ANÁLISE DAS FERRAMENTAS LEAN APLICADAS EM … · 2 Entretanto, carece no estudo de Perozini et al....
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ANÁLISE DAS FERRAMENTAS LEAN
APLICADAS EM PUBLICAÇÕES NO
AMBIENTE DO AGRONEGÓCIO E SEU
USO POR EMPRESAS
AGROINDUSTRIAIS LOCALIZADAS NA
REGIÃO DA ALTA PAULISTA /SP
Eduardo Guilherme Satolo
Pedro Henrique Perozini
Robisom Damasceno Calado
O sistema Lean Production é reconhecido como uma abordagem
administrativa associada a minimização e ou eliminação constante dos
desperdícios que afetam o sistema de produção. A implantação ocorre
por meio ferramentas que auxiliam múltiplos setores da organização.
Embora disseminado conceitualmente e aplicado em diversos setores
da economia, são escassas as publicações no setor do agronegócio.
Desta forma, este artigo analisar se as ferramentas do sistema Lean
Production aplicadas em publicações no ambiente do agronegócio são
semelhantes a realidade de empresas agroindustriais localizadas na
região da Alta Paulista /SP. Para atingir a proposta conduziram-se
estudos de caso do tipo múltiplo, de abordagem descritiva. Para a
construção do roteiro de entrevista identificou-se ferramentas Lean
empregadas em publicações de congressos e periódicos associadas a
setores do agronegócio. Este roteiro de entrevista foi aplicado em
quatro agroindústrias da região da Alta Paulista/SP, juntamente a
observação in loco, e a análise documental. A análise concluiu que há
divergência entre as ferramentas Lean empregadas pelas Unidades de
Pesquisa, quando comparadas com as citadas na literatura. Esta
divergência corrobora com Karim e Arif-Uz-Zaman (2013), que
afirmam que a escolha e seleção das ferramentas Lean dependem
especificamente do ambiente organizacional e dos objetivos de
melhoria traçados.
Palavras-chave: Lean Production, Agronegócio, Alta Paulista, Estudo
de Caso Múltiplo
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
1
1. Introdução
Com o objetivo de alinharem seus preços ou se distinguirem da concorrência, muitas
organizações adotam estratégias de diferenciação em suas operações. Para isso, a filosofia Lean
assume como uma revolução que tem o potencial de se consolidar nos planejamentos
estratégicos das empresas, de manter as organizações no mercado e de melhorar sua capacidade
produtiva (BEHOUZE, 2010; WONG, 2010).
O Lean Production (Lean Manufacturing ou Produção Enxuta) surgiu no Japão na crise pós-
guerra (1950) e foi disseminado devido aos resultados alcançados pela empresa automobilística
Toyota (BHAMU; SANGWAN, 2014).
Entretanto, o segmento do agronegócio ou agribusiness é objeto de escassas abordagens ou
permanece oculto nas publicações quando associados ao sistema Lean Production.
Gunderson et al. (2014) afirmam que o ambiente competitivo do agronegócio o torna singular,
por suas características distintas aos demais setores, e pelas especificidades de produção e de
comercialização únicas. Além disso, o faz distinto por lidar diretamente com matérias-primas
e produtos processados de alta perecibilidade, somando sazonalidades que interferem na
demanda e no consumo, e pela constante vigilância e zelo pela qualidade, entre outros aspectos.
Batalha e Silva (2008) destacam que grande parte das ferramentas modernas de gestão foram
desenvolvidas para outros setores que não o agroindustrial. Esta pode ser a razão pela qual há
dificuldades em se implantar as técnicas e ferramentas, aliadas a uma possível resistência por
parte dos estudiosos em adaptar, implantar e analisar o uso destas em ambientes agroindustriais.
Perozini et al. (2016) identificaram as publicações em congressos nacionais1 inerentes ao tema
Lean Production voltados ao setor do agronegócio. Tendo como base o período de 2005 a 2015,
identificou-se 518 publicações que abordam o Lean Production, das quais apenas 10 são
aplicadas ao agronegócio. Destes artigos, 8 apresentam aspecto metodológico aplicado e 2
aspecto conceitual.
Esta realidade não se apresenta distinta quando se analisa as publicações em periódicos. A
partir de uma busca junto ao metabuscador Portal de Periódicos Capes2 para o mesmo período
(2005 a 2015) identificam-se 18 artigos que associam a temática Lean Production ao setor do
agronegócio. Dos artigos, 17 apresentam aspecto metodológico aplicado e 2 aspecto conceitual.
1 Perozini et al. (2016) empregou os termos “Lean Production” OR “Lean Manufacturing” na busca junto aos
congressos ENEGEP, SIMPEP, SIMPOI, Congresso Lean e ICEIOM. 2 Empregou os termos ((“Lean Production” OR “Lean Manufacturing”) AND (agribusiness)), com o filtro de
artigos publicado em periódicos revisados por pares.
2
Entretanto, carece no estudo de Perozini et al. (2016) e para as publicações em periódicos
mapear as técnicas do Lean Production empregadas pelas organizações para a implementação
da filosofia enxuta.
Outro ponto, diz respeito se as práticas mapeadas nos estudos identificados são semelhantes
com a realidade das empresas agroindustriais da região da Alta Paulista/SP.
Por essa razão identifica-se a problemática de pesquisa deste trabalho: Há relação entre os
resultados obtidos nos artigos identificados sobre a aplicação do Sistema Lean Production no
ambiente do agronegócio com a realidade de empresas agroindustriais localizadas na região da
Alta Paulista /SP, no que se diz respeito as ferramentas do sistema Lean Production?
Com isso, o objetivo é analisar, por meio da condução de estudos de caso, se as ferramentas do
sistema Lean Production aplicadas em publicações no ambiente do agronegócio são
semelhantes a realidade de empresas agroindustriais localizadas na região da Alta Paulista /SP.
Para tanto este artigo apresenta-se divido em 4 seções além desta introdutória. A segunda seção
apresenta a estrutura do método de pesquisa, embasando as etapas da revisão de literatura,
apresentada na seção 3 e dos resultados e discussão da coleta de dados, redigidos na seção 4.
Na seção 5 destacam-se as conclusões do trabalho com indicativos de oportunidades futuras.
2. Método de Pesquisa
Para atingir a proposta conduziram-se estudos de caso do tipo múltiplo, de abordagem
descritiva, pois fornece subsídios para o refinamento da teoria (FORZA, 2002). Para contribuir
na confiabilidade dos dados coletados (LEWIS, 1998), emprega-se nesta pesquisa a entrevista,
a observação in loco, e a análise documental.
Para seu emprego tomou-se por base Yin (2013) o qual divide um estudo de caso em cinco
etapas. A primeira etapa trata do desenvolvimento da teoria, seção 3 deste artigo, que abordará
de modo breve o conceito sobre sistema Lean Production e aprofundará na determinação das
ferramentas do sistema Lean Production que foram empregadas nos artigos científicos
identificados por Perozini et al. (2016) nos congressos nacionais e pelos autores deste artigo no
metabuscador Portal de Periódicos Capes.
A segunda etapa, diz respeito ao roteiro para coleta dos dados, o qual foi elaborado tendo como
base a revisão conceitual. Este roteiro de pesquisa constituiu da identificação da Unidade de
Pesquisa e do levantamento sobre o emprego das ferramentas Lean. O uso das ferramentas Lean
baseou-se em uma escala de quatro pontos: não conhece; conhece mas não utiliza; utiliza sem
formalização e; utiliza formalmente.
3
A escolha dos casos, terceira etapa, baseou-se no interesse em relação ao fenômeno sob estudo
e às variáveis potencialmente relevantes. Para isso quatro Unidades de Pesquisa atuantes em
diferentes segmentos do agronegócio e localizadas na região da Alta Paulista, interior do estado
de São Paulo (Brasil), e cuja base econômica está centralizada na agricultura e pecuária.
Após a condução de cada estudo de caso, os mesmos foram transcritos por meio de um relatório
individual do caso (etapa 4) de forma a identificar a peculiaridade de cada unidade de pesquisa.
Por fim, foi elaborado um estudo comparativo dos casos (etapa 5), descrito na seção de
resultados desta pesquisa, que busca comparar e confrontar com a literatura, e propor
modificações ou complementações da teoria.
3. Sistema Lean Production
A ideologia do Lean em negócios (BHASIN, 2013) está associada a minimização e ou
eliminação constante dos desperdícios (em japonês - muda) que afetam o sistema de produção.
Os desperdícios (denominados “muda” em japonês) são classificados em sete tipos: excesso de
produção ou superprodução, espera, defeitos, transporte, movimentação, processamento
inapropriado e estoque (VINODH, 2013).
De acordo com Chiarini (2014), a implantação do sistema Lean Production nas organizações
está ligada diretamente com a utilização de ferramentas, nos quais são constantemente
analisadas por pesquisadores. Estas ferramentas devem ser implantadas de forma coordenada e
estruturada (PETTERSEN, 2009; CHIARINI, 2014). Feld (2001) acrescenta que é possível
agrupar as ferramentas em cinco grandes categorias (Figura 1).
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Feld (2001)
3.1. Publicações sobre Sistema Lean Production no agronegócio
4
Conforme destacado na seção de introdução, as publicações sobre sistema Lean Production no
agronegócio apresentam-se escassas em periódicos ou congressos. O levantamento efetuado
por Perozini et al. (2016) indicou para congressos um volume de 10 publicações e o
levantamento dos autores deste artigo para metabuscador Portal de Periódicos Capes, 17
publicações em periódicos.
A Tabela 1 sumariza os dados destes artigos, destacando autores, ano de publicação, natureza
da pesquisa e técnica de pesquisa, para os artigos publicados em congressos (identificados pela
letra C) e para artigos em periódicos (identificados pela letra P).
Tabela 1 - Autores e ano de publicação, natureza da pesquisa e técnica de pesquisa de cada artigo.
Fonte: Adaptado de Perozini et al (2016) e informações inseridas pelos autores deste artigo
Com o intuito de atender ao objetivo deste artigo se conduziu a análise das ferramentas Lean
empregadas pelos estudos de natureza de pesquisa aplicada e com característica empírica. Para
tanto, os artigos P16, P17, C5 e C8 foram retirados por não atender a este perfil.
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Tabela 2- Técnicas identificadas nos artigos que abordam a temática do sistema Lean Production no agronegócio
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados obtidos em pesquisa.
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Para os estudos levantados, nota-se que a frequência elevada na utilização de ferramentas Lean
(superior a 25%) estão associadas a identificação e coordenação do fluxo da manufatura
destacam-se quanto ao uso, citando-se mapeamento do fluxo de valor e fluxo contínuo (43,5%),
nivelamento da produção/heijunka (34,8%); gerenciamento da qualidade total e manutenção
produtiva total (30,4%) e kaizen (26,1%). Nota-se também o emprego de ferramentas Lean
associadas ao relacionamento com fornecedores e clientes, ao buscar o envolvimento dos
fornecedores (39,1%) e a busca pelo relacionamento de longo prazo com fornecedores e clientes
(30,4%).
Em uma faixa intermediária de utilização (10% a 24,9%) encontram-se predominantemente
ferramentas de controle do fluxo de produção, tais quais produção tempo de atravessamento
(lead time) (21,7%), just in time, kanban, produção puxada (pull), redução dos tempos
preparação (SMED), fluxo contínuo (17,4%), padronização do trabalho e manufatura celular
(13,0%). Visualiza-se o uso de ferramentas de gestão organizacional como sistema de
informação flexível (21,7%), eficácia geral de equipamentos (OEE) e compromisso total da
administração (13,0%)
Em uma faixa inferior de utilização (menor de 10%), tem-se ferramentas Lean para diversas
finalidades como autonomação/jidoka (8,7%), compras just in time (8,7%), funcionários
multifuncionais (8,7%), disposição da planta (layout) (8,7%), lotes de tamanho pequeno
(8,7%), tempo takt (8,7%), gestão visual (8,7%), engenharia simultânea (8,7%), envolvimento
dos clientes envolvimento dos clientes (4,3%), poka yoke envolvimento dos clientes (4,3%) e
simulação (4%)
O perfil heterogêneo de uso das ferramentas Lean na literatura corroboram com os indicativos
de Satolo et al. (2017) que destacam que as ferramentas a serem escolhidas e empregadas no
ambiente agroindustrial devem atender à necessidade organizacional de cada empresa e alinham
com Karim e Arif-Uz-Zaman (2013) que destacam que a seleção da técnica ou ferramenta
depende do processo de fabricação em específico de cada organização e que nem todas estas
podem ou servem para serem aplicadas em seus ambientes organizacionais.
4. Resultados e discussão da coleta de dados
A coleta de dados ocorreu no mês de abril de 2017 por meio de entrevistas com quatro
agroindústrias da região da Alta Paulista/SP. O perfil das Unidades de Pesquisa é apresentado
na Tabela 3.
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Tabela 3 - Perfil das agroindústrias entrevistadas
*Baseada na classificação do BNDES (2017).
Fonte: elaborado pelos autores com base
Nota-se que as empresas pesquisadas atuam em diferentes setores do agronegócio e estão
consolidadas no mercado com tempo de atuação superior a 10 anos, tendo o perfil de gestão
familiar. Quanto ao porte da organização, estas são distintas entre si, tendo microempresas a
empresas de grande porte.
Com relação ao emprego das ferramentas Lean a Tabela 4 sumariza os apontamentos de cada
Unidade de Pesquisa em função da escala determinada. A escala é representada por meio de
cores, conforme destaca a legenda: vermelho – não conhece; laranja – conhece, mas não utiliza;
amarelo - utiliza sem formalização; e verde – utiliza formalmente.
Com base na Tabela 4 destacam-se cinco ferramentas Lean utilizadas formalmente pelas
Unidades de Pesquisa, as quais são: manufatura celular, fluxo contínuo, funcionários
comprometidos, relacionamento a longo prazo com clientes e fornecedores, e total
compromisso da administração. Além disso, os conceitos de gerenciamento total da qualidade
e funcionários multifuncionais, também são aplicados em todas as organizações. Entretanto,
em alguns casos, a utilização ocorre sem formalização.
Tendo como base a classificação de Feld (2001) nota-se que as ferramentas empregas pelas
Unidades de Pesquisa não atendem a uma categoria em específico, mas distintas, como
organização e cultura, fluxo de manufatura e logística, indicando que o uso destas ferramentas
é para atender a necessidades específicas das organizações.
As ferramentas Lean lotes de tamanho pequeno, suavização da produção, eficácia geral dos
equipamentos, kanban e compra just in time, são conhecidas, mas não utilizadas por metade
das agroindústrias entrevistadas. Para as ferramentas kanban e compras just in time, estas são
desconhecidas pela outra metade das Unidades de Pesquisa. Além disso, os conceitos de 5S,
produção just in time, tempo takt e mapeamento do fluxo de valor são desconhecidos por 50%
8
das organizações entrevistadas. Este percentual é superior para as ferramentas Lean condução
do trabalho uniforme e manufatura celular, desconhecidos por 75% dos entrevistados.
Tabela 1 - Aplicação das ferramentas Lean nas pelas Unidades de Pesquisa
Fonte: elaborado pelos autores com base nos dados obtidos em entrevista e visita.
Este desconhecimento de um elevado número de ferramentas traz indícios da ausência de
colaboradores responsáveis e experiências na aplicação destes conceitos, e, por conseguinte de
uma cultura Lean nas Unidades de Pesquisa.
No entanto, é importante comparar se as ferramentas empregadas pelas Unidades de Pesquisa
(seja esta de modo formal ou informal) convergem ou divergem entre as identificadas na
literatura. Para tanto, na Tabela 5 destaca-se esta análise comparativa.
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Na primeira coluna tem-se as ferramentas Lean identificadas na literatura. Na segunda coluna,
apresenta-se os dados sobre os artigos, apresentando o quantitativo de artigos que utilizam
determinada ferramenta Lean e o porcentual relativo em função do total de 25 artigos
analisados. A terceira coluna, de modo análogo, traz o total de Unidades de pesquisa que
utilizam as ferramentas Lean e o porcentual relativo em função do total de quatro Unidades de
Pesquisa entrevistadas.
Tabela 5. Comparação ferramentas Lean identificadas nos artigos e as empregadas pelas Unidades de Pesquisa
Fonte: elaborado pelos autores com base nos dados obtidos na revisão de literatura e na coleta de dados
Em uma análise geral da Tabela 5, nota-se que há divergência entre as ferramentas Lean
indicadas pela literatura e o uso pelas Unidades de Pesquisa entrevistadas.
10
Tendo como base as ferramentas Lean que se encontram na faixa verde, ou seja, destacando-se
entre os artigos como ferramentas Lean com maior porcentual de utilização e as empregadas
pelas Unidades de Pesquisa de modo formal, nota-se que apenas três são comuns: fluxo
contínuo, gerenciamento da qualidade total e relacionamento de longo prazo com clientes e
fornecedores. Estas ferramentas destacam-se por estarem em categorias distintas na
classificação de Feld (2001), mas trazem o indicio de preocupação por parte das Unidades de
Pesquisa em estabelecer um relacionamento de longo prazo com seus fornecedores e clientes,
sendo que este está baseado na qualidade dos produtos comprados e vendidos.
Quanto as ferramentas Lean com porcentual superior de citação nos artigos, em comparação ao
seu emprego pelas Unidades de Pesquisa (Tabela 6), nota-se que com exceção das três
ferramentas supramencionadas como comuns, não há similaridade na aplicação das ferramentas
mapeamento do fluxo de valor, nivelamento da produção, kaizen e manutenção produtiva total.
O emprego destas ferramentas traz comumente as organizações a necessidade de ter
estabelecido uma cultura lean em seu ambiente organizacional, e a detenção de conhecimento
sobre ferramentas de complexidade superior, indicando um ponto de melhoria para as Unidades
de Pesquisa.
Tabela 6 - Comparação entre ferramentas Lean com porcentual superior de citação pelos artigos e o emprego
pelas Unidades de Pesquisa
Fonte: elaborado pelos autores com base nos dados obtidos em pesquisa.
De modo similar, conduziu-se a análise das ferramentas Lean com porcentual superior de
utilização pelas Unidades de Pesquisa em comparação ao porcentual de indicação nos artigos
(Tabela 7). Nesta análise inclui-se os porcentuais da faixa amarela, pois neste contemplam-se
o uso das ferramentas Lean, mesmo que esta ocorra de modo informal.
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Nota-se que há um uso 11 ferramentas Lean por parte das Unidades de Pesquisa, sendo que
destas sete ferramentas são utilizadas de modo formal por todas as Unidades, e quatro são
empregadas de modo informal por três Unidades de Pesquisa.
Destaca-se que, assim como na Tabela 6, há divergência entre as ferramentas Lean com
porcentual superior empregadas pelas Unidades de Pesquisa em relação as citadas na literatura.
Nota-se, que as Unidades de Pesquisa estão empregando, com uma superioridade do que se
relata na literatura, ferramentas Lean relacionadas a categoria de organização (FELD, 2001),
tais como: compromisso total da administração, funcionários multifuncionais, funcionários
comprometidos e sistema de informação flexível. Tal ponto reflete que embora haja indícios
sobre a ausência de uma cultura lean formal nas organizações estas buscam utilizar-se de
conceitos consolidados na gestão da organização.
Tabela 7 - Comparação entre as Aplicações mais Frequentes nas Empresas com a Ocorrência delas nos Artigos
Fonte: elaborado pelos autores com base nos dados obtidos em pesquisa.
Destaca-se, que quatro ferramentas, autonomação/jidoka, tempo de atravessamento (lead time),
redução dos tempos preparação (SMED) e disposição da planta (layout), que se encontram na
faixa inferior de citação pelos artigos, estão atreladas as categorias de fluxo de manufatura e
controle do processo. Isto demonstra a preocupação das Unidades em Pesquisa em melhorar o
ambiente de produção. Porém para estas ferramentas Lean (com exceção da autonomação)
carece a formalização de seu uso.
5. Conclusões
12
Este artigo objetivou analisar, por meio da condução de estudos de caso, se as ferramentas do
sistema Lean Production aplicadas nas publicações no ambiente do agronegócio são
semelhantes a realidade de empresas agroindustriais localizadas na região da Alta Paulista /SP.
Para tanto, identificou-se na literatura 28 publicações em periódicos e congressos entre de 2005
a 2015, que conduziam estudos sobre o sistema Lean Production no agronegócio. Destes 23
foram selecionados por serem aplicados, tendo sido detalhadas as ferramentas Lean utilizadas.
A análise concluiu que há divergência entre as ferramentas Lean com porcentual elevado de
emprego pelas Unidades de Pesquisa, quando comparadas com as de porcentual elevado citadas
na literatura.
Esta divergência corrobora com os apontamentos de Karim e Arif-Uz-Zaman (2013), que
afirmam que a escolha e seleção das ferramentas Lean dependem especificamente do ambiente
organizacional e dos objetivos de melhoria traçados.
Entretanto, há indícios que as ferramentas Lean empregadas pelas Unidades de Pesquisa se dão
pela necessidade de solução de problemas e não devido ao estabelecimento de uma cultura
Lean, e que conduziu a este processo de escolha das ferramentas. Desta forma, há por parte das
Unidades de Pesquisa entrevistada, um passo inicial a conduzir antes de implantação das
ferramentas Lean, que é o estabelecimento de uma cultura organizacional enxuta.
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