Antologia evocativa

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Introdução e Antologia José Ribeiro Ferreira Coimbra — 2011 Dia Mundial da Poesia António Nobre João José Cochofel Camilo Pessanha Natália Correia

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Introdução e AntologiaJosé Ribeiro Ferreira

Coimbra — 2011

Dia Mundial da Poesia

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António Nobre

Camilo Pessanha

João José Cochofel

Natália Correia

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António Nobre

Camilo Pessanha

João José Cochofel

Natália Correia

António Nobre

João José Cochofel

Camilo Pessanha

Natália Correia

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António Nobre

Camilo Pessanha

João José Cochofel

Natália Correia

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Ficha técnica Título:

António Nobre, Camilo Pessanha, João José

Cochofel e Natália Correia.

Capa e Folha de Rosto:

Retratos de António Nobre, Camilo Pessanha,

João José Cochofel e Natália Correia.

Antologia:

José Ribeiro Ferreira.

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Prefácio

Esta pequena antologia evoca, embora de forma

singela, quatro poetas da literatura portuguesa. Naturalmente marcada pelo gosto de quem a fez, pretende assinalar os cento e onze anos da morte de António Nobre, os oitenta e cinco da de Camilo Pessanha, os vinte e nove da de Cochofel e os dezoito da de Natália Correia, ocorridas respectivamente em 18 de março de 1900, no primeiro dia do mesmo mês de 1926, em 14 de março de 1982 e em 16 do mesmo mês de 1993.

A antologia destina-se apenas a apoiar a sessão evocativa dos quatro poetas e comemorativa também do Dia Mundial da Poesia 2011, promovida pela ANAI – Associação Nacional de Apoio ao Idoso e pela MinervaCoimbra.

Se conseguir também incentivar a leitura da obra dos quatro poetas, a satisfação será redobrada. Aqui ficam as edições aconselhadas: para António Nobre, a edição da Poesia Completa, organizada e preparada por Fernando Pinto do Amaral, saída na Dom Quixote

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(Lisboa, 2000). Para Camilo Pessanha, a edição de Barbara Spaggiari Clepsidra e outros poemas, edição crítica, fixação do texto, introdução e notas (Porto, Lello, 1997); e a de António Barahona Clepsydra poemas de

Camilo Pessanha, posfácio e fixação do texto (Lisboa, Assírio & Alvim, 2003). Para João José Cochofel, Obra poética (Lisboa, Editorial Caminho, 1988) e a antologia Breve, organizada por Sofia Cochofel Quintela, com Prefácio de José Carlos Seabra Pereira (Lisboa, Caminho, 2010). Para Natália Correia, O Sol das Noites e o Luar dos Dias, 2 volumes (Lisboa, 1993).

Nobre e Pessanha são dois poetas que encantam, me seduzem, pela musicalidade, pela cadência, pelas imagens que nos envolvem, nos conquistam e nos arrastam em melopeia e sugestões. João José Cochofel atrai-me pela economia do poema e do verso, pela sua brevidade, pela atenção que dá às coisas simples. Natália Correia pela sua extravagância, pela sua veemência e rebeldia, pela sua vibração romântica, pelos seus laivos de surrealismo.

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Introdução

António Nobre (1867-1900), Camilo Pessanha (1867-1926), João José Cochofel (1919-1982) e Natália Correia (1923-1993) têm a sua vida ou obra ligadas a Coimbra: além de três deles aí terem estudado, Pessanha e Cochofel também na cidade do Mondego nasceram, e os poemas de Nobre fazem-lhe frequentes referências ou alusões; Natália Correia, por seu lado, era visita assídua à cidade. Acresce ainda que António Nobre, com alguns amigos e condiscípulos, aí funda a revista Boémia Nova (1 de fevereiro de 1889) que esteve nos começos do movimento simbolista em Portugal e rivalizou com a que Eugénio de Castro cria – Os Insubmissos (também de 1889).

António Nobre e Camilo Pessanha são dois poetas que me dizem muito e me fazem assídua companhia, quer no gosto que me dão de leituras frequentes, quer pelas vezes em que, sacudindo o pó, abrem o baú e batem às portas da memória. Menos João José Cochofel e Natália Correia, que entraram mais tarde na minha vivência cultural: o primeiro começa por insinuar-se-me através da estética da cidade, quando pela Casa do Arco passava e me diziam pertencer ao Poeta João José Cochofel; Natália, através das polémicas Novas Cartas

Portuguesas e depois em diversas vindas a realizações culturais na Universidade de Coimbra.

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Portada da 2ª edição de Só.

Publicada em Lisboa em 1898

A minha adolescência foi muito marcada pela leitura do Só. E aprendi de cor poemas que não mais se me varreram da memória. É o caso de “Lusitânia no Bairro Latino” que muito me impressionou pela oralidade e pelo tom lusíada, cuja primeira das três partes se inicia assim

............................... Só!

Ai do Lusíada, coitado,

Que vem de tão longe, coberto de pó,

Que não ama, nem é amado,

Lúgubre Outono no mês de Abril!

Que triste foi o seu fado!

Antes fosse pra soldado,

Antes fosse pró Brasil...

O caso de “O sono do João”: O João dorme... (Ó Maria,

Dize àquela cotovia

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Que fale mais devagar

Não vá o João acordar...)

e por aí adiante. Ou ainda o poema “Saudade” que começa:

Saudade, saudade! palavra tão triste,

E ouvi-la faz bem:

Meu caro Garrett, tu bem na sentiste,

Melhor que ninguém!

Ou então as quadras de “Para as raparigas de Coimbra”, em especial a bela e sugestiva imagem da seguinte (a segunda):

Ó choupo magro e velhinho,

Corcundinha, todo aos nós,

És tal qual meu Avozinho:

Falta-te apenas a voz.

António Nobre – António Pereira Nobre, de seu

nome completo – nasce no Porto, na rua de Santa Catarina, em 16 de Agosto de 1867, e morre aos trinta e dois anos (18 de março de 1900), também no Porto, na Foz do Douro.

Vive a sua infância e adolescência no Porto e em Trás os Montes (campos do lugar de Seixo, nos arredores de Penafiel e Lixa); também em Leça da Palmeira, que tem forte presença na sua obra. Com vinte e um anos matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra, onde um grupo de amigos, que estará na origem da criação da

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revista Boémia Nova (1889) e a que se refere no Só – entre eles Alberto de Oliveira e Mário Duarte (o ‘Mário da Anadia’), avô de Manuel Alegre – o reconcilia com o ambiente estudantil.

Em Paris, onde se matricula na Sorbonne (novembro de 1891) e onde se forma em Ciências Políticas (1895), toma contacto com a obra de Verlaine, entre outros, e compõe a maior parte dos poemas de Só –

publicado precisamente em Paris (1892) e não muito bem aceite em Portugal.

Exemplar da 1ª edição do Só, publicada em Paris, Léon

Vanier, 1892.

A tuberculose, cujos primeiros sintomas se revelam em 1893, vem a causar-lhe a morte na Foz do Douro, em 18 de março de 1900.

A poesia de António Nobre – que, tendo em conta os seus Primeiros Versos, saídos postumamente em 1921 cobre as correntes ultraromântica, simbolista, saudosista, decadentista –, em especial no Só (um dos livros marcantes da lírica do século XX), mostra a intromissão constante do discurso biográfico e aparece marcada pela lamentação e nostalgia, surge imbuída de subjectividade,

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de certo modo neutralizada por laivos de auto-ironia. Poesia que recorre com frequência ao discurso coloquial e a um fundo oral – a oralidade é de facto forte apelo estético em o autor de Só – contribui assim para tornar a escrita simbolista mais coloquial e menos pesada. Esse tom de coloquialidade – cheia de ritmos populares, musicais, livres – quebra a linguagem elevada e rebuscada do simbolismo, rompe com ele e abre caminho à modernidade.

Segundo Vitorino Nemésio, «o estilo do Só é castiço, nosso, coloquial, irredutível a outro algum» e que a poesia de Nobre é feita «de seivas nossas, romanceiro e folclore»1.

Percorre a poesia de António Nobre a noção de destino individual predeterminado, de certa fatalidade2. Nela perpassa o sentimento de tristeza, de exílio. Confessa-o eloquentemente no poema “Memória”, ao apelidar o Só «o livro mais triste que há em Portugal».

Escreve José Carlos Seabra Pereira que «o caso literário de António Nobre quase parece justificar» a tentação de «deslizar para lugares-comuns biografistas e psicologistas; considera, por outro lado, que no Só e na sua confissão coloquial de narcisismo pessimista «se subsumem egotismo e partilha emocional, sentimentalidade cúlplice e acicate alusivo, familiaridade expressiva e disfarce discursivo, decadência e escapismo,

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candura patente de clandestina ironia, terna infantilização e calculada majestade, predestinação astral e sorte desastrosa, graça e martírio, forçada solidão e corte principesca, desenraizamento e tradicionalismo, saudade e prognose, agonia e diversão pitoresca, ostentação de nostalgia e infiltração de modernidade(s), enfim crise decadentista e evasão ou alternativa neo-romântica, destino pessoal e destino de geração, de classe, de época, de nação»3

No Só de António Nobre podemos ver corporizado o dito comum de que a poesia é pintura que fala – ou pelo menos encontramo-lo presente ou subjacente: aí são frequentes o apelo a admirar e observar, as formas verbais ‘olha’, ‘vê’, ‘contempla’. Tal torna-se evidente no poema “Lusitânia no Bairro Latino”, onde esse apelo a olhar, frequente ao longo de todo o poema, abre logo duas das três partes que o constituem e cujos versos finais incitam os pintores a vir reproduzir o quadro:

Qu’ é dos Pintores do meu pais estranho,

Onde estão eles que não vêm pintar?

Ou seja, denota a consciência de que esteve a descrever como quem pinta.

A temática de Nobre percute temas como a aurea mediocritas e o bucolismo, o mito da infância e da Idade de Ouro; a memória da infância feliz, das paisagens e lugares em que viveu, das pessoas que conheceu; o desejo de regresso a esse passado feliz, mitificado – um #����������������������������������� �����&'(�������������)*$"���(���!+��������)*��

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passado pessoal perdido, devido à perda das raízes da pátria – que transforma a realidade, a avoluma, a poetiza.

Manifesta admiração por autores como Almeida Garrett e Guerra Junqueiro, em especial o primeiro, a ponto de o especificar em dois poemas – e repare-se que um deles tem o significativo título de uma das mais famosas obras do autor de Frei Luís de Sousa: “Saudade” e “Viagens na minha terra”. A primeira composição começa, como já foi citado no “Prefácio”

Saudade, saudade! palavra tão triste,

E ouvi-la faz bem:

Meu caro Garrett, tu bem na sentiste,

Melhor que ninguém!

O segundo, na antepenúltima das sextilhas que o compõem afirma

Ora, às ocultas, eu trazia,

No seio, um livro e lia, lia,

Garrett da minha paixão...

E concluímos com a seguinte afirmação de Fernando Pessoa, a respeito de Nobre: «O ingénuo panteísmo da Raça, que tem carinhos de espontânea frase para com as árvores e as pedras, desabrochou nele melancolicamente.»4

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Camilo Pessanha O

conhecimento da sua poesia foi um pouco mais tardio. Mas não deixou de me seduzir de forma profunda. E como não haveria de ser, em poeta tão melodioso, tão sem escolho, versos que se lêem ou pronunciam sem empecilho ou aspereza. E hoje moram na bagagem da lembrança muitos dos seus poemas, como “Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho”, ou o soneto que começa pela quadra

Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!...

Ou a melodiosa e sugestiva composição que começa

Chorai, arcadas Do violoncelo! Convulsionadas, Pontes aladas De pesadelo...

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Ou o poema “Ao longe um barco de flores”, cuja

primeira quadra reza assim: Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila, – Perdida voz que de entre as mais se exila, – Festões de som dissimulando a hora

Ou ainda, e para terminar, a melodiosa sequência

de tercetos que começa Voz débil que passas,

Que humílima gemes

Não sei que desgraças...

Camilo Pessanha – um dos mais importantes poetas

portugueses e a figura cimeira do nosso simbolismo – nasceu, estudou e formou-se em Coimbra, embora tenha acompanhado o pai nas suas andanças de juiz e concluído, por exemplo, a sua instrução primária em Lamego.

Grande parte da sua vida foi, porém, passada em Macau, para onde partiu em 1894; ganhou grande carinho pela cultura e arte chinesas, fez estudos sobre elas, traduziu poetas chineses. Poeta com sensibilidade aguda e delicada, a sua obra apresenta grande qualidade formal e rítmica. As cartas e textos críticos de Pessanha denotam a tentativa de afirmação da não-identidade da poesia, a primeira que se faz na literatura portuguesa – ao fim e ao cabo, a irredutibilidade da poesia à vida ou pessoa de quem escreve.

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Portada da 1ª edição de Clepsydra, com data de

1920.

E a poesia de Camilo

Pessanha é melancólica e pessimista, denota tristeza que se apega e de que se não consegue fugir; manifesta desfibramento pessoal que se traduz no devir do dia a dia, em pequenas agonias. O poeta tem consciência da fragilidade e fugacidade das coisas e da vida, da sua efemeridade. Sente que o tempo flui de forma indivisa e constante.

Os versos apresentam fonia de grande harmonia, equilíbrio e simplicidade procuradas; denotam atenção à musicalidade e cuidado rigor na colocação de cada fonema. E assim a leitura prossegue sem escolhos ou arestas.

As palavras, muito escolhidas e rigorosamente colocadas, arrastam na poesia de Camilo Pessanha um mundo ou conjunto de evocações, graças quer ao seu significado, quer ao seu timbre. Às vezes até parece que as palavras escolhidas buscam apenas a música que têm, quando associadas, como em “Chorai arcadas” (infra, p. ??); mas que de alusões e de memória insinuam! A

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música do violoncelo provoca uma sensação de melancolia, de misteriosa tristeza e de dor, sugeridas por um conjunto de imagens e associações. São «arcadas de violoncelo»; são «lemes e mastros»; são pontes de pesadelo; são barcos que se despedaçam; são «caudais de choro», ruínas, sorvedouros; são «soidões lacustres» e «urnas quebradas». Cito a primeira estrofe para vermos a musicalidade do poema:

Corai arcadas

Do violoncelo!

Convulsionadas,

Pontes aladas

De pesadelo...

Os seus temas bebem no imaginário cavaleiresco e

das caravelas, de desilusão da pátria; mas frequentam mais vezes o símbolo do paraíso perdido, da infância, da casa, de exílio do mundo, de aceitação do destino, do naufrágio do amor, da esperança e da vida ainda que reduzida a já puros resquícios e resíduos fossilizados:

Róseas unhinhas que a maré partira…

Dentinhos que o vaivém desengastara…

Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...

Na poesia de Pessanha, o prazer – como instável,

inconstante e ilusório que é – é recusado; apenas o dinâmico desejo deve ser vivido. A realização do prazer é a morte do sonho. Manifesta-o, por exemplo, um poema cheio de sugestões que começa “Se andava no jardim”: fala de visão da amada, vista em sonho num jardim,

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envolta em «cheiro de jasmim» e toda «branca do luar»; dou a parte final:

Eis tenho-a junto a mim. Vencida, é minha, enfim, Após tanto a sonhar... Porque entristeço assim?... Não era ela, mas sim (O que eu quis abraçar), A hora do jardim... O aroma de jasmim... A onda do luar...

Os olhos são, para Camilo Pessanha, a principal

fonte de conhecimento, já que a sua arte poética se nutre e constrói com base em imagens visuais, das imagens que passam na retina. Por outro lado, a água é um dos símbolos mais frequentes na sua poesia; implica ou sugere a ideia de algo que corre e passa, que flui – o fluir permanente do tempo que atormenta o poeta e marca presença assídua nos seus versos, de que é exemplo a primeira quadra do soneto “Imagens que passais pela retina” (infra, p. ):

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

Ou este trecho do soneto “Passou o Outono já, já

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torna o frio...”5: Águas claras do rio! Águas do rio, Fugindo sob o meu olhar cansado. Para onde me levais meu vão cuidado? Aonde vais, meu coração vazio? Ficai, cabelos dela, flutuando, E, debaixo das águas fugidias, Os meus olhos abertos e cismando... Onde ides a correr, melancolias?

Notou Esther de Lemos que ‘olhos’ é a palavra

mais utilizada na poesia de Camilo Pessanha, logo seguida pelo termo ‘água’ – e outros semanticamente afins (fonte, rio, curso, torrente, caudal, lago, ondas) e ainda por ‘luz’6. Muito sensível à cor, ao som e à luminosidade, a poesia de Camilo Pessanha apresenta muitas notações de cor, com diversas cambiantes.

Camilo Pessanha – pessoa que se apaga, que é avessa a protagonismos e que tem relutância a deixar-se fixar fotograficamente – é todavia o maior, mais harmonioso e mais autêntico poeta simbolista português. Recebe significativa influência do simbolista francês Verlaine e, por seu lado, a sua poesia – apesar de diminuta – teve forte repercussão e influência na poesia portuguesa. São seus devedores confessos Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Cesário Verde, Eugénio de Andrade. *�1����� �������������2 �3��������� �������� �����!���������� ����������� �������������"��������%*$%���

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João José Cochofel,

filho de família nobre, nasceu em Coimbra, em 17 de Julho de 1919, na tradicionalmente conhecida ‘Casa do Arco’ (rua Dr. João Jacintho, 8) e hoje Casa da Escrita, e morre em Lisboa, em 14 de março de 1982. Pela sua casa passaram vários escritores e homens do cultura: Carlos de Oliveira, Fernando Lopes Graça, Fernando Namora, Joaquim Namorado, Mário Dionísio, Arquimedes da Silva Santos, José Gomes Ferreira, Rui Feijó, Luís de Albuquerque, Afonso Duarte.

Devido às suas posições políticas, Cochofel viu-se perseguido pela PIDE.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pertenceu à geração neo-realista coimbrã. Poeta, ensaísta, crítico literário e musical ligado a vários movimentos literários e culturais, participou na criação da colecção de poesia do Novo Cancioneiro (1941) e de revistas literárias como Presença, Seara Nova, Vértice. Dirigiu a Gazeta Musical e de Todas as Artes, entre 1958 e 1962, e o Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e da Teoria Literária, obra cuja publicação ficou incompleta.

A poesia de João José Cochofel – em que, desde o

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seu primeiro livro, intitulado Instantes, «se reflecte o momento indiferenciado que passou mas que deixa na alma do poeta o gérmen fecundo e essencial»7, sensorial e plástica, oscila entre a emoção pessoal e o protesto social – ou melhor, percute-os aos dois. É uma poesia de instantes e pequenas coisas que tem a vivificá-la um desfiar de melancolias e sensações, busca de uma linguagem apropriada, sem descurar a intervenção social.

E não é raro a voz de Cochofel elevar-se a altos pontos de indignação, como neste poema de Os Dias Íntimos (1944-1958):

Ah! não terem todos um gládio de dor a rasgar no peito uma chaga de amor! Ah! não terem todos uma consciência fria que exacta cumprisse como a luz do dia! Ah! não terem todos um olhar de lume que fulgindo incendiasse a cólera que une e desencadeia a força do povo! Ah! meu coração, cantarias de novo!8

��Guilherme de Castilho,� ��������*�����#"���8 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), pp. 64-65.

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Não é esporádica todavia a percepção de certo incómodo pela incoerência entre o facto de ser aristocrata e militar na corrente literária neorealista – já observada por João Gaspar Simões e há pouco sublinhada por José Carlos Seabra Pereira9 –, a ponto de escrever:

Que anemia soluça no meu sangue?

Dou-lhe o nome de exílio. Há quantos anos!

E que dizer desta espécie de retrato ou apresentação de si próprio, colhida em Os Dias Íntimos, em que a insatisfação e nítida:

O amor do mundo é um campo aberto. De bem comigo, Se o tenho mais perto. Gostava de tê-lo na mão como um ovo quente só de paz e de um tempo novo. Mas alheio, adverso, teço a minha teia, como um bicho deixa as patas na areia.10

9 João Gaspar Simões, «Três poetas do Novo Cancioneiro: Carlos de

Oliveira, João José Cochofel, Mário Dionísio» in Critica II (), p. ; J. C. Seabra Pereira, «Um rumor de espera», prefácio à antologia de J. J. Cochofel, Breve (Lisboa, Caminho, 2010), organizada por Sofia Cochofel Quintela.

���46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), pp. 68-69.�

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Contra o Bispo de Pedra, que é símbolo de passado,

de acomodação estabelece um diálogo dialético, uma espécie de luta interior ou esperança desesperada11. E, como refere J. C. Seabra Pereira, é figura «de alteridade imutável, testemunha do decurso do tempo existencial do eu e contrapólo “firme de alteridade”» e «valerá como ponto de referencia e de aferição axiológica no processo de autognose do poeta e no projecto de intervenção no mundo»12.

João José Cochofel, com esmerada e fina bagagem cultural, sentia ternura pelas coisas simples e por tudo o que vive (a amendoeira, a criança no jardim, o bispo de pedra, a pomba, o amanhecer, o crepúsculo, a lavadeira que canta, a noite, a caixinha de música, as pedrinhas e seixos, as árvores, a flor, a planta pobre, os bichos, o azul do céu ou do mar, a cotovia. Admirava a beleza das coisas e dos seres, e procurava expressá-la de forma breve, enxuta, elegante, a que não faltam por vezes laivos de sensualidade13. Vejamos este poema de Sol de Agosto (1941):

Breve o botão que foste e o pudor de sê-lo.

11 Vide Urbano Tavares Rodrigues, «A poesia de João José

Cochofel», prefácio a 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), p. XXI.

12 J. C. Seabra Pereira, «Um rumor de espera», prefácio à antologia de J. J. Cochofel, Breve (Lisboa, Caminho, 2010), p. 20.

13 Vide Urbano Tavares Rodrigues, «A poesia de João José Cochofel», prefácio a 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), pp. XVI-XVII.

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Breve o laço vermelho dado no cabelo.

Breve A flor que abriu e o sol mudou.

Breve Tanto sonho findo Que a vida pisou.14

E observe-se este outro exemplo no contido poema sobre a cotovia, publicado em Emigrante Clandestino (1965):

– Olha a cotovia a subir no ar! Apaga-se o dia de a ouvir cantar. Ponto luminoso sobre a terra escura, já mesmo a não ouço e ainda perdura.15

Trata-se de uma poesia económica, sóbria, precisa,

que sobressai pela contenção, em que não falta harmonia imitativa, mas de que quase está ausente a aliteração e a anáfora16. A última, no entanto, a cada passo aparece e de

14 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), pp. 43-44. 15 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), p. 136. �)� Vide Urbano Tavares Rodrigues, «A poesia de João José

Cochofel», prefácio a 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966),

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forma elucidativa, como no poema de Os Dias Íntimos, acima citado e que abre as três primeiras estrofes por «Ah! não terem todos»; e o também citado poema XII de Sol de Agosto que tem como primeiro verso de cada estrofe a penas o termo «breve». Mas também neste outro exemplo – logo o primeiro poema de Emigrante Clandestino, um soneto – que abre todas as estrofes por «Vem aí a manhã»:

Vem aí a manhã saudada pelas vozes de todos os bichos que a pressentem breve. Vem aí a manhã a apertar as folhas que fecham a noite com seu hálito fresco. Vem aí a manhã Já vago livor No gume dos montes. Vem aí a manhã. Para que quero eu a manhã que vem?17

Aluno de Fernando Lopes Graça, conhecedor e fino

apreciador de música, esta não é alheia ao seu trabalho poético; tem mesmo muita presença na sua obra, como o prova uma visita rápida que a ela se faça, com o simples

pp. XX

17 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), p. 121.

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virar das folhas. Confessa num poema de Os dias Íntimos: «A música, a poesia, / são a casa em que vivo»18. Os títulos de livros dão logo também testemunho dessa forte presença da música no seu labor poético: Quatro Andamentos, com as partes “Tranquilo”, “Mesto”, “Scherzando” e “Rondó”. São muitos os compositores a que alude ou cita (Vivaldi, Débussy, Ravel, Bela Bartok). Retiro do livro Emigrante Clandestino (1965) um exemplo dessa presença da música, de que não anda alheia certa insatisfação de perda:

Meu coração de há trinta anos estala nos pizicatos do Quarteto de Ravel. Bate, coração inútil, ao renovo perene da música que luminosa vai tecendo os impossíveis mundos perdidos.19

A sua poesia expressa-se a cada passo em imagens

de grande delicadeza de que a música não anda arredada, ou os sons do búzio: «é sol e sangue / o búzio que trago nos sentidos» e o «dia hoje / teceu grinaldas para os nossos dedos»20.

Para Cochofel a poesia é apenas «maneira discreta de adivinhar / os nexos ocultos» entre a espera do homem, o mar, as searas, como refere em poema de Quatro Andamentos (1964):

�"�46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), p. 69. 19 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), p. 132. 20 46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), pp.

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Rio-me dos que fazem profissão de poetas. A poesia não é um carta de identidade para exibir nas relações cosmopolitas. A poesia não é a prova malabar das teorias dos exegetas. Talvez poesia seja afinal e apenas isto, apenas esta maneira discreta de adivinhar os nexos ocultos que existem entre a espera cansada dos homens e o hálito fresco da maresia, a violência quente das searas, a nitidez metálica das máquinas.21

Estamos perante uma poesia que se distingue pelo

seu depuramento, pela forma concreta e alusiva em que balança, pelos conflitos íntimos que exprime. E sobre essa obra poética escreveu Eduardo Lourenço que é expressão «altamente mediadora, lugar de equilíbrio precário mas efectivo da esfera pessoal e colectiva, a uma e outra oferecendo um território comum, esse horizonte de imanência»22.

���46º Aniversário (Lisboa, Portugália, 1966), pp. 112-113. 22 Sentido e Forma da Poesia Neorrealista (,1983), p.

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Natália Correia – Jardim dos Poetas (Oeiras)

Natália de Oliveira Correia nasce na Fajã de Baixo (Ilha de São Miguel, Açores) em 13 de setembro de 1923 e morre em 16 de março de 1993.

Cedo, aos onze anos, se estabelece em Lisboa com a mãe e a irmã, quando o pai emigra para o Brasil. E na capital foi figura destacada, a ponto de José Augusto França a apelidar de «a menina mais bonita de Lisboa». Por sua vez, Luiz Pacheco a designou «a hierofântide do século XX»23.

23 Informações colhidas no portal:

http://www.teiaportuguesa.com/literaturanataliacorreia.htm.

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Poetisa, romancista, dramaturga, tradutora, ensaísta, guionista, jornalista, editora, tradutora, dirigente política e deputada à Assembleia da República, Natália Correia colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. A sua obra, traduzida em várias línguas, estende-se pela poesia, pelo romance, pelo teatro, pelo ensaio, pela tradução, pelas crónicas em jornais e revistas, pelo convívio e intervenção em tertúlias, pelo vigor na oratória parlamentar, pelas polémicas em que se envolveu. Livre de convenções sociais, viveu intensamente o seu tempo e a sua vida. «Não me arrependo do que vivi», costumava ela dizer, como era seu hábito repetir, alto e bom som: «Ó, subalimentados do sonho! A poesia é para comer!»

E essa intensidade de vida reflecte-se na sua escrita, na diversidade de géneros que cultivou e nos variados estilos que a vivificam a sua obra, diversos ofícios e missões em que se envolveu. Considera-a Fernando Dacosta «um desses seres que não cabem no espaço que lhes foi destinado»24.

Dotada de invulgar talento oratório e coragem combativa, deles se serviu em momentos de intervenção política pública, nas intervenções parlamentares, nas tertúlias artísticas. A sua rebeldia era proverbial e acendrado o seu culto pela Liberdade. Daí que, cedo e em diversas ocasiões, participasse activamente em movimentos de oposição anti-fascista: MUD –

�%�Informação colhida no portal: http://www.teiaportuguesa.com/literaturanataliacorreia.htm.�

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Movimento de Unidade Democrática (1945), apoio às candidaturas para a Presidência da República do General Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958), CEUD – Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (1969). Essa actividade política, a sua rebeldia e o amor à liberdade acarretaram-lhe alguns dissabores: condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação de uma Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1966); processada pela responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas (Estúdios Cor) de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta.

Produziu o programa de televisão Mátria, em que, a par de Pátria, exprime uma forma especial de feminismo que identifica a mulher como matriz e arquétipo da liberdade erótica e passional. A essas noções acrescenta depois a de Frátria.

Estudiosa do Cancioneiro Medieval, adaptou para português moderno dos Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses. Organizou ainda uma Antologia da Poesia do Período Barroco.

Em 1992, liderou a criação da Frente Nacional para a Defesa da Cultura, acompanhada, entre outros, por José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues e Manuel da Fonseca.

Natália Correia defendia, como Teixeira de Pascoaes, «a poesia como profecia» e «o poeta como profeta». Na sua opinião, «o valor das palavras na poesia é o de nos conduzirem ao ponto onde nos esquecemos delas, e o ponto onde nos esquecemos delas é onde nunca

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mais se pode ter repouso». A escrita de Natália Correia e a sua expressão

poética – em que se verifica hábil utilização de figuras de estilo como a metáfora, os paralelismos e as repetições –esquivam-se a uma classificação restrita e única. Já tem sido classificada como surrealista, barroca, romântica (a classificação que a própria preferia). A sua originalidade e grande versatilidade não podem ser comprimidas em qualquer escola literária.

A ironia e o sarcasmo, as associações fónicas e imagéticas aproximam-na do surrealismo, sem que a sua poesia deixe de ter um toque de originalidade que não pode sofrer comparação com outras expressões do movimento surrealista português.

A sua obra revisita os grandes mitos, quer greco-romanos, quer portugueses, que a sua criatividade reformulou: mitos de Geia ou Deusa-Mãe, do Andrógino (o ser completo, uno e plural), do Desejado (símbolo da resistência, da esperança em tempos melhores), Pedro e Inês (símbolos da paixão e volúpia na morte), a sacralidade da Ilha, seu valor iniciático e seus enigmas – era forte ligação às ilhas atlânticas (sobretudo à sua S. Miguel natal) e ao seu maior poeta, Antero de Quental.

A esses mitos, símbolos e arquétipos dedicou obras próprias, conferindo-lhes uma dimensão de futuro, de liberdade, de matricidade, de portugalidade.

Vejamos como Natália Correia recebe e adapta dois mitos da Grécia antiga – o da grande o da deusa-mãe cretense e o do Labirinto e do Minotauro. O primeiro, tratado no poema IX de Mátria (1968), tem subjacente a

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divindade feminina dos Minóicos e a Grande Mãe dos homens e dos deuses. As alusões a Creta e à sua cultura são constantes no poema: sugere-se que foi em Creta que tudo teve início com «Foi em Creta» (vv. 1 e 21); alude-se à pintura minóica com o verso «cada homem era um príncipe no teu campo de lírios» (v. 8); identifica, nos versos 21 e 22, a Grande Mãe com Europa que Zeus na forma de touro rapta e leva até Creta, onde ela deu à luz Minos, Sarpédon e Radamanto («Foi em Creta que as têmporas da Europa / premeditou no húmus do seu ventre dançante»). Além disso, todo o poema, transcrito na íntegra nas páginas 84-85, encontra-se eivado de termos e referências sexuais, maternais e matriarcais, genesíacas.

O mito do Labirinto e do Minotauro aplica-o à complexidade e emaranhado do aeroporto internacional de Frankfurt no poema "Aeroporto", nascido da junção de dois que ao tema eram dedicados na primeira edição de O anjo do ocidente à entrada do ferro (pp. 49 e 50)25. O aeroporto é labirinto, em cujo centro se encontra «o minotauro do livro e do dinheiro» (v. 2). O sujeito poético tem antipatia por esse movimentado aeroporto que obriga a longas esperas e a apressadas mudanças de avião para avião: ou, como diz a autora de forma metafórica, «cunha/ a moeda do trânsito, da urgência joalheiro» (vv. 3-4). Dois neologismos, formados a partir do nome da cidade, traduzem de maneira impressiva e irónica a ideia de cansaço e saturação: «De franqueforte franquefurta-me a

25- A edição seguida é a da poesia completa, com o título O sol nas

noites e o luar nos dias, editada em 2 volumes pelo Círculo de Leitores (Lisboa, 1993), vol. 2, pp. 30-31.

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placa giratória» (v. 1), ou franquefarta-me (verso 17). O cansaço da espera é sublinhado na segunda estrofe por aliterações em d e m (vv. 5 e 6)26 e por duas metáforas, uma tirada do acto médico de dissecar um corpo e a outra inspirada no velório fúnebre de um morto (vv. 5-8):

Os diapositivos da espera me dissecam

nesta de mármore mesa da minha anatomia

e gelam as pestanas que velam o cadáver

da pressa escarnecida pela meteorologia.

A imagética relacionada com morte e morgue volta a estar presente na quinta estrofe (v. 18).

O tamanho do aeroporto obriga a deslocações de um lado para o outro e de porta para porta, durante as quais só se ouvem os «erres arrastados» das hospedeiras (v. 13) e «os pés involuntários por tapetes rolantes/ vão sendo massajados para as finais do juízo» (vv. 9-10) — uma bela metáfora inspirada nas competições desportivas. Mas aqui essas competições são «as finais do juízo», por darem cabo dele. Daí que lhe desagrade e lhe destempere os nervos (vv.11-12 ):

Para a leda flor de pinho dos nervos lusitanos

franqueforte é farmácia que não está de serviço.

Por isso o sujeito poético sente-se saturado por

aquele movimentado aeroporto sem calor humano (vv. 17-18):

De franqueforte franquefarta-me o ninguém colectivo

este frio da morgue

26- Vide ainda outras aliterações nos vv. 19, 20, 22.

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e que no corre-corre acotovelante de lado para lado que elimina e devora a individualidade é «humano apenas na retrete» (v. 21). Por isso, a saída do avião para a pista e o levantar voo aparece como fio de Ariadne que possibilita a alegria da fuga («gargalhando a saída») do labirinto (vv. 22-24):

Na mansa paranóia da pista de absinto

pousa ariadna fio 727

gargalhando a saída do lerdo labirinto

O poema completo encontra-se na “Antologia” (pp. 86-87).

E poderíamos apresentar muitos outros exemplos da recepção e recriação de mitos gregos a romanos.

Natália Correia adiantou-se ao tempo em que

viveu: anuncia e antecipa novas expressões culturais. Os seus méritos foram por diversas vezes reconhecidos. Além das condecorações da Ordem da Liberdade e da Ordem de Santiago, recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos.

Coimbra, 21 de março de 2011

José Ribeiro Ferreira

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Antologia

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António Nobre

António Nobre Lápis e guache de Joaquim Lopes (1934)

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8 do Beco da Carqueja 114 da rua do Correio Duas casas onde viveu António Nobre, em Coimbra.

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Memória

Ora isto, Senhores, deu-se em Trás-os-Montes,

Em terras de Borba, com torres e pontes.

Português antigo, do tempo da guerra,

Levou-o o Destino pra longe da terra.

Passaram os anos, a Borba voltou,

Que linda menina que, um dia, encontrou!

Que linhas fidalgas e que olhos castanhos!

E, um dia, na Igreja correram os banhos.

Mais tarde, debaixo dum signo mofino,

Pela lua-nova, nasceu um menino.

Ó mães dos Poetas! sorrindo em seu quarto,

Que são virgens antes e depois do parto!

Num berro de prata, dormia deitado,

Três moiras vieram dizer-lhe o seu fado

(E abria o menino seus olhos tão doces):

«Serás um Príncipe! mas antes ... não fosses.»

Sucede, no entanto, que o Outono veio

E, um dia, ela resolve ir dar um passeio.

Calçou as sandálias, tocou-se de flores,

Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores:

«Vou ali adiante, a Cova, em berlinda,

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António, e já volto...» E não voltou ainda!

Vai o Esposo, venda que ela não voltava,

Vai lá ter com ela, por lá se quedava.

Ó homem egrégio! de estirpe divina,

De alma de bronze e coração de menina!

Em vão corri mundos, não vos encontrei

Por vales que fora, por eles voltei.

E assim se criou um anjo, o Diabo, o lua;

Ai corre o seu fado! a culpa não é sua!

Sempre é agradável ter um filho Virgílio,

Ouvi estes carmes que eu compus no exílio,

Ouvi-os vós todos, meus bons Portugueses!

Pelo cair das folhas, o melhor dos meses,

Mas, tende cautela, não vos faça mal...

Que é o livro mais triste que há em Portugal!

Só (Porto, Tavares Martins, 1962), p. 9-10 = Poesia Completa

(Lisboa, Dom Quixote, 2000), p. 163-164.

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Lusitânia no Bairro Latino

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Georges! anda ver meu pais de Marinheiros, O meu pais das Naus, de esquadras e de frotas! Oh as lanchas dos poveiros A saírem a barra, entre ondas de gaivotas! Que estranho é! Fincam o remo na água, até que o remo torça, À espera da maré, Que não tarda aí, avista-se lá fora! E quando a onda vem, fincando-o a toda a força, Clamam todos à uma: «Agôra! agôra! agôra!» E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo (Às vezes, sabe Deus, para não mais entrar... ) Que vista admirável! Que lindo! que lindo! Içam a vela, quando já tem mar: Dá-lhes o Vento e todas, à porfia, Lá vão soberbas, sob um céu sem manchas, Rosário de velas, que o vento desfia, A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas: Senhora Nagonia! Olha acolá! Que linda vai com seu erro de ortografia... Quem me dera ir lá! Senhora Daguarda!

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(Ao leme vai o Mestre Zé da Leonor) Parece uma gaivota: aponta-lhe a espingarda O caçador! Senhora d’ajuda! Ora pro nobis! Caluda! Sêmos probes! Senhor dos ramos Istrela do mar! Cá bamos! Parecem Nossa Senhora, a andar. Senhora da Luz! Parece o Farol... Maim de Jesus! É tal qual ela, se lhe dá o sol! Senhor dos Passos! Sinhora da Ora! Águias a voar, pelo mar dentro dos espaços Parecem ermidas caiadas por fora... Senhor dos Navegantes! Senhor de Matusinhos! Os mestres ainda são os mesmos dantes:

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Lá vai o Bernardo da Silva do Mar, A mailos quatro filhinhos, Vascos da Gama, que andam a ensaiar... Senhora dos Aflitos! Mártir São Sebastião! Ouvi os nossos gritos! Deus nos leve pela mão! Bamos em paz! Ó lanchas, Deus vos leve pela mão! Ide em paz! Ainda lá vejo o Zé da Clara, os Remelgados, O Jeques, o Pardal, na Nam te perdes, E das vagas, aos ritmos cadenciados, As lanchas vão traçando, à flor das águas verdes, «As armas e os varões assinalados...» Lá sai a derradeira! Ainda agarra as que vão na dianteira... Como ela corre! com que força o Vento a impele: Bamos com Deus! Lanchas, ide com Deus! ide e voltai com Ele Por esse mar de Cristo...

Adeus! adeus! adeus! Só (Porto, Tavares Martins, 1962), p. 33-35 = Poesia Completa

(Lisboa, Dom Quixote, 2000), p. 187-189.

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Para as raparigas de Coimbra

1 Tristezas têm-nas os montes Tristezas tem-nas o Céu, Tristezas têm-nas as fontes, Tristezas tenho-as eu !

2

Ó choupo magro e velhinho, Corcundinha, todo aos nós, És tal qual meu Avozinho: Falta-te apenas a voz.

3

Minha capa vos acoite Que é pra vos agasalhar: Se por fora é cor da noite, Por dentro é cor do luar...

4

Ó sinos de Santa Clara, Por quem dobrais, quem morreu? Ah, foi-se a mais linda cara Que houve debaixo do céu!

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5

A sereia é muito arisca, Pescador, que estás ao sol: Não cai, tolinho, a essa isca... Só pondo uma flor no anzol!

6

A Lua é a hóstia branquinha, Onde está Nosso Senhor: É duma certa farinha Que não apanha bolor.

7

Vou encher a bilha e trago-a Vazia como a levei! Mondego, qu’ é da tua água, Qu’ é dos prantos que eu chorei?

8

No Inverno não tens fadigas, E tens água para leões! Mondego das raparigas, Estudantes e violões !

9

– É só porque o mundo zomba Que pões luto? Importa lá! Antes te vistas de pomba... – Pombas pretas também há!

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Teresinhas! Ursulinas! Tardes de novena, adeus! Os coraões as batinas Que diriam? Sabe-o Deus...

11

Ó boca dos meus desejos, Onde o padre não pôs sal, São morangos os teus beijos, Melhores que os do Choupal!

12

Manuel no Pio repoisa. Todas as tardes, lá vou Ver se quer alguma coisa, Perguntar como passou.

13

Agora, são tudo amores À roda de mim, no Cais, E, mal se apanham doutores, Partem e não voltam mais...

14

Aos olhos da minha fronte Vinde os cântaros encher: Não há, assim, segunda fonte Com duas bicas a correr.

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15 Os teus peitos são dois ninhos Muito brancos, muito novos, Meus beijos os passarinhos Mortinhos por porem ovos.

16

Nossa Senhora faz meia Com linha branca de 1uz: O novelo é a Lua-Cheia, As meias são pra Jesus.

17 Meu violão é um cortiço, Tem por abelhas os sons, Que fabricam, va1ha-me isso, Fadinhos de mel, tão bons.

18

Ó Fogueiras, ó cantigas, Saudades! recordaões! Bailai, bailai, raparigas ! Batei, batei, corações !

Só (Porto, Tavares Martins, 1962), p. 53-57

= Poesia Completa (Lisboa, 2000), p. 207-211.

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Saudade

Saudade, saudade! palavra tão triste,

E ouvi-la faz bem: Meu caro Garrett, tu bem na sentiste,

Melhor que ninguém! Saudades da virgem de ao pé do Mondego,

Saudades de tudo: Ouvi-las caindo da boca dum Cego,

Dos olhos dum Mudo! Saudades de Aquela que, cheia de linhas,

De agulha e dedal, Eu vejo bordando Galeões e andorinhas

No seu enxoval. Saudades! e canta, na torre deu a hora

Da sua novena: Olhai-a! da ares de Nossa Senhora,

Quando era pequena. Saudades, saudades! E ouvide que canta

(E sempre a bordar) Que linda! «Quem canta seus males espanta»

E eu vou-me a cantar... «Virgílio é estudante, levou-o o seu fado

A terras de França! Mais leve que espuma, não tenho pecado,

Que diga a balança.

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«Separam-se dele cem rios, cem pontes,

Mas isso que faz? Atrás desses montes, ainda há outros montes,

E ainda outros, atrás! «Não tarda que volte por montes e praias,

Formado que esteja; E iremos juntinhos, ah tem-te-não-caias!

Casar-nos à Igreja. «Virgílio é um anjo, não tem um defeito,

É altinho como eu; Os lábios com lábios, o peito com peito...

Ah, Virgem do Céu! «O Amor, ai que enigma! consolo no Tédio,

Estrela do Norte! O Amor é doença, que tem por remédio

Um beijo, ou a Morte. «Às vezes, eu quero dizer-lhe que a amo,

Mas, vou-lho a dizer, Irene não fala (Irene me chamo)

E fica a tremer... «Quando ia ao postigo falar-lhe, tão cedo,

(Tu, Lua, bem viste) Ai que olhos aqueles! metiam-me medo...

E sempre tão triste! «Perfil de Teresa, velado na capa,

Lá passa por mim:

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Ó noites da Estrada, tardinhas da Lapa, Choupal! e Jardim!

«Cabelos, caídos, a cara de cera,

Os olhos ao fundo! E a voz de Virgílio, docinha que ela era,

Não é deste Mundo! «Saudades, saudades! Que valem as rezas,

Que serve pedir! No altar continuam as velas acesas,

Mas ele sem vir! «Já choupos nasceram, já choupos cresceram,

Estou tão crescida! Já choupos morreram, já outros nasceram...

Como e curta a Vida! «Ó rio de amores, que vens da Portela

Prò mar do Senhor, Ah vê se na costa se avista uma vela,

Se vem o Vapor... «Meu santo Mondego, que voas e corres,

Não tenhas vagares! Mondego dos Choupos, Mondego das Torres,

Mondego dos Mares! «Mas ai! o Mondego (Senhora da Graça,

Sou tão infeliz!) Já foi e já volta, lá passa que passa,

E nada me diz...» Só (Porto, Tavares Martins, 1962), p. 69-72 = Poesia Completa

(Lisboa, Dom Quixote, 2000), p. 223-226.

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Sonetos

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Ó Virgens que passais, ao sol-poente,

Pelas estradas ermas, a cantar!

Eu quero ouvir uma canção ardente,

Que me transporte ao meu perdido Lar.

Cantai-me, nessa voz omnipotente,

O Sol que tomba, aureolando o Mar,

A fartura da seara reluzente,

O vinho, a Graça, a formosura, o luar!

Cantai! cantai as límpidas cantigas!

Das ruínas do meu Lar desaterrai

Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai...

Ó suaves e frescas raparigas,

Adormecei-me nessa voz... Cantai!

Só (Porto, Tavares Martins, 1962), p. 150 = Poesia Completa

(Lisboa, Dom Quixote, 2000), p. 302.

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Nobre, Só, autógrafo do "Soneto 4":

'Virgens que passais ao sol poente'

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Aparição

À VIRGEM SANTÍSSIMA

Pelas espadas que tu tens no peito,

Pelos teus olhos roxos de chorar,

Pelo manto que trazes de astros feito,

Por esse modo tão lindo de andar;

Por essa graça e esse suave jeito,

Pelo sorriso (que é de sol e luar)

Por te ouvir assim sobre o meu leito,

Por essa voz, baixinho: «Há-de sarar...»

Por tantas bênçãos que eu sinto n’ alma,

Quando chegando vens, assim tão calma,

Pela cinta que trazes, cor dos céus:

Adivinhei teu nome, Aparição!

Pois consultando manso o coração

Senti dizer em mim «A Mãe de Deus!»

Poesia Completa (Lisboa, Dom Quixote, 2000), p. 376.

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Bibliografia

Obras de António Nobre Só (Paris, Léon Vanier, 1892).

Só (2ª ed. corrigida e aumentada Lisboa, Aillaud, 1898).

Só. Prefácio de Paula Morão (Porto, Caixotim, 2000)

Despedidas –1895-1899 (Prefácio de Sampaio Bruno. 1902).

Primeiros Versos (1882-1889). Porto 1921.

Correspondência (Org. introd. e notas de Guilherme de Castilho,

Lisboa, INCM, 1982).

Poesia Completa – 1867-1900 (Lisboa, Dom Quixote, 2000).

Estudos sobre António Nobre Memória de António Nobre, in Colóquio – Letras 127 e 128

(Lisboa, 1993).

Guilherme de Castilho, António Nobre – A Obra e o Homem

(Lisboa, Arcádia, 21977).

Mário Cláudio, António Nobre (1867-1900). Fotobiografia

(Lisboa, Dom Quixote, 2001).

Maria Madelena Gonçalves, Só de António Nobre. Apresentação

critica, selecção, notas e sugestões para análise literária

(Lisboa, Comunicação, 1987).

Luís Filipe Lindley Cintra, O Ritmo na Poesia de António Nobre

(Edição de Paula Morão, Lisboa, INCM, 2002).

Paula Morão, O Só de António Nobre. Uma leitura do Nome

(Lisboa, Caminho, 1991).

José Carlos Seabra Pereira, António Nobre – Projecto e destino

(Porto, Caixotim, 2000).

José Carlos Seabra Pereira, O Essencial sobre António Nobre

(Lisboa, INCM, 2001).

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CAMILO PESSANHA

Retrato do poeta Oferecido ao jovem João de Castro Oliveira,

com data de 31 de Março de 1916.

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Inscrição

Eu vi a luz em um país perdido.

A minha alma é lânguida e inerme.

Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!

No chão sumir-se, como faz um verme...

Clepsydra (Lisboa, Assírio & Alvim, 2003), p. 9.

Manuscrito de “Inscrição”

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Desce em folhedos tenros a colina:

– Em glaucos, frouxos tons adormecidos,

Que saram, frescos, meus olhos ardidos,

Nos quais a chama do furor declina...

Oh vem, de branco, – do imo da folhagem!

Os ramos, leve, a tua mão aparte.

Oh vem! Meus olhos querem desposar-te,

Reflectir-te virgem a serena imagem.

De silva doida uma haste esquiva

Quão delicada te osculou num dedo

Com um aljôfar cor de rosa viva!...

Ligeira a saia... Doce brisa impele-a...

Oh vem! De branco! Do imo do arvoredo...

Alma de sylfo, carne de camélia ...

Clepsydra (Lisboa, Assírio & Alvim, 2003), p. 18-19.

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Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,

Onde esperei morrer, – meus tão castos lençóis?

Do meu jardim exíguo os altos girassóis

Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)

A mesa de eu cear, – tábua tosca de pinho?

E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?

– Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...

Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova,

Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...

Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais.

Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,

De noite a mendigar às portas dos casais.

Clepsydra (Lisboa, Assírio & Alvim, 2003), p. 24-25.

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Manuscrito do soneto

“Quem poluiu ... os meus lençóis de linho”

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Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina,

– Porque ides sem mim, não me levais?

Sem vós o que são os meus olhos abertos?

– O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos...

Fica sequer, sombra das minhas mãos,

Flexão casual de meus dedos incertos,

– Estranha sombra em movimentos vãos.

Clepsydra (Lisboa, Assírio & Alvim, 2003), p. 40-41.

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Soneto “Imagens que passais pela retina”

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Chorai, arcadas Do violoncelo! Convulsionadas, Pontes aladas De pesadelo... De que esvoaçam, Brancos, os arcos… Por baixo passam, Se despedaçam, No rio, os barcos. Fundas, soluçam Caudais de choro. Que ruínas (ouçam)! Se se debruçam, Que sorvedouro!... Trémulos astros... Soidões lacustres... – Lemes e mastros... E os alabastros Dos balaústres! Urnas quebradas! Blocos de gelo… – Chorai, arcadas Despedaçadas, Do violoncelo.

Clepsydra (Lisboa, Assírio & Alvim, 2003), p. 60-61.

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BIBLIOGRAFIA

Obras de Camilo Pessanha - Clepsydra. Poemas de Camilo Pessanha (Lisboa, 1920). - Clepsydra, edição critica de Paulo Franchetti (Lisboa,

Relógio d’ Água, 1995). - China, estudos e traduções (Lisboa, 1944). - As Elegias Chinesas, tradução poética de Camilo

Pessanha, pintura e organização de Pedro Barreiros (Lisboa, Gradiva, 1999).

- Clepsydra. Poemas de Camilo Pessanha. Posfácio e fixação do texto de António Barahona (Lisboa, Assírio & Alvim, 2003).

Estudos sobre Camilo Pessanha

João Paulo Barros Almeida, Sentimento e Conhecimento na Poesia de Camilo Pessanha (Coimbra, 2009).

Esther de Lemos, A «Clepsidra» de Camilo Pessanha (Porto, 1956; 2ª ed. Lisboa, Verbo, 1981).

Daniel Pires, A Imagem e o Verbo – Fotobiografia de Camilo Pessanha (Macau, I. P. do Oriente / I. Cult. de Macau, 2005).

Gustavo Rubin, Experiência da Alucinação, Camilo Pessanha e a Questão da Poesia (Lisboa, Caminho, 1993).

Camilo Pessanha

Busto em bronze. Casa Cultura da C.M. Coimbra

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João José Cochofel

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Tarde

Teus olhos húmidos eram lagos

em que nosso desejo se mirava.

Tua boca entreaberta era a mensagem

do teu corpo moço que se dava.

Teu hálito quente

embrulhado de desejo

vinha de não sei lá que profundezas

em que de amor tuas entranhas se abrasavam.

E havia, amor, a envolver-nos,

essa solidão enorme

entre pinheiros, céu e terra quente

da tarde que dorme ... Instantes (1937) = 46º Aniversário (Lisboa,

Portugália, 1966), p. 8-9.

Page 67: Antologia evocativa

66

Breve

Breve

botão que foste

o pudor de sê-lo.

Breve

o laço vermelho

dado no cabelo.

Breve

a flor que abriu

e o sol mudou.

Breve

tanto sonho findo

que a vida pisou. Sol de Agosto (1941) = 46º Aniversário

(Lisboa, Portugália, 1966), p. 43-44.

Page 68: Antologia evocativa

67

Sensibilidade

Que sensibilidade me sobe

da passada adolescência?

Que agudeza dos sentidos

me perturba a consciência?

Surge do desencanto

um mundo a que me abandono.

Tranquilo e caricioso

como um sol de Outono.

A cor, a luz, as formas,

sinto-as de coração novo!

Em tudo desconheço

uma experiência que renovo.

Como quem sai

duma longa doença,

deslumbrado e comovido

pela convalescença. Os Dias Íntimos (1944-1958) = 46º Aniversário

(Lisboa, Portugália, 1966), p. 57.

Page 69: Antologia evocativa

68

Mói música um realejo

Mói música um realejo,

poético de convenção.

Mas é hoje o que agrada

ao meu coração.

Com castanhas assadas,

chuva na imaginação,

e luzes molhadas

no asfalto do chão,

Egoísmo de bicho,

simulado ou não,

mas que bem me sabe

esta solidão.

Ó comedida felicidade,

com teu ópio vão

sobre tanta náusea

passa a tua mão. Os Dias Íntimos (1944-1958) = Breve

(Lisboa, Caminho, 2010), p. 79.

Page 70: Antologia evocativa

69

O Verão estala por todos os poros

O Verão estala por todos os poros da casca das árvores, da língua dos cães, das asas das cigarras, do bico do peito das mulheres tão acerado que rasga o céu de calor com um golpe preciso de lanceta.

Quatro Andamentos (1964) = Breve (Lisboa,

Caminho, 2010), p. 117.

Ideia de Poesia

Ideia de poesia sem sair cá para fora. Canta feliz da demora. Como se de antemão um rumor der espera não fosse o melhor da emigração?

Emigrante Clandestino (1965) = Breve

(Lisboa, Caminho, 2010), p. 137.

Page 71: Antologia evocativa

70

Paraíso Perdido

Que vens aqui fazer, espírito velho

de tudo o que foi perdido

e nunca mais achei?

Então...

ainda eu olhava o mundo

com meus olhos de manhãs azuis,

e nos lábios

havia ainda a ternura dos beijos moços

como a relva dos prados.

Foi mais tarde...

que a vida me entardeceu.

(Tardes enevoadas e frias,

abandonadas,

ermas

tristes como eu...)

Foi mais tarde...

que a tal desgraça se deu.

“Poesias excluídas” I, Instantes (1937) = Breve

(Lisboa, Caminho, 2010), p. 187.

Page 72: Antologia evocativa

71

Pórtico

Outros serão

os poetas da força e da ousadia.

Para mim

— ficará a delicadeza dos instantes que fogem

a inutilidade das lágrimas que rolam

a alegria sem motivo duma manhã de sol

o encantamento das tardes mornas

a calma dos beijos longos.

(Um ócio grande morre tudo

dum morrer suave e brando...)

Que os outros fiquem com o seu fel

as suas imprecações

o seu sarcasmo.

Para mim

será esta melancolia mansa

que me é dada pela certeza de saber

que a culpa é sempre minha

se as lágrimas correm ...

“Poesias excluídas” II, Instantes (1937) = Breve (Lisboa, Caminho, 2010), p. 190.

Page 73: Antologia evocativa

72

Alotropia

Parar o tempo, manejá-lo, substância dócil, reversível. Alotropia verbal sem duração, pura escolha da memoria.

Uma Rosa no Tempo (1968) = Breve (Lisboa,

Caminho, 2010), p. 142.

Cinza

Flores, amores, da cinza o que fica? Gota a gota a sede na telha da bica. Silenciosa cinza de uma tarde vã em que o rumor d’ água simula a manhã.

Uma Rosa no Tempo (1968) = Breve (Lisboa,

Caminho, 2010), p. 148.

Page 74: Antologia evocativa

73

Perenidade

Uma flor a outra flor sucede. Pétala a pétala, cor a cor, a perenidade que uma só sílaba concebe.

Uma Rosa no Tempo (1968) = Breve (Lisboa,

Caminho, 2010), p. 156.

Tempo

Colhe o tempo, colhe-o, rosa que não murchou. Do que passou, o perfume; do que há-de vir, o voo. Pega-lhe indecisa da mesma demora. O bispo de pedra que pensará agora?

Uma Rosa no Tempo (1968) = Breve (Lisboa,

Caminho, 2010), p. 163.

Page 75: Antologia evocativa

74

Bibliografia: Poesia

Instantes (1937)

Búzio (1940)

Sol de Agosto (1941)

Os Dias Íntimos (1950)

Quatro Andamentos (1966)

46.° Aniversário (1966)

Uma Rosa no Tempo (1970)

O Bispo de Pedra (1975)

Obra poética (Lisboa, Editorial Caminho, 1988). Ensaio

Descoberta (1945)

Iniciação Estética (1958)

Iniciação Estética (1958)

Críticas e Crónicas ( 1982)

Opiniões com data (Lisboa, Editorial Caminho, 1990).

Iniciação estética seguida de críticas e crónicas (Lisboa,

Editorial Caminho, 1992).

Page 76: Antologia evocativa

NATÁLIA CORREIA

Page 77: Antologia evocativa
Page 78: Antologia evocativa

77

Retrato talvez saudoso da Menina Insular

Tinha o tamanho da praia o corpo era de areia. E mais que corpo era indício do mar que o continuava. Destino de água salgada principiado na veia. E quando as mãos se estenderam a todo o seu comprimento e quando os olhos desceram a toda a sua fundura teve o sinal que anuncia o sonho da criatura. Largou o sonho no barco que dos seus dedos partiam que dos seus dedos paisagens países antecediam. E quando o seu corpo se ergueu voltado para o desengano só ficou tranquilidade na linha daquele além guardada na claridade do coração que a retém.

Poemas (1955) = O Sol das Noites e o Luar

dos Dias I (1993), p. 57.

Page 79: Antologia evocativa

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Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:

asas no exílio dum corpo.

Os braços calhas cintilantes

para o comboio da alma.

E os olhos emigrantes

no navio da pálpebra

encalhado em renúncia ou cobardia.

Por vezes fêmea. Por vezes monja.

Conforme a noite. Conforme o dia.

Molusco. Esponja

embebida num filtro de magia.

Aranha de ouro

presa na teia dos seus ardis.

E aos pés um coração de louça

quebrado em jogos infantis.

Poemas (1955) = O Sol das Noites e o Luar

dos Dias I (1993), p. 69.

Page 80: Antologia evocativa

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Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete E uma alma para ir à escola E um letreiro que promete Raízes, hastes e corola. Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma duma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade. Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos o prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência. Dão-nos um barco e um chapéu Para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu Levado à cena num teatro. Penteiam-nos os crânios ermos Com as cabeleiras dos avós Para jamais nos parecermos Connosco quando estamos sós. Dão-nos um bolo que é a história Da nossa história sem enredo E não nos soa na memória Outra palavra para o medo.

Page 81: Antologia evocativa

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Temos fantasmas tão educados Que adormecemos no seu ombro Sonos vazios, despovoados De personagens do assombro. Dão-nos a capa do evangelho E um pacote de tabaco. Dão-nos um pente e um espelho Para pentearmos um macaco. Dão-nos um cravo preso à cabeça E uma cabeça presa à cintura Para que o corpo não pareça A forma da alma que o procura. Dão-nos um esquife feito de ferro Com embutidos de diamante Para organizar já o enterro Do nosso corpo mais adiante. Dão-nos um nome e um jornal, Um avião e um violino. Mas não nos dão o animal Que espeta os cornos no destino. Dão-nos marujos de papelão Com carimbo no passaporte. Por isso a nossa dimensão Não é a vida. Nem é a morte.

Dimensão Encontrada (1957), p. O Sol das Noites e o Luar dos Dias I (1993), p. 167-168.

Page 82: Antologia evocativa

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Defesa do poeta

Senhores juízes sou um poeta um multipétalo uivo um defeito e ando com uma camisa de vento ao contrário do esqueleto. Sou um vestíbulo do impossível um lápis de armazenado espanto e por fim com a paciência dos versos espero viver dentro de mim. Sou em código o azul de todos (curtido couro de cicatrizes) uma avaria cantante na maquineta dos felizes. Senhores banqueiros sois a cidade o vosso enfarte serei não há cidade sem o parque do sono que vos roubei. Senhores professores que puseste a prémio minha rara edição de raptar-me em crianças que salvo do incêndio da vossa lição. Senhores tiranos que do baralho de em pó volverdes sois os reis sou um poeta jogo-me aos dados

Page 83: Antologia evocativa

82

ganho as paisagens que não vereis. Senhores heróis até aos dentes puro exercício de ninguém minha cobardia é esperar-vos umas estrofes mais além. Senhores três quatro cinco e sete que medo vos pôs na ordem? que pavor fechou o leque da vossa diferença enquanto homem? Senhores juízes que não molhais a pena na tinta da natureza não apedrejeis meu pássaro sem que ele cante minha defesa. Sou um instantâneo das coisas apanhadas em delito de paixão a raiz quadrada da flor que espalmais em apertos de mão. Sou uma impudência a mesa posta de um verso onde o possa escrever ó subalimentados do sonho ! a poesia é para comer.

Mosca Iluminada (1972) = O Sol das Noites e o Luar nos Dias I (1993), pp. 443-444.

Page 84: Antologia evocativa

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Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, Pelas aves que voam no olhar de uma criança, Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza, Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, pela branda melodia do rumor dos regatos, Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego

[dos pastos, Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria, Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, Pelos aromas maduros de suaves outonos, Pela futura manhã dos grandes transparentes, Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz. Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, Abre as portas da História,

deixa passar a Vida! O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II

(1993), p. 311.

Page 85: Antologia evocativa

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Mátria IX

Foi em Creta No azul fêmea do Egeu

as naves embalavas oh sopro de Anaíta!

Tua pele esticada era o tambor da noite

cada homem era o dom de ouvir a tua cítara.

Comovidas pulseiras tangias nos teus braços

piedosas avelãs escorriam dos teus cílios

aravam tua terra mamíferos afagos

cada homem era um príncipe no teu campo de lírios.

Teu levantar de saias oh resplendor de púbis!

o joelho agressivo das espadas flectia

e na face dos homens deixavas a penugem

das nuvens aniladas que nas ancas movias.

Eras mansa eras dança e génio de balança

que as estações pesava Fazias sol chovias

cada homem enchia com frutos o seu crânio

e na alma caíam as roupas que despias.

Page 86: Antologia evocativa

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Eras mãe eras virgem eras cabra na cama

o vento que as mulheres menstruadas faziam

eras tanta eras santa e a catedral de açúcar

que as pernas das amadas naturalmente abriam.

Foi em Creta que as têmporas da Europa

premeditou no húmus do seu ventre dançante.

Cada homem era a cauda torrencial do filho

bebida pela boca dourada do amante. Natália Correia, Mátria (1968) = O sol nas noites

e o luar nos dias I (1993), p. 395.

Page 87: Antologia evocativa

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Aeroporto

De franqueforte franquefurta-me a placa giratória

No centro o minotauro do livro e do dinheiro

Bolsa do desespero! o aeroporto cunha

a moeda do trânsito, da urgência joalheiro

5 Os diapositivos da espera me dissecam

nesta de mármore mesa da minha anatomia

e gelam as pestanas que velam o cadáver

da pressa escarnecida pela meteorologia

Os pés involuntários por tapetes rolantes

10 vão sendo massajados para as finais do juízo

Para a leda flor de pinho dos nervos lusitanos

franqueforte é farmácia que não está de serviço

É de erres arrastados o ofício das ground-hostesses

que escrevem sim e não com a ponta do nariz

15 Emudecem as águas do baptismo de Goethe

nos químicos arredores deste alemão a giz

De franqueforte franquefarta-me o ninguém colectivo

este frio da morgue que abandona o cenário

Page 88: Antologia evocativa

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às unhas dos relâmpagos e às pombas pluviosas

20 que pausas desdenhosas dejectam no horário

Aeroporto humano apenas na retrete

Na mansa paranóia da pista de absinto

pousa ariadna fio 727

gargalhando a saída do lerdo labirinto Natália Correia, O anjo do ocidente à entrada do ferro (1973),

pp. 49-50 = O sol nas noites e o luar nos dias II (1993), pp. 30-31)

Page 89: Antologia evocativa

88

Falavam-me de amor

Quando um ramo de doze badaladas se espalhava nos móveis e tu vinhas solstício de mel pelas escadas de um sentimento com nozes e com pinhas, menino eras de lenha e crepitavas porque do fogo o nome antigo tinhas e em sua eternidade colocavas o que a infância pedia às andorinhas. Depois nas folhas secas te envolvias de trezentos e muitos lerdos dias e eras um sol na sombra flagelado. O fel que por nós bebes te liberta e no manso natal que te conserta só tu ficaste a ti acostumado.

O Dilúvio e a Pomba (1979) = O Sol das Noites e o Luar dos Dias II (1993), p. 148.

Page 90: Antologia evocativa

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Mãe Ilha I

Limão aceso na meia-noite ilhada,

O relógio na torre da Matriz

Põe o ponteiro na hora atraiçoada

Da ilha que me deram e que eu não quis.

Mas, ó de alvos umbrais Ponta Delgada!

Meu prefixo de pastos, a raiz

É de calhau e de onda encabritada:

Um triz de hortênsia e estala-me o verniz.

Atamancada em fama a tosca ilhoa,

Só na praça e no prelo é de Lisboa,

Seu gesto, cãibra de garça interrompida.

No mais, o osso campesino e duro

É fervor, é fogo e fé que juro

Ao lume e às flores da Graça recebida. Sonetos Românticos (1990) = O Sol das Noites

e o Luar dos Dias II (1993), p. 341.

Page 91: Antologia evocativa

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Ciosa Terra Mãe...

Ciosa Terra Mãe, vamos às contas:

Já fria prata em meus cabelos cobras

E em estrago, em sânie e sombra afrontas

No corpo a imagem que te deve as sobras.

Em teu atro caderno um zero apontas

Quando dás vida, sejam reis ou cobras;

E nem por infortúnios me descontas

Ser a mais liberal das tuas obras.

Mão homicida! Ao teu negror rendida

Não é carne que estando à alma unida

Só se perdida a alma enfim se some.

De em muito amor arder foi minha arte:

Em meus restos tomai a vossa parte,

Chamas de luz que me buscou o nome! Sonetos Românticos (1990) = O Sol das Noites

e o Luar dos Dias II (1993), p. 377.

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Bibliografia Poesia:

Rio de Nuvens (1947) Poemas (1955) Dimensão Encontrada (1957) Passaporte (poesia), 1958 Cântico do País Emerso (1961) Mátria (1967) O Vinho e a Lira (1969) As Maçãs de Orestes (1970) A Mosca Iluminada (1972) O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (1973) Poemas a Rebate, (poemas censurados de livros anteriores)

(1975) Epístola aos Iamitas (1976) O Dilúvio e a Pomba (1979) O Armistício (1985) Sonetos Românticos (1990; 1991) Memória da Sombra, versos para esculturas de António

Matos (1993) O Sol nas Noites e o Luar nos Dias. 2 volumes (1993; 2000)

Fixão: Grandes Aventuras de um Pequeno Herói (romance infantil,

1945) Anoiteceu no Bairro (romance, 1946; 2004) Descobri Que Era Europeia: impressões duma viagem à

América (viagens), 1951; 2002 A Madona (Romance, 1968; 2000) A Ilha de Circe (romance, 1983; 2001) Onde está o Menino Jesus? (contos, 1987) As Núpcias (romance, 1992)

Teatro: Sucubina ou a Teoria do Chapéu (teatro, em colab. com

Manuel de Lima, 1952) O Progresso de Édipo (poema dramático, 1957)

Page 93: Antologia evocativa

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Comunicação (poema dramático, 1959) O Homúnculo, tragédia jocosa (teatro, 1965) O Encoberto (teatro, 1969; 1977) Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (teatro, 1981; 1991) A Pécora, peça escrita em 1967 (teatro, 1983; 1990) D. João e Julieta. Peça escrita em 1959 (teatro, 1999)

Ensaio: Poesia de Arte e Realismo Poético (1959) A Questão Académica de 1907 (1962) Uma Estátua para Herodes (1974) Notas para uma Introdução às Cantigas de Escárnio e de

Mal-Dizer Galego-Portuguesas (1982) Somos Todos Hispanos (1988; 2003) A Ibericidade na Dramaturgia Portuguesa (2000)

Antologias várias: Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: dos

cancioneiros medievais à actualidade (Antologia, 1965; 2000)

Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses (Antologia, 1970; 1998)

Trovas de D. Dinis, [Trobas d'el Rey D. Denis] (1970) O Surrealismo na Poesia Portuguesa (Antologia, 1973; 2002) A Mulher, antologia poética (Antologia, 1973) Antologia de Poesia do Período Barroco (antologia, 1982) A Ilha de Sam Nunca: atlantismo e insularidade na poesia de

António de Sousa (antologia, 1982) Breve História da Mulher e outros escritos (antologia de

textos de imprensa, 2003) A Estrela de Cada Um (antologia de textos de imprensa,

2004) Outros:

Descobri Que Era Europeia: impressões duma viagem à América (viagens, 1951; 2002)

Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975) (Diário, 1978; 2003)

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ÍNDICE Pág. Prefácio ………………………………. 3 Introdução ……………………………. 5 Antologia ………………...................... 33

António Nobre …………………………… 35 Memória .…........................................... 37 Lusitânia no Bairro Latino 2 ………..... 39 Para as raparigas de Coimbra ……….... 42 Saudade ………………………............. 46 Sonetos 4 …………………................... 49 Aparição ……………………................ 51 Bibliografia …………………………… 52

Camilo Pessanha ……………………........ 53 Inscrição ………………….................... 55 Desce em folhedos tenros a colina ...... 56 Quem poluiu, quem rasgou os meus

lençóis de linho …......................... 57 Imagens que passais pela retina …….. 59 Chorai arcadas ……………………... 61 Bibliografia ………………………….. 62

João José Cochofel ……………….. 63 Tarde ……………................................ 65 Breve ……............................................ 66 Sensibilidade .…................................... 67 Mói música um realejo .…................... 68 O verão estala por todos os poros .…. 69 Ideia de poesia .…................................ 69

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Paraíso perdido .…................................. 70 Pórtico .….............................................. 71 Alotropia .….......................................... 72 Cinza .…................................................ 72 Perenidade .…....................................... 73 Tempo .…............................................. 73 Bibliografia .......................................... 74

Natália Correia ..................................... 75 Retrato talvez saudoso de Menina insular.......................................... 77 Auto-retrato …….................................. 78 Queixa das almas jovens censuradas.... 79 Defesa do poeta ................................... 81 Ode à Paz ............................................. 83 Mátria IX ............................................. 84 Aeroporto ............................................. 86 Falavam-me de amor ........................... 88 Mãe Ilha I ............................................ 89 Ciosa Terra Mãe ................................. 90 Bibliografia .......................................... 91

Índice ………………………………………. 93