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ANÁLISE E PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA UM SISTEMA LOGÍSTICO DE RECOLHA E BENEFICIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS PARA ÁREAS DE FAVELA EM SINTONIA COM OS PRECEITOS DO GRSCM Bruno Duarte Azevedo (PUC) [email protected] Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do Carmo (PUC) [email protected] Marcelo Leopoldo Sepeda Ferreira (PUC) [email protected] O aumento no nível de consumo, somado ao uso indiscriminado de materiais descartáveis, despertou na opinião pública movimentos que cobram uma nova postura referente à preservação dos recursos naturais. Nesse sentido, o Green Supply Chain MManagement - GrSCM, surge como uma nova forma de gerenciamento da cadeia de suprimentos que leva em conta todo o ciclo de vida do produto, desde a extração de suas matérias-primas, até a sua correta disposição final. Uma vez que a aplicação deste conceito ainda é incipiente, o presente artigo apresenta inicialmente uma abordagem teórica das principais definições e conceitos descritas na literatura para os termos ligados ao GrSCM. Em seguida, a partir de um diagnóstico prátcio que referencia a situação dos resíduos sólidos na comunidade da Rocinha, uma favela no Município do Rio de Janeiro, o artigo propõe diretrizes gerais para um sistema logístico de recolha e beneficiamento destes resíduos (com destaque aos recicláveis) para áreas de favela, buscando medidas práticas de aplicação do conceito de GrSCM em locais de ocupação irregular e pobreza acentuada. As diretrizes foram traçadas nesta pesquisa sob três perspectivas: a dos empresários geradores dos produtos; a dos moradores e organizações locais e a dos órgãos públicos e instituições responsáveis pela coleta e limpeza da região. Como conclusão, defende-se que para o bom funcionamento de um sistema de gerenciamento de resíduos a partir da aplicação do GrSCM em realidades tão complexas, governo e empresas privadas devem ser parceiros e atuar de forma coordenada. Cabe ainda aos moradores e organizações locais o dever de cobrar, adotar, fiscalizar e promover ações que visem o bem estar do local onde vivem. Palavras-chaves: Gestão da Cadeia de Suprimentos; Green Supply Chain Management; Logística Verde; Favela; Resíduos Sólidos; Reciclagem, Engenharia da Sustentabilidade, Sustentabilidade. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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ANÁLISE E PROPOSTA DE DIRETRIZES

PARA UM SISTEMA LOGÍSTICO DE

RECOLHA E BENEFICIAMENTO DOS

RESÍDUOS SÓLIDOS PARA ÁREAS DE

FAVELA EM SINTONIA COM OS

PRECEITOS DO GRSCM

Bruno Duarte Azevedo (PUC)

[email protected]

Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do Carmo (PUC)

[email protected]

Marcelo Leopoldo Sepeda Ferreira (PUC)

[email protected]

O aumento no nível de consumo, somado ao uso indiscriminado de

materiais descartáveis, despertou na opinião pública movimentos que

cobram uma nova postura referente à preservação dos recursos

naturais. Nesse sentido, o Green Supply Chain MManagement -

GrSCM, surge como uma nova forma de gerenciamento da cadeia de

suprimentos que leva em conta todo o ciclo de vida do produto, desde a

extração de suas matérias-primas, até a sua correta disposição final.

Uma vez que a aplicação deste conceito ainda é incipiente, o presente

artigo apresenta inicialmente uma abordagem teórica das principais

definições e conceitos descritas na literatura para os termos ligados ao

GrSCM. Em seguida, a partir de um diagnóstico prátcio que referencia

a situação dos resíduos sólidos na comunidade da Rocinha, uma favela

no Município do Rio de Janeiro, o artigo propõe diretrizes gerais para

um sistema logístico de recolha e beneficiamento destes resíduos (com

destaque aos recicláveis) para áreas de favela, buscando medidas

práticas de aplicação do conceito de GrSCM em locais de ocupação

irregular e pobreza acentuada. As diretrizes foram traçadas nesta

pesquisa sob três perspectivas: a dos empresários geradores dos

produtos; a dos moradores e organizações locais e a dos órgãos

públicos e instituições responsáveis pela coleta e limpeza da região.

Como conclusão, defende-se que para o bom funcionamento de um

sistema de gerenciamento de resíduos a partir da aplicação do GrSCM

em realidades tão complexas, governo e empresas privadas devem ser

parceiros e atuar de forma coordenada. Cabe ainda aos moradores e

organizações locais o dever de cobrar, adotar, fiscalizar e promover

ações que visem o bem estar do local onde vivem.

Palavras-chaves: Gestão da Cadeia de Suprimentos; Green Supply

Chain Management; Logística Verde; Favela; Resíduos Sólidos;

Reciclagem, Engenharia da Sustentabilidade, Sustentabilidade.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

O gerenciamento de resíduos sólidos tornou-se nas últimas décadas um tema de preocupação

em todo o mundo. Com o aumento da população e o crescente consumo de materiais não-

recicláveis, o problema de esgotamento dos aterros sanitários, de diminuição das reservas de

matérias-primas e da poluição gerada pela disposição indevida do lixo cresceu (May et al.,

2003). Como resposta, surge o conceito de GrSCM – Green Supply Chain Management,

desenhado para incorporar considerações ambientais em cada etapa do gerenciamento

logístico de um dado material, desde a fase de projeto até a fase de disposição final

(Srivastava, 2007; Qinghua et al., 2008b).

As forças motrizes para essa nova postura das organizações são pressões governamentais,

com leis cada vez mais severas no sentido de responsabilizar o fabricante do material, em

caso de algum dano ambiental causado pelo mesmo, e a busca incessante por alguma

vantagem competitiva, uma vez que pressões de grupos de consumidores e Organizações Não

Governamentais levam estas empresas a buscarem certificações que a qualifiquem como

“environmental friendly” (Srivastava, 2008; Walker et al., 2008).

Neste contexto, a logística reversa ganha força e uma presença cada vez mais recorrente no

planejamento estratégico das corporações. Segundo Wadhwa et al. (2009), hoje em dia o

retorno de produtos tem se tornado endêmico para quase todas as categorias, com taxas

superiores a 20% em alguns setores e ainda é esperado um aumento no futuro próximo. Ainda

mais recente que o conceito de logística reversa, o conceito de “green logistics”, ou logística

verde, surge como elo entre o primeiro e o “Green Supply Chain Management”. Segundo

Roger & Tibben-Lembke (1999), o termo estaria ligado a todas as ações que visam tornar as

atividades relacionadas à logística menos impactantes no que se refere à questão ambiental.

Nesse sentido, surgem ações que podem ser consideradas ao mesmo tempo como ligadas à

logística verde e à reversa. Um exemplo claro, e cada vez mais abordado em grandes centros,

é a preocupação (e muitas vezes, obrigação legal) para empresas fabricantes de produtos

potencialmente nocivos ao meio ambiente coletarem esses produtos após o final da sua vida

útil e dar um destino apropriado aos mesmos: remanufatura, reciclagem ou disposição final

adequada, por exemplos (Qinghua et al., 2008b; Srivastava, 2008; Wadhwa et al., 2009).

Entretanto, o cenário fica crítico quando o local de coleta desses materiais apresenta uma

conformação urbana caótica, desestruturada e desorganizada, mas altamente comum em

grandes centros de países pouco desenvolvidos ou em desenvolvimento: as favelas; locais

onde são precárias as vias de acesso e os meios de infra-estrutura co-relacionados com a

coleta (tais como lixeiras e containeres), onde o nível de escolaridade da população é baixo e,

muitas vezes, onde a ausência do poder público credencia a instituição de um poder paralelo

com força de lei.

Jasem (2005) relata que países do “terceiro mundo”, também passaram a dar importância para

o gerenciamento do lixo municipal recentemente, o que aumenta a importância do tema em

termos mundiais. Uma das razões para tal mudança de postura é o fato de inúmeras pessoas

que nunca tiveram acesso à renda estarem se tornando vorazes consumidoras, o que resulta

em um aumento do impacto ambiental e gera transtornos cada vez mais visíveis. Nesse

sentido, discutir a aplicação de conceitos ainda novos para a literatura especializada, tais

como Logística Verde e “Green Supply Chain Management”, dentro do contexto das favelas,

se apresenta como um campo fértil para a pesquisa e pode representar o começo de uma união

de sucesso entre a área sócio-ambiental e a Engenharia de Produção.

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O presente artigo aborda esta temática dentro da maior favela urbana em área de morro da

América Latina: a Favela da Rocinha. Localizada na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, a

comunidade fica encravada entre dois bairros de alto poder aquisitivo da cidade. Com uma

estrutura urbana altamente complexa e uma média diária de lixo produzido comparável à de

uma cidade brasileira média, tal comunidade se apresenta como um interessante ponto de

partida para discussão de um tema ainda pouco explorado. O objetivo é analisar o atual

gerenciamento de resíduos sólidos da comunidade da Rocinha para, a partir daí, propor

diretrizes gerais para um sistema logístico de recolha e beneficiamento destes resíduos (com

destaque aos recicláveis) para áreas de favela, buscando medidas práticas de aplicação do

conceito de Green Supply Chain Management em locais de ocupação irregular e pobreza

acentuada.

Para atingir este objetivo, o trabalho se divide em cinco seções, sendo esta primeira a

introdutória. A segunda seção faz uma abordagem das principais definições descritas na

literatura para o termo de Green Supply Chain Management enquanto que a terceira descreve

o método de pesquisa. A quarta seção apresenta um diagnóstico referente à situação dos

resíduos sólidos da comunidade estudada e oferece uma síntese das propostas de melhoria no

sistema logístico de recolha destes resíduos. A última seção do artigo apresenta as principais

conclusões finais tecidas pelos autores.

2. Green Supply Chain Management (GrSCM)

A questão ambiental na cadeia de suprimentos é cada vez mais uma preocupação para muitas

empresas e um desafio para o gerenciamento logístico no Século XXI. Uma questão em

particular é como despertar uma consciência ambiental organizacional e colocar em prática

aspectos ambientais nas atividades logísticas de cadeias de suprimento (Qinghua et al.,

2008a). Nesse contexto, surge o “Green Supply Chain Management”, conceito ainda em fase

de amadurecimento, com diversos autores abordando o tema sobre óticas diferentes.

Dias (2006) extrapola os limites do conceito de logística reversa e sentencia que na fase de

definição dos materiais a serem utilizados, Pesquisa e Desenvolvimento, deve ser considerada

a possível reciclagem e reutilização dos materiais. Uma vez que a vida de um produto, do

ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente, por trás do conceito de

logística reversa deve estar o ciclo de vida do produto. Porém, para que isso ocorra, as

empresas devem considerar a gestão logística, em conjunto com a gestão do fim da vida, não

como uma forma de disposição organizada do produto, mas como um “circuito fechado”, isto

é, como estratégia de recuperação do valor econômico e ambiental.

Por sua vez, Qinghua et al. (2008a) diz que o escopo da implementação de práticas em

GrSCM vai desde “compras verdes” até o gerenciamento integrado do ciclo de vida das

cadeias de suprimento, fluindo do fornecedor, passando pelo fabricante, consumidor, e

fechando o ciclo com a logística reversa. Este autor conceitualiza o termo a partir de cinco

dimensões diferentes: Gerenciamento Ambiental Interno; Compra Verde; Cooperação com os

clientes, incluindo questões ambientais; Eco design; e Investimento na Recuperação.

O investimento na recuperação de um produto pode ser legitimamente visto como uma prática

capaz de gerar benefícios econômicos e ambientais (Qinghua et al., 2008b).

As práticas do gerenciamento “verde” da cadeia de suprimentos são entendidas como as

atividades de gerenciamento que têm a intenção de melhorar o desempenho ambiental das

matérias primas compradas, ou dos fornecedores que as vendem. Tais práticas podem

envolver atividades de redução na fonte, tais como: (1) reciclagem, reuso, purificação do

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material de entrada, design de embalagens menos densas; (2) coleta de dados ambientais de

vendedores, produtos ou processos; (3) esforços para eliminação de resíduos, tais como

biodegradação, incineração não-tóxica. Exemplos de práticas de gerenciamento “verde” da

cadeia de suprimentos podem incluir a redução de embalagens e resíduos, assessoramento de

vendedores com relação ao seu desempenho ambiental, desenvolvimento de produtos

ambientalmente amigáveis e redução da emissão de carbono associada ao transporte de

mercadorias (Walker et al., 2008). Para Birou et al. (1998), GrSCM está ligada a todo o

processo produtivo, desde o design do produto até a reciclagem ou destruição, ou do “berço

ao túmulo”. Esse princípio é similar ao ciclo de vida do produto, uma idéia que diz que todo

produto passa por um ciclo de vida: nascimento, maturidade e morte. O ciclo de vida do

produto fornece estrutura a vida dos materiais e consequentemente dá uma direção para os

diversos esforços funcionais necessários para produzir e oferecer bens e serviços.

Não citando o termo “desempenho ambiental” descrito em Walker et al. (2008), Srivastava

(2008) define GrSCM como sendo a ação de integrar conceitos ambientais ao gerenciamento

da cadeia de suprimentos, partindo desde a fase do design até o gerenciamento do produto

após sua vida útil. Em outro trabalho, constatando a necessidade de uma classificação sucinta

para ajudar acadêmicos e pesquisadores a entenderem GrSCM de uma perspectiva mais

ampla, Srivastava, (2007), construiu um painel, conforme apresentado na Figura 1, onde

chama de operações verdes ações como coleta, reciclagem e remanufatura de tais produtos.

Figura 1: Framework para GrSCM - Adaptado de Srivastava (2007)

2.1 Importância do GrSCM

Atualmente, é claro que as melhores práticas chamam por integração entre gerenciamento

ambiental e práticas contínuas. Nesse sentido, GrSCM representa um recente e importante

inter e intra-organizacional conjunto de práticas de gerenciamento ambiental importantes para

o gerenciamento logístico (Srivastava, 2007). GrSCM é desenhado para incorporar

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considerações ambientais em tomadas de decisões em cada fase do gerenciamento logístico de

materiais, até o estágio de pós-consumo e disposição final, usando, da logística reversa, o

conceito de fechamento de círculo (Qinghua et al., 2008a).

A força motriz da preocupação ambiental corporativa é o crescente papel da regulamentação

governamental (Handfield et al., 1997). Segundo May et al. (2003), as corporações devem ser

responsabilizadas independente de culpa por todo e qualquer dano advindo de quaisquer de

suas atividades que causem danos ao meio ambiente, a propriedade ou pessoas, incluindo

remediação do local atingido. A responsabilidade das corporações por seus produtos deve se

estender por todo o ciclo de vida dos mesmos, desde a produção até a disposição final. Os

Estados devem responsabilizar diretores e representantes das corporações enquanto pessoa

física pelas ações ou omissões das empresas que representam, incluindo as ocorridas nas

subsidiárias (Greenpeace, apud May et al., 2003).

Quando se fala em tornar a cadeia de suprimento ambientalmente adequada, pode se pensar

em banir o uso de substâncias químicas tóxicas ou reduzir emissões ou resíduos para o meio

ambiente. Entretanto, GrSCM é muito mais que uma simples redução de materiais e poluição.

Consequentemente, os benefícios não são limitados a um menor consumo de substâncias ou a

uma menor produção de resíduos. O princípio de GrSCM pode ser aplicado para todos os

departamentos na organização e os efeitos podem ser expandidos para todas as áreas,

tangíveis e intangíveis (Khiewnavawongsa, 2009).

2.2 Green Design

O conceito de “Green Design” tem sido exaustivamente usado na literatura para denominar

produtos desenhados com algumas preocupações de caráter ambiental. Ele consiste em

considerar sistematicamente questões ligadas à segurança ambiental e à saúde por todo o ciclo

de vida do produto durante a produção nova e no processo de desenvolvimento (Fiksel, 1996).

Seu escopo envolve várias disciplinas, incluindo gerenciamento de risco ambiental, segurança

do produto, saúde e segurança ocupacional, prevenção da poluição, conservação de recursos e

gerenciamento de resíduos (Srivastava, 2007). Este autor divide “Green Design” em LCA –

“Life Cycle Analysis” – e em ECD – “Environmentally Conscious Design”.

A avaliação do ciclo de vida (LCA) é um método internacional capaz de considerar entradas e

saídas, ao longo de toda a cadeia, ligadas ao ciclo de vida de um produto ou serviço. O escopo

de uma LCA envolve o mapeamento de todos os fluxos de material e energia de um produto,

desde a retirada de suas matérias-primas até sua disposição final (Arena et al., 2003). Mais

especificamente, Vanek & Morlok (2000) dizem que o objetivo da análise de ciclo de vida de

uso de energia é estimar o consumo de energia em cada etapa do ciclo de vida de um

determinado produto ou classe de produtos, visando à redução global de energia através do

aumento da eficiência em cada estágio.

Durante o desenvolvimento de um produto, a equipe de design pode mudar as matérias-

primas ou as substâncias utilizadas durante a produção por outras menos tóxicas, ou mais

ambientalmente amigáveis. Algumas terminologias são ligadas ao verde, tais como design

ambiental, EcoDesign ou Environmentally Conscious Design. Um exemplo de produto verde

é o carro hibrido. Devido ao aumento da demanda por petróleo e à sua diminuição de oferta,

fabricantes de automóveis precisaram redesenhar um motor para não consumir ou consumir

menos gasolina (Khiewnavawongsa, 2009). Em outro exemplo, McAuley (2003) discutiu o

“Green Design” dos automóveis, que tendem a adotar uma menor quantidade de materiais

mais avançados e de menor peso.

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2.3 Operações Verdes

As Operações Verdes estão ligadas a todos os aspectos envolvidos na

manufatura/remanufatura, uso, controle, logística e gerenciamento de resíduos uma vez que o

design foi finalizado (Srivastava, 2007). Este autor agrupa tais operações em: Manufatura

Verde e Remanufatura; Logística Reversa e Desenho de Rede e Gerenciamento de Resíduos.

A presente subseção apresenta brevemente estes grupos.

2.3.1 Manufatura Verde e Remanufatura

A Manufatura Verde tem como objetivo a redução de impactos ecológicos através do uso de

materiais e tecnologias apropriadas, enquanto a Remanufatura se refere ao processo industrial

em que produtos inutilizados são restaurados para uma condição de quase-novo (Lund apud

Srivastava, 2007). Dentro deste grupo deve-se considerar: Redução, Remanufatura,

Reciclagem e Planejamento da Produção.

Segundo Srivastava (2007), a redução é uma área muito importante dentro das Operações

Verdes. Entretanto, a grande dificuldade para a adoção de uma atitude precavida de buscar

estabilizar o nível de consumo de recursos naturais está no fato que essa estabilização

pressupõe uma mudança de atitude que contraria a lógica do processo de acumulação de

capital em vigor desde a ascensão do capitalismo (May et al., 2003).

O processo de reciclagem consiste no reuso de materiais já utilizados, através de vários

processos de separação, na produção de um novo original ou de outros produtos (Lenz, 1995).

Entende-se o termo como sendo uma transformação (artesanal ou industrial) do material para

formar o mesmo ou outro(s) produto(s) para uso posterior. Tal processo encontra maior

viabilidade econômica nas indústrias automobilísticas e de produtos eletrônicos (Srivastava,

2007).

Entre os processos que envolvem a reciclagem com segregação na fonte geradora podem ser

destacados a coleta seletiva “porta a porta”, os Pontos de Entrega Voluntária – PEVs - e a

cooperativa de catadores (Monteiro & Zveibil, 2001). A coleta seletiva porta a porta é o

modelo mais empregado atualmente e, basicamente, consiste em coletar com veículo

específico, o lixo previamente triado pela população. Os PEVs são locais públicos onde estão

dispostos containeres e recipientes específicos para que a população possa dispor

voluntariamente o lixo previamente triado em suas residências. Finalmente, as cooperativas de

catadores se formaram com o objetivo de dar um cunho social aos programas de reciclagem

dos municípios, uma vez que grande parcela dos trabalhadores envolvidos no processo de

catação dos materiais potencialmente recicláveis vive à margem da sociedade.

Jasem (2005) e Monteiro & Zveibil (2001) citam os três principais benefícios da adoção de

processos de reciclagem como sendo:

a) Prolongamento do tempo de vida útil dos aterros sanitários através da redução da

quantidade de lixo que chega aos mesmos;

b) Encorajamento da expansão e do desenvolvimento da utilização de resíduos pelas

indústrias, o que irá afetá-las positivamente;

c) Minimização do uso de matérias virgens que são normalmente importadas, o que pode

ajudar a proteger e a salvar o meio ambiente global e seus recursos, e a reduzir a dura troca de

moedas.

A remanufatura envolve a maior quantia de esforço para se renovar um produto (Roger &

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Tibben-Lembke, 1999). Segundo Andreu (1997), o termo significa trazer produtos usados

para padrões de qualidade rigorosamente iguais aos de produtos novos através da completa

desmontagem até o nível dos componentes, extensiva inspeção e troca de peças quebradas ou

ultrapassadas.

Segundo Roger & Tibben-Lembke (1999), reformas é o segundo nível de recondicionamento

e recuperação de um produto e também pode envolver uma atualização tecnológica através da

troca de módulos ou componentes ultrapassados por outros novos e de tecnologia superior.

Reformar é trazer a qualidade de um produto usado para um nível determinado através da

desmontagem, inspeção e troca de componentes quebrados (Andreu, 1997; Srivastava, 2007).

Finalizando, o conserto consiste em trazer produtos usados para a condição de funcionamento

adequado. A qualidade destes produtos pode ser menor que a de um produto novo (Andreu,

1997; Srivastava, 2007). Roger & Tibben-Lembke (1999) dizem que conserto envolve a

menor quantia de esforço para se renovar um produto, o que está em sintonia com o escrito

em Srivastava (2008); centros de conserto e reforma requerem um menor investimento de

capital, menos qualificação e consertam/reformam mercadorias com o intuito de deixá-las

quase tão boas como se fossem novas.

No que concerne ao Planejamento da Produção, os métodos tradicionais de planejamento e

programação têm aplicação limitada em sistemas de remanufatura (Srivastava, 2007).

2.3.2 Logística Reversa e Projeto de Rede

Gonçalves & Marins (2006) definem o conceito de logística reversa como sendo todas as

atividades relacionadas ao produto/serviço após a venda, sendo que o seu objetivo principal é

otimizar ou tornar mais eficientes as atividades do pós-venda, resultando, portanto, em

economia de recursos financeiros.

Por outro lado, redes de logística reversa têm algumas características genéricas ligadas à

coordenação requerida para dois mercados, à incerteza de fornecimento, à escolha do local de

disposição para os retornos, a adiamentos e a especulações (Fleischmann et al. 2000). Como

resultado, tais características afetam consideravelmente o projeto de rede (Srivastava, 2007).

As principais etapas apresentadas por Srivastava (2007) são: coleta, inspeção / triagem / pré-

processamento e locação e distribuição.

O procedimento de coleta é a ação de recolher o lixo acondicionado pelo gerador para

encaminhá-lo, com uso de transporte adequado, a uma possível estação de transferência, a um

eventual tratamento ou para disposição final. Tal ação visa evitar problemas de saúde,

ambientais e/ou estéticos. O planejamento da coleta deve ser efetuado por profissional

habilitado e qualificado para a função (Monteiro et al., 2001; Pereira, 2007).

A inspeção/triagem pode ser realizada tanto na hora da coleta ou após - em uma central de

coleta ou na própria unidade de remanufatura (Srivastava, 2007). Cairncross (1992) sugere

que esquemas de coleta podem ser classificados quando a separação é feita pelos

consumidores (separação na fonte) ou quando é centralizada (processamento de lixo

misturado). Entretanto, independente de o lixo ter sido previamente triado pela população, é

necessário o encaminhamento destes resíduos para uma estação de triagem. Nela é feita a

escolha do material reciclável a ser separado, dependendo, sobretudo, da demanda da

indústria em um processo com as seguintes fases: recepção, alimentação e triagem (Monteiro

et al., 2001).

Pereira (2007) apresenta as Unidades de Triagem e Compostagem – UTC, instalações dotadas

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de equipamentos eletromecânicos destinados a separar da massa de resíduos os materiais

recicláveis (inertes e orgânicos) e os rejeitos. Segundo ele, tais instalações podem aumentar a

flexibilidade operacional se receberem o lixo de uma coleta diferenciada, dividida em

resíduos secos e resíduos úmidos. Entretanto, dada as dificuldades relativas à implantação de

programas de coleta seletiva, as UTCs assumem um papel importante na separação dos

resíduos não triados pela população em geral.

O redesenho de redes de logística visando a acomodação de produtos retornados e

remanufaturados e o reuso de suas partes ou componentes pode frequentemente ser lucrativo e

está assumindo um papel de destaque nos negócios, assim como nas pesquisas em geral

(Tibben-Lembke, 2002). Nesse sentido, Srivastava & Srivastava (2005) desenvolveram um

modelo hierárquico de tomada de decisão para descobrir a viabilidade de redes de logística

reversas voltadas para ganhos de lucratividade.

Citando diversos autores que relatam problemas com a integração de atividades de logística

reversa dentro de uma organização, Srivastava (2007) comenta que hoje em dia, tecnologias

da informação e comunicação têm um papel fundamental na coordenação e na integração de

atividades ligadas ao GrSCM.

2.3.3 Gerenciamento de Resíduos

As principais etapas listadas em Srivastava (2007) para o gerenciamento de resíduos são:

Redução na Fonte / Prevenção da Poluição; e Disposição Final.

O termo prevenção da poluição foi criado em 1976 pela 3M e sua estratégia foca em prevenir

a poluição na fonte, tanto em produtos como em processos de manufatura, ao invés de ter que

removê-la após a fabricação do mesmo (Srivastava, 2007).

O processo de disposição final dos resíduos em geral recomendado são os aterros, sanitários e

industriais. Todos os demais processos ditos como de destinação final (usinas de reciclagem,

compostagem e incineração) são, na realidade, processos de tratamento ou beneficiamento do

lixo, e não prescindem de um aterro para a disposição dos seus rejeitos (Monteiro & Zveibil,

2001).

Basicamente, um aterro (sanitário ou industrial), inclui a drenagem da água pluvial, a

drenagem e o tratamento do chorume, a drenagem e o tratamento dos gases gerados pelo

processo de decomposição e um constante processo de controle e monitoramento. Entretanto,

devido ao constante crescimento populacional e dos seus núcleos urbanos, que reduz as

opções de áreas para a construção de aterros, somado ao aumento das restrições ambientais, é

necessário racionalizar o uso dos aterros no sentido de aumentar sua vida útil. Logo, dentro de

uma visão moderna, tem-se como principal objetivo diminuir a quantidade de resíduo

destinado a esse sistema. Procurando reduzir, reutilizar e reciclar a produção de lixo, deve-se

destinar aos aterros somente os resíduos tóxicos e os rejeitos sem valor econômico (Pereira,

2007).

3. Métodos e Pesquisa

O método de pesquisa adotado para a elaboração do presente trabalho se divide, basicamente,

em duas estratégias distintas: a primeira, ligada à exploração de termos ainda incipientes na

literatura, tais como Logística Verde e Green Supply Chain Management, consistiu em uma

pesquisa bibliográfica de trabalhos ligados ao tema. A segunda, ligada a pesquisa in loco da

situação da Comunidade da Rocinha teve como base o Plano de Gerenciamento de Resíduos

Sólidos da Comunidade da Rocinha, parte do Plano Diretor de Reurbanização da área, e um

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dos projetos desenvolvidos através da parceria firmada entre técnicos, sob a liderança do

Arquiteto Toledo, e a comunidade.

A pesquisa abrangeu o material disponibilizado pelo Instituto Nacional de Geografia

Estatística (IBGE), complementarmente àqueles fornecidos pelas companhias de eletricidade

(LIGHT), águas (CEDAE) e pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Os dados obtidos

com o Plano foram contrapostos aos dados oficiais pesquisados, o que acabou por demonstrar

defasagem em relação àqueles existentes na realidade. Inúmeras visitas à comunidade

evidenciaram que os dados publicados em órgãos oficiais estavam sensivelmente defasados.

Para uma melhor compreensão do diagnóstico, a seguir é apresentada a divisão proposta e

utilizada, separando a comunidade em oito áreas de interferência distintas, conforme a Figura

2.

Figura 2: Divisão das Áreas de Interferência criadas para o Plano Diretor.

Fonte: Toledo (2009)

No que concerne à questão dos resíduos sólidos, na caracterização de cada área de

interferência, foram adotados valores descritos na literatura especializada (Monteiro &

Zveibil, 2001; Pereira, 2007).

Aliado a esta pesquisa, todo restante do método desenvolvido foi baseado em intenso trabalho

de experimentação em campo e diálogo com os moradores e suas lideranças. Adicionalmente,

foram realizadas reuniões e encontros regulares com instituições de relevância ao estudo -

como a Comlurb e os Garis Comunitários, por exemplo – as quais foram amplamente

solicitadas, tanto no momento de levantamento de dados, quanto na colocação de suas

perspectivas na avaliação do contexto relacionado aos resíduos.

4. Análise da Situação do Lixo na Rocinha e Diretrizes Propostas

No que se refere a quantidade de resíduos produzidos, a comunidade da Rocinha apresenta

números comparáveis aos de uma cidade média. São coletadas em média 90 toneladas de lixo

– diga-se resíduo doméstico, comercial e entulho – por dia (Entrevista Gerente Comlurb; 27°

10

R.A. - Rocinha).

A partir do levantamento de campo realizado, assume-se que as lixeiras da comunidade atuam

de forma não satisfatória, algumas em situações emergenciais e outras com problemas de

resolução complexa. Não foi constatado nenhum tipo de sinalização ou placas informativas

por parte da Comlurb ou Prefeitura e o aspecto de todas as estruturas é precário. Também não

existem lixeiras de menor porte ao longo das vias; devido a ações passadas de vandalismo e

roubo por parte dos moradores, que usavam os pequenos containeres até mesmo como caixa

de água, a Comlurb não disponibiliza mais esse tipo de equipamento. Finalizando, foram

flagradas enormes quantidades de resíduos em todas as valas da comunidade visitadas pelo

autor e em diversos terrenos situados na interface da favela com a floresta.

Os dados colhidos na elaboração do diagnóstico serviram de base para a formulação de

algumas premissas apresentadas na Tabela 1. A análise dessas premissas foi o ponto de

partida para a elaboração das diretrizes apresentadas a seguir.

Premissa Conseqüência

1

Como grande porcentual da população é migrante e vive em

terrenos invadidos, tem-se:

Ausência de coletividade e de compromisso com o

local;

Pluralidade cultural e étnica;

Conflitos com o estilo de vida de uma

sociedade urbana altamente complexa

em sua organização

2

Uma vez que o processo de urbanização é irregular, e gera

uma desproporção entre o número de residências e a oferta

de infra-estrutura adequada, observa-se:

Ruas Estreitas

Ausência de Áreas livres

Falta de Saneamento

Impossibilidade de penetração dos

equipamentos de coleta de resíduos

3

Dada a falta de orientação e fiscalização de um poder público

com pouca legitimidade local note-se:

Ausência de fiscalização;

No estacionamento irregular ao longo das ruas;

Na disposição criminosa de resíduos;

Na expansão desordenada da comunidade;

No caótico sistema de carga e descarga do

comércio local;

Impossibilidade de definição de um

horário regular para a coleta;

4

Dada a falta de orientação e fiscalização de um poder público

com pouca legitimidade local note-se:

Institucionalização de um poder paralelo com força de

lei que afasta os moradores da sociedade em geral;

Descrença no Estado;

Baixo nível educacional da população, principalmente

para questões ambientais;

Ausência de propaganda ou incentivo visual;

Falta de estímulo para mudanças de

comportamento e atitude dos

moradores e dificuldades de penetração

de agentes de mudança externos.

Tabela 1: Premissas e Análises

Sob a perspectiva do GrSCM, a questão dos resíduos sólidos em comunidades carentes pode

ser encarada sob três perspectivas diferentes.

- À dos empresários geradores dos produtos - que ao adotarem a análise do ciclo de vida em

sua gestão passam a encarar os resíduos gerados como um passivo que necessita tratamento;

- À dos moradores e organizações locais - que enxergam nestes resíduos, além de ojeriza,

oportunidades para geração de renda, transformando-os em matéria-prima de novos produtos

ou processos;

11

- À dos órgãos públicos e instituições responsáveis pela coleta e limpeza da região.

A preocupação com a construção de uma imagem “sócioambientalmente” responsável de uma

dada corporação é uma das premissas no caminho da busca por uma vantagem competitiva.

Nesse sentido, as empresas que tiverem êxito em superar a barreira invisível que separa as

favelas do restante da cidade, e souberem se inserir de uma forma amistosa nesse ambiente

terão ao seu lado um argumento para provar à sociedade que buscam algo mais, além do lucro

máximo. Ademais, a adoção de tal comportamento pode levar ao seguinte cenário: abertura de

um novo mercado consumidor, afinal já é notório que os habitantes de favela constituem uma

importante parcela da economia; aumento do vínculo com os consumidores mais engajados,

capazes de valorizar uma marca preocupada com questões sociais e ambientais; e o

fortalecimento da imagem, capaz de trazer novos grupos de investidores e uma maior abertura

ao crédito.

No que se refere aos grupos de moradores e organizações locais e de órgãos públicos e

instituições responsáveis pela coleta, as oportunidades de melhoria fazem referência a

conceitos já usuais no mundo empresarial. No caso, a adoção de técnicas de logística capazes

de otimizar o fluxo de informações e a eficiência da coleta devem ser as principais linhas de

atuação.

A tabela 2 apresenta algumas das diretrizes propostas para os três grupos:

Diretrizes

Propostas

Empresas Geradoras Moradores e Organizações Instituições resp. pela

Coleta

Deverão disponibilizar pontos

específicos para a coleta de

resíduos passíveis de reutilização

ou que necessitem de um

tratamento particular para

disposição final.

Garis Comunitários e

Associação de Moradores

deverão prever a compra de

equipamentos que otimizem

os serviços de

gerenciamento de suas

atividades: computadores

(oferecendo cursos de

informática para os

principais usuários) e rádios

transmissores.

A despeito da existência de

um poder paralelo com força

de lei, deverá haver uma

maior ação da CET-RIO e da

Guarda Municipal na

fiscalização dos veículos

estacionados irregularmente

ao longo das vias principais,

trajeto dos caminhões de

coleta.

Deverão criar um modelo padrão

de visualização das lixeiras

ligadas aos programas de

Logística Reversa, com grande

apelo visual e bastante

informação.

Deverão incentivar e apoiar

tecnicamente a criação de

pequenas oficinas locais para

remanufatura e conserto de

produtos defeituosos.

A Associação dos

Moradores deverá cumprir o

papel exclusivo de

fiscalizadora dos serviços

prestados na comunidade,

tendo os agentes ambientais

como parceiros, e a gerência

da COMLURB local como

elo para eventuais trocas de

informações e reclamações.

Deverão ser substituídos os

atuais tratores utilizados na

coleta por veículos para

remoção de lixo em áreas de

difícil acesso tipo basculante

3m3.

Deverão fomentar a formação de

parcerias público-privadas com

intuito de fornecer melhores

equipamentos para o

gerenciamento de resíduos

sólidos da comunidade.

Deverá haver fiscalização

rigorosa dos fabricantes de

produtos cuja deposição

irregular seja responsável por

impactos sociais e ambientais

na comunidade.

Devem contribuir na compra dos

recicláveis triados pela

comunidade.

No que concerne ao Projeto

dos Garis Comunitários, a

Associação de Moradores

deverá fazer apenas o

cadastramento dos

moradores interessados em

Deverá haver maior

fiscalização dos empregados

atuantes no “Garis

Comunitários”, com o

controle detalhado da carga

horária cumprida e do uso

Deverão cobrar de seus

revendedores situados na favela

uma postura ambiental

12

exemplar, podendo, inclusive,

incentivar a atuarem na coleta de

determinados resíduos por eles

vendidos.

servir como mão-de-obra,

sendo remunerada para esse

serviço.

obrigatório dos EPIs entregue

aos mesmos.

Tabela 2: Diretrizes Propostas

Por outro lado, um eficiente programa de coleta seletiva é fundamental na construção de uma

nova realidade para o gerenciamento dos resíduos. Nesse sentido, com o objetivo de unir o

desenvolvimento econômico ao desenvolvimento sócio-ambiental, apresenta-se o “Projeto

Coleta Cidadã”. O projeto prevê a construção de um centro de coleta, compra, prensagem,

enfardamento e venda de materiais recicláveis, previamente triados por catadores e moradores

locais, para a partir daí, construir, junto com a comunidade, um amplo e eficiente sistema de

coleta de resíduos, inclusive, com a regularização dos pontos comuns de disposição.

Com capacidade para atender ao lixo reciclável produzido pelos habitantes do

Morro da Rocinha, o Centro do Projeto “Coleta Cidadã” também será a base física para

eventos que auxiliem a construção de novos conceitos dos moradores na relação com seus

resíduos sólidos. Nele, poderão ser oferecidos, em conjunto com instituições e empresas

entusiastas do GrSCM, cursos, palestras e oficinas de capacitação para todos os envolvidos no

programa, desde os catadores cadastrados, até os moradores da comunidade.

5. Conclusão

A princípio, apesar da nova realidade global, a Engenharia de Produção, que lida

constantemente com o fluxo de materiais, processos e informações, explicita ainda de forma

incipiente, uma busca por medidas ambientalmente adequadas em seus modelos de processo e

áreas de trabalho. A exploração da literatura especializada indica a existência de trabalhos

abordando temas capazes de promover essa união, no entanto, a carência de experimentação

prática destes conceitos deixa uma brecha onde se insere a presente pesquisa.

A consolidação da Logística Reversa, do Green Design e da Reciclagem como pilares do

GrSCM foi refletida em muitas das ações propostas. Porém, no que se refere ao GrSCM, fica

clara uma zona de interseção entre as áreas de atuação das empresas privadas, geradoras, e das

públicas, coletoras, principalmente no quesito descrito por Srivastava (2007), como

Operações Verdes. Ressalta-se que tal sobreposição pode levar a um “jogo de empurra”,

capaz de inviabilizar um sistema eficiente de coleta.

Assim uma ação conjunta entre o poder público e fabricantes de materiais potencialmente

poluidores deve ser obrigatória. Defende-se que para o bom funcionamento de um sistema de

gerenciamento de resíduos em realidades tão complexas, governo e empresas privadas devem

ser parceiros e atuar de forma coordenada. Cabe ainda aos moradores e organizações locais, o

dever de cobrar, adotar, fiscalizar e promover ações que visem o bem estar do local onde

vivem.

No que diz respeito a pesquisa, a maior dificuldade encontrada foi entender o funcionamento

de todas as instituições públicas ligadas ao gerenciamento dos resíduos da comunidade. Por

isso, muitas das diretrizes apontadas para tal grupo tenham sido no sentido de organizar suas

funções e responsabilidades, algo que foge aos conceitos do GrSCM. A dificuldade de acesso

ao local, dada a situação de violência, e a carência de mão-de-obra para conduzir a pesquisa

foram facilmente superadas com a extrema boa vontade dos moradores e organizações locais

em apresentar a comunidade para o autor.

Como sugestão para trabalhos futuros, pode-se contrapor o volume de lixo produzido

13

estimado para cada área com os equipamentos de coleta e mão-de-obra disponíveis para

atender tal produção. Em posse destes dados, será possível analisar se a capacidade instalada

atualmente é suficiente para tal demanda, podendo, inclusive, modelar um sistema ideal.

Também ficou evidente que muitos dos assuntos abordados na pesquisa extrapolam os limites

do GrSCM, se aproximando do que Seuring & Muller (2008) chamam de “Sustainable Supply

Chain Management”, que é o gerenciamento do fluxo de material, informação e capital, assim

como a cooperação entre empresas ao longo da cadeia de suprimentos, visando melhorias nas

três dimensões de desenvolvimento sustentável: econômica, ambiental e social. Segundo eles,

essa definição é mais ampla e combina sustentabilidade com gerenciamento eficiente da

cadeia de suprimentos, sendo capaz de integrar o conceito de Green Supply Chain

Management como uma parte do seu campo.

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