ANÁLISE MICROSCÓPICA E DA RUGOSIDADE DE SUPERFÍCIE DE...

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA ORTODONTIA ADRIANA CORREIA PEDRO ANÁLISE MICROSCÓPICA E DA RUGOSIDADE DE SUPERFÍCIE DE FIOS ORTODÔNTICOS ESTÉTICOS, ANTES E APÓS DEFLEXÃO SÃO BERNARDO DO CAMPO 2011

Transcript of ANÁLISE MICROSCÓPICA E DA RUGOSIDADE DE SUPERFÍCIE DE...

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DA SAÚDE

CURSO DE ODONTOLOGIA

ORTODONTIA

ADRIANA CORREIA PEDRO

ANÁLISE MICROSCÓPICA E DA RUGOSIDADE DE

SUPERFÍCIE DE FIOS ORTODÔNTICOS ESTÉTICOS,

ANTES E APÓS DEFLEXÃO

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2011

ADRIANA CORREIA PEDRO

ANÁLISE MICROSCÓPICA E DA RUGOSIDADE DE

SUPERFÍCIE DE FIOS ORTODÔNTICOS ESTÉTICOS,

ANTES E APÓS DEFLEXÃO

Dissertação apresentada à Faculdade da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia, área de concentração em Ortodontia. Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Toyama Hino

SÃO BERNARDO DO CAMPO 2011

Dedico este trabalho a todos aqueles que

contribuíram para a sua realização,

especialmente aos primeiros

professores que tive:

meus pais.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a Deus e aos meus pais, que tanto torceram e contribuíram para minha formação. Minha mãe, que sempre acreditou e se orgulhou das pequenas vitórias, e meu pai, que de onde estiver, sei que aplaude esta conquista. Sei que muitas vezes se realizaram com meus sonhos e este trabalho, mais do que meu, é deles.

Ao meu marido, Edson, que apoiou, compreendeu minhas ausências e me incentivou durante todo o tempo. Às minhas irmãs, Andrea e Ana Paula, por seu carinho, apoio, motivação. E aos meus irmãos, Eduardo e Márcio, e meus pequenos Vinícius e Pedro. Sei que esta conquista realiza a vocês também.

À minha orientadora, Profa. Dra Cláudia Toyama Hino, pelos ensinamentos, paciência, apoio e amizade.

Aos professores Dr. Luiz Renato Paranhos, Dra. Renata Cristina Faria Ribeiro de Castro, Dra. Fernanda Angelieri e Dr. Fernando César Torres, pelo muito que acrescentaram em conteúdo, amizade e em minha formação pessoal e profissional.

Ao Prof. Dr. Marco Antonio Scanavini, por estar sempre ao lado, em todos os momentos.

Aos colegas e, mais que isso, amigos Antonio Carlos Sakuno, Armando Koichiro Kaieda, Artur Cunha Vasconcelos, Carolina Souto Lima, Cleimar Carlos Bach, Heleny Gomes Correa, Jin Hyun Kim, Kelly Regina Thomé Portugal Rodrigues, Luciano Kazuo Murakami, Luís Henrique Rodrigues Lages, Miller Zaroni Santoro, Roberto Pinto de Almeida Filho, Tiago Monteiro Brando e Vitor Wanderlei Cordeiro, por termos sido, o tempo todo, uma equipe.

Aos funcionários Ana Paschoalin, Noeme Timbó, e também Mari, Celinha, Ed. O apoio de vocês foi fundamental.

À empresa Taylor Hobson e seus funcionários, especialmente ao amigo, engenheiro Marcello Bulhões Montagnani, por tantos ensinamentos, amizade, disponibilidade e desprendimento. Sem sua ajuda, este trabalho não seria possível.

À empresa Morelli, por todo o apoio, em todos os momentos, especialmente aos amigos Wilson de Paula, Emanuel, Márcia, Eng. Alexandre, Sr. Oraci, dentre tantos outros.

A todos os meus amigos e familiares que, de alguma forma, contribuíram para que este trabalho fosse concretizado. Obrigada pelo carinho, amizade, apoio, compreensão, torcida. Obrigada por acreditarem.

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo

estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em

narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:

“Não há mais o que ver”, sabia que não era assim. O fim de uma

viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não

foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que

se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol

onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto

maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não

estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para

repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É

preciso recomeçar a viagem. Sempre.

José Saramago

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar a topografia de superfície dos fios estéticos, antes e após teste de deflexão. A amostra foi composta por 70 corpos de prova de fios 0,014” redondos, sendo 10 de cada uma das marcas comerciais avaliadas: Orthocosmetic Elastinol (Masel), Flexy Super Elastic Esthetic (Orthometric), InVu (TP Orthodontics) e ProForm Nitanium (Ortho Organizers) – fios de NiTi revestidos por Teflon®; Optis (TP Orthodontics) – fio de resina reforçado por fibra de vidro ou FRP; Niticosmetic (Tecnident) – fio de NiTi revestido por resina epoxídica; e Nitinol SE (3M Unitek) – fio de NiTi superelástico, usado para controle. A topografia de superfície de cada fio foi avaliada por rugosímetro e por microscópio óptico, antes e após ser submetido a ensaio de deflexão, no lado em que a força foi aplicada e no lado oposto a este. Cada fio foi defletido em 3,1mm, a uma velocidade de 1mm/min, com célula de

carga de 5N a 36⁰C + 1⁰C. A análise de variância a três critérios (p<0,05)

mostrou diferença significante entre os fios e o teste de Tukey mostrou que o fio Optis (TP Orthodontics) apresentou aumento nos parâmetros de rugosidade Ra, Rt e Rz, após a deflexão. O fio Niticosmetic (Tecnident) apresentou aumento na rugosidade média (Ra). O fio InVu (TP Orthodontics) foi o único que mostrou aumento na rugosidade no lado em que a força foi aplicada. A análise visual por meio de microscopia óptica revelou alterações na superfície em todos os fios estéticos após o teste de deflexão, desde delaminações do revestimento, observadas nos fios Orthocosmetic Elastinol e InVu, riscos permanentes na superfície, como visto nos fios Flexy Super Elastic Esthetic, Niticosmetic e ProForm Nitanium, e até mesmo fratura incompleta, no fio Optis. Concluiu-se que o fio Niticosmetic apresentou topografia de superfície similar ao fio metálico, e os demais fios estéticos apresentaram maior rugosidade e alterações visuais na superfície.

Palavras-chave: Fios ortodônticos; Estética; Topografia de Superfície.

ABSTRACT

The aim of this study was evaluate surface topography of esthetic orthodontic wires, before and after three-point bending test. The sample consisted of 70 lenghts of wires 0,014” round section, 10 of which commercial brand assessed: Orthocosmetic Elastinol (Masel), Flexy Super Elastic Esthetic (Orthometric), InVu (TP Orthodontics) and ProForm Nitanium (Ortho Organizers) – Teflon® coated NiTi wires; Optis (TP Orthodontics) – a fiber-reinforced plastic orthodontic wire named FRP; Niticosmetic (Tecnident) – epoxy resin-coated NiTi wire; and Nitinol SE (3M Unitek) – uncoated NiTi wire, used as control group. Surface topography of each wire was measured with a contact stylus perfilometer and with optical microscope, before and after being submitted to deflection, on side force was applied and on the opposite side. Each wire was 3,1mm deflected, at a speed of

1mm/min, with a 5N load cell, at 36⁰C + 1⁰C. Three criteria variance analysis

(p<0,05) showed significant difference between assessed wires and Tukey’s test showed Optis wire (TP Orthodontics) had increased parameters Ra, Rt and Rz mean values, after deflection. Niticosmetic (Tecnident) wire had increased average roughness (Ra) values. InVu (TP Orthodontics) was the only wire that showed greater values of roughness, on the side force was applied. Visual analysis with optical microscopy revealed surface alterations in all esthetic wires evaluated, after three-point bending test, since coating delamination, observed in Orthocosmetic Elastinol and InVu wires, permanent risks on surface, as seen in Flexy Super Elastic Esthetic, Niticosmetic and ProForm Nitanium, and even incomplete fracture, as in Optis wire. This study concluded that Niticosmetic wire showed similar surface topography to uncoated NiTi wire, and the other esthetic wires assessed had greater roughness and visual surface alterations.

Keywords: Orthodontic wires; Esthetic; Surface topography.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Quadro de fios ortodônticos utilizados na amostra ......................................37

Figura 2 – Fotografia do espécime de fio, A- lado α, lado em que a força foi aplicada,

com a extremidade pintada e B- lado β,oposto ao lado da aplicação da força

........................................................................................................................................38

Figura 3 – Template metálico para posicionamento do fio ............................................40

Figura 4 – Fio posicionado e amarrado aos braquetes do template .............................41

Figura 5 – Microscópio óptico ........................................................................................41

Figura 6 – Placa de acrílico com pinos para posicionar o template ..............................42

Figura 7 – Fotografia da superfície do fio no microscópio óptico (ampliação de 100x).43

Figura 8 – Rugosímetro .................................................................................................44

Figura 9 – Fio posicionado nos braquetes, obedecendo às marcações feitas no bloco

metálico..........................................................................................................................45

Figura 10 – Apalpador do rugosímetro percorrendo a superfície do fio ........................46

Figura 11 – Leitura da topografia pelo rugosímetro e geração do gráfico .....................46

Figura 12 – Gráfico da análise de topografia de superfície ...........................................47

Figura 13 – Template adaptado à máquina de ensaios ................................................48

Figura 14 – Máquina Universal de Ensaios ...................................................................49

Figura 15 – Teste de curvatura de 3 pontos ..................................................................49

Figura 16 – Fotografia de microscopia óptica, lado α, antes e depois da deflexão, fio

Orthocosmetic Elastinol (Masel) ....................................................................................63

Figura 17 – Fotografia de microscopia óptica, lado α, antes e depois da deflexão, fio

Optis (TP Orthodontics) .................................................................................................64

Figura 18 – Fotografia de microscopia óptica, lado β, antes e depois da deflexão, fio

Optis (TP Orthodontics) .................................................................................................64

Figura 19 – Fotografia de microscopia óptica, lado α, antes e depois da deflexão, fio

Flexy Super Elastic Esthetic (Orthometric) ....................................................................65

Figura 20 – Fotografia de microscopia óptica, lado α, antes e depois da deflexão, fio

InVu (TP Orthodontics) ..................................................................................................66

Figura 21 – Fotografia de microscopia óptica, lado β, antes e depois da deflexão, fio

InVu (TP Orthodontics) ..................................................................................................66

Figura 22 – Fotografia de microscopia óptica, lado α, antes e depois da deflexão, fio

ProForm Nitanium (Ortho Organizers) ...........................................................................67

Figura 23 – Fotografia de microscopia óptica, lado α, antes e depois da deflexão, fio

Nitinol Super Elastic (3M Unitek) ...................................................................................68

Figura 24 – Fotografia de microscopia óptica, lado α, antes e depois da deflexão, fio

Niticosmetic (Tecnident) ................................................................................................69

Figura 25 – Gráfico com a média dos valores de Ra, para as marcas, lados e

momentos .................................................................................................. ....................77

Figura 26 – Gráfico com a média dos valores de Rt, para as marcas, lados e momentos

.................................................................................................................... ....................79

Figura 27 – Gráfico com a média dos valores de Rz, para as marcas, lados e

momentos ......................................................................................................... .............80

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Análise de variância a 3 critérios para comparação entre marcas, lados e

momentos, para o parâmetro Ra ...................................................................................53

Tabela 2 – Média e desvio padrão para as marcas, lados e momentos, do parâmetro

Ra ..................................................................................................................................55

Tabela 3 – Análise de variância a 3 critérios para comparação entre marcas, lados e

momentos, para o parâmetro Rt ....................................................................................56

Tabela 4 – Média e desvio padrão para as marcas, lados e momentos, do parâmetro

Rt ............................................................................................................... ....................58

Tabela 5 – Análise de variância a 3 critérios para comparação entre marcas, lados e

momentos, para o parâmetro Rz ...................................................................................59

Tabela 6 – Média e desvio padrão para as marcas, lados e momentos, do parâmetro

Rz ................................................................................................................... ...............61

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................... 15

2.1 ESTÉTICA .......................................................................................................................... 15

2.2 FIOS ESTÉTICOS .............................................................................................................. 18

2.3 RUGOSIDADE DE SUPERFÍCIE ..................................................................................... 22

3 PROPOSIÇÃO ......................................................................................................................... 34

4 MATERIAL e MÉTODOS .................................................................................................... 36

4.1 AMOSTRA ......................................................................................................................... 37

4.1.1 Confecção da Amostra ................................................................................................. 38

4.2 AVALIAÇÃO DA TOPOGRAFIA DE SUPERFÍCIE ...................................................... 39

4.2.1 Avaliação Com Microscopia Óptica ............................................................................ 39

4.2.2 Avaliação da Rugosidade ............................................................................................. 43

4.2.3 Teste de Deflexão ........................................................................................................ 48

4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................. 50

5 RESULTADOS ........................................................................................................................ 52

5.1 AVALIAÇÃO COM O RUGOSÍMETRO ......................................................................... 52

5.2 AVALIAÇÃO MICROSCÓPICA DA SUPERFÍCIE........................................................ 62

6 DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 71

6.1 METODOLOGIA .............................................................................................................. 73

6.2 COMPARAÇÃO ENTRE AS MARCAS ........................................................................ 75

6.3 COMPARAÇÃO ENTRE OS MOMENTOS .................................................................. 78

6.4 COMPARAÇÃO ENTRE OS LADOS ............................................................................ 80

6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 81

7 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 83

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 85

INTRODUÇÃO

________________________________________________________________ Introdução 12

1 INTRODUÇÃO A estética exerce papel fundamental na decisão do paciente pelo tratamento

ortodôntico, mesmo em casos de evidente necessidade funcional12. Com isso, muitas

vezes a primeira preocupação do paciente ao procurar pelo tratamento está

relacionada à aparência do acessório ortodôntico em si e ao impacto estético que este

pode causar em sua qualidade de vida1,45.

O aumento no número de pacientes adultos que buscam a ortodontia cria uma

demanda cada vez maior por artefatos estéticos. Braquetes de policarbonato e

cerâmicos foram recebidos com grande entusiasmo, pois trouxeram um enorme

benefício na estética e apresentaram grande aceitação por parte dos pacientes e da

população em geral, como substituição aos braquetes metálicos19,20,21,38.

Atualmente, métodos de fabricação têm sido desenvolvidos para melhorar

também a qualidade estética dos fios ortodônticos. Um dos métodos consiste em

recobrir a superfície do fio metálico com Teflon® (politetrafluoretileno) ou com resina

epóxi de cor similar ao dos dentes. Outro método consiste em fabricar um fio

transparente contendo uma estrutura de plástico reforçado por fibras de vidro (FRP)20.

Sabe-se que os fios utilizados em ortodontia devem suportar estresses

mecânicos, térmicos e químicos, por estarem expostos ao ambiente da cavidade oral.

O acabamento da superfície dos fios e sua topografia são de suma importância, já que

determinam a área de contato dos fios com os tecidos e também com outros artefatos.

A rugosidade superficial de um fio ortodôntico pode afetar tanto sua estética, quanto

sua performance na movimentação dentária, principalmente porque os defeitos na

superfície interferem no atrito, e consequentemente, podem influenciar

desfavoravelmente na mecânica de deslize3,7. Além disso, os defeitos na superfície

dos fios podem ser fatores desencadeadores de corrosão15,16,17,26,31,35,36,42, de acúmulo

de placa bacteriana9,32,35 e possivelmente do aumento na liberação de íons

indesejáveis na cavidade oral25,36,40.

Alterações na superfície dos fios estéticos também podem prejudicar sua

aparência, podendo desta forma, provocar um impacto visual negativo, além de

diminuir sua aceitação pelos pacientes e profissionais8,18,23,35.

________________________________________________________________ Introdução 13

Vários trabalhos foram realizados para avaliar a topografia da superfície de fios

ortodônticos metálicos3,15,16,17,23,26,27,28,30,32,34,40,42,43,44, porém há poucos estudos

avaliando a rugosidade da superfície de fios estéticos7,18,19,20,35,46 e em apenas um

estudo8 a superfície topográfica do fio foi avaliada após o uso clínico, porém neste

estudo foi avaliada apenas uma marca de fio estético, comparando-a a um fio metálico.

Devido à importância do acabamento da superfície dos fios para sua estética e

desempenho clínico, já que defeitos na superfície poderiam comprometer suas

propriedades estéticas e mecânicas, este trabalho se propõe a avaliar a rugosidade da

superfície dos fios estéticos, metálicos recobertos com teflon ou resina epóxi, e os fios

estéticos compostos por fibras, após serem submetidos a uma simulação clínica de

aplicação de força.

REVISÃO DA LITERATURA

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 15

2 REVISÃO DA LITERATURA Com o intuito de apresentar de forma didática e facilitar a análise dos temas

individualmente, esta revisão foi dividida cronologicamente nos seguintes tópicos:

2.1 Estética

2.2 Fios estéticos

2.3 Rugosidade de superfície

2.1 ESTÉTICA

Com o avanço de técnicas e estudos de novos materiais, a busca por acessórios

com preocupação estética tem sido feita de forma ampla. HERSHEY14 identifica a

Ortodontia como sendo uma das especialidades odontológicas mais relacionadas à

estética. No entanto, a preocupação do paciente com estética não se resume à

correção da má oclusão, mas também com a aparência da aparelhagem em si. Devido

a essa demanda, começaram a ser produzidos no mercado, já no final da década de

1970, braquetes estéticos fabricados com cerâmica ou policarbonato. Estes acessórios

produzidos inicialmente apresentavam deficiências referentes às propriedades

mecânicas, à pigmentação no decorrer do tratamento, além de descolarem facilmente.

À medida em que os estudos de materiais avançaram, modificações foram sendo feitas

a fim de minimizar tais deficiências, trazendo os braquetes estéticos a uma posição

muito mais importante na Ortodontia14.

Procurando estabelecer uma hierarquia de artefatos mais bem aceitos pelos

pacientes, bem como avaliar atribuição de valores monetários por parte dos pacientes

para tratamentos específicos, ROSVALL et al38 perguntaram a leigos quanto pagariam

para obter os benefícios de certo tratamento ou para evitar os aspectos negativos de

determinada doença ou problema. Foi constatada uma aceitação de mais de 90% por

parte dos pacientes adultos, ao avaliar aparatologia estética (transparente, branca ou

de cor semelhante à dentária), sendo que a este tipo de acessório foi atribuído maior

valor monetário.

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 16

BERTO et al.1, avaliaram os efeitos dos acessórios ortodônticos na avaliação

estética de um sorriso de acordo com as percepções de ortodontistas e pessoas leigas.

Para isso, foram tiradas fotografias padronizadas em vista oblíqua de uma mulher

jovem com sorriso natural. As fotos foram editadas utilizando software de manipulação

de imagens digitais a fim de produzir 10 combinações diferentes, de sorrisos com e

sem acessórios ortodônticos, com braquetes metálicos ou estéticos, ligaduras elásticas

de diferentes cores e presença ou ausência dos primeiros pré-molares superiores. Dois

grupos de 50 observadores cada, um de leigos e um de ortodontistas, avaliaram as

imagens e atribuíram valores estéticos aos sorrisos, de acordo com uma escala visual

análoga. A presença de acessórios ortodônticos e braquetes metálicos não teve efeito

negativo na avaliação estética do sorriso pelos grupos. Artefatos com braquetes

estéticos foram significantemente menos agradáveis para os leigos, embora para os

ortodontistas eles não tivessem afetado a avaliação estética do sorriso. O tipo de

braquete utilizado com a aparelhagem ortodôntica produziu diferentes percepções

estéticas em leigos e em ortodontistas.

Em seu estudo, GAZIT-RAPPAPORT; HAISRAELI-SHALISH E GAZIT.12

avaliaram o impacto psicossocial, a curto prazo, de melhorias estéticas dentárias em

indivíduos adultos. Sessenta e nove pacientes (61 mulheres e 8 homens, com idades

entre 21-59 anos) solicitando a melhoria estética dentária foram prospectivamente e

aleatoriamente recrutados para o estudo. Uma entrevista geral incluía a motivação do

paciente e as expectativas do tratamento. A duração do seu tratamento foi de 6-14

meses, e os objetivos principais foram o alinhamento dos dentes, redução do

apinhamento ou o fechamento de espaços. Após a remoção dos aparelhos, eles

completaram um questionário idêntico. Cada paciente serviu como controle de si

mesmo. A avaliação do impacto da melhoria estética foi baseada nas respostas às

mesmas perguntas relativas à percepção dos pacientes quanto à estética dental, antes

e após o tratamento, sua auto-estima e mudanças em seu comportamento social

resultantes do tratamento. Uma melhoria estatisticamente significante (P <0,001) foi

encontrada para todos os quatro fatores: auto-confiança dental, o impacto social , o

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 17

impacto psicológico e a preocupação estética. O grau de significância não foi

relacionado à idade, estado civil, escolaridade ou sexo.

Referente ao ensaio de três pontos, este estudo baseou-se nos seguintes

estudos:

MIURA et. al.33, em 1986, apresentaram um novo fio de níquel-titânio japonês,

desenvolvido pela Companhia Elétrica de Furukawa, do Japão. Esse fio foi submetido

ao teste de curvatura em três pontos, especialmente desenvolvido para determinar a

rigidez e avaliar a recuperação elástica, efeito memória e superelasticidade do fio. Este

teste foi utilizado pelo fato de simular a pressão dos fios aos dentes na cavidade bucal,

pois enfatizaram e advertiram que o método standart aprovado pela ADA não

comprovava a propriedade de superelasticidade. Nos resultados, observaram que os

fios Nitinol produziam forças mais leves em menor quantidade de deformação

permanente em comparação com dos fios de aço inoxidável. Entretanto, a carga e a

deflexão eram proporcionais no fio Nitinol, o que demonstra a ausência da propriedade

de superelasticidade no mesmo. Por outro lado, o fio NiTi japonês apresentava quase a

mesma carga até mesmo quando a deflexão diminuía, o que é chamado de

superelasticidade, propriedade que proporciona um movimento dentário fisiológico

compatível, pois o fio produzia forças continuas aos dentes por um longo período da

curva de descarregamento do fio.

SANTORO, NICOLAY E CANGIALOSI39, em 2001, procuraram estudar a

quantidade de força emitida pelos fios de níquel-titânio para as estruturas

dentoalveolares na fase de desativação. O valor de rigidez das ligas não forneceu

imediatamente a informação útil sobre a quantidade de força realmente liberada para

as estruturas dentoalveolares. Essa força de desativação também pode ser

influenciada por outros fatores, como a composição de liga, secção transversal, e o

número de fios dos cabos utilizados nos experimentos. O tipo de aplicação de carga

nos ensaios deve reproduzir de forma o mais próxima possível as situações clínicas.

Consideram que o modelo de curvatura de três pontos é o que melhor método

laboratorial apresentado para esta condição. Para avaliar a superelasticidade do fio,

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 18

deve ocorrer no mínimo uma deflexão de 2 mm para formar SIM (falta de formação de

martensita induzida por estresse) em fios austeníticos. Uma deflexão menor que 2mm

se traduzirá em liberação de maior força devido à fase austenítica mais rígida.

2.2 FIOS ESTÉTICOS

Pesquisas sobre fios estéticos não existem em grande quantidade, sendo que

diversos materiais ainda se encontram em fase de estudo ou início de aplicação clínica.

GOLDSTEIN; BURNS e YURFEST13 observaram existir um aumento do

percentual de pacientes adultos que procuram tratamento ortodôntico, o que gera um

aumento na demanda por acessórios estéticos. Os autores consideram de fundamental

importância compreender e valorizar o impacto positivo criado pelos acessórios

estéticos no tratamento ortodôntico do paciente adulto. Devido a isso, as indústrias

avançaram no desenvolvimento de acessórios ortodônticos estéticos. Além dos

braquetes estéticos, dois tipos de fios ortodônticos estéticos estão sendo produzidos:

os fios FRP, manufaturados à base de material compósito translúcido, constituído por

uma matriz de polímero metilmetacrilato (PMMA) e fibras de vidro para reforço, e os

fios metálicos, particularmente os de níquel-titânio, que apresentam recobrimento de

superfície a base de resina epoxídica ou de Teflon® (politetrafluoretileno). Porém,

relatam que ainda existiam poucos estudos a respeito das propriedades mecânicas e

das características da manutenção da estética desses fios.

JANCAR; DIBENEDETTO e GOLDBERG22, avaliaram o efeito da deterioração

na interface matriz-fibra, causada pela umidade, nas propriedades de flexão (módulo

de elasticidade, força e tensão máxima) de fios reforçados por fibras de vidro

termoplásticas (policarbonato e polietilenoglicol) e fio nylon 12. Estes fios equivalem

aos fios de 0.016¨ de NiTi revestidos. As amostras foram avaliadas em teste de

curvatura de três pontos. Dois conjuntos de amostras foram testados, sendo um sem

alteração e o outro conjunto avaliado após exposição à água a 85°C por 100 horas.

Além disso, fios ortodônticos de 0,5mm x 0,5mm foram testados após imersão em água

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 19

a 37°C em flexão de 20° e 40 °, durante 60 dias. Sua rigidez foi determinada após

diferentes tempos de imersão em água, utilizando um aparelho que simula as

condições clínicas. Os resultados sugerem que, no intervalo estudado, o efeito de

deformação de cisalhamento na deformação total é desprezível nas condições

experimentais utilizadas. A resistência do policarbonato à absorção de umidade foi

superior ao do polietilenoglicol e nylon 12, o que representa o seu melhor desempenho

à imersão na água. Assim, estes autores acreditam que na maioria dos casos a tensão

máxima admissível de flexão é limitada a 2%, o que limita a utilização do fio reforçado

por fibra na prática clínica para a fase do tratamento onde seriam necessárias grandes

deflexões.

Basicamente dois tipos de fios ortodônticos estéticos são produzidos: fios de

compósito translúcido composto de matriz de polímero, reforçado por fibra de vidro

(denominado FRP – fiber re-inforced plastic); e fios metálicos (mais comumente os de

ligas. de níquel-titânio) com tratamento ou recobrimento estético (basicamente, resina

epoxídica ou politetrafluoretileno – Teflon®), conforme relatado por vários autores20,19,

47,18,35.

IMAI et al.20 utilizaram um fio de FRP de 0.5mm de diâmetro com múltiplas fibras

de um complexo de polímeros confeccionados a 250°C para a obtenção de um fio

ortodôntico estético transparente. Fibras de vidro CaO-P2O5-SiO2 – Al2 O3 (CPSA)

biocompatíveis de 8-20µm de diâmetro de matrix PMMA foram orientadas

originalmente no sentido transversal. As propiedades mecânicas dos fios foram

analisadas por teste de curvatura de três pontos. A fração de volume da fibra de vidro

foi alterada de 29 – 60%. O teste foi realizado com uma deflexão de 2mm em

comprimento de fio de 14mm, a uma velocidade de 1mm/min. O módulo de Young, a

carga de deflexão, a curva de descarregamento e o grau de recuperação elástica foram

analisados para as curvas de histerese obtidas respectivamente. A carga de flexão foi

de cerca de 1,4 N para a fração de fibras de 30% e 2,3 N para 50%. O fio FRP mostrou

força suficiente e uma recuperação muito boa após a deformação elástica. O módulo

de Young e a carga de flexão e deflexão para 1mm foram quase que independentes do

diâmetro da fibra e aumentaram linearmente com a fração da fibra. Todas as curvas

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 20

mostraram uma boa recuperação elástica, sendo possível controlar o nível de força

precisamente, alterando a fração de fibra para o mesmo diâmetro externo do arco de

FRP . Este fio poderia apresentar um intervalo de força de trabalho correspondente ao

dos fios metálicos convencionais de Ni-Ti utilizados na fase inicial do tratamento

ortodôntico, assim como Co-Cr utilizados na fase final, alterando a relação do volume

das fibras de vidro com o diâmetro externo. A aparência estética externa foi

considerada excelente. Desta forma e de acordo com este estudo, o novo fio de FRP

poderia satisfazer tanto as propriedades mecânicas quanto estéticas de forma

suficiente, o que não seria possível para os fios metálicos convencionais.

IMAI et al. 19 avaliaram os efeitos da imersão em água nas propriedades

mecânicas de fios ortodônticos de resina reforçados por fibra. Em sua amostra,

utilizaram 16 espécimes de fio FRP com 0.5mm de diâmetro, observando-os antes dos

ensaios, em microscopia óptica e eletrônica. Os testes foram realizados em ambiente

seco a uma temperatura de 23⁰C e com umidade de 50%. Os testes em ambiente

úmido foram realizados aos 10, 20 e 30 dias de imersão dos fios em água pura a 37⁰C.

Para avaliar as propriedades mecânicas, 5 fios foram submetidos a teste de deflexão

de 3 pontos em 2mm, com comprimento de 14mm e velocidade de 1mm/min, em

máquina universal de testes, obtendo-se as curvas de carga e deflexão. O estudo

comparou as diferenças entre ambiente seco e úmido, para módulo elástico e curva de

deflexão. Testes de relaxamento de tensão também foram realizados, onde os fios

eram mantidos a uma deflexão de 1mm também sob ambiente seco e úmido. Os

valores de carga de flexão foram medidos após um período de 180 minutos. Os

diâmetros dos fios também foram medidos com paquímetro, antes e após 20 dias da

imersão em água, para determinar um possível aumento de volume. Os resultados

deste estudo concluíram que o módulo elástico e a carga de deflexão do fio de fibra

tiveram leve redução após imersão e uma diminuição pontual apareceu nas curvas de

carga-deflexão no intervalo de 1.6 a 2.0mm. O relaxamento da tensão ocorreu

rapidamente nos primeiros 15 minutos sob ambos os ambientes, mas reduziu

lentamente logo após. O aumento de volume do FRP hidratado teve pouco efeito no

diâmetro do fio.

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 21

Em outro estudo de IMAI et al.21, os autores investigaram a temperatura-

dependência das propriedades mecânicas desse novo fio ortodôntico estético com

estrutura de resina reforçada por fibra (FRP). O fio FRP, fabricado por um processo de

aquecimento, tem 0,5mm de diâmetro e tem uma estrutura de múltiplas fibras

compostas por fibra de vidro biocompatível CaO-P2O5-SiO2-Al2O3 com 20 mícrons de

diâmetro e uma matriz de polimetilmetacrilato. A carga flexural a uma deflexão de 1mm

e o módulo de Young a 24⁰, 37⁰ e 50⁰C sob condições de umidade mostraram

dependência quanto à fração de fibra, similar àquele em situação sem umidade para

uma fração de fibra de 40-51%. A carga flexural e o módulo de Young tenderam a

diminuir levemente com o aumento da temperatura. Esta tendência foi maior para

casos de menor fração de fibras. No entanto, a diferença na carga flexural para uma

diferença de temperatura entre 24⁰ e 50⁰C foi no máximo 10gF. Isso é insignificante e

uma força ortodôntica constante em relação às mudanças de temperatura seria

vantajosa do ponto de vista clínico.

Os fios estéticos recobertos por Teflon® (politetrafluoretileno) adquirem uma

coloração semelhante ao dente, aplicada por um processo atômico que forma uma

camada sobre o fio que apresenta espessura média de 20-25μm. Um processo de

aquecimento em uma câmara fecha essa camada, que adquire uma superfície dotada

de excelentes propriedades de deslizamento e boa aderência de substrato18.

Já os fios que apresentam cobertura de resina epoxídica sofrem um processo de

revestimento através de deposição por incrustação dessa resina na base do fio, de

espessura aproximada de 0,002’’, que proporciona uma forte adesão entre a cobertura

e o fio interno7.

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 22

2.3 RUGOSIDADE DE SUPERFÍCIE

Em estudo de BOURAUEL et al.3, foi constatado que a rugosidade de superfície

dos fios ortodônticos é um fator essencial para determinar a efetividade do movimento

dentário guiado por esses fios. Usando técnicas não-destrutivas de microscopia

atômica e a laser, mensuraram a rugosidade de superfície de onze fios ortodônticos de

níquel-titânio, um de aço inoxidável e um de beta titânio. Os resultados foram

comparados com os obtidos usando perfilômetro de superfície. O fio menos rugoso, de

aço inoxidável, teve uma rugosidade óptica de 0.10 mícrons, comparado com 0.09

mícrons observados com microscopia e 0.06 mícrons com perfilômetro. A rugosidade

de superfície do fio de beta titânio medida pelos três métodos foi aproximadamente de

0.21 mícrons, enquanto que nos fios de níquel-titânio variou de 0.10 a 1.30 mícrons.

ZUFALL; KENNEDY e KUSY46, avaliaram as características de atrito de

protótipos de arcos revestidos. Em ambiente seco, a resistência ao deslizamento de

fios com três diferentes frações de volume de fibras de reforço foi analisada, em testes

com braquetes de aço inoxidável, cerâmica policristalina ou monocristalina, todos com

slot de 0.022” e sem pré- angulação. Os fios foram fabricados com fibras de vidro

contínuas e um copolímero de vidro. As propriedades de atrito foram determinadas

usando um aparelho de ensaio de atrito. Cada combinação de arcos e suporte foi

testada a 34°C, com distância interbraquetes de 16mm. O teste de ANOVA não

mostrou diferença no atrito com relação ao material do braquete. As amostras testadas

mostraram sinais de desgaste ao longo da interface entre o arco e o slot do braquete,

testados a 400g. Para efeitos de atrito, em geral, os arcos revestidos foram superiores

aos de aço, mas menos do que qualquer NiTi ou β-Titânio, como determinado a partir

de estudos anteriores de arcos metálicos.

HUNT et al. 17, investigaram o efeito da rugosidade de superfície nas taxas de

corrosão relativa de fios de quatro tipos de liga: aço, NiTi, cromo-cobalto e beta-titânio.

Lotes de fio foram divididos em dois grupos: em um grupo, os fios foram polidos

industrialmente para promover um acabamento de superfície uniforme; no outro, os fios

foram deixados sem alterações, para comparação. O diâmetro do fio, sua dureza e

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 23

taxas de corrosão relativa foram comparados dentro dos grupos, antes e depois do

polimento. Comparações também foram feitas entre os quatro grupos de fios. As

amostras de fios sem alteração mostraram variação no acabamento superficial, tendo o

beta-titânio a maior rugosidade aparente, e o cobalto-cromo a menor. As superfícies do

aço e do NiTi se mostraram similares. O polimento promoveu um acabamento mais

uniforme, mas reduziu significantemente o diâmetro dos fios. O polimento reduziu

significantemente a taxa de corrosão do NiTi, e a comparação entre as quatro ligas nos

fios polidos não revelou diferença significante em sua taxa de corrosão

relativa/densidade de corrente de corrosão.

ZUFALL e KUSY47 avaliaram o atrito e o revestimento, dos mesmos fios testados

por eles em 1998, utilizando fios revestidos de fibras de vidro contínuas e um

copolímero vítreo, porém com os mesmos apresentando-se recobertos como haviam

sido propostos no estudo inicial. Os resultados mostraram que apesar da visualização

de perfurações através da cobertura de diversas amostras, a matriz de fibra de vidro

dos fios não foi danificada em nenhuma das condições do teste. Consequentemente,

segundo os autores, a cobertura utilizada poderia tornar possível a utilização clínica

destes fios testados

LEE e CHANG30, investigaram as mudanças nas propriedades mecânicas,

topografia de superfície e forças de atrito de vários fios de NiTi após reciclagem. Três

tipos de fios de NiTi foram separados em 3 grupos: grupo controle ou T0 como

recebidos, T1 tratado em saliva artificial por 4 semanas e T2 tratados em saliva artificial

e autoclavados. A topografia de superfície foi avaliada por meio de MEV e perfilograma

3D e o coeficiente de atrito foi medido por testes de fricção. Os resultados

demonstraram que dois fios tiveram aumento de corrosão após reciclagem, assim

como significante aumento na rugosidade de superfície e consequente coeficiente de

atrito máximo, quando comparados com o grupo controle.

Em estudo in vitro, HUSMANN et al.18 estudaram o comportamento de atrito de

oito fios revestidos de diferentes dimensões, sendo selecionados cinco fios de níquel

titânio, dois beta-titanio e um fio de aço. Os revestimentos dos fios foram feitos de

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 24

Teflon® ou polietileno e por implantação de íons. Três arcos não cobertos foram

usados para comparação. Os resultados indicaram que todos os revestimentos podem

reduzir o atrito em comparação com um fio de referência sem revestimento, do mesmo

fabricante. Medidas das perdas por atrito variaram de 48,3 a 6,1%, com o revestimento

de Teflon ® reduzindo o atrito para menos de 10% em alguns casos. Comparado com o

fio original, o recoberto cria uma superfície modificada que pode influenciar não apenas

o atrito, mas também a estética, as propriedades de corrosão e mesmo a durabilidade

mecânica desses fios. A correlação inequívoca entre a rugosidade de superfície e as

forças de atrito dos fios não pôde ser verificada por microscopia eletrônica de varredura

neste estudo.

SUWA et al.41, realizaram estudo sobre a medição das propriedades de atrito e

os coeficientes de atrito obtidos e comparados entre si em várias combinações de

braquetes e fios ortodônticos, incluindo fio estético de fibra reforçado por resina (FRP)

que foi especialmente concebido e fabricado. Três tipos de fios (aço inoxidável, níquel-

titânio e FRP) e quatro tipos de braquete (cerâmico monocristalino, cerâmico

policristalino, policarbonato e aço inoxidável) foram utilizados. O teste foi feito em

condições com e sem umidade. Propriedades de atrito próximas das ideais entre os

materiais foram obtidas. As propriedades de atrito do fio FRP se mostraram

semelhantes às dos fios de metal em todos os braquetes, exceto no braquete de

cerâmica policristalina. O coeficiente de atrito entre o braquete cerâmico policristalino e

o fio FRP foi maior do que a das outras combinações. Houve pouca diferença nos

coeficientes de atrito entre situações de ambiente seco e úmido.

NEUMANN; BOURAUEL e JAGER35 observaram que os processos de corrosão

têm consequências negativas para biocompatibilidade, aparência estética e

comportamento de atrito entre o braquete e o arco ortodôntico durante o tratamento.

Este estudo in vitro buscou avaliar um grupo de novos arcos de fios ortodônticos

estéticos cobertos. Para isso, investigou o comportamento de corrosão e resistência à

fratura permanente de oito arcos cobertos de diferentes dimensões. Cinco fios de

níquel-titânio superelásticos, 2 fios de beta-titânio e 1 fio de aço inoxidável foram

selecionados. Por motivos de comparação, 3 arcos não-cobertos foram incluídos na

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 25

investigação. Modificações de superfície foram feitas de teflon, polietileno e por

implantação de íons. Os processos de corrosão foram realizados pelo uso de uma

célula eletroquímica especializada. Em uma segunda série experimental, os fios foram

expostos a estresses mecânicos. Finalmente, todos os fios foram examinados com

microscopia eletrônica de varredura. Os resultados indicaram que a cobertura de teflon

preveniu a corrosão dos fios. Como esperado, os fios de beta-titânio também não

sofreram corrosão. Após os testes de estresse mecânico, os fios poderiam ser divididos

em 3 grupos: o primeiro grupo, onde as diferenças não podiam ser percebidas (fios de

níquel-titânio cobertos com polietileno, Forestadent Gold I e Gold II, um fio de níquel-

titânio recoberto de teflon, da GAC e fios de beta-titânio Ormco com implantação de

íons) ; o segundo grupo, que mostrou mudanças em sua estrutura (níquel-titânio sem

cobertura, GAC, níquel-titânio com implantação de íons GAC, níquel-titânio sem

cobertura, Dentaurum, e níquel-titânio polido sem cobertura, Forestadent); e o terceiro

grupo, com recobrimento de Teflon®, que se soltou da superfície dos fios (níquel-titânio

recoberto por Teflon®, GAC, e níquel-titânio recoberto por Teflon®, Forestadent).

Nesses últimos, o processo de corrosão pode ter início nessas regiões onde o

revestimento descascou, o braquete pode ficar travado nelas e as propriedades de

deslizamento são reduzidas significantemente. Tais locais do fio perdem características

estéticas e os defeitos de superfície podem levar a acúmulo de placa.

WATANABE e WATANABE43, investigaram os efeitos de agentes profiláticos

com flúor na superfície de fios ortodônticos de titânio. Quatro tipos de fios ortodônticos

de titânio (2 de níquel-titânio - NiTi e CuNiTi, e 2 de beta-titânio - titânio-molibdênio e

titânio-nióbio) com dimensões similares foram preparados e imersos em agentes

profiláticos com flúor (acidulados, neutros ou estanosos), por 5 minutos, 1 hora e 24

horas. Após a imersão, a rugosidade média da superfície e as mudanças na coloração

foram avaliadas. As variações na superfície foram observadas por meio de microscopia

eletrônica de varredura. Não houve mudanças estatisticamente significantes nos

valores de rugosidade média superficial entre as soluções de flúor e os fios

ortodônticos, exceto para o fio de titânio-molibdênio, que mostrou significantemente

maiores (p<0,05) valores de rugosidade média de superfície, após imersão em agente

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 26

fluorado acidulado por 24 horas. Os resultados sugerem que poucas aplicações de

agentes fluorados acidulados podem alterar a coloração superficial dos fios de beta-

titânio, particularmente os fios de titânio-molibdênio, que contêm uma grande

quantidade de titânio (80%).

Em seu estudo, CLOCHERET et al.7 avaliaram o comportamento de atrito de 15

diferentes fios ortodônticos e 16 tipos de braquetes. Todos os fios foram comparados

com fios padrão de aço inoxidável. Foram avaliados fios retangulares de secções

0,016”0,022” e 0,017”x0,025”. Os resultados mostraram que, entre as combinações

investigadas, os valores mais baixos de atrito foram observados na combinação de fios

cobertos com resina epoxídica e braquetes de aço convencionais. Nesse caso

específico, o contato entre o braquete e o fio não é metal-metal, mas se trata de

contato plástico-metal, em que a resina pode prover alguma lubrificação.

KRISHNAN e KUMAR26 caracterizaram e compararam 3 ligas de arcos

ortodônticos: aço inoxidável, beta-titânio (TMA) e uma liga de titânio (TiMolium®), sob

vários parâmetros, dentre eles propriedades de atrito e características de superfície.

Sete exemplares de arcos de cada liga foram utilizados para avaliar cada parâmetro.

Uma máquina universal de ensaios Instron foi usada para testes de tração de três

pontos e avaliação das características de atrito. Microscopia eletrônica de varredura foi

utilizada para a avaliação de superfície. O aço inoxidável foi a liga com menos atrito na

interface braquete/arco. Fios TMA apresentaram melhores características de carga de

deflexão com menor rigidez que os outros dois fios. A superfície do TMA pareceu mais

áspera e apresentou valores muito elevados para o atrito na interface arco-braquete.

WICHELHAUS et al.44

investigaram o atrito e a rugosidade de superfície de

diferentes fios NiTi superelásticos disponíveis comercialmente, antes e após o uso

clínico. A superfície de todos os fios foi pré-tratada pelo fabricante. Para isso, 40 fios

superelásticos (Titanol Low Force, Titanol Low Force River Finish Gold, Neo Sentalloy,

Neo Sentalloy Ionguard) de diâmetro 0.016x0.022” foram testados. O atrito de cada tipo

de arco NiTi, ligado a um braquete de aço inoxidável comercial foi determinado por

uma máquina universal de testes. Tendo ligado o fio ao braquete, este poderia então

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 27

ser movido para a frente e para trás ao longo de um arco fixo, enquanto um momento

de torque era aplicado. A rugosidade de superfície foi avaliada usando um perfilômetro

em áreas definidas do fio. Os resultados mostraram que, inicialmente, os fios com

tratamento de superfície mostraram menor atrito estatisticamente significante (p<0.01)

que os fios não tratados. A rugosidade de superfície não mostrou diferença significante

entre as superfícies dos fios tratados e não-tratados. Todos os 40 fios, no entanto,

mostraram um aumento significante no atrito e na rugosidade de superfície durante o

uso clínico.

HUANG15 realizou estudo que teve o objetivo de investigar a variação de

resistência à corrosão in vitro de arcos ortodônticos de diferentes marcas, usando

técnica eletroquímica rápida. Teste de polarização linear foi usado para avaliar a

resistência à corrosão de fios de níquel-titânio sem uso, em saliva artificial acidificada a

37⁰C. Foi usado microscópio de força atômica para analisar a topografia de superfície

tridimensional e a rugosidade média (Ra). Espectroscopia eletrônica para análise

química foi utilizada para identificar a estrutura química do filme passivo dos fios de

níquel-titânio. Os resultados mostraram que fios de níquel-titânio de diferentes

fabricantes tiveram uma diferença estatisticamente significante (p<0,001) na resistência

à polarização (Rp). Topografias de superfície diferentes estavam presentes entre os

fios testados, enquanto que a mesma estrutura química de superfície foi observada nos

mesmos fios. A rugosidade de superfície de fios comerciais de níquel-titânio com

estrutura química superficial similar não corresponde à diferença na resistência à

corrosão, segundo este estudo.

Neste estudo, KAO et al.24 investigaram e compararam os níveis de resistência

de atrito entre braquetes de metal e fios ortodônticos após imersão em um agente com

flúor fosfato acidulado a 0,2%. Para isso, 3 tipos de braquetes de aço inoxidável de

incisivo inferior com fio de beta-titânio (TMA) , fio de níquel-titânio termoativado e 2

tamanhos de fio de aço foram submersos na solução fluoretada citada e soluções de

saliva artificial com pH 6,75 por 24 horas. O estudo incluiu 480 espécimes de fio-

braquete. No grupo que foi submerso em solução fluoretada, a força de atrito estático

foi maior que a força de atrito cinético. As forças de atrito dos fios ortodônticos tiveram

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 28

diferenças estatisticamente significantes (p<0,05) nessa ordem crescente: TMA, NiTi e

aço. Resultados de força de atrito similares foram obtidos no grupo submerso em saliva

artificial com pH 6,75 (p<0,05). Os valores de força de atrito do grupo submerso em

solução fluoretada foram maiores do que aqueles do grupo submerso em saliva

artificial. Com isso, este estudo demonstrou que as forças de atrito de braquetes e fios

ortodônticos são influenciadas pelo contato com soluções fluoretadas.

WALKER et al.42 avaliaram os efeitos de agentes profiláticos com flúor nas

propriedades mecânicas e na qualidade de superfície de fios ortodônticos de beta-

titânio e de aço inoxidável. Fios retangulares de beta-titânio e de aço foram imersos em

ambiente contendo agente fluoretado acidulado, ou agente fluoretado neutro ou água

destilada (grupo controle) por 1,5 hora a 37⁰C. Após imersão, o módulo elástico de

carregamento e descarregamento e o rendimento de força dos fios foram medidos

usando teste de deflexão de 3 braquetes sob água a 37⁰C. Microscopia eletrônica de

varredura também foi usada para avaliação qualitativa da topografia do fio. As

propriedades mecânicas de descarregamento dos fios de beta-titânio e aço diminuíram

significantemente (p<0,05) após exposição em ambos os agentes com flúor. Mudanças

corrosivas na topografia de superfície também foram observadas após exposição a

ambos os agentes fluoretados. Os resultados sugerem que o uso de agentes tópicos

com flúor pode reduzir as propriedades mecânicas funcionais de descarga dos fios de

beta-titânio e de aço e contribuir potencialmente para o prolongamento do tratamento

ortodôntico.

LIU et al.31 realizaram estudo cujo objetivo foi investigar o efeito do estresse de

deflexão na corrosão de fios de NiTi utilizando testes potenciodinâmico e

potencioestático, em saliva artificial. Os resultados indicaram que a deflexão induz uma

taxa maior de corrosão dos fios NiTi em regiões passivas. Foi sugerido que o filme de

óxido passivo dos espécimes seria danificado sob condições de deflexão. Análise

eletroscópica eletrônica por sonda mostrou uma baixa espessura dos filmes passivos

nos fios de NiTi que sofreram o estresse, comparados com espécimes que não

sofreram o estresse, nas regiões passivas. Por microscopia eletrônica de varredura,

corrosão localizada foi observada nos espécimes de Sentalloy submetidos a estresse

_______________________________________________________ Revisão da Literatura 29

após teste potenciodinâmico, com pH2. Este estudo concluiu que o estresse de

deflexão mudou as propriedades de corrosão e as características de superfície de fios

de NiTi em ambientes simulando condições intra-bucais.

HUANG16

, constatou que a topografia da superfície poderia afetar o

comportamento de atrito entre um fio ortodôntico e os braquetes durante as aplicações

clínicas. Com este estudo, o autor buscou investigar a influência de ambientes

contendo flúor nas variações da topografia de superfície de diferentes arcos

ortodônticos de NiTi. Para isso, quatro diferentes arcos ortodônticos de NiTi foram

imersos em enxaguatório bucal fluoretado e em saliva artificial com adição de creme

dental fluoretado ou gel profilático por um período de 28 dias. Um microscópio de força

atômica foi utilizado para medir a topografia de superfície tridimensional dos arcos NiTi

antes e após os testes de imersão, avaliando a variação da rugosidade de superfície

(incluindo Ra, Rms e Rz), de acordo com o fabricante e o ambiente do teste de

imersão. O estudo constatou que tanto o fabricante como o ambiente do teste tiveram

uma influência significante em Ra, Rms e Rz. Independentemente do fabricante do

arco, não foi observada diferença estatisticamente significante em Ra, Rms e Rz nos

arcos NiTi testados em ambientes com baixo teor de flúor (<2500ppm), incluindo os

vários enxaguatórios bucais fluoretados e a saliva artificial adicionada de creme dental

com flúor. Na saliva artificial adicionada de alta quantidade de gel profilático (por volta

de 17000ppm), um aumento significante em Ra, Rms e Rz, ou seja, um aumento na

rugosidade de superfície, foi observada nos arcos NiTi testados.

Em seu estudo, ELAYYAN;SILIKAS e BEARN.8 avaliaram a estabilidade dos

revestimentos estéticos de fios ortodônticos recobertos, tanto em espécimes

previamente utilizados em pacientes quanto em espécimes sem uso. Os fios

analisados foram submetidos a testes de aplicação de força de três pontos, e a

rugosidade de superfície e as características estéticas foram avaliadas. A rugosidade

de superfície da cobertura foi medida usando um perfilômetro/rugosímetro com

apalpador de contato. Foram usados microscópios óptico e eletrônico de varredura

para avaliar a topografia da superfície. Dez arcos foram usados in vivo por um período

de 4 a 6 semanas. Os arcos pré-utilizados foram submetidos aos mesmos testes. A