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ANÁLISE MORFOESTRUTURAL E GEOMORFOLÓGICA DA BACIA DO RIBEIRÃO SANTO INÁCIO - PARANÁ Bruno Aurélio Camolezi (PIC-UEM), Vagner de Souza Serikawa, Susana Volkmer (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Geografia/Maringá, PR. Ciências Exatas e da Terra, Geociências Palavras-chave: lineamentos estruturais, compartimentos geomorfológicos, bacia hidrográfica. Resumo: Este trabalho tem como objetivo, apresentar a análise morfoestrutural e a compartimentação geomorfológica da bacia do ribeirão Santo Inácio – BRSI, afluente da margem esquerda do rio Paranapanema, localizada no norte paranaense. Através da análise de lineamentos estruturais, foi possível verificar o controle tectônico da rede de drenagem que compõe a referida bacia. Foi ainda realizada uma compartimentação geomorfológica (CG), a qual resultou em quatro compartimentos: Planalto Baixo de Santo Inácio (PBSI), Planalto Médio de Imbiaçaba (PMI), Planalto Alto de Alto Alegre (PAAA) e Planalto Alto de Mendeslândia (PAM). Introdução A análise morfoestrutural trata das feições passivas das formas do relevo, resultantes de deformações do passado. Etchebehere et al. (2005) ainda ressalta que na geometria dessas deformações existe um acomodamento dos elementos do relevo, especialmente no da posição e no padrão dos cursos d’água, refletindo a disposição dos corpos rochosos ou de seus estratos e estruturas. Da análise morfoestrutural proposta para a BRSI, inclui-se o levantamento dos lineamentos estruturais da referida bacia hidrográfica, com o intuito de estudar os compartimentos do relevo da área, considerando-se a geomorfologia estrutural. O termo lineamento é definido como uma linha do relevo significante, a qual revela a arquitetura oculta do embasamento rochoso, sendo característica da fisionomia da terra. Um lineamento é considerado uma feição mapeável da superfície, linearmente simples ou composta, que está alinhada de forma retilínea ou suavemente encurvada (Hudgson, 1974 apud. Sousa, 1999). Este trabalho tem relevada importância, em termos de contribuição científica, pois traz luz às informações do meio físico, que são deficitárias para a área abrangida pela bacia do ribeirão Santo Inácio, e seus entornos, principalmente sob o ponto de vista geológico-geomorfológico. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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ANÁLISE MORFOESTRUTURAL E GEOMORFOLÓGICA DA BACIA DO RIBEIRÃO SANTO INÁCIO - PARANÁ

Bruno Aurélio Camolezi (PIC-UEM), Vagner de Souza Serikawa, Susana Volkmer (Orientadora), e-mail: [email protected]

Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Geografia/Maringá, PR.

Ciências Exatas e da Terra, Geociências

Palavras-chave: lineamentos estruturais, compartimentos geomorfológicos, bacia hidrográfica.

Resumo:

Este trabalho tem como objetivo, apresentar a análise morfoestrutural e a compartimentação geomorfológica da bacia do ribeirão Santo Inácio – BRSI, afluente da margem esquerda do rio Paranapanema, localizada no norte paranaense. Através da análise de lineamentos estruturais, foi possível verificar o controle tectônico da rede de drenagem que compõe a referida bacia. Foi ainda realizada uma compartimentação geomorfológica (CG), a qual resultou em quatro compartimentos: Planalto Baixo de Santo Inácio (PBSI), Planalto Médio de Imbiaçaba (PMI), Planalto Alto de Alto Alegre (PAAA) e Planalto Alto de Mendeslândia (PAM).

Introdução

A análise morfoestrutural trata das feições passivas das formas do relevo, resultantes de deformações do passado. Etchebehere et al. (2005) ainda ressalta que na geometria dessas deformações existe um acomodamento dos elementos do relevo, especialmente no da posição e no padrão dos cursos d’água, refletindo a disposição dos corpos rochosos ou de seus estratos e estruturas.

Da análise morfoestrutural proposta para a BRSI, inclui-se o levantamento dos lineamentos estruturais da referida bacia hidrográfica, com o intuito de estudar os compartimentos do relevo da área, considerando-se a geomorfologia estrutural.

O termo lineamento é definido como uma linha do relevo significante, a qual revela a arquitetura oculta do embasamento rochoso, sendo característica da fisionomia da terra. Um lineamento é considerado uma feição mapeável da superfície, linearmente simples ou composta, que está alinhada de forma retilínea ou suavemente encurvada (Hudgson, 1974 apud. Sousa, 1999).

Este trabalho tem relevada importância, em termos de contribuição científica, pois traz luz às informações do meio físico, que são deficitárias para a área abrangida pela bacia do ribeirão Santo Inácio, e seus entornos, principalmente sob o ponto de vista geológico-geomorfológico.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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A bacia do ribeirão Santo Inácio possui uma extensão de pouco mais de 390 Km², estando inserida no terceiro planalto paranaense, conforme classificação de Maack (1981).

Do ponto de vista histórico, a referida bacia constituiu importante reduto de ocupação jesuítica, a chamada redução de Santo Inácio de Loyola, fundada em 1610 pela companhia de Jesus. De acordo com Oliveira (2010) na área foram encontradas peças produzidas por caçadores-coletores pré-ceramistas com seis mil anos de idade, da população guarani que habitou a região a três mil anos, dos guaranis e jesuítas que estiveram na redução entre 1610 e 1629, dos bandeirantes que destruíram a redução em 1629, e do aldeamento indígena do Paranapanema de 1879.

Materiais e métodos

A primeira fase de elaboração do projeto deu-se a partir do levantamento bibliográfico sobre a temática abordada, buscando um conhecimento prévio para o posterior andamento da pesquisa.

A segunda etapa do trabalho constituiu na elaboração da base cartográfica digital através da digitalização das cartas topográficas de Santo Inácio (Folha SF-22-Y-B-V-1), Colorado (Folha SF-22-Y-B-V-3) e da carta de Centenário do Sul (Folha SF-22-Y-B-V-4), todas elaboradas pelo IBGE na década de 1970 na escala de 1:50.000.

Outros produtos utilizados para a elaboração deste trabalho correspondem às imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) reprocessadas pelo projeto TOPODATA do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A partir da imagem de radar, podem ser extraídos os lineamentos estruturais da área de estudo, bem como os altos e baixos estruturais e altos e baixos topográficos, caracterizando o mapa morfoestrutural, objetivo do trabalho.

Foram utilizados para o processamento dos dados os seguintes sistemas de informação geográfica: Spring® v.5.1, Global Mapper® v.11, ArcGIS® v.9.3 e Surfer® v.8. O software Spring® foi utilizado para o processamento das imagens utilizadas, visto que integra o geoprocessamento e o sensoriamento remoto. O processamento digital de imagens foi utilizado também para a extração de lineamentos a partir da imagem sombreada do relevo e, para a obtenção de dados de frequência e comprimento dos lineamentos para a elaboração de diagramas de rosetas. O programa ArcGIS® foi útil para a preparação de cartas temáticas, como: hipsométrica, clinométrica, de drenagem, morfoestrutural, densidade de lineamentos, e compartimentação geomorfológica. O programa Surfer® foi utilizado para a geração do Modelo de Digital do Terreno, e o Global Mapper® para a conversão de formatos de arquivos e visualização dos produtos.

Resultados e Discussão

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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A partir dos dados da área, tais como drenagem, geologia, hipsometria, declividade, e lineamentos estruturais, levantamentos bibliográficos, cartas topográficas e imagens de radar, foi possível a elaboração das cartas Morfoestrutural (Figura 1), e de Compartimentação Geomorfológica (Figura 2), da bacia do ribeirão Santo Inácio.

Desta última carta, foram identificados quatro compartimentos geomorfológicos (CGs):

→ CG1 – Planalto Baixo de Santo Inácio (PBSI): compreende a porção N-NE-CE da BRSI, composto pelas quatro formações geológicas presentes na área de estudo (arenitos das formações Caiuá/Santo Anastácio/Adamantina, do Grupo Bauru e basalto da Formação Serra Geral, Grupo São Bento). Ocorre baixa densidade de drenagem, com padrão retilíneo. Predomina um baixo topográfico junto à foz do RSI tendo em vista a forte influência da hidrodinâmica e sedimentação advindas do represamento do rio Paranapanema. Na sua porção central é evidente o controle estrutural, lineamentos de direção aproximada N-S coincidem com drenagens de 1ª ordem de padrão paralelo a pinado. Os comprimentos dos lineamentos estão compreendidos entre 271 e 4.427m. As altitudes deste compartimento variam de 284 a 485m.

→ CG2 – Planalto Médio de Imbiaçaba (PMI): corresponde ao flanco leste da BRSI, onde ocorre média densidade de drenagem, com padrão ora retilíneo, ora dendrítico. Há ocorrência de arenitos das Formações Caiuá e Santo Anastácio, além de basaltos da Formação Serra Geral. Apresenta lineamentos estruturais nas direções E-W e N-S. O domínio situado ao centro deste compartimento apresenta, da margem para a borda, Baixo Topográfico e Alto Topográfico. Os lineamentos deste compartimento apresentam tamanhos variados, entre 326 e 4.385m. As altitudes variam de 318 a 512m.

→ CG3 – Planalto Alto de Alto Alegre (PAAA): está localizado no centro-sul da BRSI, onde a densidade de drenagem ainda é média e o padrão exibido é subdendrítico. Assim como em CG4, há controle estrutural, tendo em vista a disposição de Altos Estruturais. Ocorrem neste compartimento todas as litologias apresentadas acima, com ocorrência da Formação Adamantina em altitudes acima de 480m. Predominam lineamentos com direções N40-60E e N-S. Neste compartimento, os lineamentos apresentam entre 529 e 3.527m de extensão. A altimetria varia de 332 a 513m.

→ CG4 – Planalto Alto de Mendeslândia (PAM): situado na borda oriental da BRSI, o PAM apresenta modelado de dissecação, com alta densidade de drenagem, padrão dendrítico a subdendrítico, dominantes. A drenagem encontra-se controlada pelos lineamentos estruturais, confirmando a hipótese de controle da rede de drenagem que também pode aparecer na forma circular e semicircular, tendo em vista a presença de Altos Estruturais, ao longo de toda a borda sul da BRSI. Os lineamentos apresentam direções N40-60E e N-S predominantes. Neste compartimento as litologias acima mencionadas, distribuem-se em áreas de equivalentes tamanhos. As altitudes compreendidas estão entre 346 e 543m, e os

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lineamentos deste compartimento possuem comprimentos entre 367 e 2.990m.

Figura 1 – Mapa Morfoestrutural da BRSI Figura 2 – Compartimentação Geomorfológica da BRSI

Conclusões

Através dos dados obtidos, foi possível verificar evidências de controle estrutural, manifestadas na rede de drenagem, na parte sul da bacia do ribeirão Santo Inácio, onde ocorrem os compartimentos CG3 e CG4.

A similaridade entre as unidades litoestratigráficas sedimentares (formações Caiuá, Santo Anastácio e Adamantino) da BRSI, e a baixa amplitude altimétrica da bacia em questão, dificultaram a obtenção de dados morfoestruturais. Por esta razão é que se verifica a predominância de baixos topográficos nos compartimentos CG1 e CG2.

A construção da Usina Hidrelétrica de Taquaruçu em 1989 ocasionou um aumento na deposição de sedimentos no baixo curso do RSI, dificultando as análises de caráter geomorfológico. Tal fato corroborou, portanto, com a predominância de processos de agradação em CG1 verificados atualmente.

Referências

ANDRADES FILHO, C. de O.; FONSECA, L.M.G. Lineamentos estruturais a partir de imagens Landsat TM e dados SRTM. In Anais do XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, 2009, 3151-3158.ETCHEBEHERE, M.L. de C.; SAAD, A.R.; CASADO, F.C. Análise Morfoestrutural Aplicada no Vale do Rio do Peixe (SP): Uma Contribuição ao Estudo da Neotectônica e da Morfogênese do Planalto Ocidental Paulista. Geociências, Guarulhos, v.10, n. 6, 2005, 45-62MAACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Ed., 1981, 442.OLIVEIRA, J. A. de; Aberto à visitação, redução jesuítica de Santo Inácio completaria 400 anos. O diário, Maringá, 26 de fevereiro de 2010. Disponível em <http://www.odiario.com> Acesso em 20 de abril de 2010.

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