ANÁLISE DO DESEMPENHO TÉRMICO DE … NUTAU_revisado Marcele... · Segundo a NBR 15220 (2005),...
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SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL PARA ANÁLISE DO
DESEMPENHO TÉRMICO DE UMA HIS
RESUMO:
O presente artigo está inserido em um projeto de pesquisa que prevê a
construção de 210 HIS em um bairro na cidade de Passo Fundo/RS, cujos
projetos das habitações serão avaliados em seu contexto original (projeto
tradicional) e será proposta uma metodologia para ampliação das residências,
contemplando a arquitetura evolutiva e a sustentabilidade construtiva. O
objetivo deste estudo é avaliar o desempenho térmico da habitação e a sua
interação com os elementos fachada e cobertura, além de uma análise do
conforto térmico dos seus futuros usuários. Esta análise é feita pela
comparação de duas normativas: NBR 15575 – Desempenho de Edifícios
Habitacionais de até Cinco Pavimentos e a NBR 15220 – Desempenho
Térmico de Edificações. Este estudo comparativo é efetuado a partir do
resultado de simulações computacionais utilizando o software Transmitância.
De modo geral, a maioria dos aspectos analisados está em conformidade com
as normas utilizadas como referência para que se obtenha o mínimo de
conforto em relação à edificação e a zona bioclimática de Passo Fundo/RS. No
entanto, algumas estratégias bioclimáticas passivas acrescidas ao projeto e
que não implicariam em um custo final significativo, apresentam potencialidade
de maximização do conforto térmico dos ocupantes.
PALAVRAS-CHAVE: Desempenho térmico, habitação de interesse social,
conforto térmico.
ABSTRACT:
This article is part of a research project that includes the construction
of 210 dwelling for low-income family in a neighbourhood in the city of Passo
Fundo, RS (Brazil), whose housing projects was evaluated in its original context
(traditional design). It was proposed a methodology for expanding the number
of residences that should contemplate the improvements in architecture design
and sustainable construction. The objective of this study was to evaluate the
thermal performance of a house and its interaction with the elements of the
facade and roof, plus an analysis of the thermal comfort of their future users,
which was done by comparing two Brazilian standards: NBR 15575 -
Performance of Buildings Housing up to five floors and NBR 15220 - Thermal
Performance of Buildings. This comparative study was made from results of
computer simulations using the software Transmittance. Most aspects were
analyzed in accordance with the mentioned standards, and one conclude that it
was reached the expected minimum level of comfort for that climatic zone. One
conclude too that some passive bioclimatic strategies added to the project does
not imply in a significant raise of final cost and have potential to maximize the
thermal comfort of occupants.
KEY WORDS: Thermal Performance, Low-Income Housing, Thermal Comfort.
1. INTRODUÇÃO
A busca por soluções arquitetônicas e urbanas adequadas ao clima
produziu inúmeros exemplos que ilustram a tentativa de solução de um
problema ainda atual, melhorar as condições de conforto ambiental das
edificações e, consequentemente, da qualidade de vida nos aglomerados
humanos e minimizar o uso dos recursos energéticos e naturais.
Nesse contexto, as necessidades humanas de habitação e abrigo, para
o desempenho das mais diversas atividades, e sua vinculação com o consumo
energético devem ser analisadas de maneira suficientemente fundamentada,
considerando a realidade social em que se inserem, suas características
culturais e condições climáticas, bem como a problemática tecnológica e os
custos ambientais e econômicos envolvidos.
A avaliação do desempenho térmico de uma edificação possibilita
analisar a relação das trocas térmicas entre o ambiente construído e o
ambiente externo. Esta relação se torna vital, se levado em conta as condições
climáticas do local em que a edificação está inserida.
De acordo com Siqueira et al. (2005), o desempenho térmico de
edificações é um fator determinante em habitações, principalmente em
habitações de interesse social, que são destinadas à população de baixa
renda. Uma edificação projetada levando-se em conta o clima local potencializa
o conforto dos usuários e gera economia de energia.
Para avaliar o desempenho térmico de uma edificação, existem outros
procedimentos que podem ser adotados ainda na fase de projeto, ou após a
construção. Uma alternativa de avaliação é a simulação computacional do
sistema construtivo utilizado, observando-se o enquadramento dos resultados
dentro de limites ou parâmetros de conforto térmico ajustados para a
população local (BARBOSA et al., 2003). Um exemplo de parâmetro que pode
ser utilizado é o total de horas anuais em que as temperaturas internas obtidas
por simulação ou monitoramento apresentam-se fora dos limites de
temperatura da zona de conforto (BARBOSA et al., 2003). Tem-se ainda a
avaliação por prescrição, na qual são definidos limites para as características
termofísicas dos materiais construtivos, assim como recomendações para o
dimensionamento de aberturas para ventilação e existência de dispositivos de
sombreamento que visam à adequação do projeto às condições climáticas de
um determinado local.
Neste artigo, serão abordados os parâmetros e condições de conforto,
além das diretrizes construtivas para a construção de HIS em um novo
loteamento na cidade de Passo Fundo – RS, com base em duas normas
aplicáveis à habitação, vigentes no Brasil: a NBR 15220 – Desempenho
Térmico de Edificações, que em sua parte 3 apresenta as diretrizes do
Zoneamento Bioclimático Brasileiro (ABNT, 2005), e a NBR 15575 –
Edificações Habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho (ABNT,
2008), que trata de diversos requisitos de desempenho para edifícios
habitacionais (estrutural, acústico, lumínico, entre outros), dentre eles o
desempenho térmico.
2. METODOLOGIA
Diversas ferramentas computacionais de simulação têm sido
desenvolvidas nacional e internacionalmente, com o intuito de facilitar a análise
e avaliação de projetos e edifícios quanto ao seu comportamento energético,
térmico, acústico e de iluminação, entre outros (LAMBERTS, 2010). Elas têm
se tornado cada vez mais importantes, ganhando destaque em pesquisas de
diversos países.
A Universidade Federal de Santa Catarina desenvolve por meio do
Laboratório de Eficiência Energética diversos programas que auxiliam na
avaliação do desempenho térmico levando em consideração as normativas
brasileiras.
Assim, a metodologia utilizada neste artigo para a realização da análise
do desempenho térmico do projeto de edificação unifamiliar de interesse social
será a comparação entre os resultados apresentados pelo projeto analisado e
as normativas: NBR 15575 – Desempenho de Edifícios Habitacionais de até
Cinco Pavimentos e NBR 15220 – Desempenho Térmico de Edificações. Esta
comparação será efetuada a partir de análises de projeto e também, do
resultado de cálculos realizados através de simulações computacionais
utilizando o programa Transmitância, desenvolvido pelo Laboratório de
Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa
Catarina – LABEEE/UFSC.
O programa Transmitância permite o cálculo das seguintes propriedades
térmicas: (i) transmitância térmica (W/m².K), (ii) resistência térmica (m².K/W),
(iii) capacidade térmica (kJ/m².K), (iv) fator de calor solar e (v) atraso térmico
(horas).
3. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL
A simulação computacional foi empregada neste trabalho com o objetivo
de avaliar o desempenho térmico de uma residência unifamiliar, baseada em
um projeto arquitetônico típico de uma HIS. A tipologia do projeto arquitetônico
é comumente empregada em todo o Rio Grande do Sul. Desta forma, tem-se o
interesse em realizar uma análise dos projetos comumente praticados nesta
zona bioclimática, com a intenção de apresentar sugestões de melhorias, se
este for o caso.
O grande projeto do loteamento Canaã que prevê a construção de 210
novas HIS está localizado em uma área com aproximadamente 94 mil metros
quadrados e situado a 5,00 Km do centro urbano da cidade, região noroeste de
Passo Fundo/RS.
O estudo foi realizado em uma residência unifamiliar composta por dois
dormitórios, uma sala, uma cozinha e um banheiro, com área total de 42,55 m²
(Figura 1). A residência possui pé direito de 2,60 m, estrutura em concreto
armado, vedações externas de tijolos cerâmicos de seis furos rebocados em
ambas as faces, pintura branca, cobertura com telhado inclinado de chapas de
fibrocimento com forro de PVC e câmara de ar ventilada.
Figura 1 - Planta Baixa e Fachada da Residência Unifamiliar Fonte: Autoras, 2011.
Foram realizadas as medições das aberturas para ventilação, das
vedações externas, paredes e coberturas, de acordo com as especificações
definidas pelas NBRs 15220/2005 e 15575/2008, e de acordo com a zona
bioclimática da cidade de Passo Fundo/RS. O dia típico do projeto foi definido
como um dia real caracterizado pela velocidade média predominante do vento
e pelos valores horários de cada uma das seguintes variáveis: temperatura do
ar, umidade relativa do ar e radiação solar incidente em superfície horizontal.
3.1 CÁLCULO DO TAMANHO DAS ABERTURAS PARA VENTILAÇÃO
Sabe-se que a ventilação natural é uma das mais antigas estratégias de
resfriamento passivo. Esta estratégia bioclimática é considerada uma das mais
eficientes para obtenção de conforto térmico nos espaços urbanos e
arquitetônicos, principalmente pelo seu alcance social, ou seja, a população de
baixa renda depende de projetos que possibilitem o máximo de conforto
térmico sem custos adicionais.
Segundo Lamberts et al (2004), a ventilação natural é resultante de
movimentos de ar, através de trocas entre o ar interno e o externo ou pela
própria circulação de ar interior. A importância da ventilação em uma edificação
consiste na manutenção da qualidade do ar interno através da renovação (fluxo
de ar); em proporcionar conforto térmico aos usuários, reduzindo a umidade do
ar e acelerando as trocas de calor, através da evaporação do suor da pele; em
contribuir no desempenho térmico de uma edificação, permitindo o resfriamento
das superfícies interiores e exteriores dos edifícios, removendo o calor por
convecção.
De acordo com a NBR 15575 (2008), as habitações devem apresentar
aberturas em suas fachadas com dimensões adequadas para a ventilação
interna dos ambientes. Para este requisito, analisam-se os ambientes de longa
permanência, como salas, cozinhas e dormitórios. No caso deste artigo, o
ambiente banheiro também será analisado.
Para o cálculo das aberturas é avaliada a área do piso de cada
ambiente, a área total das aberturas de cada ambiente (conforme projeto), para
então, se obter a porcentagem da área do piso por ambiente, verificando assim
sua adequação frente às normas, conforme Tabela 1, abaixo:
Tabela 1 - Cálculo das aberturas da residência unifamiliar.
Ambiente Área do Piso (m²) Área Total Aberturas
(m²)
% Área do
Piso/Ambiente
Sala/Cozinha 14,58 2,88 19,75
Quartos 14,68 2,88 19,61
Banheiro 3,45 0,36 10,43
Fonte: Autoras, 2011.
Segundo a NBR 15220 (2005), para a zona bioclimática 2 (cidade de
Passo Fundo/RS), as aberturas para ventilação devem ser médias, ou seja, a
área do piso com relação ao ambiente deve ser maior que 15% e menor que
25%. Analisando a tabela acima, pode-se concluir que a abertura para o
ambiente sala/cozinha, conforme projeto analisado está em adequação com a
norma (19,75%). O ambiente quarto também está adequado para a norma
(19,61%), porém o ambiente banheiro está inadequado em relação aos
parâmetros da norma (10,43%), concluindo-se que deve haver um aumento de
sua área de abertura para se obter uma ventilação adequada.
Apesar de o ambiente banheiro não fazer parte obrigatória na análise do
tamanho das aberturas, pois não se trata de um ambiente de longa
permanência em uma residência, contempla grande importância em se
tratando de ventilação natural. A dimensão correta de abertura para este tipo
de ambiente possibilita uma melhor manutenção da qualidade do ar
proporcionando maior higiene com a renovação do ar interno, melhorando o
suprimento de oxigênio, a desconcentração de odores, vapores e poluentes
como o gás carbônico, gerando então, maior conforto aos usuários.
Conforme a NBR 15575 (2008), para a zona bioclimática 2 (cidade de
Passo Fundo/RS), as aberturas para ventilação devem ter, no mínimo, a área
do piso com relação ao ambiente maior que 8%. Analisando a Tabela 1, pode-
se concluir que todos os ambientes calculados estão em adequação com a
norma, não necessitando alterações projetuais.
3.2 SOMBREAMENTO DAS ABERTURAS LOCALIZADAS NOS
DORMITÓRIOS EM PAREDES EXTERNAS
De acordo com pesquisas realizadas por Lamberts et al. (2011), o
dispositivo de sombreamento das aberturas contribui significativamente para
uma redução dos ganhos solares dos dormitórios, diferentemente da
orientação solar em que se encontram. Dessa forma, o dispositivo de
sombreamento influencia determinantemente na temperatura do ambiente, pois
ele bloqueia a radiação solar antes desta incidir na superfície envidraçada,
evitando assim o efeito estufa.
A NBR 15575 (2008) menciona que os projetos de habitações devem
possibilitar o controle da entrada de luz e calor pelas aberturas dos dormitórios
localizadas em fachadas. As janelas dos dormitórios, para qualquer região
climática, devem ter dispositivos de sombreamento, externos ao vidro (quando
este existir), de forma a permitir o controle do sombreamento, ventilação e
escurecimento, a critério do usuário, como, por exemplo, venezianas. Para
tanto, o método de avaliação consiste em fazer uma análise do projeto
conforme Tabela 2, abaixo:
Tabela 2 - Análise do controle de entrada de luz e calor das aberturas dos dormitórios da residência unifamiliar.
Zona Sombreamento NBR
15220/2005
Sombreamento NBR
15575/2008 Conclusão Alterações
Zona 2 Permitir sol durante o
inverno
Exigência de
dispositivo de
sombreamento
Recebe sol e há
venezianas:
adequado
Não necessita
alterações
Fonte: Autoras, 2011.
De acordo com a NBR 15220 (2005), para a zona bioclimática 2 (cidade
de Passo Fundo/RS), as aberturas dos dormitórios localizadas em fachadas
devem permitir sol durante o inverno. O projeto estará em adequação com esta
norma se houver uma preocupação com a implantação nos lotes, otimizando
as fachadas dos dormitórios com a orientação solar norte e leste.
Segundo a NBR 15575 (2008), para a zona bioclimática 2 (cidade de
Passo Fundo/RS), as aberturas dos dormitórios localizadas em fachadas
devem possuir dispositivo de sombreamento. Conforme projeto analisado, este
requisito está em adequação com a norma, pois as aberturas dos dormitórios
possuem venezianas em alumínio.
3.3 ESTRATÉGIAS DE CONDICIONAMENTO TÉRMICO PASSIVO
Existem estratégias de concepção e construção dos edifícios através
das quais se podem melhorar o comportamento e a eficiência energética dos
mesmos.
Conforme a avaliação bioclimática pelas normais climatológicas, a
cidade de Passo Fundo/RS se caracteriza pelo clima subtropical úmido. A
temperatura média é de 17,5º C. De acordo com a análise psicrométrica de
Passo Fundo (Magro apud Cunha, 2003), definida por um ano climático de
referência, as situações de conforto térmico contam com 29,1% das horas do
ano; as situações de frio contam com 57,5% das horas do ano; e as situações
de calor 13,4% das horas do ano.
Dessa forma, as estratégias de condicionamento térmico passivo
indicadas para Passo Fundo para maximizar as situações de conforto,
conforme a NBR 15220 (2005), são: utilizar a forma, a orientação solar e a
implantação da edificação para contribuir no aquecimento no período frio
através da incidência de radiação solar. Neste sentido, algumas ideias podem
colaborar, como por exemplo, posicionar superfícies envidraçadas como
janelas, paredes, zenitais, orientadas para o sol, reduzir o tamanho das
aberturas em orientações desfavoráveis, aproveitar ao máximo o sol no
inverno. A cor externa dos componentes também desempenha papel
importante no aquecimento dos ambientes através do aproveitamento de
radiação solar. Outra estratégia é adotar paredes internas pesadas para que as
temperaturas internas sejam mais agradáveis, ou seja, manter o interior da
edificação aquecido.“
A ventilação cruzada também é uma estratégia de condicionamento
térmico passivo para o verão, sendo obtida através da circulação de ar pelos
ambientes da edificação. Esta estratégia também contribui para a
desumidificação dos ambientes através da renovação do ar interno por ar
externo.
A análise das estratégias de condicionamento térmico passivo no projeto
de HIS na cidade de Passo Fundo (zona bioclimática 2) consta na Tabela 3:
Tabela 3 - Análise das estratégias de condicionamento térmico passivo da residência
unifamiliar.
Zona Estratégias NBR
15220/2005 Conclusão Alterações
Zona 2 Verão: ventilação Verão: adequada Implementar aquecimento
cruzada
Inverno: aquecimento
solar; vedações internas
pesadas
somente no ambiente
sala/cozinha
Inverno: não há
aquecimento solar
solar para conforto no
inverno.
Implementar dispositivos de
ventilação de conforto e de
higiene para todos os
ambientes no verão.
Fonte: Autoras, 2011.
De acordo com a análise das estratégias de condicionamento térmico
passivo exposta na Tabela 3, configura-se um projeto bastante deficiente tanto
para a estação de verão quanto para a estação de inverno.
Com relação à ventilação cruzada necessária para os períodos mais
quentes, adequada somente no ambiente sala/cozinha (vide planta baixa,
Figura 1), em função de constituir um único ambiente sem interferência da
passagem do ar e por possuir portas e janelas quase que simetricamente em
direções opostas, favorece “o movimento do ar de um espaço ou mais espaços
conectados por meio de aberturas em fachadas opostas, cujas condições de
radiação ou exposição ao vento sejam diferentes” (LAMBERTS ET AL, 2004),
proporcionando uma maior e melhor ventilação de conforto aos usuários.
Para que os dormitórios também usufruam do conforto proporcionado
pela ventilação cruzada, seria importante o uso de dispositivos móveis tanto
nas janelas quanto nas portas. Estes dispositivos poderiam ser janelas
basculantes localizadas na parte superior das janelas já existentes, e também,
serem utilizadas na parte superior das portas (as chamadas bandeiras).
Este dispositivo sugerido não agrega custo significativo ao projeto, e
ainda, possibilita, além da ventilação cruzada e de conforto no verão, que
consiste na ventilação plena, ou seja, a massa de ar entra em contato direto
com o indivíduo retirando o calor por convecção, possibilita também a
ventilação higiênica no inverno, que consiste na ventilação controlada, ou seja,
a massa de ar não entra em contato direto com o usuário do espaço. É uma
ventilação mais junto ao forro para quando as temperaturas estiverem mais
amenas.
Com relação ao aquecimento solar necessário para os períodos mais
frios, cuja estratégia é inexistente no projeto analisado, pode ser através do
ganho direto ou indireto da radiação solar. Pelo ganho direto, de acordo com
Lamberts et al. (2004), se permite o acesso da radiação solar diretamente ao
interior, através de aberturas laterais (janelas e paredes transparentes) ou
zenitais (clarabóias e domos). Através de elementos transparentes pode-se
gerar o “efeito estufa” quando necessário, para aquecer os ambientes
interiores. Já pelo ganho indireto, podem-se adotar jardins de inverno, que
captam a radiação solar, distribuindo-a indiretamente aos ambientes interiores.
Também, podem-se construir paredes de acumulação, que consistem no uso
de paredes com elevada massa térmica nas orientações mais expostas à
insolação. Estes elementos acumulam o calor do sol, devolvendo-o depois ao
ambiente por radiação de onda longa e convecção.
3.4 VEDAÇÕES EXTERNAS - PAREDES
Para a análise do desempenho térmico das paredes foi utilizado, para os
cálculos, o programa de simulação computacional Transmitância, a partir das
referências numéricas das normas NBR 15220 (2005) e NBR 15575 (2008).
Pela NBR 15220 foram avaliados os critérios transmitância, atraso térmico e
fator solar. Pela NBR 15575 foram analisados os critérios transmitância e
capacidade térmica.
De acordo com a NBR 15220/2005, o desempenho térmico das
vedações externas – paredes, está adequado (Tabela 4), conforme
especificado pela transmitância térmica (U), atraso térmico (φ) e fator solar (FS):
Tabela 4 - Análise do desempenho térmico das paredes de acordo com a NBR 15220/2005.
Zona Vedação externa Parede
Transmitância térmica – U W/m².k
Atraso térmico – φ Horas
Fator solar FS - %
Conclusão conforme projeto analisado
Zona 2 Leve U<3,00 0<4,3 FS<5,0 U= 2,38 (adequada) φ= 3,4 (adequado) FS= 1,9 (adequado)
Fonte: Autoras, 2011.
Quando analisadas de acordo com a NBR 15575/2008, a transmitância
térmica (U) e a capacidade térmica (CT) das vedações externas - paredes
também apresentaram adequado desempenho térmico (Tabela 5):
Tabela 5 - Análise do desempenho térmico das paredes de acordo com a NBR 15575/2008.
Zona Vedação externa Parede
Transmitância térmica – U W/m².k
Capacidade térmica – CT Kj/m².k
Conclusão conforme projeto analisado
ZONA 2 Leve U<2,5 >130 U= 2,38 (adequada) CT= 160 (adequada)
Fonte: Autoras, 2011.
3.5 VEDAÇÕES EXTERNAS – COBERTURA
Para a análise do desempenho térmico da cobertura foi utilizado, para os
cálculos, o programa de simulação computacional Transmitância, a partir das
referências numéricas das normas NBR 15220 (2005) e NBR 15575 (2008).
Pela NBR 15220 foram avaliados os critérios transmitância, atraso térmico e
fator solar. Pela NBR 15575 foi analisado o critério transmitância. Abaixo,
seguem os resultados obtidos na simulação do programa Transmitância, as
Tabelas 6 e 7 apresentam as análises e a memória dos cálculos:
Tabela 6 - Resultados obtidos na simulação do programa Transmitância.
Fonte: Autoras, 2011.
Tabela 7 - Memória de cálculo conforme programa Transmitância.
Fonte: Autoras, 2011.
De acordo com a NBR 15220/2005, o desempenho térmico das
vedações externas – cobertura, está adequado (Tabela 8), conforme
especificado pela transmitância térmica (U), atraso térmico (φ) e fator solar (FS):
Tabela 8 - Análise do desempenho térmico das vedações externas – cobertura de acordo com
a NBR 15220/2005.
Zona Vedação Externa Cobertura
Transmitância térmica – U W/m².k
Atraso Térmico – φ horas
Fator Solar FS - %
Conclusão conforme projeto analisado
Zona 2 Leve isolada U<2,00 0<3,3 FS<6,5 U= 1,89 (adequada) φ= 2 (adequado) FS= 3 (adequado)
Fonte: Autoras, 2011.
Quando analisadas a transmitância térmica (U) das vedações externas –
cobertura, de acordo com a NBR 15575/2008, esta também apresentou adequado
desempenho térmico (Tabela 9):
Tabela 9 - Análise do desempenho térmico das vedações externas – cobertura de acordo com
a NBR 15575/2008.
Zona Vedação Externa Cobertura
Transmitância Térmica – U W/m².K
Conclusão conforme projeto analisado
Zona 2 Leve isolada U<2,30 U= 1,89 (adequado)
Fonte: Autoras, 2011.
Para preenchimento dos dados no programa Transmitância, foi utilizada,
para direção do fluxo de calor, em que se obtém a resistência térmica
superficial interna e externa, a direção horizontal para paredes e a direção
descendente para cobertura.
Para o tipo de superfície externa, em que se obtêm os valores de
absortância para radiação solar e emissividade para radiações a temperaturas
comuns, foi utilizada a pintura branca para paredes e a pintura verde clara para
cobertura (esta última equivale aos valores de absortância e emissividade da
chapa de fibrocimento).
4. CONCLUSÕES
O uso de programas computacionais para simulação de edificações tem
se mostrado eficiente no auxílio às análises de desempenho termo-energético.
Em linhas gerais, este trabalho apresentou uma análise do desempenho
térmico de HIS, considerando a zona bioclimática da cidade de Passo
Fundo/RS, através da comparação dos requisitos de duas normas (NBR
15220/2005 e NBR 15575/2008), utilizando simulação computacional no
programa Transmitância.
De acordo com o projeto de habitação unifamiliar analisado, os
tamanhos das aberturas para ventilação, considerando as áreas de maior
permanência, possuem dimensões adequadas para garantir conforto térmico e
condições de ventilação adequadas, em todos os períodos do ano, na zona
bioclimática a qual se insere o projeto.
O sombreamento das aberturas localizadas nos dormitórios em paredes
externas está presente no projeto analisado através das venezianas de
alumínio. Conforme o projeto analisado percebe-se que as estratégias de
condicionamento térmico passivo estão bastante limitadas, principalmente com
relação à ventilação, aquecimento solar e o uso de massa térmica nas
vedações internas (fechamentos opacos mais pesados/espessos).
Porém, de acordo com as análises das vedações externas (paredes e
cobertura), conforme as referências normativas e os cálculos (simulação
computacional), a pintura (cor), o tipo e as dimensões dos materiais
proporcionam conforto térmico aos usuários e desempenho térmico à
edificação.
Portanto, por se tratar de habitações populares, percebe-se que a
maioria dos itens analisados está em conformidade com as normas utilizadas
como referência para que se obtenha o mínimo de conforto em relação à
edificação e a zona bioclimática de Passo Fundo, RS. Algumas estratégias
bioclimáticas passivas, sem um custo significativo, acrescidas ao projeto,
maximizariam o conforto dos ocupantes, assim como, a orientação solar,
implantação da edificação, cor das paredes externas, vedações internas
pesadas e ventilação cruzada.
Por fim, meio ambiente, energia, clima e necessidades de conforto
ambiental estão intimamente ligados e devem ser entendidos como os
elementos que, em última análise, moldam as características arquitetônicas e
urbanísticas dos espaços que ocupamos e que por sua vez condicionam o uso
de energia nas edificações.
REFERÊNCIAS
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15220-2: Desempenho Térmico de Edificações, Parte 2: Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de edificações. Rio de Janeiro, 2005.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15220-3: Desempenho Térmico de Edificações, Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro, 2005.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15575-4: Desempenho de Edifícios Habitacionais de até cinco pavimentos, Parte 4: Sistemas de vedações verticais internas e externas. Rio de Janeiro, 2008.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15575-5: Desempenho de Edifícios Habitacionais de até cinco pavimentos, Parte 5: Requisitos para sistemas de coberturas. Rio de Janeiro, 2008.
BARBOSA, M. J.; et al. Aperfeiçoamento e desenvolvimento de novos métodos de avaliação de desempenho para subsidiar a elaboração e revisão de normas técnicas. In: ROMAN, H. R.; BONIN, L.C. (Ed.) Coletânea Habitare, v. 3, Normatização e certificação na construção habitacional. 2003, p. 43-53.
CUNHA, E. G. da, et al. Elementos de arquitetura de climatização natural. Passo Fundo: UPF, 2003.
LAMBERTS et al. Eficiência Energética na Arquitetura. São Paulo, Procel/ProLivros, 2004.
LAMBERTS, R. et al. Casa eficiente: simulação computacional do desempenho termo-energético. Florianópolis : UFSC/LabEEE; 2010, V. 4, 53 p.
LAMBERTS, R. et al. Sombrear ou não sombrear janelas. Disponível em : <http://www.labeee.ufsc.br/publicacoes/notas-tecnicas> . Acesso em : 28 dez. 2011.
SIQUEIRA, T. C. P. A. et al. Dados climáticos para avaliação de desempenho térmico de edificações. In: Revista Escola de Minas, vol. 58, nº 2. Ouro Preto. Abr/Jun 2005.