Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

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FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011 D EUS , C RISTO E C ARIDADE R$ 7,00 ISSN 1413 - 1749

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F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

R$ 7,00

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 129 / Dezembro, 2011 / N o 2.193

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO NOLETO

BEZERRA, GERALDO CAMPETTI SOBRINHO,MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA E

SADY GUILHERME SCHMIDT

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Equipe de Diagramação: AGADYR TORRES PEREIRA E

SARAÍ AYRES TORRES

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:SGAN 603 – Conjunto F – L2 Norte 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

Editorial

Centenário da Sede História da FEB

Entrevista: Jorge Berrio Bustillo

A experiência de unificação na Colômbia

Presença de Chico Xavier

O Natal do Apóstolo – Irmão X

Esflorando o Evangelho

Agir de acordo – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Esperanto e Esperantismo – Affonso Soares

Conselho Espírita Internacional

Reunião da Coordenadoria do Conselho Espírita

Internacional da Europa

Seara Espírita

O Livro dos Médiuns – Sociedades EspíritasAuditórios sofisticados – Vianna de Carvalho

Amor – João de Brito

Nem o mendigo – Richard Simonetti

O presépio de Francisco –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Lei de Justiça, Amor e Caridade – Christiano Torchi

Congressos Históricos no Uruguai e Reunião daCoordenadoria do CEI para a América do Sul

A luta contra o egoísmo – Clara Lila Gonzalez de Araújo

Em dia com o Espiritismo – Cristo nasceu? Onde?Quando? (Capa) – Marta Antunes Moura

Amor à profissão – Aprendendo com Jesus –

Fabiano P. Nunes

Retorno à Pátria Espiritual – Norberto PásquaMediunidade – Antes e depois de O Livro dos

Médiuns – Adilton Pugliese

Sobre os médiuns – O Espírito de Verdade

Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – Resumodo Regulamento (Continuação do artigo O Livro dosMédiuns – Sociedades Espíritas, p. 5.)

Retificando...

58

121516

1822

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3940

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PARA O BRASILAssinatura anual R$ 552,00Assinatura digital anual R$ 224,00Número avulso R$ 77,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 550,00

Assinatura dde RReformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mmail: [email protected]

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Editorial

Centenário da SedeHistórica da FEB

undada em 2 de janeiro de 1884, na cidade do Rio de Janeiro, na época

Capital Federal do Brasil, a Federação Espírita Brasileira conseguiu

inaugurar a sua Sede própria quase 28 anos depois, no dia 10 de dezem-

bro de 1911, na Av. Passos no 30, sob a presidência do confrade Leopoldo Cirne.

Os registros publicados pela imprensa naquela oportunidade mostram que foi

um feito muito marcante, com os pioneiros espíritas trabalhando intensamente

para superar as suas dificuldades no sentido de concretizar o ideal buscado.

O prédio já surgiu com espaço destinado às mais diversas áreas de atividades que

as responsabilidades da Instituição exigiam, tais como: atendimento aos necessita-

dos de assistência espiritual e material; biblioteca com cerca de 1.200 obras, livraria,

espaço para a edição da revista Reformador, na época editada quinzenalmente.

O Suplemento da revista Reformador, publicado nesta edição, oferece ao leitor

uma clara visão do quanto significou para o Movimento Espírita a inauguração da

Sede da FEB em 1911, hoje chamada Sede Histórica, já que a sua sede Central se

localiza em Brasília, atual Capital Federal, desde 2 de janeiro de 1984.

É muito bom e muito útil para nós, voltarmos ao passado e observar esse feito tão

significativo na já longa história da FEB e do Movimento Espírita brasileiro, justifi-

cando, plenamente, as atividades comemorativas do seu Centenário que ocorrerão,

na própria Sede Histórica, nos dias 10 e 11 do corrente mês de dezembro de 2011.

Que realizações como esta estimulem e motivem todos os trabalhadores espíri-

tas a continuarem, com perseverança, na tarefa de promover o estudo, a difusão e a

prática da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, que revive o Evangelho

de Jesus na sua plenitude, em benefício de toda a Humanidade e em favor da cons-

trução do Mundo de Regeneração, que já se opera na Terra.

F

4 Reformador • Dezembro 2011444422

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rientações sobre a organi-zação de uma Casa Espí-rita constam do capítulo

XXIX, segunda parte, de O Livrodos Médiuns. Em 17 itens (do 334 ao350), Allan Kardec apresenta opor-tuna e atual análise do tema, se-guindo três ordens de ideias: relacio-namento interpessoal dos adeptos;assuntos de estudo; rivalidade en-tre as sociedades espíritas.

A união dos integrantes da so-ciedade espírita é ponto enfatica-mente destacado, assim sintetizado:“O Espiritismo [...] ainda é diver-samente apreciado e muito poucocompreendido na sua essência porgrande número de adeptos, de mo-do a oferecer um laço forte que pren-da entre si os membros do que sepossa chamar uma Associação, ouSociedade. Esse laço só poderá exis-tir entre os que percebem seu ob-jetivo moral, o compreendem e o“aplicam a si mesmos”.1 Assim, asdivergências que produzem divi-são acontecem sempre que a opi-nião pessoal não considera as or-denações morais, continuamenteensinadas pelo Espiritismo. Con-dição oposta é percebida nos nú-cleos espíritas onde os integrantes

priorizam os princípios morais norelacionamento interpessoal, na re-solução de dificuldades e proble-mas, no desenvolvimento de ativi-dades espíritas, entre outros: “[...]visto que, acerca da questão mo-ral, não pode haver duas maneirasde encará-la”.1

Tanto isso é verdade que, onde

quer que eles se encontrem,

uma mútua confiança os atrai

uns para os outros; a recíproca

benevolência que reina entre

todos os integrantes de uma so-

ciedade exclui o constrangi-

mento e o vexame que nascem

da suscetibilidade, do orgulho

que se irrita à menor contradi-

ção e do egoísmo, que só cuida

de seus próprios interesses.1

Como a discórdia e a intrigasão enfermidades espirituais queainda fazem parte da vida institu-cional, em geral decorrentes dopersonalismo marcante de alguns,Allan Kardec avalia que “no inte-resse dos estudos e para o bem daprópria causa”,1 seja melhor optarpela “multiplicação de pequenosgrupos, do que para a constitui-

ção de grandes aglomerações. Essesgrupos, correspondendo-se entresi, visitando-se, permutando ob-servações, podem desde já for-mar o núcleo da grande famíliaespírita, que um dia congregarátodas as opiniões e unirá os ho-mens por um único sentimento: oda fraternidade, sancionado pelacaridade cristã”.2

As grandes assembleias excluem

a intimidade, pela variedade dos

elementos de que se compõem,

exigem locais especiais, recursos

pecuniários e um aparato admi-

nistrativo desnecessário nos pe-

quenos grupos. A divergência

dos caracteres, das ideias, das

opiniões aí se delineia melhor e

oferece aos Espíritos perturba-

dores mais facilidade para se-

mearem a discórdia. Quanto

mais numerosa é a reunião,

tanto mais difícil é se contenta-

rem todos os presentes. Cada

um quererá que os trabalhos se-

jam dirigidos segundo o seu

modo de entender; que sejam

tratados preferentemente os as-

suntos que mais lhe interessam.

Alguns julgam que o título de

O

O Livrodos MédiunsSociedades Espíritas

5Dezembro 2011 • Reformador 444433

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sócio lhes dá o direito de impor

suas maneiras de ver. Daí as di-

vergências, uma causa de mal-

-estar que acarreta, cedo ou tar-

de, a desunião e, depois, a disso-

lução, que é a sorte de todas as

Sociedades, sejam quais forem

os seus objetivos. [...]3

Considera também que “vintegrupos de quinze a vinte pessoasobterão mais e farão muito maispela propaganda, do que uma as-sembleia de trezentos ou de qua-trocentos indivíduos”.4 Soma-se aesse fato, a ação dos adversários,encarnados e desencarnados:

Não nos esqueçamos de que o

Espiritismo tem inimigos inte-

ressados em impedir a sua mar-

cha, aos quais seus triunfos

causam despeito. Os mais peri-

gosos não são os que o atacam

abertamente, mas os que agem

na sombra; estes o acariciam

com uma das mãos e o apunha-

lam com a outra. Esses seres

malfazejos se insinuam por to-

da parte em que possam fazer o

mal. Como sabem que a união é

uma força, tratam de destruí-la,

semeando a discórdia. [...]5

Pondera também que, além docaráter perturbador revelado poralguns confrades,6 independente-mente das suas boas intenções,ocorrem as influências espirituais:

[...] Os causadores de perturba-

ção não se encontram somente

no meio delas, mas também no

mundo invisível. Assim como

há Espíritos protetores das as-

sociações, das cidades e dos po-

vos, Espíritos malfeitores se li-

gam aos grupos, do mesmo

modo que aos indivíduos. [...].7

O Codificar analisa que “as so-ciedades regularmente constituí-das exigem uma organização maiscompleta. A melhor será aquelacujo entrosamento seja menoscomplicado. Umas e outras pode-rão tirar o que lhes for aplicável,ou o que julgarem útil, do regula-mento da Sociedade Parisiense deEstudos Espíritas, que damos logo

adiante”.8 (Veja páginas 40 e41.) Recomendamos, em espe-cial, a leitura do item 341, docapítulo, pois há uma síntesedas principais instruções desti-nadas à formação de Socieda-des Espíritas.

Os Assuntos de estudo, evo-cados por Kardec dos itens 343ao 347, têm como finalidadegeral formar adeptos mais escla-

recidos, capazes de promover aprópria melhoria espiritual, preve-nir e identificar influências espiri-tuais prejudiciais, tomar conheci-mento da realidade do mundo espi-ritual e ter notícias de familiares eamigos desencarnados. O estudoé especificamente indicado aosparticipantes do grupo mediúnico,que devem aprender a discernir arespeito das boas e más comuni-cações mediúnicas; as característi-cas dos benfeitores espirituais e asdos Espíritos genericamente deno-minados sofredores e daqueles ou-tros que produzem perturbações,que alimentam intranquilidadeou provocam dissabores, como osembusteiros, mistificadores e per-seguidores. Com apropriado bomsenso, o Codificador propõe que ascasas espíritas recém-criadas jamaisdevam abrir mão do estudo nemsejam tolhidas da realização detrabalhos pela falta de médiuns,propriamente ditos.

Com toda certeza, os médiuns

são um dos elementos essen-

ciais das reuniões espíritas, mas

não constituem elementos in-

dispensáveis, de modo que seria

erro acreditar-se que sem eles

6 Reformador • Dezembro 2011444444

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nada se pode fazer. Certamente,

os que só se reúnem com o fim

de realizar experimentações não

podem, sem médiuns, fazer mais

do que fazem os músicos, num

concerto sem instrumentos.

Porém, os que têm em vista o

estudo sério terão mil assuntos

com que se ocuparem, tão úteis

e proveitosos, quanto se pudes-

sem operar por si mesmos.

Aliás, os grupos espíritas que

possuem médiuns estão sujeitos,

de um momento para outro, a

ficar sem eles e seria lamentá-

vel que, nesse caso, julgassem

não lhes caber outra coisa se-

não a dissolução. Os próprios

Espíritos costumam, de vez

em quando, levá-los a essa si-

tuação, a fim de lhes ensina-

rem a passar sem eles. Diremos

mais: é necessário, para apro-

veitamento dos ensinos rece-

bidos, que consagrem algum

tempo a meditá-los.9

A rivalidade entre as Socieda-des Espíritas está, infelizmente,relacionada à nossa imaturidadeespiritual, uma vez que cadaCentro Espírita tem missão e tra-balhos próprios, e todos estão en-volvidos com o programa comumde melhoria de si e do outro. DaíKardec afirmar:

Todos devem concorrer, embora

por vias diferentes, para o obje-

tivo comum, que é a pesquisa e a

propagação da verdade. Os anta-

gonismos não passam de efeito

do orgulho superexcitado; forne-

cem armas aos detratores e pode-

rão prejudicar a causa, que uns

e outros pretendem defender.10

Assim, as divergências devemconstituir-se em questões acessó-rias, se ainda não conseguirmos su-perá-las, porque, lembra-nos tam-bém o Codificador: “Seria pueril,portanto, dividir-se o grupo, for-mando outro à parte, por não pen-sarem todos do mesmo modo. Se-ria pior ainda se os diversos gruposou associações da mesma cidadese olhassem enciumados. [...]”.11

Importa, pois, não perdermoso foco da missão da Doutrina Espí-rita, promovendo a união e a paz,sob quaisquer circunstâncias.

Se o Espiritismo deve, conforme

foi anunciado, promover a trans-

formação da Humanidade, é

claro que ele só poderá fazê-lo

pelo melhoramento das massas,

o que se dará gradualmente,

pouco a pouco, em consequên-

cia do aperfeiçoamento dos indi-

víduos. [...] É para o objetivo

providencial, portanto, que de-

vem tender todas as Sociedades

Espíritas sérias, agrupando em

torno delas todos os que se achem

animados dos mesmos senti-

mentos. [...] porque falarão em

nome da moral evangélica, que

todos respeitam.

[...] A bandeira que desfraldamos

bem alto é a do Espiritismo cris-

tão e humanitário, em torno da

qual já temos a ventura de ver

tantos homens reunidos, em to-

das as partes do globo, por com-

preenderem que aí está a âncora

de salvação, a salvaguarda da

ordem pública, o sinal de uma

Nova Era para a Humanidade.

Convidamos todas as Socieda-

des Espíritas a colaborarem

nessa grande obra. Que de um

extremo ao outro do mundo

elas se estendam fraternalmente

as mãos, aprisionando o mal

em malhas inextrincáveis.12

Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. ed. 9.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2,

cap. 29, it. 334, p. 550.2_____. _____. p. 550-551.3_____. _____. It. 335, p. 551-552.4_____. _____. p. 552.5_____. _____. It. 336, p. 552.6_____. _____. It. 338, p. 554.7_____. _____. It. 340, p. 555.8_____. _____. It. 339, p. 555.9_____. _____. It. 347, p. 562.10_____. _____. It. 348, p. 563-564.11_____. _____. It. 349, p. 564.12_____. _____. It. 350, p. 565-566.

7Dezembro 2011 • Reformador 444455

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m todos os tempos, os orado-res mais hábeis, sempre queconvidados a discursar nos

auditórios que se celebrizarampor aqueles que ali passaram, tive-ram a preocupação de dar à suapalavra os tons insuperáveis dasabedoria, em formulações cultas,que produzissem impacto e admi-ração inicial nos seus ouvintes.

Apelavam para as técnicas dodiscurso, citando personagens cé-lebres e suas palavras, em tonali-dades harmoniosas unidas à gesti-culação bem estudada, de formaque pudessem produzir o desejadoanelo da simpatia geral.

Era sempre muito grande apreocupação com o estilo e a for-ma, sem olvido, naturalmente, doconteúdo.

Nada obstante esses cuidados,quando as ideias não lhes eramconhecidas ou não lhes desperta-vam o interesse imediato, os pre-sentes desviavam a atenção, de-monstrando enfado ou desprezopelo orador e sua mensagem.

O caso típico desse comporta-mento encontra-se na apresenta-ção do Apóstolo Paulo, no Areó-pago, em Atenas.

A presunção e a falsa culturaque predominavam entre os inte-lectuais gregos, distantes dos pos-tulados éticos de muitos dos seusnobres ancestrais, apesar de levecondescendência para com o ex-positor malvestido, deixaram deaceitar-lhe as informações, logo

que ele aprofundou-se no tema,revelando a grandeza da persona-lidade de Jesus.

Empanturrados do hedonismouns, e do cinismo filosófico ou-tros, não dispunham de espaçomental para novas formulaçõesem torno da vida e dos seus ob-jetivos essenciais.

O tédio e a futilidade domina-vam-lhes o comportamento, reser-vando a inteligência para os sofis-mas, silogismos e debates inter-mináveis quão inúteis, em que seexibiam, cada qual pretendendoser mais hábil e profundo conhe-cedor do que o outro.

Perderam, pela vã filosofia, ex-traordinária oportunidade de tra-var contato com o Nazareno quedesprezaram, porque Ele ressusci-tara, o que lhes parecia mitológi-co, absurdo, insensato...

Antes havia sido Estêvão que,obrigado a defender-se das acri-moniosas e injustas acusações arespeito do seu ministério na Casado Caminho, viu-se agredido fisi-camente por Saulo, o arrogantedoutor da Lei, que lhe não partici-pava das ideias, porque aferradoao Judaísmo decadente.

Entre apupos e vociferações detoda ordem, o jovem cristão en-frentou os tiranos sem disfarçar anobreza dos postulados que abra-çava, abordando com lógica irre-torquível as lições libertadoras deJesus, por aquele mesmo sodalíciocondenado à morte pouco antes,

porque se não submetera às suastricas e objurgatórias.

A simplicidade e profundezados conceitos emitidos irritavam osopositores que, incapazes de deba-ter no campo das ideias, apelavampara a desordem e a força, em vãstentativas de intimidar o apóstolopreparado para o martírio.

Ainda hoje encontram-se nomundo os grandiosos auditóriosonde desfilam as vaidades e mul-tiplicam-se os déspotas disfarçadosde portadores do conhecimento eformadores de opiniões.

Normalmente asfixiados pelosoez materialismo ou pelo dani-nho fanatismo religioso, conside-ram-se os únicos pensadores capa-zes de traçar comportamentos cul-turais para os demais, situando--se acima daqueles que não com-partem as suas opiniões e aureo-lando-se dos louros da vitóriaem simulacro de parceiros dasmusas e dos deuses do Olimpoda cultura.

Parecem impassíveis às propos-tas de desenvolvimento intelecto--moral fora das suas escolas de pen-samento e de fé, combatendo comacrimônia tudo e todos que seproponham a melhorar a situaçãoespiritual da sociedade.

Suas tribunas e cátedras estãosempre reservadas aos pares, àque-les que são portadores dos títuloslisonjeiros que se permutam nadisputa do estrelado magníficoda exaltação do ego.

EAuditórios sofisticados

8 Reformador • Dezembro 2011 444466

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Não que sejam escassos aque-loutros que, igualmente portadoresdos louvores dos centros de culturae de ciência, estão abertos a novasreflexões e análises do que ignoram,abraçando os resultados defluen-tes da investigação que se permi-tem afanosamente, de imediatotransmitidos aos demais.

São esses verdadeiros estoicos daabnegação e da coragem que man-têm acesa a claridade do conheci-mento livre, que se reconhecemcomo aprendizes da Vida, semprecrescendo no rumo da plenitudeintelectual, sem a perda dos eleva-dos compromissos éticos indispen-sáveis à existência enobrecida.

Diante dos paradoxos de tal na-tureza, torna-se imprescindível atodo aquele que divulga as incom-paráveis lições em torno da imor-talidade da alma não temer a pre-sunção e o fastio da falsa e douradacultura, usando cátedras, tribunasou os singelos recintos de edificaçãoespiritual, qual o fizeram, a princí-pio, Estêvão na Casa do Caminho ePaulo nas mais diversas situações,inclusive na Domus Aurea, em Roma,diante da truculência de Nero, ci-rurgiando os tumores malignos dahipocrisia e da promiscuidade, en-quanto aplicava o mercúrio cro-mo para a cura desses males, emforma da mensagem de Jesus.

Provavelmente, os untuosos do-minadores mundanos rejeitarão apartitura musical da inolvidável Pa-lavra, mas nunca se olvidarão dessesmomentos sinfônicos em que a es-cutaram, apesar dos ouvidos entor-pecidos pela mentira e a mente atri-bulada pelos interesses subalternos.

Nunca preocupar-se em dema-sia, portanto, todo aquele que sedispõe a elucidar a igno-rância e disseminara verdade emnome de Jesus,especialmenteatravés do Espi-ritismo, com oscultores da inteligên-cia trabalhada pelo aca-demicismo tradicional,mais preocupado emdar brilho ao conhe-cimento, colocando os seus ilu-minados distantes das necessida-des humanas, que alguns se recu-sam atender.

As tribunas clássicas dos deba-tes culturais vêm sendo corroídaspelo tempo, que lhes tem impostonovos comportamentos, enquantoos exemplos daqueles que usam apalavra na construção e manu-tenção da ética da solidariedadee do amor permanecem solucio-nando os graves problemas queafligem a sociedade.

A palavra espírita é simples edesataviada, tendo como escopoconduzir as mentes e os sentimen-tos às esferas da harmonia me-diante a razão e o discernimento,porque totalmente livre de adere-ços e dependências do status quo.

Ela é destinada a todos os indi-víduos que se encontram na Terra,sejam eles intelectuais ou modestoscultivadores do solo, administrado-res poderosos ou mendigos, exem-plos de saúde ou enfermos, possui-dores de riquezas materiais ou des-pojados de todos os bens, qualocorreu com os ensinamentos de

Jesus que foram direcionados paratodos os biótipos humanos. Entre-tanto, não será ouvida pelos discu-tidores inveterados, pelos que seencontram empanturrados de pre-sunção e se acreditam bem situadosnos acolchoados da inutilidade.

Verberando o erro e orientandoa conduta saudável, a Mensagemdeve chegar aos ouvidos das neces-sidades como brisa perfumada emplena primavera, que impregna enunca mais desaparece.

Em qualquer lugar, portanto,seja a nobre sala das conferências,o modesto recinto da Casa Espírita,osantuário da Natureza, o confor-tável areópago das grandes cida-des, o contato com o transeunte,o verbo eloquente e abençoado po-derá atender os transeuntes car-nais, para os quais os Espíritosnobres elaboraram, com AllanKardec, a Codificação.

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Divaldo

Pereira Franco, no dia 10 de junho de 2011,

no G-19, em Zurique, Suíça.)

9Dezembro 2011 • Reformador 444477

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Reformador: Desde quando e como funciona a ConfederaçãoEspírita Colombiana?Berrio: A Confederação EspíritaColombiana (CONFECOL) nasceu

juridicamente em 10 de dezembrode 1993, com a união de cincoFederações espíritas existentesna época. Hoje, somos oito Fede-rações espíritas em todo o terri-tório colombiano. A CONFECOLfunciona através de uma Assem-bleia Geral de Delegados de Fe-derações, que se reúne anual-mente em diferentes cidades eestabelece as políticas e normasgerais para todas as Federações ecentros espíritas afiliados. Tam-bém, a cada dois anos, desenvol-ve-se o Congresso Colombiano

de Dirigentes Espíritas, noqual se avaliam as pro-

blemáticas e necessi-dades das institui-

ções e dos traba-lhadores com o

fim de estabele-cer estratégias

e metas quep e r m i t a m

fortalecer

as Federações e seus respectivoscentros espíritas.

Reformador: Quantas instituiçõesespíritas estão unidas à CONFECOL?Berrio: Oito Federações regionaisencontram-se legalmente filiadasao nosso Movimento, a saber: Bo-lívar, Magdalena e Cesar, Noro-riente, Cundinamarca, Centro Oci-dente, Tolima, Sul Colombiano,Pacífico e, em tramitação para sualegalização, a Federação Espíritado Atlântico.

Reformador: Quais são as princi-pais linhas de ação da CONFECOL?Berrio: As principais linhas de açãoda CONFECOL são: difundir o Es-piritismo na Colômbia e fomentarseus ideais de justiça, amor, cari-dade, fraternidade, solidariedade,tolerância e moral espírita para arealização integral do homem e dasociedade; oferecer a seus filiadosassessoria em nível doutrinário,

JO RG E BE R R I O BU S T I L LOEntrevista

Jorge Berrio Bustillo, presidente da Confederação Espírita Colombiana, comentasobre o Movimento Espírita de seu país e sobre eventos da América do Sul

A experiência de

unificaçãona Colômbia

10 Reformador • Dezembro 2011444488

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divulgativo, assistencial e admi-nistrativo; objetivar pela unifica-ção, fortalecimento e desenvol-vimento do Movimento Espíritacolombiano; zelar pela purezadoutrinária, científica, filosófica,moral, ética e mediúnica do Espi-ritismo em âmbito nacional e apli-car as correções necessárias paraevitar a tergiversação de seu con-teúdo doutrinário; promo-ver a criação de novas Fede-rações espíritas e estimulá--las para a conformação efiliação de grupos, associa-ções e centros com vistas àexpansão do Movimento emnível nacional.

Reformador:Quais são os even-tos mais tradicionais e promo-vidos pela CONFECOL?Berrio: Os Congressos Espíri-tas Nacionais são realizados acada dois anos. O próximo,o XIV Congresso, será reali-zado em julho de 2012 na ci-dade de Ibagué. Há tambémos Congressos de DirigentesEspíritas que se realizam acada dois anos em datas dife-rentes dos Congressos Nacio-nais. Realização do 5o CongressoEspírita Mundial, no ano de 2007,quando assumimos a organizaçãolocal. Tradicionalmente tambémtêm sido implementadas as Campa-nhas Em Defesa da Vida e Você e aPaz, já efetivadas em todas as Fede-rações. Seminários e simpósios paradirigentes espíritas nas áreas me-diúnicas, infantojuvenis, doutriná-rias e, em geral, sobre as ativida-des básicas do Centro Espírita.

Reformador: Qual é a impor-tância do recente documento daCONFECOL?Berrio: O documento “Orienta-ção para as Atividades das Insti-tuições Espíritas” representa parao Movimento colombiano o al-cance de uma importante fase his-tórica, que é de nos havermos uni-do fraternalmente a fim de legi-

timar o estudo, análise e otimi-zação de nossas práticas e pro-cessos em função da pureza dou-trinária, com sérias perspectivasde unificação. Dizemos legitima-ção porque num momento úni-co, em que todos os representantese líderes do Movimento nacionalconstruíram voluntária, demo-crática e discursivamente o do-cumento, resultando no com-promisso específico de corres-

ponsabilidade em seu reconhe-cimento e implementação. Fala-mos de união e não precisamen-te unificação, porque o primeiroé resultado de um momento deamadurecimento e depuração denossas fileiras, perante a pro-posta kardequiana relacionadacom a prioritária renovação dogênero humano. Assim, as pre-

venções pessoais, naturaisdo passado, cedem espaçopara identificação sincerade objetivos que resultamna busca da retomada deKardec em sua essência,simplicidade e profundida-de diante da realidade dostempos de transição. Dessamaneira, a unificação, co-mo resultado esperado, émais profunda porque nãoprevê a padronização deatividades, práticas ou pro-cessos do Movimento, senãoo progressivo despertarcoletivo de consciências edos esforços individuaispor nossa própria elevaçãocom respeito à fraternida-de e à tolerância, levando--nos inevitavelmente à cons-

trução permanente de ações queassegurem as bases e o exemplopara as novas gerações de espíri-tas. Há necessidade de unirmo-nospara unificar, pois somente des-sa maneira será possível cumprira responsabilidade legada porAllan Kardec quando afirmou:“Somente o Espiritismo, bem enten-dido e bem comprendido, poderemediar esse estado de coisas etornar-se, conforme disseram os

11Dezembro 2011 • Reformador 444499

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Espíritos, a grande alavanca datransformação da Humanidade”.1

Logo os primeiros chamados acompreendê-lo e entendê-lo so-mos nós que, com o nosso com-portamento e esforço como Mo-vimento, seremos uma das mui-tas alavancas de transformaçãopara o mundo.

Reformador: Como sentiu a reali-zação do recente 1o Congresso Espí-rita Sul-Americano, efetivado noUruguai?Berrio: Excelente o ambiente defraternidade e desejo de aprendi-zagem tanto dos irmãos uruguaioscomo do Movimento Espírita Sul--Americano em geral. Sentimosque o Movimento Espírita delíngua espanhola tem futuro importante na divulgação daDoutrina Espírita.

Reformador:Teria alguma recomen-dação aos espíritas da América doSul?Berrio: Não desfalecer no traba-lho perseverante do amor e da ca-ridade sob a inspiração do mes-tre Allan Kardec. Ante a realida-de de nossos povos, que se en-contram numa escala de pobre-za muito grande, é hora de nós –espíritas –, desenvolvermos pro-gramas de divulgação da mensa-gem consoladora e unirmos es-forços para exercitar a solidarie-dade, a assistência e promoçãosocial espírita.

1KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.Guillon Ribeiro. 1. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2011. P. 2, Projeto 1868, p. 410.

12 Reformador • Dezembro 2011445500

João de Brito

Fonte: XAVIER, Francisco C. Falando à terra. Espíritos diversos. 6. ed. 2. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2010. p. 105-106.

AmorAmor, sublime Impulso de Deus, é a energia que move osmundos:

Tudo cria, tudo transforma, tudo eleva.Palpita em todas as criaturas.Alimenta todas as ações.

•O ódio é o Amor que se envenena.A paixão é o Amor que se incendeia.O egoísmo é o Amor que se concentra em si mesmo.O ciúme é o Amor que se dilacera.A revolta é o Amor que se transvia.O orgulho é o Amor que enlouquece.A discórdia é o Amor que divide.A vaidade é o Amor que se ilude.A avareza é o Amor que se encarcera.O vício é o Amor que se embrutece.A crueldade é o Amor que tiraniza.O fanatismo é o Amor que se petrifica.A fraternidade é o Amor que se expande.A bondade é o Amor que se desenvolve.O carinho é o Amor que se enflora.A dedicação é o Amor que se estende.O trabalho digno é o Amor que aprimora.A experiência é o Amor que amadurece.A renúncia é o Amor que se ilumina.O sacrifício é o Amor que se santifica.O Amor é o clima do Universo.

•É a religião da vida, a base do estímulo e a força da Criação.Ao seu influxo, as vidas se agrupam, sublimando-se para a imor-

talidade.Nesse ou naquele recanto isolado, quando se lhe retire a influên-

cia, reina sempre o caos.Com ele, tudo se aclara.Longe dele, a sombra se coagula e prevalece.Em suma, o bem é o Amor que se desdobra, em busca da

Perfeição no Infinito, segundo os Propósitos Divinos; e o mal é,simplesmente, o Amor fora da Lei.

O

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uando Simão Pedro foi arrancado aos grilhõesdo cárcere para o derradeiro sacrifício, sen-tia o coração varado de angústia, conquanto

mostrasse o passo firme.O velho Apóstolo, que transpusera os oitenta de

idade, levantava a cabeça branca, destacando-se naturba à maneira de um pai atormentado por filhosinconscientes.

Irmãos do Evangelho ladeavam-no, tristes, escon-dendo o próprio desespero, diante da serenidadecom que ele, encanecido em duras experiências, seacomodava ao martírio.

Mulheres e crianças emaranhavam-se, cortejoadentro, para beijar-lhe as mãos. Transeuntes, aindamesmo adversos ao Cristianismo nascente, fitavam--no, respeitosos, qual se vissem um soberano humi-lhado e pobremente vestido, a caminho de inespera-do triunfo... E até soldados da escolta, recordandovários companheiros que Simão transfigurara, aocurar-lhes os parentes enfermos, abeiravam-se delecom veneração e carinho...

Apenas um dos pretorianos, Sertório Aniceto,destacado elemento na expedição, não poupava osarcasmo.

Desejando quebrar a atmosfera de reverência e deêxtase que se fazia, desdobrava impropérios:

— Para diante, velho impudente! Judeu sujo! Lixohumano que envergonharia os postes da arena!...

E mais à frente:— Não abuse da crendice do povo! Ladrão imun-

do, chegou seu fim!...Pedro, entretanto, contemplava o céu escaldante

da tarde e orava em silêncio...Sentia-se, agora, fatigado e incapaz! Compreendia

que a Boa Nova exigia servidores robustos e rogavaao Cristo enviasse obreiros novos e valorosos para avinha do mundo... Mas não era só isso... No imo do

coração, ardia-lhe a saudade do Mestre e ansiava retomar-lhe a companhia para sempre...

Escalando a colina, via não longe o Campo deMarte, assinalado pelo monumento de Augusto, ascintilações do Tibre espreguiçando ao Sol, o casarioimenso, as termas e os jardins; no entanto, regressa-va pela imaginação à Galileia distante, buscandoJesus em pensamento...

Revia o lago de Genesaré, em seus dias maisbelos, e as multidões simples e generosas com que o Senhor repartia o pão e a verdade, o consolo e aesperança...

Por estranhos mecanismos da memória, respirava,de novo, o perfume das rosas de Betsaida, das romã-zeiras de Dalmanuta, das quintas frutescentes deMagdala e dos pequenos vinhedos de Cafarnaum...

Apesar do calor reinante, rememorava a pesca esupunha-se envolvido pelo sopro da brisa, quando a barca sobre-estava as ondas calmas.

Reconstituía, enlevado, as pregações do DivinoAmigo e parecia-lhe jornadear de retorno à famíliadas crianças e dos enfermos, das mães sofredorase dos velhinhos que ele próprio lhe entregara aocoração...

Atingido o local do suplício, confiou-se automa-ticamente aos soldados que o desnudaram, e, comose estivesse hipnotizado pela ideia do reencontro,sofregamente aguardado, quase nada percebeu dosmartelos, rudemente manobrados, que lhe apresa-vam pés e mãos ao lenho que se lhe erguera deimproviso...

Em derredor, escutava os protestos velados dascentenas de espectadores da lamentável exibição, demistura com as preces dos companheiros agonia-dos... Detido, porém, na ânsia de repouso, Pedro nãovia que o tempo se escoava, sem que lhe desfechas-sem qualquer golpe...

13Dezembro 2011 • Reformador 445511

Q

Presença de Chico Xavier

O Natal do Apóstolo

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Aqui e além, grupos em orações e lágrimas salien-tavam-se de mãos postas; contudo, a morte tardava...Aniceto, entretanto, não o perdia de vista, e, reparan-do que o crepúsculo baixava, atirou-lhe pontiagudocalhau à cabeça e gritou:

— Morre, bruxo!O Apóstolo observou que o sangue esguichava,

mas, sem qualquer reação, rendeu-se a invencíveltorpor, qual se fosse repentinamente anestesiado porbrando sono.

Semelhante impressão, contudo, perdurou pormomentos. O ancião, após desalgemar-se do corpo,identificou-se espiritualmente, livre e eufórico, aopé dos próprios despojos, e, alheio à algazarra emtorno, contemplou o firmamento, onde os astros seinflamavam, como se dedos invisíveis acendessemlumes deslumbrantes para uma festa no céu... Es-pantado, observou que um homem descia do alto,como que materializado pela fulguração das estre-las, e, decorridos alguns instantes de assombro, viuJesus a dois passos, a endereçar-lhe o inolvidávelsorriso.

— Mestre! — clamou, inclinando-se para beijar ochão que Ele pisava. O Messias redivivo tomou-o nosbraços e partiu, conchegando-o ao coração, qual setransportasse frágil criança.

Por várias semanas restaurou-se Pedro na estânciade luz que o Cristo lhe reservara.

Junto dele, visitou paragens de inexprimível bele-za, recolheu lições preciosas, presenciou espetáculossoberbos da grandeza cósmica e abraçou afeiçõesinesquecíveis...

Quando mais integrado se reconhecia no planosuperior, eis que o Celeste Companheiro lhe anuncianova separação. Que o discípulo descansasse quantoquisesse, elevando-se às excelsas regiões... Ele,porém, devia ausentar-se...

— Senhor, aonde vais? — indagou o Apóstolo,penosamente surpreendido.

E Jesus, indicando-lhe escuro recanto da vastidão,em que se adivinhava a residência planetária doshomens, informou, sereno:

— Pedro, enquanto houver um gemido na Terra,não me será lícito repousar...

— Então, Senhor, eu também...E, como outrora, demandaram, juntos, os quadros

de ação em que se lhes evidenciasse o amor sublime...

.......................................................................................

Atraídos por centenas de vozes, atravessaramRoma, parando, por fim, em espaçoso cemitério daVia Ápia, mergulhado na sombra noturna...

A multidão cantava, glorificando o Senhor...Não obstante o Natal estivesse na lembrança de

poucos, rememorava-se, ali, diante da imensidão cons-telada, a melodia dos mensageiros angélicos.

Simão, fremindo de emotividade, começou a cho-rar de alegria. Anelava ser bom, aspirava a ser irmãoda Humanidade, queria auxiliar a construção do Rei-no de Deus e homenagear a manjedoura de Belém,ofertando algo de si mesmo, em louvor do Evangelho...

Nesse ínterim, aproximou-se Jesus e disse-lhe aoouvido:

— Pedro, alguém te chama...O Apóstolo voltou-se e, admirado, enxergou na

pequena comunidade um homem triste, carregandonos braços um pequenino agonizante... Era Aniceto,a rogar-lhe, mentalmente, se lhe compadecesse dofilhinho que a febre devorava. Qual se lhe registrassea presença, expunha-lhe os remorsos que amargava epedia-lhe perdão...

O antigo pescador não hesitou. Depois de oscular--lhe a fronte suarenta, afagou a criança atribulada,impondo-lhe as mãos, e, ali mesmo, magneticamentetocado por forças renovadoras e intangíveis, o meninodespertou, lúcido e refeito, enlaçando-se ao pai, à fei-ção da ave assustada que torna à segurança do ninho.

Aniceto, no íntimo, compreendeu o socorro e abênção que recebia e, renovado, começou a cantarem lágrimas de júbilo: “Glória a Deus nas alturas, pazna Terra e boa vontade para com os homens!...”.

Para o rude legionário de César começava novavida, e para Simão Pedro o serviço continuou...

Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia mediúnica do natal. 6. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 45.

14 Reformador • Dezembro 2011 445522

Pelo Espírito Irmão X

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15Dezembro 2011 • Reformador 445533

voluntário servia numbazar beneficente de rou-pas, promovido pelo ope-

roso Centro Espírita.Muita gente, muitas vendas.Deparou-se, em dado instante,

com uma calça encalhada, a únicaque não fora vendida.

Surpreso, logo a identificou.Era sua.

Foi reclamar com a esposa.– Você pôs no bazar minha cal-

ça de estimação?Ela respondeu reticente:– Bem… não fui eu…– Certamente, artes de nossa

serviçal!– Na verdade eu a doei a um ne-

cessitado que bateu em nossa porta.Fiquei com pena. Estava andrajoso.

– E daí?– Ao que parece, meu querido,

ele a dispensou, trazendo-a aonosso bazar.

Imagine, leitor amigo, o statusda referida!

Nem o mendigo quis ficar comela!

O episódio remete-nos a velhatendência humana: o apego, ins-pirado, não raro, em persistentesentimento de usura, sob a égidedo egoísmo.

Livros, roupas, objetos de usopessoal, móveis, utensílios diver-

sos permanecem anos segregadosno porão do esquecimento.

Os proprietários, à maneira deescravos dos próprios haveres, re-cusam-se ao benefício da alforria,da qual desfrutariam se os enca-minhassem aos carentes, antes dese transformarem em trastes peloimpiedoso tempo.

Guardamos tanto, e por tantotempo, que se tornam imprestá-veis, uma dor de cabeça para nos-sos herdeiros.

Khalil Gibran, em O Profeta,tem uma observação notável aesse respeito:

Tudo que possuís será um diadado.

Dai agora, portanto, para que aépoca da dádiva seja vossa e não devossos herdeiros.

Diga-se de passagem, em tal si-tuação temos a doação dos her-deiros não por desprendimento,mas simplesmente porque nãolhes têm serventia alguma. E as-sim engrossam o rol das inutilida-des que atulham as entidades be-neficentes a que são destinados.

Algo a ponderar, amigo leitor:Acúmulo de trastes em vida

costuma impor dificuldades namorte.

Há Espíritos extremamenteperturbados porque os herdeirosvaporizam suas adoradas relí-quias, após concluírem que nãohá o que fazer com elas.

Melhor cultivar desapego, re-duzir o patrimônio do que é inu-tilidade para nós, mas que aindapode ter alguma utilidade parairmãos carentes.

Caixão, como diz o ditado po-pular, não tem gavetas.

Só levaremos para o mundoespiritual nossas aquisições mo-rais, espirituais e intelectuais, etambém o lastro pesado do ape-go ao que se refere à vida tran-sitória, impedindo que des-frutemos das benesses da vidaeterna.

Com o propósito de fazer cir-cular roupas, livros e objetos deuso pessoal, consideremos o tempoocioso.

Um amigo costuma examiná--los, periodicamente.

Se estiverem sem uso nos últi-mos dois anos, destina-os a insti-tuições filantrópicas.

É uma boa medida para quenão pretendamos tornar perma-nente o que é transitório, evitan-do o vexame de constatar que nemos mendigos usariam o que in-sistimos em reter.

ORI C H A R D SI M O N E T T I

Nem o mendigo

Page 16: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

16 Reformador • Dezembro 2011 445544

O presépiode Francisco

ato histórico e pouco lem-brado é a origem da repre-sentação do nascimento de

Jesus. No Natal do ano de 1223,de modo nunca visto, Francisco deAssis celebrou a efeméride na ci-dade de Greccio, na Itália. Repro-duziu o Natal de Jesus de uma ma-neira realística. Entendia que aspessoas, em geral, estavam muitoesquecidas do Mestre e que a cenada manjedoura poderia fazer comque os fiéis vissem “com os olhosdo corpo os desconfortos sofridospelo menino Jesus”.1

Francisco não teria sido o inven-

tor do presépio, que já seria há-

bito em algumas catedrais, mas

inovou na maneira da represen-

tação e nos objetivos. Destacou

o renascimento de Cristo nos

corações e, diferente de outras

prédicas da época, falou da

misericórdia e doçura de Deus.2

Há relatos de que Francisco en-comendou a seu amigo GiovanniVelita, 15 dias antes do Natal,a preparação de um cenário ade-quado:

Quero representar aquele me-

nino nascido em Belém como

se de alguma maneira tivesse

diante dos olhos os desconfor-

tos que teve...3

E assim, uma representaçãocom pessoas, na qual o próprioFrancisco veste-se como diáconoe, com sua bela voz, canta oEvangelho, marcou o primeiropresépio. O inovador fez adequa-ções e introduziu a presença doboi e do asno, que não fazemparte do relato evangélico da Na-tividade, e teriam sido acrescenta-dos pelos Evangelhos apócrifos.Mas, Francisco considerou o boie o asno indispensáveis para acomposição de seu teatro sacro.3

Consta que, previamente, Fran-cisco teria submetido ao papa aideia de um presépio.

Além de destacar a simplicida-de da vinda do Cristo, o presépio deGreccio também assinala o iní-cio de uma tradição que elimina anecessidade da viagem até a TerraSanta e da sua defesa, como eracomum no contexto da vida deFrancisco, na época das Cruzadas.Com a ideia da representação edos subsequentes presépios, Grec-cio se torna como que uma novaBelém. Esta cidade passa a estarpresente nos lares, em todas as

partes do mundo cristão. Todavia,a principal intenção de Franciscoera que o nascimento do Cristodevesse estar bem vivo nos cora-ções das pessoas. Na época, o ce-nário da vida do menino Jesus ja-zia esquecido no coração de mui-tos e por meio de Francisco foiressuscitado e sua lembrança im-pressa numa memória novamentepartícipe.3

A representação do Natal deforma simples encontra-se dentrode um conjunto de ações e coe-rente com a trajetória do ilumina-do inovador:

Seu exemplo de simplicidade e

de amor, de singeleza e de fé,

contagiou numerosas criaturas,

que se entregaram ao santo

mister de regenerar almas para

Jesus.4

A interpretação de que Belémpode estar próxima a todos é inte-ressante e pode ser levada paraoutras dimensões, ampliadas pelavisão espírita. A epopeia do Natale até as homenagens simbolizadaspelo presépio devem ser encaradascom simplicidade e ternura. Sem ofoco principal na representaçãomaterial, a evocação da simbolo-

FAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

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gia da Natividade deve contribuirpara o robustecimento da mensa-gem do Cristo nos corações doshomens, inclusive nas cotidianasreuniões do Evangelho no lar.

A Espiritualidade superior temsido pródiga em elucidações so-bre o significado do Natal. En-tre muitos textos, destacamos da“Prece diante da manjedoura”, deEmmanuel:

Senhor, diante da manje-

doura em que nos descer-

ras o coração, ensina-nos

a abrir os braços para

receber-te.5

E, em outra mensagem domesmo autor espiritual:

As lembranças do Natal,

porém, na sua simplicida-

de, indicam à Terra o cami-

nho da manjedoura. [...]6

Emmanuel também comen-ta sobre a contínua busca peloCristo e até recorda as cons-tantes expectativas de muitospor um eventual retorno doCristo. O Orientador espiritualé claro:

Os homens esperam por Jesus e

Jesus espera igualmente pelos

homens.

[...]

Cristianismo significa Cristo e

nós.7

A simbologia do presépio deveser alerta e estímulo para que, acada Natal, a mensagem do Cristo

seja introjetada nos nossos cora-ções e represente o roteiro para ocaminho que devemos percorrer.Reaviva uma mensagem que já seencontra há dois mil anos entrenós. E a comemoração do Natal érealizada num momento, geral-mente, de reflexões e influxos po-sitivos, coincidindo com os pre-parativos para o novo ano, que seinicia poucos dias após as festivi-

dades do Natal. Sem dúvida, umaboa lembrança e inspiração parase refletir sobre o ano que finda eas esperanças do ingresso no AnoNovo.

É notável como “a epopeia davida do mensageiro do Cristianis-mo, Francisco de Assis, foi ummarco para a história da Humani-dade”,8 legando-nos também opioneirismo do significado da re-presentação do Natal de Cristo.

Os objetivos maiores de Franciscopara esta ação histórica são váli-dos até nossos dias, pois, indepen-dentemente de qualquer represen-tação material, o Natal deve serum reforço para as reflexões sobrea essência do Cristianismo, e –redivivo na forma do ConsoladorPrometido –, entendemos que oEspiritismo tem grande contri-buição a ser consolidada com a

Humanidade para a vivênciada paz, do bem e da simplici-dade, atuando junto a todasfaixas sociais e etárias.8

Referências:1CIANCHETTA, Romeo. A vida de São

Francisco ilustrada. Trad. Elias Augus-

to José. Assis: Ed. Litovald, 2010.

Cap. O Natal de Greccio. 2SPOTO, Donald. Francisco de Assis:

o santo relutante. Trad. S. Duarte.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

p. 292-294.3FRUGONI, Chiara. Vida de um ho-

mem: Francisco de Assis. Trad. Fede-

rico Carotti. São Paulo: Companhia

das Letras, 2011. p. 120-123.4XAVIER, Francisco C. A caminho da

luz. Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed.

3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

Cap. 18, it. Os franciscanos, p. 191.5______. Antologia mediúnica do natal.

Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. Cap. 12.6______. ______. Cap. 21, p. 58.7______. Fonte viva. Pelo Espírito Em-

manuel. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro:

FEB, 2011. Cap. 17.8CARVALHO, Antonio Cesar Perri de. A

simplicidade de Francisco de Assis. In:

Reformador, ano 129, n. 2.184, p. 34(112)-

-35(113), mar. 2011.

17Dezembro 2011 • Reformador 445555

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o mês em que celebramos oaniversário de Jesus, faz-seoportuno refletir sobre um

dos seus mais belos ensinamentos,agora relembrados por meio do Es-piritismo: o significado moral da“Lei de Justiça, Amor e Caridade”.1

De todas as Leis Morais, esta é amais importante, não só porqueengloba as demais, mas tambémporque o progresso da Humanidadedepende de sua aplicação, que tempor fundamento a certeza do futuroespiritual das criaturas. Nela repou-sam as mais sublimes aspiraçõesde felicidade do homem, por ser aque faculta a este adiantar-se cadavez mais na vida espiritual.

Por si só, a existência e o fun-cionamento das outras leis moraisconstituem a maior prova da equi-dade com que a Providência Divinacontempla suas criaturas. Entre-tanto, quis Deus que os homenstambém praticassem essas leis en-tre si, pela constante procura desseideal, no relacionamento com ossemelhantes e consigo mesmo.

Todo esse arcabouço de princí-pios morais tem como alicerce a LeiNatural, que é a Lei de Deus, a úni-ca verdadeira para a felicidade dohomem, que lhe indica “o que de-ve fazer ou não fazer” e que mos-tra que “ele só é infeliz porque de-la se afasta”.2 Instados por Kardec adizerem onde estaria escrita a Leide Deus, os Espíritos responde-ram: “Na consciência”.3

Em vista disso, o sentimento dejustiça é inato no homem, o qual serevolta com a simples ideia de umainjustiça. Esse sentimento, porém,necessita de ser aprimorado e desen-volvido pelo progresso moral, pelaprática do bem e da compreensãodos problemas humanos. Muitas ve-zes, em meio ao sentimento de jus-tiça natural, misturam-se as paixõesque induzem as pessoas ao erro.

O advento da Justiça como ins-tituição é produto da evolução dohomem. Veio para substituir o des-forço, a vingança, para que nãoprevaleça a vontade do mais fortepelo exercício arbitrário das pró-

prias razões. Entretanto, com a mul-tiplicidade dos problemas geradospela vida moderna, que afetam con-tinuamente as relações interpessoais,sentiu-se a necessidade de se apri-morar o modelo atual de Justiça,que já não mais atende às demandassociais dos tempos coevos. Afinal,a deflagração do processo judicialcontinua se assemelhando a umadeclaração de guerra, embora comarmas diferentes, que se sabe co-mo começa, mas não se sabe comoe quando termina.

A justiça humana constitui páli-do reflexo da Justiça Divina, porque,ao contrário desta, seus postuladossão mutáveis e nem sempre estãoem harmonia com as leis naturais,refletindo costumes e caracteresda sociedade de uma determinadaépoca, em que os detentores dopoder legislam em causa própria,olvidando que nem tudo que é lí-cito é honesto ou que nem tudoque é legal é moral.

Ultimamente, algumas ações têmsido tomadas, com vistas a superaro anacronismo da justiça humana.Há, por exemplo, iniciativas legaise paralegais que incentivam a con-ciliação, a arbitragem e a media-

NCH R I S T I A N O TO RC H I

Lei de Justiça,Amor e Caridade

1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 873 a 892.

2Idem, ibidem. Q. 614.

3Idem, ibidem. Q. 621.

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ção, esta última considerada poralguns especialistas como a Justi-ça do futuro. Busca-se, com essasmedidas, mitigar a presença doEstado nos litígios, auxiliando oscontendores a encontrarem porsi mesmos a solução dos conflitos,porque se firma cada vez mais oentendimento de que os cidadãossão, em última instância, os res-ponsáveis pela construção do pró-prio destino.

A justiça, na definição herdadado Direito Romano, de cunho prag-mático, é a constante e firme von-tade de dar a cada um o que é seu.A nosso ver, a acepção dada pelosEspíritos é mais abrangente e pre-cisa: “A justiça consiste no respeitoaos direitos de cada um”,4 para quecada um receba de acordo comseu merecimento.

Jesus legou-nos a base da ver-dadeira Justiça, consagrada naimorredoura lição: “[...] Desejai pa-ra os outros o que quereríeis paravós mesmos [...]”.5 Ensinou-nosque Deus imprimiu no coração dohomem essa regra áurea, fazendocom que cada um deseje ver res-peitados os seus direitos. Afinal,em condições normais, ninguémdesejaria o próprio mal. De fato,trata-se de ensinamento univer-sal. Se fosse compreendido e ob-servado fielmente, bastaria às cons-tituições dos povos adotá-lo co-mo único artigo, o que já seria su-ficiente para arrebatar todos oscódigos humanos perecíveis.

Quando estivermos em dúvidaquanto ao nosso procedimento emrelação ao semelhante, procure-mos saber como gostaríamos queo semelhante procedesse em rela-

ção a nós, em circunstância idên-tica. A resposta que encontrar-mos será a que deverá ditar nos-so comportamento em qualquercontingência.

Já o Amor resume toda a dou-trina de Jesus, por ser esse o sen-timento mais sublime, que não serestringe apenas à família, à seita,à nação, mas abrange a Humani-dade inteira. Contudo, para pra-ticá-lo, tarefa árdua e de longocurso, é preciso cultivar o Espíritocomo um campo, despertando asua centelha latente em nós, cujoreinado “é uma fatalidade histó-rica da evolução, que vai emer-gindo lentamente, à medida queo Espírito se desembaraça das suasimperfeições”.6

19Dezembro 2011 • Reformador 445577

5Idem, ibidem. Q. 876.

4KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 875.

6MIRANDA, Hermínio C. Reencarnação eimortalidade. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,2010. Cap. 23, p. 374. Apud SOBRINHO,Geraldo C. (Coord.) O espiritismo de A aZ. 4. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,2010. Verbete “Amor”, p. 53.

Page 20: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

E como fazer para atingir o idealdo amor sem jaça? Os benfeitoresespirituais ensinam que não háoutro meio senão trilhar os cami-nhos da Caridade, que abrangetrês requisitos essenciais: “Benevo-lência para com todos [inclusiveauxílio material, em casos emer-genciais], indulgência [isto é, com-preensão] para as imperfeiçõesdos outros [o que não significacumplicidade com o erro] e per-dão das ofensas”.7

Desse tripé, talvez o mais difí-cil de praticar seja o perdão, sendo,por isso, a ação mais meritória.Quem perdoa é o primeiro bene-ficiado, pois, além de não se nive-lar ao erro do adversário, libera assuas tensões e torna-se mais livre.Trata-se de um procedimentocientífico, de uma terapêutica in-falível, que nos assegura saúde fí-sica, psíquica e equilíbrio moral.Mais importante que dar coisas édar algo de si mesmo.

Tornar a pessoa dependente denosso amparo, anos a fio, não écaridade. Pelo contrário. Foi muitofeliz e verdadeiro certo pensador(anônimo para nós), ao enunciartão grande máxima: “Dê um peixea um homem e o estará alimen-tando por um dia; ensine-o a pes-car e o estará alimentando portoda a vida”.

O ano de 2001 foi escolhido pelasNações Unidas como o “Ano In-ternacional do Voluntariado”, queencontrou grande repercussão no

Brasil, não só devido à sua voca-ção de povo solidário, como tam-bém porque se apresenta comoum meio eficiente de combater amiséria e os problemas sociais queafligem nossa pátria, problemasesses que podem ser atenuadosmais eficientemente com o enga-jamento dos cidadãos, pois “é oindivíduo em última instância quefaz a diferença”.8

O voluntariado, a par de incen-tivar a solidariedade, alavanca apromoção do ser humano menosafortunado, dando-lhe condiçõesde garantir por si mesmo o pró-prio sustento, por meio da educa-ção, do ensino profissionalizantee de outras atividades úteis queo auxiliem na manutenção e lhedeem condições de vida digna.

Todavia, “a fé sem obras é irmãdas obras sem fé”,9 visto que as ati-vidades de benemerência consti-tuem apenas um meio, porquantopromoção do ser humano repousana espiritualização e na educaçãodesse mesmo ser, de edificaçãopaciente e progressiva, motivo peloqual não pode basear-se apenasna preocupação individualistados seus empreendedores, sob orisco de degenerar em persona-lismo destruidor.

Resumindo:

1. A Justiça Divina é a equidadeabsoluta. Porque não erra, também

não condena nem absolve, mani-festando-se pela lei de causa e efei-to como a mais pura: “por maisdura e terrível, é sempre a respostada Lei às nossas próprias obras”.10

2. O Amor é a pedra angular doprograma divino da educação dosEspíritos. O seu exercício despertaos mais nobres sentimentos, garan-tia da regeneração da Humanidade.

3. A Caridade é a maior dasvirtudes, porque proporciona aoshomens vivenciar o preceito fun-damental que resume os de-mais: “Amar o próximo como asi mesmo”. (Mateus, 22:37.)

Finalizando, rematamos comKardec:

O amor e a caridade são o com-

plemento da lei de justiça, pois

amar o próximo é fazer-lhe to-

do o bem que nos seja possível

e que desejaríamos que nos fos-

se feito. [...]11

Os povos cujas leis se harmoniza-rem com as leis eternas do Criadorviverão e servirão de farol para osoutros povos. Quando reinar a jus-tiça verdadeira em nossos corações,não haverá mais necessidade de tri-bunais na Terra, porque aí sere-mos juízes de nós mesmos, e en-tão haverá justiça para todos.

20 Reformador • Dezembro 2011 445588

8KANITZ, Stephen. Guia da cidadania.São Paulo: Ed. Abril, 2001. p. 74.

9XAVIER,Francisco C.Obreiros da vida eterna.Pelo Espírito André Luiz. 2. ed. esp. 2. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 12, p. 209.

10Idem. Justiça divina. Pelo Espírito Em-manuel. 13. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2010. Cap. Jornada acima, p. 225.

11KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed.1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.Comentário de Allan Kardec à q. 886.

7KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 886.

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21Dezembro 2011 • Reformador 445599

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras,sendo abomináveis e desobedientes, e reprovados para toda boa obra.”

– PAULO. (TITO, 1:16.)

Agir deacordo

Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 116.

Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo, tem papel muito

mais alto que o de simples campo para novas observações técnicas da

ciência instável do mundo.

A Terra, até agora, no que se refere às organizações religiosas, tem vivido repleta

dos que confessam a existência de Deus, negando-o, porém, através das obras

individuais.

O intercâmbio dos dois mundos, visível e invisível, de maneira direta objetiva

esse reajustamento sentimental, para que a luz divina se manifeste nas relações

comuns dos homens.

Como conciliar o conhecimento de Deus com o menosprezo aos semelhantes?

As antigas escolas religiosas, à força de se arregimentarem como agrupamentos

políticos do mundo, sob o controle do sacerdócio, acabaram por estagnar os impulsos

da fé, em exterioridades que aviltam as forças vivas do espírito.

A doutrina consoladora da sobrevivência e da comunicação entre os habitantes

da Terra e do Infinito, com bases profundas e amplas no Evangelho, floresce entre

as criaturas com características de nova revelação, para que o homem seja, nas

atividades vulgares, real afirmação do bem que nasce da fé viva.

O

Page 22: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

22 Reformador • Dezembro 2011446600

Punta del Este sediou o 1o Con-gresso Espírita Uruguaio e o 1o Con-gresso Espírita Sul-Americano, nosdias 14,15 e 16 de outubro. Os even-tos, com o tema central “Saúde eFelicidade: Desafios da Ciência e daEspiritualidade”, respectivamente,foram promovidos pela FederaçãoEspírita Uruguaia e pela Coordena-doria do Conselho Espírita Interna-cional para a América do Sul.O CineLibertador esteve lotado nas pales-tras noturnas franqueadas ao pú-blico, com a presença de quase 500congressistas inscritos. Na ceri-mônia de abertura manifestaram--se; o presidente da FEU, MirtaCal; o coordenador dos Congres-sos, Eduardo Dos Santos; o repre-sentante do CEI, Antonio Cesar Per-ri de Carvalho; o coordenador doCEI-América do Sul, Fabio Villar-raga; o representante do prefeito re-gional de Maldonado, Horácio Díaz

López; e o prefeito de Punta delEste, Martin Laventure. Houve apre-sentações de Coral e grupo de dan-ças de Maldonado e do grupo DolceCorde (de Brasília). Atuaram comoconferencistas: Antonio Sabino Lunae Gustavo Martinez (Argentina),Moacir C. de Araujo Lima e AntonioCesar Perri de Carvalho (Brasil),David Ochoa Jara (Peru), AngelicaBedoya (Chile), Fabio Villarraga eJorge Berrio (Colômbia), EduardoNani (Bolívia), José Vasquez (Ve-nezuela), Milciades Lezcano Torres(Paraguai), Marianel Gandolfo eMagdalena Roberto (Uruguai).Com-pareceram aos Congressos e tam-bém à IV Reunião da Coordena-doria do Conselho Espírita Inter-nacional para a América do Sul,que se desenvolveu durante dois dias,nas dependências do Hotel Amster-dam, representantes das Entidadesunidas ao CEI, dos países: Argentina

(Gustavo Martinez),Bolívia (EduardoNani), Brasil (Antonio Cesar Perride Carvalho), Chile (Cecilia Plaza),Colômbia (Jorge Berrio), Paraguai(Milciades Lezcano Torres),Peru (Isa-bel Loo), Venezuela (José Vasquez)e Uruguai (Mirta Cal). Como visi-tantes vieram dirigentes espíritasdo Equador. A reunião foi dirigidapelo coordenador do CEI-Américado Sul, Fabio Villarraga. Além deinformações sobre o Movimento Es-pírita de cada país,da América do Sulem geral e das atividades do CEI,foram definidos alguns planejamen-tos de ação e aprovada uma decla-ração de princípios e de ações inti-tulada “Esclarecimentos Necessá-rios sobre o Movimento Espírita”.Preliminarmente aos eventos citados,o representante do CEI e da FEB ealguns conferencistas proferirampalestras em vários centros de Mon-tevidéu e de Maldonado e conce-deram entrevistas em TVs das duascidades. A próxima reunião do CEI--América do Sul e o 2o CongressoEspírita Sul-Americano serão rea-lizados em Assunção (Paraguai),em outubro de 2013. Informações:<www.espiritismouruguay.com/congreso>; <www.intercei.com>;<www.febnet.org.br>.

e Reunião da Coordenadoriado CEI para a América do Sul

Congressos Históricos no Uruguai

Representantes dos dez países da América do Sul na abertura dosCongressos Uruguaio e Sul-Americano

Page 23: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

23Dezembro 2011 • Reformador 446611

maior parte das vicissitu-des que enfrentamos a ca-da existência procede do

egoísmo dos homens.Muitos seres pensam em si mes-

mos antes de se preocuparem comos outros e buscam, de forma de-senfreada, satisfazer aos seus dese-jos que os levam a enfrentar múl-tiplas situações para alcançaremos seus objetivos, sacrificando,muitas vezes, os interesses alheios,nas menores coisas, como nasmaiores, tanto de ordem moral,quanto de ordem material.

Na acepção moral humanista,a filosofia define o egoísmo como“amor exclusivo de si, ou seja, ati-tude de quem age tendo em vistaapenas a satisfação de seus inte-resses pessoais”, e tem seus funda-mentos, entre outros, no conceitode Kant (1724-1804): “O egoísmoé o amor de si que consiste numabenevolência excessiva para con-sigo mesmo (filautria) ou a satis-fação de si (arrogância)”.1 A atitu-de exagerada do egoísmo leva apessoa a se converter no centro domundo, sobretudo na defesa deseu ponto de vista, só se interes-

sando pelos demais se, porventu-ra, servirem aos seus proveitos.Triste evidência que a distancia daverdadeira fraternidade!

Allan Kardec, em seus estudossobre o tema, conclui que:

O egoísmo [...] se origina do

orgulho. A exaltação da perso-

nalidade leva o homem a consi-

derar-se acima dos outros. Jul-

gando-se com direitos superio-

res, melindra-se com o que

quer que, a seu ver, constitua

ofensa a seus direitos. A impor-

tância que, por orgulho, atribui

à sua pessoa, naturalmente o

torna egoísta.2

A noção de personalidade natrajetória existencial vem sendoprejudicada na justa compreensãodo que seria amealhar legítimosvalores, para autêntica edificaçãopessoal. Há um entendimentoequivocado de que “ter personali-dade” é possuir espírito crítico so-bre os indivíduos e alcançar comometa a conquista de posições denotoriedade, em ilusórios triun-fos mundanos, esquecendo-se dos

sagrados deveres cristãos, a exem-plo de amarmo-nos uns aos outros,assim como Jesus nos amou (João,13:34), condição primordial paraque possamos nos auxiliar mutua-mente. Entretanto, não é possívelexigir dos semelhantes situaçõesanálogas de indulgência, benevo-lência e devotamento para conos-co se não adotarmos regras de boaconduta para vivermos em con-córdia e solidariedade. Por quenão enaltecer a prática da humil-dade na busca da paz e da justiçaentre os homens?

Apesar de nos instruirmosacerca das coisas espirituais, dei-xamos que a vida material predo-mine sobre os nossos atos, afas-tando-nos de sentimentos eno-brecedores que nos permitiriamagir com equidade para com aspessoas. Ao cultivar o egoísmo,prejudicamos todas as demaisqualidades. O Espírito Fénelon,ao responder sobre a pergunta:“Qual o meio de destruir-se oegoísmo?”, afirma categórico:

[...] Quando, bem compreendi-

do, se houver identificado com

A

“Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas.” – Jesus. (Mateus, 7:12.)

CL A R A LI L A GO N Z A L E Z D E AR A Ú J O

A luta contrao egoísmo

Page 24: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

24 Reformador • Dezembro 2011446622

os costumes e as crenças, o Es-

piritismo transformará os hábi-

tos, os usos, as relações sociais.

O egoísmo assenta na impor-

tância da personalidade. Ora, o

Espiritismo, bem compreendido

[...] mostra as coisas de tão alto

que o sentimento da personali-

dade desaparece, de certo modo,

diante da imensidade. [...]3

No entanto, alerta-nos o pre-claro Espírito, na mesma resposta:

O choque, que o homem expe-

rimenta, do egoísmo dos outros

é o que muitas vezes o faz egoís-

ta, por sentir a necessidade de

colocar-se na defensiva. Notan-

do que os outros pensam em si

próprios e não nele, ei-lo leva-

do a ocupar-se consigo, mais do

que com os outros. Sirva de base

às instituições sociais, às rela-

ções legais de povo a povo e de

homem a homem o princípio

da caridade e da fraternidade e

cada um pensará menos na sua

pessoa, assim veja que outros

nela pensaram. Todos experi-

mentarão a influência mora-

lizadora do exemplo e do

contato [...].3

A despeito da proporção vastís-sima de progresso intelectual ob-tido até os presentes dias, benefi-ciando o avanço geral da Terra, omundo contemporâneo encontra,ainda, barreiras de preconceitosreligiosos, sociais, econômicos eculturais entre as nações, sem aju-dar os povos que enfrentam sé-rios antagonismos e lutas para ob-tenção da verdadeira liberdade.Enquanto for influenciado pelo

orgulho e pelo egoísmo, o homemservir-se-á da sua inteligência pa-ra atender às suas paixões e aosseus interesses pessoais, utilizandoos conhecimentos que amealhoupara ferir e destruir seus própriosirmãos. Só o progresso moral,pois, pode assegurar as condiçõesde paz e união entre as criaturas,conforme elucida Kardec:

Semelhante estado de coisas

pressupõe uma mudança radical

no sentimento das massas, um

progresso geral que não se podia

realizar senão fora do círculo das

ideias acanhadas e corriqueiras

que fomentam o egoísmo. [...]4

Falta, porém, a essas reformas

uma base que lhes permita de-

senvolver-se, completar-se e con-

solidar-se; falta uma predisposição

Page 25: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

moral mais generalizada, para

fazer que elas frutifiquem e sejam

aceitas pelas massas. Não deixa

de ser um sinal característico da

época, o prelúdio do que se efe-

tuará em mais larga escala, à

medida que o terreno se for tor-

nando mais favorável.5

Amar, em seu sentido amplo, “éo homem ser leal, probo, cons-ciencioso, para fazer aos outros oque queira que estes lhe façam[...] é considerar como sua a gran-de família humana”.6 Essa famílianós a encontraremos quando evo-luirmos e partirmos para mundosmais adiantados, unindo-nos, in-tegralmente, às criaturas.

Mesmos conscientes das suasresponsabilidades em prol da cau-sa espírita, determinados tarefei-ros deixam-se influenciar por essedano, prejudicando nobres tare-fas, em meio às dificuldades quesurgem, ao exigirem para si ovalor e a importância dos quais seacham investidos. Allan Kardec,ao transmitir votos de boas-festasaos espíritas de Lyon, na França,no ano de 1862, discorre sobre osobstáculos e desafios enfrentadospor aqueles que se empenham emdefender a Doutrina e destaca osperigos do egoísmo, ao observarde forma explícita:

A natureza dos trabalhos espíri-

tas exige calma e recolhimento.

Ora, não há recolhimento pos-

sível se somos distraídos pelas

discussões e pela expressão de

sentimentos malévolos. [...] mas

não pode haver fraternidade

com egoístas, com ambiciosos e

orgulhosos. Com orgulhosos,

que se escandalizam e se melin-

dram por tudo; com ambiciosos,

que se decepcionam quando não

têm a supremacia, e com egoístas

que só pensam em si mesmos, a

cizânia não tardará a ser intro-

duzida e, com ela, a dissolução.

[...] Todo grupo que se formar

sem ter por base a caridade efe-

tiva, não terá vitalidade, ao passo

que os que se fundarem segundo

o verdadeiro espírito da doutri-

na olhar-se-ão como membros

de uma mesma família [...].7

Ao versar sobre o problema da“vitória sobre nós mesmos”, oautor espírita Indalício Mendes(1901-1988), em um de seus arti-gos,8 cita o personagem da mito-logia grega Sísifo, rei de Corinto,em a Odisseia, que teria sido con-denado por Hades, rei dos mor-tos, a empurrar uma imensa pedra,ladeira acima, até o topo de umamontanha, sem jamais conseguirconcluir o trabalho, uma vez quea pedra, antes de chegar ao cume,sempre rola declive abaixo, exi-gindo o recomeço da empreitada.O autor compara a “grande pe-dra” com as imperfeições huma-nas,“eternizando a nossa ingente edolorosa tarefa de reconduzi-la aoponto de onde caiu”.8 Assim acon-tece na luta travada contra o egoís-mo, que parece ser infindável; con-seguimos, por vezes, dominar es-se mal, que volta a nos atingir naprimeira circunstância desfavo-rável, fazendo-nos recomeçar aingente batalha de onde paramos.

“[...] O egoísmo é, pois, o alvopara o qual todos os verdadeiroscrentes devem apontar suas ar-mas, dirigir suas forças, sua cora-gem [...].”9 Sigamos o Espiritismoque nos ensina a não negligenciarno aproveitamento efetivo daslições proporcionadas pela exis-tência atual, melhorando-nos, semprocrastinar o bem que nos cabefazer, em nome da Doutrina doAmor e do Evangelho.

Referências:1JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo.

Dicionário básico de filosofia. 5. ed. Rio

de Janeiro: ZAHAR, 2008. p. 82.2KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.

Guillon Ribeiro. 2. ed. bolso. 1. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2011. P. 1, cap. O egoís-

mo e o orgulho – Suas causas, seus efei-

tos e os meios de destruí-los, p. 237.3______. O livro dos espíritos. Trad.

Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2010. Q. 917.4______. A gênese. Trad. Evandro Noleto

Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,

2011. Cap. 18, it. 20.5______. ______. It. 21.6______. O evangelho segundo o espiritis-

mo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 11, it. 10.7______. Resposta dirigida aos espíritas

lioneses por ocasião do ano-novo. In: Revista

espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 5,

p. 61, fev. 1862. Trad. Evandro Noleto Bezerra.

3. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.8MENDES, Indalício. Rumos doutrinários.

3. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

Cap. Conduta do espírita, it. A vitória

sobre nós mesmos, p. 81.9KARDEC, Allan. O evangelho segundo o es-

piritismo. Trad. Guillon Ribeiro, 130. ed. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 11, it. 11.

25Dezembro 2011 • Reformador 446633

Page 26: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

26 Reformador • Dezembro 2011446644

ão indagações que com-põem o título de belíssimapágina doutrinária escrita

pelo espírita Pedro de Camargo(1878-1966), mais conhecido comoVinícius, encontrada em seu livroEm Torno do Mestre, publicado pelaFEB em 1939, cuja última edição, anona, data de 2009. Com admirávelcriatividade, o autor analisa o sig-nificado e o contexto do nascimen-to do Cristo, utilizando a entrevistacomo recurso literário, então dire-cionada a sete conhecidas persona-lidades do Evangelho, tendo comoreferência este registro evangélico:

O verbo se fez carne e habitou

entre nós, cheio de graça e ver-

dade, e vimos a sua glória como

de unigênito do Pai. Mas a to-

dos os que o receberam, aos

que creem em seu nome, deu

Ele o direito de se tornarem fi-

lhos de Deus; os quais não nas-

ceram do sangue, nem da von-

tade da carne, nem da vontade

do homem, mas sim de Deus.

(João, 1:4.)

A íntegra da entrevista de Vinícius, com destaques nossos,é a que se segue:

Perguntemos a Paulo – onde e

quando Jesus nasceu? Ele nos

dirá: Foi na estrada de Damasco,

quando eu, então intolerante e

fanatizado por uma causa ingló-

ria, me vi envolvido na sua divi-

na luz. Dali por diante – “já não

sou eu mais que vive, mas o

Cristo é que vive em mim”.

Indaguemos de Madalena, on-

de e quando nasceu Jesus. Ela

nos informará: Jesus nasceu em

Betânia, certa vez em que sua

voz, ungida de pureza e santida-

de, despertou em mim a sensa-

ção de uma vida nova, com a

qual, até então, jamais sonhara.

Ouçamos o depoimento de Pe-

dro, sobre a natividade do Senhor,

e ele assim se pronunciará: Jesus

nasceu no átrio do paço de Pilatos,

no momento em que o galo, can-

tando pela terceira vez, acordou

minha consciência para a verda-

deira vida. Daí por diante, nunca

mais vacilei diante dos potenta-

dos do século, quando me era dado

defender a Justiça e proclamar a

verdade, pois a força e o poder do

Cristo constituíram elementos

integrantes de meu próprio ser.

Chamemos à baila João Evan-

gelista e peçamos nos diga o que

sabe acerca do natal do Messias,

e ele nos dirá: Jesus nasceu no dia

em que meu entendimento, ilu-

minado pela sua divina graça,

me fez saber que “Deus é amor”.1

Dirijamo-nos a Zaqueu, o pu-

blicano, e eis o seu testemunho:

Jesus nasceu em Jericó, numa es-

plêndida manhã de Sol, quando

eu, ansioso por conhecê-lo, subi

numa árvore, à beira do cami-

nho por onde Ele passava, con-

tentando-me com o ver de longe.

Eis que Ele, amorável e bom, ace-

na-me, dizendo: “Zaqueu, desce,

importa que me hospede conti-

go”. Naquele dia entrou a salva-

ção no meu lar.

Interpelemos Tomé, o incrédulo:

Quando e onde nasceu o Mestre?

Ele, por certo, retrucará: Jesus

S

Em dia com o Espiritismo

MA RTA AN T U N E S MO U R A

Cristo nasceu?Onde? Quando?

Capa

Page 27: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

nasceu em Jerusalém, naquele dia

memorável e inesquecível em que

me foi dado testificar que a morte

não tinha poder sobre o Filho de

Deus. Só então compreendi o sen-

tido de suas palavras: “Eu sou o

Caminho, a Verdade e a Vida”.

Apelemos, finalmente, para Di-

mas, o bom ladrão: Onde e quan-

do Jesus nasceu? Ele nos infor-

mará: Jesus nasceu no topo do

Calvário, precisamente quando a

cegueira e a maldade humanas

supunham aniquilá-lo para sem-

pre; dali Ele me dirigiu um olhar

repassado de piedade e de ternu-

ra, que me fez esquecer todas as

misérias deste mundo e antegozar

as delícias do paraíso. Desde lo-

go, senti-o em mim e eu nele.2

As respostas transmitidas pelosentrevistados nos fazem ver queo nascimento do Cristo, o local e adata, representam, efetivamente,o exato momento do despertar danossa consciência para a sublimi-dade do Amor, ensinado e exem-plificado por Jesus.

Para a Doutrina Espírita, Jesusé e sempre será “o tipo mais per-feito que Deus já ofereceu ao ho-mem para lhe servir de guia emodelo”.3 É válido, porém, deixarregistrado que no meio acadêmi-co e entre os historiadores doCristianismo configura-se novametodologia de estudo da figuraímpar de Jesus, denominada JesusHistórico. Trata-se de estudo críti-co que não considera os axiomasreligiosos e teológicos tradicio-nais nem os determinismos bíbli-cos que, na generalidade, revelam

o Mestre Nazareno como o Filhode Deus ou o Messias prometidopara a salvação da Humanidade.Embora as reconstruções históri-cas variem, são concordantes emdois pontos: Jesus era um rabinojudeu, que atraiu um pequeno gru-po de galileus e, após um períodode pregação, foi crucificado pelosromanos na Palestina, sob insti-gação dos sacerdotes judeus, du-rante o governo de Pôncio Pilatos.

A busca pelo Jesus Histórico foiiniciada pelo filósofo deísta ale-mão Hermann Samuel Reimarus(1694-1768) que, junto com ou-tros estudiosos, passaram a duvi-dar da historicidade relatada pelostextos sagrados, aceita sem con-trovérsias até o século XVIII,quando surgiu o movimento ilu-minista na Europa. Após a Primei-ra Guerra Mundial, os teólogosalemães Martin Dibelius (1883--1947) e Rudolf Karl Bultmann(1884-1976) compararam a men-

sagem original de Jesus (do NovoTestamento) à de outros textos,provenientes da época da igrejaprimitiva, identificando pontosconcordantes e discordantes. Em-pregaram, então, dois métodospara chegarem às conclusõesfinais, publicadas posteriormen-te: a) Redação criticista – trata-sede uma investigação a respeito decomo cada escritor do Evangelhocompilou seu livro, seguida decomparação com outros escritose, também, com fontes orais; b)Crítica formal – concluíram que osevangelhos (segundo Mateus, Mar-cos, Lucas e João) não foram escri-tos completos, originalmente, talcomo os conhecemos nos diasatuais. Na verdade, são coleções defatos separados, de tradições orais,mitos ou parábolas, proposital-mente agrupados para formaruma coletânea, artificialmente ela-borada, e destinada a divulgar prá-ticas da igreja antiga. Dessa forma,

27Dezembro 2011 • Reformador 446655

Capa

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28 Reformador • Dezembro 2011446666

a crítica formal tenta reconstruiros episódios originais, separando oque é fato histórico e o que é in-clusão artificial. Há outro pontorelevante: na busca pelo Jesus His-tórico, alguns estudiosos funda-mentam-se na chamada Fonte Q(de Quelle, nome alemão parafonte), uma coleção de Ditos deJesus, que é uma tradição, oral ouescrita – não se sabe ao certo –amplamente difundida no mundocristão da primeira metade doséculo I, e que serviu de base paraa escritura dos evangelhos sinóti-cos, assim como para alguns apó-crifos. Sendo assim, o documentoQ, ou fonte Q, é hipoteticamenteconsiderado como sendo o pri-meiro texto evangélico escrito, eque teria sido utilizado, mais tar-de, por Mateus e Lucas, mas nãopor Marcos, na redação dos seusescritos, fato que justificaria ascoincidências presentes no Evan-gelho de Lucas e de Mateus, e asdiferenças com o de Marcos.

Em suma, munidos dos novos

instrumentos da pesquisa ho-

dierna, tais como história antiga,

crítica literária, crítica textual,

filologia, papirologia, arqueolo-

gia, geografia, religião compa-

rada, os atuais pesquisadores

tentam reconstruir o ambiente

sociocultural de Jesus, de modo

a experimentar o efeito que as

palavras do Mestre produziram

nos ouvintes da sua época.

Nesse esforço, procura-se evitar

juízos preconcebidos, premissas

rígidas, preconceitos étnicos,

deixando que a mensagem se

estabeleça ainda que contraria-

mente às expectativas dos cren-

tes atuais. No entanto, ao mon-

tar o quebra-cabeça da história

do Cristianismo Primitivo com

as escassas peças disponíveis,

nem sempre é possível ao pes-

quisador humano dispensar cer-

ta dose de imaginação.4

Uma evidência poderosa já sedestaca das conclusões dos pes-quisadores: a grandeza do Cristo ea sublimidade da sua mensagem.Parâmetros pelos quais devemosnos guiar, sem jamais perder devista qual é a plataforma do Mes-tre, como ensina Emmanuel:

Anunciou-nos a celeste revelação

que Ele viria salvar-nos de nossos

próprios pecados, libertar-nos da

cadeia de nossos próprios erros,

afastando-nos do egoísmo e do

orgulho que ainda legislam para

o nosso mundo consciencial.5

Assim, ante a bênção de maisum Natal, enderecemos ao Mestrea nossa eterna gratidão, louvan-do-o por meio dos vibrantes sen-timentos do poeta Amaral Ornel-las, expressos no poema AnteJesus, reproduzido nesta página.6

Referências:1VINÍCIUS. Em torno do mestre. 9. ed. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.

Cristo nasceu? Onde? Quando?. p. 236.2_____. _____. p. 236-237.3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 625.4DIAS, Haroldo Dutra. Cristianismo redivi-

vo: história da era apostólica, Novas per-

guntas. In: Reformador, ano 126, n. 2.146,

p. 34(32)-36(34), jan. 2008.5XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo

Espírito Emmanuel. 27. ed. 3. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 174, p. 386.6_____. Antologia mediúnica do natal.

Por Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janei-

ro: FEB, 2009. Cap. 69.

Capa

Ante JesusEis que passa no tempo a imensa caravana A multidão revel que humilhada se agitaReis, tiranos e heróis, rondando a turba aflitaE fugindo à verdade augusta e soberana.

Sobre carros triunfais, a treva se engalana...E a mendaz ilusão freme, goza e palpitaPara rojar-se, após a miséria infinita,Na cinza a que se acolhe a majestade humana.

Mas Tu, Mestre da Paz, que a bondade ilumina,Guardas, imorredoura, a grandeza divina,Sem que o lodo abismal te ofenda ou desconforte.

Tudo passa, descendo à sombra do caminho,Mas no sólio da cruz inda imperas sozinho,Na vitória do amor que fulge além da morte.

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29Dezembro 2011 • Reformador 446677

resenciamos uma épocaincomum da História, emface dos avanços nas rela-

ções do homem com seu trabalhoprofissional, com leis que res-guardam as necessidades funda-mentais do trabalhador, seu direi-to ao repouso, à assistência nasadversidades da saúde; no entan-to, ainda encontramos rupturasdesses direitos e injustiças sociais,gerando tensões e conflitos nasociedade.

Por outro lado, habitualmente,julgamo-nos demasiadamente su-periores e qualificados ao traba-lho que o mercado nos oferece,gerando em nós insatisfações edesânimo. Então, como procederquando não estivermos inseridosno labor a que nos afeiçoamos?

Com Jesus aprenderemos o maiselevado padrão de conduta.1 Nin-guém, como Ele, apresentou aomundo tão belo exemplo sobrecomo viver de forma prazerosa,usufruindo a alegria da existência,independentemente do cenário ex-terno que se nos afigure. E, no to-cante ao lavor, nos ofereceu a su-blime lição de que mais importan-te que trabalharmos na área que

amamos, é sempre amarmos a áreana qual estivermos trabalhando.

Malgrado fosse o Excelso Go-vernador da Terra, além do mais,cocriador planetário muito antesde sua gênese, habituado ao con-tato com outros Espíritos purosem assembleias realizadas no cen-tro do sistema solar,2 até iniciar asua tarefa messiânica neste Orbe,exerceu Jesus o nobre e humildeofício de carpinteiro, na cidade deNazaré da Galileia, tendo apren-dido desde a infância a arte dacarpintaria com seu pai, o tam-bém carpinteiro José,3 como erada tradição judaica desde eras maisremotas.

Revelou-nos o Espírito Hum-berto de Campos4 que os douto-res do Templo de Jerusalém infor-maram a Maria, mãe de Jesus, te-rem ficado muito interessados noingresso do menino Jesus nasescolas rabínicas, tendo em vistaa forte impressão que neles deixara,após as inteligentíssimas respos-tas apresentadas a esses douto-res da Lei, por ocasião de seu BarMiztvah, aos 12 (para 13) anos.4

Essa profissão era a mais cobiçadapela sociedade hebraica, consti-

tuindo motivo de orgulho fami-liar e garantia de um futuro bri-lhante. Não obstante, o jovemJesus, sem ter sido informado porsua mãe sobre seus planos, combonomia e resolução ponderou:

– “Mãe, toda preparação útil e

generosa no mundo é preciosa;

entretanto, eu já estou com

Deus. Meu Pai, porém, deseja

de nós toda a exemplificação

que seja boa, e eu escolherei,

desse modo, a escola melhor”.4

Assim, apresenta-se, humílimo,ao seu pai José, como ajudante decarpintaria, trabalho rude e pesa-do, inundando aquela oficina comsua alegria transbordante de vida.

Permitindo-nos a liberdade defazer um exercício de imaginação,poderemos, sem dificuldade, vi-sualizar o obediente e doce meni-no reproduzindo os cuidados deseu pai com a madeira, habilmen-te manipulando o prego, o marte-lo, o cinzel e o enxó, bem como ojúbilo no rosto de José ao obser-var as mãos suaves do sublime ar-tífice produzirem belas peças, ha-bilmente entalhadas no madeiro.

Amor à profissãoAprendendo com Jesus

PFA B I A N O P. NU N E S

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30 Reformador • Dezembro 2011446688

Oportuno imaginarmos a bele-za das obras em lenho elaboradaspelo jovem carpinteiro de Nazaré,posto que viriam a ser reconhe-cidas não só na sua cidade, comotambém nas redondezas, hajavista que na Galileia, ao apresentar--se na sinagoga como o Messias es-perado pelo povo hebreu,5 mara-vilhando a todos ao ensinar sobreo Reino de Amor, fora prontamen-te identificado pelo seu ofício:

– Não é este o carpinteiro, filho

de Maria e irmão de Tiago e de

José, e de Judas, e de Simão? E

não estão aqui conosco suas ir-

mãs? E escandalizavam-se nele.6

O amor permeou todos os mo-mentos da vida terrestre do Cris-to, porquanto, também permearasua dedicação à carpintaria e aomadeiro, amando seu pesadíssi-mo ofício. Somente um grande

amor poderia explicar a manu-tenção de seu entusiasmo conta-giante num trabalho tão penoso,mormente por estar habituado àculminância da luz.

Quantas vezes, entressonhamos,o lenho não teria ferido as mãoscariciosas do jovem moveleirogalileu? No entanto, quem amaperdoa. E Jesus, por ter elevado operdão ao grau de excelência,também prosseguiu amando aarte na carpintaria até começarsua obra de redenção da Humani-dade, tornando-se o inolvidávelartífice da alma humana, passan-do a exercer outro ofício de eleva-da relevância: Rabi, Mestre, Pro-fessor, enfim, Educador de almas.

Seu afastamento do madeiro,entrementes, não perduraria pormuito tempo: menos de três anos.

Em três anos prosseguiu, comoum hábil Mestre, trabalhando aspalavras com grande arte – qual

fizera ao madeiro – encantando ecomovendo com a simplicidade deseus ensinos, criando parábolas, queficaram gravadas na memória pormais de 20 séculos. Artista genial,lapidou a pedra bruta do coraçãohumano, elevando os sentimentosaos patamares diamantinos.

Ao findar seu ministério deamor e caridade naquela existên-cia planetária, nunca por acaso,volveria a ter contato com o mar-telo, os pregos e o lenho.

Ele, o amigo devotado e incansá-vel, fora levado a uma condenaçãode morte infamante e cruel – a cru-cificação, uma pena aplicada ape-nas aos soldados romanos deser-tores e aos mais vis criminosos –sofrendo as dores mais acerbas jus-tamente através do madeiro,dos pre-gos e do martelo que tanto amara.7

Depois da ignominiosa aplica-ção do flagrum, o amorável rabiabraçou e carregou o patibulum da

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cruz, a haste horizontal de madeiraonde os punhos eram pregados noprocesso de crucificação, pesandode 34 a 57kg, do praetorium até oGólgota, por mais de 600 metros.7

Seu estado de saúde achava-setão crítico que caíra por três ve-zes durante esse trajeto, só conse-guindo atingir o Monte da Caveiragraças ao auxílio de Simão de Ci-rene.8 Não obstante ao cair no so-lo, já em estado de anemia agudae choque hipovolêmico,7 susten-tou o madeiro horizontal dacruz, não permitindo que tam-bém caísse: ensinou ao mundo in-teiro que qualquer homem podesofrer quedas, mas a tarefa anela-da, a missão confiada, essa jamaispoderá desmoronar-se. Seu corpoderreara ao solo, mas seu elevadoideal permanecera imarcescível.

Ademais, na condição de car-pinteiro transcendental, não po-deria permitir a queda do lenhoao solo.

Quanto à forma pela qual Jesustivera seus punhos e tornozelospregados ao madeiro, o qual tantoamara, dados arqueológicos de res-tos de corpos crucificados, achadospróximos a Jerusalém e datados daépoca de Cristo, indicam que seutilizavam pregos de ferro, afilados,que possuíam aproximadamentede 13 a 18cm de comprimento,com a cabeça quadrada tendo cercade 1cm de largura.7

Dessa forma, o meigo carpin-teiro da Galileia, ao ser pregado àcruz, transformara essa morte in-famante numa epopeia celestial,exemplificando o amor, a fideli-dade aos amigos e aos ideais, e o

perdão – elevados ao mais altograu em toda a História da Civili-zação. Entretanto, a despeito daoprobriosa condenação, Jesus abra-çara e, em plenitude, nela se inte-grando, as ferramentas – o marte-lo, os pregos e a madeira – da no-bilíssima arte à qual tantas vezesse dedicara.

Por conseguinte, amar o traba-lho, por mais árduo e entedianteque possa se nos apresentar,transformá-lo em motivação no-bre, conquanto não seja aqueleanelado por nossos mais altos so-nhos, sobretudo, permeá-lo emarte: eis mais um dos inesquecí-veis ensinos do carpinteiro deDeus, em prodigiosa consonânciacom os desafios da vida moderna.

Não se preocupe em fazer oque ama, porém, ame o que faz!Medite nisso!

Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91. ed.

2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 625.2XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.

Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 3. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 1.3MATEUS, 13:55.4XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Es-

pírito Humberto de Campos. 3. ed. esp. 4.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 2.5LUCAS, 4:21-22.6MARCOS, 6:3.7EDWARDS, W. D.; GABEL, W. J.; HOSMER,

F. E. On the physical death of Jesus Christ.

In: The journal of the american medical

association (JAMA). (Trabalho científico

publicado pelo Departamento de Patologia

da Mayo Clinics, Rochester, Minn, EUA),

1986, mar. 21, v. 255, n. 11, p. 1455-1464.8XAVIER, Francisco C. A vida conta. Pelo

Espírito Maria Dolores. 3. ed. Rio de Ja-

neiro: CEU, 1984. Cap. 11.

31Dezembro 2011 • Reformador 446699

Retorno à Pátria Espiritual

Norberto PásquaNo dia 8 de novembro desen-

carnou Norberto Pásqua, emBrasília. O companheiro conta-va 80 anos e foi assessor jurídicoda FEB, onde também ocupou ocargo de diretor, sendo atual-mente assessor da presidência.Foi um dos fundadores e exer-ceu a presidência do Grupo Luze Cura, com sede em Sobra-dinho (DF), que mantém umLar para crianças denominado

Jesus Menino. Norberto milita-va desde jovem no Movimen-to Espírita, tendo participadode antigos eventos de MocidadesEspíritas nas décadas de 1950 e 1960, como as COMBESPs e a I COMJEB, e com atuação emGuaxupé (MG).

Ao caríssimo confrade Nor-berto, em seu retorno à PátriaEspiritual, rogamos as bênçãosde Jesus!

Page 32: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

32 Reformador • Dezembro 2011447700

A FEB e o Esperanto

número de junho de 2011 da revista Mo-nato, publicada mensalmente em esperanto(Frankrijklei 140, B-2000 Antuérpia, Bélgica

<[email protected]>), apresenta interessante ma-téria, da autoria de Jacques A. Tuinder, sobre umaatividade social apoiada nos ideais que dão consis-tência ao esperantismo e que se resumem na divisaJustiça e Fraternidade entre todos os povos.

Jacques Tuinder é o presidente, desde a sua funda-ção, da organização que patrocina esse empreendi-mento. É assistente social e representa a AssociaçãoUniversal de Esperanto (Universala Esperanto-Aso-cio), sediada em Rotterdam, Holanda <[email protected]> e <www.uea.org>, como delegado da cidade deHeemskerk, Holanda, e delegado especializado emecumenismo e assistência a deficientes visuais.

Em 1966, sensibilizado por uma campanha para aerradicação de deficiências visuais perfeitamente sa-náveis e inspirado na vida missionária de Lázaro LuísZamenhof, o criador do Esperanto, que, entre outraspráticas beneficentes, dedicava gratuitamente parteda sua prática como oculista ao socorro dos necessi-tados, Jacques e sua esposa Vera decidiram-se por se-guir-lhe os nobres exemplos.

Iniciando sua tarefa caritativa pelo continente afri-cano, verificam que com modestos recursos era possíveloperar portadores de catarata. Aliciam então um bomnúmero de esperantistas receptivos à ideia e, em novem-bro de 1966, servindo-se de órgãos da imprensa doesperanto, lançam a convocação “Esperantistoj, EsperiguEsperantojn” (“Esperantistas, deem Esperança aos queEsperam”), de que surge o movimento “Agado E3”(AçãoE3), sempre se sustentando na afirmação:

O que há de melhor e mais belo do que dar luz aos

que continuamente, mas sem necessidade, vivem em

eterna noite?

Até 1991, a atividade se limitou à África: Quênia eMaluí (clínicas itinerantes), Camarões (hospital deolhos com 40 leitos), Gana (ótica), Marrocos, Áfricado Sul e Tanzânia (instrumental para tratamentooftalmológico), estendendo-se posteriormente aregiões da Albânia, Bulgária, Kosovo, Moldávia, Ru-mânia, Rússia, Sri Lanka e Tadjiquistão.

Esse movimento que, a partir de 1991, tem o seunome mudado para “Fonda5o EvidEntE”, ainda con-servando, portanto, os três “E”, é sustentado por doaçõese subvenções que se canalizam direta e integralmen-te para os projetos, cuja execução é realizada exclusi-vamente por voluntários, sem qualquer remuneração.

A ação se ampliou e hoje visa ao socorro dos desvali-dos de toda sorte, exercendo-se principalmente sob aforma de missões com oculistas e óticos, ensino a criançascom deficiência visual, recapacitação,moradia,abrangen-do os que dependem de “lixões”para viver, presidiários,instituições para deficientes e idosos, orfanatos, empreen-dimentos sociais, hospitais psiquiátricos, entre outros.

Os esperantistas convidam a “EvidEntE” com fre-quência, disponibilizam suas instituições, assistem aequipe de voluntários em suas atividades, acompa-nhando-os e, principalmente, servindo-lhes de intér-pretes junto aos assistidos.

Jacques Tuinder já atingiu a respeitável idade de78 anos e deseja “passar o archote” para outro volun-tário coidealista, mas enquanto não se apresenta umcandidato, ele permanece no seu posto, na continui-dade das tarefas EEE que, diga-se de passagem, estábem em sintonia, sem que ele sequer o tenha suspei-tado, com o nosso EEE – Evangelho, Espiritismo,Esperanto –, igualmente impregnado dos ideais dadivisa espírita: Trabalho, Solidariedade, Tolerância.

Os ideais do esperanto têm inspirado, em todo omundo, movimentos e obras beneficentes de pro-fundo alcance social.

Esperanto e Esperantismo

OAF F O N S O SOA R E S

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No Brasil, funciona a “Fazenda-Escola Bona Es-pero”, em Alto Paraíso de Goiás (GO), distante412km de Goiânia e 250km de Brasília. Bona Es-pero, como é conhecida mundialmente, está desde1974 sob a direção do casal esperantista-espíritaGiuseppe e Úrsula Grattappaglia, que tambémcontam, em sua administração, com a valiosacolaboração da professora Adarci Ferreira deSouza, ex-aluna da Instituição.

Estatutariamente, é uma organização bilíngueque “protege, educa e promove atividades culturaisem âmbitos nacional e internacional através do usoda Língua Internacional Neutra, trazendo novosconhecimentos para a região e, assim, formandonas novas gerações uma consciência de cidadaniamundial”.

Bona Espero acolhe crianças de 5 a 13 anos, envia-dos pela Promotoria e Conselho Tutelar das cidadesde Alto Paraíso e Cavalcante, após a constatação deque viviam em situação de risco, sofriam abuso se-xual, dormiam em banheiros de rodoviárias, enfim,viviam em miséria moral e material.

Finalizamos, transcrevendo, em tradução do espe-ranto, este trecho do discurso com que Zamenhofpromoveu a abertura do 2o Congresso Universalde Esperanto, realizado em 1906, na cidade suíça deGenebra:

Se nós, os que trabalhamos em favor do Esperanto,

demos voluntariamente ao vasto mundo o pleno

direito de considerá-lo tão somente de um ponto de

vista prático e usá-lo em seu proveito próprio, isso

naturalmente não dá a ninguém o direito de exigir

que o tenhamos como algo de natureza exclusiva-

mente prática. Infelizmente, nos últimos tempos,

entre os esperantistas, se fizeram ouvir vozes a dizer:

“O Esperanto não é mais do que uma língua; evitem

associar, mesmo em caráter particular, o esperantis-

mo a qualquer ideia, pois de outro modo pensarão

que todos comungamos com essa ideia e, assim, desa-

gradaremos a diversas pessoas que não simpatizam

com ela”. Oh, que palavras! Pelo receio de que talvez

não venhamos a agradar àqueles que só querem usar

o Esperanto para objetivos práticos, deveremos todos

então arrancar de nosso coração aquela parte do

esperantismo que é a mais importante, a mais sagra-

da, aquela que se fez o alvo principal da causa espe-

rantista, a estrela que sempre orientou todos os que

militam em favor do Esperanto! Oh, não, não, nunca!

Com enérgico protesto, repelimos tal exigência. Se

nos obrigarem a nós, os trabalhadores da primeira

hora do Esperanto, a que em nossas atividades evite-

mos tudo o que seja de natureza ideal, então, indigna-

dos, rasgaremos e queimaremos tudo o que escreve-

mos em favor do Esperanto, anularemos com pesar os

trabalhos e sacrifícios de toda a nossa vida, jogaremos

longe a estrela verde que está em nosso peito e excla-

maremos com repulsa: “Com um tal Esperanto, que

deve servir exclusivamente a objetivos de comércio e

utilidade prática, nada queremos ter em comum!”.

Participantes do 2o Congresso Universal de Esperanto, em GenebraIlu

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Page 34: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

No dia 28 de outubro, realizou--se a Reunião da Coordenadoriado Conselho Espírita Internacionalpara a Europa, nas dependênciasdo Hotel Premium Porto Maia, nacidade de Maia, região doGrande Porto (Portu-gal). Foram tratadosvários temas ligadosao Movimento Espí-rita na Europa; in-formações sobre asações nos países esobre eventos progra-mados pelo CEI para osanos próximos. A Reu-nião foi dirigida porCharles Kempf, coorde-nador do CEI para a Europa, e con-tou com a presença do secretário--geral do CEI, Nestor João Masotti.Compareceram representantes dospaíses: Alemanha, Itália, Portugal,

Reino Unido, Suécia e Suíça. Dival-do Pereira Franco compareceu aofinal da Reunião e recebeu psico-fonicamente a mensagem “Trava--se a Grande Batalha”(veja a seguir).

Nos dias 29 e 30 de outu-bro,ocorreu o VIII Con-

gresso Nacional de Es-piritismo, promo-vido pela Federa-ção Espírita Portu-guesa. Tendo como

tema central “A NovaEra. São chegados os

tempos”, proferiram pa-lestras: Divaldo PereiraFranco, José Raul Teixeirae dezenas de expositores

portugueses. O presidente da FEB esecretário-geral do CEI, Nestor JoãoMasotti, compareceu ao evento.Informações: <www.intercei.com>,<[email protected]>.

Trava-se a Grande Batalha

Meus filhos:Permaneça conosco a paz do

Senhor!Vivemos o abençoado momento

das definições no mundo, quandoo planeta de provas e expiações, es-tertorando, transita para o mundode regeneração.

Convulsões internas e desafiosexternos acumulam-se em todaparte.

As dores acerbas convidam ascriaturas humanas, ricas de ciênciae de tecnologia, às provas de amor,às reflexões profundas em tornodos objetivos essenciais da exis-tência humana.

Anunciadas desde os dias glorio-sos do Senhor entre nós, cantandoas grandezas do seu Evangelho, tor-nam-se realidade neste período,

Conselho Espírita Internacional

Reunião da Coordenadoriado Conselho Espírita

Internacional da Europa

Representantes dos países na Reunião da Coordenadoria do CEI para a Europa

Saudação do presidentreda FEB na abertura doCongresso Português

34 Reformador • Dezembro 2011447722

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quando os cristãos novos são con-vocados às definições exaradas nasua palavra libertadora.

É compreensível que o fato aflitivoconduza os sentimentos, algo estio-lados, ao desespero, por falta de re-sistência moral de alguns dos encar-regados da preparação da Era Nova.Nada obstante, é em momento dessanatureza, que se podem avaliar oslegítimos valores do caráter, da per-sonalidade, do ser interior.

O Espiritismo veio para, no mo-mento grave das dores, consolar asalmas aturdidas. Não somente, po-rém, para enxugar-lhes o pranto eo suor, mas principalmente paraapontar-lhes a via de segurança afim de alcançar o objetivo libertador.

Quando o Mestre prometeu oParacleto, asseverou que ele enxuga-ria as lágrimas. Entretanto, traçariaroteiros novos e apresentaria formu-lações desconhecidas, repetindo aslições originais, e Allan Kardec, ovaso escolhido, desincumbiu-se danobre tarefa coroado pelo sacrifício,pela abnegação e pela entrega total.

Passaram-se mais de 150 anosdesde as primeiras clarinadas deluz, e nesse período surgiram asdificuldades, os problemas huma-nos somados às necessidades daevolução ante o programa de ilu-minação de consciências.

Tendes compreendido que setorna necessária a entrega pessoalcom todo amor ao trabalho dedignificação humana.

Já demonstrastes a fidelidadepossível ao labor designado peloMestre incomparável…

Conduzindo a Terra aos subli-mes páramos, permaneceis cons-

cientes das responsabilidades quevos dizem respeito, e vindes desin-cumbindo-vos do compromissocom a retidão possível e, portanto,indispensável.

Permaneceis fiéis, mesmo sob aschuvas de calhaus, de infâmias e dedificuldades que se transformamem tempestades ameaçadoras...

É necessário confiar, sem que odesânimo tome conta dos vossosideais.

Jesus confia em nós na razãodireta em que nos entregamos aoseu comando.

Se, sob um aspecto, as dores apre-sentam-se mais terríveis do queantes, por outro lado, a claridadedo Evangelho já oferece a alegriade proporcionar a antevisão dosporvindouros dias.

Mantende a chama da fraterni-dade acesa nos corações a qualquerpreço da verdade e do entusiasmo,a fim de que os enfraquecidos naluta retemperem o ânimo e pros-sigam, mesmo que tenham os joe-lhos desconjuntados.

Reuniões como estas devem re-petir-se amiúde, para que quais-quer problemas sejam equaciona-dos por intermédio da comunhãofraternal e do direcionamento parao Bem.

É natural que, muitas vezes, sur-jam divergências opinativas quese não devem constituir motivo dedissensão pessoal.

Cada criatura tem uma percep-ção muito especial, que lhe corres-ponde ao nível de evolução, e écompreensível que não veja de ma-neira igual aquilo que outros con-seguem observar.

Somente marchando de mãosdadas pela trilha segura do Evan-gelho de Jesus é que conseguireisconduzir o rebanho, ainda espar-ramado, na direção do Pastor.

Comprometestes-vos antes doberço realizar este labor de alta mag-nitude para o futuro da Humani-dade. Deveis, portanto, executar otrabalho avançando com toda adedicação possível, mesmo que,muitas vezes, apresenteis a alma do-rida e os sentimentos despedaçadospela injúria, pela perseguição gra-tuita, pelos adversários da luz...

Apresentai-o, meus filhos da al-ma, em toda a sua grandeza refle-tida no vosso exemplo de abnega-ção e de amor.

Em dia não muito distante, des-fraldando ainda a bandeira da paz,podereis sorrir observando ocampo de batalha, não mais jun-cado de cadáveres sangrando, masde Espíritos vitoriosos sobre as pai-xões dissolventes, cantando a gló-ria da imortalidade.

Que o Senhor de bênçãos vosabençoe a todos, são os votos doservidor humílimo e paternal edos mentores do trabalho em exe-cução nos diferentes países queconstituem o Conselho EspíritaInternacional!

Muita paz, meus filhos, com todoo carinho do amigo de sempre,

Bezerra

(Mensagem psicofônica recebida pelo mé-

dium Divaldo Pereira Franco, no dia 28 de

outubro de 2011, em Maia, Portugal, durante

o encerramento da Reunião da Coordena-

doria do Conselho Espírita Internacional

da Europa.)

35Dezembro 2011 • Reformador 447733

Page 36: Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011

36 Reformador • Dezembro 2011447744

uitos homens e mulhe-res deixaram a sua mar-ca pessoal na História

da Humanidade.Jesus, contudo, produziu um

acontecimento singular na Terra:dividiu, com o seu nascimento, aHistória da Humanidade – antesdele e depois dele. Nenhum outrohomem realizou façanha igual.

Allan Kardec, o Codificadordo Espiritismo, realizou feito semelhante: dividiu a história damediunidade. Não com o seu nas-cimento, mas com um livro:O Livro dos Médiuns. A epopeiados fenômenos psíquicos, assim,pode ser vista antes desse livro edepois dele.

O que era a mediunida-de antes de O Livro dosMédiuns?

Inicialmente, ela foi previstapelo profeta Joel (século V a. C.),mais de dois mil anos antes de O Livro dos Médiuns. No seu texto,constante da Bíblia, Joel declara,no capítulo 2, versículos 28 e 29:

Nos últimos tempos, diz o Se-

nhor, derramarei do meu espí-

rito sobre toda a carne; vossos

filhos e vossas filhas profetiza-

rão, vossos jovens terão visões e

vossos velhos sonharão. [...]1

É a profecia da mediunidade di-nâmica, consoante a denominaçãodo físico inglês William JacksonCrawford (1880-1920).

Contudo, até a chegada da se-gunda obra da Codificação Espírita,na segunda metade do século XIX,os Espíritos espalhariam a mediuni-dade por sobre a carne na forma pri-mitiva do mediunismo, que destacaas formas rudimentares da mediuni-dade, nesses antecedentes históricos.

Diferente da mediunidade comJesus, que caracteriza o intercâmbiocom entidades do plano extrafísico,mediante propósitos doutrinários eéticos, o mediunismo é a práticamediúnica em si, em estado natural,sem objetivos superiores e isenta dadisciplina amparada pelas diretri-zes da Doutrina Espírita.“É o exer-cício mediúnico em si, a simplesprática mediúnica, a que se refereDeolindo [Amorim (1906-1984)],ou seja, tão somente a utilizaçãoda faculdade inerente ao médium,sem que, com o termo, se queirasignificar uma prática espírita.”2

O que tem sido a mediu-nidade depois de O Livrodos Médiuns?

Com o advento de O Livro dosMédiuns, a mediunidade assumi-ria foro de doutrina. A partir dapublicação desse livro de ciênciaespírita, o mediunismo não desa-parece, não é aniquilado. Transfor-ma-se! Porque passa a ser “desen-volvido, racionalizado e submeti-do à reflexão religiosa e filosóficae às pesquisas científicas, necessá-rias ao esclarecimento dos fenô-menos, sua natureza e suas leis”.3

Esse livro é uma sequência deO Livro dos Espíritos, e Allan Kar-dec, na “Introdução”, destaca queO Livro dos Médiuns é também umlivro dos Espíritos. Ou seja, foi pro-jetado e orientado também por eles.

O anúncio e os sinais precurso-res de O Livro dos Médiuns acon-teceram em 1858. Naquele ano,Allan Kardec lança um opúsculoexperimental, intitulado InstruçãoPrática sobre as Manifestações Es-píritas, contendo a exposição com-pleta das condições necessárias pa-ra se comunicar com os Espíritos,e os meios de se desenvolver a fa-culdade mediadora nos médiuns.

A partir de 1858, e nos doisanos seguintes, 1859 e 1860, AllanKardec, além da publicação deO que é o Espiritismo, em 1859, dacontinuidade da edição mensalda Revue Spirite, da administra-

MAD I LTO N PU G L I E S E

MediunidadeAntes e depois de O Livro dos Médiuns

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ção da Sociedade Parisiense de Es-tudos Espíritas e de outras ativida-des, irá se dedicar em profundidadeao estudo da Ciência Espírita.

Para tanto, é secundado poreminentes Espíritos, como Eras-to,4 Timóteo, Joana d’Arc (1412--1431), Santo Agostinho (354-430)e São Luís (Luís IX, rei da França1214-1270), além dos EspíritosBlaise Pascal (1623-1662), Jean--Baptiste Massillon (1663-1742) esupervisão do Espírito de Verdade.Juntos, constroem o segundo vo-lume da Codificação Espírita, O Li-vro dos Médiuns, publicado em 15de janeiro de 1861, ou “Guia dosMédiuns e dos Evocadores”, com asegunda edição lançada no mesmoano, contendo novas instruções.

Foi graças ao estudo de O Livrodos Médiuns, que dedicadas pes-soas paranormais, facilitadoras dascomunicações entre os mundosfísico e espiritual, forjaram as suasfaculdades medianímicas, a exem-plo de Divaldo Franco (1927-),Yvonne do Amaral Pereira (1900--1984), Francisco Cândido Xavier(1910-2002) e vários outros, exer-cendo-as com Jesus.

Tudo aquilo que aprendemosestudando O Livro dos Médiuns sãosaberes indispensáveis a todo mé-dium espírita. Mas, um desses sa-beres, que devemos deixar sinaliza-do em nossas mentes e em nossoscorações, como torre de vigia parao exercício da mediunidade comJesus, é aquele que o Espírito Viannade Carvalho posiciona como fenô-meno mediúnico mais importan-te, neste alvorecer do terceiro mi-lênio, o da moral do homem,5 atra-

vés do esclarecimento doutrinárioque visa a reforma do ser humano.

Yvonne do Amaral Pereira, pe-los idos de 1966, proferiu como-vente prece ao Criador, vendoaproximar-se o crepúsculo da suaprofícua jornada como médium:

– Obrigada, meu Deus, pela bên-

ção da mediunidade que me

concedeste como ensejo para a

reabilitação do meu Espírito

culpado. A chama imaculada

que do Alto me mandaste, com

a revelação dos pontos da tua

Doutrina, a mim confiados pa-

ra desenvolver e aplicar, eu ta

devolvo, no fim da tarefa cum-

prida, pura e imaculada confor-

me a recebi [...].6

A exemplo de Yvonne Pereira,inúmeros outros médiuns, no de-correr da História, têm sido para-digmas daqueles que honraram asquatro nobres verdades do compro-misso mediúnico:

a) a identificação do compro-misso,

b) a preparação para o compro-misso,

c) a compreensão docompromisso, e

d) a santificação do compro-misso.7

Podemos afirmar que o pró-prio Allan Kardec, embora tenhadeclarado, em discurso pronun-ciado em novembro de 1861, nacidade de Bordeaux, no interiorda França, na Reunião Geral dosEspíritas Bordeleses, que não eramédium “no sentido vulgar da pa-lavra”,8 não ter possuído, assim, uma“mediunidade efetiva”,8 foi o pa-radigma desses quatro pilares docompromisso mediúnico, porquedesde os primeiros contatos como Espírito Verdade, a partir de 12de junho de 1856, identificou eteve lúcida compreensão da missão

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que ia empreender; preparou-seentão convenientemente, dedican-do-se exclusivamente à grandio-sa tarefa, sobretudo santificandoo compromisso com excepcionaldedicação à Causa e cumprindo apromessa de Jesus.

Naquele momento ele aindaera o “professor Denizard Rivail”,e a sua sintonia com o seu Ben-feitor espiritual emociona, ao res-ponder-lhe:

Espírito Verdade, agradeço os

teus sábios conselhos. Aceito

tudo, sem restrição e sem ideia

preconcebida.9

E, em seguida, dirige comove-dora prece a Deus:

Senhor! Já que te dignaste lançar

os olhos sobre mim para cum-

primento dos teus desígnios, fa-

ça-se a tua vontade! A minha vida

está nas tuas mãos; dispõe do

teu servo. [...] Ampara-me nos

momentos difíceis e, com o teu

auxílio e o amparo dos teus celes-

tes mensageiros, tudo farei para

corresponder aos teus desígnios.9

Esta é a oração do médiumconsciente de suas obrigações eresponsabilidades.

A elaboração da obra titular bá-sica da Doutrina Espírita, O Livrodos Espíritos, somente foi possívelgraças ao efetivo e correto com-promisso mediúnico de duas meni-nas francesas, Caroline e JulieBaudin, de 16 e 14 anos, respecti-vamente, e da médium Ruth--Céline Japhet, consoante as infor-

mações que pudemos obter nasmemórias do Codificador, exara-das na segunda parte do livroObras Póstumas.10

A segunda edição de O Livrodos Espíritos, publicada em marçode 1860, concretizou-se devido aocompromisso mediúnico de outrajovem médium, Ermance De LaJonchére Dufaux (1841-?), de 17anos, que tudo indica ter sido umdos membros fundadores da So-ciedade Parisiense de Estudos Es-píritas, a SPEE, juntamente com oseu pai, o Sr. Dufaux.11

Foram mais de dez médiuns12

que colaboraram com o Codifi-cador em sua missão; médiunsconscientes do seu compromissomediúnico.

As meninas Baudin, ErmanceDufaux, Eusapia Palladino (1854--1918), Elisabeth d’Espérance(1855-1919), Florence Cook (1856--1904), foram médiuns notáveisque pertenceram àquelas fases queinicialmente integraram o pe-ríodo que Allan Kardec chamoude elaboração do Espiritismo, e queCharles Richet (1850-1935), emseguida, dividiu em Períodos Espi-rítico e Científico,13 este último ini-ciado por William Crookes (1832--1919), em 1872, os quais foramimportantes na consolidação dosurgimento do Consolador na Ter-ra, para comprovação da imorta-lidade da alma, atraindo pesquisa-dores e cientistas interessados nosfenômenos chamados psíquicos.

Naqueles momentos, em Parise em diversas partes do mundo,estavam sendo dados os primeirospassos para a Codificação do Es-

piritismo e, também, por que nãodizer, para a certificação da me-diunidade, a fim de que ela adqui-risse cidadania científica, cidada-nia ética de comportamento mo-ral e, sobretudo, fosse empregadade modo útil, de alcance social.

A partir do século XX e nesteséculo XXI, a compreensão da me-diunidade também como manda-to mediúnico, um sacerdócio deamor, adquire objetivos elevadosvisando iluminar consciências.

Podemos perguntar, neste ins-tante: Como Allan Kardec, Yvon-ne Pereira, Francisco CândidoXavier, Divaldo Franco, consegui-ram manter fidelidade às quatronobres verdades do compromissomediúnico?

Recorramos ao bondoso Espí-rito Joanna de Ângelis que decla-ra: “[...] com Jesus, o Excelso Mé-dium de Deus [...] a mediunidaderecebeu o selo da mansidão e adiretriz do amor, a fim de se trans-formar em luminosa ponte”, e no“exercício da mediunidade comJesus, isto é, na perfeita aplicaçãodos seus valores em benefício dacriatura, em nome da Caridade, éque o ser atinge a plenitude dassuas funções e faculdades, conver-tendo-se em celeiro de bênçãos”.14

A partir dessa prática, não é omédium mais que vive, é o Cristoque vive nele.

Nesse contexto, e no ensejo dascomemorações em torno do Ses-quicentenário de O Livro dos Médiuns, podemos afirmar queessa obra está não somente im-pregnada das leis da mediunidadee dos postulados científicos da

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prática espírita, mas também dasdiretrizes evangélicas para o exer-cício seguro, equilibrado e éticodo intercâmbio mediúnico.

Referências:1KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro

Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro:

FEB, 2011. Cap. 17, it. 59.2NÁUFEL, José. Do ABC ao infinito. Espiri-

tismo experimental. Fenomenologia e me-

diunidade. Editora Éclat. V. 2; tomo 3, p. 33.3PIRES, Herculano. Mediunidade. EDICEL,

1978. p. 44.4HALFELD, Kleber. Um espírito chamado

Erasto. In: Reformador, ano 111, n. 1.975,

p. 20(304)-23(307), out. 1993.5FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo.

Pelo Espírito Vianna de Carvalho. 3. ed.

Salvador: LEAL. p. 42.6PEREIRA, Yvonne do Amaral. Recorda-

ções da mediunidade. 4. ed. 3. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2011. Introdução, p. 9-10.7Abordagem da equipe do Projeto Ma-

noel Philomeno de Miranda – Seminário

de 21/11/2010, em Salvador, BA.8KARDEC, Allan. Reunião geral dos espíri-

tas bordeleses – Discurso do Sr. Allan

Kardec. In: Revista espírita: jornal de es-

tudos psicológicos, ano 4, p. 491, nov.

1861. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed.

2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.9______. Obras póstumas. Trad. Evandro

Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

P. 2, p. 369.10______. ______. p. 348 e 352-353.11______. ______. p. 383.12______. ______. p. 353.13RICHET, Charles. Tratado de metapsí-

quica. São Paulo: Ed. LAKE. p. 35.14FRANCO, Divaldo P. Estudos espíritas.

Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 9. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 18, it. Desen-

volvimento, p. 128, it. Conclusão, p. 130.

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Fonte: KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 31, it. 15, p. 595-596.

Sobre os médiunsodos os médiuns são, incontestavelmente, chamados a servir à

causa do Espiritismo, na medida de suas faculdades, mas são

poucos os que não se deixam prender nas armadilhas do amor-

-próprio. É uma pedra de toque, que raramente deixa de produzir

efeito. Assim é que, de cem médiuns, encontrareis, no máximo, um

que, por muito ínfimo que seja, não se tenha julgado, nos primei-

ros tempos da sua mediunidade, fadado a obter coisas superiores e

predestinado a grandes missões. Os que sucumbem a essa vaidosa

expectativa – e grande é o número deles – se tornam inevitavel-

mente presas de Espíritos obsessores, que não tardam a subjugá-

-los, lisonjeando-lhes o orgulho e apanhando-os pelo seu lado

fraco. Quanto mais eles pretenderem elevar-se, tanto mais ridícula

lhes será a queda, quando não desastrosa.

As grandes missões só são confiadas aos homens de escol, e Deus

mesmo os coloca, sem que eles o procurem, no meio e na posição

em que possam prestar concurso eficaz. Nunca será demais reco-

mendar aos médiuns inexperientes que desconfiem do que certos

Espíritos podem dizer, com relação ao suposto papel que eles são

chamados a desempenhar, porque, se o tomarem a sério, só colhe-

rão desapontamentos nesse mundo, e severo castigo no outro.

Convençam-se bem de que, na esfera modesta e obscura onde se

acham colocados, podem prestar grandes serviços, auxiliando a

conversão dos incrédulos, ou consolando os aflitos. Se daí tiverem

de sair, serão conduzidos por mão invisível, que lhes preparará os

caminhos, e serão postos em evidência, por assim dizer, mesmo

sem se darem conta disso. Que se lembrem destas palavras: “Aquele

que se exaltar será humilhado e o que se humilhar será exaltado”.

T

O Espírito de Verdade

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40 Reformador • Dezembro 2011447788

1. Fundação da Sociedade: 1o

de abril de 1858. “Autorizadapelo Decreto do Sr. Prefeitode Polícia, em data de 13 deabril de 1858, de acordo com oaviso do Exmo. Sr. Ministro doInterior e da Segurança Geral”.

2. Fins e formação da Socieda-de: este conteúdo faz parte docapítulo I do Regulamento,organizado em sete artigosque tratam do objeto da So-ciedade (“o estudo de todosos fenômenos relativos àsmanifestações espíritas e suasaplicações às ciências mo-rais”); do quadro de sócios(“sócios titulares, de associa-dos livres e de sócios corres-pondentes e [...] sócio hono-rário”); das condições de afi-liação (“A Sociedade só admi-tirá as pessoas que simpati-zem com seus princípios ecom o objetivo de seus traba-

lhos”); do pedido de associa-ção (“o pretendente devedirigir ao Presidente um pe-dido escrito, endossado pordois sócios titulares”); dossócios titulares (“que a pessoatenha sido, pelo menos du-rante um ano, associado li-vre, tenha assistido a mais demetade das sessões”); númerode sócios (“A sociedade limi-tará, se julgar conveniente, o

número dos associados”); dossócios correspondentes (“sãoos que, não residindo em Pa-ris, mantenham relações coma Sociedade”).

3. Administração: em nove arti-gos (do 8o ao 16) constaminformações relativas ao pro-cesso de gestão, cargos e fun-ções dos membros integrantesda Sociedade (“A Sociedade é

Sociedade Parisiensede Estudos Espíritas

Resumo do Regulamento1

Palais-Royal, onde se encontra a Galeria Valois no 35, na qual a Sociedaderealizou, a princípio e durante um ano, as suas sessões

1N. da R.: Veja texto completo no capítulo30 de O livro dos médiuns, de AllanKardec, tradução de Evandro NoletoBezerra, FEB Editora.

(Continuação do artigo O Livro dos Médiuns – Sociedades Espíritas, p. 5.)

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administrada por um dire-tor-presidente, assistido pelosmembros de uma diretoria ede uma comissão. A diretoriase compõe de: 1 presidente, 1vice-presidente, 1 secretárioprincipal, 2 secretários adjun-tos e 1 tesoureiro. O diretor--presidente deve dedicar todasas suas atenções aos interes-ses da Sociedade e da ciênciaespírita. Cabem-lhe a direçãogeral e a alta superintendên-cia da administração [...]. Opresidente é nomeado por trêsanos, e os demais membros dadiretoria por um ano, sendoindefinidamente reelegíveis.”).

4. Sessões: sob este título estãoindicados, no capítulo III,

nos artigos 17ao 22, dia dassessões doutriná-rias (às sextas--feiras), sessões ge-rais (2as e 4as sex-tas-feiras de ca-da mês), horá-rios, tipos de reu-niões (particula-res ou públicas),atitudes sugeri-das aos frequen-tadores (“O si-lêncio e o reco-lhimento são ri-gorosamente exi-gidos durante assessões e, princi-palmente, du-rante os estu-dos”); cuidadoscom as mensa-

gens mediúnicas (“Nenhumacomunicação espírita, obtidafora da Sociedade, pode serlida, sem que antes seja sub-metida ao presidente, ou àcomissão, que podem admi-tir ou recusar a sua leitura.Será arquivada na Sociedadeuma cópia de toda comuni-cação estranha, cuja leituratenha sido autorizada. To-das as comunicações obtidasdurante as sessões pertencem

à Sociedade, podendo osmédiuns que as receberamtirar uma cópia. As sessõesparticulares serão reserva-das aos membros da Socie-dade.”).

5. Disposições diversas: sete ar-tigos que integram o capítuloIV, os quais apresentam con-siderações sobre o compro-misso, moral e intelectual, as-sumido pelos associados coma Sociedade. Fazem referên-cia aos critérios de exame deobras espíritas publicadas e àelaboração de um relatóriopor um dos membros, pre-viamente indicado, cujo con-teúdo será publicado na Re-vista Espírita, se aprovado pe-la diretoria. Os quatros últi-mos artigos (26 ao 29) espe-cificam condições da relaçãosócio–sociedade, sobretu-do no que diz respeito ao usodo nome da Instituição, aoafastamento de associados, aatualização estatutária, sem-pre que necessária, e quantoao valor da manutenção da“unidade de princípios e oespírito de recíproca tolerân-cia” entre todos os membrosintegrantes da Sociedade Pa-risiense de Estudos Espíritas.

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A partir de 20 de abril de 1860, a Sociedade ficoudefinitivamente instalada na rua Sainte-Anne no 59,

Passage Sainte-Anne

Retificando...No último verso, em esperanto, da trova “Interfrati1o” (Reformador

de novembro de 2011, p. 33), onde se lê “Sen/ese, en /iuhore”.

leia-se “Ja sen/ese, /iuhore”.

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Seara Espírita

Filme Nosso Lar no JapãoO filme Nosso Lar foi exibido no 7o Festival CinemaBrasil, no Japão, em programa que envolveu, emsequência, as cidades de Tóquio, Osaka, Quito eHamamatsu, no período de 16 de outubro a 12 denovembro. Informações: <http://2011.cinemabrasil.info>; <[email protected]>.

O Filme dos Espíritos com expressiva frequência

O Filme dos Espíritos conta a trajetória de um ho-mem que se transforma com a leitura de O Livro dosEspíritos. Na sua avant-première, em Brasília, contoucom representação da FEB e, desde o lançamento na-cional no dia 7 de outubro, tem atraído expressivaquantidade de espectadores. É uma produção da Fun-dação Espírita André Luiz e da Mundo Maior Filmes.Informações: <www.mundomaiorfilmes.com.br>.

Alagoas: Bienal do LivroA Federação Espírita do Estado de Alagoas manteveum estande na IV Bienal Internacional do Livro deAlagoas, realizada de 30 de outubro a 8 de novembro,promovida pela Universidade Federal de Alagoas, noCentro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, emJaraguá. Informações: <www.feeal.org.br>.

Pernambuco: 150 anos do Auto-de-Fé deBarcelona

No dia 9 de outubro, a Federação Espírita Pernam-bucana realizou uma Sessão Especial, na sua sede,pelos 150 anos do Auto-de-Fé de Barcelona, sen-do expositor Humberto Vasconcelos. Informações:<www.federacaoespiritape.org>.

Bahia: Congresso EspíritaA Federação Espírita do Estado da Bahia promoveuo XIV Congresso Espírita da Bahia nos dias 3, 4, 5 e6 de novembro, no Centro de Convenções, em Salva-dor, com o tema central “O Primado do Espírito”.Contou com palestras de Divaldo Pereira Franco, queabriu o evento, Adilton Pugliese, Alberto Almeida,

André Marcílio Carvalho, André Luiz Peixinho, An-dré Luiz Ramos, César Soares dos Reis, Creuza SantosLage, Marcel Mariano, Ruth Brasil Mesquita, Anto-nio Cesar Perri de Carvalho, que representou a FEB,além de dezenas de expositores. Informações: <www.feeb.com.br>.

Distrito Federal: Edificando a Era daRegeneração

O 13o Encontro de Trabalhadores Espíritas, que con-tou com o apoio da Federação Espírita do DistritoFederal, foi realizado em 23 de outubro no CentroEspírita Aprendizes do Evangelho, na cidade de Pla-naltina, e trabalhou o tema “Edificando a Era da Re-generação”. Informações: <www.fedf.org.br>.

M. G. do Sul: Encontros sobre Mediunidade, Médico e Jurídico

Nos dias 1o e 2 de outubro, a Federação Espírita deMato Grosso do Sul realizou, em Campo Grande, oEncontro Estadual Trabalhadores da Mediunidade,em comemoração dos “150 anos de O Livro dosMédiuns”, e contou com as representantes da FEB,Aldenice Cousseiro de Carvalho e a diretora EdnaFabro. Também com o apoio da FEMS, e comoresultado da parceria das Entidades Especializadas– AJE e AME – ocorreu, nos dias 22 e 23 de ou-tubro, o I Congresso Jurídico-Médico-Espírita deMato Grosso do Sul, com o tema “O ParadigmaEspiritualista para a Ética e a Saúde”. Informações:<www.fems.org.br>.

Rondônia: Formação de Monitores deESDE

Com o objetivo de formar novos monitores parao ESDE, de aperfeiçoar a utilização de técnicas, econscientizar para a importância dos laços de ami-zade entre os participantes do ESDE, a Federa-ção Espírita de Rondônia promoveu, no dia 22 deoutubro, o Curso de Aperfeiçoamento e Formaçãopara Monitores de ESDE. Informações: <www.fero.org.br>.

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