Ansiedade Na Infância

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA SUPERPROTECÇÃO PARENTAL E ANSIEDADE NA INFÂNCIA: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR Emília Vicente de Oliveira Macedo MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença) 2011

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

SUPERPROTECÇÃO PARENTAL E ANSIEDADE NA

INFÂNCIA: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM CRIANÇAS

EM IDADE ESCOLAR

Emília Vicente de Oliveira Macedo

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicologia da

Saúde e da Doença)

2011

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

SUPERPROTECÇÃO PARENTAL E ANSIEDADE NA

INFÂNCIA: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM CRIANÇAS

EM IDADE ESCOLAR

Emília Vicente de Oliveira Macedo

Dissertação orientada por Doutora Ana Isabel de Freitas Pereira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicologia da

Saúde e da Doença)

2011

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i

AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos a todos os que me

acompanharam ao longo deste percurso e que contribuíram de diversas formas para que

este trabalho fosse possível.

À minha orientadora Doutora Ana Isabel de Freitas Pereira, pelo conhecimento

partilhado, pelo incentivo à minha autonomia e capacidade de reflexão e por ser um

exemplo de perseverança.

À Professora Doutora Luísa Barros, por elevar a Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa a um patamar sempre superior, possibilitando aos alunos que a

frequentam um maior e melhor conhecimento na sua área de formação. Os meus

sinceros agradecimentos

A todos os meus professores que contribuíram de forma sólida para o meu

conhecimento e para a minha evolução enquanto pessoa. Um agradecimento especial à

Professora Doutora Célia Barreto Coimbra Carvalho, à Professora Doutora Margarida

Custódio dos Santos e ao Professor Doutor Ermelindo Peixoto.

Aos meus pais, por me motivarem continuamente, valorizando todos os meus

esforços adicionais e, em especial, ao meu avô Osvaldo pela sua presença constante na

minha vida. A eles dedico este trabalho.

Ao meu namorado, Ruben Carvalho, pelo amor e paciência com que me presenteia

todos os dias, por acreditar em mim e nas minhas capacidades e sobretudo por me ouvir

e encorajar nos momentos de maior desânimo.

Às minhas amigas e companheiras de curso, Nini Correia, Vanessa Russo e Ana

Bernardo, pela amizade, pelos sorrisos e por me ajudarem a acreditar que seria possível.

Jamais vos esquecerei. Um agradecimento especial à minha amiga Teresa Marques pela

força e pelo apoio nos momentos em que tudo parecia confuso. Obrigada por sempre

teres acreditado que eu era capaz!

A todos os que, de alguma forma, se cruzaram comigo, nesta longa jornada, e que

me ajudaram a crescer de diversas formas.

“O pouco que eu saiba, quero dá-lo a conhecer, a fim de que um outro, melhor do que o que sou,

descubra a verdade, e que a obra que prossiga sancione o meu erro. Satisfazer-me-ei, apesar de tudo,

por ter sido causa de que essa verdade tenha surgido”

Albrecht Durer

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ii

RESUMO

Enquadramento: Existe uma relação positiva entre parentalidade negativa e

ansiedade na infância. De entre todas as dimensões do comportamento parental, a

superprotecção tem sido apontada como tendo um papel importante no desenvolvimento

de ansiedade. Assim sendo, este trabalho tem como finalidade o estudo da

superprotecção parental, procurando esclarecer qual a sua relação com a ansiedade das

crianças. Metodologia: Participaram na investigação 236 crianças dos 7 aos 12 anos e

os seus progenitores. Recorreu-se à Escala de Avaliação de Ansiedade e Superprotecção

Parental (EASP) para avaliar separadamente a ansiedade, a superprotecção e o

encorajamento parental aos comportamentos de confronto. A avaliação da ansiedade nas

crianças foi feita através do Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais

Relacionadas com a Ansiedade em Crianças (SCARED-R) - versão para pais e crianças.

Resultados: De acordo com os resultados, podemos verificar: 1) ausência de diferenças

significativas entre ambos os progenitores no que refere aos comportamentos de

superprotecção e de encorajamento parental aos comportamentos de confronto das

crianças; 2) diferença marginalmente significativa entre o valor médio dos pais e das

mães. No sentido do esperado, as mães reportam valores mais elevados de preocupação

e ansiedade relacionadas com a segurança física e/ou psicológica dos filhos; 3) ausência

de efeito das variáveis sexo e idade da criança nas três dimensões de ansiedade e

superprotecção parental; e 4) associações positivas de magnitude pequena a moderada

entre as dimensões de ansiedade e superprotecção parental e a ansiedade nas crianças,

avaliada pela própria e pelos progenitores. O padrão de correlações entre as dimensões

de ansiedade e superprotecção parental e a ansiedade nas crianças varia em função do

tipo de informador e do domínio de ansiedade avaliado. Conclusões: Os resultados

deste estudo suportam a existência de uma relação entre superprotecção parental e

ansiedade nas crianças e apontam para a importância de considerar a percepção de

diferentes informadores. As direcções das associações encontradas são ainda

desconhecidas. Estudos futuros devem utilizar desenhos longitudinais ou experimentais

para esclarecer a causalidade da relação entre superprotecção parental e ansiedade nas

crianças.

Palavras-Chave: Ansiedade Parental. Sintomatologia de Ansiedade. Superprotecção

Parental.

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iii

ABSTRACT

Background: There is a positive relationship between negative parenting and childhood

anxiety. Of all the dimensions of parental behavior, the overprotection has been

identified as having an important role in the development of anxiety. The purpose of the

present work is to study parental overprotection, trying to clarify what is its relationship

with anxiety in school-age children. Methodology: 236 children, aged between 7 and

12, and their parents composed the sample. To separately assess the anxiety and

parental overprotection we used the Anxiety Rating Scale and Parental Overprotection

(EASP.) The assessment of anxiety in children was done through the Screen for Child

Anxiety Related Emotional Disorders-Revised (SCARED-R) - version for parents and

children. Results: The results showed: 1) no significant differences between mothers

and fathers regarding the behavior of overprotection and encouraging the confrontation;

2) marginally significant difference between the average value of fathers and mothers.

As expected, mothers reported higher levels of worry and anxiety related to physical

security and/or children's psychological security; 3) there is no effect of gender and age

in the tree dimensions of anxiety and parental overprotection; and 4) positive

associations of small to moderate magnitude between anxiety and parental

overprotection and anxiety symptoms in children assessed by the parent and the child.

The pattern of correlations between anxiety and parental overprotection and anxiety

symptoms in children varies depending on the type of informant or the dimension of

symptoms of anxiety assessed. Conclusions: The results of this study support the

existence of a relationship between parental overprotection and anxiety in children and

point to the importance of considering the perception of different informants. The

directions of these associations are still unknown. Future studies should use longitudinal

or experimental designs to clarify the causality of the relationship between parental

overprotection and anxiety in children.

Keywords: Parental Anxiety. Symptoms of Anxiety. Parental Overprotection.

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iv

ANEXOS

Anexo I: Consentimento Informado dos Pais para a Participação das Crianças no

Estudo – CD-ROM

Anexo II: Escala de Avaliação de Ansiedade e Superprotecção Parental (EASP) – CD-

ROM

Anexo III: Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais Relacionadas com a

Ansiedade em Crianças (SCARED-R) - versão para pais e crianças – CD-ROM

Anexo IV: Questionário de Características Sócio-Demográficas da Criança e da Família

– CD-ROM

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v

ÍNDICE

Agradecimentos ……………………………………………….......………………. i

Resumo …………………………………………….................................................. ii

Abstract ………………………………………………………………………….... iii

Anexos ……………………………………………………………………………... iv

Índice de Quadros e Figuras …...………………………………………………… viii

Introdução ………………………………………………………………………… 1

1.ª Parte: Revisão de Literatura

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Aspectos Desenvolvimentistas da Ansiedade e Perturbações de Ansiedade na

Infância ……………………………………………………………………….......

4

2. Factores de Risco, de Protecção e de Manutenção das Perturbações de

Ansiedade ………………………………………………………………………... 7

2.1.Factores de Risco …………………………………………………..………. 8

2.1.1. Factores individuais ……………………………………….……….. 8

2.1.2. Factores familiares …………………………………………………. 10

2.1.3. Factores ambientais/socioculturais ………………………………… 15

2.2.Factores de Protecção ……………………………………………………… 16

2.3.Factores de Manutenção …………………………………………………… 18

3. Processos de Influência parental no Desenvolvimento de Ansiedade e

Perturbações de Ansiedade: Modelos Teóricos ………………………………….

18

3.1.Modelo da Tripla Vulnerabilidade de Barlow …………………………....... 19

3.2.Modelo de Rachman ……………………………………………………...... 21

3.3.Modelo de Rapee ………………………………………………………....... 23

4. Superprotecção Parental e Ansiedade na Infância ………………………………. 25

4.1.Síntese dos Estudos Empíricos …………………………………………...... 28

4.2.Limitações dos Estudos e Reflexões ……………………………………..… 29

2.ª Parte: Estudo Empírico

CAPÍTULO II -CONCEPTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

1. Introdução ………………………………………………………………..………. 35

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vi

2. Síntese dos Objectivos Específicos do Estudo …………………………..………. 35

3. Metodologia …………………………………………………..………………….. 35

3.1.Desenho da Investigação ………………………………………….……….. 35

3.2.Amostra ……………………………………………………………….......... 36

3.3.Procedimentos de Recolha de Dados …………….………………………... 38

3.4.Fontes de Informação e Instrumentos ……………………………………… 40

3.4.1. Escala de Avaliação de Ansiedade e Superprotecção Parental

(EASP) ……………………………………………………….…….

41

3.4.2. Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais

Relacionadas com a Ansiedade em Crianças (SCARED-R) - versão

para pais e crianças …………….......................................................

42

3.4.3. Questionário de Características Sócio-Demográficas da Criança e

da Família …………………………………………………………..

44

3.5.Procedimentos de Análise Estatística …………………………………….... 44

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

1. Análise das diferenças entre mães e pais quanto à preocupação e ansiedade

parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos comportamentos

de confronto das crianças …………………………………………………..…….

48

2. Análise do efeito das variais sexo e idade da criança nos níveis de preocupação e

ansiedade parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças ……………………….……………...

49

3. Análise da relação existente entre sintomatologia de ansiedade nas crianças,

avaliada por três informadores (pai, mãe e criança), e as seguintes dimensões:

(a) preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção parental e (c)

encorajamento parental aos comportamentos de confronto das crianças …….......

49

4. Análise da relação existente entre as dimensões das Perturbações de Ansiedade

de maior prevalência na infância, avaliadas por três informadores (pai, mãe e

criança), e as seguintes dimensões: (a) preocupação e ansiedade parental; (b)

superprotecção parental e (c) encorajamento parental aos comportamentos de

confronto das crianças ………………………………………………………...….

52

CAPÍTULO IV – SÍNTESE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

1. Análise das diferenças entre mães e pais quanto à preocupação e ansiedade

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vii

parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos comportamentos

de confronto das crianças ………………………………………..……………….

56

2. Análise do efeito das variais sexo e idade da criança nos níveis de preocupação e

ansiedade parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças …………………….………………...

58

3. Análise da relação existente entre sintomatologia de ansiedade nas crianças,

avaliada por três informadores (pai, mãe e criança), e as seguintes dimensões:

(a) preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção parental e (c)

encorajamento parental aos comportamentos de confronto das crianças ………...

61

4. Análise da relação existente entre as dimensões das Perturbações de Ansiedade

de maior prevalência na infância, avaliadas por três informadores (pai, mãe e

criança), e as seguintes dimensões: (a) preocupação e ansiedade parental; (b)

superprotecção parental e (c) encorajamento parental aos comportamentos de

confronto das crianças ……………………………………………………………

66

CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………….………...………….. 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………..………………. 73

Page 10: Ansiedade Na Infância

viii

ÍNDICE DE QUADROS E FIGURAS

QUADROS

Quadro 1: Medos comuns em função das etapas de desenvolvimento ………….. 5

Quadro 2: Prevalência e características das Perturbações de Ansiedade na idade

escolar e na pré-adolescência ……………………………………………………..

6

Quadro 3: Caracterização das variáveis sócio-demográficas das crianças ……… 36

Quadro 4: Caracterização das variáveis sócio-demográficas dos pais e família.... 37

Quadro 5: Instrumentos, objectivos e dimensões avaliadas …………………….. 40

Quadro 6: Síntese dos objectivos e metodologias de análise de dados …………. 47

Quadro 7: Pontuações médias, medianas e desvios-padrões das diferentes

subescalas de ansiedade e superprotecção parental ……………………………….

48

Quadro 8: Efeito das variáveis sexo e idade da criança nas subescalas de

ansiedade e superprotecção parental ……………………………………………...

49

Quadro 9: Correlações (r de Pearson ou ρ de Pearson) entre as subescalas de

ansiedade e superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade global,

avaliada por três informadores (pai, mãe e criança) ………………………….…...

50

Quadro 10: Correlações (r de Pearson ou ρ de Pearson) entre as subescalas de

ansiedade e superprotecção parental e as subescalas relativas às Perturbações de

Ansiedade de maior prevalência na infância, avaliadas por três informadores

(pai, mãe e criança) ……………………………………………………………….

52

FIGURAS

Figura 1: Interacção entre factores de risco, de protecção e de manutenção ……. 7

Figura 2: Modelo da tripla vulnerabilidade no desenvolvimento de determinadas

Perturbações de Ansiedade ………………………………………………………..

19

Figura 3: Percursos para a aquisição de medo e Perturbações de Ansiedade

preconizados por Rachman ……………………………………………………….

21

Figura 4: Reciprocidade ou interacção entre controlo parental e ansiedade nas

crianças ……………………………………………………………………………

23

Figura 5: Sobreposição entre os componentes da superprotecção parental, do

controlo comportamental e do controlo psicológico parental …………………….

26

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1

INTRODUÇÃO

Este trabalho resulta da investigação conducente à elaboração da dissertação de tese

de mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, submetida à Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa, e integra um projecto de investigação mais alargado que tem

como objectivo geral estudar os processos de influência parental no desenvolvimento de

vulnerabilidades cognitivas, procurando esclarecer qual o seu papel no desenvolvimento

de Perturbações de Ansiedade.

Sendo a infância um período de aceleradas aquisições e transformações

desenvolvimentistas, torna-se essencial que o desenvolvimento saudável ou patológico

da criança seja compreendido de uma forma holística, tendo em consideração os

contextos relacionais e sociais onde a mesma se insere. Seguindo a orientação do

modelo sócio-ecológico de Bronfenbrenner (1979), os contextos sociais são os

principais determinantes do processo de (in)adaptação humana. Entre os diversos

contextos socais, a família, em particular os pais, assume um papel de relevo no

desenvolvimento saudável e atípico da criança.

Neste sentido, a literatura mais recente tem enfatizado a importância de considerar

a influência dos progenitores, entendendo o comportamento parental negativo como um

factor de risco para o desenvolvimento de ansiedade na infância (McLeod, Wood &

Weisz, 2007; Rapee, 1997).

De entre todas as dimensões do comportamento parental, a superprotecção tem sido

apontada como tendo um papel de relevo no desenvolvimento de sintomatologia de

ansiedade na infância (Rapee, 2009; Wood, McLeod, Sigman, Hwang & Chu, 2003;

Hudson & Rapee, 2002).

Neste enquadramento, a presente investigação tem como finalidade o estudo da

superprotecção parental, procurando esclarecer qual a sua relação com a ansiedade em

crianças em idade escolar. Perceber qual a relação dos comportamentos de

superprotecção dos pais com o aparecimento e manutenção de sintomatologia de

ansiedade na infância, tendo em conta a percepção de diferentes informadores, é o

grande objectivo deste estudo. Espera-se poder contribuir não só para a melhoria do

conhecimento sobre esta temática, como para intervenções psicológicas que possam

prevenir ou moderar o aparecimento de sintomatologia de ansiedade na infância, através

do fornecimento de dados que poderão ser úteis para a adequação de estratégias de

intervenção mais efectivas e adaptadas a cada caso.

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2

Este trabalho estrutura-se em duas partes. Numa primeira parte é feita a Revisão de

Literatura que fundamenta e enquadra o estudo empírico apresentado. Sendo assim, no

primeiro capítulo são introduzidos alguns aspectos desenvolvimentistas da ansiedade,

estabelecendo-se a distinção entre ansiedade normativa e ansiedade com significado

clínico. São também apresentados alguns dados de prevalência e co-morbilidade das

diferentes Perturbações de Ansiedade. De seguida, são revistos os principais estudos no

que diz respeito aos factores de risco (individuais, familiares e ambientais), de protecção

e de manutenção das Perturbações de Ansiedade. Por fim, através da análise dos estudos

e dos modelos mais referidos na literatura, incide-se sobre a principal temática desta

investigação, os processos de influência parental e em particular a relação entre os

comportamentos de superprotecção dos pais e ansiedade na infância. Este capítulo

termina com a apresentação de algumas das principais limitações dos estudos empíricos

sobre a relação da superprotecção parental com a ansiedade das crianças, sendo feitas

algumas reflexões acerca de pistas futuras de investigação.

A segunda parte deste trabalho, correspondente ao Estudo Empírico, integra os

capítulos da conceptualização da investigação empírica (capítulo II), da apresentação e

análise dos resultados (capítulo III) e da síntese e discussão dos mesmos, contemplando

as considerações finais sobre o estudo (capítulo IV).

Sendo assim, no segundo capítulo é realizada a fundamentação do estudo, onde são

definidas as principais variáveis e identificados os objectivos gerais e específicos da

investigação. Posteriormente, é descrita a metodologia do estudo, contemplando vários

aspectos como o desenho da investigação, a amostra, o procedimento de recolha de

dados, os instrumentos de avaliação e os procedimentos de análise estatística utilizados.

O terceiro capítulo é dedicado à apresentação e análise dos resultados e está

organizado de acordo com os objectivos específicos do estudo. No quarto capítulo, os

principais resultados da investigação são apresentados e discutidos com base na revisão

de literatura efectuada e nos modelos teóricos que fundamentam e enquadram a presente

investigação. São também apontadas algumas limitações do estudo empírico e sugeridas

pistas para investigações futuras.

Finalmente, no quarto capítulo, são ainda tecidas algumas considerações finais, em

que são apresentadas as principais conclusões extraídas do estudo e as suas

contribuições mais relevantes, abordando brevemente as principais implicações a nível

da prevenção e intervenção dirigida aos problemas de ansiedade na infância.

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3

1.ª Parte

REVISÃO DE LITERATURA

Page 14: Ansiedade Na Infância

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Aspectos desenvolvimentistas da ansiedade e Perturbações de Ansiedade na

infância

A infância é caracterizada por ser um período de aceleradas aquisições e

transformações desenvolvimentistas. Nesta fase de desenvolvimento, a fronteira entre o

comportamento normal e o comportamento patológico nem sempre é clara (Mash &

Dozois, 2003). Deste modo, torna-se fulcral adoptar uma perspectiva

desenvolvimentista na abordagem das perturbações psicológicas, como é o caso das

Perturbações de Ansiedade, para que possamos contemplar o que é esperado em termos

de progressão nas diferentes fases de desenvolvimento, especificando aquilo que se

traduz numa adaptação bem ou mal sucedida face aos desafios desenvolvimentistas que

são impostos às crianças (Garber, 1984).

Esta perspectiva preconiza a continuidade da resposta ansiosa ao longo do ciclo

vital, defendendo que os comportamentos têm um significado mais ou menos patológico

em função da etapa de desenvolvimento em que se manifestam.

As respostas ansiosas, como forma de reacções defensivas inatas, fazem parte do

reportório comportamental humano, desempenhando uma função adaptativa de

protecção, ao alertar o indivíduo para eventuais perigos emergentes (Rosen & Schulkin,

1998). Assim, podemos definir a ansiedade como uma emoção humana básica que surge

sempre que uma situação é interpretada como perigosa. Esta emoção envolve um

conjunto de respostas somáticas e cognitivas que facilitam uma acção rápida (e.g. de

fuga, imobilidade, defesa agressiva ou de submissão) para lidar com estímulos

interpretados pelo indivíduo como ameaçadores (Albano, Chorpita & Barlow, 2003).

Quando a ansiedade se delimita a estímulos específicos designa-se de medo

(Odriozola, 1993). Ao longo do seu desenvolvimento, as crianças experimentam muitos

medos, que na sua maioria são moderados, transitórios e específicos a determinada

etapa de desenvolvimento (ver Quadro 1). Os medos que vão surgindo na infância

resultam de uma maior capacidade de percepção de potenciais perigos e,

simultaneamente, de uma incapacidade da criança em compreender a situação na sua

totalidade ou em exercer controlo sobre a mesma. Por exemplo, o aparecimento do

medo de pessoas estranhas, que surge um pouco depois do oitavo mês, parece ser

adequado e funcional, uma vez que permite proteger a criança de figuras estranhas na

ausência dos seus progenitores. Este medo, depois de facilitar a resolução de uma

Page 15: Ansiedade Na Infância

5

determinada tarefa (protecção da criança), desaparece ou diminui quando deixa de ser

adaptativo (de um modo geral após o segundo ano de vida). Pode então afirmar-se que,

na sua maioria, os medos são frequentes, normativos e essenciais à sobrevivência do

indivíduo porque são respostas a estímulos ameaçadores que a criança não consegue

compreender ou controlar (Baptista, 2000).

Quadro 1: Medos comuns em função das etapas de desenvolvimento (Baptista, 2000).

Etapas Medos Comuns

0 aos 12 meses Ruídos, alturas, pessoas estranhas e separação de figuras de vinculação

1 aos 2 anos e meio Pequenos animais e tempestades naturais

2 anos e meio aos 6 anos Escuro, animais em geral, seres imaginários, fantasmas e monstros

6 aos 11 anos Acontecimentos sobrenaturais, feridas, sofrimento físico, saúde e morte

11 aos 13 anos Relacionamentos interpessoais, avaliação social e auto-imagem

Os medos que persistem depois de cumprirem a sua função e que interferem

significativamente com o funcionamento adaptativo da criança, causando-lhe

sofrimento, podem resultar em Perturbações de Ansiedade. De acordo com Schniering,

Hundson e Rapee (2000), “os medos normativos diferem da ansiedade clinicamente

significativa na severidade, no nível de sofrimento associado e no grau de interferência

com o funcionamento adaptativo” (p. 457). Neste sentido, a experiência de ansiedade

varia consideravelmente de pessoa para pessoa e, como tal, tem sido conceptualizada

como um continuum, em que num dos extremos se encontra a ansiedade normativa e no

extremo oposto as Perturbações de Ansiedade.

Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado que as Perturbações de

Ansiedade são das perturbações mentais com maior prevalência na infância (Albano, et

al., 2003; Costello, Mustillo, Erkanli, Keeler & Angold, 2003; Craske, 1997). Além

disso, a literatura empírica indica que estas perturbações estão associadas a dificuldades

no funcionamento social (e.g. dificuldade em conquistar autonomia relativamente à

família de origem) e académico (e.g. maior insucesso escolar) e predizem muitas vezes

o aparecimento e o desenvolvimento de perturbações na idade adulta (Albano, et al.,

2003).

Estima-se que a prevalência das Perturbações de Ansiedade varie em amostras

comunitárias entre os 5,7 e os 17,7% (Costello & Angold, 1995). De acordo com Craske

(1997), esta prevalência difere em função da idade considerada, bem como do tipo de

perturbação (ver Quadro 2). Assim, segundo o mesmo autor, a prevalência das

Page 16: Ansiedade Na Infância

6

Perturbações de Ansiedade, na idade escolar e na pré-adolescência, podem variar entre

0,7 e 12,9 % para a Ansiedade de Separação, entre 2,7 a 12,4% para a Perturbação de

Ansiedade Generalizada, entre 2,4 a 9,2 % para as Fobias Específicas, entre 0,9 a 1,1 %

para a Fobia Social e, aproximadamente, 0,3% para a Perturbação Obsessivo-

Compulsiva.

Quadro 2: Prevalência e Características das Perturbações de Ansiedade na Idade

Escolar e na Pré-Adolescência (Craske, 1997; Odriozola, 1993).

Perturbações de Ansiedade Prevalência

Características

Ansiedade de Separação 0,7-12,9% Ansiedade e medo excessivo relativamente à separação da figura

de vinculação

Ansiedade Generalizada 2,7-12,4% Ansiedade e preocupação excessivas e incontornáveis acerca de

um conjunto de acontecimentos e actividades

Fobias Específicas 2,4-9,2% Medo intenso e persistente relacionado com ameaças à segurança

pessoal (e.g. alturas, escuro, ruído, injecções e animais)

Fobia Social 0,9-1,1% Medo persistente e intenso de uma ou mais situações sociais ou

de desempenho, em que a pessoa receia ficar embaraçada

Obsessivo-Compulsiva 0,3% Obsessões e compulsões intrusivas, recorrentes e consumidoras

de bastante tempo (mais de uma hora/dia)

As crianças do sexo feminino têm uma maior probabilidade de desenvolver

Perturbações de Ansiedade relativamente aos indivíduos do sexo masculino, embora

esta diferença não seja tão acentuada como na idade adulta e seja diferente

relativamente aos diferentes quadros clínicos de ansiedade (Odriozola, 1993; Allen,

Gotlib, Lewinsohn & Seeley, 1998). Saliente-se que a diferença mencionada se verifica

essencialmente em amostras comunitárias, nomeadamente nas Fobias Específicas, na

Ansiedade de Separação e na Ansiedade Generalizada (Craske, 1997). Estas diferenças

de género podem ser explicadas segundo duas perspectivas. A primeira prende-se com o

facto de ocorrerem diferenças determinadas geneticamente. A segunda perspectiva

atribuiu estas diferenças às experiências e papéis sociais de género (Allen, Gotlib,

Lewinsohn, Lewinsohn & Seeley, 1998). No que refere às amostras clínicas, esta

discrepância entre sexos não é tão acentuada, o que pode sugerir que os pais consideram

os problemas de ansiedade das suas filhas como menos merecedores de uma atenção

clínica.

As Perturbações de Ansiedade na infância raramente ocorrem isoladamente, ou

seja, estas perturbações possuem uma co-morbilidade elevada. De acordo com os

Page 17: Ansiedade Na Infância

7

Factores Individuais

(e.g. genética, vinculação insegura e

temperamento inibido)

Factores Familiares

(e.g. presença de perturbação de ansiedade nos

pais e comportamento parental negativo)

Factores Ambientais/Socioculturais

(e.g. cultura e exposição a eventos traumáticos)

estudos revistos por Rapee, Schniering e Hudson (2009), 40 a 60 % das crianças

preenchem os critérios de diagnóstico para mais do que uma Perturbação de Ansiedade.

Existe, igualmente, uma grande co-morbilidade entre as Perturbações de Ansiedade e

outras perturbações clínicas, como por exemplo, Perturbações Depressivas e

Perturbações do Comportamento ou de Oposição.

O interesse sobre as Perturbações de Ansiedade na infância tem sofrido um

aumento significativo nas últimas duas décadas (Muris, 2006). Parte destes estudos têm

focado a etiologia das Perturbações de Ansiedade com o objectivo de compreender

quais os factores que contribuem para o desenvolvimento e manutenção deste tipo de

perturbações (ver por exemplo, Donovan & Spence, 2000; Brakel, Muris, Bӧgels &

Thomassen, 2006 ou Muris, 2006).

2. Factores de risco, de protecção e de manutenção das Perturbações de Ansiedade

São propostos diferentes factores de risco para o desenvolvimento e manutenção

das Perturbações de Ansiedade na infância. Estes factores não actuam de uma forma

isolada e independente. Co-interagem ao longo do tempo com diferentes factores de

protecção, podendo resultar, ou não, numa Perturbação de Ansiedade. Tal como se pode

observar na Figura 1, cada uma das circunferências representa um conjunto de factores

constituídos por esferas de influência que, numa orientação centrípeta, vão estando

progressivamente mais próximas da criança. As setas bidireccionais entre cada um dos

factores que contribuem para a etiologia das Perturbações de Ansiedade sublinham a

reciprocidade ou interacção existente entre estes factores.

Figura 1: Interacção entre Factores de Risco, de Protecção e Manutenção.

Factores de Risco

Factores de Protecção

(e.g. controlo percebido e

estratégias de coping)

Factores de Manutenção

(e.g. evitamento e

distorções cognitivas)

C

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8

Face a uma situação de adversidade ou a um acontecimento indutor de stress, os

factores de risco, que se situam quer a nível mais interno (factores individuais) quer a

nível mais externo (factores ambientais e familiares), exacerbam a ansiedade da criança,

aumentando a probabilidade do desenvolvimento de Perturbações de Ansiedade. Por

outro lado, os factores de protecção (e.g. controlo percebido e estratégias de coping)

promovem na criança respostas adaptativas tornando-as aptas a enfrentar situações

geradoras de medo e ansiedade (Muris, 2006). As respostas ansiógenas podem, ainda,

ser mantidas e intensificadas por um conjunto de factores de manutenção (e.g.

comportamentos de evitamento e distorções cognitivas).

Seguidamente serão descritos os resultados de alguns estudos que procuraram

compreender a etiologia das Perturbações de Ansiedade, considerando vários factores

de risco, pertencentes a diferentes domínios - criança (factores genéticos, vinculação

insegura e temperamento inibido), família (presença de perturbação de ansiedade nos

pais e comportamento parental negativo) e ambiental/sociocultural (cultura e exposição

a eventos traumáticos) - e vários factores de protecção e manutenção das Perturbações

de Ansiedade.

2.1. Factores de risco

2.1.1. Factores individuais

No âmbito dos factores individuais de risco para o desenvolvimento de ansiedade e

Perturbações de Ansiedade na infância, de acordo com a revisão de estudos efectuada,

os mais referidos têm sido: a) os factores genéticos; b) o temperamento inibido e c) a

vinculação insegura.

a) Factores genéticos

Os estudos revistos que recorrem a amostras de gémeos sugerem que as

Perturbações de Ansiedade apresentam uma predisposição genética importante e que a

variância restante é melhor explicada pelos factores ambientais (Kendler, Heath, Martin

& Eaves, 1986; Kendler, Neale, Kessler, Heath & Eaves, 1992; Topolski et al., 1997;

Torgerson, 1983; Legrand, McGue & Iacono, 1999). Por exemplo, os estudos revistos

por Barlow (2000) sugerem que os factores genéticos contribuem para a expressão de

problemas de ansiedade, explicando cerca de 30 a 50% da variância. Estes factores

podem ser mais gerais, predispondo a criança a uma ampla gama de Perturbações de

Page 19: Ansiedade Na Infância

9

Ansiedade, ou pelo contrário serem mais específicos, predispondo o indivíduo a um tipo

de Perturbação de Ansiedade (Muris, 2006).

Algumas investigações revelam que existe uma taxa de concordância

significativamente maior entre gémeos monozigóticos, comparativamente aos

dizigóticos, no que refere ao diagnóstico de Perturbações de Ansiedade específicas, o

que justificaria a contribuição genética para determinadas perturbações, como é o caso

da Perturbação de Pânico (ver por exemplo, Torgerson, 1983). Por outro lado, alguns

estudos têm obtido resultados inconsistentes, mostrando que a taxa de concordância

entre gémeos monozigóticos e dizigóticos não difere significativamente (ver por

exemplo, Andrews, Stewart, Allen & Henderson, 1990).

Em suma, embora exista alguma evidência empírica de que há uma predisposição

genética específica para determinadas perturbações, outros factores individuais, e

mesmo familiares e ambientais/socioculturais, parecem concorrer em simultâneo para o

aparecimento e desenvolvimento das Perturbações de Ansiedade.

b) Temperamento inibido

As crianças com um temperamento inibido tendem a evidenciar reacções de timidez

e medo perante situações novas ou não familiares (Kagan, Reznick & Snidman, 1988).

Encontram-se referências na literatura que evidenciam que a inibição comportamental

constituiu um factor de risco para o desenvolvimento de Perturbações de Ansiedade (ver

por exemplo, Biederman, Rosenbaum, Chaloff & Kagan, 1995 ou Muris & Dietvorst,

2006). Confirmando estes resultados, Biederman e colaboradores (1993) verificaram,

numa amostra de crianças em idade pré-escolar, que a inibição comportamental estava

associada ao desenvolvimento de Perturbações de Ansiedade, 3 anos mais tarde.

Investigações similares, realizadas com amostras de crianças e adolescentes (Muris,

Merckelbach, Wessel & Ven de van, 1999a; Muris, Merckelbach, Schmidt, Gadet &

Bogie, 2001; Muris, Meesters & Spinder, 2003a), também concluíram que

comportamento inibido das crianças constitui um factor de risco para o

desenvolvimento de Perturbações de Ansiedade. Segundo estas investigações, as

crianças com elevados comportamentos de inibição tendem a manifestar níveis mais

elevados de ansiedade comparativamente às crianças com baixa inibição

comportamental. Os resultados dos estudos mencionados sugerem ainda que as crianças

com um temperamento inibido tendem a reagir com medo perante situações

desconhecidas e/ou a adoptar estratégias de evitamento para lidar com tais situações.

Page 20: Ansiedade Na Infância

10

c) Vinculação insegura

A investigação empírica, que tem como área de estudo a relação entre a vinculação

e a ansiedade em crianças, tem demonstrado que o padrão de vinculação insegura está

associado ao desenvolvimento de maiores níveis de ansiedade e medo. Por exemplo, um

estudo longitudinal de Warren, Huston, Egeland e Sroufe (1997) verificou associações

entre o padrão de vinculação insegura, em particular o padrão de vinculação

ambivalente, e a existência de Perturbações de Ansiedade, 16 anos mais tarde. No

estudo realizado por Shamir-essakow, Ungerer e Rapee (2005), que recorreu a uma

amostra clínica de 104 crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 4 anos, foram

verificadas associações entre a vinculação insegura, avaliada a partir da situação

estranha (dirigida a avaliar a relação entre mãe e filho), e a ansiedade nas crianças. Os

resultados destas duas investigações foram ainda confirmados por Mannasis, Bradley,

Goldberg, Hood e Swinson (1994) que, numa investigação que pretendia avaliar o

padrão de vinculação das mães e dos filhos com alguma Perturbação de Ansiedade,

concluíram que todas as crianças com um diagnóstico clínico de ansiedade

apresentavam um padrão de vinculação insegura.

2.1.2. Factores familiares

A literatura mais recente tem enfatizado a importância de considerar a influência

dos factores familiares no desenvolvimento das Perturbações de Ansiedade (Chorpita &

Barlow, 1998; Hudson & Rapee, 2001; Rappe et al., 2009).

O comportamento parental ocupa um papel central na compreensão do

desenvolvimento normativo e atípico da criança (Cummings, Davies & Campbell,

2000). Inicialmente, a evidência empírica produzida a este respeito considerava apenas

que o comportamental parental exercia um efeito unidireccional no desenvolvimento da

criança (ver por exemplo, Perris, 1994 ou Grolnick & Gurland, 2002). Paulatinamente,

os resultados da investigação empírica começaram a sugerir que existe uma relação

bidireccional entre o comportamento dos pais e o comportamento das crianças. Por

exemplo, vários estudos têm demonstrado que o comportamento parental está

relacionado com o desenvolvimento de ansiedade nos filhos do mesmo modo que a

presença de sintomatologia ansiosa nas crianças parece interferir e determinar o

comportamento dos progenitores (ver por exemplo, Hudson & Rapee, 2001 ou Whaley,

Pinto & Sigman, 1999).

Page 21: Ansiedade Na Infância

11

Na globalidade, a literatura empírica tem dado primazia aos seguintes factores de

risco familiares: a) presença de Perturbação de Ansiedade nos pais e b) comportamento

parental negativo.

a) Perturbação de Ansiedade nos pais

De acordo com Turner, Beidel e Costello (1987), as crianças filhas de pais com

Perturbações de Ansiedade apresentam uma maior probabilidade (5 vezes mais) de

desenvolver uma perturbação deste tipo, em comparação com crianças filhas de pais

sem qualquer patologia.

A este respeito, Silverman e Nelles (1988) num estudo com uma amostra de 42

crianças entre os 6 e os 16 anos, filhas de pais com Perturbação de Pânico, com e sem

Agorafobia, Ansiedade Generalizada ou Fobias múltiplas, verificaram que as crianças

filhas de pais com algum tipo de Perturbação de Ansiedade apresentavam níveis mais

elevados de ansiedade, reportados pelos pais, em comparação ao grupo de controlo.

Neste estudo, observou-se ainda que o comportamento de evitamento dos pais estava

associado ao aumento de problemas emocionais nas crianças, principalmente

ansiógenos.

Outros estudos, como por exemplo o de Whaley e colaboradores (1999) têm optado

por utilizar metodologias qualitativas (entrevista e observação) para examinar as

diferenças entre a interacção das mães com e sem Perturbação de Ansiedade e os seus

filhos. Os resultados desta investigação indicam que as mães com diagnóstico de

Perturbação de Ansiedade apresentam uma maior tendência para descrever os

problemas como irresolúveis e perigosos. Este enviesamento de interpretação,

característico das Perturbações Ansiosas, pareceu contribuir para que as crianças

adquirissem uma visão catastrófica das situações, baseada na crença irrealista de que

não existe uma maneira eficaz de resolver os problemas ou de que é impossível

mobilizar estratégias de confronto para reduzir os sintomas de ansiedade.

Salienta-se ainda dois resultados importantes deste estudo: 1) as mães ansiosas

revelaram ser menos afectuosas e positivas para com os seus filhos, menos promotoras

de autonomia, mais críticas e mais catastróficas nas suas verbalizações,

comparativamente ao grupo de controlo e 2) as mães com Perturbações de Ansiedade,

com filhos com o mesmo diagnóstico, evidenciaram um menor número de

comportamentos promotores de autonomia em relação às mães com o mesmo

diagnóstico, mas sem filhos com Perturbações de Ansiedade ou, ainda, em relação às

Page 22: Ansiedade Na Infância

12

mães e filhos sem qualquer Perturbações de Ansiedade. Tal facto sugere que o menor

incentivo à autonomia por parte das mães com Perturbação de Ansiedade pode ser

reciprocamente influenciado pela ansiedade das crianças.

Um outro estudo de Woodruff-Borden, Morrow, Bourland e Cambron (2002), que

recorreu a metodologias mistas (entrevista, questionário e observação) e a dois grupos

de pais com e sem diagnóstico de Perturbação de Ansiedade, sugere que os pais com um

quadro clínico de ansiedade interagem com os filhos de um modo menos sensitivo e

respondente relativamente ao grupo de controlo. Não foi verificada qualquer diferença

relativamente aos comportamentos de controlo entre pais ansiosos e não ansiosos.

Contudo, quando as crianças demonstravam um afecto negativo, os pais com

diagnóstico de Perturbação de Ansiedade tentavam controlar mais a situação

comparativamente ao grupo de controlo.

Em suma, tanto as investigações que utilizam apenas instrumentos de auto-relato,

como as investigações que recorrem a metodologias de investigação mistas verificam

níveis mais elevados de ansiedade nas crianças cujos pais apresentam um diagnóstico de

Perturbação de Ansiedade e constatam diferenças a nível do comportamento parental

entre pais com e sem Perturbação de Ansiedade. As investigações empíricas sugerem

ainda a existência de uma relação bidireccional entre o comportamento parental e a

sintomatologia de ansiedade nas crianças (Whaley et al., 1999; Hudson & Rapee, 2001;

Woodruff-Borden e colaboradores, 2002).

b) Comportamento parental negativo

De acordo com Hoghughi (2004), o comportamento parental pode ser definido

como um conjunto de “acções dirigidas para objectivos que se destinam a assegurar a

sobrevivência e o desenvolvimento das crianças” (p. 5). A literatura mais recente tem

enfatizado a importância de considerar o comportamento parental como parte de uma

matriz de factores de risco e de protecção que conduzem a resultados particulares nas

crianças (Maccoby, 2002).

Embora não exista na literatura empírica um consenso absoluto acerca do número

de dimensões necessárias para descrever o comportamento parental, alguns autores

(Galambos, Barker, & Almeida, 2003; Grolnick & Gurland, 2002) têm defendido a

existência de três principais dimensões: uma que corresponde à dimensão

afecto/aceitação e duas que se traduzem em duas formas de controlo: controlo

comportamental e controlo psicológico. Estas dimensões têm sido largamente estudadas

Page 23: Ansiedade Na Infância

13

com o objectivo de compreender qual a sua relação com o desenvolvimento de

ansiedade na infância (para uma maior revisão sobre a relação entre comportamento

parental e ansiedade nas crianças, ver Wood et al., 2003).

A primeira dimensão, afecto/aceitação, diz respeito a um conjunto de

características parentais que incluem, nomeadamente, disponibilidade afectiva,

expressões positivas de afecto, tom emocional positivo e sensibilidade para os estados e

necessidades psicológicas da criança (Cummings et al., 2000). De um modo geral, os

estudos empíricos revelam que a dimensão afecto/aceitação exerce um efeito positivo

no desenvolvimento da criança. Para além de estar associada a menores níveis de

ansiedade na infância (Bogels, van Oosten, Muris & Smulders, 2001; Wolfradt, Hempel

& Miles, 2003), os resultados dos estudos indicam que existe uma associação positiva

entre o comportamento parental afectuoso e a regulação emocional. Verifica-se que uma

maior capacidade de regulação emocional proporciona uma maior tolerância aos afectos

negativos, ajudando a criança a reagir adaptativamente perante situações

emocionalmente estimulantes (Gottman, Katz & Hooven, 1997).

A dimensão controlo comportamental refere-se ao comportamento dos pais que tem

como objectivo controlar, regular e supervisionar o comportamento dos filhos. Esta

dimensão, de carácter heterogéneo, engloba diferentes comportamentos entre eles os

relacionados com a disciplina e monitorização. Os primeiros estão relacionados com os

níveis de exigência comportamentais que os progenitores colocam à criança, com a

consistência com que os mesmos exigem aos filhos a adesão de certas regras e, ainda,

com a aplicação de determinadas estratégias com o objectivo que as crianças adquiram

valores e respeitem regras. Por outro lado, os comportamentos de monitorização dizem

respeito ao grau em que os pais supervisionam e mantêm conhecimento sobre as

actividades das crianças (Cummings et al., 2000).

A literatura empírica indica-nos que a relação entre o controlo comportamental e o

ajustamento da criança não é linear (Cummings et al., 2000). Isto é, se por um lado

baixos níveis de controlo comportamental não fornecem indicações suficientes à criança

para que esta possa regular o próprio comportamento, níveis elevados desta dimensão

são igualmente indesejáveis (Steinberg, Elmer & Mounts, 1989; Chorpita & Barlow,

1998), na medida em que restringem excessivamente o desenvolvimento de autonomia

da criança e dificultam a formação de um sentimento de mestria. Pode dizer-se que os

efeitos do controlo comportamental variam em função da forma como esse controlo é

exercido. Como exemplo, uma criança que é alvo de uma excessiva regulação dos pais

Page 24: Ansiedade Na Infância

14

sobre as suas actividades e rotinas, tenderá a desenvolver maiores níveis de dependência

em relação aos seus progenitores, reduzindo as suas oportunidades de exploração do

meio e de resolução autónoma de problemas. Esta restrição de autonomia dificultará a

formação de um sentimento de mestria, na medida em que a criança disponibilizará de

menos oportunidades para se percepcionar como competente e capaz de lidar com

situações temíveis.

A percepção precoce de falta de controlo, induzida por limitações na autonomia ou

pelo comportamento exploratório reduzido, pode promover vulnerabilidades para a

emergência de problemas de ansiedade (Rapee, 2009; Muris, Meesters, Merckelbach &

Hulsenbeck, 2000; Muris, Meesters & van der Berg, 2003b; Wolfradt et al., 2003). Os

pais que acreditam que o perigo está omnipresente e que deve ser evitado a todo o custo,

contribuem significativamente para o desenvolvimento, manutenção e aumento de

problemas ansiógenos. No entanto, é de ressaltar que a presença de ansiedade nas

crianças pode fazer com que os pais intervenham de forma a reduzir estas dificuldades,

o que por sua vez acaba por reforçar o sentimento de incompetência e ineficácia da

criança (Rapee, 2009; Chorpita & Barlow, 1998).

A literatura empírica também tem demonstrando que a dimensão controlo

psicológico está associada a problemas de internalização, como por exemplo maiores

níveis de ansiedade e depressão (Barber, 1996).

O controlo psicológico refere-se a um tipo de controlo intrusivo e coercivo que

recorre a técnicas de manipulação da emoção e interfere no desenvolvimento

psicológico e emocional da criança (Barber, 1996). Este tipo de controlo tem por base a

manipulação da relação entre pais e filhos, através por exemplo da indução de culpa, de

expressões carregadas de afecto negativo ou de criticismo. Exerce um efeito negativo na

criança na medida em que interfere no desenvolvimento da autonomia psicológica e no

sentido de avaliação da criança enquanto ser competente e autónomo. Desta forma,

como exemplo, uma permanente crítica poderá ter o efeito de direccionar a atenção dos

pais e da criança para as incompetências desta última, ignorando ou subvalorizando os

seus episódios de mestria (Grieger & Boyd 1984).

Morris e colaboradores (2002) defendem que existem três principais domínios

através dos quais os pais exercem um controlo psicológico nos seus filhos: 1) cognitivo,

relacionado com a ausência de autonomia e democracia, fruto de um constrangimento

da expressão verbal e individual; 2) emocional, relacionado com o controlo e

manipulação das emoções das crianças, através da indução de culpa, ansiedade e

Page 25: Ansiedade Na Infância

15

retirada de amor e 3) comportamental, respeitante à exclusão da criança de influências e

oportunidades externas que constituem pontos nodais do seu desenvolvimento social.

Este último domínio, referente à restrição comportamental da criança, é muitas vezes

confundido na literatura com o conceito de superprotecção parental. Embora estas duas

dimensões apresentem algum grau de sobreposição, a superprotecção e o controlo

psicológico parental são conceitos distintos, como veremos mais adiante.

2.1.3. Factores ambientais/socioculturais

Como já foi possível referir, o desenvolvimento da criança é afectado por

influências que lhes estão mais próximas e/ou mais afastadas. Seguindo uma

perspectiva contextual e ecológica (Bronfenbrenner, 1979), podemos afirmar que não

são só os factores individuais e familiares que exercem um papel importante no

desenvolvimento da criança, mas também os factores de influência ambiental/

sociocultural contribuem para o desenvolvimento de sintomatologia de ansiedade. De

seguida, são revistos dois factores de risco ambientais/socioculturais que parecem

contribuir para o desenvolvimento de ansiedade: a) eventos traumáticos e stressantes; e

b) cultura.

a) Eventos traumáticos e stressantes

Estudos revistos por Muris (2006) mostraram que a exposição a eventos

traumáticos e stressantes, como é o caso do divórcio dos pais ou da morte de uma

pessoa significativa para a criança, estava relacionada com o desenvolvimento de

sintomas de ansiedade na infância. Em suma, todos os estudos revistos por Muris (2006)

verificaram que os pais das crianças com Perturbação de Ansiedade afirmavam que os

filhos tinham sido submetidos a um maior número de eventos traumáticos e stressantes,

com real impacto negativo, comparativamente às crianças sem este quadro clínico.

b) Cultura

Alguns estudos revelam que os efeitos das práticas parentais educativas diferem em

função das qualidades e características que são valoradas em cada cultura (Cummings et

al., 2000). Por exemplo, alguns estudos indicam que as práticas parentais de controlo

variam em função do contexto cultural onde ocorrem. Cada cultura percepciona os

comportamentos parentais como mais ou menos positivos de acordo com as suas

próprias normas e valores. Como exemplo, de acordo com Cummings e colaboradores

Page 26: Ansiedade Na Infância

16

(2000), em algumas culturas (e.g. Americo-Africanas) a disciplina física moderada é

interpretada e aceite como um sinal de envolvimento, afecto e eficácia comportamental.

Da mesma forma, de acordo com Oh, Shin, Moon, Hudson e Rapee (2002), as mães dos

países asiáticos demonstram maiores níveis de controlo e protecção em comparação

com as mães de países ocidentais, o que sugere que a cultura influencia o

comportamento dos progenitores, podendo resultar em vulnerabilidades para a

emergência de problemas de ansiedade.

Em suma, as condições macrossistémicas, como as supramencionadas, não

determinando a ocorrência de uma Perturbação de Ansiedade, podem consistir num

factor risco para o desenvolvimento deste tipo de quadros clínicos.

2.2. Factores de Protecção

Como já foi referido, os factores de risco estão em permanente interacção com os

factores de protecção e manutenção das Perturbações de Ansiedade. As crianças que

possuem mecanismos protectores estão mais aptas a enfrentar as situações geradoras de

ansiedade. Pelo contrário, as crianças que não possuem estes mecanismos estão mais

propensas a desenvolver maiores níveis de medo e ansiedade (Muris, 2006). Vários

estudos têm investigado o papel dos factores de protecção na manifestação de

ansiedade, tendo sido identificados vários factores, como por exemplo: a) o controlo

percebido; b) as estratégias de coping e c) o suporte social. No entanto, importa ressaltar

que comparativamente à literatura existente sobre os factores de risco para o

desenvolvimento de ansiedade na infância, poucos foram os estudos que procuraram

analisar a relação entre factores de protecção e sintomatologia de ansiedade.

a) Controlo percebido

Algumas investigações têm incidido sobre o papel do controlo percebido no

desenvolvimento de ansiedade, tendo sido verificado que existe uma associação

negativa entre percepção de controlo e manifestação de sintomas de ansiedade (Muris,

Schouten, Meesters & Gijsbers, 2003c; Weems, Silverman, Rapee & Pina, 2003;

Pereira, Barros & Mendonça, no prelo). Por outras palavras, tem sido observado que as

crianças que percepcionam os eventos como estando fora do seu controlo estão mais

vulneráveis a desenvolver maiores níveis de ansiedade. Pelo contrário, as crianças com

maior percepção de controlo tendem a confrontar eficazmente as condições de risco,

desenvolvendo menores níveis de ansiedade. É importante mencionar que o sentido de

Page 27: Ansiedade Na Infância

17

eficácia e a auto-estima positiva tendem a estar relacionados com maiores níveis de

percepção de controlo que, por sua vez, estão associados negativamente com o

desenvolvimento de Perturbações de Ansiedade (Muris, 2002).

b) Estratégias de coping

A literatura empírica tem verificado que existe uma relação positiva entre o uso de

estratégias de coping inadequadas e a manifestação de sintomatologia de ansiedade

(Holahan, Moos, & Schaefer, 1996). Entende-se por estratégias de coping inadequadas

as estratégias que não conseguem resolver eficazmente um problema, provocando

sofrimento ao indivíduo (Moos, 1993). Existem, essencialmente, dois tipos de

estratégias de coping. Umas focadas na emoção e outras focadas no problema (Rijavec

& Brdar, 2002). As estratégias de coping focadas na emoção envolvem esforços

cognitivos e comportamentais com o intuito de evitar pensar sobre a situação stressante

ou de lidar com o desconforto emocional gerado pela situação indutora de stress. Por

sua vez, as estratégias de coping focadas no problema incluem esforços cognitivos e

comportamentais com o objectivo de lidar e resolver uma situação ou problema

stressante (Moos, 1993).

De acordo com o que é descrito na literatura, a utilização de estratégias de coping

centradas na emoção, particularmente o evitamento, é um bom preditor do

desenvolvimento de altos níveis de ansiedade e depressão (Ebata & Moos, 1991). Por

outro lado, as estratégias de coping centradas no problema, como a planificação e a

confrontação, tendem a desempenhar funções protectoras ao regular emoções negativas

ligadas ao stress, gerando soluções alternativas e reduzindo as consequências negativas

da exposição aos agentes stressores (Seiffge-Krense, 2000).

c) Suporte social

Têm sido realizadas investigações longitudinais com o intuito de estudar os efeitos

do suporte social no desenvolvimento de ansiedade na infância (White, Bruce, Farrell &

Kliewer, 1996; Quamma & Greenberg, 1994). A este respeito, tem sido proposto que na

presença de um acontecimento traumático ou stressante, a existência de altos níveis de

suporte social protege as crianças dos efeitos adversos das condições de risco a que são

submetidas. Confirmando este factor de protecção, Cowen, Pedro-Carroll e Alpert-

Gillis (1990) verificaram, numa amostra de 102 crianças filhas de pais divorciados, que

Page 28: Ansiedade Na Infância

18

o suporte social estava associado negativamente ao desenvolvimento de ansiedade,

medo e dificuldades relacionadas com o divórcio parental.

Em conclusão, é importante referir que embora algumas investigações tenham

demonstrado que o suporte social constituiu um factor de protecção para o

desenvolvimento de sintomatologia de ansiedade na infância, de acordo com Donovan e

Spence (2000) ainda se sabe muito pouco sobre os processos através dos quais ocorre

esta associação.

2.3. Factores de Manutenção

Segundo Mowrer (1960) existem dois factores que desempenham um papel de

relevo na explicação e manutenção dos problemas de ansiedade: os comportamentos de

evitamento e as distorções cognitivas. Os comportamentos de evitamento são

considerados como responsáveis pela manutenção e intensificação dos problemas de

ansiedade, uma vez que minimizam as oportunidades de confronto perante os estímulos

temidos e as possibilidades da criança de aprender que estes estímulos são, na realidade,

mais inofensivos e seguros do que esta pensa (Muris, 2006). Por sua vez, as distorções

cognitivas reflectem pensamentos não adaptativos e disfuncionais, como por exemplo, a

sobrestimação da probabilidade de acontecimentos temidos, a percepção do mundo

como ameaçador e inseguro e a percepção de incapacidade para lidar com a ameaça.

Tipicamente, nas Perturbações Ansiosas ocorre um enviesamento negativo ao nível da

atenção e interpretação. Isto é, um indivíduo com este tipo de patologia apresenta um

enviesamento da atenção para a informação ameaçadora e tende a interpretar as

situações de forma negativa, o que contribui para a manutenção dos problemas de

ansiedade (Barret et al., 1996).

3. Processos de Influência Parental no Desenvolvimento de Ansiedade e

Perturbações de Ansiedade: Modelos Teóricos

Os pais, como primeiros educadores e agentes sociais da criança, exercem grande

influência no desenvolvimento social, cognitivo e emocional dos filhos (Salvador &

Weber, 2005). As relações entre pais e filhos constituem a base referencial para todas as

outras relações sociais. Definitivamente, os pais são os principais responsáveis por

transmitir as primeiras informações e interpretações sobre o mundo à criança. Durante a

infância, os pais seleccionam os contextos físicos e sociais em que a criança se vai

desenvolver e constroem, activamente, esses mesmos contextos, a partir da

Page 29: Ansiedade Na Infância

19

Vulnerabilidades Biológicas

Vulnerabilidade Psicológica Generalizada

- sentido de controlo -

Vulnerabilidade Psicológica Específica

interpretação pessoal, e por isso única, que dão a cada um desses ambientes (Santos,

2010).

De entre os modelos que defendem que os pais assumem um papel de relevo no

desenvolvimento de ansiedade na infância, encontram-se os modelos

desenvolvimentistas que constituem o referencial teórico da presente investigação e que

serão de seguida apresentados. Cada um deles, atendendo à natureza multifactorial das

Perturbações de Ansiedade, chama a atenção para a importância da análise dos

processos de influência parental, cujo desenvolvimento tem resultado de vários estudos

empíricos.

3.1. Modelo da Tripla Vulnerabilidade de Barlow

Como se pode observar na Figura 2, o modelo da tripla vulnerabilidade de Barlow

(2000) procura explicar o desenvolvimento de diferentes Perturbações de Ansiedade.

Figura 2: Modelo da tripla vulnerabilidade no desenvolvimento de determinadas

Perturbações de Ansiedade (adaptado de Barlow, 2000).

Este modelo engloba os resultados de diversas investigações que têm analisado o

efeito de um conjunto de factores no desenvolvimento das Perturbações de Ansiedade,

nomeadamente: factores genéticos, temperamento, factores psicossociais e estilos e

práticas parentais (ver por exemplo, Brown, Chorpita & Barlow, 1998; Chorpita &

Barlow, 1998; Clark, Watson & Mineka, 1994 ou Torgerson, 1983).

Segundo o modelo da tripla vulnerabilidade de Barlow (2000), o desenvolvimento

da ansiedade e das Perturbações de Ansiedade resulta da interacção de três grandes

factores: vulnerabilidade biológica generalizada, vulnerabilidade psicológica

generalizada e vulnerabilidade psicológica específica.

Perturbação de Ansiedade Generalizada

Depressão

Perturbação de Pânico

Fobia Social

Perturbação Obsessivo Compulsiva

Page 30: Ansiedade Na Infância

20

Segundo os estudos revistos por Barlow (2000), a existência de um factor de

vulnerabilidade biológica generalizada tem sido apoiada por um conjunto de estudos

longitudinais que revelam associações significativas entre determinados traços

temperamentais - neuroticismo, afectividade negativa e inibição comportamental - e o

desenvolvimento de Perturbações de Ansiedade. Os estudos sugerem que a contribuição

genética para a expressão destes traços gerais é significativa, explicando entre 30 a 50%

da variância.

Barlow (2000) identifica ainda no seu modelo um factor de vulnerabilidade

psicológica generalizada, o sentido de controlo. Esta variável consiste num importante

factor explicativo do desenvolvimento de ansiedade na infância e é influenciada pela

interacção das crianças com os pais. Alguns estudos revistos pelo autor indicam que as

práticas educativas parentais desempenham um papel de relevo no desenvolvimento do

sentido de controlo das crianças. Especificamente, tem-se verificado que quando os pais

adoptam um comportamento parental afectuoso e de suporte, os filhos tendem a

desenvolver um saudável sentido de controlo. Da mesma forma, quando os pais são

menos intrusivos e protectores, permitindo que os filhos explorem o mundo à sua volta

e que desenvolvam competências para lidar com acontecimentos inesperados,

promovem um adequado sentido de controlo nos seus filhos. A co-ocorrência de

factores de vulnerabilidade biológica e de vulnerabilidade psicológica generalizada,

caracterizada por uma sensação reduzida de controlo, decorrente de experiências

precoces de desenvolvimento, contribuiria segundo Barlow (2000) para o

desenvolvimento de Perturbação de Ansiedade Generalizada e Perturbação Depressiva.

Todavia, para explicar o desenvolvimento de Perturbações de Ansiedade mais

específicas, seria necessário a presença de um terceiro factor: de vulnerabilidade

psicológica específica. Segundo Barlow (2000), este último factor está relacionado com

a aprendizagem de um foco de ansiedade num determinado objecto ou situação

específica, através da aprendizagem vicariante. Saliente-se que Rachman (1991) vem

chamar a atenção para o facto das crianças poderem adquirir medos e Perturbações de

Ansiedade não só através de modos indirectos (observando o medo e o evitamento de

outros significativos ou tomando conhecimento através de histórias que contemplam

informações negativas e assustadoras sobre objectos ou situações temidas) mas também

através de experiências directas, baseadas nos princípios do condicionamento clássico.

Page 31: Ansiedade Na Infância

21

Aprendizagem de um foco de ansiedade

em objectos ou situações específicas

Considerando a importância dos três percursos supramencionados para a aquisição

de medos e Perturbações de Ansiedade específicas, em seguida será descrito com maior

detalhe o modelo proposto por Racham (1991).

3.2. Modelo de Rachman

Segundo o modelo de Rachman (1991), os factores ambientais desempenham um

papel primordial na génese dos medos e Perturbações de Ansiedade na infância. Como

se pode observar na Figura 3, Rachman (1991) defende que a aprendizagem de um foco

de ansiedade pode ser realizada através de três percursos. O primeiro, baseado na

experiência própria, funciona de acordo com os princípios do condicionamento clássico

em que a associação repetida entre acontecimentos ou objectos aversivos e situações

neutras pode transformar estas últimas num estímulo aversivo, capaz de desencadear

ansiedade.

Figura 3: Percursos para a aquisição de medo e Perturbações de Ansiedade

preconizados por Rachman (1991).

O segundo percurso, baseado na modelagem, funciona de acordo com os princípios

da aprendizagem por observação, e defende que é possível adquirir medo ou

Perturbações Ansiosas observando os comportamentos ameaçadores e/ou de evitamento

de outros significativos, nomeadamente dos pais, face a um estímulo fóbico.

Recentemente, Gerull e Rapee (2002) realizaram uma investigação que tinha como

objectivo estudar a influência da modelagem na aquisição de medos, bem como na

aquisição de estratégias de confronto de evitamento. Foi apresentado a crianças, com 15

a 20 meses de idade, uma cobra e uma aranha de borracha, tendo sido alternadas

expressões faciais negativas e positivas das mães. Os resultados do estudo mostraram

que as crianças tendem a evidenciar maiores comportamentos de medo e evitamento

Três Percursos de aquisição

Modelagem Condicionamento

clássico

Transmissão de

informação negativa

Medo

Perturbações de Ansiedade

Específicas

Page 32: Ansiedade Na Infância

22

quando as suas mães demonstram expressões faciais negativas. Pelo contrário,

verificou-se que as crianças evidenciavam menos medo e mais comportamentos de

aproximação quando as suas mães respondiam positivamente ao estímulo. Estes

resultados foram apoiados por vários estudos que defendem que as crianças ao

observarem reacções de medo das suas mães, face a determinadas situações ou objectos,

acabam por aprender a manifestar as mesmas reacções quando confrontadas com os

mesmos estímulos ameaçadores (Mumme, Fernald & Herrera, 1996; Hornik,

Risenhoover & Gunnar, 1987).

Finalmente, segundo Rachman (1991), o medo pode ainda ser adquirido através da

transmissão de informação negativa por familiares, tradições populares, histórias ou até

mesmo pela comunicação social. Refere-se a este respeito um estudo de Field, Argyrus

e Knowles (2001) sobre o papel da transmissão de informação negativa na exacerbação

de medos na infância. Nesta investigação, 40 crianças com idades compreendidas entre

os 7 e os 9 anos de idade, receberam informações negativas e positivas sobre um

estímulo desconhecido (“boneca monstro”). Os resultados demonstram que a

informação negativa aumenta, significativamente, o medo das crianças, enquanto que o

fornecimento de informação positiva diminui o medo das mesmas. Esta investigação foi

replicada por Muris e colaboradores (2003), tendo sido obtidos resultados similares.

Foram fornecidas a 285 crianças informações positivas e negativas sobre um

desconhecido animal canino que se designou por “a besta”. Os autores verificaram que a

transmissão deste tipo de informação pode induzir medos e que estes podem ser

generalizados para outros estímulos. Por exemplo, nesta investigação observou-se que

as crianças não só manifestavam medo perante “a besta” mas também perante outros

cães e predadores.

Em suma, o modelo de Rachman (1991) vem chamar a atenção para o papel central

dos factores ambientais no desenvolvimento do medo e das Perturbações de Ansiedade

na infância. Importa frisar que, segundo Baptista (2000), os aspectos ambientais só

contribuem para a génese dos medos e das Perturbações de Ansiedade quando as

situações ou objectos têm um significado evolutivo ameaçador e/ou quando as

interacções aversivas ocorrem em determinados períodos de desenvolvimento.

À semelhança do modelo de Barlow (2000), o modelo de Rachman (1991) defende

que os pais desempenham um papel extremamente importante no desenvolvimento de

ansiedade dos filhos, podendo transmitir-lhes variadíssimos medos através de diferentes

tipos de aprendizagem. No entanto, este modelo vem acrescentar que, tal como

Page 33: Ansiedade Na Infância

23

preconizava Watson e Rayner (1920), as respostas emocionais, tais como o medo,

também podem ser adquiridas através de experiências directas, baseadas nos princípios

do condicionamento clássico.

3.3. Modelo de Rapee

Rapee (2001) propôs um modelo em que as relações recíprocas entre o

comportamento dos pais e das crianças são parcialmente responsáveis pelo

desenvolvimento e manutenção das Perturbações de Ansiedade na infância. De acordo

com este modelo, as crianças que possuem uma vulnerabilidade genética para o

desenvolvimento de ansiedade têm uma maior probabilidade de manifestarem elevados

níveis de excitação e emotividade. Assim, os pais destas crianças tenderão a intervir de

um modo mais protector com o intuito de minimizar e prevenir o sofrimento dos filhos.

O modelo de Rapee (2001) assume, ainda, que os pais de crianças ansiosas são mais

ansiosos, o que poderá exacerbar o excessivo controlo dos pais sobre o ambiente dos

filhos, na tentativa de minimizarem as suas experiências aversivas. Contrariamente, os

pais não ansiosos tendem a incentivar e a encorajar os filhos para o confronto,

diminuindo a probabilidade de desenvolvimento de uma Perturbação de Ansiedade.

Figura 4: Reciprocidade ou interacção entre controlo parental e ansiedade nas crianças.

Tal como podemos observar na Figura 4, os pais ao exercerem um excessivo

controlo sobre os seus filhos não permitem que estes explorem o mundo à sua volta e

que desenvolvam competências para lidar com acontecimentos inesperados. Esta

restrição de autonomia aumenta a percepção de ameaça da criança e reduz a sua

percepção de controlo sobre a situação ameaçadora. Tal facto faz aumentar a

vulnerabilidade da criança para o desenvolvimento de ansiedade. No entanto, esta

Ansiedade nas crianças

Redução de oportunidades de

desenvolvimento de estratégias de

confronto

Ansiedade nos pais

Excessivo controlo parental

Restrição da

autonomia

Aumento da percepção de ameaça

Redução da percepção de controlo

sobre a ameaça

Page 34: Ansiedade Na Infância

24

influência é bidireccional. Ou seja, o facto dos filhos manifestarem ansiedade pode fazer

com que os pais intervenham, de um modo excessivamente protector, de forma a reduzir

estas dificuldades, o que acaba por reforçar o sentido de baixo controlo da criança e os

seus sentimentos de incompetência e ineficácia.

As contribuições do modelo de Rapee (2001) para a explicação da génese e

manutenção das Perturbações de Ansiedade na infância foram discutidas num conjunto

diversificado de estudos empíricos (Rapee, Schniering & Hudson, 2009; Rubin, Nelson,

Hastings & Asendorpf, 1999; Bayer, Sanson & Hemphill, 2006; Whaley, Pinto &

Sigman, 1999; Woodruff-Borden et al., 2002). De um modo geral, as investigações têm

suportado as formulações deste modelo teórico de influência parental, mostrando

separadamente que existe uma influência bidireccional entre pais e filhos.

Especificamente, tem sido verificado que é igualmente possível que a ansiedade nas

crianças incite uma protecção excessiva por parte dos pais, ao mesmo tempo que um

excessivo controlo parental tende a aumentar a vulnerabilidade da criança para a

manifestação de problemas de ansiedade.

Como foi referido anteriormente, todos os modelos desenvolvimentistas atrás

expostos, chamam à atenção para o papel capital do comportamento dos progenitores no

desenvolvimento de ansiedade na infância. Os resultados das diversas investigações,

que os referidos modelos de influência parental integram, permitem-nos enunciar

algumas asserções fundamentais:

- O carácter multifactorial das Perturbações de Ansiedade. Os modelos referidos

defendem que são vários os factores de risco para o desenvolvimento de Perturbações

de Ansiedade. Há um grande consenso de que as Perturbações de Ansiedade partilham

de uma base genética comum e que a restante diferença é melhor explicada por outros

factores individuais, familiares ou ambientais.

- A noção de reciprocidade e interacção entre vários factores de risco. Isto é, o

desenvolvimento de ansiedade e Perturbações de Ansiedade requer a integração de um

conjunto de factores de vulnerabilidade geral (e.g. factores genéticos, estilos e práticas

parentais negativas, temperamento inibido e vinculação insegura) e vulnerabilidade

específica (e.g. aprendizagem de um foco da ansiedade específica através da ocorrência

de algum acontecimento de vida).

- A importância das experiências precoces da criança, resultantes da interacção com

os pais ou outros significativos. A este respeito, sabe-se que determinadas experiências

Page 35: Ansiedade Na Infância

25

podem contribuir para que a criança aprenda um foco de ansiedade específico. Esta

aprendizagem pode ser realizada através de um modo directo (e.g. condicionamento

clássico) ou indirecto (e.g. observação e conhecimento de informação negativa sobre

uma determinada situação ou objecto receado).

- O carácter bidireccional da relação entre comportamento parental e ansiedade nos

filhos. Ou seja, é igualmente possível que a ansiedade nas crianças incite uma protecção

excessiva por parte dos pais, ao mesmo tempo que um excessivo controlo parental pode

aumentar a probabilidade do desenvolvimento de ansiedade nas crianças.

4. Superprotecção Parental e Ansiedade na Infância

Como foi possível verificar, ao longo desta revisão, a literatura empírica suporta o

argumento de que os pais assumem um papel de relevo no desenvolvimento saudável e

atípico da criança (Chorpita e Barlow, 1998). Assim sendo, vários estudos têm

enfatizado a importância de considerar a influência do comportamento parental no

desenvolvimento de ansiedade na infância (Hudson & Rapee, 2002; McLeod et al.,

2007; Rapee, 1997; 2009; Wood et al., 2003). Particularmente, alguns estudos têm

defendido que os comportamentos de superprotecção dos pais contribuem positivamente

para a manifestação e manutenção dos problemas de ansiedade na infância (e.g.

Ginsburg & Schlossberg, 2002; Overbeek, Have, Vollebergh & Graaf, 2007; Hudson &

Rappe, 2001; 2002; Rappe, 1997; Siqueland, Kendall & Steinberg, 1996; Hudson &

Rapee, 2001; Rapee, 2009; Bogels & Melick, 2004; Bruggen, Bogels & Zeilst, 2010).

No entanto, a investigação sobre a superprotecção parental é pautada por uma

grande diversidade de operacionalização de conceitos. Por exemplo, os pais que

controlam excessivamente os seus filhos, tendo em conta o seu nível de

desenvolvimento, são definidos, dependendo de cada estudo, como superprotectores,

supercontroladores (englobando o controlo comportamental e/ou o psicológico) ou,

ainda, como intrusivos e impedidores do desenvolvimento de autonomia da criança.

No presente estudo adoptar-se-á a definição preconizada por Thomasgard, Metz,

Edelbrock e Shonkoff (1995). Segundo estes autores a superprotecção parental pode ser

definida como uma protecção parental que é excessiva, tendo em conta o nível de

desenvolvimento da criança, que tem por objectivo proteger o filho de possíveis

ameaças físicas ou sociais. Importa salientar que a superprotecção inclui uma

componente emocional ansiosa que é demonstrada através de uma excessiva

preocupação dos pais acerca do bem-estar dos seus filhos.

Page 36: Ansiedade Na Infância

26

Como já referido anteriormente, não existe um consenso a nível conceptual no que

respeita à operacionalização da superprotecção parental. Especificamente, verifica-se na

literatura uma grande dificuldade em distinguir claramente os conceitos de

superprotecção, controlo comportamental e controlo psicológico parental. Esta

dificuldade poderá advir da complexidade dos constructos e da sobreposição entre

alguns componentes destas distintas dimensões (Figura 2).

Figura 5: Sobreposição entre os componentes da superprotecção parental, do controlo

comportamental e do controlo psicológico parental (adaptado de Holmbeck et

al., 2002).

Os comportamentos de controlo comportamental dos pais têm como objectivo

controlar ou gerir o comportamento da criança (Cummings et al., 2000). A relação entre

o controlo comportamental e o ajustamento da criança não é linear. O controlo

comportamental envolve uma grande diversidade de comportamentos e os seus efeitos

variam em função da maneira como esse controlo é exercido. Apenas níveis elevados

desta dimensão são indesejáveis, na medida em que têm por consequência a restrição da

autonomia da criança. No caso do recurso a práticas disciplinares negativas, os efeitos

do controlo comportamental dependem da gravidade dessas mesmas práticas e da etapa

de desenvolvimento em que a criança se encontra.

Constrangimento da expressão

verbal e individual

Ansiedade parental Excessivo

controlo parental

Controlo intrusivo

Restrição de

independência

Controlo

Comportamental

Parental

Controlo Psicológico

Parental

Superprotecção

Parental

Excessivo controlo

físico e social

Infantilização

Estratégias de

manipulação da

emoção - Indução de culpa

- Retirada de amor

- Indução de vergonha

- Criticismo

Excessiva

supervisão das

actividades da

criança

Níveis de exigência

comportamentais

Estratégias

disciplinares

positivas/negativas

Page 37: Ansiedade Na Infância

27

Por seu lado, o controlo psicológico parental consiste num controlo intrusivo e

coercivo, com recurso a técnicas de manipulação da emoção (e.g. indução de culpa e

ansiedade, criticismo, retirada de amor), que interfere negativamente no

desenvolvimento psicológico e emocional da criança (Barber, 1996).

A superprotecção inclui uma componente emocional ansiosa que é demonstrada

através de um controlo parental, físico e social, excessivo, de comportamentos parentais

que infantilizam as crianças e, ainda, através de uma excessiva preocupação dos pais

acerca do bem-estar dos seus filhos (Thomasgard & Metz, 1993). Sendo assim, embora

possam existir componentes em comum entre a superprotecção, o controlo

comportamental e o controlo psicológico parental (e.g. excessivo controlo parental,

controlo intrusivo e restrição de independência da criança), estas dimensões não são

equivalentes.

Em seguida, são revistos alguns estudos que apresentam uma operacionalização do

conceito de superprotecção parental semelhante à adoptada por esta investigação.

A literatura empírica tem sugerido que os comportamentos de superprotecção dos

pais exercem efeitos potencialmente negativos no desenvolvimento da criança,

reflectindo-se, por exemplo, em mais sintomas depressivos (MacKinnon, Henderson &

Andrews, 1993; Overbeek et al., 2007), mais manifestações sintomatológicas de

ansiedade (Chorpita & Barlow, 1998; Rappe, 1997), menos comportamentos de

autonomia (Hudson & Rapee, 2001; Holmbeck et al., 2002), mais abuso de substâncias

(Bernardi, Jones & Tennant, 1989; Overbeek et al., 2007) e níveis mais elevados de

comportamentos de oposição (Gerlsma, et al., 1997). Embora estes estudos indiquem

que a superprotecção parental está associada a problemas de externalização ou de

internalização, pouco se sabe sobre os processos que explicam esta associação (Lloyd &

Miller, 1997) e sobre a direcção dos seus efeitos (Rapee, 2009).

Quando os pais não proporcionam aos seus filhos oportunidades de lidarem com

situações adequadas ao seu nível de desenvolvimento, com o intuito de os proteger de

possíveis ameaças, muito provavelmente estão a aumentar a percepção da criança de

ameaça e a reduzir os seus sentimentos de eficácia e controlo sobre as situações. Os pais

ao transmitirem aos filhos uma visão do mundo enquanto local ameaçador, estão a

aumentar a probabilidade das crianças recorrem a estratégias de evitamento perante os

mais diversos estímulos que as rodeiam (Taylor & Alden, 2006). Consequentemente,

esta superprotecção parental aumenta a vulnerabilidade da criança para o

Page 38: Ansiedade Na Infância

28

desenvolvimento de ansiedade e Perturbações de Ansiedade na infância (Chorpita &

Barlow, 1998; Wood et al., 2003).

A revisão de estudos efectuada mostra que a influência da superprotecção parental é

mais pronunciada no desenvolvimento de determinados quadros clínicos de ansiedade, a

saber: Fobia Social (Leib et al., 2000; Overbeek et al., 2007; Spokas, 2009), Fobia

Específica (Overbeek et al., 2007) e Perturbação de Ansiedade de Separação (Wood et

al., 2003; Wood, 2006; Mofrad, Abdullah & Samah, 2009).

Grande parte dos estudos revistos sugere uma associação positiva entre a

superprotecção parental e a Fobia Social. Por exemplo, Alden e Taylor (2004) fizeram

uma revisão de estudos em que analisaram o papel das relações interpessoais no

desenvolvimento e manutenção da Fobia Social. Os estudos retrospectivos revistos

indicam que os indivíduos que referem ter sido alvo de superprotecção parental na

infância evidenciam, na actualidade, maiores dificuldades em entender ou discriminar as

ameaçadas sociais, o que contribuiu para o desenvolvimento e manutenção deste quadro

clínico. Outros estudos (Bruch, Heimberg, Berger & Collins, 1989; Leib et al., 2000;

Overbeek et al., 2007; Spokas, 2009) vêm corroborar estes resultados, na medida em

que também verificam que os comportamentos de superprotecção dos pais estão

associados ao quadro clínico da Fobia Social. Os resultados da investigação realizada

por Overbeek e colaboradores (2007), além de indicarem que os comportamentos de

superprotecção dos pais estão associados ao quadro clínico da Fobia Social, apontam

que a superprotecção materna está também relacionada com a Fobia Específica.

Por sua vez, de acordo com Wood (2006), a superprotecção parental está

particularmente relacionada com a Perturbação de Ansiedade de Separação. Segundo

este autor, quando os pais não proporcionam aos filhos oportunidades para realizarem

tarefas adequadas ao seu nível de desenvolvimento, as crianças muito provavelmente

não desenvolverão um sentimento de controlo, domínio e autonomia saudável. Em vez

disso, podem desenvolver um sentimento de dependência relativamente aos pais, o que

poderá resultar numa Perturbação de Ansiedade de Separação.

4.1. Síntese dos Estudos Empíricos

Concluindo, têm sido apontados vários factores de risco para o desenvolvimento de

ansiedade e Perturbações de Ansiedade na infância. Os factores familiares parecem

desempenhar um importante papel no desenvolvimento da criança, principalmente nos

seus primeiros anos de vida (Fox et al., 2005). Neste sentido, a literatura mais recente

Page 39: Ansiedade Na Infância

29

tem enfatizado a importância de considerar a influência dos progenitores, entendendo o

comportamento parental negativo como um factor de risco para o desenvolvimento de

perturbações emocionais.

Os estudos que incidiram sobre os efeitos dos comportamentos de superprotecção

dos pais, sugerem uma associação positiva entre a superprotecção parental e a ansiedade

(Chorpita & Barlow, 1998; Ginsburg & Schlossberg, 2002; Hudson & Rappe, 2002;

Rappe, 1997; Rapee, 2009) e Perturbações de Ansiedade na infância (Bruch et al., 1989;

Leib et al., 2000; Overbeek et al., 2007; Spokas, 2009; Wood et al., 2003; Wood,

2006).

Sendo assim, os dados empíricos reunidos até ao momento indicam que: a) existem

associações significativas entre o comportamento dos pais e a ansiedade e Perturbações

de Ansiedade na infância; b) de entre todas as dimensões do comportamento parental, a

superprotecção tem sido apontada como tendo um papel de relevo no desenvolvimento e

manutenção da ansiedade; c) os comportamentos de superprotecção parental são

influenciados pela ansiedade dos pais mas também pela ansiedade dos filhos; d) existe

uma relação bidireccional entre a superprotecção parental e a ansiedade das crianças,

embora se conheça muito pouco sobre os processos desta associação e sobre a direcção

dos seus efeitos.

De seguida será enumerado um conjunto de limitações acerca da revisão de estudos

efectuada e serão feitas algumas reflexões, que incidem sobre alguns aspectos que se

considera de real interesse no estudo da superprotecção parental, de forma a contornar

algumas limitações empíricas e a aprofundar algumas questões teóricas que podem

contribuir para um melhor esclarecimento sobre a relação entre a superprotecção

parental e o desenvolvimento de ansiedade e Perturbações de Ansiedade na infância.

4.2. Limitações dos estudos e reflexões

a) Carência de estudos que analisem a influência bidireccional entre a

superprotecção parental e a ansiedade na infância

Como referido anteriormente, uma das principais limitações da literatura empírica

refere-se à incapacidade de indicar a direcção dos efeitos entre superprotecção parental

e desenvolvimento de ansiedade na infância. De acordo com os estudos revistos, poucas

investigações têm recorrido a um desenho longitudinal de modo a examinar a direcção

supramencionada. Isto é, poucos estudos têm demonstrado que é igualmente possível

que a ansiedade evidenciada pelas crianças conduza a comportamentos parentais

Page 40: Ansiedade Na Infância

30

sobreprotectores, assim como os comportamentos excessivamente protectores levam ao

desenvolvimento de ansiedade e Perturbações de Ansiedade na infância.

No entanto, encontram-se na literatura alguns estudos longitudinais que têm

apoiado, separadamente, ambas as direcções de influência pais/filhos. Por exemplo, o

estudo realizado por Rubin e colaboradores (1999), numa amostra comunitária de 60

crianças, revelou que os pais ao percepcionarem os seus filhos como tímidos tendem a

manifestar um maior envolvimento parental, dois anos mais tarde. Porém, o oposto não

foi verificado. Um estudo muito semelhante realizado por Bayer, Sanson e Hemphill

(2006), numa amostra comunitária de 112 crianças, obedecendo igualmente a um

desenho longitudinal, verificou que os comportamentos de superprotecção parental

prediziam problemas de internalização nas crianças dois anos mais tarde, todavia a

relação inversa não foi verificada. Edward e colaboradores (2009) verificaram, ainda,

numa amostra de crianças em idade pré-escolar, que a ansiedade materna era preditora

de sintomas de ansiedade nas crianças, um ano mais tarde e que esta relação era

mediada pelos comportamentos maternos de superprotecção. Pelo contrário, os níveis

de ansiedade das crianças não foram preditores da superprotecção materna, um ano mais

tarde.

Até ao momento, apenas um estudo, não publicado, verificou a influência

bidireccional entre a superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade na

infância. Mais especificamente, apenas Edwards, Rapee e Kennedy (2010) verificaram

que a superprotecção materna conduziu a sintomas de ansiedade nas crianças, 12 meses

mais tarde, ao mesmo tempo que a ansiedade e os comportamentos de inibição das

crianças conduziram a comportamentos de superprotecção por parte das mães. No que

refere aos pais, a referida investigação apenas verificou que a superprotecção parental

conduziu a sintomas de ansiedade nas crianças, 12 meses mais tarde. Como tal, de modo

a esclarecer a causalidade dos efeitos entre a superprotecção parental e a ansiedade

sugere-se que sejam realizados mais estudos que recorram a um desenho longitudinal ou

experimental.

b) Carência de estudos que avaliem a superprotecção parental e a ansiedade nas

crianças com recurso a vários informadores

Para avaliar a superprotecção parental e a ansiedade nas crianças é importante

recorrer a diferentes informadores porque uma fonte de informação não substitui a

outra. A informação proveniente de múltiplas fontes - pai, mãe e criança - tem a

Page 41: Ansiedade Na Infância

31

vantagem de apresentar uma visão mais completa e precisa sobre o sujeito ou sobre a

dimensão em análise. Os pais são fundamentais porque são quem passa mais tempo com

a criança, o que faz com que possam contribuir para um melhor conhecimento sobre o

funcionamento normativo e disruptivo dos filhos.

Por sua vez, a criança é o único informador que tem acesso a aspectos de natureza

mais interiorizada do seu funcionamento que não são fáceis de avaliar por um avaliador

externo. Como tal, sugere-se que os investigadores recorram a diferentes metodologias e

informadores para que se possa contemplar uma maior diversidade de dados e

perspectivas. Os instrumentos de auto-relato, com formas equivalentes para diferentes

informadores, e a observação naturalista da interacção entre pais e filhos, parecem ser

metodologias bastante úteis para que se possa obter mais informação sobre a mesma

dimensão ou sujeito, podendo esta ser validada e/ou complementada tendo em conta as

diferentes perspectivas de cada informador considerado.

A grande maioria dos estudos sobre a relação entre a superprotecção parental e a

ansiedade nas crianças subestima a importância do comportamento do pai no

desenvolvimento e manutenção de sintomatologia de ansiedade nos filhos. Embora

exista um maior número de estudos sobre as relações entre mães e filhos (Hudson &

Rapee, 2001; Whaley, Pinto & Sigman, 1999; Rapee, 2009; Edwards et al., 2010), cada

vez mais se considera que o pai é uma figura igualmente significativa e que ambos os

pais podem influenciar os seus filhos através de práticas comportamentais distintas

(Bogels & Phares, 2008). Por exemplo, um estudo realizado por Paquette (2004) sugere

que os pais adoptam maiores comportamentos de encorajamento ao confronto e incitam

mais a autonomia e independência da criança comparativamente às mães. O papel do

pai tem também sido associado a momentos lúdicos e ao estabelecimento de limites à

criança (Bogels & Phares, 2008). Por outro lado, a literatura empírica sugere que as

mães são mais controladoras e superprotectoras e parecem deter uma maior influência

no desenvolvimento da percepção de controlo das crianças (Hudson & Rapee, 2002;

Chandler, Wolf, Cook & Dugovics, 1980; Hudson, Comer & Kendall, 2008).

Contudo, importa salvaguardar que a consideração de diferentes informadores

contribui, simultaneamente, para uma maior complexidade no que diz respeito à

integração das diferentes fontes de informação. Isto porque diferentes informadores

podem ter uma percepção diferenciada sobre o mesmo sujeito ou dimensão. Refira-se,

como exemplo, a investigação realizada por Pereira, Barros e Neves (2011), na qual foi

observado discrepâncias entre informadores relativamente à sintomatologia de

Page 42: Ansiedade Na Infância

32

ansiedade na criança, tendo ainda sido verificado que estas discrepâncias eram mais

pronunciadas quando se comparava a informação fornecida pela criança e pelos pais.

c) Carência de estudos empíricos que contemplem variáveis moderadoras da

relação entre superprotecção parental e ansiedade

No estudo da relação entre superprotecção parental e ansiedade na infância é

importante considerar as influências moderadoras das características dos indivíduos,

como o género, dos pais e das crianças, e a idade da criança. A grande maioria dos

estudos revistos não explora, em simultâneo, a influência destas variáveis moderadoras

nos comportamentos de superprotecção parental (ver por exemplo, Rapee, 2009;

Hudson & Rapee, 2001; Whaley, Pinto & Sigman, 1999; Woodruff-Borden et al., 2002;

Hudson & Rapee, 2002).

Sendo assim, os resultados empíricos reunidos, até ao momento, são claramente

insuficientes. Alguns estudos não observam efeitos moderadores da idade da criança

(Hudson & Rapee, 2001), do género dos pais (Overbeek et al., 2007) ou do género das

crianças (Silverman & Nelles, 1988) na superprotecção parental. Outras, analisando a

hipótese de existência de variáveis moderadoras, defendem que a relação entre a

superprotecção parental e o desenvolvimento de ansiedade na infância é susceptível de

ser moderada pelas variáveis sócio-demográficas referidas, alegando que estas tornam a

criança mais susceptível à influência dos seus progenitores (ver por exemplo, Whaley et

al., 1999; Bogels & Phares, 2008; Belsky, Hsieh & Crnic, 1998).

A existência desta diversidade de resultados chama a atenção para a importância do

estudo de variáveis moderadoras na relação entre a superprotecção parental e a

ansiedade na infância. Sugere-se que os investigadores analisem os efeitos nas variáveis

género, dos pais e das crianças, e idade da criança, uma vez que a literatura empírica

ainda apresenta um estado de arte embrionário neste aspecto.

d) Diversidade de conceitos na avaliação dos comportamentos de superprotecção

parental

Existe uma grande variabilidade na literatura relativamente à forma como as

dimensões do comportamento parental são definidas e operacionalizadas. Como já foi

referido, o termo de superprotecção parental é usado muitas vezes para descrever

dimensões, que embora apresentem características comuns, são distintas. Os autores

recorrem a um conceito vasto de controlo parental para descrever indiscriminadamente

Page 43: Ansiedade Na Infância

33

comportamentos de controlo comportamental, de controlo psicológico ou de

superprotecção. O facto de diversos autores atribuírem diferentes designações à

dimensão de superprotecção parental dificulta, em grande escala, a comparação entre os

diferentes estudos empíricos que pretendem analisar a relação entre a superprotecção

parental e o desenvolvimento de ansiedade e Perturbações de Ansiedade na infância.

Esta dificuldade de análise advém igualmente da existência de uma grande diversidade

nas características da amostra (e.g. faixas etárias dispares, culturas diversas, população

clínica e comunitária) e nas metodologias de análises de dados utilizadas nos estudos

empíricos (e.g. a avaliação da superprotecção parental pode ser realizada recorrendo a

diferentes metodologias desde a observação naturalista das interacções entre pais e

filhos até à avaliação da percepção do comportamento parental por parte dos pais e das

crianças).

Page 44: Ansiedade Na Infância

34

2.ª Parte

ESTUDO EMPÍRICO

Page 45: Ansiedade Na Infância

35

CAPÍTULO II – CONCEPTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

1. Introdução

De acordo com a literatura, os pais exercem uma grande influência no

desenvolvimento da criança, principalmente nos seus primeiros anos de vida (Fox et al.,

2005). De uma forma geral, e de acordo com os estudos revistos anteriormente, existe

uma relação positiva entre parentalidade negativa e ansiedade na infância (McLeod,

Wood & Weisz, 2007). Entre todas as dimensões do comportamento parental negativo,

a superprotecção assume um papel de relevo no desenvolvimento de sintomatologia de

ansiedade nas crianças (Rapee, 2009). Deste modo, o presente estudo tem como

objectivo geral analisar a relação existente entre a superprotecção parental e a ansiedade

em crianças em idade escolar.

2. Síntese dos objectivos específicos do estudo

Analisar as diferenças entre mães e pais quanto aos níveis de preocupação e

ansiedade parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças;

Analisar o efeito das variáveis sexo e idade da criança nos níveis de preocupação e

ansiedade parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças;

Analisar a relação existente entre a sintomatologia de ansiedade nas crianças,

avaliada por três informadores (pai, mãe e criança), e as seguintes dimensões: (a)

preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção parental e (c) encorajamento

parental aos comportamentos de confronto das crianças;

Analisar a relação existente entre as dimensões das Perturbações de Ansiedade de

maior prevalência na infância1 avaliadas por três informadores (pai, mãe e criança),

e as seguintes dimensões: (a) preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção

parental e (c) encorajamento parental aos comportamentos de confronto das

crianças.

3. Metodologia

3.1. Desenho da investigação

O presente estudo obedece a um desenho característico de um estudo não

experimental, também designado de estudo observacional (Ribeiro, 1999) ou

1 Fobia Específica, Perturbação de Ansiedade de Separação, Perturbação de Ansiedade Generalizada e

Fobia Social

Page 46: Ansiedade Na Infância

36

correlacional (Mertens, 1997). Neste tipo de estudos, o investigador observa a

covariação das variáveis sem a manipulação das mesmas. Particularmente, optou-se por

um tipo de desenho analítico-transversal, uma vez que estudo pretende explicar os

resultados através do exame das relações estatísticas entre variáveis num único

momento temporal.

3.2. Amostra

O presente estudo engloba uma amostra não probabilística de conveniência. O

único critério de inclusão para a participação no estudo foi a ausência de défice

cognitivo e/ou perturbação de desenvolvimento que impedisse a compreensão dos

instrumentos de avaliação.

Participaram no estudo 236 crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 12

anos e os seus progenitores (pais n=198 e mães n=233). Estas crianças frequentavam o

3º, 4º, 5º ou 6º ano de escolaridade do ensino básico de escolas da rede pública e privada

de diferentes zonas geográficas: Lisboa, Loures, Mafra, Ericeira e Caldas da Rainha. A

amostra está distribuída equilibradamente entre os dois sexos (Quadro 3).

Quadro 3: Caracterização das variáveis sócio-demográficas das crianças.

Momento de Avaliação

(n = 2362)

n (%)

VARIÁVEIS DA CRIANÇA

Escolaridade

3º ano 33 (14%)

4º ano 29 (12%)

5º ano 82 (35%)

6º ano 92 (39%)

Idade – categorias

7-9 75 (32%)

10-12 161 (68%)

Idade M DP Min. - Máx.

9,88 1,18 7 12

Sexo

Feminino 121 (51%)

Masculino 115 (49%)

A maioria das crianças provém de famílias nucleares intactas e tem um irmão

(Quadro 4). A maioria dos pais e das mães são casados ou vivem em união de facto e

possuem habilitações literárias superiores ao 12º ano de escolaridade. 2 Quando os resultados não totalizam 236 crianças é porque existem dados omissos.

Page 47: Ansiedade Na Infância

37

Quadro 4: Caracterização das variáveis sócio-demográficas dos pais e família.

3 Quando os resultados não totalizam 236 crianças é porque existem dados omissos.

Momento de Avaliação

(n = 2363)

n (%)

VARIÁVEIS DOS PAIS E FAMÍLIA

Habilitações Literárias do Pai

≤ 4º ano 17 (9%)

6º ano 33 (17%)

9º ano 35 (18%)

12º ano 45 (24%)

Ensino superior 61 (32%)

Habilitações Literárias da Mãe

≤ 4º ano 14 (6%)

6º ano 20 (9%)

9º ano 32 (14%)

12º ano 75 (34%)

Ensino superior 82 (37%)

Conjugalidade

Casado/União de Facto 175 (78%)

Separado/Divorciado 46 (20%)

Outra 4 (2%)

Co-Habituação

Mãe e Pai 141 (80%)

Só com a mãe 28 (16%)

Só com o pai 2 (1%)

Outros 5 (3%)

Número de elementos do agregado familiar

M DP Min. - Máx.

3,82 0,756 2 6

Irmãos - categorias

Filho único 45 (20%)

Um irmão 123 (55%)

Dois ou mais irmãos 54 (25%)

Irmãos M DP Min. - Máx.

1,22 1,134 0 7

Posição Fratria

Mais novo 76 (44%)

Meio 16 (9%)

Mais velho 77 (45%)

Irmão gémeo 4 (2%)

Page 48: Ansiedade Na Infância

38

3.3. Procedimento de recolha de dados

O presente trabalho integra-se num projecto de investigação mais alargado:

“Processos de Influência Parental no Desenvolvimento de Vulnerabilidades Cognitivas

para as Perturbações de Ansiedade em Crianças em Idade Escolar”. Por conseguinte, o

protocolo de avaliação que se descreve a seguir não corresponde à totalidade dos

instrumentos do protocolo original.

O momento de avaliação decorreu durante o mês de Outubro do ano de 2010.

Previamente à recolha de dados, foram endereçados diferentes pedidos de autorização e

colaboração. Uma vez que a amostra iria ser recolhida em escolas da rede do ensino

público e privado, depois de pedida a autorização à Comissão Nacional de Protecção de

Dados, foi pedida autorização à Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento

Curricular (Figura 3).

Após a obtenção das autorizações, procedeu-se à apresentação do projecto a 5

direcções de escola4, bem como a todos os professores do 1º e 2º ciclo que iriam

colaborar na recolha de dados. Todos os professores contactados acederam em

participar no estudo. Posteriormente, foi enviado um formulário aos pais das crianças no

sentido de lhes pedir o consentimento expresso por escrito para a participação dos

filhos, bem como a sua colaboração para o estudo (ver Anexo I). Neste formulário eram

explicados os objectivos da investigação, a metodologia e era assegurada a

confidencialidade dos dados. Do total de famílias contactadas, 82% aceitaram participar

no estudo.

A aplicação do Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais

Relacionadas com a Ansiedade em Crianças (SCARED-R), dirigido às próprias, foi

realizada nas escolas por um membro da equipa de investigação, tendo uma duração

média de 45 minutos. Antes da passagem colectiva do instrumento, explicitou-se os

objectivos do estudo e assegurou-se o assentimento das crianças, bem como a

confidencialidade das suas respostas. Após a verificação da compreensão das crianças

relativamente ao preenchimento do questionário, foi lido item a item em voz alta e as

crianças foram preenchendo autonomamente o instrumento de recolha de dados.

Os instrumentos dirigidos aos pais (SCARED-R e EASP) foram enviados pelos

professores por intermédio das crianças que, posteriormente, entregavam aos seus

professores os questionários preenchidos autonomamente pelos pais. Se a criança

4 As escolas foram seleccionadas tendo em conta dois critérios: proximidade geográfica e celeridade da

resposta ao pedido de colaboração que foi feito a vários agrupamentos de escola.

Page 49: Ansiedade Na Infância

39

Pedido de autorização à Comissão Nacional de

Protecção de Dados

Pedido de autorização à Direcção Geral de Inovação e

Desenvolvimento Curricular

Pedido de autorização às direcções das escolas e pedido de

colaboração aos professores e directores de turma

Obtenção do consentimento expresso por escrito dos pais para

a participação das crianças no estudo

Criança é avaliada colectivamente na sala de aula:

- Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais Relacionadas

com a Ansiedade em Crianças (SCARED-R)

Envio dos instrumentos aos pais:

- Escala de Avaliação de Ansiedade e Superprotecção Parental (EASP)

- Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais Relacionadas com a

Ansiedade em Crianças (SCARED-R)

Pais preenchem e enviam ao professor, por intermédio da criança, em envelope fechado

vivesse com ambos os pais era solicitado o preenchimento de ambos. Se coabitasse

apenas com um progenitor, apenas este preenchia os instrumentos de avaliação. Numa

data acordada entre os investigadores e os professores, os questionários foram

devolvidos em envelope fechado ao investigador. Foram eliminadas da amostra os

questionários que continham mais de 3 itens omissos.

Figura 6: Procedimento de recolha de dados.

Page 50: Ansiedade Na Infância

40

3.4. Fontes de informação e instrumentos

Os instrumentos, EASP e SCARED-R, foram validados no âmbito do projecto de

investigação mais alargado onde se insere o presente estudo. O Quadro 5 expõe todos os

instrumentos utilizados ao longo da investigação, enunciando para cada um deles, o seu

objectivo e dimensões avaliadas. Seguidamente, serão descritos, em detalhe, os

instrumentos seleccionados.

Quadro 5: Instrumentos, objectivos e dimensões avaliadas.

Instrumentos Objectivo Dimensões

Escala de Avaliação de Ansiedade

e Superprotecção Parental - EASP

(Pereira, Barros & Beato, manuscrito

em submissão)5

Avaliar a ansiedade e preocupação

parental, superprotecção parental e

encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das

crianças

-Preocupação e ansiedade dos pais em

relação à segurança física e/ou psicológica

dos filhos

-Superprotecção parental

-Encorajamento dos pais aos

comportamentos de confronto da criança

Questionário de Avaliação de

Perturbações Emocionais

Relacionadas com a Ansiedade em

Crianças – SCARED-R

(Muris et al., 1999b, versão

portuguesa de Pereira e Barros,

2010)6

Avaliar oito dimensões relativas a

diferentes Perturbações de

Ansiedade segundo o DSM-IV

-Perturbação de Ansiedade de Separação

-Perturbação de Ansiedade Generalizada

-Perturbação de Pânico

-Fobia Social

-Fobia Escolar

-Fobia Específica

-Perturbação Obsessivo-Compulsiva

-Perturbação Stress Pós-Traumático

Questionário de características

sócio-demográficas da criança e da

família7

Recolha de informação pertinente

para a caracterização da criança e

da família

Criança

-Ano de escolaridade

-Sexo

-Idade

Pais e família

-Habilitações literárias

-Número de pessoas do agregado familiar

-Situação conjugal

-Co-habitação

-Número de irmãos

-Posição da criança na fratria

5 ver Anexo II

6 ver Anexo III

7 ver Anexo IV

Page 51: Ansiedade Na Infância

41

3.4.1. Escala de Avaliação de Ansiedade e Superprotecção Parental – EASP

Dimensões avaliadas e vantagens do instrumento: O EASP de Pereira, Barros e

Beato (manuscrito em submissão) é um instrumento, originalmente desenvolvido em

língua portuguesa, que tem por objectivo avaliar três importantes dimensões:

preocupação e ansiedade dos pais em relação aos filhos, superprotecção parental e

encorajamento parental aos comportamentos de confronto da criança.

A opção pelo EASP prende-se com o facto deste instrumento ter sido construído de

raiz para a população portuguesa, com base numa extensa revisão de literatura e análise

de instrumentos já existentes. Além disso, este instrumento apresenta boas

características psicométricas, tal como evidencia o estudo realizado por Pereira, Barros

e Beato (manuscrito em submissão).

História e desenvolvimento do questionário: O EASP (Pereira, Barros & Beato,

manuscrito em submissão) foi desenvolvido em várias etapas. Em primeiro lugar, as

autoras do questionário, com base na revisão de literatura e análise de instrumentos

preexistentes, desenvolveram um conjunto de itens que procuravam captar os

comportamentos mais relevantes para a avaliação de duas dimensões, a saber: ansiedade

e preocupação relacionadas com a segurança física e/ou psicológica dos filhos e

superprotecção parental (i.e. protecção parental que é excessiva, tendo em conta o nível

de desenvolvimento e competências da criança, que tem por objectivo proteger a criança

de possíveis ameaças físicas ou sociais). Posteriormente, este conjunto inicial de itens

foi sujeito à avaliação de um painel de juízes, composto por investigadores e psicólogos

clínicos com experiência no trabalho com crianças em idade escolar. Os juízes

classificaram os diferentes itens, numa escala de 1 a 5, de acordo com três critérios:

relevância, especificidade e clareza. Com base na avaliação deste painel de

especialistas, alguns itens foram eliminados, outros reformulados e outros foram ainda

adicionados, totalizando 34 itens. O questionário composto por este conjunto de itens

foi então aplicado num estudo piloto. Era pedido aos pais que avaliassem o grau de

semelhança entre as afirmações e a forma como habitualmente pensavam, sentiam e se

comportavam em relação aos filhos, numa escala de 0 (nada) a 4 (muitíssima).

Adicionalmente, os pais tinham que classificar a sua preocupação e a preocupação do

outro progenitor em relação ao filho, por comparação aos pais de crianças da mesma

idade, numa escala de 1 (muito menos preocupado) a 5 (muito mais preocupado).

Page 52: Ansiedade Na Infância

42

Após a realização de procedimentos de análise factorial, foram identificadas 3

componentes: preocupação e ansiedade dos pais em relação aos filhos, superprotecção

parental e encorajamento dos pais aos comportamentos de confronto da criança, que

explicam 51,78% da variância na versão respondida pelas mães e 51,77% na versão

respondida pelos pais (Pereira, Barros & Beato, manuscrito em submissão). Os

resultados destas análises tiveram como consequência a eliminação de alguns itens e a

reformulação de outros, perfazendo um total de 20 itens.

Descrição do instrumento: A versão final da escala conta no total com 20 itens,

avaliados numa escala de tipo Likert, de 5 pontos, que vai desde “nada” a “muitíssima”.

As três subescalas que compõem o instrumento são: preocupação e ansiedade parental

(10 itens; p.e. “Só fico tranquilo quando o meu filho está ao pé de mim”),

superprotecção parental (7 itens; p.e. “Eu tento proteger o(a) meu filho(a) de todas as

dificuldades do dia-a-dia”) e encorajamento parental aos comportamentos de confronto

das crianças (3 itens; p.e. “Digo ao(à) meu(minha) filho(a) que a melhor forma de lidar

com os medos é enfrentá-los”). A amostra dos estudos psicométricos deste instrumento

corresponde à amostra do corrente estudo. Os resultados relativos à fiabilidade

(consistência interna) e validade do instrumento (validade de constructo e validade

convergente) revelam boas qualidades psicométricas. Os índices de consistência interna

são elevados (valor de α acima de 0,70 em todas as dimensões). A validade convergente

foi também apoiada. As escalas de tentativa de controlo do EMBU-P apresentam

correlações positivas e estatisticamente significativas, de magnitude elevada, com as

subescalas de preocupação e ansiedade parental e correlações positivas e significativas,

de magnitude moderada, com as escalas de superprotecção parental.

3.4.2. Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais Relacionadas

com a Ansiedade em Crianças – SCARED-R (versão para crianças e pais)

Dimensões avaliadas e vantagens do instrumento: O SCARED-R é um instrumento

que avalia diferentes dimensões de problemas de ansiedade em crianças, segundo o

DSM-IV. A versão revista do instrumento foi desenvolvida por Muris e colaboradores

(1999b), tendo sido validada para a população portuguesa por Pereira, Barros e Beato

(manuscrito em submissão). A opção pelo SCARED-R prende-se com o facto deste

instrumento fornecer uma avaliação multidimensional da ansiedade e apresentar formas

equivalentes para diferentes informadores (crianças e pais), o que possibilita obter sobre

o mesmo sujeito avaliações diferentes que se podem validar e/ou complementar. A

Page 53: Ansiedade Na Infância

43

versão portuguesa do SCARED-R revela valores elevados de consistência interna

(α=0,93 para a versão respondida pela criança, α=0,93 para a versão respondida pela

mãe e α=0,89 para a versão respondida pelo pai).

História e desenvolvimento do questionário: A versão original de Birmaher e

colaboradores (1997) engloba um total de 38 itens que pretende avaliar cinco diferentes

dimensões de problemas de ansiedade em crianças, segundo a DSM-IV: Perturbação de

Ansiedade Generalizada, Perturbação de Ansiedade de Separação, Fobia Social,

Perturbação de Pânico e Fobia Escolar. Posteriormente, este conjunto inicial de itens foi

revisto por Muris e colaboradores (1999b), tendo sido adicionadas três novas

dimensões, totalizando 31 itens: Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Fobia Específica e

Perturbação Stress Pós-Traumático. Deste modo, o SCARED-R passou a englobar 69

itens que avaliam em crianças dimensões que correspondem a diferentes Perturbações

de Ansiedade segundo a DSM-IV.

Os resultados dos estudos relativos à fiabilidade (consistência interna e teste-

reteste) e à validade do instrumento (validade de constructo e validade convergente)

revelam boas qualidades psicométricas (Muris et al., 1999b; Muris et al., 1999c; Muris

et al., 1998; Muris et al., 2000). Os índices de consistência interna são moderados (valor

de α acima de 0,60 em todas as dimensões). Os valores do teste-reteste revelam uma

estabilidade bastante satisfatória (r=0,81) da pontuação global do SCARED-R e uma

validade aceitável (Muris et al., 1999b; Muris et al., 1999c). No que concerne à

validade convergente, o questionário apresenta correlações moderadas a elevadas com

outros instrumentos de avaliação de ansiedade, como por exemplo, o RCMAS, STAIC e

o FSSC-R (Muris et al., 1998). A validade discriminativa foi apoiada através da análise

do poder discriminativo dos valores globais, considerando como critério a pertença a

um grupo clínico e não clínico (Muris et al., 2000).

Descrição do instrumento: Este questionário de auto-resposta é composto por 69

itens, tendo por objectivo avaliar oito dimensões relativas a diferentes Perturbações de

Ansiedade em crianças, segundo o DSM-IV: Perturbação de Ansiedade de Separação (8

itens; p.e. “Não gosto de estar longe da minha família”), Perturbação de Ansiedade

Generalizada (10 itens; p.e. “Sou preocupado”), Perturbação de Pânico (13 itens; p.e.

“Quando me sinto assustado tenho dificuldade em respirar”), Fobia Social (6 itens; p.e.

“Não gosto de estar com pessoas desconhecidas”), Fobia Escolar (4 itens; p.e. “Tenho

dores de cabeça ou de barriga quando estou na escola”), Fobia Específica (15 itens; p.e.

“Tenho medo de estar em sítios altos”), Perturbação Obsessivo-Compulsiva (9 itens;

Page 54: Ansiedade Na Infância

44

p.e. “Faço coisas (rituais) que me ajudam a ficar menos assustado com os meus

pensamentos”) e Perturbação Stress Pós-Traumático (4 itens; p.e. “Fico com medo

quando penso numa coisa muito má que uma vez me aconteceu”).

Existem duas versões do instrumento, uma destinada aos progenitores das crianças

e outra dirigida às próprias crianças. Os respondentes têm que classificar a frequência

com que cada um dos sintomas foi experienciado, nos últimos 3 meses, numa escala de

tipo Likert, de 3 pontos, em que 0 corresponde a “nunca ou quase nunca”, 1 a “às

vezes” e 2 a “muitas vezes”. São obtidas pontuações para cada uma das dimensões de

ansiedade e uma pontuação global.

3.4.3. Questionário de características sócio-demográficas da criança e da

família

Avaliação das características sócio-demográficas da criança e da família: Foi

elaborado um breve questionário sócio-demográfico, a ser respondido pelas crianças e

pelos seus progenitores, que teve por objectivo quer a recolha de informação pertinente

para a caracterização da criança e da família, quer a recolha de dados relativamente a

algumas variáveis sócio-demográficas, que foram identificadas pela literatura como

estando associadas significativamente às variáveis do estudo e cujo o efeito era

importante considerar. Desta forma, foi recolhida a seguinte informação acerca da

criança: ano de escolaridade, sexo e idade. Acerca dos pais e família foi recolhida a

seguinte informação: habilitações literárias, número de pessoas do agregado familiar,

situação conjugal, co-habitação, número de irmãos e posição da criança na fratria.

3.5. Procedimentos de análise estatística

Foram realizadas análises estatísticas descritivas e inferenciais. Utilizaram-se

diferentes testes estatísticos, seleccionados em função dos objectivos das análises, das

características das variáveis consideradas e da verificação dos pressupostos necessários.

Em primeiro lugar, procedeu-se à verificação dos pressupostos para a aplicação dos

testes paramétricos: a normalidade das distribuições, homogeneidade das variâncias

para comparação de grupos e linearidade das relações para análises de correlação. As

análises efectuadas, com o objectivo de verificar estes pressupostos, foram realizadas

sobre as sub-amostras definidas pelos factores considerados. Tendo em conta a

dimensão da amostra (n≥30), o estudo da normalidade das distribuições foi feito a partir

da aplicação do Teste Kolmogorov-Smirnov, enquanto o teste de homogeneidade de

Page 55: Ansiedade Na Infância

45

variâncias foi efectuado através do Teste de Levene. Nas situações em que se

verificaram violações aos pressupostos da normalidade, recorreu-se a transformações

matemáticas das variáveis dependentes, seguindo os indicadores de Tabachnick e Fidell

(2006), de forma a aproximar as distribuições da distribuição normal. Sempre que as

distribuições apresentavam um enviesamento, moderado, à esquerda (assimetria

positiva) foi realizada a raiz quadrada dos dados originais (SQRT). Em algumas

dimensões relativas às Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na infância,

quando avaliadas pelo pai, mãe e criança, depois de transformados os dados continuou-

se a verificar violações dos pressupostos da normalidade. Optou-se, então, por eliminar

os outliers de forma a obter distribuições que se enquadram dentro dos valores da

normalidade.

Todos os factores considerados preencheram os requisitos necessários para a

realização de análises paramétricas, à excepção das dimensões relativas a diferentes

Perturbações de Ansiedade nas crianças, quando avaliadas pelas mães, como é o caso

em particular da Fobia Específica. A dimensão da Perturbação de Ansiedade de

Separação, quando avaliada pelas crianças, também não preencheu os requisitos

necessários para a realização de análises paramétricas, tendo por isso sido necessário

recorrer a análises não paramétricas.

Para o estudo e caracterização das dimensões parentais, preocupação e ansiedade

parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos comportamentos de

confronto da criança, avaliadas separadamente para o pai e para a mãe, num primeiro

momento, foi efectuado o cálculo de médias, medianas e desvios-padrões.

No sentido de averiguar as diferenças entre mães e pais relativas às dimensões de

ansiedade e superprotecção parental, recorreu-se ao Teste t-Student para amostras

emparelhadas. Posteriormente, utilizou-se a mesma análise estatística, mas para

amostras independentes, com o objectivo de estudar o efeito das variáveis sexo e idade

da criança nas dimensões correspondentes. De forma a estudar o efeito não só de cada

um dos factores mas também da possível influência de cada um nas dimensões de

ansiedade e superprotecção parental, foi realizado um conjunto de análises de variância

univariada (ANOVAs), tomando as dimensões de ansiedade e superprotecção parental

como variáveis critério e as variáveis sócio-demográficas, sexo e idade da criança, como

factores.

Foram também analisadas as associações entre as subescalas de ansiedade e

superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada por três

Page 56: Ansiedade Na Infância

46

informadores (pai, mãe e criança). Utilizou-se o Coeficiente de Correlação r de Pearson

para explorar as associações entre as subescalas de ansiedade e superprotecção parental

e a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada pelos pais e pelas próprias

crianças. No sentido de analisar as relações existentes entre as subescalas de ansiedade e

superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada pelas

mães, recorreu-se ao Coeficiente de Correlação ρ de Spearman, uma vez que os

pressupostos de normalidade não foram assegurados.

Por fim, foram analisadas as associações entre as dimensões de ansiedade e

superprotecção parental, avaliadas separadamente para o pai e para a mãe, e as

dimensões relativas às Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na infância,

Fobia Específica, Perturbação de Ansiedade de Separação, Perturbação de Ansiedade

Generalizada e Fobia Social, avaliadas separadamente para cada um dos informadores

(pai, mãe e criança). Para tal, utilizou-se o Coeficiente de Correlação r de Pearson para

explorar as associações entre as subescalas de ansiedade e superprotecção parental e os

quatro domínios de ansiedade, referidos anteriormente, sempre que os pressupostos de

normalidade e linearidade foram assegurados. Pelo contrário, quando as distribuições

apresentavam uma assimetria substancial, optou-se por utilizar o Coeficiente de

Correlação ρ de Spearman.

Na análise estatística, as decisões quanto ao significado das diferenças e das

associações terão como referência o nível de significância de 0,05 (p <0,005). Para

avaliar a magnitude das associações, optou-se por seguir os critérios propostos por

Cohen e colaboradores (1988). Assim, tomemos como referência que correlações

menores do que 0,30 são consideradas de pequena magnitude, correlações entre os 0,30

e os 0,50 são consideradas de média magnitude e correlações superiores a 0,50 são

consideradas de elevada magnitude.

Para todo o tratamento estatístico foi utilizado o programa SPSS (Statistic Package

for the Social Sciences), versão 17 para o Windows.

Page 57: Ansiedade Na Infância

47

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Neste capítulo é feita a apresentação e análise dos resultados do presente estudo.

Para uma melhor compreensão, esta secção será organizada de acordo com os

objectivos de investigação formulados. O Quadro 6 apresenta a síntese dos objectivos

do estudo e as metodologias de análise de dados, seleccionadas em função dos

objectivos das análises, das características das variáveis consideradas e da verificação

dos pressupostos necessários.

Quadro 6: Síntese dos objectivos e metodologias de análise de dados.

Objectivos

Análises

1. Analisar as diferenças entre mães e pais quanto aos níveis

de preocupação e ansiedade parental, superprotecção

parental e encorajamento parental aos comportamentos de

confronto das crianças.

Testes t Student para amostras

emparelhadas

2. Analisar o efeito das variáveis sexo e idade da criança nos

níveis de preocupação e ansiedade parental, superprotecção

parental e encorajamento parental aos comportamentos de

confronto das crianças.

Testes t Student para amostras

independentes e ANOVAs

3. Analisar a relação entre sintomatologia de ansiedade nas

crianças, avaliada por três informadores (pai, mãe e

criança), e as seguintes dimensões: (a) preocupação e

ansiedade parental; (b) superprotecção parental e (c)

encorajamento parental aos comportamentos de confronto

das crianças, avaliadas separadamente para o pai e para a

mãe.

Correlações de r de Pearson e

Correlações de ρ de Spearman

4. Analisar a relação entre as dimensões das Perturbações de

Ansiedade de maior prevalência na infância8, avaliadas por

três informadores (pai, mãe e criança) e as seguintes

dimensões: (a) preocupação e ansiedade parental; (b)

superprotecção parental e (c) encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças, avaliadas

separadamente para o pai e para a mãe.

Correlações de r de Pearson e

Correlações de ρ de Spearman

8 Fobia Específica, Perturbação de Ansiedade de Separação, Perturbação de Ansiedade Generalizada e

Fobia Social

Page 58: Ansiedade Na Infância

48

1. Análise das diferenças entre mães e pais quanto à preocupação e ansiedade

parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças

As médias, medianas e desvios-padrões das pontuações das três subescalas para

cada um dos progenitores encontram-se no Quadro 7.

De uma forma geral, tanto os pais como as mães percepcionam níveis baixos a

moderados de preocupação e ansiedade relacionadas com a segurança física e/ou

psicológica dos filhos (sendo os valores médios dos itens da subescala preocupação e

ansiedade parental de 1,5 para o pai e de 1,7 para a mãe) e níveis baixos de

comportamentos de superprotecção (os valores médios dos itens para a subescala

superprotecção parental são 1,2 para o pai e 1,3 para a mãe). Por fim, os pais e mães da

amostra do presente estudo reportam níveis moderados a elevados de comportamentos

de encorajamento ao confronto (os valores médios dos itens para a subescala

encorajamento aos comportamentos de confronto das crianças são 2,6 para ambos os

progenitores).

Quadro 7: Pontuações médias, medianas e desvios-padrões das diferentes subescalas de

ansiedade e superprotecção parental.

Subescalas EASP

Média

Mediana

DP

Pai

Preocupação e ansiedade parental 15,30 15 7,52

Superprotecção parental 8,58 8 4,78

Encorajamento parental a comportamentos de confronto 7,70 8 2,64

Mãe

Preocupação e ansiedade parental 16,85 16 7,90

Superprotecção parental 9,34 9 4,92

Encorajamento parental a comportamentos de confronto 7,74 8 2,48

É importante salientar que os resultados revelam ausência de diferenças

significativas entre os valores médios dos pais e das mães para as subescalas de

superprotecção parental (t = -1,76, n.s) e encorajamento parental aos comportamentos

de confronto das crianças (t = 0,01, n.s). Por fim, os resultados relativos à preocupação

e ansiedade parental evidenciam uma diferença marginalmente significativa entre o

valor médio dos pais e das mães. No sentido do esperado, as mães reportam valores

Page 59: Ansiedade Na Infância

49

mais elevados de preocupação e ansiedade relacionadas com a segurança física e/ou

psicológica dos filhos (t = -1,96, p <0,05).

2. Análise do efeito das variáveis sexo e idade da criança nos níveis de

preocupação e ansiedade parental, superprotecção parental e

encorajamento parental aos comportamentos de confronto das crianças

Como se pode observar no Quadro 8, os resultados relativos aos efeitos das

variáveis, sexo e idade, da criança nas três subescalas de ansiedade e superprotecção

parental, avaliadas separadamente para o pai e para a mãe, indicam que não existe

evidência estatística para afirmar que o sexo e a idade da criança influenciam os níveis

de preocupação e ansiedade parental, superprotecção parental e encorajamento

parental aos comportamentos de confronto das crianças.

Quadro 8: Efeito das variáveis sexo e idade da criança nas subescalas de ansiedade e

superprotecção parental.

Da mesma forma, quando analisados os efeitos de interacção das variáveis sócio-

demográficas, sexo e idade da criança, nas subescalas de ansiedade e superprotecção

parental, avaliadas separadamente para ambos os progenitores, os resultados do presente

estudo revelam ausência de efeitos, significativos, de interacção para todas as

subescalas de ansiedade e superprotecção parental.

3. Análise da relação existente entre sintomatologia de ansiedade nas crianças,

avaliada por três informadores (pai, mãe e criança) e as seguintes

dimensões: (a) preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção

Page 60: Ansiedade Na Infância

50

parental e (c) encorajamento parental aos comportamentos de confronto

das crianças, avaliadas separadamente para ambos os progenitores

No Quadro 9 estão descritos os resultados das análises de correlação que procuram

explorar as associações entre a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada

separadamente para diferentes informadores, e as três subescalas de ansiedade e

superprotecção parental, avaliadas separadamente para o pai e para a mãe.

Quadro 9: Correlações (r de Pearson ou ρ de Spearman) entre as subescalas de

ansiedade e superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade

global, avaliada por três informadores (pai, mãe e criança).

Subescalas EASP Pontuação global SCARED-R

r ρ r

Pai Pai Mãe Criança

Preocupação e ansiedade parental 0,41 **** 0,16 * 0,19 **

Superprotecção parental 0,40 **** 0,27 *** 0,12

Encorajamento parental a comportamentos de confronto 0,10 0,04 0,18 *

Mãe

Preocupação e ansiedade parental 0,25 ** 0,45 **** 0,15 *

Superprotecção parental 0,21 ** 0,38 **** 0,17 *

Encorajamento parental a comportamentos de confronto 0,20 * 0,25 **** 0,01

*p<0,05; **p<0,01; ***p<0,005; ****p<0,001

Como se pode observar no Quadro 9, todas as correlações são positivas, na sua

maioria de magnitude pequena a moderada, quando a sintomatologia de ansiedade nas

crianças é avaliada pelos progenitores. No caso das associações entre as subescalas de

ansiedade e superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade nas crianças,

avaliada pelas próprias, as correlações são de pequena magnitude, embora

estatisticamente significativas.

Os resultados demonstram que existe uma correlação positiva, de magnitude

moderada, entre a subescala de preocupação e ansiedade do pai e a sintomatologia de

ansiedade nas crianças, avaliada pelos pais. Assim sendo, observa-se que quanto maior

são os níveis de preocupação e ansiedade dos pais, maiores são os indicadores de

sintomatologia de ansiedade nas crianças, tal como percepcionados pelos pais. No caso

das correlações entre a subescala de preocupação e ansiedade do pai e sintomatologia de

Page 61: Ansiedade Na Infância

51

ansiedade nas crianças, avaliada pelas mães e pelas próprias crianças, as associações são

de magnitude baixa, embora significativas.

Verifica-se igualmente uma associação positiva, de magnitude moderada, entre a

superprotecção do pai e a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada pelo

progenitor. Quando a sintomatologia de ansiedade é avaliada pelas mães, observa-se

uma associação positiva de pequena magnitude, embora estatisticamente significativa.

Sendo assim, os resultados indicam que quanto maiores os níveis de superprotecção dos

pais, maiores os indicadores de sintomatologia de ansiedade nas crianças, quando

avaliados por ambos os progenitores. Por sua vez, não se verifica qualquer associação

entre a superprotecção dos pais e a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada

pelas próprias crianças.

De igual forma, não é possível observar qualquer relação entre o encorajamento

dos pais aos comportamentos de confronto e a sintomatologia de ansiedade nas

crianças, avaliada por ambos os progenitores. No caso da associação entre o

encorajamento dos pais aos comportamentos de confronto e a sintomatologia de

ansiedade nas crianças, avaliada pelas próprias, constata-se que existe uma associação

de pequena magnitude, embora significativa.

No que refere às associações entre a subescala de preocupação e ansiedade da mãe

e a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada pela própria mãe, verifica-se que

existe uma correlação positiva, de magnitude moderada entre as variáveis. Assim, os

resultados sugerem que quanto maior a preocupação e ansiedade da mãe, maior a

sintomatologia de ansiedade nas crianças, quando avaliada pela própria mãe. Pelo

contrário, quando a sintomatologia de ansiedade nas crianças é avaliada pelo pai e pela

criança, observa-se uma correlação positiva fraca, embora estatisticamente significativa,

entre a preocupação e a ansiedade da mãe e a sintomatologia de ansiedade nas crianças.

Do mesmo modo, podemos observar correlações positivas de baixa magnitude,

embora estatisticamente significativas, entre a sintomatologia de ansiedade nas crianças,

quando avaliada pelo pai e pela própria criança, e os níveis de superprotecção das

mães. Uma vez analisadas as correlações entre os comportamentos de superprotecção

das mães e a sintomatologia de ansiedade nas crianças, tal como percepcionada pelas

progenitoras, verifica-se uma correlação significativa de magnitude moderada entre as

variáveis. Assim, os resultados sugerem que níveis elevados de superprotecção materna

estão associados a níveis mais elevados de sintomatologia de ansiedade nas crianças,

avaliada pelos três informadores.

Page 62: Ansiedade Na Infância

52

Relativamente ao encorajamento das mães aos comportamentos de confronto das

crianças, verifica-se uma correlação positiva de pequena magnitude, embora

estatisticamente significativa, entre esta subescala e a sintomatologia de ansiedade nas

crianças, avaliada pelo pai e pela mãe. Em contrapartida, não foi verificada qualquer

relação entre a sintomatologia de ansiedade nas crianças, avaliada pelas próprias, e os

comportamentos maternos de encorajamento ao confronto.

4. Análise da relação existente entre as dimensões das Perturbações de

Ansiedade de maior prevalência na infância9, avaliadas por três

informadores (pai, mãe e criança) e as seguintes dimensões: (a)

preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção parental e (c)

encorajamento parental a comportamentos de confronto, avaliadas

separadamente para ambos os progenitores

No Quadro 10 são apresentadas as correlações entre as subescalas de ansiedade e

superprotecção parental, avaliadas separadamente para o pai e para a mãe, e as

subescalas relativas às Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na infância,

avaliadas pelo pai, mãe e criança.

Quadro 10: Correlações (de r de Pearson ou ρ de Spearman) entre as subescalas de

ansiedade e superprotecção parental e as subescalas relativas às

Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na infância, avaliadas por

três informadores (pai, mãe e criança).

9 Fobia Específica, Perturbação de Ansiedade de Separação, Perturbação de Ansiedade Generalizada e

Fobia Social

Page 63: Ansiedade Na Infância

53

Como se pode observar, todas as associações são positivas, excepto a associação

entre o encorajamento dos pais a comportamentos de confronto e a sintomatologia de

ansiedade característica da Fobia Específica, avaliada pela mãe, que apresenta uma

correlação negativa, embora não significativa.

Os resultados das análises revelam que existe uma correlação positiva, de

magnitude moderada, entre a subescala de preocupação e ansiedade do pai e a

sintomatologia de duas das Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na

infância: Perturbação de Ansiedade de Separação e Perturbação de Ansiedade

Generalizada, quando avaliadas pelo pai. Observa-se igualmente uma correlação

positiva, de pequena a moderada magnitude, entre a preocupação e ansiedade do pai e a

sintomatologia de ansiedade característica da Fobia Específica. Quando a

sintomatologia de ansiedade é avaliada pela criança, verifica-se uma correlação positiva

e estatisticamente significativa, no entanto de baixa magnitude, entre os

comportamentos de preocupação e ansiedade do pai e a sintomatologia característica da

Fobia Específica, da Perturbação de Ansiedade de Separação e da Perturbação de

Ansiedade Generalizada. Em contrapartida, não se observa qualquer correlação,

estatisticamente significativa, entre a preocupação e ansiedade do pai e a sintomatologia

característica das Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na infância,

avaliadas pelas mães.

Relativamente às associações entre a subescala de superprotecção do pai e as

quatro dimensões relativas às Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na

infância, os resultados sugerem que existe uma associação positiva e estatisticamente

significativa, de magnitude moderada, entre os comportamentos de superprotecção do

pai e a sintomatologia da Perturbação de Ansiedade de Separação, avaliada pelo

progenitor. Da mesma forma, verifica-se uma associação positiva, no entanto de

pequena magnitude, embora significativa, entre os comportamentos de superprotecção

do pai e a sintomatologia da Fobia Específica, da Perturbação de Ansiedade

Generalizada e da Fobia Social, avaliadas pelo pai. Quando os problemas de ansiedade

são avaliados pelas mães, observa-se uma correlação positiva, de pequena magnitude,

entre os comportamentos de superprotecção do pai e a sintomatologia da Fobia

Específica e da Fobia Social. Em contrapartida, quando os problemas de ansiedade são

avaliados pelas próprias crianças, os resultados revelam ausência de correlações

estatisticamente significativas entre os comportamentos de superprotecção dos pais e a

sintomatologia de ansiedade característica de diferentes Perturbações Ansiosas.

Page 64: Ansiedade Na Infância

54

A subescala referente ao encorajamento dos pais ao comportamento de confronto

das crianças apresenta uma correlação positiva, de baixa magnitude, com a

sintomatologia da Perturbação de Ansiedade Generalizada, avaliada pelo pai. Por sua

vez, não se verificou qualquer associação entre o encorajamento dos pais ao

comportamento de confronto da criança e a sintomatologia das quatro Perturbações de

Ansiedade, quando avaliadas pelas mães. Quando os problemas de ansiedade são

avaliados pelas crianças, verifica-se que existe uma correlação positiva, de pequena

magnitude, entre o encorajamento dos pais ao comportamento de confronto da criança e

a sintomatologia da Fobia Específica, da Perturbação de Ansiedade Generalizada e da

Fobia Social.

No que diz respeito às associações entre a subescala de preocupação e ansiedade

da mãe e a sintomatologia de ansiedade relativa às Perturbações Ansiosas de maior

prevalência na infância, verifica-se que existe uma correlação positiva de baixa

magnitude, embora estatisticamente significativa, entre a preocupação e a ansiedade das

mães e a sintomatologia de ansiedade para a maioria das dimensões consideradas.

Observa-se igualmente que a sintomatologia da Perturbação de Ansiedade de Separação

e da Perturbação de Ansiedade Generalizada, quando avaliadas pela mãe, se encontram

correlacionadas positiva e moderadamente com a preocupação e ansiedade das

progenitoras. Apenas não se verificam associações significativas entre a preocupação e

ansiedade das mães e a sintomatologia da Fobia Específica, avaliada pelo pai, e entre a

preocupação e ansiedade das progenitoras e a sintomatologia característica da

Perturbação de Ansiedade Generalizada, quando avaliada pelas crianças.

Analisadas as associações entre os comportamentos de superprotecção das mães e

as manifestações sintomatológicas referentes às Perturbações de Ansiedade

consideradas, avaliadas pelo pai, mãe e criança, constata-se que existe uma relação

positiva, de pequena magnitude, entre a superprotecção materna e a grande maioria das

dimensões das Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na infância. Apenas não

se verificam associações entre a superprotecção das mães e a sintomatologia de

ansiedade da Perturbação de Ansiedade Generalizada e da Fobia Social, avaliadas pelo

pai e entre os comportamentos de superprotecção das mães e a sintomatologia da

Perturbação de Ansiedade Generalizada, avaliada pela criança.

Finalmente, os resultados sugerem que os comportamentos de encorajamento das

mães aos comportamentos de confronto das crianças apresentam correlações positivas

de pequena magnitude, embora estatisticamente significativas, com a sintomatologia

Page 65: Ansiedade Na Infância

55

característica da Fobia Específica e da Perturbação de Ansiedade de Separação,

avaliadas pelo pai e pela mãe e, ainda, com a sintomatologia da Perturbação de

Ansiedade de Separação, avaliada pela mãe. Quando as manifestações ansiógenas foram

avaliadas pela criança, não se verificou qualquer correlação entre os comportamentos de

encorajamento das mães aos comportamentos de confronto dos filhos e a sintomatologia

das quatro Perturbações de Ansiedade consideradas.

Em conclusão, podemos afirmar que as subescalas de ansiedade e superprotecção

parental apresentam, na sua maioria, associações positivas e significativas com as

manifestações sintomatológicas das Perturbações de Ansiedade de maior prevalência na

infância, considerando diferentes informadores.

No sentido do esperado, o padrão de correlações entre as subescalas de ansiedade e

superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade nas crianças varia em função

do domínio de sintomatologia avaliado e do tipo de informador. Constata-se que existe

uma maior consistência entre as informações fornecidas pelo mesmo informador (intra-

informadores) comparativamente às provenientes de informadores distintos (inter-

informadores). É também possível observar que as subescalas de ansiedade e

superprotecção parental parecem estar relacionadas preferencialmente com a

sintomatologia de ansiedade característica da Fobia Específica, da Perturbação de

Ansiedade de Separação e da Perturbação de Ansiedade Generalizada.

Page 66: Ansiedade Na Infância

56

CAPÍTULO IV – SÍNTESE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo é feita uma síntese e discussão dos resultados com base na revisão de

literatura efectuada, particularmente, nos modelos teóricos que fundamentam e

enquadram a presente investigação.

Mantendo uma coerência com a estrutura seguida na apresentação dos resultados,

as conclusões do estudo são apresentadas de acordo com a sequência dos objectivos de

investigação formulados. Na última parte deste capítulo são descritos os principais

aspectos e contribuições do estudo, abordando brevemente as suas limitações e

sugerindo pistas para investigações futuras.

1. Análise das diferenças entre mães e pais quanto à preocupação e ansiedade

parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças

As mães e os pais podem adoptar comportamentos e atitudes diferentes no

desempenho de determinadas funções parentais (Bogels & van Melick, 2004). No

entanto, a maioria dos estudos não analisa o comportamento do pai e a sua influência no

ajustamento da criança (Bogels & Phares, 2008). Assim sendo, a presente investigação

procurou perceber se existem diferenças entre mães e pais quanto à preocupação e

ansiedade parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto da criança.

No presente estudo não foram encontradas diferenças significativas entre ambos os

progenitores no que refere aos comportamentos de superprotecção e de

encorajamento parental aos comportamentos de confronto das crianças. Estes

resultados não são consistentes com os de outros estudos (e.g. Bogels & Phares, 2008;

Paquette, 2004; Popenoe, 1999) que verificam que é o pai, comparativamente à mãe,

quem encoraja mais a criança a adoptar comportamentos de confronto e que a mãe

revela níveis mais elevados de controlo parental.

O facto de ambos os pais reportarem níveis baixos de comportamentos de

superprotecção e níveis moderados a elevados de comportamentos de encorajamento ao

confronto pode ser explicado de diferentes formas. Pode reflectir uma distorção da

percepção dos participantes, relativamente ao seu próprio comportamento, como forma

de minimizar a manifestação de comportamentos de superprotecção ou como forma de

maximizar a adopção de comportamentos de encorajamento ao confronto. Como os

Page 67: Ansiedade Na Infância

57

comportamentos dos pais de superprotecção e de encorajamento aos comportamentos de

confronto da criança foram avaliados exclusivamente através de um questionário de

auto-relato, os pais da nossa amostra podem ter respondido numa direcção favorável

como forma de representar um papel que julgam ser o mais adequado ou desejável na

relação entre pais e filhos.

Uma outra hipótese que pode contribuir para a explicação destes resultados é o tipo

de amostra da presente investigação. O recurso a uma amostra comunitária permite-nos

considerar a percepção de indivíduos com diferentes níveis de in(adaptação). É portanto

compreensível que a maioria dos pais e das mães do presente estudo reportem baixos

comportamentos de superprotecção e moderados a elevados comportamentos de

encorajamento ao confronto. Uma vez que esta investigação não recorre a uma amostra

clínica, que seria representativa no que diz respeito às características da própria

perturbação em causa, é expectável que os comportamentos dos pais e das mães

reflictam níveis de funcionamento adaptativo.

Sendo assim, a ausência de diferenças significativas entre os comportamentos dos

pais e das mães pode efectivamente corresponder a comportamentos reais dos pais,

sugerindo que ambos os progenitores adoptam comportamentos e atitudes relativamente

semelhantes e que, actualmente, tendo em conta a tendência para a progressiva

atenuação dos papéis de género mais tradicionais, não há uma diferença significativa

entre pais e mães relativamente aos comportamentos de superprotecção e de

encorajamento aos comportamentos de confronto das crianças.

Relativamente à dimensão de preocupação e ansiedade parental verificou-se uma

diferença marginalmente significativa entre o valor médio dos pais e das mães. No

sentido do esperado, replicando os resultados encontrados por outros estudos (e.g.

Bogels & van Melick, 2004), as mães da nossa amostra reportam valores mais elevados,

comparativamente aos pais, de preocupação e ansiedade relacionadas com a segurança

física e/ou psicológica dos filhos. Esta diferença de natureza cognitiva poderá estar

relacionada com o facto de existir uma maior prevalência de ansiedade nas mulheres

(McLean, Asnaani, Litz & Hofmann, 2011).

É importante realçar que esta diferença, de natureza cognitiva, entre pais e mães

não se traduz numa diferença comportamental entre os progenitores, nomeadamente em

maiores comportamentos de superprotecção materna. À partida, de acordo com o

modelo de Rapee (2001), seria de esperar que as mães ao se percepcionarem como mais

preocupadas e ansiosas do que os pais se avaliassem como sendo mais superprotectoras.

Page 68: Ansiedade Na Infância

58

No entanto, embora se verifique maiores níveis de superprotecção nas mães,

comparativamente aos pais, esta diferença não é significativa. Este resultado poderá

estar relacionado com o facto do nosso instrumento de recolha de dados não ser sensível

a diferenças comportamentais de género. A Escala de Ansiedade e Superprotecção

Parental utilizada nesta investigação, sendo um instrumento de auto-relato, poderá ser

mais indicada para avaliar dimensões cognitivas, uma vez que permite o acesso ao

conhecimento de aspectos de natureza mais interiorizada do funcionamento que não são

fáceis de avaliar por um observador externo. No entanto, a utilização de metodologias

qualitativas poderá ser mais adequada para avaliar as dimensões comportamentais. Seria

de todo conveniente a conjugação de metodologias de recolha de dados qualitativas (e.g.

observação naturalista das interacções entre pais e filhos e entrevistas aos pais) para que

pudéssemos averiguar se realmente existem diferenças significativas entre os

comportamentos dos pais e das mães ou se os resultados desta investigação reflectem

meramente lacunas da metodologia de recolha de dados utilizada.

2. Análise do efeito das variáveis sexo e idade da criança nos níveis de

preocupação e ansiedade parental, superprotecção parental e

encorajamento parental aos comportamentos de confronto das crianças

Belsky (1984) defende que o comportamento parental faz parte de um processo

transaccional que não só influencia o desenvolvimento da criança como é influenciado

pelas características individuais da mesma. Assim, adoptando uma perspectiva sistémica

e transaccional, esta investigação procurou analisar o efeito da idade e do sexo da

criança nos níveis de preocupação e ansiedade parental, superprotecção parental e

encorajamento parental aos comportamentos de confronto da criança, avaliados

separadamente para ambos os progenitores.

Ao contrário de alguns estudos (Rubin, Coplan & Bowker, 2009; Barber, Maughan

& Olsen, 2005; Connell & Goodman, 2002; Hudson & Rapee, 2002) que defendem que

o comportamento parental pode variar em função da idade da criança, os resultados

desta investigação indicam que não há evidência estatística para afirmar que a idade da

criança influencia as dimensões parentais avaliadas. A literatura empírica produzida a

este respeito tem sugerido que os comportamentos de controlo parental (que incluem

comportamentos que visam o controlo das acções das crianças e comportamentos de

superprotecção) diminuem com o aumento da idade da criança No entanto, na presente

investigação não se observou uma diferença significativa no comportamento parental

Page 69: Ansiedade Na Infância

59

em função dos dois grupos de idades considerados. Uma hipótese que pode contribuir

para a explicação deste resultado é o facto de ambos os grupos de idades serem muito

próximos entre si e integrarem o mesmo período de desenvolvimento. Isto é, as crianças

de ambos os grupos de idade muito provavelmente evidenciam as mesmas necessidades

de protecção e os mesmos níveis de maturidade, autonomia e independência. Assim, os

pais das crianças de ambos os grupos de idade tendem a intervir de um modo muito

semelhante, uma vez que os seus filhos evidenciam as mesmas necessidades de

protecção e as mesmas competências para lidar com as tarefas desenvolvimentistas que

lhes são impostas. Importa salientar que este resultado poderia ser melhor explicado se

tivéssemos em consideração dois grupos de idades correspondentes a duas etapas de

desenvolvimento distintas, como por exemplo a idade escolar e a adolescência. É

compreensível que com o avançar da idade, as tarefas de desenvolvimento dos

indivíduos se tornem cada vez mais complexas, reflectindo diferentes domínios de

competência. A adolescência é um período de desenvolvimento onde o jovem se

autonomiza dos pais, privilegiando as relações com os pares, e no qual ocorre uma

maior maturação cognitiva, emocional e social (Papalia, Olds & Feldman, 2001). Como

tal, seria expectável que os adolescentes fossem alvo de menos comportamentos de

superprotecção, comparativamente às crianças em idade escolar, uma vez que com o

avançar da idade os indivíduos se tornam capazes de utilizar estratégias de coping que

requerem um processo cognitivo mais sofisticado e um menor apoio dos pais para lidar

com acontecimentos indutores de stress (Losoya, Eisenberg & Fabes, 1998).

Os resultados relativos aos efeitos do sexo da criança nas três dimensões de

ansiedade e superprotecção parental, avaliadas separadamente para o pai e para a mãe,

revelam que não existe evidência estatística para afirmar que o sexo da criança

influencia os níveis de preocupação e ansiedade parental, superprotecção parental e

encorajamento parental aos comportamentos de confronto das crianças.

Assim sendo, embora alguns estudos tenham verificado que os pais percepcionam

as filhas como sendo mais frágeis do que os filhos (Laflamme, Pomerleau & Malcuit,

2002) e que as raparigas se diferenciam dos rapazes relativamente à ansiedade,

relatando níveis gerais mais elevados do que os rapazes (Spence, 1998), o que poderia

indicar que as dimensões parentais avaliadas apresentassem valores mais elevados para

as crianças do sexo feminino, no presente estudo o comportamento das mães e dos pais

não difere significativamente em função do sexo da criança.

Page 70: Ansiedade Na Infância

60

Este resultado pode ser explicado de diferentes formas. Pode efectivamente indicar

que os comportamentos dos pais e das mães não diferem em função do sexo da criança,

sugerindo que na sociedade actual as diferenças no comportamento parental que

decorrem dos papéis de género mais tradicionais tendem a ser menos salientes. Por

outro lado, a inconsistência entre os resultados do presente estudo e os das investigações

anteriormente mencionadas pode dever-se à forma como as dimensões do

comportamento parental são definidas e operacionalizadas, à natureza da amostra e às

metodologias de recolha de dados utilizada pelos estudos. Isto é, os estudos que revelam

que o sexo da criança influencia as atitudes e os comportamentos parentais adoptam um

conceito lato de comportamento parental, que envolve uma grande diversidade de

comportamentos, que dificulta a comparação dos resultados. Esta dificuldade de análise

poderá advir igualmente da existência de uma grande diversidade nas características das

amostras (e.g. faixas etárias distintas e população clínica e não clínica) e nas

metodologias de recolha de dados utilizadas pelos estudos (e.g. utilização da observação

naturalista das interacções entre pais e filhos e instrumentos de avaliação da percepção

do comportamento parental por parte dos pais e das crianças).

Em conclusão, os resultados relativos aos efeitos das variáveis sexo e idade da

criança nas três dimensões de ansiedade e superprotecção parental, avaliadas

separadamente para ambos os progenitores, indicam que não existe evidência estatística

para afirmar que o sexo e a idade da criança influenciam os níveis de preocupação e

ansiedade parental, superprotecção parental e encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças. Uma hipótese que pode contribuir para a

explicação deste resultado é o facto destas variáveis não influenciarem directamente o

comportamento parental, sugerindo que os efeitos da idade e do sexo da criança podem

variar dependendo da sua conjugação com outras variáveis que influenciam o

comportamento parental, como características dos pais (e.g. presença de

psicopatologia), características individuais das crianças (e.g. temperamento inibido) e

recursos contextuais de stress (e.g. conflito conjugal).

Da mesma forma, quando analisados os efeitos de interacção das variáveis sócio-

demográficas, sexo e idade da criança, nas dimensões de ansiedade e superprotecção,

avaliadas separadamente para ambos os progenitores, não foram verificados efeitos de

interacção para todas as dimensões de ansiedade e superprotecção parental.

Page 71: Ansiedade Na Infância

61

3. Análise da relação existente entre sintomatologia de ansiedade nas crianças,

avaliada por três informadores (pai, mãe e criança) e as seguintes

dimensões: (a) preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção

parental e (c) encorajamento parental aos comportamentos de confronto

das crianças, avaliadas separadamente para ambos os progenitores

O interesse sobre a relação entre o comportamento parental e o desenvolvimento e

manutenção de ansiedade na infância tem vindo a crescer nas últimas duas décadas (ver

por exemplo McLeod et al., 2007; Wood et al., 2003). Várias dimensões do

comportamento parental têm sido apontadas como estando relacionadas com a

ansiedade (e.g. superprotecção parental, ansiedade parental, encorajamento parental aos

comportamentos de evitamento da criança, controlo parental e insegurança na

vinculação). De um modo geral, de acordo com a literatura revista, existe uma relação

positiva entre a parentalidade negativa e ansiedade na infância (McLeod, Wood et al.,

2007; Rappe, 1997). Assim sendo, um dos grandes objectivos deste estudo foi analisar a

relação existente entre a sintomatologia de ansiedade das crianças, avaliada por três

informadores, e as seguintes dimensões: (a) preocupação e ansiedade parental; (b)

superprotecção parental; (c) encorajamento parental aos comportamentos de confronto

das crianças, avaliadas separadamente para ambos os progenitores.

De uma forma geral, os resultados do presente estudo reforçam as conclusões de

investigações anteriores (Bogels & Melick, 2004; Hudson & Rapee, 2001; 2002; Rapee,

2009; Siqueland et al., 1996; Bruggen et al., 2010), na medida em que indicam que

existe uma relação positiva entre a ansiedade e superprotecção parental e a

sintomatologia de ansiedade nas crianças.

Os resultados mostram também que o padrão de correlações entre as dimensões

parentais avaliadas e a ansiedade nas crianças difere em função do tipo de informador.

Observam-se associações positivas de magnitude pequena a moderada quando a

ansiedade da criança é avaliada pelos progenitores. Pelo contrário, quando a

sintomatologia de ansiedade é avaliada pela própria criança, verificam-se associações

positivas, mas todas de pequena magnitude. O facto de termos verificado que o padrão

de correlações é variável entre informadores vem chamar à atenção para a importância

de considerarmos a percepção de diferentes interlocutores na avaliação do

funcionamento adaptativo da criança. Tal facto justifica-se, uma vez que a avaliação e

intervenção clínica com crianças envolve a participação de diferentes interlocutores

Page 72: Ansiedade Na Infância

62

(pai, mãe e criança). É importante referir, ainda, que os resultados das correlações intra-

informadores apresentam uma magnitude mais elevada do que os resultados inter-

informadores. Uma explicação para este resultado poderá estar relacionada com o facto

das informações provenientes de um só informador poderem criar um problema de

método de variância comum que pode conduzir à inflação das relações entre as

dimensões parentais avaliadas e a sintomatologia de ansiedade nas crianças (Galambos

et al., 2003).

Considera-se que mais importante do que a consistência do padrão de correlações é

a riqueza de informação recolhida através da percepção de diferentes informadores. O

recurso a uma fonte de informação não substituiu o recurso a outra fonte. A informação

proveniente de múltiplos informadores tem a vantagem de apresentar uma visão mais

completa e precisa sobre o sujeito ou a dimensão em análise, podendo cada informação

ser validada e/ou complementada pela informação proveniente de outros informadores.

No que refere às associações entre a preocupação e ansiedade parental e a

sintomatologia de ansiedade nas crianças, os resultados da presente investigação

indicam que quanto maiores os níveis de preocupação e ansiedade dos pais, maiores os

indicadores de sintomatologia de ansiedade nas crianças. Este resultado replica os

resultados encontrados por outros estudos (Hudson & Rapee, 2004; Whaley et al., 1999;

Silverman & Nelles, 1988) e pode ser explicado de diferentes formas. Pode estar

relacionado com facto dos genes constituírem um factor de risco para o

desenvolvimento de ansiedade. De acordo com Turner e colaboradores (1987), as

crianças filhas de pais com Perturbação de Ansiedade apresentam uma maior

probabilidade (5 vezes mais) de desenvolver uma perturbação deste tipo, em

comparação com as crianças filhas de pais sem qualquer patologia. Segundo Barlow

(2000), os factores genéticos contribuem para a expressão de problemas de ansiedade,

explicando cerca de 30 a 50% da variância. Estes factores podem ser mais gerais,

predispondo a criança a uma ampla gama de Perturbações de Ansiedade ou serem mais

específicos, predispondo o indivíduo a um tipo de Perturbação de Ansiedade. O grande

consenso é que a ansiedade e as perturbações associadas, como a depressão, têm uma

base genética comum e que as diferenças específicas são melhor explicadas por outros

factores individuais, familiares e mesmo ambientais/socioculturais (Barlow, 2000).

Uma outra hipótese que pode explicar esta associação é o facto da preocupação e

ansiedade parental ter por consequência distorções cognitivas, entre elas, a

sobrestimação da probabilidade de acontecimentos ameaçadores, mas não prováveis, a

Page 73: Ansiedade Na Infância

63

percepção do mundo enquanto local ameaçador e a percepção de incapacidade da

criança para lidar com a ameaça. Estas distorções cognitivas podem, por sua vez, levar

os pais a adoptar comportamentos de evitamento face a determinadas situações ou

objectos potencialmente perigosos, como forma de evitar o desconforto emocional

gerado por estas situações.

O facto dos pais adoptarem comportamentos de evitamento, fruto de alguma

distorção cognitiva, pode, por sua vez, contribuir para o desenvolvimento e manutenção

da ansiedade (Silverman & Nelles, 1988). As crianças ao observarem o comportamento

de evitamento dos pais, perante um determinado estímulo percepcionado como

ameaçador, podem aprender, por observação, que não existe uma maneira eficaz de

resolver os problemas ou de que é impossível mobilizar estratégias de confronto

eficazes para reduzir os sintomas de ansiedade (Rachman, 1991). Assim sendo, as

crianças filhas de pais com elevados níveis de preocupação e ansiedade podem

interpretar as situações quotidianas como sendo altamente ameaçadoras e adoptar as

mesmas estratégias de confronto dos pais, neste caso estratégias de evitamento, que

contribuem para o desenvolvimento de ansiedade nas crianças (Mumme et al., 1996;

Hornik et al., 1987). Estudos empíricos têm demonstrado que os pais com elevados

níveis de ansiedade tendem a descrever os problemas como irresolúveis e perigosos e a

adoptar substancialmente estratégias de evitamento (Whaley et al., 1999; Silverman &

Nelles, 1988). Por consequência, tem sido observado que as crianças tendem a

interpretar as situações quotidianas como sendo ameaçadoras e tendem a usar

essencialmente estratégias de evitamento e de dependência que contribuem para o

aparecimento e manutenção da ansiedade (Barret, Rapee, Dadds & Ryan, 1996).

Relativamente às associações entre a superprotecção parental e a sintomatologia

de ansiedade nas crianças, os resultados da presente investigação indicam que quanto

maiores os níveis de superprotecção dos pais, maiores os indicadores de sintomatologia

de ansiedade nas crianças. Assim, de forma consistente com outros estudos (e.g.

Ginsburg & Schlossberg, 2002; Hudson & Rappe, 2001; 2002; Rappe, 1997; Siqueland,

Kendall & Steinberg, 1996; Rapee, 2009; Bogels & Melick, 2004; Bruggen, Bogels &

Zeilst, 2010), observou-se uma relação positiva entre os comportamentos de

superprotecção dos pais e a manifestação de sintomatologia de ansiedade nas crianças.

De forma a explicar a correlação entre a superprotecção parental e a ansiedade das

crianças é importante relembrar que, de acordo com Hudson e Rapee (2004), a

superprotecção parental pode ser vista segundo vários enfoques. Pode considerar-se

Page 74: Ansiedade Na Infância

64

como uma resposta dos pais à ansiedade dos filhos ou como uma expressão da própria

ansiedade dos pais. De acordo com o modelo de Rapee (2001), existe uma relação

bidireccional entre os comportamentos de superprotecção parental e a ansiedade nas

crianças. Por outras palavras, este modelo defende que é igualmente possível que a

ansiedade nas crianças incite comportamentos de superprotecção parental, ao mesmo

tempo que esta protecção excessiva (não adaptativa) pode aumentar a vulnerabilidade

da criança para o desenvolvimento de ansiedade na infância.

Quando os pais não proporcionam aos seus filhos oportunidades de confronto

perante situações adequadas ao seu nível de desenvolvimento, com o intuito de os

proteger de possíveis ameaças, muito provavelmente estão a aumentar a percepção da

criança de ameaça e a reduzir os seus sentimentos de eficácia e controlo sobre as

situações. Os pais ao transmitirem para os filhos uma visão do mundo enquanto local

ameaçador, estão a aumentar a probabilidade das crianças recorrerem a estratégias de

evitamento perante os mais diversos estímulos que as rodeiam (Taylor & Alden, 2006).

Sendo assim, uma criança que é alvo de superprotecção parental tenderá a

desenvolver maiores níveis de dependência em relação aos seus progenitores, reduzindo

as suas oportunidades de exploração do meio e de resolução autónoma de problemas.

Esta restrição de autonomia dificultará a formação de um sentimento de mestria, na

medida em que a criança disponibilizará de menos oportunidades para se percepcionar

como competente e capaz de lidar com situações temíveis. A percepção de falta de

controlo, induzida por restrições na autonomia ou pelo comportamento exploratório

reduzido, pode assim conduzir a que os medos normativos evoluam para situações

clínicas de ansiedade (Rapee, 2001).

Uma outra hipótese que pode explicar a existência de uma relação positiva entre a

superprotecção parental e a sintomatologia de ansiedade nas crianças é o facto dos

comportamentos de superprotecção parental poderem estar relacionados com uma

dificuldade dos pais em tolerar a sua própria emocionalidade negativa (Tiwari et al.,

2008). Esta baixa tolerância poderá fazer com que os progenitores evitem as situações

geradoras de emocionalidade negativa e adoptem comportamentos de superprotecção

como forma de reduzir os seus próprios níveis de preocupação e ansiedade parental ou

como forma de minimizar ou prevenir o sofrimento dos filhos (Woodruff-Borden et al.,

2002). Alguns estudos defendem, ainda, que os comportamentos de evitamento e de

superprotecção parental estão relacionados com a percepção de vulnerabilidade da

criança (Thomasgard & Metz, 1993) e com a crença negativa de que a mesma é incapaz

Page 75: Ansiedade Na Infância

65

de confrontar as situações geradoras de ansiedade (Kortlander, Kendall & Panichelli-

Mindel, 1997). Assim, os pais ao adoptarem comportamentos de superprotecção e de

evitamento limitam a concretização das tarefas de desenvolvimento normativas da

criança e aumentam a sua vulnerabilidade para o desenvolvimento e manutenção de

ansiedade.

É importante frisar que quando a ansiedade da criança foi avaliada pela própria, não

se verificou uma associação significativa entre os comportamentos de superprotecção do

pai e a sintomatologia de ansiedade da criança. Uma hipótese que poderá contribuir para

a explicação deste resultado é o facto dos comportamentos de superprotecção materna

estarem particularmente relacionados com a ansiedade da criança, quando avaliada pela

própria. Alguns estudos (e.g. Hudson & Rapee, 2002) têm defendido que os

comportamentos de superprotecção materna estão mais relacionados com a ansiedade

das crianças do que os comportamentos de superprotecção dos pais. Uma outra hipótese

que pode explicar este resultado é o facto da influência do pai neste tipo de problemas

ser melhor explicada por outras variáveis que não foram exploradas neste estudo. É de

salientar que este resultado podia ser melhor explorado se o presente estudo incluísse

outras metodologias de recolha de dados, como por exemplo a observação naturalista da

interacção entre pais e filhos, que permitissem confirmar ou infirmar a ausência de

relação entre os comportamentos de superprotecção dos pais e a sintomatologia de

ansiedade das crianças.

Relativamente às associações entre o encorajamento parental aos

comportamentos de confronto das crianças e a sintomatologia de ansiedade, no

presente estudo observou-se que o encorajamento parental aos comportamentos de

confronto das crianças está associado positivamente com a ansiedade das mesmas.

Embora este padrão de correlação varie em função do informador da ansiedade das

crianças, o que é facto é que, ao contrário do que seria de esperar, no presente estudo

verificou-se uma associação positiva entre os comportamentos de encorajamento

parental e a ansiedade das crianças.

Este resultado poderá ser explicado se pensarmos que o único método de recolha de

dados utilizado para avaliar os comportamentos de confronto dos pais foi um

questionário de auto-relato que engloba apenas três itens que não são sensíveis à forma

como o encorajamento parental é feito. Sendo assim, uma hipótese que pode explicar

esta relação positiva é o facto dos comportamentos dos pais de encorajamento ao

confronto serem inadequados e inapropriados face à etapa de desenvolvimento em que a

Page 76: Ansiedade Na Infância

66

criança se encontra ou, ainda, face aos recursos, cognitivos, comportamentais e

emocionais, que a criança dispõe. Os pais ao recorrerem a estratégias de encorajamento

ao confronto inadequadas (e.g. pressionar a criança ao confronto, ameaçar punir a

criança se não confrontar o seu medo e ridicularizar/desvalorizar os sentimentos da

criança), mesmo que em episódios de stress de pequena magnitude, podem aumentar as

auto-percepções de fraqueza e incompetência da criança que mais tarde poderão

reflectir-se em problemas de internalização (Hirshfeld-Becker & Biederman, 2002).

Este resultado remete-nos para a importância da diversidade metodológica no estudo da

relação entre o comportamento parental e a ansiedade na infância.

Outra explicação que pode contribuir para a existência de correlações positivas

entre o encorajamento parental aos comportamentos de confronto e a sintomatologia de

ansiedade da criança é o facto das crianças mais ansiosas, sem níveis clínicos, poderem

elicitar por parte dos pais um maior encorajamento ao confronto perante as situações

potencialmente ameaçadoras.

É importante realçar que a dimensão relativa ao encorajamento do pai aos

comportamentos de confronto das crianças parece estar particularmente relacionada

com a sintomatologia de ansiedade percebida pelas crianças. Este resultado vai no

sentido da evidência que sugere que são os pais, comparativamente às mães, que

encorajam mais os filhos a explorar o mundo que os rodeia e são quem ajuda mais as

crianças a confrontar as situações ansiógenas (Bogels & Phares, 2008).

4. Análise da relação existente entre as subescalas das Perturbações de

Ansiedade de maior prevalência na infância10

, avaliadas por três

informadores (pai, mãe e criança) e as seguintes dimensões: (a)

preocupação e ansiedade parental; (b) superprotecção parental e (c)

encorajamento parental aos comportamentos de confronto das crianças,

avaliadas separadamente para ambos os progenitores

A revisão de estudos efectuada mostra que a influência da superprotecção parental é

mais pronunciada no desenvolvimento de determinados quadros clínicos. Sendo assim,

o presente estudo procurou analisar a relação entre as dimensões das Perturbações de

Ansiedade de maior prevalência na infância, avaliadas por três informadores, e as

seguintes dimensões parentais: (a) preocupação e ansiedade parental; (b)

10

Fobia Específica, Perturbação de Ansiedade de Separação, Perturbação de Ansiedade Generalizada e

Fobia Social

Page 77: Ansiedade Na Infância

67

superprotecção parental; (c) encorajamento parental aos comportamentos de confronto

das crianças, avaliadas separadamente para ambos os progenitores.

De um modo geral, no presente estudo observam-se associações positivas e

significativas entre as dimensões de ansiedade e superprotecção parental e as

manifestações sintomatológicas características das Perturbações de Ansiedade de maior

prevalência na infância, considerando vários informadores. No sentido do esperado, o

padrão de correlações varia em função do domínio de sintomatologia avaliado e do tipo

de informador. Constata-se, mais uma vez, que os resultados das correlações intra-

informadores apresentam uma magnitude mais elevada do que os resultados inter-

informadores. Este resultado pode ser explicado pelo facto das maiores correlações

entre as informações provenientes de um só informador serem explicadas pelo método

de variância comum, já discutido anteriormente.

As três dimensões de ansiedade e superprotecção parental parecem estar

relacionadas preferencialmente com a sintomatologia característica da Fobia Específica,

da Perturbação de Ansiedade de Separação e da Perturbação de Ansiedade

Generalizada. No entanto, ao contrário de outros estudos (Bruch et al., 1989; Leib et al.,

2000; Spokas, 2009), na presente investigação o domínio de ansiedade que apresenta

menos associações significativas com as dimensões parentais avaliadas é o da Fobia

Social. Uma hipótese que pode contribuir para a explicação deste resultado é o facto do

Questionário de Avaliação de Perturbações Emocionais Relacionadas com a Ansiedade

em Crianças (SCARED-R) apresentar níveis baixos de consistência interna para a

dimensão da Fobia Social (Pereira et al., 2011).

É importante frisar que de forma consistente com outros estudos (e.g. Wood, 2006;

Mofrad et al., 2009), observou-se que a sintomatologia de ansiedade característica da

Perturbação de Ansiedade de Separação está correlacionada positivamente com as

três dimensões de ansiedade e superprotecção parental. A Perturbação de Ansiedade de

Separação caracteriza-se pela presença de uma ansiedade excessiva e inadequada, face

ao nível de desenvolvimento da criança, relativamente à separação, real ou imaginada,

das principais figuras de vinculação. As crianças com este quadro clínico tendem a

evidenciar um sofrimento excessivo e recorrente, face à ocorrência ou antecipação do

afastamento das principais figuras de vinculação, e uma preocupação persistente e

excessiva acerca de perigos que envolvem os pais ou a própria criança.

A associação entre a sintomatologia de ansiedade característica da Perturbação de

Ansiedade de Separação e as três dimensões de ansiedade e superprotecção parental

Page 78: Ansiedade Na Infância

68

pode ser explicada de diferentes formas. Pode estar relacionada com o facto da

superprotecção parental ter promovido uma maior dependência da criança relativamente

às figuras parentais e por isso ter criado vulnerabilidades para o medo da separação ou

da perda das figuras de vinculação. Por outro lado, esta associação poderá dever-se ao

facto das crianças com ansiedade de separação procurarem e desencadearem uma maior

protecção dos pais.

Pais superprotectores, que impedem o filho de explorar o mundo à sua volta e de

desenvolver estratégias de confronto eficazes para lidar com acontecimentos novos e

inesperados, não proporcionam aos filhos oportunidades para concretizarem tarefas

adequadas ao seu nível de desenvolvimento. Desta forma, as crianças podem não

adquirir um sentimento de controlo domínio e eficácia saudável, desenvolvendo uma

elevada dependência em relação aos pais. Estas crianças têm poucas oportunidades de

enfrentar situações autonomamente, sentindo-se apenas seguras e protegidas quando as

figuras de vinculação estão presentes. Assim, é expectável que o quadro clínico de

ansiedade de separação seja o que está mais relacionado com as dimensões parentais

porque a principal característica desta perturbação é precisamente uma ansiedade

excessiva e inadequada face à antecipação da separação ou perda das figuras de

vinculação.

Page 79: Ansiedade Na Infância

69

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse sobre as Perturbações de Ansiedade na infância tem vindo a crescer nas

últimas duas décadas (Muris, 2006). Vários estudos (ver por exemplo, Donovan &

Spence, 2000; Brakel et al., 2006; ou Muris, 2006) têm focado a etiologia destas

perturbações com o objectivo de compreender quais os factores que contribuem para o

desenvolvimento e manutenção de ansiedade e Perturbações de Ansiedade na infância.

Os factores familiares parecem desempenhar um importante papel no

desenvolvimento da criança, principalmente nos seus primeiros anos de vida (Fox et al.,

2005). Neste sentido, a literatura mais recente tem enfatizado a importância de se

considerar a influência dos progenitores, entendendo o comportamento parental

negativo como um factor de risco para o desenvolvimento de ansiedade na infância.

De entre todas as dimensões do comportamento parental, a superprotecção tem sido

apontada como tendo um papel importante no desenvolvimento de ansiedade (Rapee,

2009; Wood et al., 2003; Hudson & Rapee, 2002). Assim sendo, o presente trabalho

teve como principal objectivo o estudo da superprotecção parental, procurando

esclarecer qual a sua relação com a ansiedade em crianças em idade escolar.

Optou-se, neste trabalho, por seleccionar a faixa etária correspondente à idade

escolar, uma vez que as crianças que se encontram nesta fase de desenvolvimento estão

particularmente vulneráveis à influência dos progenitores. A relação entre pais e filhos

constitui a base referencial para todas as outras relações sociais. Cabe aos progenitores o

desafio de supervisionar e orientar as actividades da criança, de uma forma equilibrada,

para que a mesma possa explorar o mundo que a rodeia, conquistando gradualmente

autonomia em relação aos pais e desenvolvendo estratégias eficazes de resolução de

problemas (Cummings et al., 2000).

Outra justificação da escolha da idade escolar está relacionada com o facto destas

crianças apresentarem uma maturação cognitiva que lhes permite compreender e

responder de um modo fidedigno ao instrumento de recolha de dados utilizado nesta

investigação. Importa, ainda, mencionar que este estudo pode apresentar vantagens a

nível da intervenção clínica, uma vez que nesta fase de desenvolvimento o contexto das

relações pais-filhos é, de entre todos os contextos relacionais mais próximos da criança,

o que mais contribui para transmissão de informação sobre o mundo à criança. Assim

sendo, a intervenção nesta etapa de desenvolvimento torna-se mais simples porque

envolve um contexto relacional mais circunscrito.

Page 80: Ansiedade Na Infância

70

Considera-se que a presente investigação representa um contributo adicional para o

estado de arte da literatura empírica, uma vez que procurou colmatar algumas limitações

dos estudos empíricos revistos. De seguida, são enumeradas as contribuições mais

relevantes deste trabalho, abordando brevemente as principais implicações a nível da

avaliação e intervenção clínica com crianças.

Recurso a uma amostra comunitária. A presente investigação recorre a uma

amostra comunitária, o que possibilita o estudo de indivíduos com diferentes níveis de

funcionamento e adaptação. Este tipo de amostra tem também a vantagem de permitir

uma maior generalização dos resultados, dado que apenas uma minoria de crianças com

problemas emocionais é vista nos serviços de saúde mental (Koot, 1995). Deste modo, o

presente estudo constituiu uma evidência que apoia a existência de uma associação

significativa entre os comportamentos de superprotecção dos pais e ansiedade nas

crianças, o que sugere que a superprotecção parental está relacionada com a ansiedade

das crianças mesmo em populações não clínicas. Este resultado poderá indicar que um

dos aspectos que se deve ter em conta na avaliação e intervenção clínica com crianças

são os comportamentos de superprotecção dos pais, na medida em que estes estão

associados a maiores níveis de ansiedade.

A avaliação da ansiedade da criança foi realizada com recurso a diferentes

informadores - pais, mães e próprias crianças. A informação baseada em múltiplas

fontes tem a vantagem de apresentar uma visão mais completa e precisa sobre o

funcionamento da criança. Entre os diversos contextos socais, a família, particularmente

os pais, são quem passa mais tempo com os filhos, o que possibilita um maior e melhor

conhecimento sobre o funcionamento normativo e disruptivo da criança. Por sua vez, a

criança é o único informador que tem acesso a aspectos de natureza mais interiorizada

do funcionamento que não são fáceis de avaliar por um avaliador externo.

A avaliação das dimensões de ansiedade e superprotecção parental foi feita

separadamente para o pai e para a mãe. A grande maioria dos estudos recorre a um

único informador (maioritariamente a mãe) para avaliar o comportamento parental.

Embora exista um maior número de estudos sobre as relações entre mães e filhos

(Hudson & Rapee, 2001; Whaley et al., Edwards et al., 2010), cada vez mais se

considerada que o pai é uma figura igualmente significativa para a compreensão do

funcionamento adaptativo da criança. Na presente investigação observou-se que as

dimensões parentais que contribuem para a ansiedade das crianças são diferentes para a

mãe (comportamentos de superprotecção materna parecem estar particularmente

Page 81: Ansiedade Na Infância

71

relacionados com a ansiedade da criança, quando avaliada pela própria) e para o pai

(comportamentos de encorajamento ao confronto parecem estar particularmente

relacionados com a ansiedade das crianças, quando avaliada pela própria). Este dado

sugere que na avaliação e intervenção clínica com crianças, ambos os pais devem

participar no processo de avaliação e intervenção terapêutica.

Operacionalização do conceito de superprotecção parental. Na literatura revista

não existe um consenso a nível conceptual no que respeita à operacionalização da

superprotecção parental. A maioria dos estudos recorre a um conceito vasto de controlo

parental para descrever indiscriminadamente comportamentos de controlo

comportamental, controlo psicológico ou de superprotecção. Deste modo, a presente

investigação procurou contribuir para uma melhor operacionalização do conceito de

superprotecção parental, na medida em que procedeu a uma distinção entre dimensões

parentais que apesar de apresentarem componentes em comum são distintas. Ainda

neste âmbito, é importante frisar que Escala de Ansiedade e Superprotecção Parental

utilizada por esta investigação é um instrumento originalmente desenvolvido para a

população portuguesa que revela boas qualidades psicométricas e avalia

especificamente os comportamentos de superprotecção parental.

De seguida são enumeradas as principais limitações do estudo e sugeridas pistas

para investigações futuras.

Recurso a um único momento de avaliação. O presente estudo adopta um desenho

de recorte transversal que apenas fornece a informação de como as varáveis co-variam

num determinado momento. Efectivamente observou-se que os comportamentos de

superprotecção parental estão correlacionados positivamente com a ansiedade das

crianças, no entanto não é possível averiguar o sentido da causalidade destes efeitos.

Sugere-se que estudos futuros utilizem desenhos longitudinais ou experimentais de

modo a esclarecer a direcção da causalidade na relação entre superprotecção parental e

ansiedade nas crianças.

Não consideração de alguns factores que podem influenciar o comportamento

parental e a ansiedade das crianças. É importante salientar que, ao optarmos por focar

os comportamentos de superprotecção dos pais e a presença de sintomatologia de

ansiedade nas crianças, excluímos outras variáveis da família (e.g. qualidade da relação

conjugal entre o pai e a mãe e presença de psicopatologia), da criança (e.g.

temperamento e presença de ansiedade clínica) e do contexto ecológico (e.g. ocorrência

de eventos traumáticos ou stressantes) que contribuem igualmente para a compreensão

Page 82: Ansiedade Na Infância

72

da relação entre a superprotecção parental e a ansiedade na infância. Face a estas

limitações, sugere-se que estudos futuros dividam a sua amostra em grupos, clínicos e

não clínicos, de pais e crianças, de modo a percebermos se a presença de ansiedade

clínica nos progenitores e nas crianças se traduz em maiores níveis de superprotecção

parental ou em menores níveis de encorajamento parental aos comportamentos de

confronto das crianças.

Recurso a um único instrumento de avaliação. Uma das grandes limitações da

presente investigação refere-se ao uso de um único instrumento de recolha de dados,

sendo este de auto-relato. Nenhuma metodologia de recolha de dados oferece por si só

uma aproximação rigorosa à realidade, sendo preferível a combinação de diferentes

metodologias no mesmo estudo (e.g. questionários de auto-relato, observação

naturalista da interacção entre pais e filhos e entrevistas clínicas). Os instrumentos de

auto-relato, apesar de terem a vantagem de capturar a experiência subjectiva do

indivíduo, são claramente insuficientes para a realização de uma avaliação rigorosa

porque estão sujeitos a alguns enviesamentos, já discutidos anteriormente.

Em conclusão, seria importante a realização de estudos longitudinais que

englobassem várias variáveis familiares, ecológicas e contextuais, que deveriam ser

analisadas não só mediante as respostas dos indivíduos em relação à sua percepção dos

factos, mas também mediante observação directa das interacções entre pais e filhos,

principalmente em ambiente natural, e realização de entrevistas clínicas aos pais e às

crianças.

Page 83: Ansiedade Na Infância

73

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