Análise simbólica do desenho da figura humana, texto 10 ...

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1 RIBEIRO, Laura Cançado. Como fazer um relatório-síntese personalizado (Texto, 15 p.) www.psicologiaclinicatextos.com.br Coletânea O Desenho da Figura Humana, 10. Aba Análise simbólica. Revisão 11/21 O Desenho da Figura Humana, 10 Como fazer um relatório-síntese personalizado Utilizando modelos para aprender Para que você aprenda a elaborar relatórios-sínteses, o melhor método é apresentar modelos, que possam ir sendo seguidos por você. Com a prática inteligente, gradativamente você irá ganhar liberdade em relação aos modelos. O modelo simplificado é genérico e oferece dados básicos, mas é mais fácil de aprender e é de uso mais rápido. Ele está na íntegra no Texto 11 . Este Texto apresenta o modelo personalizado de relatório-síntese, usando o protocolo de uma pessoa com dificuldades de personalidade. O modelo personalizado é mais completo, porque sintetiza todos os dados de um protocolo. É também mais rico, porque é individualizado. Contudo, é de aprendizagem mais lenta e difícil, e mais demorado de ser feito. Depois de exercitar-se com o modelo personalizado, o modelo simplificado ficará mais rico de significados e cada vez mais fácil. Modelo personalizado: identificando os traços gráficos no protocolo. A síntese se baseia nos desenhos de uma mulher ― A. ― solteira, de 56 anos, hospitalizada para tratamento de episódio de depressão maior, com tentativa de suicídio por ingestão de comprimidos. Ela desenhou primeiramente a figura do sexo masculino. Figura 1. Figuras masculina (nº1, esquerda) e feminina (nº2, direita) desenhadas por A. Tamanho natural, não reduzido. A síntese foi feita pelos traços presentes na figura feminina (mesmo sexo de A.), que foi a segunda desenhada. Ao mesmo tempo, fui observando a figura masculina, para detectar diferenças significativas.

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1 RIBEIRO, Laura Cançado. Como fazer um relatório-síntese personalizado (Texto, 15 p.)

www.psicologiaclinicatextos.com.br Coletânea O Desenho da Figura Humana, 10. Aba Análise simbólica. Revisão 11/21

O Desenho da Figura Humana, 10

Como fazer um relatório-síntese personalizado

Utilizando modelos para aprender

Para que você aprenda a elaborar relatórios-sínteses, o melhor método é apresentar modelos,

que possam ir sendo seguidos por você. Com a prática inteligente, gradativamente você irá ganhar

liberdade em relação aos modelos.

O modelo simplificado é genérico e oferece dados básicos, mas é mais fácil de aprender e é de

uso mais rápido. Ele está na íntegra no Texto 11 .

Este Texto apresenta o modelo personalizado de relatório-síntese, usando o protocolo de uma

pessoa com dificuldades de personalidade. O modelo personalizado é mais completo, porque sintetiza

todos os dados de um protocolo. É também mais rico, porque é individualizado. Contudo, é de

aprendizagem mais lenta e difícil, e mais demorado de ser feito. Depois de exercitar-se com o modelo

personalizado, o modelo simplificado ficará mais rico de significados e cada vez mais fácil.

Modelo personalizado: identificando os traços gráficos no protocolo.

A síntese se baseia nos desenhos de uma mulher ― A. ― solteira, de 56 anos, hospitalizada

para tratamento de episódio de depressão maior, com tentativa de suicídio por ingestão de

comprimidos. Ela desenhou primeiramente a figura do sexo masculino.

Figura 1. Figuras masculina (nº1, esquerda) e feminina (nº2, direita) desenhadas por A.

Tamanho natural, não reduzido.

A síntese foi feita pelos traços presentes na figura feminina (mesmo sexo de A.), que foi a segunda desenhada. Ao mesmo tempo, fui observando a figura masculina, para detectar diferenças significativas.

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A sucessão do primeiro desenho (figura masculina) foi: cabeça → sobrancelhas → olhos →

nariz → boca → pescoço → tronco → pernas → braços → mãos → pés → cabelo, e os comentários

após o desenho foram: ―"Não sei se você percebeu que eu fiquei sem saber definir se era homem ou

mulher. ― Me deu uma revolta! ―Tenho repulsa à mulher! ... ― Às vezes, acho que represento..."

A sucessão do segundo desenho (figura feminina), foi: cabeça → traços faciais como acima →

cabelo → pescoço → braços → vestido → pernas e pés → retoque no cabelo. Os comentários: ―

"Sempre lembro da minha mãe. Uma coisa triste. Mas acabei desenhando a nós, daqui, todas iguais,

com a mesma cabeça."

Como trabalhar com os Quadros. O Quadro 1 apresenta os traços dos desenhos de A.

identificados e codificados pelo sistema descrito no Texto 5, “Atlas para identificar traços específicos

da Figura” e no Texto 6, “Atlas para identificar características gerais dos desenhos”. Tendo à sua frente

esses dois Textos, leia o código atribuído ao desenho de A., olhe o desenho e raciocine sobre os

critérios usados para atribuir um determinado código ao desenho.

No Quadro 1, as informações de número e nome do código ajudam você (e.g., PF01.02-Cabeça

de tamanho normal). Após cada código, você pode ler também o raciocínio, medidas, ou informações

que foram as razões para a atribuição do código (e.g., A proporção normal é de ... e duas medidas, feitas

por aproximação, indicaram 0,63 e 0,65.). Isso lhe permite compreender como os critérios são aplicados

e complementa o entendimento das definições operacionais dos traços dos Textos anteriores. Em

casos óbvios, basta que se olhe o desenho.

Etapa 1. Identificar os traços e aspectos gerais presentes no Desenho das Figuras Humanas

Quadro 1 Identificação e codificação do protocolo de A.

PF01.02-Cabeça de tamanho normal. A proporção normal é de 0,50 a 0,74 entre a área da cabeça e a área do

tórax e duas medidas independentes, feitas por aproximação, indicaram 0,63 e 0,65. (Obs.: Este desenho foi

aplicado no início da pesquisa, antes que descobríssemos que era preciso que a pessoa-sujeito indicasse a linha de cintura

da figura (V. Aplicação.). O desenho de A. também não se encaixa nas outras definições (nem cabeça grande e nem

pequena).

PF02.08.06- Rosto com expressão vaga. O desenho mostra figura inexpressiva, com pouco ânimo facial. Juízes

independentes concordaram neste ponto.

PF03.05-Olhos pouco detalhados. O desenho apresenta sobrancelha e órbita (somente duas das partes possíveis de

compor o desenho dos olhos).

PF03.07- Olho(s) vazio(s), sem os elementos centrais. Somente órbita, sem íris/pupila.

PF03.16- Olhos oblíquos para baixo. O traço ocorre em um dos olhos.

PF04.11- Nariz com deformações. O nariz, em dois traços, está torto e sem fechamento.

PF05.11- Boca aberta e interrompida. A boca em dois traços fica aberta e não chega a ser completada nas laterais.

PF06.00- Queixo: representação modal. Há presença de um espaço entre a boca e o contorno inferior do rosto,

e linha que demarca o queixo do pescoço.

PF06.00.02- Testa representada. Há espaço entre sobrancelhas e inserção dos cabelos.

PF07.01- Orelhas omitidas. Ausência de representação das orelhas.

PF08.10- Cabelo ralo. O cabelo é escasso, com indicação rápida de pelo na cabeça.

PF08.12- Cabelos superpostos à cabeça. Cabelos não enraizados, superpostos artificialmente à cabeça, que

aparece sob os mesmos ― é possível observar-se o contorno da cabeça.

PF11.09- Tronco geométrico. O tronco tem forma de retângulo (na região dos ombros), e triângulo (na

"camisola"); há presença de ângulos, e dá impressão de mais linhas retas e de infantilidade de desenho.

PF13.04- Cintura não representada. Não há sugestão gráfica de cintura.

Ombros. A identificação e codificação adequada seria “interseção entre ombros ausentes e ombros geométricos”

(estes, presentes na fig. masculina), pois a linha que representa o braço sai direto da "linha dos ombros", em

continuidade com ela (lado direito da figura), mas há também um arremedo de retângulo na linha dos

ombros.

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PF18.01- Braços omitidos total ou parcialmente. Falta parte dos braços.

PF18.02- Braços pequenos e/ou muito finos. Os braços (por aproximação) terminam acima/ na altura da cintura;

só têm estrutura indicada e dão visível impressão de fragilidade.

PF19.01- Mãos omitidas. Mãos não representadas.

PF21.02- Pernas muito mal desenhadas, ou com problemas de desenho. As pernas são representadas difusas,

incompletas, e cortadas na zona dos pés.

PF21.05- Pernas de tamanho diferente entre si. Uma perna está maior que outra, mas não chega a conferir forte

desproporção ao conjunto.

PF21.09- Pernas e braços pequenos, finos e frágeis. Os membros parecem insuficientes em relação ao tronco

desenhado.

PF21.10- Pernas e braços vazados e rígidos. Pernas e braços com aberturas nas extremidades e ausência de

movimento.

PF22.07- Pés muito distorcidos. Os pés apresentam forte distorção na forma e posição.

PF24.01- Poucas indicações de roupa: menos que o essencial. A presença de roupa é sugerida apenas pela

indicação rápida de saia triangular (no caso, camisola triangular).

PF25.04- Saia ampla e geométrica. A camisola tem formato de triângulo simples, é geométrica e mais larga que

a própria dimensão do corpo da figura desenhada.

AP01.25- Figura despersonalizada. A figura mostra perda das características de humanização, vazia, inexpressiva,

despersonalizada. (Cf. com ilustração desse código no Texto 6!)

AP01.00.01- Desenho de si mesmo. A. fez o comentário: nós daqui... (é um eu, embora despersonalizado pela

hospitalização e doença).

AP02.03- Figura que mostra pouca capacidade de contato. Os traços faciais são tênues, os braços frágeis, e há

lesões em partes com função de intercâmbio pessoal, como boca, mãos.

AP02.20- Figura triste. Juízes concordaram que a figura se mostra infeliz, desalentada, etc.

AP02.21-Figuras fracas. A figura é pequena (AP05.06) e juízes concordaram que parece frágil.

AP03.01- Ausência de movimento. Juízes concordaram que a figura está parada, desvitalizada, e dá impressão de

falta de vida.

AP04.03- Figura de frente, sem condição de apoio nos pés. A figura está de frente, no eixo vertical, mas não pode

ser considerada de pé porque os pés estão mutilados, vazados e um deles em linha, de modo que ocorre um

arremedo da postura de frente, de pé. Obs.: a figura masculina de pé, de frente, na vertical; embora com

linhas interrompidas, parece mais capaz de equilíbrio (levando-se em conta a escolaridade de A., seria

normal).

AP05.06- Figura pequena. A figura mediu 8,8 cm (entre 7,5 e 10,5 cm.). Obs.: a figura masculina é cotada AP05.00,

estando no limite inferior (10,6 cm) do modal.

AP06.10- Figura no quadrante inferior esquerdo. Figura estava no canto inferior esquerdo. (Obs.: a figura

masculina estava mais central, embora na metade inferior.)

AP07.00- Figura sem fundo ou chão. O sujeito só desenhou o que foi pedido.

ES01.10- Sucessão com início ou término pelo cabelo. A. começou pela cabeça, fez o desenho e depois fez o

cabelo; na 2ª figura, retocou o cabelo ao final. (Cf. sucessão descrita.)

ES02.02- Simetria confusa. O desenho de A. apresenta ombros assimétricos, pernas desiguais, braços

assimétricos (um em ponta, outro em dois traços abertos), um pé em duas dimensões e outro em uma

dimensão.

ES03.03- Perspectiva confusa. O desenho de A. é um esquema de ser humano, apresentando inclusive partes

unidimensionais, partes abertas.

ES05.05- Desenho com pobreza de detalhes. O desenho de A. é pobre, a maior parte do corpo fica em branco e

um único dos itens de Peter OAS foi incluído: sobrancelha.

ES05.11- Desenho com desproporções grosseiras. Desproporções no nariz-boca, no pescoço fino, braços curtos

demais, finos demais, pernas finas em excesso.

ES05.14- Presença de amputações gerais. Os braços estão parcialmente amputados; e a figura está sem mãos e

dedos.

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TD01.03- Figuras pobres e semelhantes, mas com sexo identificável pelas roupas ou cabelo. As figuras dos dois

sexos são distinguidas pelos cabelos maiores em uma e quase ausentes na outra; as figuras são muito iguais,

e uma tem dois tubos e outra um triângulo como saia.

TD01.12- Figura do sexo oposto com problemas de desenho na área genital. Na figura do sexo oposto, a linha da

entreperna se acha claramente fragmentada.

Obs.: Idade. A análise dos códigos relativos à idade ficou prejudicada, porque um juiz atribuiu 40 e outro, 80 anos

à figura.

TD04.01- Figura do sexo oposto desenhada em primeiro lugar por mulheres. (Cf. descrição do aplicador.)

TD04.09- Figura do sexo oposto mais potente, ou com mais movimento, ou com braços maiores. A figura do sexo

oposto é maior. Além disso, os ombros são ausentes, os braços omitidos parcialmente e as mãos, omitidas da

figura feminina, em contraste com ombros geométricos (PF17.07), braços presentes e mãos imprecisas

(PF19.05) da figura masculina.

TD04.12- Figura do sexo oposto com posição de mais equilíbrio que o sexo próprio. A figura do sexo oposto tem

mais chance de equilíbrio, e a do próprio sexo não tem um dos pés, está mal apoiada.

TE01.02- Traçado débil com zonas abertas.TE01.01 mais espaços entre os traços individuais que permitem

passagem do lápis de fora para dentro da figura.

TE02.00/ 02.02- Pressão média e variável, e pressão fraca. Cf. a espessura; e não foi detectada pressão ao tato

colocando o dedo no avesso do papel.

TE04.01- Predomínio de linhas retas e angulosas. O desenho de A. tem marcada presença de linhas retas e de

ângulos agudos.

TE05.05- Linha fragmentada ou interrompida. A linha descontínua, com pequenos hiatos, de aparência leve e

difusa é vista ainda mais claramente na figura do sexo oposto.

TE05.07- Linha com algum pequeno tremor. Veja o ombro esquerdo da figura.

TE05.11- Linhas que se superpõem em pelo menos duas partes do corpo. As linhas se superpõem, uma passando

descuidadamente sobre a outra, nas seguintes partes: cabeça (v. topo), tronco (v. ombro), pescoço (com

rosto), braço, perna, pé.

TE06.01- Poucas correções e retoques em produção medíocre ou menos. Pouquíssima ou nenhuma utilização do

uso da borracha (0 a 1 vez), sendo a produção, comparando-se com outras, de média a fraca. (Foi feita

observação do comportamento.)

TE07.18- Demonstrar dificuldade em fazer pessoa sexuada. A pessoa faz a primeira pessoa indefinida

sexualmente e mostra surpresa ao receber a segunda instrução (Cf. comentário feito por A.)

TE07.25- Exibir contradição entre as realizações gráfica e verbal. Demonstrar atenção gráfica insignificante,

contrastando com grande fantasia verbal; ou anulação verbal intensa da agressividade registrada

graficamente; ou ... (ver história contada por A., adiante).

Na figura masculina, observou-se o traço PF01.07-Cabeça com traçado mais evidente do que o resto do corpo,

além do que foi incorporado no Quadro 1.

Observação Veja: há, para o desenho relativamente pobre de A. um total de 57 traços.

Isso certamente ajuda a controlar características de personalidade do analista!

Na prática. A primeira tarefa é registrar os símbolos ligados a cada traço. No Anexo I, Texto 12,

você tem o tipo de Quadro que é melhor para isso. No Passo 4 do mesmo Anexo, você lê como fazer o

registro dos símbolos. [Como treinamento, você pode fazer isso com os 57 traços gráficos presentes

nos desenhos de A., apresentados no Quadro 1; ou pode imaginar como isso foi feito e seguir em

frente.]

Os símbolos serão agrupados em unidades maiores de compreensão significativa. Essa

organização impede a fragmentação das informações e também permite ver o peso relativo das

características apresentadas pela pessoa-sujeito. Ao agrupar símbolos semelhantes, começam a

aparecer configurações: alguns “tipos” de símbolo são mais frequentes que outros. Podemos supor

que isso revele diferenças de intensidade de características pessoais associadas a esses “tipos” de

símbolos.

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A segunda tarefa é agrupar os símbolos, i. e., colocar próximas, umas das outras, todas as

análises simbólicas semelhantes existentes, e que estão no Quadro de Símbolos específicos de A. Você

lê no Anexo I, Texto 12, que quem estiver trabalhando com computador, basta olhar a semelhança e

usar o comando "copiar-colar". Quem estiver trabalhando manualmente, basta fazer pilhas das tiras

com as análises simbólicas semelhantes.

No momento do agrupamento inicial, feito por semelhança de significados simbólicos,

geralmente o analista começa a ter uma ideia genérica do que o desenho revela. E.g., uma pessoa-

sujeito apresentará um conjunto de oito traços indicadores de dificuldades com sexualidade; outra,

um conjunto de quatro traços que indicam insegurança, etc.

No caso de A, verificamos que ela usou traços que simbolizam impulsividade, valorização

excessiva das outras pessoas, pouca valorização de si, baixo nível de energia, pouca capacidade de

contato, etc.

Nesse ponto, pode-se passar à segunda fase do agrupamento, que demanda a organização

lógica desses conjuntos simbólicos.

O exemplo abaixo mostra o agrupamento por semelhança de alguns dos traços retirados do

protocolo de A. Eles têm por denominador comum simbolizarem impulsividade na concepção de Peter

OAS: pouca capacidade de mediação cognitiva e pouco adiamento de respostas.

Quadro 2. Primeira configuração emergente do protocolo de A.

Traços gráficos (A.) Análises simbólicas dos traços gráficos do protocolo de A.

ES05.05- Desenho com detalhes pobres.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e pouco adiamento de respostas: um dos indicadores de impulsividade

TE05.11- Linhas que se superpõem em pelo menos duas partes do corpo.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e dificuldade de adiar e controlar respostas. Indicador de impulsividade (P. Oas).

TE06.01- Poucas correções e retoques em produção medíocre ou menos.

Símbolo de limitação das faculdades de avaliação e correção, com possível critério pobre de realidade e reação impulsiva ou lábil aos estímulos. Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e dificuldade de adiar e controlar respostas.

ES02.02- Simetria confusa. Indicador de impulsividade. Símbolo de labilidade, falta de equilíbrio emocional. Símbolo de debilidade de defesas, com pouca crítica e discriminação.

Etapa 3. Pensar e escolher um eixo organizador para o relatório-síntese.

Um agrupamento lógico pode ser feito de acordo com o eixo de organização que se desejar.

Ele é feito após o agrupamento por semelhança, em que as configurações começam a se estruturar.

Vou descrever alguns dos possíveis eixos de organização. No protocolo de A., optei por usar o eixo

organizador adaptado ao protocolo, letra D.

A) Eixo “aspectos de adaptação, estrutura de base, defesas e fantasias”.

Esse eixo, inferido de Ocampo (passim), começa pela descrição dos aspectos adaptativos da

personalidade da pessoa-sujeito. Em seguida, é descrita a forma como a pessoa-sujeito forma seus

vínculos (que revela a estrutura de base: mais indiferenciada, ou mais diferenciada). A estrutura

indiferenciada é calcada em processos de identificação projetiva e introjetiva; já a estrutura mais

diferenciada apresenta pelo menos os controles obsessivos e do recalcamento, os quais permitem

diferenciação entre o externo e interno, e entre inconsciente e consciente. Finalmente, são descritas

as defesas de que a pessoa-sujeito dispõe, mas como complexo de fantasias sobre o estado do eu e do

objeto: fantasias sobre a bondade ou maldade do eu e do objeto, sobre a natureza do vínculo entre

esse eu e esse objeto, sobre o modo de neutralizar aspectos temidos do vínculo, e as consequências

do uso dessas defesas. [Como se pode ver, a base é psicanalítica, da teoria de relações objetais de Melanie

Klein e Elza Grassano.]

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B) Eixo impulsos e motivações, controle, e organização das motivações.

Por esse eixo, baseado na visão de personalidade de Brasil (passim), são descritos primeiro os

aspectos de personalidade ligados às motivações da pessoa-sujeito. Em seguida são analisadas as

formas pelas quais a pessoa-sujeito as controla. Finalmente, é descrito o nível de organização no lidar

com tudo isso. Isso inclui suposições sobre o futuro da pessoa-sujeito, derivadas, naturalmente, do

montante de organização de que a pessoa-sujeito se mostra capaz. [Mesmo havendo uma semelhança

superficial com a visão estrutural de id, superego e ego, há um tratamento existencial e evolutivo que torna a visão

diferente da psicanalítica]

C) Eixo situação, o tempo, o espaço, o outro, a fala, a obra

Esse eixo, baseado em Augras, busca “identificar e explicitar o modo de existência do sujeito,

no seu relacionamento com o ambiente, em determinado momento". A descrição da situação explicita

os conflitos e contradições da existência da pessoa-sujeito, na sua experiência de angústia e liberdade.

A descrição do seu tempo explicita os limites que o tempo-idade coloca para a pessoa-sujeito, sua visão

do passado, sua vivência e sentido do presente, perspectivas de futuro. A descrição de seu espaço

explicita sua movimentação, percepção de limites corporais, sua experiência de ser corpo e integração.

Ao descrever o outro da pessoa-sujeito, são explicitados os limites relativos da coexistência e da

coestranheza, a saber: noção de si e consciência do outro como separado de si, e sua consciência do

“outro”-em-si (seu eu desconhecido, sua alteridade para si próprio). A fala dirá dos aspectos simbólicos

e de comunicação e uso da abstração e a obra, seu fazer e criar.

D) Eixo adaptado ao protocolo

Neste, a síntese depende das características de cada conjunto de desenhos, das quais surge

uma forma de organização. Pode-se começar do que é mais presente na personalidade (mais intenso)

para aquilo que é menos presente ― no caso de um Desenho da Figura Humana, dos indicadores mais

visíveis e símbolos mais repetidos para os menos frequentes. Ou do mais adaptativo ao mais

patológico, i. e., dos símbolos que costumam estar associados a condutas mais produtivas para o

sujeito, e descrevendo depois as reações que são mais associadas a dificuldades psicológicas. Do mais

conhecido para a pessoa-sujeito (menos ameaçador) para o mais desconhecido (mais ameaçador). Do

mais geral para o mais particular, i. e, características estruturais e mais gerais, para as características

de expressão simbólica mais restrita. A escolha é do analista, com base no objetivo da aplicação.

Etapa 4. Aplicar o agrupamento lógico personalizado aos desenhos de A.

Os Quadros seguintes apresentam os símbolos relativos a cada um dos traços codificados no

protocolo de A., após terem sofrido o

agrupamento total ― por semelhança e lógico —

de um modo adaptado ao protocolo. Você

certamente identificará que os eixos

mencionados atrás foram referências para

organizar logicamente as informações, embora

não seguidas rigidamente. Analisados os

conjuntos de informação semelhantes, a caixa de

texto mostra a organização lógica que surgiu no

protocolo. O raciocínio referente a cada

agrupamento realizado está explicitado nos

quadros que foram feitos (V. mais adiante)..

Do mesmo modo que se pode escolher

um eixo qualquer, pode-se iniciar uma síntese da forma como se desejar. Uma linha de trabalho

possível é principiar pela reação do sujeito à tarefa de desenhar, pois isso mostra a reação imediata a

Organização definida para o relatório-síntese de A.

(1). Como a pessoa-sujeito lida com a realidade

imediata.

(2). Como a pessoa-sujeito percebe e vive o ser

humano em geral.

(3). Como a pessoa-sujeito percebe e vive o

relacionar-se:

● o receber; o trocar;

● o se afirmar e o se separar psicologicamente

dos outros na convivência diária.

(4). Como a pessoa-sujeito se sente.

(5). Como a pessoa-sujeito sente o outro.

(6). Possibilidades de transformação.

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elementos geradores de alguma tensão que a pessoa encontra na sua vida. Como, em geral,

analisamos uma tarefa psicológica para termos uma compreensão maior sobre a pessoa-sujeito, parar

para pensar sobre como a pessoa-sujeito se apresentou me parece um bom princípio. Na tarefa de

desenhar uma pessoa humana, isso ocorre pela observação da reação da pessoa às instruções

(Categoria TE ― estilo de comportamento) e pela forma como faz o desenho. A forma de fazer o

desenho é, por sua vez, contemplada na Categoria TE —traçado —, e na Categoria ES ― características

estruturais da figura e da composição.

No caso de A., selecionei para essa primeira abordagem: a forma como A. obedeceu às

instruções, as características de traçado e estilo, e as características estruturais. Entretanto, como, no

caso, um dos elementos estruturais que mais chamavam a atenção era a possibilidade de

impulsividade (ver símbolos repetidos nessa direção), já adicionei nesse momento alguns outros traços

PF referentes ao controle de impulsos. Isso quer dizer que A. apresenta a impulsividade no traçado

(TE), na produção como um todo (ES) e no conteúdo simbolizado (PF). Para o "início" do início, escolhi

um aspecto positivo, o que, quando se vai discutir o resultado com a pessoa-sujeito, auxilia na

aceitação, por ela, dos outros aspectos que são mais desagradáveis.

O agrupamento bem feito permite naturalmente uma síntese em que os elementos estão

inter-relacionados e organizados. Inclusive, a facilidade de fazer a síntese é uma boa pista para o/a

principiante avaliar se fez um bom agrupamento de símbolos.

No caso de A., vou fazer pequenas orientações e sínteses provisórias, mesmo interrompendo

o conjunto, para que você possa acompanhar a forma de elaboração da síntese propriamente dita.

Essas orientações estão grafadas em cor diferente.

Preste atenção, agora, à coluna 2, das análises simbólicas. Por ela é que você vai compreender

o agrupamento feito.

Tema 1: como A. lida com a realidade imediata [Quadro 1]

Primeiro conjunto Tema: aspectos de reação imediata à tarefa de desenhar (Amostra de comportamento de como A. lida com a realidade imediata)

AP07.00- Figura sem fundo ou chão.

Indicador de compreensão adequada e estrita dos limites à autoexpressão, dados pela situação. — Um aspecto positivo inicial da produção, mais o aspecto positivo observado: "aquiescência de A. em colaborar".

TE02.00- Pressão média e variável.

Símbolo de bom tônus psicomotor, com adequação e moderação no montante de energia e confiança presentes na ação, com momentos de baixo nível de energia na ação, com ansiedade. — Um aspecto positivo, mas que introduz o tema da ansiedade e da baixa energia.

TE05.07- Linha com ... tremor.

Símbolo de tendência a expressar a ansiedade fisicamente. — Um traço raro, referente à ansiedade. (Obs.: poderia ser efeito de medicação, também)

TE01.02- Traçado débil com zonas abertas. (1a)

Símbolo de falta de delimitação entre externo e interno, com interrupções causadas por conflitos psíquicos. — São dois os traços (1a e 2a) referentes à má delimitação interno-externo.

TE05.05- Linha fragmentada ou interrompida.

Símbolo de não discriminação, por predomínio de identificação projetiva, com falta de delimitação entre o mundo interno e externo. Traço (2a), mais menção à identificação projetiva.

ES05.05- Desenho com detalhes pobres.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e pouco adiamento de respostas: indicador de impulsividade de Oas. Indicador de diminuição da eficiência intelectual e do conhecimento realista do eu. Símbolo de retraimento, anulação, ou isolamento, com inquietude sobre o conceito de eu e sua ação. Impulsividade é qualidade muito marcante no protocolo; são 5 os indicadores (b) de impulsividade; este é 1b.

TE05.11- Linhas que se superpõem em... duas partes...

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e dificuldade de adiar e controlar respostas. Indicador de impulsividade (P. Oas). Idem, (2b).

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TE06.01- Poucas correções... em produção medíocre ou menos.

Símbolo de limitação das faculdades de avaliação e correção, com critério pobre de realidade e reação impulsiva ou lábil aos estímulos. Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e dificuldade de adiar e controlar respostas. Idem, (3b).

ES02.02- Simetria confusa.

Indicador de impulsividade. Símbolo de labilidade, falta de equilíbrio emocional. Símbolo de debilidade de defesas, com pouca crítica e discriminação. Idem, (4b).

ES03.03- Perspectiva confusa.

Idem, (5b) - a partir daqui os traços simbolizam o critério de realidade frágil, e a integração de si também frágil. Indicador de distúrbio na capacidade de discriminação e julgamento, com debilidade de funções adaptativas e de ajuste à realidade. Símbolo de cisão interior unida a reações defensivas excessivos de identificação projetiva, com desorganização do eu e do “objeto” (concepção técnica) e com possibilidades de vivências de esvaziamento e despersonalização.

ES05.11- Desenho com desproporções grosseiras.

Símbolo de integração pobre e desarmonia na personalidade e no comportamento, com dificuldade de manter o equilíbrio entre os impulsos e o domínio deles.

ES05.14- Presença de amputações gerais.

Indicador de falta de crítica e critério de realidade debilitado. Símbolo de processos inconscientes de supressão e encobrimento, com frustração, ou sentimento de culpa.

Ombros: entre ausentes e geométricos

Indicadores de falha e infantilidade no manejo intelectual da realidade concreta.

PF11.09- Tronco geométrico.

Indicador de primitivismo.

TE04.01- ... linhas retas e angulosas.

Símbolo de agressividade, tensão, crítica, decisão, assertividade e rigidez, com tendência à introversão.

PF13.04- Cintura não representada.

Símbolo de dificuldades com o controle dos impulsos.

PF25.04- Saia ... geométrica.

Símbolo do uso de padrões aprendidos de comportamento, de forma convencional e automática.

Síntese parcial 1 (primeiro conjunto: como A. lida com realidade imediata).1

Embora A. tenha apresentado compreensão adequada dos limites à

autoexpressão dados pela tarefa estruturada de desenhar, e bom tônus psicomotor

em boa parte do tempo, A. demonstrou momentos de baixo nível de energia na ação,

com ansiedade, que tendia ocasionalmente a se expressar fisicamente.

A. demonstrou intuito cooperativo durante a tarefa, mas tornou-se bastante

visível sua impulsividade, dada sua pouca capacidade de mediação cognitiva e pouca

capacidade para adiar e conter, de forma reflexiva, suas respostas.2

A. dispõe de padrões aprendidos de comportamento, que usa de forma

indiferenciada, rápida, convencional e automática, sem maior preocupação com a

avaliação efetiva de suas ações.

Sem essa avaliação efetiva que a leve a retomar seus atos, mostra-se uma

integração pobre e desarmônica na sua personalidade e no comportamento3.

Observe que esta última sentença já prepara o parágrafo seguinte, sobre o segundo conjunto de traços.

Além disso, optei por citar apenas a palavra "indiferenciada", deixando para explicitar a identificação projetiva e

a falta de delimitação de si no segundo conjunto.

1 Para facilidade didática, fiz esforço para manter a linguagem da segunda coluna.

2 Se você desejar, e a síntese se destinar a outro profissional, você pode tornar a informação mais precisa, colocando

entre parênteses o número de indicadores. Por exemplo: demonstra desejo de afirmação (6 indicadores).

3Usei a expressão avaliação efetiva, porque a pessoa-sujeito avaliou sua produção, como se vê pela história, mas não a

retoma.

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Tema 2: como A. percebe e vive o ser humano em geral [Quadro 2]

Segundo conjunto Tema: como a pessoa-sujeito percebe e vive o ser humano em geral

AP01.25- Figura despersonalizada.

Símbolo de cisão interior unida a reações defensivas de identificação projetiva excessiva. Símbolo de desorganização do eu e do “objeto” (sentido técnico) e vivências de esvaziamento e despersonalização.

AP01.00.01- Desenho de si mesmo.

No caso de A., conforme vimos no Quadro 6.1, símbolo de identificação projetiva (fusão com o “nós”, despersonalizado, das internas, de roupas e cabeça iguais).

PF21.10- Pernas e braços vazados e ... .

Símbolo de ataques ao aparelho psicomotor. Outro símbolo de empobrecimento e de indiferenciação.

TD01.03- Figuras pobres e semelhantes... com sexo identificável... p/ roupas ou cabelo.

Símbolo de incipiente diferenciação psicossexual, que é restrita a aspectos dos papéis de gênero convencionais à cultura, com forte dificuldade em reconhecer as características pessoais que diferenciam as pessoas entre si e com dificuldades em reconhecer características do sexo oposto que são diferentes das próprias.

TE07.18- ... dificuldade em fazer pessoa sexuada.

Símbolo de indiferenciação psicossexual, com recusa onipotente das diferenças sexuais.

PF24.01- Poucas indicações de roupa: — que o essencial.

Símbolo de menor adequação à realidade concreta e de pouco uso de defesas sociais. Símbolo de visão genérica em relação a pessoas e coisas, que pode impedir o planejamento objetivo no cotidiano.

Síntese parcial 2 (segundo conjunto: como A. percebe e vive o ser humano em geral).

A., no momento, vive-se como personalidade empobrecida e despersonalizada.

Mostra-se indiferenciada, com forte dificuldade em reconhecer as características

pessoais que tornam as pessoas diferentes entre si e com dificuldades em reconhecer

características dos outros que são diferentes das próprias. Como percebe o ser

humano de forma pouco singularizada, atenta às características genéricas, bem como

aos papéis de gênero convencionais à cultura, torna-se difícil para A. separar o que é

próprio de si mesma do que é próprio do outro. Tende assim a confundir-se com o

outro, o que impede o planejamento de estratégias de convivência, no cotidiano. Mencionei o aspecto genérico da vivência de A., descrevi em linguagem accessível os processos da

identificação projetiva, e repeti, intencionalmente, a informação sobre a "con-fusão" com os outros. Já está

preparado o terceiro parágrafo, sobre as facetas do relacionamento de A..

Tema 3: como A. vive o relacionar-se com o mundo externo [Quadro 3]

Terceiro conjunto Tema: como A. vive o relacionar-se com o mundo externo

Obs.: Após agrupar os símbolos sob a ideia de relacionamento com o mundo externo, vi que eram pertinentes o receber, o trocar e o afirmar-se.

PF02.08.06- Rosto com expressão vaga.

Símbolo de falta de espontaneidade e do contato débil com o mundo exterior. Aspecto geral.

AP02.03- Fig. com pouca capacidade de contato.

Símbolo de pouca capacidade para as relações interpessoais, e retraimento (narcisismo). Aspecto geral.

O receber

PF05.11- Boca aberta interrompida.

Símbolo de dificuldade em realizar introjeções adequadas, por vivência de que tais introjeções seriam daninhas e perigosas.

PF03.05-Olhos pouco detalhados.

Símbolo de recusa do meio ou de modo evasivo ao lidar com os choques da realidade.

PF03.07- Olho(s) vazio(s). Símbolo do desejo de não poder ver.

O trocar

PF18.01- Braços omitidos total ou parcialmente.

Indicador de falha no sentido concreto da realidade e na capacidade de adaptação. Símbolo de retraimento, bloqueio, conflito ou incapacidade de contato social e de contato com objetos. Símbolo de automutilação e de castração, por culpa.

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PF19.01- Mãos omitidas. Símbolo de ausência de confiança nos contatos sociais, na produtividade, ou em ambos, com limitação da capacidade de dar e receber, e repressão da agressividade. //Símbolo de dano egoico (vivência de castração) e culpabilidade por uso, real ou fantasiado, das mãos, como na agressão...ou ... automutilação.

PF18.02- Braços curtos e ... finos.

Símbolo de contato débil com o ambiente (falta de ambição, falta de realização dos objetivos), com sensação de contato inadequado.

O afirmar-se (se separar psicologicamente do outro)

AP04.03- Figura de frente, sem condição de apoio.

Símbolo de possibilidade de autoexposição, mas com incapacidade de autocolocação no ambiente.

PF21.02- Pernas mal desenhadas, ou com problemas ...

Símbolo de dificuldade séria (dano, ou deterioração ou bloqueio) com as funções de crescimento, separação, e busca de satisfação de necessidades.

PF21.05- Pernas de tamanho diferente...

Símbolo de ambivalência referente ao impulso para a autonomia.

PF22.07- Pés muito distorcidos.

Símbolo de insegurança no caminhar, ou no estar no mundo ou no relacionar-se sexualmente, com tendência à agressividade infantil.

Síntese parcial 3 (terceiro conjunto: o relacionar-se com o mundo externo).

O contato de A. com o mundo exterior mostra-se, pois, frágil, havendo pouca

capacidade para as relações interpessoais. A conduta privilegiada é o retraimento. A.

foge ao contato com o meio indiferenciado, talvez porque, no fundo, tenha receio do

que pode advir dele, ou mesmo tenha medo de vê-lo como é, na realidade. Se A. tem

receio do que possa receber do mundo que recusa, teme também o que pode oferecer

a ele. Mostra-se um forte bloqueio, com incapacidade de contato social e do contato

com objetos, que possam se transformar em trabalho criativo. Ao contrário,

predominam formas de automutilação, provavelmente ligadas a intenso sentimento

de desvalia e culpa. Há uma forte dificuldade em relação às funções de crescimento,

separação psicológica e busca de satisfação de necessidades, com ambivalência frente

à autonomia, o que torna mais difícil A. sentir-se como pessoa. Em síntese, A. não quer

receber coisas do ambiente, não quer se colocar nele, para que, paradoxalmente, não

se perceba e se sinta como uma pessoa singular e separada desse mesmo mundo.

Obs.: Quando se fala em separação psicológica, esta não tem sentido de separar-se de alguém,

mas de sentir que é diferente de todas as outras pessoas, sua visão de mundo é singular, própria

– e que, portanto, embora possa estar sempre acompanhada, em certo sentido sempre é “só”.

Tema 4: como A. se sente [Quadro 4]

Quarto conjunto Tema: como a pessoa-sujeito se sente

PF08.10- Cabelo ralo. Símbolo de sentimento de perda de vitalidade ou capacidade erótica.

PF04.11- Nariz com deformações. Símbolo de sentimento de menos-valia.

PF21.09- Pernas e braços pequenos, finos e frágeis.

Sentimento de deficiência ou declínio. Indicador de transtorno no desenvolvimento.

AP03.01- Ausência de movimento. Símbolo de baixo nível de energia.

PF03.16- Olhos para baixo. Símbolo de controle frágil diante do meio, e baixa de humor.

AP02.20- Figura triste. Símbolo de baixa de tônus vital e humor.

AP02.21-Figuras fracas. Símbolo de vivências de impotência e inadequação, com inibição ou restrição do eu.

AP06.10- Figura no quadrante inf. esquerdo

Símbolo de conflitos, inadequação pessoal e fixação em conflitos e inseguranças básicos.

PF08.12- Cabelos superpostos à cabeça. Símbolo de falta de integração entre os impulsos vitais-sexuais e as instâncias de controle.

Idade: indefinida

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Síntese parcial 4 (quarto conjunto: como A. se sente).

Essa situação está ligada a um humor em que predominam os sentimentos de menos-

valia e de perda de vitalidade ou capacidade erótica (sentido técnico). Há fixação em

conflitos e inseguranças básicos, e assim, os impulsos vitais-psicossexuais não se

integram harmonicamente à noção de si mesma.

Tema 5: como A. sente o outro [Quadro 5]

Quinto conjunto Tema: como a pessoa-sujeito sente o outro

AP05.06- Figura pequena. Símbolo de supervalorização do meio ambiente, e diminuição relativa da importância dada a si mesmo.

TD04.09- Fig. do sexo oposto + potente, com + movimento

Símbolo de valorização e idealização do outro, ligada a atribuição de maior poder de ação.

TD04.01- Figura do sexo oposto desenhada em primeiro lugar por mulheres.

Símbolo de valorização do outro, de caráter latente, i. e, não reconhecida, “espontânea”, inconsciente. Símbolo de visão androcêntrica da sociedade, com reconhecimento da maior valorização social dada ao homem. Símbolo de autoconceito empobrecido, com dependência e insegurança em relação à própria imagem.

TD04.12- Figura do sexo oposto com posição de mais equilíbrio que o próprio

Símbolo de maior estabilidade e capacidade de enfrentar as realidades do dia a dia e de fazer frente às exigências da vida atribuídas ao outro, ou ao outro sexo.

PF01.07-Cabeça com traçado + evidente do que o resto do corpo (figura masculina)

Símbolo da idealização das funções sociais-mentais, em contraste com sentimento de inferioridade ou vergonha em relação ao resto do corpo.

ES01.10- Sucessão com término pelo cabelo.

Símbolo de importância dada ou dificuldade presente em relação à sexualidade.

TD01.12- Figura do sexo oposto com problemas de desenho na área genital.

Símbolo de dificuldades na aceitação da sexualidade masculina o que mostra problemas relacionados à diferença psicossexual (ansiedade a respeito da sexualidade ou da sexualidade masculina).

Síntese parcial 5 (quinto conjunto: como A. sente o outro).

A relação mais íntima com outros é marcada pelo fato de existir marcada

valorização e idealização do outro. O outro, e, em especial, o outro do sexo masculino,

é idealizado como mais valorizado socialmente, mais capaz de ação, dono de maior

equilíbrio psicológico, mais estabilidade e mais capacidade de enfrentar as realidades

do dia a dia e fazer frente às exigências da vida. Paradoxalmente, a possibilidade de

relacionamento sexual satisfatório com o outro sexo é diminuída, na medida em que

coexiste o desejo de que inexista essa diferença sexual, vivida por A. como dor.

Tema 6: possibilidades de transformação [Quadro 8]

Sexto conjunto de traços Tema: possibilidades de transformação

Traços de normalidade

PF01.02-Cabeça de tamanho normal. Um dos indicadores de normalidade.

PF06.00- Queixo: representação modal. Um dos indicadores de normalidade.

PF06.00.02- Testa representada. Um dos indicadores de normalidade.

PF07.01- Orelhas omitidas. Traço frequente, mas que não indica boa observação.

Outras possibilidades

TE07.25- Exibir contradição entre as realizações gráfica e verbal.

Símbolo de dissociação das características de si e do objeto, com reações defensivas de anulação e dificuldade de integração.

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Síntese parcial 6 (sexto conjunto: possibilidades de transformação).

A mostra, pois, personalidade fortemente comprometida, apresentando pouca

possibilidade, no momento, de usar seus recursos mais produtivamente, para sua

própria satisfação. Entretanto, A. apresenta outros recursos de reflexão, de ordem

verbal, que fazem supor possibilidades de mudança por trabalho psicoterapêutico,

conjuntamente com o tratamento medicamentoso, conforme decisão do médico. Essa última sentença complementa a anterior e remete à forte diferença entre o protocolo gráfico e o

verbal, que será analisada na seção seguinte. A menção a esse contraste é feita aqui, preparando o restante da

análise da tarefa de desenhar as duas figuras.

Observação. No último parágrafo, faz-se uma síntese do mais importante, colocam-se os

aspectos positivos, as possibilidades para a pessoa-sujeito, e a orientação pedida pelo outro

profissional, se for o caso. Os aspectos positivos são dados pelos comportamentos adequados à tarefa

do desenho, pelos traços de normalidade e complexidade do desenho e criatividade expressa na

redação. As possibilidades são inferidas de uma avaliação global dos dados obtidos com o desenho. E

a orientação é uma dedução do analista da tarefa, com base em seu conhecimento, seus pressupostos

de trabalho e estilo de conduta. 4

Você deve ter percebido que pertence aos meus pressupostos de trabalho a tentativa

sistemática de buscar os pontos que podem alavancar uma mudança em qualquer pessoa-sujeito, num

sentido mais positivo, sem negar as dificuldades, ou a necessidade do atendimento médico

concomitante. O parágrafo referente ao sexto conjunto expressou essa orientação e estilo de conduta.

No caso de A., optei por colocar os aspectos positivos e as possibilidades imagináveis para ela.

Lamentavelmente, os pontos positivos obtidos do protocolo gráfico de A. são parcos, e apontam para

um futuro tempestuoso (dos 57 traços, somente 5 são indicadores de normalidade).

Entretanto, o desenho remete ao pré-verbal e mais arcaico, sendo os primeiros que se

desorganizam e os últimos que se modificam, enquanto a história narrada remete ao mais secundário

e elaborado. Por isso, especialmente quando o protocolo gráfico é muito pobre, a atenção ao aspecto

verbal se torna mais necessária. Para isso, analisaremos a história que A. construiu.

Etapa 5. Complementar a análise com os dados da redação.

Neste momento do trabalho, as perguntas são, basicamente, estas:

(a) — A produção verbal confirma, nega ou modifica o que a produção gráfica comunicou?

(b) — Em que essa produção amplia o conhecimento que tenho da interioridade de a pessoa-sujeito?

Apresento primeiro a história construída por A.. Em seguida, faço uma análise geral da mesma

quanto ao aspecto cognitivo. Logo depois, analiso os pontos observados em cada parágrafo,

comparando com os dados do protocolo gráfico. Finalmente, faço uma síntese do que foi

compreendido, do ponto de vista da dinâmica afetivo-emocional da pessoa-sujeito. Ao longo das

pequenas análises, fui assinalando os itens que poderão entrar depois na síntese final sobre a produção

verbal. [Nesta apresentação, estes itens estão marcados com realce de texto]

História narrada por A.

(Obs.: a divisão em parágrafos foi feita por mim, para facilitar o trabalho de análise.)

4 Essa orientação pode recomendar encaminhamento, psicoterapia, ou mencionar aspectos importantes que poderão

surgir durante o trabalho psicoterapêutico.

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(1) "Desenhos feitos por uma pessoa que não tem nenhum dom artístico. Gostaria de

ter pelo menos um. É encantada com todos os artistas, admira muito a arte e nada tem de

artista.

(2) Se surpreende muitas vezes terminando uma representação, assusta com a

capacidade que teve, e não sabe onde encontrou (...) para tal papel. Nestas representações

nunca encontrou falsidade. Vê necessidade do momento ou da pessoa que é espectadora.

Porque conseguiu tantas vezes representar, nunca entendeu.

(3) Mas, chega disso, quero ser eu mesma! Mas, como? Não sei. Estou perdida. Ainda

encontro tantas coisas sem explicação. Tem muito tempo e investi tudo que tinha para

conseguir ver e sentir tudo claro. Na indecisão em traçar definidamente se era homem ou

mulher, vejo que fracasso de artista que sou.

(4) E estou piorando. Atribuir a que? Medicamentos? Cansaço, idade, confusão

mental? Não sei qual e quais os motivos, mas, tenho certeza, tudo está esgotando. Nunca

conscientemente enfrentarei na arte de representar.

(5) Sou eu mesmo, fracasso total. Devia ter sido aborto, sempre achei isto, e cheguei

a escandalizar pessoas que me ouviram dizer isto. Não entenderam nada. É tudo tão claro,

nunca quis existir. Sou frágil demais.

(6) Chega!

Análise do aspecto cognitivo. Observa-se que A. apresenta mais recursos intelectuais do que

se poderia prever pelo desenho. Embora a história não configure uma narrativa, com começo, meio e

fim, que indicaria uma construção lógica, depreende-se capacidade de simbolização. Veja-se que A.

havia feito o comentário "às vezes penso que represento" na hora de desenhar, e, na história, começa

pelos dons artísticos que não possui (provavelmente, referentes ao grafismo) para, em seguida, dizer

de suas outras "representações". Logo, A. percebe que a representação pode-se dar de muitos modos.

Além disso, A. consegue escrever dois parágrafos na terceira pessoa, o que também indica

capacidade incipiente de manter o distanciamento projetivo, que faz parte da conduta narrativa e que

indica capacidades de contenção necessárias à reflexão. Finalmente, A. dispõe de um vocabulário que

indica certo domínio de abstrações ― a sentença sobre a "necessidade da pessoa espectadora" e o

uso da palavra "conscientemente" sugerem essa capacidade.

Análise afetivo-emocional. No primeiro parágrafo, A. somente demonstra o sentimento de

menos-valia, lamentando sua falta de habilidade. O segundo parágrafo confirma e amplia o que

apareceu no desenho: confirma o segundo conjunto e o quinto conjuntos de dados ― a indiferenciação

de base e a valorização do outro.

E amplia, porque mostra reação defensiva da "sedução teatral", e a consciência parcial que A.

tem desse modo de ser. A. fala da sua própria capacidade de "representar" da (sua) pessoa, e a palavra

a palavra “representar” é aí um símbolo bastante condensado. É relevante que A. coloque toda a

ambiguidade do "representar", como desempenho de um papel, supostamente falso, e, em seguida,

declare que "nunca encontrou falsidade", para em seguida falar que "vê a necessidade do momento

ou da pessoa espectadora". É descrição muito boa das chamadas "defesas histéricas", teatralização

imediatista ("que vê a necessidade do momento") que visa a atenção do outro ("ou a necessidade da

pessoa espectadora"). E cita o vazio de si que permanece como parte dessa atitude.

A propósito, esse é um dado relevante para a avaliação (não somente compreensão) das

potencialidades de A., pois, pela produção gráfica, A. apresentou defesas muito primitivas: uma carga

pesada de identificação projetiva (5 símbolos indicadores), de isolamento (4 símbolos indicadores), de

negação da realidade e fuga (3 símbolos indicadores cada), sendo o recalcamento forte e excessivo (3

símbolos indicadores, mas todos indicadores psicopatológicos).

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Já no protocolo verbal, A. demonstra conhecer de dentro o mecanismo das reações defensivas

histéricas, o que melhora o prognóstico. A. tem certa noção de que a teatralização sedutora é um

modo de relacionamento vindo de tempos que ela não reconhece ("porque conseguiu representar,

nunca entendeu"), e qual é o sentimento decorrente, de vida falsa, que ela nega.

No parágrafo 3, A. inicia pela expressão aberta da sensação de vazio de quem permanece na

vida inautêntica, e perde, simultaneamente, a distância projetiva, passando a contar a "história" na

primeira pessoa. Mencionando seu esforço em "ver claro", se opõe verbalmente ao que desenhou ―

ou seja, o que arcaicamente fez (Cf. PF03.07, olhos vazios, que, por condição, não "veem claro"). Na

última sentença desse parágrafo, que remeteria conscientemente, de novo, ao desenho feito por ela

― "na indecisão em traçar definidamente se era homem ou mulher" ― A. confirma explicitamente o

traço gráfico TE07.18, do conjunto 2, e todo esse conjunto, que fala da "negação onipotente da

diferença sexual". Uma negação onipotente que se transforma, na experiência vivida, no sentimento

profundo de não ser um ser definido ― ou seja, a tristeza pela incapacidade de se tornar ela mesma.

No quarto parágrafo, A. faz uma avaliação pessimista de sua trajetória (idade, remédios) e

afirma que "nunca enfrentará na arte de representar", concluindo, no quinto parágrafo que, já que

nunca "vai existir de verdade", já deveria não ter existido - "deveria ter sido um aborto".

No conjunto da história, vê-se a confirmação da contradição existencial de A. — valoriza

excessivamente o outro, mas, presa em si mesma, nega-o, pois nem mesmo reserva uma pequena

parte da história para ele (o que confirma o 5º conjunto de traços dos desenhos).

Síntese sobre a produção verbal de A.5.

A. demonstra, pela produção verbal, capacidade de considerar a realidade do

momento e capacidade de simbolizar [porque manteve o distanciamento projetivo].

Demonstrou também alguma capacidade de contenção, que poderia permitir reflexão,

além de vocabulário que indica algum domínio de abstrações.

Sua produção verbal indica que A., fora do episódio depressivo, é capaz de

apresentar reações defensivas por desempenho de papéis, as quais, entretanto, por

serem excessivas e baseadas na forte indiferenciação de que se falou, não têm sido

capazes de conduzi-la a soluções mais satisfatórias.

No dilema existencial de ver-se como pessoa “separada” dos outros, ou (se)

negar para não sentir a dor dessa separação, A. tem optado pela denegação da realidade

e de si. No momento, sua opção vital é pela desistência.

Contudo, se seus recursos intelectuais e incipiente compreensão dos processos

psicológicos que levam ao sentimento de perda de sentido puderem ser mobilizados,

ainda parece possível que ela desenvolva atitudes de controlar sua predisposição e

estrutura depressiva e de buscar conceitos mais amplos e formas de se colocar que lhe

devolvam o respeito por si mesma.

Bibliografia

A bibliografia utilizada se encontra no Texto 13 dessa Coletânea, mas não está atualizada.

Palavras de cautela. Esta Coletânea não é um teste de personalidade e nem é útil para um diagnóstico psiquiátrico de uma pessoa. Mas é instrumento que pretende:

(a) despertar ou ampliar o interesse pela compreensão de si ou de outros através de

desenhos;

5 (Este parágrafo é a continuação da síntese dos desenhos).

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15 RIBEIRO, Laura Cançado. Como fazer um relatório-síntese personalizado (Texto, 15 p.)

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(b) ensinar a fazer um diagnóstico psicológico (não somente psiquiátrico), que descreva o

modo de uma pessoa-sujeito lidar com as facetas do mundo cobertas pelo instrumento;

(c) ensinar a fazer uma análise simbólica que seja ao mesmo tempo mais precisa, analítica e

dinâmica;

(d) despertar interesse pela Simbologia e para o trabalho com símbolos;

(e) incentivar a busca de novas fontes de estudo e diferentes áreas de conhecimento;

(f) gerar pesquisas na área de desenhos.