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Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração http://www.anpad.com.br/ QUESTÕES DE LÍNGUA PORTUGUESA TEXT0 1 Já se disse,numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade - daremos ao mundo o "homem cordial". A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência dos padrões de convívio humano informados no meio rural ancestral e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar "boas maneiras", civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitiva - ela pode exprimir-se em mandamentos e em sentenças. Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chega a ponto de confundir-se, por vezes, com a reverência religiosa. Já houve quem notasse este fato significativo, de que as formas exteriores de veneração à divindade, no cerimonial xintoísta, não diferem essencialmente das maneiras sociais de demonstrar respeito. Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência ? e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar intatas sua sensibilidade e suas emoções. Por meio de semelhante padronização das formas exteriores da cordialidade, que não precisam ser legítimas para se manifestarem, revela-se um decisivo triunfo do espírito sobre a vida. Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. E, efetivamente, a polidez implica uma presença contínua e soberana do indivíduo. No "homem cordial", a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro - como bom americano - tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos outros. Foi a esse tipo humano que se dirigiu Nietzche, quando disse: "Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro." Nada mais significativo dessa aversão ao ritualismo social, que exige, por vezes, uma personalidade fortemente homogênea e equilibrada em todas as suas partes, do que a dificuldade em que se sentem, geralmente, os

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Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração http://www.anpad.com.br/ QUESTÕES DE LÍNGUA PORTUGUESA

TEXT0 1Já se disse,numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade - daremos ao mundo o "homem cordial". A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência dos padrões de convívio humano informados no meio rural ancestral e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar "boas maneiras", civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitiva - ela pode exprimir-se em mandamentos e em sentenças. Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chega a ponto de confundir-se, por vezes, com a reverência religiosa. Já houve quem notasse este fato significativo, de que as formas exteriores de veneração à divindade, no cerimonial xintoísta, não diferem essencialmente das maneiras sociais de demonstrar respeito. Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência ? e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar intatas sua sensibilidade e suas emoções. Por meio de semelhante padronização das formas exteriores da cordialidade, que não precisam ser legítimas para se manifestarem, revela-se um decisivo triunfo do espírito sobre a vida. Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. E, efetivamente, a polidez implica uma presença contínua e soberana do indivíduo. No "homem cordial", a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro - como bom americano - tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos outros. Foi a esse tipo humano que se dirigiu Nietzche, quando disse: "Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro." Nada mais significativo dessa aversão ao ritualismo social, que exige, por vezes, uma personalidade fortemente homogênea e equilibrada em todas as suas partes, do que a dificuldade em que se sentem, geralmente, os brasileiros, de uma reverência prolongada ante um superior. Nosso temperamento admite fórmulas de reverência, e até de bom grado, mas quase somente enquanto não suprimam de todo a possibilidade de convívio familiar. A manifestação normal do respeito em outros povos tem aqui sua réplica, em regra geral, no desejo de estabelecer intimidade. E isso é tanto mais específico, quanto se sabe do apego freqüente dos portugueses, tão próximos de nós em tantos aspectos, aos títulos e sinais de reverência.Adaptado de: Holanda, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Cia. das Letras, 1995. p.146.

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1. Assinale a alternativa em que se faz a afirmação que resume mais precisamente o sentido do textoO texto trata do fato de que o brasileiro não sabe se portar bem em sociedade. O tema do texto é o contraste entre duas culturas: a japonesa e a brasileira. O texto procura determinar as propriedades definidoras do conceito de polidez. O texto trata do conceito de cordialidade, tido como central na cultura brasileira. O tema do texto é a padronização e a hipocrisia das culturas socialmente rígidas.

2. Nas alternativas abaixo, apresentam-se cinco reordenações da frase destacada em negrito no início do texto. Assinale aquela que mantém o significado da frase original e que não dá margem a qualquer ambigüidade. São expressões antes de tudo legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. São expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante antes de tudo. São expressões legítimas de um fundo antes de tudo emotivo extremamente rico e transbordante. Antes de tudo, são expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. São expressões legítimas de um fundo emotivo antes de tudo extremamente rico e transbordante3. Caso a palavra influência, destacada em negrito no texto, aparecesse no plural, quantas outras palavras na frase deveriam sofrer ajuste obrigatório para fins de concordância? Uma (b) Duas (c) Três (d) Quatro (e) Cinco4. Todas as expressões abaixo listadas poderiam substituir as palavras qualquer coisa, destacadas em negrito no texto, sem acarretar alteração no significado da frase em que tal expressão ocorre, à exceção de tudo (b) algo (c) um quê (d) alguma coisa (e) um tanto

5. Considere as seguintes afirmações acerca da palavra coercitivo, destacada em negrito no texto. Dado seu significado, equivalente ao da palavra coercitivo, a palavra poderia ser substituída por obrigatório, sem causar mudança no significado da frase. A palavra é derivada, relacionando-se a coerção e apresentando o mesmo sufixo que palavras como sensitivo e diretivo. As palavras mandamentos e sentenças têm em seu significado um componente que se relaciona à qualidade coercitiva.

Quais estão corretas? Apenas I (b) Apenas II (c) Apenas III (d) Apenas II e III (e) I, II e III

QUESTÕES DE RACIOCÍNIO ANALÍTICO1. As empresas têm em vista apenas seus próprios interesses. Mesmo quando se pensa que elas estão preocupadas com a sociedade, elas estão sendo egoístas. Pensar nas atividades filantrópicas das fundações empresariais como produto de sensibilidade social é uma visão romântica da realidade. Isto porque as atividades filantrópicas trazem para as empresas mais

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vantagens econômicas e políticas do que custos. A filantropia empresarial é computada nos custos de representação do capital, melhorando a imagem da empresa e otimizando o marketing comercial. Além disso, em muitos casos, a legislação permite o abatimento de impostos e a obtenção de subsídios.

Qual das seguintes alternativas constitui a conclusão mais apropriada para o texto acima?As empresas desenvolvem atividades filantrópicas por dois motivos: obtenção de ganhos econômicos e romantismo. A filantropia empresarial é um tipo de investimento por meio do qual as empresas conseguem vantagens variadas. As atividades filantrópicas das empresas oneram seus custos, mas as empresas devem desenvolvê-las para limpar sua imagem. As empresas que não desenvolvem atividades filantrópicas não demonstram sensibilidade social e pioram seu marketing comercial. (e) Os custos das atividades filantrópicas desenvolvidas pelas fundações empresariais são subsidiados, e as empresas são isentas de impostos.

2. Optar pela não-profissionalização equivale a condenar sua empresa ao desaparecimento. Profissionalizar empresas familiares não significa mudar o gerenciamento de familiar para não-familiar, mas melhorar os padrões éticos e de desempenho. Um gerente profissional pode perfeitamente ser um membro da família ou não. Entretanto, a realização desse processo esbarra em problemas sérios. Primeiro, porque a profissionalização pode custar caro, já que as empresas têm que aumentar a remuneração para atrair novos funcionários, investir em tecnologias ou introduzir sistemas de planejamento, controle e gerenciamento de desempenho. Depois, porque é necessário superar o problema de adquirir a confiança da família na nova forma de administrar. Outro obstáculo é o compartilhamento do poder, já que a profissionalização só acontece quando outras pessoas podem tomar decisões. Apesar das dificuldades, é preciso insistir na profissionalização, pois o mais comum nas empresas familiares, a partir de uma determinada etapa do crescimento, é que a disputa por status, poder, controle, reconhecimento e, até mesmo, por amor afaste os membros da família do objetivo central, que é a direção do negócio. Qual das seguintes alternativas, se verdadeira, mais enfraqueceria a conclusão do texto acima? A contratação de profissionais treinados e competentes pode evitar o desaparecimento precoce das empresas familiares. O conhecimento de administração e a experiência gerencial são essenciais para a profissionalização das empresas familiares.  O tipo de empresa a que se refere o texto geralmente é administrado por membros da mesma família. O processo de profissionalização de empresas raramente pode ser chamado de bem-sucedido. As disputas por status, poder, controle e reconhecimento constituem elementos que impedem o alcance dos objetivos empresariais.

3. Ou se aceita a globalização como um fato ou se é visto como um pensador desatualizado. A globalização neoliberal é um fator explicativo importante dos processos econômicos, sociais, políticos e culturais das sociedades nacionais. Contudo, apesar de importante e predominante, esta globalização não é uma só. De par com ela e, em grande medida, por reação a ela, está emergindo uma outra globalização, constituída pelas redes e alianças transfronteiriças entre movimentos, lutas e organizações locais ou nacionais que, nos diferentes cantos do globo, se mobilizam para lutar

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contra a exclusão social, a precarização do trabalho e o ódio produzido, direta ou indiretamente, pela globalização neoliberal. Cada uma das seguintes alternativas pode ser inferida do texto acima, EXCETO A globalização neoliberal está produzindo uma globalização antagônica, por ter gerado problemas sociais. A globalização neoliberal é um fenômeno único, com duas faces que se caracterizam por estarem em oposição. A globalização neoliberal está gerando uma reação, também globalizada, que visa à defesa de temas sociais. A globalização neoliberal está influenciando a economia e a sociedade de maneira hegemônica. A globalização neoliberal está tendo muita influência sobre as sociedades nacionais, mas está enfrentando reações transnacionais

4. Em meio à queda generalizada do número de viajantes ocasionada pela crise no setor de turismo, uma empresa diferente chama a atenção. Apenas uma divisória separa a sala do dono da CVC, maior operadora de turismo do país, do balcão onde os compradores são atendidos. Ele poderia se instalar em qualquer um dos seis andares que a empresa ocupa num prédio de uma área de comércio popular em Santo André, no ABC paulista, mas escolheu ficar ali, bem perto da porta de entrada e do burburinho da emissão de bilhetes aéreos. Isso porque gosta do vaivém da freguesia. Desde a falência de sua maior rival, a agência carioca Soletur, em 2001, a CVC desfruta o virtual monopólio do turismo de massa brasileiro. São dela seis de cada dez pacotes turísticos vendidos no país. Em 2003, espera-se um faturamento 20% superior ao do ano anterior. O que se conclui do texto acima? A crise no setor de turismo decorre da redução do poder aquisitivo da população e afeta duramente as empresas que atuam no ramo. Os efeitos da crise no setor de turismo estão sendo muito mais rigorosos para as empresas cariocas do que para as paulistas. A diminuição do número de viajantes é que provoca a crise no setor de turismo, e não o contrário. A atitude gerencial na CVC pode ter permitido resultados econômicos e financeiros favoráveis no mesmo ambiente que desfavoreceu a Soletur. Os dirigentes da Soletur não souberam enfrentar a crise usando os meios que garantiram à CVC a sobrevivência.

5. A imagem do Brasil e os produtos associados a ela estão mesmo fazendo sucesso lá fora. Tomem-se os exemplos dos cavalos e dos vinhos brasileiros, que sempre tiveram em comum a falta de prestígio internacional, se comparados aos similares argentinos e chilenos. Uma série de vitórias em páreos importantes nos Estados Unidos vem mudando a imagem dos animais nacionais no exterior. A égua Farda Amiga, cujo treinador é paulista, foi a melhor entre as potrancas de três anos no ano passado. Proprietários americanos têm vindo ao país para levar revelações, que também já brilham nos hipódromos de lá. Qual das seguintes alternativas, se verdadeira, mais fortaleceria a conclusão do texto acima? O frango brasileiro sofreu uma queda de 25% no consumo na região do Oriente Médio, desde o início da Guerra do Iraque. Para proteger as confecções locais, o governo japonês impôs uma sobretaxa de 35% sobre as importações de lingerie brasileira. O Chile está comprando vinho brasileiro, engarrafando-o sob o rótulo de marcas locais e revendendo com sucesso no exterior.

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Os cavalos brasileiros que vêm vencendo páreos nos Estados Unidos têm em comum o fato de serem treinados por treinadores paulistas. Muita gente ao redor do mundo consome grande variedade de produtos fabricados no Brasil sem ter consciência disso.