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NPPTUR Anais do IV Seminário Latino Americano de Políticas Públicas e Turismo

Núcleo de Políticas Públicas e Turismo

Anais do IV Seminário Latino Americano de Políticas Públicas e Turismo 1

ANAIS DO IV SEMINÁRIO LATINO-AMERICANO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM TURISMO Organizado pelo Núcleo de Políticas Públicas em Turismo do Centro de Excelência em Turismo. http://seminariolatinoturismo.wordpress.com Periodicidade: anual Divulgação eletrônica É permitida a reprodução dos artigos desde que se mencione a fonte.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Reitor: Ivan Camargo Comissão Organizadora: Presidente da Comissão:Dr. Neio Campos Coordenação Geral: Dra. Marutschka Martini Moesch Corpo Editorial: Coordenação: Dra. Donária Coelho Duarte

Ms. Alessandra Santos dos Santos – UNB Dra. Ana Afonso - ISCE Ms. Ana Rosa Domingues dos Santos – UNB Ms. Ana Lúcia Olegário - IFRS Dr. André de Almeida Cunha – UNB Dr. André Falcão Durão - UFPE Dr. Biagio Mauricio Avena - UNB/IFBA

Dra. Eloísa Pereira Barroso – UNB Dr. Everaldo Batista Costa - UNB

Ms. Giovana Tavares - IF Goiano Dra. Iara Lucia Gomes Brasileiro - UNB

Dra. Karina e Silva Dias - UNB Dra. Lana Magaly Pires – UNB

Ms. Lívia Barros Wiesinieski - UNB Dr.Luiz Carlos Spiller Pena - UNB

Dra. Maria Elenita Menezes Nascimento – UNB Ms. Mariana Cavalcanti Falcão UFPE

Dra. Marutschka Martini Moesch - UNB Dr. Neio Lucio de Oliveira Campos - UNB

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Dra. Neuza de Farias Araújo – UNB Endereço para correspondência do CET/UnB: Campus Universitário Darcy Ribeiro - Gleba A, Bloco E - Av. L3 Norte, Asa Norte - Brasília-DF, CEP: 70.904-970.

SUMÁRIO

A relevância da relação entre saúde e turismo.................................................................. Maria Angélica de Moraes Assumpção Pimenta; Margarita Nilda Barretto Angeli

06

Sistema de governança aplicado ao segmento de turismo rural....................................... Fernanda Costa da Silva; Aline Moraes Cunha

08

A importância dos eventos de participação popular na construção de políticas

públicas.......................................................................................................................... Vitor João Ramos Alves

10

Os eventos de participação popular na elaboração da revisão do PDITS do polo costa dos Coqueirais/SE............................................................................................................. Vitor João Ramos Alves

14

Instâncias de governança regional: um estudo sobre o condetur da região turística da Costa do Sol/RJ

................................................................................................................. Maria Lúcia Malatesta de Freitas Evangelista; Aguinaldo César Fratucci

19

Análise do potencial turístico para aplicação da política de regionalização do turismo na Amazônia mato-grossense........................................................................................

Moisés Junior Reis; Rita Maria de Paula Garcia

23

Lei geral do turismo: fundamentos legais para a prestação de serviços turísticos........................................................................................................................... Celso Caciano Brito; Aguinaldo César Fratucci

25

Cidadania, lazer e participação nas instâncias de governança – reflexões sobre a população residente...................................................................................................... Natasha Bantim

29

Políticas públicas de lazer e turismo e os megaeventos esportivos: uma reflexão acerca das suas relações............................................................................................................... Amanda Baldissera Damião; Amanda Cabral da Silva; Fábio Alves Ortiz

33

Políticas públicas, planejamento e gestão do turismo no litoral piauiense........................ Francisco Coelho Mendes; Ana Valéria Endres; Raimundo Ferreira De Carvalho;

37

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Magnólia Lima Verde Coelho Mendes

As contribuições de um conselho consultivo unificado de unidades de conservação para o turismo: PEIT, EET,

APASM............................................................................................. Rodrigo Burkowski; Mariana Gomes

42

A inclusão e desenvolvimento do turismo de base comunitária em Mamirauá na percepção da gestão 2001-2002/ 2014-

2016.................................................................... Kerley dos Santos Alves; Rodrigo Burkowski

47

Produção de políticas públicas de turismo sob um olhar sociopolítico..................................................................................................................... Amanda Baldissera Damião; Fábio Alves Ortiz; Amanda Cabral

53

Turismo rural comunitário, sustentabilidade e gênero..................................................... Dorcas Cabral

58

SB CLASS CAMA & CAFÉ: O MEI como incentivo à formalização da oferta de hospitalidade doméstica.................................................................................................. Laila Borges da Silva; Camila Garcia Fintelman; Elaine Gomes Borges da Silva

61

Do egoísmo hedonista à interculturalidade: as (im)possibilidades da prática turística............................................................................................................................. Marco Aurélio Fernandes Neves

66

A escola de turismo do estado do Rio de Janeiro e a modalidade de guia de turismo

suspensa na preparação de profissionais de lazer na cidade do Rio de Janeiro..............................................................................................................................

Laila Borges da Silva; Camila Garcia Fintelman; Elaine Gomes Borges da Silva

69

O ensino técnico do profissional de turismo no âmbito do

PRONATEC........................................................................................................................ Mylena Rodrigues Marçal de Araújo; Iara Lúcia Gomes Brasileiro; Elaine Gomes

Borges da Silva

74

Análise da promoção do brasil nas mídias sociais oficiais da EMBRATUR: Facebook, Instagram e Youtube......................................................................................................... Thalyson Barboza Mourão; Iara Lúcia Gomes Brasileiro; Elaine Gomes Borges da Silva

79

A imagem construída pelos participantes de eventos governamentais realizados no

Distrito Federal................................................................................................................. Adriana Lemos de Oliveira; Maria Elenita Menezes Nascimento

84

Turismo, globalização e relações internacionais: reflexões para novos pensamentos....................................................................................................................

Filipe Rossato Silva

88

Avaliação do papel do empresariado nos processos de inclusão socioeconômica no turismo em Pirenópolis (GO)............................................................................................

93

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Mateus Silva Reginato Sé; João Paulo Faria Tasso; Barbara Nascimento Rodrigues

Relação público-privada do turismo internacional do Brasil e Austrália...........................................................................................................................

Maressa Farias Rocha; Maria Elenita Menezes Nascimento

99

Reflexões sobre a prática turística e pedagógica na construção do processo de aprendizagem por meio do passeio escolar.....................................................................

Ligia Alves da Silva; Maria Elenita Menezes Nascimento

104

Projeto trilha jovem: turismo e inclusão social: relato da experiência do projeto

realizado em São Luís do Maranhão (MA).........................................................................

Josilene Barbara Ribeiro Campo

108

Reciclando a vida: uma proposta para empoderamento e autonomia financeira de mulheres vítimas de violência doméstica no Distrito Federal, por meio da indústria de eventos............................................................................................................................. Flávia Cristina Rodrigues Paiva

111

Aporte das mulheres agricultoras no desenvolvimento do turismo gastronômico: o caso mistura de Lima-

Peru................................................................................................ Alexander Malaver Copara

115

A hospitalidade e o acolhimento....................................................................................... Luciana Resende Borges; Biagio Mauricio Avena

117

Um olhar diferenciado sobre o acolhimento e a hospitalidade para os idosos na

cidade de Brasília......................................................................................................................... Iraci Nascimento de Castro

121

A importância da regulamentação da profissão de turismólogo e a criação de um

conselho profissional........................................................................................................ Deryk Vieira Santana; Giovanna Adriana Tavares Gomes; Victória de Melo Leão

125

Hospitalidade, imigração e cidades: análise do processo de elaboração de uma política pública de acolhimento de deslocados, em São

Paulo...................................................... Ana Paula Garcia Spolon; Fábia Trentin

130

Descartes da memória do turismo em

Natal/RN............................................................... Andrea de Albuquerque Vianna

135

Mosaico sertão Veredas-Peruaçu: reflexões sobre a construção social de um destino turístico literário...............................................................................................................

Adriano T. Menezes; Eloisa P. Barroso

141

As diferentes territorialidades dos moradores e visitantes da Praia dos Anjos e Praia

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Grande, Arraial do Cabo, RJ............................................................................................... Juliana Carneiro da Costa; Aguinaldo Cesar Fratucci

146

Motivações socioeconômicas na criação de novos meios de hospedagem: o crescente movimento vegano como inovação..................................................................................

Laila Borges da Silva; Carolina dos Santos Borges; Elaine Gomes Borges da Silva

151

Potencial e possibilidades do turismo literário em Cachoeiro de Itapemirim/ES: o

legado de Rubem Braga como patrimônio cultural...........................................................

Jéssica Lainny Martins Vieira; Adriana Sartório Ricco

156

Ensaio etnográfico sobre a culinária Kalunga: o bolo de arroz enquanto comida típica regional............................................................................................................................. Thamyris Carvalho Andrade; Eudemir Melo da Silva; Regilene Batista de Sena

160

Redes de prevenção à exploração sexual de crianças no turismo: es tudo de caso Belém-PA......................................................................................................................................

Carla Ferreira Cruz

165

Ativismo LGBT como tendência turística........................................................................... Luciana Moreira Furquim; Giovanna Adriana Tavares Gomes; Victória de Melo Leão

170

Cultura e gestão cultural para o turismo: articulações para a humanização das ações................................................................................................................................. Cristina Nora Calcagnotto

174

Turismo e barragens: o caso de Babaçulândia-

TO............................................................. Wilhans Aparecido de Almeida Júnior; Letícia Lima de Freitas

178

Responsabilidade social empresarial no turismo: gestão e integração social.................................................................................................................................

Sirley da Conceição Ferreira

183

Identificação do perfil dos turistas que participaram do circuito experiências da natureza: expedição travessia grutas e cavernas - Terra Ronca......................................... Giovanna Adriana Tavares Gomes; Victória de Melo Leão; João Bittencourt Lino;

Carlos Henrique Pereira de Freitas; Rafael Araújo Rosa

186

A intensidade dos indicadores da rede do festival Santos café e as perspectivas para o

desenvolvimento turístico do município de Santos (SP)....................................................

Daniela Tineo; Edegar Luis Tomazzoni

191

Manejo e boas práticas na construção civil: com ênfase nos empreendimentos turísticos........................................................................................................................... Alyne Albuquerque da Silveira; Iara Lúcia Gomes Brasileiro; Elaine Gomes Borges da

196

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Silva

Análise dos processos de exclusão socioeconômica no sistema turístico de Pirenópolis (GO)...................................................................................................................................

Barbara Nascimento Rodrigues; João Paulo Faria Tasso; Mateus Reginato Sé

199

Responsabilidade socioambiental na hotelaria de

Brasília................................................ Josely do Carmo de Almeida

205

Turismo responsável em parques: um estudo exploratório no parque da cidade Sarah Kubitschek em Brasília...................................................................................................... Elielba Rosa Moura Mesquita; Donaria Coêlho Duarte

209

Gestão de resíduos sólidos e eventos no brasil: rumo à sustentabilidade............................................................................................................... Ângela Araújo Gomes; Valéria Gentil Almeida; Thamyris Andrade

214

A importância do turismo sustentável para o alcance dos objetivos das áreas protegidas........................................................................................................................

Paula Gomes; Nathália Garay; André Cunha

219

As possibilidades de caminhos turísticos para pedestres na cidade de Goiás -GO.............. Diego Pinto de Mendonça; Joana Darc Paiva da Silva

225

Turismo e suas faces na comunidade Kalunga do Engenho II - Cavalcante

GO................... Rosiene Francisco dos Santo; Soraia Brito da Silva; Giovanna Adriana Tavares Gomes;

Victória de Melo Leão

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A relevância da relação entre saúde e turismo

Maria Angélica de Moraes Assumpção Pimenta - Mestranda

Instituto Federal Catarinense – Camboriú Margarita Nilda Barretto Angeli - Doutora

Universidade Regional de Blumenau

Saúde e turismo são áreas que possuem uma estreita relação e influenciam a economia e o desenvolvimento social de uma região. Os gestores devem estar cientes das consequências que o desenvolvimento do turismo pode causar a saúde da população, bem como promover o aumento de ações que podem contribuir para a qualidade dos cuidados de saúde, tanto para o turista como e, sobretudo, para a comunidade local. Este estudo teve como objetivo demonstrar a relevância da relação entre saúde e turismo no que se refere à implementação e desenvolvimento de programas e ações de saúde relacionadas com o turismo. Barretto

(2010) assegura que o turismo, do mesmo modo que a saúde é uma atividade que deve ser estudada de forma interdisciplinar. A visão do turismo como um fenômeno social ainda é

novo, mas, percebe-se que a sua relação com outras áreas do conhecimento existe há muito tempo. Barretto (2004) alega que o turismo desempenha e reflete os problemas da sociedade a que pertence, seja da política econômica, das políticas públicas ou, da saúde, e vai estar sujeito ao modelo econômico e político que a sociedade apresentar. Este pensamento apoia a diversidade de áreas de conhecimento que se relacionam com o turismo, entre elas a saúde. Rodriguez-Garcia (2001) em seu estudo alerta para as preocupações de viagens como uma questão de saúde pública que, a partir da globalização, gerou um grande aumento no movimento de pessoas em todo o mundo, ressaltando que,

esse avanço da intensidade e quantidade de viagens favoreceu a disseminação de novas e o ressurgimento de doenças infecciosas, bem como, à morte, à incapacidade em decorrência de acidentes e violência e, das doenças crônicas, tais como as provocadas pelo abuso de substâncias como o álcool e o tabaco e por comportamentos indesejáveis. Na concepção de Hospedales e Phillippeaux (2005), "Turismo e Saúde" é entendido como o conjunto de políticas e ações selecionadas que alcançam as condições ideais para o desenvolvimento do turismo sustentável em um país e, de maneira harmônica, promover: saúde e segurança,

direito ambiental, recursos naturais e culturais, proteção e segurança, recursos humanos e percepção do turismo nacional. A OMS apresenta uma série de orientações para os

viajantes, no entanto, atribui-lhes a responsabilidade pela sua própria saúde e os riscos a que possam estar exposta na realização de uma viagem. A preocupação com a saúde dos

turistas e da população local também deve ser discutida entre os gestores do turismo, a fim de contribuir para o planejamento e desenvolvimento do turismo. Foi realizada uma

pesquisa documental a publicações da Organização Pan Americana de Saúde-OPAS. Constatou-se a existência de uma resolução que trata da relação saúde e turismo no âmbito

do desenvolvimento dos países latino-americanos, apresentando uma proposta de ação conjunta sobre saúde e turismo a cada quadriênio para os países das Américas (OPAS, 2010).

Assim, faz-se necessário refletir sobre as propostas de ações no tocante a saúde e turismo, em especial, na promoção de oportunidades de formação para melhorar a qualidade e a

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quantidade de profissionais capacitados em saúde e turismo. Cabe ressaltar a relevância deste estudo por corroborar com a necessidade de se pensar não apenas na saúde do turista, sobretudo, na saúde da localidade turística, dos trabalhadores do setor turístico e, de sua comunidade local. Palavras-chave:Gestão. Saúde. Turismo. Saúde e Turismo. REFERÊNCIAS

BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 19.ed. Campinas, SP:

Papirus, 2010.

_____; TAMANINI, Elizabete; IVONET, Maria. Discutindo o ensino universitário de turismo.

Cap. 03, pág. 81-82. Campinas, SP: Papirus, 2004.

HOSPEDALES, C.James; PHILIPPEAUX, Harry. Salud y turismo – Documento conceitual, Organización Panamericana de La Salud OMS / OPS , noviembre de 2005.

RODRIGUEZ-GARCIA, R. The health-development link: travel as a public health issue. Journal Community Health. 2001 Apr; 26(2):93-112.

OMS/OPS. Programa de Acción sobre Salud Y Turismo para Las Américas (2008-2012). Organización Panamericana de La Salud OMS / OPS, 2010. Disponível em: http://www.paho.org/saludyturismo/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=44&Itemid=45&lang=es. Acesso: 23 de outubro de 2012.

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Sistema de governança aplicado ao segmento de turismo rural

Fernanda Costa da Silva Mestre em Planejamento Urbano e Regional (UFRGS)

Professora do Curso de Bacharelado em Turismo do Centro Universitário Metodista - IPA Aline Moraes Cunha

Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS) Professora do Curso e Bacharelado em Turismo do Centro Universitário Metodista – IPA

Desenvolvido relativamente a pouco tempo no País, fenômeno advindo dos anos 1980 (BRASIL, 2004), o Turismo Rural é verificado em uma realidade mundial na qual, cada vez mais, as sociedades são menos rurais e mais urbanas – levando-se em conta já se ter mais de 50% do território mundial como urbanizado (UNITED NATIONS, 2014). Como aspectos positivos, pode-se aproveitar justamente o fenômeno da urbanização em contraponto ao ambiente rural, de forma que a segmentação ambientada nesse contexto sirva como atrativo de evasão e vivência aprofundada de valores, práticas e hábitos não comumente realizados nas cidades. Em contrapartida, tal realidade colabora para que as questões rurais, até mesmo básicas, não sejam sanadas, tais como legislação, tributação e direitos sociais, o

que impacta diretamente na segmentação de Turismo Rural e suas adjacentes, a saber Turismo de Base Comunitária, Turismo Rural na Agricultura Familiar e Agroturismo. Do

ponto de vista da gestão pública do turismo tem-se, então, um desafio para o estabelecimento do Turismo Rural, como efetiva fonte de desenvolvimento pleno. Nesse

contexto, uma das ferramentas possíveis de planejamento e gestão verifica-se no sistema de Governança, fomentado pelo Ministério do Turismo desde o primeiro Plano Nacional de

Turismo (BRASIL, 2003). Nessa perspectiva, visando reestruturar a segmentação em questão aludida, no Rio Grande do Sul, no ano de 2007, foi estabelecido um grupo de trabalho, retomado em 2015, coordenado pelo Governo do Estado do RS, através da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (SETEL). O Grupo de Trabalho de Turismo Rural do Rio Grande do Sul (GT TR) tem como objetivos a atuação básica para estabelecimento de diretrizes e critérios de funcionamento do segmento no estado; o estudo da legislação estadual e nacional vigente; a realização de diagnósticos; a inventariação turística rural; e a promoção de atrativos rurais, como forma de fortalecer a comercialização turística do estado. Passado um ano de atuação, este estudo objetiva avaliar o funcionamento do GT, partindo da teoria que estabelece a Governança enquanto ferramenta relevante para a gestão turística. Especificamente, visa-se: a) examinar em que medida os pressupostos teóricos de

governança estão sendo eficientes, na prática da gestão do Turismo Rural; b) identificar as principais dificuldades do sistema de trabalho do tipo governança, em âmbito estadual,

partindo-se do que rege a teoria pertinente ao tema; e c) elucidar os principais avanços estabelecidos por esse sistema para o Turismo Rural. A abordagem do tema justifica -se, na

medida em que: a) alinha-se ao que rege o Plano Nacional de Turismo em vigor (BRASIL, 2013), quanto à importância de se trabalhar em sistema de governança; b) atende aos

pressupostos teóricos que indicam a importância da análise do planejamento e da gestão do turismo no âmbito público, visto que toda a política turística necessita do estudo com vigor

científico dos problemas que afetam o turismo (MARTÍNEZ, 1955); e c) atende ao

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pressuposto básico de uma das etapas de planejamento, qual seja, o da avaliação, visto que um processo de planejamento e gestão de turismo que não é avaliado pode ser prejudicial para a atividade turística em que está inserido, afetando, pois, a qualidade dos serviços, a cultura, provocando, por conseguinte, injustiças sociais, crises econômicas, entre outras consequências (ARRILLAGA, 1955). Sobremaneira, o presente trabalho busca colaborar com a reflexão quanto ao papel das instâncias de governança locais na promoção do desenvolvimento do turismo e neste caso especificamente de destinos de Turismo Rural. Cabe ressaltarque as entidades participantes do GT, a saber, a SETEL, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), a Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/RS-ASCAR), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), o Serviço Nacional de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), a Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS), a Associação Brasileira de Turismo Rural do Rio Grande do Sul (ABRATURRRS), a Quinta da Estância Grande e entidades de Ensino Superior – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Centro Universitário Metodista - IPA –, colaboram voluntariamente. Elas atuam em consonância com o que expõe Cavaco (2006), o

qual destaca o fato do turismo figurar entre as atividades não agrícolas inseridas na pluriatividade rural, reconhecido como vetor de diversificação, complementando

rendimentos, reforçando a identidade e imagem dos lugares e a autoestima das populações. Dessa forma e partindo desses pressupostos é que se busca a reflexão quanto a esta experiência, bem como a multiplicação de seus resultados de forma a colaborar com processos semelhantes em outros destinos, que também almejam o desenvolvimento de políticas públicas fomentadoras e promotoras do segmento de Turismo Rural. Palavras-chave: Turismo Rural. Governança. Planejamento turístico. Rio Grande do Sul.

REFERÊNCIAS ARRILLAGA, José Inácio. (1955). El turismo em la economia nacional. Madrid: Aguilar.

BRASIL. Ministério do Turismo. (2003). Plano Nacional de Turismo 2003-2007. Brasília, DF.

BRASIL. Ministério do Turismo. (2004). Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo

Rural. Brasília, DF.

BRASIL. Ministério do Turismo. (2013). Plano Nacional de Turismo 2013-2016: o turismo fazendo muito mais pelo Brasil. Brasília, DF.

CAVACO, C. Regionalização do turismo em áreas rurais a partir da oferta. In: ALMEIDA J.A.; SOUZA M. (org.) Turismo Rural: patrimônio, cultura e legislação . (2006). 1.ed. Santa Maria:

FACOS/UFSM.

MARTÍNEZ, Manuel de Torres. Sistema de Política Turística. (1955). Madrid: Aguilar.

UNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs. (2014). 2014 Revision of World Urbanization Prospects. Highlights. USA, New York.

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A importância dos eventos de participação popular na construção de políticas públicas

Vitor João Ramos Alves Mestre em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo – CET/UNB

Em uma época que a população brasileira sofre um golpe contra a democracia, por

meio da tomada do poder em 31 de agosto de 2016, o qual prevê a destituição de vários direitos sociais já conquistados pelas políticas públicas vigentes, surge a necessidade de se promover abordagens teóricas e reflexivas que envolvam a importância da participação direta da sociedade na efetivação da democracia. Nesse contexto inicial, o presente resumo estendido, por meio de uma pesquisa qualitativa, de nível exploratório e interpretativo, embasada em obras e produções acadêmicas que tratam do tema citado, tem como objetivo: promover uma reflexão teórica sobre a importância dos eventos de participação popular na construção de políticas públicas voltadas ao turismo.

Ao tentar identificar o conceito mais adequado de políticas públicas para a reflexão aqui apresentada, encontrou-se nos estudos de Heidemann (2009, p. 28) a proposta de que, em termos político-administrativos, o desenvolvimento de uma sociedade resulta de decisões formuladas e implementadas pelos governos em todos os seus níveis hierárquicos, em conjunto com as demais forças que impulsionam a sociedade, sobretudo as forças de mercado. Conforme o autor, essas decisões e ações do governo em exercício e de outros atores sociais que participam do processo constituem o que se denomina hoje como

políticas públicas. As políticas públicas voltadas diretamente para o turismo definem os princípios,

metas e macro programas de desenvolvimento da atividade turística expressos no Plano Nacional de Turismo 2013/2016, editado pelo Ministério do Turismo em 2013 (Brasil).

Considerado pelo próprio órgão – MTur – como um instrumento de planejamento e gestão que faz do turismo um indutor do desenvolvimento e da geração de emprego e renda no

país, tem-se como modelo de desenvolvimento proposto, o crescimento do mercado com a distribuição de renda e a redução das desigualdades, integrando soluções nos campos:

econômico, social, político, cultural e ambiental, conforme o próprio plano (Brasil, 2013). Face aos problemas sociais existentes atualmente no país, os mesmos precisam ser

enfrentados mediante a promoção de políticas públicas, por meio da participação democrática da sociedade. Nesse propósito, a democracia participativa tem como premissa

o interesse básico dos indivíduos na autodeterminação política e na abolição do domínio dos homens sobre os homens e concebe a formação da vontade política de todos os envolvidos,

com a participação dos cidadãos.

Tal posicionamento tornou-se uma obrigação para o Estado, de se desenvolver políticas sociais democráticas, conforme a Constituição de 1988 e mediante a criação de

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conselhos, comissões e comitês sobre as diversas áreas de atuação do Poder Público, especialmente, no âmbito do turismo.

O princípio da democracia está inserido na Constituição em seu artigo 1º, parágrafo único, o qual apresenta que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (Brasil, 1988). A mesma (Brasil, 1988) também instituiu mecanismos que garantem a participação direta do cidadão no Poder Público, como a iniciativa popular, o referendo, o plebiscito, as consultas e audiências públicas, os conselhos de gestão de políticas e serviços públicos. Tais mecanismos têm importância para a garantia do respeito aos valores da democracia e da justiça, a proteção e concretização dos direitos da pessoa humana e a construção de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.

A partir do ano de 2003, baseado nas diretrizes da Constituição Federal (1988), o poder público deu início a uma forma de gestão democrática, na qual os cidadãos e as entidades da sociedade civil abandonariam a postura de meros objetos da ação estatal para participarem de forma ativa nas decisões do país. O compromisso com a construção de uma nação mais democrática e socialmente solidária promoveu a superação do antigo modelo de

construção de políticas públicas, para um processo feito em conjunto com a sociedade e o Estado (Brasil, 2011). Antes, as decisões eram tomadas exclusivamente por técnicos e

dirigentes dos ministérios. A partir de então, foram construídas, em parceria com a sociedade civil, mecanismos de participação popular com intuito de ampliar a interação do poder público com a população brasileira e firmar a democracia no país.

Por meio de um projeto coletivo de emancipação social, firmou-se a partir do ano de 2003 a construção de uma relação de diálogo permanente e de respeito pela autonomia dos movimentos e democratização das políticas públicas, entre o Estado e a sociedade. Esse novo processo de consolidação da democracia e da expansão da cidadania priori zou o papel da participação social, promovendo a elaboração de políticas públicas mais adequadas aos

anseios da população brasileira. Assim, conforme o documento “Democracia Participativa: nova relação do Estado com a Sociedade 2003-2010”, produzido pela Secretaria Geral da Presidência da República em 2011, o governo passou a valorizar a participação social, considerando-a “além de legítima e legitimadora”, como uma forma de fortalecer a democracia brasileira (Brasil, 2011, p. 9).

Nessa importância, foi homologada a Medida Provisória nº 103, de 1° de janeiro de 2003, convertida na Lei 10.683, de 28 de maio de 2003 que estabeleceu:

Art. 3° À Secretária-geral da Presidência da República compete assistir direta e imediatamente ao Presidente da República no desempenho de suas atribuições,

especialmente no relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse

do Poder Executivo na elaboração da agenda futura do Presidente da República, na preparação e formulação de subsídios para os pronunciamentos do Presidente da República,

na promoção de análises de políticas públicas e temas de interesse do Presidente da República, na realização de estudos de natureza político-institucional e outras atribuições

que lhe forem designadas pelo Presidente da República, tendo como estrutura básica o Gabinete, a Subsecretaria-Geral e até duas Subsecretarias (Brasil, 2003).

Assim, a adoção de políticas participativas foi incorporada como um elemento-chave nesse novo processo de construção de políticas públicas, a qual coube à Secretaria Geral

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coordenar a construção de espaços e instrumentos participativos, bem como a formulação de conceitos, noções e procedimentos que passariam a orientar os órgãos de governo em sua interação com os movimentos sociais e entidades da sociedade civil. A partir de então, foram instaurados processos de diálogo democrático com os mais diversos setores da sociedade civil visando mediar os conflitos, aperfeiçoar as políticas públicas e aprofundar a democracia.

A atuação da Secretaria Geral também contribuiu para estimular a cultura de participação social no interior do governo e para ampliar as relações de diversos segmentos sociais com a administração federal.

Muitas políticas públicas foram promovidas nesse ambiente institucional interativo e participativo, como por exemplo: os Planos Diretores Municipais de vários municípios brasileiros, os Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável [PDITS] de Polos turísticos de vários estados e as Avaliações Ambientais Estratégicas [AAE], denominados esses dois últimos como “Políticas Nacionais de Desenvolvimento Turístico e Meio Ambiente” (2009, p.17). Tais processos de diálogos democráticos utilizam instrumentos do tipo: conselhos de política urbana, debates, audiências e consultas públicas,

conferências sobre assuntos de interesses urbanos, iniciativas populares de projetos de lei e planos, programas e projetos, como os citados acima, que surgiram com intuito de

impulsionar o desenvolvimento do país. Outra forma de se promover a participação da coletividade é a publicidade e acesso livre dos documentos e informações produzidas por todos os órgãos públicos.

O objetivo de todos esses instrumentos é o de ampliar a base de conhecimento, planejamento e sustentação de políticas públicas das cidades brasileiras. Assim, deixaram de ser um assunto restrito para os especialistas e técnicos dos órgãos envolvidos na construção das políticas públicas e passaram a promover a participação de toda a sociedade brasileira.

Todos esses instrumentos são colocados em prática e estruturados por meio de

eventos de participação popular que exigem toda uma composição de funcionamento necessária para atender aos objetivos propostos. Os debates e audiências públicas, por exemplo, precisam ser planejados e estruturados com antecedência, além de divulgados amplamente para que a participação popular não seja restrita a poucos envolvidos. A organização deve sempre procurar identificar e coletar informações e contribuições das diferentes partes envolvidas no evento, além de promover espaços equivalentes para a participação oral e/ou escrita e na coleta das opiniões referentes às decisões a serem

tomadas. Conforme as abordagens de Britto e Fontes (2002, p. 14-15) um evento, como os

citados acima, é a soma de esforços e ações planejadas com o objetivo de alcançar resultados definidos junto ao seu público-alvo. Já por meio dos estudos de Carmen

Gonçalves (2003, p. 5) o conceito de evento envolve qualquer tipo de acontecimento onde as pessoas se reúnem objetivando a troca de ideias, intercâmbio, definição de diretrizes e

metas, até o planejamento ou avaliação de projetos. Esses eventos de participação popular se transformam em momentos de reflexão e

planejamento da infraestrutura da cidade, além de tratar da qualidade de vida da população residente. O turismo também se beneficia de forma direta quando as reflexões se voltam

para a melhoria e desenvolvimento da infraestrutura turística local e para a qualidade do processo receptivo de turistas na cidade.

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Nesse sentido, investir em eventos de participação popular, que objetivem nas definições de políticas públicas e que incluam os processos de comunicação, formação, capacitação e disseminação de informações voltadas aos benefícios sociais da população, promove condições aos participantes de analisar os problemas sociais, discutir sobre as possíveis soluções e permite, aos mesmos, assumir posições ativas democraticamente na sociedade. Além de promover o exercício da transparência pública e do direito à informação, os eventos participativos proporcionam a coleta de informações e subsídios fundamentais para a elaboração e aprimoramento das políticas públicas locais.

Sabe-se, entretanto, que a participação comunitária pode acontecer de forma superficial e obedecer apenas o rito exigido pelas normas técnicas, sem promover realmente o seu objetivo central de sensibilizar a população e coletar contribuições para a construção das políticas públicas. O processo participativo deve acontecer, não apenas por representar certo tipo de representatividade ao processo, mas porque as equipes técnicas não conhecem a totalidade das necessidades reais da população.

Acredita-se, dessa forma, que para uma efetivação da democracia no país, há a necessidade do poder público continuar promovendo, cada vez mais, eventos de

participação popular para a elaboração de políticas públicas eficientes e que reduzam os problemas sociais da população. Quanto mais a sociedade participar, ativamente, na

construção de políticas públicas, garantirá o efetivo caráter participativo do processo. Exige-se, assim, uma atuação mais ativa do cidadão na construção das políticas públicas, incluindo aquelas voltadas para o fomento do turismo como fenômeno humano e social. Uma mudança de consciência em cada cidadão é necessária a fim de continuar a luta por um Estado democrático, destinado à segurança do exercício dos direitos sociais e individuais, à liberdade, ao bem-estar, à igualdade e à justiça para cada cidadão brasileiro. REFERÊNCIAS

Brasil. (1988). Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília.

______. (2002) Estatuto da Cidade: guia para implementação pelos municípios e cidadãos:

Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que estabelece diretrizes gerais da política urbana. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações.

______. (2003). Presidência da República. Medida Provisória nº 103, de 1° de janeiro de 2003. Brasília.

______. (2003). Presidência da República. Lei 10.683, de 28 de maio de 2003. Brasília.

______. (2009). Ministério do Turismo. Manual de Planejamento e Gestão Socioambiental. Brasília: Prodetur Nacional.

______. (2011). Secretaria Geral da Presidência da República. Democracia Participativa: nova relação do Estado com a Sociedade 2003-2010. 2ª ed. Brasília.

______. (2013). Ministério do Turismo. Plano Nacional de Turismo 2013/2016: o turismo fazendo muito mais pelo Brasil. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas de Turismo.

Britto, Janaína; Fontes, Nena. (2002). Estratégias para Eventos. São Paulo: Editora Aleph.

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Gonçalves, Carmem. (2003). Gestão de Eventos em Turismo. Universidade de Brasília. Brasília: UnB.

Heidemann, Francisco G.; Salm, José Francisco [org.]. (2009). Políticas públicas e

desenvolvimento: bases epistemológicas e modelos de análise. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Os eventos de participação popular na elaboração da revisão do PDITS do polo costa dos Coqueirais/SE

Vitor João Ramos Alves Mestre em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo – CET/UNB

O Ministério do Turismo – MTur, por meio do Departamento de Programas Regionais

de Desenvolvimento do Turismo – PRODETUR, o qual pertence à Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento de Turismo, vem empenhando esforços para a elaboração, de forma democrática e participativa, de Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS – para todos os Polos turísticos brasileiros. A revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais, do Estado do Sergipe, é um exemplo desse empenho, realizado durante o ano de 2013.

Nesse sentido, este resumo estendido pretende, por meio de uma pesquisa

qualitativa de nível exploratório documental e bibliográfico, identificar as característic as dos eventos de participação popular, realizados nas etapas de elaboração da revisão do PDITS do

Polo Costa dos Coqueirais, durante o ano de 2013 pelo Governo do Estado do Sergipe. Além disso, pretende promover uma reflexão sobre a efetividade do processo participativo na

construção da revisão do Plano. A participação social na construção das políticas públicas brasileiras foi uma das

principais marcas do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir do ano de 2003, conforme abordagens apresentadas na obra “Democracia Participativa: nova relação

do Estado com a sociedade, 2003 – 2010”, lançada no ano de 2011. A obra ainda apresenta que a democracia efetiva, no posicionamento atual em que se encontra o mundo, exige uma

profunda socialização da política, não podendo ficar restrita aos especialistas e profissionais da área. Precisa-se, também, envolver os demais atores da sociedade que são a própria

razão de ser dos poderes constituídos, além de garantir à sociedade o direito de opinar sobre decisões que afetam diretamente a vida cotidiana dos cidadãos (Brasil, 2011, p. 6).

Como políticas públicas voltadas diretamente ao turismo, têm-se elaborado no país

os Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS. Identificados

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como um instrumento técnico de gestão da política turística pelo MTur, os PDITS destinam-se ao planejamento da atividade turística em áreas prioritárias selecionadas pelos governos estaduais ou municipais a serem incluídas no PRODETUR Nacional, conforme Manual de Planejamento e Gestão Socioambiental (Brasil, 2009, p. 31). Tem-se como objetivo principal dos Planos, orientar o crescimento do setor do turismo em bases sustentáveis, em curto, médio e longo prazo, estabelecendo as bases para a definição de ações, tomada de decisão e propriedades para o desenvolvimento do turismo na área. O manual (Brasil, 2009, p. 31-32) ainda pontua que o planejamento do turismo deve ocorrer como um processo, de forma contínua e participativa, integrando as diversas instituições públicas envolvidas com o setor, assim como as municipalidades, o setor empresarial e a sociedade civil.

O Polo Costa dos Coqueirais, localizado no Estado do Sergipe, desenvolve-se ao longo da costa marítima com aproximadamente 163 km de extensão e estende desde o litoral Sul do Estado até o extremo Norte. É composto por treze municípios de pequena extensão, mas que englobam quase 50% do total dos habitantes de Sergipe, conforme informações do documento técnico que contém o diagnóstico da revisão do PDITS (Brasil, 2013b). A tabela a seguir apresenta, de forma clara, tal afirmação.

Tabela 1: Número de habitantes por município e densidade demográfica, Polo Costa dos

Coqueirais, 2010.

MUNICÍPIOS POPULAÇÃO 2010

(HAB.) ÁREA (KM²)

DENSIDADE DEMOGRÁFICA

(HAB./KM2)

Aracaju 571.149 181,857 3.140,67 Barra dos Coqueiros 24.976 90,322 276,52

Brejo Grande 7.742 148,858 52,01 Estância 64.409 644,083 100,00

Indiaroba, 15.831 313,525 50,49

Itaporanga D’Ajuda 30.419 739,925 41,11 Laranjeiras 26.902 162,280 165,78

Nossa Senhora do Socorro 160.827 156,771 1.025,88 Pacatuba 13.137 373,818 35,14

Pirambu 8.369 205,879 40,65 Santo Amaro das Brotas 11.410 234,156 48,73

São Cristóvão 78.864 436,863 180,52

Santa Luzia do Itanhy 12.969 325,732 39,36 Total do Polo 1.027.004 4.014 255,85

Total do Estado 2.068.017 21.915,116 94,35 Fonte: IBGE (2010) / PDITS Polo dos Coqueirais (2013b).

Com vocação para os segmentos turísticos de negócios e eventos, turismo cultural,

turismo de lazer, ecoturismo, turismo náutico, pesca esportiva e turismo subaquático, o Polo

ainda apresenta uma grande biodiversidade de flora e fauna, além de manguezais, lagoas, dunas, restingas e Mata Atlântica.

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A primeira versão elaborada do PDITS do Polo dos Coqueirais foi entre os anos de 2000/2001 e após os dez anos de sua validade elaborou-se, durante o ano de 2013, a revisão do mesmo, pela empresa Technum Consultoria, sediada em Brasília/DF.

As etapas de elaboração da revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais, conforme apontado anteriormente, seguiu o princípio de planejamento participativo, com envolvimento de empresários, organizações ligadas ao turismo, líderes comunitários e técnicos municipais, visando alcançar uma consistência e consenso para o desenvolvimento do Plano.

Tal princípio de planejamento participativo foi pautado no exercício da democracia, por meio dos eventos de mobilização popular, os quais movimentaram uma parte da população dos 13 municípios pertencentes ao Polo.

Na caracterização dos eventos realizados durante o processo de elaboração da revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais foram identificados, além das reuniões técnicas com os profissionais responsáveis pelo PDITS, os eventos de participação popular, os quais buscavam a contribuição da população local na construção do diag nóstico e na validação das ações apresentadas para o Plano, conforme tabela 2 a seguir.

Tabela 2: Relação dos eventos de participação popular realizados na revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais, durante o ano de 2013.

EVENTO PARTICIPATIVO OBJETIVO NÚMERO DE

PARTICIPANTES

1ª reunião com entidades públicas e particulares que participam ou contribuem para o desenvolvimento do turismo

Coleta de dados, informações e contribuições para o Diagnóstico Estratégico.

26

2ª reunião com entidades públicas e particulares que participam ou contribuem para o desenvolvimento do turismo

Coleta de dados, informações e contribuições para o Diagnóstico Estratégico.

21

1ª reunião dirigida aos representantes de agências de viagem, operadoras de turismo, empresários do setor hoteleiro, empresários de bares, restaurantes e casas de animação e entretenimento e locadoras de veículos e transportadoras

Avaliação qualitativa do turismo e sua interface com os diversos setores

15

2ª reunião dirigida aos gestores e técnicos do poder público municipal e empresários do setor de turismo

Avaliação qualitativa do turismo e sua interface com os diversos setores

23

3ª reunião dirigida aos representantes da comunidade em geral

Avaliação qualitativa do turismo e sua interface com os diversos setores

8

Oficina Pública

Consolidação do diagnóstico e dos indicativos de estratégias e de ações de desenvolvimento do turismo no Polo

36

Oficina Pública Apresentação do diagnóstico da situação atual e estratégias e quadro

25

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EVENTO PARTICIPATIVO OBJETIVO NÚMERO DE

PARTICIPANTES preliminar de ações para o desenvolvimento do turismo no Polo

Oficina Pública

Apresentação do diagnóstico da situação atual e estratégias e quadro preliminar de ações para o desenvolvimento do turismo no Polo

17

Oficina Pública Apresentação do Plano de Ação e apresentação da versão preliminar do PDITS

28

Audiência Pública Apresentação e votação da validação do PDITS

63

Total de eventos: 10 Total de participantes: 262

Fonte: PDITS Polo dos Coqueirais (2013b) – elaborado pelo autor.

Para a realização dos eventos foram necessários equipamentos de imagem e som, a

fim de facilitar a participação da sociedade, por meio das contribuições dadas sobre a execução do Plano, e facilitar a apresentação do Diagnóstico Estratégico e dos Planos de

Ação, feita pelos técnicos e oradores do evento. Da mesma forma, para o controle e registro de realização dos eventos, foram utilizadas listas de presença e registros fotográficos, que podem ser consultados no Volume Final do Processo Participativo do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais (Brasil, 2013b).

Britto e Fontes (2002, p. 14-15), em suas abordagens sobre eventos, os conceituam como a soma de esforços e ações planejadas com o objetivo de alcançar resultados definidos junto ao seu público-alvo. Por meio dos estudos de Carmen Gonçalves (2003, p. 5), o

conceito de evento envolve qualquer tipo de acontecimento onde as pessoas se reúnem objetivando a troca de ideias, intercâmbio, definição de diretrizes e metas, até o

planejamento ou avaliação de projetos, conceito compatível com as descrições observadas na tabela 2, ao tratar dos objetivos dos eventos.

Conforme observado nas análises documentais do PDITS (2013b), os eventos participativos, inseridos na elaboração da revisão do Plano, tornaram-se elementos de

incentivo à transformação social, de aculturação, de educação, conscientização e mobilização da população local presente nos eventos, além de serem divulgadores e

geradores de informação a respeito das ações realizadas pelos órgãos públicos envolvidos. Também foram identificados, alguns dos benefícios promovidos pelos eventos,

conforme a relação a seguir:

Estreitamento das relações com a população e o órgão público (federal e/ou

municipais), possibilitando a interação com os envolvidos; Apresentação dos planos, projetos e programas que estão sendo elaborados

para atender a população, além da transmissão e divulgação das informações promovendo uma gestão transparente;

Obtenção de informações sobre as necessidades da população e dos investimentos sociais a serem realizados;

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Atualização e capacitação profissional técnica; Promoção e incentivo para a participação da sociedade na construção das

políticas públicas; Além do estabelecimento de novos contatos, como as lideranças comunitárias

e entidades da sociedade civil em geral. Entretanto, pôde-se observar também, de acordo com o cruzamento das

informações contidas nas tabelas 1 e 2, além das informações apresentadas no documento do PDITS (Brasil, 2013b), que o número de participantes nos eventos encontra-se muito

baixo em relação ao total da população do Polo, representando apenas 2,55% desta população. Tal valor indica a necessidade de melhoria e ampliação tanto do processo de

divulgação dos eventos quanto de mobilização da população para uma participação popular mais efetiva.

A prática participativa, em uma sociedade que ainda cresce na consolidação democrática, revela a falta de comprometimento e desinteresse da população na busca pela melhoria local. A própria sociedade ainda não se encontra habituada à participação nos

processos de construção das políticas públicas, o que exige dos órgãos públicos um esforço maior no desenvolvimento metodológico para a elaboração dos projetos e planos de

desenvolvimento municipal. Para que o turismo seja promovido como fenômeno humano, a sociedade deve se

unir, de forma concisa, para participar e contribuir, por meio dos eventos participativos, na implementação das formas de planejamento e práticas turísticas.

Uma mobilização da sociedade, de forma a refletir e discutir a respeito dos problemas do turismo, ampla e permanentemente, por meio dos eventos de participação

popular, é necessária nos dias atuais. O incentivo e atuação da sociedade no processo de elaboração do PDITS promoverá, dessa forma, uma contribuição para a construção de uma

sociedade mais democrática e participativa. É importante ressaltar que a democratização do processo de planejamento do

turismo deve ser encarada, pelos gestores e responsáveis, como essencial para que o planejamento deixe de ser apenas uma construção técnica e passe a ser uma construção

coletiva de articulação política entre os atores que modelam e transformam o turismo local. É na participação popular que, acerca dos problemas sociais do turismo, reside a esperança de mudança e transformação epistemológica do setor, priorizando as carências e as necessidades da população envolvida. REFERÊNCIAS Brasil. (2009). Ministério do Turismo. Manual de Planejamento e Gestão Socioambiental. Brasília: Prodetur Nacional.

______. (2010). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Censo 2010. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php>. Acessado em: 4 de out.

2016.

______. (2011). Secretaria Geral da Presidência da República . Democracia Participativa:

nova relação do Estado com a Sociedade 2003-2010. 2ª ed. Brasília.

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______. (2013a). Ministério do Turismo. Plano Nacional de Turismo 2013/2016: o turismo fazendo muito mais pelo Brasil. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas de Turismo.

______. (2013b). Ministério do Turismo. Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo

Sustentável do Polo Costa dos Coqueirais. Governo do Estado do Sergipe.

______. (2014). Presidência da República. Decreto Nº 8.243, de 23 de maio de 2014.

Britto, Janaína; Fontes, Nena. (2002). Estratégias para Eventos. São Paulo: Editora Aleph.

Gonçalves, Carmem. (2003). Gestão de Eventos em Turismo. Universidade de Brasília. Brasília: UnB.

Instâncias de governança regional: um estudo sobre o Condetur da região turística da Costa do Sol/RJ

Maria Lúcia Malatesta de Freitas Evangelista Mestranda em Turismo - Faculdade Turismo e Hotelaria da UFF

Aguinaldo César Fratucci Professor e Coordenador do Programa de Pós Graduação em Turismo da UFF

Doutor (2008) e Mestre (2000) em Geografia pela UFF

O planejamento e a gestão do turismo no Brasil, embora estejam a cargo do poder

público, devem ser discutidos levando-se em conta a perspectiva de outros setores da sociedade, como a iniciativa privada e a sociedade civil. Essa integração no Brasil deu seus primeiros passos com a criação dos conselhos municipais de turismo, criados pelo Programa Nacional de Municipalização de Turismo (PNMT) na década de 1990.

Durante quase dez anos, o PNMT foi a política pública brasileira incumbida de descentralizar a gestão e o planejamento da atividade turística para a escala municipal. Posteriormente, com a criação do Ministério do Turismo em 2003, e a instituição do Plano Nacional de Turismo 2003-2007, foram propostos os programas, projetos e a filosofia que regeria a política pública de turismo. No ano seguinte, lançou-se o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (PRT), cujo o objetivo era propor aos

municípios que se organizassem conjuntamente, formando regiões turísticas. (Brasil, 2013; Trentin & Fratucci, 2011)

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Para tanto, fez-se necessária a proposição de uma instância de governança que ultrapassasse os limites municipais e envolvesse parcerias público-privadas regionais. Entendia-se que a instância de governança regional (IGR) seria fundamental para se estabelecer um diálogo permanente entre os municípios, para os processos de tomada de decisão e desenvolvimento de ações que tornassem a região competitiva. Em algumas regiões, as IGR já eram uma realidade antes mesmo de serem consideradas uma política pública e terem diretrizes para o seu desenvolvimento.

Queiroz & Rastrollo-Horrillo (2015, p.53) publicaram um estudo sobre o estado de arte do campo de pesquisa sobre governança nos destinos turísticos, estruturando as principais correntes e autores que investigam a área. Elas afirmam que “La Gobernanza se materializa en la existencia de instrumentos normativos, estructurales y organizativos, esos relacionados con la capacidad de gestión, como redes y coordinación multinivel (nacional, regional, local)[...]” . Gonzáles (2014, p.17) afirma que “la gobernanza del turismo es la recepción en el mundo del turismo de la exigencia ciudadana de buscar nuevas formas de tomar las decisiones colectivas que mejoren las limitaciones de los procesos de toma de decisiones actuales y que también permitan un papel más activo de diferentes actores

sociales.” A partir do conceito de governança brevemente elucidado anteriormente, este

trabalho tem como tema as IGR e o objeto de estudo é o Conselho Regional da Costa do Sol (Condetur). O Condetur foi constituído no ano de 2008 na Região Turística da Costa do Sol, RJ, com a participação de 13 municípios: Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Carapebus, Casimiro de Abreu, Iguaba, Macaé, Maricá, Quissamã, Rio das Ostras, Saquarema e São Pedro da Aldeia.

A escolha da região para essa pesquisa deveu-se ao anseio de fazer um registro histórico do turismo regional, de modo a aumentar a massa crítica sobre o assunto, uma vez que há pouco material científico publicado sobre o turismo na Costa do Sol.

Trata-se de uma questão que pode interessar à comunidade acadêmica na medida em que procurou-se realizar aqui, não obstante as limitações intrínsecas a um trabalho deste porte, um detalhamento do processo de estabelecimento de uma IGR. Além disso, a pesquisa representou também uma tentativa de avaliação da IGR em relação aos resultados obtidos por outras IGRs em nível nacional. Essa comparação pode ser feita levando-se em conta o relatório publicado pelo Ministério do Turismo (Ministério do Turismo, 2010), que fez um balanço do PRT.

O dado mais intrigante sobre nosso objeto de pesquisa é que o Condetur está desativado desde 2013. No início, antes de começarmos a pesquisa, surgiu uma pergunta:

por que estudar uma instituição que foi desativada? Qual a importância de estudar um objeto que não desempenha mais o seu papel?

Portanto, dada a problemática sobre o Condetur, essa pesquisa quis responder à pergunta: quais os motivos que levaram à inatividade do Condetur? Disso decorreram os

seguintes objetivos específicos: levantar e discutir a bibliografia sobre o tema; levantar o histórico da política pública federal e estadual de turismo; descrever a região da Costa do

Sol; investigar como se deu a formação do Condetur, identificar resultados das ações do Condetur para o turismo na região e analisar os motivos pelos quais o Condetur está inativo.

Para a pesquisa de campo, lançamos mão de fontes primárias e secundárias, levantando documentos sobre o Condetur como: atas, relatórios, o Estatuto etc. Traçamos

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uma cronologia e apresentamos os documentos divididos em três seções: a primeira contextualizou o cenário em que o Condetur foi gestado e apresentou os documentos referentes ao momento anterior à primeira assembleia que constituiu o Condetur; na segunda parte selecionamos alguns itens do Estatuto do Condetur e os discutimos; na terceira apresentamos todos os documentos que foram encontrados referentes ao período em que o Condetur esteve em vigor (2008 a 2013).

Seguimos com a apresentação das ferramentas metodológicas util izadas para a coleta do material das entrevistas. Optamos por aplicar um questionário estruturado com perguntas abertas. Foram entrevistados representantes de 5 cidades: Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Rio das Ostras, Cabo Frio e Macaé. O roteiro foi elaborado de forma simples: a descrição inicial do participante; perguntas sobre os aspectos de cooperação, diálogo, liderança e participação dos municípios; uma pergunta sobre a ligação do Condetur com o órgão colegiado de Turismo de sua cidade; questionamentos sobre as rações pelas quais o Condetur está desativado e sobre o que se poderia esperar caso o Condetur fosse reativado.

Durante a pesquisa surgiram outros questionamentos que não estavam previstos no

escopo inicial, entre eles: a convergência entre o PNMT e o PRT (Trentin & Fratucci, 2011), observada na literatura; a polêmica divisão territorial da região da Costa do Sol e o uso da

nomenclatura “Costa do Sol” sobreposto e concomitante com "Região dos Lagos". Essas questões foram sinalizadas por meio das entrevistas, pela bibliografia levantada e também pela pesquisa documental.

Procuramos identificar como a regionalização do turismo se manifestou no estado e quais foram os contornos geográficos propostos antes de se chegar à configuração atual das 11 regiões turísticas. Vimos que a regionalização do turismo já havia sido proposta antes mesmo do lançamento oficial do PRT.

A descrição da região levou em conta aspectos históricos e culturais, geográficos,

econômicos, políticos e turísticos. Escolhemos abordar a questão da divisão territorial entre os municípios e encontramos material que elucidou os processos de emancipação que se deram na região. Não podíamos descrever a região sem apontar os ônus e bônus trazidos pela atividade petrolífera, que tem marcado as relações entre as municipalidades, além de ser uma fonte de renda expressiva para muitos municípios da Costa do Sol. Atualmente há que se mencionar que existe, para além da crise pela qual todo o país passa, uma profunda crise nos municípios que recebiam royalties do petróleo na região. Em função disso, o

turismo e outras atividades voltaram a ganhar espaço no rol das possibilidades econômicas da região.

A partir de uma perspectiva crítica, propusemos a análise do período de vigência do Condetur, buscando responder nossos problemas de pesquisa. Nosso exercício de pesquisa

propôs o abandono de raciocínios simplistas e o estabelecimento de considerações que evidenciassem a complexidade dos fatos que envolveram a IGR desde o seu início.

Um erro apontado pela literatura e observado no estudo dos municípios da Costa do Sol foi que, na maioria das cidades dos entrevistados (Armação dos Búzios, Cabo Frio, Macaé

e Rio das Ostras), não havia os Conselhos Municipais de Turismo propostos pelo PNMT. A ideia de que os dois órgãos, o municipal e o regional, deveriam coexistir talvez não tenha

ficado clara na PNT, tanto para a administração pública quanto para os demais atores que compõem as estruturas.

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Assim como o nome é uma questão primária para a unidade dos municípios da região, o recorte regional também é outro pilar. De acordo com a pesquisa de campo realizada, a configuração atualmente utilizada não é satisfatória. Houve diversas sugestões, mas é necessário que essa proposta seja estudada, aprofundada e que leve em conta a complexa oferta dos municípios para se oferecer um produto coeso e comercializável.

A pesquisa de campo, embora tenha sido elaborada com o compromisso de compor um retrato do Condetur e responder aos objetivos estabelecidos no escopo do projeto, apresentou limites. Não foi possível envolver nas entrevistas atores que representassem os outros municípios da região da Costa do Sol (Casimiro de Abreu, Carapebus, Quissamã, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande, Araruama, Maricá e Saquarema). No entanto, como não houve uma participação constante de representantes desses municípios nesses quase cinco anos (com exceção do município de Casimiro de Abreu), teria sido difícil identificar pessoas que pudessem, a partir da realidade vivenciada no Condetur, dar respostas enriquecedoras.

A justificativa da desativação do Condetur foi dividida em dois aspectos, externos e internos. 1) Externos: a falta de cooperação das instituições como Ministério do Turismo, Secretaria Estadual de Turismo do Rio de Janeiro, Companhia de Turismo do Estado do Rio

de Janeiro e das Prefeituras para atingir as metas do PRT e sobretudo dar suporte financeiro à IGR; recorte regional proposto pelo PRT incompatível com as realidade da região. 2)

Internos: ausência de regimento interno que previsse a resolução de problemas ligados à gestão financeira da IGR; excesso de atribuições exercidas pelo presidente do Condetur durante os dois primeiros períodos eletivos da IGR e centralização em sua figura, ocasionando comodismo por parte dos membros e pouco desenvolvimento do senso de colegialidade no conselho; impossibilidade de sucessão do cargo de presidente, dado que havia atribuições implícitas ao cargo que aconteciam na prática, mas que não estavam previstas no Estatuto; baixo entendimento dos membros do Condetur sobre o seu papel na IGR (que é diferente daquele exercido na instituição que representa); dicotomia entre as

tendências empresariais e institucionais do Condetur; e o aparecimento de microrregiões dentro da grande região da Costa do Sol, que desintegrou o grupo.

Outra reclamação que apareceu nas entrevistas foi a questão do posicionamento central excessivo do destino indutor – Armação dos Búzios – nas pautas das reuniões e também nos discursos dos entrevistados. Essa ponderação foi também encontrada no documento de Avaliação do Programa de Regionalização do Turismo, presente em outras regiões como um ponto a ser revisto e melhorado.

Esperamos que a região que abarca os municípios da Costa do Sol ou Região dos Lagos possa encontrar novamente o seu caminho para o diálogo, através de alguma

governança do turismo. Concluímos a pesquisa com consciência de que, apesar de ter limites, respondemos nosso problema de pesquisa e os objetivos, além de trazer outras

contribuições para a compreensão de questões importantes sobre o funcionamento de uma IGR. O Condetur encontra-se inativo, no entanto há a possibilidade de que volte a funcionar,

desde que se aperfeiçoe a partir de um exame crítico dos prós e contras da experiência realizada até aqui, exame este ao qual este trabalho espera ter dado uma pequena

contribuição.

REFERÊNCIAS

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banal? Caderno Virtual de Turismo, Edição especial: Hospitalidade e políticas públicas em turismo. Rio de Janeiro, v. 14, supl.1, s.9-s.22.

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Análise do potencial turístico para aplicação da política de regionalização do turismo na Amazônia mato-grossense

Moisés Junior Reis

Rita Maria de Paula Garcia

Em virtude da utilização do espaço geográfico uma das ciências que mais tem mostrado interesse no turismo é a geográfica. Segundo Rodrigues (2001) já em 1905 se discutia a

interligação e ligação do turismo e geografia, de maneira particular se criou a expressão “Geografia do Turismo” que se dedica à análise dos impactos produzidos no espaço por este

fenômeno.Uma das grandes abordagens da geografia que tem ganhado força no meio acadêmico e fora dele, principalmente na política e economia, é a regionalização, termo que

na década de 1990 foi muito discutido e utilizado e que depois de muito tempo sem uso está retornando, isso se deve “*...+ em função da proliferação de regionalismos, identidades

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regionais e de novas-velhas desigualdades tanto a nível global como intranacional.” (HAESBAERT, 1999, p. 15-16). Stefani (2006, p. 47) mostra que existe uma tendência e esforços para que municípios criem produtos com capacidade de atrair demanda de diversos lugares “A organização regional do turismo está diretamente relacionada com o planejamento em conjunto de atividades e parcerias”. Os órgãos oficiais do turismo tem adotado a organização regional com a finalidade de “*...+ criar produtos com a capacidade de atrair demanda nacional e internacional” (STEFANI, 2006, p.47). Diante dos números crescentes da economia do Mato Grosso frente aos demais estados da federação, com atenção a agricultura e pecuária se fazem necessários estudos que possam contribuir para elevação de outras atividades econômicas que nele encontra potencial, como o turismo. Segundo dados do governo do estadual usando informações do IBGE, em uma década o PIB de Mato Grosso cresceu 554%, passando assim dos 12,3 bilhões para 80,8 bilhões enquanto o PIB nacional teve um avanço de 312%, grande parte do desempenho do estado veio das atividades do campo como a pecuária e agricultura fazendo o estado ser conhecido como o “Celeiro do pais”. Tais informações apontam Mato Grosso como um estado importante no cenário nacional, o avanço de novas atividades econômicas como o turismo iriam contribuir

consideravelmente para a elevação desta importância. Para Goeldner (apud COOPER; FLETCHER, 2001) o turismo pode ser compreendido como a soma de fenômenos e relações

originados da interpretação de turistas, empresas prestadoras de serviços, governo local e comunidade nativa, no processo de atrair e receber turistas e outros visitantes configurando uma troca de experiências com consequências sociais, culturais e econômicas para visitante e receptor. Segundo Andrade (apud IGNARRA, 2002, P. 24) o turismo é classificado como “O conjunto de serviços que tem por objetivo o planejamento, a promoção e a execução de viagens, e os serviços de recepção, hospedagem e atendimento aos indivíduos e aos grupos, fora de suas residências habituais.” O turismo é ainda pouco valorizado pelos órgãos oficiais e pela população local, é possível fazer tal observação analisando as políticas públicas desta

atividade no estado. O Anuário Estatístico do Turismo do ano de 2016 base 2015 (BRASIL, 2015) registrou entrada de 6.305.838 de turistas de outros países no Brasil, considerando as entradas por unidade federativa, Mato Grosso não aparece como uma das principais portas de entrada. Diante dos fatos apresentados com o destaque de crescimento econômico e humano da região norte mato-grossense ou Amazônia mato-grossense, se faz necessária uma análise do potencial turístico local, com a finalidade de identificar os atrativos e empreendimentos que envolvem diretamente a atividade turística, para assim delinear uma

proposta de organização regional, por meio da criação de políticas públicas munic ipais e regionais, tendo como foco nos municípios de Cláudia, Colíder, Nova Canaã do Norte e

Itaúba. A pesquisa tem abordagem de caráter qualitativo, pois esta possibilita um aprofundamento melhor e mais detalhado dos dados levantados. Para alcançar os objetivos,

além da pesquisa bibliográfica, está sendo utilizada a pesquisa documental a partir do Programa de Regionalização do Turismo lançado em 2004 pelo Ministério do Turismo que

tem por finalidade “*...+ organizar o território brasileiro em regiões turísticas, para fins de gestão, assim como identificar as necessidades das mesmas, orientando a atuação

estratégica dos demais departamentos do Ministério do Turismo.” (Brasil, 2015); os inventários turísticos dos quatro municípios; os portais de turismo em s ítios eletrônicos; e o

planejamento turístico elaborado pela Companhia Paranaense de Energia (COPEL) por meio da Ambientalis Engenharia em 2014 e finalizado em 2015, com participação da comunidade

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local; tais documentos foram produzidos com a intenção de fomentar a atividade turística, deste modo a realização de uma pesquisa poderia colaborar para a implantação do turismo. Desta forma, a presente pesquisa tem observado que os municípios possuem potencial turístico considerável e semelhante entre si, apontando para descoberta de novos atrativos, e a possibilidade da criação de novos produtos e que ações como a criação de políticas públicas locais e regionais com a participação dos atores envolvidos, a criação e fomento dos conselhos de turismo e aplicação do Programa de Regionalização do Turismo elevariam o grau deste potencial. Por fim, a pesquisa irá auxiliar os municípios para que de fato possam pensar numa organização regional visando a atração de demanda e valorização dos bens históricos, culturais e ambientais desta região. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de regionalização do turismo. 2015. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/acesso-a-informacao/63-acoes-e-programas/4882-programa-de-regionalizacao-do-turismo> Acesso em: 12 de outubro de 2016.

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STEFANI. C. C. Regionalização e gestão territorial: o turismo na Região Metropolitana de Curitiba (PR). 243 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) – Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2006.

Lei Geral do Turismo: fundamentos legais para a prestação de serviços turísticos

Celso Caciano Brito

Mestre em Ciência da Computação pela UFSC Aguinaldo César Fratucci

Professor e Coordenador do Programa de Pós Graduação em Turismo da UFF Doutor (2008) e Mestre (2000) em Geografia pela UFF

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INTRODUÇÃO Desde setembro de 2008, o exercício das atividades turísticas em âmbito nacional

passou ser regulado, essencialmente pela Lei nº 11.771, conhecida como Lei Geral do Turismo (LGT). Até então, a legislação federal equivalente, que dispunha sobre as atividades e serviços turísticos, era a Lei nº 6.505 de 1977, revogada pela LGT. Esse hiato de mais de três décadas, sem a revisão da principal legislação do setor, configurou um descompasso entre as demandas da atividade e a sua regulamentação, gerando um cenário de insegurança jurídica. São os fundamentos legais estabelecidos pela LGT sobre a prestação de serviços turístico que este trabalho se propõe a abordar, buscando discutir os avanços e retrocessos desse novo dispositivo legal, e principalmente, contribuir para a sua difusão e entendimento, como instrumento importante no desenvolvimento da atividade turística brasileira.

1 A LEI GERAL DO TURISMO

A LGT, além de específica e atual, é também a primeira legislação do turismo que

procura disciplinar a matéria de forma abrangente (Araújo, 2012). A princípio, ela trouxe maior segurança jurídica para o exercício da atividade e contribuiu para consolidar o turismo como setor estratégico no desenvolvimento econômico e social do país; dado que qualquer atividade econômica precisa de uma base regulamentar sólida para se desenvolver. Portanto, não resta dúvida, que “a consolidação de um ambiente ideal para o desenvolvimento da atividade turística de forma plena demanda o aperfeiçoamento da regulamentação da atividade” (BRASIL, 2007, EMI nº 06/07). Para o Ministério do Turismo (MTur) a definição de marcos regulatórios é o que garante a continuidade e o fortalecimento

da Política Nacional do Turismo (BRASIL, 2007, EMI nº 06/07). Como mencionado, a LGT é uma lei abrangente, que não trata apenas da

regulamentação da prestação de serviços turísticos. Ela também define a Política Nacional de Turismo e as atribuições do Governo Federal, no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor. Trata ainda do fomento à atividade turística, tendo como principal fonte de recursos o Fundo Geral do Turismo (FUNGETUR), e propõe a compatibilização da execução da Política Nacional de Turismo com as demais políticas públicas, por meio do

Comitê Interministerial de Facilitação Turística (CIFat), criado pela lei. No entanto, para o recorte aqui proposto, interessa abordar a regulamentação da prestação dos serviços

turísticos.

2 OS PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS: DEFINIÇÕES, DIREITOS E DEVERES

Os prestadores de serviços turísticos são definidos na LGT como “as sociedades empresariais, as sociedades simples, os empresários individuais e os serviços sociais

autônomos que prestem serviços remunerados” (BRASIL, 2008, Art. 21º), e que exercem uma das seguintes atividades econômicas: meios de hospedagem, agência de turismo,

transportadoras turísticas, organizadores de eventos, parques temáticos e acampamentos turísticos. Essas são as atividades com cadastro obrigatório junto ao MTur. A lei estabelece

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ainda o cadastro facultativo para outros prestadores de serviços, tais como restaurantes, bares, centros de convenções, parques temáticos aquáticos, etc. Autores, como Ferraz (2008), criticam esse fato, entendendo que não cabe a uma lei facultar ou recomendar e sim determinar.

A definição de meios de hospedagem passou a independer da forma de constituição do empreendimento, se caracterizando essencialmente pela atividade de prestação de serviços de alojamento temporário. Como bem observa Lenhart e Cavalhero (2008), essa definição contribui para um melhor enquadramento legal dos apart-hotéis, flats e similares como meios de hospedagem. A unidade habitacional ficou definida como sendo local de frequência individual e de uso exclusivo do hóspede. Esse entendimento pode contribuir, por exemplo, para encerrar a discussão sobre a cobrança por exibição de som e imagem no interior dos apartamentos, com base na lei dos direitos autorais, já que essa previsão legal trata de execuções públicas (Lenhart & Cavalhero, 2008).

As agências de turismo ficaram definidas como pessoas jurídicas que exercem atividades de intermediação ou que as fornecem diretamente, e o preço dos seus serviços definidos como a comissão recebida dos fornecedores ou o valor agregado ao preço de

custo. Entendimento similar foi dispensado aos organizadores de eventos, tanto sobre a atividade exercida quando sobre o preço dos serviços. Em relação às agências de turismo,

Ferraz (2009) entende que essa definição encerra uma dúvida jurídica de ordem tributária, que tendia a considerar o preço de venda dos serviços como base para o cálculo dos tributos.

Sobre os organizadores de eventos, o autor lembra que a inexistência de uma regra legal clara os submetia ao risco de serem tributados não apenas pelos valores recebidos por seus serviços, mas, também, por valores de terceiros, que recebiam e apenas transferiam (Ferraz, 2008).

Já a questão da responsabilidade objetiva das agências de turismo, não foi regulada.

O dispositivo que previa que as agências de turismo seriam responsáveis objetivamente apenas pelos serviços de intermediação e execução direta, e solidariamente pelos serviços cujos fornecedores não pudessem ser identificados ou fornecedores estrangeiros sem representação no Brasil, foi vetado (BRASIL, 2008, Mensagem nº 686). Ferraz (2009) é um dos autores que critica o veto, citando como fundamento o princípio da equidade, expresso no Código de Defesa do Consumidor (CDC). Segundo o autor, o CDC já prever tratamento similar para os comerciantes de produtos.Oliveira (2009) e Zastawny (2012) são autores que

têm o mesmo posicionamento. O transporte aéreo, ainda que para fins de lazer, não foi alcançado pela lei. Já os

parques temáticos passaram ser entendidos como prestadores de serviços turísticos, desde que implantados em local fixo, e dependendo de parecer do MTur. A regulamentação não

alcançou os parques temáticos aquáticos. Tal exclusão é incompreensível, bem como a dependência dos parques temáticos serem considerados de interesse turístico pelo MTur

(Ferraz, 2008; Lenhart & Cavalhero, 2008). Já os acampamentos turísticos ganharam definição na lei, mas ficaram pendentes de regulamentação por parte do Poder Executivo.

Essa regulamentação consta no Decreto nº 7.381 (2010). A LGT regulou também os direitos e os deveres dos prestadores de serviços turísticos,

bem como a fiscalização e penalidades as quais estão sujeitos. Sobre os direitos, a lei trata em um único artigo. Já em relação aos deveres, fiscalização, penalidades e infrações ela é

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bem mais abrangente e específica. Isso mostra de certa forma, que pelo menos em termos quantitativos, prevaleceu o caráter ainda disciplinador e regulador da lei. Ferraz (2008) corrobora com esse entendimento, afirmando que, em termos quantitativos a lei dá preferência à função fiscalizadora. Os direitos dos prestadores de serviços turísticos são basicamente três: a) acessar programas de apoio financeiro e outros benefícios de fomento ao turismo; b) possibilidade de menção dos empreendimentos ou atividades em campanhas do MTur e da EMBRATUR; c) utilização de siglas, palavras, marcas, logos, número de cadastro e selos de qualidades editados pelo MTur. Quanto aos deveres, a lei estabelece uma série de questões de ordem técnicas, que vão desde mencionar o número de cadastro em qualquer forma de divulgação, a manter obediência aos direitos do consumidor e as leis ambientais. A fiscalização ficou a cargo do MTur, e inclui as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam a prestação de serviços turísticos, estando ou não cadastradas, incluindo aquelas que usem expressões, abreviaturas ou nomes que induzam ao erro quanto ao real objeto da sua atividade.

Foi vetado também o dispositivo que previa classificar como atividade econômica exportadora o setor de turismo receptivo. A classificação não seria automática, dependeria

de regulamentação pelo Poder Executivo, e permitiria, por exemplo, que esses prestadores de serviços tivessem direito a benefícios fiscais e acesso a linhas de crédito e financiamentos

oficiais específicos do setor de exportação. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da análise, é possível afirmar que a LGT não conseguiu atender todas as

demandas do setor turístico nacional. No entanto, isso não significa que ela não trouxe avanços, mas que possivelmente, as demandas e transformações de mais de três décadas, não puderam ser respondidas por um único diploma legal. Portanto, é legítimo afirmar, que

a LGT representa uma conquista para o setor, e precisa ser não apenas comemorada, mas também discutida, entendida e colocada em prática. Pois o texto legal não pode revolucionar sozinho, a sociedade precisa aceitá-lo como legítimo (Oliveira, 2009), e a consolidação de um ambiente ideal para o desenvolvimento da atividade turística passa pela sua regulamentação (BRASIL, 2007, EMI nº 06/07). Logo também se conclui, que o exercício dessa atividade de forma plena demanda um melhor entendimento da sua dimensão legal e regulamentar.

Observou-se que existem questões ainda não reguladas e atividades que não foram alcançados pela lei. Ao mesmo tempo em que outras atividades ganharam mais destaque e

melhor definição legal, além daquelas que estão figurando pela primeira vez em uma legislação específica do turismo. Em relação à regulamentação da prestação de serviços

turísticos, objeto dessa abordagem, conclui-se que houve muitos avanços, mas também retrocessos. Os principais pontos onde se considera ter havido avanços com a

regulamentação foram: a) na melhor definição das condições e meios de fomento da atividade; b) na definição legal dos prestadores de serviços turísticos e inclusão dos

empresários individuais e serviços sociais autônomos como prestadores desses serviços; c) na definição legal dos meios de hospedagem e preço dos serviços de agências de turismo e

organizadores de eventos; d) na inclusão de parques temáticos como prestadores de serviços turísticos; e) e na continuação das discussões sobre a atualização da lei.

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Por outro lado, entende-se que a lei não avançou de forma considerável nos seguintes pontos: a) ao estabelecer o cadastro facultativo para alguns prestadores de serviços turísticos; b) não incluir o transporte aéreo e os parques temáticos aquáticos como prestadores de serviços turísticos; c) impor condições para o cadastro dos parques temáticos; d) não classificar o turismo receptivo como atividade de exportação; e) permitir o cadastro de empresas organizadoras de evento a partir da atividade secundária; f) não regular os novos modelos de comercialização de serviços de hospedagem; g) e não regular a responsabilidade objetiva das agências de turismo. A LGT também não avançou ao dedicar grande parte das suas disposições a regulamentação do papel de agente fiscalizador do Estado. REFERÊNCIAS

Araújo, C. P. (2012). Da EMBRATUR à Política Nacional de Turismo. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, v. 19, n. 31, 146-163.

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Cidadania, lazer e participação nas instâncias de governança – reflexões sobre a população residente

Natasha BANTIM Mestranda em Turismo pela UFF

RESUMO

Este trabalho tem como foco o papel da população residente no fenômeno turístico no que

diz respeito a seu acesso a atrativos e equipamentos de turismo e lazer e a sua participação nas decisões políticas do setor de forma a ampliar sua condição cidadã. As reflexões aqui

pontuadas fazem parte de uma pesquisa mais ampla, que objetivava entender o processo de formação e o modelo de gestão do Circuito das Águas Paulista, localizado no interior do

estado de São Paulo. A gestão desse circuito é realizada através de um consórcio intermunicipal e estruturada de acordo com algumas diretrizes da política pública nacional

de turismo que indica a institucionalização de instâncias de governança para gestão do turismo regional (Brasil, 2007). Entretanto, a partir da utilização de fontes bibliográficas

variadas, alinhadas a observações empíricas e entrevistas realizadas em maio de 2016 com os gestores do circuito, percebe-se que a população residente não atua neste consórcio

conforme preconiza as diretrizes da política supracitada, o que gerou reflexões sobre o papel da população residente nas políticas públicas de turismo, e sua relação com lazer,

participação e ampliação da cidadania.A população residente, independente do tipo de relação que estabelece com a atividade turística local, frequentemente é trivializada nas

políticas públicas que tratam do turismo, apesar dela ser a ‘dona’ daquele território, sendo necessário esse reconhecimento para não se pensar em um modelo de desenvolvimento turístico arbitrário (Fratucci, 2008), e por esses motivos, a preocupação com esse agente social deve ser primordial na elaboração de políticas públicas de qualquer setor.

Palavras-chave:Turismo. Instâncias de Governança. Participação. Lazer.

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para Moesch (2015) é preciso pensar em formas mais justas de políticas públicas que tenham como conteúdo a qualidade de vida dos cidadãos, incluindo aí as políticas de turismo e lazer. Considera-se aqui o turismo como um tipo de lazer, pois são atividades correlatas: “o turismo possui elementos que poderiam intensificar a relação das pessoas

com o tempo social relativo ao não-trabalho, por apresentar ao indivíduo a chance de vivenciar uma boa parte dos conteúdos culturais do lazer”(Cheibub, 2010, p.6). “Acredita-se

que a população local pode vivenciar a experiência turística em seu local habitual ao desenvolver um relacionamento diferenciado nele em seu momento de lazer, produzido a partir de um estranhamento do local habitual que lhe permitiria ver aquele espaço rotineiro com novos olhares e também no acesso à partes da cidade não experimentadas anteriormente” (Gastal; Moesh, 2007).

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Na Constituição de 1988, o lazer aparece como um direito social, assim como educação, saúde, alimentação, etc. Para Carvalho (apud Cheibub, 2014) a concretização dos direitos sociais permite reduzir a desigualdade, garantindo condições mínimas de sobrevivência e um mínimo de bem-estar para a sociedade. Assim, o direito social ao lazer está relacionado também à qualidade de vida dos cidadãos (Cheibub, 2014), porém, Moesch (2015) afirma que o fato de estar presente como um direito social na Constituição não garante a efetividade, qualidade ou democratização de seu acesso.

Uma alternativa para essa realidade está na emergência de uma nova institucionalidade pautada na descentralização político-administrativa e na participação da sociedade civil no campo das políticas sociais de lazer (Zingoni apud Marcellino et al, 2007).Tal princípio já está presente nas políticas públicas de turismo por meio da denominada instância de governança regional, definida como “uma organização com participação do poder público e dos atores privados dos municípios componentes das regiões turísticas” (Brasil, 2007, p. 16).

A governança preconiza a ação conjunta de Estado e sociedade na busca de soluções para problemas comuns, com as contribuições e opiniões desses agentes influindo no campo

das políticas públicas (Gonçalves, 2005). Entretanto, algumas ponderações precisam ser feitas em relação a como essa participação acontece empiricamente.

Primeiramente, conforme nos alerta Irving (2009), o processo de participação é lento e possui altos custos para formação e capacitação de recursos humanos e construção de metodologias capazes de lidar com as especificidades locais. Além disso, a participação carrega a mítica de que é possível se chegar a um consenso entre os diversos agentes sociais a respeito de uma decisão política, porém mesmo com muito debate, algumas questões indicam pontos de vista opostos e disputas que não podem ser resolvidas (Ferreira, 2010).

Outro aspecto diz respeito à representatividade do grupo. Muitos representantes não são eleitos por votação e sim por questões como troca de favores, compadrio, relações

pessoais, etc. (Ferreira, 2010). Há ainda uma parcela da sociedade que não participa por fatores como: falta de

tempo para participar de reuniões, crença em ser uma perda de tempo, sentimento de que o que é dito não é ouvido, dificuldade de compreensão das questões colocadas, dificuldade em relação aos custos e tempo do processo, falta de representatividade ou mesmo apatia (Ferreira, 2010, 2010; Jenkins, 1993 apud Hall, 2004).

Questões como essas colocam dúvidas em relação à legitimidade das decisões

tomadas nas Instâncias de Governança, considerando legitimidade de acordo com a teoria Weberiana, como um conceito que vem “de ‘baixo para cima’, surgindo a partir da aceitação

de que o poder conferido e exercido é apropriado” (Gonçalves, 2005).

2 RESULTADOS

Objetivando entender o processo de formação e o modelo de gestão de uma instância de governança, a autora deste trabalho escolheu como objeto de estudo o Circuito

das Águas Paulista, integrado atualmente pelas prefeituras dos municípios de Águas de Lindóia, Amparo, Holambra, Jaguariúna, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Pedreira, Serra Negra

e Socorro (Circuito das Águas Paulista, 2015).

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O circuito foi institucionalizado em 2005, sob influência das políticas públicas nacionais de turismo, embora iniciativas de cooperação entre os municípios consorciados remontem à década de 1990. Sua estrutura administrativa, de acordo com o estatuto e com a entrevista realizada em 20 de maio de 2016 com o gestor do circuito, é realizada juridicamente a partir da formação de um consórcio composto por representantes públicos (em sua maioria, prefeitos ou secretários de turismo) dos municípios consorciados divididos entre conselho de prefeitos, diretoria e conselho fiscal (Circuito das Águas Paulista, 2015), existindo, portanto, predominância de agentes públicos na tomada de decisões desse consórcio.

Assim, percebe-se que o processo de formação e gestão dessa instância, embora tenham tido influência das políticas públicas do setor, inclusive no que diz respeito a suas competências e objetivos, desconsidera um aspecto fundamental das mesmas: a participação da população residente nas decisões. O que se verifica neste caso é a tomada de decisões verticalizadas, com predomínio de agentes vinculados ao poder público, constituindo-se, dessa forma, mais como uma instância de governo do que como uma instância de governança.

Além disso, acredita-se que essas políticas públicas deveriam ampliar a ideia de democratização para além de possibilitar a participação da sociedade nas decisões, como

também democratizar o bem público Turismo, oferecendo o acesso ao lazer e a hospitalidade à visitantes e população residente, não apenas como um discurso ou potencialidade (Gastal; Moesh, 2007). Porém tal pesquisa empírica ainda carece de maiores estudos relacionados ao acesso da população local aos equipamentos e atrativos de turismo, enquanto formas de lazer, ainda que tal preocupação, até o momento, não tenha aparecido nas falas dos entrevistados ou nos documentos do circuito.

3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Na teoria, as Instâncias poderiam se constituir em espaços democráticos, distintos da

regulação produzida pela lógica estrita do Estado ou do mercado, a partir da convivência e debate entre os agentes sociais com interesses diferenciados e que ainda proporcionariam o aprendizado e o exercício efetivo da cidadania (Dagnino, 2002).

A cidadania seria o resultado da ação na esfera pública, que, inicialmente vista como o espaço de reunião dos cidadãos para discussão do futuro da cidade, hoje é relacionada a

um espaço de livre exercício profissional e político e do poder de opinar sobre o destino das pessoas e da sociedade (Gastal; Moesh, 2007). O direito e poder de opinar é justamente o

conceito positivo inserido no contexto da institucionalização das Instâncias de Governança. Acredita-se que a participação da população residente nessas Instâncias de

Governança está relacionada ao exercício da cidadania e que é necessário que essa participação vá além da expressão de opiniões para também contemplar o acesso ao

turismo e lazer e todos os agentes sociais envolvidos no fenômeno turístico, incluindo a população residente.

O poder público, enquanto agente social orientador dos rumos de uma sociedade em determinado território, deveria instituir políticas que beneficiassem toda a população,

entretanto, ao privilegiar as demandas e interesses do capital financeiro em detrimento das demandas dos demais agentes sociais, incorre em uma contradição (Fratucci, 2014), pois, o

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conceito de políticas públicas está relacionado à realização de ações que visem o controle social dos bens, serviços e obras públicas para que s ejam desfrutados por toda sociedade(Gastal; Moesh, 2007, grifo nosso). Assim, acredita-se que políticas públicas de turismo, além de propor ações voltadas para o setor, devem se preocupar com o direito ao lazer para a população, até porque, esses espaços podem ser aproveitados também para o turismo.

A participação dessa população nos espaços públicos de discussão do turismo – as Instâncias de Governança – e o acesso aos bens públicos, como o turismo e o lazer, é um instrumento para a construção da cidadania.

REFERÊNCIAS

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CHEIBUB, B. L.(2010). Lazer e turismo: um ensaio epistemológico conjugado. XI Encontro Nacional de turismo com base local. Niterói.

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DAGNINO, E.(2002). Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil. In DAGNINO, Evelina. Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil, 9-16. Paz e Terra, São Paulo.

FERREIRA, H. (2010). A dinâmica da participação na construção de territórios sociais e do patrimônio ambiental da Ilha Grande-RJ. Tese (Doutorado) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

FRATUCCI. A. C. (2008) A dimensão espacial nas políticas públicas brasileiras de turismo: as

possibilidades das redes regionais de turismo. Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal Fluminense, Niterói.

FRATUCCI. A. C. (2014) Turismo e território: relações e complexidades. Caderno Virtual de Turismo, 14, 87-96. Rio de Janeiro.

GASTAL, S. MOESCH, M.(2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph, São Paulo.

GONÇALVES, A.(2005) O conceito de governança. Anais do XIV Encontro do Conpedi.

HALL, M.(2004) Planejamento turístico: políticas, processos e relacionamentos. 2. ed. Contexto, São Paulo.

IRVING, M.(2009) Reinventando a reflexão sobre turismo de base comunitária: inovar é

possível? In Bartholo, R.; Sansolo, D. G. e Bursztyn, I. Turismo de base comunitária - Diversidade de olhares e experiências brasileiras, 108-121. Letra e Imagem, Rio de Janeiro.

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MARCELLINO, N. C. et al. (2007). Políticas públicas de lazer - formação e desenvolvimento de pessoal. Opus, Curitiba.

MOESCH, M.(2015). O lazer faz o elo: reinventar a políticas públicas para o lazer e o

turismo humanizadores. In: GOMES, C. L. ISAYAMA, H. F. O direito social ao lazer no Brasil. Autores Associados, Campinas.

Políticas públicas de lazer e turismo e os megaeventos esportivos: uma reflexão acerca das suas relações

Amanda Baldissera Damião

Mestranda em Turismo pela USP Amanda Cabral da Silva

Mestranda em Turismo pela USP Fábio Alves Ortiz

Mestrando em Turismo pela USP

INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, os eventos tornam-se cada vez mais fundamentais para o desenvolvimento cultural dos diferentes povos. O tempo de lazer expandido e o culto ao

entretenimento ocasionaram um significativo aumento na proliferação de eventos públicos, celebrações e entretenimento. Os eventos podem ser ferramentas estratégicas de

desenvolvimento de países, regiões e cidades e as corporações inserem os eventos como estratégias de marketing de grupos comunitários e indivíduos em prol do turismo. Essa demanda impactou todo o mercado produtivo do setor, ocasionou a busca pela profissionalização de pessoal e o tornou a atividade uma forte área econômica.

O Brasil tem recebido destaque atualmente no mundo por sua forte representatividade no cenário econômico em tempos de crise mundial, em especial a europeia. Recentemente o país esteve em evidência internacional devido à realização dos megaeventos esportivos e o potencial impacto desses eventos nos diversos setores no

tocante aos legados (UVINHA, 2013). Os megaeventos permitem a implementação de importantes processos, além de

diversos investimentos e recursos, proporcionando diversas oportunidades as cidades e ao

país sede. A grande questão e discussão é o legado que os megaeventos esportivos

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possibilitam e principalmente tentar maximizar os legados positivos e os benefícios do evento através de um planejamento estratégico. Assim o país dispõe da oportunidade de incrementar o desenvolvimento de áreas como o turismo, o lazer a infraestrutura urbana e a força política.

A realização de um megaevento esportivo não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas sim parte de um plano de desenvolvimento em longo prazo. Essa realidade é ainda mais pertinente para os países em desenvolvimento, onde os resultados poderão trazer maiores impactos (positivos ou negativos). Após a realização do megaevento, muitas vezes há mérito no desenvolvimento de um conjunto contínuo de eventos menores que utilizam a infraestrutura construída para o megaevento e podem reforçar o perfil e a reputação da cidade sede ao longo do tempo (LARA, 2013).

Diante desse contexto, o objetivo deste trabalho é analisar as relações entre as políticas públicas de lazer e turismo e megaeventos esportivos através de revisão bibliográfica, considerando os eventos Copa do Munda Fifa 2014 e Jogos Olímpicos de Verão Rio 2016, sediados no Brasil, como importantes acontecimentos para o desenvolvimento econômico, sociocultural, político e urbano.

1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE LAZER E TURISMO - UMA BREVE DISCUSSÃO

Compreender as políticas públicas (PP’s) não é uma tarefa fácil, sua teorização é

complexa e a definição diverge entre os seus estudiosos. Para o presente trabalho, PP’s serão entendidas como: Uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público. Desta forma, consideram-se as seguintes preposições: uma PP é uma orientação à atividade ou à passividade de alguém; as atividades ou passividades decorrentes dessa orientação também fazem parte da PP; uma PP possui dois elementos fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público.

Em outras palavras, a razão para o estabelecimento de uma política pública é o tratamento ou a resolução de um problema entendido como coletivamente relevante:

Políticas públicas envolvem, entre outros aspectos, o planejamento, a implantação e a avaliação de processos referentes aos bens públicos, devendo comprometer-se com o bem-estar coletivo (GOMES; PINHEIRO; LACERDA, 2010, p.58).

Por política pública de turismo (PPT), pode-se compreender o direcionamento dado pelo governo federal, estadual, municipal ou regional para o desenvolvimento da atividade

turística, após ter consultado os representantes do setor turístico e da sociedade. Tal direcionamento pode ser expresso, por exemplo, no documento denominado Plano Nacional

de Turismo (PNT) e nos demais documentos das diferentes instâncias governamentais. Devem-se levar em consideração, principalmente, quatro grandes vertentes: social, cultural,

econômica e ambiental – e buscar desenvolver o setor de maneira holística, analisando e valorizando com a atenção necessária cada um dos componentes do sistema turístico

nacional ao qual será aplicado (LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2008). O desenvolvimento da atividade turística em um município traz diversos impactos

para o mesmo, sendo estes positivos e/ou negativos e afetam as esferas política, social, cultural, ambiental e econômica. Em um estudo conduzido em Brotas, interior de São Paulo,

Ribeiro e Amaral (2015) pesquisaram as percepções dos moradores da cidade com relação aos impactos causados pelo turismo no seu lazer.

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Entre as descobertas desse estudo, Ribeiro e Amaral (2015, p. 110) destacam como impacto positivo:o aumento das opções de lazer em termos de atividades, de eventos e de infraestrutura, por exemplo, de bares e restaurantes. Houve, também, melhoria dos atrativos, por conta de construções e instalações de equipamentos. Os principais impactos negativos foram as barreiras para frequentar os atrativos naturais, os quais, mesmo em sua maioria privados, eram passíveis de usufruto gratuito antes do desenvolvimento do turismo no município.

Com isso observa-se, de outro ângulo, a relação que pode haver entre o turismo e o lazer (turismo nessa perspectiva voltada para pessoas de fora, e lazer voltado para os moradores da cidade em questão). Ora, se o desenvolvimento do turismo proporciona melhoria de espaços de lazer – museus, parques, centros de eventos, entre outros – para turistas usufruírem, por que não ocorre o incentivo ao uso desses atrativos pelos próprios moradores da cidade?

Uma possível resposta para essa pergunta é pelo viés economicista em que observa o turismo, que só enxerga o lucro e não vê a oportunidade de utilizar esses espaços em prol do desenvolvimento cultural dos moradores da cidade. Diante dessa questão, destaca-se a

necessidade de implantação de políticas de lazer que efetivem essa oportunidade e revertam os impactos positivos do turismo para usufruto dos munícipes.

As PPT’s devem ser formuladas e implantadas com o intuito do desenvolvimento responsável da atividade, que impulsione programas do setor, assim como devem ser claras, conter metas, com estratégias delimitadas através de um planejamento que priorize a participação de todos os atores envolvidos no fenômeno.

2 O LAZER E O TURISMO NO CONTEXTO DOS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS O direito ao lazer e turismo, apesar de assegurado na Constituição, não se faz

presente. Todavia, entende-se que os eventos, se bem planejados, organizados e executados, podem alavancar os direitos ao turismo e ao lazer através da cidadania, em especial a cidadania participativa, que permita que o cidadão tenha direito de argumentar e opinar no planejamento dos eventos, pensando nos possíveis legados a cidade, ao lazer e ao turismo.

Neste aspecto Menicucci (2006) aponta que cidadão é aquele que tem vínculo com o Estado, com direitos e deveres fixados, com a ideia intrínseca de igualdade e compreendida

no mundo ocidental quase como algo inatingível pela combinação de liberdade, participação e igualdade.

As formulações de PP’s, como afirma Bramante (1997), devem ter como ponto de partida a elaboração de Diagnóstico de Necessidades, uma vez que estas políticas

determinam uma ação. Este Diagnóstico leva em conta valores e metas de uma sociedade juntamente ao governo, compreendendo aspirações e permitindo através da participação

propostas que condizem com a realidade. O megaevento esportivo, diante desse contexto, aparece como a ação formuladora

de políticas que priorizem o morador local, o turista, o governo, bem como o setor privado e todos outros atores diretamente envolvidos ou não com o evento. Independente da ação, o

que sempre deve ser pensado é o longo prazo, instrumentos que estabeleçam diálogos com a realidade local e com anseios, legados, assim como a continuidade de ações que

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possibilitem o sentimento de pertencimento e que presem no bem estar de todos da cidade, inclusive turistas. A qualidade de vida só será de fato efetiva quando o governo perceber a realidade e permitir a participação da sociedade em suas políticas, isso vai além da cidadania e permite a construção de todos para todos.

Assim os eventos podem colaborar na reinvindicação da qualidade de vida, o repensar dos direitos, bem como suas diversas relações com outros setores e seus possíveis benefícios, se pensados estrategicamente, com um efetivo planejamento.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A cidadania não trata apenas das questões de participação, mas da reinvindicação

dos direitos, sejam eles políticos, civis ou sociais. Lutar pelas necessidades, entender o contexto da sociedade e apontar elementos de melhoria é um direto do cidadão, assim como diversos outros fatores que permitam melhor qualidade de vida e desenvolvimento constante.

A democratização se faz necessária, democratizar o turismo, o lazer, os megaeventos,

ou seja, torna-los acessíveis a todos, visitantes e cidadãos, como uma realidade a ser vivida nos dias atuais, com políticas públicas que permitam o acesso a uma vivência diferenciada e

que só será possível através da participação de todo cidadão.

REFERÊNCIAS

BRAMANTE, A. (1997). Qualidade no gerenciamento do lazer. In: Brunhs, H. (Org.)

Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Ed. da Unicamp.

GOMES, C.; PINHEIRO, M.; LACERDA, L. (2010). Fundamentos políticos de inclusão social. In:

________________________________. Lazer, turismo e inclusão social: Intervenção com idosos. Belo Horizonte: Editora UFMG, p.43-69/p29-49.

LARA, F.(2013). Legados esperados da copa do mundo de futebol em 2014 e dos jogos olímpicos em 2016. Salvador: XXXIII Encontro nacional de Engenharia de Produção.

LOHMANN, Guilherme; PANOSSO NETTO, Alexandre. (2008). Teoria do turismo: conceitos, modelos e sistemas. 2. ampl. e atual. São Paulo: Aleph. (Série turismo)

MENICUCCI, T. (2006). Políticas públicas de lazer: questões analíticas e desafios políticos. In: ISAYAMA, H. LINHALES, M. A. (org.). Sobre lazer e política: maneiras de ver, maneiras de

fazer. Belo Horizonte: UFMG.

RIBEIRO, Olívia Cristina Ferreira; AMARAL, Sílvia Cristina Franco. (2015). Impactos do turismo no lazer dos munícipes: o caso de Brotas/SP. Licere, Belo Horizonte, v.18, n.1.

UVINHA, Ricardo Ricci. (2013). Megaeventos esportivos: legados para o turismo e a hotelaria. In: Nelson Carvalho Marcellino. (Org.). Legados de megaeventos esportivos. Campinas, SP:

Papirus. p. 107 – 12.

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Políticas públicas, planejamento e gestão do turismo no litoral piauiense

Francisco Coelho Mendes Doutor em Ciência, Tecnologia e Inovação pela UFRRJ

Professor Adjunto da UFPB Ana Valéria Endres

Doutora em Sociologia Política pela UFSC Professora Adjunta da UFPB

Raimundo Ferreira De Carvalho Servidor Púbico da Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) no Piauí

Magnólia Lima Verde Coelho Mendes Servidora Púbica da EBESERH (HULW) na Paraíba

RESUMO

Para que o programa de regionalização do turismo seja eficiente, faz-se necessário o

empenho das políticas públicas, planejamento e gestão institucional com foco em questões interdependentes e interdisciplinares do turismo. Este estudo tem como objetivo, analisar a

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gestão do programa de regionalização do turismo e as políticas públicas institucionais aplicadas ao turismo no litoral do Piauí, formado pelos municípios de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e Ilha Grande. A metodologia adotada foi do tipo pesquisa qualitativa e descritiva, mediante a realização de consulta bibliográfica, consulta documental e entrevista (depoimento). O estudo mostra algumas oportunidades de melhoria referentes a falta de habilidade e planejamento institucional coerente com o desenvolvimento regional do turismo, falta de qualificação para enfrentar desafios como mudanças constantes nos padrões de consumo dos turistas, carência de gestão compartilhada e participativa, e pouco compromisso com o desenvolvimento sustentável do turismo. Por fim, espera-se que a busca pela eficiência e efetividade dos instrumentos de planejamento e gestão propiciem a mudança de paradigmas organizacionais e o comprometimento de profissionais envolvidos com o desenvolvimento sustentável do turismo no litoral do Piauí.

Palavras-chave: Políticas Públicas. Gestão do Turismo. Regionalização do Turismo.

INTRODUÇÃO Em função das rápidas transformações socioeconômicas e socioambientais

promovidas pelo turismo no litoral do Piauí, verifica-se alterações na ocupação do espaço geográfico, no tocante ao crescimento populacional, a especulação imobiliária, e a depredação do litoral piauiense.

Nessa perspectiva, as políticas públicas aplicadas ao turismo no Piauí e o planejamento dos órgãos gestores do turismo no Estado contam com a parceria público-

privada entre a Secretaria de Estado do Turismo no Piauí (SETUR-PI), a Unidade do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Piauí (PRODETUR-PI) e a Secretaria de Planejamento do

Estado do Piauí (SEPLAN-PI), bem como as agências de viagens e a rede de hotéis, restaurantes e comércios da iniciativa privada.

Diante da necessidade de interação entre os órgãos públicos e a iniciativa privada para o desenvolvimento sustentável do turismo, questiona-se: Como o Programa de

Regionalização do Turismo (PRT) é contemplado pelas políticas públicas institucionais e como é aplicado às localidades turísticas do litoral do Piauí?

O estudo tem como objetivo geral: analisar a gestão do programa de regionalização do turismo e as políticas públicas institucional aplicadas ao turismo no litoral do Piauí,

formado pelos municípios de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e Ilha Grande. Para isso, foram desenvolvidos os seguintes objetivos específicos: identificar como funcionam o planejamento e a gestão institucional aplicada ao polo turístico do litoral piauiense; compreender o programa de regionalização do turismo implementado no litoral piauiense.

A relevância do estudo se caracteriza pelo desenvolvimento de novos métodos de trabalho e práticas de gestão dos processos da SETUR-PI, SEPLAN-PI e PRODETUR-PI, que requer a existência de pessoal qualificado e comprometido, bem como a participação mais efetiva da sociedade na elaboração dos projetos, implementação e acompanhamento do desenvolvimento turístico sustentável. O que se pretende é disseminar técnicas de

planejamento institucional já utilizadas por organismos nacionais e internacionais em áreas com potenciais para o turismo.

As Políticas públicas de turismo no litoral do Piauí apresentam programas, projetos e

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ações mediante uma parceria público-privada, que retrata a situação do turismo no litoral, contemplado por uma panorâmica das políticas públicas do Ministério do Turismo (MTur) e do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR) para a oferta e produção do turismo, bem como apresenta políticas envolvendo os programas de regionalização do turismo no litoral piauiense.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1. Políticas públicas e programas de regionalização do Turismo A política nacional de turismo (PNT) foi lançada em 1966, com o surgimento da

Empresa Brasileira de Turismo – EMBRATUR, considerada como um grande instrumento das políticas de desenvolvimento nacional.

Foi com o advento da redemocratização brasileira, a partir da década de 1990 que as políticas públicas de turismo passam a incorporar diretrizes que permitem a possibilidade do diálogo, incentivando a criação de vários espaços de participação para a sociedade demandar seus objetivos (ENDRES, 2012).

A partir de 2003, o governo brasileiro continuou com as políticas descentralizadoras e

inovou criando o Ministério do Turismo (MTur), bem como o Plano Nacional de Turismo (PNT) com o objetivo de articulador do processo de planejamento turístico, ficando a cargo

do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) focar na promoção e marketing internacional e institucional do Brasil (MTur, 2013).

Foi com base em macro programas que se propôs a regionalização do turismo, que se deu em função do entendimento de território como uma forma mais ampla de pensar o planejamento turístico, diferente da ideia de municipalização que supervaloriza a municipalidade e a localidade de maneira independente. Experiências de regionalizar o turismo já vinham sendo aplicadas com êxito em alguns estados do Brasil como em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul (ENDRES, 2012).

Quanto a implementação do PRT, apresentam estágios de maturidade variados, porém com problemas que quase sempre se repetem, como a falta de capacidade técnica e institucional, bem como o baixo envolvimento político no processo de gestão participativa. Dessa forma, é fundamental que o Estado e suas instituições planejem, capacitem e valorizem a participação mais democrática da gestão do turismo.

No âmbito do estado do Piauí, existiam dois órgão que atuavam diretamente no turismo, a Piauí Empresa de Turismo (PIEMTUR), criada em 2005, que sucedeu a Empresa de

Turismo do Piauí, fundada em 1971. A PIEMTUR tem como finalidade elaborar, coordenar e executar as políticas de turismo no Estado. O outro órgão é a Secretaria de Turismo do Piauí

(SETUR-PI), criada em 2007, que tem entre suas competências a de coordenar e acompanhar a execução do Plano Estadual de Turismo (MTur, 2012).

A PIEMTUR desenvolvia ações direcionadas à área do planejamento turístico, com a execução de programas de qualificação de mão de obra em turismo, como cursos de

formação de guias de turismo e informações turísticas, aplicados ao segmento hoteleiro e agenciamento. Inclusive, a Rede Integrada de Hotéis e Pousadas do Piauí, composta por cinco

hotéis no Estado, ficou sob a gestão da PIEMTUR até 1997. Atualmente, esses hotéis são arrendados e administrados pela iniciativa privada (MTur, 2012).

Atualmente, a SETUR-PI é responsável por ações antes realizadas pela PIEMTUR. Inclusive, a gestão do PRODETUR como Unidade Estadual Executora era atribuída à Secretaria

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Estadual de Planejamento (SEPLAN), que passou então para a responsabilidade da SETUR, juntamente com as demais ações dos projetos, programas e macro programas (SILVA, 2013).

1.2. Planejamento e gestão do turismo O processo de planejamento norteia as políticas públicas diante das ações do poder

público. Essas políticas são influenciadas por características sociais, econômicas e culturais de determinada sociedade, pelo sistema político e pelas estruturas formais do governo. Portanto, a política pública representa a ação planejada do Estado perante a sociedade.

É importante entender as interações existentes entre as atividades turísticas e outros setores da iniciativa privada e poder público para definir o direcionamento do planejamento e da gestão do turismo nas tomadas de decisões sobre recursos, habilidades político-administrativas e influências político-partidárias do processo de gestão (ENDRES, 2008).

Conforme Bissoli (2001), o desenvolvimento das atividades turísticas é reflexo do planejamento local aplicado ao turismo.

O planejamento turístico é um processo que analisa a atividade turística de um determinado espaço geográfico, diagnosticando seu desenvolvimento e fixando um modelo

de atuação mediante o estabelecimento de metas, objetivo, estratégias e diretrizes com os quais se pretende impulsionar, coordenar e integrar o turismo (...) no sentido de que vai ser

dirigido à comunidade (...) [e] na medida em que é um processo que tende e consolidar uma série de decisões com um alto grau de racionalização (BISSOLI, 2001 p.34).

O Piauí, procura melhorar o seu planejamento e desenvolvimento turístico implementando programas, como o PRODETUR, que visa ampliar a infraestrutura das localidades turísticas, com foco no desenvolvimento do turismo regional e na possibilidade de melhorias das alternativas socioeconômicas e socioambientais (SILVA, 2013).

Dessa forma, as políticas públicas e o planejamento local aplicado ao turis mo inspiram novas pesquisas no intuito de detectar problemas de planejamento estratégicos,

implementação de políticas públicas e desenvolvimento sustentável local ou regional. 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO Percebe-se que não existe uma política de fortalecimento da cultura do turismo no

Estado. Pois pouco se valoriza os conhecimentos culturais da comunidade que tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento sustentável; bem como o processo de regionalização local, que visa caracterizar o turismo por afinidade ou semelhança das

diversas microrregiões com potencial turístico no Estado. Dentre os desafios para a regionalização do turismo no Piauí, podemos destacar: a

necessidade de fortalecimento do turismo com a gestão integrada entre a SETUR-PI, SEPLAN-PI e PRODETUR-PI; o pouco conhecimento da população quanto ao tema regionalização do

turismo; e a necessidade de descentralização e interiorização das atividades turísticas no Estado.

A SEPLAN-PI pode atuar decisivamente para estimular a implementação e a fiscalização do desenvolvimento turístico sustentável, por meio do incentivo à prática do

orçamento participativo, da implantação de sistemas de informações turísticas regionais, da participação ativa dos conselhos municipais para acompanhamento dos projetos

estruturantes do turismo. A SETUR-PI é responsável pelo planejamento estratégico, construção do

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conhecimento, desenvolvimento de técnicas e processos e gestão pública do turismo no Estado. Algumas ações foram realizadas visando garantir o desempenho do processo turístico, destacando-se a reestruturação do Plano de Desenvolvimento Integrado do Lazer (PDIL), a partir de 2013, especificamente para o turismo, cultura, esporte e lazer (BRASIL, 2015).

Observa-se que existem algumas questões que precisam melhorar, como a comunicação interna, planejamento de ações, quadro de funcionários reduzido e reestruturação de normas e procedimentos internos. Observa-se também, que os recursos financeiros destinados ao desenvolvimento do turismo são bastante limitados, o que desestimula o empreendedorismo e a criação de redes de relacionamento em prol do desenvolvimento turístico local. Outro aspecto observado foi a descontinuidades das políticas públicas de desenvolvimento turístico, causando incertezas quanto a gestão pública, que às vezes prejudica o desempenho das ações efetivas.

Observa-se também, falta de habilidades e gestão institucional coerentes com o desenvolvimento regional do turismo, falta de qualificação para enfrentar desafios como mudanças constantes nos padrões de consumo dos turistas, carência de gestão

compartilhada e participativa, e pouco compromisso com o desenvolvimento sustentável do turismo. Apesar da existência da legislação pertinente, os recursos financeiros, a

infraestrutura dos municípios, infraestrutura turística e a capacitação profissional são limitados.

3. CONCLUSÃO O litoral piauiense possui potencialidade turística, no entanto, possui elevados índices

de carências socioeconômicas, socioambientais e deficiência de infraestrutura. O Piauí necessita investir em marketing turístico e qualificação permanente do trade turístico, composto pelos municípios de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e Ilha Grande,

visando manter a equidade entre os estados do Ceará e do Maranhão, nos aspectos relacionados a qualidade dos serviços e a melhoria da infraestrutura turística. Entende-se que os municípios desse polo turístico possuem instrumentos de planejamento e gestão municipal, porém apresentam algumas deficiências quanto a sua capacidade institucional e o desenvolvimento de suas atividades turística.

Consideramos alguns aspectos positivos como a exuberância do litoral piauiense (Delta do Parnaíba, flora e fauna, atrativos históricos, culturais e religiosos), a conservação

das praias, a natureza paisagística e a qualidade no atendimento aos turistas. Como aspectos negativos destacamos a ocupação desordenada das áreas de praias

com construção de mansões e meios de hospedagem, especulação imobiliária, infraestrutura deficitária, mão de obra local de baixa qualificação e pouco especializada.

REFERÊNCIAS

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sistemas de informação. São Paulo: Futura.

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Tese (doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências

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Humanas. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. Florianópolis: UFSC.

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Piauí. Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Belo Horizonte: UFMG.

As contribuições de um conselho consultivo unificado de unidades de conservação para o turismo: PEIT, EET, APASM

Rodrigo Burkowski

Professor Adjunto II – Universidade Federal de Ouro Preto Mariana Gomes

Discente do curso de Turismo da UFOP

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INTRODUÇÃO

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação, criado pela lei federal 9897/2000 impôs a obrigatoriedade de conselhos consultivos ou deliberativos em Unidades de Conservação. Fruto de um processo nacional que busca uma maior inserção da sociedade civil nos processos deliberativos (em entes públicos) sua efetividade é constantemente criticada (PUTMAN, 1996; GOHN, 2001; LIMA et AL, 2005; BURKOWSKI,2013). As críticas recaem sobre diversos aspectos, desde os formais (cumprimento das normas, leis, portarias) aos subjetivos (motivos de participação, controle do processo, manipulação, entre outros).

A presente pesquisa, de caráter exploratório-descritiva, tem como objetivo compreender o funcionamento dos últimos dois anos do conselho consultivo do parque estadual do Itacolomi, Estação Ecológica Tripuí e APA Seminário Menor. A primeira análise é a parte formal burocrática de gestão do conselho. A segunda busca analisar quais os temas abordam o turismo e uso público. O governo de Minas Gerais, almejando aumentar a efetividade dos conselhos gestores de Áreas Protegidas, iniciou um trabalho de unificação

destes. Na região de Ouro Preto-MG houve a união de alguns conselhos e dessa forma tentou-se criar 3 grandes conselhos. Neste estudo, apresentam-se os dados relativos ao

primeiro grupo EET, PEIT e APASM, nomeado pela portaria IEF nº 171 de 11 de novembro de 2013. Foram nomeados 15 membros do poder público e 15 da sociedade civil, totalizando 30 membros. Este conselho funcionou efetivamente de 09-12-2013 à 08-10-2015 e as oito atas estão corretamente arquivadas e disponibilizada na sede do PEIT. A técnica utilizada foi a análise de conteúdo, tendo como temas-chaves o eixo “uso público” e “turismo em áreas protegidas”. Além disso, os pesquisadores realizaram observação não participativa em seis reuniões, além de entrevistas com gestores.

1. ANÁLISE GERAL DO CONSELHO Conforme deliberado na primeira reunião a periodicidade das reuniões foi trimestral.

Houve, na terceira reunião, um pedido para que as reuniões fossem bimestrais, sendo esse negado pelos conselheiros. A justificativa para aumentar a frequência das reuniões era a grande demanda de trabalho e o número de UC´s que compunham o conselho. Como justificativa para negar o pedido, os conselheiros argumentaram que já estava difícil

participar de reuniões trimestrais e que se fossem bimestrais haveria menor participação. Além disso, existe a possibilidade de convocar reuniões extraordinárias quando houver uma

demanda imediata e especifica. Burkowski (2013) ao analisar o conselho do Mosaico Veredas-Peruaçu aponta para a dificuldade dos conselheiros em participar das reuniões pois

essa é uma atividade voluntária. Ele aponta que existem participantes que recebem ajuda indireta ou que sua participação faz parte de suas obrigações laborais (via de regra

servidores públicos) e que os conselheiros do terceiro setor e da iniciativa privada não contam com os mesmo benefícios. Isso pode gerar uma menor participação de

determinados setores nas reuniões. Essa informação é reforçada ao se analisar a frequência nas reuniões desse conselho (gráfico 1).

Gráfico 1. Frequência nas reuniões

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Fonte: extraído das Atas.

Os dados obtidos na pesquisa reforçam a hipótese levantada. A maior participação de membros do poder público pode ser explicada pelos incentivos indiretos e

obrigatoriedade em participar das reuniões. Mesmo sendo essa participação voluntária, um professor universitário que componha o conselho, por exemplo, coloca essa sua atividade no

rol de obrigações institucionais. Portanto, sua participação é voluntária mas também obrigatória pois a chefia considerará essa participação como carga horária trabalhada na

instituição. Na reunião realizada em 14/07/2014 uma das conselheiras justifica sua ausência por “falta de recursos financeiros” (3º ATA, linha 30) e dois conselheiros discordam do aceite

desse motivo como justificativa, alegando que os demais conselheiros participam com recursos próprios. Entende-se que a justifica da conselheira é válida e que é interessante

buscar recursos e meios que viabilizem a participação de todos os interessados. Na (4° ATA, Linha 28) a secretaria do conselho fez algumas considerações sobre as faltas e justificativa,

possivelmente mencionando as penalidades contidas no regimento interno. Na sétima reunião, encontra-se outro pedido para tentar aumentar a participação (7° Ata, linha 36),

sendo esse pedido acolhido. Todavia, o autor do pedido não compareceu na reunião cuja

data foi alterada à seu pedido. Considerando da perspectiva da Dádiva, teoria que pode ajudar a compreender a

criação-reforço-resgate do vínculo social, percebe-se limites para a doação-participação, o qual seja, as limitações financeiras. Com isso, por mais que exista um manifesto desejo em

participar, a falta de recursos matérias acabam por inviabilizar tal ato. Não se concorda com a opinião de que essa prática não seria um exercício pleno da Dádiva. Entende-se que sim,

essa pode ser um agir dadivoso (BURKOWSKI, 2013) limitado por circunstâncias específicas. Nessas reuniões foram registradas, em média, trinta e nove manifestações sobre

diversos assuntos, desconsiderando a sexta reunião na qual ocorreram oitenta manifestações sobre assuntos diversos. Essas manifestações não contabilizaram as falas

iniciais obrigatórias (aprovação de atas anteriores, informes e pauta). Dessas manifestações, têm-se, em média quatro, que tratam do turismo, com exceção da sexta reunião na qual

aconteceram trinta manifestações sobre turismo. Nessa reunião foi apresentado o projeto “Mariana Viva” (6° Ata, Linha 37) que incentivaria o Turismo no PEIT via Mariana, abrindo

uma portaria na região da Serrinha. Foi discutido que muitas iniciativas se perdem logo após a implantação e que seria importante a criação de um “curso de condutores locais e

empreendedorismo” (6º Ata, Linha 70). Outros pontos serão analisadas a seguir.

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2. ANÁLISE TEMAS-CHAVE: USO PÚBLICO E TURISMO Cumpre destacar inicialmente que o Turismo pode ser considerado uma importante

atividade social e econômica, contribuindo para a preservação ambiental e inclusão social. Lembra-se também que a atividade está prevista nos objetivos de criação de unidades de conservação, em especial da categoria Parque (artigo 4º Inciso XII e artigo 11º da lei 9985/2000). Assim, nota-se na composição do conselho pessoas envolvidas diretamente com a atividade turística (UFOP, IFMG, FEMEMG, Associação da Serra do Espinhaço, PUC -MG, Novas Lavras Turismo) e diversos ouvintes que possuem interesse no tema.

A primeira manifestação direta sobre o tema foi feita pelo ouvinte Bruno que assim se manifestou: “...a vertente do ecoturismo, turismo de aventura deveria ser trabalhado nos parques e ele não vê ação em relação ao setor público dentro do PEIT...” (2º ATA). Existe, nas pessoas que trabalham com o parque (ou o têm como objeto de estudo), a percepção de que o parque possui capacidade para atrair muito mais visitantes. Bedim (2010), Burkowski e Varajão (2010), Santos (2014) relatam em suas pesquisas que essas UC´s possuem excelente

localização geográfica, diversidade de atrativos naturais e culturais, boa infraestrutura e acesso, enfim, possuem potencial para receber o dobro ou o triplo dos quase 10.000 turistas

anuais. Entretanto, algumas atividades desejadas não estão contempladas no plano de manejo e que por isso não são autorizadas a acontecerem dentro do PEIT. Um bom exemplo é a escalada. Ouro Preto recebe um importante evento anual (Ouro Preto Boulder) que reúne escaladores do Brasil e do Mundo para praticarem essa modalidade mas não podem fazê-la dentro do parque. Caso fosse permitido poderíamos ter dois ou três eventos desse tipo na região por ano. Conforme o conselheiro José Augusto acontecem “...atividades de downhill e atividades de contemplação da natureza e turismo como parapente e asa delta” (3º ATA, linha 133) na APASM de maneira desordenada. Diversos esportes não foram

incluídos no plano de manejo apesar do grande potencial do parque (vide relatos na FEMEMG e fóruns específicos). Dessa forma, os empreendedores da área de turismo esperam que na revisão do plano de manejo, prevista para ter ocorrido em 2014, a atividade seja analisada.

Outra fala na 2º reunião foi feita pelo conselheiro Hebert que, retomando o questionamento feito pelo ouvinte Bruno, solicitou informações sobre o projeto Parques da Copa no qual o PEIT estaria incluído. Todavia o secretário de Municipal de Turismo informou

que o PEIT não compôs esse projeto, apresentando a justificativa de haver dúvidas sobre o funcionamento do restaurante e que a não existência deste equipamento inviabilizaria a

divulgação do atrativo. Porém, Anna Carolina Lobo (WWF-Brasil), informa que o projeto Parques da Copa foi interrompido junto com outros projetos e o turismo ecológico não é

uma prioridade dos governos (ALENCAR, 2014). Portanto, para além de um problema específico, houve uma interrupção de todo o

programa Parque da Copa, prejudicando a qualificação de um produto turístico que tem potencial de crescimento. O restaurante de uma UC´s é algo importante e no caso do

Itacolomi houve uma concessão, mediante licitação. A empresa do Sr. Clóvis (2º Ata, linha 94) foi a vencedora e houve apresentação formal do mesmo. Todavia, apesar dos esforços

empreendidos, não houve continuidade dos serviços de alimentação, tendo o restaurante encerrado seus serviços antes de completar seis meses de atividade.

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Na terceira reunião realizada em 14/07/2014 foi questionado sobre a portaria IEF nº 88 de 14 de maio de 2010 (3º Ata, linha 68), mas que na data da reunião já havia sido revogada pela Portaria IEF nº 173, de 19 de novembro de 2013. Essa portaria estabelece as normas e diretrizes para o uso público das Unidades de Conservação administradas pelo IEF. Na (3º Ata, linha 68) questionava-se o pagamento de taxas por parte dos guias e condutores e taxa dos veículos que levavam grupos de turistas. A nova portaria estabelece uma série de isenções, dentre elas a dos “Guias de turismo (conforme disposto na Lei Federal nº 8.623, de 28 de janeiro de 1993), condutores locais credenciados na Unidade de Conservação, motoristas de transporte coletivo (ônibus e vans em transporte de grupos de visitantes e táxi) em exercício de sua função e que estejam portando sua identificação funcional.” (Portaria 173, de 19 de novembro de 2013, Art. 4º, inciso X). Contempla ainda em seu Art. 26 que “cabe à administração de cada Unidade de Conservação, com apoio dos Escritórios Regionais e da Diretoria de Áreas Protegidas, a elaboração do “Regulamento Interno” da Unidade de Conservação, contendo as suas normas específicas. O regimento interno da Unidade de Conservação deverá ser apresentado ao Conselho Consultivo e aprovado pela Diretoria de Áreas Protegidas para validação e publicação do documento.” Esse artigo da

portaria, a nosso ver, não reforça o papel do conselho pois ele deve ser apresentado ao Conselho Consultivo e aprovado por outra instância. Para auxiliar nesse processo, a senhora

Camila Oliveira comentou (4º Ata, linha 116) que “trabalha no setor da SETES e tem aceso ao cadastur” e que poderia disponibilizar ao parque caso seja necessário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS As quase duas décadas de obrigatoriedade de conselhos em Unidade de Conservação

e sua efetiva contribuição ainda é um desafio para a gestão pública. No aspecto formal o conselho atende à quase todos os requisitos legais, disponibilizando as atas, realizando

reuniões periódicas, convocando com antecedência, entre outros. O único problema foi a falta de paridade entre setor público e privado-sociedade civil, que será corrigido na próxima gestão. Dessa forma, esse apêndice (pois alguns gestores gostariam de cortá-lo) pode, como no caso apresentado, contribuir para um melhor uso público. No caso específico o foco recaiu sobre o Turismo e as falas e cobranças feitas pelos participantes demonstram certa maturidade no entendimento das potencialidades e possibilidades do turismo na área. Destaca-se a participação ativa da população de Mariana na apresentação e defesa do

projeto “Mariana Viva” e o esforço da gestão para cumprir as deliberações do conselho. Contudo, por razões políticas e técnicas não houve a renovação do conselho e

consequentemente a suspensão de suas atividades. Espera-se que no desdobramento deste trabalho compreender porque os outros conselhos da região que foram unificados não

deram certo.

BIBLIOGRAFIA

Alencar, Emanuel. (2014) Governo investe 0,15% do prometido no programa Parques da

Copa. Disponível em http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/governo-investe-015-do-prometido-no-programa-parques-da-copa-12624725#ixzz4H8bK65Zb. Acessado em

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Bedim, B. P., Campos, C. F. D., & Vidal, T. C. (2010). Equipamentos turísticos do Parque Estadual do Itacolomi (MG): análise das instalações e dos atrativos construídos.

Burkowski, R; Varajão, G.F.D.C. (2010) – Sustentabilidade da Visitação Pública em Unidades

De Conservação: um estudo de caso do Plano de Negócios do Parque Estadual Do Itacolomi-MG. Caderno de Geografia (ISSN 2318-2962), 20(34):22-43. PUC–Minas, Brasil.

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Estima, D. C., Ventura, M. A. M., Rabinovici, A., & Martins, F. M. C. P. F.. (2014). Concession in tourism services and partnerships in the Marine National Park of Fernando de Noronha, Brazil.Revista de Gestão Costeira Integrada, 14(2), 215-232. https://dx.doi.org/10.5894/rgci469.

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Lima, G. S; Ribeiro, G. A; Gonçalves, W. (2005).Avaliação da efetividade de manejo das Unidades de Conservação de proteção integral em Minas Gerais. Sociedade de investigações Florestais.

Santos, Rafael Lopes dos. (2014) Estudo e proposta de implantação de uma trilha interpretativa no Parque Estadual do Itacolomi, Ouro Preto/Mariana (MG). Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) - Universidade Federal de Ouro Preto.

MOTA, L.(2011). Dádiva e sociabilidade no Brasil. Revista ANTHROPOLÓGICAS. Disponível

em: <http://www.revista.ufpe.br/revistaanthropologicas/index.php/revista/article/view/105/10

>. Acesso em: 25 Ago. 2016. Os autores agradecem o apoio do CNPq para realização desta pesquisa.

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A inclusão e desenvolvimento do turismo de base comunitária em Mamirauá na percepção da gestão 2001-2002/ 2014-2016

Laís Faria Cordeiro Discente do curso de Bacharelado em Turismo da UFOP

Kerley dos Santos Alves Professora Adjunto I do curso de Bacharelado em Turismo da UFOP

Rodrigo Burkowski Professor Adjunto II do curso de Bacharelado em Turismo da UFOP

INTRODUÇÃO O Turismo manifesta-se de diferentes formas no que se refere à relação com os

sujeitos que o produzem a vertente de base comunitária se consolidou na década de 1990 no Brasil como um modelo de desenvolvimento centrado nos recursos (humanos, naturais, de infraestrutura) endógenos. Assim, a Comunidade local participa diretamente da concepção, desenvolvimento e gestão do turismo (FABRINO, p.14, 2013), em contraposição, no caso da área ambiental, ao modelo tradicional de Ecoturismo.

O presente artigo buscou conhecer as conquistas e desafios na implantação do Turismo de Base Comunitária (TBC) no Instituto Mamirauá, através da percepção de um dos primeiros coordenadores da pousada e do atual coordenador do Projeto. Utilizou-se como estratégia metodológica pesquisa bibliográfica, documental e aplicação de entrevistas semi estruturadas como instrumento de coleta de dados. A Entrevista 1 foi realizada através do

aplicativo Skype e com duração de 58’12’,com Marcos Amend, Fotógrafo, Engenheiro Florestal, gerente de campo da Pousada Uacari. Se envolveu com o turismo no mestrado,

fazendo pesquisa na Ilha do Superagui – PR. Foi gerente de campo da Pousada Uacari em 2001-2002, participou da efetivação do TBC em Mamirauá. A Entrevista 2 foi realizada com o

atual Coordenador do Programa de Turismo de Base Comunitária, Pedro Meloni Nassar, Biólogo mestre em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia. Ingressou no turismo através

do agenciamento de viagens para escolas, começou a trabalhar como guia naturalista em Mato Grosso do Sul e depois em Mamirauá. Foram analisados aspectos negativos e positivos

dessa implantação, a visão individual sobre a relação de inclusão social com o TBC e também as vivências de inclusão na Pousada Uacari. Tendo em vista que, de acordo com dados do site oficial da Pousada Uacari, uma das iniciativas do programa de inclusão do TBC por parte do Instituto, é o assessoramento às comunidades locais para a prestação de serviços turísticos, assim como realizar pesquisas para apoiar o manejo das atividades.

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1 O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA O TBC busca trazer para as comunidades, famílias, tribos e onde mais ele estiver

inserido a melhoria para todos como um todo, no relacionamento familiar, social e econômico. Irving (p.110, 2009) diz, é fundamental que se esclareça que esta discussão parte da interpretação do turismo não apenas em sua vertente de mercado, mas, principalmente, como fenômeno social complexo da contemporaneidade. De acordo com o Ministério do Turismo (MTUR), apenas no ano de 2008, o MTUR, através do Edital 01/2008, passou a reconhecer as atividades de turismo de base comunitária e a aportar recursos para o fomento de tais iniciativas (p.89, 2009). A partir do edital entende-se que TBC é como iniciativa de estruturação e/ou organização de produtos e serviços turísticos protagonizados pelas comunidades receptoras, como alternativa de geração de trabalho e renda para os residentes (p. 363, 2009). Ao considerar a organização da produção turística com base territorial e protagonizado pelas comunidades locais, o apoio às iniciativas de TBC visa dentre outras coisas Contribuir para a geração de emprego e renda locais, fortalecer a governança local, em articulação com os demais atores envolvidos na atividade turística,

diminuir os vazamentos de renda e fomentar o adensamento do mercado local, Estruturar este segmento turístico, face a crescente demanda turística em níveis nacional e

internacional, agregar valor à destinos turísticos, por meio da diversificação dos segmentos a serem ofertados, promover padrões de qualidade e de segurança da experiência turística, tanto para a comunidade anfitriã quanto para os visitantes .

2 BREVE HISTÓRICO DO INSTITUTO MAMIRAUÁ E DA POUSADA UACARI NA

PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL De acordo com a linha do tempo do Instituto Mamirauá e a entrevista realizada com

Marcos Amend, um dos gestores na época de implantação do TBC Mamirauá, nos anos 80 o primatólogo José Marcio Ayres, foi quem idealizou a criação do Instituto. José Márcio estudava os Uacari-Branco, o macaco branco de cara vermelha, que foi o motivo da criação da reserva. Em 1990, foi criada a Estação Ecológica Mamirauá. Estação Ecológica é um modelo de Unidade de Conservação (UC) muito restritiva, que praticamente inviabiliza o uso público. Nos anos seguintes foi criada a Sociedade Civil de Mamirauá. Motivado pelas condições locais, e após muita luta (QUEIROZ, 2005), foi criada 1998 o primeiro modelo de

Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Brasil. Esse novo tipo, ainda não previsto no Sistema Nacional de Unidades de Conservação,

busca conciliar a preservação (sentido strictu) com a conservação (sentido lato). Dessa experiência, resultou em 2000, com a aprovação do SNUC, o reconhecimento da RDS como

um alternativa viável e importante para a região amazônica.Com a transformação em RDS, foi criada em 1998 a Pousada Uacari. Nesse época o conceito de turismo de base

comunitária ainda não estava difundido, optando os empreendedores pela implantação do ecoturismo, com forte apelo comunitário. Essa foi uma iniciativa pioneira no Brasil, onde a

organização e responsabilidade pela pousada são dos moradores das comunidades locais junto ao Instituto.

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3 A INSERÇÃO DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA EM MAMIRAUÁ – DE 2001 AOS TEMPOS ATUAIS

O processo de implantação do TBC, como já citado, deu continuidade na gestão

2001/2002, aqui serão expostas as análises sobre as ações e práticas realizadas na Pousada Uacari, contrapondo a gestão de implantação e a atual, consecutivamente citadas como Entrevista 1 e Entrevista 2. De acordo com Marcos Amend, antes da Pousada, eram realizadas atividades de pesquisa, e alguns turistas acompanhavam as atividades, sendo a hospedagem junto aos pesquisadores que cobravam pelo dormitório, na época um dos flutuantes. Nesta mesma época foram desenvolvidos iniciativas de interpretação ambiental, trilhas onde abordavam questões sobre biodiversidades, o uso de produtos da floresta e também das comunidades. E com essas ações foi criada a Associação de Auxiliares e Guias de Ecoturismo do Mamirauá - AAGEMAM. Nesse período de 2001 a 2002 foram recebidos cerca de 350 visitantes, o que proporcionou a possibilidade de realização de treinamentos com guias, cozinheiras e arrumadeiras. O trabalho na pousada era conciliado com as atividades tradicionais, o presidente da AAGEMAM era responsável em designar os

membros da comunidade, em sistema de rodízio, que giravam em torno de 30 pessoas. Uma das dificuldades relatadas por Amend foi adaptação à cultura dos ribeirinhos, a aceitação

dos mesmos com projeto e a disciplina com as atividades. E uma constatação foi a de que a transmissão de informações sobre o Turismo de Base Comunitária é essencial e fundamental para o sentimento de pertencimento e aceitação como um programa para todos e não um projeto do Instituto, as pessoas que estão envolvidas no programa e que não são da comunidade faz-se necessário se sensibilizarem com a cultura dos ribeirinhos.

Atualmente, na visão de Pedro a inclusão trouxe muitos benefícios, sendo o poder e a capacidade de tomada de decisões dos próprios comunitários um dos mais importantes. São os moradores discutindo e decidindo o que deve ser feito na comunidade. Além disso, o

Instituto Mamirauá está em um processo de transferência de gestão da Pousada Uacari. Em poucos anos a gestão da Pousada será totalmente das comunidades.

4 ANÁLISES E DISCUSSÕES O quadro 1com os pontos positivos e negativos na percepção de cada um dos

coordenadores em relação à inserção do Turismo de Base Comunitária no Instituto

Mamirauá:

Quadro 1: Para comparação de pontos positivos e negativos em duas realidades.

Relação Entrevista 1 Entrevista 2

Positiva

Fonte de renda Geração de renda Modificação da tipologia do trabalho (menos sofrido)

Melhoria na organização comunitária

Por motivos de sazonalidade das outras atividades

Opção de trabalho para várias idades e gêneros

Troca de conhecimento cultural Conservação da área

Autoestima Empoderamento das comunidades

Maior capacidade de tomar decisões

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Negativa Desigualdade de renda Desigualdade de renda Estrutura social horizontal (status diferente) Problemas familiares (gênero)

Uma pergunta aos entrevistados foi em relação ao conhecimento sobre o termo

inclusão social, se eles veem alguma relação entre a inclusão social e o TBC. Ambos retornos foram positivo. Para Pedro Nassar, o TBC possibilita que as comunidades se empoderem do

seu território, lutem pelos seus direitos, possibilita a inclusão de jovens e mulheres no trabalho, gera benefícios econômicos, aumenta o poder aquisitivo dos moradores, colabora

com a conservação do meio ambiente e ajuda na organização comunitária. E Marcos complementa que traz capacidades diferentes para as pessoas, as pessoas se sentem mais integradas a sociedade. Diferente do que foi dito anteriormente, as questões familiares que deveriam ter melhoria no relacionamento familiar, social e econômico, não ocorreram na inserção do TBC em Mamirauá, de acordo com os entrevistados há desigualdade de renda e problemas familiares presentes nas comunidades.

Em relação às ações de inclusão social que foram realizadas na Pousada Uacari, Marcos Amend comenta que é difícil separar as questões de inclusão do turismo, é muito mais do que o trabalho de organização de base comunitária, e se for para desenvolver o TBC em um local que não o tem, é preciso transformar a comunidade em uma organização, uma associação, estatuto, estabelecer os objetivos. Uma base mínima necessária para ter matéria

prima e depois trabalhar com o TBC na comunidade. Segue quadro com as indicações de ações inclusivas realizadas no Instituto:

Quadro 2: Ações Inclusivas realizadas no Instituto Mamirauá

Ações inclusivas

Entrevista 1 Entrevista 2

Relata os atividades realizadas para a criação do Instituto, e do turismo, que ao mesmo tempo envolve a inclusão do TBC. Atividades como criação das associações, organização social, documentação, educação, saúde. Em sua opinião são as primeiras atividades para se começar a desenvolver o TBC.

As comunidades têm grande peso nas decisões a serem tomadas sobre assuntos da Pousada Uacari. Trabalho em conjunto entre, IDSM, Comunidades e Associação. Gestão de campo (na Pousada) é feita totalmente pelos comunitários, inclusive a gerência. Grande número de mulheres trabalhando na Pousada, em todas as áreas.

Em relação à distribuição de renda para os comunitários, os maiores interessados na

Pousada Uacari, houve mudanças na forma de distribuição, mas são ações que tem fundamentos desde a época de implantação.

Quadro 3: Distribuição de Renda ou Lucro da Pousada Uacari

Distribuição de Renda entre os

comunitários

Entrevista 1 Entrevista 2

Provisionamento para manutenção Pagamentos por serviços prestados Se necessário reforma Compra de produtos (feira e peixe)

Recebimento por diária Taxa socioambiental: de cada turista que vai para a Pousada, é retirado um valor 'x' que vai para o fundo comunitário.

Rateio entre as comunidades

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Durante a permanência do Marcos, o Instituto e a Pousada trabalhavam da seguinte forma, com a receita da Pousada eram pagas as diárias dos funcionários, que trabalhavam

no formato de rodízio, parte do recurso era investido no provisionamento para a manutenção da pousada, como os motores, combustíveis, voadeiras, e o restante que

sobrava era o lucro onde se fazia o rateio entre as comunidades, não repassando o dinheiro, mas fazendo investimentos de acordo com o que a comunidade decidisse o que beneficiaria

a todos e não apenas as pessoas que trabalharam, mas isso dependida do lucro do projeto, se não tivesse lucro, não tinha esse repasse. Nessa mesma época Marcos sugeriu ao Instituto

e as comunidades a compra dos produtos utilizados na Pousadas dos próprios comunitários, o que de início não teve êxito. Mas que na atual gestão, de acordo com Pedro, a compra do

peixe e da feira é realizada dessa forma. Na atual gestão acontece o investimento no trabalho e na comunidade, o pagamento pelos serviços prestados, além da Pousada

"distribuir" o que se chama de taxa socioambiental, onde uma parte do que se recebe de cada turista é destinado ao fundo comunitário da taxa socioambiental. Ou seja, quanto mais

turistas, mais dinheiro para o fundo. No final do ano ou no começo do ano seguinte, representantes das comunidades se reúnem e discutem a pontuação que cada comunidade tem, baseada em normas de convivência, meio ambiente, respeito, entre outras, e decide quanto será destinado para cada comunidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Entre tentativas, ações e práticas, temos como resultado acertos e aprendizados. O

TBC em Mamirauá foi pioneiro e mesmo com as inovações percebe-se que foi e ainda é um trabalho muito importante de integração da comunidade com o turismo. Os benefícios ficam explícitos entre a melhoria na qualidade de vida, economicamente e socialmente. Porém o turismo pode trazer também alguns percalços, algumas pessoas sentem desprivilegiadas dentro do grupo. O TBC trouxe para as dez comunidades integradas ao programa e ao instituto como pontos positivos a venda dos seus produtos, trabalhos temporários para complementação de renda da atividade primária, investimentos na comunidade, integração

com pessoas de diversos lugares e organização interna. Como negativos, mas que se transformou, aponta-se a falta de comprometimento. Nessa evolução do TBC na Pousada Uacari, Pedro ressalta que ela ainda é propriedade do Instituto Mamirauá, mas a previsão é

que seja totalmente repassada às comunidades e à Associação até 2022, a proposta é que os comunitários que tenham mais poder de decisão sobre os assuntos da Pousada e o Instituto

será um parceiro. Em relação às duas entrevistas percebe-se que na implantação do Turismo na Pousada houve resistência por parte da comunidade, e que esta resistência

terminou a partir do momento que nasceu o sentimento de pertencimento do lugar. Atualmente vê-se que a gestão é mais aberta, mais dinâmica e que algumas ações e ideias que se iniciaram em 2001 estão sendo realizadas nos dias atuais. REFERÊNCIAS

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BARTHOLO, R., SANSOLO, D. G., & BURSZTYN, I. (2009). Turismo de base comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 76-91.http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/TURISMO_DE_BASE_COMUNITxRIA.pdf

Série: Protocolos de Manejo de Recursos Naturais. (2011) Instituto de Desenvolvimento

Sustentável Mamirauá – IDSM-OS. Governo Federal do Brasil. 33 f. Tefé – Amazonas. http://www.mamiraua.org.br/cms/content/public/documents/publicacao.

DANTAS, J. E. (2014).WWF-Brasil promove intercâmbio sobre turismo com ribeirinhos do Rio Juruena. http://www.wwf.org.br/informacoes/?41222/WWF-Brasil-promove-intercambio-

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Fabrino, N. H. (2013). Turismo de base comunitária: dos conceitos às práticas e das práticas aos conceitos.

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Produção de políticas públicas de turismo sob um olhar sociopolítico

Amanda Baldissera Damião Mestranda em Turismo pela USP

Fábio Alves Ortiz Mestrando em Turismo pela USP

Amanda Cabral Mestranda em Turismo pela USP

INTRODUÇÃO

O estudo das políticas públicas (PP) originou-se na Europa através do desdobramento

das teorias que buscavam entender o papel do Estado, considerando-o como centro das ações e a inexistência da monopolística. Já nos Estados Unidos, a questão central que

pautava os estudos não estabelecia relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando direto para a ênfase nos estudos sobre a ação dos governos.No Brasil, o campo de

estudo das PP’s apoia-se na abordagem americana, logo, pensar políticas públicas e turismo é pensar as ações, os instrumentos, os planos, programas... (etc.), e compreender além do

discurso explícito. Assim, o presente resumo se propôs a demonstrar a processo de produção das PP’s e a visão da sociologia política sob os instrumentos.

1 O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS E COMO ELAS SÃO PRODUZIDAS?

As PP’s são um conjunto articulado de decisões orientadas para a resolução de um problema ou para a realização de um objetivo considerado de interesse público. Para tal, as decisões constituem um padrão de atitude governamental a respeito do problema, no caso,

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aquilo que é de fato realizado e não um conjunto de intenções. De modo geral, para iniciar a discussão sobre PP’s, a definição apresentada por Guareschi (2004, p. 26) se mostra abrangente e objetiva o suficiente:

O conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda, em diversas áreas. Expressa a transformação daquilo que é do âmbito privado em ações coletivas no espaço público.

Dentro desta perspectiva, a visão de Mead (1995, p. 12) abrange a lente de percepção e considera PP’s como “o campo de conhecimentos que analisa o governo à luz de grandes questões públicas”. Peters (1986, p. 34) completa ambos os autores apresentados ao definir PP’s como “a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação e que influenciam a vida dos cidadãos”.

Por outro lado, PP’s e direitos sociais, podem ser rompidos por dinâmicas clássicas de representação político-partidária, logo, a influência política pode estabelecer ou bloquear determinados temas, ou influir sobre os mesmos.

Thomas Dye (1984, p. 11) vai ao encontro desta perspectiva e entende PP’s como “o

que o governo escolhe fazer ou não fazer”. Para Massadier (2003, p. 42) PP’s são “um conjunto de ações múltiplas, mais ou menos coordenadas, um processo de produção de

dispositivos tangíveis de gestão de um campo da vida social coletivamente assumido”. Ou seja, para o autor as ações desenvolvidas não são necessariamente planejadas em

conjunto e desempenhadas dentro de uma política estruturada, elas podem ser atos executados pelo poder público, que apontam a direção para a resolução do problema.

Outro ponto que o autor salienta é a produção de dispositivos tangíveis, no caso instrumentos normativos como leis, decretos, planos ou configuradas em forma de programas e projetos. Através dos instrumentos o direcionamento da posição do governo é perceptivelmente mais claro para a sociedade. O autor ainda considera um terceiro ponto

apresentado em seu texto, chamando-o de campo da vida social coletivamente assumido, referindo-se a qualquer grupo reconhecido pela sociedade.

Nos campos teóricos é possível identificar pontos em comum ou que se complementam, e que podem ser sintetizados da seguinte maneira (SOUZA, 2006, p.36), a PP: a) permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz. Ou, como discute Muller (2002), política explícita e política implícita, que é a diferença entre o que o governo diz fazer e os interesses por trás de suas ações; b) envolve vários atores e

níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes; c) é

abrangente e não se limita a leis e regras; e, d) é uma ação intencional, com objetivos e metas a serem alcançados.

Contudo, as PP’s são desenvolvidas por instituições governamentais e seus responsáveis por meio de processos políticos. Assim, tão importante quanto entender e

discutir o que é PP, é debater o processo de produção. Para tal, alguns autores defendem a existência de um ciclo de PP’s. Nos anos 1990, Howlett e Ramesh condensaram as fases do

processo da PP em cinco etapas, apresentando o que denominaram ‘Improved model’: (1) montagem da agenda; (2) formulação da política; (3) tomada de decisão; (4) implementação

e (5) avaliação. Neste modelo, prevalece a ideia de que uma PP se inicia a partir da percepção de problemas, passa por um processo de formulação de propostas e decisão,

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segue sendo implementada, para enfim ser avaliada e dar início a um novo processo de reconhecimento de problemas e formulação de política. Esta é a ideia de ciclo da política que até os dias atuais é bastante divulgada e trabalhada nos seus estudos.

Porém, a realidade nem sempre se mostra tão sistemática e simplista conforme essa lógica. Algumas etapas podem ocorrer simultaneamente, em ordem inversa e até mesmo serem omissas (MULLER, 2002). Nesse sentido, a proposta apresentada por Monnier (apud MULLER, 2002) se mostra mais compreensiva e adequada, ao apontar um processo de produção das PP’s na forma de um fluxo turbulento. Essa proposta mostra as etapas acontecendo de forma paralela e se modificando continuamente, ressaltando o desvio entre o planejamento das ações, a sua implantação e os resultados e impactos que efetivamente foram gerados. O autor identifica três etapas:

1. A elaboração da ação. O que pode ser entendido como a fase de planejamento ou formulação da PP;

2. A implantação das ações planejadas. Acompanhada da sua constante revisão, frente à disponibilidade dos recursos e das relações entre os envolvidos; e

3. A avaliação dos impactos. Fase onde poderá ser verificado o desvio dos

resultados e impactos gerados após a implantação das PP’s. Outro ponto fundamental levantado por Muller (2002) é que a elaboração das PP’s é

realizada com base na percepção que os diversos atores têm da realidade. Em função da complexidade e contradições dessa realidade, se faz necessário decodificá-la, ou sistematizar o processo, para que seja possível identificar os problemas e estabelecer as PP’s. Desta forma, esse processo de planejamento é realizado, não em cima da realidade, mas do que o autor chama de referencial das PP’s. Tal fato, em conjunto com o fluxo turbulento mencionado anteriormente, contribui ainda mais para o desvio entre os resultados das ações do poder público e os objetivos e as metas estabelecidos em seu planejamento.

O último ponto a ser discutido diz respeito à avaliação dos resultados das PP’s. De

modo geral, a avaliação de PP’s tem como foco a sua eficiência, ou seja, se as metas estabelecidas foram atingidas, quais os custos envolvidos e quais os impactos diretos e indiretos gerados durante o processo. Para fazer uma análise dos resultados das PP’s, é necessário estabelecer critérios de avaliação que permitam dizer se uma política é preferível à outra e o motivo. Na medida em que envolve princípios políticos, cuja relevância é dada por sua conexão com alguma concepção de bem-estar humano, e as prioridades a serem observadas entre eles, a análise de avaliação terá sempre um caráter complexo e

controverso (FIGUEIREDO, 1986). Em suma, pode-se dizer que a análise das PP’s é a avaliação das ações do poder público.

2 A IMPORTÂNCIA DA AÇÃO PÚBLICA ABORDADA PELOS SEUS INSTRUMENTOS

A abordagem sobre instrumentos está localizada no campo teórico da sociologia

política abordada nos trabalhos dos pesquisadores Lascoumes e Le Galès (2007; 2012). Onde, reconhecendo-se o papel dos instrumentos na estruturação das PP’s, ultrapassa as

perspectivas funcionalistas e torna evidente as relações de poder e as dinâmicas de despolitização associadas a tais instrumentos.

A escolha por está corrente de pensamento sociopolítico a partir dos instrumentos permite entender quais são os padrões de governança entre os diversos atores de uma

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arena política. Para os autores, os instrumentos revelam singularidades históricas na estruturação de relações entre governantes e governados, logo, não dizem respeito apenas à busca de acordos entre os envolvidos sobre meios e objetivos. Dentro desta perspectiva, os instrumentos não são neutros e sim, carregam representações, significados e uma forma condensada de conhecimento sobre regulação social. Todavia, os instrumentos também podem apresentar riscos à ação pública, por produzirem resultados além dos esperados, a partir de suas próprias dinâmicas, causando-se efeitos como inércia, representação específica da questão ou ser induzido à uma problematização específica.

Para Lascoumes e Le Galès, os instrumentos de ação são portadores de valores, alimentam-se de uma interpretação do social e de concepções precisas do modo de regulação esperado. O instrumento é também produtor de uma representação específica do desafio que ele enfrenta. Enfim, o instrumento induz uma problematização particular dos objetos de aplicação na medida em que hierarquiza as variáveis e pode prosseguir até induzir um sistema explicativo.

Desta forma, os instrumentos de PP’s são um tipo particular de instituição, no sentido sociológico do termo, um conjunto mais ou menos coordenado de regras ou

procedimentos que governam as interações e comportamentos sociais, tornando-os mais estáveis e previsíveis (MACIEL, 2015). Para Lascoumes e Le Galès (2012, p. 4), instrumento é

um tipo de instituição social (o recenseamento, a cartografia, a regulamentação, a taxação, etc.); a técnica é um dispositivo concreto que operacionaliza o instrumento (a nomenclatura estatística, a escala de definição, o tipo de figuração, o tipo de lei ou o decreto); finalmente, a ferramenta é um micro dispositivo dentro de uma técnica (a categoria estatística, a escala de definição da carta, o tipo de obrigação previsto por um texto, uma equação calculando um índice).

A escolha de um instrumento revela as lógicas dos atores e os diferentes interesses presentes numa arena de política. Como afirmam os autores, os instrumentos determinam,

em parte, quais recursos podem ser utilizados e por quem. Assim, ao contrário do que tradicionalmente se anuncia, a escolha de um instrumento não é uma decisão técnica, mas política, cujos impactos podem ser medidos por meio das relações de poder e das redes sociais criadas a partir dele. Para além dos seus efeitos declarados, os instrumentos promovem a reconfiguração das arenas políticas às quais estão vinculados, reorganizando relações entre os atores, impondo padrões interpretativos e estruturando as PP’s de acordo com suas próprias lógicas (MACIEL, 2015).

Todo instrumento é portador de uma teoria explícita e de uma teoria implícita, que nem sempre mantém uma relação de coerência entre si. A teoria explícita segundo

Lascoumes e La Galès (2012) refere-se às premissas e verdades que são enunciadas como explicação do instrumento, em documentos oficiais, por exemplo. Por outro lado, as

verdades e premissas, que orientam a prática do instrumento constituem sua teoria implícita, é através desta que ele governa as relações sociais.

Logo, os instrumentos de PP’s tornaram-se uma espécie de lego, como lembra Le Galès (2012), montados a partir da junção de várias camadas, que produzem seus próprios

efeitos e exigem mecanismos de coordenação. Sendo que, em algumas situações são resultantes de ampliações mais ou menos construídas sobre um único programa visto como

bem-sucedido. Contudo, o interesse de uma abordagem em termos de instrumentos possibilita

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compreender a hierarquização de atores e de representações que dominam hoje largamente a análise da ação pública. Além do mais, a partir dos instrumentos, a ação pública demostra que os atores que são os responsáveis pela definição dos objetivos das políticas.

Enfim, em um contexto político no qual prevalecem a diferenciação dos discursos, torna-se possível considerar que atualmente é pelos instrumentos de ação pública que se estabilizam as representações comuns sobre as questões sociais.

3 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Quando se trata de PP’s de turismo, observa-se que a produção das políticas, de

maneira explicita, segue o modelo do ciclo, proposto por Howlett e Ramesh (1996), todavia, é perceptivo, diante do atual cenário político, que existem diversas questões implícitas por trás dos discursos, projetos e programas políticos no campo do turismo.

A compreensão sociopolítica do processo de elaboração das políticas públicas de turismo é de suma importância para esse campo, considerando o poder de transformação econômica, sociocultural e ambiental da atividade e o interesse político que ela desperta

(em escala municipal, estadual, nacional e internacional). Aliado a isso, a visão sociopolítica destaca o aspecto pessoal que a política possui.

Não são raras as vezes em que leis e decretos na área do turismo são criados ou modificados com o intuito “implícito” de favorecer um pessoa ou empresa em detrimento do parcela coletiva da sociedade, que é impactava, na maioria das vezes, de forma negativa.

REFERÊNCIAS

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HOWLETT, M; RAMESH, M. (1996). Studying Public Policy. Canadá: Oxford University Press.

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MASSARDIER, G. (2003). Politiques et action publiques. Paris: Armand Colin.

MEAD, L. M. (1995). Public Policy: Vision, Potential, Limits, Policy Currents, p. 1-4.

MULLER, Pierre. (2002). Las políticas públicas. Bogotá: Universidad Externado de Colombia.

PETERS, B. G. (1986). American Public Policy.Chatham, N.J.: Chatham House.

SOUZA, Celina. (2006). Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, v. 8, n. 16, p. 20-45.

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Turismo rural comunitário, sustentabilidade e gênero Dorcas Cabral

Mestranda em Turismo CET/UnB

RESUMO Este artigo apresenta uma reflexão sobre o fenômeno turístico para além do foco econômico e as relações deste fenômeno no campo social, cultural, comunicacional, econômico, ambiental e subjetivo. Neste contexto, surge o Turismo Rural Comunitário com uma proposta de mudanças econômicas, políticas e sociais. Os conceitos de sustentabilidade apresentados pela ONU Mulheres correlacionados com os objetivos e apontados pelo

Ministério do Turismo, corroboram a tese de interação de gênero na gestão ambiental, na produção de alimentos e na reprodução social e, portanto destaque para o papel das

mulheres nas práticas turísticas rurais.

Palavras-chave: Turismo. Sustentabilidade. Gênero.

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...a mulher não está vendo o planeta da janela da casa. La está fora, com os pés na Terra. (Moacir Gadotti, 2005).

INTRODUÇÃO O Turismo, enquanto setor econômico, é reconhecido como importante gerador de

divisas capaz de promover oportunidades de trabalho e renda e de contribuir para a redução das desigualdades regionais e sociais. Porém, o entendimento do fenômeno turístico para além deste foco economicista, tem mobilizado os teóricos contemporâneos na busca por respostas a questionamentos sobre a multinterdisciplinaridade do turismo, os sujeitos produtores e consumidores, os impactos desta atividade sobre a economia, as comunidades locais e o meio ambiente natural.

A clareza epistemológica no tratamento do turismo permite considerar as relações deste fenômeno no campo social, cultural, comunicacional, econômico, ambiental e subjetivo. Assim pontua Moesch (2002):

“Turismo é um fenômeno complexo e, antes de ser econômico, é uma experiência social. Envolve sujeitos consumidores que se deslocam no tempo e no espaço para satisfazer

as suas necessidades físicas imediatas e também os seus imaginários e, os sujeitos produtores de bens e serviços turísticos”.

A visão de Moesch para além das questões econômicas associadas ao turismo, vem confirmar que as experiências tradicionais nem sempre estão associadas ao desenvolvimento das localidades onde se estabelece, apesar de seu significativo crescimento e do notável aumento das receitas provocado por ele, além da crescente a preocupação quanto aos impactos sociais e ambientais, geralmente associados ao turismo de massa.

A lacuna inerente aos aspectos econômico, social e ambiental do turismo de massa, geram mudanças de comportamentos em comunidades que se organizam proativamente em empreendimentos cooperativos e associativos ligados ao turismo.

Surge, a partir daí, o TBC-Turismo de Base Comunitária como um modelo de desenvolvimento orientado pelos princípios da economia solidária, do associativismo, da valorização da cultura local e, principalmente, do protagonismo das comunidades locais (MTur, 2008). Este, relaciona-se, dentre outros aspectos, à “história de luta pela posse da terra, pela preservação do meio ambiente ou mesmo pelo direito ao modo de vida tradicional que uniu comunidades e formou a base para o desenvolvimento de um outro turismo” (CORIOLANO, 2009).

O TBC tem uma abrangência urbana ou rural. No ambiente predominantemente rural, aponta iniciativas que se identificam como de Turismo Rural Comunitário/TRC.

Conforme atesta MALDONATO (2009), o TRC surgiu nas duas últimas décadas dentro de um contexto de grandes mudanças econômicas, políticas e sociais; dirige-se a um nicho

de mercado constituído por viajantes em busca de experiências pessoais e enriquecedoras. Diversas comunidades estão se abrindo para o mercado graças a este ‘turismo com selo

próprio’, que combina atributos originais e autênticos, mas sem perder a sua alma. O Turismo Rural Comunitário é considerado como uma atividade não agrícola

inserida na pluriatividade rural.

1 SUSTENTABILIDADE E GÊNERO

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A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável defendida pela ONU, apresenta dezessete objetivos, com destaque aqui para os de número cinco: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas e o objetivo nº 11: tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Tais objetivos encontram correlação com turismo rural-sustentabilidade-mulher rural, aqui sugerido.

Em julho de 2010, a Assembleia Geral da ONU criou a ONU Mulheres, que se constitui como a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. As principais áreas temáticas femininas da ONU de trabalho incluem: Liderança e Participação Política; Desenvolvimento Econômico; Fim da Violência contra as Mulheres; Ação Humanitária; Paz e Segurança; Governança e Planejamento Nacional; Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030 e HIV e AIDS.

Em mensagem para o Dia Internacional das Mulheres Rurais, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu mais políticas de proteção das mulheres do campo frente às mudanças climáticas, e destacou que elas representam quase metade da força de trabalho agrícola do mundo.

Nesse contexto, é importante destacar o fator feminino como essencial na gestão

ambiental, na produção de alimentos e na reprodução social, ao mesmo tempo em que contribui na transição para uma economia verde. Isto se vê especialmente no campo onde

são protagonistas no processo de adaptação e mitigação da atividade agropecuária à mudança climática. Um quarto da população feminina mundial vive no campo. São líderes, tomadoras de decisão, trabalhadoras, empresárias e fornecedoras de s erviços. Sua contribuição é vital para o bem-estar das famílias e das comunidades, bem como para a economia local e a dos países, apesar da invisibilidade das contribuições econômicas dessas mulheres, segundo ARAÚJO, N. F. (2010). A interação de gênero com a gestão ambiental pode ser vista no trabalho das mulheres dos assentamentos rurais, na prática do turismo comunitário rural, em um indicativo à igualdade de gênero e ao empoderamento das

mulheres. A questão de gênero também se destaca no ‘Saber fazer al imentar’ na atividade turística rural.

No âmbito das políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) encontram-se programas voltados para a recuperação, conservação e sustentabilidade em variadas áreas ambientais. Entre os destaques, está o Cadastro Ambiental Rural (CAR) de imóveis em todo o território nacional, com o objetivo de promover a recuperação de ecossistemas nos moldes da nova Lei Florestal. Além disso, o MMA desenvolve programas ligados ao combate

à desertificação, à educação ambiental e ao zoneamento ecológico econômico. O Ministério do Turismo por sua vez, trabalha as relações entre turismo e

sustentabilidade com base em quatro princípios do desenvolvimento sustentável essenciais para o Programa de Regionalização do Turismo, quais sejam:1) Sustentabilidade ambiental -

envolve processos relacionados aos recursos naturais; 2) Sustentabilidade sociocultural - considera a cultura local e os valores morais da comunidade;3) Sustentabilidade econômica -

visa assegurar a distribuição da renda gerada pelo turismo para a população local;4) Sustentabilidade político-institucional - que visa garantir os compromissos entre os setores

público privado e demais atores da sociedade civil. Em Krippendorf (2002), há registro de alerta sobre a fragilidade dos elementos

envolvidos no turismo: do ecossistema natural ao ecossistema cultural. E aponta as maneiras pelas quais o turismo pode ser conduzido com harmonia entre o homem e a natureza,

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contextualizado na região das montanhas suíças, cujas regras, explica, é também aplicável a todos os lugares. O autor coloca que a essencialidade das funções sociais da vida ­ o comércio, a indústria e a recreação ­ sejam harmonizados entre si e com a natureza, de tal forma que o potencial produtivo – terra, florestas, água, etc. – e a qualidade do ambiente natural, social e cultural seja assegurado a longo prazo. REFERÊNCIAS CORIOLANO, L. N. [Org.]. Políticas alternativas: arranjos produtivos locais do turismo comunitário. In: Arranjos produtivos locais do turismo comunitário: atores e cenários em mudança. Educa, Ceará 2009 .58‐59.

KRIPPENDORF, J. Turismo: investigação e crítica. Desenvolvendo o turismo em Harmonia com os seres humanos e o ambiente natural. São Paulo: Contexto, 2002, pag.11.

_____________. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989, 236p.

MOESH, M.M. Turismo: investigação e crítica. Para além das disciplinas: o desafio do

próximo século. São Paulo: Contexto, 2002, pag.25.

MALDONADO, C. O turismo rural comunitario na América Latina. In: BARTHOLO, R.,

SANSOLO, D. G. e BURSZTYN, I. (Orgs.). Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009.

SB Class Cama & Café: o MEI como incentivo à formalização da oferta de hospitalidade doméstica

Laila Borges da Silva Graduanda em Sociologia da UFF

Camila Garcia Fintelman Graduanda em Sociologia da UFF

Elaine Gomes Borges da Silva Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos pela UnB

RESUMO EXPANDIDO

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O turismo é uma força econômica das mais importantes, ao qual ocorrem fenômenos de consumo, originam-se rendas, criam-se mercados nos quais oferta e demanda se encontram. Os resultados desse movimento financeiro são expressivos e justificam sua inclusão na programação da política econômica em favor da população autóctone.

O turista, ao chegar ao seu destino, necessita de elementos mais básicos como uma cama

para repouso, um banho e um bom café da manhã reunidos em único ambiente. Sobre o meio de hospedagem cama & café (Bed and Breakfast ou home stay), comum na Europa e

nos Estados Unidos, conforme Pimentel (2007) caracteriza-se por meios de hospedagens domiciliares onde os moradores não se ausentam durante a estada do hóspede, prestando a

eles serviços de alojamento e oferecendo café da manhã.

Consiste em serviço personalizado, promove o intercâmbio cultural e o real contato com o

cotidiano dos residentes do destino turístico por meio do convívio do hospede e anfitrião. Destaca-se dos hotéis convencionais.A hospitalidade doméstica pode ser compreendida

como a embrionária de toda hospitalidade, fundada por aspectos antropológicos, sociais e culturais da humanidade. Segundo Franco e Prado (2007, p.3): [...] é dentro do contexto

doméstico da hospitalidade que o ato de receber reflete a cultura de cada povo. Trata-se da hospitalidade como bem receber, do aconchego, da essência do acolhimento. Popularmente fala-se de “fazer com que o visitante se sinta em sua própria casa”, embora essa seja uma questão bastante polêmica visto que não se sabe até que ponto o hóspede pretenda se “sentir em casa” num ambiente que lhe é alheio cultural e socialmente. Talvez a questão primordial não seja se “sentir em casa” mas se sentir “aceito” ou “não-excluído” dentro de suas particularidades e identidade.

Historicamente, é comum comerciar abrigo - repouso e alimentação, o em espaços geminados, no térreo ou em cômodos reservados a este fim na própria moradia do

estalajadeiro (Walker. 2002). O que distancia a hospitalidade em um sistema cama e café da hospitalidade doméstica é o aspecto de cobrança dos serviços. No ambiente do sistema

cama e café, a proposta é a boa acolhida, o aconchego, o carinho dispensado ao hóspede, porém as trocas estabelecidas envolvem moeda. E o resultado dessa vivência diária traz ao

hóspede e ao proprietário do empreendimento enriquecimento cultural no convívio intensificado devido a proposta de hospedar alguém na sua própria casa, que aproxima

esses dois atores favorecendo o acolhimento sincero que poderá transcorrer em novos arranjos de comunicação e aumento da procura daquele meio de hospedagem a partir de

experiência particular que poderá resultar em propaganda boca-a-boca.

Conforme o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem – SBClass, cama e café é um tipo de hospedagem em residência com no máximo três unidades habitacionais

para uso turístico, com serviços de café da manhã e limpeza, na qual o proprietário resida . Essa tipologia proporciona aos visitantes uma experiência exclusiva e única ao usufruírem do

contato direto com os moradores ao mesmo tempo em que valoriza a cultura local. (MTur, 2011). O SBClass estabelece as categorias de uma a quatro estrelas e para cada, deverão ser

atendidos requisitos adicionais que diferenciam as categorias entre si. O consumidor poderá escolher o meio de hospedagem pela comparação entre a infraestrutura, os serviços

oferecidos, assim como das ações de sustentabilidade implantadas.

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Para a instalação de um cama e café deverão ser seguidos os requisitos presentes na Portaria Ministerial MTur Nº 100/2011. Atribuições mínimas que cabem ao proprietário deste negócio é ter mais de 18 anos, estar informado e comprometido com a qualidade dos serviços assumindo princípios de simpatia e boa vontade, qualidade no atendimento, respeito às diferenças, sinceridade e honestidade, respeito às leis, ser acessível por telefone durante 24 horas, oferecer no máximo três quartos para hospedagem simultânea, sendo que em um quarto ficarão hospedadas apenas pessoas de uma mesma família ou grupo, troca de roupas de cama e roupas de banho a cada três dias, ou a cada novo hóspede, limpeza diária do quarto e do banheiro, lavagem do banheiro a cada quatro dias, ou a cada novo hóspede; serviço de alimentação disponível para café da manhã, servido diariamente pelo anfitrião, e este será o momento de contato regular com o hóspede, providenciar um conjunto de ações para garantir a segurança dos hóspedes e um serviço de atendimento médico de urgência, providenciar uma cópia da chave da casa, cadeado eletrônico com senha programável ou o compromisso do anfitrião de estar sempre disponível para abrir a porta para o hóspede, entre outras demandas.

No caso brasileiro, etapas para legalizar um cama e café são: a geração do CNPJ, que poderá ser feito por emissão do CCMEI - Certificado de. Condição de Micro Empreendedor Individual; obter o alvará do local, fazer o cadastro obrigatório do Cama e Café no Cadastur e; uma apólice de seguro residencial.

Conforme disposto na Portaria nº 100, de 16 de junho de 2011, no Brasil foi instituído o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass), estabeleceu os critérios de classificação, criou o Conselho Técnico Nacional de Classificação de Meios de

Hospedagem - CTClass e outras providências. Assim como a maioria dos sistemas de classificação de outros países, o Sistema Brasileiro de Classificação é de adesão e adoção

voluntárias pelos meios de hospedagem – que deverá atender requisitos de infraestrutura, serviços e sustentabilidade. Os requisitos para classificação são divididos em mandatórios

(de cumprimento obrigatório pelo meio de hospedagem) e eletivos (de livre escolha do meio de hospedagem, tendo como base uma lista pré-definida). O meio de hospedagem para ser

classificado na categoria pretendida deve ser avaliado.

O responsável legal deverá preencher o formulário eletrônico de solicitação no site do

Cadastur, o termo de compromisso, a declaração do fornecedor e auto avaliação. Encaminhar os documentos ao Órgão Oficial de Turismo da Unidade da Federação onde

estiver localizado que analisará a solicitação e verificará a conformidade da documentação

em até 10 dias corridos. Conforme a solicitação e a documentação estejam corretas, o Órgão Oficial de Turismo encaminha o comunicado da abertura do processo, via sistema Cadastur, ao meio de hospedagem e ao representante legal do Inmetro da Unidade da Federação. E caso não esteja em conformidade, o meio de hospedagem receberá as considerações sobre

as incorreções e terá um prazo de até 60 dias para ajustar.

De acordo com o estabelecido na Portaria n.º 273, de 21 de junho de 2011, (MDICE, 2011),

caberá ao representante legal do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Inmetro a emissão, em sistema próprio, da Guia de Recolhimento da

União (GRU), com os valores a serem pagos e enviar ao meio de hospedagem via sistema Cadastur; definir o avaliador e agendar a avaliação inicial em comum acordo com o meio de

hospedagem, no prazo de 10 dias, que está condicionada à confirmação do pagamento da

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GRU e deverá ocorrer em até 40 dias. Após a avaliação, informará o resultado e entrega o registro preliminar, incluindo as conformidades e não conformidades constatadas em até 15 dia, a contar da data da avaliação. Este emitirá o relatório final ao cama e café avaliado, incluindo detalhadamente as não conformidades, se encontradas, para que possam ser definidas as ações corretivas. Mediante não conformidades, o representante do Inmetro deve acordar com o possuidor do cama e café o prazo e o meio para apresentar as evidências de ações tomadas para atendimento aos requisitos da matriz e retorno ao local, se for o caso, em até 90 dias da data da avaliação. No caso de impossibilidade das ações corretivas, por falta de conformidade, o processo deverá ser encerrado pelo representante legal do Inmetro e comunicado via sistema aos interessados.

O Ministério do Turismo, com base no relatório final de verificação, emite o certificado de

classificação e concede autorização para o uso da marca da classificação de meios de hospedagem.

Os requisitos para classificação são divididos em mandatórios (de cumprimento obrigatório) e eletivos (de livre escolha, tendo como base uma lista pré-definida). O meio de

hospedagem para ser classificado na categoria pretendida deve ser avaliado por um representante legal do Inmetro e demonstrar o atendimento a 100% dos requisitos mandatórios e a 30% dos requisitos eletivos (para cada conjunto de requisitos). A validade da classificação é de 36 meses, a contar da data de sua concessão. Durante esse período, deve ser realizada uma nova avaliação para verificar a manutenção do atendimento aos requisitos da matriz de classificação. Esta nova avaliação deve ocorrer em torno de 18 meses após a concessão inicial. (Ministério do Turismo, 2010)

De acordo com o Anexo XIII (arts. 91, inciso I e 92, § 2º, inciso I), para a legalização jurídica de um cama e café, o dono de residência que desejar empreender neste segmento poderá

inicialmente formalizar por meio do Microempreendedor Individual – MEI,introduzido pela Lei Complementar 128/08 e inserido na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei

Complementar 123/06). Ele será enquadrado como proprietário (a) de hospedaria e outros alojamentos não especificados (CNAE, 5590-6/99). Não há taxas para a abertura deste tipo

de empresa, mas a mesma deve seguir todos os outros trâmites normais de acordo com a legislação. A facilidade é o pagamento de impostos que é feito de forma única com um valor

fixo, baseado numa porcentagem do salário mínimo, acrescido de ISS.

O Microempreendedor Individual - MEI é uma estrutura válida para efetivar um sistema

cama & café. Ele respalda a pessoa que trabalha por conta própria legalizada como pequeno

empresário, é necessário o faturamento de no máximo até R$ 60.000,00/ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular. Este também pode ter um empregado

contratado que receba o salário mínimo ou o piso da categoria.A Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, criou condições especiais para que o trabalhador conhecido como informal

possa se tornar um MEI legalizado. Entre as vantagens desta está o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), facilitadora na abertura de conta bancária, o pedido de

empréstimos e a emissão de notas fiscais. Além disso, o MEI será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, COFINS, IPI e CSLL).

Assim, pagará apenas o valor fixo mensal de R$ 50,00 (comércio e serviços), destinado à Previdência Social e ao ICMS ou ao ISS. Esse custo será atualizado anualmente, de acordo

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com o salário mínimo. Com essas contribuições, o Microempreendedor Individual tem acesso a benefícios como o auxílio maternidade, auxílio doença e aposentadoria.

No caso de formalização via MEI, o faturamento anual máximo do cama e café não pode

ultrapassar o montante de R$ 60.000,00. Quando o responsável legal perceber o aumento nas vendas, com o auxílio de um contador deverá optar pelo enquadramento em outra

categoria de empresa na junta comercial, prefeitura municipal em que está registrado o cama e café e na receita federal.

Antes de implantar o cama e café é aconselhável a realização de um estudo de viabilidade, avaliar as condições da localidade além da edificação (ambiente interno e ambiente externo)

verificar se no entorno há garantias de acesso, infraestrutura, as necessidades e interesse do público por este tipo de acomodação. Uma análise SWOT (strengts, weaknesses,

opportunities and threats) é um bom meio de estudo que permitirá análise crítica das forças que compõem o empreendimento cama & café. Uma análise apurada anteverá as

imperfeições, as correções cabíveis para que o plano do negócio represente a realidade do empreendimento e o ambiente. Tornando-o viável e sustentável antes do requerimento da

documentação, investimentos necessários e outras providências.

REFERÊNCIAS

ANEXO XIII (s.d.). (arts. 91, inciso I e 92, § 2º, inciso I). Atividades Permitidas ao MEI

Disponível em <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/legislacao/resolucoes/arquivos/ANEXO_XIII.pdf

>. Acessado em 02.10.2016

Franco, Patrícia dos Santos; Prado, Juliana do. (2007). A hospitalidade e a cordialidade: reflexões sobre o Brasil. Disponível em <http://www.ibhe.com.br/assets/conteudo/uploads/a-hospitalidade-e-a-cordialidade,--reflexoes-sobre-o-brasil---200755d1f86db0909.pdf>. Acessado em 02.10.2016

Lei Complementar 128/2008. Microempreendedor Individual. Disponível em <http://www.portaltributario.com.br/guia/mei.html> . Acessado em 02.10.2016

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2011). Instituto Nacional de

Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial- Inmetro Disponível em <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-

site/downloads/portaria273_2011inmetro.pdf>. Acessado em 02.10.2016

Ministério do Turismo (2010). Cartilha de Orientação Básica. Sistema Brasileiro de Meios de Hospedagem. Disponível em: <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/downloadCartilha.action?tipo=4>. Acessado em 02.10.2016

Ministério do Turismo (2011). Portaria Ministerial 100N°1 100/2011. Matrizes de

Classificação de Meios de Hospedagem. Disponível em <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-

site/downloadRegulamento.action?tipo=4 > Acessado em 01.10.2016

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Ministério do Turismo. (2016). Como obter classificação Disponível em <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/ObterClassificacao>. Acessado em 01.10.2016

Pimentel, Ana Bauberger. (2007). Hospedagem Domiciliar na Cidade do Rio de Janeiro: o espaço de encontro entre turistas e anfitriões (RJ), 2007. Dissertação (Mestrado) -

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Portaria Nº 100, DE 16 DE JUNHO DE 2011 Disponível em:

<http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/downloads/portaria100_2011mtur.pdf> Acessado em 02.10.2016

Walker, John R. (2002). Introdução à Hospitalidade. Barueri, SP: Manole.

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Do egoísmo hedonista à interculturalidade: as (im)possibilidades da prática turística

Marco Aurélio Fernandes Neves Mestrando em Ciências Ambientais da UFG

RESUMO EXPANDIDO

Aliado aos avanços dos meios de comunicação, os meios de transportes revolucionaram a

percepção da realidade do mundo. Junta-se a isso a expansão capitalista desde o pós-segunda Guerra, que culminou, anos mais tarde na derrubada do Muro de Berlim e processo

intenso de globalização capitalista. A conjunção desses três fatores ao longo da segunda metade do século XX explica, em certa medida, o aumento do turismo em todo mundo,

como podemos notar no gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Crescimento da demanda turística desde 1950

Fonte: UNWTO (2016, p. 14)

Apesar das mudanças sofridas pela sociedade e pelo turismo, as viagens consideradas turísticas ainda guardam desde sua origem, um aspecto bem peculiar de motivação, elas buscam aquilo que Krippendorf denominou de anticotidiano (2001, p. 15). Para esse estudioso do turismo, tudo aquilo que nos falta no cotidiano, procuramos, de algum modo no anticotidiano, no caso por ele analisado, nas viagens.

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Nesse sentido as viagens agem como aspectos de descanso e lazer. O imaginário construído em torno das viagens turística, ao longo dos anos, remete ao “carregar de baterias” que proporcionado pelo “tour”. A UNWTO1 em sua recente publicação corrobora tal aspecto ao constatar que a maioria das pessoas viaja pelo descanso e lazer que tal atividade proporciona. Segundo a OMT mais de 53% dos turistas internacionais no mundo, tem por motivação a referida causa2.

A partir dessa constatação perguntamo-nos: como uma atividade de aparente caráter

hedonista e individualista como o turismo pode, de algum modo, produzir uma reflexão de interesse mais amplo, que amplie seus horizontes positivos de impacto?

Em um primeiro momento podemos dizer que apesar do descanso e lazer ainda serem motivações de preferência dos turistas, há ainda outras, tais como motivos religiosos,

culturais e de visita a parentes e amigos que apresentam um bom percentual de motivações (27% do total pesquisado pela UNWTO).

Mas o que este trabalho intenta ressaltar relaciona-se as complexas sociabilidades acobertadas pela relativa interpretação simplista da motivação das viagens a um local turístico. O que intentamos dizer é que as viagens turísticas guardam consigo uma miríade

de vínculos espontaneamente firmados entre nativos e turistas que extrapolam a maioria dos estudos de impactos do turismo.

A intenção aqui é ressaltar a possibilidade do impacto invertido: não ressaltar somente o impacto que turismo e turista provocam na localidade, mas, contudo a possibilidade que o

turista apresenta de ser impactado pela viagem realizada. Também não queremos reforçar aqui o sentido de impacto positivo mercadológico, da intenção de fidelizar o cliente, onde o

turista tem uma “boa impressão” do lugar visitado.

O que se busca neste texto é alçar o turismo em uma prática de complexidade ambiental (Leff 2002, 2004, 2012, 2016) como um lócus que consegue estabelecer o contato entre duas visões de mundo diferentes – turista e nativo - e dessa forma propicia uma possibilidade de reflexão a partir da diferença.

Nessa perspectiva o turismo possui um papel singular, pois em poucos lugares e situações contemporâneas, o ser humano da contemporaneidade, tem a possibilidade (e a vontade) de se autoproclamar em uma âmbito de vivência anticotidiana. Ou seja, é a partir do turismo que reflexões diversas daquelas vividas no cotidiano podem ser geradas.

É nesse sentido que o turismo, mesmo que a princípio possa partir de uma ação hedonista

de cunho individualista (lazer e descanso do indivíduo turista), pode (e deve) provocar reflexões que levem em consideração os (des)entendimentos entre turistas e nativos.

Por esse ângulo é que o poder público, por meio de políticas públicas, deve assumir o papel de estímulo ao empoderamento das pessoas da localidade. Assim sendo, as subalternidades geradas no interior da lógica da colonialidade3 podem ser repugnadas pelos agentes locais.

1 World Tourism Organization (sigla em ingles para Organização Mundial do Turismo – OMT).

2 Tourism Highlightis – 2016 Edition.

3 O termo colonialidade usado aqui faz referência àquele cunhado pelo sociólogo peruano Aníbal Quijano

(1992, 2000a, 2000b). Em linhas gerais o referido pesquisador imputa as diferenças sociais de poder da contemporaneidade às hierarquizações raciais construídas a partir da colonização da América.

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Em outras palavras, ao assumir uma posição de existência diferente daquela do atendimento das perspectivas de oferta serviços turísticos, quase sempre do âmbito econômico, o indivíduo da localidade se posiciona em perspectiva de importância ao turista, fazendo com que este reflita sobre a experiência vivida durante a viagem.

REFERÊNCIAS

KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo. São Paulo: Aleph, 2009.

LEFF, Enrique. A aposta pela vida. Imaginação sociológica e imaginários sociais nos territórios ambientais do Sul. Petrópolis: Vozes, 2016.

LEFF, Enrique. Aventuras da epistemologia ambiental. Da articulação das ciências ao diálogo dos saberes. São Paulo: Cortez, 2012.

LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2004.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad y modernidad/racionalidad . Perú Indígena, vol. 13, N° 29, Instituto Indigenista, Lima. (1992).

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasicación social, en Journal of World Systems

Reseach, Volume XI, N° 2, Colorado, USA. . (2000a).

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina”, en Edgardo

Lander (comp.): La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas, CLACSO, Buenos Aires. (2000b).

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Aescola de turismo do estado do Rio de Janeiro e a modalidade de guia de turismo suspensa na preparação de profissionais de lazer na cidade do Rio de Janeiro

Laila Borges da Silva Graduanda em Sociologia da UFF

Camila Garcia Fintelman Graduanda em Sociologia da UFF

Elaine Gomes Borges da Silva Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos pela UnB

Diante do momento histórico atual para o turismo do país e no caso específico do Rio de Janeiro, de repercussão mundial, justifica-se políticas públicas de incentivo e criação de novos cursos gratuitos no área do Turismo oferecidos à comunidade pela importância da cidade como porta de entrada para o turismo internacional no país, principalmente pelo

aquecimento no mercado turístico pela realização dos megaeventos esportivos XV Jogos Pan Americanos 2007, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos 2016 elevou ainda mais o

Estado do Rio de Janeiro como cartão de visitas para o turista que deseja conhecer o Brasil. O crescimento no número de visitantes ocasionado pelos megaeventos e tantos outros empreendimentos turísticos reforçam a necessidade premente da qualificação de profissionais Guias de Turismo para garantir a imagem de um estado hospitaleiro na recepção de nossos visitantes.

Políticas Públicas são a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou

por meio de delegação, na influência à vida dos cidadãos (Peters, 1996). Conforme Dye (1984) pode-se considerar como as ações que o governo escolhe fazer. Já Deubel (2006), aponta que a política pública é concebida como conjunto de ações desencadeadas pelo Estado, com vistas a atender determinados setores da sociedade civil. Elas podem ser desenvolvidas em parcerias com organizações não governamentais e, como se verifica mais recentemente, com a iniciativa privada. Tradicionalmente compõem dos elementos centrais de dependência do envolvimento do governo, da percepção de um problema, da definição

de um objetivo e da configuração de um processo de ação. No caso do Brasil, as políticas públicas se manifestam nas escalas federal, estadual e municipal.

O Decreto nº. 2.208/97, o Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP, e as ações decorrentes deles ficaram conhecidos como a Reforma da Educação Profissional. Nesse contexto, o ensino médio retomou legalmente um sentido puramente propedêutico, enquanto os cursos técnicos, agora obrigatoriamente separados do ensino médio, passam a ser oferecidos de duas formas: o Concomitante ao ensino médio, no qual o discente pode realizar o ensino médio e outro curso técnicocom matrículas e currículos distintos, podendo

os dois cursos serem realizados na mesma instituição (concomitância interna) ou em diferentes instituições (concomitância externa); e o Sequencial, após a educação básica, destinado a quem já concluiu o ensino médio, portanto. (ME, 2007). Por meio do Programa Brasil Profissionalizado destinado à ampliação da oferta e ao fortalecimento da educação

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profissional integrada ao ensino médio nas redes estaduais, o governo federal repassa recursos por meio de convênios para as redes de educação profissional dos estados e do Distrito Federal.

Com a regulamentação da profissão de Guia de Turismo, conforme a Lei nº 8.623/93, de 28 de janeiro de 1993, a profissão ganhou força motriz, não só em função da sua

importância visível como principalmente, em virtude de sua alta qualificação para o mercado terciário brasileiro. O guia de Turismo confere emoção e valorização cultura l na exposição

como turismo de experiência, com informações de qualidade, bem como, de transformar o imaginário do turista em realidade.

De acordo com (Chimenti e Tavares, 2007), o guia de Turismo é antes de tudo agente multiplicador do turismo, é ele quem orienta o turista, zela por sua segurança e enriquece a

cultura, ajuda a cuidar do patrimônio natural e cultural do país, por meio de princípios de sustentabilidade assimilados durante seu aprendizado e ao longo da profissão. Ele está apto

a atuar com diferentes tipos de público e em distintas programações, os procedimentos e comunicação indicados para cada demanda.

Dispositivos legais sobre a profissão são: Lei nº 8.623, de 28 de janeiro de 1993;

Decreto 946, de 01 de outubro de 1993; Portaria nº 130, de 26 de julho de 2011 que institui o cadastro dos prestadores de serviços turísticos; Portaria nº 27, de 30 de janeiro de 2014

que estabelece requisitos e critérios para o exercício da atividade de Guia de Turismo. Em conformidade com a Legislação de Turismo em vigor, na atividade turística brasileira, é a

profissão de guia a única a possuir reconhecimento e regulamentação do Ministério do Turismo e que obrigatoriamente o profissional deverá concluir um curso de guia de Turismo

e após a conclusão do mesmo requerer seu cadastro no CADASTUR, executado pelo MTur em parceria com os Órgãos Oficiais de Turismo e delegados pelo MTur nas 26 Unidades da

Federação e Distrito Federal: visa promover o ordenamento, a formalização e a legalização dos prestadores de serviços turísticos no país; permite a participação em eventos, feiras e

ações realizados pelo Ministério do Turismo e pela Embratur. Esse banco de dados, além dos benefícios para o setor, é uma importante fonte de consulta para o mercado turístico

brasileiro.

Os guias de turismo estão classificados como especializados em atrativos naturais ou culturais, guias regionais, guias de excursão nacional e guia de excursão internacional. São funções básicas do profissional, acompanhar, orientar e transmitir informações a pessoas ou

grupos, em visitas ou excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais,

especializadas dentro do território nacional; acompanhar ao exterior pessoas ou grupos organizados no Brasil; promover e orientar despachos e liberação de passageiros e

respectivas bagagens, em terminais e embarque e desembarque aéreos, marítimos, fluviais, rodoviários e ferroviários. (Chimenti e Tavares, 2007)

Entre as funções comuns aos diversos tipos de guia estão: o recebimento de grupos; assessoria à chegada destes ao local marcado como aeroportos ou marcos de conhecimento

geral; transmissão de informações sobre programação, roteiro e cidades visitadas; adoção das providências preliminares à viagem (distintas conforme o trabalho a ser realizado);

cumprimento fiel do programa contratado pelo passageiro, abrangendo a realização de todos os passeios adquiridos; orientação sobre os procedimentos que serão feitos durante a

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viagem como tramites alfandegários e hoteleiros, cumprimento de horários, conferência da documentação necessária, realização de check in, check out e marcação de despertar em hotéis e pousadas, controle das bagagens, realização de translados, etc; pronto atendimento das emergências, mediação de conflitos entre passageiros, prestadores de serviços e outros, etc. (Chimenti e Tavares, 2007)

A capacitação de técnico em Turismo pela rede estadual do Rio de Janeiro tem em sua estrutura a modalidade para formação de Guia de Turismo. O curso foi estruturado para

receber alunos nos 3 turnos (oferta de 150 vagas). Inicialmente todos cursam o módulo Básico e só após a aprovação neste podem optar por outros módulos dando continuidade ao

curso. Porém o diploma só é concedido a quem concluir todas as modalidades do curso técnico. De acordo com Wagner Victer (Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro),

o turismo é uma área bastante atrativa e que sempre gera emprego, principalmente no Rio de Janeiro, uma das cidades mais visitadas do mundo. Para mostrar um exemplo desse

potencial, no carnaval deste ano, segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, mais de um milhão de turistas visitaram o estado. Além disso, para o secretário, a expectativa de turistas nos

Jogos Olímpicos e Paralímpicos era de um número semelhante a este. Portanto, esses dados comprovam que para receber bem essa grande quantidade de visitantes, é preciso ter muita mão de obra qualificada. (SEEDUC, s.d.)

De acordo com SEEDUC, o curso gratuito para formação técnica em Turismo é oferecido em cinco colégios da rede estadual. No quadro abaixo identifica-se as escolas, a localização e as modalidades ministradas nos cursos no período de 2016/2.

Quadro 1 - Modalidades ministradas no Curso de Técnico em Turismo Seeduc/RJ

Unidade escolar (C.E)

Básico I Hotelaria Agenciamento Guia de Turismo

Antônio Fernandes (Miguel Pereira)

Suspensa Suspensa Suspensa Suspensa

Antônio Prado Junior (Rio de Janeiro)

Em atividade Em atividade Em atividade Suspensa

Coronel Benjamin Guimarães (Valença)

Suspensa Suspensa Suspensa Suspensa

João de Oliveira Botas

(Armação de Búzios) Suspensa Suspensa Suspensa Suspensa

Prof. Jamil EL-Jaick (Nova Friburgo)

Suspensa Suspensa Suspensa Suspensa

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras com base em informações coletadas em entrevistas no período de 5 a 13.09.2016

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Verificou-se com a pesquisa que o curso técnico foi desestruturado em 4 dos cinco colégios da rede estadual, apenas permanecendo em atividade no C. E. Antônio Prado Junior, no bairro da Tijuca/RJ, sendo que o módulo Guia de Turismo também está suspenso naquele curso técnico na cidade do Rio de Janeiro, permanecendo os módulos de Hotelaria, Agenciamento e Básico.

Especificamente, no caso do curso -criado a 43 anos- no colégio situado na cidade do Rio de Janeiro (o C.E.A.P.J) são ofertadas 80 vagas semestralmente - em novembro e junho.

O interessado deve agendar uma entrevista por meio do telefone, deve ter acima de 18 anos de idade e Ensino Médio completo. Na fase da entrevista para uma das vagas, deverá

escrever uma redação cujo tema normalmente estará relacionado ao turismo na cidade, que servirá para professores e coordenadores avaliarem o comprometimento do futuro aluno,

visto que se refere a curso gratuito subsidiado pela esfera estadual.

Paralisado desde 2013 nas demais unidades escolares, no CEAPJ está funcionando no

período noturno. Dos 300 interessados a uma vaga na turma de junho de 2016, foram comtemplados 80 dos interessados. A capacitação tinha duração de dois anos nos cinco

colégios e visava capacitar em quatro módulos: Básico (Fundamentos do Turismo), Agência, Hotelaria e Guiamento. Atualmente tem duração de um ano e meio na unidade ainda em funcionamento com a modalidade de Guia em Turismo desde o ano de 2012, por falta de verbas para as visitas técnicas. No princípio, os alunos matriculados se cotizavam para arrecadar fundos para as idas a campo, porém tendo em vista tratar-se de curso gratuito ofertado por políticas na esfera estadual, entendera-se proibida/ilegal que tal atitude necessitasse ser tomada por iniciativa dos discentes

Devido a suspensão da modalidade de Guiamento os alunos de turmas a partir de 2012 não conseguiram finalizar tal módulo e consequentemente não receberam o

certificado de técnico, nem podem se cadastrar para o exercício da profissão de Guia de Turismo. Documentos com informações a respeito do futuro da modalidade de Guia de

Turismo e do curso técnico não foram encontrados. Segundo o entrevistado A, a suspensão de oferta do curso foi a escassez de verba para custeio, e foi prometido que os cursos devem

retornar as atividades nas unidades escolares do estado no ano de 2017.

Estes fatos aqui relatados contradizem com os depoimentos presentes em Seeduc/RJ. (s.d). Uma discussão sobre políticas públicas voltadas a preparação do profissional de Turismo e lazer principalmente na cidade do Rio de Janeiro se faz pertinente em momento

de suma importância em que o país se tornou sede de megaeventos, que tem como

principal anfitriã esta cidade com uma única escola técnica gratuita para formação do guia de Turismo e que está suspensa temporariamente. E quiçá, uma possibilidade de extinção

desta e do curso Técnico de Turismo no Colégio Estadual Antônio Prado Junior e em toda a rede estadual alegada por falta de verbas.

Em especial a modalidade formativa em Guia de Turismo em âmbito regional (RJ), deveria estar recebendo especial atenção para elevar ainda mais qualidade ao curso de

capacitação, com possibilidade de realizar visitas técnicas, assim como deveriam ser implementadas e ampliadas as políticas públicas para a formação de mais profissionais guias

em outros polos de ensino da cidade, do estado do Rio de Janeiro, como também em todo o

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país. Há de se lembrar que é a profissão de guia de turismo a única reconhecida, com exigências de registro no Cadastur – Mtur para atuar.

Considerando que as escolas da rede estadual estão sendo desestruturadas por parte

do Estado, a permanência do curso técnico no C.E.A.P.J. significa resistência quanto a um projeto de oferecer capacitação para a população.Segundo Ana Conde (Diretora do C.E A. P.

J.), o curso é uma ótima oportunidade para quem deseja ingressar no mercado de trabalho, para quem quer mudar de profissão e é muito procurado por pessoas que estão em busca

de regulamentação, além de aposentados, policiais, guardas municipais, bombeiros, entre outros profissionais. Alguns órgãos têm absorvido seus alunos para empregabilidade e

estágio como o Espaço Cultural da Marinha, o Rio Top Tour e o CIEE - Centro de Integração Empresa Escola. A unidade escolar também é procurada por universidades para o estágio de

alunos em licenciatura em Turismo. Formados, os egressos atuam no mercado como Guias, em agências de Turismo e Hotéis, inclusive, complementando a sua formação em cursos

universitários de Licenciatura e Bacharelado em Turismo.

REFERÊNCIAS

Chimenti, Silvia; Tavares, Adriana de Menezes. (2007). Guia de Turismo: o profissional e a

profissão. São Paulo: Senac São Paulo.

Brasil (2011) Mtur Cadastur. Manual de Orientações para Cadastramento dos Prestadores de Serviços Turísticos no Ministério do Turismo. Disponível em < http://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/manualcadasturr.pdf> acessado em 06.09.2016

Cadastur (s.d.) Disponível em <http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/SobreCadastur.mtur > acessado em

06.09.2016

Seeduc - Secretaria de Estado de Educação. (s.d.) Educação abre inscrição para curso

gratuito em técnico de turismo. 14/06/2016. Disponível em <http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=2853694 > acessado em

03.08.2016

Ministério da Educação. (2007). Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica . Educação

Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio: documento base Brasília, dezembro de 2007.

Peters, B. G. (1996). American Public Policy. Chatham, EUA: Chatham House,

Dye, T.R. (1984). Policy Analysis: what governments do, why they do it, and what difference it makes. Tuscaloosa: University of Alabama Press

Deubel, Andre-Noel Roth. (2006). Políticas públicas: formulación, implementación y evaluación. Bogotá, Colômbia: Ediciones Aurora

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O ensino técnico do profissional de turismo no âmbito do PRONATEC

Mylena Rodrigues Marçal de Araújo Graduanda em Turismo do CET-UnB

Iara Lúcia Gomes Brasileiro Doutora em Ciências pela USP, professora do CET/UnB

Elaine Gomes Borges da Silva Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos pela UnB

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) teve início em outubro de 2011 instituído pela Lei 12.513/2011 e tinha por objetivo principal facilitar o acesso ao ensino de qualidade para a população brasileira. Essa política pública do Governo

Federal se concretizou pela colaboração da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com participação dos serviços nacionais de aprendizagem, de instituições

privadas e públicas de ensino superior, de instituições de educação profissional e tecnológica e de fundações públicas de direito privado. A iniciativa visava expandir, interiorizar e

democratizar a oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio presencial e a distância e de cursos e programas de formação inicial e continuada ou qualificação

profissional; fomentar e apoiar a expansão da rede de atendimento da educação profissional e tecnológica; contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público, por meio da

articulação com a educação profissional; ampliar as oportunidades educacionais dos trabalhadores, pelo incremento da formação e qualificação profissional; estimular a

articulação entre a política de educação profissional e tecnológica e as políticas de geração de trabalho, emprego e renda. Oferecia cursos técnicos e de qualificação profissional nas

formas concomitante, integrada e subsequente, cuja principal diferença entre eles, era o público alvo. Todos os 644 cursos eram segmentados em doze categorias, de acordo com a

determinação feita pelos demandantes, dos quais 24 eram de capacitação profissionalizante voltados para o trade turístico.

Para que o programa pudesse alcançar seus objetivos e ter um melhor resultado foram

implementadas: a expansão da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica - que consistia em ampliar o número de unidades de ensino federal, construir e

reformar escolas estaduais, instalar laboratórios de apoio aos cursos técnicos, capacitar docentes e gestores escolares; o Programa Brasil Profissionalizado para expandir a oferta de

cursos técnicos de nível médio para que a formação profissionalizante integrada à formação

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básica pudesse ocorrer; a Rede e-Tec Brasil, conhecida por Escola Técnica Aberta do Brasil, que objetivava promover democraticamente o acesso à Educação Profissional e Tecnológica (EPT) pela plataforma de Educação a Distância (EaD); o Acordo de Gratuidade com os serviços nacionais de aprendizagem que se destinava à aplicação de recursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), do Serviço Social do Comércio (SESC) e do Serviço Social da Indústria (SESI), em cursos técnicos e em vagas gratuitas voltadas a pessoas de baixa renda, priorizando estudantes e trabalhadores; e, o Bolsa Formação que oferecia vagas de cursos de Educação Profissional para trabalhadores e estudantes do Ensino Médio oriundos de escolas públicas utilizando as Redes Públicas e o Sistema “S” gerando uma oferta de vagas para cursos técnicos e de Formação Inicial e Continuada (FIC). A Formação Inicial e Continuada (FIC) são cursos presenciais de qualificação para trabalhadores, estudantes e pessoas em vulnerabilidade social, realizados pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, por escolas estaduais de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) e por unidades de serviços nacionais de aprendizagem como o SENAC e o SENAI (Nogueira, 2013).

Diretamente relacionada às necessidades do setor turístico, esta política pública compreendeu o Pronatec Turismo como uma forma de promover a qualificação de profissionais com interesse em entrar neste mercado e também especializar profissionais já inseridos no setor. O Ministério do Turismo definia linhas de ação para aplicação do programa, que foram três, o Pronatec Copa, o Pronatec Copa Social e o Pronatec Copa na Empresa.

O Pronatec Turismo na Empresa foi uma das linhas de ação adotadas pelo Pronatec Turismo para facilitar aos empresários do setor a oferta de cursos de aperfeiçoamento profissional

aos seus funcionários e colaboradores. A grande parte dos cursos foi ministrada no próprio local de trabalho, cedido pelo empregador, na frequência e horários mais adequados.

Empresas de pequeno porte em que não se tinha alunos para formar uma turma podiam se organizar por representação ou por uma instituição (tipo ABIH, ABEOC, ABRASEL) ou

Sindicato e acordar sobre o local e horário do curso. O engajamento no programa ocorria de forma voluntária e poderia ser solicitado por todas

as empresas do setor de hospedagem, de alimentação fora do lar, de agenciamento de viagens, de organização de eventos. Também foram aceitas as solicitações de instituições de

segurança pública, de cursos para qualificação em idiomas, aplicados ao pessoal que teria contato com o fluxo turístico. Além das cidades já inseridas no Pronatec Copa, o Pronatec Turismo na Empresa também incluía integrantes de 303 regiões turísticas brasileiras integrantes de outras modalidades do Pronatec que possuíssem rede ofertante, regiões localizadas no entorno dos 12 parques nacionais priorizados pelo Ministério do Turismo e áreas não contempladas e que fossem patrimônio cultural mundial da humanidade pela UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com conjuntos urbanos e/ ou bens materiais tombados pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Cultural.

Nessa linha de ação o ofertante deveria, depois de acordadas as vagas com o MEC, inserir tanto a turma como a empresa no SISTEC (Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica) para que o demandante recebesse a pré matricula dos alunos

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identificados. Além das vedações definidas no Pronatec Copa, nessa linha de ação também foram vedadas as pré matriculas de pessoas que estivessem trabalhando no setor, e o profissional matriculado deveria ter vínculo empregatício formal ou temporário com a empresa. Pessoas com deficiência deveriam ser priorizadas. Os cursos do Pronatec Copa eram ministrados nos Institutos Federais e Estaduais de Educação Profissional pelo SENAC, SENAI, SENAT e SENAR. Além das doze cidades sede da Copa FIFA 2014, o programa também abrangia cidades do entorno das cidades sede e destinos turísticos brasileiros consolidados nacional e internacionalmente. A inscriçã o no programa era feita de forma voluntária e permitida a todas as pessoas interessadas, com mais de 18 anos, que residiam em uma das doze cidades sede da Copa, no seu entorno ou em um dos destinos turísticos selecionados, vedada apenas a inscrição de servidores públicos federais, estaduais e municipais. Cada munícipio era responsável por identificar a demanda de profissionais do destino em questão, repassar essas informações ao Ministério do Turismo para que fosse gerado o número de vagas necessárias. Já os pré-requisitos de escolaridade dependiam do curso desejado e podiam ser consultados antecipadamente no Guia Pronatec de Cursos FIC, que se encontrava disponível na plataforma online do

programa. As pessoas com deficiência tinham prioridade no processo de pré-matrícula e matrícula no programa. O município deveria ter duas fichas de pré-matrícula, uma específica

para as pessoas com deficiência e outra para os demais. Deveriam, ainda, disponibilizar até 10% das vagas de cada curso de forma preferencial para esse grupo de pessoas. O Pronatec Copa Social objetivava atender egressos e familiares do programa Vira Vida desenvolvido pelo SESI. A parceria entre o Ministério do Turismo e o Conselho Nacional do SESI visava unir esforços, através da qualificação profissional, dos participantes do Vira Vida, no mercado de trabalho no setor de turismo, buscando contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos turistas. Esse programa buscou promover diversas ações alinhadas ao Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e

Adolescentes e às políticas da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, oferecendo a jovens e adolescentes entre 16 e 21 anos a possibilidade de adquirir conhecimentos e aprimorar suas habilidades para atender as demandas do mercado de trabalho. Como demandante, o SESI-CN mobilizava inclusão dos alunos em atendimento, dos egressos e de seus familiares no mercado de trabalho do setor de turismo por convênios com as entidades e associações do trade turístico. O Ministério da Educação e outras instituições avaliaram os resultados do programa tendo

em vista aspectos diversos como a participação de pessoas com baixa renda no Cadastro Único - CadÚnico, aumento gradual no número de matrículas, participação dos grupos com

inserção laboral mais precária, aumento do orçamento de renda para o programa, entre outros. A maioria dos dados presentes nessa análise foi coletada pelo Ministério da

Educação, SENAI e Ministério do Desenvolvimento Social durante novembro de 2011 e junho de 2014 e publicados no ano de 2015. Os dados adquiridos em sítios online das instituições

aqui citadas, em comparativo com os cinco objetivos predefinidos pelo programa em seu início, no ano de 2011, mostram que o programa:

1º - Englobou a expansão, interiorização e democratização da oferta de cursos de educação profissional técnica. Baseando-se nos dados do Caderno de Estudos número 24, do Governo Federal, 30% dos matriculados no programa entre 2011 e 2014 estavam cadastrados no CadÚnico; ainda referente ao mesmo documento, 60% dos matriculados eram mulheres e

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53% pessoas negras o que permite confirmar a democratização do programa. De acordo com a avaliação do Pronatec pela SAGI (Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação), em seu início, o programa contemplava pouco mais de 600 municípios, mas no ano de 2014 já atingia mais de 4.000, alcançando assim 72% dos municípios do país e conseguindo ofertar quase 4 milhões de vagas.

2º - Fomentou e apoiou a rede de atendimento da educação profissional. Não foram elaborados documentos oficiais referentes a esse aspecto, mas um gráfico do Ministério da

Educação mostra que os orçamentos feitos para o ano de 2014 chegavam a 5,2 bilhões de Reais, o dobro da receita aplicada no início do programa.

3º - Tratou da melhoria do ensino médio público pela articulação com a educação profissional. Um infográfico disponibilizado pelo jornal Gazeta do Povo mostra que as

matrículas no ensino profissional de nível médio de 2011 para 2014 aumentaram de 1,25 para 1,74 milhões de estudantes contemplados pelo programa.

4º - Ampliou as oportunidades educacionais dos trabalhadores. A partir da análise dos dados que mostram o aumento anual do número de matrículas ofertadas, e também o aumento dos municípios contemplados pode-se concluir que este objetivo foi atingido.

5º - Estimulou a articulação entre a política de educação profissional e tecnológica e as políticas de geração de trabalho, emprego e renda. O Caderno de Estudos número 24 do

Governo Federal computa que 65,4% dos municípios obtiveram alta adesão entre cursos ofertados e oportunidades no mercado de trabalho. O mesmo documento ainda apresenta

dados de que o Pronatec potencializou em 73,6% a inserção no mercado de trabalho formal. Dados da SAGI mostram que em todas as regiões brasileiras o programa aumentou o acesso

a empregos formais e que os participantes que concluíram os cursos conseguiram igualar as diferenças de inserção no mercado.

A partir da pesquisa realizada nos documentos disponíveis na página oficia l do programa e do Ministério da Educação, conclui-se que o Pronatec atingiu seus objetivos iniciais apesar de existir, ainda e certamente, margem para melhorar. O programa mostrou que teve sucesso na expansão de áreas contempladas e consequentemente no número de participantes atendidos e que, apesar de ter apenas igualado as diferenças de inserção no mercado de trabalho a não participantes dos cursos, provocou impactos positivos na qualificação de uma grande parcela da população e na inserção de pessoas menos favorecidas com inserção laboral precária. Em algumas regiões foi possível perceber que o programa qualificou em grande parte a mão de obra local, refletindo-se na melhoria na

qualidade dos serviços. Apesar de haver questionamentos referentes à continuidade do programa é importante destacar que ele foi essencial para a inclusão de famílias de baixa

renda no mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

Nogueira, Fernando. (2013). Cidadania e Cultura, Programa nacional de acesso ao ensino técnico e emprego. Disponível em:

<https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2013/11/04/>. Acesso em 11.09.2016

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Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação) Avaliação do Pronatec: aspectos relacionados à eficiência, eficá cia e efetividade do programa entre 2011 e 2014. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=22051-24092015-lancamento-estudos-pronatec-mds-pdf&category_slug=abril-2010-pdf&Itemid=30192>. Acesso em. 11.09.2016

Ministério da Educação, Guia Pronatec de cursos FIC. Disponível em:

<http://pronatec.mec.gov.br/fic/et_turismo_hospitalidade_lazer/et_turismo_hospitalidade_lazer.php>. Acesso em. 11.09.2016

Ministério da Fazenda (Secretaria de Política Econômica) Pronatec - Bolsa-Formação Uma Avaliação Inicial sobre Reinserção no Mercado de Trabalho Formal. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=22061-24092015-lancamento-estudos-pronatec-ministerio-fazenda-pdf&category_slug=abril-2010-

pdf&Itemid=30192>. Acesso em. 11.09.2016

Ministério da Educação, Pronatec – Lançamento de estudos. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=22071-

24092015-lancamento-estudos-pronatec-setec-pdf&category_slug=abril-2010-pdf&Itemid=30192>. Acesso em. 11.09.2016

Ministério do Desenvolvimento Social, Caderno de Estudos número 24 - Inclusão produtiva urbana: o que fez o Pronatec/ Bolsa formação entre 2011 e 2014. Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/webarquivos/acesso_informacao/institucional/gabinete-da-ministra/apresentacoes/20150709_Caderno%20de%20Estudos%20PRONATEC%20julho15.p

df>. Acesso em. 11.09.2016

Pronatec turismo. Manual de instruções Pronatec copa. Disponível em: <http://pronatec.turismo.gov.br/downloads/manual-copa>. Acesso em. 11.09.2016

______. Manual de instruções Pronatec turismo na empresa. Disponível em: <http://pronatec.turismo.gov.br/downloads/manual>. Acesso em. 11.09.2016

______. Manual de instruções Pronatec turismo social. Disponível em: <

http://pronatec.turismo.gov.br/downloads/legislacao/Manual_de_Instrucoes_PRONATEC_TURISMO_SOCIAL.pdf>. Acesso em. 11.09.2016

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Análise da promoção do brasil nas mídias sociais oficiais da Embratur: Facebook, Instagram e Youtube

Thalyson Barboza Mourão GraduandO em Turismo do CET/UnB

Iara Lúcia Gomes Brasileiro Doutora em Ciências pela USP, professora do CET/UnB

Elaine Gomes Borges da Silva Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos pela UnB

Tendo em vista que nas últimas décadas o Brasil vem sendo promovido de maneira massiva como um destino turístico do segmento de “Sol e Praia” e tem suas outras potencialidades turísticas muito pouco exploradas, a presente análise busca compreender, também, como outros segmentos vêm sendo trabalhados em relação à sua promoção.

A Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) é a autarquia especial do Ministério do Turismo responsável pela execução da Política Nacional de Turismo – PNT no que diz respeito à

promoção, marketing e apoio à comercialização dos destinos, serviços e produtos turísticos brasileiros no mercado internacional. (Embratur, 2015). Esta promoção acontece por meio de múltiplas ações que envolvem desde o mapeamento dos mercados alvo, até a produção

de materiais publicitários que serão utilizados em diversos meios de comunicação de inúmeros países. As atividades de mapeamento e marketing estão distribuídas em diretorias distintas, que trabalham os seus resultados conjuntamente.

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A Diretoria de Inteligência Competitiva e Promoção Turística (DIPRO) é a responsável pelo mapeamento de mercado, pela captação de informações sobre os trades turísticos internacionais, por traçar o perfil dos turistas que visitam o Brasil e por compreender o panorama geral de visibilidade e eficácia das ações de promoção de destinos brasileiros. Também tem por finalidade promover ações de capacitações, famtours, participar de feiras e aproximar o trade internacional do trade local, por meio de parcerias, rodadas de negócios e outras ações. As informações obtidas pela DIPRO são utilizadas como base para outras diretorias.

Em pesquisa exploratória de acordo com Gil (1999) e Collis e Hussey (2005) nas mídias

sociais, o levantamento de dados para este trabalho foi realizado no período de 01 de janeiro a 10 de junho de 2016 nos portais:

Embratur – sua página no Facebook atualmente com 116.920 curtidas, é utilizada de maneira institucional para divulgação de ações realizadas pela Embratur. Entretanto,

também são postadas diariamente fotos e informações sobre diversos destinos turísticos brasileiros, feiras e informações sobre políticas relacionadas ao turismo. Nela são

encontradas cerca de 5.000 imagens distribuídas em mais de 50 álbuns e 19 vídeos com temas diversos. A maioria dos usuários que acompanham a página são do Brasil e as publicações estão todas no idioma Português. Destas foram selecionadas 80 postagens para análise. Verificou-se que 51% estão relacionadas ao segmento Sol e Praia, 26% ao segmento de Turismo Cultural, 20% aos segmentos de Turismo de Aventura, Turismo de Natureza e Ecoturismo e 3% ao segmento de Turismo Sustentável. Mais de 70% dos estados divulgados fazem parte das Regiões Nordeste e Sudeste, sendo os outros 29% distribuídos entre as

Regiões Centro-Oeste e Sul e apenas 1% na Região Norte. Nota-se a repetição massiva dos destinos: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Pernambuco e Maranhão.

Ao analisar as publicações nessa página oficial da Embratur compreende-se que mesmo que esteja ligada a ações institucionais, a presença de brasileiros interagindo com o sítio

eletrônico representa um potencial para a promoção de destinos e aumento das viagens domésticas.

Como exemplo, pode-se sugerir que a Região Norte, que concentra grande parte da cultura indígena no Brasil, poderia ser melhor trabalhada em conjunto com o Turismo de Natureza e o Turismo Cultural assim como alguns estados da Região Nordeste como a Bahia, também poderiam trabalhar conjuntamente o segmento de Sol e Praia com o segmento de Turismo

Cultural, através de suas típicas manifestações folclóricas e afins. Inúmeros outros estados

de diversas regiões têm potencialidades culturais a serem trabalhadas junto com outros segmentos turísticos. A apresentação individualizada de alguns destinos deixa transparecer a

imagem de que uma determinada localidade pode oferecer ao turista apenas aquilo que lhe foi apresentado.

Positivamente foi observado que ao menos um destino relacionado ao turismo sustentável foi citado e algumas festas tradicionais brasileiras, como as festas juninas e suas comidas

típicas foram bem apresentadas.

De acordo com esses resultados conclui-se que a promoção do Brasil nessa página ainda continua centrada na divulgação de praias. Entretanto, percebe-se a participação também expressiva dos segmentos relacionados ao Turismo de Natureza principalmente por meio da

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promoção de Parques Nacionais como a Chapada dos Veadeiros (GO) e a Chapada Diamantina (BA). O Turismo Cultural ainda é trabalhado com base na arquitetura das cidades históricas de Ouro Preto, Salvador e São Luís, utilizando-se ícones massificados desses destinos, como a imagem da Baiana no Pelourinho.

Visit Brasil - página oficial da Embratur para promover e divulgar os destinos turísticos

brasileiros para o exterior. Foram encontrados trabalhos de divulgação do portal nas mídias sociais:

Facebook (https://www.facebook.com) – com 544.166 curtidas, tem publicações nos idiomas Espanhol e Inglês. Nela encontram-se mais de 2500 fotos distribuídas entre 196

álbuns. As fotografias presentes nas publicações são enviadas pelos próprios turistas e compartilhadas na página.

De 111 postagens analisadas, 52% estão relacionadas ao segmento de Sol e Praia, 28% aos segmentos de Turismo de Aventura, Turismo de Natureza e Ecoturismo e 20% relacionadas ao segmento de Turismo Cultural. Sessenta e sete por cento dos estados divulgados estão localizados nas Regiões Sudeste e Nordeste, sendo os outros 32% distribuídos entre estados das Regiões Sul e Centro-Oeste e 1% na Região Norte. Existe a repetição constante de destinos como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo.

Entendendo-se que a página é alimentada por fotografias dos próprios turistas, considera-se que uma boa parte dos destinos apresentados já é conhecida por seus atrativos turísticos. Sendo esta a página oficial de divulgação do destino Brasil para o restante do mundo, a difusão de destinos pouco conhecidos poderia possibilitar uma ampliação na oferta de produtos e criar novas percepções sobre o país ao público final.

A cultura brasileira é promovida massivamente através da arquitetura, principalmente por meio da divulgação de centros históricos e museus. Dentro do período analisado, apenas o carnaval foi citado em postagens como uma festa típica. Além disso, assim como na página institucional da Embratur, os atrativos foram apresentados de maneira fragmentada e individualizada. Uma apresentação conjunta com variados segmentos em um mesmo destino poderia ser melhor trabalhada.

Em relação à presença de informações sobre os lugares divulgados pela página, existem algumas publicações que possuem apenas o nome do atrativo turístico. Essa falta de informações muitas vezes pode ser um empecilho para que o público atingido pela postagem pesquise mais sobre o que foi apresentado.

Entretanto, positivamente percebe-se que a página vem trabalhando os segmentos de Ecoturismo, Turismo de Natureza e Turismo de Aventura. A divulgação de inúmeros destinos

relacionados a esses segmentos mostra a tentativa de relacionar a imagem do Brasil não só às suas praias, mas também às suas chapadas e diversas paisagens naturais.

Instagram (https://www.instagram.com/) - com 1.647 publicações no idioma Inglês e mais de 44 mil seguidores, as fotos compartilhadas são de autoria de turistas.

Resulta que, de 211 publicações analisadas, 42% estão relacionadas ao segmento de Sol e Praia, 41% aos segmentos de Ecoturismo, Turismo de Natureza e Turismo de Aventura e 17% ao segmento de Turismo Cultural. Sessenta por cento dos estados divulgados estão

localizados nas Regiões Sudeste e Nordeste, incluindo a repetição constante de destinos

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como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e Pernambuco, sendo os outros 38% distribuídos entre as Regiões Sul e Centro-Oeste e 2% na Região Norte.

Como mencionado anteriormente, as publicações feitas no Instagram utilizam imagem dos

próprios turistas. Assim como na página Visit Brasil no Facebook, a difusão de destinos pouco conhecidos não é bem trabalhada. Entretanto, percebe-se uma amplitude maior de

atrativos e estados de diferentes regiões.

O equilíbrio existente entre a divulgação dos segmentos de Sol e Praia, Ecoturismo, Turismo

de Natureza e Turismo de Aventura demonstra que, por mais que o foco principal das publicações seja mostrar o Brasil como um país de belezas naturais, essas belezas não es tão

apenas nas regiões litorâneas e suas praias, mas em toda a paisagem natural do país, desde as cachoeiras até montanhas. Existe a presença massiva de publicações que demonstram as

riquezas naturais do Brasil, sendo estas publicações mais de 80% de todo o conteúdo analisado no período. No entanto, a tentativa de explorar as paisagens brasileiras acaba por

diminuir drasticamente a presença de aspectos culturais, que inclusive podem estar ligados a essas paisagens. Novamente nota-se a apresentação individualizada dos atrativos.

A cultura brasileira continua sendo promovida através da arquitetura, principalmente dos

centros históricos. No entanto, mesmo que presente em apenas algumas postagens, foram citadas algumas festas do folclore brasileiro e comidas típicas.

Youtube (https://www.youtube.com/) - o canal tem 11.142 inscritos e apresenta mais de 100 vídeos em diversos idiomas. Devido à grande quantidade de materiais disponíveis, foram analisados dois vídeos com mais de 100 mil visualizações, que fazem parte de campanhas da própria Embratur e que estão diretamente relacionados com a promoção do

destino Brasil como um todo. Os vídeos selecionados foram: Encuentros e The World Meets in Brazil: Come Celebrate Life.

O video The World Meets in Brazil: Come Celebrate Life (Duração: 2 minutos e 3 segundos), mostra turistas de diversos lugares do mundo chegando ao Brasil e aproveitando diversos atrativos turísticos e destinos, em diversos segmentos. No primeiro minuto do vídeo, são exibidas imagens de algumas regiões do país e seus atrativos, como a arquitetura do Distrito

Federal, o Bumba meu Boi do Maranhão, as Cataratas do Iguaçu em Foz do Iguaçu. No último minuto, são exibidas imagens dos turistas em uma praia do Rio de Janeiro.

Verificou-se que a maioria dos destinos apresentados estão nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Não há descrição dos atrativos ou estados exibidos, o que dificulta a sua identificação. A

junção de diversos segmentos turísticos é interessante ao mostrar um panorama geral do Brasil. Contudo, percebe-se uma maior participação do segmento de Sol e Praia, sendo

inclusive, o último minuto de vídeo dedicado somente a ele.

O vídeo Encuentros (Duração: 1 minuto e 54 segundos) mostra turistas aproveitando

diversos atrativos turísticos e destinos, em diversos segmentos. São exibidas imagens de diversas regiões do Brasil, tendo como foco as Regiões Nordeste, Sudeste e Sul. A cultura é trabalhada principalmente nas festividades típicas como o frevo, demonstrado diversas

vezes. Assim como o video World Meets in Brazil: Come Celebrate Life, não descreve os estados apresentados.

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Os vídeos possuem uma construção bastante semelhante, inclusive nos destinos e atrativos que mostram. Observa-se que por mais que exista a presença de outros segmentos turísticos, o conteúdo das imagens ainda possui uma forte relação com as praias brasileiras.

Os resultados demonstram que a promoção do destino Brasil ainda continua centrada no segmento de Sol e Praia. Entretanto, os segmentos relacionados ao Turismo de Natureza

estão mais presentes e as paisagens naturais brasileiras estão se tornando um símbolo do turismo no país. No entanto, a apresentação desses cenários paradisíacos tem sido

trabalhada de maneira individualizada e ainda alimenta o imaginário do turista que possivelmente enxergará o Brasil somente como um destino de belos lugares e cultura

pobre.

A cultura brasileira possui riquezas únicas e que podem ser exploradas pelo turismo,

inclusive conjuntamente com suas paisagens naturais. A existência de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas próximas a praias e Parques Nacionais não foi citada em

nenhuma publicação. Como exemplo, a Chapada dos Veadeiros em Goiás, foi divulgada por diversas vezes, sem ter havido qualquer nota sobre os Kalunga, que são uma comunidade

quilombola que tem seu território dentro do parque e inclusive trabalham com o turismo. Essa apresentação de apenas um recorte do atrativo se repetiu por diversas vezes.

A crescente demanda pelo chamado Turismo de Experiência também tem mostrado que o

turista cada vez mais procura estar inserido no cotidiano da comunidade receptora. Conforme assegura MacCannell (1976), os turistas desejam ir além do que normalmente lhes

é mostrado, não se satisfazendo mais com o conhecimento de fachada e superficial. Eles também querem participar dos bastidores dos lugares que visitam.

De acordo com o que foi observado, muito pouco se trabalha na divulgação oficial do país sobre o que é experimentar o Brasil em sua essência. Foram exibidas inúmeras paisagens,

mas poucas foram dedicadas às manifestações sociais e culturais do país.

REFERÊNCIAS

COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. (2005). Pesquisa em Administração. Porto Alegre: Bookman.

EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo. (2016). Disponível em: <

http://www.turismo.gov.br/institucional/2015-04-06-14-28-40.html >. Acesso em: 30 abr. 2016.

GIL, Antônio Carlos. (1999). Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas.

MACCANNELL, D. (1976). The tourist: a new theory of the leisure class. New York: Schcken Books.

MTur – Ministério do Turismo. (2016). Portaria N. 117, 06 de abril de 2016.

Disponível em <http://www.embratur.gov.br/piembratur-new/opencms/estrutura/Portaria-

n-117-2016-MTUR-Regimento-Interno.pdf>. Acesso em 11.set.2016

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A imagem construída pelos participantes de eventos governamentais realizados no Distrito Federal

Adriana Lemos de Oliveira Mestranda Profissional em Turismo CET/UnB

Maria Elenita Menezes Nascimento Professora do Mestrado em Turismo CET/UnB

INTRODUÇÃO

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O turismo nas últimas décadas vem se destacando como um aliado na geração de emprego e renda, em muitas cidades ao redor do mundo. Assim, necessita de pesquisas e estudos, que possam contribuir para sua expansão.

No Brasil, o turismo ainda caminha a passos lentos. Infelizmente, é uma atividade que ainda não foi reconhecida como de efetiva importância para a sociedade, mesmo assim,

o turismo de negócios e eventos vem se destacando no mercado nacional, como uma das modalidades mais utilizadas em viagens nacionais.

O que se tem observado é que, a cada dia, mais pessoas viajam a negócios e para a participação em eventos. Deste modo, os eventos tornam-se aliados no desenvolvimento do

turismo, uma vez que, ele promove a oportunidade de conhecimento das cidades e dependendo das ferramentas promocionais de marketing utilizadas, o turista pode desejar

retornar à cidade em outro momento, promovendo assim a atividade turística.

Por este motivo, torna-se essencial que as Secretarias de Turismo das cidades que sediam os eventos, disponham de ferramentas promocionais adequadas, podendo garantir o retorno dos turistas, em um curto espaço de tempo, incrementando a atividade e gerando renda para as cidades.

No Distrito Federal (DF) é bastante frequente a realização de eventos, o que vem gerando um número expressivo de turistas na cidade. Pelo que se tem observado, a maioria

destes turistas ficam hospedados no centro da capital, Brasília, onde, normalmente acontece a maioria dos eventos. Os principais e mais conhecidos pontos turísticos, estão localizados

em Brasília. No entanto, não são somente esses atrativos, que o DF tem a oferecer. Dessa forma, é relevante entender qual a imagem que os turistas fazem da cidade, pois, por meio

deste entendimento, poderá ser possível aprofundar a discussão sobre o assunto.

A todo o momento as imagens são passadas em nossa frente, por meio do que vemos, lemos e ouvimos. Essas imagens ajudam a construir o nosso imaginário. As mídias, os relatos pessoais, as conversas informais, o cinema e a publicidade repassam constantemente, imagens do local. No entanto, as imagens passadas e o imaginário construído sobre o local, não necessariamente, representam o que de fato, se quer repassar.

O objetivo deste estudo é analisar como é promovida a imagem do Distrito Federal (DF) para o turista participante de eventos governamentais nacionais, realizados na cidade e sua consequente representação do destino para além de Brasília.

Parte-se do princípio de que refletir sobre a imagem construída pelos participantes de eventos realizados no DF é relevante para o desenvolvimento do turismo da região. Essa reflexão pode tornar possível, compreender como se promove a imagem do DF e entender se ela vai além, do limite da região de Brasília.

Como resultado da pesquisa, espera-se elaborar um conjunto de ações estratégicas, que possam promover a atividade turística da cidade.

METODOLOGIA

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A investigação proposta terá como estratégia metodológica, uma abordagem qualitativa, como processo de reflexão e análise da realidade por meio da utilização de métodos e técnicas para a compreensão detalhada do objeto de estudo.

A partir dos objetivos do estudo, classifica-se a pesquisa como exploratória e explicativa. Exploratória porque, através de uma busca documental, bibliográfica e por meio

de entrevistas semiestruturadas, irá apresentar o objeto de estudo, e, a partir dos dados obtidos, estruturar o cenário para sua análise. Explicativa porque visa descrever, analisar e

conhecer as características e fatores principais de uma determinada parcela da realidade encontrada.

Conforme Severino (2013, p. 123):

A pesquisa exploratória busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto. Na verdade ela é uma preparação para a pesquisa explicativa. A pesquisa explicativa é aquela que, além de registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar suas causas, seja através da aplicação do método experimental/matemático, seja através da interpretação possibilitada pelos métodos qualitativos.

Em concordância com a proposta de Severino é possível perceber a importância de utilizar a pesquisa exploratória, com a pesquisa explicativa, pois, uma levanta as informações

acerca do objeto, enquanto que a outra possibilita registrar e analisar os fenômenos estudados.

Creswell (2007, p. 195) destaca: “Estudo de caso e pesquisa etnográfica envolvem uma descrição detalhada do cenário e das pessoas, seguida por análise de dados para temas ou questões”.

Nessa pesquisa, o caso a ser estudado será a V Conferência Nacional das Cidades,

realizada no período de 20 a 24 de novembro de 2013, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, DF. Serão realizadas entrevistassemiestruturadas com os gestores da Secretaria de Estado de Turismo do DF, como também, com os gestores dos órgãos promotores do evento. Aos participantes do evento serão enviados questionários online via e-mail com perguntas abertas e fechadas.

CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Segundo Ansarah (1999, p.75): “( ... ) organizar ou sediar eventos tem se tornado uma forma de os países promoverem a sua imagem”. Assim, é importante observar que a

promoção da imagem de uma cidade, por meio de eventos, tem se tornado cada vez mais relevante.

Analisando o que diz Ansarah, os países têm utilizado os eventos como forma de promover sua imagem. Portanto, os promotores, organizadores e realizadores de eventos,

têm papel fundamental, como promotores de ações que possibilitem a permanência do turista na cidade ou instigá-los a retornar em outro momento.

Conforme Acerenza (2002, p. 206) “imagem pode ser descrita como uma representação mental que se tem de um determinado destino turístico *...+” Dias e Cassar

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(2005), por sua vez, destacam que “a imagem é uma representação mental, o conjunto das impressões que as pessoas têm de um determinado destino.” Essa imagem influencia o grau de preferência do consumidor-turista pelo local, influenciando desta forma no seu comportamento de compra.

Tanto para Acerenza quanto para Dias e Cassar a imagem é uma representação

mental que o individuo têm de uma determinada localidade. Dias e Cassar ainda completam afirmando que o conjunto das impressões que esses indivíduos têm do destino influencia no

grau de preferência pela localidade.

Segundo Bignami (2002, p.15) “A imagem pode ser elaborada ou projetada, de forma

intencional, por meio do marketing”. Dessa forma, as estratégias promocionais de marketing, utilizadas por gestores de eventos devem ser planejadas de acordo com a

natureza e especificidade dos eventos de forma a expandir e impulsionar o turismo da cidade ou região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a análise dos dados coletados na Secretaria de Estado de Turismo, espera-se verificar se as estratégias utilizadas abrangem todos os pontos turísticos do DF. Com a análise dos dados coletados nas empresas organizadoras e no órgão promotor do evento, espera se desvendar se existem ações durante a fase de planejamento e fechamento dos eventos que motivem o participante a permanecer na cidade sede, por mais tempo. Com a análise dos dados coletados dos participantes de eventos, espera-se verificar se a imagem construída do DF é condizente com a realidade.

Finalmente, como resultado da pesquisa, espera-se desenvolver um material relevante que, possa servir de suporte à elaboração de ações estratégicas, que possam

contribuir para melhorar e/ou ampliar as ferramentas de marketing, utilizadas pela Secretaria de Estado de Turismo, para a promoção turística da cidade.

REFERÊNCIAS

ACERENZA. Miguel Angel. Administração do Turismo: Conceituação e Organização . Bauru:

EDUSC, 2002. ANSARAH. M. G.: Turismo e Segmentação de Mercado. São Paulo, Futura, 1999.

BIGNAMI, R. A Imagem do Turismo no Brasil: Construção, Desafios e Vantagem Competitiva. São Paulo: Aleph, 2002. CRESWELL. John W. Métodos Qualitativos. Bookman, 2007. DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício. Fundamentos do marketing turístico. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo, 2013.

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Turismo, globalização e relações internacionais: reflexões para novos pensamentos

Filipe Rossato Silva

Mestrando em Turismo pelo CET-UnB

INTRODUÇÃO

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Neste cenário de inovações e novas tendências, o turismo contemporâneo é consequência de uma sociedade globalizada e ao mesmo tempo, contribui e estimula os

processos de globalização. A necessidade de se adequar e pensar em outras possibilidades para sua diversificação (uma das características do mundo global) vem atrelado a estes

processos de globalização em contextos políticos, geográficos e principalmente econômicos. Beni relata que “para alguns autores, a globalização é a aceleração das trocas de bens e

serviços, das informações e das comunicações, das viagens internacionais e do intercâmbio cultural” (2003, p.18). Este panorama provoca uma relação de interdependência entre os

Estados devido aos negócios e fluxos de riquezas em escala macro.

A fim de caracterizar o presente trabalho, aponta-se a seguir os componentes

estruturais do texto. A problemática central é que a forma que se entende ou interpreta atualmente o fenômeno do turismo, pode acarretar em concepções distorcidas ou

incompletas sobre o próprio Turismo, dessa maneira distorcendo seu vínculo com os outros campos, e por sua vez com as relações internacionais; tendo em vista que se tratando de

turismo internacional, o diálogo é mais propício com o campo das Relações Internacionais. Assim, justifica-se pela tentativa de explorar o assunto ainda pouco tratado. O objetivo geral é propor reflexões em torno das concepções que se tem sobre o Turismo e particularmente sobre as Relações Internacionais. Dessa forma, os objetivos específicos serão: apontar paradigmas no entendimento do fenômeno do Turismo; apresentar questões a partir do levantamento proposto; e fomentar as discussões no que tange à relação entre turismo, globalização e relações internacionais. Assim, a metodologia deste artigo consiste em uma

pesquisa exploratória, baseada em fontes secundárias de dados (levantamento da literatura que aborda a temática). É um artigo de revisão teórica, ou seja, uma análise textual a partir

de autores.

Entende-se que a globalização é um compilado de processos nos quais os povos do

mundo são incorporados e se transformam em uma sociedade global. Desafia-se a pensar o mundo como uma sociedade global. As relações, os processos e as estruturas, nos âmbitos

mais variados como: econômico, político, demográfico, geográfico, histórico, cultural e social; que se desenvolvem em escala mundial.

1 TURISMO E GLOBALIZAÇÃO

No turismo, se comparado com o passado, o fluxo de deslocamentos se intensifica

cada vez mais, o que faz o setor de viagens estar sob olhos de várias empresas de transportação, no caso das viagens internacionais, as grandes empresas aéreas. Como afirma

Beni, “os avanços tecnológicos nos transportes e nas comunicações também contribuíram bastante para possibilitar as viagens com tarifas mais reduzidas e, assim, mais acessíveis a um público maior” (2003, p.27). O cenário atual realça e faz aflorar um novo tempo para o turismo, partindo da ideia de que para que o fenômeno possa se consolidar, uma das

prerrogativas é o deslocamento de um ponto de origem a outro ponto de destino. Embora também se reconheça a importante relação entre os sujeitos (visitante e visitado) que estabelecem uma comunicação entre si, que inclusive deve ser repensada.

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Hoje, há pessoas de diversas localidades, de diferentes classes sociais, e que por variados motivos se deslocam em torno do globo, tendo em vista que as limitações e barreiras têm sido reduzidas. Inclusive a própria formatação e escolha do turismo têm mudado, já que é resultado de um mundo global marcado por possibilidades e diversidades.

Com o advento da internet, o turista em potencial tem a possibilidade de montar,

comprar e pagar sua própria viagem da forma que melhor lhe caber e sem sair de casa. Dessa maneira, as agências de viagem e turismo optam por oferecer destinos mais exóticos

ou fora do padrão tradicional a fim de driblar este dificuldade para se manterem no mercado; outra saída das próprias agências foi e está sendo se converter de agências físicas

para virtuais e oferecer ainda assim um serviço personificado e uma assessoria diferenciada. É válido considerar esta transição haja vista que as agências foram há pouco tempo atrás o

principal canal de distribuição do turismo, e nota-se que o processo mercadológico de intermédio entre o turismo e o potencial turista está mudando; isto representa uma forte

tendência no futuro do turismo a nível global.

De acordo com Boer, o turismo possui o valor “de maior expressão econômica e

social do mundo, destaca-se na conjuntura global, pela vultosa movimentação de recursos econômico-financeiros e de fluxos humanos, atraindo a atenção dos setores público e privados” (1998, p.166). Uma parcela deste efeito se deve aos processos de globalização, já que “a globalização provocou uma mais ampla disponibilização e acessibilidade em amplitude mundial dos produtos, das instalações e dos serviços turísticos” (BENI, 2003, p.27).

Sabe-se que a globalização interfere de maneira incisiva na conjuntura política,

econômica, social, geográfica, cultural e ambiental de uma nação; dessa forma, o fenômeno turístico se torna reprodutor destas interferências que podem direta ou indiretamente

serem negativas, mas que simplesmente refletem a sociedade global.

Nesta perspectiva, Beni diz que as últimas análises apontam o turismo como setor

mais globalizado, perdendo apenas para o setor de serviços financeiros. A globalização do turismo é resultante principalmente dos seguintes fatores: aumento da liberação do

comércio mundial, incorporação de novas tecnologias como a informática e as telecomunicações, integração horizontal e vertical das empresas de turismo, difusão territorial do consumo e flexibilização do trabalho nos diversos setores produtivos, incluindo o próprio setor do turismo (2003, p. 19).

Passa-se por uma era em que as formas de compra e pagamento estão muito mais

ágeis; as facilidades são inúmeras, o que proporciona cada vez mais praticidade, conforto e segurança. Produtos, serviços e trâmites mais rápidos e inovadores. No Turismo pode-se

destacar as empresas aéreas, que cada vez mais otimizam seus serviços; os meios de hospedagem que possibilitam a realização de uma reserva em instantes; ou até mesmo os

atrativos que contam com experienciação virtual, antes mesmo de se adquirir o produto.

Olhando para o outro lado da moeda, deve-se atentar para outros possíveis impasses

advindos da globalização. Moesch mostra que “o turismo deixa de ser um ato de hospitalidade e de integração, passando a englobar o movimento da indústria cultural e global, como ato de consumo e absorção de um entretenimento.” (2002, p.100).

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Os autores Boiteux e Werner (2002), também confirmam essa prerrogativa quando apontam que temos de permanecer atentos à globalização para que não se percam as características culturais dos produtos turísticos, as que fazem o seu diferencial. Hoje, turismo é uma vivência cultural que seduz pela diversidade, marco principal do produto, e que gera o deslocamento de turistas. (BOITEUX e WERNER, 2002)

Partindo deste paradoxo, entende-se que existe a necessidade de se repensar o que se entende e se efetiva como turismo; E principalmente as influências dos processos de

globalização e mundialização que podem, de certa maneira, afetar negativamente os destinos, considerando os contextos ambientais, sociais e culturais principalmente.

2 TURISMO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS O Turismo como sistema aberto e multidisciplinar, se acopla e interage com diversas

outras disciplinas, uma delas é a de relações internacionais. Sendo que, “*...+ uma vez que o turismo é considerado hoje por muitos autores como um dos “paradigmas da globalização”, seria difícil que não houvesse uma grande influência recíproca entre as relações

internacionais e o turismo.” (BARRETTO; BURGOS; FRENKEL, 2003, p.40) A diplomacia (prática das relações internacionais entre Estados), por sua vez, se concretiza através das

relações internacionais e permite entre outros contextos, o fluxo turístico. De uma maneira geral, estas temáticas são bastante complexas e dinâmicas, no caso do objeto estudado,

Senhoras aponta que em um mundo crescentemente integrado por redes de natureza material e virtual, diferentes países manifestam a projeção do poder de atração de fluxos

turísticos por meio, tanto, de projetos de diplomacia turística articulados pelos governos centrais e suas agências especializadas (2015, p.19).

Apesar de não ser evidenciado, o Turismo e as Relações Internacionais possuem uma estrita relação. O Turismo, por ser considerado um fenômeno extremamente

retrátil (tendo em vista as crises econômicas, guerras, terrorismo, catástrofes ambientais, desequilíbrio político, criminalidade e outros), tem uma tênue ligação com as Relações

Internacionais, que também classificam como pontos de interesse. Segundo Regueiro (2009) existem alguns campos de estudos que se confluem entre o Turismo e as Relações Internacionais, sendo: meio ambiente, cultura, segurança, fluxos migratórios, direitos humanos, terrorismo e guerra, desenvolvimento e combate à pobreza. Sabe-se que existem

outros temas, como supracitado, fluxos migratórios, direitos humanos, desigualdade social

que também são pontos em comum entre os dois campos de conhecimento. Com o intuito de comprovar essa forte relação entre o Turismo e as Relações Internacionais, Beni conclui

que: isso se deve aos riscos estruturais envolvidos neste setor, relativos às flutuações sazonais na demanda, e a outros riscos exógenos, como taxas de câmbio e toda a

retratilidade do turismo em face de riscos meteorológicos, convulsões sociais, instabilidade política, terrorismo, insegurança e violência urbana, dentre outros, que têm impacto no

mercado de turismo em taxas de ocupação hoteleira, em assentos de transportes aéreo, ferroviário, rodoviário e em sua capacidade de ganho e lucratividade (2003, p.30).

Refletem no turismo e podem ser fatores que inibem o fluxo turístico e a escolha do potencial turista. Dessa forma, observa-se que o fluxo em destinos turísticos nunca é linear e

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sempre oscila devido, muita das vezes, a algum ou alguns destes motivos (a nível internacional).

Por sua vez, os vistos também possuem sua importância. É utilizado como controle

para entrada e saída em determinados países, também como para levantamento e quantificação de turistas que passam pelo país. Atualmente, por meio de acordos

diplomáticos, os países extinguem a necessidade de visto entre países, no entanto, seja discutido amplamente sobre a questão de existir ou não o visto que habilita e dá permissão

para o turista viajar.

Assim, entende-se que a busca pela harmonia e equilíbrio entre interesses e

necessidades deve ser constante, ou buscar ao menos, práticas mais harmônicas. Pensar em maneiras e estratégias em que se otimize processos, estruturas e serviços é essencial em

tempos de globalização. Embora deva ser pensado também, que tipo de turismo se está ocorrendo em termos de relações interpessoais, adição de conhecimento e lazer.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que o Turismo possui uma grande capacidade de intervenção no território. Trazendo tanto impactos positivos, quanto negativos. Essas intervenções se intensificam e refletem a sociedade com os processos de globalização. A cultura de massas também ganha forma a partir desses processos. Entende-se que ainda existe uma visão romantizada do turismo quanto temas como respeito, paz mundial, harmonia e sustentabilidade; e muita das vezes se esquece dos impactos negativos que o fenômeno ocasiona: turismo de massas, aculturação, impactos ambientais, inflação e diversos outros; é necessário imergir cada vez mais neste contexto e adotar medidas que sirvam como remédio para estes impactos,

principalmente no planejamento e gestão do turismo. Neste cenário de emancipação e interdependências, de igualdade e desigualdade, de

inclusão e exclusão, prevalecem os que possuem maior poder econômico, político e mi litar, sendo uma dimensão característica de uma sociedade globalizada. Apesar de empresas transnacionais, blocos, alianças entre nações que operam em escala regional, continental e global, ainda existe a cultura hegemônica e o ideal de soberania que predominam em cantos do globo. Outro ponto abordado é a redução do fenômeno turístico e consequentemente a dificuldade de entendê-lo em sua totalidade. O turismo ainda é enxergado como uma atividade, um setor, um serviço e, além disso, ainda se dá ênfase aos res ultados

quantitativos ao invés dos qualitativos; o apelo ao contexto econômico é grande, justifica -se a necessidade de um novo olhar para o turismo.

REFERÊNCIAS

ABILIO, Maria Inês Ramos. Globalização: características mais importantes.

Disponível em: <http://www.fsma.edu.br/visoes/ed03/3ed_artigo1.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2016.

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BENI, Mário Carlos. Globalização do Turismo: megatendências do setor e a realidade brasileira. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2003.

BOITEUX, Bayard; WERNER, Maurício. Promoção, entretenimento e planejamento

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IANNI, Octávio; Globalização: novo paradigma das ciências sociais. Estudos

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KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do lazer e

das viagens, 3 ed., São Paulo: Aleph, 2003.

MOESCH, Marutschka Martini. A produção do saber turístico. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2002.

MOESCH, Marutschka Martini; BENI, Mário Carlos. Do discurso sobre a ciência do turismo para a ciência do turismo.

ROGUEIRO, Juliana Lima de; Turismo e relações internacionais: um estudo de caso

comparado entre Brasil e Dubai. Trabalho de conclusão de curso, Curso de Especialização em Relações Internacionais, UnB, 2009.

THEOBALD, William F. (org) Turismo global, tradução Anna Maria Capovilla, Maria Cristina Guimarães Cupertino, João Ricardo Barros Penteado, 2 ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2002.

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Avaliação do papel do empresariado nos processos de inclusão socioeconômica no turismo em Pirenópolis (GO)

Mateus Silva Reginato Sé Graduando em Turismo pelo CET/UnB

João Paulo Faria Tasso Professor Adjunto do CET/UnB, Doutor e Mestre em Desenvolvimento Sustentável pela UnB

Barbara Nascimento Rodrigues Mestranda em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB

O propósito desta pesquisa foi apurar o comportamento e a conduta do empresariado turístico de Pirenópolis, quanto aos processos de inclusão socioeconômica, podendo assim identificar fatores que contribuem ou dificultam o processo de desenvolvimento local. Neste contexto, o estudo buscou analisar o papel do empresariado turístico como dinamizador socioeconômico local, por meio da geração de trabalho, emprego e renda para as comunidades autóctones.

Pirenópolis está localizado no Estado de Goiás, a cerca de 115 quilômetros de Brasília – DF, e 98 quilômetros de Goiânia - GO (ENTRE CIDADES DISTANCIA.COM, 2016), região estrategicamente posicionada e reconhecida pela relevância no cenário turístico nacional. A região é contemplada por diversas cachoeiras, distribuídas por Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e pelo Parque Estadual Serra dos Pirineus. A área também dispõe de patrimônios históricos, representações gastronômicas típicas, festividades tradicionais e culturais de grande atratividade turística.

O município pertence à Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno

(RIDE/DF) e à microrregião Entorno de Brasília (CNM, 2016), possuindo 10 povoados em suas proximidades. Sua população, no ano de 2010, foi de 23.006 habitantes, sendo que 68%

(15.563) encontra-se em área urbana, e 32% (7.443) em área rural (IBGE, 2010).

O índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) possui dados atualizados relativos aos itens que envolvem o desenvolvimento humano, o que inclui o componente “emprego e

renda” que, atualmente, se posiciona na faixa de desenvolvimento regular, com 0.599 pontos (SISTEMA FIRJAN, 2013).

A População Economicamente Ativa do município gira em torno de 52,47% da população total (IBGE, 2010). Nesse âmbito, existem aspectos ligados a realidade local que são

considerados nocivos à população, como é apresentado por dados oficiais (IFDM, 2015), que demonstram uma baixa participação da comunidade nos benefícios econômicos do turismo

local, atestando um cenário de exclusão e vulnerabilidade socioeconômica.

A lacuna socioeconômica, encontrada a partir do histórico-evolutivo do município, possibilitou a geração de oportunidades para o desenvolvimento do turismo, por meio de investidores locais e externos. O progresso econômico foi significativo para os empresários locais do turismo, pois houve um intenso investimento dos diversos subsetores que compõem o setor.

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Para o entendimento do cenário atual é necessário recordar que a economia no século XX era baseada nas rotas comerciais que passavam pela região, em ocasiões de festas de cunho religioso e a exploração da matéria prima de uma fábrica de materiais de construção (SILVA & SILVA, 2010).

Os grandes investimentos em infraestrutura, atrativos e equipamentos turísticos, ocorreram

tanto por parte do poder público quanto das entidades privadas. A revitalização de seu acervo histórico-arquitetônico, a conservação da cultura popular e das tradições regionais,

foram os principais fatores que o transformaram em destino turístico.

O surgimento e a evolução do empresariado turístico no município foram se adequando às

necessidades e às dificuldades encontradas ao longo dos anos. O fluxo de visitantes no município era restrito, devido às limitações da atividade realizada e a ausência de iniciativas

mais bem estruturadas. Por esse motivo as pessoas que visitavam Pirenópolis eram acolhidas em moradias da própria população.

Os empreendimentos foram, aos poucos, se instalando, de maneira simples, sendo apenas um ponto de parada para os viajantes. Portanto, os primeiros meios de hospedagem foram abertos, com modelo de gestão familiar e pouco formal. O modelo existente, atualmente,

tende a se aproximar do formato encontrado no cenário global, um conjunto de aglomerados onde o turista pratica o lazer.

Atualmente, conforme o CADASTUR (sistema de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor do turismo), são encontrados no município, aproximadamente, 130 meios de

hospedagem, 52 empresas de alimentação, 11 agências/operadoras/receptivo, e 09 atrativos particulares.

O Turismo envolve e é envolvido por diversos subsegmentos em seu sistema. Trata-se, não apenas, de um instrumento de crescimento econômico, mas, principalmente, de um fenômeno complexo que contribui diretamente para o desenvolvimento local. Os benefícios gerados por esse fenômeno ultrapassam barreiras ocasionadas por fatores internos e externos. Porém existem efeitos causados que precisam ser avaliados, como as consequências geradas na sociedade e no meio ambiente.

Embora esteja em ascensão, o Turismo é responsável por diversos impactos ao meio ambiente e às comunidades locais, tanto positivos quanto negativos. Os aspectos econômicos são sempre ressaltados quando falamos de resultados quantitativos, mas dificilmente são analisados os fatores que envolvem o compromisso das empresas quanto à sociedade e quanto ao meio em que elas vivem.

O cenário atual demonstra falhas nesse processo, pois muitas empresas adotam políticas de negócios que não favorecem todos os stakeholders, principalmente a comunidade local. O modelo utilizado pela maioria das organizações não assimila a percepção holística presente nas novas práticas, em que o rompimento de valores voltados para a maximização de lucros foge a perspectiva da responsabilidade. (FERNANDES & VIRGINIO, 2011)

A partir dessa problemática é importante pontuar a atuação e a interação dos múltiplos

elementos da sociedade para que questões de inclusão social e de preservação ambiental e cultural sejam sim obrigações das empresas (TOPKE & VIDAL, 2013).

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Essa discussão que engloba a maneira como os empreendimentos turísticos devem atuar em relação aos stakeholders, traz diversas reflexões a respeito das ações e da participação do empresariado no processo de desenvolvimento local. O perfil dos negócios tende a privilegiar as empresas que possuem mais poder financeiro, ou seja, há sim um domínio nas decisões, fato que evidencia a influência em relação ao coletivo.

Diversos autores associam os conceitos de Responsabilidade Socioambiental Corporativa ao de Desenvolvimento Sustentável, para entender o papel das empresas nesse contexto, em

que se utilizam do discurso da sustentabilidade, em seus âmbitos socioeconômico e socioambiental, para seguir demandas do mercado, agregando valor aos seus produtos pelo

status de “verde” ou “limpo”, com a finalidade de ganhar maior competitividade.

Os processos metodológicos da pesquisa englobaram o levantamento bibliográfico de

autores com notório conhecimento no tema abordado, consultas a publicações, documentos, sites oficiais (como os da Prefeitura Municipal de Pirenópolis e do Ministério

do Turismo), estudos e documentos do Sebrae, e trabalhos de cunho científico nas áreas adjacentes que envolvem o estudo, principalmente da Universidade Estadual de Goiás

(UEG), no curso de Turismo, da Universidade de Brasília (UnB), para a obtenção de dados multidimensionais (sociais, econômicos, culturais, ambientais, histórico-evolutivos), e do empresariado turístico local.

A identificação de atores e de grupos de atores do empresariado turístico com influência local se deu pela metodologia snowball (“bola de neve”). Os relatos apontaram para

detalhamentos relevantes, no contexto geral, e específicos das problemáticas encontradas, auxiliando a enxergar gargalos a serem investigados.

O instrumento (formulário) utilizado na pesquisa foi elaborado com a intenção de abordar os elementos voltados à percepção e ao comportamento do empresariado, principalmente

quanto aos produtos, serviços e às práticas responsáveis. O instrumento de aplicação metodológica teve como base a pesquisa de Tasso (2014).

O trabalho de campo foi realizado com a colaboração de alunos do curso de Turismo do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB), quando foram aplicados 25 formulários com representantes de meios de hospedagem, agências/operadoras receptivas, equipamentos de alimentação e lojas de artesanato.

Os dados obtidos foram sistematizados a partir de cada item proposto, tornado possível a avaliação dos elementos referentes às percepções e ações dos entrevistados. Os resultados foram analisados integrando o contexto documental e bibliográfico.

De acordo com o levantamento da pesquisa de campo, existe um aparente predomínio em relação à naturalidade e ao gênero dos proprietários dos empreendimentos turísticos. Dos 25 entrevistados, 64% eram do gênero masculino. Aqueles nascidos fora de Pirenópolis representaram 68%, com a idade média de 44 anos e boa escolaridade, atingindo níveis considerados altos para a realidade local (dado que 60% possui ensino superior incompleto, ensino superior completo ou pós-graduação). Os entrevistados ocupavam cargos de

gerência, responsáveis pelos recursos humanos, ou tratavam-se dos próprios proprietários (92% - 25 entrevistados), tendo essa atividade como a única ocupação (68% - 25 entrevistados).

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Foram aplicados formulários em equipamentos de suporte ao turismo (meios de hospedagem, agências e operadoras receptivas, equipamentos de alimentação e lojas de artesanato), atingindo, em média, 10% de cada um deles, resultando em um breve panorama da situação atual do empresariado turístico do município.

O formulário se dividiu em questões sobre produtos, serviços, contratações e ações

responsáveis no âmbito socioambiental. Quanto aos produtos, foram abordados alguns itens que supostamente são importantes no ato de compra, tendo maior destaque a nota fiscal

(72% - 25 entrevistados), flexibilidade no prazo de pagamento (72% - 25 entrevistados), produtos já beneficiados (84% - 25 entrevistados), ter disponibilidade de entrega (76% - 25

entrevistados) e oferta dos produtos durante o ano todo (84% - 25 entrevistados).

Ficou claro a grande preocupação quanto à “qualidade” e o “preço” dos produtos (80% - 25

entrevistados), sendo esses os principais fatores na tomada de decisão. No momento em que foi analisado os dados sobre a origem dos produtos, percebeu-se uma aparente

equiparação quanto a escolha por produtos locais e de fora do município, mesmo que exista uma visível defesa pelos produtos locais por parte dos entrevistados.

Após análise dos dados obtidos, foi possível identificar que os cargos mais frequentes nos

empreendimentos foram os de camareira (40% - 25 entrevistados), garçom(nete) (36% - 25 entrevistados), chefe de cozinha ou cozinheira (32% -25 entrevistados), gerente (56% - 25

entrevistados), recepcionista (52% - 25 entrevistados), serviços gerais (60% - 25 entrevistados) e segurança (48% - 25 entrevistados).

Conforme os resultados da pesquisa, ficou evidente o alto índice de multifuncionalidade dos funcionários, isso é, muitos são os funcionários que exercem mais de uma função no mesmo

estabelecimento, fato que contribui para a redução de novos contratados para determinadas atividades. Essa situação cria um cenário no qual, nem sempre, o trabalhador

é qualificado para desempenhar tal cargo, enxugando, desta maneira, a folha salarial da empresa.

O instrumento de pesquisa buscou reconhecer os fatores essenciais levados em consideração pelos empresários no momento da contratação de funcionários e de serviços, tendo como os principais pontos, a “boa escolaridade”, “capacidade técnica”, “indicação por conhecidos”, “experiência anterior”, “conhecimento da região” e “ser nativo” do município. Os meios mais utilizados para procurar novos funcionários são pela indicação de conhecidos (boca-a-boca) e por currículos entregues durante o ano, totalizando aproximadamente 75% dos entrevistados.

A partir da análise do cenário encontrado na pesquisa, é possível constatar problemas e potencialidades a serem apurados. Em conformidade com os levantamentos, é perceptível

um panorama que se configura por contribuições diretas do empresariado para a população local, contudo, limitadas à geração de oportunidades de ocupação temporária, informais e com baixa remuneração, contrariando expectativas dos moradores.

Pôde‐se perceber, com o aumento do fluxo turístico e com a ampliação dos investimentos,

sinais de competitividade e de conflito entre os agentes do mercado (trade), e entre esses e o Poder Público.

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Conforme extraído dos relatos de representantes de organizações, foi poss ível identificar uma preocupação em relação a origem da mão‐de‐obra, tendo como principal motivação a viabilidade financeira, visto que a dinâmica do fluxo turístico é sazonal. Portanto é uma ocupação temporária e sem maiores compromissos, facilitando a rotatividade dos empregados.

A partir da pesquisa, surgiram indícios de que o empresariado turístico, aparentemente, tem demonstrado descuido quanto às suas práticas nos âmbitos socioeconômico (inclusão social)

e socioambiental (prudência ecológica) e, principalmente, quanto a responsabilidade de suas ações, sobretudo as com impactos externos ao empreendimento. Em concordância com essa

situação ficou evidente a baixa participação da comunidade nos benefícios econômicos do turismo local, atestando um cenário de exclusão e de vulnerabilidade socioeconômica.

De acordo com a descrição dos atores envolvidos, há uma grande dificuldade em compor um vínculo formal, por meio de empregos diretos e renda, entre a comunidade local interessada

e o empresariado. Aparentemente, entidades responsáveis pelo turismo na região não têm criado iniciativas consistentes que fomentem tais vínculos necessários.

Os fatores e as condições que envolvem o empresariado local na aquisição de produtos de

base comunitária, e nas contratações formais para prestação de serviços, também são questionamentos relevantes.

A capacidade de reduzir a utilização de recursos naturais e a preservação de áreas sujeitas a se extinguir, ou ao menos a consciência quanto aos problemas relacionados a esse tema,

também são alarmados, sendo relacionados à dimensão socioambiental.

Aparentemente, o empresariado turístico pouco tem primado por aspectos que englobam a responsabilidade socioambiental, a inclusão socioeconômica e o desenvolvimento local sustentável. Diante disso, é concebível que esses aspectos são fundamentais para uma nova perspectiva futura.

Pensa‐se, a partir da discussão teórica, na adoção de princípios éticos que respeitam os limites do ecossistema, ações responsáveis e comunicação eficiente, possibilitando uma sintonia nesse contexto. Os primeiros passos para construir soluções viáveis é evidenciar maneiras de conduzir à nova economia, visando seguir princípios éticos que respeitem acima de tudo os limites dos ecossistemas (ABRAMOVAY, 2012). A intenção não é transformar o modelo de forma radical, e sim ajustar conforme os incrementos que resultam em melhorias para ambas as partes.

REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. (2008) A dimensão estratégica da responsabilidade socioambiental. Valor Econômico, p. 13, edição de 19 de setembro de 2008. ABRAMOVAY, R. (2012) Muito além da economia verde. São Paulo: Ed. Abril, 2012. AQUINO JUNIOR, Ailton Afonso de. (2011) Piretur e a valorização do artesanato local.

Pirenópolis: UEG, p. 33. Monografia de Conclusão de Curso. Universidade Estadual de Goiás, Pirenópolis.

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CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS (CNM). (2016) Municípios. Disponível em: <http://www.cnm.org.br/municipios/index/100152/100152182>. Acessado em: 12 de maio de 2016. FERNANDES, L. V.; VIRGINIO D. F. (2011) Responsabilidade Socioambiental na Hotelaria: um estudo na via costeira de Natal, RN. in: Caderno Virtual de Turismo, Vol. 11 Issue 2, p220-233. 14p. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2016) Cidades. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm>. Acessado em: 12 de maio de 2016. PREFEITURA MUNICIPAL DE PIRENÓPOLIS. (2016) Plano Municipal de Turismo de Pirenópolis. Disponível em: <http://www.pirenopolis.go.gov.br/uploads/2013/05/Plano_municipal_turistico_de_Pirenopolis.pdf> Acesso em: 15 abril de 2016. SILVA, Boanerges Candido da; SILVA, Maclovia Correa da. (2016) Demandas turísticas, crescimento da malha urbana e dos problemas sócio-ambientais em Pirenópolis, Estado de Goiás, decorrentes da proximidade com Brasília-DF. Revista Pasos. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. Vol. 9 Nº 2 págs. 367-381. 2011. Disponível em:

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empresa Ambiental Viagens e Turisalkeo. (Poster).

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Relação público-privada do turismo internacional do Brasil e Austrália

Maressa Farias Rocha Mestre em Turismo pela CET/UnB

Maria Elenita Menezes Nascimento Professora do Programa de Mestrado Profissional em Turismo UnB/CET

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de uma estratégia nacional de turismo harmoniosamente integrada com os diversos atores do sistema turístico, torna-se essencial para garantir o

crescimento do setor e a efetividade das ações de promoção implementadas por um órgão nacional de turismo. Considerando que a integração entre agentes públicos e privados, é um

fator que pode contribuir para o fomento da promoção turística internacional do Brasil, foi realizado um estudo comparado entre o Brasil e a Austrália, com o objetivo de analisar como

é desenvolvida a integração entre agentes públicos e privados para o fomento da promoção

turística internacional desses países.

Apesar da promoção turística internacional ser uma atividade que contribui

significativamente para o desenvolvimento do setor turístico do Brasil, são escassos os estudos que abordam o papel do órgão de promoção turística internacional do Brasil e de

sua integração com os agentes do sistema turístico. Sabendo que a atuação do órgão não pode estar dissociada da atuação dos agentes públicos e privados envolvidos no sistema

turístico, sob o risco de tornar-se isolada, é fundamental a realização de um estudo que permita identificar o seguinte problema de pesquisa: como é realizada a integração entre

agentes públicos e privados para o fomento da promoção turística internacional do Brasil?

A análise diagnóstica da integração entre agentes públicos e privados do Brasil e da Austrália, resultou em um conjunto de recomendações que se espera poder contribuir para a implementação de uma estratégia nacional de turismo, visando o fomento da promoção

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turística internacional do Brasil. No final foi possível responder a seguinte hipótese de pesquisa: a parceria entre agentes públicos e privados impacta na promoção turística internacional?

1. OBJETIVOS E METODOLOGIA

O objetivo da pesquisa foi realizar um estudo comparado da integração entre agentes públicos e privados do Brasil e da Austrália para o fomento da promoção turística

internacional. Os objetivos específicos foram: a) descrever como a integração entre agentes públicos e privados está incorporada à estratégia nacional de turismo da Austrália e do Brasil; b) mapear como a Agência Nacional de Turismo da Austrália - Tourism Australia e o Instituto Brasileiro de Turismo – Embratur realizam ações integradas com órgãos do governo federal, estadual e dos Territórios, assim como representantes do setor privado; c) apresentar um diagnóstico das principais características observadas nos dois países, de maneira a revelar o nível de cooperação existente em cada país e; d) elaborar um conjunto de recomendações com base nas análises realizadas, que poderá contribuir para aumentar a integração entre agentes públicos e privados, de maneira a fomentar a promoção turística

internacional do Brasil.

Para desenvolvimento da pesquisa foi adotada como metodologia o estudo

exploratório-descritivo, tendo como análise situacional o governo australiano que desenvolveu sua estratégia de promoção, de forma a se tornar um país referência em

turismo internacional. Para entender como é realizada a integração entre agentes públicos e privados para a promoção turística internacional do Brasil, à luz da Austrália, foi utilizado

neste estudo o método qualitativo, quantitativo e comparativo.

2. RESULTADOS

Adentrar em um estudo sistematizado para desvendar um problema percebido e reconhecido como relevante é algo complexo e desafiador, principalmente porque a

pesquisa leva a caminhos surpreendentes e inimagináveis. A complexidade do fenômeno “Turismo” termina por direcionar qualquer problema a uma necessidade de maior compreensão do comportamento do homem e de suas relações com o meio em que se está inserido.

No caso da Promoção Turística Internacional, revelar como funciona a integração entre agentes públicos e privados com o órgão nacional de turismo, desencadeou a necessidade de compreender: como as organizações e entidades se relacionam, dentro do sistema turístico como um todo, impossibilitando assim que o escopo da pesquisa se restringisse ao âmbito da promoção turística internacional.

A procura por um modelo ideal de órgão nacional de turismo, que pudesse servir de alguma forma, como referência para a melhoria da atuação do Brasil, demonstrou algo

peculiar: que os problemas são inerentes a todos os países, sendo que a diferença está na forma em que a solução desses problemas é conduzida.

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A Austrália foi um exemplo de país que além de apresentar algumas semelhanças com o Brasil, conseguiu identificar os problemas existentes, criar estratégias para os superar e fazer as modificações necessárias na organização da estrutura turística para alcançar os objetivos pretendidos, obtendo êxito na sua atuação. No entanto, isso só foi possível porque o governo reconheceu o Turismo como um setor estratégico e criou uma estratégia nacional de turismo integrada, com a participação e o envolvimento do governo federal, governos estaduais, municipais e o trade turístico, em todos os processos de elaboração, implementação e monitoramento da estratégia nacional de turismo. Também reconheceu a importância da utilização de pesquisas científicas e do uso de informações estatísticas confiáveis para subsidiar a tomada de decisão, além da formação de parcerias estratégicas e colaborativas.

Outro aspecto observado foi que para a existência de um modelo ideal de órgão nacional de turismo, não foi necessário transformar o público em privado e o privado em

atuação pública, uma vez que o órgão nacional de turismo da Austrália, é uma agência governamental, assim como a Embratur. Ao contrário, a integração com agentes privados de

forma colaborativa e pela realização de parcerias, permitiu que a agência alcançasse o critério de economicidade e eficiência, ao reduzir gastos com a realização de viagens de familiarização, presstrips e manutenção de escritórios no exterior, entre outros. Já que a realização de um trabalho colaborativo, permitiu que as ações fossem realizadas com o apoio dos agentes privados. Aumentando assim, de forma significativa, o poder de atuação da Tourism Australia no exterior.

Em contraposição, de acordo com Lennon et al. (2006),4quando o setor privado é

totalmente responsável pela promoção turística internacional, as grandes empresas tendem a dominar e há uma propagação desigual dos benefícios. A França e o Reino Unido são

exemplos desse modelo “privatizado” de promoção turística, em que o custo do investimento privado é repassado para o consumidor na forma de preços altos (hotel,

restaurante, etc). Além disso, o desenvolvimento irregular da infraestrutura turística ainda gera pressão nos recursos naturais. Em complementação, Beni (1998, p.104) elucida que um

estudo realizado pela OMT, em 1975, revelou que as formas jurídicas adotadas pelos órgãos nacionais de turismo são em sua maioria governamental. De acordo com o autor, do total de

95 países analisados, somente seis tinham constituição jurídica não-governamental.

Durante a realização do estudo foi observado que a atuação exitosa da Tourism

Australia, também é resultado de um posicionamento estratégico baseado em pesquisas e

estudos, com relação a “o que promover, onde promover e como promover”. Tudo de acordo com as diretrizes definidas na estratégia nacional. Além disso, a Tourism Australia conseguiu integrar o trade turístico e outras esferas governamentais para atuar de maneira colaborativa e participativa com a agência, por meio da disponibilização no website

corporativo de informações que mostram como funciona o trabalho da agência, como por exemplo: missão, visão, mercados prioritários, estratégia de atuação, planos operacionais,

4 LENNON, J. et al. Benchmarking National Tourism Organisations and Agencies – Understanding Best Practice. Elsevier

Science. Routledgne. 2006. 274p Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/book/9780080446578 Acesso em: 02 Mai 2016.

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planos corporativos, relatórios, boletins informativos das atividades que serão realizadas, calendário de eventos realizados no país e no exterior, etc.

Além disso, divulga informações que auxiliam o trabalho do trade com os parceiros

internacionais, como por exemplo: publicações, pesquisas, relatórios, boletins, perfis de mercado, planos operacionais, calendário de ações, estratégias de atuação nos mercados,

newsletters, funcionamento dos programas implementados, contatos dos representantes da agência e inúmeros outros recursos que facilitam o trabalho do trade, além de aumentar o

engajamento, a eficiência e o alcance dos resultados pretendidos. Dessa forma, a Tourism Australia consegue atrair inúmeros parceiros para apoiar as atividades de promoção turística

internacional.

Nesse sentido, a atuação exitosa da Tourism Australia é resultado de uma visão ainda

maior, que englobou a integração entre diferentes órgãos e entidades, sendo possível identificar as funções, os membros e os objetivos de cada órgão e entidade envolvidos no

processo, no qual todos atuaram de maneira colaborativa, em prol de um objetivo único, o desenvolvimento do setor turístico.

Quanto ao alcance dos dois primeiros objetivos específicos propostos nesse estudo

(descrever como a integração entre agentes públicos e privados está incorporada à estratégia nacional de turismo da Austrália e do Brasil e mapear como a agência nacional de

turismo da Austrália - Tourism Australia e o Instituto Brasileiro de Turismo – Embratur realizam ações integradas com órgãos do governo federal, estadual e dos Territórios, assim

como representantes do setor privado), considerando as limitações sobre a complexidade de um sistema nacional de turismo, observou-se que foram alcançados.

No entanto, houve uma grande dificuldade em conseguir sintetizar as informações referentes à Austrália. Primeiro, pela existência de uma quantidade significativa de

publicações produzidas no país, tanto por órgãos governamentais, quanto pelo trade turístico, para subsidiar a estratégia de turismo, dar publicidade aos atos praticados e

monitorar o controle dos resultados. Segundo, pela existência de uma intensa integração entre os atores do sistema turístico, de maneira que a compreensão da organização da

estrutura turística da Austrália tornou-se árdua, apesar disso, ainda foi possível demonstrar alguma representatividade.

Com relação ao levantamento de informações sobre o Brasil, acreditou-se que essa etapa seria mais simples, por se tratar de pesquisa realizada na própria língua materna. Entretanto, a despeito dessa facilidade, houve uma grande dificuldade em acompanhar

quais os desdobramentos das determinações constantes na Política Nacional de Turismo, no Plano Nacional de Turismo e no Plano Aquarela 2020 – Marketing Turístico Internacional,

uma vez que não foi possível encontrar nos respectivos websites do Ministério do Turismo e da Embratur, quais definições haviam sido realmente implementadas e quais ainda estavam

no âmbito da intenção. Observou-se também que as informações referentes ao planejamento estratégico dos órgãos de turismo do país, carecem de maior publicidade e de

maior envolvimento de diferentes atores do sistema turístico.

Também há uma carência na definição de estratégias embasadas em pesquisas científicas e pesquisas estatísticas para orientar a tomada de decisão. Havendo a necessidade da criação de Planos Operacionais que orientem a atuação do órgão e que

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contenham a definição de metas claras, objetivas e exequíveis, de prazos a serem cumpridos, definição dos recursos que serão necessários, formas de monitoramento e controle dos resultados.

Com relação ao alcance dos dois últimos objetivos (Apresentar um diagnóstico das principais características observadas nos dois países, de maneira a revelar o nível de

cooperação existente em cada país e elaborar um conjunto de recomendações com base nas análises realizadas), observou-se que esses objetivos também foram atendidos. Foi possível

observar o nível de integração existente entre a Tourism Australia e a Embratur com os agentes públicos e privados dos respectivos países. Ressalta-se que além das

recomendações propostas. Também foi possível encontrar outras formas de integração entre agentes públicos que fomentam a promoção turística internacional, no entanto, essas

formas de atuação não foram retomadas novamente porque acarretariam um excesso de informações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, torna-se fundamental aliar os esforços de comunicação e

promoção de um país como destino turístico internacional a um processo integrado com todos os segmentos envolvidos no turismo: a esfera governamental, o trade turístico e a

comunidade local. Nesse sentido, torna-se primordial para potencializar as ações de promoção turística de um país no exterior as seguintes ações: a) definição de uma estratégia

de atualização integrada, baseada em dados estatísticos e pesquisas científicas b) ampliação estratégica da colaboração interinstitucional, entre órgãos nacionais de turismo, outras

esferas governamentais e o trade turístico.

REFERÊNCIAS BENI, Mário. Análise Estrutural do Turismo. 2 ed. São Paulo: SENAC, 1998. BUHALIS, D.; CROTTS, J.; MARCH, R. Global Alliances in Tourism and Hospitality Management. 2000. CASTELLS, M.; CARDOSO, G. A Sociedade em Rede – Do Conhecimento à Acção Política. Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 2006. CHIAS, Josep. Turismo, o negócio da felicidade: desenvolvimento e marketing turístico de países, regiões, lugares e cidades. São Paulo: SENAC, 2007.

DENCKER, Ada. Métodos e Técnicas de Pesquisas em Turismo. 7 ed. São Paulo: Futura, 1998.

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Reflexões sobre a prática turística e pedagógica na construção do processo de aprendizagem por meio do passeio escolar

Ligia Alves da Silva Mestranda em Turismo da UnB/CET Maria Elenita Menezes Nascimento

Professora do Mestrado Profissional da UnB/CET

INTRODUÇÃO

O passeio escolar nem sempre é observado nas escolas como um momento lúdico de

aprendizado. Essa ferramenta pedagógica pode contribuir bastante, para as reflexões de professores e alunos. Por meio das observações que os educandos fazem fora do contexto escolar, o aprender pode se tornar mais significativo.

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Os passeios escolares para os estudantes, podem ser muito mais que apenas momentos de lazer extra classe. Esses momentos, podem se transformar em um aprendizado prazeroso, no qual o aluno(a) possa avaliar os pontos turísticos, como também encontrar determinantes que lhe auxiliem na busca do aprendizado.

Para Libânio apud Fontes (2000, p. 22) “Nesse sentido a educação é o conjunto das ações,

processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social*...+”

Atualmente, o tempo dedicado ao lazer se torna cada vez menos constante. As pessoas mergulham no mar de afazeres do cotidiano, na vida estressante do universo globalizado, e

não percebem como isto pode afetar sua saúde física e mental. O mundo competitivo e a busca da estabilidade financeira levam os indivíduos a permanecerem horas trabalhando

exaustivamente, esquecendo assim de que o corpo e a mente necessitam de descanso. O simples fato de sair da rotina, a busca de outros espaços com novas paisagens e outras

culturas, proporcionam ao ser humano um revigoramento físico e mental.

Segundo Carrara (2004, p. 136) “*...+ a criança nasce com uma única potencialidade, a potencialidade de aprender potencialidades; com uma única aptidão, a aptidão de aprender

aptidões; com uma única capacidade, a capacidade ilimitada de aprender e nesse processo desenvolver sua inteligência.”

Porém, nem todos os indivíduos podem desfrutar do prazer de viajar, uma vez que são grandes, os impedimentos decorrentes das diferenças de classes sociais e condições

financeiras no país tornando o prazer de viajar em uma realidade distante para as classes menos favorecidas. Com isso vão se construindo as identidades de um povo onde uns

esbanjam, enquanto outros vivem à margem da sociedade a espera de mudanças que se tornam cada dia mais difíceis de ocorrerem.

Neste contexto de rotinas, afazeres e correria em que se encontram as crianças e jovens brasileiros, bombardeados pelas infinitas informações propiciadas pela tecnologia, tendem a adoecer rapidamente se não tiverem um momento de lazer que lhes proporcionem uma atividade lúdica.

Para Brasil apud Perinotto 2006*...+ “Retirar os alunos da sala de aula e proporcionar-lhes o contato ativo e crítico com ruas, praças, edifícios públicos, festas e outras manifestações imateriais da cultura constituem excelente oportunidade para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa e crítica de preservação e manutenção da memória”.

Por outro lado, a rotina da sala de aula, às vezes se torna tão exaustiva, que até um pequeno passeio escolar que poderia atuar como um momento de descontração, torna-se uma aula estressante, de observação impositiva, onde a riqueza dos momentos prazerosos terão que se transformar em momentos memorizados mecanicamente para eventuais testes em sala de aula.

Neste trabalho serão discutidas questões relacionadas ao Passeio Escolar, como mecanis mo de aprendizado e lazer. Pretende-se ressaltar como as práticas pedagógicas, juntamente

como o saber Turístico podem aliar-se para motivar o conhecimento dos educandos. O objetivo é analisar quais são as práticas adotadas pelos professores e profissiona is da

educação que possibilitam a promoção do turismo no ambiente escolar, como forma de

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aprendizagem e desenvolvimento educacional. Visa também, fazer uma reflexão sobre o turismo na escola como suporte à aprendizagem, formando educandos aptos para o processo do conhecimento, sem delimitar a compreensão dos elementos turísticos que existem na natureza e perpassam a prática pragmatizada.

O presente trabalho está constituído de três sessões. A primeira trata da prática do passeio

escolar usada como momento de descontração e aprendizagem. A segunda descreve a metodologia adotada. A terceira sessão apresenta a considerações finais.

PASSEIO ESCOLAR COMO MOMENTO DE DESCONTRAÇÃO E APRENDIZAGEM

Em minha trajetória enquanto estudante de pedagogia pude observar que as crianças necessitam de momentos extra classe para despertarem sua ludicidade. O fato de aprenderem brincando as tornam capazes de construir mundos imaginários que contribuem para o seu pleno desenvolvimento e por intermédio do passeio escolar essa imaginação pode aflorar, pelo fato de estarem em um novo ambiente onde não se sente cobradas. Um ambiente que as fazem sentir-se livres.

O ambiente escolar é um espaço de conhecimento, porém tanto os jovens quanto as crianças muitas vezes sentem-se cansados da rotina. Os conteúdos se tornam exaustivos e as cobranças pelo aprender são feitas por duas vias, em casa pelos pais e na escola pelos professores.

Enquanto mãe e pedagoga, sempre observei os meus filhos e me sentia instigada a saber o porquê da desmotivação na busca do aprender. Não questionava os professores e sim a mim mesma, tentando descobrir se eu que não conseguia dar o suporte necessário para que eles se sentissem motivados. Porém percebia que nos dias de passeio na escola o processo se transformava, a vontade de chegar o tão aguardado momento era grande e a ansiedade

para sair da rotina trazia um novo vigor.

Freire (2008, p. 77) usou sabiamente as palavras quando disse: “Ninguém pode estar no

mundo, com o mundo de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica

decisão, escolha, intervenção na realidade”.

Quando o professor consegue intervir no processo de aprendizagem, e auxilia seu aluno a

mudar, o retirando da acomodação ele consegue transformá-lo em um cidadão que pensa de maneira crítica e reflexiva.

Para Morin (2011, p. 10) “qualquer conhecimento opera por seleção de dados significativos

e rejeição de dados não significativos: separa (distingue ou disjunta) e une (associa, identifica); hierarquiza ( o principal, o secundário) e centraliza ( em função de um núcleo de

noções-chave)”. Os estudantes aprendem com suas buscas a selecionar o que considera significativo ou não para o seu conhecimento.

Reportei-me a minha infância e novamente tive a mesma percepção, justamente porque sendo de uma classe baixa meu único e tão esperado momento de lazer eram os passeios

turísticos da escola. Aqueles eventos eram o marco da minha vida escolar. Percebi então que

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isso se refletia também na vida escolar dos meus filhos e tantas outras crianças que vivem na parte baixa da pirâmide social.

Mediar passeio escolar e aprendizagem pedagógica não é um processo fácil, porém, é um

processo de decisão que todos os envolvidos no ambiente educativo devem permitir-se experimentar. Crianças e adolescentes necessitam aprender de forma diferenciada, pois

cada indivíduo tem seu tempo e esse tempo precisa ser respeitado, principalmente no ambiente escolar onde os atores principais são os estudantes.

METODOLOGIA

Será utilizada uma pesquisa qualitativa que segundo Minayo (2003) responde a questões particulares. Ela se preocupa, nas ciências, com um nível de realidade que não pode ser quantificada, ou seja, trabalha com o universo de significados, motivos e aspirações.

A partir dos objetivos do estudo, classifica-se a pesquisa como exploratória interpretativa.

Conforme Severino (2013, p. 123): “A pesquisa exploratória busca levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim, um campo de trabalho, mapeando as

condições de manifestação desse objeto”.

A observação participante também será utilizada em uma escola pública na Regional de Ceilândia. Análise de documentos do Currículo e do Projeto Político Pedagógico da escola. Serão realizadas também, entrevistas semi-estruturadas com professores, coordenadores e estudantes da escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao utilizar o passeio escolar como uma ferramenta pedagógica, os professores ganham um suporte para auxiliar no exercício da aprendizagem. A escola nos dias atuais, principalmente

a escola pública, conta com poucos recursos para o pleno desenvolvimento da capacidade cognitiva dos alunos.

A prática do passeio como um momento turístico desperta no indivíduo sua vontade de crescer e de se sobressair, mudando sua trajetória de vida. A experiência de conhecer outros ambientes que perpassam os limites dos muros da escola, incentivam o indivíduo a sonhar com um novo amanhã.

Espera-se com essa pesquisa, que professores e alunos percebam que o passeio escolar é uma ferramenta pedagógica que pode auxiliá-los na descoberta de novas formas para a

prática educacional. Que essa forma diferenciada de ensinar proporcione aos alunos, um novo olhar para a educação para que se tornem pessoas aptas a criticar e refletir dentro e fora do universo educacional.

Como resultado do estudo, espera-se que o profissional da educação, por meio de suas práticas pedagógicas e seus conhecimentos educacionais, promova a interação dos

educandos no ambiente escolar e no meio em que vivem. É fundamental que o passeio escolar, se torne uma ferramenta importante para que o momento de lazer e que as práticas pedagógicas se transformem em um aliado do conhecimento do indivíduo.

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REFERÊNCIAS

CARRARA, Kester. (org) Introdução à Psicologia da Educação. Seis abordagens. São Paulo: Avercamp, 2004.

FONTES, Rejane de Souza. Educação e Pesquisa. São Paulo, v 30, n.2, p. 271-282, maio/ago. 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

MINAYO, M.C.S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 22 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo / Edgar Morin; tradução Eliane Lisboa. 4. Ed. – Porto Alegre: Sulina, 2011.

PERINOTTO, André R. C. Turismo Pedagógico: uma ferramenta para a educação ambiental. Caderno Virtual de Turismo. Vol. 8, N 1, 2008. Disponível em: <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php?journal=caderno&page=article&op=view

File&path[]=261&path[]=186> Acesso em: 05 de jul. 2016.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo, 2013.

Projeto trilha jovem: turismo e inclusão social: relato da experiência do projeto realizado em São Luís do Maranhão (MA)

Josilene Barbara Ribeiro Campos Mestranda em Turismo pelo CET/UnB

RESUMO

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O turismo se apresenta como um fenômeno grandioso, face à sua capacidade de gerar divisas e recursos, criar empregos e incentivar o surgimento de novas atividades afins, quando planejado e implantado de forma responsável.

Os dados apresentados pelo Ministério do Turismo dão conta que 6,4 milhões de turistas estrangeiros visitaram o país, deixando uma receita de 6.842,63 milhões de

dólares(Brasil,2013). De acordo, com a International Congress e Convention Association (ICCA), o Brasil ocupa o 1º lugar entre os países latino-americanos que mais recebem

eventos internacionais, é o 2º no continente americano e o 7º lugar no mundo. O aspecto econômico do fenômeno, tem sido enfaticamente destacado e já se sabe, notadamente, os

seus efeitos nas economias de países, estados e localidades. Dentro dessa percepção e incansavelmente, incluído nesse contexto se observa a questão do turismo com

impulsionador do desenvolvimento dentro das localidades.

Para isso ocorrer, no entanto, são necessários que vários elementos contribuam ao mesmo

tempo, gerando uma série de benefícios, o que se tem se observado com freqüência, é que o crescimento econômico, mesmo quando rápido, não traz desenvolvimento, a menos que

gere emprego e contribua para a redução da pobreza e desigualdades. (Sachs, 2004). E esses dois aspectos são muito contraditórios no planejamento do turismo, de um lado a expectativa do desenvolvimento e de outro a quase sempre observância de crescimento econômico, sem no entanto a população se beneficiar de seus efeitos.

Nesse contexto, outra situação bem relevante é que o turismo pode gerar, inclusão

social,especificamente com os jovens. No Brasil, onde a desigualdade social produz abismos que distanciam, significativamente, os estratos sociais, a questão da juventude traz em si

mesma, dentre outros problemas, aqueles relacionados à baixa qualidade de vida, exclusão, analfabetismo funcional, violência e reduzida empregabilidade para jovens em periferia.

Pesquisas realizadas, realizadas, desde 2007, pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas(Ibase) e pelo Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas

Sociais(Instituto Polis), afirmam que a educação de qualidade, com ênfase na formação profissional e no trabalho decente, está entre os principais anseios dos jovens sul -

americanos, Maurício Santoro(apud Tagore, 2008), nos diz que não é, “qualquer educação, mas aquela que favoreça a inserção no mercado de trabalho e à qualidade de vida.”

Após esse entendimento e ao olharmos mais cuidadosamente para a população jovem do Brasil ou dos países em desenvolvimento, os jovens de baixa renda, dificilmente terão uma

expectativa positiva do futuro, se a educação que estiver sendo discutida, planejada e

aplicada não se apresentar de forma diferenciada e comprometida com a inclusão socioeconômica.

O objetivo desse resumo é relatar a experiência da execução do Projeto Trilha Jovem; Turismo e Inclusão Social, em São Luís, executado na Faculdade São Luís (Instituição

privada), sob a coordenação desta autora do relato, que recebeu 180 jovens selecionados para serem capacitados, no eixo Hotelaria, Alimentos e Bebidas e Agenciamento, mas com

um diferencial, esse projeto tinha um foco na inserção, tornando o jovem protagonista desse processo, além de ser instruído através do turismo, estabeleceu uma relação duradoura com

o mercado de trabalho na tentativa de mudar sua própria realidade social. Importa ressaltar, que o Maranhão, tem um dos piores Índice de Desenvolvimento Humano(IDH) do Brasil e a

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Educação tem índices de evolução piores ainda, então um Projeto, com essa metodologia e foco para além de somente instruir, poderia provocar benefícios impactantes para transformação na vida desses jovens, como de fato, provocou.

O Projeto Trilha Jovem – Turismo e Inclusão Social, foi idealizado pelo Instituto de Hospitalidade (hoje extinto), inicialmente o Projeto foi denominado, Projeto Turismo e

Responsabilidade Social, no ano de 2004 e nasceu na Bahia, o projeto piloto foi implementado na Cidade de Salvador e na localidade de Sauípe, na Costa dos Coqueiros, em

parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento(BID), assim os primeiros 240 jovens foram capacitados na Bahia.

Ao final de 2004, e com o sucesso da primeira experiência, o Instituto de Hospitalidade(IH), tinha uma perspectiva de ampliar o Projeto, foi um propósito compartilhado com o

Ministério do Turismo(MTUR) e com Fundação internacional da Juventude, ao final desses entendimentos o BID continuou na parceria o Ministério do Turismo aportou recursos para a

expansão do projeto em todo território nacional, a Fundação Banco do Brasil e próprio Instituto de Hospitalidade, investiram ainda mais na expansão.

Em 2008, após vencer uma concorrência a Faculdade em que trabalhávamos, passou a

executar o Projeto Trilha Jovem em São Luís do Maranhão, mais de 2000 jovens foram inscritos e 180 jovens foram selecionados para participar do projeto, toda a execução ocorria

nas dependências da Faculdade São Luis, uma Instituição de Ensino Superior Privada, ao final 30% dos jovens foram inseridos no mercado de trabalho em São Luís.

Palavras Chave: Turismo. Inclusão Social. Juventude. Educação. Mundo do Trabalho.

METODOLOGIA

O Projeto Trilha Jovem: Turismo e Inclusão Social foi executado em 2008 em São Luís, capacitando 180 jovens e inserindo 30% destes no mercado de trabalho, agências de viagem,

restaurantes, pizzarias, lanchonetes, hotéis.

Para realização desse relato, baseou-se na própria experiência da autora que atuou como coordenadora na época, relatos dos jovens e professores feitos de forma informal, e no documentos, relatórios e bibliografias produzidos na época mas que representam memória significativa do projeto.

RELATOS FINAIS

Ao final da execução do Projeto Trilha Jovem em São Luís, pudemos experimentar uma ação que realmente teve um efeito bem marcante na vida de cada um daqueles jovens, alguns além de serem inseridos no mercado, passaram a ser alunos dos cursos superiores da Faculdade São Luis, como Turismo, Administração e muitos outros.

Passados 8 anos ainda há alunos do projeto trabalhando nas empresas e traçando seu futuro, nos fazendo refletir e reafirmar que a educação x turismo podem se constituir

ferramentas extremamente eficazes para inclusão social e o protagonismo juvenil. Ao longo

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dessa “trilha” foi possível vislumbrar os seus feitos e efeitos.Alguns podem ser contabilizados traduzidos em números e listas. Outros, apenas, apreciados, percebidos, sentidos e vividos. Alguns resultados estão nos relatórios, outros estão na vida de cada um deles.

Dentro desse cenário destacam-se, dentre outros: A construção de um importante acervo

incluindo manuais elaborados com base nos processos pedagógicos, de gestão e de comunicação, além de Guias de Qualificação Profissional que respaldam o Programa de

Formação de Jovens e Mentores, a satisfação de jovens em estarem, todos os dias, no Programa, sem que fosse necessário nenhum mecanismo de repressão, o prazer de estarem

participando, contribuindo, aprendendo, a mudança na perspectiva de vida e de futuro, dentre outros, do ponto de vista quantitativo, os dados também são bastante relevantes:

4069 jovens selecionados e matriculados no curso, 600 horas,aproximadamente, de acompanhamento à distância, e de assessoria técnica via tecnologia voip e contatos

telefônicos, 10 destinos turísticos beneficiados, 10 Entidades Executoras Locais credenciadas e capacitadas para desenvolver a metodologia do Programa , 61 profissionais das equipes

técnicas locais capacitadas para desenvolver os procedimentos educacionais, de gestão, e de inserção de jovens, 257 educadores capacitados com base na metodologia do Programa para realizar às atividades previstas nas 500 horas de atividades presenciais e autônomas, 12 manuais elaborados, dentre outros benefícios.

Esses são dados qualitativos e quantitativos, que sem dúvida, poderiam servir de base para fortalecer programas e projetos nessa mesma linha de atuação, porque apresentam resultados significativos, e sem dúvida, contribuiriam para a cidadania e inclusão dos jovens

em situação de risco social. Por mais iniciativas valiosas como essas!

REFERÊNCIAS

Beni, Mário Carlos. (2001) Análise estrutural do Turismo. 4 ed. rev. São Paulo; SENAC. Beni, Mário Carlos. (2006) Política e Planejamentode turismo no Brasil. São Paulo: Aleph.

Fundação Instituto de Hospitalidade.(2009) Sentimentos Trilheiros: A história do Programa Trilha Jovem – Turismo e Inclusão Social pelos olhar de seus principais atores.

Salvador. FROTA, Ana Maria Monte; BARBOSA, Rita de Claudia Aguiar. Trabalho, Juventude e exclusão

social: caminhos para uma inclusão social. In: XIIIEncontro Nacional de Estudos

Populacionais, Ouro Preto, 2002 SILVA, Christian Luiz da, (org).(2012).Políticas públicas e desenvolvimento local: instrumentos e proposições de análise para o Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes. SACHS, Ignacy. (2004) Desenvolvimento: includente, sustentável e sustentado.Rio De

Janeiro: Garamond, 2004. TRILHA JOVEM.Relatório de Atividades para a Fundação Banco do Brasil, 2008. TRILHA JOVEM. Desenvolvimento e Inserção Socioprofissional de Jovens de Famílias de Baixa Renda no Setor de Turismo.Relatório de Atividades. 3º Trimestre 2008. Expansão

Nacional.

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TRILHA JOVEM. Desenvolvimento e Inserção Socioprofissional de Jovens de Famílias de Baixa Renda no Setor de Turismo.Relatório de Atividades. 4º Trimestre 2008. Expansão Nacional.

Reciclando a vida: uma proposta para empoderamento e autonomia financeira de mulheres vítimas de violência doméstica no Distrito Federal, por meio da indústria de eventos

Flávia Cristina Rodrigues Paiva Tecnóloga em Gestão Empresarial pelo Centro Universitário UNA/Belo Horizonte

INTRODUÇÃO

Reportagem apresentada no sítio eletrônico do Correio Braziliense em 13/10/2016 aponta para uma estatística alarmante: em 2016, no Distrito Federal, 16 (dezesseis) mulheres foram assassinadas por homens de seus convívios afetivos. Esse número materializa o ápice do processo em que mulheres podem estar envolvidas em um ambiente

de violência doméstica. Para essas, entretanto, não há alternativa possível.

Da constatação apontada no parágrafo precedente podem resultar diversas

indagações interconectadas. Por exemplo, quais são os caminhos percorridos em um processo de violência doméstica contra a mulher? Diferentemente do trágico destino infligido às mulheres objeto da reportagem mencionada, que alternativas podem ser apresentadas às outras mulheres que ainda estão vivas que lhes permita resgatar sua dignidade e trilhar um novo caminho, distante do ambiente de violência de que estiveram reféns?

No presente trabalho, busca-se apontar para uma possível alternativa que resulte em um final diferente. A hipótese principal é de que a dependência financeira a que estão sujeitas muitas mulheres constitui a principal barreira para que se libertem do ambiente de violência em que se encontram imersas. Mais específico, em que medida pode o mercado de eventos contribuir para a capacitação, profissionalização e incorporação ao mercado de trabalho de mulheres vítimas de violência doméstica, de modo a trazer como consequência o empoderamento financeiro, moral, psicológico e patrimonial.

1 A VIOLÊNCIA

O conceito de violência vem do latim “violentia”, que significa ação ou ato daquele

ou daquilo que é violento ou violentado. Mas na sua origem perpetua o sentido de “violare”: violação. Por definição, o violento é o sujeito em questão que se encontra fora do de um

estado natural, situação ou modo, exercendo de forma desnecessária, à força, com ímpeto e/ou brutalidade contra outrem.

A Organização Mundial da Saúde, em 2002, posicionou-se sobre a definição de violência a fim de classificar e analisar tais fenômenos sociais de suma importância à

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sociedade. A partir desse ano, definiu ações e conseguiu divulgar Relatório Mundial Sobre Violência e Saúde, conseguindo assim definir a problemática:

uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (KRUG et al., 2002, p. 5).

Vale ressaltar que na atualidade dispõe-se de diversos tipos que caracterizam violência: doméstica, familiar, intrafamiliar, sexual, raça, etnia, gênero, classe social, moral,

emocional, psíquica, financeira, patrimonial, etc. Essa condição, por si só, já remete à necessidade de estudos e providências sociais a serem tomadas a fim de eliminar tal ato.

2 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Galinkin e Santos (2016) oferecem uma abrangente definição de violência doméstica:

“a violência doméstica é aquela que acontece dentro de casa, no lar, nas relações entre pessoas da família. Nesse caso, o vetor da agressão pode se dirigir a qualquer pessoa da família, seja homem ou mulher, pai, mãe, filhos, sejam jovens ou idosos. Já a denominação violência familiar ou intrafamiliar contempla as ocorrências que resultam de relações violentas entre os membros da própria família, dentro ou fora do espaço doméstico”.

Podemos citar ainda a violência entre pessoas sem a função parental, aquelas que

tem convívio doméstico, que convivam no mesmo espaço privado, pois “passam a assumir função parental, ainda que sem laços de consanguidade e em relação de poder à outra. ”

(Narvaz & Koller,2006, p.8)

3 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E AS MULHERES

Para falarmos em violência doméstica e as mulheres não podemos seguir sem definir

claramente o conceito de gênero. Diante do que J. Scott (1995. p. 15) assegura, o gênero é um primeiro campo no seio do qual, ou por meio do qual, o poder é articulado. Nas diversas sociedades de classes atuais, à incorporação do conceito de gênero assegura o

entendimento de uma relação de poder entre o homem e a mulher.

A mulher é o gênero mais vulnerável da sociedade, devendo-se analisar o contexto em que ela se encontra e investigar as condições em que se verifica seu desenvolvimento como ser humano, incluindo-se a realização profissional.

O que se pode verificar é que a mulher constitui-se no principal objeto da violência doméstica, perpetrada principalmente por homens de forte e estreito relacionamento afetivo: pais, irmãos e namorados/companheiros/maridos.

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4 AS CONTRIBUIÇÕES DO MERCADO DE EVENTOS

Entretanto, a conquista do empoderamento e da autonomia financeira e profissional

com dignidade somente é viabilizada pela (re)inserção no mercado de trabalho. O mercado de eventos, composto por organizações atuantes nos mais variados segmentos, apresenta

plenas condições de preencher essa lacuna, que permita interromper o ciclo de violência anteriormente referido. Sem a pretensão de estabelecer uma relação definitiva, incluem-se

nesse mercado consultorias em organização de eventos, fornecedores de alimentos in natura e processados, decoração de eventos, limpeza, manutenção e segurança, entre

outros. Desse modo, o setor apresenta uma capacidade ímpar de ocupar mulheres com diferentes níveis de escolaridade e formação profissional, incluindo aquelas com pouca ou

nenhuma instrução formal e sem qualquer experiência profissional prévia.

Além disso, trata-se de ramo de atividade que tem se mostrado resistente à crise econômica atravessada pelo país, conforme apontado pela Associação Brasi leira de Empresas de Eventos – ABEOC BRASIL. De acordo com a entidade, em 2014 houve um crescimento de 6,3% em relação ao ano anterior no faturamento bruto estimado, atingindo

a cifra de R$ 16,8 bilhões de reais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE EVENTOS, 2016).

A que se considerar, portanto, a necessidade de capacitar e qualificar essas pessoas, de modo a dar-lhes condições de sonhar. Uma política pública adequadamente estruturada

pode ser capaz de fornecer as condições mínimas para que organizações relacionadas à capacitação profissional ofereçam cursos adequados à formação prévia apresentada,

lançando mão de profissionais de ensino adequadamente habilitados a lidar com um público fragilizado pelas circunstâncias porém resiliente às intempéries.

Atualmente há já iniciativas tanto para profissionalizar mulheres vítimas de violência doméstica quanto para aprimorar a mão-de-obra utilizada no mercado de eventos. O que se observa, entretanto, é que no primeiro caso, a iniciativa conjunta de secretarias de estado do Governo do Distrito Federal restringe-se a oferecer profissionalização em costura, cuidador de idosos e massagista (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2016). Já no que se refere ao mercado de eventos, não obstante existir oferta de vagas para vários tipos de profissional, não se verifica, ainda, preocupação em se contemplar especificamente públicos afetados por tipos especiais de vulnerabilidade, como as mulheres vítimas de violência doméstica.

Desse modo, percebe-se a existência de imenso campo a ser explorado, que apresenta a virtude de fazer convergir as demandas específicas das mulheres vítimas de

violência doméstica, no sentido de dotá-las das condições mínimas que lhes permitam romper com o ciclo de violência em que se encontram imersas, com as necess idades de um mercado que requer pessoas em constante aprimoramento e capacitação.

Cabe destacar que, conforme Araújo (2010), a geração de renda proporcionada pela

inserção da mulher no mercado de trabalho, ao dotar seu grupo familiar de capacidade de consumo, apresenta a virtude de contribuir economicamente para a sociedade como um todo.

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REFERÊNCIAS

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http://www.abeoc.org.br/2015/08/mercado-de-festas-e-cerimonias-atingiu-r-168-bi-em-2014.

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com-a-crise-brasileiro-gasta-mais-com-festas. Correio Braziliense (2016). Só em 2016, 15 mulheres foram mortas por homens dos seus convívios afetivos. Disponível em 13/10/2016. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/10/09/interna_cidadesdf,552464/so-em-2016-15-mulheres-foram-mortas-por-homens-dos-seus-convivios-afe.shtml. Governo do Distrito Federal (2016). Mulheres vítimas de violência doméstica têm acesso a

cursos profissionalizantes. Disponível em 17/07/2016. http://agenciabrasilia.df.gov.br/2016/07/04/mulheres-vitimas-de-violencia-domestica-tem-

acesso-a-cursos-profissionalizantes/. Narvaz, M.G & Koller, S.H (2006). Mulheres vítimas de violência doméstica:

Compreendendo subjetividades assujeitadas. Psico,37 (1), 7-13. Preâmbulo do "Relatório mundial sobre violência e saúde" (2002). Organização Mundial de

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Editora Fundação Perseu Abramo. Saffioti, H.I.B. (1987). O Poder do Macho. São Paulo: Moderna. Saffioti, H.I.B. (1992) Rearticulando Gênero e Classe Social. In: Costa, A. de O. & Bruschini, C. (org.). Uma Questão de Gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos/ São Paulo: Fundação Carlos Chagas. Saffioti, H.I.B. & Almeida, S. de S. (1995). Violência de gênero: Poder e impotência. Rio de Janeiro: Revinter. Santos, K. B. dos, & Galinkin, A. L. (2016). Violência contra a mulher, direitos humanos e prevenção. In Barbosa, T.K.F.G. (Org.), A mulher e a justiça: a violência doméstica sob a ótica

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Aporte das mulheres agricultoras no desenvolvimento do turismo gastronômico: o caso mistura de Lima-Peru

Alexander Malaver Copara

RESUMO

A participação das mulheres na produção agrícola, num país de quase 30 milhões de habitantes é de grande importância, pois uma parte significativa do abastecimento interno de alimentos nos mercados é proporcionado graças ao trabalho feito pelas mulheres anônimas que trabalham incansavelmente a terra desde o nascer até o por do sol. Esse labor tem importância econômica não só no curto prazo como no crescimento e desenvolvimento

a médio e longo prazos da agricultura no Peru. As mulheres camponesas têm um importantíssimo papel, com uma participação direta no trabalho produtivo que fica entre 60% da força laboral familiar. Além disso, as mulheres cumprem um papel significativo na

tomada de decisões, administração da economia familiar, execução de tarefas doméstico-produtivo-reprodutivo-comunais que garantem a satisfação das necessidades básicas da

família e da economia rural. O Peru vivencia um “boom” gastronômico que está proporcionando uma nova proposta de turismo ao pais Incaico sendo esta o turismo

gastronômico. Essas novas alianças, mais justas e includentes, permitem que o turismo seja, como afirma Krippendorf (2003), mais humano, pois que procura se fundamentar em uma

relação equitativa. Assim, como parte de sua dissertação de mestrado, o autor busca analisar o aporte das mulheres agriculturas na gastronomia peruana, analisando a dimensão

social da sustentabilidade presente nas comunidades altoandinas. Em trabalho de pesquisa anterior, o autor havia demonstrado a presença de alguns pilares da sustentabilidade no

Mistura: ambiental, cultural, social. Verificou-se no segundo trabalho, a participação da mulher na agricultura familiar para o crescimento do turismo gastronomico no Peru

(MALAVER, 2015). Para estruturar essa análise foram delineadas a história e as características do turismo e da gastronomia de modo a relacioná-las à sustentabilidade em

suas diferentes dimensões. Foi, também, pesquisada a evolução da Feira Mistura incluindo sua história, atrativos, e os impactos que gera sobre o Turismo. Desta feita, a dimensão

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social da sustentabilidade foi o alvo principal da pesquisa, quando pretende-se levantar junto aos produtores rurais - agricultores familiares - quais têm sido os efetivos ganhos econômicos e, principalmente, sociais, advindos dessa aliança cozinheiro-produtor. Os criadores do Mistura, com sua proposta de resgatar a cultura gastronômica e com a preocupação com o desenvolvimento do país, parecem estar conseguindo alcançar esses objetivos. É o que está sendo investigado no presente momento. Após o levantamento teórico relativo ao tema proposto, o trabalho de campo se realizou junto a comunidades de produtores rurais participantes do Festival Gastronômico Mistura.E os resultados demostraram que a desigualdade entre homens e mulheres cada vez é menor em matéria de produção agrícola sustentável e desenvolvimento rural, o Mistura tem sido importante ferramenta de inclusão social e consequente desenvolvimento das mulheres agricultoras no Peru.

Palavras-chave: Agricultura. Turismo. Gastronomia. Mulher. Sustentabilidade.

BIBLIOGRAFIA

MALAVER, ALEXANDER - Festival Gastronômico como alternativa para o turismo - análise do Mistura de Lima/Peru, Trabalho de conclusão do curso de Pós-graduação lato sensu em Gestão de Negócios em Turismo. Centro de Excelência em Turismo. Universidade de Brasília, 2012.

MALAVER, ALEXANDER – Festival “Mistura” (Lima/Peru): Nova Janela De Inclusão dos DOS Agricultores Familiares pelo Turismo Gastronômico,.Trabalho de conclusão do curso de Pós-graduação lato sensu em Gestão de Negócios em Turismo. Centro de Excelência em Turismo. Universidade de Brasília, 2015.

KRIPPENDORF J. Sociologia do Turismo. 3 ed. São Paulo: Aleph, 2003.

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A hospitalidade e o acolhimento

Luciana Resende Borges Mestranda em Turismo - CET/UnB

Biagio Mauricio Avena Pós-doutor em Difusão do Conhecimento; Doutor e Mestre em Educação.

Docente do IFBA e do Mestrado Profissional em Turismo do CET/UnB

A hospitalidade é um campo de estudo bastante abrangente, podendo ser abordado de diversos aspectos, por ter interpretações, e até mesmo traduções distintas entre os

estudiosos deste assunto de várias partes do mundo. Da mesma forma, ocorre com os conceitos e definições de acolhimento, em que muitos acreditam distinguir de hospitalidade, outros que são sinônimos, mas ainda pode estar contido nos conceitos de hospitalidade ou conter tais conceitos.

Botterill (2004) faz considerações aos estudos sobre a hospitalidade, seu método científico-social de conhecimento. Afirma que numa relação entre os estudos da hospitalidade e

outros campos, a hospitalidade teve um olhar de baixo status, o que prejudicou seu entendimento científico; isso até a metade do século XX. Também considera a existência de

controvérsias nas pesquisas sobre a hospitalidade, pois acredita que os entendimentos por parte dos pesquisadores irão derivar a partir das hipóteses abordadas por eles. E estes

entendimentos são resultantes da questão epistemológica de “Como é possível entender o mundo social”, visto que a hospitalidade tem origem no mundo social. E frequentemente,

em determinados países, recai aos estudos dos negócios da hospitalidade, podendo assim, prejudicar os estudos intelectuais de uma ciência social crítica. Apenas a título de ilustração, pois não iremos embarcar nesta seara de discussões, muitos

autores utilizam a palavra hospitalidade para falar sobre hotelaria, como sinônimos. É a chamada ‘indústria’ da hospitalidade e/ou ‘administração’ da hospitalidade, que também engloba os restaurantes e similares. Acredita-se que o autor se refira aos negócios da hospitalidade fazendo alusão a esses aspectos.

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Ao falar sobre definições e conceituações de hospitalidade, depara-se com diversos enfoques e abordagens. Para ilustrar, seguem definições sobre hospitalidade. Uma troca humana contemporânea, assumida voluntariamente e concebida para aumentar o bem-estar mútuo das partes envolvidas mediante oferta de acomodação e/ou alimento e/ou bebida. (BROTHERTON, 2004, p. 202). Hospitalidade é a interação de seres humanos com seres humanos em tempos e espaços planejados para essa interação”. (CAMARGO, 2004, p. 85). Baptista (2002) traz uma reflexão sobre hospitalidade, a partir da obra Totalidade e Infinito do filósofo Emanuel Levinas, salientando que [...] surge justificada como um dos traços fundamentais da subjetividade humana na medida em que representa a disponibilidade da consciência para acolher a realidade do fora de si. Quando esta realidade se refere às coisas do mundo, à natureza ou aos objetos, a abertura de consciência pode traduzir-se em conhecimento, alimentação ou posse. Mas quando se refere à exterioridade testemunhada por outra pessoa, a abertura da consciência só pode afirmar-se como hospitalidade. Grinover (2007) ressalta algumas dificuldades em conceituar hospitalidade devido a sua

origem ter se dada desde que a humanidade se aglomerou em cidades. E acrescenta que a hospitalidade é prática exclusiva do homem, que se torna homem ao praticá-la.

Este autor também ressalta que a hospitalidade é um ‘fato social total’, conforme define Mauss citado por Grinover (2007) no qual a constituição da pessoa é indissociável da dádiva e das trocas. A história da hospitalidade é a história do homem, de seus encontros, de seus diálogos, e de tudo aquilo que ele tem criado para facilitar a aproximação com seu semelhante. Mesmo a hospitalidade se fazendo junto à história do homem, pode ser separada em dois parâmetros de comparação e estudo. O entendimento na cultura anglo-saxônica de hospitalidade, refere-se aos aspectos da

hospedagem, da alimentação, do entretenimento e dos eventos. A outra posição, mais antiga, histórica, clássica, ultrapassa o contexto claramente comercial para enfrentar o campo complexo da Sociologia e da Antropologia. Consiste ela em satisfazer as necessidades de base (fisiológicas) e as necessidades de segurança, de reconforto, de afeto, de pessoas que estejam se deslocando, por razões religiosas ou de saúde, por meio de uma relação gratuita. (GRINOVER, 2007, p. 21). Dando continuidade à sua reflexão, este pesquisador menciona a aplicação e atuação da

hospitalidade como doméstica, comercial e pública, em território urbano e rural e essa se manifesta e acontece a todo instante se adaptando e transformando-se ao contexto

histórico-social-temporal; como é o fato da “monetarização completa da cidade” o que pode excluir o indivíduo do seu contexto público e gratuito da relação de troca.

Estudar a hospitalidade torna-se um desafio por sua diversidade de abordagens e seus conceitos podem ser incipientes, tornando o entendimento deste vasto campo de estudo

insuficiente para o entendimento abrangente deste fenômeno, bem como de sua aplicabilidade e historicidade.

Na atividade turística e nos equipamentos turísticos o desafio é proporcionar experiências únicas ao indivíduo. Desta forma, a autora Alberto (2011) salienta que na relação social

turística existem dois seres humanos imbricados de realidades de vida e histórias diferentes; é o que Avena (2006) denomina de Contexto sócio-histórico-cultural do indivíduo; e para

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que o contato entre eles seja favorável é necessário mais do que apenas conhecimentos e habilidades na prestação dos serviços, depende de uma atitude positiva genuína, facilitada pelo que chamamos de vocação ou dom. Seria mais um processo da interrelação entre o acolhimento genuíno e o comercial. Kops (2014) faz reflexões sobre a hospitalidade como um paradigma que pode mudar as culturas sociais e ressalta questões da educação para a hospitalidade. Boff (2005) relaciona a hospitalidade com os mínimos cuidados humanos, em ser acolhido sem reservas. Neste contexto de abordagens sobre o acolhimento, aprofundaremos nos estudos realizados por Avena (2006, 2002), que tem por base as premissas dos ensinamentos do autor francês Gouirand (1994). Assim, para melhor elucidar os ensinamentos dos mesmos, segue o conceito de acolhimento. Um ato voluntário que introduz um recém-chegado ou um estranho em uma comunidade ou um território, que o transforma em membro desta comunidade ou habitante legítimo deste território e que, a este título, o autoriza a beneficiar-se de todas ou parte das prerrogativas que se relacionam com o seu novo status, definitivo ou provisório.

(GOUIRAND apud AVENA, 2006, p. 140).

Avena (2006) afirma que existem poucos estudos sobre o acolhimento no Brasil e, que há uma tendência a considerar o acolhimento sinônimo de hospitalidade, porém em seus estudos estabelece uma distinção entre os dois termos e ressalta que a hospitalidade está contida no acolhimento. Este autor também faz uma importante reflexão sobre o papel do indivíduo nos processos de acolhimento. É importante que quem acolhe observe o Outro com empatia, ou seja, o trate como gostaria de ser tratado e crie no ambiente de acolhimento, seja em qualquer equipamento turístico ou evento, condições para que se sintam realmente acolhidos.

O homem é um ser social e tem a necessidade de se relacionar com os demais. Quando estão em viagem, sejam por quaisquer motivos, negócios, férias ou lazer, essa necessidade de relacionar-se fica em evidência, por isso, as emoções humanas ficam sensíveis e por consequência a necessidade de ser reconhecido e acolhido torna-se latente ou até mesmo essencial. (AVENA, 2006). Ainda nas reflexões de Avena (2006) o acolhimento abrange uma gama de elementos consideráveis, tais como, o servir, receber, aceitar, recepcionar, reconhecer, cuidar... Estes

elementos são composições para ofertar um acolhimento de qualidade e tem por finalidade satisfazer as expectativas do cliente, do turista, do participante de um evento. Diante disso,

classifica-se em categorias principais e complementares do acolhimento, que serão explicitadas a seguir.

As categorias principais são: o reconhecimento, a hospitalidade e o cuidado. Reconhecimento: o viajante deseja ser reconhecido e respeitado como um ser

humano, ser desejado, quer ter a atenção de direito por causa do status que pensa possuir; e, a agressividade, a decepção, a insatisfação pode surgir quando tem que solicitar esta

atenção de quem o acolhe;

Hospitalidade: “é um conceito que histórica e antropologicamente acompanha o

homem e é o que transforma o estranho em hóspede” (p. 145). É a preocupação com o conforto e segurança do indivíduo. No turismo e em eventos, a hospitalidade vai além de

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meramente prestar um serviço, ela engloba características da hospitalidade antiga ou genuína, como o próprio “reconhecimento, proteção, aceitação que são talvez a sua essência e que são totalmente gratuitas por sua natureza subjetiva”;

Cuidado: consiste em nortear o indivíduo em seu primeiro contato, ofertando-lhe informações e serviços para tanto, e assim, se sinta recebido, localizado e confortável naquele ambiente de contato, naquele lugar de acolhimento. Importante salientar que as necessidades são individuais e de acordo com a personalidade e anseios de cada pessoa. Já as categorias complementares são: o sorriso, o local do acolhimento, o perfil e a formação do pessoal para o acolhimento.

Sorriso: é um elemento que torna o acolhimento personalizado, excluindo o processo robótico no contato social. “Ele diz, ele clama: ‘Eu estou feliz de ver/receber você’”. *...+ “Ele é a primeira resposta às expectativas do viajante, ele é o sinal de reconhecimento”. *...+ “sinal de ‘cuidado’”;

Local do acolhimento: a preparação do lugar de acolhimento também é fator preponderante no acolhimento, pois ser acolhido em um ambiente agradável faz a diferença

e remete a boas lembranças deste acolhimento, ou seja, indo para além das relações apenas entre os indivíduos e levando em consideração a relação do indivíduo com o espaço. Para

tanto, Avena (2006; 2002) elenca alguns aspectos para com o local de acolhimento que devem ser observados com afinco. Dentre eles pode ser citado: o equilíbrio das dimensões

do espaço do lugar de acolhimento, fazendo o equilíbrio entre espaço, homem e função. “A decoração, a iluminação, a higiene, a limpeza e a manutenção dos espaços, os odores, os

sons (a música), o conforto sensorial, representado por estímulos agradáveis”. *...+ “O ambiente tem sua linguagem”;

Perfil e a formação do pessoal para o acolhimento: deve haver uma interação entre o pessoal para acolhimento, o lugar de acolhimento e os desejos e expectativas do cliente.

Pois, “quem acolhe é parte integrante do espaço e da atmosfera onde ocorre o processo de acolhimento”. A pessoa que acolhe deve possuir algumas qualidades essenciais para exercer

tal tarefa, e pode ser mencionada a inteligência emocional, a elegância falada e gestual, e a disponibilidade para acolher o Outro.

Os autores sociais, ou seja, as pessoas que acolhem são agentes dos processos de acolhimento, e responsáveis pela transformação destes processos visando a qualidade dos

serviços nos setores de turismo. Para tanto, é necessário quebras de paradigmas conceituais sobre o tema acolhimento/hospitalidade e quebra de paradigmas também na aplicabilidade

dos processos, nos atos de receber o Outro e nos saberes necessários para fazer isto, ou seja, investir no conhecimento para o saber-fazer.

REFERÊNCIAS ALBERTO, L. C. F. R. (2011). O fator humano: fator de estratégia competitiva e segmentação do turismo. In: FURTADO, Silvana; VIEIRA, Francisco (Orgs.). Hospitalidade: turismo e estratégias segmentadas. São Paulo, Cengage Learning. AVENA, B. M. (2006). Turismo, educação e acolhimento: um novo olhar. São Paulo, Roca.

BAPTISTA, I. (2002). Lugares de hospitalidade. In: DIAS, Célia Maria de Moraes (Org.). Hospitalidade: reflexões e perspectiva. Barueri, Manole.

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BOFF, L. (2005). Virtudes para um mundo possível. Hospitalidade: direitos e deveres de todos. Vol.I. Petrópolis, RJ, Vozes. BROTHERTON, B; WOOD, R. C. (2004). Hospitalidade e administração da hospitalidade. In: LASHLEY, Conrad e MORRISON, Alison (Orgs.). Em busca da hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado. Barueri, Manole. BOTTERILL, D. (2004). Método científico-social do conhecimento da hospitalidade. In: LASHLEY, Conrad e MORRISON, Alison (Orgs.). Em busca da hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado. Barueri, Manole. CAMARGO, L. O. de L. (2004). Hospitalidade. 3ª edição. São Paulo, Aleph. GRINOVER, L. (2007). A hospitalidade, a cidade e o turismo. São Paulo, Aleph. KOPS, D. (2014). Hospitalidade: saberes e fazeres culturais em diferentes espaços sociais. Caxias do Sul, RS, Educs.

Um olhar diferenciado sobre o acolhimento e a hospitalidade paraos idosos na cidade de Brasília

Iraci Nascimento de Castro Mestranda em Turismo pelo CET/UnB

INTRODUÇÃO

A maturidade e a experiência dos idosos os dotam de uma sabedoria que lhes possibilitam ver muito além de nossos olhos e sentidos. Em seus passeios, em meio a suas horas de sonecas e seus momentos de brincadeiras e exploração, olham os monumentos turísticos de modo bem particular, pois viajam com a alma e sentidos refinados. Sua

serenidade alivia tristezas e nos preenchem com seus nobres e reluzentes olhares. Frequentemente se costuma ouvir que os idosos são incômodos, não escutam direito, tem

memória curta, porém conviver com eles pode nos trazer uma conexão íntima e profunda com o universo, que é assim que muitos deles se sentem em relação ao mundo do qual

fazem parte e podem desfrutar. Segundo Morin (1997, p. 147), “a velhice detém a autoridade da sabedoria; a passagem ao estado adulto se realiza segundo os ritos que asseguram uma verdadeira morte da infância e um nascimento da virilidade”.

Sabendo que os idosos adoram viajar, e a capital do País tem mais a compartilhar do que manchetes em jornais sobre importantes decisões políticas. O turista idoso ou mesmo o turista cidadão que vem a Brasília é recebido com um céu azul, aberto e limpo, que

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encobre modernos monumentos idealizados pela ilustre tríade: Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Athos Bulcão. Trata-se de uma cidade jovem que cresce em ritmo acelerado, e que compõe sua identidade cultural com influências de todas as regiões do País. Essa é uma das características que explica o fato de pessoas de diferentes local idades do país se instalarem em Brasília e se sentirem parte da cidade. Essa identificação talvez se deva ao fato de que a cidade propicia o acolhimento, que é, segundo os autores Avena (2006) e Boff (2005), um “fato social”, pois os sujeitos são seres soc iais, com dificuldade de viverem isolados.

ACOLHIMENTO E HOSPITALIDADE: UMA REFLEXÃO SOBRE A CIDADE DE BRASÍLIA

Ainda que se diga de Brasília que é uma cidade “fria”, o acolhimento acontece sempre a qualquer um que dele necessite, porque ele “abrange uma variedade de elementos, entre os quais o reconhecimento, a hospitalidade e o cuidado”. (AVENA, 2006, p. 138). E acolhimento implica oferecer os mínimos cuidados humanos, o que, de acordo com Boff (2005, p. 96), significa: “ser acolhido sem reservas, poder abrigar-se, comer, beber e descansar”. O cuidado é um sentimento que envolve ligação e zelo, tanto com a existência do outro quanto com a própria; um relacionamento dedicado no qual sentimentos são

transformados em comportamentos e reflexões.

Brasília foi planejada e construída de forma a permitir que, mesmo não sendo

morador, qualquer pessoa ou turista possam andar sem se perder. Aqui não há esquinas, como costumamos ouvir, no entanto há numeração das quadras do Plano Piloto que

facilitam a compreensão e a perambulação pela cidade. Além do mais, a organização também pode ser facilitadora do acolhimento, pois “a qualidade do acolhimento depende

tanto do ser humano quanto, também, da qualidade da organização dos serviços, do cuidado com que foram programados os detalhes, das condições nas quais trabalham os

responsáveis pelo acolhimento”. (AVENA, 2006).

Segundo Avena (2006, p. 142), “os homens dependem uns dos outros para sobreviver e nesse processo há sempre a presença do ato de acolhimento”. O acolhimento possui sua origem nas relações sociais e na cultura; e cada povo o concebe de forma diferente. Boff (2005), utilizando o termo “hospitalidade”, mas subentendendo-se nele o acolhimento, salienta sua importância como virtude para a sociabilidade humana, indispensável para um mundo melhor; e define acolhimento a partir do outro, conforme a seguir:

(1) O outro enquanto desconhecido que bate à porta; (2) o outro enquanto

forasteiro que vem de fora, de outras terras, com outra língua, outros costumes e outra cultura; (3) o outro enquanto classe social, um pobre econômico; (4) o outro como excluído

do convívio social, alguém em extrema necessidade, cansado e famélico; (5) o outro enquanto radicalmente outro [...]. A hospitalidade é incondicional e se estende a todos esses outros. (BOFF, 2005, p. 94).

O acolhimento abrange também a hospedagem, mas não se configura como

exclusivo a esta atividade. Ele se estende a outros setores de serviços e às práticas de sociabilidade, devendo marcar todas as etapas da atividade turística, do planejamento à execução. O turista sempre espera ser acolhido, “seja na infraestrutura da região/cidade, na

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construção dos equipamentos turísticos públicos e privados, na educação dos sujeitos que estarão direta ou indiretamente em relação com ele”. (AVENA, 2006, p. 146).

O acolhimento abrange também a hospedagem, mas não se configura como

exclusivo a esta atividade. Ele se estende a outros setores de serviços e às práticas de sociabilidade, devendo marcar todas as etapas da atividade turística, do planejamento à

execução. O turista sempre espera ser acolhido, “seja na infraestrutura da região/cidade, na construção dos equipamentos turísticos públicos e privados, na educação dos sujeitos que

estarão direta ou indiretamente em relação com ele”. (AVENA, 2006, p. 146).

Falar de Brasília é falar de amor, poema, poesia, tranquilidade, paz, harmonia e

divertimento. Brasília é uma cidade mágica e acolhedora, sempre de braços abertos esperando o próximo visitante. É impossível chegar a essa cidade e não s entir uma sensação

diferente, pois aqui são traçados os destinos do nosso país. Para nós, brasileiros, conhecer Brasília é praticamente uma obrigação. “o cuidado que aquele que acolhe dá à preparação e

ao embelezamento do espaço do acolhimento é tão significativo quanto a qualidade da relação que se estabelece no momento do acolhimento”. (AVENA, 2006, p. 149).

Brasília é uma cidade mágica e acolhedora, sempre de braços abertos esperando o

próximo visitante. É impossível chegar a essa cidade e não sentir uma sensação diferente, pois aqui são traçados os destinos do nosso país. Para nós, brasileiros, conhecer Brasília é

praticamente uma obrigação.

A hospitalidade se manifesta sempre quando estranhos se encontram, de forma

harmoniosa. Segundo Dencker (2003, p. 97), a hospitalidade “manifesta-se nas relações que envolvem as ações de convidar, receber e retribuir visitas ou presentes entre os indivíduos

que constituem uma sociedade”. E sobretudo os encontros que acontece quando viajamos são capazes de transformar profundamente o ser humano. E “todas as sociedades têm

normas que regulam essas relações de troca entre as pessoas, o que parece demonstrar que, de alguma maneira, elas atendem a uma ou mais necessidades humanas básicas”. (DENCKER

2004, p.189).

Há tantas coisas para se conhecer e viver, trazemos sempre novidades dentro de uma mala, notícias e curiosidades, fotos e vídeos que inspiram outras viagens. Uma viagem é antes de tudo um ato de cruzar cidades, países, fronteiras, desvendar e descobrir o desconhecido e ser livre para caminhar e desfrutar daquilo que espera o grande encontro. Não importa se a travessia é entre uma cidade e outra, cruzando cidades ou países. Não importa se a viagem será um roteiro para relaxar, para conhecer novas pessoas ou para uma

programação cultural personalizada. Para o sucesso de qualquer viagem, definir onde ficar é absolutamente essencial.

A motivação pode ser apenas algumas horas, dias ou semanas para um descanso, uma viagem em busca de conhecimento, aprendizado ou a tão sonhada com um grupo de amigos. São nesses momentos que deparamos com as diferenças, que somos cidadãos do mundo e, ainda assim, desconhecidos.

As histórias de hospitalidade são quase tão variadas quanto os cenários onde elas podem ser vividas. Algumas começam com aquele frio na barriga e o coração acelerado. Outras são construídas no convívio diário, nos pequenos carinhos e nas palavras escolhidas.

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A hospitalidade é uma relação de carinho, afeto e de história que será marcada por lembranças dos momentos vividos. “A hospitalidade então apresenta-se como experiência fundamental, constitutiva da própria subjetividade, devendo como tal ser potenciada em todas as suas modalidades e em todos os contextos de vida”. (BAPTISTA, 2002, p. 157-8).

Ao entrarmos em contato com outras cidades, culturas e histórias diferentes, artes,

igrejas, monumentos e gastronomia diferenciada, certamente nos tornamos mais ricos. E em relação aos idosos, a viagem também pode servir de instrumento de mudança pessoal e

transformação de vida, pois o experimentar, o conhecer, o ousar e o não se prender mais aos filhos, netos e noras são fundamentais para continuar o enriquecimento pessoal que

todos eles buscam nessa fase da vida. Sendo assim, “a hospitalidade é um dever que todos devem praticar e é um direito que todos devem gozar”. (BOFF, 2005, p. 110).

A relação dos idosos com a hospitalidade inclui os momentos inesquecíveis e partilhados com os outros, pois cada celebração sugere um recomeço, uma renovação e

certamente um tempero a mais nos momentos vividos. A celebração muitas vezes é feita de encontro, pois conhecer uma cidade é antes de tudo um ato de cruzar um país, desvendar

um desconhecido e ser livre para uma jornada de descoberta. E diariamente deparamos com idosos viajando, em grupos, em família, sozinhos.

Quando a celebração envolve o idoso, não podemos deixar de cuidar, e saber cuidar

implica aprender e respeitar o outro, cuidar de si e do outro e não esquecendo as limitações que o idoso possui. É por meio do sentimento que nós nos deixamos unir e manter vínculo. E

é esse sentimento e vínculo profundo que permitem outras formas de interação. A isso Boff chama de cuidado. O cuidado é mais do que um ato singular ou uma virtude ao lado das

outras. É um modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana se estrutura e se realiza no mundo com os outros. Melhor ainda: é um modo de ser-no-mundo que funda as relações

que se estabelecem com todas as coisas. (BOFF, 2002, p. 33).

Perceber o turista idoso ajuda a enriquecer qualquer viagem quando o enxergamos

com olhos generosos. A hospitalidade e o turismo junto é um elo para ser trabalhada junto à cidadania e às políticas públicas de inclusão, assim a tríplice obrigação de dar-receber-

retribuir (Mauss), aceitar o idoso como idoso, com suas diferenças. Assim,as mudanças nos levam a refletir não apenas nos limites do tempo que representam o ciclo de nossas vidas, mas em ciclos muito mais amplos, talvez infinitos, que dizem respeito a nossa própria sobrevivência enquanto espécie, enquanto seres capazes de sentir, agir e interagir de forma

solidária com o outro, com a natureza, com o desconhecido”. (DENCKER, 2003, p. 145).

Em relação à hospitalidade, Brasília é uma cidade acolhedora, uma inspiração para receber os idosos. Há nela uma beleza difícil de ser traduzida, que está presente nas várias

formas em que foi projetada. Em cada curva ou reta, há uma beleza a ser decifrada; andar pelas quadras de Brasília é deparar com o verde, árvores frutíferas, ipês coloridos. Qualquer

igreja, monumento ou até mesmo o céu imenso é um convite marcante.

Para entender a hospitalidade, é preciso descobrir suas nuances, seus valores reais e

simbólicos. Trata-se de um meio de aproximar as pessoas, mesmo sabendo que vivemos em um tempo frágil e complexo. No entanto, promover práticas de cidadania assentadas no valor da hospitalidade, como a tolerância, respeito, o bem querer, e o respeito com o próximo, é importante para os idosos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acolhimento, o turismo e a hospitalidade podem ser importantes aliados no

sentido de ampliar a inclusão social das pessoas idosas, pois proporcionam encontros, propiciam novas amizades e trocas de experiências e possibilitam a construção de uma nova

vida, desde que os princípios sociais, culturais e políticos aqui delineados sejam compreendidos, respeitados e colocados em prática por meio de estratégias coerentes com

esses princípios.

Podemos observar a importância do turismo na vida do idoso, pois conhecer lugares com amigos ou sozinhos traz benefícios para a socialização nessa etapa de vida. Nesta perspectiva, é preciso estimular mais os idosos para que os mitos sobre a velhice mostrem não como uma fase de decadência, mas como uma fase de novas conquistas. Além disso, é preciso ouvir o que o idoso tem como objetivo, para que se consiga obter sucesso na área de lazer e turismo e também para promover maior interação social, possibilitando, então, melhor qualidade de vida.

REFERÊNCIAS AVENA, Maurício Biaggio. Turismo, educação e acolhimento: um novo olhar. São Paulo: Roca, 2006. BAPTISTA, Isabel. Lugares de hospitalidade. In: DIAS, Célia Maria de Morais (Ed.). Hospitalidade: reflexões e perspectivas. Barueri: Manole, 2002. BOFF, Leonardo, Virtudes para um outro mundo possível: hospitalidade – direito e dever de todos. Petrópolis: Vozes, 2005 DENCKER, Ada de Freitas Maneti (Org.). Planejamento e gestão em turismo e hospitalidade. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. ______. Hospitalidade e mercado. In: IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da INTERCOM, Porto Alegre, 2004. Trabalho apresentado no NP 19 – Comunicação, turismo e hospitalidade. MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo – 1 NEUROSE. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.

A importância da regulamentação da profissão de turismólogo e a criação de um conselho profissional

Deryk Vieira Santana

Turismólogo e Gestor Cultural Giovanna Adriana Tavares Gomes

Mestra em Turismo e Hotelaria pela Universidade Vale do Itajaí – SC Victória de Melo Leão

Mestranda em Ambiente e Sociedade (PPGAS/UEG)

RESUMO

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O turismo é hoje a atividade econômica que mais cresce no mundo todo, porém além de seus impactos financeiros, o turismo também provoca impactos sociocultura is e ambientais, nesta perspectiva o profissional que atua com o turismo tem interferência direta na vida da população autóctone e do turista. Torna-se uma profissão a qual é imprescindível formação especifica para ser exercida de forma a trazer impactos positivos para todos os envolvidos. Este artigo pretende discutir a importância da regulamentação da profissão de turismólogo e a criação de um conselho profissional para a categoria. Palavras-chaves: Turismólogo. Turismo. Regulamentação. Conselho de classe.

INTRODUÇÃO A ausência de regulamentação e de um conselho de classe gera uma lacuna no mais

amplo aspecto, da economia ao sociocultural, levando em conta a abrangência da atuação dos profissionais do turismo na sociedade.

Torna-se cada dia mais, importante discutir a necessidade de criação de um conselho

regulamentador da atividade turística, regulamentação de quem de fato é turismólogo e a necessidade de sua formação acadêmica, para assim avançarmos na exposição de qual sua

real contribuição e importância para a comunidade. O processo de evolução do turismo levou à identificação de sua abrangência, uma

atividade que concilia economia e ecologia, avanço e preservação tanto do meio ambiente quanto cultural, reconhecendo assim as práticas e valores das comunidades tradicionais e população autóctones com especial atenção as minorias. (Código Mundial de Ética do Turismo, 1999).

Salienta-se que o profissional do turismo tanto assalariado quanto autônomo tem o direito e o dever de adquirir formação adequada para atender os preceitos que estão

dispostos no Código Mundial de Ética do Turismo, para fomentar e permitir o progresso da produção cultural e não trabalhar para seu empobrecimento ou deformação.

Muitas outras resoluções e normativas foram criadas para fortalecer o turismo e os profissionais que atuam na área. A Deliberação Normativa (DN) Nº 390 de 1998 da EMBRATUR regulamenta que projetos encaminhados para esta autarquia tratando de financiamento ou incentivo só serão aceitos se acompanhados de parecer de técnicos de profissionais formados em Turismo.

Outra DN criada em 2002, N° 431, reforça a já existente DN N° 390, ressaltando que os Bacharéis em Turismo devem ser cadastrados na EMBRATUR para atenderem os

requisitos, aponta ainda para a criação dos Conselhos Municipais de Turismo para captação de recursos federais juntos a esta autarquia.

Outros autores apresentam a necessidade de se aprofundar cada dia mais o debate sobre a regulamentação da profissão, apresentando motivos tanto históricos como práticos

para defender essa tese. Entre eles destacar-se Matias (2002, p. 32-33)

A regulamentação da profissão de Turismólogo é importante porque dará:

- condições de defesa jurídica para assuntos trabalhistas; - defesa, e certa reserva de mercado para os Turismólogos sem destacar a questão do

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provisionamento (segundo Lei Federal); - identidade profissional reconhecida pelo Ministério do Trabalho;

- caminhar para a organização política e sindical em prol da categoria; - reconhecimento da importância dos Turismólogos.

Ainda destaca que para que qualquer profissão seja regulamentada necessita-se

amplo debate politico, e não apenas dentro da categoria, mas por membros das instituições de poder como Câmara Federal, Senado e Governo Federal.

A legislação vigente em muitas partes se contradiz, apontando que o turismo deve ser exercido por profissionais devidamente capacitados, demonstra os danos que podem ser

causados à sociedade pela atividade, mas nega a regulamentação da categoria alegando que a mesma em seu exercício profissional não causa dano à sociedade.

O objetivo desta análise foi confrontar dados encontrados na pesquisa feita para revisão bibliográfica para comprovar a necessidade da regulamentação da profissão de turismólogo, o reconhecimento de quem é esse profissional e a criação do conselho profissional.

A metodologia adotada para construção deste resumo foi analise documental: legislação da área (LGT), Constituição Federal, Código Mundial do Turismo, livros e artigos de

professores da área, bem como discursos de profissionais conceituados que atuam na área. O turismo que hoje é a atividade econômica que mais cresce no mundo, está cada dia

mais no centro dos debates. Em nossa constituição federal consta que o turismo deve ser

“fator de desenvolvimento social e econômico”, porém para ser explorado de maneira sustentável não só para o meio-ambiente como para toda a comunidade, é preciso que o

sujeito promotor ou intermediador dessa ação esteja preparado no mais amplo aspecto para realizá-la. Educar o turista sobre a importância do atrativo ao qual este visita, corrobora com

a conservação do mesmo, perpetuação e expansão do turismo e o turismólogo desempenha um papel primordial, por ser capacitado para desenvolver com excelência essa função, mas

também trabalhando para a conscientização da cadeia produtiva sobre a relevância do turismo e a importância da preservação do patrimônio seja ele material ou imaterial.

(RUSCHAMAN 1989). A atividade turística trabalha diretamente com a vida das pessoas, seja em seu

planejamento ou execução e pode afeta-las direta ou indiretamente, em diferentes graus, tanto na degradação do espaço físico, danos provocados a patrimônios históricos,

descaracterização de culturas tradicionais ou mesmo colocando a vida do turista em risco. Por ser uma atividade tão vasta, todos os documentos que são considerados bases

para o segmento, apontam que é necessária formação e qualificação para lidar com a diversidade inerente ao turismo. É uma contradição que o profissional que se forma para

atuar nesta área, que possui no currículo não só a parte técnica como também a cultural, antropológica e ambiental seja relegado e não tenha o devido reconhecimento do sua importância no desenvolvimento da sociedade. Para mudarmos a realidade enfrentada pelos turismólogos, a falta de reconhecimento, regulamentação e valorização, é preciso que a transformação se inicie no ensino, como apontado por Beni, 2001. Devido a uma expansão

despreocupada com a qualidade do ensino temos profissionais no mercado e na academia que não tem conhecimento aprofundado sobre o segmento. Muitos dos professores atuantes hoje nas universidades e faculdades nos cursos de turismo, hotelaria e eventos não

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são formados ou tem qualquer relação com a atividade. Dificultando a compreensão dos alunos acerca do real papel do turismólogo, não apenas na parte técnica, mas principalmente da função social que deve ser desempenhada por este. A carência de docentes especialistas no segmento turístico pode ser atribuída por ser uma ocupação relativamente recente se comparada a outras que são vistas socialmente como fundamentais à sociedade, como o caso de médicos, advogados e engenheiros. O oficio do turismólogo ainda é visto como apenas o facilitador de viagens e lazer, podendo então ser substituído tanto no ambiente do mercado quanto no educacional por outros profissionais. (RUSCHAMAN 1989)

É evidente que devido a seu caráter multidisciplinar, que tange as áreas mais diversas do conhecimento, a equipe que forma o profissional em turismo deve ser diversa em seu conteúdo de aperfeiçoamento como destaca Ansarah (2004). Entretanto, os que se dispõe a lecionar para este curso devem levar em conta que este não é um setor estático e sim um campo dinâmico que exige constante aperfeiçoamento, faz-se necessário possuir domínio não apenas de sua área isolada e sim do turismo em sua totalidade.

Não é possível atender o que está previsto tanto no Código Mundial de Ética do

Turismo, que é um documento que deve nortear a execução e os projetos turísticos em todo o mundo, e a LGT sem que os profissionais envolvidos nestes pontos tenham formação

adequada e uma entidade que regule sua atividade. De acordo com a pesquisa sobre as entidades existentes no segmento encontra-se uma gama muito grande de associações patronais se comparadas à quantidade de instituições que defendem os interesses dos trabalhadores da classe. Essa tendência se confirma na afirmação de Ruschaman (1989), o mercado existe a mais tempo do que os cursos de turismo e ao contrário dos empresários, que se associam em torno de seus interesses com maior facilidade, os que atuam na ponta da cadeia tendem a ter maior resistência à organização. Santos conclui que isso se deve a uma crescente aversão à politica, não apenas a partidária, que atende a interesses das

classes dominantes que ganham com a despolitização da classe trabalhadora. Por ser um setor que acaba por abrigar muitos aventureiros como salienta

Ansarah(2004), a dificuldade de se criar uma identidade de classe é ainda maior, pois muitos dos profissionais que atuam não têm formação na área, e parte dos que têm a formação em turismo ou congêneres foram formados por professores que não eram turismólogos.

Profissões que possuem conselho conseguem disciplinar o exercício da função, podendo assim reduzir os impactos causados por seus profissionais que eventualmente

possam cometer qualquer dano à sociedade, pois os mesmo terão sua atuação fiscalizada por uma comissão que visa garantir o bem-estar e manter a credibilidade da profissão

perante a sociedade. Quanto mais presentes e atuantes os profissionais, no sentido de fortalecer a

atuação de sua entidade representativa, maiores são os benefícios que desta podem advir podendo inclusive interferir, através de relatórios, negociações e mobilizações, no currículo

dos cursos da área, tornando assim, os conteúdos ministrados em sala de aula, mais condizentes com a realidade encontrada sem se esquecer da formação humanística

necessária. A alteração da legislação vigente, a lei 12.591 de 2012, que reconhece a profis são,

mas não a regulamenta, ou sua revogação e a criação de uma que além de regulamentar a profissão também trate sobre o conselho profissional, só se torna possível a partir do

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momento em que a classe em questão se envolve em torno deste objetivo e para isso é necessário que os turismólogos comecem a pautar e discutir essa possibilidade.

É possível que consigamos que a profissão do turismólogo seja regulada e o conselho profissional criado, mas para que isso ocorra ainda temos muito que avançar, na academi a, na pesquisa, na literatura especifica, no mercado, na organização da categoria e sua relação com a comunidade.

Desde a década de 70 é travada a luta pelo reconhecimento da importância do turismólogo enquanto ator social e não apenas enquanto técnico, mas como sujeito de um setor fundamental de atividade no mundo de hoje.

O fato das entidades associativas patronais do setor turístico ser em maior número e mais influentes do que a entidade do segmento dos trabalhadores interfere diretamente na posição do poder público sobre este projeto. Portanto o acúmulo de forças que é necessário para esse importante passo para o turismo, não depende exclusivamente da comiseração, ou comoção dos mandatários e sim do fortalecimento da identidade de classe entre os turismólogos e sua respectiva imagem perante o povo.

É imprescindível travar essa disputa com os setores contrários a essa

regulamentação, aumentar a literatura sobre o assunto para qualificar o debate, para que este deixe de ser superficial e possa ser feito de maneira cientifica, embasada em dados

concretos e não apenas em aspirações ou tendências do mercado. Para que a regulamentação da profissão de turismólogo e a criação do conselho saia

do papel. É indispensável que além de aprofundar este debate proposto por este artigo, se faz necessário que tenhamos articulação politica, capacidade de negociação, organização enquanto classe profissional e unidade para defender nossas pautas, que tangem qualidade de vida de todos e todas.

Esse resumo não se trata de reserva de mercado, e sim de garantia de direitos fundamentais aos impactados pelo turismo, ou seja, é uma questão de bem-estar, de

conservação do patrimônio e de respeito com o turista e com a população autóctone. REFERÊNCIAS

ANSARAH, Marilia Gomes dos Reis (org) (2004). Turismo: como aprender, como ensinar. v. 2. São Paulo: Ed. Senac.

BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: SENAC, 2001.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em 22 de junho de 2014.

BRASIL. DELIBERAÇÃO NORMATIVA Nº 431, DE 12 DE AGOSTO DE 2002. Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/turismo-e-hotelaria/artigos/4286/deliberacao-

normativa-n-431-de-12-de-agosto-de-2002#ixzz3FzbOiPNH. Acesso em 1 de julho de 2014.

BRASIL. Lei n° 11.771 de 17 de setembro de 2008. Disponível em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12591.htm. Acesso em 22 de junho de 2014.

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BRASIL. Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO DELIBERAÇÃO NORMATIVA Nº 390, DE 28 DE MAIO DE 1998. Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/turismo-e-hotelaria/artigos/4281/deliberacao-normativa-n-390-de-28-de-maio-de-1998. Acesso em 1 de julho de 2014.

MATIAS, Marlene (2002). Turismo: formação e profissionalização (30 anos de história)

Barueri, SP: Manole.

OMT (1999). Código Mundial de Ética do Turismo. Chile.

RUSCHAMAN, Doris Van de Meene (1989). O planejamento da carreira do bacharel em turismo. In: Capacitación turistico. Su aporte a los sectores publico y privado. Buenos Aires: Amfort/Ciet.

Hospitalidade, imigração e cidades: análise do processo de elaboração de uma política pública de acolhimento de deslocados, em São Paulo

Ana Paula Garcia Spolon Professora Adjunta do Departamento de Turismo da UFF

Fábia Trentin Professora Adjunta do Departamento de Turismo da UFF

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Os processos sociais de produção de espaços de hospitalidade e de promoção da hospitalidade dos espaços urbanos, profundamente influenciados pelos fluxos migratórios contemporâneos, têm orientado, em alguma medida, o desenho de um conjunto de mecanismos legais que lhes sirvam de suporte. É nesse sentido que as cidades vêm desenhando normativas que evidenciam seu posicionamento mais ou menos favorável ao acolhimento de imigrantes e refugiados, em reação aos movimentos mundiais de reflexão sobre o maior e mais complexo fluxo internacional de mobilidade humana depois da Segunda Guerra Mundial e aos desafios inerentes à prática de acolhimento de deslocados, nos espaços urbanos.

Esta pesquisa, parte de um projeto mais amplo e que funciona em fluxo contínuo, tem como objetivo analisar e comentar criticamente o processo de construção e o documento final da Lei Municipal 16.478 de 07 de julho de 2016, que institui a Política Municipal para a População Migrante, instrumento legal dedicado ao acolhimento de deslocados na cidade de São Paulo. Esta avaliação crítica se faz a partir do referencial teórico

sobre hospitalidade reunido, nas últimas décadas, por um conjunto de pesquisadores de diversos países e cuja matriz conceitual é obra de Marcel Mauss, Essai sur le don: forme et

raison de l´échange dans les sociétés archaïques (publicada originalmente na revista francesa Année Sociologique, em 1924), ensaio no qual o autor apresentou sua teoria da dádiva e estabeleceu os elementos fundamentais do processo de interação social dos indivíduos: os atos de dar, receber e retribuir (MAUSS, 1968).

O trabalho tem seu sentido e significado dados pelo reconhecimento sobre a relevância dos processos contemporâneos de construção de cidades inclusivas, da busca pela condição de cidadania universal plena, da defesa dos direitos internacionais da pessoa e dos esforços mundiais pela promoção da paz e integração social e cultural dos povos. Por

trás desses princípios e valores, está a ideia de cosmopolitismo, como base para a construção de uma sociedade mais plural, organizada de forma justa e igualitária

O fenômeno da hospitalidade, tratado deste a perspectiva social-antropológica, tem sido cada vez mais amplamente estudado, não somente por estudiosos da área de turismo, mas também em áreas como a das ciências jurídicas, das ciências políticas, da antropologia ou da pedagogia, entre muitas outras.

No sentido da transversalidade do tema e do atendimento ao desafio de

compreensão da dinâmica contemporânea dos deslocamentos humanos (dinâmica que associa os temas da hospitalidade, da gestão dos espaços urbanos e das políticas públicas),

mostra-se fundamental compreender como as cidades vêm se estruturando para acolher deslocados e garantir a eles acesso aos direitos que lhes sejam fundamentais.

Temos nos dedicado, nos últimos anos, ao estudo da hospitalidade em contextos contemporâneos, por uma abordagem genérica abaixo da qual estão várias vertentes

temáticas exploradas em estudos e projetos diversos, de natureza específica. Um desses projetos, realizado durante o ano de 2015 em nível de Iniciação Científica,

mapeou as vagas de alojamento temporário cedidas exclusivamente a refugiados e imigrantes, em Centros de Acolhida públicos, localizados na cidade de São Paulo.

Durante a realização deste trabalho é que percebemos que as iniciativas conduzidas pela Prefeitura Municipal de São Paulo no que tange a deslocados internacionais têm sido,

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no contexto brasileiro, pioneiras e inovadoras. O poder público local tem não somente desenhado planos, programas e projetos associados a imigrantes e refugiados, como também orientado a proposta do município de posicionar-se no interior de uma rede internacional de cidades-refúgio.

Para fortalecer esta proposta e garantir que ela se realize, em longo prazo, a PMSP trabalhou, nos últimos anos, em um processo de construção de um instrumento legal voltado para a assistência social gratuita a deslocados que saem de seus locais de origem em razão de grave violação de direitos humanos e da supressão da liberdade.

A ideia de cidades de refúgio está no Velho Testamento e descreve lugares para onde o autor de um homicídio não-intencional ou pessoas acusadas falsa ou injustamente fugiam, para dispor de proteção contra seus perseguidores. As cidades de Quedes, Ramote, Golã, Bezer, Siquém e Hebron acolhia essas pessoas e entregava aos seus anciãos o julgamento sobre o ato do perseguido que, se julgado inocente, era declarado livre do perseguidor, podendo permanecer na cidade até o fim de sua vida, ou até a morte do sumo-sacerdote.

Em termos contemporâneos, a cidade refúgio é a que abre as portas para o deslocado, garantindo-lhes direitos políticos e administrativos de cidadania, além de acesso

à saúde, educação e moradia e mecanismos de sobrevivência socioeconômica. Esta investigação, de natureza qualitativa e fundamental, carrega a intenção de

colaborar para a identificação de mecanismos políticos e jurídicos que subsidiem a reflexão sobre o tema da hospitalidade dada ao deslocado em espaços urbanos e à construção de políticas públicas de acolhimento de imigrantes e refugiados, nas cidades.

O estudo trata a cidade como o espaço físico e social onde se delineiam oportunidades de acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade, especificamente as que se movem por conta dos chamados deslocamentos forçados. Considera, para tanto, uma das maiores contradições que envolvem os processos sociais de acolhimento de deslocados forçados nas cidades: o fato de que o direito de ir e vir (de natureza filosófica)

não implica em uma obrigação de receber (ato jurídico e administrativo que advém da condição de soberania dos Estados).

Por isso se faz necessária, nas cidades que se reconhecem como comunidades de acolhida, a disposição de leis que garantam, em longo prazo, a condução e a efetividade deste projeto público de acolhida do outro.

Lembremo-nos que havia, no fim de 2015, cerca de 240 milhões de deslocados espalhados por todo o mundo, entre esses 60 milhões de deslocados forçados, 20 milhões

refugiados e 10 milhões apátridas5 (UNHCR, 2015). Atualmente, segundo ZYLBERKAN (2015), 5 Que se registre a distinção entre as categorias de migrantes (e imigrantes), refugiados, solicitantes de refúgio

e apátridas. Para o ESPON (2015), o migrante é a pessoa que se desloca entre fronteiras nacionais e o imigrante

aquele que se desloca entre fronteiras internacionais, ambos com a intenção de residência temporária ou permanente. Esta categoria engloba pessoas com autoriza ção de residência, migrantes, solicitantes de asilo e imigrantes i legais. O termo é genérico e faz referência a deslocados em geral. Refúgio é o instituto de proteção internacional dado por um Estado, em seu território, para uma pessoa que corre riscos em seu país de origem

e/ou residência, por fundado temor de perseguição por raça, religião, nacionalidade ou opinião política. Solicitantes de refúgio são exatamente as pessoas que formalmente requerem este instituto de proteção. Se o refúgio ou asilo é negado, a pessoa tem a obrigação de deixar o país. Se não o faz, torna -se um imigrante ilegal. São apátridas pessoas que tiveram sua nacionalidade destituída ou suspensa temporariamente ou que

nasceram em territórios que não constituem Estados. A apatridia é um estado temporário. A migração temporária envolve todos que estão temporariamente fora de sua terra de origem, entre eles os refugiados e outras categorias de deslocados, como os expatriados, os nômades, os apátridas e até os turistas.

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dos 20 milhões de refugiados pelo mundo, cerca de 8.500 estão no Brasil e por volta de 3.000 estão na cidade de São Paulo, o município brasileiro que mais recebe refugiados. No país, sírios, angolanos, colombianos e congoleses são os povos mais presentes. Figura 1: The flight of refugees around the globe

Fonte: New York Times (2015)

É nessa perspectiva, de garantia de direitos, em longo prazo, que gestores públicos

de cidades que se posicionam como comunidades de acolhida buscam construir um

conjunto de instrumentos legais dedicados ao acolhimento de deslocados. A matriz internacional desses instrumentos legais é o Estatuto dos Refugiados de

1951, que vigora desde 1954 e sobre o qual estão assentados os protocolos, mecanismos, acordos e tratados internacionais que definem formas de acolhimento e direitos dos

deslocados. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) destaca que “A Convenção consolida [...] instrumentos legais internacionais relativos aos refugiados e

fornece a mais compreensiva codificação dos direitos dos refugiados a nível internacional”, estabelecendo “padrões básicos para o tratamento de refugiados – sem, no entanto, impor

limites para que os Estados possam desenvolver esse tratamento” (ACNUR, 2015). A Convenção de 1951 foi complementada pelo Protocolo de 1967, assinado em Nova

York em 31 de janeiro. Juntos, ambos são os mais importantes instrumentos internacionais associados à proteção dos refugiados. A Organização das Nações Unidas (ONU) busca

sensibilizar os Estados para cumprimento dos termos descritos nesses instrumentos e incorporação dos termos gerais à sua legislação interna. Atualmente, 147 países são

signatários de ambos os instrumentos. Nacionalmente, há determinações legais internas, tidas como soberanas. Por isso, o

ACNUR não pode obrigar nações a acolher deslocados, embora possa conclamar o

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compromisso ético dos países signatários e apelar para uma postura humanitária dos países não-signatários. O Brasil é signatário da Convenção de 1951 e do Protocolo de 1967, além de dispor de instrumentos legais próprios, dedicados ao acolhimento de estrangeiros e imigrantes (o Estatuto do Estrangeiro - Lei 6.815, de 1980 e a Lei Nacional de Refugiados - Lei 9.474, de 1997).

No âmbito da municipalidade, a cidade de São Paulo é pioneira no desenho de políticas públicas de acolhimento de migrantes. As ações locais começaram a ser definidas em 2013, quando, no âmbito da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, foi criada a Coordenação de Políticas para Migrantes (CPMig), responsável pelo desenvolvimento e implantação de políticas públicas dedicadas a imigrantes.

O reconhecimento da relevância dos fluxos migratórios contemporâneos e dos deslocados como sujeitos de direitos acabou por orientar iniciativas no sentido da construção de uma política pública municipal de hospitalidade e para a construção de “uma cidade que aponte para a plena cidadania universal” (PMSP, 2015).

Este reconhecimento transformou-se em mecanismo legal no último dia 07 de julho de 2016, com a sanção, pelo prefeito Fernando Haddad, da Política Municipal para a

População Migrante (Lei Municipal 16.478), durante a abertura o VII Fórum Mundial Social das Migrações, sediado em São Paulo. A Lei 16.478/2016, segundo o prefeito Fernando

Haddad, blinda a cidade de discursos raivosos contra imigrantes e “institucionaliza programas importantes do governo, que agora passam a ser política de Estado. Ou seja, independentemente do governo, todo prefeito terá que observar o que está escrito na lei” (BOEHM, 2016).

Em que pese ser uma iniciativa pontual no contexto brasileiro, a Política Municipal para a População Migrante de São Paulo, resultado de um processo complexo de luta social, surge como uma ação digna de nota a reconhecimento, por poder ser considerada um embrião de uma política pública nacional de hospitalidade, ou como modelo para outras

municipalidades, no sentido da construção de ações de natureza humanitária. REFERÊNCIAS BOEHM, Camila (2016). Haddad sanciona lei que institui política municipal para população migrante. Agência Brasil, São Paulo (online). Disponível em:

http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-07/haddad-sanciona-lei-que-institui-politica-municipal-para-populacao, acesso em 23/07/2016

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO (2015). Coordenação de Políticas para Migrantes (CPMig). URL: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/migrantes/coordenacao/index.php?p=156223. Último acesso em 09/06/2016. UNHCR – United Nations High Commissioner for Refugees (2015). Figures at a glance – statistical yearbooks. Disponível em http://www.unhcr.org/figures-at-a-glance.html, acesso em 20/04/2016. ZYLBERKAN, Mariana (2015). Vida de refugiado. UOL TAB # 45 (online). Disponível em http://tab.uol.com.br/refugiados/, acesso em 12/04/2016.

Descartes da memória do turismo em Natal/RN

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Andrea de Albuquerque Vianna Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN

INTRODUÇÃO

O início do século XX já fazia surgir na cidade do Natal/RN uma forte busca pela renovação: havia um claro sentimento futurista presente nos círculos intelectuais da época, e também de décadas imediatamente anteriores, que deixavam à mostra os desejos e os interesses das classes hegemônicas; era preciso encontrar uma forma de transformar a monotonia cotidiana da pequena capital potiguar.

Segundo Cascudo (2011), naquele momento havia a cidade antiga e a cidade

progressista, na qual a classe intelectual, formada pelos filhos da burguesia, se empenhava para implantar as novidades trazidas pela modernidade. O objetivo era que a cidade se

desvencilhasse de sua feição provinciana e se aproximasse, tanto quanto possível, do padrão de centros culturais, como Europa, Rio de Janeiro e Recife, adotados como referência sob os

mais diversos aspectos. Essa propensão à contemporaneidade revela um desejo premente de se romper com

o passado. Sobre esta questão, Le Goff (1990, p.166) alerta que há que se considerar que “o passado só é rejeitado quando a inovação é considerada inevitável e socialmente desejável.

O autor também questiona e nos faz refletir sobre o momento em que as palavras “novo” e “revolucionário” se tornaram sinônimas de “melhor” e “mais desejável”, e de que forma isto

aconteceu. (op. cit., p.203) Costa (2015, p.116), citando Hennig (2007) destaca que: [...]se o patrimônio serve

como instrumento para rememoração de determinada cultura ou momento histórico, a sua ausência deliberada contribui também para a amnésia coletiva, num procedimento (...) de

proscrição do que não se quer perpetuar. ” Diante destas considerações, restam os questionamentos: Esta é a realidade que se

apresenta na capital potiguar? Haveria aí alguma justificativa para a desvalorização de

elementos significativos da história local - monumentos, fatos históricos, e até mesmo bairros? A despeito dos inúmeros exemplos sobre os quais poderíamos discorrer, optamos

por nos restringir àqueles voltados para a atividade turística, destacando questões relacionadas à aviação comercial, uma vez que esta teve papel significativo para o

desenvolvimento da atividade turística no Estado. OBJETIVO

Este artigo tem por objetivo promover uma reflexão acerca da relação memória/esquecimento estabelecida no cotidiano da cidade do Natal - que pode ser

estendida aos destinos turísticos em sua maioria -, destacando-se alguns elementos ligados à história da atividade turística local.

MÉTODO Este trabalho adota a pesquisa documental e bibliográfica para o levantamento dos

dados. DESENVOLVIMENTO

A história do turismo de uma forma geral está atrelada ao desenvolvimento dos meios de transporte. Em Natal/RN, este fator, associado ao desejo pela modernidade e ao contexto político e econômico do início do século XX, propiciou a utilização de uma

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infraestrutura criada para atender a outras demandas, para o desenvolvimento da cidade e do turismo.

Destaca-se, como parte central deste processo, a construção de aeródromos para voos comerciais por empresas alemãs, francesas e italianas. Tudo isso, na década de 1920, ou seja, antes da Segunda Guerra e da chegada dos soldados norte-americanos. Estes aeródromos, posteriormente tiveram suas estruturas desapropriadas pelo Governo brasileiro e adaptadas para atender às necessidades de defesa do País.

Cascudo (2010, p. 537) aponta para a frequência dos pousos na cidade. A despeito da intensificação do trânsito aéreo na década de 1940, aviões e hidroaviões começaram a fazer parte da vida do natalense 20 anos antes.

O então governador do Estado, sr. Juvenal Lamartine, entusiasta da aviação civil, contribuiu para trazer a aviação comercial para as terras potiguares: em 1928 fundou o Aeroclube do Rio Grande do Norte, no qual instalaria também uma escola de pilotagem, e construiu 25 campos de pouso no RN (Cascudo, 2010; Oliveira, 2014). Além disso, havia outros campos de pouso e/ou apoio à atividade: Hidrobase do Refoles, oficinas de montagem na Praia Limpa, e um atracadouro de hidroaviões.

Na década de 1930, diversas as empresas internacionais já operavam no Estado: CGA (Compaigne Generale Aeropostale); NYRBA S.A. do Brasil (New York-Rio-Buenos Aires)6;

Sindicato Condor Ltda; CAB – Companhia Aeronáutica Brasileira (Cascudo, 2010), (Oliveira, 2014). A infraestrutura do campo de pouso de Parnamirim, posteriormente utilizada como base americana durante a Segunda Guerra, foi construída pela francesa Latecoére (Air France), e pela italiana Ala Litoria (LATI) (Oliveira, 2014, P.81).

A história da aviação em Natal caminha paralelamente ao desenvolvimento da atividade hoteleira. Com a nova dinâmica urbana imposta pelo contingente de soldados norte-americanos e brasileiros – mais de dez mil -, vindos para Natal, surge a demanda da construção de um hotel maior e mais moderno, solicitação das elites locais, legitimada pelo

poder público. Assim nasce o Grande Hotel de Natal, construído em 1939, e que se tornou o centro das atividades sociais e políticas mais importantes da cidade. (Fig. 1). Figura 1: Grande Hotel

Fonte: Facebook/Natal como te amo

6A NYRBA S.A. do Brasil foi incorporada pela PAN AM e se transformou na Panair do Brasil, que funcionou de

1930 a 1965, quando teve a concessão de suas l inhas suspensa pelo presidente Castelo Branco.

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A pesquisa feita em jornais e publicações da época, apresentam a existência de diversos outros hotéis, classificados como de boa qualidade, no bairro onde se concentrava a elite natalense: o bairro da Ribeira. Todos eles relegados ao esquecimento.

Destacam-se os seguintes: Hotel Londres (O Nortista, 1892), Hotel Viterbino (Diário de Natal, 1895), Hotel Brazil (Diário de Natal, 1896), Hotel do Commercio (Diário de Natal, 1897), Hotel Tyrol (A República, 1916). Foram encontradas também referências aos hotéis Internacional, dos Leões e Avenida, “todos na Ribeira como sendo os melhores e mais luxuosos da cidade” (Lyra, 2009), (Nascimento, 2015).

A história se repete: no pós-guerra, em 1946 tem-se a reivindicação de empresas aéreas internacionais para a construção de um hotel que atendesse às novas demandas do mercado, sendo o governo interpelado pelas companhias British South American Airways e KLM Royal Dutch Airlines que apresentavam propostas de voos entre Europa, África, América do Sul e Caribe. Para atender a essa nova solicitação do mercado, foi construído em 1965, no governo Aluísio Alves, o HIRM - Hotel Internacional Reis Magos (ver Figuras 2 e 3, tendo como cenário político a ditadura militar. Este foi o primeiro equipamento hoteleiro internacional local, voltado para o mar, um marco para o turismo, além de gerador de

mudanças significativas no uso e expansão da cidade.

Figura 2: Hotel Internacional Reis Magos

Fonte:http://www.lugaresesquecidos.com.br/2014/02/hotel-internacional-dos-reis-magos.html

Figura 3 – HIRM - área de lazer

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Fonte:http://www.lugaresesquecidos.com.br/2014/02/hotel-internacional-dos-reis-magos.html

O HIRM, exemplo da arquitetura modernista no Estado, é responsável por alçar Natal a um lugar de destaque no cenário turístico internacional, um quadro resultante das

políticas de desenvolvimento adotadas naquele período. O hotel contribuiu para o aumento do fluxo de pessoas e incrementou o comércio na orla. Além disso, gerou melhorias significativas na infraestrutura urbana, promoveu a valorização do solo, além de fomentar s economia do RN (Veloso e Bentes Sobrinha,2002). A dinâmica da “modernização”, no

entanto, continuou: Natal optou pela renovação, voltando-se para o turismo que se anunciava com a implantação do parque hoteleiro da Via Costeira, nos anos de 1980, abrindo mão do antigo hotel e negligenciando a área da cidade que foi seu cartão-postal - a faixa costeira onde se localiza o HIRM, que abriga três praias urbanas referência na história do turismo local: Praia dos Artistas, Praia do Meio e Praia do Forte.

Diante deste quadro, percebe-se que o resgate da história do turismo e da aviação em Natal, apesar de eventuais promessas, tem pouca ação efetiva. Poucas são as referências ou informações acerca dos hotéis citados neste artigo, apesar de sua importância para a cidade. O prédio onde funcionou o Grande Hotel de Natal ainda existe, sofreu alterações em sua construção e tem outro uso. O HIRM, apesar de resistir, não teve a mesma sorte: apresenta-se em estado de abandono, tem seu valor histórico desconhecido pela população

e vive sob constante ameaça de demolição. É a história que se perde em meio a interesses diversos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de apropriação do natalense em relação à sua cidade, alimenta e é alimentada

pela necessidade do novo. O resultado disso se constata na perda de tantas histórias de vida, espaços de trabalho, aprendizado, convivência e lazer, enfim, parte da vida cotidiana,

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abatida pelo abandono, negligência e desrespeito. A pergunta inicial sem mantém: Como é possível que uma cidade se desenvolva alijada de suas memórias, sem envolvimento com seu passado, permitindo que momentos e fatos importantes se percam no tempo? O caminho percorrido até aqui, seja pela pesquisa nos jornais do final do século XIX ao início do século XX, seja por meio da pesquisa bibliográfica aponta que o desprendimento do natalense em relação à sua história tem relação estreita com a necessidade de se reconhecer como cidade moderna, similar aos grandes centros urbanos. Este comportamento gera o movimento constante de se desvincular do antigo em busca do novo, estabelece como padrão a ruptura com o passado, associado ao que há de mais atrasado e, portanto, digno de descarte.

Considerando os elementos apresentados, é correto observar que esse desejo pelo novo interfere na percepção da população quanto a seus valores patrimoniais, sua cultura e até mesmo sua identidade. É toda uma história que se perde em meio a interesses político-econômicos que beneficiam a uma pequena parcela da sociedade, e que, no entanto, trazem consequências para toda a população. É importante destacar que essa falta de apropriação de sua história impacta diretamente a atividade turística, restrita à superficialidade das

paisagens idealizadas ou a áreas de confinamento como nos diz Yázigi (2003), por “não haver” o que mostrar. Uma carência de elementos histórico-culturais, matéria-prima do

turismo, resultante desse descarte Partindo desta perspectiva, podemos retomar a discussão acerca de valorização e

esquecimento, lembrando que, como sugere Costa (op. cit.) esta vem acompanhada de elementos contraditórios que ordenam os territórios, como preservação e mercantilização, valorização e precarização, uso e troca.

Este artigo buscou refletir sobre a postura do natalense quanto à importância de elementos do passado, curiosamente valorizado quando se trata dos atrativos turísticos europeus. Natal, contraditoriamente, assume seu papel na história como cidade do

esquecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASCUDO, Luís da Câmara. (2010). História da cidade do Natal. 4. Ed. Natal, RN: EDUFRN. COSTA, Everaldo Batista. (2015). Cidades da patrimonialização global: simultaneidade totalidade urbana – totalidade-mundo. São Paulo: Humanistas, FAPESP.

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Mosaico sertão Veredas-Peruaçu: reflexões sobre a construção social de um destino turístico literário

Adriano T. Menezes

Mestre em Turismo, pelo CET/UnB Eloisa P. Barroso

Doutora e Professora do Programa de Mestrado em Turismo do CET/UnB

CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste estudo procurou-se tratar sobre as representações e a ressignificação do livro

Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa na construção social do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçuque ora indicam uma prática de turismo literário e uma forma de desenvolvimento

social das comunidades da região. O Mosaico está localizado nas regiões norte e noroeste de Minas Gerais e a sua idealização emanou-se da própria população local e de gestores de

órgãos governamentais e instituições de preservação ambiental. Concretizou-se em uma Proposta de Reconhecimento Oficial, elaborada pela Fundação Pró-Natureza (Funatura) e

tornou-se solução e alternativa para um desenvolvimento social e posteriormente de práticas do turismo. As ações de maior relevância concentram-se no município da Chapada Gaúcha -

MG, onde ocorrem eventos de confraternização dos povos do sertão e de ressignificação do livro Grande Sertão: Veredas. Os principais pontos geográficos citados na obra estão

supostamente localizados na área do município, incluindo o místico Liso do Sussuarão. Percebe-se que o manuseio das representações da obra pode gerar fluxo turístico à região e

ainda propiciar desenvolvimento social para as comunidades locais ao mesmo tempo em que o imaginário social entorno do Mosaico é construído. Procurou-se, através das narrativas

coletadas daqueles que compõem o cenário turístico literário e da observância do método de história oral, identificar e analisar fatores que corroboram com a construção social de um

destino literário.

A construção social do lugar turístico literário através de narrativas A gestão de destinos que têm como principal atratividade a literatura de um

determinado autor ou o cenário de uma obra literária já é bastante comum na Europa, à exemplo de Portugal, Espanha e Inglaterra. No Brasil, há alguns destinos que já utilizam a literatura como atrativo turístico, porém o conceito de turismo literário não é utilizado na criação de políticas públicas ou sequer são discutidas por agentes envolvidos com a prática

desta forma de turismo. O próprio imaginário social decorrente da apropriação da obra literária alcança status de real e torna-se parte do patrimônio cultural do local, onde

interagem visitantes e visitados e constitui-se desta forma um processo contínuo de

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ressignificação da narrativa da obra e do lugar enquanto destino turístico literário. A imaginação funciona como dispositivo dos símbolos constituintes deste patrimônio e através deles uma coletividade alcança a sua própria identidade e coerência social, libertando-se de restrições cotidianas. Conforme Baczko (1985), a apropriação dos símbolos reforça a dominação efetiva criando guardiões de um sistema de representações que ora traduz e legitima a ordem em qualquer grupo social. Ainda, tais guardiões podem restringir a produção de representações e do imaginário social deste grupo. Segundo o autor, este manejo pode intensificar e especializar a manipulação dos imaginários sociais, resultando em um cenário propício para o exercício de poder e despotismo estatal ou de instituições.Na perspectiva da dualidade e do sobre posicionamento dialético do real e do ilusório, Pesavento nos mostra que,

Mas - voltemos a insistir neste ponto, por considerar que esta é uma questão que ainda incomoda a muitos - o referente das representações sobre o mundo é sempre o real. . . . o imaginário – este sistema de ideias e imagens de representação coletiva que os homens constroem através da história para dar significado às coisas – é sempre um outro real e não o eu contrário. (Pesavento, 2006, 49-50).

Tendo o tempo histórico como elemento crucial na incorporação de um patrimônio criado, é importante salientar a presença da memória dos grupos sociais e culturais que

compõem o Mosaico. Acessar a memória dos povos do Sertão significa fortalecer os símbolos e o imaginário em torno das representações de Grande Sertão: Veredas e do universo (patrimônio) sertanejo ressignificado pelo turismo. Segundo Brusadin,

As representações do patrimônio e sua manipulação simbólica se inserem no processo identitário que está relacionado à percepção dos tempos históricos de uma sociedade. Ao nortear este aspecto, tornam-se importantes as questões da memória e da identidade para a compreensão da dinâmica patrimonial. O patrimônio histórico, em sentido amplo, faz parte de um processo maior, englobando a concepção de memória, graças à qual

os povos procuram estabelecer a sua identidade. (Brusadin, 2015, p. 73). A ressignificação da obra de Rosa e da cultura sertaneja é pertinente na região e

profere a singularidade da experiência turística no lugar, através das representações do livro e das ações de desenvolvimento turístico e social. Desta forma, a apropriação da obra literária indica a preservação da identidade social e o fortalecimento do turismo cultural, gerando renda para as comunidades ali inseridas.

A definição de lugar literário é primeiramente tratada por Herbert (2001) e informa

que este é socialmente construído e está diretamente ligado à uma obra literária através do autor ou da narrativa de sua obra.Ainda, segundo o autor, na construção de um lugar

literário não há garantia de que as mensagens que recorrem ao teor literário proposto irão ser lidas e interpretadas como se é esperado. Não é bastante o fato de que um lugar tenha

sido mencionado em uma obra literária para que exista potencialidade turística e que a região se torne um destino turístico. É notável o baixo engajamento do setor público e dos

agentes encarregados de propor e implementar ações que viabilizem a prática de turismo literário, especificamente no Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu. Contudo, percebe-se grande

empenho da população local e de instituições não governamentais em implementar ações que propaguem as tradições locais, atrações naturais e a condição de cenário de uma grande

obra literária. Quando percebida a aptidão literária como atratividade turística de um lugar, o transcurso da vida de um autor, ou o espaço real transfigurado em fictício na obra literária

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como elementos de um cenário socialmente construído, os atores envolvidos na gestão do destino devem estar cientes de questões que permeiam o turismo literário.

O turismo literário nasce de uma dimensão mais humanística do turismo. “Surge da prática de turismo cultural” (Squire,1996 como citado por Madadán e Rivas, 2012, p. 23) e entre todas as motivações, a busca pelo conhecimento é que incita a movimentação de turistas entre o espaço fictício e o espaço real. Simões (2009) propõe então que a relação turismo e literatura seja embasada na concepção de que a cultura possa ser tomada como um recurso utilizado para o desenvolvimento econômico, social e turístico. O patrimônio cultural apresentado pela literatura de uma certa região pode assim coincidir com o mesmo patrimônio buscado pelo turista. Na composição de um roteiro turístico que possa abranger o patrimônio histórico, cultural e ambiental das comunidades do Mosaico sem distinção, basta apropriar-se do itinerário de Riobaldo, que em movimentação geográfica evoca grande parte do patrimônio natural e cultural e das representações simbólicas que contribuem para o enriquecimento e permanência da memória coletiva do sertão mineiro. Viggiano mostra que,

O roteiro de Riobaldo “Tatarana” quase se confunde com o Sertão, é indefinido como

o próprio Sertão. Sendo ficcional, ideal, obedece principalmente às rédeas da imaginação, mas tem, como acontece em toda obra criativa, uma base também física. Podemos

acompanha-lo nas suas movimentações, desde a infância junto à “Bigri”, sua mãe, até o momento ideal em que ele narra sua saga para o moço da cidade, já quase “barranqueiro”, nas margens do São Francisco, com os mesmos companheiros de cangaço, travestidos de colonos. E com as mesmas dúvidas: o diabo vige, ou manda Deus? (Viggiano, 1974, p. 28)

A memória tanto dos moradores do Mosaico quanto dos visitantes torna-se documento indispensável para entender e interpretar a narrativa criada entorno das representações presenciadas e do próprio imaginário coletivo dentro do espaço construído. Esta memória começa a ser concebida a partir da leitura do livro. O turista-leitor ou leitor-

turista, nos termos de Simões (2002), caminha por estágios que determinam as formas de ressignificação. O imaginário acerca do romance e do lugar ganha robustez à medida em que os significados ganham espaço e transforma-se no real. O método de história oral permitiu utilizar as narrativas coletadas como fontes de análise, “compostas por vestígios da memória individual e coletiva, que juntas tecem um documento que recupera experiências e ideias de grupos que não aparecem na documentação convencional” (Frisch, 1988 como citado em Silva, 2016, p. 77). Os participantes pertenciam a categorias determinadas pelas suas

relações com o lugar da forma proposta por Relph (1973). Gestores, moradores e visitantes deram significado às suas experiências e estrategicamente permitiram apontar indícios do

uso da literatura de Guimarães Rosa como recurso de valorização cultural, social e de desenvolvimento turístico do Mosaico. O trabalho de pesquisa e de coleta de depoimentos

ocorrido no município da Chapada Gaúcha - MG, durante o Festival dos Povos do Grande Sertão Veredas e na finalização do Caminho do Sertão propiciou apreender sobre as

representações presenciadas tanto por estes agentes quanto pelo próprio pesquisador e ajudaram a indicar as características de um destino turístico literário no lugar-objeto desta

pesquisa. Tornou-se relevante analisar e interpretar as narrativas daqueles que moram ou visitem os lugares descritos e imaginados. A relação tempo e espaço possibilitou a

constatação da robustez deste imaginário. Nas narrativas coletadas, foi possível identificar traços de um processo de construção do lugar social e turístico literário, da aproximação

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entre o fictício e o real, da valorização do patrimônio cultural e da motivação que leva visitantes até o Mosaico.

Os dados relevantes para esta pesquisa foram coletados através de entrevistas semiestruturadas que se diferenciavam de acordo com os grupos a que pertenciam os informantes. Procurou-se destacar traços da subjetividade nas narrativas que evidenciassem a presença do livro Grande Sertão: Veredas ou da própria vida do autor no imaginário destas pessoas e ainda no espaço físico onde ocorrem ações de ressignificação do romance.

Os informantes exerceram a aproximação do real com o ficcional, da viagem pela leitura e da visita objetiva, colocaram-se na posição de leitor/turista, para depois tornar-se turista/leitor. As paisagens e as emoções declaradas possibilitaram este dialogismo, no processo de ressignificação da obra e na identificação dos lugares. As falas ainda mostraram que alguns informantes acreditavam que o Mosaico seria uma atividade que proporcionasse diversão aos visitantes e que servisse de palco para a apresentação das tradições das comunidades locais. Tal afirmativa não deixa de impressionar pela consciência de que realmente as comunidades estão inseridas em uma grande movimentação de ressignificação de seus valores tradicionais e que isso possa atrair visitantes interessados em conhecer a

cultura sertaneja. A singularidade e a simplicidade da experiência humana estão presentes na estruturação da obra e na construção social do Mosaico enquanto um lugar turístico

literário. A aproximação do real/social com o fictício é sempre possível e é a todo momento ressignificada por aqueles que o constituem. Percebe-se que a contribuição resultante do uso da literatura de Rosa como recurso de potencialização do fluxo turístico e de valorização das culturas locais pode ir além daquilo que a própria definição de turismo literário consegue dar conta. A leitura da obra em si já é nomeadamente uma experiência humana e sempre disposta a gerar novas experiências que impactam a vida social das pessoas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discute-se sobre um turismo inovador, criativo e que proporciona a valorização dos

saberes locais, propondo novas formas de prosperidade mais inclusivas das populações envolvidas. Neste contexto, a literatura incorre sobre o risco de se desfazer de seu valor estético, mas que, quase de forma involuntária, torna-se um recurso da atividade turística. Quando se usa a definição de turismo literário na região do Mosaico Sertão Veredas -Peruaçu, onde Guimarães Rosa torna-se atrativo turístico e recurso para ações de

desenvolvimento social, pode-se perceber uma aliança de ações para a valorização da cultura sertaneja e de desenvolvimento social local. Entretanto, ao se deparar fisicamente

com o lugar, é indubitável a dificuldade de se enxergar o sertão, tal qual descrito na obra literária, causando impacto no momento de contato. Apenas quando a proximidade com os

visitantes, visitados e gestores ocorre é que se inicia uma inserção no imaginário que está sobreposto ali, contribuindo efetivamente para a construção social do lugar enquanto um

destino turístico literário. Cabe questionar se é isso o bastante para tornar o lugar um destino literário, como proposto pela sua própria definição. O imaginário converte-se em

mecanismo fundamental dentro do processo de ressignificação e de construção social do lugar. Com efeito, a população local habitualmente não disponibiliza de acesso ao romance e

tampouco possui qualquer habilidade literária que o credencie ao imaginário vivido no Mosaico. Ele é involuntariamente tomado pelas ações dos gestores e forasteiros que vieram

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construir socialmente este ambiente. Quiçá pode-se indagar se é desta forma que realmente se define o turismo literário. Talvez pode ser assim que ocorre em outros destinos de literatura. Porventura, é isso que acontece em Sintra, Portugal, em Ilhéus na Bahia, em Londres ou Dublin.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Europeia. Herbert, D. (2001). Literary places, tourism and the heritage experience. Annual of Tourism

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Simões, Mª. L. N. (2009). Identidade cultural e turismo: a literatura como agenciadora de trânsito. Turismo Cultural – estratégias, sustentabilidade e tendências. Ilhéus: Editus. Simões, Mª. L. N. (2002). Do leitor a turista na Ilhéus de Jorge Amado. Revista Brasileira de Literatura Comparada. Belo Horizonte, 6, 177-184. Viggiano, A. (1974). Itinerário de Riobaldo Tatarana. Ed. Comunicação / MEC, Brasília.

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As diferentes territorialidades dos moradores e visitantes da Praia dos Anjos e Praia Grande, Arraial do Cabo, RJ.

Juliana Carneiro da Costa

Mestranda no Programa Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo da UFF Aguinaldo Cesar Fratucci

Professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo da UFF

INTRODUÇÃO Partindo do pressuposto de que as praias, de modo geral são grandes atrativos

turísticos, propomos analisar as territorialidades de duas praias do município de Arraial do Cabo, Praia dos Anjos e Praia Grande, localizadas na área urbana desse município, a partir dos processos de apropriação espacial pelos moradores e visitantes.

Os dados e informações aqui apresentados são um recorte da pesquisa realizada em janeiro de 2015 que originou a monografia intitulada “Os processos de apropriação espacial

da Praia dos Anjos e Praia Grande pelos visitantes e moradores de Arraial do Cabo, RJ” que tinha como objetivo geral descobrir os processos de apropriação espacial dos moradores e

visitantes das praias, a partir das categorias de análise espacial de Santos (1985), forma, função, processo e estrutura (Costa, 2015). A metodologia da pesquisa se constituiu em

exploratória, através da aplicação de questionários semi-estruturados nas duas praias com os dois agentes sociais do destino. Paralelamente, também foi utilizada a técnica de

observação sistemática, a fim de analisar as infraestruturas dos locais, rotinas e hábitos dos frequentadores, registrados no diário de campo.

O município de Arraial do Cabo, localizado no Estado do Rio de Janeiro, possui área terrestre de 160 km² onde vivem 30 mil habitantes (IBGE). A escolha dessas praias foi pelo fato de ambas receberem significativo fluxo de pessoas, por estarem em locais de fácil acesso e por possuírem algumas características diferentes tanto de paisagem, extensão da areia e quanto o perfil dos frequentadores. Além disso, suas orlas foram reurbanizadas recentemente e seus processos de ocupação urbana se deram de maneiras diferentes.

Destacamos o fato de o fenômeno turístico abranger outras áreas do conhecimento,

o que torna possível seu estudo a partir de um viés multi/transdisciplinar. Desse modo, o turismo enquanto fenômeno complexo, entendemos que seu estudo deva contemplar suas

(inter)relações complementares e concorrentes com outros fenômenos sincrônicos do mundo contemporâneo (Morin, 2007; 2005). Neste contexto, reconhecemos a importância

da geografia, mais especificamente a abordagem espacial sobre o fenômeno turí stico, por trazer consigo diversos fatores que compõem a sociedade como um todo, ajudando a

entender as territorialidades destes dois agentes sociais produtores do turismo, através dos processos de apropriação espacial.

TURISMO, ESPAÇO E TERRITÓRIO

O turismo, enquanto fenômeno socioespacial, se apropria do espaço sendo considerado uma prática social que envolve o deslocamento de pessoas pelo território, e

tem o espaço geográfico como seu principal objeto de consumo, sendo considerado “a única

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prática social que consome elementarmente espaço”. (Cruz, 2001, p.12). Rodrigues (1997), complementa, afirmando que o espaço turístico, como todo espaço geográfico, não pode ser definido por fronteiras delimitadas, pois um de seus elementos básicos lhe é exterior - a demanda. Por isso, aqui utilizaremos o conceito de espaço social, que Souza (2013. p.22) defende, sendo “aquele que é apropriado, transformado e produzido pela sociedade”. Para Knafou (1996), o turismo enquanto fenômeno socioespacial contemporâneo se apropria dos espaços através da produção do espaço a partir de processos denominado de turistificação. Com a inserção da infraestrutura necessária para o uso somado a presença do turista, fazendo surgir então o lugar turístico (Cruz, 2001. p.13). O lugar turístico é entendido como o território onde o turismo acontece, onde ocorrem interações e inter-relações temporárias entre o anfitrião e o turista, aos quais irão permitir um contato direto entre eles (Fratucci, 2000).

Mais especificamente sobre território, Fratucci (2014a) afirma que sobre um mesmo trecho de espaços ocorrem diversos processos de territorialização que se superpõem e compõem o que denominamos de território do turismo. É composto por territórios construídos por cada um dos agentes sociais responsáveis pelo acontecer do fenômeno

turístico (territórios dos turistas, dos agentes do mercado, do poder público, dos trabalhadores da atividade (diretos e indiretos) e do território da população local dos

destinos turísticos). Nos processos de planejamento e de gestão desses territórios é necessário levar em consideração as relações e interações que se estabelecem entre os territórios de cada agente social, pois é a partir delas que se estabelece o território do turismo, em sua concretude e totalidade. No entanto, o poder público tem deixado de lado as demais dimensões do fenômeno, especialmente a dimensão espacial (Fratucci, 2014b), ignorando os processos de apropriação do espaço e os territórios por eles constituídos. Visto isso, a discussão dos resultados a seguir mostra o começo de uma tentativa de entender como o turismo se dá no município de Arraial do Cabo.

BREVE DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados da pesquisa nos mostram que o uso dos espaços das praias é

compartilhado, composto por três territorialidades distintas. Essas territorialidades resultam nos espaços do turismo, do morador/trabalhador e do morador para o lazer. Os espaços do turismo se formam a partir da apropriação espacial dos visitantes (incluindo os

excursionistas, advindos basicamente de Armação de Búzios, e os turistas) que consomem a paisagem e permanecem tanto na orla, quanto nas extensões da areias das praias. Na Praia

dos Anjos eles usam a orla como espaço de trânsito para o passeio de barco que é oferecido ali; Já na Praia Grande os visitantes, em sua maioria, utilizam a orla para contemplar a

paisagem, ver o pôr do sol e permanecer nos quiosques. Sobre os espaços dos trabalhadores e moradores, acreditamos ser o mais complexo,

pois nem todos os trabalhadores entrevistados eram moradores do município, mas nesse momento não diferenciaremos moradores e não moradores pelo fato da amostra não nos

permitir generalizações. Dentre os moradores entrevistados, 70% estavam nas praias à trabalho. Basicamente divididos em: ambulantes, proprietários ou empregados dos

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quiosques, pescadores e funcionários da prefeitura.7 Essas categorias de trabalhadores que foram descobertas na pesquisa são referentes ao período estudado, mês de janeiro, época de alta temporada. Acreditamos que elas não permaneçam iguais ao longo do ano, dado às características da sazonalidade da demanda turística em destinos de sol e praia. Muitos dos entrevistados nos informaram que só trabalhavam nos quiosques em alta temporada e no resto do ano tiravam seu sustento da pesca, no comércio do centro da cidade ou nem trabalham.

Sobre os ambulantes, a maioria afirmou que se deslocam basicamente na areia aonde os serviços dos quiosques às vezes não chegam, além de venderem produtos diferentes dos quiosques. Dantas (2005. p.6), abordando a apropriação do espaço público pelo comércio ambulante, afirma que nos países em desenvolvimento o comércio ambulante se insere nos espaços das cidades basicamente “pela falta de oportunidades em outras atividades". Concorda-se com o autor, visto que muitos ambulantes afirmaram que estavam trabalhando nas praias por falta de opção na época que estavam procurando emprego, e hoje em dia é a única coisa que sabem fazer. Além disso, afirmaram que escolheram a praia em questão por se localizar próximo de onde residem. Os proprietários e

empregados dos quiosques também apresentavam o mesmo discurso, da falta de mais oportunidades e a proximidade com a residência, porém suas relações com o espaço eram

um pouco diferentes. A principal diferença é pela recente reurbanização da orla. Esses trabalhadores tiveram suas rotinas e hábitos modificados pela alteração da paisagem. Na Praia Grande, a proprietária de um quiosque explanou sobre a mudança da visão da praia e dos banhistas com o deslocamento dos quiosques da areia para a orla. Segundo ela, a relação com os banhistas mudou, pois os trabalhadores não descem mais para atender os banhistas na areia. A areia agora é reservada para os banhistas, para o banho de mar; atualmente são os banhistas que vão até eles na orla. Nesse sentido percebe-se que esse deslocamento dos quiosques promoveu uma mudança da apropriação da orla/areia, pois

separou fisicamente assim o lazer da praia dos trabalhadores nos quiosques (Costa, 2015). A partir dessa explanação da moradora, é possível relacionar esse deslocamento dos quiosques com o debate feito por Rodrigues (1997) sobre a construção social do espaço. A produção e reprodução do espaço ocorrem para atender uma demanda específica do turismo. De certa forma, o deslocamento dos quiosques da Praia Grande segregou os trabalhadores dos espaços da areia. Os funcionários da prefeitura entrevistados estavam presentes nas orlas para manutenção das infraestruturas dos quiosques e muitos deles eram

também pescadores fora do horário de trabalho formal. Seus deslocamentos eram somente nas orlas com funções estabelecidas previamente por seus supervisores. Os pescadores

entrevistados estavam em sua maioria na orla conversando com outros pescadores. Relataram que só iam ao mar em determinada hora do dia. Observamos que nesses

momentos que permanecem na orla eles não encaram como “trabalho” nem como “lazer”; ao serem perguntados se frequentavam a praia para lazer todos afirmaram que não, pois

não faz muito sentido frequentar a praia em outro momento, uma vez que cresceram na praia e já passam o dia ali trabalhando.

Através das abordagens e das observações sistemáticas, os moradores que não estavam na praia a trabalho, em sua maioria, estavam nas orlas sentados em algum

7 Além dessas 4 categorias de trabalhadores percebemos também os guarda -vidas e pessoas que trabalham

com passeio de barco, porém suas representações na amostra não foram significativos.

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quiosque comendo e/ou bebendo, onde encontravam amigos dos bairros próximos ou estavam tomando banho de mar e sol, ou por terem levado parentes e/ou amigos para conhecer. Uma entrevista com um senhor que estava sentado em um quiosque chamou nossa atenção. Ele observava a movimentação da areia e falou que tinha sido vendedor ambulante de pipas na praia, porém hoje em dia não tinha mais capacidade física para tal atividade, então ia à praia para relembrar a época e observar e conversar com amigos, pois tinha saudades da rotina. A relação que esse morador possui com a praia é ao mesmo tempo de lazer e de trabalho, pois o seu lugar de pertencimento é agora confundido por sua relação de lazer e trabalho com a praia. Já na Praia Grande a prática de esporte físico, no caso o surf em sua maioria, se destacou, pois a praia propicia tal atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Como dito anteriormente, a pesquisa foi realizada no mês de janeiro, período de alta

temporada do município, e por isso é necessário a realização em outras épocas do ano para melhor entender esses territórios. Por isso, cabe frisar o recorte histórico-temporal utilizado,

sendo foi observado o alto número de moradores que trabalhavam nas praias. Além disso, a pesquisa nos alertou sobre trabalhadores que não eram moradores de Arraial do Cabo,

instigando-nos a pensar sobre a relação que Arraial do Cabo tem com sua região, enquanto receptor ou emissor de mão de obra advinda de outros municípios. É preciso entender em que região turística (ainda que não oficial) o município está inserido, com o intuito de entender se as políticas públicas locais e regionais estão condizentes com a realidade dessas localidades. O descaso com a dimensão espacial na formulação das políticas públicas do país é histórica e há poucos anos está tentando se estabelecer, ainda que de forma não muito eficiente, principalmente na delimitação das regiões turísticas. Por fim, levando em conta de que o uso dos espaços das praias é compartilhado duas questões vêm à toa também: as

relações de poder baseadas nessas diferentes territorialidades e a questão da cidadania. A praia enquanto espaço público, a princípio, não possui barreiras que impeçam as pessoas de se apropriarem desses espaços, porém as relações de poder exercidas pelas formações de territórios acabam excluindo certos grupos sociais do convívio democrático nos locais públicos.

REFERÊNCIAS

Costa, J. C. (2015). Os processos de apropriação espacial da Praia dos Anjos e Praia Grande

pelos visitantes e moradores de Arraial do Cabo, RJ. (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal Fluminense.

Cruz, R. de C. A. (2001). Introdução à geografia do turismo. São Paulo: Roca. Dantas, E. W. C. (2005) Apropriação do espaço público pelo comércio ambulante: Fortaleza-

Ceará-Brasil em evidência (1975-1995). Geo.critica - Scripta Nova Revista Eletronica de Geografia y Ciencias Sociales, 9 (202). Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-

202.htm>. Fratucci, A. C. (2000). Os lugares turísticos: território do fenômeno turístico. Geographia:

Revista da Pós-Graduação em Geografia da UFF, 2(4), 121-133.

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Fratucci, A. C. (2014a) Turismo e território: relações e complexidades. Caderno Virtual de Turismo. Edição Especial: Hospitalidade e políticas públicas em turismo.14(1), 87-96. Fratucci, A. C. (2014b). A dimensão espacial das políticas públicas de turismo no Brasil. In: Pimentel, T.D.; Emmendoerfer, M.L. &Tomazzoni, E.L.(Orgs.). Gestão pública do turismo no Brasil: teorias, metodologias e aplicações. Caxias do Sul, RS: Educs. Knafou, R. (1996) Turismo e território: por uma abordagem científica do turismo. IN: Rodrigues, A. (Org). Turismo e Geografia: Referenciais teóricos e enfoques regionais. Ed. Hucitec, São Paulo. Morin, E. (2005). Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. Morin, E. (2007). Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina. Rodrigues, A. B. (1997). Turismo e espaço: rumo a um conhecimento transdisciplinar. São Paulo: Hucitec. Santos, M. (1985). Espaço & Método. São Paulo: Nobel. Souza, M. L. de. (2013) Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

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Motivações socioeconômicas na criação de novos meios de hospedagem: o crescente movimento vegano como inovação

Laila Borges da Silva Graduanda em Sociologia da UFF

Carolina dos Santos Borges Graduanda em Sociologia da UFF

Elaine Gomes Borges da Silva Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos pela UnB

Este estudo exploratório de caráter descritivo buscou dados e informações sobre o

movimento vegano como estratégia de diferenciação para adaptação da indústria hoteleira, para implantação de um futuro meio de hospedagem ser direcionado a atender hóspedes membros do movimento conhecido como Veganismo. Na atualidade observa-se uma crescente adesão populacional a este movimento, que aqui foi objeto de pesquisa como oportunidade de negócio e inovação.

O movimento ou filosofia vegana diz respeito às questões éticas de respeito aosdireitos animaise ambientais. Os adeptos deste movimento (os veganos) são indivíduos contra a exploração dos animais e do meio ambiente por meio da agropecuária, boicotam atividades e produtos que são contra os direitos dos animais, não ingerem carne nem usam

nenhum tipo de vestimenta feita de matéria animal. (CURCELLI, 2008) Conforme Chon e Sparrowe (2014) os estabelecimentos de hospedagem mudam

continuamente para satisfazer o hóspede. A inovação nos meios de hospedagem torna-se essencial pela necessidade de obter vantagem competitiva. A hotelaria deve estar sempre

atualizada as novas tendências do mercado para satisfazer e atrair a demanda dos hóspedes, turistas e viajantes. De acordo com Rogers e Shoemaker (1971, p. 39), a inovação é como

“uma nova ideia, prática ou objeto vistos como novos pelo indivíduo que a adotou”. Estas mudanças na hotelaria ocorrem por tendências, influências ou motivações relacionadas a:

(Chon e Sparrowe, 2014)

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Política – forças e eventos políticos resultam das ações ou regulamentações de governos organizados e das ações certas vezes violentas de segmentos da sociedade. São

eventos repentinos como atos terroristas e guerras ou outros que ocorrem ao longo do tempo, de segmentos da sociedade que desejam demonstrar sua preocupação para com o

bem público, com o meio ambiente ou outros ideais. São pelos fatores políticos que são regulamentadas a segurança, as práticas comerciais, aspectos ambientais, os controles das viagens internacionais. Estes fatores podem tanto incentivar como desestimular o turista em procurar determinado destino, esvaziando a hotelaria local ou produzindo novos meios de hospedagem padronizados de acordo com as novas regulamentações de construção para sustentabilidade, acessibilidade, legislação ambiental, normas de segurança, certificações.

Fatores psicológicos – os motivos psicológicos podem ser básicos ou secundários. Os básicos são os que influenciam toda e qualquer pessoa. São as necessidades instintivas como a fome, a sede, o sexo, a necessidade de evitar a dor e o medo. Assim o

meio de hospedagem oferece boa noite de sono em lugar seguro e confortável. Relacionados aos fatores psicológicos secundários, estes costumam variar de pessoa para

pessoa, o indivíduo tem as necessidades adquiridas e incluem vivências como a obtenção de sucesso, desejo de poder e outras necessidades especiais. Estas motivações secundárias

fazem com que os empreendimentos hoteleiros para tornarem mais atrativos ofereçam suítes luxo, customização de ambientes e serviços diferenciados ou personalizados. Podem

ser realizadas pesquisas psicográficas para compreender melhor, classificar os motivos e o comportamento interno das pessoas para definir segmentos-alvo de mercado e facilidades a

serem oferecidas em determinada localidade. Socioeconômicos – as tendências socioeconômicas sobre idade, escolaridade,

tamanho e renda das famílias, herança étnica, idade, sexo, estilo de vida, cultura, o que um determinado grupo faz, como vive, qualidade de vida, suas preferências. A demografia,

estudo estatístico das características humanas de uma população, seus estilos e mudanças culturais, se faz determinante para identificar mercados para a criação de novos meios de

hospedagem, na manutenção do sucesso de empreendimento já constituído e para os serviços que deverão ser oferecidos.

Tecnológicos – as inovações tecnológicas ampliaram as possibilidades de viajar, a prosperidade econômica, o tempo de viagem e a eficiência dos sistemas de

transporte. São as descobertas e invenções que aceleram o atendimento, melhoram o conforto e a segurança, dão agilidade e tornam algumas tarefas mais fáceis de realizar. São

os meios de transporte, os sistemas de segurança, os detectores de incêndio, o ar condicionado, a informática alguns exemplos de tecnologia que contribuíram para a

evolução dos meios de hospedagem e da hospitalidade comercial.

Econômicos – a rede turística e de hospitalidade costuma reagir rapidamente às condições econômicas - sempre em flutuação - criando ascensão e declínio. Esses ciclos de negócios tem as fases de expansão, pico, contração e depressão. A ascensão é a fase de

expansão que culmina com o pico, ao crescimento da atividade econômica. É nela que os investidores do ramo de hospitalidade encontram maiores chances de obtenção ou renovação de empréstimos e captação de recursos e financiamentos. Ela compreende ao

aumento no PIB, com maiores níveis de emprego, criação de postos de trabalho e estímulo às vendas de bens e serviços. Na fase de declínio, há a retração do capital, dos

investimentos, dos gastos dos hóspedes e clientes que reagem as flutuações econômicas,

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momentos críticos da economia que diminuem os percursos das viagens e o período longe de casa, preferindo viajar para locais mais próximos.

De acordo com o Manual de Oslo, as empresas engajam-se em inovações em virtude de inúmeras razões. Seus objetivos podem envolver produtos, mercados, eficiência, qualidade ou capacidade de aprendizado e de implementação de mudanças. Identificar os motivos que levam as empresas a inovar e sua importância auxilia o exame das forças que conduzem as atividades de inovação, tais como a competição e as oportunidades de ingresso em novos mercados. (OCDE, 2005, p. 26). A hospitalidade é no ramo na hotelaria e no turismo um modo relevante para inovar, com novas práticas que considerem a cultura de seus clientes.

Costumam ser vegetarianos veganos, que em geral, não são consumidores de quaisquer produtos de origem animal, não apenas no que diz respeito à alimentação, mas a qualquer atividade humana que se utilize de animais para fins comerciais. Dessa maneira, não usam medicamentos, nem cosméticos que tenham sido testados em animais ou produtos que contenham gordura animal, não consomem nenhum tipo de carne, peixe, mariscos, lacticínios, cera de abelha, mel, ovos, peles, couro, lã, seda, própolis, não

frequentam circos com animal, entre outros eventos que usam os animais como ferramenta de espetáculo (ARGOLO, 2008, pp. 5-6). Para eles é uma causa ética, um princípio ético

baseado na garantia da conservação da vida dos animais. Conforme Simões e Teixeira (2010), ainda não há dados concretos e oficiais sobre o

número de seguidores da filosofia no Brasil, contudo estima-se que 4% da população brasileira, cerca de 7,6 milhões de pessoas, seja de vegetarianos, muitos deles, veganos. Dados do Instituto Ipsos reforçam que 28% dos brasileiros têm procurado comer menos carne. Os países onde mais cresce o veganismo no mundo são Espanha, Reino Unido, Suécia, Israel (a crescente população de veganos no país está estimanda em cerca de 300.000 pessoas, 4% da população total), Índia, Alemanha (cerca de 7 milhões da população é

vegetariana e vem experimentando uma demanda crescente por produtos à base de plantas. Inclusive, existe uma cadeia de supermercados vegano – "Veganz", que tem como meta a abertura de 60 lojas até 2020, devido à demanda popular), Canadá (o consumo de carne desde 2001 reflete uma queda de quase 10%). Estados Unidos (investidores privados estão investindo milhões em star-ups de alimentação vegana, 36% dos americanos compram alternativas à carne, como o abacate) e, Nova Zelândia (o aumento do Veganismo é motivado para ajudar a prevenir doenças, degradação ambiental e sofrimento dos animais

em fazendas industriais). Ao implementar um meio de hospedagem direcionado para atender uma demanda

vegana devem ser considerados aspectos desde a unidade habitacional, áreas comuns, espaços de convivência dos clientes internos e externos, setor de A&B – do restaurante até

os serviços de quarto, no setor de entretenimento e lazer, inclusive nos eventos.

Quadro 1 – Cuidados na implementação de empreendimento hoteleiro para clientela vegana.

SETORES AÇÕESS

Unidades habitacionais, áreas comuns,

Para enxoval, artigos, adornos e mobiliário: Abolir – peles, couro, lã, seda, camurça, depérolas,plumas,penas,ossos,pelos,marfim.

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espaços de convivência e áreas de serviços (reservadas aos funcionários).

Adotar - tecidosde origem vegetal como algodão, e linho, ou sintéticos como o poliéster. Para Medicamentos, cosméticos, higiene e limpeza: Abolir - cosméticos e produtos de higiene e limpeza que tenham sido testados em animais. Adotar - produtos alternativos, de experiências laboratoriais, como testes in vitro, cultura de tecidos e modelos computacionais

Setor de A&B Abolir - carneseembutidos(enchidos),banha,vísceras,músculos,gelatina, peles, cartilagens, laticínios,ovose ovas,insetos,mele derivados,frutos do mare quaisquer alimentos de origem animal. Adotar –grãos e cereais, frutas,leguminosas,vegetais,hortaliças, algas,cogumelose produtos substitutos da proteína animal e alimentos do grupo especial - fonte de vitamina B12 e minerais, como vegetais de raízes (cenouras, beterrabas, o nabo, assim como os cogumelos), vegetais marinhos (algas arami, algas kombu, algas mori, algas pirulina).

Entretenimento e lazer (eventos)

Abolir - caças, pescas, circos com animais, rodeios, vaquejadas, touradas e jardins zoológicos. Adotar - outros meios de entretenimento que não utilizam de animais ou força animal.

Elaborado pelas pesquisadoras com base em informações contidas em Argolo (2008), Curcelli (2008) e Klapper (1999)

Em um meio de hospedagem idealizado ou adaptado para atender uma clientela

vegana deverá ser considerado, de acordo com Klapper (1999) e Curcelli (2008) que o movimento preza por princípios aos quais a sociedade viva sem a exploração animal. Seus

adeptos objetivam o fim do uso de animais para alimentação, apropriação, trabalho, caça, vivissecção, confinamento; abolem práticas que explorem animais; zelam pela preservação

da liberdade e integridade destes; boicotam produtos de origem animal (alimentar ou não), além de produtos que tenham sido testados em animais ou que incluam qualquer forma

possível de exploração animal nos seus ingredientes ou processos de manufaturados. Assim, em caso de um meio de hospedagem já em funcionamento deverá ser feita

uma análise para identificar todos os produtos que não estão de acordo com as práticas defendidas pelo movimento e trocá-los. Na edificação e estruturação de novo meio de hospedagem, estas devem ser idealizadas ainda no plano de negócios do empreendimento.

Em ambos os casos, o gestor do negócio turístico deve requerer e guardar documentos de comprovação e certificações sobre os produtos para apresentar a estes hóspedes engajados

no movimento vegano. Inclusive estes gestores devem excluir da sua carta de fornecedores as empresas que dependam de uso animal em seus processos de produção e as empresas

que tenham em seu cardápio ou catálogo de produtos outras opções que façam uso de ingredientes de origem animal ou que utilize de exploração animal.

Até as práticas de lazer e entretenimento com animais implicam escravidão, posse, deslocamento do animal de seu habitat natural, privação de seus costumes e comunidades,

adestramento forçoso e sofrimento segundo a ideologia do veganismo. Considerando o apreço que estes têm pelos animais, uma outra oportunidade a ser

considerada na hotelaria voltada a este segmento de mercado é inovar também hospedando

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o animal de estimação de ‘propriedade’ (sob cuidados) do hóspede vegano na unidade habitacional junto ao seu cuidador, na convivência com os outros hóspedes, tornando o hotel totalmente inclusivo e revolucionando no atendimento.

REFERÊNCIAS Argôlo Tainá C. (2008). Veganismo como Desobediência civil. (Apresentação de Trabalho/Congresso). Disponível em <http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/veganismocomodesobedinciacivil.pdf>. Acessado em 13.09.2016. Chon, Kye Sung; Sparrowe, Raymond T. (2014) Hospitalidade: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: Senac. Curcelli, Ana Maria. (2008). Cozinhando sem crueldade. 6 ed. São Paulo: Editora Gato Preto Klaper, Michael.(1999) Vegan Nutrition: Pure and Simple. 4. ed. Estados Unidos: Book

Publishing Company Organização para Cooperação E Desenvolvimento Econômico (ODCE). (2005). Manual de

Oslo: Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. Brasília. Rogers, E.; Shoemaker, F. F. (1971). Communication of innovations: a cross cultural approach. New York: Free Press. Simões, Katia e Teixeira, Rafael Farias (2010). Cresce o mercado vegano. Disponível em <http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI130934-17153,00-CRESCE+O+MERCADO+VEGANO.html>. Acessado em 14.09.2016

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Potencial e possibilidades do turismo literário em Cachoeiro de Itapemirim/ES: o legado de Rubem Braga como patrimônio cultural

Jéssica Lainny Martins Vieira

Graduanda em Turismo pela Faculdade Estácio de Vitória Adriana Sartório Ricco

Turismóloga, Especialista em Gestão Ambiental e Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos (SP)

RESUMO Este estudo teve como objetivo estudar o potencial do município de Cachoeiro de Itapemirim como destino literário baseado na obra e no legado de Rubem Braga como patrimônio cultural. Como procedimento metodológico, trata-se de uma pesquisa exploratória, cujo delineamento foi a pesquisa bibliográfica, documental, seguida de pesquisa de campo, utilizando-se como instrumentos de coleta entrevista semiestruturada

dirigida aos representantes do órgão responsável pelo turismo e cultura no município de Cachoeiro de Itapemirim, membros da família Braga, pessoas que fizeram parte da publicação de seus livros e estudiosos sobre o assunto. Também foi utilizado como

instrumento de coleta o diário de campo para observação do patrimônio relacionado ao legado cultural do escritor e locais citados em suas crônicas. O resultado é a constatação de

que Cachoeiro de Itapemirim possui potencial singular para o desenvolvimento do turismo literário baseado no legado de Rubem Braga, caracterizando-se como único no Estado e um

dos mais representativos no país. Propõe-se um roteiro turístico literário como um projeto possível de ser executado, adaptando-se locais/atrativos previstos em projeto semelhante

voltado para a educação patrimonial dirigido as escolas no município.

Palavras-chave: Turismo literário. Rubem Braga. Legado Cultural. Cachoeiro de Itapemirim (ES).

DESENVOLVIMENTO

O turismo é um fenômeno que dispõe de uma enorme variedade de possibilidades

para atender ao desejo de um turista. Em pesquisa feita na década de 90, 88% dos turistas eram motivados a viajar em busca da compreensão da cultura (BARRETO, 2000). Observa -se que os turistas atribuem ao turismo não só o aspecto de descanso, mas também o aspecto de experiência cultural.

Alguns estudiosos do turismo afirmam que turismo e cultura andam juntos e não

podem ser separados. MacCannell (apud SMITH, 2012, p. 4) afirma que, de fato, “turismo é uma experiência cultural”. Enquanto Urry (apud SMITH, 2012, p. 4) leva essa afirmação mais

a fundo e afirma que “turismo é cultura”. Uma variedade de elementos pode compor a cultura de um povo: sua língua, seus

costumes, suas crenças, sua arte, sua literatura. O artigo 216 da Constituição Federal da

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República Federativa do Brasil (1988) especifica ainda mais sobre o patrimônio cultural em solo brasileiro:

Art. 216. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.

Nota-se que o patrimônio histórico e cultural de uma sociedade é sua identidade. O patrimônio histórico e cultural pode ser dividido entre material e imaterial. O patrimônio material, com suas construções, cidades, bairros e até artefatos, traz a identidade de uma sociedade mostrando como viviam antigamente, o que usavam e como usavam. Por outro lado, o patrimônio imaterial é o mais frágil, pois sua sobrevivência depende de sua transmissão de geração para geração. Por meio dele a sociedade identifica seus costumes, crenças e saberes; e tomam por base em sua socialização primária (processo de as similação de hábitos característicos de seu grupo social, assimilando a cultura que lhe é própria).

A cultura é um bem intangível de uma sociedade. Cesnik e Beltrame (apud TILIO, 2009, p. 40) afirmam que a “cultura define a sociedade pela capacidade que e la desenvolve

de criar elementos que permitem à própria sociedade se reconhecer”. A literatura é um grande agente nessa transmissão de saberes. Coutinho (1978, p. 9-

10) evidencia isso em sua afirmação de que “a literatura, como toda a arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade”. Com gêneros como romance, ficção científica, suspense, biografia, entre outros, a literatura traz ao leitor uma realidade diferente da sua. A literatura é a ponte de conexão entre o leitor e um local, ou uma sociedade, ou até uma cultura.

Chartier (1996, p. 98) cita que “*...+ a leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segundo a bela imagem de Michel de Certeau, o leitor é um

caçador que percorre terras alheias”. Baseando-se na citação de Chartier, observa-se uma relação entre o processo de leitura com a motivação de um turista. Assim como o leitor, o turista está em busca de conhecer terras desconhecidas e isso causa o sentimento de liberdade do turista.

A literatura sempre foi um motivador de deslocamento. Desde a Roma Antiga, textos serviam de motivação para o deslocamento de pessoas a lugares para conhecerem o local de sua leitura (SMITH, 2012). Surgem então os destinos literários: locais apresentados em obras

literárias ou até locais de nascimento dos autores. Terra natal de grandes escritores, o Brasil possui a literatura como item inexplorado

para a prática turística. Considerado “*...+ o único escritor brasileiro dos maiores que entrou para a história literária exclusivamente como cronista” (COUTINHO apud SOUSA, 2012, p.

17), Rubem Braga nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no estado do Espíri to Santo, em 12 de janeiro de 1913.

Rubem Braga, durante sua vida e mesmo após a morte, agregou à cidade de Cachoeiro de Itapemirim bens considerados patrimônio cultural da cidade. Através de suas

crônicas, o cronista apresenta cenas do dia-a-dia de Cachoeiro de Itapemirim, aponta cenários e conta sobre a sociedade cachoeirense. Cachoeiro de Itapemirim, a quinta cidade

mais populosa do Estado do Espírito Santo e situada no sul do Estado, abriga um vasto número de patrimônios materiais e imateriais legados pelo cronista.

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Diante do exposto, este trabalho traz como problema de pesquisa: quais são as possibilidades do desenvolvimento do turismo literário em Cachoeiro de Itapemirim baseado no legado de Rubem Braga como patrimônio cultural? E como objetivo geral, o trabalho se propôs a estudar o potencial do município de Cachoeiro de Itapemirim como destino literário baseado na obra e no legado de Rubem Braga como patrimônio cultural. Especificamente, objetivou ainda apresentar a obra de Rubem Braga e estudar como seu legado projeta a cidade de Cachoeiro de Itapemirim relacionando as estratégias de cases de sucesso com ações que podem ser utilizadas para o desenvolvimento sustentável da segmentação do turismo literário no referido município.

Como procedimento metodológico, a pesquisa quanto aos objetivos é do tipo exploratório, cuja técnica de investigação utilizada foi a pesquisa bibliográfica sobre o turismo literário e sobre a obra de Rubem Braga no período de 1926, ano da publicação de sua primeira crônica, a 1990, ano de sua morte, tais como crônicas, poesias e escritos de outros autores sobre seu legado. A pesquisa documental também foi utilizada para trazer estatísticas mundiais sobre o turismo literário e também imagens da vida e de casos importantes que passaram pela vida de Rubem Braga.

Foi realizada pesquisa de campo cuja técnica de investigação foi o estudo de campo com propósito de verificar a infraestrutura da Casa dos Braga, em Cachoeiro de Itapemirim,

além de uma visita aos locais citados nas crônicas de Rubem Braga para uma análise do potencial da estruturação de atrativos turísticos nesses locais, utilizando-se de diário de campo para observação e registro. Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas dirigidas aos depoentes citados no resumo deste trabalho.

RESULTADOS: O ROTEIRO “CACHOEIRO, CAPITAL NACIONAL DA CRÔNICA” Rubem Braga era apaixonado por Cachoeiro de Itapemirim e, por isso, recreou a

cidade em suas crônicas. Durante sua vida e mesmo após a morte, agregou à cidade de Cachoeiro de Itapemirim bens considerados patrimônio cultural da cidade. Em suas mais de trinta crônicas em que menciona a cidade, Rubem Braga apontou vários cenários da cidade. Esses cenários são hoje patrimônio imaterial legado por Rubem Braga.

Partindo desses fatos, Cachoeiro de Itapemirim foi diagnosticada como um potencial destino turístico literário baseado na obra de Rubem Braga, considerado um dos maiores cronistas do Brasil. Propõe-se a elaboração de um roteiro que englobe os lugares citados por

Rubem Braga relacionados à sua vida e obra visando, posteriormente, o desenvolvimento de atrativos turísticos que venham a compor um produto turístico literário.

Roteiro turístico, segundo Bahl (apud DE STEFANI, 2014, p. 24), É um itinerário com a descrição dos locais a serem percorridos, com trajeto coerente

e específico a um determinado tipo de turista ou segmentação de mercado turístico, procurando sincronizar espaço e tempo, bens e serviços. [...] O roteiro pode estabelecer as

diretrizes para desencadear a posterior circulação turística, seguindo determinados trajetos, criando fluxos e possibilitando um aproveitamento racional dos atrativos a visitar.

Conclui-se que Cachoeiro de Itapemirim tem um potencial singular para o desenvolvimento do turismo literário. Rubem Braga deixou um legado único em suas obras

para que seja utilizado para a implantação de tal segmento. São construções e cenários, sentimentos que ele deixou que fazem de Cachoeiro de Itapemirim um local diferente para a

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prática desse segmento turístico, que se caracterizaria como único no Estado e um dos mais representativos do Brasil.

Como metodologia para a elaboração desse roteiro, a partir das crônicas do escritor, foram eleitos cenários para a composição do roteiro turístico literário: Casa dos Braga como ponto de encontro inicial, dirige-se à Ponte Municipal Fernando de Abreu para contemplação do rio Itapemirim, a Catedral de São Pedro, Praça Jerônimo Monteiro, Museu Ferroviário Domingos Lage, Teatro Municipal Rubem Braga com apresentação de peça teatral sobre sua vida e obra, Fábrica de Pios Coelho, na Ilha da Luz, Igreja de Nosso Senhor dos Passos e finalmente, Centro Operário e de Proteção Mútua, antiga Escola da dona Palmira, aonde Braga aprendeu a ler e escrever.

O roteiro turístico literário é um projeto possível de ser executado por já existe um projeto semelhante na cidade, porém voltado para a educação patrimonial dos pontos turísticos em geral da cidade aplicado para as escolas. Para isso, sugere-se a intervenção dos atores público e privado para o desenvolvimento de ações como a produção de souvenirs, a abertura de cafés e restaurantes, adaptação de mirante e revitalização de espaços tradicionais citados nas crônicas de Rubem Braga. Com a união dos atores para um

planejamento participativo focado no desenvolvimento do produto turístico e na fomentação da prática turística, juntamente com a ação da inciativa privada e da

comunidade local colaborando com o desenvolvimento do Turismo Literário na cidade, “Cachoeirense Ausente” será apenas um mero título de 1951 para o, desde sempre, filho mais presente do município de Cachoeiro de Itapemirim: o velho Rubem Braga.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETTO, M. Turismo e Legado Cultural: as possibilidades do planejamento. Campinas: Papirus, 2000.

BRASIL. Constituição Federal (1988). Seção II, Artigo 216, caput, incisos, parágrafos.

CHARTIER, R. Do livro à leitura. In: ______. (Org.). Práticas da leitura.São Paulo: Estação

Liberdade, 1996.

CISNE, R. N. C. Roteiro turístico, tradição e superação: tempo espaço, sujeito e (geo) tecnologia como categorias de análise. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2010. Acessado em 18 de novembro de 2015 em: https://repositorio.ucs.br

COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

DE STEFANI, C. Elaboração de roteiros turísticos: do planejamento à precificação de viagens. Curitiba: InterSaberes, 2014.

DÍAS, M. M.; GARCÍA, J.R. Turismo Literario. Oviedo: Septem Ediciones, 2011.

GONÇALVES, J. R. Autenticidade, Memória e Ideologias Nacionais: O problema dos patrimônios culturais. Estudos Históricos, 2, 264-275, 1988. Acessado em 10 de Novembro de 2015 em: http://ad.rosana.unesp.br

SMITH, Y. Literary Tourism as a developing genre: South Africa’s potential. Pretória: Faculdade de Humanidades da Universidade de Pretória, 2012. Acessado em 08 de

Setembro de 2015 em: http://upetd.up.ac.za/thesis/available/etd-10252012-112148/

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SOUSA, A. M. de. No doce das crônicas de Rubem Braga, o testemunho de um narrador de alguns fatos de 1964 a 1967, nas páginas da revista Manchete.São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012. Acedido em 18 de Novembro de 2015 em: www.teses.usp.br

TILIO, R. C. Reflexões acerca do conceito de cultura. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, 18, 7, jan.-mar. 2009.

Ensaio etnográfico sobre a culinária Kalunga: obolodearrozenquantocomidatípica regional

Thamyris Carvalho Andrade

Mestre em Turismo, área de Cultura e Sustentabilidade no Turismo, pela UnB Professora e pesquisadora na UFT

Eudemir Melo da Silva Graduando em Turismo Patrimonial e Socioambiental pela UFT

Regilene Batista de Sena Graduanda em Turismo Patrimonial e Socioambiental pela UFT

Considera-se que a construção do Brasil foi possível devido à força de trabalho dos

negros africanos durante o período Colonial e sua presença viva ao longo de toda a sua história.Para chegarem à condição atual, os negros que se furtaram da escravidão, dando

perda ao seu valor, são os que conseguiram fugir do sistema escravagista correndo para a liberdade. Deu-se assim a criação dos quilombos. Por não poderem contar com a justiça

legal, usavam suas próprias armas e faziam a sua própria justiça, em que a luta, dia após dia, era o que garantia sua permanência em vida e a busca pelos seus ideais.

Analisar o papel histórico desempenhado pelos quilombos nas diversas sociedades latino-americanas, em um momento no qual se expandia o modelo capitalista de produção

de base no trabalho escravo, traz condições para perceber que o conceito de quilombo

sofreu deslocamentos. Os estudos questionam, principalmente, três dentre os elementos constitutivos desse conceito, quais sejam: a fuga, o isolamento e a diversidade étnica.

As fugas eram um meio atraente de escapar a escravidão: Geralmente individuais, não exigiam nenhum plano coordenado e oferecia uma perspectiva sedutora, a da liberdade

imediata. Por isso, fora frequentes em todo o período escravista. (QUEIROZ, 1990 p. 42). Os quilombos se localizavam em locais bem distantes e de difícil acesso, tentavam

ficar o mais longe possível de seus exploradores. No Brasil, no estado do Tocantins, com os quilombolas do Kalunga do Mimoso - TO não foi diferente, esta comunidade surgiu de um

desses movimentos negros e atualmente está situada a aproximadamente 120 Km deArraias -TO. Diversas são as versões sobre a origem do nome Kalunga. Em uma tentativa de

desvendar sua origem, foram trazidas para o diálogo, algumas pessoas da comunidade, autores e pesquisadores da área. Para (K. J.S.F., 2012), “È sabido que o nome Kalunga é

resultante de uma planta da região”. Oliveira (2009) partilha a seguinte afirmação: O nome Kalunga resultou de uma forma de referenciar os moradores por um

comerciante da cidade de Monte Alegre que em suas anotações de venda a prazo, utilizou o

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nome de um pequeno riacho que passava dentro da fazenda contenda, Riacho Kalunga. (OLIVEIRA, 2009, p. 18).

As versões acima são as mais conhecidas e ditas pela comunidade. Heywood salienta que:

Kalunga é o nome de um quilombo no estado de Goiás. Em 1993, de 2 a 4 mil negros viviam em 41 comunidades espalhadas por 2,02 mil quilômetros quadrados em uma região montanhosa próxima a vila de Cavalcante. Esse talvez seja o mais antigo quilombo habitado permanentemente do Brasil.(HEYWOOD, 2009 p.127).

Nesse sentido, a produção do conhecimento do povo Kalunga surge de sua organização, crenças, contato com outras culturas, sendo eles mesmos produtores de seus próprios conhecimentos.

Busca-se saber como e por quem são produzidas (as práticas culturais), os eventos que possibilitam sua realização, como se articulam com outras práticas culturais, seu sentido para quem os produz e consome, as normas, os valores e os critérios de acordo com os quais são avaliados por aqueles que estão diretamente relacionados com tais manifestações, bem como a forma de organização e as atividades necessárias á sua existência. (AYALA, 2003, p.

51). Dos costumes, instrumentos e práticas utilizadas pelo povo Kalunga, estão o fogão a

lenha, andar a cavalo, plantar roças (cultivam boa parte da cultura consumida por sua família, arroz, mandioca, cana-de-açúcar, batata doce e hortaliças), buscam água no Rio Paranã, ou até mesmo nos córregos mais próximos (na época das chuvas) e armazenam em grandes e vários recipientes como potes e botijas, usam canoas de madeira, produzidas artesanalmente pela própria comunidade, pescam e caçam o seu próprioalimento.

Atualmente já dispõem de fogão a gás, no entanto, muitas das cozinheiras ainda preferem manusear o fogão à lenha.Moram em casas feitas de adobes ou palha, dependendo da condição de cada família. Nesse contexto Warnier (2003) entende que, as culturas são

singulares e, extraordinariamente diversas e localizadas. “Resgatar e registrar a forma como essa cultura é repassada vai nos possibilitar entender, respeitar os mesmos como atores sociais e produtores de sua própria cultura.” Várias são as atividades que caracterizam suas formas ou modos de viver da comunidade: á culinária típica, no que pode retratar como características são as variedades de bolo, tais como bolo de arroz, que é feito a base de fubá de arroz, e é colocado de molho à noite e no dia seguinte escorrido e pilado o arroz (no pilão) para obter o fubá; o enroladinho e a peta que são feitos com polvilho de mandioca. (FARIAS,

2005, p.31). Cada família costuma produzir o seu próprio alimento, mas esse processo nos dias

atuais já é bastante relativo, as facilidades de ir e vir à cidade (Arraias -TO) tem aumentado e facilitado essas trocas, em que cada família já pode optar por produzir ou não o seu

alimento. Algumas famílias possuem suas próprias rodas de ralar mandioca,são independentes

entre si. Antigamente para ralar a mandioca era utilizado o pau de Angico (árvore do Cerrado), que era usado como uma espécie de ralo, presentemente, as comunidades já

dispõem de ralos de latão e por vezes optam por ele pela facilidade de manuseio. METODOLOGIA

Valeu-se da pesquisa qualitativa, na qual o pesquisador se compromete com a investigação, indo à comunidade à procura de dados por meio da pesquisa de campo, para

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dessa forma exteriorizar como e o quão importante são estas manifestações culturais existentes até os dias atuais.

Chizzotte (2008), parte da concepção que, a pesquisa deste modo reconhece o saber acumulado na história humana e se investe no interesse em aprofundar as análises e fazer novas descobertas em favor da vida humana. Já para a pesquisa qualitativa o mesmo diz que, por outro lado não há um padrão único porque admite que a realidade seja fluente e contraditória e os processos de investigação dependem também do pesquisador, sua concepção, seus valores e seus objetivos.

A etnografia é um sistema de pesquisa desenvolvida pelos antropólogos para estudar a cultura sociedade. Etimologicamente etnografia significa “descrição cultural “Para os antropólogos, o termo tem dois sentidos: (1) um conjunto de técnicas que eles usam para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um grupo social; (2) um relato escrito resultante do emprego dessas técnicas.” (ANDRÉ, 1995, p. 27).

Já para Chizzotte (2008), etnografia significa a descrição de um grupo social, deriva etimologicamente do grego ethos (cultura) + graphe (escrita). Depois foi utilizado para

descrever um grupo cultural. Foi apropriada como uma antropologia descritiva dos modos de vida da humanidade, e introduzindo como um modo de descrição social científica de uma

pessoa ou uma configuração cultural de uma população. Por sua vez, o levantamento de dados foi norteado como método da pesquisa

etnográfica, na busca por compreender os saberes e fazeres do povo Kalunga, por meio de cada fala, gravações, gestos, fotografias, e do cotidiano em que foi registrado. As entrevistas foram semiestruturadas, permitindo aberturas a novos questionamentos.

RESULTADO EDISCUSSÃO

No momento da entrevista com alguns moradores da comunidade Kalunga de Mimoso- Arraias TO observou-se que boa parte das receitas utilizadas por eles, em especial a do bolo de arroz, estão guardadas na memória de grande parte dos moradores.

Figura 01: Preparo do bolo de arroz

Colocar o arroz de molho, buscar lenha, pilar, sessar (peneirar o arroz), pegar água no rio, de

modo a vivenciar todo ou boa parte do cotidiano quilombola.

Tabela 01: Inventário de Referências Gastronômicas

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IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO GASTRONÔMICA

BOLO DE ARROZ TRADICIONAL

FICHA TÉCNICA

Arroz, Óleo de coco piaçaba ou banha deporco, Mel de cana de açúcar, açúcar de rapadura ou a rapadura, Fermento (Extraído a partir do próprioarroz), Leite (Pode ser substituído

porágua), Águafervente, Água fria (temperaturaambiente) e tempero a gosto (canela, cravo, erva doce,sal).

Obs.: Depois de pilado e peneirado o arroz, retire uma pequena quantidade e reserve em uma cuia, (utensílio de cozinha que pode ser usado como copo ou bacia), por alguns dias (de

3 a 5). O ponto do fermento é quando ele já esta azedo, para que ele azede mais rápido é só acrescentar um pouco de caldo de cana. (Entrevista realizada com A. S. R em 02/04/2016).

MODO DE FAZER

Logo no período da manhã, prepare o forno, acendendo-o com lenhas que tenham grande durabilidade. Segundo o morador “(D.M. S., entrevista realizada em 02/04/2016) da

Comunidade Kalunga de Mimoso as lenhas são as seguintes, o Timbó e a Araçá”. Deixe a quantia de arroz desejada de molho na noite anterior ao preparo do bolo, em uma bacia.

Você precisará de um pilão para extrair o fubá. Soque o arroz em um pilão para extrair o fubá, ingrediente fundamental. À medida que se soca o arroz, o fubá vai fofando quando

estiver desse modo, estará no ponto de sessar.Em uma grande bacia coloque todo o fubá do arroz e em seguida, acrescente a água fervente e vá mexendo ate desempelotar, esse

processo deixa o arroz bem homogêneo. Aos poucos vá acrescentando a água fria, o açúcar de rapadura, o óleo de coco, o fermento

tradicional e o tempero a seu gosto. Caso queira mais doce ou com um pouco mais de sal é só acrescentar. Deve-se mexer a massa constantemente para que se dissolva completamente.

Vá provando e veja se esta a seu gosto. Após pronto, reserve-a no local de preparo (bacia). Quando a massa estiver no ponto de ir ao forno, ela começara a pitar (crescer). Quando

nesse ponto unte as assadeiras com folha de bananeira e leve-as ao forno. Não demora muito e o bolo logo estará assado.Após pronto vá retirando-as do forno e reserve em um quibano aguarde que esfrie e sirva- se. A palha de banana deve ser mantida porque a mesma

ajuda na suaconservação.

Fonte: Produção dos autores

As donas de casa que sabem fazer o bolo de arroz, se valem da sua própria memória,

pois quase não se trabalha a quantidade dos insumos necessários para o preparo, o que caracteriza uma produção baseada em experimentos e repetições “é tudo de memória e a

gosto”. Outra característica importante é que a comunidade não se prende a horários. Para eles, o importante é o nascer e o pôr do sol.

O bolo de arroz compõe a alimentação das famílias há mais de cinco gerações, está no cotidiano da comunidade e normalmente é produzido para ser ofertado às visitas e em folias da região para recepção de foliões e entesqueridos.

Eu aprendi a fazer esse bolo com a minha mãe e minha avó. Eu ensinei sim, as meninas quando moravam aqui, me ajudavam a fazer. (Entrevista J.C.S. em 02-04- 2016).

Essa tradição é repassada de geração a geração, as mulheres aprendem só de olhar, e

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reproduzem em seu cotidiano. O homem tem papel fundamental, participa diretamente, procurando a lenha no mato, acendendo o fogo, buscando água no rio e até mesmo cuidando dos bolos no forno para não passar do ponto. As mulheres ficam a cargo da preparação do bolo e direcionamentos das atividades que compõe o seu cotidiano.

As tachas (fôrmas de assar bolo) eram feitas manualmente, a partir de latas de querosene e latas de óleo. Nesse sentido observa-se a produção que se passa de pai para filho, de geração para geração. É dessa forma que se percebe a perpetuação da prática e a valorização do patrimônio imaterial.

Müller (2012) afirma que deste modo, devidamente identificados, os processos gastronômicos tradicionais, possibilitam a reprodução do prato, em concordância com os aspectos histórico-culturais e técnico-tecnológicos permitindo assim a preservação da identidade cultural.

Trata-se de uma forma de reprodução da história e da cultura de uma localidade por meio da gastronomia tradicional. De modo a ressaltar que a produção do bolo de arroz feito à sua maneira tradicional é um elemento indentitário de suma relevância para a manutenção da identidade quilombola.

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas-SP: Papirus, 1995. (Série Prática Pedagógica). CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa qualitativa em ciências humana e sociais. 2. ed. Petrópolis RJ: Vozes, 2008. FARIAS, Rosana Antônio de. Comunidade Remanescente de Quilombo Lagoa da Pedra: Um estudo de caso. Monografia. UFT. Arraias, 2005. HEYWOOD, Linda. Centros-Africanos no Brasil Central, de 1870 a 1835. Quem é o rei do

Congo? Um olhar sobre os Reis Africanos e no Afro-Brasileiro no Brasil. In: Mary C. Karash e Elizabeth W. Kiddy. Diáspora Negra no Brasil. Contexto, 2008.p.125-164, 165-191. OLIVEIRA, Suely Dias. A Cultura Negra no processo de letramento da comunidade Kalunga. Arraias, 2010. QUEIROZ. Suely Robles Reis de. Escravidão Negra no Brasil. Editora Ática, 2 edição. Serie Princípios. São Paulo. 1990 MULLER. Silvana Graudenz. PATRIMÔNIO CULTURAL GASTRONÔMICO: Identificação,

Sistematização e Disseminação dos Saberes e Fazeres Tradicionais. Programa de Pós graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Florianópolis. 2012.

WARNIER, Jean-Pierre. A Mundialização da Cultura. Tradução Viviane Ribeiro. 2. ed. Bauru- SP: EDUSC, 2003.

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Redes de prevenção à exploração sexual de crianças no turismo: estudo de caso Belém-PA

Carla Ferreira Cruz Técnica em Educação no Iphan/SC

A exploração sexual no turismo é um problema multifacetado e pode gerar a

insustentabilidade da atividade turística, visto que em seu bojo estão: a violência, o tráfico de drogas e de seres humanos, as doenças sexualmente transmissíveis, entre outros

desarranjos sociais que podem inviabilizar o desenvolvimento da atividade turística. O enfrentamento de um problema como a exploração sexual requer a atuação de

agentes sociais de diferentes áreas. O objetivo do estudo é propor a configuração de redes para prevenção à exploração sexual de crianças no turismo, na cidade de Belém. Considera-se que a articulação em rede, por meio da integração e capacitação de diferentes atores,

pode ser um instrumento capaz de gerar uma mobilização social. A tendência é que essa mobilização transcenda a função que o indivíduo desenvolve

na sociedade e suas obrigações, passando a ter um significado concreto, por meio do entendimento da importância de se proteger as crianças. Para tanto, é fundamental adotar

linguagens e recursos pedagógicos diversificados, capazes de difundir a informação na rede em formatos variados e inteligíveis.

Esse significado elaborado a partir da reflexão de cada indivíduo fará com que este sinta que em suas atividades pessoais e profissionais podem ser elos de uma rede de

proteção às crianças. Como resultado o estudo apresenta a configuração de redes de prevenção à exploração que poderá facilitar a visualização das interconexões entre os

diferentes elos que podem integrar esse processo. As redes propostas são de natureza social e foram configuradas como estruturas de

pertencimento com fluxos de livre interação entre pessoas, indo ao encontro do paradigma das transições contemporâneas, pois a rede se exerce por meio da conectividade, ou seja,

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por meio da realização contínua das conexões, existindo na medida em que houver ligações estabelecidas.

A configuração inicia-se com uma visão geral baseada no Plano Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes do Pará, visto que este é o documento que direciona o desenvolvimento das políticas públicas para enfrentar e prevenir esse crime no estado do Pará.

Nesse contexto, a informação, a qualificação e a mobilização dos elos identificados nas redes configuradas nesse trabalho, assim como a inserção da comunidade nesse processo, são instrumentos importantes para o fortalecimento das redes de prevenção à exploração sexual de crianças.

Se Belém, a capital do estado do Pará, apresenta dificuldades em relação aos procedimentos e intercâmbio de informações entre as diversas instituições e indivíduos, que atuam na prevenção e enfrentamento à exploração sexual de crianças, ou seja, se os elos da rede de proteção na capital apresentam fragilidades e curtos-circuitos, o interior do estado não é diferente e apresenta ainda mais dificuldades em relação à qualificação dos atores e estrutura organizacional, financeira e física.

Nesse contexto, a informação, a qualificação e a mobilização dos elos identificados nas redes configuradas nesse trabalho, assim como a inserção da comunidade nesse

processo, são instrumentos importantes para o fortalecimento das redes de prevenção à exploração sexual de crianças. Destaca-se que, embora esse “empoderamento social” requeira um espaço temporal extenso para se consolidar, deve-se buscar fortalecer a comunidade e fornecer-lhe instrumentos para “poder” direcionar o seu desenvolvimento de forma sustentável, contrariando assim os interesses políticos e econômicos que visam, predominantemente, soluções imediatas, mesmo que estas sejam paliativas.

Os esforços no sentido de mobilizar e qualificar os indivíduos são importantes para o fortalecimento dos elos institucionais das redes de prevenção à exploração de crianças, pois

se considera que indivíduos mobilizados absorvem a qualificação de forma otimizada e tendem a transformar as informações adquiridas em conhecimento aplicável às suas vivências diárias.

Porém, enquanto as informações a respeito da proteção de crianças não representarem instrumentos estratégicos, não conseguirão transpor barreiras ideológicas e culturais socialmente aceitas. Essas barreiras podem manifestar-se das mais variadas formas, podendo ser por meio de negação, a aceitação e a negligência:

A negação: muitos cidadãos ainda afirmam que no Brasil não existe exploração sexual de crianças;

A aceitação: algumas pessoas afirmam que a exploração sempre existiu e que por isso nunca vai acabar;

A negligência: para uma parte da sociedade é mais cômodo fingir que não vê o problema.

Nas comunidades onde já existem acessos à Internet, as redes on line podem ser instrumentos estratégicos para mobilização e qualificação, uma vez que possibilita o intercâmbio de informações e experiências entre indivíduos e comunidades, visto que os

grandes centros possuem informações que podem auxiliar as ações de comunidades mais isoladas e estas possuem conhecimento empírico que deve ser respeitado, valorizado e utilizado durante a execução de ações planejadas nas capitais para o interior.

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A Internet pode facilitar a construção de “pontes” entre indivíduos, e estes podem constituir-se em elos de uma rede on-line de proteção às crianças. Dessa forma, com a rapidez da Internet é possível mobilizar mais indivíduos a abrir “portas” e desenvolver ações concretas de desconstruir paradigmas sociais, políticos, culturais e econômicos que alimentam a exploração sexual de crianças.

Por algum tempo, as ações de prevenção à exploração e proteção de crianças, em especial no turismo, foram realizadas de forma isolada e pautaram-se na repressão aos exploradores, por meio de campanhas publicitárias e outras ações. Analisando-se os resultados obtidos neste trabalho observou-se que as ações de proteção tornam-se mais efetivas quando alguns paradigmas são desconstruídos, entre eles destacam-se:

Ações realizadas de forma isolada;

Ações que buscam identificar “vilões” e “mocinhos”;

Planejamento de ações sem determinar as fontes do recurso para a execução;

A caracterização de ações de proteção como assistencialismo ou boa vontade. Em relação à realização de ações isoladas, destaca-se que algumas instituições

enfrentam dificuldades na comunicação e ações com foco semelhante são realizadas nos mesmos períodos sem haver diálogo, o que enfraquece a ação e os resultados. Uma das causas para que sejam realizadas ações isoladas está associada à questão dos “egos”, ou

seja, indivíduos ou instituições sobrepõem interesses individuais aos interesses coletivos,

chegando até ao ponto de condenar e negar apoio a boas iniciativas. Torna-se importante exercitar o trabalho em rede, pois são obtidos melhores resultados quando ocorre o

fortalecimento e ampliação da rede de proteção de crianças. Dessa forma, será possível que diversas instituições, governamentais e não-governamentais, atuem em suas funções

específicas com um objetivo em comum. A realização de ações buscando identificar os “vilões” e os “mocinhos” configura-se

em uma postura que pode dificultar a construção de uma base sólida de proteção, pois pode estigmatizar os agentes sociais envolvidos. Em alguns casos, por exemplo, justifica -se a

exploração considerando que a “vilã” é a criança má que seduz o turista, enquanto que o foco deveria ser a prevenção do problema, a punição do agressor e a proteção da vitima. O

mais produtivo seria direcionar o foco das discussões para a garantia da preservação dos direitos sexuais das crianças e adolescentes e do desenvolvimento social sustentável, pois a

exploração sexual está associada a inúmeras sequelas socioculturais e pode ser o elemento incentivador ou causador de diversos problemas, a saber: tráfico de seres humanos, tráfico

de drogas, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, entre outros. O planejamento de ações sem definição de fontes de recursos é contraproducente,

pois alguns planos são excelentes, porém não alcançam os resultados esperados devido à falta do recurso necessário para a execução do projeto. O planejamento das ações deve ser realizado prevendo os recursos, técnicos, financeiros e estruturais, necessários para a realização das ações e a manutenção dos trabalhos propostos, garantindo assim a continuidade das ações.

Crianças exploradas sexualmente, comumente, necessitam dos recursos financeiros oriundos da exploração para atender suas necessidades básicas de sobrevivência, então os

planos de enfrentamento desse problema devem fazer menção a fontes de recursos para bolsas de auxilio e cursos de capacitação, inserção no mercado de trabalho e acompanhamento psicopedagógico.

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Em relação à caracterização de ações de proteção como assistencialismo ou boa vontade destaca-se que estas devem ser entendidas como ações de garantia de direitos humanos e não como ações de assistencialismo ou de boa vontade. Nesse sentido, a exploração deve ser analisada como crime contra os direitos humanos e como tal deve ser diagnosticada e erradicada. A discussão em todas as esferas da sociedade é de fundamental importância e deve ser realizada no centro e na periferia garantindo a troca de informações e experiências e a apropriação pela população da temática.

Analisando-se esses paradigmas que permeiam a exploração sexual de crianças é importante destacar o papel da mídia, pois a mídia possui poder de disseminar a informação que será absorvida por grande parte da população brasileira. Comumente a população absorve essas informações sem questioná-las ou refletir sobre a mensagem contida nas entrelinhas. Verifica-se então a importância de sensibilizar a mídia acerca da importância de obter e difundir informações fidedignas e que contribuam realmente para a formação de opinião pública contra a exploração sexual de crianças.

Visando fortalecer as redes de prevenção à exploração e proteção às crianças, recomenda-se:

Sensibilizar e mobilizar a população, disponibilizando informações acerca da exploração sexual de crianças, como identificar e como reagir diante desse problema, formando assim cidadãos conscientes de seu papel social e assertivos na cobrança da

continuidade das ações desenvolvidas pelo Poder Público; Divulgar notícias atualizadas sobre os avanços conseguidos, fortalecendo a

rede de proteção e fomentando a ampliação dos trabalhos. Sugere-se para tanto ênfase em ações com foco em soluções e que apresentem resultados;

Ampliar os espaços para denúncias on-line e desenvolver sites, salas de bate-papo, e também outros recursos virtuais que estão sendo utilizados para aliciar ou explorar

sexualmente crianças, assim será fortalecido um contraponto à rede de exploração on-line;

Realizar concurso para premiar empresas do setor turístico de Belém que

desenvolvem ações de fortalecimento social, proteção à criança, prevenção à exploração sexual de crianças no turismo e fomento ao turismo sustentável. Atividades como essa

gerariam visibilidade a ações e empresas do setor, por meio do marketing social, e incentivariam novas iniciativas. Mesmo que essas ações sejam desenvolvidas com o objetivo

principal de evitar problemas com a polícia ou promover a imagem da empresa, a inserção dessas empresas na temática pode ser considerada um primeiro passo no sentido da

consolidação de uma mobilização real dessas instituições; Realizar concurso para premiar campanhas, com foco no turismo sustentável

e prevenção a exploração de crianças, desenvolvidos por estudantes universitários de turismo, comunicação, serviço social, entre outros. Desta forma, os estudantes seriam

incentivados a pensar e realizar suas atividades profissionais com respeito aos direitos humanos e a desenvolver trabalhos acadêmicos na área;

Qualificar jovens atendidos por ONGs, para produção de artesanatos e realização de parcerias para que esses produtos fossem comercializados em

empreendimentos turísticos. Dessa forma o setor turístico estaria auxiliando a geração de renda e valorização da cultura local;

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Criar de um selo de responsabilidade social para empreendimentos turísticos na cidade de Belém. Essa ação, no entanto, requer muito critério principalmente, em relação

aos seguintes pontos: o Quais serão os requisitos para obter o selo;

o Qual instituição irá emiti-lo; o Qual instituição realizará a qualificação; o Qual instituição irá fiscalizar; o Qual será a periodicidade da fiscalização e o Quais serão os benefícios. A partir do fortalecimento das redes de prevenção à exploração sexual de crianças no

turismo configuradas nesse trabalho, da desconstrução de paradigmas que envolvem a temática em tela e do desenvolvimento de ações concretas, entre elas as ações recomendadas nos parágrafos, anteriores considera-se que o setor turístico estará realizando uma relevante contribuição para a prevenção e enfrentamento da exploração sexual de crianças no turismo e para a consolidação do turismo sustentável na cidade de

Belém.

REFERÊNCIAS

ADDENDUM, Juan Miguel Petit. Direitos da criança: Relatório realizado pelo Relator Especial da ONU sobre a venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil. Tradução de

Fabiana Lobo Sá. [Brasília]: Fundabrinq, 2003. BEDDOE, Christine. Ending child sex tourism: A vision for the future. In Sex and Tourism: journeys of romance, Love and lust. Orgs. BAUER, Thomas G. e MCKERCHER. United States of America: The Haworth Hospitality Press, 2006. BIGNAMI, Rosana. A Imagem do Brasil no Turismo: construções, desafios e vantagem competitiva.São Paulo: Aleph, 2002. BRASIL, IBGE. Síntese de indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. BRASIL, MEC. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: MEC, ACS, 2005 BRASIL, MJ. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil. 3 ed. Brasília: SEDH/DCA. 2002. BRASIL, MTUR. Relatório Anual de Atividades do Programa Turismo Sustentável e Infância – 2007. Brasília: MTur-Programa TSI, 2008. BRASIL, Presidência da República. Relatório do Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes – 100 (Brasil). Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2008.

BRASIL, Presidência da República. Relatório do Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes – 100 (Pará). Brasília: Secretaria Especial

dos Direitos Humanos, 2008. CASTANHA, Neide (Org). Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-

Juvenil: Uma política em movimento. Relatório de monitoramento 2003-2004. Brasília: Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, 2007.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Volume 1. 11º Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

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CECRIA. Políticas públicas e estratégias contra a exploração sexual comercial e o abuso sexual intra-familiar de crianças e adolescentes. Brasília: Ministério da Justiça/CECRIA, 1997. DAVIDSON, Julia; TAYLOR, Jackeline S. Infância, turismo sexual e violência: retórica e realidade. In: Tráfico de Pessoas e Violência Sexual. Brasília: VIOLES/SER/Universidade de Brasília, 2008. ECUADOR, Ministerio de Turismo. Manual de responsabilidade social: Por um turismo sostenible. Ecuador: Ministerio de Turismo/FENACAPTUR/INNFA, 2007. FALEIROS, Vicente de Paula (coord.). Fundamentos e políticas contra a exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes. Relatório de Estudo Brasília. Brasília: Ministério da Justiça/CECRIA, 1997. FALEIROS. Eva de Paula (org.). O abuso sexual contra crianças e adolescentes: os (des)caminhos de denúncia. Brasília: Presidência da República, Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2003. FALEIROS. Eva de Paula. Repensando os conceitos de violência, abuso e exploração sexual de crianças e de adolescentes. Brasília: MJ-SEDH-DCA/FBB/UNICEF, 2000.

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Ativismo LGBT como tendência turística

Luciana Moreira Furquim Especialista em Gestão de Empreendimentos Turísticos e Eventos

Giovanna Adriana Tavares Gomes Mestra em Turismo e Hotelaria pela Universidade Vale do Itajaí – SC

Victória de Melo Leão Mestranda em Ambiente e Sociedade (PPGAS/UEG)

O segmento turístico LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e

Transgêneros) é uma nova tendência turística em expansão no território brasileiro, possuindo características em sua demanda muito significativa, que vem provocando

aumento da oferta e movimentando o mercado financeiro do setor no Brasil. Para o Ministério do Turismo (2010):

a segmentação é entendida como uma forma de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda.

Vale ressaltar que o segmento é identificado por parte dos profissionais do turismo como uma demanda latente. Essa demanda surgiu com hábitos e novos comportamentos desses grupos sociais, portanto a partir da percepção do mercado desse novo cenário que se apresenta passa-se a oferecer uma oferta especializada com o objetivo de atender as especificiadades desses clientes. Lovelock e Wright (2001), confirmam essa tendência afirmando que: “segmento, do ponto de vista da demanda, é um grupo de c lientes atuais e potenciais que compartilham as mesmas características, necessidades, comportamento de compra ou padrões de consumo”.

O objetivo dessa investigação foi de promover o levantamento dos dados publicados sobre os seguintes eventos LGBT: Raibow Fest eParada do Orgulho Gay, de modo a comprovar o fluxo turístico durante o período de realização desses eventos e assim reunir

informações e subsidiar a gestão de empresários e governos despertando o interesse para a representatividade econômica desse segmento do turismo Brasileiro.

No Brasil não se tem pesquisas e nem dados quantitativos que mostrem com

precisão o crescimento do turismo LGBT, afirma Franco Reinaudo, sócio da Álibi agência especializada no turismo LGBT. “*...+ nenhum órgão oficial pergunta a orientação sexual do

turista. Dessa forma ficamos sem números, especialmente porque esse turista não é identificado fisicamente”. A falta da informação e da pesquisa prejudica o fluxo contínuo e o

crescimento do sistema turístico LGBT no Brasil. Como considera Chiavenato (1998), “entrada ou insumo é a força ou impulso de arranque ou partida do sistema que fornece material ou energia ou informação para operação do sistema”.

Mesmo diante desses entraves, alguns empresários e agências de viagem deixam o preconceito de lado e vêem nesse segmento uma grande oportunidade de mercado bastante inovador e rentável. Segundo o Brasil (2014), o turismo gay cresce cerca de 20% ao ano, e o público gasta em torno de 30% a mais do que os turistas de outros segmentos. Estima-se que o turista gay gasta 30% a mais do que o turista heterossexual. Em uma

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pesquisa realizada pela MGM (Movimento Gay de Minas) e UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora - MG) que traça o perfil do turista LGBT que participou do evento LGBT 7° Raibow Fest, em 2004 a média diária dos gastos dos visitantes gays variou R$ 100,00 e R$ 300,00. Esse valor chega a ser três vezes maior do que do turista heterossexual, revela os dados da pesquisa.

Feita a mesma pesquisa de demanda turística durante o mesmo evento na edição do ano 2006, constatou-se que dez mil turistas gays injetaram em Juiz de Fora R$ 4 milhões durante o evento. Na pesquisa realizada no ano de 2007 no mesmo evento Juiz de Fora recebeu mais de 11 mil turistas, segundo o portal oficial do MGM. Enquanto o rendimento médio do brasileiro está em torno de R$ 313,30, de acordo com o portal MGM, cerca de 37% dos turistas que visitaram Juiz de Fora este ano ganham de três a sete salários mínimos, ou seja, de R$ 1.100,00 a R$ 2.600,00. Outros 26% têm salários maiores que R$2.600,00.

Diante desses números e desse evento tão frequentado a Prefeitura de Juiz de Fora percebeu a importância do turismo LGBT e inclui o segmento no Plano Estratégico Setorial de Turismo. Oferecendo apoio ao evento, propondo incentivos fiscais. O MGM organiza oficinas para os profissionais da cadeia produtiva do turismo entre eles: restaurantes, bares,

hotéis, taxistas e artesãos, para receber o turista LGBT evitando constrangimento e discriminação.

As pesquisas de demanda realizadas no Raibow Fest nos revelam aumento contínuo do público durante as edições, gasto médio durante o evento também apresentou aumento comparando os três anos de pesquisa. Observa-se a importância do evento na economia local privilegiando principalmente a cadeia produtiva do turismo.

O Raibow Fest termo em inglês que significa Festa do Arco Íris é um evento realizado em Juiz de Fora, cidade mineira localizada a 283km da capital de Minas Gerais, Belo Horizonte. De acordo o portal oficial do MGM o Evento nasceu em 1998 com propósito de debater as questões relacionadas a homossexualidade. O site oficial explica:

Um evento político e cultural sem fins lucrativos que visa discutir e refletir tais questões: educação, militância, direitos, sexo seguro e, assim, cava visibilidade para a causa gay. Também porque busca abrir caminhos, afirmar, consolidar a cidadania homossexual (MGM,2007).

No primeiro Raibow Fest seus idealizadores não poderiam imaginar a força que o evento passaria a ter na cidade, se transformando no maior evento do município.

O Movimento Gay de Minas (MGM) é uma organização não governamental fundada

em 28 de junho de 2000 responsável pela realização do Rainbow Fest, sua missão é valorizar os homossexuais e lutar pela cidadania gay, contra o preconceito e a discriminação.

Em São Paulo – SP é realizado o maior evento gay do país, a primeira Parada do Orgulho Gay deu início em 1997, segundo o portal Stophomofobia, levando para as ruas

cerca de dois mil participantes, com o tema, “Somos muitos, estamos em todas as profissões” em 2007 registra 3,5 milhões, segundo a Polícia Militar, considerada a maior

parada gay do mundo (LIMA, 2007). Em 2006 a 10° Parada Gay de São Paulo reuniu cerca de 2,5 milhões de pessoas, os turistas que participaram do evento deixaram no comércio local

cerca de R$ 180 a R$ 200 milhões, dados da ISTO É (2006). São Paulo é o destino turístico do Brasil de maior potencial do segmento LGBT, e oferece muitos atrativos para o público gay.

As redes hoteleiras mais tolerantes se preparam para o evento e obtém ocupação hoteleira

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de 74 % segundo ABIH – SP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo) (CRUZ, 2011).

Em 2016 aconteceu na cidade de São Paulo a 20º edição da Parada do Orgulho LGBT. O Observatório de Turismo e Eventos, núcleo de estudos e inteligência de mercado da São Paulo Turismo realizou, durante o evento, uma nova pesquisa com o objetivo de traçar o perfil do público, hábitos dos turistas e avaliação da parada, e pode comparar os resultados do ano de 2016 com os resultados das edições anteriores. Pode-se analisar através da pesquisa que: o gasto médio dos turistas na capital paulista cresceu cerca de 18%, passando de R$ 1.272,00 em 2012 para R$ 1.502,91 em 2016. As pesquisas revelaram que os turistas realizaram outras atividades além da presença na Parada LGBT, sendo as principais: museus (25,9%), gastronomia (8,6%) e casas noturnas (11,9%), permanecendo até quatro (4) dias, em média, na cidade de São Paulo. Pesquisas realizadas em 2013 pelo Observatório de Turismo e Eventos verificou mais de 78 estabelecimentos voltados ao público LGBT na cidade de São Paulo, o que evidencia o quanto a luta social pelo os direito LGBT tem trazido impactos econômicos positivos na cidade de São Paulo, movimentando o turismo.

O evento de cunho político e social criou uma estrutura de Mega Evento que compõe

o calendário oficial de eventos da cidade. Esses dados só reforçam a apropriação do mercado revertendo cultura em economia.

“No atual momento de reprodução do capital, no qual o turismo tem se colocado como uma das atividades econômicas de maior geração de receita, a cultura é capturada pela lógica do valor de troca, agregando valor aos patrimônios materiais (históricos ou não), às práticas e manifestações culturais, tornando-os matéria-prima para a indústria do turismo e do lazer e interferindo direta ou indiretamente no modo de vida das comunidades [...] de uma forma geral, o turismo globaliza culturas, consolida políticas públicas, cria e ocupa novos espaços e lugares, amplia o fluxo de pessoas, serviços e mercadorias, reflexão trazida por (LIMA, pág. 151)

A Parada do Orgulho Gay, uma festa criada para dar visibilidade ao um movimento que iniciou com propósito de lutas e reivindicação dos direitos a liberdade de ser. Bezerra (2007a, p. 4) faz a seguinte consideração:

A festa, neste contexto das representações, assume um papel importante, pois seu caráter tanto material quanto simbólico contribui para que ela assuma a função de produtora de uma identidade da cidade.” *...] Neste cenário das imagens e das representações sobre a cidade, a festa tem ganhado uma centralidade, pois seu poder de

impressionar, seu caráter estético e ao mesmo tempo simbólico, tem contribuído para que ela assuma o papel de representação da identidade local.

Para (SIMÕES E FRANÇA, 2013, p.6) é um momento de especial importância para ambas as perspectivas, já que se reconhece a Parada como uma oportunidade para

maximizar a visibilidade tanto das casas noturnas – destacando-as no “gueto” – como das reivindicações do movimento.

Além disso, retornos e benefícios para a rede de serviços de turismo e de comércio contribuem para o reconhecimento da importância dos homossexuais como cidadãos, cujas

competências lhes possibilitam atuação no mercado profissional e poder aquisitivo para acesso ao consumo de bens e serviços.

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A reflexão que se criou a cerca da Parada entre os militantes do movimento gay é se o evento perdeu a conotação de luta, protesto e reivindicação dos direitos em função de uma festa alegórica e de um mercado que visa somente lucros.

Para o Grupo Gay da Bahia (GGB), a parada mantém seu propósito e não perdeu seu foco. “O que não podemos é controlar a multidão que vem as paradas com seus cestos de alegrias para a nossa festa. Todos nós realizamos um intenso debate com a cidade divulgando informações de combate ao preconceito”. Jean Wyllys, Deputado Federal pelo Rio de Janeiro e ativista da causa homossexual no Congresso Nacional, em sua entrevista ao jornal o globo fez a seguinte observação: “Estou aqui hoje porque é preciso abrir a pauta da parada para outras questões, como a dos professores. A parada ficou muito governista com a ausência de discussão de políticas públicas” (CAPOBIANCO; MANSUR. 2013). Segundo as pesquisas do observatório do turismo realizadas durante o evento as principais motivações relacionadas à Parada LGBT foram “curtir o evento” (60,3%) e “Lutar por direitos LGBT” (20,9%), demonstrando que parte do público une a diversão à militância pelos direitos do segmento no Brasil.

Com esse estudo podemos compreender como o turismo tem se apropriado das

manifestações culturais e sociais como criação de novos nichos de mercado a favor da economia turísticas e gerador de renda para a indústria do turismo. Com relação a Parada

Gay, que existe a 20 anos, sua apropriação pelo turismo traz a visibilidade que os militantes e os movimentos LGBT almejam para sua causa e a economia turística se beneficia com a realização do evento e utiliza-o como forma de promover localidades e empresas do setor. BIBLIOGRAFIA BEZERRA, Amélia C. A. Festa e identidade: a busca da diferença para o mercado de cidades. In: ARAÚJO, F. G. B.; HAESBAERT, R. (Orgs.). Identidades e territórios:

questões e olhares contemporâneos. 1. ed. Rio de Janeiro: Access, 2007b. p. 69-92. BRASIL (2010). Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo e o Mercado. 1º Edição. ______.(2014). Parada LGBT movimenta economia do turismo em São Paulo. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/turismo/2014/05/parada-lgbt-movimenta-economia-do-turismo-em-sao-paulo. CAPOBIANCO, M.; MANSUR, P (2013). Discursos tomam conta da Parada LGBT em Copacabana. Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/discursos-tomam-conta-da-

parada-lgbt-em-copacabana-10353867#ixzz2n1fEnvGK. Acesso em: 05 de novembro de 2013.

CHIAVENATO, Idalberto (1998). Recursos Humanos – Edição Compacta. São Paulo: Atlas. ISTOÉ (2006). O poderoso mercado gay. Revista Istoé Dinheiro. Disponível em:

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20060621/poderoso-mercado-gay/15861.shtml.

LIMA, D (2007). Parada Gay de São Paulo bate recorde com 3,5 milhões de pessoas. Disponível em : http://exclusivo.terra.com.br/paradagay2007/interna/0,,OI1679129-

EI9099,00.html. LIMA, L. N. M. de (2010). A apropriação da cultura pelo turismo, a revalorização e

ressignificação das identidades culturais. GEOgraphia, Vol. 12, No 24.

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LOVELOCK, Christopher; WRIGHT, Lauren (2001). Serviços: Marketing e Gestão. São Paulo: Saraiva. OBSERVATÓRIO DO TURISMO (2016). Pesquisa de Perfil de Público Parada do Orgulho LGBT 2016. Disponível em: http://www.observatoriodoturismo.com.br/pdf/PARADA_LGBT_2016.pdf. ______. Parada LGBT 2012. Disponível em: http://www.observatoriodoturismo.com.br/pdf/lgbt_2012.pdf. ______. Mercado GLS Paulistano. Disponível em: http://www.observatoriodoturismo.com.br/pdf/segmento_gls.pdf. RINALDO, Franco (2004). Site mixbrasil: http://mixbrasil.uol.com.br/extra!/travs_sauna/travs_sauna.asp. Acesso em: 20 jul 2005. MGM. Site MGM: http://www.mgm.org.br/portal/. Acesso 05 set 2016. STOP HOMOFOBIA. Site: https://stophomofobia.wordpress.com/2011/01/23/parada-gay-historia-e-objetivo/ SIMÕES, J. A.; FRANÇA, I. L (2001). Do gueto ao mercado. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/pagu/sites/www.ifch.unicamp.br.pagu/files/julio01.pdf.

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Cultura e gestão cultural para o turismo:articulações para a humanização das ações

Cristina Nora Calcagnotto Mestranda em Turismo e Hospitalidade pela Universidade de Caxias do Sul

RESUMO O presente artigo visa traçar um breve estudo sobre cultura e gestão cultural relacionando-as com o turismo para demonstrar a importância de sua compatibilidade e interdependência, em determinados casos. Tem escopo na gestão cultural como fonte de

turismo que prima por demonstrar certas implicações dessa promissora relação turística contemporânea e suas contribuições para a humanização das ações.

Palavras-chave: Cultura. Gestão Cultural. Turismo. Humanização.

Desde os primórdios, pode-se dizer que a cultura esteve presente. Isso porque nas

ações, na fala, nos costumes, nas crenças, nos ritos, nos saberes e nos fazeres estão presentes aspectos e particularidades que pertencem àqueles que os produzem ou, um dia,

os produziram. Segundo Leslie A. While e Beth Dillingham (2009, p. 23), “homem e cultura são

inseparáveis. Por definição, não há cultura sem homem e nem homem sem cultura.” E assim ela passa de geração em geração, perpetuando-se no tempo.

A história se conta com o passar dos dias e com o marco dos acontecimentos, e carrega consigo a significância e a resignificância de um lugar e de sua memória.

Para tanto, percebendo-se que a cultura está em toda a parte e que existem, diversas definições de cultura, dependendo do ponto de vista, e dos diferentes âmbitos culturais, uma atenção deve ser dada para que haja responsabilidade na sua preservação.

Os bens (materiais e imateriais) culturais, ou seja, aqueles que foram ou são valorados positivamente continuam exigindo uma análise que contribua para o nosso

conhecimento de campo. Os bens culturais devem receber um tratamento que dê conta de sua historicidade, da atuação das pessoas e grupos responsáveis pela criação de instituições

e políticas públicas direcionadas ao seu desenvolvimento. (LIPPI OLIVEIRA, 2008, p. 189) A cultura é uma constante experiência que deve ser percebida como um negócio que

atenda os desejos, anseios e necessidades de uma sociedade e garanta o cumprimento da sua demanda. Portanto, incentivar e fomentar a economia da cultura, criar políticas culturais

decisivas, continuar ações de vanguarda, dialogar com o outro e com o resto do mundo, articular ações inovadoras e contemporâneas, atentar para o contexto pós -moderno em que

se vive, e contribuir para o processo e o progresso cultural e artístico de um lugar, são importantes funções para uma gestão pública fadada a contribuir para o cenário das trocas

simbólicas no país e no mundo. Leslie A. While e Beth Dillingham questionam, para analisar e ampliar a discussão: Em

que consiste a cultura? Genericamente, ela consiste em ideia, atitudes, atos e objetos. Qual o locus da cultura? Onde a cultura existe? Cultura, onde estarás? Esta tem sido uma pergunta

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difícil para muitos antropólogos. Alguns dizem que ela existe na mente, outros dizem que ela existe na cultura material exposta nas prateleiras de museus, outros dizem que ela é comportamento, outros dizem que ela é uma abstração do comportamento e há quem diga que ela não existe. Parece ser difícil dizer onde ela existe. Se, como afirmamos, cultura consiste em coisas e eventos reais e observáveis, precisamos ser capazes de localizá-la. Nossa resposta é que a cultura existe em organismos (como ideias, sentimentos, etc.), no comportamento interpessoal e em objetos. Esses são os três loci da cultura. (2009, p. 61)

Portanto, ao que parece, o ser humano produz cultura e dele escreve uma história, cultiva suas raízes e preserva sua memória. A cultura dos povos, assim, evolui com o passar do tempo e, mantem-se em constante processo cultural. Roque de Barros Laraia, dita que

(...) cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre os povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo do porvir.

(2009, p. 101) Aceitar as transformações da sociedade faz parte do processo cultural e

antropológico da evolução da humanidade e, consequentemente, aparecem uma série de novos desejos e necessidades que acompanham o ritmo temporal.

Assim, uma forte expressão cultural é manifestada pela arte, que, até os dias de hoje, exprime de uma maneira sensível e poética as situações de mundo, sem que seja com as palavras. Neste contexto, Teixeira Coelho ensina que: (...) Quando uma política cultural promove determinada forma de arte como valor cultural ou ideia civilizatória, diz-se que esse procedimento é mais propriamente intelectual (ou simbólico, sujeito às lógicas, à argumentação racional, na definição de Charles S. Peirce) do que estético (ou icônico,

próprio da intuição, da emoção e da sensação, ainda nos termos da semiótica peirceana), o que daria motivos para denominá-lo de secundário em relação ao procedimento artístico propriamente dito. De todo modo, é pelo desenvolvimento da capacidade crítica, entendida como faculdade de distinguir entre uma coisa e outra, e da reflexão sobre a natureza e possibilidades da arte (estética) que se estimula a apreciação artística, a apreciação da arte entendida como arte e não apenas como valor cultural (1997, p. 47).

E são pelas mais variadas expressões artísticas, seja ela a dança, o teatro, a música, o

artesanato, o folclore, a literatura e o cinema, que se dá maior sentido à vida, e à cultura propriamente dita.

As pessoas estão mudando o seu modo de pensar e agir. Estão atentando para um mundo globalizado, repleto de informação, tecnologias e novidades. Estão olhando para a

sustentabilidade, para a ecologia e a reciclagem, estão desprendendo-se da pós-modernidade e atentando para contemporaneidade. Estão olhando para a cidade e querem

uma cidade mais humana. Estão preocupadas com o aquecimento global, com a políti ca mundial, e com a humanização das ações. Estão empenhadas na máxima de que a arte pode

mudar o mundo e de que se precisa dela para ser um cidadão completo. E neste sentido, atenta ao processo cultural, a professora doutora Susana Gastal

(2005, p. 67) afirma que: Se as necessidades, em tempos mais antigos estavam vinculadas à premência biológica de sobrevivência, agora envolvem também o social e o cultural, antes

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campo exclusivo de desejos, ou seja, em outros tempos, teríamos necessidades biológicas e desejos culturais. Hoje ninguém acharia descabido dizer que temos necessidades culturais para ser atendidas (a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte , como dizem os Titãs) (p. 67).

Sob esta óptica, percebe-se uma mudança de comportamento na vida das pessoas e, assim, na procura por outras preferências. Na procura por cultura, por arte, por viagens culturais, por turismo cultural. Por novas sensações, novas experiências, novas vivências.

Para tanto é preciso que essa arte esteja acessível a todos e assim tenha-se políticas culturais de acesso, formação, fruição, promoção, produção e difusão. Nirvana Marino ensina que “difusão exige processos de reflexão. Dito isso, afirmamos que em todo e qualquer incentivo público – à criação, produção, circulação, reflexão – é imprescindível reforçar que nosso fazer está imerso na política do sensível, em sua partilha, na responsabilidade de compreender o conjunto de aspectos que desaguam na difusão” (SECRETARIA MUNICIPAL DA CULTURA DE SÃO PAULO, 2012, p. 102).

Traça-se assim, um diálogo entre o saber e o fazer como política pública descentralizada e de ações duradouras e consistentes que ora permeiam em ambientes

desconhecidos na busca por ações que tragam crescimento, ora por ambientes conhecidos que buscam firmar a identidade cultural como bem imaterial de um lugar.

Não basta ter cultura apenas para alguns. Ela deve ser ampla, democrática e descentralizada para atingir a todos independentemente de classe social, preferências ou diferenças. Desta forma, as políticas públicas voltadas à cultura devem ser pensadas para o amplo crescimento dos cidadãos, para a educação do povo e o desenvolvimento de um local.

Ensina o produtor e gestor cultural Romulo Avelar que: uma verdadeira política de democratização cultural, portanto, precisa investir na diversidade, estimular o fortalecimento da identidade de cada grupo social e ampliar as possibilidades de escolha. A abertura de oportunidades para que cada cidadão possa expressar sua visão de mundo é um bom

caminho para o desenvolvimento de seu espírito crítico e, consequentemente, para a ampliação da base de público no Brasil (2013, p. 170).

O que torna a ação uma política pública, é quando ela ser pensada para todos, seja ela uma iniciativa pública ou privada. Ainda que ela deve ser custeada, é fundamental que se pense em políticas de acessibilidade.

A manifestação cultural torna-se um bem fundamental quando acessível a todos. Numa realidade social como a do Brasil é fundamental inserir ou identificar a produção

cultural com ações comunitárias, não apenas como processo de construção da marca cultural e seus parceiros, mas também como parte do processo de sensibilização e formação de

novos públicos consumidores de cultura. Essa responsabilidade deve tornar-se indispensável caso o patrocínio seja realizado com dinheiro público (LEONARDO BRANT, 2002, p. 33).

Isso porque o consumo só se dá a partir do acesso iniciado pela sensibilização e pela formação, sem os quais não se constrói o processo. E sim, a partir daí pode-se falar em

políticas culturais como uma rede que reproduz resíduos de natureza artístico-culturais e que, posteriormente, possibilita, multiplicadores dessa mesma formação.

José Carlos Durand, vibra em afirmar que “inclusão social, pluralidade e diversidade são hoje virtudes louvadas na política cultural brasileira” (2013, p. 147). Isso porque a cultura

traz valores de base para a educação e para a cidadania que se desdobram em finalidades para a gestão, para o bem-estar e para a humanização das ações.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena: notas sobre produção e gestão cultural. 3. ed. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2013. BRANT, Leonardo. Mercado Cultural. Panorama crítico com dados e pesquisas e guia prático para gestão e venda de projetos. 3. ed., São Paulo: Escrituras Editora, 2002. COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural: Cultura e Imaginário . São Paulo: Editora Iluminuras, 1997. DURAND, José Carlos. Política Cultural e Economia da Cultura. Cotia, SP: Ateliê Editorial; São Paulo: Edições SESC SP, 2013. GASTAL, Susana. Turismo, Imagens e Imaginários. São Paulo: Aleph, 2005. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. [reimpr.], Rio de janeiro, Jorge Zahar Ed., 2009. OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Cultura é patrimônio: um guia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. SECRETARIA MUNICIPAL DA CULTURA DE SÃO PAULO. Fomento à Dança 5 anos. São Paulo:

Secretaria Municipal Cultura, 2012. WHITE, Leslie A. e DILLINGHAM, Beth. Tradução: Teresa Dias Carneiro. O conceito de cultura.

Rio de Janeiro: Contraponto, 2009.

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Turismoebarragens:ocaso deBabaçulândia-TO

Wilhans Aparecido de Almeida Júnior Graduado em gestão em tecnologia de Turismo pela UFT

Letícia Lima de Freitas Mestra em Turismo pelo CET/UnB

Oturismotemsidoapontadocomo achave paraodesenvolvimentolocal de váriospequenosmunicípiosbrasileiros.Nestaperspectiva,háinúmerosexemplos

decidadesecomunidadestradicionaisque entrarampara omapadoturismo,por trabalharsuas peculiaridadesedesenvolver alternativasde exploração sustentáveis deseus

recursosepatrimôniosculturais e/ouambientais. Noentanto,oquefazer quandoessesrecursosepatrimôniosestão degradados ou

modificadosporfatoresexcepcionalmenterelacionadosàeconomia, como aconstrução deumahidrelétrica, por exemplo?Aresposta para esse questionamentopode

estardiretamenterelacionadacomacapacidadedomunicípio oucomunidade deserecuperar, acreditare desenvolvermedidas alternativasde,a partir doturismo,retomar ocrescimento.

O trabalhofoi elaborado a partir de um questionamento recorrente de um projeto deconscientizaçãoambiental no município de Babaçulândia-TO,ondenaocasiãoemconversacomosmoradoresque descreverama“antigaBabaçulândia”,referênciaàcidadeantes daconstrução da hidrelétrica de Estreito-MA, que afetou diretamente a rotina da cidade, onde indagou-

sesobreasituaçãodacidade,nomomento,emrelaçãoaoturismo,jáque várias características naturais foram perdidas, além de patrimônios materiais e

imateriaisdegranderepresentatividadeparaessapopulação. Aimportânciadesseestudosedeupor buscarascaracterísticasturísticas

aindapresentesemBabaçulândiaedestacar quemesmocomtodos osefeitos da construçãodabarragemo turismoaindapodeser apontadocomumindutorde

desenvolvimentolocal. Comoobjetivo geraldeu-sea necessidadede analisar comoaconstruçãoda barragemde

Estreito-MA,que modificouocenário turístico deBabaçulândia-TO, em relação ao patrimônio culturale ambientalgerouperdas para odesenvolvimentodo turismo.Apartir disto

estabeleceu-secomoobjetivos específicosdeste trabalho: Avaliar ocenárioturístico atual

dacidadedeBabaçulândia-TO; Entender como o turismo pode ser tratado como um potencial de desenvolvimento paraacidade,de acordocomasituaçãoatual; Refletirsobreasmudançaseconômicasesocioculturaisdomunicípiode Babaçulândia-TOrecorrentes doturismo.

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Busca-se então oaprofundamento doconhecimento darealidade a partir de uma abordagem metodológica qualitativa,alémde usar umestudo exploratório descritivo por ter a necessidadede descrever ambientes esituações, utilizando-se posteriormentedepesquisa explicativa, que identifica osfatoresquecontribuemoudeterminam a ocorrênciados fenômenos.

Comotécnica,utilizou-seprimeiramenteapesquisabibliográficaa partir de trabalhos existentes comtemas relacionados. Foiadotadatambémumroteirodeentrevistarealizadanodia8 e 9 deabrilde 2015emmodelosemiestruturado.

Naocasião foiusado a técnicadenominada“entrevista compessoaschave”,utilizadapara“privilegiaraobtençãodeinformaçõesde formasistematizada,rápidaedebaixocustoquerepresentamarealidadecomoela épercebidapelosagentessociaisqueinteragemnomeioreal” (TAVARES,MOTA, FONTES,FERREIRA&CARON, 1996,p.30-44). Foramescolhidosatoresimportantesdacomunidadequeserelacionamcomotemada pesquisa comorepresentantesdoscomerciantes, alguns moradores,euma ex- quebradeira decoco,e

oSecretáriode Meio Ambiente,Culturae Turismo da época. Dando continuidade, Babaçulândiaéum

municípiobrasileiro,localizadononordestedoestadodo Tocantins,comuma unidadeterritorial de 1.788.461km², limitando-secom o estadodoMaranhão. Omunicípio,possuiumapopulaçãodecercade10.424(dez mil quatrocentos evinteequatro)habitantes,segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE(2010).

Babaçulândia se tornou um grande referencial nas temporadas de férias, sendo uma praia bastante frequentada da região, atraindo milhares de turistas nessas épocas. Noperíodoentreos mesesdejunhoasetembro,oníveldoriobaixavae

formavabancosenormesdeareia,ondeeramconstruídosbarracosrústicosde palhae madeira que serviam debarese lanchonetes,e comumaestruturabásica,se tornavamumaofertadelazer aosturistas daregião.

Surgiamtrabalhos alternativose extrasqueserviamcomo complementoderendadeváriasfamílias, alémda divulgação do artesanato local feitoapartirdecocobabaçue produzidopelaschamadas “quebradeirasde coco”, barqueiros, barraqueiros,ambulanteseváriasoutrasprofissõesse faziam existentese efetivas

nessatemporada. Porém,comaconstruçãoda hidrelétrica de Estreito-aem2010,arotinanaturaldo riofoi

modificada,nãoexistindomaisas praiasdevidoao“alagamento”departeda regiãoetornandoimpossívelarealizaçãodasmesmaspráticas,conforme podeser

assinaladapelotrechode Almeida(2005): Aconstrução dashidrelétricasformaenclavesmodernoseos

desdobramentospolíticosdela decorrentestendemarompercomastramas ecomoslaçosqueconformamasrelaçõesdeidentidade comoterritório, alterando-

asousubstituindo-asporoutras.Esterompimentoocorreuma vezqueoshabitantes locaispassamaserelacionar comoutrosterritórios

impostosnoatodeconstruçãodebarragenseusinashidrelétricas. As atividadeseconômicas,

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avidasocial,asrelaçõesdaspopulaçõesqueai residemdefrontam-se, portanto,comonovo,oambientedesconhecido propostopelosistemahidrelétrico.(p.1)

Aindahouveainiciativadacriaçãodeumapraiaartificial, mascomasnovas condições,nãoalcançouomesmoméritopor nãosertão agradável aossentidos, porqueéperceptívelapresençadealgasqueantesnãoexistiameolameamento daáguapelofatodelaterinvadidoumespaçoquenaturalmentenãoeraorio. Houveuma grandequedano fluxodeturistas,ecomisso,mais umavezacidadeseviu com a economia emsofrimento.

Juntamentecomapraianosmeses deestiagem,se foitambémavilade Palmatuba,tendoatingidodiretamente35 famíliasqueláresidiame possuíam enorme valoraçãodolugar, pelo seuvalordeuso, eque conforme abordadoemSieben(2010), mesmotendosidoressarcidasemforma de cartasdecrédito, o dinheirorecebidonãopagavaas memóriaseovalorqueeles tinhamdelá.

Como esses tiposde alteraçõessãoirreversíveis,restaabusca por novas alternativas paraa retomada de umcicloevolutivode desenvolvimento,sem períodos frequentes deestagnação econômicacomo osqueBabaçulândiaviveuao longodesua história. A partir

daí,surgeoquestionamento se serápossível realmentearetomadadeste desenvolvimento,commatrizessustentáveis,ese realmenteévisível esse potencialturísticoaser

trabalhado. Nesse sentido, faz-se necessário analisar a relevância do patrimônio ambiental e

cultural. Éjustamentenesse pontoqueaproblemáticaqueenvolvepatrimônios começaase evidenciar.

Por umlado,emrelação ao patrimôniocultural, geralmente vemoscidadescomdestaque porseremdeépocascoloniais,ouconstruídas por grandes arquitetos dahistóriaquelançaramtendênciasouseguiramoutras. Emcontraponto,existemoutrascidades,de épocas maisrecentes dahistória do

Brasil,quesaemdesse “padrão histórico”, que são levadasàsmargensde proteçãoe muitasvezesesquecidas porórgãosregulamentadores ouinstâncias do governo,queatodotempocomercializapatrimônios“de maiorvalor”epor muitas vezes desvalorizaorestantesemlevar emconta ahistoricidade daquelelugar, e acabaporabandonarem diversoscasos ou muitas vezesatéos põea perder,como ocorreunacidadedeBabaçulândia,estado do Tocantins,objetodeestudodesta pesquisa, problemática estaqueveremosaposteriori.

Omesmo ocorre aotratarmos de patrimônioambiental,quesãoatodotempo ignorados, modificadoseprejudicados, principalmente porseralvodaganânciaeda corrida contínuaem

busca de lucro acima detodos os outrosinteresses recorrente daexploraçãoderecursosnaturais. Essesrecursospodemser usadosa

favordoturismodediversosmodos,e podeser trabalhado para quenãose sobrecarregue,desgaste eacabe, especialmente aotratarmos deágua.

Nesta mesmaperspectiva,todasessasutilizaçõesdopatrimônio ambiental infelizmenteestãocadavezmaisofuscadoseignoradospelodesejoexacerbado das grandes

organizaçõesedogovernode querer apenas,transformar aáguaem energiaelétrica,jáquenapráticaessasmedidasadotadas,fazemcrerqueé muito mais fácil

modificar os recursos naturais a ter que preservá-los, colocando os ganhospela modificaçãoafrentedosganhosdapreservaçãoqueéofatormais importante,

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ouseja,asustentabilidadedevesairdos discursosesemostrar na práticacomoferramentaefetiva dapreservação,quecomoFreitas (2013) aborda,

Agregarnovossaberesediferentestiposdeconhecimentoparaasolução deproblemasambientais, sociaiseculturais, reconhecendoadiversidadee respeitando asdiferenças,sãodesafiosquesepropõemàciênciaeà sociedadeemgeral.Noentanto,emmuitosmomentos,asustentabilidade

sóacontecenosdiscursos,porcontadadifíciloperacionalidade.(p. 25)

Quandotratamosde desgastedos patrimônios naturais, éinteressantetratarsobreos danoscausadostambémàspopulaçõesafetadas,porseremparte desse meio

ambiente,equesofrem muitoedediversasmaneirascom essas mudanças,comopor exemploadesterritorializaçãoeareterritorializaçãoquenão afetam apenaso meioambientefísicocomojá discutido.

Desta forma, oturismotemsido apontadopor estudiososcomoa“cartacuringa” no desenvolvimento econômicoe socialde diversaslocalidades. Por ser versátil e englobar umavariada gamadeoportunidades,oquetornapossívelotrabalhoe exploraçãodepotenciaisturísticosde formasdiferentes,deacordocomas localidades receptoras.

Assim,odesvioaimposiçõespolítico-econômicaspassaaser indispensávelecolocaoindivíduocomo peça principal no desenvolvimentodo turismo, de modoendógeno,relacionandodiretamenteodesenvolvimentoàciência social doTurismo.

Emsuma,nocontextodoturismo,háque seavaliar,deformacontínua,os custosculturaiseambientais no desenvolvimentodesuas atividadesemrelaçãoaos benefíciosdeordemeconômico-financeirosqueproporciona.Somentedessaforma oturismo ocorreráde formaresponsávelesustentável,efetivando suacolaboração aodesenvolvimento.

Oturismoseconfiguraassim,como forteindutordedesenvolvimentolocal, devendo acontecer de maneira endógena, comojádestacado,einteragircomtodos os envolvidos,dada

essas possibilidadesde veroturismo,comoKunz(2012) afirmaqueoturismopodepotencializaros laçossociaiseopatrimônioculturale ambiental das

comunidades receptoras, delascomos turistas e,dessa forma, ampliaaspossibilidades decoesãosocial,comvistas aodesenvolvimento.

Desta forma, aconduçãodepolíticasturísticasdenívellocal,quetenham como eixocondutor asustentabilidade,sefazemnecessáriasepressupõema

mobilizaçãodocapitalsocial dosatores dodesenvolvimento paratal realização. Atualmente, acidadedeBabaçulândiatemenfrentadoumperíodo muitorígidoedifícil no

quedizrespeitoaocenárioturístico.Comojáexplicitado,após aconstruçãoda hidrelétricade Estreito-MA,acidadepassouavivenciarumperíodode forte estagnação

econômicarecorrentedas perdas sofridasnoturismo. Aconstruçãodahidrelétricatrouxeumasériedeproblemaspara omunicípio

quealémdetersofridograndesperdasambientaiscomoaimpossibilidadedesurgir apraia comum na época de estiageme que constituíaa identidade turísticade Babaçulândia,teveperdasnafaunaena floradomunicípio,

contabilizandotambémainundaçãodaIlha deSãoJosédescrita peloSecretário do MeioAmbiente,CulturaeTurismodeBabaçulândiacomoasegundamaiorilha fluvial domundo.

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Perdas visíveistambémforampercebidas noque dizrespeitoaculturaea identidadelocal, já quecomodesaparecimentodacomunidade dePalmatuba,se foitambéma oportunidadederetratarahistóriadomunicípioaosturistaseaobtençãodematéria-primaparao artesanatolocal(cocobabaçu,hoje muitoescasso)que era fonte de rendaparaváriasfamílias.

Na“novaBabaçulândia”(denominaçãopara acidade após o alagamento, construçõesnaorlaeaconstruçãodapraiaartificial),apossibilidadedereceberturistas

frequentementeévisível,masocorrede maneiramoderadaenão favorecetodos os elementos dotradedacidade, tampouco a comunidade local,causando amá distribuição

dosbenefíciosrecorrentesdoturismo. Para tentar reverter tal cenário, estãosendodesenvolvidasmedidasalternativaspara o

fomento doturismonacidade. Segundo osecretário deMeioAmbiente,Culturae Turismo nenhumestudofoi feitoanteriormenteparatabulardefatoessedecréscimodofluxo turísticonacidade, masqueéevidenteas perdas,eo municípioestápassandopor ummomentodereadequação, procurando nessasnovasmedidasoalicercepara devolver Babaçulândiaaomapaturísticodaregião.

Dentre asnovasalternativasaseremtrabalhadasparaodesenvolvimento turísticodomunicípioestãoprojetosparaincentivaroturismonáuticoedeesportes

aquáticosnaregiãoatravésdainauguraçãodeumaescoladeesportespreparada, utilizandoolagocomocenárioparaestaspráticas. Ouso derestaurantes flutuantesinstalados

emcatamarãs sãouma aposta singular já que compõe um possível diferencial atrativo. Assim, identificou-se com esta pesquisa

quecidadedeBabaçulândiaaindaseencontracapazdedesenvolverpráticas deturismoquepossafavoreceratodos eenvolvercadavezmaisindivíduosnos benefícios do

turismo,nãoapenassetratando deeconomia, masemoutrosaspectos comoculturaeconscientização depreservaçãodomeioambiente.

Éimpossívelretomar aos aspectos antigosdacidadeebuscardevoltaos elementospatrimoniaisjáperdidos,noentanto,resta aopoder públicoeaos

moradoresreerguerestecenário,oadaptandoaosnovoselementosnelepresente, efazerdevidas adequaçõespara queoturismode maneirasustentávelvoltea configurar a principalfontederenda.

Comeste trabalho, sugere-se que seja elaborado uminventário turístico da cidade,coma finalidadedecatalogar osserviçosturísticosoferecidos,alémdeusar possíveistécnicasde valoraçãodeproblemas,comoporexemploousodaMatriz GUT (Gravidade, Urgências eTendências) demodoafacil itar a análisemaisapuradadasdeficiências encontradaspara desenvolver o turismo. Énecessáriotambémaaberturadeespaço parainvestidoresnacidade,para surgir novosnegócios einstalaçõescomohotéispor exemplo,com preferênciapara investidores deBabaçulândiaa fim decadavez maisfavorecer osmembroslocais.

Deveser desenvolvidoprojetosqueretomemoartesanatolocal,utilizando as artesãsqueaindamoramnacidade,paraajudaratransmitir osconhecimentoseos valoresenvolvidosnacriaçãoeproduçãodaspeçasfeitasapartir dococobabaçu, enfatizandoaimportância delas naconstrução daidentidadedacidade.

REFERÊNCIAS

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ALMEIDA,MariaGeralda (2004).Fronteiras,territórioseterritorialidades.AnaisIV SimpósioNacional sobre EspaçoeCultura,. (pp.103-114.),NEPEC- UERJ. FREITAS,LetíciaL.SustentabilidadeSocioculturaleTurismo na Reserva Extrativista MarinhadeCaeté-Taperaçu. (2013).Dissertação de Mestrado não publicada,Universidade deBrasília, Brasília, Brasil. KUNZ,J.G. (2012) Oturismo como indutor dedesenvolvimento:revisitando as dimensões ambiental, econômicae sociocultural.Turismo&Sociedade.Curitiba. SIEBEN,Airton.Estado e PolíticaEnergética:adesterritorialização da ComunidaderuraldePalmatubaem Babaçulândia(TO) pelaUsinaHidrelétrica Estreito. (2012)Tesede Doutoradonão publicada, ProgramadePós-Graduação emGeografia,UniversidadeFederal deUberlândia,Uberlândia, Bras il . TAVARES, E.D.;MOTA, D.M.;FONTES, H.R.;FERREIRA, J.M.S.;CARON, P.(1996)Usodo método de entrevistas com pessoaschavesparao diagnóstico territorial rápido dostabuleiroscosteirosdeSergipe. In:Geotextos.V.1.n.2. (pp. 30-44), Aracaju.

Responsabilidade social empresarial no turismo: gestão e integração social

Sirley da Conceição Ferreira

Turismológo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ Pós graduando em Turismo Sustentável CEFET/Nova Friburgo

A relação ética e transparente das empresas turísticas com a comunidade local e outros públicos com os quais ela se relaciona é a forma mais clara de entendermos o conceito de responsabilidade social empresarial no turismo. “Suas metas empresariais devem ser compatíveis com a realidade local e com o desenvolvimento sustentável da

sociedade’’ (RICO, 2004), ou seja, conservar os recursos culturais e ambientais, respeitando e reduzindo as desigualdades sociais, mas não esquecendo do seu papel social, que é integrar as pessoas do entorno (comunidade local) nesse processo.

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As empresas turísticas devem pensar em assumir uma gestão socialmente responsável, através de ações públicas pautadas em valores éticos com foco na integração dos atores responsáveis pela geração de empregos, na cadeia produtiva do turismo, como os clientes, consumidores, fornecedores, agentes de mercado (público e privado), planejadores e organizadores, e principalmente a comunidade local, que é afetada pela atividade turística.

Nesta perspectiva, podemos dizer que é possível criar um turismo integrado, desde que as empresas turísticas na organização da atividade turística respeitem e atuem de forma responsável. Também, é necessário sensibilizar os gestores de turismo com relação as características culturais do local, para que suas ações na comunidade local não sejam um processo de exclusão, e sim, de inclusão, onde todos possam participar da atividade.

Enfim, o turismo integrado é a atividade em que todos participam da produção da atividade turística ‘’tornando-se parte de um ’todo’ em condições semelhantes’’ (OLIVEIRA, 2008, p. 93).

É importante ressaltar que as empresas turísticas são indutores na geração de empregos (diretos e indiretos) na gestão social e na melhoria da infraestrutura. E também são fundamentais na criação de novas necessidades, geração de demandas para a localidade

turística e na catalisação de empresas em diferentes tipos de escala. Dentre essas ações, a melhor forma das empresas turísticas contribuírem de forma

política para a integração social, através da responsabilidade social empresarial no turismo, se dá por meio da:[...]capacitação dos profissionais de turismo que irão realizar os atendimentos, os agentes, comerciantes, hoteleiros, recepcionistas e outros, pois a eles competem a maior tarefa de hospitalidade e de inserção aos atrativos turísticos’’ (OLIVEIRA, 2008, p. 93).

A capacitação dos profissionais e de outros agentes do turismo, a participação da comunidade no planejamento e desenvolvimento da atividade turística é um fator importante na boa receptividade na cidade, na empregabilidade do setor, como política de

inclusão/integração social e turismo responsável e ético. A partir dessa compreensão, a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e a

integração social são elementos que podem andar lado a lado na organização da atividade turística, no entanto, o turismo é uma ‘’atividade produtiva moderna, reproduz a organização desigual e combinada dos territórios capitalistas, sendo absorvido com maneiras diferenciadas pelas culturas e modos de produção locais’’ (CORIOLANO, 2006, p. 368).

Mas, é preciso entender que a organização e o desenvolvimento do turismo de forma equilibrada, se dá a partir do diálogo entre os atores envolvidos no processo e a

sensibilização dos agentes públicos e privado mediante à melhoria da cidade, respeitando a harmonia, simplicidade e a identidade da população local. Enfim, a responsabilidade social

empresarial é a ferramenta ideal para as empresas que atuam no turismo possam pensar na melhor forma de beneficiar a si e a comunidade do entorno.

De acordo com FERREIRA (2008, p. 36) A RSE é uma forma de gestão, utilizada pelas empresas como estratégia de marketing e ‘’contribui de forma decisiva para a boa imagem

do destino turístico, e que não pode ser utilizado de forma corriqueira em âmbitos diversos’’, referida ao papel do estado, movimentos de cidadania e, principalmente no setor

privado.

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O tema Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é bastante usado em diversos ambientes, sejam eles públicos e privado, mas também como forma de gestão no desenvolvimento dos destinos turísticos. No setor privado, pode-se fazer uma análise em diversos aspectos distintos: transparência nos negócios; relacionamento com parceiros; democratização nas relações de trabalho e atenção do entorno da empresa, este último devemos dar maior atenção pelo fato de envolver a comunidade local (FERREIRA, 2008).

Embora, as empresas precisem satisfazer não apenas a si, mas a sociedade como o todo, principalmente em seu entorno, cabe as empresas turísticas criarem e promoverem ações que tragam benefícios para população dentro de uma perspectiva ética, inclusiva e sustentável.

Neste caso, é importante a empresa pensar na gestão participativa e democrática e dar satisfações de suas ações a população local. Logo, o uso de forma generalizada do tema tornou-se um consenso, usadas por todos e também como forma maquiadora e política de algumas organizações públicas e privadas.

Segundo FERREIRA (2008), as empresas utilizam outros espaços (cidades, centros turísticos etc.)para impor ‘’indiscriminadamente sua lógica capitalista de produção, na

transferência e aplicações de modelos em regiões culturalmente muito distintas’’. E é importante ressaltar que esses modelos impostos pelas empresas, nas localidades, são

negados pela comunidade na medida em que o processo de desenvolvimento não são compatíveis com a comunidade local gerando, assim, um conflito entre esta e os empresários do ramo do turismo.

No entanto, na atividade turística, o monopólio das grandes empresas em algumas regiões aumenta a violência, a desigualdade social e mudanças sócio-espaciais dependendo da forma como a atividade é organizada (PIRES; CASTRO, 2010). Neste caso, o crescimento de um movimento de RSE (Responsabilidade Social Empresarial) das empresas devem ser pautados em ações políticas que possam minimizar as desigualdades sócioeconômicas e a

abertura de diálogo entre os atores envolvidos na atividade turística. Nesta perspectiva, é fundamental o envolvimento dos cidadãos locais no

planejamento estratégico do desenvolvimento de sua cidade, pois são eles os maiores conhecedores da realidade local e diretamente interessados nesse processo. E a importância da responsabilidade social das empresas turísticas e seu compromisso com a integração social é uma nova forma de gestão social e democrática no turismo.

Da mesma forma em que a geração do lucro permanece sendo a prioridade deste

setor, “...o consumidor exigente passa a se preocupar não só com preço e qualidade do produto, mas também com o contexto produtivo”, e é importante que as pessoas tenham

essa consciência, para que o turismo seja uma atividade sustentável (FERREIRA, 2008). O turismo pode ser discriminador, excludente, injusto e beneficiar apenas setores

mais poderosos, pela forma de quem e comoempreender. Logo, os modos econômicos, sociais e locais devem ser respeitados como negociações e soluções e gestão apropriadas,

sem estereotipar as populações locais nos projetos turísticos, valorizando microeconomias e diminuindo as diferenças, fortalecendo uma gestão democrática, participativa, integradora e

sustentável. A pesquisa realizada teve caráter bibliográfico, adotando-se para a análise os

seguintes referenciais: Helena Catão Henriques Ferreira (2008); Luiza Neide M. T. Coriolano (2006); Hélida Vilela Oliveira (2008); Claudia Moreira de S. Pires & Jânio Roque Barros de

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Castro (2010); Elizabeth de M. Rico (2004). A pesquisa reflete o papel das empresas na atividade turística, sua responsabilidade na organização desta atividade, tendo como foco de análise a Responsabilidade Social Empresarial como instrumento de gestão e integração social.

Portanto, nesse sentido o levantamento bibliográfico teve por propósito refletir sobre a necessidade de sensibilizar gestores e planejadores da atividade turística sobre a possível forma de planejar e organizar essa atividade de maneira mais ética e sustentável, respeitando e valorizando as características culturais ali presentes, evitando conflitos e má receptividade por parte da comunidade local.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FERREIRA. Helena C. H. (2008). Turismo e responsabilidade social: um debate no campo da sustentabilidade. Disponível em: <https://www.rbtur.org.br/rbtur/issue/view/56>, acessado em: 15 de setembro de 2016. M. T. Coriolano, Luzia Neide. (2006). Turismo: prática social de apropriação e de dominação

de territórios.Enpublicación: América Latina: cidade, campo e turismo. Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo, MaríaLaura Silveira. CLACSO, Consejo Latinoamericano de

Ciencias Sociales, San Pablo. Diciembre. OLIVEIRA, Hélida Vilela. (2008). A prática do turismo como fator de inclusão social. Revista de Ciências Gerenciais. Vol. XII, Nº. 16. PIRES, Claudia Moreira de S. & CASTRO, Jânio Roque Barros de. (2010). A paisagem e lugar no contexto da turistificação de Guaibim- Valença, BA: uma leitura a partir das políticas públicas e da comunidade local. UNEB- Universidade do Estado da Bahia, Campus V. RICO, Elizabeth de M. (2004). A Responsabilidade Social Empresarial e o Estado: uma aliança para o desenvolvimento sustentável.São Paulo em perspectiva, 18(4): 73-82.

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Identificação do perfil dos turistas que participaram do circuito experiências da natureza: expedição travessia grutas e cavernas - Terra Ronca

Giovanna Adriana Tavares Gomes

Mestra em Turismo e Hotelaria pela Universidade Vale do Itajaí – SC Victória de Melo Leão

Mestranda em Ambiente e Sociedade (PPGAS/UEG) João Bittencourt Lino

Gerente de Projetos, Pesquisa e Produtos Turísticos na Agência Estadual de Turismo Carlos Henrique Pereira de Freitas Graduando em Economia pela Alfa

Rafael Araújo Rosa Graduando em Estatística pela UFG

RESUMO O cicloturismo é uma modalidade do ecoturismo que está ganhando cada vez mais simpatizantes no país, por ser uma atividade de baixo impacto ambiental, já que é realizado com bicicletas. Além disso, é uma atividade de lazer que colabora para uma melhor qualidade de vida e proporciona ao ciclista uma relação maior com o ambiente visitado. Este ensaio tem como propósito apresentar os resultados da pesquisa realizada pelo Observatório do Turismo do Estado de Goiás – IPTUR, da Agência Goiana de Turismo – Goiás Turismo, para a identificação do perfil dos participantes do Circuito Experiências da Natureza: Expedição Travessia Grutas e Cavernas – Terra Ronca. Os resultados foram alcançados a partir da amostragem de 53 participantes nos dois dias de evento. Palavra-chave: Cicloturismo, Perfil do turista, Turismo.

INTRODUÇÃO

O cicloturismo é um segmento do turismo que mobiliza outras cinco modalidades: o

ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural, turismo cultural e gastronômico. Também é uma atividade do turismo de lazer que possui como cerne o exercício físico, contato com a

natureza e a experiência de apreciar detalhes de ambientes que seriam imperceptíveis em outros meios de transporte. A criação de percursos de cicloturismo pode operar como

diversificador da economia regional, gerador de emprego, enaltecedor da herança cultural, conservador do patrimônio (histórico, ambiental e cultural), divulgador da cidade e

incentivador para a permanência de turistas em períodos de sazonalidade. Podem, ainda, conscientizar a comunidade e os visitantes sobre a necessidade da preservação ambiental, partindo do conceito “conhecer para preservar” e, também, agir como intermédio para a permanência da população rural, evitando o processo do êxodo. Para Cavallari (2012, p.133):

Hoje, o cicloturismo representa muito mais do que apenas uma forma eficiente e econômica de viagem. Em meio à crise climática, aos questionamentos éticos e econômicos sobre nosso atual estilo de vida,

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nosso métodos de produção e hábitos de consumo, diante da busca constante e mais responsável por melhor qualidade de vida, novamente a bicicleta, através do cicloturismo, apresenta seu discurso revolucionário e libertário.

Para Cavallari (2012), o cicloturista viaja a procura da filosofia da experiência ao ar livre, se inter-relacionando com a natureza e com a população local. Ele necessita conhecer e

seguir códigos de ética, respeitando, sobretudo, as comunidades. O autor aconselha algumas ações como reconhecer e respeitar a ordem social, política e econômica local, respeitar os

limites territoriais estabelecidos e estabelecer uma passagem minimamente impactante. A Agência Goiana de Turismo - Goiás Turismo é um órgão oficial do Estado de Goiás

que tem como objetivo executar a política estadual de turismo. A mesma, em conjunto com a Secretaria do Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos

Metropolitanos – SECIMA, desenvolveram um projeto de Cicloturismo e trilhas chamado Circuito Experiências da Natureza. O projeto contou com o desenvolvimento de pesquisa

realizado pelo Observatório do Turismo do Estado de Goiás – IPTUR. O objetivo da pesquisa era conhecer o perfil do público e identificar a satisfação dos

participantes do Circuito Experiências da Natureza: Expedição Travessia - Grutas e Cavernas Terra Ronca, realizado no Parque Estadual de Terra Ronca, localizado entre os municípios de Guarani, Posse e São Domingos, nos dias 27 e 28 de Fevereiro de 2016. Entender o perfil deste turista com características específicas é essencial para divulgar melhor qualquer roteiro cicloturístico.

A pesquisa ocorreu no período das 9 às 20 horas, com intervalo de 1h para o almoço, e contou com a participação de 1 coordenadora/pesquisadora. Os participantes eram abordados aleatoriamente pela coordenadora de pesquisa do IPTUR.

Após a apresentação, fez-se uma triagem utilizando-se de um formulário específico que identifica elementos específicos do perfil do turista. Foram abordados 53 participantes nos 2 dias do evento.

RESULTADOS DAS ENTREVISTAS – PERFIL DO TURISTA

Para o levantamento do perfil do turista, confeccionou-se um questionário com treze

perguntas. O primeiro questionamento foi direcionado ao estado de origem do participante. Dos 53 (100%) entrevistados, 39 (73%) são de Goiás, 12 (23%) são do Distrito Federal e 2 (4%) são da Bahia. Gráfico 1: Estado de origem

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Fonte: Dos Autores (2016)

Complementando o primeiro questionamento, a segunda pergunta foi direcionada a

cidade de origem do participante. Dos 53 (100%) entrevistados, 12 (22,6%) são de Brasília -DF, 8 (15,1%) são de Goiânia, 8 (15,1%) são de Posse, 7 (13,2%) são de Campos Belos, 6

(11,3%) são de Mambaí, 4 (7,5%) são de Caldas Novas, 4 (7,5%) são de São Domingos, 2 (3,8%) são de Correntina-BA, 1 (1,9%) é de Aparecida de Goiânia e 1 (1,9%) é de Alvorada do

Norte. Gráfico 2: Cidade de origem

Fonte: Dos Autores (2016)

O terceiro item questionado foi sobre o sexo do participante. Dos 53 (100%) entrevistados, 41 (77%) são do sexo masculino e 12 (23%) são do sexo feminino.

A quarta questão está direcionada a faixa etária dos participantes. Dos 53 (100%) entrevistados, 3 (5,7%) possuem até 18 anos, 4 (7,5%) possuem entre 18 a 24 anos, 19

(35,8%) possuem entre 25 a 31 anos, 18 (34%) possuem entre 32 a 40 anos, 6 (11,3%) possuem entre 41 a 50 anos, 2 (3,8%) possuem entre 51 a 59 anos e 1 (1,9%) possui 60 anos

ou mais.

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Gráfico 4: Faixa Etária

Fonte: Dos Autores (2016)

A quinta questão levanta informações entorno da renda mensal individual do entrevistado. Dos 53 (100%) entrevistados, 13 (27,1%) possuem renda de até 2 salários

mínimos, 22 (45,8%) possuem renda entre 2 a 4 salários mínimos, 6 (12,5%) possuem renda entre 4 a 6 salários mínimos, 4 (8,3%) possuem renda entre 6 a 8 salários mínimos e 3 (6,3%)

possuem renda acima de 10 salários mínimos, tendo a média ponderada de R$ 3.338,54. Gráfico 5: Renda mensal individual

Fonte: Dos Autores (2016)

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A sexta questão está relacionada ao “status” de participação no evento. Dos 53 (100%) entrevistados, 10 (19%) eram Apoios ao Atleta, 36 (68%) eram Atletas Amadores, 6 (11%) eram Atletas não profissionais e 1 (2%) era Praticante Ocasional. Gráfico 6: Status de Participação

Fonte: Dos Autores (2016)

CONSIDERAÇÕES

É essencial, também, que um roteiro de cicloturismo obedeça a regras e normas de

segurança para minimizar situações de risco. é importante estudá-lo previamente adquirindo o máximo de informações; analisar sua viabilidade e adquirir dados sobre cada um dos participantes e contar com o auxílio de carros de apoio.

Compreender o perfil do cicloturista possibilita o desenvolvimento adequado da atividade na região. O desenvolvimento adequado do cicloturismo poderá trazer inúmeras

possibilidades, como o fechamento de parcerias com a população rural para atuarem deste o planejamento e até mesmo como ponto de apoio, ofertando serviços ao viajante durante o

percurso para ajudar a complementar a renda destas famílias.

REFERÊNCIAS

BRASIL.(2014) Ministério do Turismo. Turismo sobre duas rodas. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20120201.html>. Acesso em

14/09/2016. CAVALLARI, G. (2012) Manual de mountain bike & cicloturismo. 1. ed. São Paulo: Kalapalo.

GOIÁS. (2016) Agência Goiana de Turismo. Pesquisa Circuito Experiências na Natureza: Expedição Travessia Grutas e Cavernas – Terra Ronca. GOMES, G. A. T. (Coord.). Goiânia.

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A intensidade dos indicadores da rede do festival santos café e as perspectivas para o desenvolvimento turístico do município de Santos (SP)

Daniela Tineo

Mestranda em Desenvolvimento do Turismo Each (USP) Edegar Luis Tomazzoni

Doutor em Ciências da Comunicação (ECA-USP)

O turismo pode ser considerado base importante para ressignificação e valoração da

cultura e da identidade de uma cidade ou região. Para se tornarem competitivos, os destinos

turísticos necessitam de nova adequação, a fim de atender a novas demandas de visitantes, que desejam vivenciar novas experiências culturais.

As constantes transformações e o crescimento das cidades muitas vezes se contradizem com a demanda de preservação de seu patrimônio histórico e cultural. As transformações do espaço atingem a população que nele circula diariamente, desenvolvendo atividades diversas, e que guarda na memória referências anteriores que evidenciam os novos aspectos visuais e as novas possibilidades de utilização que se apresentam na esteira dos processos de requalificação de conjuntos históricos. (Murta,

2008). A cidade de Santos, localizada no litoral de São Paulo, tem forte relação com a

exportação do café, cujo crescimento, tornou o município o maior exportador cafeeiro do país. Um dos legados dessa conquista são os detalhes e as riquezas de materiais, utilizados na construção e na decoração de edificações históricas, como o prédio da Bolsa Oficial do Café, atual sede do museu do Café, a Alfândega, o prédio dos Correios e Telégrafos, entre outros estabelecimentos do centro histórico da cidade.

Assim, a Secretaria de Turismo lançou, em 2015, o Festival Santos Café para promover a região do centro histórico e fortalecer o turismo na cidade. Na visão de Lerner

(2011), não se prepara a cidade para turistas, mas para sua população, e a qualidade de vida atrairá turistas. Identidade, autoestima e sentimento de pertencimento são aspectos

intimamente ligados aos pontos de referência que as pessoas têm da própria cidade. (Lerner, 2011).

A abordagem deste estudo é qualitativa, com caráter exploratório-descritivo. O objetivo é analisar a formação da rede de cooperação entre os atores do Festival Santos Café

e as contribuições do evento para a revitalização do centro histórico e o desenvolvimento do turismo na cidade.

As redes são iniciativas voltadas para o desenvolvimento da cultura associativa e participativa, cujo maior desafio é fortalecer a capacidade de relacionamento, incentivando

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a troca produtiva. (Brasil, 2007). Assim, Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2006) afirmam que uma rede envolve basicamente a comunicação e a troca de informações para benefícios mútuos. Novelli et al. (2006) afirmam que, durante a última década, foram feitas várias tentativas usando gestão de redes, clustering e teorias de aglomeração, para explicar o papel do turismo e sua influência no crescimento local. Ao analisarem esses sistemas de organização de destino, Scott et al. (2007), sugerem três elementos básicos da rede do turismo: atores, recursos e relações. Dessa forma, as alianças têm se mostrado necessárias para as oportunidades de negócio, quando recursos ou habilidades são requeridos externamente às organizações.

As redes, nesse sentido, podem combinar organizações públicas e privadas de diferentes dimensões. Nelas, as fontes das informações são claramente distribuídas, heterogêneas, autônomas e estão em constante evolução. (Camarinha-matos; Afsarmanesh, 2000).

Nesse contexto de redes e desenvolvimento local, os eventos podem contribuir para revitalização dos centros históricos dos destinos turísticos. Tendo em vista que os eventos culturais estão relacionados à identidade de um povo. Os eventos podem contribuir para

redução da sazonalidade em períodos de baixa estação, assim como possibilitar uma maior integração entre os anfitriões (munícipes) e os turistas. Para Tumet al. (2007), os festivais,

eventos culturais e festas temáticas são atividades que têm representatividade muito grande para a comunidade, pois, além de promover o envolvimento dos residentes, proporcionam a oportunidade de receberem visitantes, divulgar a localidade e impulsionar a economia local.

É necessário encontrar um equilíbrio entre o turismo e a vida da comunidade local. Nesse sentido, como exemplo de estratégia, para Ashton et al. (2014), as festas temáticas da comunidade têm o objetivo de reunir pessoas com interesses comuns, visando a dinamizar a cadeia produtiva do turismo. São iniciativas de criatividade em turismo, que proporcionam projeção da imagem dos destinos, contribuem para o fortalecimento da identidade e o

desenvolvimento socioeconômico local. Quando pessoas, instituições, cidades, entram em contato e mantêm comunicação

ativa, implementa-se a conexão, que se caracteriza pelo intercâmbio de conhecimentos. A conexão é relação, ou relacionamento. A conectividade é fenômeno de produção de relacionamentos no interior do conjunto de participantes, o que confere dinâmica à rede (Martinho, 2003; Brasil, 2007).

Dentro do processo turístico, a possibilidade de realização dos eventos deve estar

integrada ao planejamento turístico das cidades, com base em política de ação voltada aos eventos, à qual compete mobilizar os valores sociais autênticos da localidade (Canton, 2009,

p. 209). Para analisar se as redes se efetivaram, aplicaram-se os conceitos de propriedades

para formação de redes estabelecidos por Martinho (2003) e Brasil (2007), sendo eles: conectividade, densidade, processo de multiplicação e expansão.

Quadro 1 - Propriedades para Formação de Redes

Conectividade É o fenômeno de produção ou ocorrência de relacionamentos no interior do conjunto de participantes, o que confere dinâmica à rede.

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Densidade Indica o grau de inter-relacionamento que os participantes da rede mantêm entre si.

Processo de multiplicação e expansão.

A intensa capacidade de fazer conexões simultâneas proporciona que

a estrutura de rede tenha alto poder de multiplicação e de expansão. Propicia um ambiente favorável à disseminação de boas práticas,

tecnologias e informações.

Fonte: Adaptado de Martinho (2003) e Brasil (2007).

Ao quadro de propriedades para formação de redes, os autores deste artigo

agregaram mais dois conceitos inerentes aos princípios organizacionais de uma rede, definidos por Brasil (2007) como ação concertada e ação difusa (bilaterais ou multilaterais).

Sendo, ação concertada uma ação coletiva, na qual muitos elementos diferentes atuam de forma combinada, como se fosse um só corpo. A ação difusa (bilaterais e multilaterais) é a

colaboração que ocorre em partes diferentes do conjunto, em forma, modo e grau diversos. São pares ou grupos de atores que firmam parcerias bilaterais ou multilaterais. Assim,

quanto mais os atores mantiverem relações entre si, e quanto mais densa for a rede, mais os atores serão capazes de promover uma grande quantidade de ações colaborativas bilaterais ou multilaterais. (Brasil, 2007).

Dessa forma, elaborou-se um quadro com estes conceitos, correlacionando-os com os graus de intensidades (nenhum, baixo, médio e alto) e os indicadores observados antes,

durante e após o evento, por meio da observação participante.

Quadro 2: Análise da Formação de Redes

Conceito Grau de intensidade

Indicadores observados

Conectividade Alto

Funcionários públicos mobilizados em torno de um objetivo comum;

Proposta aceita por um grupo de estabelecimentos comerciais, associações e atrativos turísticos;

Participação e envolvimento de várias secretarias da administração municipal;

Reuniões periódicas para planejamento das ações.

Densidade Baixo

A secretaria de Turismo foi a realizadora do evento e promoveu a integração entre os demais atores. Por estar

em processo de formação, caso algum integrante se desligasse da rede, poderia se desintegrar, perdendo

coesão e densidade.

Processo de multiplicação e

expansão

Alto

O processo de multiplicação e expansão aconteceu por membros da rede, que se conectaram com seus

relacionamentos, propagando e difundindo informações, boas práticas e tecnologia. Observaram-se, no planejamento, e durante o evento, condições favoráveis para o intercâmbio, apoio mútuo, parcerias, capacidade

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empreendedora e inovação.

Ação concertada Médio

Os participantes do planejamento, execução e

coordenação do evento colaboraram e exerceram conexão máxima. Todavia, diversos atores foram convidados a

participar da rede e não aceitaram, causando alguns aspectos desfavoráveis para o evento.

Ações difusas(bilaterais

e multilaterais)

Alto

A produtividade dos atores foi acima do esperado pela

organização. Identificaram-se pares e grupos de participantes, que firmaram parcerias bilaterais e

multilaterais, possibilitando inovação, criatividade e qualidade ao evento.

Fonte: Elaboração própria (2015).

Por meio deste quadro, é possível analisar os graus dos fatores da rede estabelecida para a realização do evento. Observa-se a presença de atores, recursos e relações, fatores determinantes para a formação de uma rede.

Com base nestes pressupostos, pode-se afirmar que o Festival Santos Café tem grande potencial para se tornar um evento no calendário do Brasil em futuro próximo. A ideia de aliar a história e os atrativos ao café, que foi determinante para o desenvolvimento da cidade, contribuiu para a revitalização do centro histórico, por meio da ação do poder público e da rede de parceiros da iniciativa privada.

O festival contribuiu significativamente para a revitalização do centro histórico, pois muitos munícipes não o frequentavam por insegurança e por falta de motivação. Despertou-

se o sentimento de pertencimento e a criação de elo com parte da história, ainda desconhecida por muitos moradores da cidade. Além disso, os equipamentos turísticos

localizados no centro também tiveram grande aumento de visitação, o que revela que o evento contribuiu para o desenvolvimento dos atrativos e do comércio da cidade. A

formação de rede foi fundamental, todavia, o conjunto ainda não é coeso, pelos fatores apresentados anteriormente. Quando a rede se fortalecer, isto é, adquirir alta densidade e ampliarem-se as ações concertadas, o desligamento de algum dos atores não comprometerá sua eficácia, em razão da conectividade, dos processos de multiplicação e expansão e das ações difusas. Quanto mais densa for a rede, mais os participantes serão capazes implementar ações colaborativas, bilaterais ou multilaterais.

Observou-se que muitos participantes da rede já se conheciam, mas faltava a iniciativa de acionar as articulações para a cooperação, visando à realização do Festival do Café e contribuindo para a revitalização do centro histórico de Santos (SP).

As alianças estratégicas e as redes são de suma relevância para que o evento se viabilize e prospere, tendo em vista que na primeira edição poucos comerciantes aderiram

por não acreditarem na força da iniciativa. Em 2016, na segunda edição, a participação foi muito mais expressiva, além do evento passar a fazer parte do calendário oficial da cidade.

O Festival é um exemplo de que os eventos, destacados no calendário turístico nacional, contribuem para o desenvolvimento, a valorização e o sentimento de

pertencimento da população local, com divulgação e promoção do destino turístico. Além disso, as redes de cooperação estabelecidas, para a realização de eventos, podem ser

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duradouras e possibilitar ações, projetos e programas, que contribuam para o desenvolvimento local sustentável de uma região. REFERÊNCIAS Ashton, M. S. G.; Tomazzoni, E. L.; Emmendoerfer, M. (2014). Elementos para a validação de cidades criativas como destinos turísticos competitivos. TURyDES (Málaga), v. 7, p. 1-16. Brasil, Ministério do Turismo. (2007). Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil: Formação de Redes / Ministério do Turismo. Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. Departamento de Estruturação Articulação e Ordenamento Turístico. Coordenação Geral de Regionalização. – Brasília. Camarinha-Matos, L. M.; Afsarmanesh, H. (2000). Future smart-organizations: a virtual tourism enterprise. In: WISE 2000 – 1st ACM/IEEE International Conference on Web - Information Systems Engineering, v. 1 (Main Program), Hong Kong. Anais . Hong Kong: IEEE Computer Society Press. p. 456-461. Canton, A. (2009). Evento um potencializador de negócios. In Ansarah, M; Panosso, A (Org.).

Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. (p.197-212). Barueri, SP: Manole.

Lerner, J. (2011). Qualquer cidade pode ser criativa.In: REIS, A. C. F; KAGEYAMA, P, (orgs.). Cidades criativas: perspectivas - São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011. Martinho, C. (2003). Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização. Brasília: WWF Brasil, 2003, 164p. Murta, R. S.A. (2008). Patrimônio Material e Turistificação: um estudo sobre a Praça da Estação – BH/MG/ dissertação de mestrado. Centro Universitário UMA. Novelli, M; Schmitz, B; Spencer, T. (2006). Networks, clusters and innovation in tourism: a UK experience. Tourism Management, Guildford, v. 27, n. 6, p. 1141-1146, Dec.

Scott, N; Cooper, C; Baggio, R (2007). Destination network: four Australian cases. Annals of Tourism Reaserch. Tum, J.; Norton, P.; Wright, J. N. (2007). Management of Event Operations. In: Tourism Management. v. 28. Elsevier Heinemann, New York, p. 937-938.

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Manejo e boas práticas na construção civil: com ênfase nos empreendimentos turísticos

Alyne Albuquerque da Silveira

Graduanda em Turismo do CET/UnB Iara Lúcia Gomes Brasileiro

Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo – USP, professora do CET/UnB Elaine Gomes Borges da Silva

Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos pelo CET/UnB

O mundo atual é movido por um modo de produção capitalista, por uma busca de

desenvolvimento “a qualquer custo”, despreocupado com consequências e impactos.

Montaner (2014) ressalta que o alto nível de consumo leva a esse tipo de problema, visto que não há um cuidado com aspectos sustentáveis. A cidade se torna espaço de grandes

mudanças, de exclusão, despreocupação com o verde e com o outro. A sociedade do alto consumo não carrega os valores do desenvolvimento sustentável.

A relação desse consumo se dá também com o turismo, com a natureza, que está vinculada a diversas questões voltadas para o setor econômico, pois para a realização da

atividade turística o ambiente representa uma fonte de negócios e investimentos. Até porque se não existir infraestrutura não existe o turismo. Daí a importância de criar

alternativas para minimizar os impactos causados sobre o ambiente. Questionamentos sobre como fazer uso de um ambiente sem degradá-lo são levantados. Observa-se que o equilíbrio

dessa relação resulta em fortes dificuldades na prática, sobretudo quando se constrói um empreendimento turístico próximo a áreas naturais protegidas, assim como a destinação de

entulhos que são gerados. Atualmente uma das maiores preocupações no mundo é com a preservação do meio

ambiente. Nesta perspectiva, relacionam-se os resíduos que sempre estiveram presentes no cotidiano populacional e que são uma das principais problemáticas que merecem nossa atenção. O processo de urbanização é constante gerando o aumento no índice da

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construção civil, em que cada vez mais se constroem novos empreendimentos. Isso resulta em problemas ambientais para a sociedade, como a destinação final dos resíduos e entulhos gerados pela construção civil.

Há que se considerar os pilares do desenvolvimento sustentável preconizado no relatório Brundtland de 1987 (1991) “*...+ aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem as suas necessidades e aspirações” difundido por autores como Sachs, Swarbrooke, Ruschmann, Azevedo e tantos outros preocupados com a manutenção da vida na terra.

A construção civil é hoje o setor da economia que mais gera resíduos sólidos no Brasil. E a que mais desperdiça na utilização dos recursos naturais, o que acaba em pouca sustentabilidade para os empreendimentos, sendo motivo de diversas discussões quanto à necessidade de se buscar o desenvolvimento sustentável. Este tipo de desenvolvimento, de acordo com Bellen (2006), implica uma mudança evolucionária auto-organizativa e adaptativa constante. Quanto maior o número de diferentes alternativas inovadoras, melhor para o sistema, mais espaço avaliável. Os recursos devem ser utilizados correta e eficientemente com relação ao alcance das necessidades humanas.

O mundo tem sofrido transformações cada vez mais rápidas e intensas ao longo dos últimos anos. A quantidade de pessoas no planeta aumenta e as cidades se expandem. Com

isso, a globalização vem se tornando cada vez mais a dinâmica do mundo atual. Nesse sentido, vários problemas em diferentes âmbitos surgem: um deles são os resíduos gerados para bens de consumo duráveis (edifícios, pontes, estradas, resorts e outros) e os não duráveis (embalagens descartáveis). Nesse processo, quase sempre se utiliza matérias primas não renováveis.

O interesse em conhecer a quantidade de resíduos gerados pela indústria da construção civil existe há muito tempo, muitas vezes introduzido na discussão da redução de desperdícios. A primeira referência nacional sobre essa questão, que suscitou um debate

mais amplo sobre a temática, foi uma pesquisa realizada por Pinto (1989). O assunto tem gerado discussão acerca da real problemática, principalmente em relação ao despejo dos materiais (denominados como entulho de construção), e o desperdício dos recursos naturais, o que coloca a indústria da construção civil como parte da discussão dos aspectos ambientais. Vale ressaltar a dificuldade e escassez de locais para depositar os resíduos gerados, principalmente dentro dos centros urbanos, no que resulta a aglomeração de entulho, ocasionando transtornos à população e à própria imagem da cidade.

No entanto é importante ter uma destinação adequada desses resíduos como também o reaproveitamento e reciclagem dos materiais que sobram, como forma de

contribuir e amenizar o impacto no meio ambiente até porque que já existe uma política de coleta segregada dos resíduos dentro dos canteiros de obras.

Desta forma, a reciclagem na construção civil pode gerar benefícios como: redução no consumo de recursos naturais não renováveis, quando substituídos por resíduos

reciclados; e redução de áreas necessárias para aterro, pela minimização de volume de resíduos por meio da reciclagem. Destaca-se a necessidade da própria reciclagem dos

resíduos de construção e demolição, que representam mais de 50% da massa dos resíduos sólidos urbanos (Pinto, 1999); redução do consumo de energia durante o processo de

produção. Ressalta-se a indústria do cimento, que usa resíduos de bom poder calorífico para a obtenção de sua matéria-prima (co-incineração) ou a utilização da escória de alto-forno,

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resíduo com composição semelhante ao cimento; e, redução da poluição causada pela emissão de gás carbônico (John, 2000).

De acordo com a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Câmara dos Deputados, 2011), é praticamente consensual a necessidade de uma prática de sustentabilidade na construção. Nota-se a presença do discurso e da retórica ambiental na construção no que se refere à arquitetura, inclusive na administração pública, que cada vez mais admite incorporar os conceitos da sustentabilidade. Contudo, apesar dos discursos, ações políticas, projetos, ações e muita mídia, tem-se muito mais divergências e contradições do que convergências. Um primeiro ponto é que, se por um lado concordamos que deveríamos construir um mundo mais sustentável, por outro há uma série de divergências sobre como atingir esse objetivo. O primeiro questionamento frisa até que ponto os empreendimentos divulgados como verdes são de fato sustentáveis.

Uma grande referência internacional para a arquitetura sustentável é o selo criado pelo Green Building Council, o LEED – Leadership in Energy and Environmental Design, originalmente criado nos Estados Unidos. Os defensores do leed argumentam que essa seria uma maneira de certificar as edificações e garantir que elas estejam adequadas do ponto de

vista ambiental. Inclusive esta certificação serve de paradigma para construções voltadas ao entretenimento e esporte e foi utilizada para nortear as obras dos estádios brasileiros para a

Copa do Mundo FIFA 2014 (Da Silva, 2015). Encontra-se, ainda, nas orientações presentes no ‘Passaporte Verde’ que devem ser atentadas as práticas para meios de hospedagem que levem a reduzir o impacto ambiental de novos projetos e construções, visando a preservação do cenário natural, sua fauna, flora e a cultura local na arquitetura. Materiais naturais, técnicas construtivas de baixo impacto e baixo consumo energético devem merecer atenção por parte dos responsáveis pelas edificações e empreendimentos (PNUMA, 2009, p. 177)

Outros aspectos relevantes para reflexões que foram encontrados (Câmara dos Deputados, 2011) nesta pesquisa são até que ponto as edificações sustentáveis realmente

seguem boas práticas em prol do meio ambiente ou se tornaram simplesmente propaganda e publicidade sobre um produto que tem muito mais influência que a própria natureza do produto e qual o lugar do projeto de arquitetura na promoção da sustentabilidade. REFERÊNCIAS BELLEN, Hans Vam Michael. (2006). Indicadores de Sustentabilidade: uma análise

comparativa. Rio de Janeiro; FGV. BRUNDTLAND, Gro Harlem. (1991). Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento: o nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. CÂMARA DOS DEPUTADOS. (2011). Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável. Construções Sustentáveis – Brasília; Edições Câmara, 203 p. CARNEIRO, A.P.; Brum, I.A.S. (Orgs). (2001) Reciclagem de entulhos para a produção de

materiais para construção. EDUFBA/ Caixa Econômica Federal, Salvador, BA. pp.28-45. CESA, P. P. P; DE COUTO, S. M. (2003). Informações relacionadas às situações de manejo de

resíduos sólidos no âmbito de seis meios de hospedagem. In: Seminário de pesquisa em turismo do Mercosul; 1.2, Caxias do Sul.

CORRÊA, Roberto Lázaro. (2009). Sustentabilidade na construção civil. Belo Horizonte.

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DA SILVA. Elaine Gomes Borges. (2015). Reflexões sobre a sustentabilidade e as transformações causadas pelo megaevento esportivo Copa do Mundo 2014 no estádio do Maracanã/RJ e seu entorno. (Dissertação de Mestrado) Universidade de Brasília, Brasília/DF. JOHN, V.M. (2000). Gestão de Resíduos de Demolição e Construção em Áreas Urbanas: da ineficácia a um modelo de gestão sustentável. In Cassa, J.V.S. MONTANER, Josep Maria. (2014). A vida-lixo ou o slow food. In: Montaner, Josep Maria: Arquitetura e Política: ensaios para mundos alternativos. São Paulo: Gustavo Gili. PINTO, T. P. (1999). Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. Tese (doutorado) - Escola Politécnica, USP, São Paulo, 1999. PNUMA. (2009). Passaporte verde: turismo sustentável por um planeta vivo. Disponível em <http://www.passaporteverde.org.br/>. Acessado em 09.09.2016

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Análise dos processos de exclusão socioeconômica no sistema turístico de Pirenópolis (GO)

Barbara Nascimento Rodrigues Mestranda em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB

João Paulo Faria Tasso Professor Adjunto do Centro de Excelência em Turismo da UnB. Doutor e Mestre em

Desenvolvimento Sustentável pela UnB Mateus Reginato Sé

Graduando em Turismo pelo CET/UnB

Pirenópolis está localizado no leste goiano e pertence à Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE/DF) e à microrregião Entorno de Brasília (IBGE, 2016). Sua localização, próxima às capitais Goiânia e Brasília, favorece o contínuo fluxo turístico para a localidade. Ao todo, ele compreende sete Reservas

Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e o Parque Estadual Serra dos Pirineus, inseridos na Área de Proteção Ambiental dos Pireneus. Além disso, o município também conta com

um patrimônio histórico cultural relevante, e com uma agenda de eventos movimentada, algo que, somado aos feriados nacionais e regionais, reforça a vinda de visitantes e a dinamização da economia local (CARVALHO, 2001; SILVA e SILVA, 2011).

Em razão da construção da capital federal, que favoreceu a integração de novas estradas, e com a intensificação da divulgação nos últimos 20 anos, a cidade começou a ficar conhecida regionalmente pelo seu bucolismo, suas cachoeiras e suas trilhas ecológicas, preservados pelo longo tempo de isolamento do município. Atualmente, a localidade é reconhecida como um Destino Indutor pelo Ministério do Turismo (MTur), devido a sua

relevância no cenário turístico nacional, com infraestrutura básica e atrativos qualificados para ser classificado como tal.

Decerto, o turismo contribui com uma porcentagem significativa do PIB nos locais em que ocorre. No Brasil, segundo o Ministério do Turismo, o setor contribui atualmente com 3,7% do PIB e gera 3,15 milhões de empregos (BRASIL, 2016). O turismo também é capaz de favorecer outros impactos positivos, como estimular a valorização do patrimônio natural e, assim, a conservação da biodiversidade local. Ele também incentiva a criação de

organizações sociais e produtivas, a crescente profissionalização da mão-de-obra, a melhoria de serviços, equipamentos e infraestruturas e a dinamização de economias locais (COSTA,

2009). Referente aos fatores de desenvolvimento humano, em 2013, Pirenópolis registrou

um Índice de Desenvolvimento Municipal total de 0,719, considerado como de desenvolvimento moderado. Os índices relativos à “saúde” e à “educação” também se

mantiveram na faixa de desenvolvimento moderado, ao longo dos anos de 2008 a 2013 (SISTEMA FIRJAN, 2014).

Contudo, o foco desta pesquisa se justifica pelo componente de “emprego e renda” que, dentre todos os componentes do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), é

aquele com piores pontuações em todo o período avaliado. Tal indicador é, justamente, aquele que afeta negativamente na soma do índice total. O componente “emprego e renda”

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sofreu variações negativas, chegando a 0,3824 em 2011, atestando baixo desenvolvimento e, atualmente, se mantendo na faixa de desenvolvimento regular, com 0.599 pontos, bem abaixo da linha de pontuação dos demais componentes, que se mantiveram acima dos 0.700. Pirenópolis encontra-se em 111º no ranking estadual do IFDM consolidado, e está acima da mediana brasileira, de 0,6605.

Em relação à quantidade de empregos em Pirenópolis, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mostram que no ano de 2015 o saldo da relação entre admitidos e desligados foi negativo, totalizando menos 698 empregos, demonstrando, no município, um momento de grave instabilidade econômica e a necessidade imediata de um plano de contensão dessa brusca queda na empregabilidade.

Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS, 2014), baseando-se na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), nota-se a participação do turismo, de forma significativa, devido às seguintes atividades: hotéis e similares (11% - 417 atividades) e restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas (4% - 166 atividades). Dessa forma, os empregos no turismo representam 15% (583) diante das demais atividades econômicas do município.

Em especial pela última questão colocada, a retórica de crescimento econômico e de geração de empregos por meio do turismo é, continuamente, usada por instituições públicas

e privadas. Muitas vezes ela não considera as consequências que o fenômeno pode trazer às outras dimensões além da econômica.

Portanto, o objeto da pesquisa se concentrou no estudo sobre a relação entre o potencial turístico do Município de Pirenópolis (GO) e os indícios de um cenário de exclusão socioeconômica que o permeia. Dentre os variados impactos que o turismo pode causar, o foco desta pesquisa está direcionado para um em específico: os processos de exclusão social presentes na comunidade pirenapolina.

Entende-se por exclusão social os vários processos que acarretam na privação de

capacidades, e direitos fundamentais à vida digna de um indivíduo (SEN, 2000b). Esses processos caracterizam-se por serem dinâmicos e, principalmente, multidimensionais (NASCIMENTO in BURSZTYN, 2000; PNUD, 2009). Uma das formas possíveis de s e interpretar a exclusão social compreende o fenômeno como uma exclusão de direitos. Ou seja, um fenômeno que faz com que distintos grupos sociais não se integrem ao mundo do trabalho, assim os excluindo de condições mínimas de vida (NASCIMENTO, 2000).

Ainda que a exclusão social não se resuma ao mercado de trabalho, pela sociedade

atual considerar a inserção econômica como questão central no contexto social, seus efeitos são sentidos de forma drástica no processo de “destruição dos valores integrativos

tradicionais” (DEMO, 1998, p.21). Ao explorar a exclusão social por essa abordagem, é possível estabelecer uma relação

entre sua existência e a privação das capacidades dos indivíduos, por essas dependerem da conversão da renda em bens necessários à sobrevivência (SEN, 2000b). Logo, o fenômeno

traz limites ao desenvolvimento dessas capacidades, inserindo os indivíduos de forma precária no sistema econômico, ao tempo que os supre do acesso a um conjunto de bens

sociais (POCHMANN, 2004; PNUD, 2009). A partir dessa perspectiva, identifica-se o desemprego como um dos principais determinantes da exclusão social (PNUD, 2009).

O turismo, visto como um fenômeno social com grande dinamismo econômico, pode favorecer a mitigação desse problema por meio da geração de emprego e renda, como já

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apontado anteriormente. Com o propósito de contribuir com a inclusão social, em especial a inclusão socioeconômica, por meio do seu desenvolvimento, o turismo pode se vincular com premissas éticas, e uma consciência crítica e cidadã. Esse fato contribui para um planejamento mais participativo, que traz a comunidade para um papel central nos processos decisórios de desenvolvimento local (IRVING et al., 2015).

O cuidado para que essa interpretação não seja apropriada de maneira oportunista, como em alguns discursos e em algumas políticas públicas, é essencial. É necessário o reconhecimento do processo excludente para que esse seja evitado na prática do planejamento turístico, e para que o fenômeno possa se desenvolver em padrões mais sustentáveis (NASCIMENTO & COSTA in IRVING et al., 2015).

Logo, torna-se fundamental a tentativa de compreender as diferentes possibilidades de inclusão e exclusão junto às relações de poder no sistema produtivo local de turismo. De tal forma, isso implica no pensamento crítico dos modos de produção de uma sociedade com base nos ideais capitalistas de desenvolvimento (CORIOLANO, 2005).

Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo identificar se o turismo age como um fator atenuante ou agravante do cenário de exclusão socioeconômica encontrado em

Pirenópolis. Utilizou-se como base discussões apresentes em estudo prévio sobre fatores de inclusão socioeconômica em destinos turísticos brasileiros (TASSO, 2014), a fim de melhor

entender se as evidências encontradas em outras regiões brasileiras, com relação aos obstáculos para a inclusão da comunidade no sistema produtivo local turístico, de alguma forma, poderiam vir a ser semelhantes no destino de Pirenópolis.

Dessa forma, os procedimentos metodológicos desta pesquisa foram estruturados por meio de abordagens simultaneamente exploratórias, qualitativas e quantitativas. Além do levantamento bibliográfico e documental, e a busca de autores de referência, foram realizadas quatro entrevistas semiestruturadas com atores locais e grupo de atores representativos das diferentes esferas da comunidade local: Conselho Municipal de Turismo

(COMTUR); Sindicato dos Trabalhadores Rurais; Universidade Estadual de Goiás (UEG); e com o ex-Secretário de Turismo (na gestão do período de 2001 a 2004). Também foi feita a aplicação de questionários em modelo survey junto à população local do centro histórico e de quatro povoados circunvizinhos. No total foram aplicados 398 questionários (100%), seguindo um cálculo amostral com base na expectativa da população em 2015.

Os resultados mostram quePirenópolis, por suas características encontradas, à primeira vista, aparenta conduzir o (ou ser conduzida pelo) turismo de forma harmoniosa.

Entretanto, alguns aspectos relacionados ao mercado de trabalho turístico merecem maior atenção.

No esforço de identificar os fatores que impediram a efetivação do emprego na área de turismo, a partir dos dados obtidos, destacam-se, segundo os entrevistados, a “baixa

escolaridade” (17,8%), seguido da “pouca capacitação técnica para o serviço” (14,2%). Aqueles que conseguiram o emprego o devem, principalmente, por sua capacitação técnica

(24,0%), por meio da indicação por conhecidos (19,7%) e/ou pela sua experiência anterior com o mesmo trabalho (23,0%).

De fato, em relação ao nível de escolaridade dos indivíduos entrevistados, percebeu-se uma maior porcentagem de respondentes com, apenas, o ensino fundamental

incompleto, equivalente a 30,3% (119 respondentes) do total. Se somados os respondentes com ensino fundamental incompleto e aqueles sem escolaridade, a porcentagem amplia-se

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para 38,1% (150 entrevistados) do total. Este dado gera indícios de um cenário que reflete o baixo nível de instrução formal da população local, o que pode refletir sobre questões de inclusão socioeconômica, apresentadas posteriormente.

Entende-se que a educação é um dos principais fatores responsáveis pela elevação direta da qualidade de vida da população, sendo essencial para a eliminação da vulnerabilidade de renda. Logo, quanto maior a inclusão na educação básica, mais chances dos potencialmente pobres se afastarem de um quadro de exclusão social (SEN, 2000a).

A falta de capacitação pode ser uma consequência do baixo nível de escolaridade encontrado. Como o indivíduo não tem a escolaridade necessária para se capacitar a nível técnico ou superior, ele deixa de buscar uma oportunidade de ter melhores condições de trabalho no setor turístico.

A baixa escolaridade relaciona-se também a outro indicativo de exclusão encontrado: o alto índice de informalidade no emprego. De um total de 86 respondentes, que afirmaram trabalhar (ou terem trabalhado) no turismo, 44 (51%) disseram não trabalharem com carteira assinada.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) “(...) rendimentos

baixos e irregulares e, frequentemente, a ausência de políticas públicas impedem o indivíduo de investir na sua educação e adquirir as qualificações que lhe permitiriam melhorar a sua

empregabilidade e a sua produtividade (...)” (OIT, 2005. p.12). A representante do COMTUR sustenta que tal cenário ocorre pela falta de interesse

do próprio trabalhador em estabelecer um vínculo empregatício com o proprietário do empreendimento, na intenção de utilizar-se do tempo livre no final de semana para fins de lazer pessoal. Esse fato, segundo a entrevistada, dificulta a inserção formal (com carteira assinada e direitos garantidos) do indivíduo no setor, já que pela sazonalidade típica de fins de semana e feriados, o empregador demanda pessoas disponíveis nesses períodos.

Entretanto, ao longo da aplicação dos questionários, muitos moradores relataram

que isso ocorre não por motivos de busca por lazer pessoal, mas pela baixa remuneração oferecida no setor. Para o trabalhador, segundo relatos de moradores locais, é mais lucrativo trabalhar aos fins de semana nos eventos, e demais atividades da cidade, de maneira informal, do que ter uma renda fixa insuficiente para sua sobrevivência. A literatura mostra que a dinâmica turística, quando mal gerida, pode favorecer a exploração excessiva dos recursos, tanto humanos quanto materiais, de um destino (BURSZTYN, 2005; CORIOLANO,2006; COSTA, 2013).

Ainda nas entrevistas com o representante da UEG e com o Ex-Secretário de Turismo, ambos sinalizaram a problemática do subemprego como recorrente no município. Porém,

eles possuem uma visão distinta sobre a situação. O representante da UEG afirma que tal fato ocorre pelo aproveitamento de menores de idade para trabalhar aos fins de semana,

com a intenção de suprir a falta dos trabalhadores que escolhem não criar um vínculo empregatício, considerando como algo negativo. Já o Ex-Secretário entende que o

subemprego ainda é mais benéfico do que a situação de desemprego, frequente antes do desenvolvimento do turismo no município.

Entretanto, é válido lembrar que a principal justificativa para o esforço de se formalizar o empregado é a garantia à proteção social e aos direitos do trabalhador. Em uma

escala maior, no cenário brasileiro, evidencia-se um alto índice de descumprimento da legislação trabalhista, que é facilitado por meio de brechas legais e pela falta de fiscalização

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(KREIN; PRONI, 2010). No cenário pirenapolino, não foi possível analisar tais aspectos, mas os relatos dos entrevistados do survey e da entrevista com o representante da UEG apresentam situações de exploração da comunidade, como a exploração infantil e cargas horárias de trabalho excessivas, e merecem um aprofundamento.

Nas entrevistas com os representantes foram relatados ainda dois processos de exclusão presentes no Município de Pirenópolis. O primeiro, relatado pelo representante da UEG, diz respeito à expulsão da comunidade local de suas residências localizadas no Centro Histórico da cidade, para venda e criação de empreendimentos turísticos ou “casas de veraneio”. Portanto, favorecendo um processo de marginalização da comunidade tradicional pirenapolina.

O segundo, relatado pela representante do COMTUR, diz respeito ao aumento de preços na venda de produtos e na oferta de serviços à população local. Como o município é constantemente visitado por turistas que possuem um poder aquisitivo que sustenta esse aumento, os moradores sofrem um impacto desse hiato inflacionário que ocorre, principalmente, nos fins de semana e eventos.

Portanto, a pesquisa mostra que, apesar do turismo ter uma relevância notória na

composição da economia local, os vários processos de exclusão social presentes fazem com que o fenômeno não contribua de forma mais eficaz com a inclusão socioeconômica da

comunidade pirenapolina no sistema produtivo local de turismo.

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COSTA, Helena Araújo. (2013). Destinos do Turismo: percursos para a sustentabilidade – Rio de Janeiro: Editora FGV.

COSTA, Helena Araújo (2009). Mosaico da Sustentabilidade em Destinos Turísticos: cooperação e conflito de micro e pequenas empresas no roteiro integrado Jericoacoara –

Delta do Parnaíba – Lençóis Maranhenses. 296p. Tese (Doutorado em Desenvolvimento

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<http://www.firjan.com.br/ifdm/consulta-ao-indice/ifdm-indice-firjan-de-desenvolvimento-municipal-resultado.htm?UF=GO&IdCidade=521730&Indicador=1&Ano=2013> Acesso em:

11/04/16 as 22h08min TASSO, João Paulo Faria. (2014). À procura da inclusividade: estudo sobre os fatores de

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de Brasília, Brasília.

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Responsabilidade socioambientalna hotelaria de Brasília

Josely do Carmo de Almeida Mestranda do CET/UnB

O contínuo avanço tecnológico e a globalização fazem com que as empresas

busquem novas estratégias para o alcance de melhor posicionamento no mercado, no entanto, apenas estratégias voltadas para investimentos tecnológicos e novas estruturas

organizacionais não fazem o diferencial para atender a exigência da sociedade contemporânea. Assim, as empresas aderem às práticas e ações voltadas para a

responsabilidade socioambiental, que vão para além da administração convencional. Este trabalho trata da avaliação da contribuição da responsabilidade socioambiental na hotelaria

de Brasília, tendo como recorte os hotéis do Plano Piloto, da cidade de Brasília - Distrito Federal, no ano de 2016. Será utilizada a técnica de pesquisa do tipo Estudo de Caso, por

meio de um estudo quali-quantitativo, de nível de profundidade exploratório e interpretativo. Será aplicado o Método Multicritério de Apoio à Decisão - Construtivista (MCDA-C) – que possibilitará à pesquisadora a análise das ações de responsabilidade socioambiental, a partir das informações dadas pelos clientes da hotelaria.

Serão palavras-chave deste estudo: Hotelaria de Brasília – Responsabilidade Socioambiental - Método Multicritério de Apoio à Decisão Construtivista – MCDA-C – Stakeholders.

Com a globalização, a sociedade está mais consciente e exigente, assim, não é mais o Estado o único responsável pelo fator socioambiental, as empresas são chamadas a exercer, além do desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e ecológico de maneira responsável.

Segundo YOUNG (2004), “as empresas têm co-responsabilidade na solução dos problemas sociais e ambientais, pois têm poder político e habilidade de mobilizar recursos

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financeiros e tecnológicos para desenvolverem ações que podem ser replicadas pelos outros atores sociais”.

Com seus clientes mais conscientes e mais exigentes, as empresas adotam diversas práticas de gestão com Responsabilidade Social, ou apenas algumas ações que nem sempre representam, exatamente, responsabilidade social e sim, apenas uma mera filantropia pontual. O fato é que há uma grande pressão para a inserção de práticas de responsabilidade social nos negócios das empresas de um modo geral.

Já existem diversos critérios para implantação e avaliação das práticas de responsabilidade socioambiental, como: Norma Social – AS 8000; Accountability AA 1000; Global Compact; Indicadorres Ethos de Responsabilidade Social; e Prêmio ECO Rio de Janeiro.

O objetivo desta pesquisa é avaliar a contribuição da responsabilidade socioambiental na hotelaria, tendo como recorte os hotéis do Plano Piloto, da Cidade de Brasília, Distrito Federal, no ano de 2016. Para isto será necessário a interação entre sociedade, hotéis e pessoas relacionadas ao tema da pesquisa.

O setor hoteleiro de Brasília vem recebendo investimentos tanto de origem nacional

quanto internacional. Os principais hotéis localizam-se nos eixos específicos para os hotéis e próximos aos três principais parques da cidade: o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o

Parque Nacional de Brasília, mais conhecido pelo apelido de "Água Mineral" e o Parque Ecológico e de Uso Múltiplo Olhos d'Água.

O surgimento da hotelaria na cidade de Brasília se confunde com a história de sua construção, uma vez que era necessário abrigar os profissionais que vieram e atuaram no processo de soerguimento da cidade (SANTOS, 2005).

Atualmente, segundo dados obtidos pelo Cadastro de Meios de Hospedagem do Ministério do Turismo, o Cadastur8 (2016), o Distrito Federal tem atualmente, um número aproximado de 5.170 leitos, distribuídos em 3.522 quartos de 22 meios de hospedagem,

entre hotéis e flats, resort e pousadas. Conforme informações do Relatório de Ofertas Turísticas do Distrito Federal,

elaborado pelo Observatório do Turismo no ano de 2015, os números do ministério são muito menores dos que os divulgados pela Secretaria de Turismo. De acordo com pesquisa interna realizada neste ano pela secretaria, o Distrito Federal conta com 31.439 leitos que estariam em 17.538 unidades habitacionais, situados em 228 equipamentos de hospedagem, considerando todos os meios de hospedagem disponíveis, tais como hotéis,

pousadas, apart hotéis e motéis, conforme apresentado a seguir:

Figura 1: Tipologia dos Meios de Hospedagem do Distrito Federal

8 Disponível em: <http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/index.action#>. Acessado em: 14 out. 2016.

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Assim, será destacada a importância deste trabalho, tanto acadêmico como social, para a implantação e manutenção da responsabilidade socioambiental no mundo corporativo.

A responsabilidade socioambiental está inserida no cotidiano de diversas empresas que englobam “além de interesses de proprietários, dirigentes e trabalhadores, ações que correspondam às responsabilidades de que está investida, dentre as

quais: a qualidade intrínseca de seus produtos e as conseqüências de sua util ização; o padrão dos serviços prestados; proteção e preservação do meio ambiente, bem como os efeitos diretos de sua atividade sobre o bem-estar da comunidade” (KARKOTLI e ARAGÃO, 2008).

No contexto nacional podemos observar diversas iniciativas da sociedade civil em

busca de práticas de responsabilidade socioambiental, sejam elas filantrópicas ou beneficentes, tais como Organização não Governamental - ONG, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, Institutos ou Fundações sem fins lucrativos. Como nos mostram Duarte & Dias, 1986:113:

Como acontece no resto do mundo, o universo das empresas brasileiras, visto sob

o prisma da responsabilidade social, apresenta um leque muito amplo de posturas. Há empresas que só conhecem as práticas do “capitalismo selvagem”, enquanto outras situam-se em posição avançada no contínuo de Responsabilidade Social. Felizmente para nossa sociedade, há muitas que pautam sua atuação por fi losofias

abertas ao interesse social (...).

No cenário contemporâneo, diante do rápido avanço tecnológico, percebe-se a incompatibilidade do rápido progresso com o desenvolvimento humano de maneira

igualitária, haja vista o contexto administrativo do Estado.

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Neste sentido, também observa-se o consenso em garantir o bem-estar das pessoas, com o surgimento de novas empresas fundamentadas numa política de gerenciamento voltada à participação e inclusão social.

Assim, o acúmulo de experiências já praticadas pelo Estado e por empresas voltadas à responsabilidade socioambiental, soma-se ao importante papel da sociedade e do mundo acadêmico na discussão sobre a vida, os costumes, os desafios e as possíveis ações para o desenvolvimento da responsabilidade socioambiental.

Pretende-se com esta pesquisa, numa área pouco explorada, a investigação sobre a contribuição da responsabilidade socioambiental na hotelaria de Brasília, com base na análise dos seguintes aspectos:

(a): fatores determinantes para as ações dos hotéis, em Brasília, na adoção de práticas de responsabilidade socioambiental;

(b) histórico nacional sobre a inserção da responsabilidade socioambiental nas empresas; e

(c): diferentes condutas (normas, indicadores, critérios )para aplicação da responsabilidade socioambiental.

Observando a literatura existente sobre esse assunto, pode-se notar a baixa quantidade de referências recentes que permitem compreender os atuais debates em que

se envolvem as questões do tema a ser abordado. Portanto, a pesquisa a ser realizada, também terá como meta cobrir parte dessas lacunas, com base nos referenciais teóricos e na metodologia a serem utilizadas.

Assim, é de suma importância a realização desta pesquisa, para saber se as ações empreendidas na hotelaria de Brasília estão em consonância com as práticas de responsabilidade socioambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IBGE. As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil . Rio de Janeiro: 2004.

INSTITUTO Ethos empresas e responsabilidade social. (Disponível em http:// www.ethos.org.br)

KARKOTLI, Gilson e Aragão, Sueli Duarte. Responsabilidade social: uma contribuição à gestão transformadora das organizações. Petrópolis, RJ. Vozes, 2008.

SANTOS, R. C. X. Perfil do setor hoteleiro do Distrito Federal. Brasília: SEBRAE/DF, 2005. VOLTOLINI, Ricardo (organizador). Terceiro setor: planejamento e gestão. São Paulo: Editora

Senac São Paulo, 2004. YOUNG, R. Dilemmas and advances in corporate social responsibility in Brazil: the work of

the Ethos Institute. Natural Resourcers Forum, V.28, p- 291-301, 2004.

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Turismo responsável em parques: um estudo exploratório no parque da cidade Sarah Kubitschek em Brasília

Elielba Rosa Moura Mesquita Graduada em Turismo pela Faculdade Estácio Brasília em 2015

Donaria Coêlho Duarte Mestre e Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa

Catarina.Professora do Programa de Pós-Graduação em Turismo do CET/UnB

Palavras - chave: Turismo Responsável. Parque Sarak Kubitschek. Brasília. INTRODUÇÃO

O turismo pode romper barreiras e inovar no lazer recriando atividades nas quais os

indivíduos possam sentir-se livres de qualquer obrigação. Agindo com responsabilidade e coerência, os parques podem minimizar o estresse do dia-a-dia e ainda ajudar na preservação e conservação do espaço.

Segundo Beni (2012), o turismo é considerado uma indústria, mas se for feito com responsabilidade, poderá provocar um baixo impacto, sobre o ambiente e a cultura local, gerando, um turismo sustentável. Deve ser concebido e praticado como meio privilegiado de desenvolvimento, de aprendizagem das diferenças entre povos e culturas.

Desta forma o turismo tem uma importância social, por ser um espaço de encontro e de convívio para despertar as pessoas a descoberta de que os espaços urbanos equipados e

conservados e, sobretudo animados para o lazer recreação e turismo, sem descuidar da acessibilidade, são indispensáveis para a qualidade de vida e se constitui um direito a todos.

Baseado nisto, é que se resolve descrever esse trabalho, para perspectivas de mudanças que venham trazer melhorias de segurança e conservação do patrimônio físico do

Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o qual vem sofrendo deterioração, comprometendo à infraestrutura e desagregando valores. Este é um dos maiores parques urbanos do mundo,

com urbanismo de Lucio Costa, arquitetura de Oscar Niemayer e paisagismo de Burle Marx, o qual oferece diversas opções de lazer, (SETUR, 2015). Nesse sentido a problemática desse

estudo é discutir até que ponto o turismo é feito com responsabilidade no Parque Sarah Kubitschek? Assim o objetivo geral do trabalho é analisar se as atividades que o Parque oferece estão sendo conduzidas dentro da responsabilidade. Justifica-se a realização desta pesquisa por esse parque concentrar uma alta procura, nas diversas categorias que o mesmo oferece, (SETUR/ DF, 2015). Este estudo pretende discutir se o turismo responsável pode ou não ser visualizado no Parque da Cidade com iniciativas que se desenvolvam sustentavelmente, com foco de fazer para o outro, aproximando-o e englobando e apontando como está à estrutura do Parque e em consequencia a isso à sua acessibilidade. Portanto, os turistas querem qualidade nos serviços e produtos. O turismo transforma uma

comunidade ou cidade, positiva ou negativamente. Ele não abrange somente o fenômeno em si, mas todos os serviços e produtos que permitem sua ocorrência com responsabilidade, como turismo responsável em áreas de parques.

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Metodologicamente a pesquisa baseia-se na abordagem qualitativa que inclui a realização de entrevistas, foram entrevistadas 2 pessoas, as quais ocorreram no dia 21 de outubro de 2015, com a assessora da administração do Parque e a gerente de eventos do Parque. A coleta de dados com informações fornecidas por servidores do Parque ocorreu dia 11/10/2015. Utilizou-se na pesquisa referências primárias e secundárias, como consultas aos acervos da Secretaria do Turismo (SETUR), consulta a livros, bibliotecas on-line, site do Governo do DF, pesquisas em artigos científicos, e a observação direta no local que tem como principal objetivo explorar as relações existentes, entre o turismo praticado no destino e os princípios da responsabilidade.

1. A RESPONSABILIDADE SOB A ÓTICA DO TURISMO

O turismo pode ser entendido de várias formas, estabelecendo relações em diversas áreas, busca aproximação com o lazer, e possibilita trazer benefícios, já que o lazer tem a capacidade de sustentação do corpo e mente.

A sustentabilidade pressupõe uma conexão da humanidade com outros elementos do ecossistema natural. Assim lazer recreação e turismo é a descoberta da responsabilidade para a conservação. O turismo responsável deve ser sempre com ações de equilíbrio que levem ao desenvolvimento sustentável. Segundo Beni (2012), a adaptação para a mudança, inclui também a reciclagem dos recursos naturais, culturaise sociais. O gerenciamento para a mudança é imprescindível, planejamento, monitoramento, avaliação e controle e isto não tem sido prática corrente em nossas destinações turísticas.

Assim, estas questões de responsabilidade, dizem respeito a toda uma sociedade organizada como um todo, as quais devem participar e se comprometer com os resultados decorrentes dos projetos turísticos. (MTUR, 2007).

Uma das preocupações do turismo responsável refere-se ao zelo com as pessoas com mobilidade reduzida, nesse sentido entende-se que a execução de obras, devem estar adequadas as normas, sem a necessidade de refazê-la, de acordo com (guia de rodas 2015), a não promoção da acessibilidade no momento atual, poderá resultar em despesas maiores, em contraposição, aos princípios da eficiência e da economicidade.

Entende-se que o crescimento do turismo é uma realidade e as pessoas desfrutam cada vez mais, mas, é preciso que as sociedades se organizem e proporcione o acesso às necessidades básicas e os desejos, de todas as pessoas sem distinção. De acordo com o decreto federal 5.296/2004, deve ser observado no planejamento e urbanização dos parques, o rebaixamento das calçadas com rampas acessíveis e instalação de piso tátil direcional e de alerta para pessoas com mobilidade reduzida

Concordando, com o MTUR (2007), considera que é possível um turismo mais justo e sustentável como acontece em vários lugares do mundo. As possibilidades de crescimento equilibrado existem e as novas tecnologias devem privilegiar a vida sem distinção.

2. TURISMO EM ÁREAS DE PARQUES

Na atualidade vive-se fugindo da agitação e stress que geralmente está presente nas cidades, com isso, indo a procura de paz e sossego em locais de áreas verdes como os

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Parques. Para Pena (2002) planejar e administrar sustentavelmente o uso do solo permitirá o crescimento da cidade de forma ordenada, assegurando reservas protegidas de espaços ecológicos, evitando a extinção de espécies da fauna e da flora, criando unidades de conservação, como é o caso dos Parques.

O meio urbano nem sempre é sustentável provocando assim alterações no ambiente das cidades, desta forma está aí a importância dos Parques.

Um Parque deve ter uma área relativamente extensa e respeitar algumas condições. Segundo Brito (2000), que os sistemas não devem estar materialmente alterados pela exploração e ocupação humana, e, onde espécies da fauna e flora estejam protegidos em seu habitat, para interesse científico, educacional e recreativo e que contenham paisagens naturais para serem contemplados. Segundo o autor o poder público deve tomar medidas preventivas para evitar a exploração e a ocupação da área mantendo assim a integridade natural que justifique seu estabelecimento.

3 RESULTADO DO ESTUDO

Os dados analisados na pesquisa foram à responsabilidade sob a ótica do turismo,

turismo em áreas de Parques e por fim o estudo de caso no Parque da cidade Sarah Kubitschek. Foi feito visita ao local e verificou-se a evolução de cada caso, a infraestrutura e

conservação do patrimônio físico do Parque e também ações que estão sendo tomadas para futuras mudanças. De acordo com os resultados da pesquisa, observou-se que o local é grande em extensão, para conhecê-lo totalmente deve fazer por etapas. É um local arejado, com pistas de caminhadas quase todas arborizadas, alguns locais com bebedouros e outros abandonados. Algumas pistas de atletismo e caminhada foram duplicadas recentemente, devido às paraolimpíadas, as quais foram adaptadas rampas de acessibilidade em vários pontos, como também piso tátil, e, banheiros específicos para mobilidades, Mas também há equipamento e atrativos que se deterioram com o uso e não recebem manutenção, placas de sinalização enferrujadas, há falta de lixeiras em alguns locais, gerando acúmulo de lixo. Segundo a assessoria do Parque. Em entrevista realizada em (2015):

A Administração cuida da manutenção com muita dificuldade, inclusive conta com a mão de obra dos presidiários para fazer a l impeza, mas a populaçã o é a primeira a depredar o Parque, arrancam torneiras, mesmo com lixeiras jogam lixo fora do

lugar. A população tem que ajudar cuidando, e sabemos que três coisas são necessárias ao Parque: l impeza, segurança, i luminação.

Ainda nesta entrevista a assessora comenta que estão sempre tentando tomar medidas que minimizem a insegurança e que o policiamento oferece um suporte aos

vigilantes, o Parque é aberto 24 horas, mas os estacionamentos são fechados à meia noite, este parque é muito amplo e qualquer policiamento se torna insuficiente. Segundo ela a

tenente coronel Sheila do 1° batalhão é a responsável pelo policiamento do Parque, mas que infelizmente não se consegue o controle de todo o Parque, por abranger várias entradas

para outros locais, como Sudoeste, Asa Norte, Asa Sul, Setor de Industrias Gráfica, ficando difícil o policiamento atingir todas as áreas. Assessoria, (2015).

O governo está tentando abrir um projeto para que seja feito um estudo, em que as empresas privadas se apresentem e assumam as partes que estão sem manutenção e sem

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uso. As famílias levam as crianças para aproveitarem os brinquedos infantis, como o Parque Ana Lídia, que passou por uma revitalização. Para minimizar recursos, aproveitou-se os brinquedos antigos, fazendo com que ficassem com aparência de novos. As crianças ao que parece adoram, está sempre cheio aos finais de semana.

No dia 09 de outubro de 2016, inauguraram brinquedos para crianças com mobilidade reduzida. É desta forma que se caminha para o sucesso de realizar a conservação de bens patrimoniais, gerando um cidadão mais consciente da conservação e preservação e adaptação importando- se com a preservação, através de reciclagens, reaproveitamento, mudando assim a cultura de que tudo é infinito. Devemos ser parceiros, com ações integradas. A sociedade tem que ser sensível em relação aos bens patrimoniais, sem que necessite ser coagido, partindo de uma concepção de que todos têm direitos iguais, com livre acesso em todos os aspectos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a observação direta no local, questionários e entrevistas, verifica-se

que o Parque Sarah Kubitschek oferece atividades de lazer e recreação diversificados, embora alguns sem uso por falta de manutenção. Mas, que de um modo geral as pessoas estão presentes, não levando em consideração os atrativos que vão deixando de existir por surgirem outras opções. O Parque é provido de uma natureza em espécie de cerrado que escondem diversidades da fauna e flora, dando mais qualidade de vida à área urbana em que está inserido, não necessitando que o morador ou turista daquela área se desloque para longe.

Evidenciou que para se obter um turismo bem sucedido tem que haver a relação com à melhoria da infraestrutura e de equipamentos urbanos respeitando às pessoas com mobilidade reduzida. Ações foram tomadas com relação à melhoria da acessibilidade, mesmo que essas ações tenham sido feitas, por razão das paraolimpíadas 2016, mas ficou como bom legado para que todos possam usufruir com liberdade, sem barreiras

constrangedoras. Os pontos negativos é uma exigência para não depredar e sim refletir que, todos, temos obrigação de zelar pelo patrimônio ou espaço. O governo está abrindo um

projeto de parcerias com as empresas privadas, fazendo concessões para cuidar destes equipamentos públicos, para tornar o Parque mais atraente e acessível, quem sabe tão conhecido como o Central Park em Nova York.

As sociedades contemporâneas precisam ser fundamentadas no humanismo e no conhecimento cientifico direcionado ao desenvolvimento dos recursos que dê acesso a todos. Deve-se evidenciar que um turismo bem sucedido relaciona-se à melhoria da infraestrutura e de equipamentos urbanos; o respeito às pessoas com mobilidade reduzida com treinamento de recursos humanos, à comunidade bem informada, partic ipativa e amigável, a defesa dos interesses locais e a preocupação com as localidades do turismo de inserção das mesmas.

REFERÊNCIAS

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turista/item/2041.

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Gestão de resíduos sólidos e eventos no brasil:rumo à sustentabilidade

Ângela Araújo Gomes

Mestra em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília Valéria Gentil Almeida

Doutora e Mestra em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB Thamyris Andrade

Mestre em Turismo pela UnB

Pereira (2010) assegura que “evento sustentável” é aquele que agrega os princípios da sustentabilidade em seu planejamento e organização; já para Yeoman (2006), a

sustentabilidade nos eventos está pautada nos benefícios para a comunidade anfitriã. Ao abordar a temática de sustentabilidade, por se tratar de um termo que possui uma

amplitude extensa, é importante identificar objetivamente as suas dimensões econômicas, sociais e ambientais em sua estreita correlação. Sachs (2007) destaca que a sustentabilidade

em questão deve ser pautada em cinco dimensões: ecológica, social, econômica, cultural e geográfica ou espacial. A escolha concreta da dimensão a ser utilizada para fins de pesquisa

é variável conforme o ambiente escolhido e a interpretação de cada pesquisador, referindo-se neste caso aos eventos.

As ações sustentáveis devem ser aplicadas conforme a realidade do local, com o enfoque no alcance dos objetivos e interesses comuns, envolvendo dimensões ecológicas, econômicas e sociais na busca de ações que promovam um desenvolvimento a curto, médio e longo prazo.

De acordo com Fontes (2008), podem ser desenvolvidas ações com as dimensões de sustentabilidade ambiental, econômica, política, social e cultural.

Segundo Zanella (2008), os impactos positivos dos eventos em determinada localidade podem ser classificados como: geração de empregos, principalmente na utilização de mão

de obra de baixa qualificação; contribuição para a estabilidade econômica local, aumento da taxa de ocupação hoteleira no período de baixa estação, incremento da arrecadação de

impostos e tributos, promoção da melhoria dos serviços de infraestrutura da localidade sede e diversos benefícios para a comunidade como um todo.

Dentre os impactos negativos gerados por eventos na localidade sede destacam-se: acúmulo de pessoas dentro de um espaço no mesmo período; engarrafamentos; utilização de espaços

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públicos e vias de acesso como áreas de estacionamento; poluição sonora e visual; especulação imobiliária; geração de lixo; desvalorização da cultura local; violência; alteração no cotidiano da população local, e similares (Zanella, opt. cit.).

Neste contexto, um dos principais impactos negativos é o volume de resíduos gerados em eventos, quais sejam folders, cartazes, banners, lonas, papéis, copos descartáveis e os

demais itens usados antes e durante o evento, que não terão mais utilidade depois deste. Para Mortean (2010), os resíduos gerados devem ser gerenciados para que possam ser

coletados, separados corretamente e encaminhados para reciclagem.

Atualmente a palavra “lixo” vem sendo substituída tecnicamente pelo termo “resíduos”. O

“lixo” está associado à inutilidade, àquilo que não serve mais, enquanto o “resíduo” remete a uma nova utilização de determinados produtos (Zaneti, 2006, p. 37). Os resíduos devem

ter um processo adequado em todo o seu ciclo, desde a sua geração até o seu destino final, sem agredirem a natureza. A destinação correta dos resíduos é uma das preocupações

sociais discutidas ao longo dos anos. Um exemplo disso foi a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92, com a Agenda 21 que

buscava soluções para os problemas ambientais.

Em comemoração aos 20 anos da ECO-92, aconteceu no Rio de Janeiro em 2012 a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO+20, onde foram

discutidas as ações desenvolvidas pelos países participantes e apresentadas novas perspectivas. Durante a conferência foi apresentado o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos

da Rio+20 (PGRS) que estabeleceu princípios e diretrizes de sustentabilidade em eventos, considerado com um marco para organização de eventos sustentáveis. Esse documento

pretende auxiliar na organização de futuros eventos, principalmente no que se refere à gestão de resíduos sólidos e à integração de práticas de sustentabilidade. A importância do

Plano é destacada em um dos seus objetivos, que prevê “deixar um legado de sustentabilidade para execução de grandes eventos na cidade do Rio de Janeiro e no âmbito

da ONU” (Brasil, 2012, p.21).

O PGRS Rio+20 aponta os seguintes indicadores para uma avaliação de sustentabilidade em

eventos: “perfil e quantidade de público; quantidade total de resíduos gerados; quantidade de resíduos recicláveis, não recicláveis e compostáveis; metas estabelecidas e atingidas; além das destinações utilizadas” (Brasil, 2012 p. 20). Também estabelece uma estimativa de volume de resíduos gerados em dado evento, levando-se em conta o número de

participantes, a duração da programação por dia e a quantidade diária de resíduos

domiciliares na localidade sede.

Em relação à classificação dos resíduos, o Plano separa os eventos que agregam o setor de

gastronomia, o preparo de alimentos, vendas e degustação de produtos alimentícios, dos que não agregam esse setor, conforme tabela 1. A separação ou triagem dos resíduos

gerados é essencial para a recuperação e a reutilização destes. Após a triagem, eles são encaminhados para a reciclagem, sendo posteriormente utilizados como matéria-prima para

a fabricação de novos produtos, e a compostagem que se traduz na obtenção de um material orgânico usado na agricultura (Cunha e Filho, 2002).

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Tabela 1: Quantidade de resíduos indicada pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos da Rio+20

Tipo dos Resíduos Eventos com área de Alimentos&Bebidas

Eventos sem área de Alimentos&Bebidas

Envio para reciclagem 40% 40%

Não reciclável 50% 60%

Compostável 10% -

Fonte: Brasil (2012 p. 33)

O PGRS RIO+20 (2012) estabelece, outrossim, as principais diretrizes para o desenvolvimento da gestão de resíduos sólidos em eventos. Faz-se necessário ressaltar a importância de dois tópicos no processo de gestão de resíduos sólidos, a saber: (1) participação da comunidade local, notadamente das cooperativas envolvidas com a coleta seletiva e reciclagem dos resíduos gerados no decorrer de determinado evento, e (2) realização de pesquisas relativas a esse processo. O papel de cooperativas de catadores em eventos é de suma importância para garantir uma correta gestão de resíduos. Gentil (2008) e Araujo (2011) caracterizam-nas como mão de

obra especializada para a execução das atividades definidas na gestão: os catadores tratam os resíduos como uma fonte de renda, possuindo conhecimentos específicos quanto à separação e triagem dos resíduos e ações de reciclagem, o que contribui para o

desenvolvimento social e econômico de suas cooperativas e para a adequada reciclagem dos resíduos.

Para Nery (2008), as pesquisas sobre gestão de resíduos em eventos ainda são restritas. Entretanto, ressalta-se a importância desse tipo de pesquisas no intuito de promover a

redução e a reciclagem dos resíduos, assim como a participação da comunidade local com a respectiva geração de empregos, e de garantir, dentro de um contexto mais amplo, uma

maior sustentabilidade ambiental, econômica e social.

ANÁLISE DOS DADOS

Diante dessa abordagem, vale destacar os principais eventos realizados no Brasil nos últimos 5 anos, destacados no Plano da Rio+20 e resumidos na Tabela 2, bem como identificar a

quantidade de resíduos sólidos gerados e as ações desenvolvidas para a redução do impacto ambiental.

Tabela 2: Principais eventos realizados no País, destacados no Plano da Rio+20 (2012), e a

quantidade total dos resíduos gerados e ações desenvolvidas.

EVENTO VOLUME TOTAL DE

RESÍDUOS

AÇÕES DESENVOLVIDAS

Jogos Pan

Americanos (2007)

761 toneladas

- Coleta e triagem dos resíduos perigosos para produção de

sabão e detergente; - Recolhimento e tratamento do óleo de cozinha para produção de sabão e detergente; - Transformação

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do esterco produzido em instalações do Hipismo em fertilizantes, sendo utilizado na adubação de jardins e parques

públicos; - Uniformes da força de trabalho e voluntários feitos de tecidos cuja composição contém 50% de plástico reciclável e

50% de algodão; - Dentre outras ações.

SWU

(2010)

52 toneladas

- Coleta e triagem dos resíduos coletados; - Estruturas construídas com tampinhas de garrafa, latas, garrafas de

plástico, garrafas de vidro; - Mobiliário confeccionado com material reciclado; - Tinta utilizada à base de água; - Dentre

outras ações.

Rock In Rio

(2011)

318

toneladas

- Coleta e triagem dos resíduos coletados; - Uso de materiais reciclados ou recicláveis; - Sinalização dos coletores

identificados por meio de adesivos com o nome “reciclável” e “não reciclável”; - Móveis e decoração da área VIP;

- Dentre outras ações. Fonte: Silva (2012); Gomes (2014).

A Tabela 3 sintetiza os dados apresentados acima, referentes a cada evento, a quantidade de

resíduos gerados e sua caracterização.

Tabela 3: Eventos pesquisados e resíduos gerados.

EVENTO TOTAL DE RESÍDUOS

TIPO DE RESÍDUOS Reciclável Não reciclável Orgânico

Jogos Pan Americanos 2007 761 toneladas 12,2% 74,5% 13,3% SWU 2010 52 toneladas 53% 46% 1%

Rock In Rio 2011 318 toneladas 25% 54% 21%

Fonte: Gomes e Gentil (2014). Considerando a diretriz estabelecida pelo Plano de Gestão de Resíduos Sólidos da Conferência Rio+20 e referente à porcentagem da classificação dos resíduos gerados em eventos, destaca-se que dos três eventos analisados somente o SWU se enquadra como um evento que possui premissas de um evento sustentável. CONSIDERAÇÕES Há no Brasil a necessidade de uma gestão de resíduos sólidos urbanos em mega e grandes eventos que seja eficaz e eficiente e esteja de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A sustentabilidade em eventos é um aspecto ainda pouco discutido entre os

organizadores, motivo pelo qual o desenvolvimento das respectivas estratégias ambientais anuncia-se como imprescindível. Um dos principais documentos que norteiam a pesquisa

científica nessa área é o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos (PGRS) elaborado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada em 2012 no Rio de Janeiro. Esse documento foi utilizado como a fonte chave do presente estudo

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no qual se destacam a quantidade de resíduos gerados e as ações desenvolvidas para a gestão de resíduos sólidos nos Jogos Pan Americanos de 2007, SWU de 2010 e Rock In Rio de 2011. Com base nas diretrizes estabelecidas pelo PGRS da Rio+20, pode-se concluir que, dos três eventos analisados, somente o SWU pode ser considerado como um evento que apresenta um perfil de sustentabilidade. Dessa forma, cabe aos organizadores e participantes assumirem a responsabilidade ambiental em relação aos eventos futuros, tomando atitudes que minimizem os impactos ambientais causados pelos eventos. Os mais diversos problemas (concentração de muitas pessoas com um perfil social, econômico e educacional diversificado no mesmo espaço, falta de planejamento quanto à gestão de resíduos gerados durante o evento e, finalmente, desconhecimento dos impactos que este pode causar à localidade sede, entre outros) precisam ser abordados para a implantação das práticas sustentáveis que permitirão reduzir ao mínimo os impactos negativos provocados por “comportamentos pouco amigáveis” com o meio ambiente. REFERÊNCIAS

ARAUJO, Camylla Portela. Ações de Educomunicação ambiental a coleta seletiva de resíduos na Universidade de Brasília. Dissertação de mestrado em Educação pela Faculdade

de Educação, Universidade de Brasília. 2011. FONTES, Nádia. Eventos mais sustentáveis: uma abordagem ecológica, econômica, social, cultural e politica. São Carlos: SP: EdUFSCAR, 2008. GENTIL, Valéria, Almeida. Pessoas residuais e resíduos das pessoas: Uma análise do desenvolvimento mercadológico do Distrito Federal – DF. Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, 2008. . O Esverdeamento da Economia e os Tributos Verdes: um duro caminho rumo a sustentabilidade da gestao dos residuos solidos urbanos. Tese de Doutorado

apresentada ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, 2013. GOMES, Ângela Araujo. Gestão de resíduos sólidos como estratégia de sustentabilidade ambiental nos grandes eventos. Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília, 2014. MORTEAN, Alan Frederico. Quantificação da produção de resíduos sólidos de eventos mais sustentáveis: estudo de caso na USP de São Carlos. Monografia apresentada a Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade de São Paulo, 2010.

NERY, Carlos Henrique Cardona. A geração de resíduos no festival gastronômico de Carlos Barbosa: O Fetisqueiro. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Turismo da Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul (RS), Universidade de Caxias do Sul, 2008.

PEREIRA, Ethel Shiraishi. Isso não tem importância: eventos e sustentabilidade na sociedade do Espetáculo. Communicarev.10, n. 1 Centro Interdisciplinar de Pesquisa. São

Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2010. ROMERO, Rafaela; RIBEIRO, Paulo Cezar Martins. Análise de impactos relacionados à mega-

eventos e seus custos para o Brasil. Rio de Janeiro: 2009. Disponível em: http://xa.yimg.com/kq/groups/15174242/1780165409/name/Impacto+dos+Megaeventos.P

DFAcesso em: 15 de Maio de 2013.

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SACHS, Ignacy. Rumo à ecossistema: teoria e prática do desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2007. SILVA, Cléber Soares Da. Sustentabilidade na gestão de resíduos dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Dissertação apresentada a Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2012. TAVARES, O. Quem são os Vencedores e os Perdedores dos Jogos Olímpicos? Espírito Santo: UFES, [2008?]. Disponível em: < http://www.lusofilia.eu/CESPCEO/Artigo-10.htm >. Acesso em: 02 de Julho de 2013. YEOMAN, Ian. et al. Gestão de festivais e eventos: uma perspectiva internacional de artes e cultura. Traduzido por Gabriela Scuta Fagliari. São Paulo: Roca, 2006. ZANELLA, Luiz Carlos. Manual de Organização de Eventos: planejamento e organização. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2008. ZANETI, Izabel. As sobra da modernidade: o sistema de gestão de resíduos em Porto Alegre. Porto Alegre: RS, 2006.

A importância do turismo sustentável para o alcance dos objetivos das áreas protegidas

Paula Gomes Mestranda em Turismo pelo CET/UnB

Nathália Garay Mestranda em Turismo pelo CET/UnB

André Cunha Doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, UFMG.

Professor Adjunto do Instituto de Biologia (IB/ECL/UnB), do Centro de Excelência em Turismo CET-UnB, e do Centro de Estudos do Cerrado – Centro UnB Cerrado

Atualmente, usamos mais recursos naturais do que o planeta é capaz de fornecer, isso vem

gerando uma imensa crise ambiental e consequentemente levando a uma preocupação e mobilização de parte da sociedade para enfrentá-la (Primack & Rodrigues, 2002; WWF,

2016). Isso resulta em ecossistemas entrando em colapso, exaustão de bens e serviços ambientais, e cada vez mais espécies são ameaçadas devido à destruição, fragmentação e

degradação de habitat, introdução de espécies exóticas, caça predatória, e recentemente também às mudanças climáticas globais (Hoffmann et. al., 2010; WWF, 2016).

Para mitigar as consequências dessa crise, a ideia do desenvolvimento sustentável surgiu como uma resposta ao problema da degradação ambiental, causada pelo modelo econômico

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atual. O conceito de desenvolvimento sustentável nasceu na década de 70, e em 1972 houve a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA e a Conferência de Estocolmo. Ali nasceu o conceito de ecodesenvolvimento e gradativamente se tornou desenvolvimento sustentável (Sachs, 2002).

O grande marco se deu, quando publicado o Relatório Brundtland, o qual apresentou um

novo olhar sobre desenvolvimento, definindo que o ideal é o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas

próprias necessidades”. O Relatório aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, trazendo à tona mais uma vez a

necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente” (WWF, 2016).

Por isso, o desenvolvimento sustentável pressupõe uma estratégia de desenvolvimento que

não se baseia em uso predatório da natureza (Costa, 2005). É um conceito que leva em conta o meio ambiente e comunidades locais, representando uma nova forma de

desenvolvimento econômico, que sugere a qualidade em vez da quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização, da reciclagem e da

preocupação com as comunidades locais e questões sociais.

Assim, fundamentalmente, o desenvolvimento sustentável tem como questão inerente a conciliação do desenvolvimento econômico com as necessidades de preservar o ambiente,

distribuir riquezas e utilizar os fluxos e fundos naturais a longo prazo (Binswanger, 1999).

Em meio à crise da biodiversidade atual, e todas as consequências danosas advindas da

sociedade moderna, alguns segmentos do turismo, principalmente os tipos voltados para a natureza, tem sido promovido como uma atividade capaz de conciliar a conservação da

biodiversidade, a sensibilização da sociedade com relação às questões ambientais e o desenvolvimento de alternativas econômicas que beneficiem a manutenção das áreas

protegidas e as comunidades (Rodrigues, 2009).

Observando esse enfoque ecológico, durante as últimas décadas surgiram muitos termos que contemplam o turismo em áreas naturais, como: turismo de natureza, turismo sustentável, turismo responsável, turismo verde, turismo de base comunitária, ecoturismo e outros.

Destaca-se o turismo sustentável que está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento sustentável, é alicerçado nos mesmo pilares, visando atender as dimensões social, econômica, ambiental e política. Segundo Hunter, é o turismo que contribui para o desenvolvimento sustentável do destino em que ocorre (Hunter, 1997). O turismo

sustentável pode ser definido como aquele que desenvolve as suas atividades de forma a minimizar os impactos ambientais e sociais negativos e a maximizar os positivos.

Por isso, o turismo sustentável deve fazer um uso ótimo dos recursos naturais que constituem um elemento chave no desenvolvimento do turismo, de forma a manter os processos ecológicos cruciais e ajudar na conservação da biodiversidade; respeitar a autenticidade das comunidades locais, conservar as suas heranças culturais construídas e os

valores tradicionais, contribuindo para a existência de um espírito de compreensão intercultural e tolerância; e assegurar operações econômicas viáveis no longo prazo, de forma a providenciar benefícios socioeconômicos a todos os stakeholders, pessoas ou

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instituições envolvidos no processo. Estes benefícios devem ser distribuídos de forma justa, e devem ser considerados essenciais a criação de empregos estáveis e a contribuição para o alívio da pobreza nas comunidades locais (OMT, 2003).

Paralelamente, ressalta-se que as questões de conservação estão na vanguarda da opinião pública (Wearing & Neil, 2014). O autor Keith Thomas (2010) afirma que estamos passando

por uma mudança de atitude do homem com os ambientes naturais, onde deixa de vê-las com algo rústico e selvagem e passa a enxerga-las como um refúgio de beleza natural e

espiritual.

Nesse contexto, o turismo em áreas protegidas vem emergindo mundialmente como

estratégia de desenvolvimento, de conservação e preservação da natureza (Goodwin, 1998; Niefer, 2002). Por isso, a criação de áreas protegidas, como parques e reservas tem sido um

dos principais elementos da estratégia para conservação da biodiversidade (Diegues, 2008), resultado de políticas públicas direcionadas à proteção e uso sustentável do meio ambiente.

No Brasil, as áreas protegidas adquiriram certo reconhecimento no decorrer do século XX, antes disso, o País se focava somente no que fosse economicamente relevante, como o cultivo de madeira e a produção de minérios (Medeiros, Irving & Garay, 2004).

Essas áreas têm como ideal a preservação de ecossistemas naturais de grande relevâ ncia ecológica e beleza cênica, a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de

atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico (Brasil, 2000).

Atualmente, as Unidades de Conservação Brasileiras, tipo de área protegida, são organizadas a partir da regulamentação da lei federal n° 9.985/2000 que instituiu o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação, estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão das Unidades. A existência de objetivos diversos de conservação entre os variados tipos de UCs determinou também a criação de categorias distintas que, devidamente ordenadas, fossem capazes de alcançar a totalidade dos objetivos nacionais de conservação (WWF, 2016).

De acordo com o uso que lhes são permitidos, há dois grupos de UCs, um engloba as categorias de Uso Sustentável, que visam conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais (Brasil, 2000). O outro o grupo engloba as UCs de Proteção Integral, que têm por meta preservar os recursos naturais, de modo a manter os ecossistemas livres da modificação provocada pela ação humana, restringindo a exploração e o proveito dos recursos naturais, às atividades econômicas sem a extração de bens ou

produtos, como, por exemplo, a visitação (Brasil, 2000). Os Parques Nacionais, categoria de Proteção Integral, objetivam a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância

ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo de natureza (Brasil, 2000).

A viabilidade do turismo como instrumento de conservação depende de um entendimento

das expectativas dos turistas, a adequação do turismo na área visitada, e a capacidade dos gestores do parque para fornecer uma experiência de alta qualidade ao mesmo tempo minimizando os potenciais impactos negativos da visitação (Eagles & Hillel, 2008), e aliado

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ao planejamento de políticas públicas pode se tornar uma estratégia eficaz para manutenção de tais áreas.

Assim, a visitação pode incrementar a renda dos Parques Nacionais por meio de

diversificadas modalidades, como a cobrança de taxas de ingressos e atividades recreativas, utilização de instalações, como camping, estacionamento e abrigos, concessão de serviços,

venda de alimentos e de mercadorias e doações dos visitantes (Geluda, 2010).

Os debates a esse respeito têm se concentrado em melhorar a sustentabilidade financeira

dessas áreas, o que denota a capacidade de garantir recursos financeiros suficientes, estáveis e de longo prazo. E assim, reparti-los em tempo hábil e de forma adequada, para

cobrir os custos totais das áreas protegidas e garantir uma gestão eficaz e eficiente quanto à conservação e demais objetivos ambientais (Emerton et al, 2006).

O problema essencial das áreas protegidas é a baixa atratividade política de destinar recursos para um setor cujos benefícios ocorrem no longo prazo e tendem muitas vezes a ser percebidos pela sociedade como de pouca relevância. Os governos não têm instrumentos gerenciais adequados para administrar atividades que requerem doses elevadas de agilidade, flexibilidade e criatividade (Riva et al., 2014).

No Brasil, as UCs são estratégias de conservação principalmente financiados pelo governo e que passam por inúmeras dificuldades para atingir seus objetivos, inclusive promover a

conservação da natureza e o turismo sustentável. Entre outros motivos, não recebem verbas suficientes, forçando-as a operarem com receitas abaixo das despesas necessárias para uma

gestão efetiva. Existe uma grande lacuna, tanto para suprir as demandas das áreas existentes, quanto para garantir a criação de novas áreas, no financiamento de áreas

protegidas e não parece que estas necessidades serão sanadas pelos meios tradicionais, ou seja, orçamento público e filantropia (Castro, 2007).

Ademais, a gestão pública das UCs possui um grande entrave, o qual se refere à fragilidade dentro da estrutura governamental, o que as torna mais vulneráveis a mudanças políticas e cortes orçamentários, sendo pouco prestigiadas na divisão dos recursos, o que significa fluxo de verbas insuficiente e irregular (Nogueira & Salgado, 2001).

Assim, o entendimento de que as áreas protegidas são espaços que devem permanecer intocados está ultrapassado. A maioria dos usos do solo e da exploração de recursos naturais permitidos nas UCs brasileiras prevê e potencializa atividades que contribuem para a geração de renda, emprego, aumento da qualidade de vida e o desenvolvimento do país, sem prejuízo à conservação ambiental (Gurgel et al., 2009).

No entanto, o sistema de áreas protegidas não é suficiente para a conservação de todos os componentes representativos da biodiversidade. Para isso precisam ser mais bem localizadas, projetadas e gerenciadas para lidar com problemas como a falta de representatividade, impactos da ocupação humana, a coleta ilegal de plantas e caça de animais, turismo insustentável, os impactos de espécies invasoras e a vulnerabilidade à mudança global (Watson et al., 2005).

Por fim, observa-se o enorme o potencial econômico que o Brasil desperdiça por não explorar efetivamente suas UCs, ainda que nem todas sejam aptas a abrigar atividades

econômicas. Há potencial para transformar as áreas protegidas brasileiras em oportunidades

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de geração de emprego e renda por meio da visitação, entretanto, falta perspectiva de exploração do potencial nacional de modo a transformar a conservação dessas áreas em fonte de riqueza para o país (Riva et al., 2014).

REFERÊNCIAS

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As possibilidades de caminhos turísticos para pedestres na cidade de Goiás-GO

Diego Pinto de Mendonça Graduando do curso de Gestão de Turismo pela UEG

Joana Darc Paiva da Silva Mestranda em Turismo pelo CET/UNB

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INTRODUÇÃO

A cidade de Goiás, antiga capital do estado, recebeu em 2001 da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o título de Patrimônio Mundial Cultural. Colaborando assim para a preservação da herança cultural e arquitetônica existente na cidade, o que acabou norteando o segmento predominante de turismo presente na cidade, o turismo cultural.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), iniciou o tombamento da cidade de Goiás em 1950 com suas principais igrejas e o quartel, no ano seguinte foi a vez da antiga Casa de Câmara, hoje conhecida como Museu das Bandeiras, além do Palácio Conde dos Arcos e do Chafariz de Cauda. Em 1978 foi tombado o centro histórico (CARNEIRO, 2005). Quadro 1 - Bens tombados na cidade de Goiás:

Fonte: Portal IPHAN. Disponível em:

http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Lista_de_bens_tombados_2016.pdf>. Acesso em 3 de junho de 2016.

Percebe-se com esse breve histórico que o patrimônio cultural da cidade de Goiás

possui diversos bens materiais. Esses bens estão localizados em sua maioria dentro do centro histórico ou próximos a ele, o que acaba facilitando a criação de caminhos turísticos.

Vale mencionar que,

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A mobilidade e a acessibil idade refletem as múltiplas soluções que as pessoas adotam para se deslocar no espaço da cidade. As pesquisas demonstram que, entre as formas de deslocamento, os percursos a pé são cada vez mais importantes e, em se tratando de cidades históricas, com grande presença de turistas, esse modo de

locomoção tem ainda maior destaque. (RIBEIRO, 2014, pg.07)

Desta forma, a cidade ‘reconhecida’ por suas singularidades coloniais, pois, se

processa no decorrer dos anos, entre os períodos: Colônia, Império e República; e, conserva-

se delicadas heranças nos saberes e fazeres do povo Vilaboense, os quais são do seu modo simples, ou interiorano, pessoas alegres e comunicativas.

METODOLOGIAS

Para o estudo, visitas às ruas foram realizadas, visando observar in loco os espaços-ambientes conforme suas reais circunstâncias. Os percursos foram pontuados seguindo os dados do Quadro 1 – de modo à acompanhar os bens consagrados, passando por ruas, praças, becos e avenidas, sugeridas por ora, para desenvolver passeios à pé, de modo a contemplar as belezas e peculiaridades da cidade.

O Guia Brasileiro de Sinalização Turística (2001, p.28), elaborado pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), IPHAN e Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), discorre sobre os caminhos turísticos para pedestres.

Para definição dos caminhos turísticos para pedestres e portadores de deficiência, devem ser considerados os aspectos de segurança, acessibilidade, conforto e atratividade. *…+ Havendo espaços adequados, o sistema de sinalização deve ser complementado com placas de sinalização interpretativa, que dão mais subsídios para a escolha dos caminhos, *…+ possibilitando maior interação do visitante com o objeto de interesse e melhor planejamento do seu tempo para visitação.

De acordo com Beni (1998), é preciso compreender todos os envolvidos no Sistema de Turismo (SISTUR) inclusive o poder público, para direcionar e demandar

responsabilidades e parcerias. Para implantar caminhos turísticos é de suma importância que as políticas públicas do município consigam viabilizar a estrutura necessária para criação de tais caminhos turísticos.

CONSIDERAÇÕES

No quesito segurança, é preciso prover condições para que os pedestres caminhem em locais adequados como passeios públicos ou áreas destinadas a circulação dos mesmos,

com iluminação ao longo do percurso, travessias de vias sinalizadas e percurso provido de policiamento. Na acessibilidade, considerando a topografia da cidade de Goiás, é preciso

pensar na distância máxima para o caminho, levando em conta a proximidade com estacionamentos e sistemas de transporte que facilitem o acesso a seus usuários. Sobre

conforto e atratividade, é indicado que o caminho turístico tenha mobiliário urbano (lixeiras

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e bancos para descanso), favorecendo que o caminho seja percorrido em etapas, sanitários também são importantes para o conforto, além de locais para alimentação do turista. De acordo com o Guia Brasileiro de Sinalização Turística (2001, p.104), “as placas interpretativas são a tradução do conhecimento por meio de uma linguagem prazerosa e de fácil compreensão”. O objetivo desse tipo de sinalização é disseminar informações, fazer com que o turista se familiarize com a cidade e os locais visitados, além de ser algo que faç a o turista pensar, lembrar ou explorar. Segundo Scatolin, Silva, Barbosa e Monteiro (2006, p. 18), “Quando o turista chega a seu destino, mesmo que seja sua segunda visita, não tem conhecimento profundo sobre o lugar e, precisará de informações para se deslocar”. Os caminhos turísticos tem a função não só de informar e guiar o visitante, mas também fazer com que ele vivencie um pouco da história do lugar, despertando a imaginação de cada turista ao ler e interpretar a sinalização. Na cidade de Goiás, existe um trecho localizado entre a Igreja do Rosário e o Museu das Bandeiras, onde se localiza a maioria dos bens tombados, além do Museu Casa de Cora Coralina, o Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e a Cruz do Anhanguera, constituem-se como pontos importantes da cidade. Esse trecho é propício para elaboração de um caminho

turístico, tendo em vista a distância de 750 metros, e por conter, além dos pontos turísticos citados no texto, serviços turísticos como restaurantes, bares, agências de turismo, loja de

artesanatos e souvenirs. Outra possibilidade é a implantação de mais de um caminho, podendo ser divididos em níveis variados do fácil ao difícil, dependendo da distância e do trajeto percorrido, possibilitando conhecer outros atrativos da cidade de Goiás. REFERÊNCIAS BENI, Mario C. Análise estrutural do turismo. 2. ed. São Paulo: Senac, 1997. CARNEIRO, Keley C. Cartografia de Goiás: patrimônio, festa e memória. 2005. 123 f.

Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia. Universidade Federal de Goiás, Goiânia. DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO (DENATRAN). GUIA BRASILEIRO DE SINALIZAÇÃO TURÍSTICA. Brasília, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO (EMBRATUR). INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). RIBEIRO. Sandra Bernardes. Mobilidade e acessibilidade urbana em centros históricos.

Brasília: Iphan, 2014. 120 p. (Cadernos Técnicos; 9) SCATOLIN, K., SILVA, N. G., BARBOSA, T., & MONTEIRO, V. Sinalização Turística Interpretativa

e Indicativa: um Estudo de Caso do Centro Velho da cidade de São Paulo. Monografia de graduação, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2006.

Turismo e suas faces na comunidade Kalunga do Engenho II-Cavalcante GO

Rosiene Francisco dos Santos

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Graduação em Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Soraia Brito da Silva

Graduação em Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Giovanna Adriana Tavares Gomes

Mestra em Turismo e Hotelaria pela Universidade Vale do Itajaí – SC Victória de Melo Leão

Mestranda em Ambiente e Sociedade (PPGAS/UEG)

RESUMO

O turismo em comunidades tradicionais vem ocupando espaço no cenário mundial. É uma atividade que pode gerar renda para esses povos, que na maioria das vezes, encontram-se

em áreas afastadas dos grandes centros urbanos e passam por necessidades, como a falta de emprego. Este trabalho tem como objetivo analisar as faces do turismo na Comunidade Kalunga do Engenho II, município de Cavalcante-GO, quais os impactos gerados por essa atividade. Os impactos são tanto positivos quanto negativos, mas o que se tem que analisar é o bem estar das pessoas que vivem nesse ambiente e também daquelas que vão para conhecer a cultura, as belezas naturais. Pode-se observar que a atividade turística provoca impactos socioambientais, culturais e econômicos na comunidade Kalunga do Engenho II. Palavras-chave: Turismo. Belezas Naturais. Comunidade Kalunga Engenho II. INTRODUÇÃO

O turismo em comunidades tradicionais vem ocupando espaço no cenário mundial é uma

atividade que pode gerar renda para esses povos, que na maioria das vezes encontram-se em área afastadas dos grandes centros urbanos, e passam por necessidades, como a falta de

emprego. A pesquisa em questão trata sobre os impactos do turismo na comunidade Kalunga do Engenho II, localizada no município de Cavalcante, do estado de Goiás, na região nordeste na Chapada dos Veadeiros.

Este povo viveu isolado até a década de 1982, e hoje traz uma carga histórica que chama a atenção das áreas acadêmicas como forma de estudo. Outro fator relevante é sua localização que se encontra no cerrado brasileiro, bem conservado e cercado de belezas naturais que atraem turistas do país inteiro. A palavra Kalunga é de origem africana (bantu),

com K ou C, tem inegavelmente múltiplos significados. Em que calunga escrito com a letra C significa coisa pequena e insignificante, como o camundongo catita do Nordeste em que foi dado pelos colonizadores (BAIOCCHI, 2013; BRASIL 2001).

Mas quando se refere no sentido da palavra Kalunga pelos próprios negros o significado se

inverte, tem o significado de mar, campo sangrado para o repouso dos ancestrais (cemitério), em quimbundo é um tratamento de pessoa ilustre ou até mesmo sinônimo de

negro enfim na Chapada dos Veadeiros também existe uma humilde plantinha que faz lembrar a necessidade da união e da solidariedade de todos. Ela é a marca da realeza

africana sustentada pela força dos ancestrais.

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Pois essa planta é símbolo da dignidade do negro e da grandeza do povo Kalunga (BRASIL, 2001). Os Kalunga usam da terra para sua subsistência, plantando e criando animais em pequena escala. Atualmente essa comunidade está desenvolvendo a atividade turística, mais uma oportunidade geradora de renda. No entanto essa atividade pode gerar impactos nas dimensões, social, econômica, cultural e ambiental. Segundo Mendonça (2001, p. 19), “o turismo é considerado uma indústria e, assim como os demais setores da economia moderna, depende da apropriação e exploração da natureza e das sociedades locais”.

A autora explica que o turismo é uma fonte exploratória de serviços, em que utiliza a natureza e a cultura como sua principal fonte de renda, muitas vezes

de forma inapropriada, fazendo com que a comunidade sofra influência de outras culturas e perca a sua identidade, também levando à degradação do patrimônio natural.

Com relação à abordagem, a pesquisa adotou um estudo qualitativo, porque analisa os aspectos socioeconômicos, culturais, ambientais de uma localidade, sem atribuição direta de

números. Segundo Flick (2009, p. 23), essa pesquisa tem aspectos como “probabilidade de métodos e teorias, perspectivas dos participantes e sua diversidade, reflexividade do

pesquisador e da pesquisa, variedade de abordagens e métodos de pesquisa qualitativa”, permitindo uma melhor análise das relações da Comunidade Kalunga do Engenho II com o turismo.

É uma pesquisa descritiva que busca relatar com exatidão os fatos e fenômenos existentes em uma determinada realidade na comunidade, mostrando suas características e problemas

devido à implantação do turismo (DENCKER 1998).

RESULTADOS

O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é uma região simples que pratica atividades no campo, como a fabricação de alimentos como frutos e legumes colhidos nas roças, além de possuir manifestações culturais e diversas belezas naturais atraindo um grande número de visitantes. Situando-se a 27 km de Cavalcante e a 537 km de Goiânia. Localiza-se a Comunidade Kalunga do Engenho II, banhados pelos córregos Capivara, Tiririca, Quebra Coco entre outros.

O local vem crescendo nos aspectos socioeconômico por causa da divulgação do seu potencial turístico, pois há uma grande variedade de cachoeiras, em que um condutor de visitante fala que no povoado existe mais de trinta cachoeiras catalogadas, paisagem belíssima que atraem pessoas e interessados em seus bens naturais e culturais.

Após a chegada dos visitantes ao local, a população começou a receber o apoio e o patrocínio dessas empresas, houve melhorias na comunidade, como o surgimento de condutores, capacitação para alguns moradores e a construção de um Centro de Atendimento ao Turista (CAT). Conforme Beni (1998, p, 67) “O turismo provoca o desenvolvimento intersetorial, em função do efeito multiplicador do investimento e dos fortes crescimentos da demanda interna e receptiva”.Com isso o turismo passou a

movimentar o cenário econômico da região na forma de mercantilização, devido ao surgimento de restaurantes, áreas de camping, e da obrigatoriedade da contratação de um guia local no valor de R$ 70,00 e da taxa cobrada no valor de R$ 20,00 no CAT para a

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visitação, que permite o acesso aos atrativos naturais, nas três cachoeiras, Candarú, Capivara e Santa Bárbara.

No aspecto econômico o comércio está mais acelerado, ampliou a renda uns por venderem

produtos e artesanatos na loja do CAT, outros por serem proprietários de estabelecimentos, e na condução de visitantes a cachoeira.

Trouxe muita coisa, muito movimento, turismo aqui pra nós minha fia, mudou fo i tudo, porque se vê que era tão difícil! Às vezes a pessoa comer todo dia feijãozinho

com arroz em casa sabe! Hoje não, hoje você chega numa casa, que dia rapaz... É difícil ouvir um falar que vai comer só arroz com feijão. Hoje por quê? Porque hoje corre dinheiro. Aqui ô, eu fui um dos primeiros a matar vaca aqui, mexer com um

açougue. Nós matava uma vaca passava uma semana sem matar, e hoje é dois dias, com dois dias não tem no açougue mais, e ninguém deve no açougue porque corre dinheiro do turismo (Morador, 54 anos. Junho 2016).

Em outras entrevistas notou-se que mesmo com a chegada dessa atividade muitos não deixaram seus afazeres corriqueiros como a atividade agrícola, pequena pecuária e a venda de produtos regionais aumentaram. De acordo com os moradores a atividade turística é uma

das melhores oportunidades que chegou à região, pois é mais uma renda que acrescenta a essas outras atividades que os moradores já possuíam antes da chegada do turismo.

É uma das mais interessantes porque nós nunca deixamos os nossos costumes só por causa do turismo, se fosse a mais interessante a gente deixava de plantar e de

cuidar das outras coisas só pra ficar em função do turismo e a gente tenta conciliar todas as coisas igual à lavoura a plantação da roça com o turis mo a nossa cultura (Morador, 60 anos\ junho 2016).

De acordo (VELOSO, 2003.p 73) “no turismo o dinheiro volta com outros rendimentos, além

do financeiro. Ele volta em forma de alegria, de satisfação de pessoas, em forma de integração de cultura, provocando a melhoria de qualidade de vida da comunidade”.

Baseado nas entrevistas a maioria da população ainda não sabe para onde a taxa de R$ 20,00, arrecadada no CAT do Engenho II, é destinada. A população local comenta “Parte a

gente sabe e parte a gente não sabe noventa por cento nós não sabemos,” (Morador, 60 anos\ junho 2016), o turismo em comunidades tradicionais tende a englobar a participação

de todos de uma localidade.

Coriolano (2003, p.41) completa que “o envolvimento de todos considera os direitos e deveres individuais e coletivos e elabora um processo de planejamento participativo desde as tomadas de decisões até a execução das atividade turísticas”. Conforme relatos dos moradores e dos representantes do poder público o capital arrecadado no CAT é depositado em uma conta de responsabilidade da associação comunitária local, porém esse dinheiro não é aplicado de maneira visível aos olhos da população do Engenho II, do secretário do turismo, Prefeitura Municipal ou até mesmo do Conselho Municipal do Turismo (COMTUR),

que não são informados de valores recebidos durante nenhum período e não existe

nenhuma fiscalização que controle essa quantia.

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Para um morador sua opinião é bem clara “isso aí a Fulana pega mais o Ciclano,“ e ai eu não sei da um resposta. Aí não sei se é Fulano ou Beltrano... Aí vai pro banco e põe lá ai não sei o que resolve é de lá pra cá.” (Morador, 60 anos\ junho 2016). Um Representante do Poder Público informa que “o dinheiro da portaria hoje é um dinheiro fantasma, onde não é pago imposto e não há uma transparência com esse dinheiro”. *...+ (Representante do Poder Público 78 anos\ junho 2016).

Em outra entrevista com os moradores foi comentado que a aplicação do capital da portaria

está em prol do abastecimento de água e em reformas de um local comunitário, porém essas reformas estão acontecendo nos últimos dois anos e o abastecimento de água está em

contrapartida, pois uma parte dos entrevistados falou que esse benefício foi uma parceria com Governo Federal, no Projeto Água para Todos e outros falavam que utilizaram a renda

arrecadada do turismo.

Foi notado pelos visitantes que existe uma falta da divulgação cultural do local visto que o

local é um Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga sendo isso um diferencial. A população possui histórias e tradições incríveis onde é necessário divulgar cada vez mais a

cultura não apenas as belezas naturais existentes no local uma moradora fala “não somos só cachoeira, temos algo a mais, temos muito mais a ensinar e aprender do que só cachoeira”(moradora,39 anos/junho 2016). O turismo na comunidade Kalunga do Engenho II trouxe benefícios econômicos como o aumento da renda dos moradores, intercâmbio cultural, capacitação para alguns moradores, inicio de infraestrutura como criação de restaurantes e áreas de camping e o êxodo urbano. De negativos trouxe a desunião e impactos como erosões e o assoreamento na cachoeira Santa Bárbara. Porém os moradores

já estão despertando a consciência ambiental em que uma moradora fala “eu quero continuar ganhando meu dinheiro com o turismo, mas também não quero perder meu

cantinho entendeu, porque aqui é a minha casa eu quero que meus filhos meus netos conheçam aqui como ainda é” (moradora, 39 anos/junho 2016).

CONCLUSÃO

Ao entender o universo estudado pudemos compreender que o processo de evolução

turística na comunidade Kalunga do Engenho II está inteiramente ligado a ausência de planejamento, que reflete a falta de politicas voltadas para os setores envolvidos com o turismo. No qual não teve uma capacitação necessária de seus atuantes, e que na prática turística isso são elementos fundamentais para o sucesso dessa atividade.

O lugar já possui sete restaurantes e três áreas de campings, uma lojinha de venda de

produtos naturais e artesanato, um Centro de Atendimento ao Turista (CAT), além de trazer conhecimento para a população. Com relação à questão socioeconômica a comunidade

cresceu, porém não está sendo de forma igualitária e até o atual momento, a mesma é uma forma de complementação de renda para os moradores, pois essa atividade não atinge a

todos.

REFERÊNCIAS BAIOCCHI, Mari de Nazaré (2013). Kalunga: Povo da Terra. 3 ed. Goiânia: Editora UFG.

Page 244: ANO IV - 2016 - seminariolatinoturismo.files.wordpress.com · Ms. Giovana Tavares - IF Goiano Dra. Iara Lucia Gomes Brasileiro - UNB Dra. Karina e Silva Dias - UNB ... Vitor João

NPPTUR Anais do IV Seminário Latino Americano de Políticas Públicas e Turismo

Núcleo de Políticas Públicas e Turismo

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BENI, Mario Carlos (1998). Analise Estrutural do Turismo. Decima terceira edição. São Paulo: Editora Senac, São Paulo. BRASIL (2001). Uma historia do Povo Kalunga. Ministério da Educação e Cultura-Mec /SEF, Brasília. CORIOLANO, Luzia Neide M.T (2003). O Desenvolvimento Voltado as Condições Humanas e o Turismo. in: LIMA, Luiz Cruz; CORIOLANO, Luzia Neide(org.) Fortaleza. DENCKER, Ada de Freitas Maneti (1998). Médotos e Técnicas de Pesquisa em Turismo. São Paulo: Futura. FLICK, UWE (2009). Introdução à Pesquisa Qualitativa. Tradução: Joice Elias Costa. 3 edição. Porto Alegre: Artmed.