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A N T Ó N I O G E R M A N O L I M A

A obra em apreço debruça-se sobre a formação da identidadeboavistense, pelo exame da problemática da descoberta, dopovoamento e da consequente colonização da ilha da Boavista.Aborda a formação das estruturas económicas e sociais da ilha,passando em análise os elementos económicos, como a pasto-rícia, a agricultura, o comércio e a actividade artesanal, a emer-gência da sociedade e a evolução da população.

O trabalho foca ainda as estruturas socioculturais que moldarama mentalidade da população ao longo da sua história, designa-damente a religião, o casamento e o ensino, focando as mani-festações socioculturais, como a superstição, as festas tradicio-nais, os cantos e as danças, ressaltando nuances culturais epsicossociais das quais se torna possível um melhor conheci-mento histórico-cultural da referida sociedade. A obra estudatambém a crise dos meados do século XIX, como consequên-cia, de um lado, de uma conjuntura político-económica inter-nacional desfavorável e, de outro, das fomes e das epidemias.

ANTÓNIO GERMANO LIMA

Nasceu na Ilha de Santo Antão, no dia30 de Janeiro de 1952 e, pela sua vivên-cia e ascendência, considera-se um“kabrer” de gema.

Licenciado em Pedagogia – Adminis-tração Escolar, pela Universidade deBrasília (UnB), Brasil, 1980, Douto-rou-se em História Contemporânea, pelaUniversidade Portucalense, Infante D.Henrique, Porto. É Professor Universi-tário da UNI-CV, Jubilado.

Já desempenhou várias funções, comoPresidente da Comissão Instaladora da“Comissão Nacional para a Unesco”,Diretor-geral da Edução Física e Des-portos e Director do Departamento dasCiências de Educação, do InstitutoSuperior de Educação.

No domínio da escrita, já publicou váriasobras, com destaque para:

, Praia: Spleen Edições, 1997;,

Praia, Instituto Superior de Educação,2002;

(Colectânea de textos), Praia,IEFP, 2009.

BOAVISTA:Ilha de Capitães (História e Socie-dade)BOAVISTA: Ilha da morna e do landú

Manual de Formação Pedagógicade Formadores da Formação Pro-fissional

Boa VistaSociedade e CulturaHistória, Economia,

A N T Ó N I O G E R M A N O L I M A

ANTÓNIOGERMANO

LIMA

Boa

Vista

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História, E

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Este livro teve o apoio

Boa VistaSociedade e CulturaHistória, Economia,

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Aos meus filhos e esposa Santa Indira Pina Alves Lima.

AGRADECIMENTOS

No termo deste estudo, não poderíamos deixar de expressar os nossos profundos sentimentos de reconhecimento pelos encora-jamentos e apoios recebidos e pelas amizades e apreços mani-festados, que nos animaram a prosseguir nesta árdua caminhada, mesmo nos momentos de desânimos a que algumas vezes nos sentimos tentados. Assim, a todos aqueles que, directa ou indi-rectamente, contribuíram para que este estudo se fizesse, os nos-sos mais profundos agradecimentos, pois, sem a sua prestimosa colaboração, duvidamos que o estudo chegasse a bom termo. Aos meus filhos, que sentiram e testemunharam as minhas ausên-cias e angustias. À Universidade Portucalense, por ter aceitado o nosso projecto de doutoramento e nos ter dado todo o apoio na prossecução do nosso objectivo. Ao Professor Doutor Humberto Baquero, da Universidade Portu-calense, do Porto, pela disponibilidade e total acompanhamento enquanto orientador-professor-mestre. Aos patrocinadores, Sociedade de Desenvolvimento Turístico das Ilhas da Boa Vista e Maio e a Câmara Municipal da Boa Vista, por terem contribuído para que este trabalho desse à estampa. À Livraria Pedro Cardoso por levar este trabalho para fora do âmbito académico, permitindo a sua partilha com públicos mais amplos.

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A N T Ó N I O G E R M A N O L I M A

Boa Vista

História, Economia, Sociedade e Cultura

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É expressamente proibido reproduzir, no todo ou em parte, sob qualquer forma

ou meio, NOMEADAMENTE FOTOCÓPIA, esta obra. As transgressões

serão passíveis das penalizações previstas na legislação em vigor.

Editor: Pedro Cardoso Livraria

FICHA TÉCNICA

Título: Boa Vista – História, Economia, Sociedade e Cultura

Autor: António Germano Lima

Capa: Pedro Mota

Fotografia da capa: Chaminé de Chaves – Tito Ramos

© Autor. Direitos de edição reservados à Pedro Cardoso Livraria

para edição em Língua Portuguesa

1ª Edição – Outubro de 2017.

Impressão e acabamentos: ARTIPOL – Artes Tipográficas, Lda.

ISBN: 978-989-99870-7-4

Depósito Legal: 432710/17

Tiragem: 500 Exemplares

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Lista de figuras e quadros 11

Introdução 15

PARTE I

A FORMAÇÃO DE UMA IDENTIDADE BOAVISTENSE

Capítulo 1 – A descoberta da ilha 23

1.1. O conceito do termo descobrimento 23 1.2. As razões que levaram aos descobrimentos marítimos portugueses 25 1.3. Conhecimentos anteriores das ilhas orientais de Cabo Verde 29 1.4. A descoberta da ilha da Boavista no quadro das ilhas orientais do Arquipélago

de Cabo Verde 32 1.4.1. As hipóteses sobre a descoberta das ilhas orientais de Cabo Verde 34

1.4.1.1. A hipótese sobre a autoria de Vicente Dias 34

1.4.1.2. A hipótese sobre a autoria de António de Noli 36 1.4.1.3. A hipótese sobre a autoria de Luís de Cadamosto 37 1.4.1.4. A hipótese sobre a autoria de Diogo Gomes 47

Capítulo II – O povoamento 51

2.1. A génese do povoamento da ilha da Boavista 52 2.2. A proveniência geográfica dos elementos humanos que participaram no povoamento

da ilha da Boavista 54 2.3. A presença de povos antigos na ilha da Boavista 60 2.4. O povoamento pelos portugueses 62

2.4.1. O processo de povoamento da ilha da Boavista: as doações do gado bravo 63 2.4.1.1. Primeira fase do povoamento: ocupação dos espaços geográficos da Boavista

e a formação dos primeiros núcleos de povoamento (finais do século XV aos começos do século XVI) 64

2.4.1.2. Segunda fase do povoamento ou o povoamento efectivo (começos do século XVI aos meados do século XVII) 71

2.4.1.3. A terceira fase do povoamento ou o aparecimento de outras povoações 83

2.4.2. A demarcação e limites das “povoações regulares” da ilha da Boavista 98

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Capítulo III – A administração 101

3.1. A administração régia e municipal 101 3.1.1. Dos finais dos séculos XV aos finais do século XVII 101 3.1.2. Dos finais do século XVII aos finais do XIX 104 3.1.3. Dos finais do século XIX à primeira metade do século XX 118

3.2. Organização paroquial 123 3.3. Organização militar 126

PARTE II

ESTRUTURAS ECONÓMICAS E SOCIAIS

Capítulo I – A pastorícia, a agricultura, o comércio e a actividade artesanal 137

1.1. Aspectos gerais do desenvolvimento económico da ilha da Boavista 137 1.2. A pastorícia e os produtos do gado 144

1.2.1. A vegetação e a introdução do gado bravo na Boavista 144 1.2.2. O quadro político-económico da introdução da pastorícia na ilha da Boavista 146 1.2.3. O desenvolvimento da economia do gado 147

1.3. A agricultura 158 1.3.1. Produtos hortícolas 158 1.3.2. A urzela 164 1.3.3. O algodão 170 1.3.4. A purgueira 172

1.4. A produção industrial 177 1.4.1. O sal 177

1.4.1.1. A importância do sal da ilha da Boavista 177 1.4.1.2. Exploração das salinas da ilha da Boavista 180

1.5. A pesca 188 1.6. A cal 193 1.7. O Artesanato 194

1.7.1. A tecelagem 194 1.7.2. A cerâmica 196 1.7.3. Outros artesanatos 197

1.7.3.1. Da vassoura 197 1.7.3.2. Do ceirão 197 1.7.3.3. Da corda de coco 198

1.8. A lã de origem vegetal e animal 198 1.9. O comércio e as comunicações 198

1.9.1. As importações e exportações 198

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1.9.2. Os portos, a marinhagem e o desenvolvimento do comércio 203 1.9.2.1. O Porto de Sal-Rei e os portos das costas 204 1.9.2.2. A marinhagem 210

1.10. Naufrágios e “moias-moias” 211 1.10.1. A frequência de naufrágios na Boavista 212 1.10.2. O quotidiano dos naufrágios: procedimentos institucionais e episódios caricatos 215

Capítulo II – A formação da sociedade 221

2.1. Reinóis e escravos 221 2.1.1. A sociedade boavistense: a estrutura social 222

2.1.1.1. Os colonos brancos 222 2.1.1.2. Os escravos 224 2.1.1.3. O mestiço 226

2.2. A posse dos meios de produção como factor definidor das classes sociais 228 2.2.1. Estratificação social da Boavista 229 2.2.2. A emigração: emergência de uma nova classe 231

Capítulo III – A evolução da população 235

PARTE III

ESTRUTURAS SÓCIO-CULTURAIS

Capítulo I – Mentalidade e cultura 251 1.1. Comportamentos e práticas religiosas 253

1.1.1. O sincretismo religioso na Boavista 254 1.1.2. Atitudes religiosas e supersticiosas na Boavista: Dia de todos os Santos

e Dia dos Fiéis Defuntos 255 1.1.3. Igrejas e capelas como marcos materiais da religiosidade boavistense 257

1.2. Comportamentos e práticas supersticiosas 258 1.2.1. A feitiçaria nas culturas afro-negras e europeias 258 1.2.2. A feitiçaria e a bruxaria em Cabo Verde: o caso da ilha da Boavista. 260

1.2.2.1. A feitiçaria na Boavista 261

1.3. Crendices no “mal féte” ou malefício e no “koza runhe” 268 1.3.1. O “mal féte” 269 1.3.2. O medo do Koza-runhe 270 1.3.4. Lendas e medo: o caso das vacas da “Tia Minga” 271

1.4. As manifestações sócio-culturais 272 1.4.1. Descrição das Festas Tradicionais 272

1.4.1.1. Caracterização genérica dos festejos das Festas Tradicionais 273 1.4.1.2. A cronografia das Festas Tradicionais 274

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1.5. O ritual do casamento tradicional 292 1.5.1. Da conquista ao noivado 293

1.5.1.1. Conquista e namoro 293 1.5.1.2. O pedido de casamento e o noivado 294

1.5.2. A organização dos festejos das cerimónias do casamento 294 1.5.2.1. Os preparativos 295 1.5.2.2. A oferta da bandeja e a “koladera da bandeja” 295

1.5.3. As fases cerimoniais 297 1.5.3.1. A vestimenta dos noivos 297 1.5.3.2. O “tomâ bensa” e pedido de perdão das faltas 298 1.5.3.3. Os testemunhos religioso e civil do casamento 298 1.5.3.4. O jantar 299 1.5.3.5. Os discursos 299 1.5.3.6. O baile 300 1.5.3.7. A retirada para os aposentos nupciais 300

1.5.4. O “acordar os noivos” e a comprovação da virgindade 301

1.5.4.1. A comprovação da virgindade 301 1.5.4.2. Troça do marido “runsióde” 302 1.5.4.3. A desgraça da “Lua-sem-mel” 303 1.5.4.4. Troça da Lua-sem-mel: o gracejo 304

1.5.5. Morada dos recém-casados 304 1.5.6. As bodas de prata e de ouro: o caso de uma comemoração 305

1.6. Os cantos e as danças 306 1.6.1. A morna 307

1.6.1.1. Conceitos e terminologia 307 1.6.1.2. Tentivas de explicações científicas 313 1.6.1.3. Boavista ou ilha-berço da morna: sua difusão para as outras ilhas 317 1.6.1.4. As características da morna boavistense 321 1.6.1.5. As funções da morna 327

1.6.2. O landú 328 1.6.2.1. Algumas definições do “lundu (m)” primordial 329 1.6.2.2. Origem, aculturação e difusão do “lundu (m)” primordial 330 1.6.2.3. Os espaços ilhéus do landú 334 1.6.2.4. A difusão do landú boavistense para as outras ilhas: seu desuso em Cabo Verde 338

1.7. A koladêra 339 1.7.1. Definições da “koladera” 340 1.7.2. O tambor e as suas características 341 1.7.3. Origens da koladera: uma proposta de trabalho 342

1.7.3.1. Dos batuques africanos às “koladeras” da Boavista 342 1.7.3.2. A origem do termo koladera 344

1.7.4. A koladera boavistense 344 1.7.5. Comparação entre a koladera de Boavista e o kolá das outras ilhas 347

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Capítulo II – O ensino 349

2.1. Da ladinização ao ensino da igreja ou confessional 349 2.2. A criação de escolas oficiais na Boavista 350

Capítulo III – O património construído 357

3.1. Considerações gerais 357 3.2. As habitações tradicionais da Boavista 358

3.2.1. O encontro de dois tipos de habitação em Cabo Verde: a planta circular e a planta rectangular 358 3.2.2. As habitações tradicionais e o poder sócio-económico 360 3.2.3. Os espaços económicos e a dispersão da habitação tradicional 361 3.2.4. Os tipos da habitação tradicional 362

3.2.4.1. A fusão do “funco” africano com a “choupana” portuguesa: o funco cabo-verdiano 363 3.2.4.2. Habitações de modelo arquitectónico português 364

3.2.5. Materiais e técnicas de construção das habitações tradicionais 367 3.2.6. Utilização das habitações tradicionais 369

3.3. Construções sacras: capelas e igrejas 370

PARTE IV

A CRISE DE UMA SOCIEDADE

Capítulo I – A conjuntura político-económica 377

1.1. O abandono das ilhas de Cabo Verde pela Administração colonial 377 1.2. As guerras uruguaianas: o corsário e a pirataria na Boavista 379 1.3. Revoltas de escravos e abolição do tráfico de escravos 379

Capítulo II – O declínio económico 381

2.1. A conjuntura económica: a perda comercial dos produtos exportáveis 381 2.2. A descapitalização da Boavista: os factores Manuel António Martins

e o Porto Grande de S. Vicente 382

Capítulo III – Crises, epidemias e corsos 385

3.1. Crises e fomes 385 3.2. Epidemias 395 3.3. Pirataria e corso 400

Conclusão 405

Fontes e bibliografia 419

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L i s t a d e f i g u r a s e q u a d r o s

■ FIGURAS

Figura N.º 1. As vias terrestres do comércio africano de escravos 29 Figura N.º 2. Carta de representações antigas das ilhas de Cabo Verde 30 Figura N.ª 3. Povoação-Velha 81 Figura N.º 4. Vista geral da Vila de Sal-Rei (1936) 92 Figura N.º 5. Planta da Vila de Sal-Rei (Finais do século XIX) 96 Figura N.º 6. Aspecto de uma rua movimentada de Sal-Rei (1936) 97 Figura N.º 7. Aspecto do cais do Porto de Sal-Rei (1936) 206 Figura N.º 8. Edifício da Alfandega (Meados do século XIX) 207 Figura N.º 9. Aspecto de uma rua de Sal-Rei (1936) 229 Figura N.º 10. Luta da Luia (Pegâ kéda) 283 Figura N.º 11. Dança do “Kolá San jon” (Koladera, na Boavista) 340 Figura N.º 12. Funcos da Boavista 363 Figura N.º 13. Igreja de Santa Isabel (Finais do século XIX) 373

■ QUADROS

Quadro N.º 1. Número aproximado de escravos, por ilhas (1582-1868) 56 Quadro N.º 2. Distribuição etária dos escravos na Boavista (1844) 56 Quadro N.º 3. Distribuição dos escravos por povoações da Boavista (1856) 57 Quadro N.º 4. Distribuição dos escravos por concelhos e por senhores (1860) 59 Quadro N.º 5. Proporções somáticas da população da Boavista (1731) 59 Quadro N.º 6. Proporções somáticas da população cabo-verdiana (1900-1918) 60 Quadro N.º 7. População da Boavista comparado com o número de habitantes

de Barlavento e de Cabo Verde (Finais do século XIX) 98 Quadro N.º 8. Número de eleitores por concelhos, de acordo com a Portaria de 2 de Agosto (1842) 115 Quadro N.º 9. Ilustração da dependência da ilha do Sal em relação à da Boavista 115 Quadro N.º 10. Reordenamento concelhio (1892) 118 Quadro N.º 11. Classificação dos concelhos de Cabo Verde (1917) 120 Quadro N.º 12. Reorganização territorial (1934) 122 Quadro N.º 13. Principais produtos exportados da ilha (1804-1811) 139 Quadro N.º 14. Receitas arrecadadas nas ilhas de Cabo Verde (1895-1904) 143 Quadro N.º 15. Exportação do gado vivo da Boavista, por países, 1804-1811 151 Quadro N.º 16. Produtos de gado exportados da Boavista, por países (1804-1811) 152 Quadro N.º 17. Número de cabeças de gado, por concelhos, em 1875 154 Quadro N.º 18. Valores de gado em réis por concelhos (1875) 154 Quadro N.º 19. Número de cabeças de gado do concelho da Boavista e seus valores em réis (1880) 155 Quadro N.º 20. Número de cabeças de gado, por concelhos (1885) 155

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Quadro N.º 21. Número de cabeças de gado da ilha da Boavista (1898) 156 Quadro N.º 22. Flutuação numérica de cabeça de gado na ilha da Boavista (1875-1920) 157 Quadro N.º 23. Distribuição dos terrenos da Boavista por áreas da ocupação agro-pecuária

(Até de 1965) 159 Quadro N.º 24. Principais culturas por concelho e por extensão dos terrenos disponíveis 163 Quadro N.º 25. Exportação da urzela por ilhas (1790-1799) 167 Quadro N.º 26. Exportação da urzela nas ilhas da Boavista, do Sal, Santiago e ilhas não indicadas

(1819-1826 / 1827-1836) 168 Quadro N.º 27. Exportação da urzela nos concelhos de Cabo Verde (em Kg) (1838-1840 / 1841) 168 Quadro N.º 28. Preço da urzela em réis (1790-1818) 169 Quadro N.º 29. Sementes da purgueira (1871) 174 Quadro N.º 30. Exportação de sementes da purgueira pela Alfândega da Boavista (1882-1887) 175 Quadro N.º 31. Exportação de sementes de purgueira (1881-1882 / 1892) 175 Quadro N.º 32. Áreas do cultivo da purgueira e as respectivas produções em ton. (1933) 175 Quadro N.º 33. Flutuações da exportação de sementes da purgueira (1933-1947) 176 Quadro N.º 34. Número e percentagem de marinhas de sal por famílias (Sécs. XIX / XX) 181 Quadro N.º 35. Exportação do sal da ilha da Boavista (1804-1811) 184 Quadro N.º 36. Comparação das exportações do sal das ilhas do Sal e da Boavista (1806-1831) 185 Quadro N.º 37. Comparação da exportação do sal da ilha da Boavista

com as do Sal e do Maio (1839-1873) 186 Quadro N.º 38. Espécies de peixes existentes na ilha da Boavista 188 Quadro N.º 39. Exportação do peixe seco e salgado (1901 e 1914) 192 Quadro N.º 40. Exportação da cal (1930-1957) 193 Quadro N.º 42. Número aproximado de ovelhas existentes na Boavista (1875-1920) 198 Quadro N.º 43. Valores em réis de importação e exportação por ilhas (1842-1843) 199 Quadro N.º 44. Valores da importação e da exportação (em réis) por ilhas (1842) 200 Quadro N.º 45. Número de navios por nacionalidade (1842) 201 Quadro N.º 46. Importação e exportação por alfandegas das ilhas de Cabo Verde (1872-1875) 202 Quadro N.º 47. Número de navios que aportaram Sal-Rei (1804-1811) 208 Quadro N.º 48. Movimento marítimo nos portos da Boavista (1873-1874) 209 Quadro N.º 49. Navios naufragados (1770-1897) 212 Quadro N.º 50. Estrutura somática da Boavista (1807) 223 Quadro N.º 51. Número de degredados transferidos de Santiago para a Boavista (1826-1828) 223 Quadro N.º 52. Levantamento da população na ilha da Boavista (estrutura somática) (1731) 224 Quadro N.º 53. Número de escravos na Boavista (1827-1868) 224 Quadro N.º 54. População de Cabo Verde (1834) 225 Quadro N.º 55. Distribuição de escravos na Boavista por senhores (1860) 225 Quadro N.º 56. Percentagem dos grupos somáticos na Boavista (1900-1950) 227 Quadro N.º 57. Distribuição da população por ilhas (1580) 235 Quadro N.º 58. Distribuição da população por ilhas (1650) 236 Quadro N.º 59. Distribuição da população por ilhas (1720) 237 Quadro N.º 60. Distribuição populacional, por ilhas (1800) 237 Quadro N.º 61. Número da população das ilhas de Cabo Verde (1807) 238 Quadro N.º 62. Comparação da população da Boavista com a de Cabo Verde (1827) 238

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Quadro N.º 63. População de Cabo Verde (1831) 239 Quadro N.º 64. População do Arquipélago de Cabo Verde (1832-1879) 240 Quadro N.º 65. Número aproximado de fogos e de população de todo o Cabo Verde (1834) 241 Quadro N.º 66. O número populacional e as mortes provocadas pela febre-amarela (1845-1847) 242 Quadro N.º 67. População da Boavista (1860) 243 Quadro N.º 68. Movimento da população (1871) 244 Quadro N.º 69. Movimento populacional (1872) 244 Quadro N.º 70. Mortalidade por ilhas (1872) 245 Quadro N.º 71. População da ilha da Boavista nos finais (Séc. XIX) 245 Quadro N.º 72. População da Boavista nos anos (1898-1899) 246 Quadro N.º 73. População da Boavista, por faixa etária (1898-1899) 246 Quadro N.º 74. População da Boavista (século XX) 247 Quadro N.º 75. Número de emigrantes das ilhas de Cabo Verde para os Estados Unidos

da América (1930) 319 Quadro N.º 76. Relação dos professores da ilha da Boavista por localidades e escolas (1901-1902) 354 Quadro N.º 77. Número de mortes na Boavista (1861-1864) 400

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I n t r o d u ç ã o O trabalho que se apresenta constitui, no essencial, a dissertação, com vista à obtenção do grau de

doutor, apresentada na Universidade Portucalense, em 2007. Visa o presente estudo traçar a linha histórica da Boavista, a ilha mais oriental do Arquipélago de

Cabo Verde. Temos a assinalar que a história de uma sociedade é um dos principais elementos funda-mentais de identidade de um povo, pois é ao mesmo tempo essencial e distintivo desse povo e factor primordial da construção e do conhecimento de uma sociedade, principalmente quando ela tenha sido fruto de uma colonização de longa duração, como é o caso da sociedade cabo-verdiana, colónia de Portugal durante mais de 500 anos. E dessa colonização emergiu um povo culturalmente distinto, o cabo-verdiano, que construiu uma experiência histórica singular em relação aos povos que lhe deram origem: europeus e africanos. Por isso, se quisermos compreender como vivia o povo de qualquer ilha desse arquipélago, temos de considerar, no quadro de uma abordagem holística ou de interpretação transdisciplinar e contextual, que a história desse arquipélago se desenvolveu em função dos processos culturais resultantes do encontro entre esses dois povos.

Nesse contexto, a reconstituição histórica de um espaço ilhéu como o da Boavista impôs-se-nos quando tentávamos organizar uma associação de apoio aos habitantes da referida ilha, logo após à Independência Nacional, a 25 de Julho de 1975.1 Isto porque, como país recém independente, pouca coisa sabíamos da geografia, da história e da cultura das ilhas, pois o ensino colonial era curricular e ideologicamente voltado para as realidades geográficas, históricas e culturais da então Metrópole.

Coube-nos, então desenvolver alguns temas sobre as suas dimensões histórico-culturais. Para tanto, fizemos um levantamento e alguma leitura exploratória da bibliografia disponível no Instituto do Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde, para além de pesquisas de terreno.2 Dessa primeira pes-quisa, demos conta de que a documentação disponível sobre essa ilha, embora dispersa em bibliografia variada e em vários fundos documentais, proporcionava a realização de um trabalho de maior fôlego e não apenas artigos em jornais, numa sociedade, ela mesma, então com um grande défice de estudos científicos e de indústria livreira.3

Decidimos, assim, realizar pesquisas sobre temáticas históricas e sócio-culturais da Boavista, a fim de aprofundarmos e alargarmos os nossos conhecimentos sobre essa ilha, pois cedo demos conta de que as referências bibliográficas que existiam a respeito, por um lado, careciam de uma análise mais aprofundada do passado sócio-económico e cultural da referida ilha, devido, do ponto de vista das fontes, à ausência de pesquisas de arquivos e de campo mais aprofundadas e mais originais; por outro lado, não faziam referências, umas vezes, a dimensões importantes para a compreensão da história da

(1) Os estatutos da “Associação dos Amigos da Ilha da Boa Vista – 27 de Setembro” foram oficializados pelo Boletim Oficial de

Cabo Verde. Praia: Imprensa nacional. N.º 31 (4 de Agosto de 1990). De acordo com o art.º 3.º dos referidos estatutos, a associação tinha como objectivo geral “contribuir para o desenvolvimento económico, social e cultural da Ilha da Boa Vista”.

(2) Para além da pesquisa de campo, existiam quatro arquivos locais na ilha da Boavista: o da Câmara Municipal, então denominado Secretariado Administrativo, o do Cartório Paroquial, o dos Serviços do Registo Civil e o dos Serviços da Fazenda, todos em pés-simo estado de conservação.

(3) Bibliografia como a “História Geral de Cabo Verde” (Vols. I e II, 1991 e 1995), “Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata (1460-1878)”, de António Carreira, “Subsídios para a história de Cabo Verde e Guiné (PARTES I a VI, 1899 a 1912), de Christiano José de Senna Barcellos, e “Ilha da Boa Vista, Cabo Verde”, de Josef E. Kasper (1987), assim como os fun-dos documentais, como por exemplo, o da colecção do Boletim Oficial de Cabo Verde, publicado regularmente de 1842 aos nos-sos dias, e o da Secretaria Geral do Governo da Província de Cabo Verde, constituído a partir de 1810, bibliografia e fundo esses que se revelaram relevantes para a reconstituição histórica da ilha da Boavista, pelas inúmeras e pertinentes informações que detêm sobre essa ilha, todos reunidos pelo Instituto do Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde (IAHN), criado logo após a Independência Nacional e que, a partir de 1985, procedeu ao inventário e à transferência dos documentos dos Serviços Públicos de todas as ilhas para os seus acervos. Assinalemos também que, por volta de 1980, não existiam revistas em Cabo Verde e a edi-ção de livros, então a cargo do extinto Instituto do Livro e do Disco, era escassa. E o único jornal existente na praça era o igual-mente extinto “Voz di Povo”.

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ilha, como por exemplo a administração e o património construído, e outras vezes, referiam-se de forma ligeira a aspectos não menos importante como o ensino, a formação da sociedade, entre outros. Decidimos então, por um projecto de doutoramento, o que nos exigia a procura de novas fontes, a uti-lização de novas metodologias e novas problemáticas, pois era nosso objectivo tirar a ilha da Boavista da poeira do esquecimento.

Com efeito, não obstante o papel significativo dessa ilha no contexto de Cabo Verde, não há qual-quer estudo histórico-cultural que dela extraísse os elementos relevantes para a reconstituição global do passado da sua sociedade. Este défice impede-nos de ter, consequentemente, uma visão de forma profunda e alargada da referida ilha, isto é, nas suas várias dimensões sócio-económicas, político- -administrativas, culturais e religiosas, enquanto alguma referência que se lhe tem dedicado a respeito desses domínios não é esclarecedora, porquanto carece de ser corroborada ou refutada, o que nos con-vence que o problema da investigação historiográfica referente à ilha da Boavista continua actual.

Com efeito, constatámos, por exemplo, que a bibliografia consagrada a ela não passa de escassas considerações, nomeadamente na “História Geral de Cabo Verde” (Vols. I e II, 1991 e 1995), na “Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata (1460-1878)”, de António Carreira e nos “Sub-sídios para a história de Cabo Verde e Guiné (PARTES I a VI, 1899 a 1912), de Christiano José de Senna Barcellos. Josef Kasper porém elaborou, por encomenda das então entidades oficiais, um relató-rio sobre a ilha da Boavista, posteriormente publicado em livro, sob o título “Ilha da Boa Vista, Cabo Verde”, destinado à concepção do Projecto Integrado da ilha. O relatório realça alguns aspectos sócio- -económicos, físicos e ecológicos da Boavista, sem contudo ter a pretensão de uma análise histórica aprofundada, pois se trata de um documento para servir de instrumento para a implementação de um projecto de desenvolvimento sócio-económico da Boavista.

Do ponto de vista metodológico, a bibliografia compulsada sobre a ilha da Boavista pecava ainda pela ausência de uma documentação mais abrangente, que considerasse não só documentos bibliográ-ficos mas também manuscritos, iconográficos, vestígios materiais e tradição oral. Tomámos também a consciência de que a escrita de uma história local, privilegiando uma determinada ilha, deve necessa-riamente estabelecer conexões com o todo do Arquipélago de Cabo Verde, o que pressupõe uma abor-dagem sistémica, o que falta às referidas bibliografias.

Assim, com base em toda a documentação compulsada no Instituto do Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde, pareceu-nos existir ainda um vasto campo de análise por desbravar em termos do conhecimento histórico da ilha da Boavista e é nessa medida que nos interessa equacionar um con-junto de temas que nos parecem ter merecido até agora pouca atenção por parte dos historiadores nacionais. Pouca atenção no sentido em que as questões historiográficas fundamentais não foram ainda suscitadas ao nível da reflexão crítica ou da problematização criticamente fundamentada.

Assim, ocorre-nos perguntar: como é possível deixar no perfeito desconhecimento o passado de uma ilha, como a Boavista, parte tão importante do passado económico, social, cultural e mental do Arquipélago de Cabo Verde? Que lugar deve ocupar o estudo do passado da ilha da Boavista na histo-riografia cabo-verdiana? São perguntas a que urge responder. Por isso, o nosso estudo desenvolver-se- -á na tentativa de dar uma resposta, a mais completa possível, ao referido problema, o que poderá con-tribuir para o resgate e preservação do Património Histórico-Cultural dessa ilha, e, com isso, propor-cionar às novas gerações boavistenses, e não só, elementos históricos e sócio-culturais que lhes permi-tam situar-se melhor no mundo globalizante de hoje.

Com o presente trabalho, pretendemos assim resgatar a História da ilha da Boavista. Trata-se de uma ilha onde, do arranque do seu povoamento efectivo até aos dias de hoje, criaram-se, à base de um sistema sócio-económico esclavagista, estruturas sociais, económicas e culturais, hoje seculares, cujos conteúdos simbolizam uma convivência ao longo do tempo entre grupos étnicos de diferentes origens geográficas e culturas, uma convivência originariamente nem sempre alheia a sofrimentos, a conflitos, a angústias e a esperanças.

A nossa opção metodológica obriga-nos a utilizar uma pluralidade de documentação, nomeada-mente documentos escritos, materiais e orais, pois, como sintetiza Henri-Irénée Marrou, “numa pala-vra: tudo aquilo que, na herança que resta do passado, pode ser tido por indício revelador de algo da presença, da actividade, dos sentimentos, da mentalidade do homem de outrora: tudo isso há-de entrar na nossa documentação”.1 Neste sentido, procurámos ressuscitar, de forma racional, metódica e crítica,

(1) MARROU, Henri-Irénée – “Do Conhecimento Histórico”. Trad. Henrique Barrilaro Ruas. Lisboa: Rei dos Livros, 1991, p. 76.

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os documentos de arquivos, nomeadamente dos notariados, registos civis, prediais e paroquiais, dos arquivos camarários, para além das Bibliotecas e Arquivos Públicos, locais, nacionais e estrangeiros; das fontes tradicionais de informação e cultura da historiografia local, do património construído, sem esquecer a língua cabo-verdiana, instrumento e fonte importantes para a investigação histórica. Com efeito, a língua, como forma peculiar de falar, é o meio de comunicação por excelência dos nossos antepassados, pois com ela denominavam os objectos, os lugares, as pessoas; se retratavam na sua época; referenciavam o seu mundo, exprimiam as suas emoções e as suas relações.

Nesta perspectiva documental contrariamos, assim, a linha hermenêutica que se tem seguido na historiografia cabo-verdiana, que tem primado pela documentação escrita de arquivos. Consequente-mente, tem ignorado outras fontes não menos importantes, nomeadamente a tradição oral, colecções etnográficas em museus1 e objectos e vestígios materiais ao ar livre, entre outras. Essa postura metodológica, do nosso ponto de vista, tem excluído, em grande medida, as contribuições de índole africana à reconstituição da História de Cabo Verde, sobretudo na dimensão cultural, cujo conheci-mento se baseia essencialmente na tradição oral, enquanto estratégia privilegiada de entendimento do mundo e processo organizador e disciplinar dos saberes na África Negra.

O estudo estrutura-se em quatro partes, subdivididas em onze capítulos interdependentes mas onde as leituras autónomas e de conjunto não são completamente inviáveis.

Assim, a primeira parte, sob o título “a formação de uma identidade boavistense” faremos, no pri-meiro capítulo, com base em textos oficiais, em documentos bibliográficos e dados obtidos de obser-vações de terreno, dissertação sobre o descobrimento da ilha da Boavista no quadro das ilhas orientais do Arquipélago de Cabo Verde. Com esta dissertação, tentaremos não só nos aproximar um pouco mais da autoria e da data do referido descobrimento, em relação às hipóteses e opiniões até este momento discutidas, mas também identificar subsídios que nos permitam responder com o maior rigor possível às perguntas acerca das motivações que teriam levado os portugueses quatrocentista a se fixa-rem na referida ilha.

No segundo capítulo abordará o processo de povoamento da ilha da Boavista, no qual procuraremos compreender tanto as origens primitivas da sua população como os elementos antropológicos básicos do processo de formação da sociedade boavistense.

Esta primeira parte enquadra ainda um terceiro capítulo sobre a administração, nos seus aspectos municipal, militar e eclesiástico, pois, do nosso ponto de vista, a reconstituição da história sócio-eco-nómica e cultural da ilha da Boavista passa também pela compreensão do sistema administrativo nela instituído e as suas relações com o Governo – Central, a partir da sua ocupação, no século XV.

Na segunda parte, sob o título “estruturas económicas e sociais”, debruçar-nos-emos sobre a evo-lução da economia da Boavista, a formação da respectiva sociedade e, finalmente, a evolução da população.

Assim, no primeiro capítulo, discutiremos a criação do gado e os seus produtos, como carne sal-gada e seca, peles e couros; o cultivo do algodão, apanha da urzela e cultivo de sementes da purgueira; a indústria do sal, do pescado e da cal; o artesanato da tecelagem, da cerâmica, entre outros. Disserta-remos também sobre a exportação e comércio desses produtos e tentaremos demonstrar a sua impor-tância para a ocupação, dispersão populacional e o desenvolvimento dos espaços físicos da Boavista, assim como o seu peso na decadência económica da ilha, quando deixaram de ter importância comer-cial nos mercados internacionais. Finalmente, analisaremos o papel dos portos no escoamento desses produtos e, consequentemente, no desenvolvimento do comércio e da exportação e importação.

No segundo capítulo, referente à formação da sociedade, dissertaremos sobre a evolução social, destacando alguns dos principais factores definidores da estratificação social, como os aspectos somá-ticos e a posse dos meios de produção, sobretudo quando os reinóis e os escravos se encontraram na Boavista. Com base em alguma estatística, tentaremos tipificar as classes sociais existentes na Boa-vista dos finais do século XV aos meados do século XIX, demonstrando o peso das crises e da emigra-ção.

Para a escrita do terceiro capítulo, tentaremos coordenar, mesmo que de forma breve, algumas informações estatísticas sobre a evolução da população da Boavista, dos finais do século XVI aos

(1) Aqui referimos a documentação etnográfico-museográfica, como fichas de identificação dos objectos, registos, informações

morfológicas de referência correspondentes à descrição e função dos objectos etnográficos, entre outros.

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meados do século XIX, pese embora o surgimento tardio das fontes oficias referentes às ilhas de Cabo Verde1 e a carência e pouca fidedignidade das fontes corográficas, um esforço para compreensão da evolução da população dessa ilha torna-se imprescindível, por seu turno, ao conhecimento da sua evolução sócio-económica, isto é, ao entendimento da própria história da sociedade boavistense.

Integra a terceira parte a análise das estruturas sócio-culturais, onde abordaremos, no primeiro capítulo, as manifestações religiosas e supersticiosas, como elementos culturais que ainda dominam a mentalidade do povo boavistense, moldando muito dos seus comportamentos psicossociais. Assim, referir-nos-emos, primeiro, ao sincretismo religioso e aos comportamentos religioso-supersticiosos desse povo e, segundo, às manifestações supersticiosas, pela análise da feitiçaria e da bruxaria nas suas múltiplas formas; das crendices em malefícios; do “koza-runhe” ou almas de outro mundo e dos luga-res e caminhos esconsos. Outros aspectos da mentalidade boavistense arreigados na sua cultura serão as manifestações sócio-culturais, com destaque para as Festas Tradicionais e para o ritual do casa-mento tradicional, assim como os cantos-dança,2 como a “morna”, o “landú” e a “koladera”, cuja emer-gência e desenvolvimento também analisaremos no presente capítulo, através da busca das suas bases étnicas e sócio-culturais. A difusão desses cantos-danças para as outras ilhas de Cabo Verde, espe-cialmente para as de Barlavento, será também nossa preocupação neste capítulo, destacando o papel da marinhagem boavistense como factor de difusão desses elementos culturais. As lendas não serão esquecidas, enquanto elementos que também influenciaram os comportamentos psicossociais dos boa-vistense ao longo dos tempos.

Partindo do princípio de que o ensino é um factor importante do desenvolvimento de uma socie-dade, no segundo capítulo abordaremos a instituição do ensino na Boavista, não só enquanto elemento integrante das estruturas sócio-culturais da ilha mas também por ter certamente desempenhado um papel importante na mudança da mentalidade do boavistense, desde a sua implantação na forma de ladinização até à criação de escolas regulares na ilha, nos meados do século XIX.

Um dos elementos culturais fundamentais da Boavista é o seu património construído, representa-ção da materialidade e da mentalidade do passado do referido povo. Assim, no terceiro capítulo dare-mos uma panorâmica geral do património construído dessa ilha, através dos elementos da cultura material que nos parecerem mais representativos: a habitação tradicional e a construção sacra. Esco-lhemos esses dois elementos pois, do nosso ponto de vista, reflectem mais objectivamente o percurso sócio-económico e cultural da referida ilha entre os finais do século XV e os meados do século XIX.

A quarta parte do nosso estudo reporta-se à crise de uma sociedade, com três capítulos. No pri-meiro, a conjuntura política, abordaremos os acontecimentos políticos da então metrópole, como por exemplo a transferência da Corte para o Brasil, a Revolução Liberal, a Independência do Brasil, a Guerra Civil e o abandono das ilhas de Cabo Verde por parte da Coroa Portuguesa, que contribuíram para a decadência económica da sociedade boavistense a partir dos meados do século XIX.

No segundo capítulo, sobre o declínio económico, analisaremos os factores que contribuíram para a descapitalização da ilha da Boavista, como por exemplo o povoamento das ilhas do Sal e de S. Vicente, que chamou para essas ilhas os detentores de capitais da Boavista; o aparecimento de maté-rias-primas sintéticas no mercado internacional, que provocou a desvalorização comercial dos produ-tos da terra, como a urzela e a purgueira; o desenvolvimento da indústria salineira nos países antes importadores do sal da Boavista, e as consequências das crises, dos naufrágios e das epidemias na degradação da economia da ilha.

E, no terceiro capítulo, analisaremos as crises, as epidemias, o corso e a pirataria, ressaltando as suas respectivas consequências na vida dos boavistenses, pois também contribuíram para o retrocesso sócio-económico da ilha.

(1) Neste sentido, Cf., por exemplo, CARREIRA, António – “Demografia Caboverdeana (subsídios para o seu estudo, 1807-1983)”.

Praia: Instituto Cabo-verdiano do Livro, 1985, p. 11. (2) Observemos que o canto e a dança vêm sempre associados, pelo que doravante utilizaremos a expressão “canto-dança” (canto-

-dança morna,...landú ou... “koladêra”) para descrever simultaneamente os dois elementos culturais, ou seja o canto e a dança cujas denominações são feitas através de um mesmo termo, como por exemplos: “morna” = “canto-morna” + “dança-morna”; “landú” = “canto-landú” + “dança-landú”, etc. A título de clarificação, quando utilizamos o termo “morna”, assim como a expres-são “canto-dança morna”, estamos a referir-nos simultaneamente ao canto e à dança do mesmo nome.

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A investigação histórica reclama porém uma documentação relevante. Obedecendo este sagrado princípio, para a escrita da história da ilha da Boavista, realizámos pesquisas nos seguintes arquivos e bibliotecas:

Na ilha da Boavista, consultámos os seguintes arquivos, para além de pesquisa de terreno: Cartório Paroquial de Santa Isabel, Registo Civil e Arquivos da Câmara Municipal; na Praia, ilha de Santiago, consultámos os seguintes arquivos: Instituto do Arquivo Histórico Nacional e a Biblioteca Nacional; em Portugal: Instituto do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo (IAN / TT), Bibliotecas de Lisboa (BNL), do Porto, da Universidade Portucalense e da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; no Senegal pesquisámos os seguintes arquivos: Ins-tituto Fundamental da África Negra (IFAN), Biblioteca da Universidade Cheikh Anta Diop de Dakar, Arquivo Histórico do Senegal e arquivos da ilha de Gorée; na Guiné-Bissau: o Instituto Nacional de Estudo e Património (INEP) e pesquisa de terreno em Torr, área da “Tabanka Reno”,1 uma das regiões do grupo étnico Papel, grupo esse que contribuiu significativamente para o povoamento de Cabo Verde.

(1) “Tabanka”, termo da Guiné-Bissau, que significa Aldeia, em português.

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PARTE I

A FORMAÇÃO DE UMA IDENTIDADE BOAVISTENSE

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C a p í t u l o 1

A DESCOBERTA DA ILHA Não existem estudos, parcelares ou monográficos, que indaguem ou problematizem os aspectos de

que se revestiu a descoberta da ilha da Boavista. Nem tão pouco existe uma obra acerca do modo como se processou o povoamento nem como foi exercida a colonização na ilha. As poucas referências que se colhem em uma ou outra obra dispersa, não passam contudo de conjecturas mais ou menos pro-váveis, tanto a respeito do nome do descobridor como da data da descoberta. Portanto, o político, o económico, o social e o cultural da ilha da Boavista são temas que continuam a constituir, no seu todo, uma problemática que carece de resolução pela via da investigação científica. Neste sentido, o poeta José Lopes, referindo-se a estudos científicos da etnografia cabo-verdiana, já lamentava em 1929 “[...] que mais de um amigo da Sciência se tem doído do facto de nada se ter tentado, pode dizer-se, nesse sentido”.1 Ora, um estudo aprofundado da problemática histórica cabo-verdiana, nomeadamente a rela-tiva ao descobrimento e ao povoamento, poderá fornecer-nos subsídios relevantes que, por seu turno, nos permitiriam responder às perguntas acerca das origens primitivas das populações cabo-verdianas.

Não poderíamos deixar, portanto, de tentar neste capítulo averiguar o problema do descobrimento da ilha da Boavista, afim de nos aproximarmos um pouco mais da autoria e da data do referido desco-brimento, em relação às hipóteses e opiniões até este momento discutidas, tendo sempre em mira o processo da formação da cabo-verdianidade, nomeadamente nas suas vertentes políticas, económicas, sociais e culturais. Mas, ao iniciarmos o exame de um problema que tem provocado tanta controvérsia, tanto o da descoberta da ilha da Boavista isoladamente, como o do grupo das ilhas orientais do Arqui-pélago de Cabo Verde – Sal, Boavista, Maio e Santiago –, entendemos como fundamental esboçar, antes, uma ideia, mesmo resumidamente, das linhas de força, quer no plano ideológico quer no da pra-xis, que engendraram e deram forma e dinâmica ao plano da expansão portuguesa. Procuramos com isso compreender um pouco melhor a complexa articulação da rede humana e comercial que, através do posterior sistema de povoamento e colonização, se instituiu nas ilhas de Cabo Verde. O foco da nossa abordagem será, porém, a ilha da Boavista, que constitui o universo específico de análise do nosso estudo.

Assim, antes de entrarmos na análise propriamente dita do problema da descoberta da ilha da Boa-vista, sempre no quadro das ilhas orientais, tentaremos esclarecer o significado antigo e moderno do termo “descobrimento”; evocar brevemente as razões que levaram os portugueses à empresa dos des-cobrimentos; referir a problemática gerada em torno da descoberta das ilhas orientais e as possíveis visitas às ilhas orientais de Cabo Verde por povos antigos antes da chegada dos portugueses.

1.1. O conceito do termo descobrimento

Nesta perspectiva, começamos por formular duas perguntas: o que significava “descobrimento” para os homens quatrocentistas? E qual é o seu significado moderno?

O termo “descobrimento” nem sempre teve o sentido que nos ensinaram na disciplina da História, isto é, como uma empresa nacional abrangendo ao mesmo tempo os aspectos geográficos, económi-cos, políticos, religiosos e épicos, como aprendemos na História de Portugal.

Com efeito, nos primeiros diplomas régios da época dos descobrimentos, como por exemplo a carta de privilégio concedida ao Infante D. Henrique por D. Pedro, em nome do seu sobrinho D.

(1) LOPES, José – “Arquipélago de Cabo Verde”. Boletim da Agência Geral das: Agência Geral das Colónias, N.º 43, ANO V, 1929,

p. 14. Colónias. Lisboa

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Afonso V,1 com a data de 22 de Outubro de 1443, não se utiliza o termo “descobrimento” mas sim expressões como estas: “[...] a mandar seus naujos a saber parte da terra que era alem do cabo de boja-dor por que atee Entã nõ auja njngem na cristandade que dello soubese parte2 nem sabiam se avia la poboraçã [...]”.3 Na própria crónica de Gomes Eanes de Zurara, documento coeva da época dos descobrimentos, não encontrámos o termo “descobrimento”. Pelo contrário, a expressão “saber parte” e “buscar terra” são utilizadas do princípio ao fim da referida crónica, como corolário da “vontade de saber a terra que ia além das ilhas de Canária e de um cabo que se chama do Bojador”, que sempre animara o Infante D. Henrique, pois, o príncipe andava determinado a “haver de tudo manifesta certi-dão, movendo-se a isso por serviço de Deus e de el-rei D. Duarte, seu senhor e irmão, que àquele tempo reinava”.4

Assim, da análise desses documentos entendemos que as primeiras viagens dos navegadores por-tugueses ao longo da Costa ocidental africana se destinavam exclusivamente ao reconhecimento geo-gráfico de mares e de costas marítimas africanas. Conclui-se portanto que, até aos finais do século XV, por não ser da cultura social da época, não havia, nem no espírito do Infante D. Henrique, nem no dos seus colaboradores, oficiais ou particulares, navegantes ou mercadores, a ideia de “descobrir”, no sen-tido geográfico, económico, político, religioso ou épico, atrás referido, mas sim de conhecer terras, gentes e mercadorias por eles até então desconhecidos mas que sabiam ou supunham existir algures: “o que se procura descobrir ou descobre são ‘mercadorias, ouro e outras muitas coisas”.5 O próprio Infante D. Henrique, quando emprega o termo “descobrem” na sua carta atrás referida, é no sentido económico do termo: “[...] mandando muitos navios e caravelas com meus criados e servidores, os quais, por graça de Deus, passando o dito Cabo Não avante [...] alguns recebendo morte e outros pos-tos em grandes perigos, prove a Nosso Senhor me dar certa ‘informação e sabedoria daquelas partes’ [...] além das mercadorias, ouro e outras muitas causas que de lá vêm e se ‘cada dia descobrem’ [...]”.6

Posto isso, neste trabalho a problemática do descobrimento da ilha da Boavista será abordada no sentido geográfico, económico, político, religioso e épico que é atribuído aos descobrimentos, quer na óptica do povo descobridor quer na do povo descoberto. E, na óptica deste, que ideia fazia dos desco-brimentos e dos descobridores portugueses quatrocentistas? Eis uma questão que não temos conheci-mento de ter sido alguma vez colocada ou discutida. É uma questão que se torna tanto pertinente quando se sabe que, se por um lado, como crê por exemplo José Manuel Garcia, o processo de desco-brimento contribuiu, numa perspectiva universalista, para o encontro de civilizações,7 o mesmo pro-cesso trouxe, ao mesmo tempo, aos povos ditos descobertos traumas psicológicos e sociológicos irre-versíveis, através nomeadamente das razias de escravos, nos primeiros tempos, nas “partes” africanas que os navegadores iam descobrindo e, mais tarde, com o domínio desses territórios, a instituição do tráfico intercontinental de escravos. Por isso e por coerência e respeito para com os sentimentos dos povos ditos descobertos, pomos a questão neste trabalho.

Partindo portanto dessa perspectiva, devemos previamente considerar que, enquanto para os portu-gueses quatrocentistas, recém saídos de uma crise política e económico-social com a retoma da inde-pendência nacional, particularmente com a vitória da batalha da Aljubarrota em 1385, o movimento dos descobrimentos que se lhe seguiu poderá ter um sentido revolucionário e universal, para os povos ditos descobertos de África, da América ou da Ásia certamente que o início desse movimento signifi-cará o começo de um longo calvário. Por isso, não se terão colocado no lugar de descobertos, se con-siderarmos o termo “descobrir” na sua acepção latina, isto é, derivado de “discooperire”, significando “pôr a descoberto” ou “achar o que se ignorava, desconhecido ou estava oculto”,8 mas sim de invadi- (1) Tendo em conta a menoridade do rei D. Afonso V, D. Pedro é regente do reino de 1439 a 1446. (2) O itálico é nosso. (3) “Privilégio (Carta de) ao Infante D. Henrique, em virtude do qual ninguém poderia passar além do cabo de Bojador sem seu man-

dado ou licença, [...]”, n.º 339, de 22 de Outubro de 1443, transcrita por MARQUES, João Martins da Silva (Documentos para a sua História publicados e prefaciados por) – “Descobrimentos Portugueses”. Vol. I (1147-1460). Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1988, p. 435.

(4) ZURARA, Gomes Eanes de – “Crónica dos Feitos da Guiné”. Dir. Luís de Albuquerque. Transcrição em português actual Tor-quato de Sousa Soares. Lisboa: Publicações Alfa, 1989,cap. VII, p. 24.

(5) CORTESÃO, Jaime – “Os Descobrimentos Portugueses”. Vol. II. Lisboa: Arcádia, [s.d.], p. 12. (6) Citado por CORTESÃO,... – Os Descobrimentos..., p. 11. (7) GARCIA, José Manuel – “Ao encontro dos descobrimentos: Temas de História da Expansão”. Lisboa: Editora Presença, 1994, p. 13. (8) Cf.” Diciopédia 2004”. Porto: Porto Editora, 2003 (CD).

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A N T Ó N I O G E R M A N O L I M A

A obra em apreço debruça-se sobre a formação da identidadeboavistense, pelo exame da problemática da descoberta, dopovoamento e da consequente colonização da ilha da Boavista.Aborda a formação das estruturas económicas e sociais da ilha,passando em análise os elementos económicos, como a pasto-rícia, a agricultura, o comércio e a actividade artesanal, a emer-gência da sociedade e a evolução da população.

O trabalho foca ainda as estruturas socioculturais que moldarama mentalidade da população ao longo da sua história, designa-damente a religião, o casamento e o ensino, focando as mani-festações socioculturais, como a superstição, as festas tradicio-nais, os cantos e as danças, ressaltando nuances culturais epsicossociais das quais se torna possível um melhor conheci-mento histórico-cultural da referida sociedade. A obra estudatambém a crise dos meados do século XIX, como consequên-cia, de um lado, de uma conjuntura político-económica inter-nacional desfavorável e, de outro, das fomes e das epidemias.

ANTÓNIO GERMANO LIMA

Nasceu na Ilha de Santo Antão, no dia30 de Janeiro de 1952 e, pela sua vivên-cia e ascendência, considera-se um“kabrer” de gema.

Licenciado em Pedagogia – Adminis-tração Escolar, pela Universidade deBrasília (UnB), Brasil, 1980, Douto-rou-se em História Contemporânea, pelaUniversidade Portucalense, Infante D.Henrique, Porto. É Professor Universi-tário da UNI-CV, Jubilado.

Já desempenhou várias funções, comoPresidente da Comissão Instaladora da“Comissão Nacional para a Unesco”,Diretor-geral da Edução Física e Des-portos e Director do Departamento dasCiências de Educação, do InstitutoSuperior de Educação.

No domínio da escrita, já publicou váriasobras, com destaque para:

, Praia: Spleen Edições, 1997;,

Praia, Instituto Superior de Educação,2002;

(Colectânea de textos), Praia,IEFP, 2009.

BOAVISTA:Ilha de Capitães (História e Socie-dade)BOAVISTA: Ilha da morna e do landú

Manual de Formação Pedagógicade Formadores da Formação Pro-fissional

Boa VistaSociedade e CulturaHistória, Economia,

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LIMA

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