Ano 1, N0 1, Mar.2017 | 2ª Edição -...
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PRIMEIRO | CAPITULO REVISTA LITERÁRIA DIGITAL
morte
Vida
POESIA
Ano 1, N 0 1 , Mar.2017 | 2 ª Edição
CONTATO:
Fb.com/RevistaPr imeiroCapitu lo
P r i m e i r o C a p i t u l o . c o m . b r
PRIMEIRO CAPÍTULO | Revista Literária Digital
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EQUIPE EDITORIAL
Edição Geral: Rejane Marques | [email protected]
Edição de Arte | Diagramação:ILustrarma | [email protected]
Revisão de textos:Ariane Si lva | [email protected]
Portfólio: http://arsilvasoares.wix.com/revisao-de-textos
C arla Fur tos o | [email protected]
L arissa Helena | [email protected]
Portfólio: https://larishelenarm.wordpress.com
Marina R idente | [email protected]
Colunistas (na ocasião da 1ª edição):Denise Ribeiro | [email protected]
Gabr iela Santos | [email protected]
Diogo Mendes | [email protected]
morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo
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#PRIMEIROCAPÍTULO
U m
Rev
isão
: Mar
ina
Rid
ente
O s u s p i r o q u e a b r e a s v i a s d o l e i -
t o r d e n t r o d e u m a n o v a h i s t ó r i a .
A o b s e r v a ç ã o c u r i o s a d o n o v o h a b i t a n -
t e , b u s c a n d o p o n t o s d e r e f e r ê n c i a e m
p e r s o n a g e n s , c o n c e i t o s , p a i s a g e n s , q u e
h á a l g u m a s p a l a v r a s s e q u e r e x i s t i a m .
O m o v i m e n t o i n i c i a l d o j o g o d e s e d u ç ã o
o n d e o l e i t o r s e d e i x a e n v o l v e r p e l o q u e
h á d e m a i s a l h e i o : o u n i v e r s o d o o u t r o ,
s e u g u i a e m e n t o r n u m a p e r e g r i n a ç ã o s e m
p r e v i s ã o d e o n d e s e r á o d e s t i n o f i n a l .
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1. D I E G O M O R A E S |11| E s t á T u d o A í
2. P L Í N I O C A M I L O |12| Í r i s
3. L A R I S S A M A R Q U E S |13| Fendida
4. A L E S A F R A |15| Um Copo de Pó
5 . A R T U R G O M E S |18| 2 4 d e M a i o
6. J O R G E L U C I O D E C A M P O S |19| A D e s p e d i d a
7. C O L U N A - D E N I S E R I B E I R O |21| Q u a l o m e l h o r
j e i t o d e c o m e ç a r ? N a t u r a l m e n t e , p e l o f i m .
8. P E D R O B A R B O S A |24| A p e s a r d e M i m
9. A S S I Z D E A N D R A D E |27| P e d á g i o
10. D I E G O M O R A E S |29| F r a s e s S u j a s
S U M Á R I O
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11. C O L U N A - D I O G O M E N D E S |30| O f e r i m e n t o
d o a n i m a l c h a m a d o i n t e r p r e t a ç ã o .
12. D O M I N I Q U E B E R F |33| I n q u i s i ç ã o
13. TASSO TELLES CÂNDIDO |36| A I m i t a d o r a d e G a t o
14. JORGE LÚCIO DE CAMPOS |39| A Aleg r ia de Viver
1 5 . A L E S A F R A | 4 1 | H o t e l B a r a t o
16 . F E L I P E R E Y R E Y |44| R e p o s t a l
17. L U X G O R |46| F i m d o s T e m p o s
18. G E R S O N M AC HA D O AV I L E Z |49| Síndrome Celestial
19. COLUNA - GABRIELA SANTOS |50| É poeta quem finge melhor
20. DIEGO MORAES |52| Nem quando tudo parecia perdido
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morte
Vida
POESIA
N o l a m p e j o d e i l u s ã o , n a o p a -
c i d a d e d o d e s e n c a n t o , n o r o m -
p e r d o n o v o d i a , n o d e l í r i o m a i s f u g a z , n a m a i s í n t i m a q u i m e r a ,
n a n e c e s s i d a d e d o f i m , a i n d a r e s i s t e a p o e s i a . E q u a n d o d a m o r t e
s e f a z o p ã o q u e a l i m e n t a a v i d a , é o n o m e d a l i t e r a t u r a q u e r e p e -
t i m o s e m s i l ê n c i o , f a z e n d o p r e e n c h e r o v a z i o d a s h o r a s d e t o r t u r a .
E m s e u p r i m e i r o n ú m e r o , a n o s s a r e v i s t a t r a z a o s l e i t o r e s o a v e s -
s o d a b o a v e n t u r a , u m m e r g u l h o n a s o l i d ã o e n o d e s a s s o s s e g o , i n s -
p i r a d o s p e l o s m a i s p r ó p r i o s e í n t i m o s m o t i v o s , q u e f a z e m o p o e t a
s e d e p a r a r c o m s e u s f a n t a s m a s
e c a r r e g a r d e i n q u i e t a ç ã o o s
s e u s e s c r i t o s . P a s s e a n d o d e s -
d e o d e s a m o r a t é a l o u c u r a , o s t e x t o s p u b l i c a d o s n e s t a e d i -
ç ã o o f e r e c e m u m r e t r a t o d o q u e g u a r d a a s o l i d ã o d e c a d a e s c r i t o r .
Q u a n d o c o m e c e i a r e c e b e r o s p r i m e i r o s c o n t o s e p o e s i a s p a r a a p u -
b l i c a ç ã o , o p r i m e i r o n ú m e r o a i n d a n ã o c a r r e g a v a u m t e m a e d i t o r i a l
d e f i n i d o , p o i s p r e f e r i q u e o s a u t o r e s t i v e s s e m l i b e r d a d e p a r a c r i a r e m
e e n v i a r e m p o r p u r a i n t u i ç ã o . P o r é m , c o n f o r m e o c o n t e ú d o a r t í s t i c o
e s t a v a s e n d o f e c h a d o , o t e m a s e c o s t u r o u n a t u r a l m e n t e , c o m o n u m
i n c o n s c i e n t e a u t o r a l c o l e t i v o , d e m a n e i r a q u e , a o c o n c l u i r o c o n t e -
ú d o a r t í s t i c o , a e d i ç ã o n ã o p o d e r i a s e r b a t i z a d a c o m o u t r o t í t u l o .
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Viver
é um
Descuido
Prosseguido.
“
”Guimarães Rosa
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E s t á D I E G O M O R A E S
h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / E s c r i t o r D i e g o M o r a e s
T u d o A íEstá tudo aí.
O rancor da manhã com o céu nublado,os pombos que se escondem no forro da Capela Sistina pintada pelo Michelangelo drogado do bairro.
Está tudo aí.As moedas para comprar fósforo e pão que o diabo amassa todos os dias e risca seu intestino com o café diário amargo da indiferença.
Está tudo aí.A puta que escreve mal e faz carinho no cão que morderá seu calcanhar.O lixo revirado na esquina perto da macumba com bastante farofa, velas vermelhas e fotografias 3x4.
Está tudo aí.Nas feridas coçando na fissura do teu corpo,no ódio dos palermas que verão mais uma queda, porque todos querem vê-lo fodido como uma cadela arrombada por um mendigo embaixo da marquise.
Está tudo aí.Neste feriado de Deus dormindo na rede da maldade humana.Neste poema cheio de pus que ninguém curtirá na internet.Na esperança do seu único sapato furado servindo de penico para cocô de ratos.
Está tudo aí.Na dor deste cigarro que traga como se caminhões tombassem na avenida da artéria coronária de um coração engordura-do bombeando desamores.Nos apertos de mão cheios de desdém nos bares ocultos da inveja alheia.
Está tudo aí.No travamento do rim das piores emoções.Na trombose da indiferença dos artistas mor-tos, vangloriados por bacanas em salões de vernissages.Nesta taça de vinho cheia de aroma de pesadelo e corrupção.
Está tudo aí.Mas você permanece cristão,prefere jogar todas as oportunidades fáceis que rastejam como serpentes no ralo da pia e escrever como se fosse um santo.
Está tudo aí.O domingo é um velho cego que lê solidões em braile.
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P LÍNIO CAMILLO
Í R I S
E le a pega com a mão em seu bolso. Agarra o pulso, faz um pequeno
passo de dança no ar e a puxa.
Tranqui la , obedece.
Não devia ter mais do que catorze. O esf regar da batata da perna o deixa in-
tumescido. E le sorr i . E la t reme.
— C hamará Íris ! ! G osta de a lc achofra, minha f lor?
Passeiam pelos casca lhos das ruas . Entram em uma lanchonete
— O de sempre, doutor? — o do ba lconista t raz um café de coador grande e
um prato de brócol is , a lho e óleo — E o que o broto quer?
— Ír is , exper imente as sementes de g irassol . É muito bom!
— Essa é para cr iar raízes , doutor?
— Ap enas outro b otão. . .
Andam atados . E le fa la de bonsai , fungos , pássaros e estrume.
Ela tenta fugir. E le a aper ta pelo punho.
— É p ara o meu jardim. — s e justi f ic a.
Chegando, mostra a estufa . E la vê as outras f lores . Na luz : a Acácia , Dál ia e
a Margar ida . No escuro: Magnól ia , Rosa e Camél ia .
Rendida.
Dias de acl imatação: Em uma tarde, e le rega . Em outra , aduba.
Em outra , rega e aduba. Em outra , aduba e rega .Descansa .
Recomeça: Outra tarde, rega . Em outra , aduba. Em outra , rega e aduba.
Em outra , aduba e rega . Cansa .
E e la não v inga.
E le poda.
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L ARISSA MARQUES
FENDIDA
D e t u d o q u e a p a l av r a e s g a r ç a d a
p o d e r i a f o t o g r a f a r, j á d i s s e ,
e c o m t a nt a o n i p r e s e n ç a q u e s o a r i a
r e b e l d i a o u c a t a r s e ; m a s , c r e i a - m e ,
n ã o é .A r e t ó r i c a m e f a l t a ,
e a c o e s ã o m e c a i a o s j o e l h o s
c o m o c a l c i n h a v e l h a
s e m e l á s t i c o n a s p o nt a s .
E i s s o s o u e u .
O p e i t o p e n d i d o,
a s a n c a s m a i o r e s
e o f i n o p r i v i l é g i o
d e p o d e r f a l a r o q u e p e n s o
m a s j á n e m q u e r o.
Rev
isão
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arla
Fur
toso
l a r i s s a p i n @ h o t m a i l . c o m
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14KEMMY FUKITAh t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / n o f i l t r o
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A L E S A F R A
U M C O P O D E P Ó
E vito, há muito tempo, a morte deste eu. Não é uma vida ruim,
o que incomoda são as mentiras que não criamos.
Morrer é para poucos. Mesmo. Nascer é doloroso, mais que mor-
rer. Sinto mais comiseração por quem nasce do que por quem
morre. Ou do que renasce, para o que deixa de ser.
O meio, entre nascer e morrer, é uma nuvem fofa num céu incons-
tante e a lheio aos desejos. Eu deveria amar a mudança, mas me
apeguei a esta vida mais que imaginei. Ou, me convenci das mi-
nhas mentiras.
Quando volto para você, é uma mentira que nos conto. Vivemos
por convenção, mas já sacamos o engano. Tentamos tapar as racha-
duras, tentamos? Acho que já não escoro mais as paredes. O teto
semi despencado revela que as tempestades não tardam.
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arla
Fur
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É curioso como a terra não teme as inconstâncias do seu oposto,
pelo contrário, anseia passivo por essas monções, sem temer a se-
veridade, sabe reconhecer os dias bons ao seu constante deslum-
bramento. E espera o sol apaziguar a vida. E renovar. E renascer.
E transformar numa parceria constante o que vem de cima. O céu,
às vezes, deseja a terra e se l igam em momentos raros.
Sempre em cenários de tormentas.
“Nem tanto ao céu, nem tanto a terra.” Diz o cl ichê. E neste nosso
compasso sou o céu, você a terra. Meu coração está tempestade e
o seu, hábito. Espera. O meio termo entre nós é uma mentira an-
tológica.
Somos inocentes. O sol queima nossos cantos sombrosos e, se não
inundar e desabar, f icará estéri l e será pó.
Que escolhas temos?
Nenhuma, amor. Nenhuma.
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A R T U R G O M E S
24 D E M A I O
Desde aquela noite
ela nunca mais veio,
nem enviou e-mails,
como prometido.
E enfim quando te ver,
quero tê-la sem nenhum tecido,
o silêncio bem maior que a fala
seja música invadindo a sala
e um cais para ancorar navios.
Vou precisar de um vinho
para soltar a voz
- quando a parede entre nós
for só lençóis de linho.
E nesse instante aceso
com o poema em chamas
- meu amor lhe peço,
que a nossa cama
seja um mar bravio.
Com a mulher por perto
e a menina dentro,
pra mergulhar teu centro
como um desafio.
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a R
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te
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JORGE LÚCIO DE CAMPOS1.
Há fósseis que nenhuma causa explica. Um corpo redigido às pres-
sas e que não se mexe. Uma cicatriz na água, a meio caminho.
Amanhã não terei o que dizer. Pelo que ocorre, manterei a fleuma. Mor-
rerei nas calçadas de dezembro, entre uma xícara e outra. Uma corrente
elétrica me acalmará as unhas.
A DESPEDIDA 2.Não devo perder de vista a vida, mas é impossível segui-la, exatamen-
te. Quase sempre é assim: um alvoroço que não cessa, um túmulo que
lembra o que não vem à mente. Um rosto intenso que se expressa como
quem acena para a morte, se sombreia e perpetra.
3.Assim os anos passam e aplainam os borrões que assinam. Assim se vão
as árvores com suas franjas de instantes. Assim se calam a polifonia do
mar e o efeito furtivo com que a loucura circula os calendários.
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a R
iden
te
j o r g e l u c i o d e c a m p o s @ g m a i l . c o m
P L Ôh t t p : / / f a c e b o o k . c o m / P l o l i v v
C | O | L | U | N |A
D E N I S E R I B E I RO
Q u a l o m e l h o r j e i t o d e c o m e ç a r ? N a t u r a l m e n t e , p e l o f i m .
“ This i s the endBeautiful f r iend
This i s the endMy only f r iend, the end
Of our elaborate plans , the endOf ever y thing that stands , the end
No safety or sur pr i se , the end.”
“Este é o fim,Belo amigo.Este é o fim.Meu único amigo, o fim.De nossos planos elaborados, o fim.De tudo que está de pé, o fim.Sem segurança ou surpresa, o fim. “
O fim, por Jim, Jim Morrison, ser supremo do The Doors. Não o fim que a morte impõe, mas o fim
do que está estabelecido e que a liberdade derruba
para dar espaço à vida. Jim Morrison celebrava a
liberdade, não procurava a morte, mas ela encon-
trou-o tão cedo, tão cedo. Jim foi um dos primeiros
fundadores do Clube dos 27, ou os-roqueiros-que-
-morreram-aos-27-anos, deixando uma legião de fãs
abandonados mundo afora com a alma exposta. E foi
o fim dos nossos planos elaborados, sem esperança.
Jim bebeu o tema da morte e da liberdade na fonte
de sangue dos poetas simbolistas, para os quais
música, morte e poesia andavam intrinsecamen-
te ligadas, impossível dissociar. O Simbolis-
mo marcou o final do século XIX pela reação às
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e Si
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ideias positivistas e materialistas vigentes,
com a valorização do mundo interior, da espi-
ritualidade, do misticismo e do sobrenatural.
E Jim não só bebeu, mas embriagou-se de Rimbaud,
poeta francês precoce e genial, que dos 15 aos
19 anos fez suas melhores poesias, acrescentan-
do a essa tríade (música-morte-poesia) o sexo.
Ele ostentava e oferecia seu corpo ao ritual
do rock n’roll. Em palco, ele era o rei lagar-
to que entrava num transe frenético com longos
improvisos, acompanhados pela paciente banda.
E é com esse paradoxo de celebração da liber-
-dade e imprevisibilidade da morte que esta-
mos aprendendo a conviver com a ausência de
Jim Morrison e dos sonhos daquela geração.
#PRIMEIROCAPÍTULO
Dois
A i n i c i a l p e r s p e c t i v a d a n d o o i m -
p u l s o c h a v e p a r a u m m e r g u -
l h o s u b j e t i v o , p r ó p r i o , d e p r o f u n d i d a -
d e e a l c a n c e r e l a t i v o a c a d a i n d i v í d u o .
O p o n t o d e p a r t i d a p a r a a c a m i n h a d a
d e n t r o d e u m a d i m e n s ã o a d v e r s a , m o -
v e d i ç a , e s t r u t u r a d a p o r l e t r a s , d e e s -
p a ç o t r a n s i t ó r i o e t e m p o f r a g m e n t a -
d o , n a s c a m a d a s d a i n f i n i t a f i c ç ã o .
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P E D R O B A R B O S A
A P E -S A R
D E M I M
Abriguei o carrasco terrível e útil,Especialista em degolar avezinhas,
Versado em jarretar potros arredios.Ao calabouço todo espírito livre!
Alguns ginetesCavalgaram planícies sub-reptícias,Umas pombas Voaram penhascos inconcebíveis.
O espírito esqueceu-se de si.
Na torre das erasO verdugo está velho,O cepo é lenha,O machado sem fio.Cavalos e águias ignoramO enfraquecido algoz.
Tropéis rudes e toscos avançamSob revoadas de fazer sombraAos sons e cores que despejeiPela janela da torre.
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isão
: Mar
ina
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ASSIZ DE ANDRADE
P E D Á G I O
U ma hora para escrever. É tudo o que tenho.
Todos os dias .
Das quatro às c inco. E depois um choro, das se is às se is e quin-ze.
Embalada pelo pouco de cafe ína que concentra o meu expresso barato, tento prosseguir com uma prosa - carregada de um inút i l
drama-, editar um romance - que já nasceu platônico - e refazer poesias que não durarão uma semana antes de serem corrompi-das por um novo olhar.
Crônicas cot idianas : versões l i terár ias da v ida .
Todos os dias , em uma hora - exceto na folga , quando nada es-crevo porque não t raba lho. E para mim, a pena é a introdução do sacr i f íc io diár io. S e não há mart ír io, não há promessa - por-que não há inspiração onde meu ócio habita . E le é fe ito mulher f r íg ida , cr ít ica e invejosa , que passa os dias a c lass i f icar a v ida dos outros por incapacidade de construir uma própr ia . Nas da-tas l ivres eu apenas le io e a minha escr ita v ira uma rel ig ião sem
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mistér io que, na fa lta de uma prát ica f i losof ia , se volta a con-denar o paganismo a lheio.
Não há poesia no meu descanso. Há apenas cansaço. A rebarba da v ida que precisa do meio para se estender. É o própr io meio, a pausa para ass imi lar as regras do mundo, diger i- las pelo áci-do das vontades e tomar o fôlego f ina l antes de render-se aos seus efe itos .
Vem então o mundo: oito horas de labuta para cada hora de quimera, uma relação injusta para um cá lculo f r io e de resul-tado per verso, mas incorrupt ível . As horas t raba lhadas são o pedágio que pago para seguir tendo a v ista da miragem que dá acesso ao caminho imaginado. Um breve mergulho na f icção antes da conquista do pão que faz o estômago parar de roncar.
A cada manhã, eu tenho de ir ao inferno em sessenta minutos , debater desventuras com o diabo e voltar para mais um dia de t raba lho escravo nas lavouras do comércio car ioca .
E a força da iniquidade faz jorrar a i lusão.
Todo dia . Uma hora .
E mais quinze minutos de choro. Quando dá.
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KEMMY FUKITAh t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / n o f i l t r o
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D I E G O M O R A E S
F R A -S E S S U J A S
Ontem encostei meu Chevette 86
Numa estrada Perto da rodovia
E fiquei alguns minutos com o pau na mão.
Triste não ter uma mulher
Para se escrever o nome
Com a própria urina na terra.
Triste não ter ninguém
Para abraçar ou dedicar uma canção
No videokê de um bar japonês que vende
Sushi na promoção.
Mas não me engano,
Meu peito
Como o de todos os poetas sozinhos no mundo
É um muro querendo ser pichado
Com frases sujas de amor.
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isão
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lva
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C | O | L | U | N |A
D i o g o M e n d e s
O f e r i m e n t o d o a n i m a l c h a m a d o i n t e r p r e t a ç ã o
O animal dentro da gente chamado interpre-tação requer cuidados. Durante o caminho
sendo elevados ou mesquinhos temos necessidade
de expressão. Procurar a interpretação no que
pouco foi dito e escrito. Nas infindas respi-
rações e vitais entrelinhas de uma fala e pa-
lavra. O espaço que pode ser vazio e frio ao
passo que é repleto e quente. Alcance que as
assistências expressivas não chegam, caso con-
sigam tornam-se o que dispõe de tato.
O animal dentro da gente chamado interpretação
requer cuidados. Fora do tato encontra enten-
dimento para que entenda. Entender, desenten-
dendo, o movimento da máquina interpretada que
jamais recua. Máquina vinda da mesma matéria
viva que respira e interpreta. Pelo seu olhar
dilatado aos fatos mais (in)lógicos - às vezes
tão entranhados na lógica que quase são inacre-
ditáveis.
h t t p : / / d i o g m e n d s . t u m b l r . c o m /
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O animal dentro da gente chamado interpretação
requer cuidados. Cuidados que se forem deixados
de lado interferem em seu desenvolvimento decli-
nado. Mimado, intransigente, descortês pede lei-
tura todo sol e lua, enquanto cresce e definha. O
crescimento definha e o definhamento cresce. Lei-
tura que vai além dos livros, das músicas, dos
quadros, dos reflexos – particulares e coletivos
– nos espelhos. Exigente, sobretudo, averigua as
lembranças de situações anteriores e suas várias
perspectivas.
O animal dentro da gente chamado interpretação
requer cuidados. Zona de conforto, não é seguran-
ça, pois impede seu aumento baseado no crescimen-
to e definhamento. Sabe que o conforto apresenta
distrações e caminhos tortuosos. Caminhos, afinal,
que antecipam a chegada do que não é nada. Furtivo
carece da sua atenção sobre as coisas mais próxi-
mas e menos importantes.
O animal dentro da gente chamado interpretação re-
quer cuidados. Pode ferir, ferindo, sua regenera-
ção ocorre rápida. A exigência do animal acolhido
em nós não irá desaparecer no máximo ficará longe
de destaque por algum tempo. Contudo, de repente,
percebendo a recuperação estará logo ali e sentirá
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sua constância. Algo que não sugere explica-
ções detalhadas, como o próprio ferimento tem
ideia. O corriqueiro não passa de uma visão em
comparação do que também é particular.
O animal dentro da gente chamado interpre-tação
requer cuidados. Sem joguetes o animal ferido
fará perguntas. As perguntas que tanto inco-
modam, mas inspiram. Com animália o animal vai
te esfolar os órgãos, mesmo que as insistên-
cias falhem. A propósito do fracasso, o animal
deslumbra e continuará a esfolar. O ferido é
perito em regenerarse e evita os caminhos tor-
tuosos, embora apareçam facilidades.
O animal dentro da gente chamado interpretação
requer cuidados. Facilidades não estimulam o
ferimento desse animal que te espreita, escon-
-dido, acanhado, vivo. Intimidades encobertas
por suas próprias interpretações, ainda que
firam as perguntas não diminuíram. A interpre-
tação animal com um filete de ilusão misturada
à positividade, ilusão positiva e positividade
iludida volta(rá) para o sem volta. Igual todo
animal ferido (ferimento) chamado interpreta-
ção.
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33
D O M I N I Q U E B E R F
INQUI
SIÇÃO
T r a p o s e n s a c a d o s
C o m o v i d a s m a l v i v i d a s .
A l e g o r i a s f i n g i d a s ,
A p l u m a d o s a b e r.
D o s n o s s o s f i l h o s , a m i g o s
C r i s t ã o s ,
S á b i o s d a s t o r t u r a s
Q u e p e r p e t u a t o d a a e s p é c i e
E m e x t i n ç ã o .
C o r p o s e n j a u l a d o s
Tr i s t e s , c o m o v i d o s ,
C o m i d o s p e l a s t r a p a s
D a i n q u i s i ç ã o .
To d a d o r v i g e n t e
E m c o m p o s t u r a s
E m v ã o .
Rev
isão
: A
rian
e Si
lva
h t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / d o n a m o c a p o e s i a s
#PRIMEIROCAPÍTULO
Três
O p r i m e i r o c a p í t u l o é s e m p r e n o v o , s e j a p e l o
e s t i l o d o a u t o r , a o r i g i n a l i d a d e d a n a r r a t i -
v a o u p e l a f o r ç a d a e x p e c t a t i v a d o l e i t o r . E n o s s o
o b j e t i v o m a i o r a o p r o d u z i r e e d i t a r e s t a r e v i s t a é
e s t e n d e r a c a d a p á g i n a , a c a d a t í t u l o , a c a d a n ú -
m e r o , a n o v i d a d e q u e i n s p i r a u m m e r g u l h o n o p r i -
m e i r o c a p í t u l o . P e r s e g u i n d o s e m p r e a o r i g i n a l i d a d e
e o d e s c o n h e c i d o n a b u s c a p o r a u t o r e s , i l u s t r a d o -
r e s , t í t u l o s e e s t i l o s d e t r a b a l h o . B u s c a m o s p r o -
v o c a r e m n o s s o s l e i t o r e s a e x p e c t a t i v a p e l o t e x t o
s e g u i n t e , p e l a e d i ç ã o q u e v i r á , p e l a p r ó x i m a p u b l i -
c a ç ã o . E é e m n o m e d e s t a b u s c a q u e c o n v i d a m o s a
t o d o s o s l e i t o r e s a p a r t i c i p a r e m c o n o s c o , p o r m e i o
d e n o s s o s c a n a i s d e i n t e r a ç ã o , o f e r e c e n d o a s u a
c r í t c a a o n o s s o t r a b a l h o e n o s a j u d a n d o a a l c a n -
ç a r o c o n t e ú d o , o f o r m a t o e o e s t i l o d e p u b l i c a ç ã o
q u e m e l h o r r e f l e t e m a l i t e r a t u r a d o n o s s o t e m p o .
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TASSO TELES CANDIDO
A IMITADORA D E G AT O S
O incômodo absurdo de uma sensatez de nunca me en-
contrar a legre o suf ic iente para o dia .
Quando acordo pela manhã eu não consigo me sent ir fe-
l iz , pr imeiro, vem o tédio da minha existência , depois vem
o desânimo por estar acordado. Em seguida vem a raiva .
É quando um processo de inspiração me arranha os pul-
mões . E a peça técnica da passagem dos meus dias ref le te o
f ler tar rot ineiro que tenho com minhas ideias . Um minuto
de discussão interna, para atear fogo no vulcão da minha
to pintar, de uma conjunção harmoniosa entre a loucura e
o gesto imaginár io de encarar a v ida . Enquanto a incômo-
da posição das luzes que ref le te dentro do meu quar to –
um conjugado onde cabe uma cozinha e um banheiro – faz
t ransparecer um conjunto desarmonioso que tento conver-
ter em traços de pincel .
imaginação e encerrar o
drama com golpes de pin-
celadas numa te la . Um re-
pouso discreto diante do
quadro que há meses ten-
Rev
isão
: C
arla
Fur
toso
h t t p : / / f a c e b o o k . c o m / E s c r i t o r T h i a g o F r a n c a
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Foi a forma que encontrei de inter fer ir nos próximos sem
precisar suportá- los . Nada tenho de emoção e minha c iv i l i -
dade é fe ito um fel ino acuado. Espantada, e la nunca faz ami-
zades .
Ouço as t rês bat idas na por ta do quar to. Do lado de fora ,
Cr ist iane, no seu desenrolar faceiro de menina entregue ao
r itmo caót ico, sorr i t r istemente para mim quando a obser vo
pelo olho mágico. Já dentro do quar to, passeia pelos cantos
na busca de tentar desvendar-me através dos deta lhes que
deixo escapar nas coisas que largo pelos cantos . Objetos da
minha culpada s ituação sol itár ia .
C omo em um r itua l todo encenado, e la veste seu olhar com
uma cur ios idade minuciosa e obser va atentamente cada ob-
jeto sobre a estante. O Cristo cruci f icado na parede a as-
susta , mas , de-pois , e la sorr i . C onta atentamente os l ivros
expostos , perde a conta a lgumas vezes e depois des iste . C om
as mãos apanha os folhetos de propagandas que ganho pelas
ruas – uma diversão que se a l imenta da minha raiva – bule
com as garrafas de bebidas , e cr it ica – em movimentos estra-
nhos com o rosto – os discos da minha coleção.
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Ainda passeando no a lto esca lão de sua conf iança, olha em
meus olhos e , de graça , – como quem sabe a beste ira que faz
– beija-me os lábios . C om sua mão dire ita escorrendo pelo
meu rosto, fecha os olhos e f ica em repouso por a lguns se-
gundos. Um grande s i lêncio enche-me os ouvidos e , a par t ir
disso, apenas s into os movimentos – tantas vezes inespera-
dos – que e la faz .
Caminha agora em direção à cozinha, senta-se em uma das
cadeiras e apanha o maço de c igarros que está em cima da
mesa , t i ra um, acende-o e , est icando ao fundo, dá sua pr i-
meira t ragada.
É quando posso sent ir sua inquietação. Surpreendida, Cr is-
t iane recai nos meus sonhos e com seus ruídos repousa em
minha imaginação. Levando o melhor que tenho consigo – a
imitadora de gato – diver t indo-se, br inca com as horas dis-
traídas que habitam em mim.
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JORGE LÚCIO DE CAMPOS
A A L E -G R I -
A D E V I -
V E R
Q uando muitoNão me cuido e acomodo.
Um branco martelado Me define.
Quando muitoNão sei ler nem escrever −Busco a vida em gestosDe expressar.
Quando muitoLanço-me no tempo −Minhas bordas ignoramMeu corpo.
Quando muitoSou linha intensaNo entalhe em queMe tento.
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isão
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e M
arqu
es
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ANNA
BRA
NDÃO
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A L E S A F R AH
OT
EL
BAR
ATO
Ela esperava a chuva passar no bar, mesmo com um café mais apru-mado bem ao lado. Não precisava ouvir dos homens rudes, de olha-
res lombriguentos, dando de si o melhor machismo de rebanho uns para os outros, aqueles remoques.
Mas ela não se importava. Observei-a até crescer uma vontade de cheirar as flores lilases do seu vestido preto. Convidei em gestos para a estranha
molhada para subir. Mas deveria? Ela era suspeita apesar das coxas grossas. Apesar do decote. Da cintura frágil. Dos olhos baleiros.
“Para viver a felicidade é preciso reconhecer o momento, depois é saudade e culpa.”
Fantasma me incentivando roubar da vida.
Não corri do flagrante quando ela me percebeu. Cabelos longos. Fartos de uma existência que aparentava trinta e
poucos anos. Castanho ficou meu desejo. olhar descascado, sem brin-cos. Três anéis. Pulseira no tornozelo. Sem bote na fala, sem rodeios nas ideias, sem fé para correr. Ela apenas esperava algo. E seria óbvio demais dizer que era a chuva passar.
E fácil demais ela aceitou subir. Parecia esperar a oportunidade.
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Do alto do terceiro andar daquele hotel xexelento ofereci uma graça, ela aceitou. Era uma tarde modorrenta com chuva de verão e cheiro de mijo.
O centro de são paulo tem ofertas. Eu tenho necessidades. todos parecem acomodados nessa lógica e se posicionam, as vezes consciente outras não. A janela ficou aberta e a chuva, quando muita, entrava suicida.
Liguei para a recepção e autorizei a subida da mosca. Olhei no espelho e o silêncio interno deixa fluir o que nasci pra ser. A campainha, ela entra e seu perfume de catálogo de revista só faz minha libido aumentar.
Ofereço água, mas ela olha para a cerveja. Ofereço toalha e ela se tranca por quatro minutos no banheiro. Deu tempo para olhar sua bolsa. Uma carteira com doze reais, sem documentos e dois cartões de crédito com nome chinês, um canivete suíço, camisinhas, bolsinha com batom e ou-tros trecos, outra bolsinha com objetos que não tive tempo para ver. E um livro. Um livro interessante. Um livro que se tornou um elogio. Uma boa indicação de um amigo.
Uma ladra talvez, conclui ao ouvir o trinco da porta do banheiro.Ela sai com os cabelos presos. Ofereço o melhor lugar do quarto: de fren-te para o ventilador. E a cerveja. E um cigarro. E meu corpo.
Ela não é prostituta. Não esta a procura de quem dê alguma coisa. Fala bem. Tem ideias oriundas de reflexão que partiram da pele. Tudo encan-tador. Vinte e oito anos, sotaque de paulistana da mooca. E aquela minha sensação estranha de que o externo não matrimoniava com o interno. Quem era aquela mulher que tentava ser invisível?
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Ela quis saber de onde eu era, menti. Quis saber meu nome, menti. E minha profissão. Também menti. Queria saber muito, soube tudo, afi--nal, que importava dizer a verdade ou não? Tanto faz, pensei. E de um ser invisível para outro, o que realmente importava aconteceu, conexões. Ela adorava falar e as mais inconfessáveis situações de vida brotaram sem nomes e lugares de nossas bocas entre um beijo & mordidas. Entre tapas e palavrões. Entre cigarros & cervejas. Entre bucetas sem expectativas. Sem espera compartilhamos histórias.
Estelionatária. Me confessou depois do sexo, do cigarro e das cervejas. Esteve presa por uns anos. Seu filho que na época tinha dois anos mor-reu enquanto ela estava no presídio. Contou sem dramas, sem derramar uma lágrima. Sem ficar com os olhos no teto. Rio ao dizer que acabou de concluir ciências contábeis e que o mundo das finanças estava menos seguro e que essa era a proposta. E achei ótimo. E incentivei. Uma mu-lher bonita, inteligente e mal intencionada Foder com o sistema era pra brindar. Brindamos.
Foi sexo. Foi humano. Foi brisa. Roubamos o melhor uma da outra. E fomos boas nisso.
Não era uma mosca, era uma raposa castanha. Depois que saiu do quarto, ela subiu maliciosa as escadas. Arrumei minhas coisas, check out e trinta minutos depois estava em casa. Não soube mais daquela estelionatária que me usou para entrar no hotel e nos apaixonamos por cinco horas. Espero que esteja bem. conto essa história agora, neste outro quarto no-jento do centro, onde mais uma foi embora sem valer um conto.
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F E L I P E R E Y R E Y
R E P O S T A L
E u quero mermo que me uzi.Quero que me uzi.
Tiro de letra,com a direita e a esquerda.Nada sob suspeita.
Porto armasde amores,baleando boloresno cemitério do meu coração.
Enterro sempre uma solidão por dia sem caixão,a sete palmos do chão.
E ainda jogo buquês de f lores.
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L U X G O RFim Dos Tempos
Um novo dia surge ao horizonte, fatidicamente uma nuvem densa e escura paira nas ruas da cidadela acinzentada.
Vejo esta nuvem como prelúdio de uma tragédia. Morre a alma dos seres humanos, morre a poesia de viver.
De um modo soturno, vislumbrei o futuro sorumbático que o ho-rizonte predizia. O ar estava viscoso e denso; sussurrava aos ouvi-dos mais atentos:
- Eis o fim. É a harmonia mortuária, vistam suas mortalhas!
As almas perdidas gargalhavam em uníssono... Um som de mau agouro. Um arrepio percorria meu corpo, sensações desconexas de medo intenso.
A cidadela toma um tom mais escuro, nuvens mais densas procla-mavam a morde do sol, as janelas que outrora revelavam vidas ou sobrevidas, se encontram tomadas por sombras.
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Ao longe os cavaleiros do apocalipse firmam rumo em direção à cidadela, em seu caminho um rastro de desolação... Cheiros pú-tridos, devastação. O horror alastra-se como vírus. Tomados pelo desespero, os sobreviventes correm à procura de um local para se abrigar.
A morte é diferente, todavia... Morre a capacidade de pensar, mor-re a criatividade.
Aglomerados frente ao cubo mágico trazido das profundezas do inferno, aglutinado ao séquito malevolente que, determinados, conseguiram a extinção (em partes) do ser pensante.
Lastimam sob lágrimas copiosas o pouco do divino que sobrevive no homem.
Sob o manto negro do luto, jaz o cérebro humano, a arte de criar vida através das palavras. Extingue-se a centelha divina.
Após o apocalipse intelectual, surge ao horizonte um novo dia, sob o prisma da nova realidade.
Obliterados, dominados pelos novos deuses da mente, caçam-se os pensadores, assassinando por conivência imoral.
Eis o fim dos tempos!
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48KEMMY FUKITA
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G E R S O N A V I L L E Z
S Í N D R O M EC E L E S T I A L
A-deus Holoceno
No céu, Lua Vermelha,
na Terra, chuva de pedra.
Lua ferida, casula da Terra,
eclipse não mais haverá.
Acabaram todas as guerras.
Acabaram as diferenças
Acabaram todas as coisas: boas e más.
Em quatro cantos, quatro cavalheiros
Em quatro elementos: Caos!
Em solo, fogo.
Em águas, tsunamis.
No céu, fumaça.
E no coração dos seres humanos,
o desespero de saber
que agora somos nós
quem estamos em extinção.
Nostradamus é culpado!
Apocon mistificado,
Deus fortificado?
A quem interessam as dúvidas
quando se alcança o ponto final?
Os dias viram noites e as noites dia.
Os peixes não mais nadam, os pássaros não
mais voam.
Caos, é uma ordem!
Saraiva é sereno,
trovão, um espirro.
Deus esbraveja com os povos da Terra.
O homem não tem mais o que dominar
Rev
isão
: Mar
ina
Rid
ente
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GABRIELA SANTOS
É p o e t a q u e m f i n g e m e l h o r
Ainda na artificialização global contemporâ-
-nea, existe poesia. Em meio às novas casas
de pedra e à velocidade que rege o mundo, há
poesia. Porque para existir, basta ilusão e uma
visão individualista do mundo, tal como fazem
os malditos, os marginais literários contempo-
râneos... os poetas.
Sempre haverá algo inatingível e incompreensível
aos olhos do autor; haverá solidão, incompre-
ensão, menos boaventura. O poeta será sempre um
desgraçado, por ouvir o coração e esperar pela
noiva temida, e aquele vazio, que faz o leitor
olhar para dentro de si, a cada verso – “[...]
E os que leem o que escreve... Na dor lida sen-
tem bem... Não as duas que ele teve... Mas só a
que eles não têm [...]”, como há tempos já sabia
Pessoa. Portanto, é tudo fingimento.
C | O | L | U | N |A
g a b b i e . r e d a c a o @ g m a i l . c o m
morte Vida POESIAhttp://Facebook.com/RevistaPrimeiroCapitulo
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Assim como nasce o dia e chega a morte, nascem
novos recônditos de ilusão, sofrimento, pseudo-
dor (portanto dor) e literatura. Nascem novos
malditos, novos pensadores e apenas a carne mor-
re. A alma do poeta fica tatuada na poesia, que
mesmo que esquecida, em algum momento, será des-
coberta e eternizada com os mesmos propósitos:
atingir a capacidade de sentir verdadeiramente a
solidão que nem sequer existe e traduzila à tin-
ta, revelando-a à vida como é: ilusão.
Será o sofrimento do poeta maior que o de ou-
trem? Ou ele é um fraco, que precisa dizer que
está doendo para que o percebam?
Como soa o ditado, “enquanto uns choram, outros
vendem lenços”. Da mesma forma, o poeta desvela
o mal do homem e o da humanidade e chama isso de
arte, ou sei lá, de bode, de solidão e vazio no
peito. Nada de... fazer a fila andar. É neces-
sário cultivar a dor, curtir a fossa, para man-
ter viva a poesia.
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D I E G O M O R A E S
Nem quando tudo p a r e c i a p e r d i d o
Nem quando tudo parecia perdido...
Meus olhos amanhecidos
num bar da rodoviária
tocando Wando.
Nem quando tudo parecia perdido...
A polícia dando sinais de alerta,
repassando minhas características
na rádio patrulha.
Nem quando tudo parecia perdido...
Meu peito na chuva chiando pneumonia.
Nem quando tudo parecia perdido
deixei de pensar no teu sorriso.
Nem quando tudo parecia perdido
deixei de escrever poemas
em espelhos de motéis fuleiros.
Nem quando tudo parecia perdido
deixei de dizer para putas de rua
que meu coração
tem sangrado teu nome.
Rev
isão
: C
arla
Fur
toso
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P L Ôh t t p : / / f a c e b o o k . c o m / P l o l i v v
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