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SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL PARA ANÁLISE DO

DESEMPENHO TÉRMICO DE UMA HIS

RESUMO:

O presente artigo está inserido em um projeto de pesquisa que prevê a

construção de 210 HIS em um bairro na cidade de Passo Fundo/RS, cujos

projetos das habitações serão avaliados em seu contexto original (projeto

tradicional) e será proposta uma metodologia para ampliação das residências,

contemplando a arquitetura evolutiva e a sustentabilidade construtiva. O

objetivo deste estudo é avaliar o desempenho térmico da habitação e a sua

interação com os elementos fachada e cobertura, além de uma análise do

conforto térmico dos seus futuros usuários. Esta análise é feita pela

comparação de duas normativas: NBR 15575 – Desempenho de Edifícios

Habitacionais de até Cinco Pavimentos e a NBR 15220 – Desempenho

Térmico de Edificações. Este estudo comparativo é efetuado a partir do

resultado de simulações computacionais utilizando o software Transmitância.

De modo geral, a maioria dos aspectos analisados está em conformidade com

as normas utilizadas como referência para que se obtenha o mínimo de

conforto em relação à edificação e a zona bioclimática de Passo Fundo/RS. No

entanto, algumas estratégias bioclimáticas passivas acrescidas ao projeto e

que não implicariam em um custo final significativo, apresentam potencialidade

de maximização do conforto térmico dos ocupantes.

PALAVRAS-CHAVE: Desempenho térmico, habitação de interesse social,

conforto térmico.

ABSTRACT:

This article is part of a research project that includes the construction

of 210 dwelling for low-income family in a neighbourhood in the city of Passo

Fundo, RS (Brazil), whose housing projects was evaluated in its original context

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(traditional design). It was proposed a methodology for expanding the number

of residences that should contemplate the improvements in architecture design

and sustainable construction. The objective of this study was to evaluate the

thermal performance of a house and its interaction with the elements of the

facade and roof, plus an analysis of the thermal comfort of their future users,

which was done by comparing two Brazilian standards: NBR 15575 -

Performance of Buildings Housing up to five floors and NBR 15220 - Thermal

Performance of Buildings. This comparative study was made from results of

computer simulations using the software Transmittance. Most aspects were

analyzed in accordance with the mentioned standards, and one conclude that it

was reached the expected minimum level of comfort for that climatic zone. One

conclude too that some passive bioclimatic strategies added to the project does

not imply in a significant raise of final cost and have potential to maximize the

thermal comfort of occupants.

KEY WORDS: Thermal Performance, Low-Income Housing, Thermal Comfort.

1. INTRODUÇÃO

A busca por soluções arquitetônicas e urbanas adequadas ao clima

produziu inúmeros exemplos que ilustram a tentativa de solução de um

problema ainda atual, melhorar as condições de conforto ambiental das

edificações e, consequentemente, da qualidade de vida nos aglomerados

humanos e minimizar o uso dos recursos energéticos e naturais.

Nesse contexto, as necessidades humanas de habitação e abrigo, para

o desempenho das mais diversas atividades, e sua vinculação com o consumo

energético devem ser analisadas de maneira suficientemente fundamentada,

considerando a realidade social em que se inserem, suas características

culturais e condições climáticas, bem como a problemática tecnológica e os

custos ambientais e econômicos envolvidos.

A avaliação do desempenho térmico de uma edificação possibilita

analisar a relação das trocas térmicas entre o ambiente construído e o

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ambiente externo. Esta relação se torna vital, se levado em conta as condições

climáticas do local em que a edificação está inserida.

De acordo com Siqueira et al. (2005), o desempenho térmico de

edificações é um fator determinante em habitações, principalmente em

habitações de interesse social, que são destinadas à população de baixa

renda. Uma edificação projetada levando-se em conta o clima local potencializa

o conforto dos usuários e gera economia de energia.

Para avaliar o desempenho térmico de uma edificação, existem outros

procedimentos que podem ser adotados ainda na fase de projeto, ou após a

construção. Uma alternativa de avaliação é a simulação computacional do

sistema construtivo utilizado, observando-se o enquadramento dos resultados

dentro de limites ou parâmetros de conforto térmico ajustados para a

população local (BARBOSA et al., 2003). Um exemplo de parâmetro que pode

ser utilizado é o total de horas anuais em que as temperaturas internas obtidas

por simulação ou monitoramento apresentam-se fora dos limites de

temperatura da zona de conforto (BARBOSA et al., 2003). Tem-se ainda a

avaliação por prescrição, na qual são definidos limites para as características

termofísicas dos materiais construtivos, assim como recomendações para o

dimensionamento de aberturas para ventilação e existência de dispositivos de

sombreamento que visam à adequação do projeto às condições climáticas de

um determinado local.

Neste artigo, serão abordados os parâmetros e condições de conforto,

além das diretrizes construtivas para a construção de HIS em um novo

loteamento na cidade de Passo Fundo – RS, com base em duas normas

aplicáveis à habitação, vigentes no Brasil: a NBR 15220 – Desempenho

Térmico de Edificações, que em sua parte 3 apresenta as diretrizes do

Zoneamento Bioclimático Brasileiro (ABNT, 2005), e a NBR 15575 –

Edificações Habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho (ABNT,

2008), que trata de diversos requisitos de desempenho para edifícios

habitacionais (estrutural, acústico, lumínico, entre outros), dentre eles o

desempenho térmico.

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2. METODOLOGIA

Diversas ferramentas computacionais de simulação têm sido

desenvolvidas nacional e internacionalmente, com o intuito de facilitar a análise

e avaliação de projetos e edifícios quanto ao seu comportamento energético,

térmico, acústico e de iluminação, entre outros (LAMBERTS, 2010). Elas têm

se tornado cada vez mais importantes, ganhando destaque em pesquisas de

diversos países.

A Universidade Federal de Santa Catarina desenvolve por meio do

Laboratório de Eficiência Energética diversos programas que auxiliam na

avaliação do desempenho térmico levando em consideração as normativas

brasileiras.

Assim, a metodologia utilizada neste artigo para a realização da análise

do desempenho térmico do projeto de edificação unifamiliar de interesse social

será a comparação entre os resultados apresentados pelo projeto analisado e

as normativas: NBR 15575 – Desempenho de Edifícios Habitacionais de até

Cinco Pavimentos e NBR 15220 – Desempenho Térmico de Edificações. Esta

comparação será efetuada a partir de análises de projeto e também, do

resultado de cálculos realizados através de simulações computacionais

utilizando o programa Transmitância, desenvolvido pelo Laboratório de

Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa

Catarina – LABEEE/UFSC.

O programa Transmitância permite o cálculo das seguintes propriedades

térmicas: (i) transmitância térmica (W/m².K), (ii) resistência térmica (m².K/W),

(iii) capacidade térmica (kJ/m².K), (iv) fator de calor solar e (v) atraso térmico

(horas).

3. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

A simulação computacional foi empregada neste trabalho com o objetivo

de avaliar o desempenho térmico de uma residência unifamiliar, baseada em

um projeto arquitetônico típico de uma HIS. A tipologia do projeto arquitetônico

é comumente empregada em todo o Rio Grande do Sul. Desta forma, tem-se o

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interesse em realizar uma análise dos projetos comumente praticados nesta

zona bioclimática, com a intenção de apresentar sugestões de melhorias, se

este for o caso.

O grande projeto do loteamento Canaã que prevê a construção de 210

novas HIS está localizado em uma área com aproximadamente 94 mil metros

quadrados e situado a 5,00 Km do centro urbano da cidade, região noroeste de

Passo Fundo/RS.

O estudo foi realizado em uma residência unifamiliar composta por dois

dormitórios, uma sala, uma cozinha e um banheiro, com área total de 42,55 m²

(Figura 1). A residência possui pé direito de 2,60 m, estrutura em concreto

armado, vedações externas de tijolos cerâmicos de seis furos rebocados em

ambas as faces, pintura branca, cobertura com telhado inclinado de chapas de

fibrocimento com forro de PVC e câmara de ar ventilada.

Figura 1 - Planta Baixa e Fachada da Residência Unifamiliar Fonte: Autoras, 2011.

Foram realizadas as medições das aberturas para ventilação, das

vedações externas, paredes e coberturas, de acordo com as especificações

definidas pelas NBRs 15220/2005 e 15575/2008, e de acordo com a zona

bioclimática da cidade de Passo Fundo/RS. O dia típico do projeto foi definido

como um dia real caracterizado pela velocidade média predominante do vento

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e pelos valores horários de cada uma das seguintes variáveis: temperatura do

ar, umidade relativa do ar e radiação solar incidente em superfície horizontal.

3.1 CÁLCULO DO TAMANHO DAS ABERTURAS PARA VENTILAÇÃO

Sabe-se que a ventilação natural é uma das mais antigas estratégias de

resfriamento passivo. Esta estratégia bioclimática é considerada uma das mais

eficientes para obtenção de conforto térmico nos espaços urbanos e

arquitetônicos, principalmente pelo seu alcance social, ou seja, a população de

baixa renda depende de projetos que possibilitem o máximo de conforto

térmico sem custos adicionais.

Segundo Lamberts et al (2004), a ventilação natural é resultante de

movimentos de ar, através de trocas entre o ar interno e o externo ou pela

própria circulação de ar interior. A importância da ventilação em uma edificação

consiste na manutenção da qualidade do ar interno através da renovação (fluxo

de ar); em proporcionar conforto térmico aos usuários, reduzindo a umidade do

ar e acelerando as trocas de calor, através da evaporação do suor da pele; em

contribuir no desempenho térmico de uma edificação, permitindo o resfriamento

das superfícies interiores e exteriores dos edifícios, removendo o calor por

convecção.

De acordo com a NBR 15575 (2008), as habitações devem apresentar

aberturas em suas fachadas com dimensões adequadas para a ventilação

interna dos ambientes. Para este requisito, analisam-se os ambientes de longa

permanência, como salas, cozinhas e dormitórios. No caso deste artigo, o

ambiente banheiro também será analisado.

Para o cálculo das aberturas é avaliada a área do piso de cada

ambiente, a área total das aberturas de cada ambiente (conforme projeto), para

então, se obter a porcentagem da área do piso por ambiente, verificando assim

sua adequação frente às normas, conforme Tabela 1, abaixo:

Tabela 1 - Cálculo das aberturas da residência unifamiliar.

Ambiente Área do Piso (m²) Área Total Aberturas

(m²)

% Área do

Piso/Ambiente

Sala/Cozinha 14,58 2,88 19,75

Quartos 14,68 2,88 19,61

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Banheiro 3,45 0,36 10,43

Fonte: Autoras, 2011.

Segundo a NBR 15220 (2005), para a zona bioclimática 2 (cidade de

Passo Fundo/RS), as aberturas para ventilação devem ser médias, ou seja, a

área do piso com relação ao ambiente deve ser maior que 15% e menor que

25%. Analisando a tabela acima, pode-se concluir que a abertura para o

ambiente sala/cozinha, conforme projeto analisado está em adequação com a

norma (19,75%). O ambiente quarto também está adequado para a norma

(19,61%), porém o ambiente banheiro está inadequado em relação aos

parâmetros da norma (10,43%), concluindo-se que deve haver um aumento de

sua área de abertura para se obter uma ventilação adequada.

Apesar de o ambiente banheiro não fazer parte obrigatória na análise do

tamanho das aberturas, pois não se trata de um ambiente de longa

permanência em uma residência, contempla grande importância em se

tratando de ventilação natural. A dimensão correta de abertura para este tipo

de ambiente possibilita uma melhor manutenção da qualidade do ar

proporcionando maior higiene com a renovação do ar interno, melhorando o

suprimento de oxigênio, a desconcentração de odores, vapores e poluentes

como o gás carbônico, gerando então, maior conforto aos usuários.

Conforme a NBR 15575 (2008), para a zona bioclimática 2 (cidade de

Passo Fundo/RS), as aberturas para ventilação devem ter, no mínimo, a área

do piso com relação ao ambiente maior que 8%. Analisando a Tabela 1, pode-

se concluir que todos os ambientes calculados estão em adequação com a

norma, não necessitando alterações projetuais.

3.2 SOMBREAMENTO DAS ABERTURAS LOCALIZADAS NOS

DORMITÓRIOS EM PAREDES EXTERNAS

De acordo com pesquisas realizadas por Lamberts et al. (2011), o

dispositivo de sombreamento das aberturas contribui significativamente para

uma redução dos ganhos solares dos dormitórios, diferentemente da

orientação solar em que se encontram. Dessa forma, o dispositivo de

sombreamento influencia determinantemente na temperatura do ambiente, pois

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ele bloqueia a radiação solar antes desta incidir na superfície envidraçada,

evitando assim o efeito estufa.

A NBR 15575 (2008) menciona que os projetos de habitações devem

possibilitar o controle da entrada de luz e calor pelas aberturas dos dormitórios

localizadas em fachadas. As janelas dos dormitórios, para qualquer região

climática, devem ter dispositivos de sombreamento, externos ao vidro (quando

este existir), de forma a permitir o controle do sombreamento, ventilação e

escurecimento, a critério do usuário, como, por exemplo, venezianas. Para

tanto, o método de avaliação consiste em fazer uma análise do projeto

conforme Tabela 2, abaixo:

Tabela 2 - Análise do controle de entrada de luz e calor das aberturas dos dormitórios da residência unifamiliar.

Zona Sombreamento NBR

15220/2005

Sombreamento NBR

15575/2008 Conclusão Alterações

Zona 2 Permitir sol durante o

inverno

Exigência de

dispositivo de

sombreamento

Recebe sol e há

venezianas:

adequado

Não necessita

alterações

Fonte: Autoras, 2011.

De acordo com a NBR 15220 (2005), para a zona bioclimática 2 (cidade

de Passo Fundo/RS), as aberturas dos dormitórios localizadas em fachadas

devem permitir sol durante o inverno. O projeto estará em adequação com esta

norma se houver uma preocupação com a implantação nos lotes, otimizando

as fachadas dos dormitórios com a orientação solar norte e leste.

Segundo a NBR 15575 (2008), para a zona bioclimática 2 (cidade de

Passo Fundo/RS), as aberturas dos dormitórios localizadas em fachadas

devem possuir dispositivo de sombreamento. Conforme projeto analisado, este

requisito está em adequação com a norma, pois as aberturas dos dormitórios

possuem venezianas em alumínio.

3.3 ESTRATÉGIAS DE CONDICIONAMENTO TÉRMICO PASSIVO

Existem estratégias de concepção e construção dos edifícios através

das quais se podem melhorar o comportamento e a eficiência energética dos

mesmos.

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Conforme a avaliação bioclimática pelas normais climatológicas, a

cidade de Passo Fundo/RS se caracteriza pelo clima subtropical úmido. A

temperatura média é de 17,5º C. De acordo com a análise psicrométrica de

Passo Fundo (Magro apud Cunha, 2003), definida por um ano climático de

referência, as situações de conforto térmico contam com 29,1% das horas do

ano; as situações de frio contam com 57,5% das horas do ano; e as situações

de calor 13,4% das horas do ano.

Dessa forma, as estratégias de condicionamento térmico passivo

indicadas para Passo Fundo para maximizar as situações de conforto,

conforme a NBR 15220 (2005), são: utilizar a forma, a orientação solar e a

implantação da edificação para contribuir no aquecimento no período frio

através da incidência de radiação solar. Neste sentido, algumas ideias podem

colaborar, como por exemplo, posicionar superfícies envidraçadas como

janelas, paredes, zenitais, orientadas para o sol, reduzir o tamanho das

aberturas em orientações desfavoráveis, aproveitar ao máximo o sol no

inverno. A cor externa dos componentes também desempenha papel

importante no aquecimento dos ambientes através do aproveitamento de

radiação solar. Outra estratégia é adotar paredes internas pesadas para que as

temperaturas internas sejam mais agradáveis, ou seja, manter o interior da

edificação aquecido.“

A ventilação cruzada também é uma estratégia de condicionamento

térmico passivo para o verão, sendo obtida através da circulação de ar pelos

ambientes da edificação. Esta estratégia também contribui para a

desumidificação dos ambientes através da renovação do ar interno por ar

externo.

A análise das estratégias de condicionamento térmico passivo no projeto

de HIS na cidade de Passo Fundo (zona bioclimática 2) consta na Tabela 3:

Tabela 3 - Análise das estratégias de condicionamento térmico passivo da residência

unifamiliar.

Zona Estratégias NBR

15220/2005 Conclusão Alterações

Zona 2 Verão: ventilação Verão: adequada Implementar aquecimento

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cruzada

Inverno: aquecimento

solar; vedações internas

pesadas

somente no ambiente

sala/cozinha

Inverno: não há

aquecimento solar

solar para conforto no

inverno.

Implementar dispositivos de

ventilação de conforto e de

higiene para todos os

ambientes no verão.

Fonte: Autoras, 2011.

De acordo com a análise das estratégias de condicionamento térmico

passivo exposta na Tabela 3, configura-se um projeto bastante deficiente tanto

para a estação de verão quanto para a estação de inverno.

Com relação à ventilação cruzada necessária para os períodos mais

quentes, adequada somente no ambiente sala/cozinha (vide planta baixa,

Figura 1), em função de constituir um único ambiente sem interferência da

passagem do ar e por possuir portas e janelas quase que simetricamente em

direções opostas, favorece “o movimento do ar de um espaço ou mais espaços

conectados por meio de aberturas em fachadas opostas, cujas condições de

radiação ou exposição ao vento sejam diferentes” (LAMBERTS ET AL, 2004),

proporcionando uma maior e melhor ventilação de conforto aos usuários.

Para que os dormitórios também usufruam do conforto proporcionado

pela ventilação cruzada, seria importante o uso de dispositivos móveis tanto

nas janelas quanto nas portas. Estes dispositivos poderiam ser janelas

basculantes localizadas na parte superior das janelas já existentes, e também,

serem utilizadas na parte superior das portas (as chamadas bandeiras).

Este dispositivo sugerido não agrega custo significativo ao projeto, e

ainda, possibilita, além da ventilação cruzada e de conforto no verão, que

consiste na ventilação plena, ou seja, a massa de ar entra em contato direto

com o indivíduo retirando o calor por convecção, possibilita também a

ventilação higiênica no inverno, que consiste na ventilação controlada, ou seja,

a massa de ar não entra em contato direto com o usuário do espaço. É uma

ventilação mais junto ao forro para quando as temperaturas estiverem mais

amenas.

Com relação ao aquecimento solar necessário para os períodos mais

frios, cuja estratégia é inexistente no projeto analisado, pode ser através do

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ganho direto ou indireto da radiação solar. Pelo ganho direto, de acordo com

Lamberts et al. (2004), se permite o acesso da radiação solar diretamente ao

interior, através de aberturas laterais (janelas e paredes transparentes) ou

zenitais (clarabóias e domos). Através de elementos transparentes pode-se

gerar o “efeito estufa” quando necessário, para aquecer os ambientes

interiores. Já pelo ganho indireto, podem-se adotar jardins de inverno, que

captam a radiação solar, distribuindo-a indiretamente aos ambientes interiores.

Também, podem-se construir paredes de acumulação, que consistem no uso

de paredes com elevada massa térmica nas orientações mais expostas à

insolação. Estes elementos acumulam o calor do sol, devolvendo-o depois ao

ambiente por radiação de onda longa e convecção.

3.4 VEDAÇÕES EXTERNAS - PAREDES

Para a análise do desempenho térmico das paredes foi utilizado, para os

cálculos, o programa de simulação computacional Transmitância, a partir das

referências numéricas das normas NBR 15220 (2005) e NBR 15575 (2008).

Pela NBR 15220 foram avaliados os critérios transmitância, atraso térmico e

fator solar. Pela NBR 15575 foram analisados os critérios transmitância e

capacidade térmica.

De acordo com a NBR 15220/2005, o desempenho térmico das

vedações externas – paredes, está adequado (Tabela 4), conforme

especificado pela transmitância térmica (U), atraso térmico (φ) e fator solar (FS):

Tabela 4 - Análise do desempenho térmico das paredes de acordo com a NBR 15220/2005.

Zona Vedação externa Parede

Transmitância térmica – U W/m².k

Atraso térmico – φ Horas

Fator solar FS - %

Conclusão conforme projeto analisado

Zona 2 Leve U<3,00 0<4,3 FS<5,0 U= 2,38 (adequada) φ= 3,4 (adequado) FS= 1,9 (adequado)

Fonte: Autoras, 2011.

Quando analisadas de acordo com a NBR 15575/2008, a transmitância

térmica (U) e a capacidade térmica (CT) das vedações externas - paredes

também apresentaram adequado desempenho térmico (Tabela 5):

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Tabela 5 - Análise do desempenho térmico das paredes de acordo com a NBR 15575/2008.

Zona Vedação externa Parede

Transmitância térmica – U W/m².k

Capacidade térmica – CT Kj/m².k

Conclusão conforme projeto analisado

ZONA 2 Leve U<2,5 >130 U= 2,38 (adequada) CT= 160 (adequada)

Fonte: Autoras, 2011.

3.5 VEDAÇÕES EXTERNAS – COBERTURA

Para a análise do desempenho térmico da cobertura foi utilizado, para os

cálculos, o programa de simulação computacional Transmitância, a partir das

referências numéricas das normas NBR 15220 (2005) e NBR 15575 (2008).

Pela NBR 15220 foram avaliados os critérios transmitância, atraso térmico e

fator solar. Pela NBR 15575 foi analisado o critério transmitância. Abaixo,

seguem os resultados obtidos na simulação do programa Transmitância, as

Tabelas 6 e 7 apresentam as análises e a memória dos cálculos:

Tabela 6 - Resultados obtidos na simulação do programa Transmitância.

Fonte: Autoras, 2011.

Tabela 7 - Memória de cálculo conforme programa Transmitância.

Fonte: Autoras, 2011.

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De acordo com a NBR 15220/2005, o desempenho térmico das

vedações externas – cobertura, está adequado (Tabela 8), conforme

especificado pela transmitância térmica (U), atraso térmico (φ) e fator solar (FS):

Tabela 8 - Análise do desempenho térmico das vedações externas – cobertura de acordo com

a NBR 15220/2005.

Zona Vedação Externa Cobertura

Transmitância térmica – U W/m².k

Atraso Térmico – φ horas

Fator Solar FS - %

Conclusão conforme projeto analisado

Zona 2 Leve isolada U<2,00 0<3,3 FS<6,5 U= 1,89 (adequada) φ= 2 (adequado) FS= 3 (adequado)

Fonte: Autoras, 2011.

Quando analisadas a transmitância térmica (U) das vedações externas –

cobertura, de acordo com a NBR 15575/2008, esta também apresentou adequado

desempenho térmico (Tabela 9):

Tabela 9 - Análise do desempenho térmico das vedações externas – cobertura de acordo com

a NBR 15575/2008.

Zona Vedação Externa Cobertura

Transmitância Térmica – U W/m².K

Conclusão conforme projeto analisado

Zona 2 Leve isolada U<2,30 U= 1,89 (adequado)

Fonte: Autoras, 2011.

Para preenchimento dos dados no programa Transmitância, foi utilizada,

para direção do fluxo de calor, em que se obtém a resistência térmica

superficial interna e externa, a direção horizontal para paredes e a direção

descendente para cobertura.

Para o tipo de superfície externa, em que se obtêm os valores de

absortância para radiação solar e emissividade para radiações a temperaturas

comuns, foi utilizada a pintura branca para paredes e a pintura verde clara para

cobertura (esta última equivale aos valores de absortância e emissividade da

chapa de fibrocimento).

4. CONCLUSÕES

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O uso de programas computacionais para simulação de edificações tem

se mostrado eficiente no auxílio às análises de desempenho termo-energético.

Em linhas gerais, este trabalho apresentou uma análise do desempenho

térmico de HIS, considerando a zona bioclimática da cidade de Passo

Fundo/RS, através da comparação dos requisitos de duas normas (NBR

15220/2005 e NBR 15575/2008), utilizando simulação computacional no

programa Transmitância.

De acordo com o projeto de habitação unifamiliar analisado, os

tamanhos das aberturas para ventilação, considerando as áreas de maior

permanência, possuem dimensões adequadas para garantir conforto térmico e

condições de ventilação adequadas, em todos os períodos do ano, na zona

bioclimática a qual se insere o projeto.

O sombreamento das aberturas localizadas nos dormitórios em paredes

externas está presente no projeto analisado através das venezianas de

alumínio. Conforme o projeto analisado percebe-se que as estratégias de

condicionamento térmico passivo estão bastante limitadas, principalmente com

relação à ventilação, aquecimento solar e o uso de massa térmica nas

vedações internas (fechamentos opacos mais pesados/espessos).

Porém, de acordo com as análises das vedações externas (paredes e

cobertura), conforme as referências normativas e os cálculos (simulação

computacional), a pintura (cor), o tipo e as dimensões dos materiais

proporcionam conforto térmico aos usuários e desempenho térmico à

edificação.

Portanto, por se tratar de habitações populares, percebe-se que a

maioria dos itens analisados está em conformidade com as normas utilizadas

como referência para que se obtenha o mínimo de conforto em relação à

edificação e a zona bioclimática de Passo Fundo, RS. Algumas estratégias

bioclimáticas passivas, sem um custo significativo, acrescidas ao projeto,

maximizariam o conforto dos ocupantes, assim como, a orientação solar,

implantação da edificação, cor das paredes externas, vedações internas

pesadas e ventilação cruzada.

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Por fim, meio ambiente, energia, clima e necessidades de conforto

ambiental estão intimamente ligados e devem ser entendidos como os

elementos que, em última análise, moldam as características arquitetônicas e

urbanísticas dos espaços que ocupamos e que por sua vez condicionam o uso

de energia nas edificações.

REFERÊNCIAS

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