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2 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
Editorial
Pesquisas com células-tronco rendem Nobel de Medicina
OComitê Nobel do Instituto Ka-
rolinska anunciou, em fins de outubro
de 2012, a concessão do Prêmio
Nobel de Medicina e Fisiologia aos
pesquisadores John Gurdon e Shinya
Yamanaka, pela descoberta de que
células maduras podem ser repro-
gramadas para se tornarem células
pluripotenciais, capazes, por sua vez,
de se diferenciarem em qualquer tipo
de célula do organismo.
O prêmio foi divido porque os cien-
tistas trabalharam isoladamente e suas
descobertas se deram em datas distantes
no tempo, porém sobre o mesmo tema:
células-tronco pluripotentes induzidas
(iPS, em inglês). Estas possuem carac-
terísticas muito semelhantes às células-
tronco embrionárias. Demonstrou-se
que podem dar origem a qualquer
tecido pertencente às três camadas
embrionárias: ectoderma, mesoderma
e endoderma.
Gurdon demonstrou, em 1962, num
experimento que se tornou um clássico
da Biologia, que a diferenciação celular
poderia ser reversível. Já a descoberta
de Yamanaka se deu em 2006, 44
anos depois, ao mostrar que células
maduras de camundongos poderiam
ser reprogramadas para se tornarem
células indiferenciadas, simplesmente
pela introdução nelas de alguns genes.
Tais células indiferenciadas poderiam,
a partir daí, serem capazes de se trans-
formar em qualquer tipo de célula do
organismo.
Em seu comunicado oficial, o Comitê
Nobel realçou o fato de que, graças às
descobertas de Gurdon e Yamanaka,
a visão que tínhamos sobre a diferen-
ciação celular mudou completamente,
sendo possível hoje um entendimento
bem mais amplo sobre o tema.
Ainda segundo o Comitê, tais desco-
bertas chegaram a levar à revisão de
textos básicos em Biologia e Medicina
e ao estabelecimento de novas e pro-
missoras linhas de pesquisa no campo
da diferenciação celular. Diante
da possibilidade de se reprogramar
células humanas, existe atualmente
a chance de se estudar doenças de
etiologia desconhecida e possivel-
mente desenvolver novos métodos
de diagnóstico e tratamento para
doenças que ainda desafiam a compre-
ensão médica. Nesse campo podemos
incluir doença de Parkinson, diabetes
mellitus, doenças neurodegenerativas
e outras mais.
Pesquisas recentes, nessa área que tem
crescido tanto nos últimos anos, têm
fornecido subsídios para a compreensão
dos mecanismos de desenvolvimento de
certas doenças e para o acerto de tera-
pias mais eficazes contra outras.
As células-tronco pluripotentes
induzidas possuem características muito
semelhantes às células-tronco embrionárias e podem dar origem
a qualquer tecido pertencente às três
camadas embrionárias: ectoderma, mesoderma
e endoderma
As vantagens oferecidas à pesquisa
científica por esse tipo de célula-tronco,
alvo das investigações de Gurdon e
Yamanata, são diversas: não possuem o
inconveniente de envolverem questões
morais, éticas ou mesmo de caráter reli-
gioso, que surgem quando se menciona
o uso de células tronco embrionárias;
constituem fonte praticamente inesgo-
tável de células-tronco com potencial
para incrementar a chamada “terapia
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4sessÃO clínica
Disfagia e Emagrecimento
RelaTO De casO
Insuficiência Cardíaca Sistólica Grave Durante a Gestação: Diagnóstico Diferencial
O DesaFiO Da iMaGeM
Hemoptoicos e Emagrecimento Importante
RelaTO De casO
Carcinoma Papilar de Tireoide com Metástases Linfonodais
a cOnDuTa DO PROFessOR
Trabalho de Parto Pré-Termo
sessÃO clínica
Dispneia, Tosse e Emagrecimento
RelaTO De casO
Deformidades Ósseas em Háluces na Hanseníase
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PROF. DR. GILBERTO PEREZ CARDOSOProfessor Titular do Departamento de Clínica Médica da UFFDoutor em Endocrinologia pela UFRJEditor da revista Conduta® Médica
cOnDuTa MÉDica
celular regeneradora”; têm poten-
cialidade de diferenciação igual à da
célula-tronco embrionária, e podem ser
obtidas a partir de células diferenciadas
do próprio paciente que receberá a
terapêutica. Como os tecidos possuem
o mesmo material genético, não há o
inconveniente da rejeição.
John B. Gurdon nasceu na Inglater-
ra. Doutorou-se na Universidade de
Oxford em 1960 e fez seu pós-doutorado
no Instituto de Tecnologia da Ca-
lifórnia. Foi para a Universidade de
Cambridge em 1972, onde atua como
professor de Biologia Celular. Tem
atualmente 79 anos de idade.
Para se ter uma ideia do valor científico
da obra de Gurdon, é possível consultar
o seu principal trabalho de pesquisa,
pelo qual mereceu o Nobel em 2012,
na referência: Gurdon, J.B. (1962).
“The developmental capacity of nuclei
taken from intestinal epithelium cells
of feeding tadpoles”. Journal of Em-
bryology and Experimental Morphology
10:622-640.
Shinya Yamanaka nasceu no Japão em
1962, curiosamente no mesmo ano da
grande descoberta feita por Gurdon.
Graduou-se em Medicina pela Univer-
sidade de Kobe e atuou inicialmente
como ortopedista, antes de se dedicar à
pesquisa básica. Doutorou-se em 1993
pela Universidade de Osaka, vindo a
trabalhar, posteriormente, no Instituto
Gladstone, em São Francisco (EUA) e
no Instituto Nara de Ciência e Tecno-
logia do Japão. Atualmente Yamanaka
é professor na Universidade de Kyoto,
onde dirige um centro de pesquisas.
Tem 50 anos de idade.
O principal trabalho de Yamanaka pode
ser obtido na consulta à referência:
Takahashi, K., Yamanaka, S. (2006).
“Induction of pluripotent stem cells
from mouse embryonic and adult fibro-
blast cultures by defined factors”. Cell
126:663-676.
O Prêmio Nobel é o mais importante
prêmio científico que se conhece. Foi
instituído pelo cientista e industrial
Alfred Nobel, sueco, em 1895, mas só
passou a ser concedido após 1901. Como
curiosidade, as cinco universidades mais
laureadas com o Prêmio Nobel, nas
categorias científicas, pelo fato de seus
ganhadores lá trabalharem quando da
concessão do prêmio, são, em ordem
decrescente: 1. Universidade de Califór-
nia, 26 ganhadores; 2. Universidade de
Harvard, 24 ganhadores; 3. Universidade
Rockefeller, Instituto de Tecnologia da
Califórnia e Universidade de Stanford,
cada uma com 16 ganhadores.
Referência bibliográfica:
http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/
medicine/laureates/2012/press.html
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
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Disfagia e EmagrecimentoDysphagia and Weight Loss
ResuMO – Trata-se de um caso de paciente feminina, de 62 anos, apresentando disfagia e emagrecimento. O caso é discutido numa sessão clínica do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF. (Conduta Médica 2013-14 (55) 4-8)
aBSTRaCT – It is a case of a 62-year-old woman with dysphagia and weight loss. The case was discussed in a clinical session of Gastroenterology Unit of Antonio Pedro Universitary Hospital, of UFF. (Conduta Médica 2013-14 (55) 4-8)
DescRiTORes – emagrecimento; disfagia; esôfago
KeY-WoRDS – weight loss; dysphagia; esophagus
DR. HilTOnVou relatar o caso de uma paciente que foi internada na Enfermaria de Gastro-enterologia, no final de janeiro de 2012. Tratava-se de uma paciente do sexo femi-nino, negra, com 62 anos, natural do Rio de Janeiro (RJ), residente em São Gonçalo (RJ), divorciada. A queixa principal era: “a comida não passa do esôfago”. Relatou que, há cerca de 10 anos, iniciou disfagia para alimentos sólidos, de caráter progres-sivo, como se “o alimento ficasse preso no esôfago”. Cinco anos após, passou a apresentar necessidade de ingestão de líquidos durante as deglutições e episódios de vômitos, contendo alimentos não di-geridos, eventualmente pós-prandiais. No último ano perdeu 17 Kg.Na história patológica pregressa negou qualquer comorbidade, hipertensão, dia-betes ou outras doenças. A paciente falou de uma cirurgia há mais ou menos 31 anos, para tentar engravidar, não sabendo definir qual. Informou ter sido submetida a cesariana, tendo sido hemotransfundida. Na história familiar relatou pai falecido aos 60 anos, portador de hipertensão, e filha portadora de insuficiência renal crônica. Na história social, negou eti-lismo e tabagismo. Residia em casa com
Sessão clínica realizada em 7 de março de 2012 pelo Serviço/Disciplina de Gastroenterologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense/UFF (Niterói – RJ)
Apresentador:Dr. Hilton Gueiros Leitão NetoResidente da Gastroenterologia do Huap/UFF
Coordenador e Moderador:Prof. Agostinho Soares da SilvaProfessor Adjunto e Coordenador da Especialização em Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFF
Participantes:Prof. Jorge Mugayar FilhoProfessor Assistente de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFF
Dra. Beatriz Nunes BiccasMédica Gastroenterologista do Huap/UFF
Prof. Alfredo Ricardo TauilProfessor Adjunto da Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina da UFF
boas condições de higiene e saneamento, sem animais domésticos. Negou também viagens para fora do Rio de Janeiro.Ao exame físico, estava bastante emagre-cida. Porém, o estado geral se apresentava preservado, e a paciente estava hidratada, com pele acianótica e discretamente hipocorada. Apresentava pressão arterial de 100x70 mmHg, frequência cardíaca de 60 bpm e frequência respiratória de 24 irpm. O restante do exame físico mostrou abdome escavado, sem nenhuma outra al-teração. Entre os exames complementares trazidos, constavam: endoscopia digestiva alta de abril de 2011, com o terço distal do esôfago de calibre aumentado, tônus elevado do esfíncter esofagiano inferior e dificuldade de progredir o endoscópio; esofagomanometria de julho, mostrando aperistalse do esôfago, sendo 20% das de-glutições suscitando contrações simultâ-neas não peristálticas, de baixa amplitude, e 80% com ausência de peristalse. Não foi estudado o esfíncter inferior, provavel-mente pela dificuldade em atingir o es-tômago. Foram realizados outros exames, como sorologia para doença de Chagas (que foi negativa), telerradiografia de tórax (sem alterações parenquimatosas) e eletrocardiograma (com ritmo sinusal e
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alterações inespecíficas de repolarização). Nova endoscopia do dia 27 de janeiro de 2012 mostrou esôfago repleto de alimen-tos sólidos, com laudo de “megaesôfago grau III, esofagite erosiva por provável estase e candidíase esofageana”. Foram realizadas biópsias, que confirmaram can-didíase, sendo iniciado fluconazol. Como as queixas persistissem, no dia 6 de feve-reiro foi realizada uma nova endoscopia. O laudo foi de acalásia. A passagem pelo cárdia se fez com leve resistência e houve pequena laceração. A mucosa gástrica logo abaixo da linha Z, junto à laceração, tinha aspecto viloso. O laudo da biópsia foi compatível com infecção fúngica.
DRa. BeaTRiZHavia realmente Candida, mas era mais uma colonização do que uma infecção propriamente dita. Quando há estase é bem comum a colonização por Candida, e o fato de a paciente não apresentar odi-nofagia também fala a favor de ser apenas colonização.
DR. HilTOnSim, a queixa era só disfagia. Fizemos esofagografia no dia 7 de fevereiro. O laudo foi de “esôfago tortuoso, acentu-ada redução do calibre distal do esôfago com dilatação proximal, compatível com acalásia”. Durante a endoscopia houve pequena laceração ao ultrapassar o cárdia, ocorrendo algum grau de dilatação dessa região. Devido a essa dilatação, a paciente apresentou certa melhora, conseguiu deglutir melhor os alimentos, mas continuava bastante emagrecida, aceitando somente dieta líquida. Os exames laboratoriais do dia 26 de janeiro demonstravam: hematócrito de 34,2%; hemoglobina de 11,1 g/dl; VCM de 95,8; leucograma normal; plaquetas normais. No restante, os exames eram normais. Após 15 dias de fluconazol, recebeu alta. Melhorou dos episódios de vômitos, prin-cipalmente após essa segunda endoscopia, tolerando bem a dieta líquido/pastosa e ficando sem outras queixas. Estamos estudando qual o melhor tratamento para
essa paciente: se seria melhor a dilatação endoscópica ou o tratamento cirúrgico.
PROF. aGOsTinHO Antes de começar a discussão, eu gostaria que a Dra. Beatriz comentasse sobre a manometria realizada nessa paciente.
DRa. BeaTRiZA manometria da acalásia implica em ausência de peristalse do corpo esofágico e dificuldade de relaxamento do esfíncter esofageano inferior, não necessariamente uma hipertensão do esfíncter esofagiano. Nesse caso não foi possível estudar o esfíncter inferior, porque a sonda da ma-nometria é passada às cegas. Se o endoscó-pio, que estava vendo, teve dificuldades, com a sonda às vezes não conseguimos posicionar os sensores no estômago para ir puxando e passar pelo esfíncter esofa-geano inferior. Então, não foi possível o seu estudo. Isso seria importante para o acompanhamento após o tratamento e para avaliar os critérios que correspondem
a prognóstico de longo prazo. Mas, com aperistalse do corpo, com essa clínica e essa esofagografia, não há dúvida que o diagnóstico é acalásia. Duas coisas a salientar: pode ser acalásia idiopática ou acalásia secundária. Pensaríamos em Chagas, mas a paciente não é de zona endêmica; é daqui, nunca foi para fora e tem sorologia negativa. Em nossa rotina no Ambulatório de Esôfago, quando o doente é de zona endêmica, fazemos uma segunda sorologia confirmatória. Se o pa-ciente não tiver história epidemiológica, basta um exame sorológico. Outra coisa: numa senhora de 62 anos, cabe também o diagnóstico diferencial com pseudoaca-lásia, que seriam tumores do cárdia que podem infiltrar aquela região e dar um quadro semelhante à acalásia, inclusive nos aspectos manométricos. Durante a endoscopia é importante fazer a manobra em U, olhando retrogradamente o pinça-mento diafragmático, o que foi feito, não havendo qualquer infiltração tumoral. Eu acho que está fechado o diagnóstico de acalásia idiopática e eu diria que é um mega II pela classificação de Ferreira-Santos, pois tem diâmetro menor que 7cm, apesar de já ter um certo desvio do eixo na parte distal do esôfago.
PROF. aGOsTinHO Bem, estamos abertos a perguntas.
FIGURA 1RX de tórax em PA com esôfago contrastado
FIGURA 2RX de tórax em perfil com esôfago contrastado
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
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as hifas agredindo o tecido, ou seja, tem que ter agressão tissular. Pode estar só colonizado, porque no trânsito oral há deglutição e fica na estase, então podemos ter Candida colonizando sem ter agressões. Isso é bem interessante. Pela endoscopia pode-se sugerir, mas não se pode dar um laudo de tônus elevado porque não é um método apropriado para caracterizar uma hipertonia, ou mesmo hipotonia do esfíncter esofageano inferior. Tanto é que, na verdade, não é nem hipertonia, é falta de relaxamento. Então, o que deve estar no laudo endoscópico é a avaliação essen-cialmente da mucosa, não uma alteração manométrica. Da mesma maneira em relação ao megaesôfago. Deve-se sugerir megaesôfago III. Então, diante disso, che-gou-se a discutir a indicação do paciente, que tem sintomas consumptivos. Foi feito o diagnóstico diferencial, como a Dra. Beatriz já colocou, em relação a outras enfermidades. Mas, desde o início, mesmo com poucos dados, já imaginávamos como diagnóstico principal a acalásia e, entre as duas, a acalásia primária.Quanto à abordagem, como a paciente está com alteração importante da quali-dade de vida (cinco anos de evolução com agravamento no último ano), é natural que ela queira quer ter logo uma solução para o seu problema. A Dra. Beatriz, especialista em doenças esofageanas, poderá até comentar, mas havia quatro possibilidades: tratamento medicamento-so, tratamento endoscópico, tratamento cirúrgico e tratamento com injeção de toxina botulínica. Desses quatro trata-mentos, o medicamentoso – em uma paciente com 62 anos, sem comorbidades, com expectativa de vida longa, de grau II para grau III – não traz resposta tão adequada como se fosse, por exemplo, grau I. A toxina botulínica seria para aquela paciente que se recusasse a fazer qualquer outra abordagem mais agressi-va, com idade mais elevada e tendo que fazer injeções sucessivas. Então, ficamos realmente entre a dilatação endoscópica e a cirurgia. Tradicionalmente, aqui no hospital, não temos uma larga experiên-
PROF. TauilO exercício de diagnóstico é fundamental. Na nossa região, nós, na verdade, não temos experiência com megaesôfago, megacólon. Quem tem experiência e pode falar disso são nossos colegas de São Paulo e Minas Gerais, regiões endêmicas. O pouco que aprendemos nos indica que esses pa-cientes, na anamnese, no ambulatório ou na história da doença atual, contam que precisam beber água depois que comem para, com a pressão hidrostática, aumentar a pressão sobre o bolo que deglutiram e fazer passar o alimento pelo esôfago. Isso constitui mais um dado importante para o diagnóstico de megaesôfago. Então, na his-tória, é importante perguntar como é que ele faz. “Ah, eu sinto uma dificuldade para deglutir”, ele diz, e você pergunta: “mas o que você faz para resolver isso?”. Aí ele vai falar: “eu tomo um líquido” – provavel-mente água, para facilitar o trânsito do bolo que ele deglutiu. Esse é um fato. Ressalto isso do ponto de vista da anamnese. Em relação à telerrradiografia de tórax, “não tem alterações parenquimatosas”, mas há um dado que é fundamental numa radio-grafia de tórax: podemos fazer o diagnóstico de megaesôfago, de acalásia, pela ausência da câmara de ar no estômago. Se o doente não consegue deglutir, também não passa gás para o estômago. Normalmente ele tem o nível líquido no esôfago, na topo-grafia do mediastino, mas eventualmente você pode não ver. A primeira coisa que salta aos olhos é a ausência da câmara de ar no estômago. O segundo dado é que, eventualmente, quando a radiografia tem boa técnica, na radiografia simples vemos o nível hídrico no mediastino e também o aumento do diâmetro do esôfago. Eu não sei se uma tomografia do tórax com contraste oral daria essa ideia de diâmetro melhor. Seria, enfim, algo a mais. No exame físico, saltou aos olhos, também, o emagrecimento. Normalmente é um paciente que tem um emagrecimento acen-tuado. Agora, em relação à classificação, só para concluir, eu acho que, num mega-esôfago já com essa curvatura acentuada, colocaria aí um grau III.
PROF. JORGeÉ tipo grau II para grau III.
DRa. BeaTRiZCom respeito ao nível hidroaéreo, é interessante essa observação porque, por exemplo, na esclerodermia existe também aperistalse do corpo, mas não se vê nível hidroaéreo, porque a coluna de bário desce, uma vez que o esfíncter esofage-ano inferior é hipotenso. Então às vezes vê-se aperistalse, sem estudo do esfíncter inferior, que pode ser esclerodermia. A presença do nível hidroaéreo é um dado que favorece o diagnóstico de acalásia.
PROF. TauilFundamentalmente o conceito de acalásia é falha de relaxamento de esfíncter esofa-geano inferior.
PROF. aGOsTinHO Acho que o caso está bem apresentado e inclusive bem documentado. É de uma paciente natural de Niterói, que sempre morou em São Gonçalo, não conhece nem nunca escutou falar do que popular-mente chamam de “barbeiro”, não tem nenhuma outra queixa. Tem uma reação de Machado e Guerreiro negativa no sangue. Não tem constipação para pensar em megacólon, não tem alteração cardí-aca e não tem nenhuma clínica para se pensar em megaureter. A etiologia “idio-pática” está muito bem colocada. Agora temos que discutir a conduta. Mas, antes, gostaria que o Dr. Jorge fizesse algumas considerações.
PROF. JORGeEm relação à apresentação, não há dúvida em classificar como acalásia primária, até porque – aqui na região do Rio de Janeiro – o predominante é a acalásia primária em relação à acalásia secundária. Acho importante o comentário que a Dra. Beatriz fez em relação à candidíase, porque com endoscopia você não conse-gue fazer o diagnóstico, mas pode sugerir que tenha candidíase. O diagnóstico é histopatológico, onde se demonstram
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cia em dilatação e, em cirurgia, acho que temos até mais. De maneira tradicional, sendo grau I ou grau II, optamos pela di-latação endoscópica. Deve-se lembrar que devemos dar a opção à paciente, após uma explicação minuciosa. E, nos graus mais avançados, tipo grau III, optaríamos pelo procedimento cirúrgico, a não ser que houvesse contraindicação para esse proce-dimento ou a paciente se recusasse a fazer a cirurgia. Decidimos pela indicação do tratamento cirúrgico: videolaparoscopia, cirurgia de Heller com a fundoplicatura de proteção.
PROF. aGOsTinHO Eu só gostaria de lembrar sobre o que a Dra. Beatriz e o Prof. Tauil falaram da clínica de um tumor que poderia estar invadindo pela submucosa e não ter aspecto nenhum característico ao se olhar pelo endoscópio. Seria evidente a própria clínica que o Prof. Tauil relatou, porque não há aquela melhora quando se toma o líquido. O paciente continuaria com os sintomas, mesmo tomando líquido.
DRa. BeaTRiZEvolução prolongada, de cinco anos, também é sugestiva de acalásia. Comu-mente o doente vai se adaptando, referin-do: “estico o pescoço, boto os braços para trás e aí desce”; ele vai se acomodando, até o momento em que necessita procurar ajuda profissional.
PROF. aGOsTinHO Eu gostei quando o Prof. Tauil falou sobre a clínica. A tendência do médico atual e recém-formado é pedir exames complementares e esquecer a clínica. E às vezes pede exames desnecessários. A anamnese e o exame físico, quando bem feitos, muitas vezes reduzem a quantidade de exames e o custo, melhorando a vida do paciente.
DRa. BeaTRiZAinda sobre a clínica, é muito importante diferenciar o que é regurgitação e o que é vômito. Porque a regurgitação acontece
sem aumento da pressão intra-abdominal. É igual ao que ocorre com o recém-nato quando arrota: de repente volta. O pa-ciente com acalásia tem regurgitação alimentar do conteúdo que já está no esôfago. É muito comum em paciente com acalásia haver regurgitação de saliva; o paciente fala “eu boto uma baba tipo clara de ovo”, mas esta é conteúdo esofágico e não há aumento de pressão abdominal. No vômito há aumento da pressão intra-abdominal, e o paciente faz esforço para vomitar. São sutilezas na história que ajudam no diagnóstico.
PROF. aGOsTinHO Dr. Hilton, o que ocorreu na sessão de cirurgia?
DR. HilTOnEles acharam que tínhamos que fazer nova sorologia para Chagas. Acho que eles não ficaram satisfeitos com o re-sultado de uma só sorologia e acham melhor investigar outros megas. Então, sugeriram fazer colonoscopia, para ver se há megacolón. Opinaram ainda, que, mesmo sendo grau II, não teria indicação de dilatar. A dilatação não teria resultado satisfatório. Na opinião deles, o grau II já teria indicação cirúrgica. Basicamente foi isso o discutido.
PROF. TauilNão sou a favor da dilatação endoscó-pica e, nesse caso, o tratamento deveria ser cirúrgico. E sobre o tipo de cirurgia, nós não temos a mesma experiência que outros centros para determinar a melhor técnica cirúrgica. Temos que absorver experiência de centros que têm experiência com acalásia. No Hospital Antonio Pedro a experiência não é comparável à dos colegas de São Paulo, de Minas, da Bahia, com a operação de Thal-Hatafuku, que seria uma operação de esofagogastromiotomia na junção esofagogástrica, que se abre ali e faz-se uma plastia. Abre-se no sentido longi-tudinal, numa altura de 6 cm, e fecha-se no transversal, com detalhes técnicos
que não cabem aqui. Então, essa seria uma operação na qual o esôfago é preser-vado. Vamos encontrar outros serviços, principalmente em outros estados, em que se aplica a esofagectomia sem tora-cotomia. Ou seja, substitui-se o esôfago. Hoje, pode-se fazer isso de forma mais prática por causa dos grampeadores. Transforma-se o estômago em um tubo e passa-se pelo mediastino anterior. Faz-se uma incisão cervical e um túnel por trás do esterno. Então, através desse túnel passa-se o tubo gástrico, para chegar aqui no esôfago e confeccionar uma anastomose. Outros usam, como substituto do esôfago, o colón. Também existe esôfago-colón plastia com esôfago-colón anastomose. Tem ainda a operação de Heller. A operação de Heller é a esofagomiotomia, mas sem a plástica. Ao contrário da operação de Thal, que abre o esôfago, a operação de Heller não abre o esôfago, ela simplesmente faz uma eso-fagomiotomia. Mas a operação de Heller é mais indicada para o megaesôfago grau II; para o megaesôfago grau III alguns utilizam a cirurgia de Thal-Hatafuko e, no grau IV, faz-se a esofagectomia.
PROF. aGOsTinHO Eu estive no congresso mundial – não sei se o Prof. Tauil foi, em São Paulo – sobre esôfago, e eles praticamente não tocaram em cirurgias de ressecção de esôfago. É uma cirurgia de alto risco cirúrgico.
PROF. TauilNa verdade você faz hoje uma esofagec-tomia sem toracotomia, principalmente no paciente com megaesôfago. Não se vai fazer isso num paciente que tem um carcinoma, mas num paciente com mega-esôfago você consegue descolar o esôfago do mediastino posterior sem toracotomia. Existem técnicas pra isso.
PROF. aGOsTinHO O que mais se comentou no congresso foi a cirurgia de Heller associada com fun-doplicatura. Nessa mesa havia alemães, franceses, americanos, colegas aqui do >
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sul de Minas – principalmente da área do Triângulo Mineiro, onde a doença de Chagas tem grande incidência – e eles só falaram de Heller.
PROF. TauilOs alemães, franceses e americanos não têm experiência com a cirurgia para doença de Chagas; a experiência maior é nossa. Eles tratam mais os megas idio-páticos.
PROF. aGOsTinHOE a cirurgia utilizada por eles e por nós foi a mesma: Heller por videolaparosco-pia, onde eles abrem o mediastino até o diafragma junto ao apêndice xifoide, não tendo problema de fazer pneumotórax. Voltando ao caso: qual seria, então, nossa conduta daqui para a frente, uma vez que o parecer da Cirurgia criou um problema para nós ao ser favorável à reinternação da paciente, com mais investigações?
DRa. BeaTRiZPosso fazer um comentário? Nós temos uma experiência, uma vez que eu fui do Setor de Esôfago da UFRJ, antes de vir para o Huap. Há um trabalho que está para ser publicado, que é uma tese de mestrado da colega Adriana Borges. É um trabalho prospectivo de acompanhamen-to de cerca de 100 pacientes com acalásia. Havia pacientes com Chagas e acalásia idiopática, de grau I a III, mas a maior parte era I e II. Ela randomizou os grupos: uma parte foi para dilatação pneumática e a outra para cirurgia de Heller, Heller laparoscópica. E ela foi fazendo isso e re-avaliou os pacientes em três meses e dois anos. O que ela concluiu disso? Quanto aos resultados, não há diferença estatística em termos de resultados clínicos e mano-métricos. Foi aplicado aquele questioná-rio que avalia a gravidade da disfagia e o grau de satisfação do paciente e foi visto que, tanto em três meses quanto em dois anos, os resultados são semelhantes, tanto com a dilatação pneumática quanto com a cirurgia. O que a pesquisadora observou foi que a dilatação teve uma incidência
maior de refluxo, porque não tinha a funduplicatura. Então, são 28% de refluxo na dilatação contra 5% na cirurgia. Mas, em termos de resultado, os grupos foram similares, porque refluxo nós tratamos. E ela estava se preparando para publicar seus resultados quando saiu, em 2011, um estudo multicêntrico, no New England Journal of Medicine, que avaliou cinco centros europeus, com 200 pacientes, e os resultados foram praticamente iguais. A Dra. Adriana ainda avaliou a taxa de queda da resposta, porque sabemos que, com o tempo, o paciente pode piorar seu grau de resposta. A conclusão dela foi de que cada serviço deve usar o que maneja melhor, em que tem mais experiência e considerando a preferência do paciente também. O índice de perfuração com a dilatação foi de 4%. Não houve nenhuma complicação grave com a cirurgia e nenhum óbito.
PROF. TauilOs cirurgiões sabem que a operação de Heller também propicia refluxo. Tanto é que prescrevem inibidores da bomba de próton para os pacientes no pós-operatório imediato. Talvez isso tenha influenciado o resultado também.
DRa. BeaTRiZTodos os pacientes foram avaliados no pós-operatório sem omeprazol. O trabalho foi muito cuidadoso. Mas foi uma pena, porque ela estava para publicar e saiu um artigo no New England praticamente igual ao dela.
PROF. TauilEu penso da seguinte forma: se tenho um endoscopista que está treinado, tem ex-periência em dilatação em paciente com acalásia e um cirurgião num serviço que tem experiência pequena em cirurgia de Heller, é óbvio que vou usar o bom senso e mandar o paciente para dilatação. Agora, se é o contrário, eu vou fazer a Heller.
DRa. BeaTRiZHá dificuldade técnica da cirurgia após a DPC. Não tínhamos muito essa preo-
cupação na UFRJ e procedíamos assim: fazia-se uma dilatação; se o paciente não melhorasse, poderia ser realizada uma segunda dilatação e, caso não se obtivesse sucesso, o paciente ia para a cirurgia. E aqui no Huap eu vejo os cirurgiões com tal preocupação. O que sei é que a injeção de toxina botulínica, sim, ela atrapalha. E isso ocorre devido à fibrose. Agora, na dilatação pneumática, eu nunca tinha ouvido falar.
PROF. aGOsTinHO Apresentei um caso de megaesôfago no ano passado, era um paciente com grau III para IV. E o cirurgião até nos alertou que a dilatação poderia ser feita, mas com-plicaria o ato cirúrgico devido à fibrose.
DRa. BeaTRiZEu penso assim: frente à dificuldade que temos, no momento, em operar, com a paciente emagrecendo e desnutrida, eu tentaria a dilatação.
PROF. aGOsTinHO Acho que não há dúvida de que a conclu-são da sessão é pela preferência cirúrgica, já que a paciente está apresentando al-terações, inclusive da mobilidade esofá-gica. Então, a nossa indicação seria essa. Vamos voltar a conversar com o Setor de Cirurgia.
ResiDenTe DRa. RaQuel Nós não deveríamos compartilhar com a paciente essa escolha?
PROF. JORGeQuando se tem dois tratamentos que possuem equivalência e o paciente tem condições de opinar, se não tem nenhum déficit cognitivo, é importante fazer isso.
PROF. aGOsTinHO Devemos conversar com a paciente sobre as opções existentes e as dificuldades que encontramos. Nada havendo mais a tratar, vou dar por encerrada a sessão de hoje. Quero, antes, agradecer a presença de todos. n
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 9 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 9
O Rio de Janeiro acaba de ganhar um centro médico de excelência em um dos bairros que mais se desenvolvem na cidade: o Hospital Unimed-Rio, na Barra da Tijuca. Primeiro hospital da operadora de saúde, o empreendimento está voltado a procedimentos de média e alta com-plexidades e foi concebido para ser um centro nacional de referência médica, inclusive com a criação de um Instituto de Ensino e Pesquisa. A unidade possui 229 leitos e 11 salas cirúrgicas, além de uma maternidade e um centro de transplante de medula óssea. Como tem sua atuação focada em casos de maior complexidade, o hospital não possui emergência aberta, demanda coberta pelos prontos atendimentos da Unimed-Rio (na Barra e em Copacaba-na). Localizado em ponto estratégico, na Avenida Ayrton Senna, o empreendi-mento ocupa 30 mil m² quadrados de área construída e atende especialidades como cardiologia, cirurgia vascular, neurocirur-gia, hemodinâmica, cirurgia ortopédica, de coluna, bariátrica, entre outras, sempre prezando pela eficiência, resolubilidade e a oferta de uma medicina de alta qualida-
de. Hoje, a unidade opera em 30% de sua capacidade máxima, e atingirá sua plena operação até o fim de 2013.Para a composição do corpo médico (plantonistas, rotinas e coordenadores das Unidades Intensivas e de Interna-ção), foram convidados profissionais reconhecidos por sua excelência e tidos como referência em suas especialida-des. O objetivo foi montar uma equipe médica experiente e de alto nível, preparada para atender a demanda de pacientes por serviços de alta complexi-dade nas mais diversas áreas.No centro cirúrgico, o destaque é a sala híbrida. Ela permite que uma cirurgia seja feita ao mesmo tempo em que são obtidas imagens do que está acontecendo. Muito utilizada em procedimentos vascu-lares, cirurgias cardíacas minimamente invasivas, neurocirurgias e cirurgias de coluna, gera imagens tomográficas ou angiográficas em 3D. A unidade ainda possui um avançado parque de imagens – um dos mais modernos do Rio de Janeiro. Os equipamentos de tomografia e ressonância escolhidos têm grande de-finição e softwares que os tornam rápidos e eficientes. Para o paciente, uma van-tagem é a redução no uso de contrastes em alguns procedimentos, já que a qua-lidade das imagens é maior, dando mais segurança ao médico no diagnóstico. Com uma gestão preocupada com a efi-ciência e a sustentabilidade do negócio, o Hospital Unimed-Rio se prepara para
utilizar o prontuário eletrônico em sua plenitude, de um modo que não existe no Brasil. Toda a operação acontecerá com mínimo uso de papel, num sistema inte-grado com as demais unidades da rede da Unimed-Rio (PAs Barra e Copacabana, além do Espaço Para Viver Melhor – EPVM). O conceito de unidades integra-das sob um prontuário eletrônico único é pioneiro no estado do Rio.O empreendimento também foi construí-do segundo os critérios do selo internacio-nal LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental), privilegiando materiais reciclados e de origem certificada, equi-pamentos de alta eficiência energética e baixo consumo de água. Também será im-plantada a “operação verde”, com menor impacto ambiental possível, adotando processos e materiais conforme a norma de operação de edifícios verdes.
Ensino e pesquisaO Hospital Unimed-Rio foi planejado para ser referência em inovação, ensino e pesquisa no estado do Rio de Janeiro. A unidade contará com um instituto em funcionamento a partir de março de 2013, que terá o apoio do Instituto de Biofísica da UFRJ para a realização de pesquisas na área de terapia celular. A unidade também pretende se aliar a outras enti-dades nacionais para o desenvolvimento de pesquisas de iniciativa do investigador e ainda desenvolver estudos patrocinados com recursos estrangeiros. n
Nova referência médica no Rio
Unimed-Rio oferece
seu primeiro Hospital
à população da Cidade
Maravilhosa
ARTE: CARRETEL
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
10 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
Insuficiência Cardíaca Sistólica Grave Durante a Gestação: Diagnóstico DiferencialSevere Systolic Heart Failure During Pregnancy: Differential Diagnosis
Autores:Mariana Stoll Leão Pascale MassenaCarolina Cunto de AthaydeVitor Martins VeigaAcadêmicos de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Dra. Paula Maíra Alves HaffnerResidente de Cardiologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da UFF Prof. Antônio Alves do CoutoProfessor Titular de Cardiologia da UFF
Prof. Humberto VillacortaProf. Wolney MartinsProfessores Adjuntos de Cardiologia da UFF
ResuMO – Os autores descrevem o caso de uma mulher negra, de 33 anos, com história prévia de hi-pertensão arterial sistêmica (HAS) desde a adolescência. Durante a gestação desenvolveu insuficiência cardíaca sistólica com edema agudo de pulmão. Os autores discutem o diagnóstico diferencial, bem como o tratamento dessa paciente. (Conduta Médica 2013-14 (55) 10-12)
aBSTRaCT – The authors describe the case of a 33- year-old black woman with a history of hypertension since adolescence. During pregnancy she developed systolic heart failure with pulmonary edema. The authors discuss differential diagnosis and treatment of this patient. (Conduta Médica 2013-14 (55) 10-12)
DescRiTORes – insuficiência cardíaca; gestação; hipertensão arterial sistêmica
KeY-WoRDS – heart failure; pregnancy; hypertension
inTRODuÇÃO
A hipertensão arterial pode surgir durante
a gravidez, complicando seu curso e ca-
racterizando a pré-eclâmpsia. Por outro
lado, a gestante pode ser portadora prévia
de hipertensão arterial sistêmica. Esta
pode evoluir com insuficiência cardíaca
diastólica na maioria das vezes. Se ocorrer
no último mês da gravidez ou até cinco
meses depois do parto, o diagnóstico mais
provável é cardiomiopatia periparto. Às
vezes, a dificuldade aumenta porque a hi-
pertensão é um fator de risco importante
para desenvolver essa condição.
RelaTO DO casO
Mulher negra, 33 anos de idade, admitida
na Emergência do Hospital Universitário
Antônio Pedro (Huap) um mês após
o nascimento de seu quarto filho, com
dispneia, tosse e expectoração rósea.
Queixava-se de fadiga aos moderados
esforços nos últimos seis meses antes do
parto, o que culminou em edema agudo
de pulmão logo após a interrupção da
gestação, na 30ª semana. Ela relatou
hipertensão arterial sistêmica desde os
21 anos de idade, com pouca adesão ao
tratamento. Na admissão encontrava-se
agitada, com palidez cutâneo-mucosa
e taquipneia com esforço inspiratório.
PA - 180x120 mmHg; FC -120 bpm e
FR - 32irpm. O ictus cordis se encontrava
deslocado lateralmente, com desdo-
bramento paradoxal de B2; B3; e sopro
mitral sistólico. Havia diminuição do
murmúrio vesicular nas bases e estertores.
O ECG (figura 1) mostrou bloqueio de
ramo esquerdo e ritmo sinusal, sugerindo
cardiomiopatia. O RX de tórax (figura 2)
confirmou a cardiomegalia e a congestão
pulmonar. Ela foi tratada com nitrogli-
cerina e furosemida intravenosas, além
da otimização da medicação oral para
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 11
Quando um paciente hipertenso de-
senvolve insuficiência cardíaca, esta
geralmente é diastólica (fração de ejeção
normal). No caso descrito havia grande
redução da fração de ejeção (FE = 34%
- figura 3). Assim, formulou-se o diagnós-
tico de insuficiência cardíaca sistólica.
Em vigência de hipertensão arterial as-
sociada à insuficiência cardíaca sistólica,
devemos pensar em cardiomiopatia peri-
parto. Entretanto, preferimos optar pelo
diagnóstico de cardiopatia hipertensiva em
fase adiantada, porque se exige, para o diag-
nóstico da forma periparto, que a insuficiên-
cia cardíaca ocorra a partir do último mês da
gestação e, geralmente, o dano miocárdico é
tão importante que a paciente não sustenta
a hipertensão. No caso descrito a paciente
só manteve a pressão arterial controlada
às custas de medicação anti-hipertensiva.
Ao ECG (figura 1) nota-se BRE com-
pleto, o que pode ocorrer em ambas as
condições, isto é, na cardiopatia hiperten-
siva e no periparto. O estudo radiológico
(figura 2) mostra cardiomegalia, con-
gestão pulmonar e sinais de hipertensão
pulmonar. O ecocardiograma (figura 3)
revelou fração de ejeção muito reduzida,
diâmetros cavitários aumentados e sem
hipertrofia concêntrica. Essa ausência é,
provavelmente, decorrente de adelga-
çamento por infiltração de colágeno na
evolução da remodelagem na cardiopatia
hipertensiva.
A cardiomiopatia periparto tem como
fatores de risco principais a raça negra, a
hipertensão arterial sistêmica e gestações
prévias. As teorias mais aceitas para o
seu aparecimento são representadas pela
deficiência genética de KIF 15 e aumento
da atividade da proteína p53. Admite-se
também, pela presença do processo infla-
matório, a presença de anticorpos cortar o
fragmento 16 KDA da prolactina. Inclusi-
ve, há estudos que demonstram que a bro-
mocriptina na dose de 2,5mg durante duas
insuficiência cardíaca, como carvedilol,
captopril e espironolactona. As hipóte-
ses diagnósticas foram miocardiopatia
periparto e cardiopatia hiprtensiva. A
paciente evoluiu com altos níveis de
pressão arterial, e por isso optou-se por
introduzir a hidralazina. A fundoscopia
revelou apenas uma discreta tortuosidade
dos vasos. O ecocardiograma transtoráci-
co (figura 3) mostrou um aumento de átrio
e ventrículo esquerdo (LV), hipertrofia
excêntrica, disfunção sistólica moderada
de VE, FE=34% (Simpson), e regurgi-
tação mitral moderada. A tomografia
computadorizada (TC) abdominal e o
doppler de artérias renais foram normais.
DiscussÃO
A hipertensão arterial é primária em 94%
dos casos. Geralmente se inicia entre os
30 e os 50 anos de idade. É uma das prin-
cipais causas de morte no mundo, e sua
prevalência aumenta com a idade, de tal
modo que, aos oitenta anos de idade, 80%
das pessoas têm essa condição.
A paciente deste relato iniciou o quadro
de hipertensão antes dos 30 anos de
idade. Nesses casos a HAS é geralmente
secundária, ou por glomerulonefrite, ou
por uso de contraceptivos orais. Essas
condições, bem como outras comuns,
estavam ausentes neste caso e, portanto,
sua hipertensão era essencial.
FIGURA 1 Ritmo sinusal e bloqueio de ramo esquerdo
>
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
12 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
semanas, duas vezes ao dia e, a seguir, uma
vez ao dia, por seis meses, possa diminuir
a mortalidade nessa enfermidade, embora
possa inibir a amamentação. Porém, não
podemos olvidar que a cardiomiopatia
periparto, que ocorre em 1:300 gestações,
tem mortalidade materna de 32%.
Quanto ao tratamento genético, há a
possibilidade de que o curcumin – usado
em temperos asiáticos – possa melhorar
a insuficiência cardíaca, por aumentar a
expressão do KIF 15.
Ultimamente, tem-se dado importância
também ao microRNA, cuja disfunção
FIGURA 3Aumento de átrio e ventrículo esquerdo (LV), hipertrofia excêntrica, disfunção sistólica moderada de VE, FE=34% (Simpson); e regurgitação mitral moderada
FIGURA 2Cardiomegalia e congestão pulmonar
(over expression) alteraria o crescimento
celular, determinando cardiomiopatia
dilatada.
O estudo SCD-HF mostrou a importân-
cia de se utilizar o cardiodesfibrilador
implantável em pacientes como esta, isto
é, com fração de ejeção abaixo de 35% e
classe funcional II a III. Há diminuição
da mortalidade de 23%.
Mais recentemente tem-se explicado a
progressão da insuficiência cardíaca pelo
polimorfismo de receptores β1 e α2C
adrenérgicos.
Chamamos a atenção para que se evite,
na insuficiência cardíaca da gestação,
o uso de inibidores de ECA ou anta-
gonistas da angiotensina, já que são
teratogênicos.
Finalizando, realçamos que a insufici-
ência cardíaca que ocorre na gestação é
decorrente de cardiomiopatia periparto
ou hipertensão arterial sistêmica. No
caso apresentado, tratava-se de insufici-
ência cardíaca por hipertensão arterial
prévia. É de particular importância o
fato de que a paciente, em vez de evoluir
com a forma diastólica, teve um curso
rapidamente progressivo de cardiopatia
hipertensiva com disfunção sistólica
grave, inclusive com edema agudo de
pulmão.
BiBliOGRaFia
Amy C Bales, MD, Roberto M Lang, MD.
Peripartum cardiomyopathy. Up to Date,
Junho 15, 2010.
Carol A Waksmonski, MD, Anita LaSala,
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Peter F Clardy, MD, Christine C Reardon,
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pregnancy and the peripartum period. Up
to Date, Março 24, 2010. n
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 13
O Desafio da ImagemThe Image Challenge
Autores:Prof. Nicolau MonteiroProfessor Associado 2 da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense
Caroline Delcides RamosGlêiton Dias da CunhaRenata do Prado de Castro LimaAcadêmicos de Medicina da UFF
Analise os dados e as imagens fornecidos e procure chegar ao diagnóstico.A resposta e os comentários se encontram na página 27.
Paciente masculino, 65 anos, com DPOC, com episódios deHemoptoicos e Emagrecimento ImportanteCase report of a 65-year-old man, with COPD, with episodes of
Hemoptysis and Significant Weight Loss
ResuMO – Trata-se do caso de paciente mas-culino, 65 anos, DPOC com alta carga tabágica (135 maços/ano), que passou a apresentar disp-neia aos pequenos esforços, tosse com episódios de hemoptoicos e emagrecimento importante. (Conduta Médica 2013-14 (55) 13;27)
aBSTRaCT – It is a case of a 65-year-old man, COPD with a high level of smoking (135 pack / years), that started to present dyspnea on exer-tion, cough with episodes of hemoptysis and sig-nificant weight loss. (Conduta Médica 2013-14 (55) 13;27)
DescRiTORes – DPOC; hemoptoicos; emagrecimento
KeY-WoRDS – DPOC; hemoptoicos; emagre-cimento
FIGURA 1Radiografia de tórax em PA evidenciando aumento hilar bilateral, com contornos irregulares, opacidades peri-hilares à direita e hipertransparência do pulmão esquerdo
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
14 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
Carcinoma Papilar de Tireoide com Metástases Linfonodais Papillary Thyroid Carcinoma with Lymph Nodes Metastasis
(Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ – 2011)
Autores:Monique Schmidt Marques AbreuInterna de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Rodrigo Mello FerreiraInterno e Monitor de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFF
Talita BrandãoYeska Talita Maia Santos CarvalhoAcadêmicas de Medicina da UFF
Profa. Ângela CarvalhoProfessora Adjunta de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da UFF
Prof. Cláudio FainsteinProfessor Adjunto de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFF
Prof. Aniello PalomboProfessor Associado de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFF e Chefe do Serviço de Cirurgia Geral II do Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF
ResuMO – O carcinoma papilífero de tireoide é a neoplasia maligna mais comum da tireoide. Seu prog-nóstico geralmente é favorável quando tratado adequadamente, resultando em um índice de mortalidade similar ao da população em geral. Apesar de ser comum o comprometimento linfonodal cervical nesse tipo de enfermidade, não há dados que comprovem o aumento da taxa de mortalidade. O carcinoma papilar se torna agressivo e preocupante no caso de variantes histológicas do tipo esclerosante, de células altas, de células claras e insular. Os autores descrevem o caso de uma paciente jovem com tireoidite de Hashimoto e carcinoma papilar de tireoide esclerosante difuso e metástases linfonodais tipo células altas, discutindo abordagens terapêuticas. (Conduta Médica 2013-14 (55) 14-16.)
aBSTRaCT – Papillary thyroid carcinoma is the most common malignancy of the thyroid. Its prognosis is good when it is handled properly, causing similar death rate as the general population’s. Despite of the common cervical lymph node involvement in this type of pathology, there is no proven data that the mortality rate is changed. Papil-lary cancer becomes aggressive and troublesome in the case of histological variants of sclerosing type, tall cell, clear cell and insular. The authors describe the case of a young patient with Hashimoto’s thyroiditis and papillary thyroid carcinoma of the sclerosing diffuse type with lymph nodes metastasis of tall cell type. They discuss the therapeutic approaches. (Conduta Médica 2013-14 (55) 14-16)
DescRiTORes – carcinoma papilar; variante de células altas; carcinoma de tireoide; nódulo de tireoide; metástase cervical
KeY-WoRDS – papillary carcinoma; tall cell variant; thyroid carcinoma; thyroid nodule; cervical metastasis
inTRODuÇÃODe todos os nódulos tireoidianos diagnos-ticados, apenas 5 a 10% correspondem a neoplasias malignas1,2. Dentre estas, 90% são carcinomas diferenciados, cuja evolução se reveste de bom prognóstico, com cura em cerca de 80% dos casos2. Situação mais grave ocorre quando há variações citológicas, em especial do tipo esclerosante, insular, de células altas e de células claras3. O carcinoma papilar é mais frequente em mulheres após os 30 anos; no entanto, quando se trata de variante esclerosante há preponderância nas mais jovens1,3,4. A apresentação mais comum desse tipo de tumor é através de nódulo palpável de consistência variada, em pacientes eutireoidianos4. A invasão linfática é uma forma comum de metás-tase presente em 40% dos pacientes; já as metástases à distância para pulmão e
ossos são raras e ocorrem em 1% a 10% dos casos2. Em relação à variante do tipo células altas, um estudo recente mostrou que esta não apresenta predileção por sexo, sendo a idade média de diagnóstico superior a 45 anos5. Quando comparamos a variante tipo células altas com variantes usuais do carcinoma papilífero de tireoide, encontramos 4,5 vezes mais chances de recorrência no primeiro caso, além de 58,12% de possibilidade de metástases linfonodais na variante de células altas versus 34,5% nas variantes usuais. Outro dado relevante é a média de mortalidade nesses pacientes, sendo 23,6% no primei-ro grupo e 1,5% no segundo5.
RelaTO De casOPaciente do sexo feminino, 29 anos e história de hipotireoidismo devida a ti-reoidite de Hashimoto há 10 anos, em uso
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 15
>
de levotireoxina 200mg/dia, com acom-panhamento irregular nesse período. Em 2010, um exame de ultrassonografia da tireoide (USG) demonstrou parênquima grosseiramente heterogêneo, com múlti-plos focos de microcalcificações e linfono-domegalia cervical à direita e mediastinal superior. Em 16/3/2010 foi submetida à punção aspirativa com agulha fina (PAAF) de tireoide, no lobo direito, e de nódulo peritireoideano e linfonodo na cadeia cervical nível VI, ambos à direita. O resultado citopatológico foi tireoidite de Hashimoto com ausência de células atípicas no lobo direito da tireoide, e car-cinoma metastático de tireoide no nódulo peritireoidiano e no linfonodo nível VI. A paciente foi submetida a tomografia computadorizada (TC) de tórax e de região cervical, que demonstrou linfono-domegalias nas cadeias cervicais níveis VI e VII à direita. Foi então submetida a cirurgia no dia 21/4/2010, sendo realizada tireoidectomia total com esvaziamento cervical radical modificado lateral direito, do compartimento central bilateralmen-te, e seletivo lateral à esquerda, incluindo o nível VII (figuras1 e 2). Evoluiu no pós-operatório com hipoparatireoidismo e discreta síndrome de Claude Bernard Horner (ptose palpebral associada ou não a enoftalmia decorrente de afecção unilateral do nervo simpático cervical6). O exame histopatológico das peças opera-tórias demonstrou tireoidite crônica asso-ciada ao carcinoma papilar de tireoide do tipo esclerosante difuso. Dos 25 linfono-dos isolados, sete estavam acometidos de doença metastástica, sendo que, em cinco deles, foi encontrada a variante de células altas. A cintilografia da tireoide com I-123, realizada dia 30/6/2010 no Instituto Nacional do Câncer, não demonstrou tecido iodocaptante. A cintilografia de corpo inteiro com I-123, realizada no dia 1º/7/2010, evidenciou hiperfixação em discreta área da região cervical anterior,
próxima à fúrcula esternal, de aspecto focal. A paciente foi, então, submetida a radiodoablação com 200mCi de I-131.Atualmente, com a popularização da USG e da realização de PAAF guiada para coleta de material e estudo citopa-tológico, observou-se um aumento no diagnóstico de carcinomas bem diferen-ciados da tireoide de pequeno tamanho (fases iniciais)1,2. Desse modo, carcinomas muitas vezes menores do que 1cm de diâmetro (microcarcinomas) são diag-nosticados cada vez mais frequentemente. Estes também têm sido identificados com maior frequência durante exames histo-patológicos de glândulas operadas por patologia benigna1.Alguns fatores são descritos como sinais de bom prognóstico (baixo risco): idade entre 20 e 45 anos, sexo feminino, di-âmetro tumoral menor que 2cm pela USG, localização distante da cápsula da tireoide, e ausência de acometimento linfonodal. Estes devem ser avaliados no pré-operatório, decidindo-se assim, a melhor conduta terapêutica1.A tireoidectomia total é, atualmente, a melhor opção cirúrgica, independen-temente do tamanho inicial do tumor, pois nenhum fator clínico, cirúrgico, anatomopatológico, laboratorial ou mole-cular é capaz de predizer, com segurança, o comportamento do tumor. Embora o microcarcinoma papilífero se apresente com um excelente prognóstico, com mortalidade de aproximadamente 1%, a possibilidade de metástases à distância alcança 2,5% e a taxa de recorrência em linfonodos 5%7. A tireoidectomia total é uma opção terapêutica que elimina a necessidade de reintervenção para to-talização, se o tipo histológico do tumor for mais agressivo e no primeiro evento o paciente tiver sido submetido à ressecção parcial. Se a USG sugerir acometimento linfonodal, o paciente deverá ser subme-tido – além da tireoidectomia total – ao
esvaziamento cervical central, mesmo que o tumor tenha menos de 1cm de diâme-tro, melhorando o prognóstico4. No nosso caso, a paciente foi submetida a tireoidectomia total com esvaziamento cervical radical modificado à direita, seletivo à esquerda, e do compartimento central bilateral, pois apresentava nódulo peritireoidiano e linfonodomegalias nos níveis II, III, IV, V, VI e VII à direita, positivos para carcinoma metastático. À esquerda os linfonodos estavam au-mentados; porém, não se identificou malignidade.As principais complicações relatadas na literatura após tireoidectomia total com
FIGURA 1Foto operatória. Em detalhe, dissecção das principais estruturas durante o esvaziamento cervical
FIGURA 2Foto operatória. Em detalhe, as paratireoides e o
nervo laríngeo recorrente direito preservados
>
Nervo VagoJugular Direita
Carótida Comum Direita
Paratireóide Superior Direita
Nervo Laríngeo Recorrente Direita
Paratireóide Inferior Direita
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
16 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
esvaziamento cervical são lesão de nervo laríngeo recorrente unilateral ou bilateral (podendo necessitar até de traqueosto-mia), lesão do nervo laríngeo superior, hemorragia pós-operatória imediata, enfisema subcutâneo da região cervical, hipoparatireoidismo, ptose palpebral e, mais raramente, lesão de esôfago8.A evolução pós-operatória da paciente descrita foi satisfatória, com discreta sín-drome de Claude Bernard Horner – que melhorou, espontaneamente, em menos de dois meses. Hoje, com mais de um ano de cirurgia, a paciente se apresenta bem, em acompanhamento ambulatorial. Em casos de ressecção tumoral incomple-ta, metástases clinicamente detectáveis ou alto risco de recidiva, mesmo que a cirurgia tenha sido aparentemente curativa, a radioiodoterapia com 131I está indicada9. Para isso é necessário que os níveis de TSH estejam acima de 30 mUI/l, o que otimiza a captação do 131I pelas células tireoidianas normais e/ou tumorais diferenciadas, aumentando a chance de sucesso terapêutico.Estudos de meta-análise recentes evi-denciaram que pacientes com carcinoma papilífero e variantes de células altas ne-cessitam de uma abordagem mais agressi-va do que normalmente naqueles seguidos com variantes usuais5. O problema é que essa variante histológica só é detectada na avaliação patológica, posterior ao primei-ro ato operatório. Vale ressaltar a impor-tância de um estudo anatomopatológico preciso devido ao mau prognóstico desse tipo celular. Assim, a melhor conduta em pacientes com carcinoma papilífero variante células altas é a reoperação com esvaziamento cervical central e ablação com iodo radioativo do tecido residual, se não foi efetuada a tiroidectomia total com o devido esvaziamento no primeiro evento. Se a tireoidectomia total já tiver sido realizada, o retorno à sala de opera-ção para o esvaziamento cervical central
deverá ser feito em casos de evidências de metástases linfonodais, seguido de ablação com iodo radioativo5. Por fim, a tireoidite de Hashimoto, pre-sente na paciente descrita, pode ter sido um fator de risco para o desenvolvimento do carcinoma papilífero. Essa relação tem sido muito estudada e acredita-se que a agressão constante do processo inflama-tório crônico às células tireoidianas possa levar à ativação de genes relacionados com a multiplicação celular, o que de-terminaria a transformação maligna9. O rearranjo cromossômico do RET/PTC (fusão do RET-tirosina quinase na região 5-terminal de genes heterogêneos), mar-cador útil para ativação oncogênica das células foliculares tireoidianas, pode ser o grande responsável dessa associação através da expressão de RP3 no tecido da tireoide, fornecendo antígenos e estimulando a quimiotaxia, evocando forte resposta imunológica. Esse rearran-jo cromossômico RET/PTC também é encontrado em 68% dos pacientes com tireoidite de Hashimoto. Além disso, as células da tireoide que expressam RP3 secretam um número grande de citocinas inflamatórias e induzem a transformação com contorno irregular do núcleo da célula, como também do citoesqueleto9. Apesar de evidências isoladas, não se pode ainda confirmar a relação causal entre doença autoimune inflamatória e o desenvolvimento da neoplasia maligna epitelial, pois não existem dados sufi-cientes para elucidar se há ou não outros fatores ainda não descritos.
cOnclusÃOO tratamento cirúrgico dos carcinomas papilíferos de tireoide, em sua variante esclerosante difusa, deve compreender minimamente a tireoidectomia total associada a linfadenectomia do compar-timento central. Quando houver metás-tase linfonodal, o esvaziamento cervical
deverá ser ampliado lateralmente, tendo em vista a maior agressividade e prognós-tico mais reservado.
ReFeRÊncias BiBliOGRÁFicasMAIA, A. L. et al. Nódulos de Tireoi-de e Câncer Diferenciado de Tireoide: Consenso Brasileiro. Arq Bras Endocrinol Metab, Porto Alegre, RS, p. 867-893, 2007.FERRAZ, A. R. et al. Diagnóstico e Tratamento do Câncer da Tireoide. So-ciedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Conselho Federal de Medicina, p. 1-10, abr. 2001.JALISI, S.; AINSWORTH, T.; LAVAL-LEY, M. Prognostic Outcomes of Tall Cell Variant Papillary Thyroid Cancer: A Meta-Analysis. Journal of Thyroid Re-search, Boston, USA, p. 1-4, jun. 2010.JUNG, T.S. et al. Clinical features and prognostic factors for survival in patients with poorly differentiated thyroid carcino-ma and comparison to the patients with the aggressive variants of papillary thyroid car-cinoma. Endocrine Journal, Sungkyunkwan University School Of Medicine, Korea. p. 265-274, mar. 2007.NEVES JUNIOR, Murilo Pedreira et al. Carcinoma papilífero da tireoide e suas variantes histológicas associados à tireoidite de Hashimoto. J Bras Patol Med Lab, Bahia, p. 389-393, out. 2009PORTO, C.C. Semiologia Médica. 6ª ed Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.POLLOCK, R. et al. UICC Manual de oncologia clínica. São Paulo: Fundação Oncocentro de São Paulo, p. 919, 2006. TOWNSEND, C. M. et al. Sabiston Tratado de Cirurgia. 17ª ed São Paulo: Elsevier, 2005.SHEU, S.Y. et al. Diffuse sclerosing variant of papillary thyroid carcinoma: lack of BRAF mutation but occurrence of RET/PTC rearrangements. Modern Pathology, Essen, Germany, p. 779-787, abr. 2007. n
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 17
Professora, qual sua conduta frente ao trabalho de parto pré-termo?
A CONDUTA DO PROFESSORNeste espaço, renomados professores de Medicina
respondem sobre sua conduta diagnóstica e/ou terapêutica.
As complicações perinatais (descritas
como aquelas que ocorrem entre 22
semanas até sete dias completos após o
nascimento) representaram a principal
causa de mortalidade infantil (óbitos de
crianças até um ano de vida) no nosso
país entre 1996 e 2007, segundo dados
do Ministério da Saúde. Em 2009, a taxa
de mortalidade infantil no Brasil foi de
22,47 óbitos/1.000 nascidos vivos, sendo
que 60-70 % destes foram ocasionados por
causas perinatais (o índice considerado
aceitável pela Organização Mundial da
Saúde / OMS é de 10 óbitos/1.000 nas-
cidos vivos). A prematuridade é uma das
principais causas de mortalidade perinatal
no Brasil e no mundo e constitui um
desafio para obstetras, neonatologistas e
especialistas em Medicina Fetal.
O parto pré-termo é definido como aquele
que acontece antes de 36 semanas e
seis dias e após ultrapassar 22 semanas.
Existem muitos desafios relacionados à
prematuridade – que vão desde a com-
preensão da etiologia, fisiopatologia,
predição, prevenção e diagnóstico do
trabalho de parto pré-termo (TPP) até
as condutas que podem ser realizadas após
o diagnóstico do TPP e o nascimento do
concepto pré-termo de forma a reduzir sua
morbidade e mortalidade.
Frente ao diagnóstico ou a suspeita de
TPP, várias condutas podem modificar
significativamente o prognóstico materno
e fetal/neonatal, e o conhecimento delas
pode fazer a diferença na sobrevida e na
saúde dos recém-natos prematuros após
seu nascimento e na sua vida futura. O
aumento médio de sobrevida a cada dia
de manutenção da gestação entre 24 a
27 semanas é em torno de 2%. Após 27
semanas, a cada dia ganho de gestação,
reduz-se em 1% a taxa de mortalidade
após o parto. Esse impacto da idade
gestacional (IG) sobre as morbidades e
mortalidade neonatais é significativo em
IG abaixo de 32 semanas, reduzindo-se à
medida que a IG avança.
O diagnóstico de TPP é dado pela presen-
ça de contrações uterinas regulares, com
frequência maior que 1/10 minutos e com
duração maior que 15 segundos, mantidas
após repouso no leito por período mínimo
de 30 minutos e colo uterino dilatado
para, no mínimo, 2cm, centralizado e com
apagamento parcial ou total, com evolução
progressiva. Nem sempre esse diagnóstico
é fácil, e na maioria das vezes a observação
evolutiva ajudará na decisão da conduta.
Que condutas são necessárias frente ao
diagnóstico de TPP?
Toda paciente com diagnóstico de tra-
balho de parto deve ser internada para
avaliação e conduta. Deve-se confirmar
a IG, de preferência por ultrassom (US)
realizado no primeiro trimestre, cuja pre-
cisão na estimativa da IG é de ± 5 dias.
As avaliações do bem-estar pela cardioto-
cografia (em IG acima de 26-28 semanas)
e do crescimento e volume de líquido
amniótico ao US também estão indicadas,
assim como a pesquisa de presença de
infecção materna – uma vez que a corioa-
mniote e outras infecções (i.e. infecção do
trato urinário) podem estar relacionadas
à etiologia do TPP (temperatura axilar,
exame físico, leucograma e urinocultura).
Deve ainda ser colhido material para
cultura através de swab de introito vaginal
e retal para pesquisa de estreptococos do
grupo B (beta-hemolítico).
Após internação, merecem discussão os
seguintes passos: suporte - contatar equipe
médica e aconselhamento familiar; tóco-
lise; corticoterapia; sulfato de magnésio
para neuroproteção; uso de antibiótico e
assistência ao parto pré-termo.
l Suporte: contatar equipe médica e
aconselhamento familiar
O suporte familiar é indispensável na
conduta dos partos pré-termo. A pacien-
te, assim como seus familiares, devem
ser informados das complicações e riscos
relacionados à prematuridade, assim
como sobre as condutas a serem institu-
ídas a partir do diagnóstico de TPP. O
acolhimento e o apoio são fundamentais.
Uma vez que o TPP pode evoluir para o
nascimento do feto prematuro, é impres-
cindível que a equipe de Neonatologia
esteja ciente do caso. >
18 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
l Tocólise
Sobre a tocólise, conduta que objetiva a
parada das contrações uterinas indicada
entre 22-34 semanas e seis dias de IG,
existe uma série de questionamentos
em relação à sua eficácia. Os trabalhos
atuais indicam que, em comparação com
placebo, os agentes tocolíticos são capazes
apenas de aumentar o tempo de gestação
em no máximo sete dias, mas não têm
efeito significativo sobre o nascimento
prematuro e nenhum efeito claro sobre
a morbidade perinatal ou neonatal. Por
esse motivo, a tocólise está indicada para
permitir a realização da corticoterapia e
do transporte materno para uma unidade
de alto risco fetal (que tenha UTI neo-
natal) e para prolongar a gravidez quando
há condição subjacente autolimitada que
pode ser a causa do TPP (i.e. pielonefri-
te ou cirurgia abdominal), permitindo
assim o seu tratamento.
Os agentes tocolíticos devem, portanto,
ser utilizados por 48 horas, período em que
se pode administrar corticoide à grávida
para amadurecimento do pulmão fetal
e transferir a parturiente para centros
especializados de atenção ao prematuro,
melhorando significativamente o prog-
nóstico neonatal.
Após a inibição do trabalho de parto pre-
maturo e por ocasião da alta hospitalar,
a gestante deve ser orientada a realizar
repouso e utilizar progesterona natural
micronizada, 200mg, via vaginal, de 12/12
horas, até 36 semanas. Não há evidência
científica da eficácia da manutenção da
tocólise oral após a parada das contrações.
Sobre a eficácia dos agentes tocolíticos
existentes, a nifedipina (bloqueador de
canal de cálcio) e o atosibano (antagonis-
ta do receptor da ocitocina) têm eficácia
comparável em retardar o parto por até
sete dias. Em comparação com beta-ago-
nistas, também usados como tocolíticos
(i.e. salbutamol), esses dois agentes estão
associados à melhora no resultado ne-
onatal, com menos efeitos colaterais
maternos. Não há evidências científicas
de que os inibidores da ciclo-oxigenase
(indometacina) e sulfato de magnésio
reduzam o risco de parto prematuro.
Vale lembrar que são contraindicações
à tocólise a morte fetal, a anomalia
congênita incompatível com a vida, o
sofrimento fetal, a corioamnionite, a
hemorragia materna com instabilidade
hemodinâmica e as complicações obsté-
tricas ou médicas graves que indiquem a
interrupção da gestação.
l Corticoterapia
A aceleração da maturidade pulmonar
fetal está indicada em gestações entre
24 e 34 semanas. As drogas utilizadas
com essa finalidade são a betametasona
(12mg, uma vez ao dia, repetida a dose em
24 horas) ou dexametasona (6mg, IM, a
cada 12 horas, no total de quatro doses).
O ideal é que o parto ocorra 24 horas após
a última dose do corticoide, uma vez que
o início do aumento de sua ação sobre as
células pulmonares fetais parece ocorrer
após seis a oito horas da primeira dose, e
o pico de ação é em 48 horas.
Vale lembrar que o uso do corticoide não
aumenta o risco de mortalidade materna,
corioamnionite e de sepse puerperal,
segundo os trabalhos científicos.
l Sulfato de magnésio para neuropro-
teção
O uso de sulfato de magnésio está indica-
do para a mulher em eminência de parto
prematuro (dilatação cervical ≥ 4 cm) e
IG de 31 semanas e seis dias. A dose pres-
crita é a mesma utilizada na profilaxia de
eclampsia na gestante com pré-eclampsia
grave (dose de ataque: 4g, EV, durante
10 minutos em bomba infusora; dose de
manutenção: 1 a 2g/h, EV, em bomba
infusora), devendo ser usada até o parto
e enquanto durar o TPP.
l Uso de antibiótico
Existem duas indicações discutidas do uso
de antibiótico na vigência do TPP. A pri-
meira diz respeito à profilaxia de infecção
neonatal pelo estreptococo do grupo B
(GBS) e a segunda relacionada à parada
da evolução das contrações e do parto
pré-termo em si pelo uso do antibiótico.
A profilaxia antibiótica para GBS é reco-
mendada para pacientes em trabalho de
parto pré-termo, a não ser que a paciente
tenha cultura recente (< cinco semanas)
negativa para esse micro-organismo. O
valor preditivo negativo da cultura para
GBS realizada ≤ cinco semanas antes do
parto = 95 - 98%, declinando após esse
período.
Antibióticos recomendados: 1ª opção -
penicilina G cristalina (5 milhões de UI,
EV, seguidas de 2,5 milhões a cada quatro
horas até o parto); 2ª opção – ampicilina
(2g, EV, como dose inicial, seguida de 1g,
EV, a cada quatro horas até o parto). Em
caso de alergia às penicilinas: clindami-
cina (900mg, EV, a cada oito horas até
o parto). O ideal é que a dose de ataque
aconteça pelo menos quatro horas antes
da cirurgia, uma vez que níveis altos
circulantes são observados a partir de
A CONDUTA DO PROFESSOR
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 19
>
30 minutos, e o pico de ação ocorre em
aproximadamente três horas.
Em relação ao uso de antibiótico profi-
lático objetivando a parada de evolução
do TPP, não há trabalhos científicos que
demonstrem redução de parto prematuro
ou da morbidade neonatal decorrente da
prematuridade em mulheres com diag-
nóstico de TPP com bolsa íntegra e sem
evidência clínica de infecção.
l Assistência ao parto pré-termo
São recomendações para a assistência ao
TPP e ao nascimento do feto prematuro:
- A monitoração da vitalidade fetal in-
traparto e a presença de neonatologista
são recomendadas, pelo elevado risco de
desfecho adverso. Não há trabalhos que
demonstrem diferença entre os resultados
perinatais quando comparadas a cardio-
tocografia intraparto (monitoração fetal
contínua) com a ausculta fetal intermi-
tente (a cada 15 minutos na segunda fase
do TP e cada cinco minutos na terceira
fase/período expulsivo do TP).
- A realização de episiotomia de rotina
não é recomendada, pois não há bene-
fícios comprovados, mesmo no caso de
fetos prematuros. A episiotomia no parto
pré-termo deve seguir as indicações obs-
tétricas, não havendo evidência de que
ela reduza compressão e lesão do polo
cefálico.
- Parto operatório (fórcipe e vácuo ex-
trator) - O vácuo extrator não deve ser
utilizado antes de 34 semanas (peso fetal
médio de 2500g). Não há estudos pros-
pectivos randomizados para avaliação do
uso profilático do fórcipe em fetos pre-
maturos, e os estudos observacionais têm
resultados conflitantes. O uso de fórcipe
de alívio no caso de peso fetal estimado
> 1.500g ao US é sugerido pela literatura.
No entanto, vale lembrar que o uso de
condutas não operatórias no parto, como
apoio e orientação materna, partograma
e ocitocina quando da atividade uterina
inadequada reduzem a necessidade de
parto operatório.
- Não há contraindicações para uso de
analgesia de parto na paciente com gesta-
ção pré-termo. No entanto, vale lembrar
que a utilização de analgesia epidural está
associada a aumento do parto vaginal
assistido/operatório.
- Sobre o clampeamento do cordão
umbilical, sua realização entre 30 e 120
segundos (chamado de clampeamento
oportuno do cordão umbilical) está
associada a menor necessidade de trans-
fusão e hemorragia intraventricular no
recém-nato. É, portanto, recomendado
o clampeamento oportuno do cordão
nos fetos prematuros quando não houver
necessidade de assistência imediata a eles
pelo neonatologista.
- A prematuridade é um dos fatores de
risco da retenção placentária (principal-
mente em IG < 27 semanas). A conduta
ativa no terceiro período do TP (adminis-
tração de ocitocina e tração controlada do
cordão umbilical associada à sustentação
do útero através na parede abdominal)
está associada a menores taxas de reten-
ção placentária e sangramento pós-parto.
- Sobre a via de parto: evitar o trabalho
de parto e a passagem do feto pela via
vaginal leva à redução das taxas de morta-
lidade, asfixia fetal, trauma intracraniano
e hemorragia intraventricular no feto/
recém-nato prematuro?
n Estudos atuais, randomizados e meta-
análises demonstraram não haver evi-
dência suficiente para indicar a cesariana
programada em fetos prematuros, mesmo
quando peso fetal é < 1.500g. Na apre-
sentação pélvica, no entanto, a operação
cesariana é procedimento de eleição.
n Do ponto de vista materno, no caso
de parto pré-termo, comparando-se a
cesariana com parto vaginal, há maior
risco materno (febre e anemia grave)
nas mulheres submetidas à cesariana e
aumento significativo do risco materno
nas gestações subsequentes, principal-
mente relacionados ao maior risco de
rotura uterina.
n A cesariana de rotina para fetos <
1500g está associada, portanto, a maiores
taxas de complicações maternas e não
há consenso sobre os benefícios fetais na
apresentação cefálica.
n Para redução de hemorragia intraven-
tricular, a melhor conduta é evitar asfixia
fetal durante o parto. A via de parto não
parece ser o principal fator associado à
sua ocorrência. n
Profa. Cristiane Alves de OliveiraProfessora de Obstetrícia da Universidade Federal Fluminense (UFF) [Niterói – RJ]
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
20 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
Dispneia, Tosse e EmagrecimentoDyspnea, Cough and Weight Loss
Sessão clínica realizada em 6 de março de 2012 na 10ª Enfermaria do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro / UniRio (Rio de Janeiro – RJ)
Apresentadoras:Gabriela Lisseth Umana RobiedaLarissa Brison BaptistaInternas da Faculdade de Medicina da UniRio
Participantes:Prof. Fernando Raphael de Almeida FerryProf. Rogerio Neves MottaProf. Marcelo Costa VelhoProf. Ricardo de Souza CarvalhoProf. Guilherme Almeida Rosa da Silva Professores da Clínica Médica B da 10ª Enfermaria do HUGG
Dr. Diogo Cerqueira de Salles SoaresDra. Karina LebeisDr. Marcos Rosa FerreiraDra. Renata de Souza PinaDr. Ricardo Dardengo GlóriaDra. Lavínia Lustosa BergierMédicos Residentes da Clínica Médica da 10ª Enfermaria do HUGG
Renan Silva CoutoThales Groppo FelippeCarla PardiniInternos do 12º Período da Faculdade de Medicina da UniRio
ResuMO – Trata-se do caso de um homem de 32 anos, apresentando queixas de dispneia, tosse e ema-grecimento. O caso foi levado para discussão numa sessão clínica da 10ª Enfermaria do HUGG, UniRio. (Conduta Médica 2013-14 (55) 20-26)
aBSTRaCT – It is a case of a 32-year-old man with dyspnea, cough and weight loss. The case was discussed in a clinical session of 10th Infirmary of HUGG, UniRio. (Conduta Médica 2013-14 (55) 20-26)
DescRiTORes – tosse; dispneia; emagrecimento
KeY-WoRDS – cough; dyspnea; weight loss
PROF. ROGeRiO
Bom dia a todos. Vamos dar início a
uma sessão clínica de um paciente que
veio transferido da Emergência de outro
hospital público.
acaDÊMica GaBRiela
A sessão clinica de hoje é sobre um
paciente de 32 anos, masculino, branco,
vendedor, natural do Rio de Janeiro (RJ),
com queixa principal de “falta de ar”.
Na história da doença atual o paciente
apresentava, há três meses, tosse produ-
tiva, febre vespertina, emagrecimento
de cerca de 10 kg e dispneia progressiva,
chegando a acontecer mesmo aos médios
esforços. Inicialmente, em dezembro
de 2011, foi tratado para pneumonia
comunitária com amoxicilina por mais
ou menos 10 dias, sem sucesso. Possi-
velmente devido ao uso da amoxicilina,
evoluiu com rash cutâneo. Em janeiro,
devido aos sintomas, foi solicitada soro-
logia para HIV (vírus da imunodeficiência
humana), com resultado “reativo”. Foi
encaminhado ao posto de saúde, onde foi
iniciada terapia antirretroviral com teno-
fovir, efavirenz e lamivudina em 11/1/12.
Em 18/1/2012 evoluiu com piora do
estado geral, dispneia em repouso, cefaleia
retrorbitária, vômitos e parestesias em
membro superior direito. Então procu-
rou atendimento na Emergência de um
hospital público, onde foi iniciado trata-
mento com ceftriaxone para pneumonia
e profilaxia com sulfa. Pelo que sabemos,
a contagem de linfócitos T CD4 estava
bem baixa, com 64 células por milímetro
cúbico. Como veremos mais adiante,
quando há um CD4 muito baixo faz-se
profilaxia para pneumocistose e mico-
bacteriose atípica, entre outras doenças.
Depois disso foi transferido para o HUGG
(em 31/1/12), porque continuava com o
quadro respiratório muito grave. Suspei-
tava-se também de tuberculose, mas a pes-
quisa por bacilos álcool-ácido resistentes
no escarro foi negativa.
A história patológica pregressa era de
varicela e parotidite na infância.
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 21
>
A história fisiológica apresentava parto e
desenvolvimento normais.
Na história social, registrava-se tabagismo
leve por 10 anos.
Não havia nenhuma característica impor-
tante na historia familiar.
Ao exame físico de admissão o paciente
se encontrava lúcido, orientado, coopera-
tivo, dispneico em repouso, com cianose
periférica, taquicárdico, taquipneico,
corado, hidratado e anictérico. Sinais
vitais: PA: 100x60 mmHg; FR: 30 irpm;
FC: 110 bpm. O aparelho cardiovascu-
lar se apresentava sem alterações. No
aparelho respiratório havia murmúrio
vesicular diminuído em ambas as bases
e estertores crepitantes discretos em
ambos os pulmões. O abdome estava sem
alterações.
acaDÊMica laRissa
Vamos ver algumas imagens desse pacien-
te. Essa é a primeira radiografia do tórax
que ele fez no dia 31, dia da admissão
aqui no hospital, e podemos observar
infiltrado difuso intersticial bilateral
concentrado mais em região peri-hilar,
além de um discreto derrame pleural à
direita. Depois, para avaliar a evolução
do paciente, foi feita nova radiografia
do tórax, que também mostrou infiltra-
do difuso bilateral, principalmente em
região peri-hilar. A pneumocistose pode
ainda ter aspecto micronodular ou vários
outros padrões. Esta é a tomografia com-
putadorizada que foi feita no dia 7, depois
de 18 dias de internação, mostrando um
infiltrado intersticial difuso e lesões com
aspecto de “vidro fosco” concentradas
principalmente na parte posterior dos
pulmões. Na gasometria da internação, o
doença ativa. Pode haver reativação da
doença, mesmo com IgG reator. Essas
sorologias devem ser interpretadas com
cuidado na aids.
acaDÊMica laRissa
Os marcadores de hepatites virais também
estavam alterados. O anti-HBs estava
reator, o anti-HBc total estava reator e
o HBsAg estava não reator. Isso indica
doença pelo vírus da hepatite B, com
evolução para a cura. O anti-HBs estava
com títulos muito baixos, indicando falta
de imunidade, mas devemos lembrar que
o paciente está com aids e tem baixa
imunidade. Possivelmente, com o começo
do tratamento para o HIV e após a estabi-
lização do paciente – e com o aumento da
contagem de CD4 –, esse anticorpo possa
voltar a ter títulos mais altos. No dia 2/2
a contagem de linfócitos T CD4 foi 63, e
a CD8 foi de 468. A carga viral do HIV
quantitativa ainda não estava pronta.
Diante de tudo observado, tal como
história clínica, exames laboratoriais, ra-
diografias e tomografia computadorizada,
as hipóteses diagnósticas pensadas foram
pneumocistose pulmonar, tuberculose,
pneumonia atípica, pneumonia fúngica
e pneumonia viral. Para pacientes com
aids as hipóteses mais prováveis são
pneumocistose e tuberculose. Os estudos
mostram, aqui no Brasil, que a incidência
dessas duas doenças é muito maior em
nosso meio.
PROF. MaRcelO
Queria que voltássemos à anamnese. Essa
história da doença atual é muito comum
aqui no HUGG. A história sempre se
repete: um paciente com história de febre
pH e a saturação de O2 estavam normais.
O nível de CO2 era baixo devido à taquip-
neia; logo, estava compensando. Porém,
na pneumocistose há geralmente uma
retenção de CO2. A pO2 também é impor-
tante no diagnóstico dessa enfermidade, e
a dele estava muito baixa – em torno de
70 –, o que é uma característica da pneu-
mocistose. O hemograma da internação
mostrava uma leucocitose discreta, com
desvio para a esquerda, bastões de 10%.
Não havia anemia, e a contagem de pla-
quetas estava normal. No seguimento não
houve nenhuma alteração.
Na bioquímica do dia 29, realizada na
Emergência do hospital público, obser-
vamos hiponatremia e LDH muito alta,
em torno de 2.160. Esse é um indício
forte para diagnóstico e prognóstico na
pneumocistose. A albumina estava baixa
(3.2 g%). Ele estava um pouco desnutri-
do, mas logo depois melhorou. Foi feita
sorologia para TORCH, que mostrou
IgG reator para CMV, EBV e herpes.
Concluímos que teve contato com estes
micro-organismos, mas provavelmente
evoluiu para cura.
PROF. ROGeRiO
Só para esclarecer, a sigla TORCH signifi-
ca sorologias para toxoplasmose, rubéola,
citomegalovírus e herpes simples. Existe
a forma expandida TORSCH em que o S
corresponde à sorologia para sífilis.
PROF. FeRRY
IgG reator normalmente indica marcador
de cura. Porém, em pacientes com aids,
devemos valorizar e ficar atentos, porque
a imunidade está tão baixa que não há
produção de IgM – que é o marcador de
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
22 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
doença mais aguda, com curso de sete a
10 dias; a doença vai ficando progressiva
e piora muito rapidamente. Esse não era
o caso desse paciente, já que ele tinha
uma história com três meses de evolu-
ção, febre vespertina, sudorese noturna e
emagrecimento de mais de 10 kg. Talvez
o fato de ser jovem e forte poderia ter
ocasionado pneumocistose arrastada, mas
é pouco provável. Inicialmente pensou-se
em tuberculose ou pneumocistose, então
foi mantida a ceftriaxone, aumentou-se a
dose da sulfa e iniciaram-se 80mg de pred-
nisona por dia. Esta é a dose limite que
atua com ação anti-inflamatória e é quase
imunodepressora. Quando administramos
corticoide nessa dose, observamos que
muitos pacientes evoluem com euforia,
o psiquismo fica acelerado, o paciente
se sente ótimo, tem melhora no apetite,
diminuição na febre e melhora como um
todo. Mas por que melhora? O corticoide
atua no núcleo das células, onde inibe o
fator Kappa nuclear que codifica a trans-
crição do RNA mensageiro para formação
da enzima fosfolipase A2, que é a enzima
que retira o ácido araquidônico da mem-
brana celular. O ácido araquidônico é
o substrato da cascata de formação das
prostaglandinas e tromboxanos, que são
mediadores inflamatórios importantes.
Quando prescrevemos corticoides dimi-
nuímos muito a reação inflamatória sistê-
mica nos pacientes, que melhoram clini-
camente. Nos pacientes com aids, quando
há tuberculose e usamos corticoide,
inicialmente observamos uma melhora
importante, porém posteriormente a
tuberculose progride muito rapidamente,
se torna mais agressiva e mata o paciente,
isso tudo em uma semana. O uso do corti-
vespertina, sudorese noturna, tosse pro-
dutiva ou não, emagrecimento, dispneia,
mal-estar, às vezes candidíase e diarreia. O
paciente procura atendimento na Emer-
gência e a maioria dos colegas prescreve
amoxicilina. No caso desse paciente,
houve uma reação de hipersensibilidade.
PROF. FeRRY
A família e o paciente relatam que, por
causa dessa reação de hipersensibilidade,
o colega pensou em aids e solicitou o
exame (eu não sei se esta informação é
correta). Porém, acho que o colega teve
um raciocínio lógico ao ver o conjunto
do quadro clínico e o exame radiológico
– então solicitou o exame sorológico para
HIV, que foi reator.
PROF. MaRcelO
Provavelmente ele olhou a radiografia do
tórax e deve ter pensado em tuberculose
e, já que pensou em tuberculose, pediu
uma sorologia para HIV, que é impor-
tante excluir. Agora, quanto à questão da
amoxicilina, provavelmente ele fez uma
alergia; as penicilinas costumam fazer
reação de hipersensibilidade, principal-
mente nos pacientes portadores de HIV,
porque há um desequilíbrio do sistema
imune. Os portadores do HIV possuem
uma imunidade celular lá embaixo e res-
posta humoral exacerbada; uma hiperga-
maglobulinemia é comum. Pacientes HIV
que tomam Aines (anti-inflamatórios não
esteroides) ou penicilinas podem evoluir
com reação de hipersensibilidade. Isso
mostra um desequilíbrio imune nesse
indivíduo. Já na questão da hepatite B, o
sistema imune pode estar desequilibrado
a ponto de não mostrar o anticorpo.
PROF. FeRRY
Quando esse paciente foi internado na
Emergência já havia o diagnóstico de
HIV, e escolheram ceftriaxona como
antibiótico principal. Ceftriaxona é uma
droga que, no paciente com aids, não tem
quase efeito algum quando usada isolada-
mente. Fizeram ceftriaxona em dose alta,
mas o sulfametoxazol/trimetoprima, que
deveria ter sido administrado em dose
terapêutica, estava em dose profilática.
E aí ele foi transferido porque pensaram
em tuberculose e pelo fato de que, mesmo
tendo iniciado ceftriaxona, o paciente só
estava piorando.
PROF. ROGeRiO
Infelizmente os médicos sem experiên-
cia no manejo de pacientes com HIV/
aids quase sempre prescrevem subdoses
e antibióticos não muito adequados. A
medicina da aids é uma ciência à parte,
muitas vezes bem diferente da do senso
comum.
acaDÊMicO THales
E essa piora não poderia ser devida à
reconstituição imune?
PROF. FeRRY
Acho pouco provável. Observe que o
paciente iniciou os antirretrovirais uma
semana antes da internação na Emergên-
cia, e ele tem uma doença arrastada, com
três meses de evolução. Em geral a síndro-
me da reconstituição imune é mais tardia,
às vezes dois a três meses após início dos
antirretrovirais. A grande questão nesse
caso foi o diagnóstico da enfermidade
pulmonar: pneumocistose ou tuberculose?
Normalmente a pneumocistose causa
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 23
coide mascara a ação da tuberculose, por
isso nós optamos por fazer o tratamento
empírico da tuberculose. Nesse paciente
não foi isolado ou observado o bacilo da
tuberculose.
PROF. MaRcelO
Vale lembrar que a coinfecção pneumo-
cistose/tuberculose é muito comum.
uMa acaDÊMica
Por que pensaram em usar corticoide?
PROF. FeRRY
O Pneumocistis jiroveci é um fungo cuja lo-
calização é intra-alveolar. Então, quando
administramos a sulfa, ocorre a morte
maciça desses fungos; as células restantes
do sistema imune do paciente, em parti-
cular os macrófagos alveolares, iniciam a
fagocitose desses fungos, só que a quan-
tidade de fungos normalmente é muito
grande. Assim sendo, há no pulmão libe-
ração maciça de citocinas e infiltração de
outras células inflamatórias, de tal forma
que essa reação inflamatória pulmonar
faz o paciente piorar muito clinicamente.
Esse fato é chamado de piora paradoxal;
o médico que não tem experiência acha
que o tratamento não está fazendo efeito
e muda o antibiótico. Aí é que o paciente
morre mesmo. O tratamento para essa
reação paradoxal é corticoterapia venosa.
Quando fazemos o diagnóstico correto e
definitivo, com comprovação laborato-
rial de isolamento do agente etiológico,
podemos ter segurança para administrar
o antibiótico específico e o corticoide;
então, não há problema nenhum. O que
não podemos fazer é dar o corticoide sem
o tratamento do agente especifico, prin-
cipalmente quando há forte possibilidade
de ser tuberculose. Por isso começamos
empiricamente o tratamento para tuber-
culose. Nosso raciocínio se baseou no
fato de que a história da doença atual,
com três meses de evolução, não seria
compatível com pneumocistose, pois esta
causa doença mais aguda. Outro fato era
que o doente estava realmente muito
grave e dispneico, e não teríamos tempo
para uma investigação mais consistente.
Como o Prof. Marcelo falou, a coinfecção
é muito comum; o paciente poderia estar
com tuberculose e seu quadro ter sido
agravado por uma pneumocistose mais
aguda. De qualquer forma, o corticoide
iria fazer bem para o paciente. Corticoide
é um ótimo medicamento para ser usado
na aids, desde que usado corretamente.
Vocês então poderiam me perguntar por
que não fizemos o diagnóstico correta-
mente. Por que se começou o tratamento
empiricamente? Eu lhes responderia que
foi uma decisão muito difícil. Acontece
que eu pedi a coleta de escarro para pes-
quisa de BAAR na admissão do paciente
e houve um atraso motivado por problema
técnico. Por isso, iniciamos tratamento
empírico baseado no diagnóstico clínico
da doença. Hoje, após muita reflexão, eu
acho que a principal hipótese diagnóstica
para esse doente acabou sendo a pneu-
mocistose. Se olharmos com cuidado a
radiografia, observaremos um derrame
pleural discreto; foi por isso que não
descartamos tuberculose. Normalmente
não observamos derrame pleural na
pneumocistose. Por outro lado, o derrame
pleural é muito comum na tuberculose.
Na aids a história natural da tuberculose
é diferente daquela que atinge o indivíduo
imunocompetente. Na aids a tuberculose
pode ser pulmonar, mas em grande parte
dos pacientes é doença sistêmica, que
pode acometer qualquer órgão. Aqui no
HUGG já vi casos de tuberculose ganglio-
nar, intestinal, cutânea, cerebral, menín-
gea, urinária, óssea, etc, e na maioria dos
casos o pulmão estava preservado. Como
o paciente possui baixa imunidade, o
número e a função das células do sistema
imune estão diminuídos. As células não
conseguem produzir citocinas, que são
as responsáveis por atrair os monócitos
do sangue para formação de macrófagos;
não há formação de células epitelioides,
não há formação de células gigantes de
Langerhans, não tem citocina para ativar
os fibroblastos para que sintetizem o colá-
geno para fazer o granuloma. Não tem for-
mação de cavernas. Então, a tuberculose
é doença de interstício. Os bacilos ficam
abaixo dos pneumócitos tipo I, abaixo do
epitélio, e, portanto, a pesquisa de BAAR
em escarro e no lavado bronco-alveolar
é negativa, a cultura é negativa e até a
intradermorreação (PPD) é comumente
negativa. Perde-se muito tempo tentando
achar o bacilo. Assim, quando o paciente
fica bacilífero ele morre, e é assim que
acontece no dia a dia. A gente tem visto
muito esse fato aqui ao longo desses anos,
infelizmente. É muito complicada essa
decisão de iniciar o tratamento, porque
usamos medicamentos potencialmente
tóxicos por seis meses. Mas nós estamos
no Rio de Janeiro, que é o local onde
há maior incidência de tuberculose no
planeta, mais do que na Índia e África.
Então, quando estamos com um paciente
que apresentou febre vespertina, perda
ponderal, sudorese noturna, evolução >
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
24 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
arrastada por dois a três meses e é HIV,
a primeira hipótese é tuberculose. Não
devemos parar de pensar em outras
doenças e nunca parar de buscar o diag-
nóstico; o uso do Ripe (esquema para tra-
tamento de tuberculose) não inviabiliza
o isolamento dos bacilos, mesmo 30 dias
após seu início. A prova de que acertamos
é a melhora impressionante do paciente.
Em 15 dias os pacientes estão pedindo
para ir para casa. Ainda devemos pensar
que pode existir associação da tuberculose
com outras doenças, como a criptococose,
histoplasmose, pneumocistose, pneumo-
nia bacteriana, pneumonia atípica ou
pneumonia viral. Já tratei pacientes com
tuberculose e linfoma. Por isso precisa-
mos dos métodos diagnósticos: história
clínica bem feita, exame físico detalhado
(só estes dois permitem o diagnóstico
em 80% dos casos), imagens, exames
complementares de rotina, escarro,
PPD, broncoscopia, lavado brônquico,
culturas, biópsias – e esse material tem
que ir para um laboratório capacitado,
com reagentes de boa qualidade e com
pessoas que saibam fazer o diagnóstico.
Se for necessário, o paciente vai receber
esquema para tuberculose, tratamento
para pneumocistose, pneumonia bacte-
riana e doença por fungos. O doente vai
melhorar, e, nesses casos, muitas vezes
não saberemos o diagnóstico. Mas o que
me interessa é que o paciente fique vivo.
acaDÊMica laRissa
Qual a conduta, então, diante das hipóte-
ses? Foram solicitados na admissão radio-
grafia do tórax, exames laboratoriais com
hemograma e bioquímica, incluindo VHS,
PCR e LDH, gasometria arterial, contagem
de linfócitos T CD4, CD8 e carga viral do
HIV. Também foram solicitadas tomo-
grafia computadorizada de crânio e tórax,
pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes
e sorologias para hepatites B e C, toxoplas-
mose, citomegalovírus e VDRL.
PROF. FeRRY
Deixe-me explicar uma coisa, porque não
foi dito nada anteriormente em relação
à tomografia de crânio. Ela foi solicitada
porque o paciente estava tendo alucina-
ções e alterações de comportamento, mas
esses fatos poderiam ser devidos ao uso de
efavirenz no esquema antirretroviral. Essa
droga tem como efeito colateral distúrbios
neuropsiquiátricos graves e o paciente
estava agitado, com alterações de com-
portamento e alucinações no período
noturno (essa droga é prescrita para ser
usada no período noturno justamente
devido a esses distúrbios e sonolência),
Essas alterações são mais pronunciadas e
graves no inicio do tratamento, em geral
após a primeira dose do fármaco. Devemos
pedir a tomografia para afastar doença neu-
rológica, também muito comum na aids.
Temos que descartar neurotoxoplasmose,
linfoma, cisticercose e leucoencefalopatia
multifocal progressiva.
PROF. ROGeRiO
Lembro que o efavirenz, nos primeiros
dias de uso, pode desencadear reações
neuropsiquiátricas muito intensas.
Algumas vezes é necessário suspender o
tratamento com a droga.
PROF. FeRRY
Mas devemos fazer tomografia de crânio
para afastar a possibilidade de ele ter
alguma doença neurológica. Mas observe
que, na história clínica, havia um detalhe:
ao longo do dia o paciente melhorava.
O efavirenz é administrado no período
noturno, e à noite ele tinha alterações do
comportamento, mas ao longo do dia me-
lhorava. Quando há lesão como massa, ou
linfoma, ou toxoplasmose, o paciente não
melhora, a alteração permanece constante.
Por isso é que se pensou que era o efavirenz.
Eu falei que isso era do remédio e que, com
a continuidade do uso, o paciente iria me-
lhorar – e foi o que aconteceu.
acaDÊMica laRissa
Então foram iniciados claritromicina,
sulfametoxazol + trimetoprima, corticoi-
de e Ripe.
PROF. MaRcelO
Foi uma decisão em conjunto no round,
mais pela história clinica, já que não
dispomos de meios de diagnóstico de
maneira rápida.
PROF. FeRRY
É lógico, valorizamos a história clínica,
temos que tomar as decisões baseadas
nos achados clínicos para preservar a
vida do paciente. A claritromicina trata
micobactérias atípicas e algumas formas
de pneumonia; o fluconazol trata candi-
díase e outras doenças fúngicas, inclusive
a pneumonia por cândida, criptococos e
até histoplasma também. A sulfa trata a
pneumocistose, pneumonias, sinusites,
infecções urinárias, infecções cutâneas e
o Ripe a tuberculose. Eu sei que é muita
droga. O ideal seria que eu tivesse o diag-
nóstico e fizesse uma droga só, mas não
tenho. E sabendo que na aids é comum
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 25
a infecção por múltiplos agentes, então
usamos múltiplas drogas, e vamos obser-
var a melhora do paciente. Vamos fazer
14- 21 dias de claritromicina, 10 dias de
fluconazol e os seis meses com Ripe e dar
a terapia antirretroviral. Felizmente o
paciente melhorou muito e recebeu alta.
acaDÊMica laRissa
Na evolução, ele ficou 17 dias internado.
O paciente evoluiu bem, sem intercor-
rências, recebendo alta no dia 16/2. Para
tratamento ambulatorial foram prescritos
sulfa, claritromicina e Ripe.
acaDÊMica GaBRiela
Agora vou falar da pneumocistose. É
uma pneumonia provocada pelo fungo
Pneumocystis jirovecii, antes chamado
de Pneumocystis carinii. É uma infecção
respiratória oportunista mais comum em
pacientes imunossuprimidos. No caso do
nosso paciente era imunossupressão pelo
HIV/aids. Carlos Chagas foi o primeiro
a identificar esses agentes e achava que
fazia parte do ciclo de vida do Tripanosoma
cruzi. Em 1910 o italiano Antonio Carinii,
naturalizado brasileiro, trabalhando na
Fio Cruz, conseguiu descrever o organismo,
inicialmente descrito como protozoário.
Em 1988, estudos de DNA mostraram que
estes micro-organismos eram, na verdade,
fungos, apesar de não possuírem ergoste-
rol e não crescerem em meios de cultura
comuns para fungos. Mais recentemente,
Frenkel, em 1999, denominou de Pneu-
mocystis jiroveci os fungos da pneumocistose
humana (“Jiroveci” foi em homenagem
ao parasitologista tcheco Otto Jiroveci),
reservando P. carinii para infestação de
ratos e outros animais.
FIGURA 2Telerradiografia de tórax mostrando detalhes pormenorizados da base pulmonar direita, onde se observa infiltrado reticulo-nodular difuso
FIGURA 3Telerradiografia de tórax mostrando detalhes pormenorizados da base pulmonar esquerda, onde se observa um extenso infiltrado intersticial difuso
FIGURA 1Telerradiografia de tórax exibindo infiltrado intersticial difuso bilateralmente, principalmente em bases
FIGURA 4Tomografia computadorizada de tórax mostrando extenso infiltrado pulmonar intersticial difuso, bilateral, além de imagens em vidro fosco
>
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
26 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
PROF. ROGeRiO
Em particular, eu continuo chamando P.
carinii. Mas quando vocês forem fazer prova
de residência, devem observar a literatura e
às vezes escolher P. jiroveci quando se tratar
de doença humana. A sigla PCP ainda é
usada para a pneumonia pelo germe. Res-
salto que o termo pneumocistose pulmonar,
embora pareça redundante, está correto.
acaDÊMica GaBRiela
É importante saber que a pneumocistose
afeta pacientes com imunodepressão, tais
como os em uso de corticoides e imunos-
supressores (transplantados). Devido a
esse fato, em 1988 começou-se a profilaxia
com sulfa em pacientes imunossuprimi-
dos, diminuindo assim a incidência de
pneumocistose nesses pacientes. Pneumo-
cistis carinii é um organismo extracelular
encontrado nos pulmões dos mamíferos,
é um fungo que tem características de
protozoário (cistos, esporozoítas e trofo-
zoítas) e também é suscetível aos fármacos
para tratar protozoários, responde muito
bem a antibióticos e não responde bem
a antifúngicos. A espécie infectante no
homem é o Pneumocistis jirovecii e tem
uma baixa virulência, por isso é encon-
trado em pacientes com imunossupressão.
PROF. FeRRY
Na imunossupressão a quantidade dos
fungos aumenta muito; eles se localizam
na superfície do pneumócito. Há inflama-
ção local e então há prejuízo para a per-
feita função da barreira hematoalveolar.
acaDÊMica laRissa
O diagnóstico é feito pela observação do
fungo no escarro, escarro induzido, lavado
broncoalveolar ou biópsia. O diagnóstico
clínico é feito pelos sintomas e sinais
clínicos, gasometria arterial e níveis de
lactato desidrogenase muito aumentados.
PROF. FeRRY
Papanicolau modificado, Giemsa e imu-
nofluorescência podem ser aplicados ao
escarro. O método histopatológico precisa
de colorações específicas como a metena-
mina de prata de Gomori ou PAS.
acaDÊMica laRissa
Quando pensamos em pneumocistose,
associamos logo a doença pulmonar. En-
tretanto, o pneumocisto pode acometer
outros órgãos, como por exemplo cérebro,
fígado, baço e medula óssea.
PROF. FeRRY
Esse fato era comum quando se usava pen-
tamidina inalatória. Aliás, a pentamidina
faz parte da história da aids. Em 1978, em
Nova York e Los Angeles, havia muito
pedido de pentamidina para tratamento
de pneumocistose. Uma secretária do
CDC de Atlanta observou esse fato e
falou para os pesquisadores o que estava
acontecendo. Começaram a investigar e
a identificar doenças de imunodeprimidos
nos pacientes homossexuais, usuários de
drogas e hemotransfundidos. Nessa época
também se observou que a pentamidina
por via inalatória tratava a pneumocistose
pulmonar, mas não a de outros órgãos,
então o agente se disseminava por via
hematogênica para muitos outros órgãos.
acaDÊMica laRissa
A tétrade clássica é febre, tosse não pro-
dutiva, dispneia progressiva e taquipneia.
O exame físico pode ser normal, mas em
cerca de 50% dos casos há crepitações e
roncos. Outros achados podem ser fadiga,
dor, emagrecimento e manifestações ex-
trapulmonares. Nos exames de imagem o
achado típico é infiltrado intersticial peri-
hilar no início, que depois se expande para
a periferia dos pulmões. As complicações
raras podem ser pneumotórax, derrame
pleural e cistos. Nos exames laboratoriais
podemos encontrar leucocitose com desvio
à esquerda. A lactato desidrogenase – LDH
– pode ser parâmetro para prognóstico,
diagnóstico e acompanhamento; na pneu-
mocistose a LDH está muito elevada e, se
observarmos que durante o tratamento
não houve diminuição, algo está errado.
No nosso paciente era 2.160, caiu para
707 e a última, antes da alta, foi de 300.
A gasometria é também de grande valor.
Observa-se hipoxemia severa por causa
da lesão dos alvéolos e diminui muito a
troca gasosa. A pO2 normalmente está
abaixo de 70. A do nosso paciente era 74.
É importante lembrar a coinfecção, que
atinge de 13 a 18% dos casos. Não só com
tuberculose, mas também com sarcoma de
Kaposi e pneumonia bacteriana. O trata-
mento da pneumocistose é baseado no uso
de sulfametoxazol 100mg/kg com trimeto-
prim 15-20mg/kg; calcula-se a dose total e
divide-se a cada seis horas. Na prática são
três a quatro ampolas de 400/80 a cada seis
horas. Adiciona-se também prednisona,
1mg/kg por quatro a cinco dias, reduzindo
a dose gradativamente, de acordo com a
melhora do paciente.
PROF. ROGeRiO
Declaro encerrada a sessão. Obrigado e
bom dia a todos. n
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 27
Resposta de The Image Challenge
O Desafio da Imagem da página 13
Diagnóstico: Carcinoma broncogênico primário
múltiplo (carcinomas broncogênicos primários
simétricos e bilaterais)
comentários: O carcinoma broncogênico primá-
rio múltiplo é uma entidade nosológica rara, que
consiste na existência de dois ou mais tumores
pulmonares primários, sincrônicos ou metacrôni-
cos, podendo acometer o parênquima pulmonar
uni ou bilateralmente (1). A maioria dos tumores
sincrônicos é sintomática e bilateral (2). Os tumores
metacrônicos são cerca de duas vezes mais comuns
que os sincrônicos (1,2).
Geralmente a presença de nódulos ou massas pulmo-
nares bilaterais sugere um tumor pulmonar primário
com metástase intrapulmonar, metástases pulmo-
nares de uma doença maligna extratorácica, ou
ainda outras condições benignas. O câncer primário
múltiplo possui melhor prognóstico em comparação
com doença localmente avançada ou metastática. O
diagnóstico diferencial é fundamental para avaliação
da sobrevida e terapia (3).
De acordo com Martini e Melamed (4), os critérios
para o diagnóstico de tumores metacrônicos e sin-
crônicos do pulmão são os que se seguem:
A. As lesões deveriam ser fisicamente distintas e
separadas.
B. Quanto à histologia:
1. distinta: diagnóstico de tumor sincrônico
2. idêntica, mas em diferentes segmentos, lobos ou
pulmões, se:
- originário de carcinoma in situ
- ausência de carcinoma em cadeias linfáticas
comuns às duas lesões
- ausência de metástases extrapulmonares no
momento do diagnóstico.
A etiopatogenia dos tumores sincrônicos ainda
não foi bem esclarecida. A origem multicêntrica e
a localização preferencialmente central e em lobos
superiores parece ser resultado de uma exposição
uniforme da área brônquica a carcinógenos inalados (3). Esses tumores se desenvolvem especialmente
em fumantes, além de trabalhadores expostos a
compostos cromados, variando de oito a 30 anos
de exposição, e são mais comuns em homens com
cerca de 60 anos (5,6). Estudos realizados avaliam a
incidência de tumores sincrônicos em cerca de 1%
dos casos. De acordo com os autores, o aumento
da incidência de tumores sincrônicos de pulmão
deve-se aos métodos diagnósticos atuais (TC, PET
CT e endoscopia com fluorescência). A exemplo
disso, a broncoscopia com fluorescência no esta-
diamento de pacientes com neoplasia primária de
pulmão possibilitou a visualização de um segundo
tumor primário ou de lesões pré-neoplásicas numa
alta prevalência (9,3%). Assim como para tumores
únicos, o carcinoma epidermoide se mantém como
o tipo histológico mais comum (correspondendo a
70% dos tumores com histologia idêntica e quase
80% dos tumores com histologias diferentes),
seguido do tipo oat cell (3).
A sobrevida de pacientes com tumores pulmonares
primários múltiplos é inferior à de portadores de
tumor único de pulmão, e superior à de pacientes
com doença localmente avançada ou metastática (3).
No caso apresentado, a radiografia de tórax em PA
(figura 1) evidenciou aumento hilar bilateral, opaci-
dades configurando massas heterogêneas peri-hilares
de contornos espiculados e limites mal definidos,
medindo cerca de 6cm à esquerda e 6,5cm à direita.
Nota-se, também, a presença de infiltrado intersti-
cial reticulonodular na periferia da massa à direita,
inversão de padrão vascular em lobos superiores e
sinais de hiperinsuflação pulmonar. Aparentemente,
as massas evidenciadas seriam, além de sincrônicas,
simétricas. Contudo, na incidência em perfil (figura
2), verificou-se que a massa à esquerda se localizava
no segmento VI, com imagem sugestiva de cavi-
tação, enquanto a da direita localizava-se sobre a
região hilar, desconstruindo a impressão capciosa
transmitida pela imagem em PA.
Baseadas nos exames de imagem, são levantadas
algumas hipóteses diagnósticas principais. Entre as
doenças benignas, nódulos maiores de 1cm asso-
ciados a linfadenomegalia podem ser atribuídos a
histoplasmose, sarcoidose, silicose e granulomatose
de Wegener. Entre as causas malignas, o linfoma
não Hodgkin e metástases de tumores sólidos (7).
Foi realizada broncoscopia flexível. Identificou-se
à direita alargamento da carina intermediária,
lesão vegetante ocluindo totalmente a luz do
brônquio intermediário, sendo feita biópsia e
lavado broncoalveolar. Visualizou-se à esquerda
compressão extrínseca no terço distal do brônquio
principal, e ausência de lesão à luz brônquica.
Também foi realizado lavado. O laudo histopato-
lógico da lesão firmou o diagnóstico de carcinoma
epidermoide à esquerda, e carcinoma pouco dife-
renciado não oat cell à direita. Não foi realizada
imunohistoquímica para classificação definitiva
do tipo histológico do tumor encontrado no
pulmão direito devido à indisponibilidade do
exame na época da ocorrência do caso.
ReFeRÊncias BiBliOGRÁFicas
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Paciente masculino, 65 anos, com DPOC, com episódios de hemoptoicos e emagrecimento importante
FIGURA 2Radiografia de tórax em perfil evidenciando pulmões hiperinsuflados, aumento do volume hilar e imagem configurando massa em segmento VI à esquerda
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 27
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
28 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
Deformidades Ósseas em Háluces na HanseníaseBone Deformities in Halluces in Leprosy
(estudo realizado no Setor de Dermatologia Sanitária do Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay, da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – RJ)
Autores:Dra. Lívia Grassini da SilvaDra. Aline Tanus LuzMédicas Graduadas pela Universidade Gama Filho (UGF)
Dra. Gabriele Medina VilelaMédica Graduada pelo Centro Universitário de Volta Redonda (Unifoa)
Prof. José Augusto da Costa NeryChefe do Setor de Dermatologia Sanitária e Professor Associado do Curso de Pós-Graduação do Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay, da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e da Escola Médica de Pós-Graduação/PUC-RJDoutor em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias) pela UFRJProfessor Assistente da Faculdade de Medicina da UGF
ResuMO – A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium leprae. O bacilo tem predileção pelas células da pele e nervos periféricos, porém pode acometer outros sistemas, causando diversos distúrbios. As lesões ósseas por invasão direta do bacilo são de baixa incidência; as mais comuns são devidas ao trauma e à infecção secundária nos tecidos denervados. O mecanismo etiopatogênico não está bem elucidado, mas acredita-se que seja um estado reativo ao bacilo ou aos seus antígenos. A reabsorção óssea afila e/ou encurta as falanges, metacarpos e metatarsos. A reabsorção distal diminui o comprimento ósseo, enquanto que a reabsorção do osso trabecular, também chamada de atrofia óssea concêntrica, diminui a largura. A combinação de ambas dá ao osso uma aparência chamada licked candy stick. Preconiza-se o tratamento dos pacientes com hanseníase com poliquimioterapia e o manejo adequado das reações com o fim de prevenir a instalação de deformidades. (Conduta Médica 2013-14 (55) 28-30)
aBSTRaCT – Leprosy is a contagious and infectious disease caused by Micobacterium leprae. The bacillus has preference for skin cells and peripheral nerves, however it can affect other systems, causing several disorders. Bone lesions caused by direct invasion of the bacillus have low incidence; the most common are due to trauma and second-ary infection in tissues without innervation. The etiopathogenic mechanism is not well elucidated, but it is believed that there is a reactive state to the bacillus or its antigens. Bone resorption tapers and/or shorten the phalanges, metacarpals and metatarsals. The distal resorption decreases the bone length, while the resorption of trabecular bone, also called concentric bone atrophy, decreases the width. The combination of both gives the bone the appearance called ‘licked candy stick’. It is recommended the appropriated treatment of leprosy patients with multidrug therapy and the proper management of the reactions with the intention to prevent the installation of deformities. (Conduta Médica 2013-14 (55) 28-30)
DescRiTORes – hanseníase; hanseníase virchowiana; reabsorção óssea
KeY-WoRDS – leprosy; lepromatous; bone resorption
aPResenTaÇÃO
Relatamos caso de paciente com han-
seníase dimorfa virchowiana tratado de
forma irregular, com retorno do quadro
sintomático, evoluindo com deformida-
des irreversíveis em membros inferiores.
anaMnese
Paciente masculino, 36 anos, pardo,
morador de Queimados (RJ). O pacien-
te foi diagnosticado com hanseníase
dimorfa virchowiana em 23/4/2003,
tendo realizado tratamento irregular
com esquema poliquimioterapia mul-
tibacilar (PQT/MB) por duas vezes
em três anos. Após esse período, refere
manifestações de reação hansênica tipo
I com uso de corticoterapia, também de
forma irregular. Procurou o Serviço com
queixa de aparecimento de novas lesões
e deformidades em membros inferiores.
eXaMe DeRMaTOlÓGicO
Ao exame dermatológico apresentava
lesões eritematosas e intumescidas em
membros inferiores e dorso. Apresenta-
va também encurtamento e afilamento
do hálux esquerdo e afilamento do
Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 29
hálux direito acompanhado de peque-
nas úlceras devido à reabsorção óssea do
primeiro pododáctilo de ambos os pés
(figuras 1, 2, 3 e 4).
eXaMes cOMPleMenTaRes
Exames laboratoriais: baciloscopia
positiva.
Exame neurológico: nervo ulnar, mediano
e radial edemaciados em lado direito, no-
tando-se resistência parcial na avaliação
de força; dor à palpação de nervo fibular.
cOnDuTa e eVOluÇÃO
Foi realizado retratamento com esquema
de poliquimioterapia multibacilar por
12 meses.
DiscussÃO
A época do aparecimento da hanseníase
não é conhecida1. A primeira vez que o
termo “lepra” foi utilizado para designar
a hanseníase foi na História Medieval,
em múmias de cristãos coptas do Egito1.
Ainda que o termo lepra seja universal,
no Brasil, pelo seu teor estigmatizante,
foi substituído por hanseníase1. No
país, os primeiros relatos datam do
século XVII, coincidindo com o tráfico
de escravos, mas até hoje o número
de pacientes com a doença é grande.
Atualmente a enfermidade se concen-
tra no continente asiático, africano e
americano1-3. A hanseníase tem alta
prevalência no Brasil, com aproximada-
mente 47 mil novos casos por ano1,3, dos
quais 23,3% com graus de incapacidade
I e II, assumindo grande importância
para a saúde pública.
É uma doença crônica, granulomatosa,
causada pelo Mycobacterium leprae, afe-
tando pele, sistema nervoso periférico
e, ocasionalmente, outros órgãos e siste-
mas1-4. Vários estudos têm demonstrado
que, diante da contaminação, a maioria
dos indivíduos oferece resistência ao M.
leprae, não desenvolvendo a doença,
situação que pode ser alterada, em
função da relação entre agente, meio
ambiente e hospedeiro4. Nos indiví-
duos que adoecem, a infecção evolui
de maneiras diversas, de acordo com
a resposta imunológica específica do
hospedeiro frente ao bacilo1,3,4. Essa >
FIGURA 3Afilamento do hálux direito
FIGURA 4Afilamento do hálux direito acompanhado
de lesão ulcerada
resposta imune constitui um espec-
tro que expressa as diferentes formas
clínicas da doença4. Com a resposta
imunológica competente, o indivíduo
evolui para a forma clínica localizada
e não contagiosa da doença. Se essa
competência não é efetiva, uma forma
difusa e contagiosa é desenvolvida1,3,4.
Entre esses dois extremos encontram-
se as formas intermediárias, que refle-
tem, também, graduais variações da
resistência ao bacilo1,3. A lesão inicial
da doença, também conhecida como
hanseníase indeterminada, pode ser
autorresolutiva, manter-se como tal ou
FIGURA 1Encurtamento e afilamento do hálux esquerdo
FIGURA 2Encurtamento e afilamento do hálux esquerdo
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
30 Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013
mudar em direção às formas tuberculoi-
de, virchowiana ou dimorfa1,3.
No polo de anergia, a hanseníase vir-
chowiana expressa a forma clínica de
susceptibilidade ao bacilo, resultando
em multiplicação e disseminação da
doença1,3,5. De início insidioso e pro-
gressão lenta, essa forma clínica avança
através dos anos, envolvendo difusa-
mente extensas áreas de tegumento,
múltiplos troncos nervosos, e inclusive
outros órgãos1,3,5. Inicia-se com máculas
mal definidas discretamente hipocrô-
micas ou eritematosas, pouco visíveis,
ampla e simetricamente distribuídas
sobre a superfície corpórea1,3. A progres-
são da doença resulta em acentuação
do eritema e infiltração, pele luzidia
com poros dilatados – e, sobre essas
áreas, se sobrepõem pápulas, nódulos
e tubérculos1,3. Frequentemente, estão
comprometidas a região frontal e cen-
tromedial da face e lóbulos da orelha,
caracterizando a fácies leonina. As
lesões se encontram com diminuição
ou ausência de pêlos1,3. Pode ocorrer
madarose. Com a evolução da doença,
múltiplos troncos nervosos são com-
prometidos, tornando-se de firmes a
espessados, fibrosos e endurecidos, e
progressivamente sobrevém a perda
sensitiva e motora, consequentemen-
te levando à perda da função, atrofia
muscular, paralisias, deformidades e
contraturas1,3,5. O curso da doença se
desenvolve atingindo órgãos e sistemas,
como o trato respiratório superior,
olhos, rins, fígado, baço, testículos e
ossos1,3,5. A baciloscopia é francamente
positiva em vários pontos pesquisados1,3.
A resposta diante dos antígenos bacila-
res, denominada reação de Mitsuda, é
negativa1,3.
Os mecanismos que geram as deformi-
dades e incapacidades são neurogênicos
e inflamatórios, uma vez que os bacilos
de Hansen têm tropismo especial pelas
fibras nervosas desde as terminações da
derme aos troncos nervosos1,3,6.
O pé com anestesia na região plantar
que também apresente comprometi-
mento da sensibilidade articular pode
desenvolver artropatia neurogênica
(artropatia de Charcot), que ocorre
devido a fraturas trabeculares e justar-
ticulares desencadeadas por traumas
repetidos6,7. É mais comum em pés com
osteoporose e já com deformidades em
sua arquitetura, o que implicaria em
maior reabsorção óssea6,7. O principal
fator desencadeador é o trauma repe-
titivo com fratura inicial e movimento
contínuo, causando maior dano às
estruturas ósseas, sem que haja tempo
para regeneração1,3,6,7. O paciente não
se queixa de dor no local1,3. A região
do tarso é a mais acometida, apresen-
tando-se edemaciada e com aumento da
temperatura. Há importante destruição
e desarranjo da estrutura óssea, resul-
tando em desintegração do tarso, que,
quando consolidada, pode deixar o pé
com severas deformidades1,3,6,7.
É importante aprimorar o reconheci-
mento da hanseníase pelos profissionais
da área da saúde a fim de promover
diagnóstico e tratamento precoce, evi-
tando aparecimento de novos casos e
prevenindo incapacidades e deformida-
des1,3. Contudo, para que haja resposta
terapêutica efetiva, é necessário esta-
belecer boa relação médico-paciente,
demonstrando o valor do tratamento
em proporcionar melhor prognóstico e
qualidade de vida.
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Conduta médiCa ● ano XiV - n055 - Jan/FEV/maR/2013 31
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EDIÇÃO DE JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO - 2013 - Nº 55 – ANO XIV
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