente em todo o mundo.
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 3 de 21
Países mais desenvolvidos estão apostando alto em fontes de energia limpa. Na
Europa, o percentual de energia gerada por fontes renováveis praticamente dobrou nos
últimos anos, de 8,5% em 2004 para aproximadamente 17% em 2016 (ESE, 2018). Assim, o
presente trabalho tem como objetivo analisar a viabilidade e os benefícios que o
investimento fotovoltaico da energia solar pode proporcionar para o Brasil.
1.1 Instalação de Painéis Solares Fotovoltaicos
O maior benefício da energia solar para as casas é diminuir a conta de luz, isso é
economizar energia. A instalação de um gerador solar residencial pode reduzir a conta ou
mesmo dar a possibilidade de vender de energia elétrica excedente à rede. A energia solar
é abundante e gratuita, por esse motivo o número de pessoas que instalam painéis
fotovoltaicos em suas casas é cada vez maior.
A energia solar é aplicável em várias circunstâncias: i) como fonte de calor no
aquecimento residencial e industrial, por exemplo. ii) como fonte de energia elétrica pode ser
aplicado em diversas situações, como dessalinização de água, iluminação pública,
sinalização marítima, entre outras.
A instalação de painéis solares residenciais é simples, portanto, não há necessidade
de assistência técnica especializada. Os módulos solares normalmente não sofrem nenhum
tipo de desgaste a curto e médio prazo e não apresenta consumo no processo de captura e
transformação de energia solar. Portanto, basicamente a manutenção é restrita a limpeza
somente quando há incrustação de material devido à poeira que pode afetar a transparência
do vidro dos módulos e sua sensibilidade. A durabilidade média do sistema de coleta de
energia solar é de aproximadamente 25 anos, garantindo um bom tempo para a
recuperação do investimento da implantação do sistema. Assim, os investimentos iniciais
para a instalação do sistema são amortizados ao longo de alguns anos, dependendo do
nível de consumo e custo da tarifa do kW/h, resultando na economia futura para o usuário. A
Figura 1 mostra um exemplo de uma instalação solar amplamente utilizada em residências,
na qual os painéis solares são montados no telhado, a fim de obter-se a maior incidência
possível da radiação solar.
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Fig. 1 Exemplo de um conjunto de painéis solares instalados em uma residência.
Fonte: http://borealsolar.com.br
No entanto, existem algumas restrições, como a diminuição ou ausência de radiação
solar direta em dias nublados, tornando necessário dimensionar uma bateria capaz de
armazenar a energia elétrica necessária para ser usada nesses momentos, algo que pesa
no custo do investimento para a instalação dos sistemas solares residenciais.
Instalação em residências rurais pode compensar mais a instalação solar do que uma
extensão da rede elétrica. Isso pesa muito positivamente no quesito independência da rede
elétrica. São esse os casos que é necessário dimencionar uma bateria capaz de armazenar
energia para os períodos de baixa produção e da noite.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar a viabilidade e os benefícios
que o investimento em energia solar pode proporcionar para as residências brasileiras.
Primeiro, devemos entender o motivo pelo qual a instalação de painéis solares residenciais
e industriais vem crescendo tanto no Brasil quanto no mundo. Também serão apresentadas
algumas tendências de fontes de energia renováveis.
2. FONTES DE ALTERNATIVAS DE ENERGIA PARA O BRASIL
A energia eólica refere-se à transformação da energia cinética do vento em energia
útil, uma forma de obter energia renovável e limpa, uma vez que não produz poluentes. A
energia eólica é transformada em energia elétrica através de um equipamento chamado
aerogerador (ou turbina eólica), que inclui hélices que se movem com a velocidade do vento.
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As energias renováveis estão crecendo, somente a energia eólica proporcionou mais
da metade do crescimento das renováveis, enquanto a energia solar contribuiu com mais de
um terço. Locais com alta densidade de nuvens, como Londres na Inglaterra, apresentam
variações na produção de energia solar de acordo com seu grau de nebulosidade. Ao
referenciar a energia solar deve-se considerar alguns fatores, como a média da radiação
solar, captação e tecnologias na conversão de eletricidade. Embora as condições climáticas
de muitos países não sejam favoráveis à captação de energia solar, no Brasil o cenário é
bastante favorável.
2.1 Radiação Solar no Brasil
Em países tropicais, como o Brasil, o uso de energia solar é viável em praticamente
todo o território, mesmo em lugares distantes dos centros de produção de energia. Seu uso
ajuda a reduzir a demanda de energia e consequentemente a perda de energia que
ocorreria na transmissão. Na Figura 2 são apresentados os índices de radiação média
segundo o Atlas Solarimetrico do Brasil.
Fig. 2 Radiação solar global diária, média anual no Brasil [kW / m2].
Fonte: Atlas Solarimétrico do Brasil (Cresesb).
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As condições atmosféricas, como nebulosidade e umidade relativa, afetam a
disponibilidade de radiação solar, bem como a latitude e posição local no tempo. A duração
solar do dia varia muito em algumas regiões e períodos do ano. Já as variações mais
intensas acontecem nas regiões polares e em períodos de solstício. Os maiores índices de
radiação são observados na região nordeste, especialmente no Vale do São Francisco.
É importante enfatizar que mesmo em regiões com taxas de radiação mais baixas
têm grande potencial para uso de energia. A maior parte do território brasileiro está
localizada relativamente próxima da linha do Equador, de modo que não observa-se
grandes variações na duração solar do dia. No entanto, a maior parte da população
brasileira e as atividades socioeconômicas estão concentradas em regiões mais distantes
do Equador.
Em Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul no Brasil, a duração solar do dia
varia de 10h 13m a 13h 47m, aproximadamente, entre 21 de junho e 22 de dezembro,
respectivamente. Assim, para maximizar o uso da radiação solar, podemos ajustar a posição
do coletor ou painel solar de acordo com a latitude local e o período do ano em que mais
energia é necessária. No Hemisfério Sul, por exemplo, um sistema fixo de captura solar
deve ser orientado para o norte, com um ângulo de inclinação próximo à latitude local.
De acordo com os dados coletados pelo Atlas Solarimétrico do Brasil (2000), a região
nordeste apresenta uma radiação global média de 5,9 kWh/m². A região centro-oeste
aparece em segundo lugar com uma radiação global média de 5,7 kWh/m². Em seguida,
estão a região sudeste com uma radiação global média de 5,6 kWh/m² e a região Norte com
5,5 kWh/m². Finalmente, a região sul aparece como a região com a pior radiação solar (5,2
kWh/m²). No entanto, a diferença entre a região mais ensolarada (nordeste) é de apenas 0,7
kWh/m², evidenciando o potencial da radiação solar brasileira.
2.2 Desenvolvimento da Tecnologia de Capitação Solar
A eficiência dos painéis solares vem aumentando constantemente nas últimas
décadas, nesse contexto, um dos principais fatores que definem a qualidade dos painéis
solares são seus índices de eficiência. Esses índices estão em em constante evolução, por
exemplo, o Soitec & Fraunhofer Institute alcançou uma eficiência de 46%. Essas células
solares de categoria de junção compósita são extremamente caras, usadas pela agência
espacial da NASA (FRAUNHOFER, 2014).
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Existem outras junções de células fotovoltaicas menos eficientes, como Sharp, Soitec
& Fraunhofer, SunPower e Q-Cells. O tipo de material também influencia na célula solar,
existem vários tipos de células solares como o cristal único, concentrado, silício policristalino
e amorfo. Há menos desenvolvimento científico em painéis solares do que em células
solares, devido ao fato da célula solar ser o núcleo de todo o processo de captura de
radiação solar.
Para a geração de eletricidade em escala comercial, o principal obstáculo tem sido o
custo das células solares. Atualmente, os custos de capital variam entre 5 e 15 vezes os
custos unitários de uma usina de gás natural de ciclo combinado. Embora nos últimos anos
tenha havido uma redução nos custos de capital, os valores estão na faixa de US$ 200 a
US$ 300 por MW/he entre US$ 3 mil e US$ 7 mil por kW instalados. Uma visão global mais
detalhada da distribuição dos sistemas fotovoltaicos instalados em todo o país é dificultada
pelos seguintes fatores: a natureza desses projetos; sua localização, espalhada por
localidades pequenas e remotas no território nacional e; a multiplicidade de empresas e
instituições envolvidas em sua implementação e operação.
Uma das principais restrições técnicas à difusão de projetos de energia solar é a
baixa eficiência dos sistemas de conversão de energia, o que torna necessário o uso de
grandes áreas para captação de energia em quantidade suficiente para viabilizar
economicamente a empresa. No entanto, em comparação com outras fontes, como a
energia hidrelétrica, por exemplo, que muitas vezes exige grandes áreas alagadas, observa-
se que a restrição de espaço não é tão restritiva ao uso de energia solar. A tendência é que
o contínuo desenvolvimento tecnológico e a pesquisa científica tornem a energia solar
melhor e mais lucrativa.
Segundo a ABSOLAR, o Brasil já investiu mais de R$ 5,2 bilhões em projetos de
geração de energia elétrica com painéis de células fotovoltaicas. Além disso, espera-se que
até 2022 o investimento total seja de R$ 21,3 bilhões, com grande parte desse montante
aplicado em painéis solares residenciais, possibilitando a uma diminuição no preço da
energia solar, tornando-a mais competitiva. De 2013 a 2018, o preço médio caiu de US$ 103
por MWh para US$ 33,25 por MWh de acordo com o relato pela Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Tal fato torna evidente que o crescimento
modular de grandes e pequenos projetos, devido ao avanço da tecnologia, reduz cada vez
mais os custos da instalação residencial de painéis solares.
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2.3 Materiais piezelétricos e geração de eletricidade
Ainda falando de sustentabilidade, vale a pena mencionar outra forma de produzir
eletricidade que está em constante ascensão: os materiais piezoelétricos. O efeito
piezelétrico é a propriedade que certos cristais possuem de liberar elétrons
proporcionalmente em resposta à pressão mecânica. Isso ocorre porque os cristais
piezoelétricos têm átomos eletricamente neutros dentro deles que não são arranjados
simetricamente, suas cargas elétricas são perfeitamente balanceadas, uma carga positiva
cancela uma carga negativa em sua proximidade, isto é, os momentos de cancelamento de
dipolos elétricos.
Assim, se uma pressão mecânica é exercida sobre um cristal piezoelétrico, ocorrerá
uma deformação em sua estrutura, fazendo com que alguns átomos fiquem mais próximos e
outros mais distantes. Desta forma, perturbando o equilíbrio entre as cargas positivas e
negativas, criando uma diferença de potencial, com cargas negativas e positivas em lados
opostos das faces do cristal, fazendo assim seus momentos de dipolo não serem mais
cancelados. Uma aplicação de geradores piezoelétricos seria nas estradas, em que a
energia mecânica transmitida pelo carro para a estrada é coletada e convertida em
eletricidade. A Figura 4 mostra uma montagem do que seria uma geração piezelétrica.
Fig. 4 Representação esquemática de um dispositivo de geração piezelétrico.
Fonte: Circuitglobe.com (Adaptado)
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2.4 Energia Eólica
Um sistema eólico pode ser usado em três sistemas diferentes: sistema isolado que
são privados de eletricidade da rede pública; sistema híbrido que são sistemas produtores
de eletricidade simultaneamente com mais de uma fonte, por exemplo, painéis fotovoltaicos
e turbinas eólicas e; sistema interligado à rede que inserem a energia produzida por eles na
rede elétrica pública.
O Brasil tem grande potencial eólico, especialmente nas regiões nordeste, sudeste e
sul do país. Infelizmente seu potencial é pequeno, mas representa uma importante fonte de
suplementação de energia hidrelétrica. No entanto, devido ao alto custo de instalação de
uma turbina eólica, muitos acabam optando pela energia solar.
Apesar da alta tendência de crescimento e uso de energia eólica e piezelétrica, este
trabalho concentra-se na energia solar. Isso porque a geração de energia solar está se
desenvolvendo mais rapidamente no Brasil, devido a alta incidência de radiação, fazendo
com que a energia solar seja vista como um interessante investimento.
3. DECISÃO E SATISFAÇÃO NA INSTALAÇÃO RESIDENCIAL DE PAINÉIS SOLARES
ATRAVÉS DA FCM
3.1 Custos de uma instalação solar residencial
O custo de um sistema de energia solar fotovoltaica depende principalmente da
potência instalada e demanada na instalação. Uma pesquisa de mercado realizada pelo
Portal Corporativo Solar em janeiro de 2018 descobriu que o custo final de um sistema de
energia solar fotovoltaica depende principalmente do tamanho e da complexidade da
instalação. A grande variação de preços entre os fornecedores está relacionada à qualidade
dos componentes utilizados, ao tamanho da empresa, pois empresas maiores têm maior
poder de compra e consequentemente economias de escala.
Em julho de 2018, segundo levantamento de 4.500 empresas cadastradas no Portal
Corporativo Solar, foram estimados os preços médios dos geradores solares. Isso já
incluindo a instalação, projeto, aprovação e equipamentos, assumindo o uso de
componentes de boa qualidade. A Figura 5, tirada do Portal Corporativo Solar, mostra a
relação média entre o custo e a potência do gerador solar.
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Fig. 5 Preços médios residenciais da energia do gerador solar.
Fonte: Portal Solar.
O custo de investimento em energia solar de uma residência em um prazo 25 anos é
mais barato do que o preço da rede elétrica. Isso dividindo o valor da energia gerada pelo
sistema fotovoltaico pelo preço da energia solar (ANNEL, 2017).
Em Minas Gerais, assim como em todos os estados brasileiros, a energia solar
fotovoltaica é mais barata do que a energia comprada das concessionárias elétricas,
atualmente custando em torno de R$ 0,70 por kWh, segundo dados do Portal Solar. Isso
torna o investimento vantajoso já que a energia solar fotovoltaica rende entre 8% e 18% ao
ano. Sem dúvidas é um o investimento atrativo, porém, quando lidamos com a decisão de
compra e o nível de satisfação de alguém que instalou um sistema fotovoltaico em sua casa,
o preço não é o único fator envolvido.
3.2 Mapas Cognitivos Fuzzy
O Mapa Cognitivo Fuzzy (FCM) é usado em muitos campos de pesquisa e aplicação,
utilizado como um sistema de processamento de software para sistemas complexos. A
principal razão para seu uso é inferir decisões aplicando métodos como o raciocínio humano
em ambientes incertos. Vários campos de pesquisa estão sendo investigados usando FCM,
como o campo industrial, logística, médica e outros.
Na abordagem FCM, são identificados os conceitos como os principais contribuintes
para o problema sob investigação. Assim é possível descrever o sistema em termos desses
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conceitos expressando uma relação positiva ou negativa entre eles, sendo pontuado sua
influência mútua. Modelos de sistemas complexos podem ser feitos por especialistas ou
construídos a partir dos dados históricos do próprio FCM obtidos a partir dos dados
coletados pelo desempenho do sistema. A Figura 6 mostra um exemplo de um FCM.
Fig. 6 Exemplo de FCM.
Fonte: Modelo de um FCM por meio de uma grande base de dados e balanço de conhecimento de especialistas (KOSKO,1986).
Um FCM possui diversas variáveis que simbolizam os conceitos linguísticos
conectados a outros conceitos por meio de conexões difusas. Essas conexões moldam as
relações entre os conceitos através dos níveis de causalidade, o que significa que todos têm
um "peso" que é quantificado com um valor numérico.
A representação formal do FCM adotada neste trabalho está no formato da tupla (C,
W, S, f): C é o conjunto de conceitos utilizados para construir o FCM, adotando valores que
variam de -1 a 1. Seguinte (i) e (ii) em coerência com as equações (1) e (2).
(i) C = {C1, C2, ..., Cn}: conjunto de conceitos n do FCM;
(ii) W: (Ci, Cij) wij é o peso (relação causal) que liga os conceitos de entrada e saída.
Em (1) e (2), fc é a função de ativação do conceito, xj é o valor do conceito j, wij
representa a relação causal entre os conceitos i e j, e � é a taxa de aprendizagem (2),
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utilizado 1 nessa pesquisa. Existem outras funções de ativação, entretanto, optou-se pela
presente função por conta de sua menor complexidade computacional e ser bastante
empregada na literatura, como por exemplo o trabalho de Mendonça e colaboradores
(2013).
1
( )n
i c ij j
j
f x f w x=
� �= � �
� �� (1)
1
1c u
fe
λ−=
+ (2)
4.2 FCM
Como mostrado em Papageorgiou e Salmeron (2013) e Felix et al. (2017), existem
cerca de quinze extensões de FCM na literatura. Suas aplicações estão dentro dos diversos
campos, como vida artificial, agricultura, assistência médica, controle, jogos e robótica.
No presente trabalho, foram desenvolvidos dois FCMs, um com quinze conceitos e
outro com oito. O primeiro FCM quantifica a motivação média que um indivíduo apresentaria
para comprar e instalar uma microgeração solar em sua residência. Os conceitos possuem
um relacionamento casual, pesos e influências positivas e negativas. Eles foram definidos
de acordo com as necessidades e motivação das pessoas em instalar painéis solares em
suas residências por meio de uma pesquisa disponível no seguinte link:
(https://www.cognitoforms.com/UTFPRcp/PesquisaDeInteresseNaInstalaçãoDePainéisSolar
es). Também foram coletados dados de empresas que forneciam o serviço de instalação de
painéis solares, a fim de identificar quais aspectos mais relevantes para seus clientes. A
partir dessa informação, os conceitos da Tabela 1 foram estabelecidos.
Tendo estabelecido os conceitos do mapa cognitivo, foram construídas suas
respectivas relações de acordo com o modelo fuzzy clássico. Então o valor de suas relações
foi quantificado de acordo com os dados da pesquisa somados aos dados de especialistas
na área. A Figura 7 mostra o FCM do nível de satisfação da instalação de painéis solares
junto aos valores de suas relações.
O segundo FCM quantifica a satisfação dos clientes que já haviam comprado e
instalado um conjunto de painéis fotovoltaicos. A Tabela 2 mostra os conceitos inseridos e a
Figura 8 mostra o FCM desenvolvido. Os pesos de cada um dos conceitos desse FCM
foram quantificados da mesma maneira que o anterior.
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Tabela 1. Conceitos inseridos no FCM da Motivação.
Conceitos Descrição
C1 Nível de motivação para realizar sua instalação solar.
C2 Custo total de instalação.
C3 Investimento Inicial.
C4 Economia de Energia.
C5 Possíveis dificuldades na instalação.
C6 Espaço Físico necessário.
C7 Cuidado estrutural.
C8 Tempo de Amortização.
C9 Valor médio da Conta de Energia Elétrica.
C10 Sustentabilidade (uso de uma energia limpa).
C11 Informações sobre as vantagens da instalação solar.
C12 Permanência do Imóvel (saber que a instalação solar valoriza mais o imóvel).
C13 Suporte da Empresa (ter a garantia dos componentes adquiridos).
C14 Melhora da qualidade de vida (poder gastar mais energia elétrica).
C15 Vida útil dos painéis solares.
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Fig. 7 A satisfação do FCM com a instalação residencial solar.
Fonte: Autoria Própria.
As linhas tracejadas mostram ligações condicionais entre os conceitos. O conceito
C5 é condicional pois só influência caso o indivíduo more em um apartamento ou conjunto
habitacional, pois nesse caso a instalação solar não seria tão simples em uma residência. O
conceito C13 está ligado a motivação (C1) de forma condicional, pois não são todas as
empresas que fornecem suporte aos seus clientes.
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Tabela 2. Conceitos inseridos no FCM da Satisfação.
Conceitos Descrição
C1 Nível de satisfação com a sua instalação solar.
C2 Retorno Financeiro/ Economia de Energia Elétrica.
C3 Investimento Inicial.
C4 Tempo de Amortização.
C5 Aumento da Tarifa.
C6 Valorização do Imóvel.
C7 Sustentabilidade.
C8 Aumento da qualidade Vida.
Fig. 8 A satisfação do FCM com a instalação residencial solar.
Fonte: Autoria Própria.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Assim, foi possível identificar um nível médio de motivação para instalar os painéis e
a satisfação das pessoas que investiram na instalação de um sistema solar fotovoltaico
residencial. Não há como prever exatamente qual seria o critério definitivo para a decisão de
compra e a plena satisfação do cliente, pois cada um tem um critério pessoal que considera
mais relevante. No entanto, tais variáveis não escapam ao controle do FCM, já que todos os
fatores que podem ser considerados relevantes para o cliente foram mapeados.
Com o emprego do software Matlab®, constatou-se que o nível de motivação para
realizar a instalação solar é cerca de 57%, isso sabendo-se bem das informações
pertinentes como por exemplo as vantagens adquiridas. Já a satisfação dos clientes que já
instalaram é de 80%. A partir das funções calculadas, construiu-se um modelo cognitivo por
meio de um gráfico mostrando a resposta do nível de motivação e satisfação da instalação
do painel solar residencial mostrado respectivamente nas Figuras 9 e 10.
Fig. 9 Nível de Motivação.
.
Fonte: Autoria Própria.
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Fig. 10 Nível de satisfação.
.
Fonte: Autoria Própria.
Através de cálculos empíricos iniciais foi possível identificar os laços internos e
estabelecer uma hipótese numérica inicial para o algoritmo. Treze ciclos foram necessários
para atingir o ciclo limite do FCM. É possível visualizar no gráfico das Figuras 9 e 10 os
treze passos necessários para a estabilização do FCM.
Segundo levantamento de satisfação do SEBRAE/BA (2017) a média de satisfação
apresentada pelos empresários com seus fornecedores é de 4,4. Isto é em uma escala onde
1 é "muito insatisfeito" e 5 é "muito satisfeito". No entanto, a pesquisa não se expandiu no
campo da avaliação do cliente devido à constante dificuldade de acompanhamento, visto
também que muitas empresas de instalação solar não oferecem o serviço de pós-venda,
não registrando assim a satisfação de seus clientes.
Porém, esses dados mostram que os empresários têm boa satisfação com seus
fornecedores, embora o resultado da satisfação do cliente e do empreendedor seja menor
do que o relacionamento entre empresário e fornecedor, o que era esperado. O alto custo
de instalação e a falta de qualidade de serviço de algumas empresas pesam negativamente
em curto prazo. Mas a projeção em longo prazo é estimada nesse quesito de satisfação,
uma vez que a economia vivida pelo cliente aumentaria significativamente sua satisfação.
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5. CONCLUSÃO
Segundo a ANEEL (2019), no ano de 2016 a energia solar cresceu 407% em relação ao ano
anterior e até 2024 estima-se que 886,7 mil unidades consumidoras receberão créditos
dessa energia, totalizando 3,2 GW. Apesar desse crescimento, a energia solar ainda tem
uma presença fraca na matriz elétrica brasileira, dominada por grandes hidrelétricas. A
eletricidade produzida por fontes solares responde atualmente por cerca de 1% no país
(ANEEL, 2019).
Segundo a ABSOLAR (2019), o Brasil já investiu mais de R$ 5,2 bilhões em projetos
de geração de energia elétrica com painéis de células fotovoltaicas. Além disso, espera-se
que até 2022 o investimento total seja de R$ 21,3 bilhões, com grande parte desse
montante aplicado em painéis residenciais, tal fato acarreta em uma diminuição no preço da
energia solar, tornando-a mais competitiva. De 2013 a 2018, o preço médio caiu de US$ 103
por MWh para US$ 33,25 por MWh, segundo a Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica, o que torna evidente o crescimento modular de grandes e pequenos projetos,
devido ao avanço da tecnologia, reduzindo cada vez mais os custos da instalação
residencial de painéis solares.
Conforme observado nesta pesquisa, a tendência é que o nível de satisfação na
instalação residencial de painéis solares aumente, uma vez que o constante
desenvolvimento da tecnologia solar está a tornando mais barata.
Constatou-se que a preocupação com o meio ambiente é um fator de pouco peso na
satisfação do cliente, pois o mesmo está muito mais preocupado com a economia no longo
prazo do que com a sustentabilidade. A questão ambiental acaba sendo um fator secundário
devido à questão financeira na satisfação do cliente. Futuros trabalhos sugerem a
investigação da predição do crescimento da energia solar no Brasil, além disso considerou-
se que a satisfação dos clientes teve resultado satisfatório e promissor para a área
abordada nesta pesquisa.
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio financeiro a essa pesquisa da CAPES / BRASIL
(Processo 88887.354058 / 2019-00), da Universidade Federal de Tecnologia do Paraná,
Cornélio Procópio (UTFPR), da Fundação Araucária, da Secretaria de Estado da Ciência,
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 19 de 21
Tecnologia e Ensino Superior. Educação (SETI-PR) e o Governo do Estado do Paraná para
o apoio financeiro. A Eletrotrafo pela parceria na construção do FCM e do Google Form, são
especialistas na área, e aquisição dos dados dos seus clientes para veracidade da
pesquisa.
7. REFERÊNCIAS
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ANÁLISE DE VIABILIDADE TECNICO-ECONÔMICA DE IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA
FOTOVOLTAICO NO CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE ITAPARICA
Ana Carolina Tedeschi Gomes Abrantes (Professora, UNINTER); [email protected]
Fábio Almeida Maia (Estudante, UNINTER)
RESUMO: Visando reduzir os impactos sobre o consumo de energia elétrica e agregar uma economia de gastos de recursos públicos, o presente artigo tem a finalidade de analisar uma proposta de instalação de um sistema fotovoltaico conectado à rede elétrica em uma escola técnica estadual de ensino integrado, com intuito de apresentar através de estudos quantitativos e qualitativos a viabilidade dessa implantação, levando-se em consideração as variáveis de consumo e investimentos. Além disso, o trabalho visa avaliar a grandeza no retorno econômico, social e ambiental ao término do referente estudo, pois se trata de um projeto de implantação que utiliza uma energia limpa proveniente da irradiação solar produzida pelo sol, ou seja, além de infringir o meio ambiente, traz benefícios não só econômicos pontuais, mas também sociais e coletivos, pois se trata de economia de recurso público. Para realização do estudo optou-se por uma revisão bibliográfica com critérios de seleção com a inclusão de artigos, obras literárias, manuais e endereços eletrônicos que foram escolhidos para evidenciarem as variáveis aplicadas ao foco principal do presente estudo, analisando também orçamentos e dados técnicos de equipamentos existentes no mercado de energia solar, onde confirmaram os referidos retornos e comprovaram a viabilidade de implantação do sistema.
Palavras-chave: Energias Renováveis. Energia Solar. Sistema Fotovoltaico.
ANALYSIS OF TECHNICAL-ECONOMIC VIABILITY OF IMPLEMENTATION OF
PHOTOVOLTAIC SYSTEM IN THE INTEGRATED CENTER OF PROFESSIONAL
EDUCATION OF ITAPARICA Abstract: In order to reduce the impacts on the consumption of electric energy and to
aggregate an expense saving of public resources, the present article has the purpose of
analyzing a proposal of installation of a photovoltaic system connected to the electric network
in a state technical school of integrated education, with aiming to present quantitative and
qualitative studies of the feasibility of this implementation, taking into account the variables of
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consumption and investments. In addition, the study aims to evaluate the magnitude of the
economic, social and environmental return at the end of the study, since it is a deployment
project that uses clean energy from solar irradiation produced by the sun, in other words,
besides infringing the not only economic benefits, but also social and collective, because it is
a public resource economy. To carry out the study, we opted for a bibliographic review with
selection criteria with the inclusion of articles, literary works, manuals and electronic
addresses that were chosen to show the variables applied to the main focus of the present
study, also analyzing budgets and technical data of existing equipment in the solar energy
market, where they confirmed the aforementioned returns and confirmed the feasibility of
implementing the system.
Keywords: Renewable Energies. Solar energy. Photovoltaic System. 1 INTRODUÇÃO
As instabilidades climáticas resultaram em crises no setor energético, levando a
redução da capacidade de geração de energia elétrica através das hidrelétricas. A
disponibilidade de outros recursos energéticos não renováveis está cada vez mais escassa
e cara, o que requer novas práticas tecnológicas para poder reduzir os impactos sobre a
sociedade, uma vez que a energia elétrica é indispensável para uma boa qualidade de vida.
Para reduzir os impactos sobre o consumo de energia elétrica as energias
renováveis surgem com grande potencial, dando um escape no consumo de energia elétrica
e oferecendo novas possibilidades para se avançar nas pesquisas e tecnologias, agregando
economia de recursos naturais não renováveis e menos nocividade ao meio ambiente.
Os sistemas fotovoltaicos proporcionam baixo impacto ambiental, pois produzem
energia através de uma fonte renovável e de maneira inofensiva. É uma tecnologia já
utilizada em muitos países como China, Japão e que vem sendo amplamente aplicada no
Brasil, um país ensolarado por natureza e de grande extensão territorial, onde a geração de
energia através de sistemas fotovoltaicos tem muito a agregar.
Logo, a instalação de sistemas de placas fotovoltaicas tanto no âmbito residencial
como comercial tem crescido significativamente durante os últimos anos. Os sistemas de
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energia solar têm trazido grandes benefícios para a sociedade, pois se utiliza de uma fonte
de energia abundante e renovável proveniente da irradiação solar.
Dessa forma, a proposta principal desse trabalho é compreender um dos benefícios
que a energia solar pode trazer com a instalação de um sistema fotovoltaico em uma escola
pública estadual, agregando economia de recursos, capital e redução de impactos ao meio
ambiente.
2 ENERGIA SOLAR
Segundo NETO e CARVALHO (2012), o Sol, efetivamente, é a grande fonte primária
de energia do planeta terra. Sob sua influência estão os movimentos dos ventos, marés,
ciclos de água, a fotossíntese das plantas e mesmo a existência dos combustíveis fósseis.
Conforme REIS e SANTOS (2014), a energia solar propaga-se para a Terra por meio
de radiação eletromagnética que, a partir do limite superior da atmosfera, sofre uma série de
reflexões, dispersões e absorções em seu percurso até o solo. Os níveis de radiação solar
em um plano horizontal na superfície da Terra variam com as flutuações climáticas,
especialmente com as estações do ano, e também de acordo com a região, sobretudo por
causa das diferenças de latitude, das condições meteorológicas e das altitudes.
A energia solar se origina da energia proveniente do sol e incide na superfície da
terra como ondas eletromagnéticas, os chamados fótons. Pode-se afirmar que o Brasil é um
país com grande potencial em energia solar, pois suas condições climáticas favorecem para
consolidar tal afirmação.
Conforme NASCIMENTO (2017), o Brasil possui expressivo potencial para geração
de energia elétrica a partir de fonte solar, contando com níveis de irradiação solar superiores
aos de países onde projetos para aproveitamento de energia solar são amplamente
disseminados, como Alemanha, França e Espanha.
De acordo com FONTENELE (2018), é possível verificar que o Brasil está entre os
países que possuem um dos maiores potenciais em termos de recurso solar, com irradiação
total anual média incidente no plano horizontal que varia em uma faixa aproximada de 1.500
kWh/m² a 2.300 kWh/m². Pode-se destacar a Região Nordeste, como mostra na Figura 1,
como a região com um dos maiores índices de incidências de irradiação solar do Brasil por
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integrar em seu aspecto climático regiões secas e áridas, favorecendo assim para a grande
viabilidade de implantação de projetos que utilizem a energia do sol como fonte primordial.
Figura 1 - Irradiação anual no plano horizontal para o Brasil
Fonte: FONTENELE, 2018.
Analisando os índices da Figura 1 podemos dizer que na região Nordeste a energia
solar pode ser aproveitada de várias formas como: produzir energia elétrica para bombear
água de poços artesanais, alimentar aquecedores ou até suprir o consumo de residências e
indústrias. Sendo assim, para esses últimos casos citados, dentre as práticas mais usuais
estão os sistemas fotovoltaicos, onde aproveita esse potencial de irradiação solar através de
um sistema com placas constituídas de células de silício, inversores de frequência, cabos e
acessórios.
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3 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
Uma das formas de obter-se a conversão da energia proveniente do sol em energia
elétrica é utilizando o efeito fotovoltaico em convergência com a tecnologia disponível no
mercado. Um sistema de energia solar fotovoltaico, também chamado de sistema de energia
solar ou, ainda, sistema fotovoltaico, é um sistema capaz de gerar energia elétrica através
da radiação solar. Atualmente existem duas formas mais usuais de instalação desses
sistemas, a primeira é por um sistema isolado (OFF-GRID) e a segunda é por um sistema
conectado à rede elétrica (ON-GRID).
De acordo com CAMARGO (2017), sistemas fotovoltaicos conectados à rede
elétrica, também chamados de sistemas ONGRID, ou GRID-TIE operam em paralelismo
com a rede de eletricidade. Diferentemente dos sistemas autônomos, os sistemas
conectados são empregados em locais já atendidos por energia elétrica. Por não possuírem
dispositivos de armazenamento de energia, todo o excedente de energia produzida pelo
sistema é injetado na rede elétrica, ou no caso de usinas fotovoltaicas, toda a energia
produzida.
Em 2016 a Empresa de Pesquisa Energética aponta que dos 428 projetos
cadastrados entre as diversas modalidades de energia elétrica, a energia fotovoltaica se
destaca com 295 projetos que totalizam 9.210 MW da energia ofertada, principalmente no
estado da Bahia, sendo o estado com maior oferta de projetos movidos à energia solar
fotovoltaica, projetos esses que somam 1.593 MW de potência. Segundo a EPE (2016), o
Estado do Piauí é o segundo maior em volume de energia solar ofertada, com 42 projetos e
1.430 MW; seguido de perto por São Paulo, com 44 projetos e 1.328 MW.
3.1 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE (ON-GRID)
Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede ou comumente chamados de Sistemas
ON-GRID, são os mais usuais ultimamente no âmbito do aproveitamento de energia solar,
pois além da grande oferta no mercado, constata-se também a grande facilidade nos
métodos de aquisição, instalação e manutenção desses sistemas junto a profissionais
especializados.
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O funcionamento desse tipo de geração se faz por meio do uso de placas
fotovoltaicas compostas por módulos de silício que consequentemente geram energia
elétrica em corrente contínua posteriormente convertidos em corrente alternada através de
inversores de corrente, alimentando assim a rede elétrica da residência, comércio ou
indústria como podemos constatar na Figura 2.
Figura 2 - Sistema Fotovoltaico conectado à rede.
O Sistema Fotovoltaico ON-GRID é um sistema vinculado à rede de distribuição da
concessionária e não possui autonomia para funcionar independente. Entretanto, nos casos
em que a energia gerada supera a energia consumida pela rede elétrica, esse excedente é
convertido em créditos que podem ser aproveitados em desconto na fatura do titular, seja
para a propriedade em que está instalado o sistema ou transferido para outras propriedades
registradas em nome do mesmo.
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4 PLACAS FOTOVOLTAICAS
As placas fotovoltaicas a serem utilizadas para estudo serão de dois fabricantes mais
usuais no mercado de energia solar na região nordeste. São placas que se comportam
como fotodiodos, constituídas de células fotovoltaicas ligadas em série e formadas por silício
policristalino, essas células formam os módulos fotovoltaicos e consequentemente se
arranjam em painéis, onde recebem energia do sol e a converte em energia elétrica na
forma de corrente contínua (Figura 3).
Figura 3 - Ciclo do Painel Fotovoltaico
Os módulos fotovoltaicos são constituídos por um conjunto de aproximadamente 36
a 216 células fotovoltaicas associadas em serie ou em paralelo, onde essa associação
depende de grandezas elétricas (tensão, corrente e potência) que sejam mais adequadas
para a aplicação a que esses módulos se destinam. Vale ressaltar também que para
sistemas fotovoltaicos autônomos, ou seja, sistemas que são alimentados por baterias, os
módulos são conectados em paralelo pois possuem níveis de tensão mais baixo, já para
sistemas conectados à rede utiliza-se de modelos conectados em série, pois trabalham com
níveis mais altos de tensão.
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5 INVERSORES DE CORRENTE
Como já mencionado anteriormente, os sistemas conectados à rede geram energia
através de módulos fotovoltaicos e esses módulos produzem essa energia em corrente
contínua, sendo assim, há a necessidade de se converter essa corrente contínua em
corrente alternada para aproveitamento da mesma em equipamentos elétricos usados em
âmbito residencial ou comercial. Assim, como� ������� ���� �� ���� ���� ��� �����������
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usados nos sistemas autônomos, convertem em corrente alternada a eletricidade de
corrente contínua coletada dos módulos fotovoltaicos.
Essa conversão se faz através de inversores de corrente, onde usa-se transistores
de portas isoladas, TRIACs e MOSFETS que quebram o sinal continuo em pulsos aplicados
à sinal PWM (Pulse Width Modulation), ou seja, modulação através de largura de pulsos que
transforma o sinal contínuo em alternado com comportamento senoidal puro como mostra
na figura 4.
Figura 4 - Funcionamento do inversor de corrente CC-CA
Fonte: VILLALVA, 2012.
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6 METODOLOGIA
Para esse estudo optou-se por fazer uma revisão de literatura utilizando como base
de dados de tecnologia e energia no Scielo, CAPES e FGV, utilizando de alguns termos
como: “energias renováveis”, “energia solar”, “sistemas fotovoltaicos”, “placas fotovoltaicas”.
Os critérios de inclusão foram através de artigos e dissertações sobre energia solar e
sistemas fotovoltaicos implantados no país e na região do Nordeste, datados a partir do ano
de 2010 até o ano vigente (2019), além de manuais e relatórios da ANEEL, normas da NBR
como a NBR:5410 e manuais vigentes da Concessionária COELBA; quanto aos critérios de
exclusão, foram descartados literaturas disponíveis homologadas antes do ano de 2010,
pois os estudos da última década ainda são muito importantes para elucidação de análises.
O estudo visa fazer um comparativo entre o consumo de energia elétrica durante os
últimos 12 meses medido através de fatura e o quantitativo aproximado de potência e de
placas fotovoltaicas projetado com a instalação do sistema. Esse comparativo visa também
fazer uma projeção para o futuro, quantificando o valor econômico com a instalação de um
sistema fotovoltaico que suporte toda a demanda de consumo da instituição de ensino e
quanto tempo levará para o mesmo ser autossustentável.
Esse cálculo é baseado na média de consumo faturado no tempo de 12 meses,
considerando que o padrão de entrada é trifásico, logo há a uma vincularidade de consumo
mínimo disposto na norma da concessionária de aproximadamente 100 kW/h. A Tabela 1
demonstra os indicativos de consumo faturado e a média de consumo já decrescida desse
consumo mínimo obrigatório, pois para vias de cálculos, precisa-se considerar apenas o
consumo real tomando por base a necessidade de se aproximar do valor real de placas a
serem instaladas.
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Tabela 1 - Consumo Anual e Média Mensal Anual FATURAÇÃO - PERIODO DE 1 ANO - 2018/2019
PERIODO CONSUMO MENSAL (kWh/mês)
Abr/18 9205 Mai/18 8231 Jun/18 6382 Jul/18 4820 Ago/18 7185 Set/18 7007 out/18 7987 Nov/18 8814 Dez/18 6611 Jan/19 3711 Fev/19 4363 Mar/19 5978 Total 80294
Média mensal anual 6691,167 Média diária 223,039
Fonte: Do autor.
Considerando o consumo mensal anual já demonstrado anteriormente de acordo
com os dados obtidos através de número de contrato extraído diretamente do portal da
concessionária, pode-se chegar ao valor de 223,039 kWh/dia e com isso calcular a potência
total do sistema, baseado na média de consumo através da seguinte Equação1:
Potência total dos painéis=Energia de geração
tempo de exposição x rendimento das placas��������������� (1)
E energia de geração é justamente o consumo médio diário anual já mencionado
anteriormente e o tempo de exposição é o tempo médio em horas de exposição a irradiação
solar de acordo com a região/cidade que o sistema vai ser instalado. De acordo com o
CRECESB (Centro de Referência para as Energias Solar e Eólica Sérgio de S. Brito) o
tempo médio de incidência solar no plano horizontal para a região da cidade de Paulo
Afonso – BA, onde a instituição se encontra, é de 5,54 kWh/m² horas de sol pico (HSP)
como pode-se constatar na Tabela 2.
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 11 de 16
Tabela 2 - Incidência solar média Irradiação solar
Paulo Afonso - BA HSP Jan 6,33 Fev 6,24 Mar 6,06 Abr 5,4 Mai 4,55 Jun 4,07 Jul 4,21 Ago 4,84 Set 5,8 Out 6,09 Nov 6,42 Dez 6,47
Média 5,54 Fonte: Do autor.
Para se obter a eficiência aproximada das placas deve-se considerar algumas
influências como: perdas por temperatura (7 a 18%), incompatibilidade elétrica (1 – 2%),
acumulo de sujeira (1 a 8%), cabeamento para CC e CA (0,5 a 1%), perdas de energia no
inversor de corrente pelo processo de conversão (2,5 a 5%). Portanto, tomando como base
todas essas variáveis, pode-se estimar um valor mínimo aproximado de 80% de eficiência.
Logo, substituindo os valores já citados na Equação 1, obtém-se:
Potência total dos painéis=223,039
5,54 x 0,8=50,324 KWp
Com a potência total do sistema calculada, pode-se obter o valor total ou
aproximado da quantidade de placas fotovoltaicas de acordo com a seguinte Equação 2:
Qtd de placas=Potência total dos paineis
potência de cada painel (2)
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Substituindo a Equação 2 pelos valores obtidos anteriormente e considerando que
cada placa possui uma potência de 330W de acordo com o kit escolhido junto ao fabricante
Jinko Solar, obtém-se os seguintes valores:
Qtd de placas=50,324 KWp
330W=154,5 placas
7 ESPECIFICAÇÕES DO FABRICANTE
O modelo de sistema referido baseia-se de acordo com as especificações do
fabricante Jinko Solar, uma renomada empresa no ramo da energia solar, onde tem grande
avanço nesse setor na região do sertão nordestino e grande eficiência em seus produtos.
Considerando a potência total do sistema de 50,324 kWp, com padrão de entrada
trifásico de 380/220V e os kits disponíveis pelo fabricante, decidiu-se adotar um kit gerador
solar de 51,48 kWp de potência com a quantidade de placas referida na Equação 2 e todos
os componentes necessários para instalação, custando R$ 121.786,26.
8 PAYBACK
O payback é o tempo que leva para se obter o retorno econômico investido na
compra e instalação do sistema gerador. Considerando um investimento de R$ 121.786,26
e dividindo esse valor pelo valor médio pago mensalmente pela instituição no último ano de
R$ 4.600,337, valor esse obtido considerando o preço de tarifa de 0,55882289 por kW/h
até o mês de abril de 2019, obtém-se a Tabela 3 a seguir, e consequentemente chega-se a
um payback anual de acordo com a Equação 3.
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Tabela 3 - Consumo médio anual em valores reais
Meses Consumo mensal (R$) Abr/18 5231,86
Mai/18 5503,64
Jun/18 4475,15
Jul/18 3600,52
Ago/18 5336,64
Set/18 5032,22
Out/18 5592,82
Nov/18 6387,4
Dez/18 4620,49
Jan/19 2540,12
Fev/19 2869,24
Mar/19 4013,94
Consumo médio anual (R$) 4600,337 Fonte: Do autor.
Payback=investimento
valor médio mensal=
121.786,26
4.600,337= 26,47 meses 12 � =2,2058 anos (3)
Logo, pode-se concluir que o investimento aplicado à compra e instalação do sistema
fotovoltaico retornará para os cofres públicos em aproximadamente 2 anos e 3 meses,
considerando em média uma economia de cerca de R$ 4.600,337 reais ao mês durante
todo o período em que o sistema tiver vigente, porém, desconsiderando os custos com
manutenção, reparo e custos necessários para viabilidade junto à concessionária para
implantação do sistema, o aumento de carga e também de tarifa durante o período, o que
pode aumentar o tempo desse referido payback.
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9 LOCAL DE INSTALAÇÃO
O Centro Territorial de Educação Profissional de Itaparica possui 3 pavilhões, sendo
que o escolhido para o estudo foi o pavilhão central onde é constituído por 12 salas de aula,
diretoria, secretaria, auditório, banheiros, laboratório de informática, biblioteca, coordenação,
articulação e depósitos com as dimensões citadas na Figura 5.
A escolha do pavilhao central é a mais adequada por questões estruturais, pois
consta em sua estrutura além do padrão de entrada, reduzindo a queda de tensão por conta
da distância dos cabos para instalação e traz mais comodidade para as futuras
manutenções e adequações. É no pavilhão central (Figura 6) que funciona todos os setores
da administração da instituição o que possibilita maior viabilidade para instalação dos
inversores de corrente e controladores de carga, logo é um pavilhão ideal para
monitoramento e controle do sistema.
Figura 5 - Dimensões do Pavilhão Central
Fonte: Do autor.
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Figura 6 - Visão superior do Centro Territorial de Educação Profissional de Paulo Afonso - BA.
Fonte: Google Earth. Acesso em (15/04/2019).
10 CONCLUSÃO
O presente artigo evidenciou o potencial do presente estudo, fortalecendo o objetivo
proposto de reduzir a problemática do consumo de energia e a degradação da cadeia
energética do país.
O sistema proposto garante que o investimento agregado a instituição terá um
retorno econômico para os cofres públicos, considerando que se trata de uma escola
estadual. O investimento de R$ 121.786,26 feito para adquirir o sistema fotovoltaico vai
retornar em aproximadamente 2 anos e 3 meses e se auto sustentará desconsiderando que
a instituição possa crescer estruturalmente. Vale ressaltar que ainda existe 2 pavilhões com
potencial para instalação de outros sistemas semelhantes, agregando ainda mais para uma
possível expansão do projeto no futuro.
Usar a tecnologia em favor da sociedade deve ser a grande premissa em um mundo
tão desgastado por intervenção humana. A tecnologia de sistemas fotovoltaicos tem
evoluído com rapidez, fazendo com que cada vez mais as pessoas se conscientizem da
necessidade de economizar recursos não renováveis, entretanto o Brasil ainda tem muito a
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se fazer para incentivar a iniciativa privada à proporcionar um melhor e mais acessível
mercado para o consumidor de baixa-média classe.
A proposta é utilizar os espaços disponíveis na instituição para instalação de novos
sistemas geradores, aproveitando também energia excedente para injetar créditos na rede
da concessionária e quem sabe poder transferir esses excedentes para outras instituições
de educação pública da rede estadual.
REFERÊNCIAS
CAMARGO, Lucas Tamanini. Projeto de Sistemas Fotovoltaicos conectados à Rede Elétrica. Dissertação de Graduação. Londrina – PR, 2017. CRESESB. Potencial Solar - SunData. Cresesb, 2019. Disponível em: <http://www.cresesb.cepel.br/index.php#localidade_36376>. Acesso em: 15 abr. 2019. EPE. 1º leilão de energia de reserva – Exercício 2016, Empresa de Pesquisa Energética. Brasília – RJ, 2016. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao74/1LER2016a.pdf#search=energia%20solar >. Acesso em: 10 abr. 2019. FONTENELE, Luiz Fernando Almeida. AVALIAÇÃO DE CONFIGURAÇÕES DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL. Dissertação de Pós-Graduação. São Paulo - SP, 2018. NASCIMENTO, Rodrigo Limp. Energia Solar no Brasil: Situação e Perspectivas. Brasília. Câmara dos Deputados. 2017. NETO, Borges, M. R., CARVALHO, Paulo. Geração de energia elétrica: fundamentos. 1. ed. São Paulo: Érica, 2012. REIS, Lineu Belico.; SANTOS, Eldis Camargo. Energia elétrica e sustentabilidade: aspectos tecnológicos, socioambientais e legais. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2014.
VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações. São Paulo: Érica, 2012.
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ÁRVORE DE FALHAS DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM FUNDAÇÕES
Vanessa Wiebbelling (Esp. Engenheira Civil, Centro Universitário Assis Gurgacz – FAG); [email protected]
Maycon André de Almeida (Me. Engenheiro Civil/Professor, Centro Universitário Assis
Gurgacz – FAG); [email protected]
Resumo: Por tratar-se de uma estrutura não aparente, os profissionais de engenharia
comumente encontram dificuldades na análise de manifestações patológicas em
fundações, tanto para a sua identificação quanto para a investigação de suas possíveis
causas. Isso se dá principalmente devido à escassez de referências bibliográficas que
abordem de maneira compacta suas origens, mecanismos deflagradores e características
de danos. Por essas razões, o presente artigo trata da elaboração de uma árvore de falhas
de manifestações patológicas em fundações, a fim de reunir essas informações em um
único material de maneira concentrada e prática. Para isso, foi também elaborada uma
tabela com a representação de diversos tipos de fissuras procedentes desse tipo de
patologias, buscando diferenciá-las das resultantes por defeitos em outras partes de uma
estrutura. Todas as informações apresentadas foram fundamentadas em bibliografias sobre
as características do solo, fundações e de manifestações patológicas incidentes sob as
mesmas, além da configuração de bancos de dados. O objetivo da pesquisa foi criar uma
ferramenta que facilite a visualização e análise das possíveis origens de patologia, através
de uma série de perguntas que identificam eventos nas fases de investigações geotécnicas,
projeto, execução de fundações e eventos pós-conclusão de obras, que são as principais
fases de recorrência das mesmas. Respostas negativas para eventos específicos na árvore
podem representar a origem dessas manifestações patológicas. Ademais, são feitas
sugestões de reparo para cada caso de patologia apresentada.
Palavras-chave: Patologia das construções, Fundações, Árvore de Falhas.
FOUNDATIONS PATHOLOGIES FAILURE TREE
Abstract: Considering that it’s not an apparent structure, engineering professionals
commonly find difficulties for analyze foundations pathology, such for their identification as
for investigate their possible causes. This is mainly due to scarcity of bibliographical
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references that approach in a compact way their origins, fire mechanisms and damages
characteristics. For these reasons, the present article deals with the elaboration of a failure
tree of foundations pathologies, searching for gather this information in a single material, on
a concentrated and practical way. For this, a chart was also drawn up with the representation
of multiples cracks types descendant from this pathologies type, seeking to differentiate them
of those resulting from defects in other structure parts. All the presented information was
based on bibliographies about the soil characteristics, foundations and pathologies incidents
under them, in addition to databases configuration. The research objective was to create a
tool that facilitates the visualization and analysis of the possible origins of these pathologies
through a series of questions which identify events in the phases of geotechnical
investigations, design, foundations execution and events after execution end, which are the
principal phases of their recurrence. Negatives answers for specific events in the tree may
represent the pathologies origins. In addition, repair suggestions are made for each
pathology case presented.
Keywords: Foundations, Pathologies, Failure Tree.
1. INTRODUÇÃO
Por tratar-se de uma estrutura não aparente nas edificações, frequentemente
desconsideram-se os efeitos de um inadequado dimensionamento da fundação, o que pode
acarretar custos de reparo muito superiores aos de uma estrutura apropriadamente
executada. As consequências são passíveis desde a fase de execução até a vida útil de
uma edificação, e variam desde o aparecimento de pequenas fissuras na alvenaria e
estrutura até o desaprumo da edificação. Não apenas a própria edificação, mas as
edificações vizinhas podem sofrer danos quando desconsideradas durante as fases de
projeto e execução de uma nova obra.
Dal Molin (1988) demonstra que 5,59% das fissuras que surgem em estruturas de
concreto armado são causadas por problemas em fundações. Já em pesquisa realizada por
Alves (2009), 37,50% das manifestações patológicas em edificações no estado de Goiás
foram causadas por problemas nas fundações. Desses, 66,67% foram de baixa gravidade,
26,67% de gravidade moderada e 6,67% de gravidade alta. Silva (1993) define, segundo
estatísticas de manifestações patológicas recorrentes no estado do Rio Grande do Sul, que
sua principal causa trata das falhas nas etapas de projeto de fundações, representando
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55,2% dos casos, e que cerca de 80% das ocorrencias de patologia são decorrentes da falta
de conhecimento sobre as propriedades do subsolo em todas as fases de execução das
fundações. Ainda segundo a autora, a principal causa de patologia em fundações é a
eliminação de custos relativos a investigações geotécnicas, pratica essencial à elaboração
de uma fundação adequada.
O exemplo mais clássico de uma patologia em fundação, segundo Silva (1993), é o
recalque diferencial sofrido pela torre de Pisa, na Itália. A estrutura começou a inclinar-se
logo após sua construção, em 1973, devido ao mau dimensionamento da fundação e da
desconsideração do comportamento do solo nesse processo.
Considerando a dificuldade dos profissionais de engenharia na identificação de
causas e origens de manifestações patológicas, principalmente as relacionadas a
fundações, o presente artigo tem como objetivo apresentar o desenvolvimento de uma
Árvore de Falhas - AF por meio da análise de situações que podem ocorrer durante as fases
de projeto, execução e pós-conclusão de obras, que podem levar às manifestações
patológicas em fundações.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. CARACTERÍSTICAS DE FISSURAS DE PATOLOGIA EM FUNDAÇÕES
As particularidades dos danos causados em edificações devido às manifestações
patológicas em fundações são numerosas, uma vez que os métodos executivos e as
características de cada estrutura de fundação são tão variáveis quanto o comportamento do
meio em que são inseridas. No entanto, o comportamento das estruturas pode ser
padronizado, uma vez que estão sujeitas a esforços de flexão e flexo-compressão que são
refletidos nos danos causados em caso de patologia.
Carvalho (2010) relata que uma forma de compreender melhor as manifestações
patológicas em fundações é estudar as fissuras, que podem dar informação sobre o tipo de
patologia que a estrutura apresenta. Quando os esforços provocados por recalques e os
esforços da própria estrutura atingem o limite da resistência à tração, à compressão e
esforço cortante dos materiais, são originadas as fissuras.
Silva (1993) define as fissuras como consequências dos casos onde as tensões
causadas pela movimentação das fundações superam a resistência dos componentes de
uma edificação, ou a resistência de união entre eles, fazendo com que trabalhem de formas
distintas e rompendo camadas de aderência. Já o desaprumo corresponde ao caso
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contrário, quando a estrutura trabalha de maneira homogênea, e devido à maior esbeltes
(relação entre base e altura), sofre o deslocamento de seu centro de gravidade na existência
de tensões superiores às previstas em projeto.
Segundo a ABNT NBR 6118 (2014), as fissuras são consideradas agressivas quando
sua abertura na superfície do elemento construtivo ultrapassa valores como 0,2 mm para
peças expostas em meio agressivo muito forte (industrial e respingos de maré), 0,3 mm para
peças expostas a meio agressivo moderado e forte (urbano, marinho e industrial) e 0,4 mm
para peças expostas em meio agressivo fraco (rural e submerso).
Para Silva (1993), a gravidade das fissuras é subjetiva, pois varia de acordo com a
destinação da edificação. Uma pequena fissura pode ser apenas visualmente desconfortável
em uma edificação de uso residencial, por exemplo, mas em clínicas e hospitais onde há
maiores rigores quanto à estabilidade, pode tornar o reparo indispensável ao sucesso
operacional da edificação.
A configuração das fissuras possui algumas características básicas: podem ser
verticais, horizontais ou inclinadas, sempre aparecem em ambas às faces do componente
comprometido e tem maior abertura em uma das extremidades. Não possuirão configuração
mapeada, isso é, quando na existência de mais de uma, terão a mesma direção e
aproximadamente a mesma espessura. Em edificações de alvenaria estrutural, as fissuras
ocorrerão em todos os pavimentos e com a mesma intensidade (SILVA, 1993).
A interpretação do fissuramento em estruturas de concreto armado, no entanto, é
complexa. Segundo Silva (1993), elementos como os tipos de vinculações da estrutura, a
distribuição dos esforços entre os elementos estruturais (pilares, vigas e lajes) e entre
estrutura e alvenaria, além das taxas de armadura em cada ponto considerado, influenciam
diretamente no surgimento de fissuras. Nesses casos, a flexibilidade do conjunto estrutural
vigas-pilares, a aderência entre alvenaria e estrutura e a distribuição dos recalques definirão
a orientação e intensidade das fissuras. Por isso, para sua melhor compreensão, devem ser
estudados a fundo em cada caso de patologia.
A autora define ainda que no caso de recalque diferencial entre pilares de uma
estrutura, as tensões serão distribuídas de maneira desuniforme para manter o equilíbrio do
sistema. Isso provocará o surgimento de reações de tração e compressão, conforme mostra
o esquema da Figura 1, no elemento de vedação, o qual não suporta tais tensões e sofre o
fissuramento. Já segundo Carvalho (2010), a existência de aberturas na alvenaria provoca a
concentração de tensões nos cantos das mesmas, cujos valores podem ser até seis vezes
superiores às tensões existentes no restante da alvenaria. Isso cria uma maior probabilidade
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de que o fissuramento ocorra nos cantos de aberturas, geralmente a 45° como ilustrado na
Figura 2.
Figura 1 - Estado de tensões geradas por recalque diferencial entre pilares
Figura 2 - Fissuras em aberturas causadas por recalque
Fonte: Adaptado de Silva (1993) Fonte: Adaptado de Carvalho (2010)
Quando ocorre o recalque de um dos pilares de uma edificação, as fissuras
geralmente inclinam-se em direção à ele, tangenciando o mesmo. Isso quer dizer que todas
as paredes ligadas ao mesmo sofrerão o dano, cuja intensidade depende da rigidez da
edificação (SILVA, 1993). A Figura 3 ilustra os principais tipos de fissuras devido ao
recalque de um pilar.
Figura 3 - Fissuras causadas por recalque de pilares
Fonte: Adaptado de Silva (1993)
Segundo Carvalho (2010), nos casos em que a aderência entre a alvenaria e as vigas
for baixa, pode ocorrer fissuras na interface entre os dois elementos. O mesmo ocorre entre
pilares de alvenaria. As fissuras podem ser inclinadas e paralelas, características de esforço
cortante, ou uma única fissura horizontal. Ainda segundo o autor, quando o recalque ocorre
em pilares de canto, não há pilares e vigas suficientes para o equilíbrio das tensões, o que
pode gerar uma reação horizontal das forças e gerar momento na interface entre o pilar e a
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fundação. Essa tensão horizontal provoca uma reação na alvenaria, com o surgimento de
trincas.
Fica claro, sob esse contexto, que a dificuldade para se interpretar as fissuras é
proporcional à sua variedade, e que suas configurações são apresentadas em variadas
referências bibliográficas. Analisar o fissuramento de uma estrutura e determinar suas
causas é um trabalho complexo para o profissional que depara com uma patologia,
principalmente a originada em fundações.
2.2. ÁRVORE DE FALHAS
Para essa análise, foi adotado como instrumento metodológico o método de análise de
dados denominado Árvore, nome que foi historicamente motivado por sua representação
gráfica, que é definida por Wirth (1989) como a maneira mais simples de visualização de
fluxo entre informações correlacionadas, onde há a conexão entre uma informação
inicialmente vazia (nesse caso, a patologia), com estruturas finitas denominadas sub árvores
(as motivações da patologia) através de nós do tipo “T”, que representam a relação entre as
informações.
A estrutura desse método de análise pode ser analogicamente comparada a uma
árvore visualizando-se a informação primitiva como a raiz e os dados descendentes como
ramos. Quando uma informação não possibilita o surgimento de novos nós, ela pode ser
definida como a folha da árvore, ou causa primária (WIRTH, 1989). No caso da análise de
uma patologia, aí estará uma possível origem do dano.
Beck (2012) define que existem várias configurações de Árvores de análise, estando
entre as mais usuais a Árvore de Causas – AAC, amplamente utilizada em Engenharia de
Segurança do Trabalho, que relaciona apenas as causas a um determinado problema; a
Árvore de Eventos - AAE, que trabalha com a relação de causa e efeito entre os dados, a
partir de um problema inicial, trabalhando em paralelo à ação de mecanismos de segurança;
e a Árvore de Falhas – AAF, que serve de ferramenta para a análise de patologia do
presente trabalho, e será descrita a seguir.
Beck (2012) define uma árvore de falhas - AAF como a decomposição de um evento
principal em eventos básicos que tenham relação com um acidente analisado. Essa
decomposição, como a ilustrada na Figura 4, se dá até que os eventos básicos (e) tenham
conhecida probabilidade de acontecer e possam ser a possível origem do dano estudado.
Isso permite a combinação de incidentes que podem ter causado a falha e que de outra
maneira passariam despercebidos.
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Figura 4 - Árvore de falhas
Fonte: Adaptado de Beck (2012)
Os dados na árvore de falhas são consequentes de todas as fases ligadas ao
surgimento do elemento principal, podendo estar relacionados a erros humanos e / ou de
equipamentos. No caso de manifestações patológicas em fundações, os eventos serão
relacionados às fases de projeto, execução de fundações e eventos pós-conclusão de
obras, que foram definidos por Milititsky (2005) como as principais fases de surgimento
dessas manifestações patológicas e que foram fundamentadas no decorrer da pesquisa.
Todas as informações relativas às possíveis causas das manifestações patológicas
apresentadas na àrvore são provenientes de uma detalhada revisão bibliográfica acerca de
manifestações patológicas em fundações, baseada principalmente nos estudos realizados
por Milititsky (2005) e Silva (1993).
A sequência de eventos que levam a uma provável causa da patologia é denominada
caminho crítico e, analisando-se os eventos, é possível corrigir esse caminho e minimizar a
recorrência de novos acidentes com as mesmas causas (BECK, 2012).
Beck (2012) aponta ainda, como característica básica de uma AAF, o fato de que ela
não apresenta todas as possibilidades de erro do sistema. Isto é, o dano pode ter sido
causado por um evento não qualificado na árvore. Além disso, ressalta que há nesse
método de análise a independência entre eventos.
A organização geométrica de uma árvore de falhas é de consenso entre Wirth (1989)
e Villas et al. (1993), que afirmam que os fatores relacionados à formatação da mesma,
como a direção do fluxo e as caixas de informações, devem seguir os critérios do próprio
programador do banco de dados, não havendo em Engenharia de Programação regras
quanto a isso. Nesse caso, a formatação ficou a critério da autora.
É importante frisar aqui que, no estudo de qualquer incidência patológica, a
determinação de causas é subjetiva, e a análise da relação entre eventos deve ser feita com
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a reunião do máximo de informações sobre o histórico da edificação, uma vez que a mesma
configuração de fissura pode ser motivada tanto por problemas na fundação quanto por
problemas estruturais. Já os reparos apresentados tratarão apenas de sugestões, cabendo
ao leitor um aprofundamento para cada caso em trabalhos complementares sobre o tema.
3. METODOLOGIA
O primeiro passo da presente pesquisa foi a reunião dos mais variados tipos de fissuras que
possam surgir em uma edificação em função de patologias em fundações, a fim de facilitar a
visualização do profissional que se depara com essas manifestações patológicas, podendo
colaborar com o diagnostico correto. Elas foram organizadas em formato de tabela (Tabela
1) que contém sua representação gráfica, seu ângulo de incidencia, descrição e a provável
causa.
Tabela 1 – Tabulação para identificação das fissuras decorrentes de problemas em fundações
Tipo de Fissura Inclinação Descrição Causa
Após a determinação de que se trata de uma fissura que pode ter sido causada pela
movimentação da estrutura de fundação, cabe à Árvore de Falhas (AAF) o auxílio para a
determinação das origens da patologia.
Para que haja uma sequência lógica na anamnese dos eventos que podem
representar as origens das manifestações patológicas em fundações, a Árvore de Falhas foi
segmentada em três partes: eventos relacionados às fases de projeto e investigações
geotécnicas; eventos relacionados à fase de execução; e eventos relacionados à pós-
conclusão de obras.
Os eventos ligados às fases de projeto englobaram a etapa de caracterização do
solo e retomam as recorrências descritas na revisão bibliográfica da presente pesquisa.
Foram considerados, então, eventos como: ausência de investigações geotécnicas,
investigações insuficientes, investigações com falhas, má interpretação dos dados de
sondagens, má interpretação das cargas de projeto, dimensionamento para a carga total da
edificação desconsiderando as especificidades de pontos particulares, alterações das
cargas sem o conhecimento do projetista de fundações e, principalmente, a escolha de tipo
de fundação com desempenho insuficiente para a situação.
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Já os eventos ligados à fase de execução de fundações englobaram a instabilidade
do solo, erros humanos, mal preparo ou imprudência da mão de obra, falta de
acompanhamento de responsável técnico, equipamentos inapropriados para o tipo de
fundação projetado ou para o local onde ela deverá ser executada e, ainda, manejo
incorreto do equipamento e execução de juntas de trabalho entre edificações.
Os eventos relacionados à pós-conclusão de obras, por sua vez, englobaram os
recalques e a degradação dos materiais constituintes da fundação, além da influência de
obras em edificações vizinhas.
Após a apresentação da árvore e a verificação dos eventos básicos que podem
significar a origem de uma manifestação patológica, cada um deles foi caracterizado em
uma tabela (Tabela 2) abaixo da AAF, segundo sequência numérica, para a elucidação do
profissional que defrontar-se com a ferramenta, acompanhado de uma sugestão de reparo
para cada caso.
Tabela 2 – Tabulação para causas e sugestões de reparo das falhas na AAF
Falha Causa Como corrigir
Nãox Causa relacionada ao evento mencionado na Árvore de Falhas.
Possibilidade de reparo.
A árvore de Falhas deve servir como referência para a anamnese que pode levar à
determinação das causas de patologias em fundações. No caso da verificação de mais de
um evento básico durante a observação da árvore, cabe ao profissional aprofundar-se nos
possíveis fatores influentes para um diagnóstico mais preciso.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. TABELA PARA IDENTIFICAÇÃO DE FISSURAS E SUAS CAUSAS
Para a identificação dos tipos de fissuras e das possíveis causas que tenham relação com
manifestações patologicas em fundações foi elaborada a Tabela 3, cuja fundamentação
teórica foi descrita anteriormente. Após a identificação do tipo de fissura e sua causa, a
investigação da origem da patologia segue através da análise das árvores de falhas – AAF,
apresentadas na sequência.
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Tabela 3 - Identificação de fissuras causadas por problemas em fundações
Tipo de Fissura Inclinação Descrição Causa
45° Fissura na interface entre vedação e estrutura
Recalque do pilar no ponto A
45° Fissura em abertura de porta Recalque do pilar o ponto A
45° Fissura em abertura de janela Recalque do pilar no ponto A
45° Fissuras tangenciando pilar Recalque no ponto A
45° a 90° Fissura geral em parede de
alvenaria estrutural Recalque no centro do vão
Arco Fissura em arco em parede de
alvenaria estrutural Recalque no centro do vão
45° a 90° Fissura geral em parede de alvenaria estrutural
Recalque nas laterais do vão
45° Fissura de canto em laje Recalque do pilar no ponto A
45° e 90°
Fissura em abertura e no ponto de encontro entre solo aterrado e compactado (alvenaria estrutural)
A edificação cedeu no ponto A
45° Fissura geral em edificação de alvenaria estrutural
Recalque no ponto A
Variável Desaprumo da edificação Recalque diferencial
Variável Fissura entre edificações de
diferentes portes
Falta de junta de trabalho / Compartilhamento de viga baldrame
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4.2. ÁRVORE DE FALHAS – FASES DE PROJETO
A árvore de falhas é apresentada na Figura 5, onde retângulos vermelhos representam as
causas primárias, consideradas as prováveis origens da patologia em questão, e retângulos
verdes surgem quando não houver mais eventos que possam representar mecanismos
deflagradores da mesma. O evento em amarelo representa um item obrigatório a ser
cumprido para que se dê sequência à investigação.
Figura 5 - Árvore de Falhas - Eventos Relacionados às Fases de Projeto
Fonte: Autor (2019)
Na Tabela 4 são descritas as causas primárias apresentadas na árvore de falhas
para a fase de projeto e investigações geotécnicas.
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Tabela 4 – Causas e sugestões de reparo para AAF - Fase de Projeto
Falha Causa Como corrigir
Não1 Cargas de projeto estrutural dimensionadas de maneira incoerente ou não compatibilizadas com o projeto promovem o subdimensionamento da fundação, provocando o aparecimento de fissuras na edificação, em virtude do deslocamento que a mesma sofrerá.
Uma possibilidade de reparo é a readequação do projeto de fundação e o reforço da fundação nos pontos afetados.
Falha Causa Como corrigir
Não2 Os vários tipos de estruturas de fundação possuem diferentes capacidades de carga e de suporte de solo, definidas pela ABNT NBR 6122 (2010), que variam de acordo com a geometria, profundidade, natureza do material empregado e resistência do solo-base. O tipo de sistema de fundação escolhido deve ser funcional em cada caso específico de solo e porte da edificação. Caso contrário, haverá a deflagração de patologias por recalque.
Deve-se proceder à reanálise do projeto de fundação e à verificação de necessidade de reforço de fundação.
Não3 Fundações em estacas em aterro acarretam sobrecarga na fundação devido ao atrito negativo, enquanto para fundações rasas o aterro pode ser um fator positivo. No entanto, se há a presença de camadas moles ou compressíveis em profundidade, o bulbo de tensões pode incidir sobre essa camada e causar recalques por adensamento. Em ambos os casos, podem ocorrer recalques devido a erros de dimensionamento, por não se considerar a influência da camada aterrada ou por superestimá-la.
Podem ocorrer situações em que as edificações são construídas sob camadas de diferentes resistências, como é a situação de terrenos com regiões de corte e aterro de solo. O solo no nível de corte foi naturalmente compactado durante o tempo, enquanto no aterro a compactação mecânica ainda sofrerá com tais ações, tendendo ao adensamento, tendo como consequência o surgimento de patologias, conforme representa a Figura 6.
Como se trata de um erro na etapa de projeto, o mesmo pode ser readequado através da execução de reforços de fundação em estacas de grande profundidade (em caso de recalques por adensamento), reforçando-se o bloco afetado ou através da criação de novas estruturas de fundação.
Não4 A distância mínima entre estacas assegura que não haverá risco de desabamento e principalmente que não haverá sobreposição de tensões oriundas dos dois elementos de fundação próximos, que podem acarretar a redução da transferência de carga entre o elemento estrutural de fundação e o solo e, consequentemente, um subdimensionamento da fundação.
A readequação do projeto de fundação e adequação dos espaçamentos entre estacas.
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Figura 6 - Apoio de edificação sobre camadas de solo heterogêneas
Fonte: Autor (2019)
4.3. ÁRVORE DE FALHAS – FASE DE EXECUÇÃO
A árvore de falhas para a fase de execução de fundações é representada na Figura 7. Os
retângulos vermelhos representam as causas primárias, consideradas as prováveis origens
da patologia em questão, e retângulos verdes surgem quando não houver mais eventos que
possam representar mecanismos deflagradores da mesma.
Figura 7 - Árvore de Falhas - Eventos Relacionados à Fase de Execução
Fonte: Autor (2019)
Na Tabela 5 são descritas as causas primárias apresentadas na árvore de falhas
para a fase de execução de fundações. Novamente, o evento em amarelo representa um
item obrigatório a ser cumprido para que se dê sequencia à investigação.
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Tabela 5 – Causas e sugestões de reparo para AAF - Fase de Execução
Falha Causa Como corrigir Não5 O controle de prumo e profundidade
garante que o projeto seja devidamente executado, sem o surgimento de excentricidades de carga ou elementos de porte inferior ao necessário, o que poderia promover recalques e consequentes patologias, como a ruptura do elemento estrutural de fundação por flexo-compressão.
Pode-se realizar reforço de fundação através de estacas Mega (em caso de fundações de pequeno porte / profundidade não suficiente). Caso o problema envolva ruptura de elementos estruturais devido a esforços de flexo-compressão ou não utilização de área de aço necessária para as solicitações, macaquear a estrutura e apoiá-la em nova a fundação (a estrutura pode também ser condenada).
Falha Causa Como corrigir Não6 O controle da concretagem dos elementos de
fundação é importante porque não é possível fazer o monitoramento interno do elemento durante sua execução. Nesse caso, é possível manter um controle do volume de concreto utilizado que reflete informações quando comparado ao volume de concreto calculado para a concretagem da fundação. Quando a quantidade utilizada exceder o volume de concreto calculado para cada estaca, pode significar o rompimento entre dois furos, como representa a Figura 8. Caso contrário, se houver significativa sobra de material, pode ter ocorrido a obstrução do fuste da estaca por detritos ou rompimento das paredes do fuste e consequente estrangulamento do fuste.
Nesses casos, é conveniente a execução de nova fundação para o pilar afetado e fechamento / inutilização das estacas escavadas que apresentaram a patologia com mistura de solo-cimento.
Não7 Ensaios são a maneira mais prática de verificação de anomalias em estacas, uma vez que indicam a existência de obstruções ou rompimentos no elemento de fundação. São a maneira mais viável de identificar patologias originadas durante a execução das fundações, como o estrangulamento do fuste.
Assim como no caso anterior, pode ser executada nova fundação para o ponto afetado ou, caso a anomalia não condene o elemento estrutural de fundação executado, pode ser executado um reforço na fundação com Estacas Mega.
Não8 Edificações de portes diferentes construídas em divisa ficam sujeitas a diferentes solicitações de carga. Dessa maneira, caso não hajam juntas de trabalho entre elas, a edificação de menor porte terá um aumento de tensões para o qual não foi projetado, pois tende a sofrer o mesmo abaixamento da edificação de maior porte. Isso provocará o surgimento de fissuras.
Deve-se promover, nesse caso, a readequação do projeto de fundação e reforço com a utilização de estacas de grande profundidade e / ou melhoramento do solo da camada compressível.
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Figura 8 - Rompimento do fuste de uma estaca pela instabilidade do solo
Fonte: Autor (2019)
4.4. ÁRVORE DE FALHAS – PÓS-CONCLUSÃO DE OBRAS
Os eventos relacionados à pós-conclusão de obras são apresentados na Figura 9, onde
retângulos vermelhos representam as causas primárias e retângulos verdes surgem quando
não houver mais eventos que possam representar mecanismos deflagradores da mesma. O
evento em amarelo representa um item obrigatório a ser cumprido.
Figura 9 - Árvore de Falhas - Eventos Relacionados à Pós-Conclusão
Fonte: Autor (2019)
As causas primárias apresentadas na árvore de falhas, para a pós-conclusão de
obras, são descritas na Tabela 6.
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Tabela 6 – Causas e sugestões de reparo para AAF - Fase de Pós-conclusão
Falha Causa Como corrigir
Sim1 Cargas de projeto estrutural dimensionadas de maneira incoerente ou não compatibilizadas com o projeto promovem o subdimensionamento da fundação, provocando o aparecimento de fissuras na edificação, em virtude do deslocamento que a mesma sofrerá.
Uma possibilidade de reparo é a readequação do projeto de fundação e o reforço da fundação nos pontos afetados.
Não9 A degradação dos materiais constituintes das estruturas de fundação depende do grau de agressividade do ambiente, que deve ser considerado na escolha do tipo de fundação para que não haja a recorrência de patologias devido à corrosão. Entre os fatores mais relevantes, devem ser considerados a permeabilidade do concreto à água e aos gases, o grau de carbonatação, a composição química do aço, o estado de fissuração da peça e características ambientais como umidade, temperatura e presença de agentes agressivos. Além de, no caso de estacas de madeira, devido tratamento do material contra o apodrecimento.
No caso de patologias decorrentes da degradação dos materiais, deve ser promovido um estudo para a escolha de novos materiais, com a devida resistência, para a execução de reforço de fundação, caso a estrutura não esteja em ruína.
Falha Causa Como corrigir
Não10 Ao ser construída uma nova edificação em terreno vizinho ao da obra em questão, há o surgimento do bulbo de tensões da nova fundação. Dependendo da proximidade das edificações, pode ocorrer a sobreposição desse bulbo com o da fundação existente, conforme demonstra a Figura 10, isso provocará um aumento na tensão efetiva na área da intersecção, e, caso o solo não tenha capacidade de suporte para tal, haverá a sua deformação e recalque da edificação existente.
Pode-se realizar o mesmo reparo do caso 7, com a execução de nova fundação para o ponto afetado, ou ainda ser executado um reforço na fundação com Estacas Mega.
Figura 10 - Intersecção de bulbos de tensões de edificações vizinhas
Fonte: Adaptado de Silva (1993)
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5. CONCLUSÕES
Tão importante quanto a identificação de patologias já existentes é o fato de que a facilidade
de interpretação dos eventos inseridos na árvore de falhas poderá torná-la, também, uma
maneira de evitar a reincidência das patologias analisadas. Isto é, se os caminhos críticos
da árvore forem adotados pelos profissionais de engenharia como cuidados durante as
fases de projeto, execução e pós-conclusão de novas fundações, será minimizado o risco de
surgimento de patologias em edificações devido às estruturas de fundação.
Um dos pontos cuja importância ficou clara no trabalho foi à execução de
investigações geotécnicas, que demonstrou-se um evento crucial na segurança de uma
estrutura de fundação. Tanto pelo fato de serem normatizadas pela ABNT NBR 6484 (2001),
quanto pela importância dada às mesmas pelos vários autores que fundamentaram o
trabalho, fica claro o fato de que sondagens de simples reconhecimento são indispensáveis
ao bom desempenho das estruturas de fundação.
Esse fato é decorrente da complexa estruturação dos diversos subsolos que compõe
a base das fundações, o que não torna possível, devido à heterogeneidade e a
suscetibilidade às influências do meio, uma padronização de comportamento do solo. Por
esse motivo é indispensável a realização de investigações geotécnicas em cada caso de
projeto de fundação, prática que, se adotada pelos profissionais de engenharia, minimizaria
em até 50% os casos de patologias em fundações, segundo estatísticas apresentadas por
Silva (1993).
Além disso, os passos para o desenvolvimento de projetos e execução de obras de
fundações também tiveram um claro enfoque e suas importâncias foram justificadas, através
da árvore de falhas, no surgimento de patologias. Cuidados relacionados as cargas
estruturais, ao acompanhamento e controle da execução das fundações e a escolha de
materiais com resistência adequada ao meio são indispensáveis às estruturas de fundação,
que devem ter a mesma durabilidade e bom desempenho que a supra estrutura.
Pode-se concluir, ao fim do presente artigo, que a árvore de falhas de patologias em
fundações demonstrou ser um diferencial como ferramenta para a análise de patologias em
fundações. Além disso, o referencial teórico apresentado trata de um conjunto valioso de
informações para a análise e interpretação de tais patologias, com funcionalidade e
praticidade proporcionadas em seus resultados e discussões.
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REFERÊNCIAS
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Estruturas nas Edificações, com Até dez Anos de Idade, Executadas no Estado de
Goiás. Dissertação de Mestrado (Curso de Mestrado em Engenharia Civil da EEC/UFG) –
UFG, Goiânia, 2009.
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execução de fundações. Rio de Janeiro, 2010.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6122: Projeto de
Estruturas de Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6484: Solo -
Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro,
2001.
BECK, A.T. Confiabilidade Estrutural. São Paulo: Universidade de São Paulo, Escola De
Engenharia De São Carlos - Departamento De Engenharia De Estruturas, 2012.
CARVALHO, D. M. C. Patologias das Fundações: Fundações em Depósitos de Vertente
Na Cidade De Machico. 2010. Dissertação de Mestrado. Universidade da Madeira,
Funchal, 2010.
DAL MOLIN, D. C. C. Fissuras em concreto Armado: Análise das Manifestações
Típicas e Levantamento de Casos Ocorridos no Estado do Rio Grande do Sul. 1988.
Dissertação de Mestrado (Curso de Pós-Graduação em engenharia Civil ) – UFRGS, Porto
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MILITITSKY, J.; CONSOLI, N. C.; SCHNAID, F. Patologia das Fundações. São Paulo:
Oficina de textos, 2005.
SILVA, D. A. Levantamento de Problemas em Fundações Correntes no Estado do Rio
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Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 19 de 15
Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1993.
VILLAS, M. V., [et al]. Estrutura de dados: Conceitos e Técnicas de Implementação. 11.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1993.
WIRTH, N. Algoritmos e Estruturas de Dados. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A., 1975.
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BIM PARA A SEGURANÇA DO TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Renata Degraf Miara (Engenheira Civil e Mestranda do PPGECC - UFPR); [email protected]
Prof. Dr. Sergio Scheer (Engenheiro Civil e Professor do PPGECC - UFPR)
Resumo: O objetivo geral deste artigo foi identificar oportunidades para a utilização da
Modelagem da Informação da Construção (BIM) na prevenção e redução dos acidentes de
trabalho em obras da construção civil brasileira. Por se tratar de uma pesquisa que estuda
uma nova solução para tratar de um problema real, o método adotado foi Design Science
Research (DSR). Para identificação das principais oportunidades foram explorados estudos
a respeito do tema na bibliografia recente, incluindo: artigos, teses e dissertações – através
de uma revisão sistemática da literatura. O resultado da pesquisa foi uma matriz de
aplicação do BIM na construção, para auxiliar engenheiros e arquitetos a tomarem a melhor
decisão em relação à qual funcionalidade do BIM explorar para mitigar riscos e acidentes
nas obras.
Palavras-chave: BIM; Construção; Projeto; Segurança; Trabalho.
BIM for work safety in construction industry
Abstract: The main goal of this paper was to identify opportunities for Building Information
Modeling (BIM) in the prevention and reduction of work accidents in Brazilian construction
works. Because it is a research that studies a new solution to address a real problem, the
method adopted for the research was Design Science Research (DSR). To identify the main
opportunities, studies on the topic were explored in the recent bibliography, including:
articles, thesis and dissertations - through a systematic literature review. The result of the
research was a matrix of application of BIM in construction, to help engineers and architects
make the best decision as to which functionality of BIM to explore in order to mitigate
construction hazards and accidents.
Keywords: BIM; Construction; Design; Safety; Work.
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1. INTRODUÇÃO
O setor da construção civil no Brasil apresenta elevados índices de acidentes de
trabalho, conforme ilustra o Gráfico 1.
Gráfico 1 – Número de acidentes de trabalho por ano no setor da construção civil
Fonte: Elaborado pelo autor.
Dados: Brasil (2017).
Os acidentes contabilizados são divididos em três categorias: típico, de trajeto ou
referente à doença de trabalho. Sendo a primeira categoria os acidentes propriamente ditos,
que acontecem no ambiente de trabalho e não tem causa relacionada à doenças. Embora o
número de acidentes venha diminuindo ao longo dos anos, de 2015 à 2017 passou da
ordem de 15 para 9 mil, este ainda é um número expressivo.
Os acidentes no setor da construção civil têm sido constantemente associados à
negligência, imperícia e imprudência, bem como a condições de trabalho e atitudes
inseguras. No entanto, parte deles parece estar associada também a condições de projeto.
Considerando que um dos meios mais eficazes de prevenir os riscos seria eliminá-
los na fonte, uma prevenção através do projeto seria capaz de reduzir acidentes. No entanto
para um projeto seguro ideal, seria necessária uma avaliação de risco completa de cada
componente do projeto, possibilitada somente através de uma completa integração e
conhecimento dos processos da construção (KAMARDEEN, 2010).
Esta integração poderia ser facilitada através do Building Information Modeling (BIM)
ou Modelagem da Informação da Construção, em português, um dos mais recentes
desenvolvimentos na indústria da arquitetura engenharia e construção (AZHAR, 2011).
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BIM é um conjunto de tecnologias, informações e processos combinados a
plataformas digitais para auxiliar a projeção e o gerenciamento de uma edificação em todas
as suas etapas. Através do uso do BIM um modelo digital acurado do projeto é construído
(CBIC, 2017). Essa tecnologia pode ser aplicada a todo o ciclo de um empreendimento ou
em apenas algumas fases, trazendo mais facilidade e integração aos engenheiros e
arquitetos.
O uso do BIM permite uma visualização completa do empreendimento durante o
processo de projeto. O que facilita a identificação antecipada dos perigos relacionados aos
futuros processos construtivos, permitindo que os projetistas eliminem ou reduzam os riscos
antes do início do trabalho. Onde não é possível remover os perigos, os trabalhadores
podem ser preparados com antecedência e os controles apropriados implementados.
Esta pesquisa tem como objetivo geral identificar oportunidades para a utilização da
Modelagem da Informação da Construção (BIM) na prevenção e redução dos acidentes de
trabalho em obras da construção civil brasileira.
Para delimitar a investigação foram determinados alguns objetivos específicos:
• Identificar os estudos recentes de aplicação de BIM e segurança do trabalho;
• Avaliar em quais tipos de obras estes estudos foram aplicados;
• Identificar quais os métodos foram utilizados para cada tipo de obra;
• Estabelecer correlação entre os métodos e suas aplicações através de uma
matriz.
O resultado da pesquisa será então uma matriz de aplicação do BIM na construção,
para auxiliar engenheiros e arquitetos a tomarem a melhor decisão em relação à qual
funcionalidade do BIM explorar para mitigar riscos e acidentes nas obras.
Esta matriz, será representada por uma tabela, e relacionará os tipos de obras e
funcionalidades BIM, identificando as melhores aplicações para cada situação.
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2. METODOLOGIA
Pesquisas com o objetivo de estudar o projeto, a concepção ou mesmo a resolução
de problemas reais não conseguem se sustentar exclusivamente com o paradigma das
ciências naturais e sociais (DRESCH et al., 2015). A partir desse questionamento, em
diversas áreas do conhecimento, como engenharia, arquitetura e gestão, surgiu um novo
paradigma epistemológico para a condução de pesquisas, chamado Design Science.
A Design Science, ciência do projeto ou do artificial, se dedica a propor formas de
criar artefatos que tenham certas propriedades (SIMON, 1996).
Lukka (2003) apresenta os principais elementos dessa abordagem metodológica.
Esses elementos consistem em: (i) enfatizar os problemas do mundo real que possuam
relevância para serem solucionados na prática; e (ii) conectar-se a um conhecimento teórico
prévio; para (iii) produzir uma construção inovadora que solucione o problema inicial
definido; que resulte (iv) no funcionamento prático da solução, a partir da tentativa de
implementação da construção desenvolvida; e (v) na contribuição teórica do estudo, a partir
das descobertas empíricas realizadas.
Tendo em vista o contexto apresentado e os itens enumerados acima, justifica-se a
escolha da DSR para o presente trabalho por três motivos: o tipo do problema abordado, o
caráter da pesquisa a ser desenvolvida e o tipo do resultado pretendido.
O presente trabalho refere-se a uma pesquisa a respeito das principais
oportunidades para redução de acidentes de trabalho a partir da utilização do BIM, e visa
propor a definição dessas oportunidades a partir de uma matriz de escolha. O caráter da
pesquisa a ser desenvolvida é de inovação tecnológica, por fazer uso da Modelagem da
Informação da Construção e buscar melhorias de processo com uso de tecnologias de
informação.
Logo, trata-se de uma pesquisa que propõe criar um novo processo capaz de lidar
com um problema real. Por essa razão adotou-se o paradigma do “Design Science
Research” ou "Ciência do Projeto", também denominado “Constructive Research”.
Para identificação das principais oportunidades serão explorados estudos a respeito
do tema na bibliografia recente, incluindo: artigos, teses e dissertações – através de uma
revisão sistemática da literatura. Dessa forma será determinado o estado-da-arte do tópico
abordado.
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Estes estudos serão separados conforme o tipo de abordagem e o tipo de obra
estudada. Dessa forma será possível avaliar quais as técnicas ideais para cada tipo de obra
específica e, portanto, elaborar a matriz de seleção.
A revisão sistemática da literatura foi realizada utilizando a base de dados Scopus e
os temos de busca selecionados foram: “BIM” e “construction safety”. O protocolo da coleta
de dados está no Anexo A. Os artigos encontrados foram então selecionados conforme
ilustra o Quadro 1.
Quadro 1 - Revisão sistemática da literatura
SCOPUS "BIM" e "construction safety" 94 artigos encontrados
Artigos publicados em revistas 41 artigos selecionados Artigos em inglês e/ou português 36 artigos selecionados
Relacionados à engenharia 33 artigos selecionados Selecionados após leitura de títulos e resumos 19 artigos selecionados
Fonte: Elaborada pela autora.
O resultado da revisão sistemtática da literatura foi um total de 19 artigos
selecionados. Estes artigos foram selecionados por representarem casos de aplicação do
BIM na segurança do trabalho na área específica de engenharia.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O papel dos engenheiros e arquitetos projetistas tem sido tradicionalmente projetar
uma construção de forma que ela se adapte aos códigos locais aceitos.
A segurança dos trabalhadores da construção fica a cargo do contratante e/ou
empreiteiro. No entanto, os projetistas podem ter uma forte influência sobre a segurança de
uma construção. A capacidade de influenciar a segurança da construção versus o tempo é
descrita no Gráfico 2.
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Gráfico 2 - Habilidade de impactar a segurança por etapa do projeto
Fonte: Adaptado de KAMARDEEN, 2010.
Conforme ilustra o Gráfico 2, verifica-se que a capacidade de influenciar a segurança
diminui à medida que o cronograma de um projeto avança e se passa do conceito para o
início da obra.
O momento ideal para influenciar a segurança ocorre portanto durante as fases de
levantamento, estudo preliminar e anteprojeto. Nessas fases, os projetistas podem
influenciar a segurança da construção fazendo melhores escolhas.
Por definição, prevenção através do projeto é uma metodologia aplicada às várias
fases do processo de projeto para identificar e mitigar riscos e perigos que serão
encontrados por trabalhadores da construção civil durante a construção (KAMARDEEN,
2010).
No conceito BIM, as características físicas da construção são representadas na sua
geometria, enquanto as demais informações funcionais são agregadas a essa edificação.
Essas informações tem por propósito integrar os agentes e disciplinas envolvidas no
desenvolvimento de um projeto em todas as suas fases.
BIM se apresenta então como um modelo com diversas camadas de informação,
organizadas de forma sistemática, de modo que possam ser acessadas no tempo certo e da
forma correta.
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De acordo com Calvert (2013), podemos fazer as seguintes classificações de
dimensões para o BIM: 3D trata das dimensões tridimensionais, próprias do modelo; 4D
trata do planejamento na dimensão de tempo; 5D trata do orçamento ou seja da dimensão
custo; 6D incorporara a sustentabilidade e 7D trata da operação e manutenção da edificação
ao longo de seu ciclo de vida. Essas dimensões conforme retratado na Figura 1 são
classificadas conforme o tipo de informação e finalidade desejada para o modelo.
Figura 1 - Dimensões BIM
Fonte: Elaborado pela autora.
Conforme a Figura 1, a Segurança do Trabalho seria a dimensão 8D, pois um
modelo projetado em BIM pode oferecer informações suficientes para que se possa
identificar diversos problemas relacionados à segurança do trabalho antecipadamente
(KAMARDEEN, 2010). Essa dimensão consiste em prever possíveis riscos no processo
construtivo e operacional, adicionando componentes de segurança e indicativos de riscos.
Segundo Soeiro e Martins (2016) a utilização do BIM para a segurança de trabalho estaria
enumerada envolvendo os aspectos a seguir:
• Prevenção na fase de projeto;
• Simulação da construção para análise de riscos;
• Elaboração de contratos com garantias de níveis de prevenção;
• Utilização de dispositivos móveis durante a execução da obra;
• Localizadores para controle de operações;
• Análise de medidas de prevenção durante as fases de operação e manutenção.
Estes, foram então os aspectos considerados para relacionar os casos estudados, dos
19 artigos encontrados na revisão sistemática da literatura, conforme ilustra o Quadro 1.
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Quadro 2 - Resultados da Revisão Sistemática da Literatura
N Autor Etapa
(Quando?)
Método (Como?)
Objetivo (Por quê?)
Ferramenta (Como?)
Tipo de obra
(Onde?)
1 Park e Kim (2013) Obra Utilização de dispositivos móveis Detecção e prevenção de acidentes Realidade aumentada Edifícios
2 Zhang et al. (2013) Projeto Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma
automática Edifícios
3 Chen e Liu (2015) Projeto Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma
automática Túneis
4 Zhang et al. (2015) Obra Localizadores Subsidiar a tomada de decisões em relação à segurança Tecnologia de posicionamento
GPS
Espaços
confinados
5 Zhang et al. (2015) Projeto Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma
automática Edifícios
6 Enshassi, Ayyash e
Choudhry (2016) Projeto Elaboração de contratos Aumentar a percepção dos contratantes quanto às vantagens do BIM Questionário Edifícios
7 Shen e Marks (2016) Obra Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de interface Sistemas de identificação de
riscos em BIM Edifícios
8 Zhang et al. (2016) Obra Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de interface Sistemas de identificação de
riscos em BIM Túneis
9 Choe e Leite (2017) Projeto Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Visualização 4D Edifícios
10 Park, Kim e Cho (2017) Obra Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de interface Internet das coisas e sensores
wireless Edifícios
11 Riaz et al. (2017) Obra Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de interface Internet das coisas e sensores
wireless
Espaços
confinados
12 Cheung, Lin e Lin (2018) Obra Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de interface Internet das coisas e sensores
wireless Túneis
13 Hossain et al. (2018) Projeto Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma
automática Edifícios
14 Arslan, Cruz e Ginhac
(2019) Obra Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de interface
Sistemas de identificação de
riscos em BIM Edifícios
15 Golovina et al. (2019) Obra Localizadores Detecção e prevenção de acidentes Tecnologia de posicionamento
GPS Obras de terra
16 Jin et al. (2019) Projeto Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Visualização 4D no BIM Edifícios
17 Khan et al. (2019) Obra Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de interface Sistemas de identificação de
riscos Obras de terra
18 Lee et al. (2019) Projeto Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma
automática Edifícios
19 Yuan et al. (2019) Projeto Prevenção na fase de projeto Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma
automática
Edifícios
Fonte: Elaborado pela autora.
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Os trabalhos foram então relacionados por tipo de obra e aplicação conforme os itens
descritos acima, no Quadro 2.
A partir da elaboração do Quadro 2, foi possível identificar as principais aplicações já
realizadas e verificou-se a ausência de aplicações de medidas de prevenção relacionadas
as fases de operação e manutenção das edificações.
No entanto, para aplicações nas etapas de obra e projeto, foi verificada uma
abrangência nos estudos para diversos tipos de obra, tais como: edifícios, obras de terra,
túneis e obras em espaços confinados. As principais tecnologias utilizadas nos casos
estudados foram:
• Realidade aumentada;
• Verificação de regras de forma automática;
• Tecnologia de posicionamento – GPS;
• Sistemas de identificação de riscos em BIM;
• Visualização 4D no BIM;
• Internet das coisas e sensores wireless.
A maior parte dos casos estudados (10 dos 19, ou 53%) tratou da aplicação do BIM na
obra – visando a redução de acidentes, conforme o Gráfico 3.
Gráfico 3 - Distribuição de casos conforme etapa
Fonte: Elaborado pela autora.
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 10 de 2
A maior parte destes estudos (8 dentre 19) utilizou dispositivos móveis para
acompanhar a execução das obras, como: realidade aumentada, sensores wireless e
sistemas de identificação de riscos automáticos – conforme ilustra o Gráfico 4.
Gráfico 4 - Distribuição de casos conforme tipo de aplicação
Fonte: Elaborado pela autora.
Outros estudos utilizaram de simulação da construção para análise dos riscos através
do modelo BIM, ou de localizadores para controle das operações. Outras opções
disponíveis, mais menos utilizadas foram a prevenção na fase do projeto propriamente dito,
através de relatórios elaborados ou de contratos com garantias dos níveis de prevenção.
Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 23ª edição – Março de 2020 - página 11 de 1
A partir da revisão sistemática realizada foi possível estabelecer os principais tipos de aplicação BIM para os principais tipos
de obras, conforme ilustra o Quadro 3.
Quadro 3 - BIM na segurança do trabalho TIPO DE OBRA E
ETAPA MÉTODO OBJETIVO FERRAMENTA
EDIF
ÍCIO
S
Pro
jeto
Elaboração de contratos Aumentar a percepção dos contratantes quanto às vantagens
do BIM para a segurança do trabalho Questionário com profissionais
Prevenção na fase de projeto Auxiliar projetistas a identificar riscos no projeto Alertas de riscos no projeto
Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma automática, visualização 4D
Ob
ra
Utilização de dispositivos móveis Aumentar a identificação dos riscos em campo e melhorar a
comunicação entre trabalhadores e engenheiros
Realidade aumentada, internet das coisas, sensores,
aplicativos nos smartphones
ESP
AÇ
OS
CO
NFI
NA
DO
S
Ob
ra Localizadores Subsidiar a tomada de decisões em relação à segurança Tecnologia de posicionamento - GPS
Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de
interface Internet das coisas – Sensores wireless
OB
RA
S D
E
TER
RA
Ob
ra Localizadores Reduzir número de acidentes identificando riscos Tecnologia de posicionamento - GPS
Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho através de
interface Sistemas de identificação de riscos
TÚN
EIS
Pro
jeto
Simulação da construção Detecção e prevenção de acidentes Verificação de regras de forma automática
Ob
ra
Utilização de dispositivos móveis Monitoramento das condições de trabalho Sistemas de identificação de riscos e internet das coisas
Fonte: Elaborado pela autora.
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Com a verificação das principais tecnologias abordadas foi então possível elaborar a matriz de decisão ilustrada no Quadro 4.
Quadro 4 - Matriz de decisão
Etapa do ciclo de vida Tipo de obra
Edifícios Conjuntos
habitacionais Obras de terra
Obras em túneis
Espaços confinados
Projeto
Verificação de regras X
Visualização em 4D da obra em andamento X
X
Alertas de risco durante projeto X
X
Obra
Dispositivos móveis
Drones
X X X
Realidade aumentada X
Localizadores
RFID X
X
GPS
X X X
Monitoramento de condições ambientais
Sensores
X X X
Fonte: Elaborado pela autora.
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Com a matriz desenvolvida, engenheiros e arquitetos, poderão facilmente escolher
qual tecnologia adotar nesses cinco tipos de obras principais:
• Edifícios: edificações residenciais e/ou comerciais verticais, com diversas unidades
similares e andares com repetições;
• Conjuntos habitacionais: edificações residenciais e/ou comerciais horizontais, com
unidades similares repetidas em série;
• Obras de terra: obras principalmente de terraplenagem, estradas, pontes e/ou
viadutos, com grandes extensões horizontais;
• Obras em túneis: obras com grandes extensões horizontais em uma dimensão
apenas, realizadas abaixo da superfície;
• Espaços confinados: obras em espaços fechados em que existe a necessidade de
monitoramento constante das condições de trabalho.
A matriz de decisão, Quadro 4, deverá ser utilizada da seguinte forma: a partir da
determinação do tipo de obra, verificam-se as principais alternativas para a segurança do
trabalho utilizando a modelagem BIM.
Para obras de edifícios, por exemplo, conforme análise dos estudos encontrados,
verifica-se que seria melhor aproveitado o desenvolvimento de medidas de segurança na
etapa de projeto. A verificação de regras, visualização 4D e alertas de risco durante o
projeto poderiam mitigar os riscos existentes e proporcionar ao projetista base para
alterações.
No entanto, também seriam aproveitadas tecnologias como realidade aumentada. Esta
tecnologia poderia ser utilizada junto aos trabalhadores com o objetivo de fornecer
informações constantes durante a execução dos serviços e facilitar a tomada de decisões.
Poderiam ainda ser utilizados sensores, interligados através da internet das coisas, para
monitorar os trabalhadores e suas condições de saúde.
Nos casos de obras de terra, túneis e espaços confinados, a utilização de sensores
poderia ser ainda incorporada para:
• medir a segurança e estabilidade de taludes – para o caso das obras de terra;
• para medição de níveis d’água e níveis de oxigênio ou gases tóxicos – para
obras em túneis e/ou espaços confinados.
Essas medições deveriam então enviar relatórios para os gerentes de obras
verificarem instantaneamente a segurança nos canteiros, e favoreceriam o controle e
prevenção dos riscos.
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4. CONCLUSÕES
Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar oportunidades para a utilização da
Modelagem da Informação da Construção (BIM) na prevenção e redução dos acidentes de
trabalho em obras da construção civil brasileira. Pretendeu-se com este trabalho demonstrar
que novas tecnologias e processos de aprendizagem são essenciais para o
desenvolvimento do setor da construção e são o caminho a seguir por forma a tornar
novamente a construção uma indústria inovadora e competitiva.
O trabalho também tinha como objetivo auxiliar na criação de um ambiente em obra
que proteja o trabalhador, mas que também promova a proatividade em torno da segurança.
O resultado obtido foi uma matriz de aplicação do BIM na construção para mitigação
de riscos de acidentes de trabalho.
A matriz de decisão desenvolvida auxiliará então para atingir todos os objetivos, pois
servirá como base para engenheiros e arquitetos, gerentes de obra e projetistas, tomarem
as melhores medidas para incorporar a segurança de trabalho desde a etapa de projeto.
Hoje, medidas de segurança do trabalho, na indústria da construção são tomadas
somente nas etapas de obra.
Dessa forma, pode-se concluir que trazer a discussão da segurança do trabalho na
construção civil para as etapas de projeto pode ajudar a reduzir o número de acidentes.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Construção Civil
da Universidade Federal do Paraná (PPGECC-UFPR) e à Universidade Federal do Paraná
por proporcionarem a realização deste trabalho e por fomentarem a pesquisa científica no
Brasil. Agradecemos também aos professores, deste programa e desta Universidade, por
orientarem e colaborarem na realização desse trabalho.
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COMPARATIVO DA ADESIVIDADE ENTRE DIFERENTES TIPOS DE
LIGANTES ASFÁLTICOS SEM E COM ADIÇÃO DE CAL HIDRATADA
Felipe Barczak (Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Tuiuti do Paraná,
Curitiba, PR. E-mail: [email protected]) Daniela Evaniki Pedroso (Mestre em Engenharia Civil, Professora da Universidade Tuiuti do
Paraná, Curitiba, PR. E-mail: [email protected]) Paulo Eduardo de Melo Paris (Mestrando em Mecânica dos Sólidos pelo Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR. E-mail: [email protected])
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar a adesividade entre ligante e agregado, de
três diferentes tipos ligantes asfálticos, e em seguida, verificar a adesividade dos mesmos
ligantes com a adição de cal hidratada. Para o estudo foram analisadas as adesividades
entre agregado e os ligantes CAP 50/70, o Ligante Asfáltico Modificado por Borracha de
Pneus Inservíveis e o Ligante Asfáltico Modificado por Polímeros Elastoméricos, através do
método qualitativo descrito na norma DNER 078/94. Os resultados mostraram que todos os
ligantes, sem a adição da cal na mistura, apresentaram resultados insatisfatórios à luz da
norma de referência. Já os resultados com a adição de cal se mostraram satisfatórios.
Portanto, observou-se que a adição de cal atua como um bom melhorador da adesividade
entre agregado e ligante asfáltico, tendo menor custo, comparado aos aditivos existentes no
mercado com a mesma função.
Palavras-chave: Asfalto, Sustentabilidade, Propriedades Físicas.
COMPARATIVE OF ADHESIVITY BETWEEN DIFFERENT TYPES OF
ASPHALTIC LIGANTS WITHOUT AND WITH ADDITION OF
HYDRATED LIME
Abstract: The objective of this paper was to analyze the adhesiveness between binder and
aggregate of three different types of asphalt binders, and then to verify the adhesiveness of
the same binders with the addition of hydrated lime. For the study, the adhesions between
aggregate and the AC 50/70 binders, the Inserted Tire Rubber Modified Asphalt Binder and
the Elastomeric Polymer Modified Asphalt Binder were analyzed by the qualitative method
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described in standard DNER 078/94. The results showed that all binders, without the addition
of lime in the mixture, showed unsatisfactory results in light of the reference standard. The
results with the addition of lime were satisfactory. Therefore, it was observed that the
addition of lime acts as a good adhesion improver between aggregate and asphalt binder,
having a lower cost compared to the additives in the market with the same function.
Keywords: Asphalt, Sustainability, Physical Properties.
1. INTRODUÇÃO
O modal rodoviário além de ser o mais utilizado para o transporte pessoal (96% do total)
representa 61% da matriz de transporte de cargas no Brasil, como observado em estudos
da Confederação Nacional de Transporte (CNT, 2018) e do Projeto de Reavaliação de
Estimativas e Metas do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT, 2012), que
mostram a importância deste modal para a logística do país e seu crescimento econômico,
além de representar um papel fundamental no desenvolvimento social, haja vista que outros
modais, como o ferroviário, não possuem tanta força e investimento.
O Brasil possui 1.720.756 km de rodovias, das quais apenas 211.468 km são
pavimentadas, que representa 12,3% da extensão total. No ano de 2016 foi realizado a 20ª
Pesquisa CNT de rodovias, que analisou 103.259 km de rodovias, onde foi constatado que
48,3% dos trechos são classificados como Regular, Ruim ou Péssimo, referente à qualidade
do pavimento, um fato preocupante devido a importância do modal rodoviário para o país
(CNT, 2018).
No Brasil a maioria das rodovias pavimentadas possuem revestimento asfáltico, que
basicamente é composto por ligantes asfálticos e agregados. O revestimento, que também é
conhecido como capa de rolamento ou asfalto, é a primeira camada a partir da superfície,
que torna o pavimento impermeável, e recebe diretamente as ações do tráfego. Além de
garantir segurança e conforto, tem a função de resistir aos esforços horizontais, o que torna
essa camada a mais nobre do pavimento, pela necessidade de haver uma grande
resistência e alta durabilidade (BRONDANI; PINHEIRO, 2010).
Possuir uma adequada infraestrutura com revestimento asfáltico proporciona
benefícios diretos aos seus usuários, como redução dos custos operacionais dos veículos,
melhoria do conforto e segurança, e progresso socioeconômico do país através do
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escoamento da produção agrícola, repercutindo positivamente na qualidade de vida da
população. (HIRSCH, 2007).
Segundo Pinto (2006), os revestimentos asfálticos tem como principais objetivos
suportar as cargas provenientes do trafego, proteger as camadas subjacentes do pavimento,
proporcionar boa condição de rolamento, possuir certo grau de flexibilidade e resistir ao
intemperismo e a ação abrasiva dos pneus dos veículos.
Os três principais tipos de ligantes asfálticos utilizados no Brasil são o CAP 50/70, o
asfalto modificado por polímeros e o asfalto modificado por borracha de pneus inservíveis. O
CAP 50/70 é o Cimento Asfáltico de Petróleo obtido pela destilação do petróleo é um
material adesivo termoplástico, composto betuminoso aglutinante, com propriedades
impermeabilizantes e flexibilidade, apresenta qualidades e consistência próprias para o uso
na construção e manutenção de pavimentos (NOGUEIRA, 2006).
O asfalto modificado por polímeros, é um ligante asfáltico especial produzido a partir
da modificação do cimento asfáltico de petróleo adicionando polímeros elastoméricos
sintéticos, que pode ou não envolver uma reação química. Os polímeros comumente
utilizados são o SBS (copolímero de estireno butadieno), SBR (borracha de butadieno
estireno), e o RET (coluna de etileno com dois copolímeros acoplados). A modificação
resulta em asfaltos que conferem propriedades superiores aos asfaltos convencionais,
principalmente para minimizar os tipos mais frequentes de falha dos pavimentos, como a
deformação permanente e trincamento por fadiga, fato que proporciona maior vida útil aos
revestimentos asfálticos (POLCARO, 2006).
O Asfalto Modificado por Borracha de Pneus Inservíveis ou mais conhecido como
asfalto-borracha, é um asfalto modificado por borracha moída de pneus. Além de ser uma
forma ecológica de dar destino aos pneus inservíveis, o uso de borracha moída de pneus no
asfalto melhora as propriedades e o desempenho do revestimento asfáltico, onde
principalmente aumentam a resistência à deformação e diminuem o aparecimento de trincas
por fadiga do pavimento (ODA; JUNIOR, 2001).
A utilização de diferentes ligantes pode contribuir para uma melhor adesividade
agregado-ligante, diminuindo algumas patologias que podem ocorrem nos pavimentos.
Entre as falhas prematuras no pavimento, o dano por umidade é o mais comum e complexo.
Quando a água se infiltra entre o Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) e o agregado
repetidamente, a película de cimento asfáltico se descasca do agregado, e resulta em
buracos e deformações, os quais diminuem a segurança e o conforto da condução dos
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usuários. E é por esse motivo que utiliza-se aditivos: para melhorar a adesão entre o
cimento asfáltico e o agregado (CHANG; KAIJAN, 2013).
Com o mesmo raciocínio, Hicks et al. (2003) explicam que problemas relacionados a
umidade são ocasionados por uma falha na adesão provocada pelo deslocamento da
camada de cimento asfáltico ou por perda de rigidez na mistura asfáltica.
Pode-se entender o conceito de adesividade dividindo-o em adesão e coesão.
Adesão é a relação entre resistência ao deslocamento da película de ligante da superfície
do agregado, já a coesão, refere-se à resistência do cimento asfáltico + fíler. A perda de
adesão se dá à entrada de água entre o ligante e o agregado, ocasionando o descolamento
da película asfáltica. Já a perda de coesão está ligada a redução rigidez do cimento asfáltico
e a quebras de ligações entre ligante/agregado, que leva a perda de resistência e
integridade da mistura. (FURLAN et al., 2004).
No Brasil, a avaliação da adesividade entre ligante e agregado é verificada, de
maneira geral, apenas por ensaios visuais que avaliam qualitativamente a adesividade
através da imersão de uma porcentagem de agregado recoberto por uma película de ligante
em um recipiente com água, a 40ºC por 72 horas. Em seguida, a avaliação do resultado do
teste qualitativo, realizado de acordo com a norma DNER 078/94, é feita visualmente pelo
laboratorista, que quantifica, aproximadamente, a porcentagem em que a superfície do
agregado ficou descoberta pelo ligante.
Para melhoramento da adesividade entre agregado e ligante, Little et al. (2006) em
seus estudos publicados, verificaram que a adição da cal hidratada em misturas asfálticas,
contribui para uma melhora da adesividade e também a rigidez da mistura, além de diminuir
o trincamento e aumentar a vida útil da mistura asfáltica.
Para Pereira (2012), o aumento da afinidade entre os componentes das misturas
asfálticas pode ser feita pela adição de fíleres ativos como a Cal Hidratada CH-I e cimento
Portland, ou aditivos orgânicos.
Em sua experiência, Bock (2012) relata que melhores resultados de adesividade são
obtidos quando a cal é adicionada sobre o agregado graúdo, devido sua interação e
modificação da superfície do agregado, na qual promove características mais favoráveis
para a adesão do ligante.
Nunez et al. (2007), verificaram que com a incorporação de 1% de cal com altos
teores de cal virgem era o suficiente para aumentar o módulo de resiliência e na resistência
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à tração. Usualmente a cal hidratada CH-I e o cimento Portland são empregados numa
proporção entre 1% a 3% em peso de mistura asfáltica (SINICESP, 2012).
Nesse sentido, segundo Núnez et al. (2007) o uso de fíler ou materiais aglomerantes,
podem ajudar na adesividade do agregado-ligante uma vez que o cal reage com os
agregados, reforçando a ligação entre o ligante e o material pétreo, e também reage com as
partículas polarizadas do asfalto, evitando a formação de sabões solúveis em água,
causando a perda de adesividade. Assim, o objetivo deste trabalho é comparar e analisar a
adesividade de três diferentes tipos de ligantes asfálticos pelo método qualitativo da norma
DNER 078/94, e verificar a influência da adição de cal hidratada nos resultados de
adesividade dos mesmos ligantes.
2. METODOLOGIA
O estudo apresentado neste artigo comparou a adesividade de três diferentes tipos de
ligantes asfálticos, são eles o CAP 50/70, Ligante Asfáltico Modificado por Polímero
Elastomérico e Ligante Asfáltico Modificado por Borracha de Pneus Inservíveis, pelo método
qualitativo através da DNER-ME 078/94. Em um primeiro momento foi analisado apenas o
ligante + agregado, em seguida foi adicionada, em um novo ensaio, a cal hidratada nos
ligantes, para verificação do comportamento quanto à adesividade.
O fluxograma das etapas realizadas no estudo é apresentado na Figura 1.
Figura 1 – Fluxograma da metodologia
Para a realização dos ensaios foram utilizadas peneiras de 19mm e 12,7mm, uma
fonte de calor, estufa para manter a temperatura de 60, 100 e 120 °C, balança de precisão,
espátula de aço inoxidável, recipiente de 500 ml para aquecimento e mistura dos materiais e
béquer com capacidade de 250 ml.
Foram separados para cada ensaio, 500 g de amostra de agregado do tipo granítico
pós tectônico sem eventos de fraturas e tensionamentos, proveniente da região de
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Mandirituba-PR, passante na peneira de 19mm e retida na de 12,7mm (Figura 2a), que foi
lavada (Figura 2b), e imersa por água destilada durante 1 minuto em um recipiente e em
seguida colocada na estufa a 120ºC, onde permaneceu por 2 horas. Os ligantes foram
aquecidos separadamente, o CAP 50/70 foi aquecido a 150°C, o asfalto modificado por
polímeros a 165°C, e o asfalto modificado por pó de pneu foi aquecido a uma temperatura
de 175°C.
Figura 2 – Preparo do agregado (a) Peneiramento do agregado (b) Lavagem do agregado
Logo após o processo de secagem e aquecimento foram utilizados 17,5 g do ligante
e misturado juntamente com o agregado, conforme observado na Figura 3a, depois do
esfriamento, em seguida foi recoberto por água destilada em um frasco de vidro e colocado
na estufa a 40ºC, onde foi mantido em repouso por 72 horas, como visto na Figura 3b. Após
o período em repouso foi realizada a análise qualitativa da adesividade do agregado ao
ligante.
Figura 3 – Preparo do Ligante Asfáltico (a) Processo de mistura com o agregado (b) Aquecimento
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Na segunda etapa foram realizados os mesmos procedimentos anteriormente
descritos com cada tipo de ligante, mas sendo adicionado, na hora da mistura do ligante ao
agregado já aquecidos, 1% de cal hidratada na mistura, em proporção de peso do agregado,
representando 5,0 g. Após, foi realizado a análise qualitativa da adesividade do agregado ao
ligante com adição de cal.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 4 apresenta as imagens dos agregados após a realização do ensaio de
adesividade com o Ligante CAP 50/70. Na Figura 4a observa-se a situação pura (sem
adição de cal) e na Figura 4b com adição de cal.
Figura 4 – CAP 50/70 (a) Sem Cal (b) Com Cal
O ensaio realizado sem cal para o Ligante CAP 50/70 demonstrou que o resultado foi
insatisfatório e o mesmo ensaio realizado com a adição de cal se mostrou satisfatório.
Já a Figura 5 apresenta os resultados do ensaio com o Ligante Asfáltico Modificado
por Borracha de Pneus Inservíveis, sendo a Figura 5b com a adição de cal à mistura.
Figura 5 – Modificado por Borracha de Pneus (a) Sem Cal (b) Com Cal
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Assim como no CAP 50/70, o resultado do ligante modificado por pneus mostrou
resultado insatisfatório quando puro, e satisfatório com adição de cal.
Os resultados do ensaio de adesividade com o Ligante Asfáltico Modificado por
Polímeros Elastoméricos sem adição de cal é apresentado na Figura 6a, enquanto a Figura
6b apresenta o resultado do ensaio com a adição de cal.
Figura 6 – Modificado por Polímero Elastomérico (a) Sem Cal (b) Com Cal
O ligante modificado por polímero, no teste sem adição de cal, apresentou o melhor
recobrimento dentre os três ligantes, mas ainda assim apresentou falhas, sendo
considerado insatisfatório seu resultado. E como nos outros ligantes, a adição de cal, tornou
o resultado do ensaio satisfatório.
O resumo de resultados encontrados neste trabalho estão especificados na Tabela 1.
Tabela 1 – Percentual de áreas descobetas quanto aos ligantes
Ligante Sem adição de cal Com adição de cal
CAP 50/70 Insatisfatório Satisfatório
Modificado por Polímero elastomérico Insatisfatório Satisfatório
Modificado por Borracha de Pneus Insatisfatório Satisfatório
4. CONCLUSÕES
A partir da análise dos resultados observa-se que todos os ligantes analisados no estudo
apresentaram resultados insatisfatórios de adesividade, apenas com a mistura de ligante e
agregado. Com a adição de cal hidratada na mistura asfáltica foi constatado uma melhora
significativa na adesividade de todos os ligantes, resultado que demonstra a viabilidade da
adição de cal como aditivo melhorador da adesividade entre agregado e os ligantes CAP
50/70, Ligante Asfáltico Modificado por Polímero Elastomérico e Ligante Asfáltico Modificado
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por Borracha de Pneus Inservíveis. A utilização da cal hidratada possui um menor custo,
comparado aos aditivos existentes no mercado com a mesma função.
REFERÊNCIAS
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IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE INGREDIENTES
ALIMENTÍCIOS
Manoel João Ramos1 Ricardo Schrattner2
1Engenheiro de Produção Agroindustrial, Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, Doutorando em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca, Especialista em Tecnologia de Alimentos para Agroindústria, Especialista em Engenharia Econômica e Análise de Projetos, Professor da Faculdade de Ensino Superior de Marechal Cândido Rondon (ISEPE/Rondon). Link para o currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8006073821878110. E-mail: [email protected]
2Tecnólogo em Manutenção Industrial, Graduando em Engenharia de Produção, Faculdade de Ensino Superior de Marechal Cândido Rondon – ISEPE/Rondon. Mal. Cândido Rondon-Pr. E-mail: [email protected]
Resumo: O presente estudo tem por objetivo realizar uma análise teórica-empírica sobre a importância dos setores de manutenção industrial para compreender os impactos do planejamento da manutenção sobre a eficiência do planejamento da produção, bem como demonstrar por meio de um estudo de caso o processo de implantação e migração do software de Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) em uma indústria de ingredientes localizada no município de Marechal Cândido Rondon, no oeste do Paraná. Os resultados indicam que o planejamento da manutenção deve ser parte integrante do processo produtivo e pode influenciar diretamente nas prioridades competitivas da empresa, seja de forma negativa ou positiva, portanto, uma especial atenção deve ser dada ao setor de manutenção, que deve ser visto como agente relevante e de grande importância. Palavras chave: Manutenção, PCM, gestão da manutenção, software.
IMPLEMENTATION OF PLANNING AND CONTROL OF MAINTENANCE SYSTEM IN A FOOD INGREDIENTS INDUSTRY
Abstract: The objective of the present study is to conduct a theoretical-empirical analysis on the importance of the industrial maintenance sectors to understand the impacts of maintenance planning on the efficiency of production planning, as well as to demonstrate, through a case study, the implementation process and migration of Maintenance Planning and Control (PCM) software in an ingredients industry located in the municipality of Marechal Cândido Rondon, western Paraná. The results indicate that maintenance planning should be an integral part of the production process and can directly influence the company's
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competitive priorities, either negatively or positively, so a special attention should be given to the maintenance sector, which should be seen as relevant agent and of great importance. Keywords: Maintenance, PCM, maintenance management, software. 1. INTRODUÇÃO
A manutenção industrial surgiu, efetivamente, como função do organismo produtivo
no século XVI diante a aparição dos primeiros teares mecânicos, em uma época que
marcava o abandono da produção artesanal e de um sistema de produção feudal, bem
como o início de um processo de acumulação originária de capitais e a coexistência de
formas diversas e antagônicas de produção (VIANA, 2013).
Neste período, o fabricante do maquinário treinava os novos operários para operar e
manter o equipamento em pleno funcionamento, ocupando assim, o papel de operadores e
mantenedores, pois não havia uma equipe específica de manutenção. Por volta de 1900
surgem as primeiras técnicas de planejamento de serviços, propostas por Taylor e Fayol e,
em seguida, o gráfico de Gantt. No entanto, foi no período da segunda guerra mundial que a
manutenção se firmou como necessidade absoluta, quando houve um fantástico
desenvolvimento de técnicas de organização, planejamento e controle de tomada de
decisão (VIANA, 2013).
Em outros tempos a manutenção era considerada um fardo para as indústrias,
devido, principalmente, aos elevados custos de operação que esta gera. Conforme ressalta
Abraman (2017), a manutenção pode, realmente, ser considerada como uma perda no
processo de produção se for levado em conta que o ideal é manter a disponibilidade
operacional em sua total capacidade, porém, observa-se que na prática, esta disponibilidade
nem sempre ocorre.
Vale salientar que a imagem a respeito do setor de manutenção mudou com o
passar do tempo, deixou de ser um fardo para ter uma função estratégica dentro das
empresas, pois ela está diretamente relacionada com a qualidade dos produtos produzidos
e com a eficiências operacional das fábricas. Entretanto, para que se alcance a qualidade
esperada para os produtos, é necessário que se mude, também, a qualidade dos serviços
prestados pelo setor de manutenção e, um dos instrumentos criados para atingir este
objetivo, é justamente o PCM (VIANA, 2013).
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Neste sentido, justifica-se realizar uma análise teórica-empírica para entender como
os setores de manutenção industrial avaliam a importância e a eficiência dos processos de
gerenciamento das atividades, bem como demonstrar por meio de um estudo de caso o
processo de migração do software de Planejamento e Controle da Manutenção em uma
indústria de ingredientes localizada no município de Marechal Cândido Rondon. Sendo
assim, este estudo pode contribuir para que tomadores de decisão em organizações
industriais possam também compreender este processo e avaliar como ocorre a interação
do sistema de gestão com a estrutura hierárquica, bem como a metodologia de implantação
do software e como isso modificou a gestão do PCM na indústria estudada.
Um dos motivos da implantação de um novo software de gestão da manutenção na
empresa estudada, foi a possibilidade de melhoria na eficácia do PCM, já que o software
anterior apresentava travamentos constantes e falhas operacionais relacionados ao próprio
software. Além disso, o uso de seus recursos era relativamente limitado, pois não era um
software adaptado às necessidades da empresa, especificamente, mas um software que
possuía uma formatação padrão fornecida a todos os clientes usuários.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Estudos realizados por Souza e Santana (2012, p.17) apontam que “os sistemas de
gerenciamento da manutenção em organizações industriais representam uma grande
vantagem competitiva e devem ser considerados como indispensáveis”. Estes sistemas,
geralmente, podem ser responsáveis por processar todas as informações existentes no
ambiente externo e interno e torna-las disponível para utilizar como forma de aprimoramento
das atividades e metas na empresa, bem como, promover melhorias por meio de
procedimentos eficazes na busca da qualidade nos processos.
Por outro lado, a implantação de uma nova tecnologia em uma empresa só
apresentará resultados satisfatórios se existirem pessoas especializadas e treinadas para a
completa utilização de todas as facilidades e benefícios oferecidos (VIANA, 2013).
O departamento de PCM engloba um “conjunto de ações para preparar, programar,
verificar o resultado da execução das tarefas de manutenção contra valores pré-
estabelecidos e adotar medidas de correção de desvios para a consecução dos objetivos e
missão da empresa, usando meios disponíveis” (BRANCO FILHO, 2008, p.5).
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Conforme destaca Cassady e Kutanoglu (2005), tanto o planejamento da produção
quanto o da manutenção, são considerados áreas que devem receber ampla atenção, seja
por parte da indústria de manufatura ou em pesquisas acadêmicas. Embora, na prática,
essas atividades geralmente são realizadas, independentemente, apesar da clara relação
que existe entre elas. As atividades de planejamento da manutenção ocupam-se de um
tempo, que poderia ser utilizado para a produção. Entretanto, atrasar o planejamento da
manutenção pode aumentar a probabilidade de falha na máquina, impactando diretamente
no planejamento da produção (CASSADY e KUTANOGLU, 2005).
Para Maximiano (2000), tem-se por conceito de Planejamento e Controle de
Manutenção (PCM), que este consiste em um conjunto de ações para intensificar a rotina
dos colaboradores, dado ao fato que estes poderão manter a disciplina nas atividades
diárias, por meio da elaboração de um plano de ação que proporcione uma melhoria
contínua na organização e distribuição das atividades de manutenção de forma clara,
sucinta e objetiva, além de possibilitar a utilização de ferramentas da qualidade para a
identificar problemas e desenvolver planos de melhorias. Este mesmo autor destaca que o
processo de planejamento permite elevar o grau de controle sobre o futuro dos sistemas
internos e das relações com o ambiente e, que a organização ao planejar, procura
antecipar-se às mudanças em seus sistemas internos e no ambiente, como forma de
garantir sua sobrevivência e eficácia.
2.1 IMPORTÂNCIA DO PCM
O desenvolvimento de trabalhos na indústria nos dias atuais está ligado
diretamente com o acompanhamento das tecnologias. Junto com a tecnologia, vem o
pensamento de que se deve realizar o máximo de planejamento possível, pois sabe-se que
quanto maior o nível de planejamento, menor será a possibilidade de falha humana.
Segundo argumenta Souza e Santana (2012, p.6) “os benefícios proporcionados às
empresas que se utilizam da ferramenta planejamento são inúmeros. Pode-se destacar as
possibilidades que venham a ser fomentadas para atingir as metas organizacionais.”
Neste aspecto, ao considerar a relevância deste fator, se faz necessário o
entendimento da essencialidade, principalmente em empresas de porte maior, da existência
de um setor de planejamento, ou mais específico, o planejamento da manutenção. Sabe-se
que o planejamento dos serviços mantém uma relação direta com as escalas de
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produtividade de uma empresa, ou seja, se um serviço for planejado da melhor forma
possível, a probabilidade de lucro será maior, pois evitará o desperdício de recursos
materiais e tempo, bem como, pode evitar o excesso ou a falta de mão de obra (VIANA,
2013).
Segundo Braidotti (2016, p.21) “planejar não é obter as soluções perfeitas, mas,
fazer o melhor possível com recursos limitados.” E no caso do PCM, o planejamento é
efetuado com uma análise dos ativos da empresa, manuais de fabricante e documentações,
relacionando, isso tudo, com a realidade do setor de manutenção e da empresa como um
todo, traçando um planejamento de execução de manutenções, com cadastro de
manutenções preventivas, preditivas e inspeções periódicas de ativos.
Na visão de Slack et al. (2002, p. 315) “o plano é uma formalização do que se
pretende que ocorra em determinado momento no futuro”. Assim, o mesmo não garante que
o programado aconteça, pois, no percurso poderá ocorrer diversas variações e, é nesse
ponto, que surge o controle que irá acompanhar as variáveis que poderão surgir no
andamento de um planejamento.
Para alcançar os resultados esperados e as metas estabelecidas em qualquer
planejamento é necessário um método e controle. Este controle é essencial para validar os
resultados esperados na fase de planejamento. Baseado nisso, Souza e Santana (2012,
p.2) afirmam que “o controle é pertinente para a concretização de um planejamento com
eficiência e eficácia.” Uma questão vital para padronizar medidas de PCM consiste em
classificar as manutenções por suas características conforme descrito na tabela 1.
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Tabela 1 - Tipos de manutenção Tipo de manutenção Descrição
Manutenção corretiva
Manutenção realizada após ocorrência de uma falha, que objetiva eliminar o modo de falha do equipamento para proporcioonar o retorno a situações de operação anteriores ou similares a esta;
Manutenção preventiva
Possui periodicidade preescrita, bem como os procedimentos que serão realizados, no intuito de mitigar ocorrências de falha e proporcionar estabilidade de desempenho do equipamento;
Manutenção preditiva
Consiste na aplicação sistemática de técnicas de análise que objetivam reduzir a quantidade de manutenções preventivas de um equipamento. Para tal, meios de supervisão centralizados ou de amostragem são empregados.
Manutenção corretiva não planejada Intervenção para correção da falha após parada do equipamento ou perda de desempenho do mesmo;
Manutenção corretiva planejada
Manutenção realizada após descoberta de iminência de falha, ou da decisão de postergar a correção. Em geral, é fruto de intervenções preventivas, preditivas ou detectivas.
Manutenção detectiva
Ocorre, principalmente em máquinas com sistemas de self test (autoverificação). Kardec & Nascif (2002) a comparam com a manutenção preditiva, porém com maior grau de automatização de inspeções e com objetivo de diagnosticar causas e falhas ocultas.
Fonte: Kardec e Nassif (2007).
Conforme observa Braidotti (2016), o PCM possui diversas funções, entre elas
destaca-se o recebimento de solicitações de serviço emitidas pelos setores clientes, a
revisão e confirmação das prioridades das solicitações, o conhecimento acerca dos
parâmetros do processo industrial, o conhecimento técnico dos procedimentos das
manutenções a serem realizadas, a contribuição do setor para o controle do orçamentário, a
visualização da programação da produção (PCP), validação das solicitações que agregam
valor e reprovação das solicitações que não agregam valor, bem como, visitar a execução
dos serviços sempre que necessário.
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O PCM está incluso na gestão da manutenção como um todo, e suas
responsabilidades tem impacto direto em seu setor. Isto pode ser observado no fluxograma
de programação de manutenção proposto por Braidotti (2016, p.20) conforme ilustrado na
figura 1.
Figura 1 - Fluxograma para planejamento de manutenções
Fonte: Adaptado de Braidotti (2016, p.20).
O fluxo apresentado na figura 1, indica que o PCM deve levar em consideração as
prioridades relacionadas a cada tarefa para a execução de suas operações, dando maior
importância as tarefas de maior criticidade, ou seja, aquelas que possam colocar em risco a
segurança dos trabalhadores, a segurança do processo produtivo e que geram custos
elevados. Em seguida, prioriza-se as tarefas que, potencialmente, afetam a qualidade e por
fim, aquelas com menor grau de criticidade. Esse controle é de grande importância para a
programação, sequenciamento e gestão das atividades. Além disso, leva-se em
consideração a disponibilidade de recursos e a necessidade de paradas no processo
produtivo para a intervenção da manutenção.
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2.2 O PCM E A ERA DA INFORMÁTICA
A pouco mais de uma década, o planeta vem acompanhando um desenvolvimento
tecnológico incrível na área da informática. Junto com este desenvolvimento, as empresas
se vislumbram a necessidade de se manterem atualizadas para não ficar para trás. Segundo
Tait (2000, p.29) “esta situação não poderia ser diferente, a partir do pressuposto que as
empresas não sobrevivem nos dias atuais sem o uso de tecnologia de informação. Neste
contexto, tem-se o uso dos computadores como ferramentas poderosas para auxiliar no
desenvolvimento das tarefas organizacionais e rotineiras, bem como, para o alcance de
vantagens competitivas.”
Tem-se nos dias atuais, inúmeros meios informatizados para servir como auxílio ou
até mesmo como base para o planejamento e gestão de manutenção. O principal, e mais
eficaz deles, é o uso de um software de gestão. Este, pode apresentar maior clareza nos
resultados, de uma forma mais confiável e precisa, no momento de planejar, executar e
demonstrar as atividades de uma equipe de manutenção. É comum que em empresas, nas
quais decidiu-se implantar um software de gerenciamento da manutenção, os dados ou
métodos utilizados no processo de implantação, tenham sido simplesmente imputados de
qualquer forma, não obtendo assim, os resultados na medida do desejável. Portanto, é
necessário que se tenha um bom planejador no momento de realizar a imputação de dados
no programa. O que se pretende destacar é que o PCM deve ser visto como um setor
indispensável para qualquer indústria que deseja ser líder no mercado em que atua. Um
software de manutenção é um programa para ser usado por pessoas treinadas. Do mesmo
modo em que se enxerga a necessidade de aprender a usar uma ferramenta, deve ser visto
a necessidade de aprender a usar um programa de computador que, eventualmente, a
organização venha a adquirir (BRANCO FILHO, 2008).
Um dos pontos cruciais para o PCM é a informação, com o uso de um bom software
de gestão da manutenção a coleta de informações tende a ser mais eficaz e permite sua
consequente gestão. Segundo Braidotti (2016, p.68) “a gestão da base de dados do Sistema
Informatizado de Gestão é a forma de obter o controle sobre a demanda e o fluxo de
serviços de manutenção, através do entendimento da quantidade de notificações criadas no
sistema de gestão pelos solicitantes de serviços, no atendimento as diversas áreas
operacionais e administrativas da empresa.”
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Tendo em vista a essencialidade e importância do PCM para o gerenciamento das
atividades de manutenção industrial, o tópico a seguir apresenta uma caracterização da
empresa objeto de estudo, a qual passou por uma implementação de sistema de gestão.
3. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ESTUDADA
O estudo empírico foi realizado em uma indústria do ramo de ingredientes
alimentícios, cujo foco principal é a secagem de soro de leite e compostos lácteos, como o
leite modificado. A empresa está localizada no município de Marechal Cândido Rondon, no
oeste do Paraná – Brasil, em uma das maiores bacias leiteiras do país. Isto, consiste em um
fator de relevância, pois contribui para o fornecimento eficiente das suas principais matérias
primas. A empresa possui porte médio e atende o mercado nacional e internacional, com
cerca de 130 funcionários diretos.
O setor de produção, expedição, controle de qualidade e utilidades industriais
trabalham em regime de turnos, enquanto os demais setores se dedicam ao horário
comercial. O setor de manutenção, especificamente, atende a todos os demais setores da
empresa, com o compromisso de manter os ativos operacionais em pleno funcionamento, o
que justifica sua necessidade de apresentar desempenho excepcional para viabilizar este
regime de trabalho.
Para tal desempenho se concretizar, houve a necessidade da implantação do
departamento de PCM, subordinado diretamente ao gerente de manutenção, pois este
departamento vem como suporte a equipe operacional, mas também oferece suporte
diretamente ao nível estratégico. Um fluxograma da estrutura organizacional é ilustrado na
figura 2.
Para haver uma boa eficiência do PCM, foi necessário que todos entendessem a
função e a importância deste setor para a empresa como um todo. Para isto, foram criados
esquemas e estruturas organizacionais, em que o PCM é compreendido como o “braço
direito”, ou seja, uma peça fundamental de suporte a gerência de manutenção.
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Figura 2 - Estrutura organizacional departamento de manutenção da empresa estudada
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
O responsável pelo setor de PCM na empresa estudada realiza, primariamente, as
seguintes tarefas: a) gerencia os planos de manutenção dos equipamentos por meio do
planejamento, programação e controle dos serviços da ordem de manutenção; b) coordena
todos os materiais necessários para a manutenção; c) gerencia o cadastro de
equipamentos; d) planeja, programa e controla as rotas de inspeção e trabalhos de
manutenção preventiva e preditiva dos equipamentos, serviços de manutenção para as
paradas de produção programadas e, e) controla os indicadores de desempenho da
manutenção por meio do software de gestão da manutenção.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste trabalho, aplicou-se o método de estudo de caso, o qual se enquadra como
uma abordagem qualitativa, frequentemente utilizado para coleta de dados na área de
estudos organizacionais. Segundo Yin (2001) “o estudo de caso se diferencia de outras
técnicas de pesquisa por oportunizar as informações através de documentos, de entrevistas,
observação e interpretação dos fatos coletados”. Também foi utilizado para a realização
deste estudo, a pesquisa bibliográfica, elaborada a partir da consulta à materiais publicados,
como livros, artigos científicos, teses e dissertações, entre outros.
GERENTE INDUSTRIAL
GERENTE DE MANUTENÇÃO
CORDENADOR DE MANUTENÇÃO
SUPERVISOR DE MANUTENÇÃO
SERVIÇOS TERCEIRIZADOS
TÉCNICOS DE MANUTENÇÃO
AUXILIARES DE MANUTENÇÃO
PINTURA/PREDIAL
PCM
SETOR DE ENGENHARIA
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Visando uma maior credibilidade no desenvolvimento do estudo de caso, foi
solicitada a participação constante das gerências, equipe de manutenção e demais
colaboradores da empresa estudada, os quais contribuíram para a avaliação e mensuração
acerca das mudanças e do processo de implantação do PCM. Para tanto, utilizou-se de
questionários, observações realizadas diretamente no processo produtivo e documentos de
controle executados pela empresa, além da experiência, óptica e interpretação pessoal por
parte do pesquisador, seguindo uma abordagem de cunho qualitativo, já que um dos
objetivos consiste em demonstrar, empiricamente, o processo de implantação de um
sistema de gestão de manutenção.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base no processo de observação inicial do estudo, identificou-se que a
empresa, em 2001, quando a equipe e a demanda por manutenção eram, demasiadamente
menor, todo o controle e gerenciamento de manutenção, ocorria por meio da utilização de
blocos de requisição, preenchidos manualmente, denominados por Ordens de Serviço (OS).
Alguns anos depois, as tarefas já eram controladas por computador, utilizando-se de
planilhas eletrônicas no formato Excel®. Isso, gerava uma grande demanda de tempo para
registrar os valores e as atividades executadas e, ainda, apresentava uma predisposição
maior ao erro em registros, pois, a possibilidade de perda de histórico, também era maior.
A necessidade de investimentos em planejamento da manutenção foi determinística
para um bom planejamento da produção, pois conforme ressalta Nikolopoulos et al. (2003),
na última década, muitas empresas fizeram grandes investimentos no desenvolvimento e
implementação de sistemas de planejamento de recursos empresariais (ERP), entretanto,
apenas alguns desses sistemas desenvolvidos ou instalados, realmente, consideraram
estratégias de manutenção.
Neste contexto, diante ao progressivo crescimento da empresa estudada, a mesma
constatou a necessidade de implantar um software de gestão da manutenção (figura 3) e,
isso ocorreu em 2004. Desde então, os controles em relação ao cadastramento de
funcionários ligados a manutenção, ordens de serviço corretivas e/ou preventivas e histórico
de equipamentos vinham sendo efetuadas de forma semi-informatizada, ou seja, os
registros eram feitos manualmente e, posteriormente, digitalizados para o software.
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Figura 2 - Logo do software SIGMA
Fonte: SIGMA (2014).
Devido ao fato de a empresa considerar que os custos com o sistema SIGMA eram
relativamente altos, ela acabou por optar por uma versão gratuita. Destaca-se também, que
as funcionalidades desta nova versão, não se aplicavam em sua totalidade para a realidade
da empresa e, como resultado disto, o PCM tinha sua eficiência e eficácia reduzidas em
razão da incompletude do sistema. Desta forma, estrategicamente, vislumbrou-se a
necessidade de implantação de um novo sistema de manutenção, mais robusto e adequado
à realidade do setor à época, proporcionando maiores funcionalidades e custos condizentes.
Ao final, em 2012, após vários orçamentos e reuniões, decidiu-se, a nível gerencial, um
novo sistema de planejamento e controle de manutenção (software), quando ocorreu a
migração do software SIGMA para o software SGM WIN SQL. Este último foi,
especialmente, personalizado para a empresa objeto de estudo. Isso proporcionou o uso
mais adequado de suas funções, sendo desenvolvidas funcionalidades específicas para o
setor de manutenção, em atendimento às suas necessidades.
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Figura 4 – Tela de login do software SWM WIN SQL
Fonte: PCM, empresa analisada (2017).
Anterior a implantação do sistema e, voltados a gestão contábil e fiscal, toda a
empresa foi dividida em centros de custo. Esta metodologia também foi aplicada no primeiro
sistema, para que os gastos fossem anexados ao seu destino correto, possibilitando um
controle maior sobre a origem dos “problemas” e para onde está sendo direcionado o
dinheiro gasto com manutenção.
Todos os funcionários efetivados para a equipe de manutenção foram cadastrados
no software, constituindo o quadro de prestadores de serviço. Ainda, nesta mesma estrutura
organizacional, cadastrou-se os funcionários e/ou empresas terceirizadas, para constar
posteriormente, como custos de manutenção e também como registro das atividades
executadas. Além disso, os equipamentos foram cadastrados, levando em consideração os
centros de custo. Cada centro de custo, ou setor, foi designado com uma ou duas letras
correspondentes. Isso facilitou para todos os envolvidos, no momento de solicitar, receber,
executar e finalizar a O.S.
O software continha dois módulos, o módulo de gerenciamento e o módulo de
cliente, ou solicitante. O primeiro, com a capacidade de exercer todas as funções do
programa em modo full (completo). O segundo, é destinado ao setor operacional e aos
responsáveis dos demais setores, servindo para realizar as solicitações de serviço.
Mediante as melhorias implementadas, foi possível agilizar e formalizar o processo
de planejamento, ou seja, todas as solicitações passaram a gerar um registro e, havendo
registros, as informações poderiam ser utilizadas como base de dados históricos,
planejamentos futuros, análises estatísticas e demais ações julgadas necessárias.
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O software atual possui recursos para cadastramento de manutenção preventiva e
preventiva de lubrificação. Neste quesito é possível programar a periodicidade e a data para
execução dos serviços periódicos, bem como os materiais que serão utilizados no trabalho.
A consolidação do PCM no setor de manutenção da empresa estudada, começou
mediante a realização de um treinamento sobre a importância do PCM. Neste evento,
realizado na cidade de Maringá, em uma conferência da Apeck Consultores Associados, foi
abordado temas relacionados ao PCM na indústria. Posteriormente, têm-se na empresa
estudada, a aplicação dos conhecimentos adquiridos no treinamento, como planilhas padrão
para realizar check-list e coleta de dados dos equipamentos, como criar relatórios de plantão
da manutenção, com tempo de parada de produção, atendimento e a melhor forma de
interagir com o setor de produção, criando uma interface com o sistema de geração das
ordens de serviço. Também, foram estabelecidas prioridades para os equipamentos, ou
seja, cada equipamento foi classificado como primário ou secundário. Foram elencados
como equipamentos primários aqueles de importância mais elevada para a produção, sendo
considerado que, caso estes tiverem seu rendimento afetado, poderão consequentemente,
afetar diretamente o rendimento de toda a planta e, normalmente, são equipamentos de
valor mais elevado. Já os equipamentos secundários, foram definidos como aqueles não
menos importantes, mas que uma intervenção neles afetam a produção de maneira menos
significativa.
Com a utilização deste conceito houve a possibilidade de definir muitas frentes de
trabalho para a manutenção, como as rotas de inspeção (equipamentos inspecionados no
check-list) e prioridades de trabalho. Assim, facilitou o planejamento para a execução de
serviços de maior importância para a indústria em primeiro plano, o que acabou por resultar
em um atendimento mais satisfatório para os setores atendidos.
Além da implantação destes conceitos, outros conhecimentos adquiridos ao longo da
carreira profissional e contato obtido com profissionais da área de PCM foram utilizados no
dia-dia do departamento e na implantação do novo software, a exemplo da atribuição de
manutenção preventiva em determinados equipamentos e outros não. De forma geral, os
primeiros itens cadastrados são os ativos, sendo estes divididos em setores e também por
tipo/família de ativo. Após finalizar o cadastro de ativos e o cadastro de funcionários da
equipe de manutenção e equipes terceirizadas, realiza-se o cadastro de manutenções
preventivas, sem levar em consideração os procedimentos padrão para manutenção, que
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serão gerados em um momento posterior. Ademais, realizou-se o cadastramento de ficha
técnica de equipamentos primários, pois a quantidade de ativos secundários é elevada.
Os equipamentos foram identificados in loco com um TAG (Código de Identificação).
Este TAG é alfanumérico devido a facilidade de trabalho e também pela necessidade de
identificar vários equipamentos, em que este tipo de identificação possibilita uma extensão
maior de equipamentos identificados.
Abaixo, é descrito um modelo de alteração realizada no TAG dos ativos, onde ambos
são alfanuméricos, sendo que na primeira situação (exemplo 1) ilustra como o TAG era
gerado de 2004 a 2012, e a segunda (exemplo 2) é mais intuitiva e simples, se tratando da
metodologia utilizada de 2012 em diante pelo PCM. O exemplo abaixo se trata de um
equipamento primário (Atomizador).
Exemplo 1: A.AT-D01 Em que: A: Inicial da empresa, supondo que em um momento futuro abra uma outra filial, esta teria outra sigla. AT: Sigla do tipo de ativo (Atomizador). D: Código do setor/centro de custo (Secador T1500). 01: Sequencial de identificação do equipamento (Atomizador n° 1). Exemplo 2: ATM001 ATM: Sigla do tipo de ativo (Atomizador) 001: Sequencial de identificação do equipamento (Atomizador n° 1).
Tendo em vista que a consolidação do departamento de PCM proporcionou maior
disponibilidade de dados e que estes dados são obtidos nas ordens de serviço e também via
check-list dos ativos, considera-se que esta consolidação proporcionou uma melhoria no
departamento ao que se refere à disponibilidade de históricos.
Foi implantado uma planilha de check-list parcial para os equipamentos de
importância primária, de acordo com a criticidade avaliada pela equipe da manutenção, ou
seja, nem todos os equipamentos primários tiveram um cadastro, simplificando as ações da
equipe de manutenção. Assim, como alguns equipamentos ou conjunto de equipamentos
secundários tem na atualidade sua tabela de verificação, a cada momento é avaliada a
necessidade de implantação ou retirada de cadastros de check-list dos demais
equipamentos, tudo funciona de acordo com a necessidade de melhoria para a manutenção,
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buscando o aumento da confiabilidade e o monitoramento dos equipamentos. Esta
verificação funciona da seguinte forma: não é gerada nenhuma Ordem de Serviço
preventiva, mas, ao final de cada mês o setor de PCM gera a impressão de todas as tabelas
de check-list para o mês seguinte, lembrando que estas tabelas estão em arquivos .XLS
(Microsoft Office Excel®). Elas são repassadas ao responsável pelo trabalho no primeiro dia
útil do mês e as tabelas do mês anterior são devolvidas ao setor de PCM para seu registro
eletrônico, que ficará arquivado na rede da empresa. Desta forma é possível obter um
histórico dos equipamentos e quando um destes estiver apresentando uma não
conformidade, logo no ato da verificação serão anotadas as mesmas e em um momento
posterior e, se necessário, realiza-se a emissão de uma O.S (Ordem de Serviço) pelo
próprio executante da verificação.
Um exemplo prático disso, foi apontado em um momento crítico para a produção, em
que o equipamento denominado “atomizador”, que é considerado o de mais alta prioridade
para a planta de secagem de soro de leite, estava com sua correia a ponto de romper e, no
momento da verificação, a ocorrência foi constatada e o fato foi comunicado ao setor da
produção, bem como, aos responsáveis pela manutenção. A planta teve seu status alterado
e iniciou-se a chamada limpeza a seco, em que não é adicionado produto no processo e é
feito uma limpeza por exaustão em todas as tubulações e câmara de secagem. Assim, não
houve desperdício de produto e as tubulações não ficaram entupidas com pó petrificado por
umidade. Após este processo, a manutenção procedeu com a intervenção necessária
efetuando uma simples troca de correia e o equipamento não foi danificado por um possível
desbalanceamento de eixo em razão de um possível acúmulo de produto.
Os ativos foram divididos em famílias e setores, desta forma além de facilitar a
localização geográfica dos mesmos, tanto pelo pessoal da manutenção como da produção,
facilitou a divisão por centros de custo e a separação dos gastos de cada um. Evidente que
não se pode prever os gastos com manutenção corretiva, porém é possível que se tenha
uma previsão de gastos com manutenção preventiva. Esse item é de fundamental
importância para ampliar a confiabilidade na equipe de manutenção, bem como para a
gerência de departamento.
Estudos realizados por Pinjala et al. (2006), indicam que empresas de alto padrão de
qualidade possuem bom planejamento e políticas de manutenção mais pró-ativas, assim
como, melhores sistemas de planejamento e controle, estruturas descentralizadas de
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organização de manutenção quando comparadas com outras. Para estas mesmas autoras,
estas empresas gerenciam a manutenção mais efetivamente quando comparadas a outras.
Na empresa do estudo de caso, com o PCM fazendo uso de um software de gestão
da manutenção, tornou-se possível o estabelecimento de um controle sobre o histórico de
horas trabalhadas pela equipe de manutenção, bem como proporcionar um feedback dos
acontecimentos, dos serviços prestados e dos detalhes das manutenções e/ou intervenções
realizadas. Como acontece na prática, é comum o setor gerencial ou até mesmo a diretoria
solicitar relatórios ou demonstrativos para dimensionamento da equipe de manutenção ou
mesmo acompanhamento e uso como nos indicadores do próprio setor.
Conforme avalia Pinjala et al (2006), geralmente, as empresas de manufatura optam
por competir no mercado com base em algumas prioridades competitivas, como custo,
qualidade, flexibilidade entre outras prioridades, a depender das suas capacidades de
fabricação. Entretanto, a manutenção de equipamentos que faz parte integrante da
fabricação pode influenciar diretamente essas prioridades competitivas e, portanto, a
estratégia de negócios da empresa, seja de forma negativa ou positiva. Ou seja, a atenção
que deve ser dada ao setor de manutenção é relevantemente de grande importância.
6. CONCLUSÃO
O propósito desse estudo de caso foi descrever o processo de implantação do
planejamento e controle da manutenção, em uma indústria alimentícia, e ao mesmo tempo,
ressaltar a importância desse setor para a empresa como parte integrante ao alcance das
metas de qualidade e produtividade. Em decorrência do estudo, observou-se o PCM está se
tornando cada vez mais essencial nas indústrias e que a equipe de manutenção moderna
precisa ser vista, não mais, como um mero setor de nível tático, mas sim num nível mais
estratégico. Por isso, observa-se uma necessidade crescente de se estudar a relação entre
as estratégias de negócios empresariais e as atividades de manutenção.
REFERÊNCIAS
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PROPOSTA PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PLANO DE
MANUTENÇÃO AUTÔNOMA EM UM LABORATÓRIO DE MÁQUINAS
OPERATRIZES - UM ESTUDO DE CASO
Cleiton de Quadros (Graduado em Tecnologia em Fabricação Mecânica, Campus Jaraguá do Sul-Rau / IFSC); [email protected]
Cassiano Rodrigues Moura (Professor Me. Eng. Departamento de Mecânica do Campus Jaraguá do Sul-Rau / IFSC); [email protected]
Giovani Conrado Carlini (Professor Me. Eng. Departamento de Mecânica do Campus Jaraguá do Sul-Rau / IFSC); [email protected]
Resumo: Este trabalho tem como objetivo principal desenvolver um plano geral de
manutenção em um laboratório de maquinas operatrizes em uma instituição de ensino, com
a finalidade de melhorar a conservação dos equipamentos de forma a aumentar sua vida
útil, e em paralelo facilitar a realização das aulas, melhorando a disposição dos recursos,
práticas de limpeza e englobando os alunos e técnicos nas atividades diárias. A metodologia
utilizada para o desenvolvimento foi uma pesquisa cientifica de natureza aplicada, deste
modo foi possível analisar informações especificas sobre o tema, abrindo oportunidade para
melhorias no ambiente estudado. Pode-se constatar que o desenvolvimento deste trabalho
pode contribuir para a execução das atividades em laboratório bem como para englobar os
alunos em outras áreas do conhecimento, como manutenção e lubrificação. Outro resultado
importante foi o estudo dos equipamentos que resultou no plano de lubrificação, que
anteriormente não era realizada por falta de uma metodologia específica. Por fim, estudos
futuros podem contribuir com o aperfeiçoamento e complementação dos resultados deste
trabalho, que dentre outras ações podem englobar os demais equipamentos.
Palavras-chave: Manutenção autônoma. Lubrificação. TPM. Máquinas operatrizes.
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PROPOSAL FOR THE IMPLEMENTATION OF AN AUTOMATIC
MAINTENANCE PLAN IN A LABORATORY MACHINE LABORATORY
- A CASE STUDY
Abstract: The main objective of this work is to develop a general plan of maintenance in a
laboratory of operative machines in an educational institution, with the purpose of improving
the conservation of the equipment in order to increase its useful life, and in parallel to
facilitate the accomplishment of the classes, improving the availability of resources, cleaning
practices and engaging students in daily activities. The methodology used for the
development was a scientific research of an applied nature, in this way it was possible to
study specific information about the subject, opening opportunity for improvements in the
studied environment. It can be verified that the development of this work can contribute to the
execution of the activities in the laboratory as well as to include students in other areas of
knowledge, such as maintenance and lubrication. Another important result was the study of
the equipment that resulted in the lubrication plan, which was previously not performed due
to a lack of methodology. Finally, future studies may contribute to the improvement and
complementation of the results of this work, which among other actions may include other
equipment.
Keywords: Autonomous maintenance. Lubrication. TPM. Machine tools.
1. INTRODUÇÃO
Com o crescimento competitivo, e as crescentes exigências por produtos de alta qualidade
ao menor custo possível, alinhado com a entrega no prazo, exige-se uma alta performance
da planta industrial e dos equipamentos, sendo que, a eficiência de um processo está
diretamente ligada à qualidade de operação, manutenção e reparo. A manutenção tem
impacto direto na qualidade e produtividade, portanto, deve estar envolvida nas estratégias
das organizações e deve acompanhar o desenvolvimento das novas tecnologias. A escolha
das atividades de manutenção adequadas é ponto crucial para atingir excelência nos
processos e alcançar bons resultados.
A manutenção tem impacto direto na qualidade e produtividade, portanto deve estar
envolvida nas estratégias das organizações e deve acompanhar o desenvolvimento das
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novas tecnologias. A escolha das atividades de manutenção adequadas é ponto crucial para
atingir excelência nos processos e alcançar bons resultados.
É sabido que o custo por paradas inesperadas é alto, considerando os custos com
mão de obra e compra de peças de reposição, contudo, as falhas podem ser previstas e
evitadas se forem seguidos alguns métodos de manutenção e análise dos equipamentos,
desta forma a escolha das atividades de manutenção adequada é fundamental para gerar
economia e potencializar os resultados. Existem vários modelos de programas de gestão
para gerir este monitoramento dentre eles se destaca o “Total Productive Maintenance”
(TPM), ou traduzindo para o português, Manutenção Produtiva Total.
Diante da necessidade atual das instituições estarem cada vez mais buscando
formas de diminuir as perdas e manter a qualidade, a manutenção tem grande
responsabilidade no que diz respeito à conservação dos equipamentos. Dentre outros
problemas, a falta de um programa de manutenção ou a má escolha do método de
manutenção aplicado pode influenciar em perdas e paradas não previstas dos
equipamentos, além de acelerar a deterioração dos mesmos.
Esse trabalho teve como motivação principal a inexistência de uma sistemática de
manutenção nos equipamentos do laboratório de maquinas em uma instituição de ensino,
por mais que seja um ambiente voltado ao aprendizado, se faz necessário manter em
perfeitas condições todo maquinário para que atenda os alunos dos cursos de
aprendizagem, técnicos e superiores.
Com isso neste trabalho busca-se realizar um estudo das técnicas de manutenção
para definir qual a mais indicada para aplicação em um laboratório de maquinas operatrizes,
para tal será realizado uma pesquisa sobre os conceitos de manutenção, compilando as
técnicas que poderão ser aplicadas no ambiente de estudo.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Gestão da manutenção
De acordo com a NBR-5462 ABNT (1994) a manutenção pode ser vista como a combinação
de todas as ações necessárias para manter ou restabelecer um produto ou sistema ao
estado no qual ele pode executar a função requerida. A importância da manutenção e a
definição clara e consciente de seu modelo nem sempre são pré-estabelecidas e
consideradas na análise das estratégias das organizações (MARCORIN & LIMA, 2003).
Conforme descrito por Ramos (2012), atualmente, devido a uma série de inovações
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tecnológicas ao longo dos últimos anos, surgiram novos modelos de gestão da manutenção
industrial, dentre eles pode-se destacar:
- TPM – Manutenção Produtiva Total;
- RCM – Manutenção Centrada na Fiabilidade;
- CBM – Manutenção Assistida por Computador;
- PBS – Rendimento Baseado nas Especificações;
- RBI – Inspeção Baseada no Risco.
Todos esses modelos citados buscam orientar as empresas quanto as melhores
práticas para atingir seus resultados. No âmbito deste trabalho será abordado com ênfase a
TPM, programa que se destacou nos últimos anos sendo adotado como pratica por
empresas do mundo inteiro como ferramenta na busca por redução de custos, redução de
quebras de equipamentos e melhora nos índices de qualidade. Esta metodologia abrange o
conceito de manutenção preventiva na forma mais ampla, baseada na viabilidade
econômica de reparos ou aquisições de equipamentos que são responsáveis pelo processo
de produção (TAKAHASHI; OSADA, 1993)
A sigla TPM é formada pelas iniciais da expressão inglesa “Total Productive
Maintenance”. De acordo com Nakajima (1989), a TPM está sustentada por oito pilares
conforme pode-se observar na figura 1, onde salientam-se as principais questões
trabalhadas dentro desta metodologia. Na base dos pilares estão as pessoas, onde se
mostra que todos devem participar dos processos de melhoria, e o programa 5s que é de
fundamental importância para iniciar qualquer processo de mudança nas organizações
(XENOS, 2004).
Dentre os principais pilares do TPM está a manutenção autônoma, tendo como
principal objetivo tornar os operadores mais autônomos na execução de suas tarefas,
realizando simples manutenções em seus equipamentos como inspeções, lubrificações e
limpezas, instiga-se o senso crítico dos operadores para a percepção de anomalias e
mudanças nas condições ideais de funcionamento dos equipamentos, como ruído e
vibrações etc. Essas ações têm como objetivo a conservação e aumento da vida útil dos
equipamentos e está diretamente ligada a qualidade dos produtos. Para Xenos (2004), a
manutenção autônoma é uma estratégia simples e pratica que permite identificar as
anomalias logo no início e desta forma auxiliar a manutenção a realizar correções antes da
ocorrência das falhas.
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A implantação da manutenção autônoma pode ocorrer de forma diferente para cada
situação ou ambiente em estudo, porém é importante que se conheça ou que seja realizado
um estudo inicial sobre o tema. Segundo Ribeiro (2010), o pilar Manutenção Autônoma é
dividido em sete etapas como descrito na Tabela 1.
Tabela 1 – Etapas da manutenção autônoma
Etapas Atividades Objetivo 1º etapa Limpeza inicial Inspeção inicial e identificação dos problemas;
2º etapa Eliminar as fontes de sujeira e locais de difícil acesso
Melhorar acesso ao equipamento para facilitar a manutenção e identificação de problemas;
3º etapa Elaborar padrões de limpeza e lubrificação Manter o local em condições ideais de funcionamento;
4º etapa Inspeção geral Realizar treinamento sobre os padrões elaborados, envolvimento nas atividades;
5º etapa Inspeção autônoma Elaborar checklists definitivos para os equipamentos;
6º etapa Organização e ordem Aplicação do 5S como forma de auxílio na melhoria das atividades;
7º etapa Consolidação da manutenção autônoma
Verificar periodicamente se as atividades e práticas estão sendo executadas.
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010)
2.2 Aplicação da manutenção autônoma nas organizações
Como referência e base para estudo, buscou-se estudar alguns casos onde foi utilizada ou
implementada técnicas de manutenção autônoma, bem como os resultados obtidos de
forma a nortear o desenvolvimento deste estudo de caso.
A manutenção autônoma foi aplicada em uma empresa do ramo de auto pecas
situada na Região do Vale do Paraíba-SP por Vanzella (2006), em função da implantação
da MA, notou-se uma mudança no o comportamento dos operadores, o que acarretou em
resultados positivos para a empresa, como melhora no desempenho da produtividade e
redução das paradas por falhas nos equipamentos. A adoção da ferramenta, não só motivou
os colaboradores, mas também manteve as condições operacionais dos equipamentos em
níveis mais elevados, desta forma pode-se observar uma melhora significativa do produto
final.
Um estudo relacionado a implementação da manutenção autônoma em uma
indústria gráfica, foi realizado por Lima (2009), A implantação do programa de Manutenção
Autônoma buscou atacar as causas das não conformidades através da capacitação dos
funcionários para desempenharem tarefas de regulagens, inspeção e manutenção das
máquinas, além de desenvolver procedimentos padronizados que evitem desvios de
qualidade, e facilitem o acompanhamento dos resultados.
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B. Gajdzik (2014), em seu estudo sobre a empresa metalúrgica ArcelorMittal Poland,
descreve a importância da MA dentro da metodologia World Class Manufacturing (WCM),
traduzindo como, Manufatura de Classe Mundial, de forma a aumentar a eficiência das
linhas de produção através da pratica de atividades realizadas pelos operadores de cada
centro de trabalho, além disso, e uma ferramenta de auxílio a manutenção profissional,
muito importante para a obtenção de bons resultados no que diz respeito a diminuição das
falhas e melhoria na qualidade dos processo se produtos.
Lottermann (2014) realizou um estudo sobre os equipamentos de usinagem do
laboratório de estudos da Faculdade Horizontina, de forma a apresentar um plano de
manutenção compatível com as circunstâncias encontradas. Desta forma fez uso da
manutenção preventiva, que foi apoiada em alguns dos pilares da Casa da TPM, sendo o
mais importante o pilar da manutenção autônoma como método de auxílio para diminuir as
taxas de falhas e aumentar a confiabilidade dos equipamentos, através do envolvimento dos
técnicos, professores e alunos.
Em outro caso, Biehl e Sellitto (2015) também fizeram uso da MA na empresa Alfa,
que é uma das três maiores fabricantes de armamentos do mundo. Os principais resultados
alcançados foram o aumento em mais de 700% no TMEF – Tempo Médio Entre Falhas, a
redução de mais de 40% no TMPR – Tempo Médio Para Reparo, além do aumento de mais
de cinco pontos percentuais na disponibilidade das três máquinas alvo do estudo e a
redução de quase 60% no custo de materiais de manutenção. Pode-se concluir que
manutenção autônoma, pode aumentar a eficiência da manutenção e consequentemente
pode aumentar a capacidade de competição da manufatura de uma empresa industrial.
Nunes e Sellitto (2016) descrevem a aplicação da manutenção autônoma em uma
área piloto de uma empresa do ramo metal mecânica, fabricante de implementos agrícolas.
Como resultado obteve-se aumento do TMEF e a redução do TMPR, desta forma
aumentaram a disponibilidade dos equipamentos da célula-piloto e reduziram os custos de
manutenção significativamente, dado que diminuiu a compra de peças em regime de
urgência e o número de quebras. A MA reduziu a quantidade de falhas crônicas nos
equipamentos, que passaram a apresentar maior estabilidade o que refletiu na qualidade
dos produtos acabados e redução de retrabalho, desta forma pode-se reduzir os estoques
de produtos acabados. A Tabela 2 apresenta uma compilação dos autores que
desenvolveram o tema Manutenção autônoma bem como os objetivos alcançados com a
implantação.
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Tabela 2 – Tabela que mostra parâmetros e resultados de uma função qualquer. Autores Objetivos alcançados
Vanzela (2006) Lima (2009) B. Gajdzik (2014)
Melhoria na qualidade dos produtos; Maior envolvimento dos operadores; Redução das paradas por falhas nos equipamentos;
Lottermann (2014) Biehl e Sellitto (2015) Nunes e Sellitto (2016)
Aumento do tempo médio entre falhas (TMEF) dos equipamentos;
Aumento da disponibilidade dos equipamentos; Diminuição das paradas por falhas nos equipamentos;
Molenda (2016) Avalia a eficácia da implementação da manutenção
autônoma como ferramenta para auto-perfeiçoamento de processos industriais
Morales Méndez (2017) Promoveu a implantação do TPM, bem como a prática de
manutenção autônoma reduzindo acentuadamente as perdas no setor produtivo
Sukanta (2018) Utilizou conceitos de manutenção autônoma para problemas de paradas em linha de produção
3. METODOLOGIA
Para realização deste trabalho foi utilizada uma pesquisa cientifica de natureza aplicada,
deste modo foi possível estudar informações especificas sobre o tema, abrindo oportunidade
para melhorias. O procedimento adotado foi o experimental, que aborda as relações entre
as causas e efeitos de uma aplicação em especifico, de forma a criar uma situação de
controle ou domínio do assunto em estudo. Conforme Cervo, Bervian e Silva (2010), a
pesquisa experimental procura entender como e por que acontece determinado fenômeno,
nesta o pesquisador deve fazer uso de procedimentos e instrumentos capazes de mostrar
as relações entre todas as variáveis envolvidas durante o desenvolvimento do trabalho.
Este trabalho foi desenvolvido no laboratório de maquinas operatrizes de uma escola
de ensino tecnológico. A análise dos equipamentos foi realizada com a intenção de
identificar seu estado de conservação, o histórico de manutenção, bem como quais os tipos
dos equipamentos e suas complexidades.
A Figura 1 apresenta o fluxo do procedimento metodológico adotado no
desenvolvimento da pesquisa. Na etapa inicial de avalição da situação atual foi realizada
uma inspeção visual com base nos conceitos da metodologia 5S, essas atividades foram
executadas com o auxílio dos usuários e técnicos que trabalham no local. Na sequência foi
realizado um levantamento de dados levando em consideração os períodos letivos de 2016
a 2018, bem como suas respectivas cargas horarias de utilização e a quantidade de alunos
por turma, com o intuito de quantificar o público que desenvolve atividades no respectivo
laboratório. Com isso pode-se iniciar o desenvolvimento das melhorias, onde foram
aplicados os conceitos da manutenção autônoma gerando o plano de lubrificação, definido
padrões e periodicidade para as atividades, bem como os check list de verificação.
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Figura 1 – Fluxo do procedimento metodológico aplicado.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Apresentação do local de trabalho
O laboratório de máquinas operatrizes em estudo tem como objetivo proporcionar aos
alunos dos cursos técnicos e tecnológicos, o contato prático aos processos de
transformação de matéria prima através da retirada de material, denominados processos de
usinagem. Após estudarem a teoria em sala de aulas, os alunos iniciam as atividades
práticas no laboratório e tem a oportunidade de aprender a operar ou auxiliar na operação
de equipamentos como tornos, fresadoras, retificas plana, retificas cilíndricas, equipamentos
de eletroerosão afio e eletroerosão por penetração. O layout do laboratório de estudo pode
ser observado na Figura 2, onde nota-se a distribuição dos equipamentos e a forma como
estão agrupados e ordenados por tipo. Podem-se observar na distribuição dos
equipamentos, os tornos convencionais, as fresadoras ferramenteiras, as retificas, que são
três modelos, plana, cilíndrica e universal, e os equipamentos de eletroerosão de dois
modelos, eletroerosão a fio e eletroerosão por penetração.
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Figura 2 – Layout do laboratório de maquinas operatrizes
Conforme se pode analisar no gráfico de Pareto da Figura 3, os tornos convencionais
e fresadoras ferramenteiras representam 67% da quantidade de equipamentos do
laboratório, mostrando dessa forma a relevância de serem escolhidos como alvo do estudo.
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Figura 3 - Quantificação dos equipamentos
Na Figura 4 são apresentadas algumas máquinas operatrizes, as que se apresentam
com maior representatividade no local. Pode-se observar o torno convencional da marca
Nardini modelo Mascote MS 175 (Figura 4 a) e a fresadora ferramenteira Diplomat 3001, ver
Figura 4 (b), estes foram os principais equipamentos em estudo neste trabalho.
Figura 4 - Máquinas operatrizes (a) Torno convencional e (b) Fresadora ferramenteira
� (a) (b)
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Os métodos de limpeza aplicados no local e equipamentos não seguem padrões ou
periodicidade, observou-se muitas possibilidades de melhoria no que diz respeito a limpeza,
descarte de resíduos e armazenagem dos materiais.
A Tabela 3 apresenta um diagnóstico da situação atual de limpeza e conservação,
onde pode-se observar a descrição da problemática, as sugestões para as oportunidades de
melhoria identificadas.
Tabela 3 - Diagnóstico dos métodos de limpeza e conservação
Problemática Imagem - Local Sugestões de melhoria
Caçambas de resíduos na área externa não possuem identificação, os resíduos de usinagem como aço e alumínio são por vezes descartados juntos;
Identificar as caçambas conforme o material a ser descartado;
Local de armazenagem dos lubrificantes extremamente desorganizado e os recipientes com óleo não possuem identificação;
Aplicar o 5S no local, separar os lubrificantes dos demais materiais e identificar os recipientes;
Tambores de resíduos área interna não possuem identificação e cores padrão o que acaba confundindo os alunos no momento do descarte de resíduos;
Identificar os tambores por cores conforme caçambas de descarte da área externa e identificar;
Materiais utilizados durante as aulas não possuem identificação.
Identificar os materiais e local de armazenagem.
Foram constatados falta de identificação nos tambores de descarte de resíduos de
usinagem da área externa e também na área interna do laboratório, dificultando o descarte
correto e gerando dúvida nos alunos. Os produtos para utilização durante as aulas, como
almotolias, pinceis, álcool para refrigeração na usinagem de alumínio e fluidos de corte,
estão organizados em caixas de alumínio, porém não a identificação na caixa ou no armário
onde estes são guardados. A situação mais crítica diz respeito ao local de armazenagem de
lubrificantes, onde os tambores e galões se encontram em uma sala junto aos demais
materiais de forma desorganizada e sem identificação, o que torna difícil o manuseio e a
utilização correta.
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4.2 Rotina de utilização
Para compreender melhor a frequência de uso e a forma de utilização dos equipamentos,
foram levantadas algumas informações referentes às turmas e períodos letivos anteriores,
conforme mostrado na Tabela 4, à pesquisa teve como base seis períodos letivos, entre o
primeiro semestre de 2016 até o segundo semestre de 2018. Para o número de alunos do
curso técnico em mecânica foram considerados o somatório dos alunos das fases 2ª, 3ª e
4ª, respectivamente do mesmo período letivo, sendo que estes fazem uso do laboratório.
Tabela 4 - Quantidade de alunos por período letivo
Curso 2016/1 2016/2 2017/1 2017/2 2018/1 2018/2
Técnico mecânico (vesp) 54 46 51 38 46 50
Técnico mecânica (not) 48 43 47 41 52 57
Tecnólogo 8 18 21 15 22 13
Total 110 107 119 94 112 120
Tomando como base a quantidade de horas praticas das disciplinas no período
vespertino a carga horária de utilização do laboratório é de 200 h/semestre, já no período
noturno essa carga horária é de 320 h/semestre. Portanto o laboratório é utilizado em média
520 h/semestre por aproximadamente 110 alunos. Através dessa analise pode-se obter
uma estimativa de horas de uso dos equipamentos.
4.3 Desenvolvimento das melhorias – Plano de lubrificação
A elaboração de um plano de lubrificação começou pela identificação dos pontos a serem
lubrificados, para um profissional experiente essa atividade é rotineira e de certa forma
relativamente fácil de ser executada, mas para uma pessoa que não tenha familiaridade
com maquinas operatrizes requer um pouco de pesquisa e consulta aos manuais dos
equipamentos. Na Figura 5 podem-se observar as instruções do fabricante quanto os pontos
de lubrificação do equipamento (torno Nardini Mascote MS 175), recomendam-se ainda que
os operadores devam familiarizar-se com os pontos de lubrificação e que se certifique que
estejam sendo lubrificados corretamente. O fabricante descreve esses pontos de
lubrificação da seguinte forma:
1. pontos de lubrificação a óleo;
2. visor do nível de óleo;
3. pontos de lubrificação a graxa.
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Figura 5 - Pontos de lubrificação - torno
Fonte: Manual Torno Nardini Mascote MS 175
Seguindo os mesmos critérios aplicados na análise dos pontos de lubrificação do
torno, foi realizado um estudo no equipamento Fresadora Diplomat 3001. Os lubrificantes
podem ser aplicados de várias formas, no caso do ambiente de estudo foi feito uso dos
seguintes métodos: Aplicação de lubrificantes por bomba manual; Aplicação de lubrificantes
por pincel; Aplicação de lubrificantes por almotolia.
O método escolhido foi definido através do tipo de pontos e local de lubrificação, em
alguns pontos existem graxeiras especificas para lubrificação a bomba, enquanto em outros
é possível à lubrificação direta por almotolia e também a aplicação de uma fina camada de
óleo por pincel. Para a definição da frequência, adotaram-se como parâmetro as
informações do manual do fabricante para a lubrificação a bomba e também para troca de
óleo, por outro lado à lubrificação a pincel e almotolia deve ser executado sempre ao
término de uma aula, como forma de proteger partes do equipamento como barramento, e
lubrificar partes móveis como cabeçote da fresadora. A Tabela 4 apresenta os pontos de
lubrificação para o torno, onde se pode observar o método e a frequência.
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Tabela 4 - Método e frequência de lubrificação torno
Item Método Frequência
Cabeçote móvel Carro longitudinal Carro transversal Caixa de engrenagem recambio
Bomba manual
Semanal
Varão Barramento
Almotolia pincel
Diária
Avental Cabeçote e caixa de roscas
Visual Abastecimento
- Verificação Diária - Abastecer quando necessário
Substituição- bianual
Para a especificação dos lubrificantes, constatou-se que podem ser utilizados de
vários fabricantes, porem nos casos onde há um reservatório ou tanque de óleo, sempre
que houver necessidade de completar o nível deve-se utilizar lubrificante idêntico ao do
reservatório, caso opte-se por trocar de fabricante o reservatório deve ser esvaziado e limpo
e posteriormente completado novamente com o novo lubrificante. Segundo Albuquerque
(1977), deve-se ter atenção quanto à incompatibilidade dos óleos, pois uma variação
mesmo que pequena na concentração dos aditivos pode influenciar de forma significativa o
desempenho do lubrificante, ou seja, um tipo de óleo pode não se dissolver em um segundo
tipo. A maioria dos manuais dos equipamentos trazem especificações referentes aos
lubrificantes e seus fabricantes, desta forma, foram analisados os lubrificantes e graxas
especificados pelo manual e assim pode-se escolher o de melhor custo benefício. Na Tabela
5 são apresentados a descrição dos fabricantes e lubrificantes indicados para o Torno
Nardini Mascote MS 175.
Essas informações referentes aos pontos de lubrificação, método e frequência e
especificação de lubrificantes, foram compiladas e deram origem a um plano geral de
lubrificação que pode ser observado na Figura 6, que apresenta o documento desenvolvido
para os tornos. Nestes é possível verificar que certas atividades possuem um intervalo maior
de lubrificação, e por isso sua execução demanda de mão de obra qualificada, um exemplo
disso é a substituição de óleo dos reservatórios que deve ser realizada por técnico
especializado. Este documento também foi desenvolvido para as fresadoras seguindo a
mesma metodologia e padrão de construção.
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Tabela 5 - Especificação dos lubrificantes e graxas recomendados (torno)
Fornecedores Óleos recomendados Graxas recomendadas Castrol Hyspin aws - 68 Epl – 2 grease Shell Tellus t - 68 Alvania ep - lfc Texaco Rando hd - 68 Multifak ep - 2 Esso Nuto h - 68 Beacon ep - 2 Mobil Dte - 26 Mobillux ep - 2 Ipiranga Ipitur aw - 68 Litholine ep - 2 Petrobrás Hr – 68 ep Gma 2 ep Agip Oso – 68 Mp grease
Fonte: Manual Torno Nardini Mascote MS 175
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Figura 6 - Plano de lubrificação tornos
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4.4 Desenvolvimento das melhorias - manutenção autônoma
Para encontrar uma sistemática que se adequasse ao laboratório foi necessário levar em
consideração que o contato dos alunos com os equipamentos está limitado a carga horária
das aulas práticas, portanto a periodicidade dessas atividades está condicionadas as
atividades de ensino realizadas no laboratório e devem ser executadas durante e ao fim
dessas aulas. Desta forma foram analisadas duas situações, estas podem ser observadas
na Figura 7 que apresenta um exemplo do padrão esperado de limpeza e organização para
os equipamentos tornos.
A primeira situação (Figura 7a) refere-se à condição dos tornos durante a utilização
nas aulas práticas, onde é comum a utilização de várias ferramentas e o acumulo de
cavacos e resíduas de usinagem por todo o equipamento. Já a segunda situação mostrada
na Figura 7b, exemplifica como os equipamentos devem ficar ao término das atividades, as
ferramentas devem estar dispostas no seu devido local, estrutura e bandeja de contenção
de resíduos devem estar limpos e nos conjuntos onde a contato e movimentação entre as
partes metálicas como, por exemplo, o barramento deve ser aplicado uma película de óleo
para proteção e lubrificação.
Figura 7 - Padrão de limpeza dos tornos
(a) Antes (b) Depois
Com esses resultados pode-se desenvolver um Check-list de MA para abranger o
equipamento de forma geral, de modo a englobar a verificação de itens relacionados à
organização, limpeza e lubrificação. Nesse trabalho as atividades listadas no check-list
foram desenvolvidas especificamente para serem executadas pelos alunos. Na Figura 8
pode se observar a compilação destas atividades propostas para os tornos, que foram
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desenvolvidas no formato de banner, onde se trabalhou os aspectos visuais, com indicações
e cores fortes de modo a facilitar a identificação e compreensão das atividades por parte dos
alunos.
Figura 8 - Check-list de utilização torno
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Este material poderá ser utilizado para treinamento dos alunos com o objetivo de
fazer com que os mesmos comecem a conhecer o equipamento suas funcionalidades, as
ferramentas e os pontos de limpeza e lubrificação de modo geral. Este check–list foi
proposto com o a intenção de identificar imediatamente qualquer anormalidade no
equipamento como ferramentas quebradas, falta de ferramentas, equipamento sujo, baixo
nível de óleo e falta de lubrificação nos barramentos e conjuntos, antes de iniciar sua
utilização e da mesma forma ao término das atividades, de modo a deixar o equipamento
dentro dos padrões para o próximo usuário. Importante salientar que este documento
também foi desenvolvido para as fresadoras seguindo a mesma metodologia e padrão de
construção.
5 Considerações finais
Neste trabalho, os temas, manutenção e lubrificação tiveram ênfase durante toda a revisão
bibliográfica e desenvolvimento. Considera-se que o objetivo foi atingido através de um
estudo que compreendeu o laboratório de máquinas operatrizes, bem como seus usuários,
todavia os resultados obtidos podem ser utilizados para a complementação das atividades
nos demais equipamentos da instituição.
Métodos eficazes de limpeza, lubrificação e itens de verificação diários, contribuem
para o aumento da vida útil dos equipamentos, bem como para a identificação de anomalias
e desta forma contribui para correção antecipada de falhas, tendo em vista que para o
ambiente estudado e com base no estudo bibliográfico, definiu-se a manutenção corretiva
planejada como sendo a mais indicada no momento deste estudo.
Para suprir a falta de uma metodologia de manutenção e utilização, foi desenvolvido
um check-list para cada tipo de equipamento, utilizando-se da metodologia TPM,
especificamente no pilar de manutenção autônoma, de modo a englobar e facilitar a
compreensão das atividades que os alunos devem executar ao utilizar o laboratório, e assim
manter um padrão de inspeção, limpeza e lubrificação de conjuntos que apresentam menor
complexidade e que não necessitam de mão de obra especializada.
De modo similar, foi elaborado um plano de lubrificação mais completo, com base
nos manuais dos equipamentos e frequência de uso do laboratório. Essas atividades devem
ser executadas por técnicos especializados devido a sua complexidade e, em alguns casos,
pelo alto tempo de execução.
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Por fim, pode-se concluir que os resultados obtidos neste trabalho foram
satisfatórios, e demostram a necessidade de mais estudos nessa área, pouco explorada nos
trabalhos acadêmicos da instituição, porem possuem fundamental importância.
Como sugestões para trabalhos futuros é importante desenvolver um método para
medir as horas trabalhadas de cada equipamento, e desta forma distribuir de forma uniforme
sua utilização e assim contribuir para que a lubrificação seja executada com mais
assertividade baseado nas horas de uso. Outro ponto a se destacar é a aquisição de um
equipamento para análise de lubrificante com o objetivo de avaliar a situação dos mesmos
antes de sua substituição. Por fim sugere-se implementar estas atividades nos demais
equipamentos do laboratório para se obter um plano geral de manutenção.
REFERÊNCIAS
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SELEÇÃO DE PORTFÓLIO DE ARTIGOS SOBRE ANÁLISE MULTICRITÉRIO
PARA DIRECIONAMENTO DA MANUTENÇÃO DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA
Jefferson Franco Rocha (Eng. Eletricista, M. Sc., trabalha no Centro Universitário Ingá e na Copel Distribuição SA, http://lattes.cnpq.br/2893983968321171, Maringá-PR, Brasil,
[email protected]) Ana Paula Oening (Professora, D. Sc., trabalha na Universidade Federal do Paraná e nos
Institutos Lactec, http://lattes.cnpq.br/3366592871800741, Curitiba-PR, Brasil, [email protected])
Débora Cintia Marcilio (Professora, D. Sc., trabalha na Universidade Federal do Paraná e nos Institutos Lactec, CV: http://lattes.cnpq.br/7819552476232601, Curitiba-PR, Brasil,
Resumo: A priorização da manutenção é uma importante ferramenta no equilíbrio entre os
indicadores de qualidade da energia elétrica e a sustentabilidade econômica das empresas
de distribuição. Mas, para a priorização, há a necessidade de aplicação de instrumentos de
apoio à decisão e para tomar conhecimento de pesquisas alinhadas e relevantes, depara-se
com o problema da busca e identificação de informações pertinentes nas bases científicas.
Este artigo apresenta um filtro para publicações internacionais relevantes sobre priorização
da manutenção de redes de distribuição, examinando artigos e identificando características
dessas publicações que venham a contribuir cientificamente para o tema. Além disso,
apesar da abordagem específica, o método de filtro pode ser generalizado para o
levantamento bibliográfico de diversos temas de pesquisa. Assim é apresentada, de maneira
estruturada, a criação da base de busca e a realização de filtros pela relevância dos artigos
e autores no meio científico e pelo alinhamento ao tema. Ao final é realizada a análise
sistêmica referente ao conteúdo dos artigos que foram selecionados para compor o portfólio
bibliográfico.
Palavras-chave: Priorização da Manutenção, Levantamento Bibliográfico, Sistemas de
Distribuição de Energia Elétrica, Gerenciamento de Redes de Distribuição, Análise
Multicritério.
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SELECTION OF ARTICLES PORTFOLIO ON MULTICRITERARY
ANALYSIS FOR THE DIRECTION OF THE MAINTENANCE OF
ELECTRICITY DISTRIBUTION NETWORKS
Abstract: Prioritizing maintenance is an important tool in balancing indicators of electric
power quality and the economic sustainability of the distribution companies. But for
prioritization, there is a need to apply decision support tools and to learn from aligned
researches and the problem of searching and identifying information relevant to scientific
bases. This article provides a filter for international publications which be important about
prioritization of distribution network maintenance, examining articles and identifying
characteristics of these publications that may contribute scientifically to the theme. In
addition, despite the specific approach, the filter method can be generalized for the
bibliographic survey of several research topics. Thus is presented, in a structured way, the
creation of the base of search and filtering by relevance of articles and authors alignment
with the theme. At the end, a systemic analysis is performed regarding to the content of the
articles that were selected to compose the bibliographic portfolio.
Keywords: Maintenance Prioritization, Bibliographic Survey, Electric Energy Distribution
Systems, Distribution Network Management, Multicriteria Analysis.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a importância do fornecimento ininterrupto e de qualidade da energia
elétrica é notável para as diversas atividades desenvolvidas pela sociedade e se torna
imprescindível à medida que a tecnologia avança. Indústrias, pequenas empresas,
comércios e até mesmo consumidores residenciais são cada vez mais dependentes da
energia elétrica.
Toda essa importância dada à eletricidade impõe aos sistemas de distribuição e
transmissão de energia elétrica uma constante necessidade de manutenção e melhoria das
condições de atendimento aos consumidores. Todo este cenário condiciona uma adoção de
parâmetros de qualidade mais exigentes e de considerável complexidade aos fornecedores
de serviços e produtos referentes a energia elétrica.
Procurando satisfazer aos parâmetros de qualidade e continuidade no fornecimento,
exigidos pela sociedade, sem onerar demasiadamente as empresas de distribuição de
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energia elétrica, o manual de Procedimentos da Distribuição – PRODIST (ANEEL, 2018),
através do Módulo 8, define a qualidade dos serviços prestados e do produto distribuído por
operadores e fornecedores de energia elétrica. Estes parâmetros regulamentam e, assim,
impõem às Concessionárias de Distribuição de Energia Elétrica a necessidade de
investimentos em manutenção e melhorias contínuas em seus Sistemas de Distribuição.
Entretanto, também é fundamental manter o equilíbrio com outra necessidade de grande
importância no contexto atual, que é a redução e controle do custo do PMSO (Pessoal,
Material, Serviços e Outros), em que, um dos principais componentes é o custo relativo a
manutenções das redes de Distribuição existentes.
Assim, uma solução conveniente para as concessionárias manterem o equilíbrio
entre custo e benefício é a priorização das redes para realização de manutenção,
considerando vários parâmetros que possam atender aos consumidores e reduzir o custo
inerente às ações necessárias para alcançar este objetivo. Para Arya (2016), a priorização
de trechos de um sistema de distribuição apresenta uma economia significativa na
realização de serviços de manutenção, com o direcionamento para ações com maior
efetividade. Mas, para tornar esta priorização possível, devem ser levantados quais
parâmetros das redes de distribuição são realmente importantes e quais as metodologias de
priorização são mais utilizadas nas bases científicas.
Conforme Ensslin, Rolim Ensslin e De Moraes Pinto (2013) seguindo-se uma
metodologia estruturada, um pesquisador, mesmo com pouco conhecimento teórico sobre o
assunto poderá investigar artigos reconhecidos e relevantes, que contribuem para o tema,
delimitando-se, assim, o objetivo geral deste artigo que é a demonstração da metodologia
de seleção de artigos que podem contribuir com a análise multicritério para direcionamento
da manutenção de redes de distribuição de energia elétrica.
2. METODOLOGIA
Para cumprir o objetivo geral devem ser considerados alguns pontos específicos para
abordagem, como uma compilação dos artigos que podem estar ligados ao tema nos
bancos de dados de artigos científicos e, posteriormente, uma análise da influência e
relevância dos assuntos e dos autores, com aplicação de filtros e análise bibliométrica do
portfólio bibliográfico compilado.
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2.1. Definição dos Eixos de Pesquisa
Seguindo o método de Ensslin et al. (2010), para formar o portfólio bibliográfico
correlacionado ao tema “Análise multicritério para direcionamento da manutenção de redes
de distribuição de energia elétrica” foram definidos três eixos principais de pesquisa:
Qualidade da Energia Elétrica, Metodologias de Priorização e Sustentabilidade Econômico-
financeira.
O primeiro eixo está relacionado a um dos objetivos principais do tema, nesse caso,
melhorar a qualidade da energia elétrica, principalmente nos parâmetros correlatos à
qualidade dos serviços prestados pelas Distribuidoras e regulados pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL). Neste eixo enumeram-se alguns itens que podem servir de
indicadores à necessidade de manutenção das redes de distribuição de energia elétrica:
• Número de Consumidores;
• Indicadores de continuidade do fornecimento de energia elétrica;
• Tempo de deslocamento e correção dos problemas que originaram as falhas
no sistema;
• Período decorrido desde a última Manutenção realizada no trecho de rede
analisado;
• Número de interrupções provocadas por tipos específicos de causas que
poderiam ser evitadas ou minimizadas com a execução de manutenção
como: árvores tocando a rede, descargas atmosféricas, objetos estranhos
na rede, causas desconhecidas, etc;
• Índice do conjunto ANEEL: um determinado alimentador da rede pode estar
apresentando índices referentes à qualidade dos serviços satisfatórios,
porém, caso pertença a um conjunto que apresente situação crítica, ações
de manutenção poderão ser direcionadas, melhorando ainda mais os
índices e, consecutivamente, auxiliando na melhoria de todo o conjunto;
• Opções de transferência existentes: direcionando os esforços de manutenção
àqueles alimentadores que não possuem eficientes possibilidades de
transferência de carga, minimizando os impactos de interrupções.
O segundo eixo, Metodologias de Priorização, está voltado às ferramentas que
auxiliam a elaboração da indicação de prioridade de execução de manutenção como:
• Apoio multicritério à decisão, como o método AHP;
• Otimização evolutiva (Algoritmos Evolutivos).
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O terceiro eixo está relacionado à sustentabilidade econômico-financeira e,
consecutivamente, à redução dos custos de manutenção:
• Sustentabilidade econômica;
• PMSO (Pessoal, Material, Serviços e Outras despesas);
• Viabilidade econômica: Custo/Benefício.
2.2. Definição das Palavras-chave por Eixo de Pesquisa
Baseado nos eixos de pesquisa apontados na seção anterior, realizou-se, então, a
definição de palavras-chave relacionadas, conforme apresentado no Quadro 1.
Quadro 1 - PALAVRAS-CHAVE POR EIXO DE PESQUISA
Eixo Palavras-chave
ID Português Inglês (para a pesquisa)
Qualidade da Energia Elétrica
I Manutenção de distribuição de energia Maintenance of Power Distribution
II Indicadores de distribuição de energia Power Distribution Indicators
III Manutenção preventiva de distribuição de energia
Preventive Maintenance of Power Distribution
Metodologias de Priorização
A AHP AHP
B Algoritmo Evolutivo Evolutionary Algorithm
C Priorização Prioritization
Sustentabilidade Econômico-financeira
α Custo/Benefício Cost benefit
β PMSO (despesas) Expenses
ϒ Sustentabilidade econômica Economic
FONTE: O autor.
2.3. Combinação entre Eixos de Pesquisa
A quantidade de cruzamentos entre eixos, sem repetição e excluindo-se as
combinações dentro do próprio eixo, pode ser calculada por Análise Combinatória como
apresentado na Equação (Equação 1).
(Equação 1)
Onde, C é o número de combinações, nT é o número total de palavras-chave, p é o
agrupamento na pesquisa (normalmente 2 a 2), ni é o número de palavras-chave no eixo i e
Qe é a quantidade de eixos de pesquisa.
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Pode-se simplificar a Equação (Equação 1) considerando algumas particularidades
do levantamento bibliográfico como: o emprego da mesma quantidade de palavras-chave
por eixo; o número de palavras-chave por eixo é maior que o número de agrupamentos;
utilização de duas palavras-chave para o agrupamento da pesquisa, fazendo a correlação
de apenas dois eixos por pesquisa. Assim, considerando as características apresentadas,
pode-se reescrever a Equação (Equação 1) de forma mais concisa conforme Equação
(Equação 2).
(Equação 2)
Onde, ne é o número de palavras-chave utilizado nos eixos;
Para os 3 eixos de pesquisa e 9 palavras-chave totais apontados chega-se ao
número de 27 combinações, cujo detalhamento está apresentado no Quadro 2.
Quadro 2 - COMBINAÇÕES DE PALAVRAS-CHAVE ENTRE OS EIXOS DE PESQUISA
Pesquisa Combinação Pesquisa Combinação Pesquisa Combinação 1 I + A 10 I + α 19 A + α 2 II + A 11 II + α 20 B + α 3 III + A 12 III + α 21 C + α 4 I + B 13 I + β 22 A + β 5 II + B 14 II + β 23 B + β 6 III + B 15 III + β 24 C + β 7 I + C 16 I + ϒ 25 A + ϒ 8 II + C 17 II + ϒ 26 B + ϒ 9 III + C 18 III + ϒ 27 C + ϒ
FONTE: O autor.
2.4. Busca de Artigos
Para realização da pesquisa utilizou-se o software Harzing’s Publish or Perish da
Tarma Software Reserach Ltda. Este aplicativo busca citações acadêmicas em várias bases
de pesquisa, como por exemplo, Google Scholar, Google Profile, Microsoft Academic, Web
of Science etc e apresenta várias métricas de análise que ajudam a estabelecer filtros
qualitativos como número de citações, que auxilia na avaliação da importância do artigo, e o
índice h, que auxilia na avaliação da importância do autor. Nas preferências do software
pode-se escolher a quantidade máxima de resultados que são apresentados na pesquisa.
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Para esse estudo, optou-se pela manutenção do valor padrão de 1000 resultados, pois o
próprio aplicativo já realiza o filtro para apresentar os artigos de maior relevância.
2.5. Análise de Pertinência das Palavras-chave e das Combinações
Dois motivos impelem para realização de testes na aderência das palavras-chave:
verificar a assertividade na escolha das palavras-chave e verificar a possibilidade de
diminuir a quantidade de combinações, avaliando o alinhamento dos artigos resultantes com
o tema pesquisado.
Para a realização do teste de aderência, conforme Ensslin, Ensslin e Pinto (2013),
foram escolhidos cinco artigos aleatoriamente. Como o aplicativo Harzing’s Publish or Perish
apresenta métricas de avaliação dos artigos e permite uma ordenação direta por vários
destes parâmetros, pode-se ordenar, por exemplo, por número de citações e realizar uma
avaliação entre os mais significativos e, ainda, configurar para que seja apresentado um
número menor de resultados por pesquisa diminuindo o tempo de processamento.
Após o teste realizado verificou-se que algumas combinações apresentavam
resultados de pouca aderência ao tema ou muito semelhantes a outras combinações, com
vários artigos repetidos, propiciando sintetizar as pesquisas em seis combinações
pertinentes e com abrangência de todas as palavras-chave, conforme Quadro 3.
Quadro 3 - COMBINAÇÕES PARA PESQUISA: RESULTADO DO TESTE DE ADERÊNCIA
Pesquisa Combinação 1 Manutenção de distribuição de energia e AHP 5 Indicadores de distribuição de energia e Algoritmo Evolutivo 9 Manutenção preventiva de distribuição de energia e Priorização
13 PMSO (despesas) e Manutenção de distribuição de energia
18 Manutenção preventiva de distribuição de energia e Sustentabilidade econômica
20 Algoritmo Evolutivo e Custo/Benefício FONTE: O autor.
O levantamento realizado com as pesquisas selecionadas resultou, assim, em 5880
arquivos, que podem ser classificados em várias categorias como artigo, livro, tese, etc,
compreendendo os anos de 1978 a 2017. A etapa para seleção do Banco de Artigos Bruto
baseia-se no processo desenvolvido por Ensslin et al. (2010), apresentado na Figura 1.
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Figura 1 - SELEÇÃO DO BANCO DE ARTIGOS BRUTO
FONTE: ENSSLIN et al. (2010)
Procurando restringir a pesquisa aos arquivos mais recentes, estabeleceu-se um
limite temporal de 10 anos, ou seja, são analisados apenas documentos publicados entre
2007 e 2017, e ainda limitou-se o tipo de documento a artigos científicos, diminuindo o
resultado das pesquisas anteriores a 3319 arquivos.
2.6. Filtragem dos Resultados Preliminares
O primeiro passo para a filtragem dos resultados obtidos nas etapas anteriores é a
remoção de redundâncias com a eliminação de arquivos duplicados. Para execução desta
tarefa armazena-se todos os resultados das pesquisas dentro de alguma ferramenta
computacional que possibilite essa atividade, como por exemplo, o EndNote ou o Mendeley
ou mesmo em planilhas eletrônicas como o Microsoft Excel ou o LibreOffice Calc com as
ferramentas de remoção de duplicatas, lembrando que para as últimas seleciona-se
concomitantemente as colunas de título e autor para não haver remoção incorreta da lista.
Nesta etapa foram eliminados 227 arquivos, restando 3092.
A partir deste resultado segue-se à análise de alinhamento dos títulos dos arquivos
com o tema da pesquisa, conforme apresentado na Figura 2.
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Figura 2 - PARTE INICIAL DA ETAPA DE FILTRO
FONTE: ENSSLIN et al. (2010) adaptado pelo Autor.
Com a leitura de todos os títulos foram selecionados 106 arquivos com indicativo de
alinhamento ao tema. A partir deste ponto segue-se à fase de análise da representatividade
e do reconhecimento científico inerentes as publicações selecionadas. Esta fase continua a
sequência dos passos apontados por Ensslin et al. (2010), em que parte do fluxograma de
filtragem pode ser visualizado na Figura 3.
Figura 3 - FILTRO DE ARQUIVOS NÃO REPETIDOS E ALINHADOS AO TEMA
FONTE: ENSSLIN et al. (2010)
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Os resultados das pesquisas realizadas com o aplicativo Harzing’s Publish or
Perish já apresentam o número de citações referentes a cada artigo selecionado, facilitando
a montagem de planilha eletrônica com o cálculo do percentual de representatividade. A
partir deste ponto fixa-se a representatividade da lista de artigos em 90% do número de
citações, ou seja, os artigos que abrangem 90% das citações são considerados como
representativos e, de acordo com o fluxograma da Figura 3, passam a integrar o banco de
dados chamado de repositório K. Este repositório ficou, então, composto de 42 artigos com
25 ou mais citações. Os outros 64 artigos seguem ao repositório P, conforme Figura 3, e
passam a totalizar o banco de dados de artigos com representatividade e reconhecimento
ainda não confirmado pela comunidade científica.
Para o repositório P a Figura 3 conduz para duas linhas: uma para artigos recentes,
com menos de dois anos, e outra para artigos mais antigos, com mais de dois anos. Este
passo procura separar os artigos que não tiveram tempo de alcançar reconhecimento
daqueles que apresentam pouca representatividade no meio científico. Para o primeiro
grupo, 8 artigos são separados para leitura do resumo, dos quais apenas um se enquadrou
ao tema. Para o segundo grupo constata-se que 11 artigos possuíam autores coincidentes
com autores do repositório K, também denominado banco de autores no trabalho de Ensslin
et al. (2010), indicando artigos escritos por autores já renomados na área de pesquisa, e são
separados para leitura dos resumos. Após leitura, 4 são selecionados por se enquadrarem
ao tema.
Para o repositório K são realizadas as leituras de todos os resumos. O que resulta
em 9 artigos que se enquadram ao tema. A reunião dos artigos que se enquadram ao tema,
tanto do repositório P quanto do repositório K totaliza 14 artigos, nomeados respectivamente
de repositório A e repositório B, cuja união forma o repositório C. O Quadro 4 apresenta a
relação entre as revistas referentes aos artigos selecionados e a combinação de palavras-
chave que apresentaram a maioria dos resultados representativos do repositório C.
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Quadro 4 - RELAÇÃO DE REVISTAS E COMBINAÇÕES DE PALAVRAS-CHAVE NO REPOSITÓRIO C
Revista Ano Pesquisa de Retorno Repositório IEEE Systems Journal 2012 1(I + A); 9(III + C) A IEEE Transactions on Power Systems 2008 9(III + C) A Reliability Engineering and System Safety 2009 1(I + A); 18(III + ϒ) A IMA Journal of Management Mathematics 2015 1(I + A); 9(III + C) A Information and Software Technology 2013 20(B + α) A Industry Applications Society Annual Meeting 2016 1(I + A) A IET Generation, Transmission & Distribution 2009 18(III + ϒ) A 15th Power Systems Computation Conference 2007 9(III + C) A
Studies in Informatics and Control 2009 5(II + B) A 21st International Conference and Exhibition on Electricity Distribution, in Frankfurt (Germany)
2011 1(I + A); 9(III + C) B
Electrical Engineering/Electronics, Computer, Telecommunications and Information Technology
2008 18(III + ϒ) B
Automation of Electric Power Systems 2012 1(I + A) B Journal of Shanghai Jiaotong University 2016 1(I + A) B
FONTE: O autor.
Um fator limitante a ser considerado para a pesquisa é a disponibilidade integral
dos artigos, sem gerar custos financeiros aos pesquisadores. Nesta análise apenas 01
artigo, selecionado através do repositório B, não estava disponível, sendo, portanto,
eliminado do processo.
Como os artigos agregados ao Portfólio Bibliográfico em princípio estão alinhados
ao tema e têm reconhecimento científico, ou são fortes candidatos para tal, outro ponto que
pode ser considerado pelo pesquisador caso deseje aumentar o portfólio são os artigos
elencados nas respectivas referências bibliográficas do repositório C, pois normalmente
seguem as mesmas linhas de pesquisa e, portanto, podem apresentar importantes
contribuições à pesquisa.
A Figura 4 apresenta um referencial de consulta rápida do encadeamento das
etapas apresentadas para a realização do levantamento primário do Portfólio Bibliográfico.
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Figura 4 - RESUMO DAS ETAPAS DA METODOLOGIA DE PESQUISA
FONTE: O autor.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após realização de todos os filtros e montagem do repositório C é necessária a realização
da leitura e análise integral dos artigos para verificar o real alinhamento ao tema da
pesquisa. As análises a seguir estão divididas pelo repositório de origem e apresentam
apenas os artigos que, após leitura integral, foram classificados como inerentes ao tema,
totalizando 11 artigos, ou seja, 2 artigos foram eliminados nesta etapa.
Início
Quadro 1
Busca base de dados
Eixos de Pesquisa e Palavras-chave
Combinação de Palavras-chave
Software Publish or Perish
Teste de Aderência
Títulos
Representa- tividade
Resumo Filtro
Artigos Alinhados
Portfólio Bibliográfico
Quadro 2
Quadro 3
Figura 2
Figura 3
Quadro 4
Análise Sistêmica (Item 3)
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3.1. Artigos Oriundos do Repositório A
O artigo de Yeddanapudi (2008) propõe um método para determinar os benefícios da
manutenção feita em componentes de distribuição, conforme Figura 17, e descreve uma
ferramenta de avaliação de confiabilidade que calcula os níveis da mesma no sistema de
distribuição, juntamente com os benefícios de manutenção. Este artigo também ilustra a
aplicação de ferramentas de otimização na atribuição de recursos e priorização de
manutenção fornecendo uma base para tomada de decisão dos gestores.
Figura 5 - MELHORIA DE CONFIABILIDADE OBTIDA EM VÁRIOS NÍVEIS DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS
FONTE: YEDDANAPUDI (2008)
O algoritmo utilizado pelos autores avalia os seguintes efeitos da interrupção em
uma determinada contingência provocada por falha de componente: número de
consumidores afetados, demora para reestabelecimento, energia não distribuída e o custo
imputado no reparo da falha, determinando o dispositivo que irá interromper a falha e ações
de reconfiguração e restauração para alguns clientes.
O artigo de Ferreira, De Almeida e Cavalcante (2009) apresenta dois tipos de
monitoramento de condição de algum componente do sistema: contínuo e periódico. No
primeiro há o monitoramento de condições continuamente e avisa sempre que alguma falha
for detectada, mas algumas limitações podem aparecer como o custo devido a necessidade
de permanência do monitoramento e podem aparecer erros provenientes de ruídos
produzindo diagnósticos imprecisos. Assim o monitoramento de condições periódicas é
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usado devido ao menor custo e por fornecer um diagnóstico com maior precisão, mas há a
possibilidade da falha ocorrer entre intervalos de inspeções.
Verifica-se, então, que um menor tempo entre inspeções é fundamental para um
possível diagnóstico de falha, porém, intervalos muito curtos podem encarecer o processo
de manutenção, tornando-o inviável. Para definir os intervalos de inspeção optou-se pelo
método da teoria da utilidade multiatributo (também designado por MAUT, do inglês,
Multiattribute Utility Theory). Neste método a compensação entre os critérios implica o uso
de uma função de síntese cujo objetivo é agregar todos os critérios em uma função analítica.
Portanto, a estrutura de preferências da decisão deve basear-se na noção de compensação
o que quantifica as vontades do tomador de decisão, relacionando os ativos e os valores
que representam uma regra de escolha.
O artigo de Mendoza et al. (2009) apresenta uma análise de técnicas de otimização
multiobjetiva aplicadas a problemas de reconfiguração de redes de distribuição. As técnicas
usadas são Algoritmos Microgênicos (�GA), Algoritmo Genético de Ordenação por Não
Dominância 2 (NSGA 2) e Algoritmo Evolutivo de Força de Pareto 2 (SPEA 2). Os dados
considerados são os tempos de reparação e manobra com os quais é possível calcular as
perdas e alguns indicadores de confiabilidade, como a energia não fornecida. O objetivo dos
algoritmos é encontrar conjuntos de soluções eficientes sob o conceito de dominância de
Pareto. Esta definição estabelece quando uma solução, do universo de possíveis soluções,
é melhor do que outra.
Neste artigo: a técnica com Algoritmos Microgênicos (�GA) utiliza a memória da
população, que se divide em memória substituível e memória não substituível; o Algoritmo
Genético de Ordenação por Não Dominância 2 (NSGA 2) classifica a população em fronteira
por grau de dominância; o Algoritmo Evolutivo de Força de Pareto 2 (SPEA 2) tem uma
população de tamanho fixo e um arquivo externo para armazenar soluções não dominadas
obtidas em cada geração.
Os autores concluíram que o NSGA 2 e o SPEA 2 requerem apenas metade da
avaliação e tempo de simulação se comparado ao �GA e que o sistema SPEA 2 apresenta
maior eficiência na busca de soluções. Porém o sistema �GA possui uma implementação
muito mais simples se comparado às outras soluções
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O artigo de Yang e Chang (2009) utiliza um algoritmo evolutivo multi-objetivo
baseado em Pareto para otimização da confiabilidade e dos custos de falha de manutenção,
ou seja, tratando de múltiplos objetivos conflitantes.
O método utilizado neste artigo, num primeiro momento divide o horizonte de
manutenção em três intervalos definindo o nível de manutenção necessário: sem
necessidade de manutenção, manutenção simples ou manutenção completa. O tempo de
cada intervalo pode ser ajustado de acordo com requisitos práticos ou importância para
cada componente. No próximo passo variam-se as taxas de transição em um modelo de
Markov de tempo contínuo com base na decisão de tempo e manutenção no início de cada
intervalo e gera o tempo médio de falha, a duração da falha, o tempo médio de reparo de
cada componente individualmente.
No modelo de confiabilidade do sistema são produzidos os custos dada a
configuração e demanda de carga: custo de capital, custo de manutenção, custo de falha e
energia não distribuída do sistema. Em seguida busca-se o intervalo de manutenção ideal,
adotando as saídas do modelo de confiabilidade do sistema como objetivos de otimização
que será realizada utilizando-se um ranking de Pareto e operadores genéticos na busca dos
melhores indivíduos e na evolução para a melhor solução.
O artigo de Dehghanian et al. (2012) utiliza a metodologia AHP para definição dos
componentes críticos de um sistema de Distribuição de Energia, possibilitando a priorização
das atividades das equipes de manutenção e consecutivamente buscando a redução de
custos. Porém como o método AHP depende da percepção dos envolvidos nas
comparações dos pares de alternativas e/ou atributos, isto o torna suscetível a incertezas e
imprecisões. Para resolver este problema os autores utilizam a lógica Fuzzy aplicada às
comparações realizadas no método AHP, fazendo com que as incertezas sejam
representadas de forma difusa. Para construção da metodologia os autores buscaram
critérios referentes aos componentes físicos, como isoladores e conectores, de redes de
distribuição de alta e baixa tensão.
O método proposto foi aplicado em um caso prático, apontando e priorizando
diversos componentes críticos para dois níveis de tensão, característicos de parte da rede
de distribuição de energia localizada em Teerã, no Irã, apresentando resultados eficientes
na análise dos autores.
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O artigo de Tonella, Susi e Palma (2013) apresenta uma solução para o problema
de escalabilidade dos métodos de priorização que dependem das características dos
requisitos avaliados, incluindo, por exemplo, o método AHP. Este problema refere-se à
massiva análise solicitada aos especialistas na comparação entre pares de categorias
quando o número destas ultrapassa um valor que torna o processo cansativo e fastidioso
distanciando o resultado do ponto ótimo. Tal proposição baseia-se na construção de um
Algoritmo Genético Interativo que realiza uma combinação entre o conhecimento dos
especialistas e as restrições de dependência e prioridades existentes.
O Algoritmo Genético Interativo proposto parte de um conjunto de prioridades e
dependências entre requisitos e solicita a intervenção do analista especialista apenas para
as comparações críticas em que não foi possível uma solução através das informações pré-
estabelecidas. Os melhores indivíduos, adaptados as novas diretrizes impostas, são
selecionados e sofrem mutação e cruzamento para gerar a próxima população.
O artigo de Almeida, Ferreira e Cavalcante (2015) avaliou 186 artigos entre os anos
de 1978 e 2013 referentes a aplicação de métodos multicritérios e multiobjetivos em
manutenção e confiabilidade de sistemas. A pesquisa inicial abrangia 200 fontes diferentes,
porém para manter a relevância da pesquisa, apenas periódicos com mais de três destes
artigos foram selecionados, resultando na quantidade e na distribuição dos métodos
abordados no portfólio de artigos apresentados na Tabela 1.
Tabela 1- NÚMERO DE ARTIGOS ANALISADOS E OS MÉTODOS MULTICRITÉRIO E MULTIOBJETIVOS
Método Quantidade de artigos Pareto-front 90 MAUT 19 AHP 18 MACBETH ou MAVT 16 Goal Programming 6 ELECTRE 5 PROMETHEE 4 TOPSIS 2 Others 40
FONTE: ALMEIDA, FERREIRA E CAVALCANTE (2015) Nesta análise os autores comentam sobre a problemática a ser solucionada pelo
método de análise multicritério e na dificuldade imposta ao responsável pela tomada de
decisão, em definir entre as várias alternativas apresentadas, sendo impulsionado pelo
desejo de atingir múltiplos objetivos, muitas vezes conflitantes. Assim, a escolha do método
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correto dependerá das características do problema a ser resolvido, dos dados conhecidos,
de suas particularidades de imprevisibilidade e dos objetivos almejados. Para, tanto, é
apresentado uma classificação comum na literatura dos métodos de análise multicritério:
• Métodos de síntese de critério único: é uma abordagem de associação de
desempenho e leva a uma ordenação inicial das alternativas. Exemplos:
MAUT e MAVT (Multi-attribute Utility Theory and Multi-attribute Value
Theory), AHP (Analytic Hierarchy Process), MACBETH (Measuring
Attractiveness by a categorical Based Evaluation Technique), SMARTS
(Simple multi-attribute rating technique) e TOPSIS (Technique for Order by
Similarity to Ideal Solution).
• Métodos de ultrapassagem, como ELECTRE (Elimination and Choice
Expressing Reality) e PROMETHEE (Preference Ranking Organization
Method for Enrichment of Evaluations);
• Métodos interativos, como métodos de programação linear multi-objetivos e
programação de metas.
Outro ponto apresentado pelos autores foi a aplicação de mais de uma função
objetivo nas metodologias de análise multicritério, onde os termos Custo, Confiabilidade,
Disponibilidade, Tempo, Peso, Segurança e Risco, compunham em ordem de frequência
com que apareciam, a maioria dos artigos pesquisados.
O artigo de Pourahmadi, Fotuhi-Firuzabad e Dehghanian (2016) apresenta uma
análise de manutenção centrada na confiabilidade com foco em unidades geradoras de
energia e sua importância para o gerenciamento de prováveis interrupções e contingências
impostas ao sistema. O artigo apresenta uma metodologia que utiliza a teoria de jogos para
aplicar um índice de importância às unidades geradoras considerando os impactos de falha
no desempenho frente às necessidades de confiabilidade do sistema. A teoria de jogos
utiliza os conceitos de Shapley Value, que se baseiam em regras de alocação de
consequências em caso de contingência e confiabilidade imputadas aos geradores do
sistema de maneira cooperativa com a possibilidade de coalizões intermediárias entre os
“jogadores”. Com o valor de Shapley, apresentado na Equação (Equação 3), é possível uma
solução de valor único para o problema de alocação entre as unidades geradoras. Na
Equação (Equação 3), o valor característico S, dá o custo máximo ou a compensação do
conjunto de jogadores. Este valor possibilita uma regra de alocação entre os participantes
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(unidades geradoras) do jogo, de acordo com sua contribuição, seguindo as restrições
impostas pelo operador do sistema.
(Equação 3)
3.2. Artigos Oriundos do Repositório B
O artigo de Phoothong et al. (2008) utiliza otimização por enxame de partículas (do
inglês: Particle Swarm Optmization, abreviado por PSO) para selecionar o programa de
manutenção preventiva correto que proporcione uma melhor satisfação do cliente da rede
de distribuição no menor custo executável. O algoritmo utiliza registros de interrupção, taxas
de falha, custos de cada atividade de manutenção, orçamentos históricos de manutenção e
custo do cliente por interrupção para o cálculo do valor ótimo do orçamento da manutenção
preventiva. O algoritmo por enxame de partículas procura iterativamente pelos melhores
“indivíduos” trocando informações com os vizinhos, aumentando a velocidade, com as novas
informações, em direção à busca de uma melhor solução dentro das restrições apontadas.
O artigo de Dehghanian, Fotuhi-Firuzabad e Kazemi (2011) apresenta uma
abordagem de priorização de componentes críticos no cronograma da manutenção de redes
de distribuição com a utilização de AHP, indicando uma tendência de filosofia de
Manutenção Baseada na Confiabilidade.
Para aplicação do processo AHP foram implicados especialistas em manutenção e
operação de sistemas de distribuição de energia e envolvidos no problema de
gerenciamento de ativos da empresa de distribuição. Os especialistas através de várias
reuniões apontaram os seguintes critérios de avaliação: Número total de componentes;
Número total de falhas dos componentes; Duração de reparo dos componentes; Custo de
investimento do componente; Custo de reparo e manutenção do componente.
O artigo de Cai et al. (2016) trabalha sobre a tomada de decisões de manutenção
de equipamentos e adota o método de decisão de múltiplos objetivos. Os autores enfocam
que a tomada de decisão de múltiplos objetivos inclui múltiplas atribuições de decisão e
otimização sendo usada para avaliar a solução viável em termos de todos os indicadores de
decisão em busca de um plano preferencial de manutenção.
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O método escolhido abordado no artigo foi o AHP, em que o modelo de decisão de
múltiplos objetivos de manutenção de equipamentos é dividido em três camadas: camada
objetiva, camada de critério e camada de plano. Neste artigo um tempo de manutenção é
atribuído a todos os modos, variando de 5, equivalente a manutenção perfeita, e 1,
equivalente a manutenção mínima. Já os custos de pessoal e de reposição, referem-se aos
salários e adicionais pagos aos engenheiros de manutenção e a aquisição de peças novas,
além da necessidade de criação de estoque para manutenções emergenciais. Os riscos e a
gravidade das falhas, também, são apontados e acrescentados ao modelo.
4. CONCLUSÕES
Na formação do portfólio bibliográfico deste trabalho foram feitas combinações de palavras-
chave para a pesquisa em software específico (Harzing’s Publish or Perish), que apresenta
dados importantes para a filtragem de trabalhos alinhados ao tema. Outras considerações,
também, se apresentaram úteis para a seleção dos artigos como delimitação do escopo
temporal em 10 anos e a análise de relevância dos autores e dos artigos através da análise
do número de citações feitas aos mesmos por outros pesquisadores, indicando o impacto e
o reconhecimento científico dos mesmos. Durante a busca, verifica-se que a estruturação do
processo de pesquisa pode identificar e selecionar artigos relevantes e alinhados ao tema
priorização da manutenção de redes de distribuição de energia elétrica.
A análise sistêmica do portfólio bibliográfico apresenta artigos que utilizam diversas
metodologias e ferramentas para possibilitar o direcionamento das atividades de
manutenção, entre elas: PSO; �GA; NSGA 2; SPEA 2; Algoritmo Evolutivo Multi-objetivo
Baseado em Pareto; AHP; AHP Fuzzy; Algoritmo Genético Interativo; Teoria dos Jogos;
MAUT. Inclui-se ao portfólio bibliográfico o artigo de Almeida, Ferreira e Cavalcante (2015),
que apresenta um levantamento de artigos correlatos ao tema, o qual leva a concluir que a
escolha do método correto dependerá das necessidades e características do pesquisador e
do sistema de aplicação.
REFERÊNCIAS
AGENCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST). Disponível em <http://www.aneel.gov.br/prodist>. Acesso em 17 de Junho de 2019. ALMEIDA, Adiel Teixeira de; FERREIRA, Rodrigo José Pires; CAVALCANTE, Cristiano Alexandre V. “A review of the use of multicriteria and multi-objective models in maintenance and reliability”. IMA Journal of Management Mathematics, v. 26, n. 3, p. 249-271, 2015.
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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA VARIAÇÃO DO ÂNGULO DA JUNTA DE CONCRETAGEM NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE
CONCRETOS
Leandro Rafael Slosaski (Eng. civil); [email protected] Wellington Mazer (Professor Dr., UTFPR); [email protected]
Resumo: A execução de juntas de concretagem, seja por ocasião de recuperação estrutural
ou paralisação da atividade de concretagem, pode reduzir a resistência do elemento
estrutural onde ela foi executada. Deste modo, a presente pesquisa teve como objetivo
investigar o efeito causado pelo ângulo de corte formado entra a junção de dois concretos
com idades diferentes. Para isso foram moldados corpos de provas com 2 diferentes
ângulos para fazer a união de concretos, analisando os ensaios de resistência à
compressão axial e flexão por 4 pontos. Os resultados indicam uma influência do ângulo da
junta de concretagem na forma de ruptura no ensaio de compressão e na resistência à
flexão.
Palavras-chave: Concreto, Junta de concretagem, Ponte de aderência.
ASSESSMENT OF THE INFLUENCE OF CONCRETE JOINT ANGLE
VARIATION ON MECHANICAL CONCRETE RESISTANCE
Abstract: The execution of concrete joints, either during structural recovery or shutdown of
the concrete activity, may reduce the strength of the structural element where it was
performed. Thus, the present research aimed to investigate the effect caused by the cutting
angle formed between the joining of two concretes with different ages. For this, specimens
with 2 different angles were molded to make the joining of concrete, analyzing the tests of
axial strength and flexion by 4 points. The results indicate an influence of the concrete joint
angle in the form of rupture in the strength test and in the flexural strength.
Keywords: Concrete, Concrete joint, Bonding bridge.
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1. INTRODUÇÃO
Por suas excelentes propriedades de versatilidade, resistência e economia, o concreto de cimento
Portland se mostra como um dos mais importantes materiais de construção civil. Entretanto, obras de
concreto tem apresentado algum grau de deterioração, desde manchas superficiais até
comprometimento de sua função estrutural, implicando na necessidade de algum tipo de reparo e/ou
reforço deste concreto.
Dentre os diversos métodos utilizados num processo de reparação estrutural, um dos mais
usuais é a remoção do concreto contaminado ou deteriorado e sua recomposição por meio da ligação
com outro concreto.
Desta forma, o presente trabalho visa analisar a influência do ângulo de junção entre um
concreto mais antigo e um concreto de reparo, executado posteriormente.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 REPARO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO
O concreto de cimento Portland é tradicionalmente usado em reparos e reforços. Na maioria
das vezes, requer um traço especialmente formulado para cada caso, de forma a se
melhorar algumas de suas características naturais. Pode ser necessário um concreto com
alta resistência inicial, ausência de retração na secagem, expansões leves e controladas,
elevada aderência ao substrato, baixa permeabilidade e outras propriedades, normalmente
obtidas por meio do emprego de aditivos e adições, tais como superplastificantes, redutores
de agua, impermeabilizantes, escoria de alto fomo, cinza volante, sílica ativa conforme
EM1110-2-2002, (USACE, 1995).
Os procedimentos de preparo e limpeza do substrato são grandes responsáveis pelo
sucesso de uma recuperação ou reforço. Garbacz et al (2005) observaram a grande
influência do tratamento superficial e da rugosidade do substrato no desempenho da
aderência entre concretos com idades diferentes.
Bissonnette et al. (2013) afirmam que a preparação de superfície onde haverá a
união entre concreto velho e concreto novo é uma das questões-chaves para a obtenção de
alta qualidade neste tipo de ligação. A boa preparação da superfície não se limita aos
processos que ocorrem imediatamente antes da aplicação do concreto novo.
Procedimentos, como a limpeza da superfície, lançamento do concreto e cura, devem ser
meticulosamente conduzidos, até que se desenvolva uma resistência de união
suficientemente elevada para que ocorra a acomodação das tensões.
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Courard et al. (2013) referem-se aos tratamentos superficiais no substrato de
concreto para promover a interligação mecânica, sendo que o mais comumente utilizado é o
aumento da rugosidade superficial, através de diferentes métodos de abrasão. No entanto,
para métodos muito agressivos, podem surgir alguns efeitos colaterais indesejáveis,
especialmente o desenvolvimento de microfissuras no interior do substrato. No experimento
desenvolvido pelos autores citados, houve a comprovação de que, para concretos com
resistência à compressão menor que 30 MPa, há acréscimo de aderência entre concreto do
substrato e concreto novo, ao preparar-se a superfície com processo de jateamento de areia
e hidrodemolição. Assim, ainda conforme Courard et al. (2013), pode-se afirmar que a
resistência à compressão dos concretos é parâmetro importante para escolha do tipo de
tratamento superficial, visando à boa aderência entre concretos de diferentes idades.
Santos et al (2007) , Santos et al (2012) e Guo et al (2018) também verificaram a
grande influência do preparo da superfície, da rugosidade, da umidade e do tempo de cura
na resistência de aderência entre os concretos, sendo que Guo et al (2018) que existe uma
correlação entre a resistência de aderência e o tempo de cura do concreto. Já Setty e Trejo
(2018) observaram que o preparo de juntas em pavimentos de concreto não apresentou
influência significativa na resistência ao cisalhamento, porém as condições de cura afetaram
esta resistência.
2.2 Ponte de aderência
Sempre é aconselhável a construção de uma ponte de aderência nos reparos de áreas com
manifestação de patologias no concreto. A ponte de aderência, além de permitir uma
completa aderência entre o reparo e o substrato de concreto funciona também como uma
barreira de proteção para a região do reparo (BISSONNETTE et al.,2013).
Beushausen e Alexander (2008) citam que é comum haver a união de concretos de
diferentes idades, ocorrendo durante o reparo de estruturas de concreto e na junção de
elementos de concreto pré-moldado, sendo que a simples sobreposição de concretos de
diferentes idades pode levar ao aparecimento de fissuras e descolamento dos elementos
que se pretendia unir.
Conforme Doria et al. (2015) as causas que levam à ineficiência desta união são
relacionadas a diversos fatores, como a preparação da superfície do substrato, a forma de
aplicação do concreto mais novo, procedimento de cura e até mesmo fatores ambientais.
Entretanto, as principais influências negativas para o insucesso da ligação entre concreto
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novo e antigo é a má execução da ligação e a retração de diferentes magnitudes entre os
materiais com diferença de idade. Santos et al (2012) e Guo et al (2018) também
observaram a grande influência da utilização de pontes de aderência na união de dois
concretos.
2.3 Métodos de avaliação de desempenho da junta
Os ensaios utilizados para a avaliação dos materiais de reparo podem ser divididos em:
ensaios de desempenho, ensaios de caracterização das pontes de aderência ou ensaios de
acompanhamento. Neste trabalho foram os ensaios de desempenho, por serem
considerados os mais importantes.
Tais ensaios consistem em avaliar o comportamento da união de corpos de prova de
concreto ou argamassa geralmente não armados, a solicitações as quais a estrutura estará
provavelmente submetida. Os ensaios normalmente empregados são resumidamente
descritos a seguir.
2.3.1 Ensaios de resistência a tração por flexão
Este ensaio pode ser efetuado em prisma de concreto de 150 x 150 x 500 mm,
conforme NBR 12142 (ABNT,2010). Emprega-se em geral um conjunto de 2 ou mais
prismas para cada avalição: concreto antigo/concreto antigo ou concreto antigo/concreto
novo.
Adota-se o carregamento nos terços, pois assim se garante toda urna região central
sob mesma solicitação de momento fletor máximo e força cortante nula, oferecendo iguais
probabilidades de ruptura a várias seções. O desempenho da junta é avaliado pela
observação do local onde se deu a ruptura - fora ou na junta unida - e da comparação da
tensão de ruptura dos prismas unidos com as tensões obtidas dos prismas de referência.
2.3.2 Ensaio de reconstituição do cilindro
Considerando que a resistência do concreto para fins estruturais e avaliada por meio
da resistência à compressão de corpos de prova cilíndricos, dois pesquisadores americanos,
Krieg (1976) e Nordby (1976), citados por Helene (1988), propuseram um ensaio onde é
possível verificar de maneira global o desempenho do adesivo. Trata-se de ensaiar um
corpo de prova cilíndrico de diâmetro 15 por 30 centímetros de altura, previamente cortado
com disco diamantado em duas metades, conforme indicado na Figura 1:
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Figura 1 – Esquema de corte do CP cilíndrico,
Fonte: Adaptado de Helene (1988).
Depois de cortado e seco, é novamente unido, permitindo avaliar o desempenho da
união concreto velho/concreto novo. O desempenho é calculado a partir da verificação da
capacidade do adesivo em reconstituir, em toda a sua plenitude, as características do corpo
de prova original. Nesta avaliação, é interessante medir a resistência de ruptura para fins de
comparação e observar a forma de ruptura do corpo de prova, no sentido de avaliar a
capacidade de reconstituição da formulação ensaiada.
2.3.3 Análise das tensões
Conforme Austin, Robins e Pan (1999) apud Galletto (2005), quando um prisma composto,
contendo uma junta formando um ângulo em relação ao eixo longitudinal, é submetido a
compressão axial, o desenvolvimento das tensões e os modos de ruptura dependem
principalmente da eficiência da aderência.
Dessa forma, se existir uma adesão eficiente as tensões ao longo da junta são
transmitidas por uma combinação de coesão/atrito, nesse caso, a ruptura se dará no
concreto, podendo ocorrer de duas formas: do tipo pirâmide-dupla, comum nos ensaios de
corpos de prova monolíticos ou uma ruptura diagonal próxima a junta. Caso a adesão for
insuficiente, a ruptura diagonal ocorrera ao longo da linha da junta, segundo Garcia (1998).
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2.3.4 Ruptura na junta
Ainda segundo Galletto (2005), quando a ruptura ocorre na junta, o estado global de
tensões na interface apresenta, macroscopicamente, tensões de compressão e
cisalhamento e o Critério de Mohr-Coulomb pode ser usado para descrever a resistência
última, conforme indicado na Figura 2.
Figura 2 - Relação entre as Tensões de Compressão-Cisalhamento e Círculo de Mohr.
Fonte: Galletto (2005).
Se a junta for resistente, o corpo de prova rompera de forma monolítica, ou seja,
como se fosse um corpo de prova integro, ou rompera no concreto adjacente a junta. As
tensões ultimas de cisalhamento (δ) e normal (σ) na interface podem ser expressas em
termos da resistência longitudinal (Fc) e do ângulo “α”, pelas equações 1 e 2:
� � ������ (1)
� �� � � � � ��� (2)
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS
Os materiais utilizados foram caracterizados através de ensaios padronizados pelas normas
da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, ou, na falta destas, por normalização
estrangeira.
Como aglomerante, nesta pesquisa, foram utilizados o cimento Portland CPII-F-32
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para o concreto de base e CP V-ARI para o concreto de reparo. Nas tabelas 1 e 2 são
apresentadas as composições do cimento utilizado na pesquisa, fornecidas pelo fabricante.
Tabela 1 – Ensaios químicos dos cimentos utilizados Parâmetro CP II F-32 CP V ARI
PF (%) 6,35 3,20 SiO2 (%) 17,58 18,26 Al2O3 (%) 4,33 4,55 Fe2O3 (%) 2,63 2,76 CaO (%) 59,95 60,18 MgO (%) 5,60 5,84 SO3 (%) 2,73 2,99 Na2O (%) 0,25 0,26 K2O (%) 0,96 0,97 RI (%) 1,74 0,88 CaO livre (%) 0,71 0,63 CO2 (%) 2,49 2,22 Cl (%) 0,01 0,01
Fonte: Fabricante do cimento
Tabela 2 – Ensaios físicos dos cimentos utilizados
Parâmetro CP II F-32 CP V ARI # 200 (%) 0,32 0,0 # 325 (%) 6,33 0,54 Início Pega (h:min) 4:50 3:10 Fim Pega (h:min) 5:50 4:15 Blaine (cm2/g) 4244 4551 Cons. (%) 27,6 29,6 Exp.Quente (mm) 0,14 0,27 Massa Esp. (g/cm3) 3,10 3,06
Fonte: Fabricante do cimento
As características mecânicas do cimento utilizado, mais precisamente no que
concerne a resistência à compressão, foram obtidas conforme a NBR 7215 (ABNT,1997)
para uma argamassa padrão. Os valores médios obtidos constam da Tabela 3.
Tabela 3 – Ensaios de resistência a compressão dos cimentos utilizados Idade (dias) CP II F-32 CP V ARI
R 1 (MPa) 18,6 26,56 R 3 (MPa) 31,2 38,44 R 7 (MPa) 36,4 43,69 R 28 (MPa) 42,7 50,98
Fonte: Fabricante do cimento As análises foram concedidas e realizadas pela fabricante do cimento.
O agregado miúdo é proveniente de captação em cava e o graúdo é proveniente de
britagem. Sua caracterização está conforme estabelecem a NBR 7211 (ABNT,2009). Na
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Figura 3 constam os dados do agregado miúdo utilizado, ensaiado conforme NBR NM 248
(ABNT,2003) e NBR NM 52 (ABNT,2009):
Figura 3 – Ensaios de granulometria e massa especifica do agregado miúdo
Massa Específica (g/cm³): 2,59
Módulo de Finura: 2,55 Diâmetro Máximo (mm): 2,4
Na Figura 4 constam os dados do agregado graúdo utilizado, ensaiado conforme
NBR NM 248 (ABNT,2003) e NBR NM 53 (ABNT,2009):
Figura 4 – Ensaios de granulometria e massa especifica do agregado graúdo
Massa Específica (g/cm³): 2,64
Malha da peneira (mm)
Po
rcen
tag
em r
etid
a ac
um
ula
da
(%)
Malha da peneira (mm)
Po
rcen
tag
em r
etid
a ac
um
ula
da
(%)
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Módulo de Finura: 6,55 Diâmetro Máximo (mm): 19
Os agregados utilizados nesta pesquisa têm origem na região da Grande Curitiba.
3.2 CONCRETO
A confecção dos corpos de prova cilíndricos e prismáticos baseou-se na Norma Brasileira
NBR 5738 (ABNT,2015).
O traço definido para o concreto de base foi visando a resistência mínima aos 28
dias, estabelecida na norma NBR 6118 (ABNT,2014) de 25 MPa para a CAA II e abatimento
de 140 ± 20 mm no slump test. A escolha do abatimento se deu pelo fato da maioria da mão
de obra hoje da construção civil preferirem concreto mais fluído, sendo um concreto mais
próximo ao utilizado em obras.
O quantitativo e o traço deste concreto, para 1 m³, utilizando cimento CP II-F-32, está
apresentado na Tabela 4:
Tabela 4 – Traço concreto base com CPII-F-32
O traço definido para o concreto de reparo foi visando a resistência aos 28 dias de 60
MPa e abatimento de 140 ± 20 mm. A escolha destas características era para simular um
concreto especifico de reforço.
O quantitativo e o traço deste concreto, para 1 m³, utilizando cimento CP V-ARI,
adição de 10% de sílica ativa e aditivo superplastificante à base de policarboxilato está
apresentado na Tabela 5:
Tabela 5 – Traço “concreto novo” com CP V ARI
Material Cimento Sílica ativa Ag. Miúdo Ag. Graúdo Água Aditivo
Qtde (Kg) 350 35 845 935 170 3,08
Unitário (Kg) 1 0,1 2,41 2,67 0,49 0,0088
3.3 MOLDAGEM
Para análise entre ângulos de junta, foi definido o ângulo de 45º em relação ao sentido da
força aplicada tanto nos corpos de prova cilíndricos quanto prismáticos. Como um segundo
ângulo para comparação, foi definido, 0º nos corpos de prova cilíndricos e 90º nos corpos de
Material Cimento Ag. Miúdo Ag. Graúdo água
Qtde (Kg) 320 795 1017 208
Unitário (Kg) 1 2,45 3,18 0,65
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prova prismáticos como indicado na Figura 5.
Figura 5 – Modelo das junções dos corpos de prova
Foram moldados corpos de prova cilíndricos, com dimensões de 10 x 20cm, e
prismáticos, com dimensões de 20 x 20 x 50cm, íntegros para referência, sendo a
quantidade total apresentada na Tabela 6:
Tabela 6 – Quantitativo de amostras
Quantidade de amostras por rompimento
Material 7 dias 28 dias 56 dias 91 dias 121 dias TOTAL
CP cilíndrico concreto velho 4 4 4 4 4 20
CP cilíndrico concreto novo 4 4 - - - 8
CP prismático concreto velho - 4 - - 4 8
CP prismático concreto novo - 4 - - - 4
CP cilíndrico 0º - 4 - - - 4
CP cilíndrico 45º - 4 - - - 4
CP prismático 90º - 4 - - - 4
CP prismático 45º - 4 - - - 4
TOTAL DE AMOSTRAS DE CORPOS DE PROVA CILÍNDRICOS 36
TOTAL DE AMOSTRAS DE CORPOS DE PROVA PRISMÁTICOS 20
TOTAL DE AMOSTRAS DE CORPOS DE PROVA 56
O preparo dos moldes, confecção do concreto e moldagem nas formas, está
apresentado na Figura 6.
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Figura 6 – A) Preenchimento dos moldes com isopor. B) Moldagem dos corpos de prova divididos. C)Divisão dos moldes prismáticos. D) Corpos de prova prismáticos divididos – secção
concreto velho.
Para preparação da ponte de aderência entre os concretos de base e de reparo, foi
feito lixamento com escova de aço e lixa para massa nr. 60. Para auxílio à ponte de
aderência foi utilizado uma resina sintética livre de cloretos de composição básica à base de
copolímero vinílico.
As moldagens e os ensaios foram realizados no laboratório da empresa fornecedora
dos cimentos.
4. RESULTADOS E ANÁLISES
4.1 ENSAIO DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL
Os resultados obtidos nos ensaios dos corpos de prova dos concretos de base e de
reforço (média de 4 corpos de prova) estão apresentados na Tabela 7:
A B
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Tabela 7 – Resultados dos ensaios de resistência ao longo dos dias dos concretos utilizados.
Ensaio Parâmetro 7 dias 28 dias 56 dias 91 dias 121 dias
Con
cret
o ba
se
Res
istê
ncia
à
com
pres
são
(MP
a)
Média 20,3 25,1 26,2 27,2 27,7
Desvio
padrão 0,45 0,45 0,43 0,39 0,60
CV (%) 2,2 1,8 1,6 1,4 2,2
Con
cret
o de
re
forç
o R
esis
tênc
ia
à co
mpr
essã
o (M
Pa)
Média 53,5 59,7
Desvio
padrão 1,46 1,40
CV (%) 2,7 2,3
Con
cret
o ba
se
Res
istê
ncia
à
flexã
o 4
pont
os
(MP
a)
Média 3,3 3,4
Desvio
padrão
0,19
0,30
CV (%) 5,8 8,8
Con
cret
o de
re
forç
o R
esis
tênc
ia
à fle
xão
4 po
ntos
(M
Pa)
Média 5,0
Desvio
padrão
0,33
CV (%) 6,6
A diferença entre as idades ensaiadas se deve ao fato que quando o concreto base
completou 121 dias, o concreto de reforço estava com 28 dias, uma vez que inicialmente foi
executado o concreto de base e somente após este estar com idades mais avançadas é que
foi executado o concreto de reforço para ser possível estudar a aderência entre um concreto
velho e um concreto novo.
4.2 RESULTADOS CONCRETO COM JUNTAS EXECUTADAS
Os resultados obtidos com o rompimento de corpos de prova após a execução do
reforço, gerando as juntas, estão apresentados na Tabela 8:
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Tabela 8 – Resultados dos ensaios de resistência dos concretos após a execução das juntas.
Ensaio Parâmetro Junta 45º Junta 0o Junta 90º
Res
istê
ncia
à
com
pres
são
(MP
a)
Média 24,2 29,7
Desvio
padrão 1,4 1,2
CV (%) 5,7 3,4
Res
istê
ncia
à
flexã
o 4
pont
os
(MP
a)
Média 2,9 2,3
Desvio
padrão 0,35 0,33
CV (%) 12,1 14,3
Para os resultados indicados na tabela 8, foi realizada uma análise estatística
(ANOVA e Tukey’s test) onde foi observado que, para o ensaio de resistência à
compressão, a junta 45º não difere do concreto de referência e a junta a 0o apresenta
resistência superior, com 95% de confiança. Ainda foram estabelecidos os intervalos de
confiança para a resistência através dos limites superiores e inferiores, com base na
estatística t de Student, e foi observado que o limite superior da resistência à compressão a
28 dias do concreto de referência (28,3MPa) é inferior ao limite inferior da resistência à
compressão do concreto com junta a 0o (28,7MPa), indicando a eficiência da junta a 0o para
este ensaio.
No ensaio de resistência à compressão com de junção 0º, foi percebido o
esmagamento do concreto velho, porém a maioria das amostras não houve separação entre
concretos, indicando a ocorrência de uma boa aderência entre os materiais. Já nos corpos
de prova cilíndricos com juntas a 45º as rupturas ocorreram sempre na junção. A diferença
observada entre as resistências ocorre porque com a junta a 0o a ruptura ocorre por
compressão do concreto com menor resistência, já no caso da junta a 45º ocorre
cisalhamento na interface entre os dois concretos, indicando a importância da utilização de
uma ponte de aderência.
Já para o ensaio de resistência à flexão por 4 pontos, a junta a 45º não apresentou
diferença estatística em relação ao concreto de referência, porém a junta a 90º apresentou
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diferença tanto em relação ao concreto de referência quanto à junta a 45º, indicando uma
redução na resistência do elemento estrutural. Neste ensaio também foram estabelecidos os
intervalos de confiança para a resistência à flexão onde foi observado que o limite superior
da resistência do concreto com junta a 90º (2,6MPa) foi inferior ao limite inferior da
resistência do concreto de referência (3,1MPa), indicando a perda de 30% na resistência
desta junta.
Nos corpos de prova prismáticos as rupturas ocorreram sempre nas juntas, indicando
que as tensões de cisalhamento existentes são superiores à resistência do material utilizado
para ponte de aderência.
5. CONCLUSÕES
Com base nos resultados foi possível formar as seguintes conclusões:
- Para o ensaio de resistência à compressão tanto a junta a 45º quanto a junta a 0o
apresentaram comportamento semelhante ao concreto de referência, diferindo no modo de
ruptura, sendo por compressão na junta a 0o e por cisalhamento na junta a 45º.
- Para o ensaio de resistência à flexão por 4 pontos o desempenho da junção 45º
frente a junção 90º, sugere que a maior área de contato entre os concretos, propiciado pelo
ângulo 45º e a inclinação em relação ao esforço contribuíram para o melhor desempenho da
junta a 45º.
- Em ambos ensaios foi observada a importância da execução da ponte de aderência
para garantir o desempenho das juntas de concretagens..
REFERÊNCIAS
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composição granulométrica. Rio de janeiro, 2003, 6 pgs.
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8 pgs
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LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE EMISSÃO MONÓXIDO DE CARBONO (CO) EM INDÚSTRIAS CERÂMICAS NA REGIÃO CENTRO-SUL DO ESTADO DO PARANÁ, BRASIL
Rafaela Franqueto (Doutoranda em Engenharia Ambiental – Universidade Regional de Blumenau;
Mestra em Engenharia Sanitária e Ambiental e Engenheira Ambiental, Universidade Estadual do
Centro-Oeste)
Resumo: Os principais contribuintes antropogênicos para a contaminação do ar são as emissões industriais. Dentre as atividades industriais, a produção de tijolos é responsável por boa parte das emissões atmosféricas. Essas emissões atmosféricas das indústrias cerâmicas comprometem a qualidade do ar, e por consequência podem ocasionar danos à saúde da população. Esse trabalho visa verificar as emissões atmosféricas provenientes de 5 indústrias de uma mesma região. Foram realizados análises do gás Monóxido de Carbono (CO) com auxílio do equipamento portátil Tempest 100, em 3 pontos de cada indústria monitorada. Como resultado, o estudo demonstrou que todas as indústrias encontravam-se em acordo com o limite de emissão atmosférica imposto pela legislação ambiental vigente, mesmo não apresentando nenhuma forma de redução das emissões no processo ou na saída das chaminés. Sugere-se a realização de monitoramento de qualidade do ar no entorno das indústrias, para garantir que as emissões sem tratamento não estão ocasionando danos à saúde da população circunvizinha, mesmo os resultados indicando compatibilidade com os limites legais de emissão.
Palavras-chave: poluição do ar, indústria cerâmica, emissões atmosféricas.
PRELIMINARY ASSESSMENT OF CARBON MONOXIDE EMISSIONS (CO)
IN CERAMIC INDUSTRIES IN THE REGION CENTRAL SOUTH PARANA
STATE, BRAZIL
Abstract: The main anthropogenic contributors to air pollution are industrial emissions. Among
industrial activities, the production of bricks is responsible for much of the atmospheric emissions.
These atmospheric emissions from the ceramic industries compromise air quality, and as a
consequence can cause damage to the health of the population. This work aims to verify the
atmospheric emissions from 5 industries of the same region. Carbon Monoxide gas was measured
using the Tempest 100 portable equipment, at 3 points of each monitored industry. As a result, the
study showed that all industries were in agreement with the atmospheric emission limit imposed by
the current environmental legislation, even though they did not present any form of reduction of the
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emissions in the process or the exit of the chimneys. It would require monitoring of air quality
around the industries to ensure that untreated emissions would not cause harm to the health of the
surrounding population, even the results indicating compatibility with legal emission limits.
Keywords: air pollution, ceramics industry, atmospheric emissions.
1. INTRODUÇÃO
Emissões industriais são as principais fontes de poluição atmosférica de origem antrópica
nas cidades (CAMARA, LISBOA e DAVID 2015). Dentre as indústrias, a indústria da cerâmica
emite poluentes consideráveis. A indústria cerâmica brasileira tem grande importância para o país,
tendo participação no PIB – Produto Interno Bruto – da ordem de 1,0% (BUSTAMANTE e
BRESSIANI 2000; MACEDO et al. 2012).
De acordo com a Associação Brasileira de Cerâmica (2011) define-se cerâmica como
todos os materiais inorgânicos, não metálicos, resultantes de tratamento térmico em altas
temperaturas. O processo de fabricação de tijolos segue, essencialmente, as etapas de extração
de argila, preparação da massa, conformação, secagem e a queima:
• Extração e preparação: Após a extração do material e estocagem, ele é tratado através de
processos de purificação, divisão, homogeneização e obtenção da umidade adequada da
matéria-prima. As operações precedem a fabricação propriamente dita dos produtos
cerâmicos (FALÇÃO,1988). Para a fabricação da cerâmica se utiliza apenas argila como
matéria-prima (PIRES,2006).
• Conformação: É a etapa de fabricação responsável pela característica geométrica do
produto final. O método de conformação mais usado é o de extrusão, por esses métodos
são conformadas peças como blocos, telhas, tijolos vazados, lajes e lajotas.
• Secagem e Queima: essa etapa acontece posteriormente à etapa de conformação e tem
como objetivo principal eliminar toda a água proveniente da preparação da massa através
da evaporação que acontece de forma lenta e gradual, a fim de evitar tensões. Já a
Queima é considerada a etapa mais importante de todo o processo de fabricação, pois
durante a queima ocorre a sinterização que determina as propriedades finais do produto.
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Apesar da atual consciência ambiental que o setor cerâmico já manifesta, apenas na última
década tem-se aprofundado o conhecimento dos impactos ambientais que lhe são inerentes
(ALMEIDA et al. 2001).
Um dos aspectos ambientais mais importantes relaciona-se às emissões gasosas resultantes
dos processos térmicos a alta temperatura, a queima e dentre os poluentes atmosféricos emitidos,
o monóxido de carbono (CO) configura-se como um dos principais. A emissão dos gases no
processo ocorre devido à combustão e está vinculada à composição da matéria-prima e do
combustível empregado para tal situação (USEPA, 1997).
Apesar de serem de pequeno porte, as indústrias dessa magnitude podem acarretar a
impactos ambientais consideráveis. Portanto, a contribuição de pequenas fábricas para a
deterioração da qualidade do ar pouco é conhecida (CO et al. 2009).
Nesse estudo, realizou-se o monitoramento sobre as emissões atmosféricas das indústrias de
cerâmica (olarias) na região Centro-Sul do Paraná. Para tal, foram efetuadas análises de gases
em 3 pontos de cada indústria. O objetivo do artigo é determinar a concentração de efluentes
gasosos (CO) em chaminés dos fornos, fornecendo informações sobre o parâmetro do processo
(CO) de emissão averiguando a sua conformidade com a legislação vigente.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O processo monitorado apresenta-se como fonte do tipo pontual (chaminé). Foram
monitorados 3 pontos (fornos) de cada indústria. A potência térmica nominal de cada indústria foi
determinada pela Equação (1) e calculada segundo o consumo nominal de combustível
(informado pela empresa) e o poder calorífico do combustível (PCI):
Potência (MWt) = Q comb x PCI comb (1)
3600 x 103
Onde: Qcomb – consumo horário máximo de combustível indicado pelo fabricante, expresso
em quilogramas por hora (kg/h) ou em metros cúbicos por hora (m3/h) 3600 x 103
(fator de correção). PCIcomb – poder calorífico inferior do combustível, expresso em quilo joule por
quilograma (kJ/kg) ou em quilo joule por metro cúbico (kJ/m3).
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A metodologia para emissões de gases e particulados é baseada na Resolução 16/2014
da SEMA (Secretária do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) que define os critérios
para o Controle da Qualidade do AR no Estado do Paraná.
O equipamento utilizado para as medições consiste em um analisador digital de emissões
(Figura 1), modelo TEMPEST 100, cuja leitura é baseada em uma sonda de gases munida de
sensores termoquímicos, que operam reagindo com o gás a ser detectado, produzindo um sinal
elétrico proporcional à sua concentração, e remetendo – os a microprocessadores em tempo real.
Figura 1 – Analisador portátil de gases modelo TEMPEST 100
Fonte: Autora (2019)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cada indústria monitorada apresentou características físicas distintas em relação ao tipo
de fonte de emissão, no caso a pontual. A Tabela 1 apresenta os dados de altura (m) e diâmetro
(m) chaminé, consumo de combustível (kg/h) e potência térmica nominal (MW). Ressalta-se que
todas as indústrias utilizavam serragem como material para consumo (combustível).
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Tabela 1 – Dados das fontes pontuais em cada indústria
Indústria Altura (m) Diâmetro (m) Consumo de Combustível
(kg/h)
Potência Térmica Nominal
(MW)
“A” 3,00 0,94 550,00 0,36
“B” 3,00 0,91 220,00 0,14
“C” 7,00 1,10 189,00 0,39
“D” 4,00 0,91 293,00 0,50
“E” 7,00 1,00 220,00 0,14
Fonte: Autora (2019).
Confrontando os dados apresentados na Tabela 1 com a legislação exposta na Resolução
Sema (PR) n.16 de 2014, determinou-se que todas as indústrias monitoradas enquadram-se na
potência térmica nominal de até 0,5 MW, conferindo limite de emissão de CO de até 6000
mg/Nm³, do qual é foco deste estudo.
Foram realizados monitoramentos em todos os fornos das três indústrias cerâmicas,
analisando os seguintes parâmetros: CO e O2. Os resultados das análises estão descritos na
Tabela 2. Os resultados que foram obtidos, o equipamento operava com aproximadamente 100%
da sua capacidade nominal.
Tabela 2 – Resultados das análises de gases nos fornos das indústrias
Indústria Número de fornos CO (mg/Nm³)
“A”
1 414,4
2 570,8
3 661,3
“B”
1 406,4
2 772,1
3 542,3
“C”
1 947,5
2 756,5
3 304,8
“D”
1 1248,0
2 701,1
3 639,8
“E”
1 242,3
2 419,1
3 487,9
Fonte: Autora (2019).
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Verifica-se na Tabela 2, que todas as indústrias monitoradas apresentaram valores abaixo
do limite determinado pela Resolução 54/2006: 6000 mg/Nm³ por ponto de emissão. Nesse caso,
os limites de emissão foram atribuídos à situação dos fornos em indústrias cerâmicas como
caldeiras e outros casos, especificados na Seção II, item IV da Resolução 054/2006. A média
geral da emissão de CO foi de 607,62 mg/Nm³, estando abaixo do limite exigido. Mesma situação
pode ser verificada na Figura 2, onde mostra a média as emissões de cada indústria monitorada.
Todas obtiveram emissões abaixo da linha do limite da legislação (6000 mg/Nm³).
Figura 2 – Média de emissão de CO em cada indústria analisada associado ao limite da legislação.
Fonte: Autora (2019).
É importante ressaltar que nenhuma das indústrias monitoradas tinha equipamento de
controle de emissões de gases nas saídas das chaminés e que mesmo com a ausência dos
equipamentos, o processo mantinha-se em acordo com a legislação ambiental vigente.
O fato de as emissões não ultrapassarem os limites legais não significa que não haja
impacto na qualidade do ar local e consequentemente, na saúde da população. Estudos de
monitoramento da qualidade do ar deveriam ser aplicados para fornecer mais subsídios a essa
discussão.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi verificado que todas as indústrias não possuíam nenhum tratamento para as emissões
de gases. Por meio dessa constatação, pode-se afirmar que os responsáveis pelas indústrias
acreditam que as emissões atmosféricas estão em acordo com a legislação, mesmo antes da
emissão de um laudo de monitoramento atmosférica, realizado por profissionais.
Mesmo as indústrias estando adequada a legislação ambiental vigente, caso optem pela
implantação de medidas de redução de emissão, diversas tecnologias podem ser aplicadas,
como: filtros de manga e absorvedores, a substituição para combustíveis menos poluentes (como
o gás natural) e a modernização dos fornos.
As soluções estão ligadas a adoção de políticas ambientais eficientes que visem diminuir o
nível de poluição do ar nos centros urbanos, substituição de combustíveis fósseis por
biocombustíveis ou energia elétrica também podem reduzir significativamente essa problemática,
campanhas de conscientização e principalmente a fiscalização de grandes empreendimentos
industriais.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M.; FRADE, P.; CAMPANTE, H.; MARQUES, J.C.; CORREIA, A.M.S. Redução do Teor de Flúor nos Efluentes Gasosos da Indústria Cerâmica, Cerâmica Industrial, v.6, nº.3, p.7-13, 2001.
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BUSTAMANTE, G.M.; BRESSIANI, J.C. A indústria cerâmica brasileira, Cerâmica Industrial, v.5, n.3, p.31-36, 2000.
CAMARA, V.F.; LISBOA, H.M.; DAVID, P.C. Levantamento das emissões atmosféricas da indústria da cerâmica vermelha no sul do estado de Santa Catarina, Brasil, Revista Cerâmica, v.61, p.213-218, 2015.
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PIRES, Adriana. Lodo de Esgoto. Revista Ecotur. Disponível em: www.revistaecotour.com.br. acesso em 20 jun. 2017. RESOLUÇÃO 16/2014 DA SEMA (Secretária do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) que define critérios para o Controle da Qualidade do Ar como um dos instrumentos básicos da gestão ambiental para proteção da saúde e bem estar da população e melhoria da qualidade de
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vida, com o objetivo de permitir o desenvolvimento econômico e social do Estado de forma ambientalmente segura, e dá outras providencias.
UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (USEPA), AP 42 - Compilation of
Air Pollutant Emission Factors, Capítulo 11, Seção 3 - Bricks and Related Clay Products
(1997). Disponível em:<http://www.epa.gov/ttnchie1/ap42/ch11/final/c11s03.pdf>. Acesso em: 21
jun. 2017.
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LIDERANÇA APLICADA, DESENVOLVIMENTO HUMANO, ALTA PRODUTIVIDADE, METAS OKR E REMUNERAÇÃO VARIÁVEL
APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Rodrigo Giacomazzi (Senai-PR); [email protected] Rodrigo Santana Xavier de Oliveira
Resumo: A partir da ramificação da matriz de Eisenhower, que auxiliará na priorização dos
documentos, a proposta é implementar o plano de desenvolvimento humano e
organizacional com ranking para as pessoas com os respectivos percentuais de atingimento
e aplicação das ferramentas do guia, atrelados às categorias: implementação do Guia, alta
produtividade, atingimento de metas OKR, melhor liderança aplicada, remuneração variável.
O ranking dos profissionais reconhecidos ficará disponível on-line no site Goldplanner
fomentando assim a competitividade e o reconhecimento profissional. A utilização das
ferramentas que contém o material de apoio com 46 planos fundamentais: conceitos,
estratégias, planilhas, ideias, avaliações, calendários, documentos, que têm como propósito
alavancar a vida profissional dos líderes de construção. A aplicação do método propõe
desenvolver um planejador de ouro na prática do dia a dia de obras, capacitando um líder
sábio, produtivo, com foco em resultado, o qual serve de inspiração e engajamento para o
time de obra. A aplicação da totalidade do Guia, desafia e implica no reconhecimento do
gerente de obras através do simbolismo da premiação. Trata-se de um reconhecimento
divulgado on-line e desta forma é trabalhado o empoderamento do gestor da empresa, o
qual busca o seu próprio desenvolvimento humano e organizacional, combatendo sintomas
de ansiedade, desengajamento e sentimento de péssima qualidade de vida.
Palavras chave: Liderança aplicada. Remuneração variável. Alta produtividade. Metas OKR. Método Goldplanner. Desenvolvimento humano e organizacional.
1 INTRODUÇÃO
A Deloitte Insights constatou, em 2015, que apenas 13% dos colaboradores
estão realmente engajados nas empresas que atuam e 60% dos gestores de
Recursos Humanos dizem não possuir programas adequados para medir e melhorar
o engajamento dos funcionários nas empresas onde atuam. (DELOITTE INSIGHTS,
2015).
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Uma pesquisa de 2016 da Gallup descobriu que apenas 18% dos gerentes
demonstram um alto nível de talento para gerenciar pessoas, o que significa que
82% dos gerentes não são muito bons em liderar pessoas.
Em janeiro de 2018, a Gallup publicou um estudo dizendo que 85% dos colaborado-
res nos Estados Unidos não se sentem engajados com seus empregos. Ainda em 2018,
uma pesquisa com mais de 500 empresas constatou que 49% das empresas no Brasil não
medem o engajamento de seus colaboradores (Panorama Engajamento Brasil, 2018).
Destacam-se como sintomas típicos nas organizações decorrentes da má gestão
de liderança nos canteiros de obras, os seguintes:
• Ausência de metas claras, desalinhamento, pouca colaboração entre setores;
• Falta de comprometimento, desmotivação, insubordinação, desvios de condu-
ta;
• Conflitos internos;
• Mau-humor, ansiedade, sentimento de péssima qualidade de vida;
• Zona de conforto instaurada;
• Retrabalhos constantes e alto índice de reclamação dos clientes;
• Atrasos, má-qualidade no produto, aumento de custos operacionais;
• Aumento de número de processos jurídicos.
Peter Senge (2013) questiona: “Você realmente quer passar o resto de sua
vida em um estado de medo do fracasso?” A tragédia é que muitas pessoas que se
deixam envolver na manipulação de conflitos passam a acreditar que só podem ter
sucesso em um estado de ansiedade e medo contínuos.
Os problemas como a força de vontade são muitos e dificilmente podem ser nota-
dos naqueles que se concentram somente no sucesso. Primeiro, há pouca economia de
meios, agimos sem alavancagem, aquele movimento em que uma ação assertiva em deter-
minado ponto do sistema elimina uma série de problemas e atinge rapidamente a meta. As
metas são concretizadas, mas o esforço é enorme, e talvez, encontremos exaustos e nos
perguntando se valeu a pena, quando por fim, somos bem-sucedidos. O conflito estrutural
resulta em profundas crenças subjacentes, então só poderá ser modificado se alterarmos
essas crenças. Elas se desenvolvem desde cedo aos dois anos “não pode”, “não faça”, para
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a maioria as crenças mudam à medida eu desenvolvemos nosso domínio pessoal. Mas,
este domínio não se desenvolverá se tivermos essas crenças que nos tiram o poder, e as
crenças só serão alteradas quando experimentarmos o domínio pessoal.
Para o estudo em questão vale a pena citar Inamori, da Kyocera que diz que quan-
do está concentrado, penetra na mente subconsciente. Foi dito que os seres humanos pos-
suem uma mente consciente e uma subconsciente, que tem uma capacidade dez vezes
maior que a primeira.
O termo “subconsciente” é sugestivo porque deixa implícito que ele funciona “abai-
xo” ou “por trás” do nível de consciência. Há quem a chame de “inconsciente”, ou “mente
automática”. Seja como for, sem esta dimensão das nossas mentes seria praticamente im-
possível explicar como seres humanos conseguem dominar qualquer tarefa complexa.
Fará parte deste artigo apresentar quais são as estratégias para um administrador
alavancar mais ainda seu negócio, aplicar fortemente a gestão de pessoas, processos e de
resultados.
Também faz parte deste artigo, discorrer sobre os obstáculos ou crenças que nos
impedem ou afastam de nosso atingimento de metas traçadas, mostram aspectos
comportamentais, psicológicos que afetam fortemente a realização da meta determinada
anteriormente, isso tem efeito direto quando se trata de uma implementação de liderança
com engajamento do time e busca de resultado, tais crenças impedem mesmo de se buscar
uma meta a ser atingida. Outro ponto discorrido é a transformação sistemática de uma
vontade concretizada em realidade, isso passará pela formulação de todo o gerenciamento
contemplando os elementos e as ferramentas gerenciais a serem utilizadas desde a
concepção até a execução do plano proposto.
2 DESENVOLVIMENTO
Dentro do campo da motivação humana destacam-se Abraham Maslow, Fredereck
Herzberg e David McClelland. (CHIAVENATO, 2000, p. 392).
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Figura 1: Hierarquia das necessidades Fonte: adaptado de Perlard, 2011
Necessidades de autorrealização
Necessidades secundárias
Necessidade de estima
Necessidade social
Necessidades de segurança
Necessidades fisiológicas
Necessidades primárias
.
Segundo Maslow (citado por Perlard, 2011) as necessidades fisiológicas
constituem o nível mais baixo conforme os níveis foram organizados por ele, numa
hierarquia de importância e de influenciação. As necessidades humanas assumem
formas e expressões que variam conforme o indivíduo. Sua intensidade e
manifestações são variadas.
1. Somente quando o nível inferior de necessidades está satisfeito é que o nível
mais elevado surge no comportamento da pessoa.
2. Nem todas as pessoas conseguem chegar ao topo da pirâmide de necessi-
dades, algumas chegam a se preocupar com as necessidades de autorrealização;
outras estacionam nas necessidades de estima; outras ainda nas necessidades so-
ciais, enquanto muitas outras ficam preocupadas exclusivamente com a necessida-
de de segurança e fisiológicas, sem que consigam satisfazê-las adequadamente.
3. Quando uma necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta
a predominar o comportamento, enquanto gerar tensão no organismo.
4. Cada pessoa sempre tem mais de uma motivação e todos os níveis atuam
conjuntamente no organismo.
5. Toda necessidade está relacionada com o estado de satisfação ou insatisfa-
ção de outras necessidades.
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6. A frustração ou possibilidade de frustração da satisfação de certas necessi-
dades passa a ser considerada ameaça psicológica. Produz reações gerais de
emergência no comportamento humano.
3 TEORIA DAS DECISÕES
Nasceu com Herbert Simon que a utilizou como base para explicar o comportamen-
to humano nas organizações. A teoria comportamental concebe a organização como um
sistema de decisões, participa racional e conscientemente, escolhendo e tomando decisões
individuais a respeito de alternativas racionais de comportamento. Assim a organização está
permeada de decisões e de ações. (CHIAVENATO, 2000. p. 416).
Para a teoria comportamental não é somente o administrador que toma as deci-
sões, mas todas as pessoas na organização, em todas as áreas e situações continuam a
tomar decisões relacionadas ou não com o seu trabalho, sendo a organização um complexo
sistema de decisões.
O comportamento humano nas organizações é visualizado da mesma maneira pe-
las várias teorias da Administração, segundo Chiavenato (2000, p. 416):
c) Teoria Comportamental: os indivíduos participantes da organização percebem, racio-
cinam, agem racionalmente e decidem a sua participação ou a não-participação na
organização como tomadores de opinião e decisão e solucionadores de problemas.
Os processos de percepção das situações e o raciocínio são básicos para a expli-
cação do comportamento humano nas organizações. Por exemplo: o que uma pessoa apre-
cia e deseja pode influenciar outra pessoa a ver e a interpretar, assim como influenciar ou-
tras pessoas. Em outros termos, as pessoas são processadoras de informações, criadores
de opinião e tomadores de decisão.
A teoria dos dois fatores de Herzberg (citado por CHIAVENATO, 2000, p. 396) ex-
plica o comportamento das pessoas em situação de trabalho, pontuam fatores higiênicos ou
extrínsecos, pois localizam-se no ambiente que rodeia as pessoas e abrangem as condições
dentro das quais elas desempenham seu trabalho. Constituem salário, benefício social, tipo
de tratativa recebida pelos superiores hierarquicamente, políticas e diretrizes da empresa,
clima de relacionamento entre empresa e funcionários, regimentos internos. São fatores de
contexto e se situam no ambiente externo que circunda o indivíduo.
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Tradicionalmente apenas os fatores higiênicos eram usados na motivação dos em-
pregados, o trabalho era desagradável e para fazer com que as pessoas trabalhassem mais,
apelava-se para prêmios e incentivos salariais, supervisão, políticas empresariais abertas e
estimuladores, incentivos situados externamente ao indivíduo em troca do seu trabalho. As
pesquisas de Herzberg revelaram que esses fatores apenas evitam a insatisfação dos em-
pregados e se elevam a satisfação não conseguem sustenta-la por muito tempo. Chama-se
de higiênicos por serem profiláticos e preventivos pois apenas evitam a insatisfação, mas
não provocam a satisfação. São chamados de fatores insatisfacientes. (CHIAVENATO,
2000, p. 396).
O outro fator definido por Herzberg são os fatores emocionais, ou fatores intrínse-
cos, estão ligados ao conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que a pessoa execu-
ta. Estes estão sob o controle do indivíduo pois estão relacionados com aquilo que ele faz e
desempenha, envolvem os sentimentos, reconhecimento profissional e autorrealização, e
dependem de tarefas que o indivíduo realiza no seu trabalho. Os cargos e as tarefas histori-
camente eram arranjados e definidos com a preocupação de atender aos princípios de efici-
ência e economia, eliminando o desafio e a criatividade individual. Perdiam o significado
psicológico para o indivíduo que os executa e cria um efeito de “desmotivação”, apatia, de-
sinteresse e falta de sentido psicológico. Por estarem relacionados com a satisfação dos
indivíduos, Herzberg nomeou de fatores satisfacientes. (CHIAVENATO, 2000).
Fonte: CHIAVENATO (2000, p. 399). Quadro 1: Fatores motivacionais e fatores higiênicos Fatores motivacionais (satisfacientes)
Fatores higiênicos (insatisfacientes)
Conteúdo do Cargo (Como a pessoa se sente em relação ao seu cargo)
(Como a pessoa se sente em relação a empresa)
1. Trabalho em si 2. Realização 3. Reconhecimento 4. Progresso profissional 5. Responsabilidade
1. As condições de trabalho 2. Administração da empresa 3. Salário 4. Relações com o supervisor 5. Benefícios e serviços sociais
Para proporcionar continuamente motivação no trabalho, Herzberg propõe o
“enriquecimento de tarefas” ou “enriquecimento do cargo” que consiste em substituir
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tarefas simples por tarefas mais complexas para acompanhar o crescimento
individual e cada empregado, oferecendo-lhe condições de desafio e de satisfação
profissional no cargo. As terias de motivação de Maslow e Herzberg apresentam
pontos de concordância. Os fatores higiênicos de Herzberg relacionam-se com as
necessidades primárias de Maslow (fisiológicas e de segurança, incluindo algumas
necessidades sociais), enquanto fatores motivacionais relacionam-se com as
necessidades secundárias (necessidades de estima e autorrealização.
(CHIAVENATO, 2000). O quadro a seguir apresenta uma ideia da correspondência.
A análise e um processo, às vezes, complexo de entender o significado das infor-
mações disponíveis. (FALCONI, 2009)
Para a boa compreensão vale lembrar que o simples é mais poderoso e mais eficiente que o
complicado.
Segundo Calloway (2014) a simplicidade permite que as pessoas se
mantenham focadas e mostrem a mesma visão, as mesmas prioridades, o mesmo
objetivo e que todos se ovam em direção a eles. Há uma força inacreditável na
simplicidade e a prioridade mais importante é determinar o que mais importa ao
tema em questão, sob esta mesma ótica é importante definir qual é o problema
central: desengajamento, desalinhamento, baixa produtividade, não atingimento dos
indicadores. A análise de causa pode indicar vários pontos, tais como a ausência de
clareza nas metas estratégicas, a falha da gestão de liderança, a inexistência de um
modelo de gestão com remuneração variável.
É alarmante e medido neste ano de 2018 que 49% das empresas no Brasil não
medem o engajamento de seus colaboradores (Panorama Engajamento Brasil, 2018).
Apenas 36% dos projetos atingem os custos e prazos de planejados (Chaos Re-
port). Alavancar a sua vida pessoal e profissional, através do guia Goldplanner que tem co-
mo missão desenvolver um planejador de ouro na prática, um líder sábio, altamente produti-
vo com foco em resultado; serve de inspiração, engajando o time de produção, como uma
poderosa ferramenta para desenvolvimento humano e gerencial de obras/produção na práti-
ca. A mudança organizacional começa pela mudança pessoal, os líderes precisam rever
seus valores e seu comportamento, alinhar seus interesses com a arquitetura da organiza-
ção. Trata-se da gestão de pessoas com avaliação da satisfação humana, engajamento,
reconhecimento, feed-back, um plano completo de desenvolvimento para evolução pessoal
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e profissional. O uso do método reduz os sentimentos de ansiedade, confusão e desmotiva-
ção, combatendo a improdutividade e superando as metas planejadas.
Pode ser um agente externo, um cenário de crise política como é muito comum, in-
flação, redução da oferta de empregos, alto índice de demissões na iniciativa privada; quais
demais fatores influenciam para o atingimento da meta.
Para determinar algo, observa-se que projetos bem-sucedidos começam com uma
visão compartilhada, são desenvolvidos por meio de comunicação aberta e são entregues
sem surpresas. O fato é que, em geral, muitas pessoas não têm o histórico na facilitação no
atendimento visando descobrir as necessidades críticas de cada empreendimento e alinhar
a solução adequada. A chave está em ouvir o desejo dos clientes com a maior atenção e
solicitude possível, tudo gira em torno disso. (CALLOWAY, 2014).
Lembrando que o problema é um resultado indesejável. Uma forma moderna de se
esclarecer e identificar o problema é atuar com a responsabilidade de um gerente o qual tem
que levantar, priorizar e resolver os problemas de sua área de responsabilidade, ou seja,
tem que gerenciar, aplicar conhecimentos de gerenciamento, garantindo que os processos
que apoiam suas operações sejam estáveis e confiáveis. (FALCONI, 2009).
A própria introdução por si mesma torna-se uma análise:
Figura 4: Fases da informação
Fonte: FALCONI (2009).
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A partir da informação pode-se obter a extração de conhecimento e novos
resultados, tais como:
1. METAS: cada nível de organização precisa estabelecer metas que traduzam
as necessidades da organização.
2. PROJETO: a estrutura da organização, os processos e as operações preci-
sam incluir componentes necessários e configurados de tal forma a permitir
que as metas sejam alcançadas.
3. GERENCIAMENTO: cada um dos três níveis exige método que garanta que
as metas sejam atuais e estejam atingidas.
Por isso sempre aconselhamos que as organizações observem o comportamento
de seus colaboradores, qual é o nível de engajamento destes e se há conhecimento com
clareza dos objetivos que as lideranças traçaram para suas equipes, se estes objetivos
estão congruentes com os objetivos estratégicos da empresa.
Para isso é preciso investir em conhecimento aplicado hoje, pensando em usufruir
no futuro próximo, de médio prazo. São uma gama de ferramentas aplicadas através do uso
de um método simples e eficaz para qualificar e desenvolver os líderes da organização e
todo seu time, com resultados expressivos os quais podem ser explícitos resumidamente
por este autor.
A ideia neste artigo é discorrer um caso aplicado de como uma empresa consegue
saltar de 36% de produtividade de suas equipes de produção para uma alta produtividade
de 82% um ganho real de produtividade da ordem de 46% da produção global da empresa e
quais foram os demais ganhos com a implementação do método chamado Goldplanner, o
planejador de ouro, um conjunto de ferramentas aplicadas na construção civil e estruturadas
em uma sequência para desenvolver as lideranças em busca da sabedoria pelo resultado da
organização. (https://goldplanner.com.br).
O cenário de crise sócio econômico atual em que as construtoras estão inseridas,
com baixa nas vendas de imóveis, redução das incorporações imobiliárias, alto índice de
desemprego no país, tudo isso faz com que as empresas busquem a melhorar sua eficácia,
engajando o trabalhador em busca de uma produtividade diferenciada, ou seja, menos
recursos para realizar os processos sejam eles administrativos ou operacionais em campo.
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Remete-se a uma ótima arquitetura em busca do chamado PDEHO Plano de
Desenvolvimento para Evolução Humana e Organizacional.
São quatro fundamentos para o ciclo de alta produtividade: liderança, método OKR,
projetos para a evolução, sistemas de informação inteligentes. Estes vetores se somam
formando uma força maior caracterizada por uma gama de diretrizes capazes de combater
sintomas relatados neste documento: ausência de OKR, desmotivação, insubordinação, alta
rotatividade, ansiedade, desvios de conduta, não atingimento das metas estratégicas,
desperdícios, alto custo de improdutividade, processos trabalhistas, retrabalhos constantes,
reclamação dos clientes, volume alto de manutenções corretivas e processos jurídicos
constantes.
Figura 5: Fundamentos para o ciclo de alta produtividade
Fonte: os autores.
Podem representar um ganho significativo para a companhia, tornando-se bem
eficazes, uma vez que há números que mostram a redução de 80% de seu custo de
improdutividade, número expressivo, no qual o recurso economizado é direcionado para
investimentos em novos negócios no setor de incorporações e vendas.
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Figura 6: Ciclo do Goldplanner na prática.
Fonte: <https://goldplanner.com.br>
A matriz de Eisenhower foi utilizada para a classificação de atividades como
importantes e urgentes, importantes não-urgentes, não-importantes e não urgentes e serve
de base de gestão de tempo até os dias atuais. Segundo Dwight Einsenhower, que foi
presidente dos Estados Unidos da América entre 1953 e 1961, a priorização das atividades
é uma atividade de fundamental importância ao gestor, pois trata-se do momento em que
ele organiza as ferramentas a serem utilizadas no dia a dia para determinado objetivo e
desta forma consegue utilizar menor número de horas gastas para realizar determinada
atividade, projeto ou processo, isto poupa tempo e é altamente benéfico pois retira o stress
e a ansiedade no momento em que o gestor consegue passar para o papel um série de
atividades guardadas na sua memória. A classificação pelo nível de importância segue a
máxima da competição por medalhas onde o nível mais elevado é o ouro (1º lugar), o
intermediário a prata (2º lugar) e depois o bronze (3º lugar); as atividades, projetos e
processos são separados em ações de agendar, fazer já e delegar (Figura 7, a seguir)
respectivamente, auxiliando a administração de tempo. Existe um apelo pela
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competitividade e espírito de ganha-ganha quando se propõe esta associação ao símbolo
medalha, que remete a fazer por merecer.
Figura 7: Desenvolvimento Humano e Organizacional, Método Goldplanner.
Fonte: <https://goldplanner.com.br>
Além dessa ramificação do estudo de Eisenhower, onde auxiliará na priorização
dos documentos, a proposta é implementar o plano de desenvolvimento humano e
organizacional com ranking para as pessoas com os respectivos percentuais de atingimento
e aplicação das ferramentas do guia, atrelados às categorias: implementação do Guia
Goldplanner, alta produtividade, atingimento de metas OKR, melhor liderança aplicada,
remuneração variável. O ranking dos profissionais reconhecidos ficará disponível on-line no
site (https://goldplanner.com.br), fomentando assim a competitividade e o reconhecimento
profissional, sujeitos a reavaliação com periodicidade anual.
É importante a utilização das ferramentas contidas no guia, a figura anterior dá uma
ideia da relevância, um material de apoio que contém uma sequência com 46 planos funda-
mentais: conceitos, estratégias, planilhas, ideias, avaliações, calendários, documentos, que
têm como propósito alavancar a vida profissional dos líderes de construção. A aplicação do
método propõe desenvolver um planejador de ouro na prática do dia a dia de obras, capaci-
tando um líder sábio, produtivo, com foco em resultado, o qual serve de inspiração e enga-
jamento para o time de obra. A aplicação da totalidade do Guia, desafia e implica no reco-
nhecimento do gerente de obras através do simbolismo da premiação, na categoria imple-
mentação do Guia Golplanner, por exemplo: para a implantação completa das ferramentas
na prática e apresentação de resultados com o atingimento de 100% das metas traçadas,
impacta na medalha de ouro (1º lugar), para o atingimento de 90%, a medalha de prata (2º
lugar) e para o atingimento de 80%, o gestor recebe a medalha de bronze (3º lugar). Trata-
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se de um reconhecimento divulgado on-line e desta forma se trabalha o empoderamento do
gestor da empresa, o qual busca o seu próprio desenvolvimento humano e organizacional,
combatendo sintomas de ansiedade, desengajamento e sentimento de péssima qualidade
de vida.
A aplicação dos conhecimentos ali propostos busca também reduzir sentimentos de
ansiedade, confusão e desmotivação, citados por Herzberg e Maslow combatendo desta
forma a improdutividade, superando metas traçadas. O Método é o apoio aos gestores de
empresas e líderes de produção e a melhor parte disso é que esse método foi desenvolvido
após inúmeras observações, depoimentos de profissionais experientes no âmbito de produ-
ção e de manutenção no canteiro de construção civil, foram inúmeras reuniões, algumas
foram bem sucedidas e outros nem tanto assim, mas serviram para retroalimentar o proces-
so de aprendizagem e melhoria contínua propostos; além do sistema de remuneração variá-
vel (ver Gráfico 1), uma alavancagem forte foi a implementação do sistema de medição utili-
zado pelo Google chamado OKR (Objectives and Key-results, objetivos e resultados chave),
onde tornou-se visível e mensurável o desempenho de cada um dos gestores e de suas
equipes, medidos semanalmente ou mensalmente dependendo do KPI (Key Project Indica-
tor - indicador de projeto) o qual estava sendo monitorado.
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Figura 8: Sequência contendo 46 documentos da relação do Método Goldplanner
Fonte: <https://goldplanner.com.br>
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Para melhor elucidar a remuneração variável dos colaboradores da produção, tem-se o
contexto a seguir:
• O colaborador trabalha as 44 Horas semanais e 220 horas mensais conforme a legislação, tra-
balhados 176 Horas mensais + 44 Horas mensais de DSR (descanso semanal remunerado) que ocor-
re aos domingos, considerando 30 dias no mês, divide-se 220 horas ao mês / 30 dias = 7,33 horas ao
dia;
• Multiplica-se 0,3333333 por 60 min = 0,199999 = 0,20 minutos (arredondamento)
Soma-se 7 horas + 0,20 min = 7 horas e 20 minutos ao dia
Multiplicar 20 minutos por 30 dias = 600 minutos
Dividir 600 minutos por 60min/hora = 10 horas cheias
Multiplicar 7 horas x 30 dias = 210 horas
Somar 210 horas + 10 horas cheias = 220 horas mensais.
• Exemplo vale para mês com 30 dias, há variação nestas horas totais conforme o mês.
• Para motivar o colaborador a produzir todos os serviços a serem executados têm suas Horas
(Homem-hora) respectivas e devem ser descritas nas LVS (lista de verificação de serviço). O líder de-
ve buscar 100% de produtivos no mês (acima de 220Hh), ou seja, a somatória dos serviços individuais
deve ser no mínimo igual a 220 Hh. Desta forma o colaborador produziu sem improdutividade. (figura
24 GRÁFICO DO REGIME NORMAL X REGIME DE GRATIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO, O AUTOR)
• Quando a somatória de horas dos serviços ultrapassar as 220Hh há a passagem para o siste-
ma de gratificação sendo que as horas devem ser registradas no apontamento de mão de obra sema-
nal pelo gerenciador. Gratificação de produção = Horas Produzidas - Horas pagas referente ao
período produtivo
• Horas produzidas é calculado por meio de medição das a-
tividades executados pelo colaborador no canteiro da obra. O gestor mede diariamente cada atividade
nominalmente no sistema.
• Período produtivo é o período em que o colaborador de-
senvolve suas atividades em canteiro.
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Gráfico 1: Regime Normal X Regime de Gratificação da Produção
Fonte: <https://goldplanner.com.br>
No gráfico anterior, pode-se observar que no dia 14 do mês o colaborador atingiu
220 horas ou 220 Hh medidas pelo somatório de suas atividades no período produtivo,
desta maneira, passou do regime normal para o regime de Gratificação de Produção.
Há muito tempo já se falava com relação à remuneração que para Adams e
Jacobsen (1964), necessita ser translucida na informação relacionada ao incentivo e
remuneração, de forma que não haja distorções em seu contexto, os autores
denominaram esse evento de dissonância cognitiva. Esse fato abrange de como as
pessoas observam a diferenciação entre o esforço e a recompensa, esse fenômeno
acaba sendo determinante ao resultado da pessoa, se a mesma acredita estar
ganhando pouco pela execução do seu trabalho ela acaba equilibrando o esforço
que desprende para atividade exercida, com isso acaba trabalhando menos para
compensar essa defasagem.
Sistema de produção com remuneração variável incorporado ao engajamento do
operário possibilita alavancagens e inserções positivas na realização da atividade fim, a
estruturação da remuneração abrange todo ciclo do trabalho executado, proporcionando a
qualidade estabelecida e exigida pelos steakholders, um dos diferenciais dos sistemas de
remuneração variável e a responsabilidade compartilhada na confecção do produto, mesmo
que todo o processo seja sequenciado até obter um produto final a metodologia e
desenvolvida define o início e fim das atividades procurando estabelecer padrões de entrega
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das etapas, a definição de início e fim do processo é determinado pelos gestores, que serão
conhecedores do sistema goldplanner.
O sistema consiste em remunerar todo o trabalho, ou seja, determinar valores a
todos os serviços que serão executados, os valores poderão ser determinados pelo
orçamento e transformados em índices por m². O processo facilita o controle dos trabalhos
que estão sendo executados.
Pode-se também determinar valores menores na composição dos índices, fazendo
com que o atrativo se torne a remuneração variável, ou seja, inserir menores valores no m²,
em contrapartida liberar trabalho em massa, isso faz com que os colaboradores consigam
atingir patamares maiores e ser superior a trabalhadores que são remunerados fixamente.
Outro fator que a remuneração variável possibilita e o próprio avanço técnico do
operário executor, que por iniciativa própria desenvolverá técnicas para um melhor
aproveitamento do seu tempo e consequentemente uma melhor produtividade fazendo com
que seu ganho financeiro seja maior, podemos levar em consideração também e o formato
que o operário se insere nas etapas de trabalho, ele mesmo acaba fazendo seu próprio
planejamento determinando uma melhor direção.
Os procedimentos são estruturados de forma que seja possível fechar todo o ciclo
do trabalho mantendo em uma sequência correta, uma das ferramentas que atribuímos
dentro de todo o contexto é um formulário de simples analise contido na ferramenta
goldplanner onde o próprio colaborador possa analisar seu trabalho de forma mais assertiva,
esse formulário detém todos os parâmetros que devem ser analisados para a correta
finalização, onde o colaborador faz a analise primaria, passando para o mestre de obras e
por fim o gestor do processo com o termino de todo o processo formulário acaba tornando
em uma moeda de troca onde atribuem valores financeiros ao trabalho.
O sistema e aferido diariamente, fechado mensalmente e pago semestralmente
como prêmio por produção onde não incide encargos sociais no excedente produtivo. Esse
formato possibilita o operário a se engajar ao sistema de produção, onde o próprio
colaborador mesmo pode ser beneficiado financeiramente pelo trabalho executado e esforço
desprendido individualmente, a dependência de obter resultados acabará sendo dividida
entre todos os integrantes fazendo com que cada um se responsabilize pelos trabalhos em
execução, outro fator determinante para o sucesso do processo, é a forma de gestão da
engenharia, e liderança onde o goldplanner é munido de ferramentas de apoio e suporte
para a gestão.
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4 CONCLUSÃO
Por tudo que se precede, o objetivo deste artigo é basicamente alavancar a vida
profissional dos líderes de construção e desenvolver o estudo para que o administrador de
obra consiga aplicar ferramentas e planos aplicados na prática; também proporcionar conti-
nuamente a motivação no trabalho, para acompanhar o crescimento individual e cada em-
pregado, oferecendo-lhe condições de desafio e de satisfação profissional no cargo.
Estrutura-se a questão emocional de Herzberg (citado por CHIAVENATO, 2000, p.
396) como sendo diretamente ligado ao desempenho individual e está relacionado com
aquilo que ele faz e desempenha, envolvem os sentimentos, reconhecimento profissional e
autorrealização, e dependem de tarefas que o indivíduo realiza no seu trabalho; quando o
assunto é gestão de pessoas, isto demanda mudanças comportamentais e principalmente
discorrendo-se dos estudos coorporativos, da teoria da administração, dos estudos de com-
paração dos modelos de motivação de Maslow e de Herzberg, os quais são muito oportunos
pois entendemos as necessidades que movem as pessoas e quais são elas sucintamente.
Toda necessidade está relacionada com o estado de satisfação ou insatisfação de outras
necessidades. Para proporcionar continuamente motivação no trabalho, Herzberg (citado
por CHIAVENATO, 2000, p. 396) propõe o “enriquecimento de tarefas” ou “enriquecimento
do cargo” que consiste em substituir tarefas simples por tarefas mais complexas para acom-
panhar o crescimento individual e cada empregado, oferecendo-lhe condições de desafio e
de satisfação profissional no cargo.
Uma forma moderna de se esclarecer e identificar o problema é atuar com a res-
ponsabilidade de um gerente o qual tem que levantar, priorizar e resolver os problemas de
sua área de responsabilidade, ou seja, tem que gerenciar, aplicar conhecimentos de geren-
ciamento, garantindo que os processos que apoiam suas operações sejam estáveis e confi-
áveis. (FALCONI, 2009).
Propõe-se intrínseco à utilização do método Goldplanner de desenvolvimento ge-
rencial, com a implementação de um conjunto de ferramentas aplicadas na construção civil
e estruturadas em uma sequência para desenvolver as lideranças em busca da sabedoria
pelo resultado da organização, para a formação de um planejador de ouro, utilizando-se do
conceito de múltiplas ferramentas para atingir um ganho real de produtividade da ordem de
46% da produção global da empresa.
O foco na arquitetura de remuneração variável da produção, como fator que ala-
vancará a produtividade de um patamar para outro mais elevado. A estruturação do orça-
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mento completo com todas as atividades e as horas necessárias para a execução dos traba-
lhos serve de base de aplicação.
Sob a mesma ótica de Calloway (2014) é importante definir qual é o problema cen-
tral: desengajamento, desalinhamento, baixa produtividade, não atingimento dos indicado-
res. A análise de causa pode indicar vários pontos, tais como a ausência de clareza nas
metas estratégicas, a falha da gestão de liderança, a inexistência de um modelo de gestão
com remuneração variável. É alarmante o que foi medido neste ano de 2018, que 49% das
empresas no Brasil não medem o engajamento de seus colaboradores. Apenas 36% dos
projetos atingem os custos e os prazos dos planos planejados.
Eisenhower e sua matriz são elementos de estudo para a classificação criada pelo
autor que auxilia o gestor a determinar os planos a serem utilizados pelo nível de importân-
cia segue a máxima da competição por medalhas onde o nível mais elevado é o ouro (1º
lugar), o intermediário a prata (2º lugar) e depois o bronze (3º lugar); as atividades, projetos
e processos são separados em ações de agendar, fazer já e delegar respectivamente, auxi-
liando a administração de tempo. Desta maneira, fomenta-se a competitividade e espírito de
ganha-ganha quando se propõe esta associação ao símbolo medalha, que remete a fazer
por merecer. Além desta ramificação do estudo de Eisenhower, onde auxiliará na prioriza-
ção dos documentos, a proposta é implementar o plano de desenvolvimento humano e or-
ganizacional com ranking de medalhas para as pessoas com os respectivos percentuais de
atingimento e aplicação das ferramentas do guia, atrelados às categorias: implementação do
Guia Goldplanner, alta produtividade, atingimento de metas OKR, melhor liderança aplicada,
remuneração variável. O ranking dos profissionais reconhecidos ficará disponível on-line no
site Goldplanner fomentando assim a competitividade e o reconhecimento profissional.
A aplicação do método propõe desenvolver um planejador de ouro na prática do dia
a dia de obras, capacitando um líder sábio, produtivo, com foco em resultado, o qual serve
de inspiração e engajamento para o time de obra. A aplicação da totalidade do Guia, desafia
e implica no reconhecimento do gerente de obras através do simbolismo da premiação. Tra-
ta-se de um reconhecimento divulgado on-line e desta forma se trabalha o empoderamento
do gestor da empresa, o qual busca o seu próprio desenvolvimento humano e organizacio-
nal, combatendo sintomas de ansiedade, desengajamento e sentimento de péssima quali-
dade de vida.
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