Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição -...

54

Transcript of Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição -...

Page 1: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem
Page 2: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO | CAPITULO REVISTA LITERÁRIA DIGITAL

morte

Vida

POESIA

Ano 1, N 0 1 , Mar.2017 | 2 ª Edição

CONTATO:

Fb.com/RevistaPr imeiroCapitu lo

[email protected]

[email protected]

P r i m e i r o C a p i t u l o . c o m . b r

Page 3: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

3

EQUIPE EDITORIAL

Edição Geral: Rejane Marques | [email protected]

Edição de Arte | Diagramação:ILustrarma | [email protected]

Revisão de textos:Ariane Si lva | [email protected]

Portfólio: http://arsilvasoares.wix.com/revisao-de-textos

C arla Fur tos o | [email protected]

L arissa Helena | [email protected]

Portfólio: https://larishelenarm.wordpress.com

Marina R idente | [email protected]

Colunistas (na ocasião da 1ª edição):Denise Ribeiro | [email protected]

Gabr iela Santos | [email protected]

Diogo Mendes | [email protected]

Page 4: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem
Page 5: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

5

#PRIMEIROCAPÍTULO

U m

Rev

isão

: Mar

ina

Rid

ente

O s u s p i r o q u e a b r e a s v i a s d o l e i -

t o r d e n t r o d e u m a n o v a h i s t ó r i a .

A o b s e r v a ç ã o c u r i o s a d o n o v o h a b i t a n -

t e , b u s c a n d o p o n t o s d e r e f e r ê n c i a e m

p e r s o n a g e n s , c o n c e i t o s , p a i s a g e n s , q u e

h á a l g u m a s p a l a v r a s s e q u e r e x i s t i a m .

O m o v i m e n t o i n i c i a l d o j o g o d e s e d u ç ã o

o n d e o l e i t o r s e d e i x a e n v o l v e r p e l o q u e

h á d e m a i s a l h e i o : o u n i v e r s o d o o u t r o ,

s e u g u i a e m e n t o r n u m a p e r e g r i n a ç ã o s e m

p r e v i s ã o d e o n d e s e r á o d e s t i n o f i n a l .

Page 6: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

6

1. D I E G O M O R A E S |11| E s t á T u d o A í

2. P L Í N I O C A M I L O |12| Í r i s

3. L A R I S S A M A R Q U E S |13| Fendida

4. A L E S A F R A |15| Um Copo de Pó

5 . A R T U R G O M E S |18| 2 4 d e M a i o

6. J O R G E L U C I O D E C A M P O S |19| A D e s p e d i d a

7. C O L U N A - D E N I S E R I B E I R O |21| Q u a l o m e l h o r

j e i t o d e c o m e ç a r ? N a t u r a l m e n t e , p e l o f i m .

8. P E D R O B A R B O S A |24| A p e s a r d e M i m

9. A S S I Z D E A N D R A D E |27| P e d á g i o

10. D I E G O M O R A E S |29| F r a s e s S u j a s

S U M Á R I O

Page 7: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

7

11. C O L U N A - D I O G O M E N D E S |30| O f e r i m e n t o

d o a n i m a l c h a m a d o i n t e r p r e t a ç ã o .

12. D O M I N I Q U E B E R F |33| I n q u i s i ç ã o

13. TASSO TELLES CÂNDIDO |36| A I m i t a d o r a d e G a t o

14. JORGE LÚCIO DE CAMPOS |39| A Aleg r ia de Viver

1 5 . A L E S A F R A | 4 1 | H o t e l B a r a t o

16 . F E L I P E R E Y R E Y |44| R e p o s t a l

17. L U X G O R |46| F i m d o s T e m p o s

18. G E R S O N M AC HA D O AV I L E Z |49| Síndrome Celestial

19. COLUNA - GABRIELA SANTOS |50| É poeta quem finge melhor

20. DIEGO MORAES |52| Nem quando tudo parecia perdido

Page 8: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

8

morte

Vida

POESIA

N o l a m p e j o d e i l u s ã o , n a o p a -

c i d a d e d o d e s e n c a n t o , n o r o m -

p e r d o n o v o d i a , n o d e l í r i o m a i s f u g a z , n a m a i s í n t i m a q u i m e r a ,

n a n e c e s s i d a d e d o f i m , a i n d a r e s i s t e a p o e s i a . E q u a n d o d a m o r t e

s e f a z o p ã o q u e a l i m e n t a a v i d a , é o n o m e d a l i t e r a t u r a q u e r e p e -

t i m o s e m s i l ê n c i o , f a z e n d o p r e e n c h e r o v a z i o d a s h o r a s d e t o r t u r a .

E m s e u p r i m e i r o n ú m e r o , a n o s s a r e v i s t a t r a z a o s l e i t o r e s o a v e s -

s o d a b o a v e n t u r a , u m m e r g u l h o n a s o l i d ã o e n o d e s a s s o s s e g o , i n s -

p i r a d o s p e l o s m a i s p r ó p r i o s e í n t i m o s m o t i v o s , q u e f a z e m o p o e t a

s e d e p a r a r c o m s e u s f a n t a s m a s

e c a r r e g a r d e i n q u i e t a ç ã o o s

s e u s e s c r i t o s . P a s s e a n d o d e s -

d e o d e s a m o r a t é a l o u c u r a , o s t e x t o s p u b l i c a d o s n e s t a e d i -

ç ã o o f e r e c e m u m r e t r a t o d o q u e g u a r d a a s o l i d ã o d e c a d a e s c r i t o r .

Q u a n d o c o m e c e i a r e c e b e r o s p r i m e i r o s c o n t o s e p o e s i a s p a r a a p u -

b l i c a ç ã o , o p r i m e i r o n ú m e r o a i n d a n ã o c a r r e g a v a u m t e m a e d i t o r i a l

d e f i n i d o , p o i s p r e f e r i q u e o s a u t o r e s t i v e s s e m l i b e r d a d e p a r a c r i a r e m

e e n v i a r e m p o r p u r a i n t u i ç ã o . P o r é m , c o n f o r m e o c o n t e ú d o a r t í s t i c o

e s t a v a s e n d o f e c h a d o , o t e m a s e c o s t u r o u n a t u r a l m e n t e , c o m o n u m

i n c o n s c i e n t e a u t o r a l c o l e t i v o , d e m a n e i r a q u e , a o c o n c l u i r o c o n t e -

ú d o a r t í s t i c o , a e d i ç ã o n ã o p o d e r i a s e r b a t i z a d a c o m o u t r o t í t u l o .

Rev

isão

: M

arin

a R

iden

te

Page 9: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

9

Viver

é um

Descuido

Prosseguido.

”Guimarães Rosa

Page 10: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

P L Ôh t t p : / / f a c e b o o k . c o m / P l o l i v v

Page 11: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

11

E s t á D I E G O M O R A E S

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / E s c r i t o r D i e g o M o r a e s

T u d o A íEstá tudo aí.

O rancor da manhã com o céu nublado,os pombos que se escondem no forro da Capela Sistina pintada pelo Michelangelo drogado do bairro.

Está tudo aí.As moedas para comprar fósforo e pão que o diabo amassa todos os dias e risca seu intestino com o café diário amargo da indiferença.

Está tudo aí.A puta que escreve mal e faz carinho no cão que morderá seu calcanhar.O lixo revirado na esquina perto da macumba com bastante farofa, velas vermelhas e fotografias 3x4.

Está tudo aí.Nas feridas coçando na fissura do teu corpo,no ódio dos palermas que verão mais uma queda, porque todos querem vê-lo fodido como uma cadela arrombada por um mendigo embaixo da marquise.

Está tudo aí.Neste feriado de Deus dormindo na rede da maldade humana.Neste poema cheio de pus que ninguém curtirá na internet.Na esperança do seu único sapato furado servindo de penico para cocô de ratos.

Está tudo aí.Na dor deste cigarro que traga como se caminhões tombassem na avenida da artéria coronária de um coração engordura-do bombeando desamores.Nos apertos de mão cheios de desdém nos bares ocultos da inveja alheia.

Está tudo aí.No travamento do rim das piores emoções.Na trombose da indiferença dos artistas mor-tos, vangloriados por bacanas em salões de vernissages.Nesta taça de vinho cheia de aroma de pesadelo e corrupção.

Está tudo aí.Mas você permanece cristão,prefere jogar todas as oportunidades fáceis que rastejam como serpentes no ralo da pia e escrever como se fosse um santo.

Está tudo aí.O domingo é um velho cego que lê solidões em braile.

Rev

isão

: L

aris

sa H

elen

a

Page 12: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

12

P LÍNIO CAMILLO

Í R I S

E le a pega com a mão em seu bolso. Agarra o pulso, faz um pequeno

passo de dança no ar e a puxa.

Tranqui la , obedece.

Não devia ter mais do que catorze. O esf regar da batata da perna o deixa in-

tumescido. E le sorr i . E la t reme.

— C hamará Íris ! ! G osta de a lc achofra, minha f lor?

Passeiam pelos casca lhos das ruas . Entram em uma lanchonete

— O de sempre, doutor? — o do ba lconista t raz um café de coador grande e

um prato de brócol is , a lho e óleo — E o que o broto quer?

— Ír is , exper imente as sementes de g irassol . É muito bom!

— Essa é para cr iar raízes , doutor?

— Ap enas outro b otão. . .

Andam atados . E le fa la de bonsai , fungos , pássaros e estrume.

Ela tenta fugir. E le a aper ta pelo punho.

— É p ara o meu jardim. — s e justi f ic a.

Chegando, mostra a estufa . E la vê as outras f lores . Na luz : a Acácia , Dál ia e

a Margar ida . No escuro: Magnól ia , Rosa e Camél ia .

Rendida.

Dias de acl imatação: Em uma tarde, e le rega . Em outra , aduba.

Em outra , rega e aduba. Em outra , aduba e rega .Descansa .

Recomeça: Outra tarde, rega . Em outra , aduba. Em outra , rega e aduba.

Em outra , aduba e rega . Cansa .

E e la não v inga.

E le poda.

Rev

isão

: L

aris

sa H

elen

a

h t t p s : / / c o n t o s b o m b o n s o r t i d o s . w o r d p r e s s . c o m

Page 13: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

13

L ARISSA MARQUES

FENDIDA

D e t u d o q u e a p a l av r a e s g a r ç a d a

p o d e r i a f o t o g r a f a r, j á d i s s e ,

e c o m t a nt a o n i p r e s e n ç a q u e s o a r i a

r e b e l d i a o u c a t a r s e ; m a s , c r e i a - m e ,

n ã o é .A r e t ó r i c a m e f a l t a ,

e a c o e s ã o m e c a i a o s j o e l h o s

c o m o c a l c i n h a v e l h a

s e m e l á s t i c o n a s p o nt a s .

E i s s o s o u e u .

O p e i t o p e n d i d o,

a s a n c a s m a i o r e s

e o f i n o p r i v i l é g i o

d e p o d e r f a l a r o q u e p e n s o

m a s j á n e m q u e r o.

Rev

isão

: C

arla

Fur

toso

l a r i s s a p i n @ h o t m a i l . c o m

Page 14: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

14KEMMY FUKITAh t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / n o f i l t r o

Page 15: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

15

A L E S A F R A

U M C O P O D E P Ó

E vito, há muito tempo, a morte deste eu. Não é uma vida ruim,

o que incomoda são as mentiras que não criamos.

Morrer é para poucos. Mesmo. Nascer é doloroso, mais que mor-

rer. Sinto mais comiseração por quem nasce do que por quem

morre. Ou do que renasce, para o que deixa de ser.

O meio, entre nascer e morrer, é uma nuvem fofa num céu incons-

tante e a lheio aos desejos. Eu deveria amar a mudança, mas me

apeguei a esta vida mais que imaginei. Ou, me convenci das mi-

nhas mentiras.

Quando volto para você, é uma mentira que nos conto. Vivemos

por convenção, mas já sacamos o engano. Tentamos tapar as racha-

duras, tentamos? Acho que já não escoro mais as paredes. O teto

semi despencado revela que as tempestades não tardam.

Rev

isão

: C

arla

Fur

toso

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / D e d o s N a o B r o c h a m

Page 16: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

16

É curioso como a terra não teme as inconstâncias do seu oposto,

pelo contrário, anseia passivo por essas monções, sem temer a se-

veridade, sabe reconhecer os dias bons ao seu constante deslum-

bramento. E espera o sol apaziguar a vida. E renovar. E renascer.

E transformar numa parceria constante o que vem de cima. O céu,

às vezes, deseja a terra e se l igam em momentos raros.

Sempre em cenários de tormentas.

“Nem tanto ao céu, nem tanto a terra.” Diz o cl ichê. E neste nosso

compasso sou o céu, você a terra. Meu coração está tempestade e

o seu, hábito. Espera. O meio termo entre nós é uma mentira an-

tológica.

Somos inocentes. O sol queima nossos cantos sombrosos e, se não

inundar e desabar, f icará estéri l e será pó.

Que escolhas temos?

Nenhuma, amor. Nenhuma.

Page 17: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem
Page 18: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

18

A R T U R G O M E S

24 D E M A I O

Desde aquela noite

ela nunca mais veio,

nem enviou e-mails,

como prometido.

E enfim quando te ver,

quero tê-la sem nenhum tecido,

o silêncio bem maior que a fala

seja música invadindo a sala

e um cais para ancorar navios.

Vou precisar de um vinho

para soltar a voz

- quando a parede entre nós

for só lençóis de linho.

E nesse instante aceso

com o poema em chamas

- meu amor lhe peço,

que a nossa cama

seja um mar bravio.

Com a mulher por perto

e a menina dentro,

pra mergulhar teu centro

como um desafio.

Rev

isão

: M

arin

a R

iden

te

h t t p : / / a r t u r - g o m e s . t u m b l r . c o m

Page 19: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

19

JORGE LÚCIO DE CAMPOS1.

Há fósseis que nenhuma causa explica. Um corpo redigido às pres-

sas e que não se mexe. Uma cicatriz na água, a meio caminho.

Amanhã não terei o que dizer. Pelo que ocorre, manterei a fleuma. Mor-

rerei nas calçadas de dezembro, entre uma xícara e outra. Uma corrente

elétrica me acalmará as unhas.

A DESPEDIDA 2.Não devo perder de vista a vida, mas é impossível segui-la, exatamen-

te. Quase sempre é assim: um alvoroço que não cessa, um túmulo que

lembra o que não vem à mente. Um rosto intenso que se expressa como

quem acena para a morte, se sombreia e perpetra.

3.Assim os anos passam e aplainam os borrões que assinam. Assim se vão

as árvores com suas franjas de instantes. Assim se calam a polifonia do

mar e o efeito furtivo com que a loucura circula os calendários.

Rev

isão

: M

arin

a R

iden

te

j o r g e l u c i o d e c a m p o s @ g m a i l . c o m

Page 20: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

P L Ôh t t p : / / f a c e b o o k . c o m / P l o l i v v

Page 21: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

C | O | L | U | N |A

D E N I S E R I B E I RO

Q u a l o m e l h o r j e i t o d e c o m e ç a r ? N a t u r a l m e n t e , p e l o f i m .

“ This i s the endBeautiful f r iend

This i s the endMy only f r iend, the end

Of our elaborate plans , the endOf ever y thing that stands , the end

No safety or sur pr i se , the end.”

“Este é o fim,Belo amigo.Este é o fim.Meu único amigo, o fim.De nossos planos elaborados, o fim.De tudo que está de pé, o fim.Sem segurança ou surpresa, o fim. “

O fim, por Jim, Jim Morrison, ser supremo do The Doors. Não o fim que a morte impõe, mas o fim

do que está estabelecido e que a liberdade derruba

para dar espaço à vida. Jim Morrison celebrava a

liberdade, não procurava a morte, mas ela encon-

trou-o tão cedo, tão cedo. Jim foi um dos primeiros

fundadores do Clube dos 27, ou os-roqueiros-que-

-morreram-aos-27-anos, deixando uma legião de fãs

abandonados mundo afora com a alma exposta. E foi

o fim dos nossos planos elaborados, sem esperança.

Jim bebeu o tema da morte e da liberdade na fonte

de sangue dos poetas simbolistas, para os quais

música, morte e poesia andavam intrinsecamen-

te ligadas, impossível dissociar. O Simbolis-

mo marcou o final do século XIX pela reação às

Rev

isão

: A

rian

e Si

lva

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / d e n i s e r i b e i r o b i j u

Page 22: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

22

ideias positivistas e materialistas vigentes,

com a valorização do mundo interior, da espi-

ritualidade, do misticismo e do sobrenatural.

E Jim não só bebeu, mas embriagou-se de Rimbaud,

poeta francês precoce e genial, que dos 15 aos

19 anos fez suas melhores poesias, acrescentan-

do a essa tríade (música-morte-poesia) o sexo.

Ele ostentava e oferecia seu corpo ao ritual

do rock n’roll. Em palco, ele era o rei lagar-

to que entrava num transe frenético com longos

improvisos, acompanhados pela paciente banda.

E é com esse paradoxo de celebração da liber-

-dade e imprevisibilidade da morte que esta-

mos aprendendo a conviver com a ausência de

Jim Morrison e dos sonhos daquela geração.

Page 23: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

#PRIMEIROCAPÍTULO

Dois

A i n i c i a l p e r s p e c t i v a d a n d o o i m -

p u l s o c h a v e p a r a u m m e r g u -

l h o s u b j e t i v o , p r ó p r i o , d e p r o f u n d i d a -

d e e a l c a n c e r e l a t i v o a c a d a i n d i v í d u o .

O p o n t o d e p a r t i d a p a r a a c a m i n h a d a

d e n t r o d e u m a d i m e n s ã o a d v e r s a , m o -

v e d i ç a , e s t r u t u r a d a p o r l e t r a s , d e e s -

p a ç o t r a n s i t ó r i o e t e m p o f r a g m e n t a -

d o , n a s c a m a d a s d a i n f i n i t a f i c ç ã o .

Rev

isão

: Mar

ina

Rid

ente

Page 24: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

24

P E D R O B A R B O S A

A P E -S A R

D E M I M

Abriguei o carrasco terrível e útil,Especialista em degolar avezinhas,

Versado em jarretar potros arredios.Ao calabouço todo espírito livre!

Alguns ginetesCavalgaram planícies sub-reptícias,Umas pombas Voaram penhascos inconcebíveis.

O espírito esqueceu-se de si.

Na torre das erasO verdugo está velho,O cepo é lenha,O machado sem fio.Cavalos e águias ignoramO enfraquecido algoz.

Tropéis rudes e toscos avançamSob revoadas de fazer sombraAos sons e cores que despejeiPela janela da torre.

Rev

isão

: Mar

ina

Rid

ente

p e d r o b a r b o s a . e s c r i t o r @ g m a i l . c o m

Page 25: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

25

Page 26: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

26

ASSIZ DE ANDRADE

P E D Á G I O

U ma hora para escrever. É tudo o que tenho.

Todos os dias .

Das quatro às c inco. E depois um choro, das se is às se is e quin-ze.

Embalada pelo pouco de cafe ína que concentra o meu expresso barato, tento prosseguir com uma prosa - carregada de um inút i l

drama-, editar um romance - que já nasceu platônico - e refazer poesias que não durarão uma semana antes de serem corrompi-das por um novo olhar.

Crônicas cot idianas : versões l i terár ias da v ida .

Todos os dias , em uma hora - exceto na folga , quando nada es-crevo porque não t raba lho. E para mim, a pena é a introdução do sacr i f íc io diár io. S e não há mart ír io, não há promessa - por-que não há inspiração onde meu ócio habita . E le é fe ito mulher f r íg ida , cr ít ica e invejosa , que passa os dias a c lass i f icar a v ida dos outros por incapacidade de construir uma própr ia . Nas da-tas l ivres eu apenas le io e a minha escr ita v ira uma rel ig ião sem

Rev

isão

: L

aris

sa H

elen

a

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / A s s i z D e A n d r a d e

Page 27: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

27

mistér io que, na fa lta de uma prát ica f i losof ia , se volta a con-denar o paganismo a lheio.

Não há poesia no meu descanso. Há apenas cansaço. A rebarba da v ida que precisa do meio para se estender. É o própr io meio, a pausa para ass imi lar as regras do mundo, diger i- las pelo áci-do das vontades e tomar o fôlego f ina l antes de render-se aos seus efe itos .

Vem então o mundo: oito horas de labuta para cada hora de quimera, uma relação injusta para um cá lculo f r io e de resul-tado per verso, mas incorrupt ível . As horas t raba lhadas são o pedágio que pago para seguir tendo a v ista da miragem que dá acesso ao caminho imaginado. Um breve mergulho na f icção antes da conquista do pão que faz o estômago parar de roncar.

A cada manhã, eu tenho de ir ao inferno em sessenta minutos , debater desventuras com o diabo e voltar para mais um dia de t raba lho escravo nas lavouras do comércio car ioca .

E a força da iniquidade faz jorrar a i lusão.

Todo dia . Uma hora .

E mais quinze minutos de choro. Quando dá.

Page 28: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

28

KEMMY FUKITAh t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / n o f i l t r o

Page 29: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

29

D I E G O M O R A E S

F R A -S E S S U J A S

Ontem encostei meu Chevette 86

Numa estrada Perto da rodovia

E fiquei alguns minutos com o pau na mão.

Triste não ter uma mulher

Para se escrever o nome

Com a própria urina na terra.

Triste não ter ninguém

Para abraçar ou dedicar uma canção

No videokê de um bar japonês que vende

Sushi na promoção.

Mas não me engano,

Meu peito

Como o de todos os poetas sozinhos no mundo

É um muro querendo ser pichado

Com frases sujas de amor.

Rev

isão

: A

rian

e Si

lva

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / E s c r i t o r D i e g o M o r a e s

Page 30: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

C | O | L | U | N |A

D i o g o M e n d e s

O f e r i m e n t o d o a n i m a l c h a m a d o i n t e r p r e t a ç ã o

O animal dentro da gente chamado interpre-tação requer cuidados. Durante o caminho

sendo elevados ou mesquinhos temos necessidade

de expressão. Procurar a interpretação no que

pouco foi dito e escrito. Nas infindas respi-

rações e vitais entrelinhas de uma fala e pa-

lavra. O espaço que pode ser vazio e frio ao

passo que é repleto e quente. Alcance que as

assistências expressivas não chegam, caso con-

sigam tornam-se o que dispõe de tato.

O animal dentro da gente chamado interpretação

requer cuidados. Fora do tato encontra enten-

dimento para que entenda. Entender, desenten-

dendo, o movimento da máquina interpretada que

jamais recua. Máquina vinda da mesma matéria

viva que respira e interpreta. Pelo seu olhar

dilatado aos fatos mais (in)lógicos - às vezes

tão entranhados na lógica que quase são inacre-

ditáveis.

h t t p : / / d i o g m e n d s . t u m b l r . c o m /

Page 31: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

31

O animal dentro da gente chamado interpretação

requer cuidados. Cuidados que se forem deixados

de lado interferem em seu desenvolvimento decli-

nado. Mimado, intransigente, descortês pede lei-

tura todo sol e lua, enquanto cresce e definha. O

crescimento definha e o definhamento cresce. Lei-

tura que vai além dos livros, das músicas, dos

quadros, dos reflexos – particulares e coletivos

– nos espelhos. Exigente, sobretudo, averigua as

lembranças de situações anteriores e suas várias

perspectivas.

O animal dentro da gente chamado interpretação

requer cuidados. Zona de conforto, não é seguran-

ça, pois impede seu aumento baseado no crescimen-

to e definhamento. Sabe que o conforto apresenta

distrações e caminhos tortuosos. Caminhos, afinal,

que antecipam a chegada do que não é nada. Furtivo

carece da sua atenção sobre as coisas mais próxi-

mas e menos importantes.

O animal dentro da gente chamado interpretação re-

quer cuidados. Pode ferir, ferindo, sua regenera-

ção ocorre rápida. A exigência do animal acolhido

em nós não irá desaparecer no máximo ficará longe

de destaque por algum tempo. Contudo, de repente,

percebendo a recuperação estará logo ali e sentirá

Page 32: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

32

sua constância. Algo que não sugere explica-

ções detalhadas, como o próprio ferimento tem

ideia. O corriqueiro não passa de uma visão em

comparação do que também é particular.

O animal dentro da gente chamado interpre-tação

requer cuidados. Sem joguetes o animal ferido

fará perguntas. As perguntas que tanto inco-

modam, mas inspiram. Com animália o animal vai

te esfolar os órgãos, mesmo que as insistên-

cias falhem. A propósito do fracasso, o animal

deslumbra e continuará a esfolar. O ferido é

perito em regenerarse e evita os caminhos tor-

tuosos, embora apareçam facilidades.

O animal dentro da gente chamado interpretação

requer cuidados. Facilidades não estimulam o

ferimento desse animal que te espreita, escon-

-dido, acanhado, vivo. Intimidades encobertas

por suas próprias interpretações, ainda que

firam as perguntas não diminuíram. A interpre-

tação animal com um filete de ilusão misturada

à positividade, ilusão positiva e positividade

iludida volta(rá) para o sem volta. Igual todo

animal ferido (ferimento) chamado interpreta-

ção.

Page 33: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

33

D O M I N I Q U E B E R F

INQUI

SIÇÃO

T r a p o s e n s a c a d o s

C o m o v i d a s m a l v i v i d a s .

A l e g o r i a s f i n g i d a s ,

A p l u m a d o s a b e r.

D o s n o s s o s f i l h o s , a m i g o s

C r i s t ã o s ,

S á b i o s d a s t o r t u r a s

Q u e p e r p e t u a t o d a a e s p é c i e

E m e x t i n ç ã o .

C o r p o s e n j a u l a d o s

Tr i s t e s , c o m o v i d o s ,

C o m i d o s p e l a s t r a p a s

D a i n q u i s i ç ã o .

To d a d o r v i g e n t e

E m c o m p o s t u r a s

E m v ã o .

Rev

isão

: A

rian

e Si

lva

h t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / d o n a m o c a p o e s i a s

Page 34: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

#PRIMEIROCAPÍTULO

Três

O p r i m e i r o c a p í t u l o é s e m p r e n o v o , s e j a p e l o

e s t i l o d o a u t o r , a o r i g i n a l i d a d e d a n a r r a t i -

v a o u p e l a f o r ç a d a e x p e c t a t i v a d o l e i t o r . E n o s s o

o b j e t i v o m a i o r a o p r o d u z i r e e d i t a r e s t a r e v i s t a é

e s t e n d e r a c a d a p á g i n a , a c a d a t í t u l o , a c a d a n ú -

m e r o , a n o v i d a d e q u e i n s p i r a u m m e r g u l h o n o p r i -

m e i r o c a p í t u l o . P e r s e g u i n d o s e m p r e a o r i g i n a l i d a d e

e o d e s c o n h e c i d o n a b u s c a p o r a u t o r e s , i l u s t r a d o -

r e s , t í t u l o s e e s t i l o s d e t r a b a l h o . B u s c a m o s p r o -

v o c a r e m n o s s o s l e i t o r e s a e x p e c t a t i v a p e l o t e x t o

s e g u i n t e , p e l a e d i ç ã o q u e v i r á , p e l a p r ó x i m a p u b l i -

c a ç ã o . E é e m n o m e d e s t a b u s c a q u e c o n v i d a m o s a

t o d o s o s l e i t o r e s a p a r t i c i p a r e m c o n o s c o , p o r m e i o

d e n o s s o s c a n a i s d e i n t e r a ç ã o , o f e r e c e n d o a s u a

c r í t c a a o n o s s o t r a b a l h o e n o s a j u d a n d o a a l c a n -

ç a r o c o n t e ú d o , o f o r m a t o e o e s t i l o d e p u b l i c a ç ã o

q u e m e l h o r r e f l e t e m a l i t e r a t u r a d o n o s s o t e m p o .

Page 35: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

35

Page 36: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

36

TASSO TELES CANDIDO

A IMITADORA D E G AT O S

O incômodo absurdo de uma sensatez de nunca me en-

contrar a legre o suf ic iente para o dia .

Quando acordo pela manhã eu não consigo me sent ir fe-

l iz , pr imeiro, vem o tédio da minha existência , depois vem

o desânimo por estar acordado. Em seguida vem a raiva .

É quando um processo de inspiração me arranha os pul-

mões . E a peça técnica da passagem dos meus dias ref le te o

f ler tar rot ineiro que tenho com minhas ideias . Um minuto

de discussão interna, para atear fogo no vulcão da minha

to pintar, de uma conjunção harmoniosa entre a loucura e

o gesto imaginár io de encarar a v ida . Enquanto a incômo-

da posição das luzes que ref le te dentro do meu quar to –

um conjugado onde cabe uma cozinha e um banheiro – faz

t ransparecer um conjunto desarmonioso que tento conver-

ter em traços de pincel .

imaginação e encerrar o

drama com golpes de pin-

celadas numa te la . Um re-

pouso discreto diante do

quadro que há meses ten-

Rev

isão

: C

arla

Fur

toso

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / E s c r i t o r T h i a g o F r a n c a

Page 37: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

37

Foi a forma que encontrei de inter fer ir nos próximos sem

precisar suportá- los . Nada tenho de emoção e minha c iv i l i -

dade é fe ito um fel ino acuado. Espantada, e la nunca faz ami-

zades .

Ouço as t rês bat idas na por ta do quar to. Do lado de fora ,

Cr ist iane, no seu desenrolar faceiro de menina entregue ao

r itmo caót ico, sorr i t r istemente para mim quando a obser vo

pelo olho mágico. Já dentro do quar to, passeia pelos cantos

na busca de tentar desvendar-me através dos deta lhes que

deixo escapar nas coisas que largo pelos cantos . Objetos da

minha culpada s ituação sol itár ia .

C omo em um r itua l todo encenado, e la veste seu olhar com

uma cur ios idade minuciosa e obser va atentamente cada ob-

jeto sobre a estante. O Cristo cruci f icado na parede a as-

susta , mas , de-pois , e la sorr i . C onta atentamente os l ivros

expostos , perde a conta a lgumas vezes e depois des iste . C om

as mãos apanha os folhetos de propagandas que ganho pelas

ruas – uma diversão que se a l imenta da minha raiva – bule

com as garrafas de bebidas , e cr it ica – em movimentos estra-

nhos com o rosto – os discos da minha coleção.

Page 38: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

38

Ainda passeando no a lto esca lão de sua conf iança, olha em

meus olhos e , de graça , – como quem sabe a beste ira que faz

– beija-me os lábios . C om sua mão dire ita escorrendo pelo

meu rosto, fecha os olhos e f ica em repouso por a lguns se-

gundos. Um grande s i lêncio enche-me os ouvidos e , a par t ir

disso, apenas s into os movimentos – tantas vezes inespera-

dos – que e la faz .

Caminha agora em direção à cozinha, senta-se em uma das

cadeiras e apanha o maço de c igarros que está em cima da

mesa , t i ra um, acende-o e , est icando ao fundo, dá sua pr i-

meira t ragada.

É quando posso sent ir sua inquietação. Surpreendida, Cr is-

t iane recai nos meus sonhos e com seus ruídos repousa em

minha imaginação. Levando o melhor que tenho consigo – a

imitadora de gato – diver t indo-se, br inca com as horas dis-

traídas que habitam em mim.

Page 39: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

39

JORGE LÚCIO DE CAMPOS

A A L E -G R I -

A D E V I -

V E R

Q uando muitoNão me cuido e acomodo.

Um branco martelado Me define.

Quando muitoNão sei ler nem escrever −Busco a vida em gestosDe expressar.

Quando muitoLanço-me no tempo −Minhas bordas ignoramMeu corpo.

Quando muitoSou linha intensaNo entalhe em queMe tento.

Rev

isão

: R

ejan

e M

arqu

es

j o r g e l u c i o d e c a m p o s @ g m a i l . c o m

Page 40: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

40

ANNA

BRA

NDÃO

fac

eb

oo

k.c

om

/an

na

pe

be

a

Page 41: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

41

A L E S A F R AH

OT

EL

BAR

ATO

Ela esperava a chuva passar no bar, mesmo com um café mais apru-mado bem ao lado. Não precisava ouvir dos homens rudes, de olha-

res lombriguentos, dando de si o melhor machismo de rebanho uns para os outros, aqueles remoques.

Mas ela não se importava. Observei-a até crescer uma vontade de cheirar as flores lilases do seu vestido preto. Convidei em gestos para a estranha

molhada para subir. Mas deveria? Ela era suspeita apesar das coxas grossas. Apesar do decote. Da cintura frágil. Dos olhos baleiros.

“Para viver a felicidade é preciso reconhecer o momento, depois é saudade e culpa.”

Fantasma me incentivando roubar da vida.

Não corri do flagrante quando ela me percebeu. Cabelos longos. Fartos de uma existência que aparentava trinta e

poucos anos. Castanho ficou meu desejo. olhar descascado, sem brin-cos. Três anéis. Pulseira no tornozelo. Sem bote na fala, sem rodeios nas ideias, sem fé para correr. Ela apenas esperava algo. E seria óbvio demais dizer que era a chuva passar.

E fácil demais ela aceitou subir. Parecia esperar a oportunidade.

Rev

isão

: A

rian

e Si

lva

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / D e d o s N a o B r o c h a m

Page 42: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

42

Do alto do terceiro andar daquele hotel xexelento ofereci uma graça, ela aceitou. Era uma tarde modorrenta com chuva de verão e cheiro de mijo.

O centro de são paulo tem ofertas. Eu tenho necessidades. todos parecem acomodados nessa lógica e se posicionam, as vezes consciente outras não. A janela ficou aberta e a chuva, quando muita, entrava suicida.

Liguei para a recepção e autorizei a subida da mosca. Olhei no espelho e o silêncio interno deixa fluir o que nasci pra ser. A campainha, ela entra e seu perfume de catálogo de revista só faz minha libido aumentar.

Ofereço água, mas ela olha para a cerveja. Ofereço toalha e ela se tranca por quatro minutos no banheiro. Deu tempo para olhar sua bolsa. Uma carteira com doze reais, sem documentos e dois cartões de crédito com nome chinês, um canivete suíço, camisinhas, bolsinha com batom e ou-tros trecos, outra bolsinha com objetos que não tive tempo para ver. E um livro. Um livro interessante. Um livro que se tornou um elogio. Uma boa indicação de um amigo.

Uma ladra talvez, conclui ao ouvir o trinco da porta do banheiro.Ela sai com os cabelos presos. Ofereço o melhor lugar do quarto: de fren-te para o ventilador. E a cerveja. E um cigarro. E meu corpo.

Ela não é prostituta. Não esta a procura de quem dê alguma coisa. Fala bem. Tem ideias oriundas de reflexão que partiram da pele. Tudo encan-tador. Vinte e oito anos, sotaque de paulistana da mooca. E aquela minha sensação estranha de que o externo não matrimoniava com o interno. Quem era aquela mulher que tentava ser invisível?

Page 43: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

43

Ela quis saber de onde eu era, menti. Quis saber meu nome, menti. E minha profissão. Também menti. Queria saber muito, soube tudo, afi--nal, que importava dizer a verdade ou não? Tanto faz, pensei. E de um ser invisível para outro, o que realmente importava aconteceu, conexões. Ela adorava falar e as mais inconfessáveis situações de vida brotaram sem nomes e lugares de nossas bocas entre um beijo & mordidas. Entre tapas e palavrões. Entre cigarros & cervejas. Entre bucetas sem expectativas. Sem espera compartilhamos histórias.

Estelionatária. Me confessou depois do sexo, do cigarro e das cervejas. Esteve presa por uns anos. Seu filho que na época tinha dois anos mor-reu enquanto ela estava no presídio. Contou sem dramas, sem derramar uma lágrima. Sem ficar com os olhos no teto. Rio ao dizer que acabou de concluir ciências contábeis e que o mundo das finanças estava menos seguro e que essa era a proposta. E achei ótimo. E incentivei. Uma mu-lher bonita, inteligente e mal intencionada Foder com o sistema era pra brindar. Brindamos.

Foi sexo. Foi humano. Foi brisa. Roubamos o melhor uma da outra. E fomos boas nisso.

Não era uma mosca, era uma raposa castanha. Depois que saiu do quarto, ela subiu maliciosa as escadas. Arrumei minhas coisas, check out e trinta minutos depois estava em casa. Não soube mais daquela estelionatária que me usou para entrar no hotel e nos apaixonamos por cinco horas. Espero que esteja bem. conto essa história agora, neste outro quarto no-jento do centro, onde mais uma foi embora sem valer um conto.

Page 44: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

44

F E L I P E R E Y R E Y

R E P O S T A L

E u quero mermo que me uzi.Quero que me uzi.

Tiro de letra,com a direita e a esquerda.Nada sob suspeita.

Porto armasde amores,baleando boloresno cemitério do meu coração.

Enterro sempre uma solidão por dia sem caixão,a sete palmos do chão.

E ainda jogo buquês de f lores.

Rev

isão

: R

ejan

e M

arqu

es

h t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / F e l i p e R R R e y

Page 45: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

45

Page 46: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

46

L U X G O RFim Dos Tempos

Um novo dia surge ao horizonte, fatidicamente uma nuvem densa e escura paira nas ruas da cidadela acinzentada.

Vejo esta nuvem como prelúdio de uma tragédia. Morre a alma dos seres humanos, morre a poesia de viver.

De um modo soturno, vislumbrei o futuro sorumbático que o ho-rizonte predizia. O ar estava viscoso e denso; sussurrava aos ouvi-dos mais atentos:

- Eis o fim. É a harmonia mortuária, vistam suas mortalhas!

As almas perdidas gargalhavam em uníssono... Um som de mau agouro. Um arrepio percorria meu corpo, sensações desconexas de medo intenso.

A cidadela toma um tom mais escuro, nuvens mais densas procla-mavam a morde do sol, as janelas que outrora revelavam vidas ou sobrevidas, se encontram tomadas por sombras.

Rev

isão

: A

rian

e Si

lva

Page 47: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

47

Ao longe os cavaleiros do apocalipse firmam rumo em direção à cidadela, em seu caminho um rastro de desolação... Cheiros pú-tridos, devastação. O horror alastra-se como vírus. Tomados pelo desespero, os sobreviventes correm à procura de um local para se abrigar.

A morte é diferente, todavia... Morre a capacidade de pensar, mor-re a criatividade.

Aglomerados frente ao cubo mágico trazido das profundezas do inferno, aglutinado ao séquito malevolente que, determinados, conseguiram a extinção (em partes) do ser pensante.

Lastimam sob lágrimas copiosas o pouco do divino que sobrevive no homem.

Sob o manto negro do luto, jaz o cérebro humano, a arte de criar vida através das palavras. Extingue-se a centelha divina.

Após o apocalipse intelectual, surge ao horizonte um novo dia, sob o prisma da nova realidade.

Obliterados, dominados pelos novos deuses da mente, caçam-se os pensadores, assassinando por conivência imoral.

Eis o fim dos tempos!

Page 48: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

48KEMMY FUKITA

h t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / n o f i l t r o

Page 49: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

49

G E R S O N A V I L L E Z

S Í N D R O M EC E L E S T I A L

A-deus Holoceno

No céu, Lua Vermelha,

na Terra, chuva de pedra.

Lua ferida, casula da Terra,

eclipse não mais haverá.

Acabaram todas as guerras.

Acabaram as diferenças

Acabaram todas as coisas: boas e más.

Em quatro cantos, quatro cavalheiros

Em quatro elementos: Caos!

Em solo, fogo.

Em águas, tsunamis.

No céu, fumaça.

E no coração dos seres humanos,

o desespero de saber

que agora somos nós

quem estamos em extinção.

Nostradamus é culpado!

Apocon mistificado,

Deus fortificado?

A quem interessam as dúvidas

quando se alcança o ponto final?

Os dias viram noites e as noites dia.

Os peixes não mais nadam, os pássaros não

mais voam.

Caos, é uma ordem!

Saraiva é sereno,

trovão, um espirro.

Deus esbraveja com os povos da Terra.

O homem não tem mais o que dominar

Rev

isão

: Mar

ina

Rid

ente

h t t p : / / g e r s o n a v i l l e z . j i m d o . c o m

Page 50: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

GABRIELA SANTOS

É p o e t a q u e m f i n g e m e l h o r

Ainda na artificialização global contemporâ-

-nea, existe poesia. Em meio às novas casas

de pedra e à velocidade que rege o mundo, há

poesia. Porque para existir, basta ilusão e uma

visão individualista do mundo, tal como fazem

os malditos, os marginais literários contempo-

râneos... os poetas.

Sempre haverá algo inatingível e incompreensível

aos olhos do autor; haverá solidão, incompre-

ensão, menos boaventura. O poeta será sempre um

desgraçado, por ouvir o coração e esperar pela

noiva temida, e aquele vazio, que faz o leitor

olhar para dentro de si, a cada verso – “[...]

E os que leem o que escreve... Na dor lida sen-

tem bem... Não as duas que ele teve... Mas só a

que eles não têm [...]”, como há tempos já sabia

Pessoa. Portanto, é tudo fingimento.

C | O | L | U | N |A

g a b b i e . r e d a c a o @ g m a i l . c o m

Page 51: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo

51

Assim como nasce o dia e chega a morte, nascem

novos recônditos de ilusão, sofrimento, pseudo-

dor (portanto dor) e literatura. Nascem novos

malditos, novos pensadores e apenas a carne mor-

re. A alma do poeta fica tatuada na poesia, que

mesmo que esquecida, em algum momento, será des-

coberta e eternizada com os mesmos propósitos:

atingir a capacidade de sentir verdadeiramente a

solidão que nem sequer existe e traduzila à tin-

ta, revelando-a à vida como é: ilusão.

Será o sofrimento do poeta maior que o de ou-

trem? Ou ele é um fraco, que precisa dizer que

está doendo para que o percebam?

Como soa o ditado, “enquanto uns choram, outros

vendem lenços”. Da mesma forma, o poeta desvela

o mal do homem e o da humanidade e chama isso de

arte, ou sei lá, de bode, de solidão e vazio no

peito. Nada de... fazer a fila andar. É neces-

sário cultivar a dor, curtir a fossa, para man-

ter viva a poesia.

Page 52: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

52

D I E G O M O R A E S

Nem quando tudo p a r e c i a p e r d i d o

Nem quando tudo parecia perdido...

Meus olhos amanhecidos

num bar da rodoviária

tocando Wando.

Nem quando tudo parecia perdido...

A polícia dando sinais de alerta,

repassando minhas características

na rádio patrulha.

Nem quando tudo parecia perdido...

Meu peito na chuva chiando pneumonia.

Nem quando tudo parecia perdido

deixei de pensar no teu sorriso.

Nem quando tudo parecia perdido

deixei de escrever poemas

em espelhos de motéis fuleiros.

Nem quando tudo parecia perdido

deixei de dizer para putas de rua

que meu coração

tem sangrado teu nome.

Rev

isão

: C

arla

Fur

toso

h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / E s c r i t o r D i e g o M o r a e s

Page 53: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

53

P L Ôh t t p : / / f a c e b o o k . c o m / P l o l i v v

Page 54: Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição - primeirocapitulo.com.brprimeirocapitulo.com.br/onewebmedia/RPC1 - morte Vida POESIA - 2ª... · definido, pois preferi que os autores tivessem

PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital

http://PrimeiroCapitulo.com.br

54