ANSIEDADE E FATORES ASSOCIADOS

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PREVALÊNCIA DE ANSIEDADE E A ASSOCIAÇÃO COM COMPORTAMENTOS DE RISCO À SAÚDE EM ACADÊMICOS DE UMA FACULDADE PRIVADA Deise de Azevedo Ajala dos Santos - FAG 1 Maristela Sobral Cortinhas - FAG 2 Russélia Vanila Godoy Introdução A ansiedade é um transtorno bastante prevalente, variando de 3% a 25%, de acordo com a população e o instrumento utilizado (DSM-IV, 2003; Holmes, 1997). As mulheres tendem mais do que os homens a serem diagnosticadas como ansiosas e a incidência destes transtornos diminui à medida que as pessoas envelhecem (Holmes, 1997). A característica principal da ansiedade é uma preocupação excessiva, acompanhada de pelo menos três dos seguintes sintomas: inquietação ou sensação de estar com os “nervos à flor da pele”; fatigabilidade; dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco”; irritabilidade; tensão muscular e perturbação do sono. (DSM IV, 1995). Os sintomas da ansiedade são subdivididos em sintomas de humor, cognitivos, somáticos ou motores. Os sintomas de humor consistem em tensão, pânico e apreensão. Os sintomas cognitivos são a desatenção e um prejuízo nas tarefas do cotidiano, como trabalho e estudo. Os sintomas somáticos podem ser divididos em dois grupos: os imediatos, que consistem em suor, boca seca, respiração curta, pulso rápido, aumento da pressão sanguínea, tensão muscular; e os sintomas atrasados podem ser pressão sanguínea cronicamente aumentada, dores de cabeça, fraqueza muscular, má digestão e cólicas estomacais. Por fim, os sintomas motores que consistem em impaciência, 1 Acadêmica de 9° Período do Psicologia da Faculdade Assis Gurgacz – FAG – Cascavel – PR. 2 Psicóloga, Mestre em Educação, especialista em Educação Inclusiva, professora Faculdade Assis Gurgacz – Cascavel - PR e coordenadora do grupo de pesquisa PSICOEDU da FAG. Pesquisadora colaboradora no grupo de Pesquisa Processos Interativos, Aprendizagem e Cultura, na Linha de

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PREVALÊNCIA DE ANSIEDADE E A ASSOCIAÇÃO COM

COMPORTAMENTOS DE RISCO À SAÚDE EM ACADÊMICOS DE UMA

FACULDADE PRIVADA

Deise de Azevedo Ajala dos Santos - FAG1

Maristela Sobral Cortinhas - FAG2

Russélia Vanila Godoy

Introdução

A ansiedade é um transtorno bastante prevalente, variando de 3% a 25%, de

acordo com a população e o instrumento utilizado (DSM-IV, 2003; Holmes, 1997). As

mulheres tendem mais do que os homens a serem diagnosticadas como ansiosas e a

incidência destes transtornos diminui à medida que as pessoas envelhecem (Holmes,

1997).

A característica principal da ansiedade é uma preocupação excessiva,

acompanhada de pelo menos três dos seguintes sintomas: inquietação ou sensação de

estar com os “nervos à flor da pele”; fatigabilidade; dificuldade em concentrar-se ou

sensações de “branco”; irritabilidade; tensão muscular e perturbação do sono. (DSM IV,

1995).

Os sintomas da ansiedade são subdivididos em sintomas de humor, cognitivos,

somáticos ou motores. Os sintomas de humor consistem em tensão, pânico e apreensão.

Os sintomas cognitivos são a desatenção e um prejuízo nas tarefas do cotidiano, como

trabalho e estudo. Os sintomas somáticos podem ser divididos em dois grupos: os

imediatos, que consistem em suor, boca seca, respiração curta, pulso rápido, aumento da

pressão sanguínea, tensão muscular; e os sintomas atrasados podem ser pressão

sanguínea cronicamente aumentada, dores de cabeça, fraqueza muscular, má digestão e

cólicas estomacais. Por fim, os sintomas motores que consistem em impaciência,

1 Acadêmica de 9° Período do Psicologia da Faculdade Assis Gurgacz – FAG – Cascavel – PR. 2 Psicóloga, Mestre em Educação, especialista em Educação Inclusiva, professora Faculdade Assis

Gurgacz – Cascavel - PR e coordenadora do grupo de pesquisa PSICOEDU da FAG. Pesquisadora colaboradora no grupo de Pesquisa Processos Interativos, Aprendizagem e Cultura, na Linha de

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inquietação, atividade motora sem objetivo como movimentos rápidos com os dedos

dos pés e respostas de susto exageradas a ruído súbito (Holmes, 2001). Estes sintomas

devem estar presentes na maioria dos dias, nos últimos seis meses para se configurar um

transtorno de ansiedade (DSM IV, 1995).

Compreende-se que em algumas circunstâncias a ansiedade serve como um

impulso ou motivador, sendo considerada adaptativa. No entanto, a ansiedade é

considerada anormal quando o nível torna-se muito alto, não há justificativa para a

ansiedade ou ela conduz a consequências indesejáveis. (Holmes, 1997).

Estudos sugerem que a ansiedade surge como possível fator associado a alguns

comportamentos de risco à saúde, que figuram entre as maiores causas de mortalidade

entre adolescentes no Brasil. A expressão comportamento de risco pode ser definida

como participação em atividades que possam comprometer a saúde física e mental

(Feijó; Oliveira, 2001). Os indivíduos ansiosos estariam mais propensos a consumir

bebidas alcoólicas e drogas ilícitas, serem sedentários, possuírem atitudes agressivas,

comportamento sexual de risco e envolverem-se em acidentes de trânsito (Souza et al,

2008).

O objetivo dessa pesquisa foi determinar a prevalência de ansiedade em

acadêmicos de uma faculdade privada do oeste do Paraná. Faz-se importante a

identificação dos fatores associados à elevada sintomatologia ansiosa, para auxiliar no

delineamento de estratégias preventivas no contexto acadêmico. Tendo em vista que o

trabalho do psicólogo escolar em conjunto com a equipe pedagógica pode proporcionar

ótimos resultados em trabalhos de prevenção.

O psicólogo escolar pode contribuir para criar estratégias para melhorar a

relação professor-aluno, que pode ser um dos pontos geradores de ansiedade. Silva e

Santos (2002) falam sobre a importância da relação professor aluno e como isso pode

contribuir para elevar ou amenizar a ansiedade dos mesmos. Segundo os autores

mencionados (2002, p.56)

Alguns professores sentem que seu relacionamento com os

alunos determina o clima emocional da sala de aula. Esse clima

poderá ser positivo, de apoio ao aluno, quando o relacionamento

é afetuoso, cordial. Neste caso, o aluno sente segurança, não

Pesquisa Processos Inclusivos, Tecnologias Assistivas e Cultura, no NUPPE - UTP. [email protected]

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teme a crítica e a censura do professor. Seu nível de ansiedade

mantém-se baixo e ele pode trabalhar descontraído, criar, render

mais intelectualmente. Porém, se o aluno teme constantemente a

crítica e a censura do professor, se o relacionamento entre eles é

permeado de hostilidade e contraste, a atmosfera da sala de aula

é negativa. Neste caso, há o aumento da ansiedade do aluno,

com repercussões físicas, diminuindo sua capacidade de

percepção, raciocínio e criatividade.

Sendo assim, um dos pré-supostos desta pesquisa é que o papel do Psicólogo

Escolar faz-se fundamental na equipe pedagógica das instituições de ensino superior,

podendo este atuar preventivamente na relação educador/educando de forma a otimizar

o processo de aprendizagens dos acadêmicos.

Materiais e métodos

O delineamento da pesquisa é transversal de base institucional. O método de

pesquisa utilizado foi o quantitativo. O método quantitativo permite quantificar opiniões

e dados e, para a análise, são empregados recursos e técnicas estatísticas (Oliveira,

2002).

A população em estudo são os acadêmicos do curso de Psicologia e Educação

Física de uma Faculdade Privada do Oeste do Paraná. Cada um dos cursos possuía oito

turmas em andamento no segundo semestre letivo de 2009, 50% delas fizeram parte da

nossa amostra, sendo que quatro turmas da Educação Física e quatro turmas da

Psicologia. Totalizando uma amostra de duzentos e cinquenta acadêmicos. O único

critério de exclusão foi o não consentimento por parte dos acadêmicos, o que não

ocorreu.

Para a coleta de dados, primeiramente foi solicitada a autorização dos

coordenadores dos cursos de Psicologia e Educação Física. Após o consentimento dos

coordenadores e aprovação do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade

Assis Gurgacz (protocolo nº 176/2009), teve início a coleta. A coleta de dados ficou a

cargo dos pesquisadores participantes, que foram previamente treinados. As oito turmas

que fizeram parte da pesquisa foram sorteadas aleatoriamente. Durante o horário de

aula, os pesquisadores entraram na sala e explicaram para todos os alunos sobre os

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objetivos e procedimentos do estudo e convidaram os acadêmicos das turmas sorteadas

a participar do estudo. Os que consentiram, após assinar o Consentimento Livre

Esclarecido responderam ao questionário.

Os acadêmicos responderam a um questionário auto-aplicado com questões

sobre condições socioeconômicas, idade, sexo, trabalho, religião, atividades físicas, uso

de tabaco, álcool e outras substâncias, doenças, uso de medicamentos e comportamentos

de risco à saúde.

Para a coleta de dados foram utilizados diversos instrumentos padronizados que

compuseram um único questionário, para facilitar a logística do trabalho de campo e a

digitação dos dados.

Foi utilizada a classificação da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa

(ABEP) para avaliar o nível socioeconômico. Esta classificação é baseada no acúmulo

de bens materiais e na escolaridade do chefe da familia, classificando os sujeitos em

cinco níveis (A, B, C, D e E).

Para detectar abuso de álcool foi utilizado o CAGE, que é composto por quatro

perguntas (1. Pensou em largar a bebida?; 2. Fica aborrecido quando outras pessoas

criticam o seu hábito de beber?; 3. Se sentiu mal ou culpado pelo fato de beber?; 4.

Bebeu pela manhã para ficar mais calmo ou se livrar de uma ressaca?) Considera-se um

resultado positivo para o mesmo quando duas ou mais perguntas obtêm a resposta

afirmativa. No Brasil, a validação do CAGE foi feita por Masur e Monteiro (1983), que

encontraram uma sensibilidade de 88% e uma especificidade de 83%.

O screening para ansiedade foi realizado através das Escalas Beck. Estas foram

originalmente criadas nos Estados Unidos, sendo adaptadas para o Brasil por Cunha

(2001). O Beck Anxiety Inventory (BAI) mede a intensidade de ansiedade do indivíduo.

A escala possui 21 perguntas, sendo estas objetivas, contendo quatro opções de

resposta, com pontuação de 0 a 3 pontos. Os pontos de cortes são os seguintes: escore

entre 0 a 10 pontos indica ansiedade mínima; de 11 a 19 pontos ansiedade leve; de 20 a

30 pontos ansiedade moderada; de 31 a 63 pontos ansiedade grave. Entretanto, para

análise dos dados foi dividido o instrumento em duas categorias: positivo e negativo

para ansiedade, sendo que negativo foi considerada a ansiedade mínima; a ansiedade

leve, moderada e grave foi considerado como positivo.

Para garantir a confidencialidade das respostas e manter em sigilo a identidade

dos acadêmicos entrevistados, os questionários foram identificados apenas com um

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número seqüencial. Os acadêmicos tiveram liberdade para recusar ou retirar o

consentimento sem penalização, a qualquer momento.

A análise dos dados foi realizada no pacote estatístico SPSS 10.0 for Windows.

Foi realizada análise univariada por freqüência simples para conhecer as características

da amostra. Na análise bivariada, foi utilizado o teste do qui-quadrado para comparação

entre proporções.

Todos as exigências da Resolução 196/96 foram obedecidas neste projeto de

pesquisa.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 114 acadêmicos, tendo 54,4% de perdas devido ao

não comparecimento de todos os acadêmicos na aula no dia da coleta de dados. Dos

acadêmicos entrevistados; 51,8% faziam o curso de psicologia e 48,2% de educação

física. Estes possuíam em média 22 anos (DP±5,8). A maior parte dos alunos

entrevistados eram do sexo feminino (69,4%), estavam trabalhando atualmente (58,6%),

eram da religião católica (81,1%) e praticavam atividade física (51%). (TABELA 1)

Referente ao uso de drogas lícitas durante a vida, 50% já fumaram e 81,6% já

ingeriram bebidas alcoólicas, sendo que 30,4% fazem uso abusivo de álcool. Referente

ao uso de drogas ilícitas, 13,2% usaram maconha, 4,4% cocaína, 1,8% crack, 3,5%

estimulantes e 7% inalantes. (TABELA 1)

Quanto à saúde física, 7,2% relataram possuir alguma doença, como gastrite,

enxaqueca, bronquite, endometriose e 44,6% necessitaram tomar algum tipo de

medicamento no último mês. Em relação à prevenção de doenças sexualmente

transmissíveis, 54,9% não utilizaram preservativo na última relação sexual, sendo que

33,3% não possuem parceiro fixo. (TABELA 1)

Em relação à psicopatologia estudada, 21,1% possuem sintomas de ansiedade.

Quanto à gravidade dos sintomas de ansiedade; 58,3% foram considerados de grau leve;

37,5% moderada e 4,2% grave. (TABELA 1)

TABELA 1

VARIÁVEL N %

Curso

Psicologia 59 51,8

Educação Física 55 48,2

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VARIÁVEL N %

Sexo

Feminino 75 69,4

Masculino 33 30,6

Mora c/ pai

Sim 62 59,6

Não 42 40,4

Mora c/ mãe

Sim 76 72,4

Não 29 100,0

Briga com agressão física

Não 106 93,8

Sim mas não me machuquei 4 3,5

Sim e saí machucado 3 2,7

Religião

Não tem 7 6,3

Tem 104 93,7

Doença

Não 103 92,8

Sim 8 7,2

Medicamento no último mês

Não 62 55,4

Sim 50 44,6

Tabaco

Não 57 50,0

Sim 57 50,0

Álcool

Não 21 18,4

Sim 93 81,6

Maconha

Não 99 86,8

Sim 15 13,2

Cocaína

Não 109 95,6

Sim 5 4,4

Uso preservativo na última relação

Não 62 54,9

Sim 51 45,1

Parceiro fixo

Não 38 33,3

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VARIÁVEL N %

Sim 76 66,7

Prática atividades físicas

Não 51 49,0

Sim 53 51,0

BAI 4 categorias

Ansiedade mínima 90 78,9

Ansiedade leve 14 12,3

Ansiedade moderada 9 7,9

Ansiedade grave 1 0,9

BAI 2 categorias

Negativo 90 78,9

Positivo 24 21,1

CAGE em 2 categorias

Negativo 78 69,6

Positivo 34 30,4

Na análise bivariada, o desfecho (ansiedade) teve uma associação

estatisticamente significativa com envolvimento em briga e agressão física (0,015),

abuso de álcool (0,018), abuso de cocaína (0,029), e abuso de drogas alucinógenas

(0,007). (TABELA 2)

Tabela 2 – Análise bivariada Variáveis Ansiedade (%) p-valor Curso Psicologia Educação física

22,0 20,0

0,822

Sexo Feminino Masculino

24,0 15,2

0,289

Trabalha atualmente Sim Não

20,7 29,3

0,350

Mora com o pai Sim Não

24,2 19,0

0,633

Mora com a mãe Sim Não

25,0 13,8

0,294

Sofreu acidente que necessitou atendimento Não sofreu nenhum acidente 1 vez 2 vezes ou mais

21,2 11,1 50,0

0,285

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Entrou em briga com agressão física Sim Não

50,0 18,9

0,015*

Possui alguma doença Sim Não

12,5 21,4

1,00

Utilização de medicamento no ultimo mês Sim Não

22,0 19,4

0,816

Fumante Sim Não

22,8 19,3

0,819

Abuso de bebida alcoolica Sim Não

35,3 15,4

0,018*

Abuso de maconha Sim Não

33,3 19,2

0,211

Abuso de cocaína Sim Não

60,0 19,3

0,029*

Abuso de drogas alucinógenas Sim Não

75,0 19,1

0,007*

Uso de preservativo na última relação sexual Sim Não

27,5 16,1

0,143

Prática de atividade física Sim Não

22,6 13,7

0,239

TOTAL 12,3 * Associação estatisticamente significativa.

DISCUSSÃO DOS DADOS

Esta pesquisa apontou alguns comportamentos de risco que podem causar

prejuízos físicos e/ou mentais durante a vida dos acadêmicos. No que diz respeito ao

uso de drogas lícitas durante a vida, 50% já fumaram, sendo 45,3% entre as mulheres e

63,6% entre os homens. Esses dados chamam atenção devido à sua alta prevalência, se

comparados com a expectativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que 1/3 da

população mundial adulta fumam, aproximadamente 47% da população masculina e

12% da população feminina fazem uso de produtos derivados do tabaco. (Iglesias, Jha,

Pinto, Silva, Godinho, 2007).

Dos acadêmicos entrevistados, 81,6% já ingeriram bebidas alcoólicas, sendo que

30,4% fazem uso abusivo de álcool. Os resultados desta pesquisa mostram-se elevados

quando comparados com o II levantamento sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no

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Brasil realizado pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas

Psicotrópicas) com indivíduos entre 16 e 65 anos, que constatou que 12,3% da

população brasileira é dependente de álcool (Pulcherio, Vernetti, Strey, Faller, 2008).

Esses dados são preocupantes se considerarmos que o uso e/ou o abuso de

bebidas alcoólicas traz consequências negativas e trágicas aos usuários. Em 1994 foi

realizado um estudo toxicológico, no Instituto de Medicina Forense em São Paulo, com

5.960 amostras de sangue e vísceras de vítimas com ferimentos fatais. Tal estudo

mostrou que 48,3% das vítimas tinham alcoolemia positiva (Vieira, 2007).

Referente ao uso de drogas ilícitas a mais prevalente foi a maconha (13,2%). Foi

encontrado resultado semelhante no estudo de Cruzeiro et al (2010) com jovens de 15 à

18 anos de idade, mostrou que 11,5% utilizou drogas ilícitas nos últimos 3 meses. O uso

abusivo de drogas é um dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo.

Estima-se que 185 milhões de pessoas acima de quinze anos já consumiram drogas

ilícitas, ou seja, 4,75% da população mundial (ONU, 2005 apud Ferraz, 2010).

Em relação à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, 54,9% não

utilizaram preservativo na última relação sexual, sendo que 33,3% não possuem

parceiro fixo. Um estudo realizado por Cruzeiro e colegas (2010) aponta que 41,5%

dos entrevistados usam ocasionalmente, já o número de pessoas que têm parceiros fixos

foi semelhante ao resultado deste estudo (32,7%). Percebe-se que há uma alta

prevalência da falta de uso de preservativo, pois o número dos que não utilizaram

preservativo na última relação sexual é superior do que o número dos que, na pesquisa

de Cruzeiro (2010), usam preservativos ocasionalmente, considerando que o percentual

de pessoas que tem parceiro fixo é semelhante. Segundo o Ministério da Saúde o uso

consistente de preservativos masculino e feminino nas relações sexuais é a principal

estratégia de prevenção contra as DST's (Ministério da Saúde, 2010).

Os acadêmicos entrevistados possuem uma alta prevalência de sintomas de

ansiedade, talvez esse resultado se deva ao fato de que os testes foram aplicados no

período antecedente às provas e conclusão do semestre, período em que geralmente a

ansiedade dos acadêmicos está elevada. Segundo Araújo et al (2007), a ansiedade pode

se manifestar em situações que denotem alguma ameaça ou simplesmente por alguma

alteração no ambiente, arrolados no processo de desenvolvimento econômico, social ou

cultural.

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Neste estudo foram encontrados alguns fatores que estão associados ao

transtorno de ansiedade. Tais como envolvimento em agressão física, abuso de cocaína,

drogas alucinógenas e abuso de bebidas alcoólicas.

Um comportamento de risco preocupante encontrado foi o envolvimento em

brigas ou agressões. Como esse é um fator associado à ansiedade, pode estar sendo uma

forma inadequada dos acadêmicos lidarem com situações complicadas do ambiente. O

resultado de uma pesquisa realizada por Silva e colegas (2009), corrobora essa

associação, os jovens que apresentaram algum transtorno mental comum (depressão,

ansiedade e transtornos somatoformes) estavam mais propensos a se envolver em brigas

com agressão física.

Considerando os estudos que relacionam abuso e dependência de substâncias

com comorbidades psiquiátricas, entende-se que a ansiedade se constitui como fator de

vulnerabilidade para o uso abusivo de substâncias (Cavalheiros, Oliveira & Andretta,

2006). Outras pesquisas revelam que o uso de drogas ilícitas pode estar associado com

um comportamento violento ou agressivo, que pode manifestar-se por lutas corporais ou

atividade criminosa e resultar em ferimentos ao usuário da substância ou terceiros

(DSM-IV, 2002). Isto talvez indique que os comportamentos de abuso de substâncias,

de envolvimento em brigas e ansiedade estejam interrelacionados.

Quanto ao abuso de álcool, Vieira e colegas (2007), apontam que o

comportamento de abuso desta substância aumenta o risco de uma série de problemas

sociais e de saúde, dentre eles, doenças sexualmente transmissíveis, problemas de

comportamento, violência e ferimentos não intencionais. Apesar dos prejuízos que o

álcool traz às pessoas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta-o como a

substância psicoativa mais consumida no mundo. Como consequência do consumo, o

álcool potencializa a propensão dos jovens a se engajarem em comportamentos de risco

(VIEIRA et al, 2007). A associação entre ansiedade e abuso de bebidas alcoólicas está

presente em outros estudos. Pulcherio e colegas (2008), avaliaram pessoas com

transtornos relacionados ao uso de álcool e verificaram que 17,05% das pessoas tinham

transtorno de ansiedade. Outro estudo (Peuker e colegas, 2010), mostrou que um terço

dos alcoolistas apresenta um quadro significativo de ansiedade, e 50 a 67% dos

alcoolistas e 80% dos dependentes de outras drogas possuem sintomas semelhantes ao

transtorno do pânico, aos transtornos fóbicos ou ao transtorno de ansiedade

generalizada, fatores estes, que, por sua vez, podem interferir no processo de

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aprendizagem destes alunos. O que vem confirmar a associação de ansiedade e uso de

álcool ou outras drogas.

Dos acadêmicos entrevistados, 51% praticam atividades físicas. Segundo Pereira

(2002), a atividade física traz benefícios importantes à saúde, tais como a melhoria da

funcionalidade do sistema cardiovascular e diminuição dos riscos de câncer e elevação

do consumo de substâncias anti-oxidantes.

As atividades físicas podem ser consideradas como um recurso para auxiliar os

jovens no alívio de tensões. Um estudo bibliográfico feito por Araujo, Leito, Mello (

2007) mostra que os exercícios físicos aeróbicos possuem um efeito positivo quando se

trata de amenizar a ansiedade. Sendo assim, compreende-se que as atividades físicas

têm papel significativo em qualquer cultura ou sociedade em todo o mundo, sendo

capaz de colocar em cena as emoções e os sentimentos (Belo; Golçalves, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo mostrou a alta prevalência de ansiedade entre os estudantes dos

cursos de Bacharelado em Psicologia e de Bacharelado e Licenciatura em Educação

Física assim como fatores associados tais com o uso de drogas lícitas e/ou ilícitas, o

envolvimento em brigas com agressões físicas e a não utilização do uso do preservativo

pela maioria dos estudantes. Porém, é preciso considerar que os questionários foram

aplicados no final do semestre, quando normalmente os acadêmicos estão ansiosos para

realizar as últimas avaliações do período. Seria importante uma nova pesquisa no

decorrer do semestre para confirmar ou não os dados coletados.

Sugere-se que, dentro da Faculdade, sejam realizados trabalhos envolvendo a

psicologia escolar, professores dos cursos de Medicina e Farmácia, que possam

propiciar a reflexão dos acadêmicos sobre os prejuízos do abuso de substância e

também sobre a vulnerabilidade que se encontram às doenças sexualmente

transmissíveis.

Possivelmente os acadêmicos são informados, porém a reflexão faz-se

necessária. Um trabalho sobre o manejo da ansiedade também seria importante para que

os acadêmicos aprendam a lidar de forma sadia com os sintomas ansiosos, como a

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prática de atividades físicas. Esse é um trabalho que poderia ser desenvolvido por uma

equipe de professores dos cursos de Educação Física e Psicologia.

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