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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em Sistemas de Resfriamento Evaporativo DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA AUTOR: SORAYA DELMA OLIVEIRA ARAÚJO ORIENTADOR: ANA ROSA MENDES PRIMO CO-ORIENTADOR: JORGE RECARTE HENRÍQUEZ GUERRERO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Análise do Desempenho Térmico de Fibras

Vegetais em Sistemas de Resfriamento Evaporativo

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA

AUTOR: SORAYA DELMA OLIVEIRA ARAÚJO

ORIENTADOR: ANA ROSA MENDES PRIMO

CO-ORIENTADOR: JORGE RECARTE HENRÍQUEZ GUERRERO

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RECIFE, MARÇO DE 2006

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Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em Sistemas de Resfriamento

Evaporativo

SORAYA DELMA OLIVEIRA ARAÚJO

Dissertação apresentada ao Departamento de Engenharia Mecânica – UFPE, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica.

RECIFE, MARÇO DE 2006

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"A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes." Albert Einsten

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DEDICATÓRIA Aos meus pais, Dernival Oliveira e Maria Sônia de Souza, pela educação, apoio e exemplos de força e perseverança imprescindíveis na conquista das minhas realizações. Ao meu esposo, Roberto Gomes da Silva Araújo, que acompanhou toda esta jornada com paciência e confiança, cuidando sozinho dos nossos filhos com muita dedicação durante a minha ausência, tendo sempre a certeza de que os objetivos seriam alcançados. Aos meus filhos, Lucas, que sempre entendeu os meus momentos de ausência, e a Túlio, nascido durante o mestrado, fonte de ternura e alegria.

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AGRADECIMENTOS A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. A professora e orientadora Ana Rosa Mendes Primo, que sempre acreditou na minha responsabilidade. Aos professores Jorge Recarte Henríquez Guerrero, José Carlos Charamba, Fábio Santana Magnani e Ricardo Lessa Azevedo pelos valiosos ensinamentos imprescindíveis para a realização deste mestrado. Aos professores, funcionários, alunos e amigos do Departamento de Engenharia Mecânica e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica desta Universidade. Aos meus alunos Bruno Bezerra e João Crisóstomo, pelos auxílios computacionais. A FIBRACOCO pelo fornecimento das fibras de coco e sisal para os testes experimentais. A CAPES pelo suporte financeiro durante o período de realização deste trabalho.

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RESUMO

O resfriamento evaporativo opera usando processos de transferência de calor e massa, onde ar e água são fluidos de trabalho. A passagem de um fluxo de ar pelo painel evaporativo produz queda na temperatura da corrente de ar. O objetivo deste trabalho é avaliar experimentalmente o desempenho de fibras vegetais locais como enchimento de sistemas evaporativos. A bucha vegetal (Luffa Cylindrica), o sisal (Agave Sisalana Perrine, Amarilidaceae) e a fibra de coco (Cocos nucifera Linnaeus), foram escolhidas por apresentarem extensa área superficial, além de serem abundantes e de baixo custo. Como referência, foi testado um painel evaporativo comercial, à base de papel kraft e resina, importado e de alto custo. Um túnel foi projetado e construído para os testes. Os painéis evaporativos foram colocados em um módulo removível. O túnel é formado por dutos retangulares, composto de cinco módulos de 30cmx30cmx50cm, em chapa galvanizada, rebitada e isolada externamente com isopor. Um ventilador aspira ar externo através de um painel evaporativo, sobre o qual a água circula continuamente por uma bomba de 650 l/h. Um evaporador de um sistema compressivo foi adicionado na entrada do ar para baixar a umidade absoluta. Resistências elétricas de 1200 W e de 1000 W foram utilizadas para simular variações de temperatura e umidade relativa antes do painel evaporativo. Doze termopares tipo T foram usados no túnel. Temperaturas e umidades do ar foram registradas por um sistema de aquisição de dados. As velocidades do ar seco e úmido foram medidas através de um anemômetro de fio quente. Os resultados estão coerentes com dados experimentais de outros autores, mostrando que o sisal é tão eficiente quanto a luffa. Os testes com a fibra de coco são inéditos e indicam ser esse material bastante promissor como enchimento de sistemas evaporativos, com eficiência comparável ao sisal. Palavras chaves Engenharia mecânica; Sistemas Térmicos; Fibras Vegetais; Análise de desempenho; Resfriamento evaporativo; Sistemas de resfriamentos evaporativos.

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ABSTRACT

Evaporative cooling operates using processes of heat and mass transference between air and water. The air flow through an evaporative panel produces reduction in the temperature of the airflow. The objective of this work is to evaluate experimentally the performance of local fibres as pads for evaporative systems. Some fibers were chosen: vegetal bushing (Luffa Cylindrica), sisal (Agave Sisalana Perrine, Amarilidaceae) and fiber of coconut (Cocos Nucifera Linnaeus). Those fibers were chosen for presenting extensive superficial area, abundance and low cost. As reference, a commercial evaporative panel was tested, with structure of paper Kraft and resin (imported, with a high cost). In order to test several evaporatives pads, an existing tunnel section was improved for the tests. This tunnel was formed by rectangular ducts, made up of five modules of 30cmx30cmx50cm, in galvanized plate, rivetted and externally isolated. The evaporative panels were placed in a removable module. A fan forces external air through the evaporative test panel, on which water circulates continuously, pumped in a flow of 650 l/h. A compressive refrigeration system was added at the air intake of the tunnel, to reduce the absolute humidity. Two resistances, one of 1200 W and another one of 1000 W were used to simulate temperature and relative humidity variations before the evaporative panel. Twelve thermocouples type T were used in the tunnel. Temperature and humidity were registered by a data system. The air velocity (dry and humid air) was measured by a hot wire anemometer. The results are coherent with experimental data of other authors, showing that sisal is than efficient as luffa. Another tests with coconut fiber are unknown. However, the results of the present work indicate that it is a promising material to be used as pad of evaporative systems, with efficiency comparable to sisal.

Words keys Engineering mechanics; Thermal systems; Vegetal Staple fibres; Analysis of performance; Evaporative cooling; Systems of evaporative cooling.

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FIGURAS

Figura 1.1 – Troca de calor sensível e latente em uma interface gás-líquido 03

Figura 1.2 – Resfriador evaporativo direto (RED) 04

Figura 1.3 – Resfriador evaporativo indireto: (a) tipo placa, (b) tipo tubo 04

Figura 1.4 – Resfriador evaporativo tipo spray com circulação constante de água 05

Figura 1.5 – Resfriamento evaporativo direto 06

Figura 1.6 – Resfriamento evaporativo indireto 06

Figura 1.7 – Resfriamento evaporativo em dois estágios: indireto/direto 07

Figura 1.8 – Resfriamento evaporativo em três estágios 07

Figura 1.9 – Equipamentos do sistema de resfriamento evaporativo em três estágios

Figura 1.10a – Fibra de Sisal

Figura 1.10b – Bucha Vegetal

Figura 1.10c – Fibra de Coco

Figura 1.10d – Papel Kraft

08

09

09

09

09

Figura 2.1 – Enchimento comercial CELdek®5090-15

Figura 2.2 – Painel Fabricado com luffa egipicia

Figura 2.3 – Sistema compacto de túnel de vento usado para avaliar o desempenho de painel

evaporativo

11

12

13

Figura 3.1 – Diagrama Psicrométrico 22

Figura 4.1 – Modelo do Túnel de Teste 23

Figura 4.2 – Esquema da transferência de calor e massa da mistura de ar em um painel evaporativo

(PAD), com um sistema de recirculação de água. 24

Figura 4.3 – Enchimento comercial dentro do módulo de testes 25

Figura 4.4 – Anemômetro de fio quente 26

Figura 4.5 – Termopares tipo T 26

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Figura 4.6 – Bomba centrífuga (Better 650) 27

Figura 4.7 – Evaporador com Serpentinas 27

Figura 4.8 – Resistências no túnel 28

Figura 5.1 – Eficiência térmica em função da velocidade do ar 31

Figura 5.2 – Eficiência térmica em função da temperatura de bulbo seco 31

Figura 5.3 – Redução da temperatura em função da umidade relativa 32

Figura 5.4 – Curvas de temperatura do enchimento comercial 33

Figura 5.5 – Curvas de temperatura da fibra de coco 33

Figura 5.6 – Curvas de temperatura do sisal 33

Figura 5.7 – Curvas de temperatura da bucha vegetal 34

Figura 5.8 – Eficiência das fibras 34

Figura 6.1 – Esquema do volume de controle do enchimento 36

Figura 7.1 – Fluxograma da simulação numérica 39

Figura 7.2 – Eficiência do enchimento em função da velocidade do ar pós-enchimento 40

Figura 7.3 – Temperatura em função da posição do enchimento 40

Figura 7.4 – Umidade relativa em função da posição no enchimento 41

Figura 7.5 – Influência da velocidade do ar na efetividade

41

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NOMENCLATURA

A Área de seção transversal m2

As Área da superfície molhada do enchimento m2

Cpa calor específico a pressão constante do ar seco J/kg K

Cpv calor específico do vapor d’água saturado J/kg K

Cpma calor específico da mistura ar e vapor d’água J/kg K

hfg calor latente de vaporização J/kg

ma massa de ar seco kg

mv massa de vapor d’água kg

p pressão Pa

pv pressão de vapor Pa

pa pressão parcial do ar seco Pa

PvssT pressão de saturação de vapor Pa

Pswb pressão de saturação de vapor Pa

wP pressão parcial do vapor d´água Pa

T temperatura ºC

TBS temperatura de bulbo seco ºC

TBU, Twb temperatura de bulbo úmido ºC

W umidade absoluta kg v água/kgar seco

γ umidade relativa

V volume m3/h

v velocidade m/s

ν volume específico m3/kg

B valor termodinâmico da constante psicrométrica

Wbd depressão de bulbo úmido ºC

h entalpia J/kg

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ima entalpia da mistura J/kg

q taxa de transferência de calor W

hc coeficiente convectivo de transferência de calor W/m2 ºC

Nu Número de Nusselt (adimensional)

Re Número de Reynolds (adimensional)

Pr Número de Prandtl (adimensional)

Prs Número de Prandtl, na superfície (adimensional)

ε efetividade

R a constante de gás para o ar (adimensional)

B Constante psicrométrica (adimensional)

Δ inclinação na linha de pressão de saturação (adimensional)

Subscrito

a ar seco

wb bulbo úmido

dp ponto de orvalho

w condição de vapor de água

s condição de saturação

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SUMÁRIO

RESUMO viABSTRACT viiFIGURAS viiiNOMENCLATURA xSUMÁRIO xii

CAPÍTULO 1.0 – INTRODUÇÃO

01

1.1 – O Resfriamento Evaporativo 021.2 – Tipos de Resfriadores Evaporativos

1.2.1 – Efetividade 1.2.2 - Sistemas e Processos Psicrométricos

030506

1.3 – Tipos de Material de Enchimento–Viabilidade do Uso de Fibras Vegetais 081.4– Vantagens e Desvantagens do Resfriamento Evaporativo 091.5– Estrutura do Trabalho 10 CAPÍTULO 2.0 – REVISÃO DA LITERATURA 11 CAPÍTULO 3.0 – PSICROMETRIA

16

3.1 – Comentários Gerais 163.2 – Equações para Determinação das Propriedades Psicrométricas

3.2.1 – Pressão de Vapor Saturado 3.2.2 – Umidade Absoluta 3.2.3 – Volume Específico 3.2.4 – Umidade Relativa 3.2.5 – Temperatura de Ponto de Orvalho 3.2.6 – Temperatura de Bulbo Úmido 3.2.7 – Depressão de Bulbo Úmido 3.2.8 – Entalpia 3.2.9 – Calor Específico

16171718191919202020

3.3 – Carta psicrométrica 21 CAPÍTULO 4.0 – TÚNEL DE TESTE DO DESEMPENHO DE FIBRAS LOCAIS

23

4.1 – Descrição do Túnel 234.2 – Procedimentos e Instrumentação do Túnel 25 CAPÍTULO 5.0 – ANÁLISE EXPERIMENTAL

29

5.1 – Descrição dos Experimentos no Túnel 295.1.1 – Aferição dos termopares 5.1.2 – Metodologia Experimental

2930

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5.2 – Resultado dos Experimentos 30 7.1 – Resultados da simulação numérica 39 CAPÍTULO 8.0 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

42

8.1 – Conclusões 428.2 – Sugestões para trabalhos futuros 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44 ANEXO A – ANÁLISE DE ERROS

47

APÊNDICE A - CURVAS DE AFERIÇÃO DOS TERMOPARES APÊNDICE B – Registros da Estação Meteorológica do Aeroporto de Paulo Afonso – BA APÊNDICE C – Cidades brasileiras favoráveis ao sistema de resfriamento evaporativo

57

62

63

CAPÍTULO 6.0 – SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE UMA SEÇÃO DE ENCHIMENTO

35

6.1 – Modelo matemático 356.2 – Balanço de energia do ar úmido

6.2.1 – Conservação da massa CAPÍTULO 7.0 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3536

39

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CAPÍTULO 1.0

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos houve um crescimento da demanda energética, ao mesmo tempo em

que foi desenvolvida, entre vários setores da sociedade, uma crescente preocupação ambiental

a respeito dos danos causados pelos fluidos frigorígenos utilizados pelos sistemas de ar

condicionado à compressão. No Brasil, dentro do setor residencial, o maior filão de energia

elétrica são aparelhos de refrigeração e ar condicionado, que representam 33% do consumo

desse setor (Laar/UNB). Desta forma, a procura de sistemas de resfriamento que venham a

reduzir o consumo elétrico destinado a refrigeração reveste-se de grande importância para a

sociedade brasileira.

O resfriamento evaporativo opera usando processos de transferência de calor e massa,

onde o ar e água são fluídos de trabalho. Consiste, especificamente, na evaporação da água

induzida pela passagem de um fluxo de ar causando uma queda de temperatura.

O resfriamento evaporativo é econômico, eficiente e livre de poluição. O ambiente

climatizado torna-se confortável, principalmente em regiões de clima seco, assim sendo, o

resfriamento evaporativo pode ser uma alternativa econômica em muitos casos, podendo

substituir o sistema convencional sob inúmeras condições ou ser utilizado como pré-resfriador

no sistema convencional (Ver Apêndice C). Isso leva a uma minimização dos custos de

operação dos sistemas que utilizam apenas a refrigeração mecânica.

Na verdade, o homem já utiliza o resfriamento evaporativo há muito tempo. Gravuras

do antigo Egito (2500 A.C.) mostram escravos abanando jarros (de paredes porosas) com

água, para resfriar seu conteúdo. Isto é feito ainda hoje em dia nos filtros e bilhas de barro

cozido. Uma fração da água armazenada evapora através da parede do vaso, resfriando o

líquido remanescente. Na Roma antiga e na Idade Média, reservatórios de água com paredes

umidificadas foram utilizados. A genialidade de Leonardo da Vinci o levou a idealizar um

resfriador evaporativo em forma de roda d’água.

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Os sistemas de resfriamento evaporativo, apesar de utilizarem tecnologia

relativamente simples, são ainda muito pouco utilizados em regiões de clima tropical, como o

Brasil. A água em processo de evaporação consome o calor que está contido no ar. Ao

absorver este calor cedido pelo ar, o resultado é uma nova corrente de ar mais fria e úmida.

Esse processo a redução de temperatura depende da umidade relativa do ar.

O presente trabalho procura alternativas para a substituição do enchimento

convencional de sistemas evaporativos, caro e importado, por um enchimento de fibras

vegetais locais, visando diminuir os custos destes sistemas. Com esta finalidade foram

testadas a bucha vegetal (Luffa Cylindrica), o sisal (Agave Sisalana Perrine, Amarilidaceae) e

a fibra de coco (Cocos Nucifera, Linnaeus), escolhidas por apresentarem extensa área

superficial, além de serem abundantes no país e de baixo custo.

1.1 O Resfriamento Evaporativo

Uma importante aplicação da transferência de calor e massa é o processo de

resfriamento evaporativo, que ocorre quando um gás escoa sobre um líquido (Fig. 1.1). A

evaporação ocorre a partir da superfície do líquido. A energia associada com a mudança de

fase é o calor latente de vaporização do líquido. A evaporação ocorre quando as moléculas do

líquido próximas à superfície sofrem colisões que aumentam sua energia acima da necessária

para superar a energia de ligação na superfície. A energia necessária para manter a evaporação

vem da energia interna do líquido, que sofre então uma redução na temperatura (efeito do

resfriamento).

O ar atmosférico é uma mistura de ar seco e vapor de água. Para uma dada condição

de temperatura e pressão esta mistura tem capacidade de conter uma quantidade máxima de

vapor d’água (ar saturado = 100% de umidade relativa ou 100% UR). Na prática esta

condição de ar saturado só é observada durante e logo após uma chuva. Normalmente o ar

encontra-se insaturado (UR<100%) e, portanto, apto a absorver mais umidade.

Quanto mais seco o ar (menor UR), maior a quantidade de vapor de água que pode ser

absorvida (Costa, 2003) . Para que haja esta absorção é necessário que a água utilizada passe

da fase líquida para a fase vapor. Esta mudança de fase demanda uma quantidade de energia

que é retirada do meio, no caso o ar, resfriando-o. Existe um princípio básico nas reações

físico-químicas segundo o qual, quanto maior a superfície de contato entre os reagentes, maior

a velocidade da reação. Assim sendo, deve-se procurar aumentar a área de contato entre a

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água e o ar. Como o ar já se encontra diluído e ocupando todos os espaços disponíveis, resta a

água para ser dispersada.

Figura 1.1 – Troca de calor sensível e latente em uma interface gás-líquido (Incropera e De

Witt, 2002).

Os sistemas comerciais existentes para o uso do resfriamento evaporativo requerem

energia apenas para uma bomba de água e um ventilador. Alguns projetos fazem uso de um

compressor de ar na linha de suprimento de água que através de bicos aspersores pulveriza

água no ambiente a ser climatizado. A taxa de calor é aumentada ao forçar o movimento do ar

sobre uma superfície molhada para evaporação, ao utilizar ventiladores. Praticamente,

materiais porosos podem fornecer largas áreas de superfícies molhadas. O material poroso

pode ser molhado por um sistema de gotejamento ou spray de água, montado sobre o mesmo.

No mercado, os equipamentos utilizados para resfriamento evaporativo, usam um

material poroso a base de papel Kraft e resina, leve, compacto, porém de alto custo, na ordem

de U$ 200,00 o metro quadrado por 20 cm de espessura.

A motivação deste trabalho é procurar alternativas de materiais locais para operar

como painel evaporativo, em substituição ao material usado comercialmente.

1.2 Tipos de resfriadores evaporativos

Os equipamentos de resfriamento evaporativo podem ser de refrigeração evaporativa

direta (RED) ou de refrigeração evaporativa indireta (REI). Equipamentos de refrigeração

direta resfriam um gás por contato direto ou com uma superfície líquida ou com uma

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superfície sólida molhada ou, ainda, através de sprays. A Figura 1.2 mostra,

esquematicamente, um resfriador evaporativo direto. Neste equipamento, água é vaporizada

dentro da corrente de ar, e calor e massa transferidos entre o ar e a água reduzem a

temperatura de bulbo seco (TBS) do ar e aumentam sua umidade, mantendo constante a

entalpia (resfriamento adiabático). No RED não há resfriamento real (redução na entalpia) e a

mínima temperatura que se pode atingir é a de bulbo úmido do ar que entra no sistema.

É possível obter menores temperaturas de bulbo seco e bulbo úmido na saída mas,

para isso, a água recirculada que supre o equipamento deve ser resfriada anteriormente. O

arranjo reduz os custos de operação entre 25% a 40% quando comparado aos custos de

refrigeração mecânica somente (ASHRAE, 1993).

Figura 1.2 – Resfriador evaporativo direto (CAMARGO, 2003)

Um avanço na tecnologia do resfriamento evaporativo deve-se à introdução dos

equipamentos de resfriamento evaporativo indireto (REI), nos quais o ar, relativamente seco,

é mantido separado do ar do lado molhado, onde o líquido está sendo evaporado.

A Figura 1.3 mostra dois tipos de sistemas de resfriamento evaporativo indireto: tipo

placa (Figura 1.3a) e tipo tubo (Figura 1.3b).

No resfriador evaporativo indireto (REI), o ar que será utilizado para condicionar o

ambiente (ar primário) transfere calor para uma corrente de ar secundária ou para um líquido,

os quais foram resfriados evaporativamente. A entalpia do ar do lado seco é, assim, reduzida,

em contraste à redução adiabática de temperatura de um refrigerador evaporativo direto.

Água

Água

Aspersor de água

Ar quente Ar frio

Ventilador

Célula Evaporativa

Reservatório

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Figura 1.3 – Resfriador evaporativo indireto: (a) tipo placa, (b) tipo tubo (CAMARGO, 2003).

1.2.1.Efetividade

A efetividade ou eficiência de saturação (ε ) de um resfriador evaporativo direto é

definida como a taxa entre a queda real da temperatura de bulbo seco e a máxima queda

teórica que a TBS poderia ter se o resfriador fosse 100% eficiente e o ar saísse saturado. Neste

caso, a TBS na saída seria igual a TBU do ar na entrada (TRANE, 1978). A efetividade é

definida como:

(1.1)

onde os índices e e s correspondem à entrada e saída, respectivamente.

A Figura 1.4 ilustra o que ocorre com as temperaturas de bulbo seco (TBS), de bulbo

úmido (TBU) e de ponto de orvalho (TPO) quando o ar passa através de um resfriador

evaporativo direto.

Figura 1.4 – Resfriador evaporativo tipo spray com circulação constante de água

(CARMARGO et al. 2004).

A efetividade de um resfriador indireto (εd ) é função das temperaturas do ar primário

na entrada e saída e da temperatura da água(que é, teoricamente, a temperatura de saturação

do ar secundário). A efetividade é apresentada por Camargo e Ebinuma (2002) como sendo:

Ar secundário

ee

se

TBUTBSTBSTBS

−−

Ar primário

Ar secundário

Ar primário

(a) (b)

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(1.2)

onde εi é a efetividade da unidade indireta (ASHRAE, 1993) e os índices pe, ps e w

correspondem, respectivamente, à entrada do ar primário, à saída do ar primário e à

temperatura da água.

1.2.2 Sistemas e processos psicrométricos

A Figura 1.5 mostra, na carta psicrométrica, o processo que ocorre quando o ar passa

por um resfriador evaporativo direto ideal. A maioria dos novos resfriadores evaporativos

comerciais atingem cerca de 80% de saturação. Teoricamente o processo ocorre à entalpia

constante mas, num processo real, a entalpia sofre variação.

Figura 1.5 – Resfriamento evaporativo direto (CAMARGO, 2003)

A Figura 1.6 apresenta o processo para um resfriador evaporativo indireto. Sistemas de

resfriamento evaporativo indireto poupam entre 60% e 75% do custo total de operação

quando comparado ao da refrigeração mecânica para produzir o mesmo efeito de resfriamento

(ASHRAE, 1984).

De acordo com a definição de efetividade apresentada na Equação 1.2, a temperatura

de bulbo seco do ar primário na saída do estágio evaporativo indireto é dada por:

(1.3)

wpe

pspei TTBS

TBSTBS−

−=ε

Temperatura de bulbo seco (º C)

Resfriador Evaporativo Direto

)TTBS(TBSTBS wpeipeps −ε−=

Resfriador Evaporativo

Direto

Água

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Figura 1.6 – Resfriamento evaporativo indireto (CAMARGO, 2003).

Sistemas combinados podem envolver ambos os princípios de resfriamento: direto e

indireto. A Figura 1.7 mostra um RED acoplado a um REI e o respectivo processo

psicrométrico. Assim:

(1.4)

onde εd é a efetividade da unidade direta e os índices sd e si correspondem, respectivamente, à

saída do estágio direto e à saída do estágio indireto.

Figura 1.7 – Resfriamento evaporativo em dois estágios: indireto/direto (CAMARGO, 2003).

Quando somente o resfriamento evaporativo não é suficiente para atingir a condição

final desejada pode-se utilizar um estágio auxiliar com refrigeração mecânica por expansão

direta ou água gelada (resfriamento de apoio) e, assim, tem-se um sistema com três estágios:

indireto/refrigeração mecânica/direto. A Figura 1.8 ilustra esse sistema. Neste caso o processo

1-2 corresponde ao REI, o processo 2-3 corresponde à refrigeração mecânica (sistema por

compressão de vapor) e o processo 3-4 a um RED.

)( sdsidsisd TBUTBSTBSTBS −−= ε

Temperatura de bulbo seco (º C)Ar secundário

Ar primário

Temperatura de bulbo seco (º C)

Ar secundário

Ar primário

Resfriador Evaporativo indireto

Resfriador

Evaporativo indireto Água

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Figura 1.8 – Resfriamento evaporativo em três estágios (CAMARGO, 2003).

A Figura 1.9 mostra, esquematicamente, os equipamentos componentes de um

resfriador evaporativo de 3 estágios (indireto/apoio/direto) onde a serpentina do resfriamento

de apoio (auxiliar) está colocada antes da unidade direta.

Figura 1.9 – Equipamentos do sistema de resfriamento evaporativo em três estágios

(CAMARGO, 2003).

1.3 Tipos de Material de Enchimento: Viabilidade do Uso de Fibras Vegetais

Os materiais comumente empregados nos enchimentos dos resfriadores evaporativos

são a fibra de vidro, celulose impregnada com resina, polipropileno e fibra de madeira. O

enchimento, além de promover a evaporação da água pelo ar, também atua como um filtro.

Nesta dissertação, o enfoque é dado na avaliação de fibras locais a serem usadas como

painéis evaporativos, como mostra as Fig. 1.10a, 1.10b e 1.10c. As fibras escolhidas foram: a

bucha vegetal (Luffa Cylindrica), o sisal (Agave Sisalana Perrine, Amarilidaceae) e a fibra de

coco (Cocos nucifera, Linnaeus), devido às suas extensa área superficial, abundância e baixo

custo. Como referência, foi testado um painel evaporativo comercial, a base de papel Kraft e

Temperatura de bulbo seco (º C)

Ar secundário

Ar primário

REI RED

Água

1. Ventilador (corrente de ar primário) 2. Resfriador evaporativo indireto 3. Serpentina de resfriamento auxiliar 4. Resfriador evaporativo direto 5. Corrente de ar secundário Ar secundário

Ar externo Ar de insulflamento

Ar de exaustão

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resina (fig. 1.10d), considerado caro e importado, ao custo de U$ 200,00 o metro quadrado,

com 20 cm de espessura.

Figura 1.10a - Fibra de sisal Figura 1.10b – Bucha vegetal Figura 1.10c – Fibra de coco Figura 1.10d – Papel Kraft 1.4 Vantagens e Desvantagens do Resfriamento Evaporativo

Dentre as vantagens do sistema de resfriamento evaporativo pode-se citar:

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• Consumo de energia e custos operacionais cerca de 10% dos custos de um sistema

convencional de refrigeração por compressão mecânica;

• 100% de renovação do ar ambiente;

• O ar sendo umidificado na entrada do resfriador, proporciona uma alta qualidade

ao ambiente resfriado;

• Não produz o ressecamento gerado pelos sistemas de ar condicionado

convencional;

• Baixo custo de manutenção do sistema;

• Não agride a natureza.

Dentre as desvantagens, sabe-se que o alcance de redução de temperatura é limitado e

que não se consegue um bom desempenho quando a umidade do ar é alta.

1.5 Estrutura do trabalho

No primeiro capítulo é feita uma introdução sobre o resfriamento evaporativo, tipos de

resfriadores, vantagens e desvantagens do resfriamento evaporativo.

O segundo capítulo faz-se a revisão da literatura com os estudos sobre o resfriamento

evaporativo.

No terceiro capítulo mostra-se os princípios da psicrometria, além de apresentar a carta

psicrométrica.

No quarto descreve-se o túnel de teste das fibras, seus equipamentos e a

instrumentação envolvida.

O quinto capítulo é dedicado à descrição no experimento no túnel. São também

apresentados os resultados obtidos com as fibras de sisal, coco e luffa, tendo como referência

o pad comercial.

No sexto capítulo mostra-se as equações governantes utilizadas na simulação de uma

seção de enchimento.

No sétimo capítulo os resultados do experimento são apresentados e no capítulo oito

mostra-se a conclusão e sugestão para trabalhos futuros.

Page 25: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

23

CAPÍTULO 2.0

REVISÃO DA LITERATURA O enchimento dos painéis evaporativos comerciais foi desenvolvido pela Munters

(Munters, 2005), que é líder mundial em equipamentos para resfriamento evaporativo. É um

tipo de enchimento à base de papel kraft impregnado com resina, leve, com durabilidade de

dois anos e de extensa área superficial, como mostra a Fig. 2.1.

Figura 2.1 Enchimento comercial CELdek® 5090-15 (Munters, 2005).

Devido ao uso difundido do material usado como enchimento para painel evaporativo

correntemente no mercado, poucas informações estão disponíveis como alternativas para

enchimento, que tenham poros suficientes para conduzir um fluxo de ar livre e provocar o

efeito evaporativo.

Liao et al. (1998) sugeriram que enchimentos alternativos como esponjas de PVC,

fibras de juta, nylon, lenha de carvão, podem proporcionar uma área molhada de superfície

máxima para a passagem do fluxo de ar, com a ajuda de uma ventilação natural ou forçada e

chegar a uma eficiência de resfriamento por volta de 85%.

Camargo et al. (2000) apresentaram os princípios básicos do processo de resfriamento

evaporativo para conforto térmico humano, os princípios de operação para sistema de

resfriamento evaporativo direto durante o verão numa cidade brasileira e o desenvolvimento

matemático das equações de troca de calor, acompanhando a determinação da eficiência da

saturação. Eles também apresentaram os resultados de testes experimentais de um resfriador

evaporativo instalado no Laboratório de Ar Condicionado da Universidade de Taubaté, São

Paulo, Brasil, que foram usados para determinar o coeficiente convectivo de transferência de

calor e comparar com o modelo matemático.

Page 26: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

24

Abbas (2001) estudou extensivamente e testou o potencial da luffa como

enchimento para painel evaporativo. O material foi patenteado no Egito com o número

WO0179519, com o modelo proposto na Figura 2.2.

Figura 2.2 – Painel fabricado com luffa egipicia (Abbas, 2001).

Liao e Chiu (2002) desenvolveram um túnel compacto para simular o comportamento

de enchimentos de esponja de PVC, com poros de 2,5 mm e 7,5 mm como painéis

evaporativos. Foram examinados os efeitos da velocidade, vazão de água, queda de pressão

estática na passagem pelo enchimento e espessura do enchimento em função da eficiência. A

proposta do trabalho foi obter informações da influência da velocidade dos fluxos do ar e da

água sob a transferência de calor e massa para os processos evaporativos em relação a várias

espessuras de enchimentos e quantificar os efeitos dos enchimentos relacionados com a

eficiência na saturação, velocidade do ar na face e queda da pressão estática do ar ao

atravessar o enchimento. A eficiência do resfriamento para os enchimentos com poros de 7,5 mm apresentou as faixas de 63,88 a 64,77%, 80,50 a 81,68% e 81,75 a 86,32%,

respectivamente, para 50, 100 e 150 mm de espessura, operando nas velocidades de ar de 1,0

a 1,5 m/s. A eficiência do resfriamento para os enchimentos com poros de 2,5 mm apresentou

as faixas de 47,22 a 57,23%, 62,93 a 72,25% e 76,88 a 85,82%, respectivamente, para 50, 100

e 150 mm de espessura, operando abaixo da velocidade normal do ar. Um modelo matemático

para o sistema foi formulado baseado nas expressões dos balanços de calor e massa,

atravessando os enchimentos.

1) Tubulação de água 2) Saída de água 3) Filtro de resfriamento 4) Fluxo de água de cima para baixo 5) Espaço livre para escoamento da água

12

4

5 3

Page 27: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

25

Al-Sulaiman (2002) avaliou o desempenho de três fibras naturais da região da Arábia

Saudita a serem usadas como enchimento em sistemas de resfriamento evaporativo. As fibras

escolhidas foram: palma, juta e luffa. Ele tomou como referência um enchimento comercial à

base de aparas de madeira. O critério de desempenho inclui eficiência do resfriamento e

degradação do material, tais como deposição de sal e biodegradação. Os resultados mostraram

que a eficiência média de resfriamento das fibras de juta foi de 62,1%, comparada a 55,1%

para a da luffa, 49,9% para o enchimento comercial e de 38,9% para a palma.

Figura 2.3 – Sistema compacto de túnel de vento usado para avaliar o desempenho de painel evaporativo (AL-SULAIMAN, 2002).

Manzan e Saro (2002) investigaram numericamente o comportamento de um sistema

de ventilação de cobertura de telhados introduzida no mercado italiano, que consiste de um

duto com uma superfície molhada, acima da qual flui o ar externo. Foi descrito um modelo

apropriado dos componentes do telhado nas condições de operação. O modelo trabalhou com

a formulação das equações de Navier-Stokes: continuidade, momento e energia. O programa

comercial CFX 4.4 foi explorado para resolver as equações de Navier-Stokes e de transporte

de massa. Os resultados obtidos mostraram que o sistema é eficiente como proteção solar.

Descrição

1. Tela protetora 7.Variador de tensão 2. Defletor 8. Anemômetro de fio quente 3. Acoplamento 9.CR10 Micrologger 4. Módulo de teste 10. PC 5. Módulo de entrada de ar 11. Termopares 6. Ventilador 12. Reservatório

Page 28: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

26

Dai e Sumathy (2002) investigaram o desempenho de um sistema de resfriamento

evaporativo que usava como enchimento um painel de papel em formato de casa de abelhas.

Eles montaram um modelo matemático baseado inicialmente nas equações básicas para ar

úmido e para a queda da película líquida. Estudaram a importância do comprimento ótimo dos

canais de ar e qual a mínima temperatura do ar que poderia ser obtida, afirmando que este

comprimento está por volta dos 5 a 10 cm. Concluíram que o painel é leve e compacto e pode

perfeitamente agir como umidificador em regiões secas; sob condições típicas, ele pode

reduzir a temperatura do ar por volta de 9ºC e elevar a umidade relativa para valores próximos

a 50%.

Camargo et al. (2002) escreveram sobre sistemas de resfriamento evaporativo

acoplados a desumidificadores dessecantes. Essa tecnologia tem emergido como alternativa

ou como complemento aos sistemas convencionais de refrigeração por compressão à vapor. O

sistema utilizado é composto por um desumidificador dessecante rotativo acoplado a dois

resfriadores evaporativos direto e um indireto.

El-Dessouky et al. (2004) construiu e testou um equipamento experimental operando

com o sistema de resfriamento evaporativo em dois estágios. O sistema foi formado por uma

unidade de resfriamento evaporativo indireto seguida por uma unidade de resfriamento

evaporativo direto. O sistema foi operado durante o verão de uma região do Kuwait com

temperatura de bulbo seco acima de 45 ºC. O sistema foi testado em função da espessura do

enchimento e da vazão do fluxo de água da unidade do sistema direto. Outros parâmetros

incluíram a vazão do fluxo de água para a unidade do sistema indireto e a modalidade para

operar a troca de calor. Resultados mostraram que a eficiência dos sistemas conjuntos, direto

e indireto, varia dentro de uma faixa de 90 a 120%. No sistema indireto a eficiência varia por

vota de 20 a 40%; no sistema direto varia entre 63 a 93%.

Lima (2004) estudou o sistema de climatização com rotor adsortivo e rotor

degenerativo tendo como objetivo principal caracterizar a sua utilização em regiões de cliam

quente e úmido. Foi desenvolvido um modelo matemático utilizando o método das diferenças

finitas para simular o desempenho do referido sistema de climatização. Nas regiões de clima

tropical úmido foi verificada a necessidade de utilização de quatro rotores, sendo dois rotores

adsortivos e dois rotores regenerativos.

Tanobe et al. (2005) estudaram o comportamento físico da luffa cylindrica e

analisaram quimicamente a fibra com um tratamento de solução aquosa de NaOH 2%. O

tratamento não causou danos para as fibras e melhorou a durabilidade.

Barros (2005) criou uma bancada em forma de túnel para testar fibras naturais em

resfriamento evaporativo e comparou o rendimento com superfícies comerciais. A bancada

Page 29: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

27

foi instalada no Labtermo, da Universidade Federal de Pernambuco. O túnel foi concebido em

módulos, de modo a facilitar as medições, a adição de segmentos, a substituição de vários

tipos de enchimento e a própria montagem e desmontagem do sistema. Cada módulo

concebido possui uma função na alteração dos parâmetros psicrométricos. O primeiro é

responsável pela redução da umidade específica do ar, o segundo pelo aquecimento do ar, o

terceiro pela medição da temperatura e umidade relativa. Existe um quarto módulo vazio, o

quinto módulo é dedicado ao teste dos diferentes tipos de enchimento e o sexto módulo pela

medição da temperatura e umidade relativa. No final do túnel um exaustor axial é responsável

pela vazão de ar.

Page 30: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

28

CAPÍTULO 3.0

PSICROMETRIA 3.1 – Comentários Gerais

A Psicrometria é o estudo das propriedades do ar úmido, isto é, o estudo das

propriedades do ar quando este contém vapor d´água em sua composição. O estudo da

Psicrometria é um dos pilares de sustentação da análise e do entendimento dos processos de

manipulação do ar úmido (Moreira, 1999). O conhecimento dos processos de condensação e

evaporação da água no ar atmosférico é de fundamental importância em diversos campos

tecnológicos e científicos. As indústrias de papel, alimento e têxtil são alguns exemplos de

aplicação industrial. Armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, meteorologia e

sistemas de controle ambiental são outros campos onde a Psicrometria se faz presente. A

Psicrometria tem suas aplicações nas áreas da refrigeração, ventilação e condicionamento de

ar.

Conforme testemunho e narrativas bíblicas, além de fontes literárias do antigo oriente,

o homem de então já se aproveitava de alguns processos elementares da Psicrometria, mesmo

sem conhecê-los. Muros e tetos de edificações eram construídos de forma inclinada em

direção a sistemas de coleta de armazenamento da água que se condensava sobre suas

superfícies frias durante as noites. A perda de calor por radiação térmica para o espaço

mantinha a temperatura das superfícies abaixo da temperatura de orvalho, permitindo, assim,

a condensação de vapor de água contido no ar atmosférico.

3.2– Equações para determinação das propriedades pscicrométricas

Neste item serão apresentadas as equações necessárias à determinação das

propriedades psicrométricas (Singh et al., 2002).

Page 31: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

29

3.2.1 – Pressão de vapor saturado

A pressão de saturação de vapor d´água é uma parte essencial para os cálculos

psicrométricos. A equação para a pressão de vapor aqui apresentada foi calculada usando a

equação apresentada por Dilley (1968), a qual é simples e precisa (Eq. 3.1a). Esta equação foi

proposta para calcular a pressão de vapor saturado ( ) em Pascal (Pa) e foi adotada por ser

precisa para temperaturas com variações de 0 a 63 ºC. A expressão é dada por:

(0º C < T < 63.0ºC) e (610.78 Pa < wsP ou wP < 22870.52 Pa) (3.1a) Para temperaturas acima de 63 ºC, a seguinte equação é usada:

Pa) 143292,97Pou PPa (22870,52 e

C)110º TC(63º 1,01585T 236,3

17,269T exp 610,78 P

wws

Tws

<<

<<+

=

(3.1b)

Para temperaturas abaixo de 0 ºC, a seguinte relação é usada:

Pa) 12,838Pou PPa (610,78 e

C)40º - TCº (0 0,9615T 265

21,874T exp 610,78 P

wws

ws

>>

>>+

=

(3.1 c)

As equações acima calculam não somente a pressão de vapor saturado como função da

temperatura, mas também a temperatura como função da pressão de vapor saturado. As

equações acima não devem ser usadas fora dos limites declarados.

3.2.2– Umidade Absoluta

O massa do vapor d´água por massa de ar seco é dado por (em kg de vapor por kg de

ar seco):

]T237,3T 17,269[ exp 610,78 Pws +

=

wsP

Page 32: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

30

)(m secoar de Massa)(m água de vapor de Massa W

a

w=

Desde que os valores do Volume (V) e da Temperatura (T) são os mesmos para vapor d´água

e ar seco, e considerando-os como gás perfeito, pode-se escrever:

w

w

w

wwa

wa

aw

a

w

P - P0,62198P

)P - (P)PR/(R

RPRP

RT)/(PVRT)/(PV

W ====, (3.2)

Nesta equação, ( / ) é a razão das massas molares do ar ( ) e da água ( ), (0,62198).

A equação anterior pode ser reescrita para pressão de vapor parcial:

(3.3)

onde W é a umidade absoluta e P a pressão parcial. 3.2.3 – Volume Específico

É o espaço ocupado por uma dada massa de uma mistura de vapor-ar-água expressa

em m³ da mistura por kg de ar seco. Então, desde que:

273,16) (TRm VP aaaa +=

e

amV v =

Obtêm-se

w

a

a

aa

P - P273,16) 287,05(T

P273,16) (TRv +

=+

= (3.4a)

Substituindo o valor de wP da Eq. (3.3) na Eq. (3.4a) tem-se, Volume específico (3.4b)

W 0,62198PW Pw +

=

)0,62198

W1(P

273,16) 287,05(T

a

a ++

=

aR wR aR wR

Page 33: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

31

3.2.4 – Umidade Relativa

A taxa de pressão de vapor parcial para pressão de vapor saturado na mesma temperatura é dada por:

PP ws

w=γ (3.5)

3.2.5 – Temperatura de ponto de orvalho

A temperatura de ponto de orvalho pode ser calculada usando as equações de pressão

de vapor na saturação 3.1(a)-(c) e colocando o valor da pressão de vapor parcial ( ) ou

pressão de vapor na saturação na temperatura de ponto de orvalho. Neste exemplo, estas três

equações são requeridas para todas as variações de pressão. A característica marcante das

equações da pressão do vapor de saturação é que as mesmas equações podem ser usadas para

calcular a temperatura do ponto de orvalho.

3.2.6 – Temperatura de bulbo úmido

A temperatura de bulbo úmido ( ) pode ser estimada das seguintes relações psicrométricas conhecidas:

)T -B(T - TP P wawbsw = (3.6) e a aproximação

)T - (T P - P dpwbwTwbs Δ= (3.7) da Eqs. (3.6) e (3.7) têm-se

ou

)T - (T )T - B(T dpwbwba =

Δ+

Δ+=

BT BT

T dpaw

(3.8) Onde B, é o valor termodinâmico da constante psicrométrica dada por

(3.9)

sendo

h 0.62194)P)P/(0,15557 )](1(TP - 1006,925[P B

fg

wwbs +=

wbT

wP

Page 34: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

32

00273,16)]10 2,406(T - [3161,36 h wbfg += (3.10)

3.2.7 – Depressão do bulbo úmido

A depressão de bulbo úmido ( ) é a diferença entre as temperaturas de bulbo seco

e bulbo úmido, e pode ser aproximada como:

C)º 30–0 ,T (para ) - (10.9

5,1 01533T W a

abd γ

+=

(3.11a) e

C)º 110–0 ,T (para ) - (19.0

5.1 0,4355T W aa

bd γ+

= (3.11b)

bdawb1 W- T T =

Se 0.5) (T oconsiderad é T ,TT dpwb1 dpwb1 +< O parâmetroΔ pode ser estimado pela Eq. (3.7) substituindo por , que é dado como

dpwb1

wwb1s

T - TP - TP

=Δ (3.12)

Substituindo os valores de B e Δ na Eq. (3.8), pode ser estimado. torna-se

para a etapa seguinte para que B e Δ seja estimado e outra vez é substituído na Eq. (3.8). O

processo continua até que se alcance um valor constante de .

3.2.8 – Entalpia

É o índice de energia do vapor de ar-água em uma mistura. A entalpia do ar úmido pode ser dada como:

C)º 110 TCº (-50)1,77T W(2501 1,006Th

a

aa

≤≤++=

(3.13) 3.2.9 – Calor Específico

bdW

wb1T wbT

wbT

wbT wbT 1wbT

Page 35: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

33

As equações para determinação do calor específico aqui apresentadas foram mostradas

por Klopper e Kröger (2005). Todas as temperaturas são expressas em Kelvin.

O calor específico referido à massa do ar seco é dado pela combinação do calor

específico do ar seco, Cpa e do calor específico do vapor de água, Cpv, de acordo com

372413

pa 10705209,210083814,710161783,310045356,1c TxTxTxx −−− −+−= (3.14)

A pressão de vapor do vapor d´água saturado ( ) é dado por:

2zv m/N10p = (3.15)

Onde:

786118312,2]110[102873,4

]101[1050474,1)/16,273(5,02808log273,16/T)-10,79586(1z)/16.2731(76955.44

}1)16.273/{(29692.8410

+−+

+−++=−−

−−−

T

T

x

xT

O calor específico do vapor d´água saturado ( pvc ) é dado por:

6135103pv T10x91332,5T10x46784,2T31334,210x3605,1c −− +−+= (3.16)

O calor específico da mistura ar e vapor d água ( ) é dado por:

)wcc(c pvpapma += (3.17) A taxa de umidade é dada (w) por:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−−+

−−

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

−⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−−+

−−=

15,276(184,4)15,273(8577,16,2501)(00416,1

005,162509,0

)15,273(184,4)15,273(8577,16,2501)15,273(3263,26,2501

wb

wb

wb

vwb

wb

wb

TTTTx

xpp

pTT

Twa

(3.18)

onde vwbp é a pressão de vapor da equação (3.19) avaliada na temperatura de bulbo úmido. O calor específico do vapor d´água ( ) é dado por:

613223pw T10x17582,2T10x11283,5T10x80627,210x15599,8c −− −+−= (3.19)

3.3 Carta Psicrométrica

pmac

pwc

vp

Page 36: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

34

O diagrama psicrométrico, também chamado comumente de carta psicrométrica é um

gráfico que permite obter o traçado de diversos processos psicrométricos e a determinação dos

estados e propriedades do ar úmido. Sua construção está baseada no fato de que o estado

termodinâmico de uma mistura de dois gases, como o ar, é determinado por três propriedades

independentes. Assim, se uma das três propriedades for mantida constante, as duas outras

podem vir a formar os eixos de um gráfico no plano do papel, tal como ocorre com o

diagrama. Qualquer ponto sobre o gráfico definirá o estado da mistura. O uso do diagrama

psicrométrico é de grande importância na confirmação dos dados experimentais.

Figura 3.1 Diagramas psicrométrico

Temperatura de Bulbo Seco (º C)

Um

idad

e R

elat

iva

– w

(g/k

g de

ar s

eco)

Page 37: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

35

CAPÍTULO 4.0

TÚNEL DE TESTES DE DESEMPENHO DE FIBRAS LOCAIS

4.1 – Descrição do Túnel

Um sistema em forma de túnel foi construído para simular as condições do ar

atmosférico. O túnel foi construído em módulos conforme o esquema abaixo mostrado na

Figura 4.1 (Barros, 2005).

Figura 4.1 – Modelo do túnel de teste

No módulo 1 existe uma serpentina de resfriamento com capacidade de 18.000 Btu/h,

(dados do fabricante), onde o fluxo de ar é resfriado até uma temperatura inferior à sua

temperatura de orvalho, ocorrendo condensação de parte do vapor de água da mistura.

No módulo 2 foram instaladas duas resistências de aquecimento totalizando 2,5kW

disponível. Esta potência é regulada por um variador de tensão, modelo Variac 0-240 V, onde

é feito um aquecimento sensível, ou seja, calor é fornecido à corrente de ar sem, contudo,

incorrer em uma variação do teor de vapor de água na mistura. Trata-se, portanto, de um

processo com umidade absoluta constante. Um defletor foi usado para homogeneizar o ar de

entrada.

O módulo 3 é vazio para permitir introdução de outros instrumentos, caso necessário e

para melhorar as condições de escoamento do fluxo de ar.

Ventilador axial

Acoplamento

Módulo vazio

Resistências

Defletor

Termopares

Painel evaporativo

Serpentinas resfriamento

Fluxo

Page 38: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

36

No módulo 4 foram introduzidos sensores para medição de temperatura (termopares

tipo T), umidade relativa e velocidade. Dados de temperaturas e umidades foram registrados

através de sensores conectados ao equipamento DATATAKER, 605.

No módulo 5 foi montada uma porta removível para colocação e troca dos painéis

evaporativos feitos com as fibras. A entrada d’água é pelo topo do módulo e a água se

distribui uniformemente sobre o enchimento. A água coletada de um pequeno reservatório em

PVC é recirculada por uma bomba, modelo Better, de 650 l/h, conforme o esquema da Figura

4.2 (Liao e Chiu, 2002). O circuito é fechado para evitar vazamentos de água e ar.

Figura 4.2 – Esquema da transferência de calor e massa da mistura de ar em um painel

evaporativo (PAD), com um sistema de recirculação de água (Liao e Chiu,

2002).

No módulo 6 encontram-se mais sensores de temperatura, umidade relativa e

velocidade, para medições pós-painel evaporativo.

O módulo 7 é o acoplamento de uma seção quadrada para uma seção circular,

destinado à fixação do módulo 8.

No módulo 8 encontra-se o ventilador axial responsável pela vazão interna do túnel,

regulada por um variador de voltagem.

h1

ma1

mv1

T1

mv2

T2

ma2

h2

Fluxo de ar

Excesso de águaRetorna para o balde

Bomba

Flux

o de

águ

a

Superfície úmida (PAD)

Page 39: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

37

4.2 Procedimentos e Instrumentação do Túnel

O túnel foi instalado no laboratório do GET/DEMEC/UFPE (Grupo de Engenharia

Térmica do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPE).

Para início dos testes com as fibras foi feita uma avaliação preliminar. Cada fibra foi

pesada na condição de fibra seca e posteriormente na condição de fibra totalmente encharcada

de água. A massa da fibra seca e molhada e a capacidade de retenção de água, é mostrada na

Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Parâmetros Físicos das Fibras Selecionadas

Fibra

Velocidade (m/s)

Seca Molhada

Massa seca (g)

Massa saturada (g)

Água absorvida (g) Taxa de água absorvida(%)

Luffa 2,5 2,3 68,8 167,4 98,6 143,1 Sisal 2,5 2,3 105,2 251,43 146,23 139 Coco 2,5 2,3 98,9 180,98 82,08 82,99

PAD C 2,5 2,3 52,4 89,08 37,08 70

As fibras locais foram testadas no formato de uma almofada de 30 x 30 x 30 cm. A

Figura 4.3 mostra o módulo de colocação das fibras, com o enchimento comercial.

Figura 4.3 - Enchimento comercial dentro do módulo de testes

Page 40: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

38

As velocidades do ar, dentro e fora do túnel foram medidas antes e depois do

enchimento (pad), com um anemômetro de fio quente (modelo AIRFLOWTM TA4

LUFTECHNIK) mostrado pela Figura 4.4. As velocidades foram determinadas de uma média

de valores medidos em doze posições na secção transversal do canal: três medidas na lateral

(5 cm, 15 cm e 25 cm), e três na parte superior (5 cm, 10 cm e 15 cm) antes do enchimento

com as fibras e as outras seis, depois do enchimento, com a mesma disposição anteriormente

relatada.

Figura 4.4 – Anemômetro de fio quente

Todas as temperaturas foram medidas por meio de termopares tipo T (Figura 4.5),

conectados a um sistema de aquisição de dados tipo DATATAKER 605, série2, com

computador Pentium II, 266 MHz. Os termopares para medidas de temperatura de bulbo seco

foram dispostos em seis pontos do módulo: três pontos antes do enchimento e três pontos

depois, com espaçamentos de 5 cm na lateral. Em cada ponto foram instalados dois

termopares: um com 10 cm de altura da face superior e o outro a 20 cm. A temperatura de

bulbo úmido da sala foi medida através de um algodão molhado envolvendo um termopar tipo

T, conectado também ao DATATAKER.

Page 41: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

39

Figura 4.5 – Localização de termopares no túnel.

Durante o experimento, a água foi bombeada e recirculada com o auxílio de uma

bomba centrífuga, modelo Better 650 (Figura 4.6) através de tubos de 12 mm de diâmetro.

Figura 4.6 – Bomba centrífuga (Better 650). Os painéis evaporativos foram molhados durante 1 hora antes dos testes e operados

com velocidade média do ar de 0,5 m/s antes do enchimento, com o ventilador ligado a 40%

de sua capacidade, registrando uma velocidade média de 2,25 m/s, depois do enchimento.

Antes desta fase, foi ligado um evaporador com serpentinas de resfriamento de capacidade de

18.000 Btu/h, para reduzir a umidade específica do ar (Figura 4.7).

Page 42: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

40

Figura 4.7 – Evaporador com Serpentinas

Os painéis evaporativos eram molhados durante uma hora. A seguir ligavam-se as

resistências para aumentar a temperatura dentro do túnel. Os testes foram feitos com tensões

de 110 V e 220 V no equipamento Variac (Figura 4.8), o que indica temperaturas na ordem de

35 ºC e 50 ºC respectivamente.

Figura 4.8 – Resistências para aumento da temperatura do ar no túnel.

Page 43: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

41

CAPÍTULO 5.0

ANÁLISE EXPERIMENTAL

5.1 – Descrição dos Experimentos no Túnel Os experimentos foram desenvolvidos durante os meses de Novembro e Dezembro de

2005 no LABTERMO do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de

Pernambuco, localizado na cidade de Recife, Pernambuco, Brasil.

5.1.1 – Aferição dos termopares

Os termopares foram aferidos através da leitura conjunta de temperaturas no sistema

de aquisição de dados e em termômetros padrões.

Os termopares foram instalados nos módulos anteriores e posterior ao módulo das

fibras (ver Apêndice A). Uma extremidade de cada termopar foi conectada aos canais

analógicos do sistema de aquisição de dados, enquanto que a outra extremidade foi

mergulhada em água, que se encontrava armazenada em recipiente térmico isolado, submetido

a três diferentes condições: água com gelo (0 ºC), água a temperatura ambiente (25 ºC) e água

quente (70 ºC). Foram feitas 10 medições com intervalo de trinta segundos. Comparou-se a

média das medições de cada termopar no sistema de aquisição de dados com a média das

temperaturas lidas em termômetros padrões para cada condição de temperatura. Os dados

obtidos foram organizados em planilha do MS Excel para construção das curvas de aferição,

que geraram a Tabela 5.1 com as equações de correção para os termopares. A variável x

representa a temperatura registrada pelo termopar e y representa as temperaturas corrigidas,

ambas em ºC.

Page 44: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

42

Tabela 5.1 Equações de correção de termopares

Termopares Equações Coeficiente de Determinação

1 TT y = 0.9952x + 1.3287 R² = 0.9999 1-TT y = 0.982x + 1.3848 R² = 0.9978 2TT y = 0.9877x + 1.3884 R² = 0.9997 2-TT y = 0.9877x + 1.3884 R²= 0.9997 3TT y = 0.9986x + 0.8875 R² = 0.9999 4TT y = 0.9997x + 0.76 R² = 0.9999 5TT y = 0.9955x + 1.3377 R² = 0.9999 6 TT y = 0.9962x + 1.2904 R² = 0.9999 7TT y = 0.982x + 1.3848 R² = 0.9978 8 TT y = 0.9955x + 1.2539 R² = 0.9999 9TT y = 0.9963x + 1.331 R² = 0.9999 10TT y = 0.9937x + 1.5341 R² = 0.9999

No apêndice A encontram-se os resultados das curvas de aferição na forma gráfica.

5.1.2 – Metodologia Experimental

A metodologia de teste empregada consistiu de:

a) Pesar as fibras escolhidas;

b) Mergulhar a fibra escolhida em água, por 30 minutos;

c) Pesar a fibra encharcada de água;

d) Colocar a fibra no módulo de testes;

e) Acionamento do ar condicionado e do ventilador até que as leituras indicassem que o

regime permanente fora atingido, após 30 minutos do acionamento;

f) Acionamento das resistências;

g) Coleta de dados.

5.2 – Resultados dos Experimentos A avaliação dos desempenhos das fibras foi feita de acordo com o critério da

eficiência, baseada na seguinte fórmula:

(5.1) .sat.ent

saída.ent

TTTT

−−

Page 45: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

43

onde ε é a eficiência do resfriamento para fibras limpas, com ausência de impurezas, é a

temperatura de bulbo seco na entrada do módulo de testes, é a temperatura de bulbo seco

na saída do módulo de teste e é a temperatura de saturação na saída do módulo de testes.

A Figura 5.1 mostra a eficiência térmica calculada com os dados experimentais como

função das velocidades do ar obtidas na saída do enchimento de fibra de coco. A medida que

a velocidade é aumentada, a eficiência cai. Nesta figura é representada a velocidade média de

1,923 m/s e desvio padrão σ = 0,153 m/s. Nestas análises, as eficiências mostradas nas figuras

5.1 e 5.2 tiveram uma média de 39,94 % e incerteza de 6,82 %. Velocidades mais altas

diminuem o tempo de contato entre o ar e a superfície molhada. As velocidades foram

variadas através da mudança na rotação do ventilador. As demais fibras apresentaram o

mesmo comportamento.

25

30

35

40

45

50

55

1,6 1,7 1,8 1,9 2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5

Velocidade (m/s)

Efic

iênc

ia (%

)

Figura 5.1 – Eficiência térmica em função da velocidade do ar

A Figura 5.2 apresenta a eficiência térmica como função da temperatura externa de

bulbo seco. A temperatura média registrada foi de 40,334 ºC e desvio padrão σ = 0,981 ºC.

.satT

.entT

saídaT

Page 46: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

44

40

42

44

46

48

50

52

54

38 39 40 41 42

Temperatura(ºC)

Efic

iênc

ia (%

)

Figura 5.2 – Eficiência térmica em função da temperatura de bulbo seco

Como já era esperado, o resfriamento evaporativo é mais eficiente quando as

temperaturas são mais altas e em climas secos (Figura 5.3), sendo importante para o conforto

térmico ambiental (Ver Apêndice B). A umidade média analisada foi de aproximadamente

de 14,097 % com uma variabilidade medida pelo desvio padrão de aproximadamente

0,815%, correspondendo a uma redução de temperatura média de 11,703 ºC e desvio de

0,609 ºC.

Figura 5.3 – Redução da temperatura em função da umidade relativa

O desempenho térmico das fibras usadas no túnel de teste como painel evaporativo foi

estudado. Como um breve sumário, têm-se os seguintes resultados:

Com as resistências em 100V, que corresponde a uma temperatura média 38º C e

ventilador com 40% de sua capacidade, correspondendo a uma velocidade de 1,9 m/s, o

enchimento comercial teve o melhor desempenho térmico, 65,92%, com uma redução de

9

10

11

12

13

14

13.0 14.0 15.0 16.0Umidade relativa (%) R

eduç

ão d

e te

mpe

ratu

ra (º

C)

Page 47: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

45

temperatura de 11,38 °C e elevação da umidade de 26,27% para 90,09%; seguido da fibra

de coco, 52,24% de desempenho, redução de temperatura de 6,4 °C e elevação da

umidade de 36,03% para 84,32%; sisal, 44,93% de desempenho, redução de temperatura

de 4,59 °C e elevação da umidade de 36,42% para 84,9% e da luffa, 44,72% de

desempenho, redução de temperatura de 5,68 °C e elevação da umidade de 38,44% para

89,54% .

Nas figuras 5.4 a 5.7 estão apresentados os resultados dos testes com as fibras e

enchimento comercial.

Figura 5.4 - Curvas de temperatura do enchimento comercial

Figura 5.5 - Curvas de temperatura da fibra de coco

Enchimento Comercialv =1,9 m/s

Φe=26,27 % - Φs=90,09 %ΔT = 11,38 ºC

ε= 65,92 %

20 25 30 35 40 45 50

0 60

120

180

240

300

360

420

480

540

Tempo (s)

Tem

pera

tura

(ºC

)

tempertura média antes temperatura média depois

Fibra de coco v =0,45 m/s ΔT=1,83 º C

Φe=36,03% - Φs=84,32% ε= 52,24 %

20

25

30

35

40

45

50

0

60

120

180

240

300

360

420

480

540

Tempo (s)

Tem

pera

tura

(ºC

)

temperatura média antes temperatura média depois

Sisal v =0,85 m/sΦe=52,4% - Φs=92,19%

ε = 44,93 %

35 40 45 50

tura

(ºC

)

ΔT = 4,59 ºC

V=1,83 m/s Δt = 6,4 ºC

Page 48: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

46

Figura 5.6 - Curvas de temperatura do sisal

Figura 5.7 – Curvas de temperatura da bucha vegetal

Os dados experimentais para as eficiências das fibras em função da

temperatura de bulbo úmido do ambiente, são expostas na Figura 5.8 A figura mostra

claramente que para a mesma faixa de temperatura de bulbo úmido, o enchimento

comercial tem o melhor desempenho, seguido da fibra de coco, do sisal e da bucha

vegetal (luffa).

Bucha Vegetal (Luffa) v =0,4 m/s

Φe=38,44% - Φs=89,54%ε = 44,72 %

20 25 30 35 40 45 50

0 60

120

180

240

300

360

420

480

540

Tempo (s)

Tem

pera

tura

(ºC

)

temperatura média antes temperatura média depois

ΔT = 5,68 ºC

Eficiência de Resfriamento da Fibras em várias Temperaturas de Bulbo Úmido

(Ventilador 40%, Resistências 100 V)

354045505560657075

Tbw (ºC)

luffa

coco

Sisal

comercial

Page 49: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

47

Figura 5.8 – Eficiências das fibras comparadas ao enchimento comercial

Page 50: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

48

CAPÍTULO 6

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE UMA SEÇÃO DE ENCHIMENTO

6.1 Modelo matemático

O modelo matemático apresentado tem como objetivo quantificar alguns parâmetros

de sistemas de resfriamento evaporativo por painel de contato, como efetividade de

resfriamento e velocidade. Para isso apresenta-se uma modelagem da transferência de calor e

massa baseada em um balanço de massa e energia na corrente de ar que atravessa o painel

úmido.

Para simplificar a análise da transferência de calor e massa, algumas considerações

foram feitas:

a) O ar seco e vapor de água têm comportamento de gás ideal.

b) O ar é uma mistura de dois gases (ar seco e vapor de água).

c) As perdas de calor para o ambiente são desprezíveis, isto é, o processo é adiabático.

d) O processo ocorre em regime permanente.

e) A variação de energia cinética e potencial são negligenciáveis.

f) A água do sistema é continuamente recirculada.

6.2 Balanço de energia do ar úmido

As equações governantes incluem a conservação da massa e energia em um sistema de

resfriamento evaporativo por painel de contato. A figura 6.1 mostra o esquema do volume de

controle do enchimento. Neste capítulo m& w1 , refere-se a vazão mássica da água em Kg/s; m& a,

é a vazão mássica de ar seco em Kg/s; ha é a entalpia do ar seco em J/Kg de ar seco; W é a

umidade absoluta, em kg vapor água/kg ar seco; Tw é a temperatura da água, em ºC e T é a

temperatura do ar, em ºC.

Page 51: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

49

m& w1, Tw1 entrada saída

m& w2, Tw2

Fig. 6.1 Esquema do volume de controle do enchimento 6.2.1 Conservação da massa

Para o balanço de massa na corrente de ar, temos,

0mmmm 2w21w1 =−−+ &&&& (6.1)

Onde,

1v1a1 mmm += (6.2)

2v2a2 mmm +=&

a2a1a mmm ==&

(6.3)

(6.4)

Sabe-se que:

2v1v2w1w mmmm &&&& −=− (6.5)

Dividindo por “ ”

)ww(mdm 12aw −= (6.6)

Onde 1w e 2w são as umidades absolutas do ar na entrada e saída do painel, respectivamente:

wdm é a massa de água evaporada

T1, W1 T2, W2 m& a1, ha1 m& a2, ha2

am

Page 52: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

50

Para o balanço de energia do ar úmido, temos:

0Qdmh]hmhm[]hmhm[ w2vv2a2a1v1v1a1a =−++−+ (6.7)

Desenvolvendo a eq. (6.7):

0Qdmh)h)dmm(hm()hmhm( w2v1v2aa1v1v1aa =−++−+ 0Q)hh(dm)hh(m)hh(m 2vw2v1v1v2a1aa =−−+−+−

0Q)TT(dmc)TT(cm)TT(cm 2wPv21Pv1v21Paa =−−+−+−

Resulta em:

)TT(dmC)TT(cm)TT(cmQ 2wPv21Pv1v21Paa −+−+−= (6.8)

Onde dm é a massa de água evaporada dada por:

LMsD Ahdm ρΔ⋅= (6.9)

LMρΔ é a diferença média logarítmica de massa específica dada por,

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ρ−ρρ−ρ

ρ−ρ=ρΔ

)]/()[(Ln w1vw2v

1v2vLM

(6.10)

SA é a área superficial molhada, em m².

Dh é o coeficiente de transferência de massa, em m/s, dado por

( )( )⎣ ⎦3/2arcD D/Cpahh αρ= (6.11)

Onde D é o coeficiente de difusividade do vapor em ar, em m²/s e é o coeficiente de

difusividade térmica do ar, em m²/s.

é o coeficiente convectivo dado pela seguinte correlação, para um enchimento comercial

a base de papel kraft e resina, em formato de casa de abelhas (Dessouky et al., 2004),

ssee hmΣQhmΣQ &&&& +=+

α

ch

Page 53: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

51

3/18,012,0

c PrReHle

lek1,0h ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛=

(6.12)

Onde, k é a condutividade térmica do ar, em W/mK, le o comprimento característico, em

metros e H, a espessura do enchimento, em metros.

Os números adimensionais são dados por:

1 Número de Reynolds

υlevRe =

(6.13)

Onde v é a velocidade do ar, em m/s; υ é a viscosidade do ar, m/s².

• Número de Prandtl

αυ

=Pr (6.14)

Sabe-se que:

dmhfgTAhQ LMSc += Δ (6.15)

Onde,

hfg é o calor latente de vaporização, em J/kg.

Como o resfriamento evaporativo por painéis de contato (Castro e Pimenta, 2004),

trata-se fundamentalmente de um trocador de calor de superfície úmida em corrente cruzada,

uma análise baseada na teoria sobre trocadores de calor é aplicada considerando-se diferenças

médias logarítmicas de temperatura e massa específica como no método da LMTD (Log Mean

Difference Temperature).

LMTΔ é a diferença media logarítmica de temperatura, dada por,

[ ]⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−

−=

)TT/()TT(LnTTT

w1w2

12LMΔ

(6.16)

Todas as equações descritas neste capítulo foram usadas na simulação numérica, onde

um fluxograma é apresentado no capítulo seguinte.

Page 54: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

52

Page 55: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

53

CAPÍTULO 7

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.1 Resultados da simulação numérica

Para a determinação das propriedades termodinâmicas do ar e resolução das equações

governantes do sistema apresentado, foi desenvolvido um software, em linguagem Matlab,

utilizando as Eqs. (3.1) a (3.20) e (6.1) a (6.30), cujo fluxograma é apresentado a seguir:

Fig. 7.1 – Fluxograma da simulação numérica

TEMPERATURA

TEMPERATURA NA SAÍDA DA CAMADA

(ESTIMATIVA INICIAL)

PROPRIEDADES DO AR E VAPOR NA TEMPERATURA DE

SAÍDA

FLUXO DE CALOR

MASSA DE VAPOR EVAPORADA

TEMPERATURA DA PRÓXIMA CAMADA

ERRO

ERRO > TOLERÂNCIA

NOVA CAMADAIC = IC + 1

CAMADA FINAL? IC = N?

SIM

1

NÃO

SIM

NÃO

CÁLCULO DAS PROPRIEDADES NA ENTRADA (Twb, Tdp, W, Pv, Ps, Cp, v, Vesp,m)

INÍCIO

CÁLCULO

h c ; h d

DADOS INICIAIS ( Te , ø , Patm , v , A , ?x , As)

DEFINIÇÃO DA MALHA E TOLERÂNCIA

INÍCIO DOS CÁLCULOS NAS CAMADAS

Ic = 0

1

Page 56: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

54

A Figura 7.2 mostra o efeito da velocidade do ar sobre a eficiência do enchimento. À medida

que a velocidade aumenta, a eficiência cai. Como já exposto no capítulo referente à análise

experimental, esta queda é decorrente da redução do tempo de contato entre o ar e superfície

molhada.

Fig. 7.2 – Eficiência do enchimento em função da velocidade do ar pós-enchimento

A Figura 7.3 mostra claramente o efeito da temperatura ao longo do enchimento. A

redução de temperatura é tanto maior quanto mais espesso for o enchimento.

Figura 7.3 – Temperatura em função da posição no enchimento

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.3521

22

23

24

25

26

27

28

29

30

Tem

pera

tura

(oC)

Efic

iênc

ia

0.5 1 1.5 2 2.5 0.62

0.63

0.64

0.65

0.66

0.67

0.68

0.69

0.7

0.71

velocidade (m/s)

Tem

pera

tura

(ºC

)

Posição (m)

Page 57: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

55

A Figura 7.4 apresenta o ganho de umidade relativa em relação a posição na camada

do enchimento. Verifica-se que este tipo de sistema apresenta maior efetividade em climas

mais secos.

Figura 7.4 – Umidade relativa em função da posição no enchimento

A partir dos valores calculados e dos dados obtidos nos ensaios, elaborou-se a Figura

7.5 que permite comparar a efetividade medida e a calculada. Os dados para este gráfico

foram obtidos com a bucha vegetal.

Figura 7.5 – Influência da velocidade do ar na efetividade

Devido ao aumento da perda de carga em função do aumento da velocidade do ar,

Liao e Chiu (2002) recomendam utilizarem-se velocidades entre 0,75 e 1,5 m/s.

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.3

0.35

0.4

0.45

0.5

0.55

0.6

0.65

Posição no enchimento [m]

Um

idad

e R

elat

iva

[%]

20

30

40

50

60

70

80

0.7 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2Velocidade (m/s)

Efet

ivid

ade

(%)

Efetividade calculada Efetividade testada

Page 58: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

56

CAPÍTULO 8

CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

8.1 Conclusões

Este trabalho mostra um estudo sobre o resfriamento evaporativo usando fibras vegetais

como painel evaporativo.

No túnel usado para os testes foram coletados dados, tais como, temperaturas de bulbo

seco e de bulbo úmido, velocidades e umidades, para a análise do comportamento ambiental

de cada fibra.

A análise dos resultados confirma a influência da TBS externa na efetividade de

resfriamento. Verifica-se que, quanto maior a temperatura externa maior é a efetividade, o que

representa uma característica muito importante para este tipo de sistema de resfriamento.

Foi apresentada também a variação da efetividade de resfriamento em função da umidade

relativa do ar externo. Como já era esperado, verifica-se que este tipo de sistema apresenta

maior efetividade em climas secos.

O túnel permitiu a variação da vazão de ar e, conseqüentemente, da velocidade do ar

através do painel, pela variação da rotação do ventilador por meio de um potenciômetro.

Mostrou-se a variação da efetividade de resfriamento em função da velocidade do ar na face

de saída do túnel.

Como um breve sumário, conclui-se que:

a) Para o enchimento comercial, à temperatura média de entrada de 39 ºC e

velocidade do ar de 1,5 m/s, conseguiu-se uma redução de 11,38 ºC na

temperatura de bulbo seco. A eficiência média obtida com os resultados foi de

65,92%.

b) Para a fibra de coco, à temperatura média de entrada de 39 ºC e velocidade do

ar de 1,5 m/s, conseguiu-se uma redução de 6,4 ºC na temperatura de bulbo

seco. A eficiência média obtida com os resultados foi de 52,24%.

c) Para o sisal, à temperatura média de entrada de 39 ºC e velocidade do ae de 1,5

m/s, conseguiu-se uma redução de 4,69 ºC na temperatura de bulbo seco. A

eficiência média obtida com os resultados foi de 44,93%.

Page 59: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

57

d) Para a bucha vegetal, à temperatura média de entrada de 39 ºC e velocidade do

ar de 1,5 m/s, conseguiu-se uma redução de 5,68 ºC na temperatura de bulbo

seco. A eficiência média obtida com os resultados foi de 44,72%.

Portanto, a fibra de coco apresenta-se como um material promissor para uso em

sistemas evaporativos, necessitando-se ainda um estudo detalhado sobre a otimização do

arranjo das fibras no painel evaporativo, de maneira a se obter a máxima área de contato ar-

água com a mínima obstrução do fluxo.

8.2 Sugestões para trabalhos futuros

Como sugestão para futuros trabalhos nesta área pode-se citar:

1 Testar outros tipos de arranjos para as fibras.

2 Melhorar as condições de entrada e saída do ar no túnel com a instalação de um duto.

3 Umidificar o ar na entrada com borrifador a fim de testar várias umidades.

4 Melhorar a homogeneização do fluxo para melhorar as leituras.

5 Encontrar correlações matemáticas para coeficiente convectivo a serem usadas nos

painéis evaporativos feitos com as fibras vegetais.

6 Discutir a análise de erros.

Page 60: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

58

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1978. 456 p.

Page 63: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

61

ANEXO A - ANÁLISE DE ERROS

Quando se relata o resultado de medição de uma grandeza física, é obrigatório que seja

dada alguma indicação quantitativa da qualidade do resultado, de forma tal que aqueles que o

utilizam possam avaliar sua confiabilidade. Sem essa indicação, resultados de medição não

podem ser comparados, seja entre eles mesmos ou com valores de referência fornecidos numa

especificação ou numa norma. É, portanto, necessário que haja um procedimento prontamente

implementado, facilmente compreendido e de aceitação geral para caracterizar a qualidade de

um resultado de uma medição, isto é, para avaliar e expressar sua incerteza.

O conceito de incerteza como um atributo quantificável é relativamente novo na

história da medição, embora erro e análise de erro tenham sido, há muito, uma parte da prática

da ciência e medição ou metrologia. É agora amplamente reconhecido que, quando todos os

componentes de erro conhecidos ou suspeitos tenham sido avaliados e as correções adequadas

tenham sido aplicadas, ainda permanece uma incerteza sobre quão correto é o resultado

declarado, isto é, uma dúvida acerca de quão corretamente o resultado da medição representa

o valor da grandeza que está sendo medida.

DEFINIÇÃO DE ALGUNS TERMOS USADOS NA METROLOGIA

MEDIÇÃO

Conjunto de operações que tem por objetivo determinar um valor de uma grandeza.

METROLOGIA

Ciência da medição - A metrologia abrange todos os aspectos teóricos e práticos relativos às

medições, qualquer que seja a incerteza, em quaisquer campos da ciência ou da tecnologia.

PRINCÍPlO DE MEDIÇÃO

Base científica de uma medição.

Page 64: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

62

Exemplos:

a) O efeito termoelétrico utilizado para a medição da temperatura;

b) O efeito Josephson utilizado para a medição da diferença de potencial elétrico;

c) O efeito Doppler utilizado para a medição da velocidade;

d) O efeito Raman utilizado para medição do número de ondas das vibrações moleculares.

MÉTODO DE MEDIÇÃO

Seqüência lógica de operações, descritas genericamente, usadas na execução das medições.

Os métodos de medição podem ser qualificados de várias maneiras; entre as quais:

- método por substituição;

- método diferencial;

- método “de zero”.

PROCEDIMENTO DE MEDIÇÃO

Conjunto de operações, descritas especificamente, usadas na execução de medições

particulares, de acordo com um dado método.

Um procedimento de medição é usualmente registrado em um documento, que algumas vezes

é denominado procedimento de medição (ou método de medição) e normalmente tem detalhes

suficientes para permitir que um operador execute a medição sem informações adicionais.

MENSURANDO

Objeto da medição. Grandeza específica submetida à medição.

Exemplo:

Pressão de vapor de uma dada amostra de água a 20 ºC.

A especificação de um mensurando pode requerer informações de outras grandezas como

tempo, temperatura ou pressão.

Page 65: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

63

VALOR TRANSFORMADO (DE UM MENSURANDO)

Valor do sinal de uma medição representando um dado mensurando.

RESULTADO DE UMA MEDIÇÃO

Valor atribuído a um mensurando obtido por medição.

1) Quando um resultado é dado, deve-se indicar, claramente, se ele se refere:

- à indicação;

- ao resultado não corrigido;

- ao resultado corrigido;

e se corresponde ao valor médio de várias medições.

2) Uma expressão completa do resultado de uma medição inclui informações sobre a incerteza

de medição.

INDICAÇÃO (DE UM INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO)

Valor de uma grandeza fornecido por um instrumento de medição;

1) O valor lido no dispositivo mostrador pode ser denominado de indicação direta. Ele é

multiplicado pela constante do instrumento para fornecer a indicação.

2) A grandeza pode ser um mensurando, um sinal de medição ou uma outra grandeza a ser

usada no cálculo do valor do mensurando.

3) Para uma medida materializada, a indicação é o valor a ela atribuído.

RESULTADO NÃO CORRIGIDO

Resultado de uma medição, antes da correção, devida aos erros sistemáticos

Page 66: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

64

RESULTADO CORRIGIDO

Resultado de uma medição, após a correção, devida aos erros sistemáticos.

EXATIDÃO DE MEDIÇÃO

Grau de concordância entre o resultado de uma medição e um valor verdadeiro do

mensurando.

1) Exatidão é um conceito qualitativo.

2) O termo precisão não deve ser utilizado como exatidão.

REPETITIVIDADE (DE RESULTADOS DE MEDIÇÕES)

Grau de concordância entre os resultados de medições sucessivas de um mesmo mensurando

efetuadas sob as mesmas condições de medição.

1) Estas condições são denominadas condições de repetitividade.

2) Condições de repetitividade incluem:

- mesmo procedimento de medição;

- mesmo observador;

- mesmo instrumento de medição, utilizado nas mesmas condições;

- mesmo local;

- repetição em curto período de tempo.

3) Repetitividade pode ser expressa, quantitativamente, em função das características da

dispersão dos resultados.

REPRODUTIBILIDADE (DOS RESULTADOS DE MEDIÇÃO)

Grau de concordância entre os resultados das medições de um mesmo mensurando efetuadas

sob condições variadas de medição.

Page 67: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

65

1) Para que uma expressão da reprodutibilidade seja válida, é necessário que sejam

especificadas as condições alteradas.

2) As condições alteradas podem incluir:

- princípio de medição;

- método de medição;

- observador;

- instrumento de medição;

- padrão de referência;

- local;

- condições de utilização;

- tempo.

3) Reprodutibilidade pode ser expressa, quantitativamente, em função das características da

dispersão dos resultados.

4) Os resultados aqui mencionados referem-se, usualmente, a resultados corrigidos.

DESVIO PADRÃO EXPERIMENTAL

Para uma série de “n” medições de um mesmo mensurando, a grandeza “s”, que caracteriza a

dispersão dos resultados, é dada pela fórmula:

onde ix representa o resultado da “iésima” medição e x representa a média aritmética dos “n”

resultados considerados.

1) Considerando uma série de “n” valores como uma amostra de uma distribuição, x é uma

estimativa não tendenciosa da média μ e 2s é uma estimativa não tendenciosa da variância

desta distribuição.

( )1

1

2

−=

∑=

n

xxs

n

ii

Page 68: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

66

2) A expressão ns / é uma estimativa do desvio padrão da distribuição de x e é denominada

desvio padrão experimental da média.

3) “Desvio padrão experimental da média” é, algumas vezes, denominado incorretamente erro

padrão da média.

INCERTEZA DE MEDIÇÃO

Parâmetro, associado ao resultado de uma medição, que caracteriza a dispersão dos valores

que podem ser fundamentadamente atribuídos a um mensurando.

1) O parâmetro pode ser, por exemplo, um desvio padrão (ou um múltiplo dele), ou a metade

de

um intervalo correspondente a um nível de confiança estabelecido.

2) A incerteza de medição compreende, em geral, muitos componentes. Alguns destes

componentes

podem ser estimados com base na distribuição estatística dos resultados das séries de

medições e podem ser caracterizados por desvios padrão experimentais. Os outros

componentes, que também podem ser caracterizados por desvios padrão, são avaliados por

meio de distribuição de probabilidades assumidas, baseadas na experiência ou em outras

informações.

3) Entende-se que o resultado da medição é a melhor estimativa do valor do mensurando, e

que todos os componentes da incerteza, incluindo aqueles resultantes dos efeitos sistemáticos,

como os componentes associados com correções e padrões de referência, contribuem para a

dispersão.

ERRO (DE MEDIÇÃO)

Resultado de uma medição menos o valor verdadeiro do mensurando.

Page 69: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

67

1) Uma vez que o valor verdadeiro não pode ser determinado, utiliza-se, na prática, um valor

verdadeiro convencional.

2) Quando for necessário distinguir “erro” de “erro relativo”, o primeiro é, algumas vezes,

denominado erro absoluto da medição. Este termo não deve ser confundido com valor

absoluto do erro, que é o módulo do erro.

ERRO RELATIVO

Erro da medição dividido por um valor verdadeiro do objeto da medição.

Uma vez que o valor verdadeiro não pode ser determinado, utiliza-se, na prática, um valor

verdadeiro convencional.

ERRO ALEATÓRlO

Resultado de uma medição menos a média que resultaria de um infinito número de medições

do mesmo mensurando efetuadas sob condições de repetitividade.

1) Erro aleatório é igual ao erro menos o erro sistemático.

2) Em razão de que apenas um finito número de medições pode ser feito, é possível apenas

determinar uma estimativa do erro aleatório.

Quando se faz uma série de medições é bem provável que erros aleatórios ocorram e

portanto terá-se-á uma distribuição das leituras umas para mais e outras para menos do valor

real da grandeza. Uma forma de se ter uma estimativa da grandeza medida é através da

médias aritmética de N valores medidos.

∑=

=ΧN

iiX

N 1

1

Page 70: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

68

Após estimar o valor médio da grandeza medida, sabe-se que os valores medidos

estarão distribuídos em torno da média e precisa-se estimar a incerteza ou o erro destas

medições, visto que o valor médio se aproxima do valor real quando é muito grande e os erros

sistemáticos são nulos. Uma forma de quantificar o erro ou a incerteza da medição é através

do desvio padrão (σ) definido pela seguinte fórmula:

2

1)(

11

Χ−−

=Δ= ∑=

N

iiX

NXσ

ERRO SISTEMÁTICO

Média que resultaria de um infinito número de medições do mesmo mensurando, efetuadas

sob condições de repetitividade, menos o valor verdadeiro do mensurando.

1) Erro sistemático é igual ao erro menos o erro aleatório.

2) Analogamente ao valor verdadeiro, o erro sistemático e suas causas não podem ser

completamente conhecidos.

3) Para um instrumento de medição, ver tendência.

PROPAGAÇÃO DE INCERTEZAS Freqüentemente os valores das grandezas medidas são utilizados para avaliar outras grandezas

de interesse, relacionadas através de modelos físico-matemáticos (lei dos gases perfeitos, lei

de Fourier, Segunda lei de Newton, etc.) ou simplesmente relacionadas pela definição física

de uma dada grandeza (densidade, Número de Reynolds, Número de Grashof, etc.)

Neste caso, as incertezas das medidas primárias (aquelas medidas experimentalmente) devem

se propagar através dos cálculos resultando numa incerteza da grandeza secundária ou

derivada (aquela obtida no cálculo).

Vamos mostrar, a seguir, um procedimento geral sobre o cálculo da propagação de incertezas,

considerando as medições experimentais de n grandezas.

Page 71: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

69

Sejam n21 -X--------- ,X ,X grandezas físicas determinadas de forma experimental.

Representando as incertezas relativas de cada uma destas grandezas como:

n1i com ,uiX ⇒=

Deseja-se analisar como os erros se propagam no cálculo da grandeza R, obtida indiretamente

através das medidas das grandezas iX .

Consideremos que existe uma dependência funcional entre a variável R e as variáveis iX .

( )n21 X,,X,XRR −−−−−=

O efeito de uma variação iXδ sobre R pode ser escrito como; ii

XXRR δ

∂∂

Normalizando esta variação de R ( Rδ ) em relação à grandeza R;

RX

XR

RR i

i

δ∂∂

Multiplicando e dividindo o lado direito da equação por iX , vamos obter a incerteza relativa

de R devido a incerteza relativa de iX .

iXi

i

i

i

i

i uXR

RX

XX

XR

RX

RR

∂∂

∂∂

Efeitos similares devem ocorrer devido a variações das demais grandezas envolvidas. Como

estamos interessados em estimar a incerteza de R devido à combinação dos efeitos das

incertezas de todas as grandezas envolvidas. Isto pode ser realizado através da expressão

21

2

n

n

n

n2

2

2

2

22

1

1

1

1R X

XXR

RX

XX

XR

RX

XX

XR

RXu

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ δ∂∂

++⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ δ∂∂

+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ δ∂∂

= LLL

ou

21

2

nn

2

22

2

11

XXRX

XRX

XRR

⎥⎥

⎢⎢

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛δ

∂∂

++⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛δ

∂∂

+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛δ

∂∂

=δ LLL

CORREÇÃO

Valor adicionado algebricamente ao resultado não corrigido de uma medição para compensar

um erro sistemático.

Page 72: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

70

1) A correção é igual ao erro sistemático estimado com sinal trocado.

2) Uma vez que o erro sistemático não pode ser perfeitamente conhecido, a compensação não

pode ser completa.

FATOR DE CORREÇÃO

Fator numérico pelo qual o resultado não corrigido de uma medição é multiplicado para

compensar um erro sistemático.

Uma vez que o erro sistemático não pode ser perfeitamente conhecido, a compensação não

pode ser completa.

Page 73: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

71

APÊNDICE A - CURVAS DE AFERIÇÃO DOS TERMOPARES

Para as medições de temperatura foram utilizados 12 (doze) termopares tipo “T, os

quais foram conectados a um microcomputador através de um sistema de aquisição de dados

tipo DATALOGGER modelo DT-605. Os termopares foram aferidos através da leitura

conjunta de temperaturas no sistema de aquisição de dados e em termômetros padrões.Uma

extremidade de cada termopar foi conectada aos canais analógicos do sistema de aquisição de

dados, enquanto que a outra extremidade foi mergulhada em água, que se encontrava

armazenada em recipiente térmico isolado, submetido a três diferentes condições: água com

gelo, a 0 °C, água a temperatura ambiente a 25 ºC e água quente a 70 ºC.

Foram feitas 19 medições com intervalo de trinta segundos. Comparou-se a média das

medições de cada termopar no sistema de aqusição de dados com a média das temperaturas

padrões para cada condição de temperatura.

Os dados obtidos foram plotados em planilha do MS-Excel para construção das curvas

de calibração como mostram as figuras de A.1 a A.12 onde podem ser visualizadas as

temperaturas médias medidas nas três condições de temperatura para cada termopar, as quais

foram comparadas com a média das temperaturas medidas no termômetro padrão.

Figura A. 1 - Curva de Aferição do Termopar 1-TT

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 1-TT

y = 0.982x + 1.3848R2 = 0.9978

.10.20.30.40.50.60.70.80.

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

Page 74: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

72

Figura A. 2 - Curva de Aferição do Termopar 2TT

Figura A. 3 - Curva de Aferição do Termopar 2-TT

Figura A. 4 - Curva de Aferição do Termopar 3TT

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 2TT

y = 0.9877x + 1.3884R2 = 0.9997

01020304050607080

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 2-TT

y = 0.9877x + 1.3884R2 = 0.9997

01020304050607080

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 3-TT

y = 0.9986x + 0.8875R2 = 0.9999

01020304050607080

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

Page 75: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

73

Figura A. 5 - Curva de Aferição do Termopar 4TT

Figura A. 6 - Curva de Aferição do Termopar 5TT

Figura A. 7 - Curva de Aferição do Termopar 6TT

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 4TT

y = 0.9997x + 0.76R2 = 0.9999

01020304050607080

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 5TT

y = 0.9955x + 1.3377R2 = 0.9999

01020304050607080

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 6TT

y = 0.9962x + 1.2904R2 = 0.9999

. 10. 20. 30. 40. 50. 60. 70. 80.

0 20 40 60 80 termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

Page 76: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

74

Figura A. 8 - Curva de Aferição do Termopar 7TT

Figura A. 9 - Curva de Aferição do Termopar 8TT

Figura A. 10 - Curva de Aferição do Termopar 9TT

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 7TT

y = 0.982x + 1.3848R2 = 0.9978

.10.20.30.40.50.60.70.80.

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 8TT

y = 0.9955x + 1.2539 R2 = 0.9999 8TT

01020304050607080

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 9TT

y = 0.9963x + 1.331R2 = 0.9999

.10.20.30.40.50.60.70.80.

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

Page 77: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

75

Figura A. 11 - Curva de Aferição do Termopar 10TT

CALIBRAÇÃO DO TERMOPAR 10-TT

y = 0.9937x + 1.5341R2 = 0.9999

.10.20.30.40.50.60.70.80.

0 20 40 60 80termômetro padrão (°C)

TER

MO

PAR

(°C

)

Page 78: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

76

APÊNDICE B - REGISTROS DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO AEROPORTO

DE PAULO AFONSO -BA

TBS TBU URE PAT DIR VEL PSV Data Hora Local (oC) (oC) (%) (hPa) (o) km/h (hPa)

15/10/2005 07:02 23,10 21,40 86,00 985,29 130 14,82 28,26 15/10/2005 08:00 24,70 21,80 78,00 985,97 150 16,67 31,11 15/10/2005 09:00 27,00 22,80 70,00 985,97 130 20,37 35,65 15/10/2005 10:00 29,20 23,50 62,00 985,48 130 18,52 40,52 15/10/2005 11:00 30,70 23,50 55,00 984,32 120 18,52 44,16 15/10/2005 12:00 32,10 23,60 49,00 983,06 130 14,82 47,81 15/10/2005 13:00 33,40 24,00 46,00 981,71 140 27,78 51,44 15/10/2005 14:00 34,00 20,40 28,00 980,45 180 5,56 53,19 15/10/2005 15:00 34,10 20,10 26,00 979,77 150 18,52 53,48 15/10/2005 16:00 34,00 20,50 28,00 980,06 150 16,67 53,19 15/10/2005 17:00 32,20 19,60 30,00 980,74 140 18,52 48,08 15/10/2005 18:00 30,10 19,50 37,00 981,42 150 11,11 42,67 15/10/2005 19:00 29,00 19,70 42,00 982,19 140 14,82 40,05

Fonte: INFRAERO

TBS - Temperatura do bulbo seco (graus Celcius) PAT - Pressão atmosférica (hectopascal) TBU - Temperatura do bulbo úmido (graus Celcius) VEL - Velocidade do vento (kt - nós) URE - Umidade relativa do ar (%) PSV - Pressão de saturação do vapor d'água (hectopascal) PAT - Pressão atmosférica (hectopascal) DIR - Direção do vento (graus)

Gerência de Navegação Aérea Meteorologia

Registros da Estação Meteorológica do Aeroporto de

Paulo Afonso -BA

Page 79: Análise do Desempenho Térmico de Fibras Vegetais em ...

77

APÊNDICE C – CIDADES BRASILEIRAS FAVORÁVEIS AO SISTEMA DE

RESFRIAMENTO EVAPORATIVO

Fonte: EVAPCOOLER