ANTÔNIO ALVES DA SILVA

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ANTÔNIO ALVES DA SILVA, MESTRE DOS MESTRES NA LITERATURA DE CORDEL Prof. Carlos Magno Vitor da Silva 1 INTRODUÇÃO Estudos recentes têm demonstrado que nenhum artista escreve a partir de um marco zero. T.S. Eliot (1989, p.39) diz que “nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação completa sozinho”. Segundo Eliot, quando um poeta escreve, expressa tanto os ideais de sua geração como das gerações passadas; sua nova obra acrescenta algo novo na totalidade da ordem existente, “e desse modo as relações, proporções, valores de cada obra de arte rumo ao todo são reajustados; e aí reside a harmonia ente o antigo e o novo” (1989, p. 39). Nesse sentido, o poeta precisa atentar para o fato de que a sua obra não é um aperfeiçoamento do passado, nem a aposentadoria de seus grandes escritores, mas uma mudança de mentalidade sempre em desenvolvimento. “O fundamental consiste em insistir que o poeta deva desenvolver ou buscar a consciência do passado e que possa continuar a desenvolvê-la ao longo de toda a sua carreira” (ELIOT, 1989, p. 42). Também Câmara Cascudo (1973, vol. 1, p.6-7) testemunha como a herança do passado do ser humano está viva no presente. Diz ele: A simpatia natural pela etnografia é que ela evoca documentadamente a história da nossa grande família humana, evidenciando continuidades e seqüências que orgulham ou decepcionam a vaidade dos netos 1

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ANTÔNIO ALVES DA SILVA, MESTRE DOS MESTRES NA LITERATURA DE CORDEL

Prof. Carlos Magno Vitor da Silva

1 INTRODUÇÃO

Estudos recentes têm demonstrado que nenhum artista escreve a partir de um marco

zero. T.S. Eliot (1989, p.39) diz que “nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação

completa sozinho”. Segundo Eliot, quando um poeta escreve, expressa tanto os ideais de sua

geração como das gerações passadas; sua nova obra acrescenta algo novo na totalidade da

ordem existente, “e desse modo as relações, proporções, valores de cada obra de arte rumo

ao todo são reajustados; e aí reside a harmonia ente o antigo e o novo” (1989, p. 39). Nesse

sentido, o poeta precisa atentar para o fato de que a sua obra não é um aperfeiçoamento do

passado, nem a aposentadoria de seus grandes escritores, mas uma mudança de

mentalidade sempre em desenvolvimento. “O fundamental consiste em insistir que o poeta

deva desenvolver ou buscar a consciência do passado e que possa continuar a desenvolvê-la

ao longo de toda a sua carreira” (ELIOT, 1989, p. 42).

Também Câmara Cascudo (1973, vol. 1, p.6-7) testemunha como a herança do

passado do ser humano está viva no presente. Diz ele:

A simpatia natural pela etnografia é que ela evoca documentadamente a história da nossa grande família humana, evidenciando continuidades e seqüências que orgulham ou decepcionam a vaidade dos netos presentes. Tem-se uma impressão emocional e confusa de ver um velho álbum doméstico, recordando façanhas e vitórias de homens cujo sangue talvez esteja nas nossas veias contemporâneas. E nota-se que o passado imemorial não desapareceu de todo, e deparamos as sombras milenares nos gestos diários e às vezes no mecanismo do raciocínio, para a soma surpreendente de soluções psicológicas. Um ato comum e banal pode ter cinqüenta séculos e um pavor que julgávamos personalíssimo já sacudira o corpanzil assombrado de um nosso pré-avô na noite dos tempos antigos. E tudo vive em nós, herdeiros de gerações incontáveis e de culturas sucessivas. Por isso a etnografia é sedutora. É a nossa memória, no Tempo!...

É ainda Luís da Câmara Cascudo (1984, p.438) quem diz: “Conservar a memória dos

episódios pelo canto poético é fórmula universal e milenar”. A literatura de cordel pode ser

considerada a mais rematada prova disso. Ela vem atravessando os séculos. Com raízes na

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trovadoresca medieval, encontra solo fértil principalmente na Espanha e, em seguida, em

Portugal. Da península ibérica difunde-se para vários continentes, chegando também ao

Brasil, como atesta Manoel Diégues Júnior ([1975], p. 5, grifos do autor):

Esta reconstituição, o seu tanto rápida, de algumas manifestações em países latino-americanos, da literatura de cordel nos permite mostrar que a inspiração popular que a criou, se não é universal, é muito espalhada; há na França através da littérature de colportage; há na Espanha através dos pliegos sueltos; há em Portugal, com as ‘folhas soltas’ ou literatura de cordel. Da península foi que nos veio: é uma das heranças que devemos, o Brasil a Portugal, ou outros países americanos à Espanha, fazendo com que o épico e o lírico, pelo que o povo se manifestava, persistissem entre nós, ora em sua forma tradicional, das narrativas registradas no romanceiro, ora em suas formas ocasionais, pelo registro de fatos circunstanciais, de momento, que mereceram a atenção das populações, conservando-os na memória popular.

Nos primórdios da colonização, já é possível detectar a presença da literatura de

cordel no Nordeste brasileiro: “Começam estes romances a ser divulgados, entre nós, já no

século XVI, ou, no mais tardar, no XVII, trazidos pelos colonos em suas bagagens” (DIÉGUES

JÚNIOR, [1975], p.3). O Nordeste tornar-se-á, em decorrência disso, o foco, o grande centro

irradiador da literatura de cordel1.

Manoel Diégues Júnior ([1975], p.6) sintetiza porque “tudo conduziu para o Nordeste

se tornar o ambiente ideal em que surgiria forte, atraente, vasta, a literatura de cordel”. Ele

apresenta pelo menos três fatores que contribuíram para isso: 1º - as condições étnicas, com

a miscigenação, de maneira estável e contínua, entre o português e o escravo africano; 2º -

as condições sociais e culturais peculiares do Nordeste, resultantes do regime patriarcal, das

manifestações messiânicas, da formação dos bandos de cangaceiros ou bandidos, das secas

periódicas, das lutas entre famílias, do surgimento de grupos de cantadores populares e 3º -

as muitas tipografias especializadas na impressão e distribuição de literatura de cordel

(DIÉGUES JÚNIOR, [1975], p. 6).

Também acrescenta Jorge de Souza Araújo (1992, p.6):

Remontando a origens ibéricas, o cordel nordestino encontrou profundas ressonâncias em nossa alma popular. Não apenas assimilada por suas

1 Embora a literatura de cordel já se manifestasse esparsamente no Brasil-Colônia, principalmente relacionada com a literatura oral, só a partir de meados do séc. XIX é que começou a sua difusão, com o pioneirismo de Leandro Gomes de Barros. Diz Câmara Cascudo (1984, p. 438): “A característica da Literatura de Cordel é sua destinação gráfica, circulando em opúsculos impressos, desde a segunda metade do séc. XIX. Jamais vi folheto anterior a 1870”.

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características de poesia de mão, variante da trovadoresca medieval, como também por refundir e recriar tipos e estilos, valorizando os elementos do meio através da fértil imaginação e de uma singular teia de símbolos encontradas em repentistas, violeiros e trovadores, essa literatura serviu ainda como fonte de informação e alfabetização. Estimulando sonho e a fantasia, divertindo, instruindo e atualizando, enfim, a valente e genuína experiência de vida da gente nordestina, o cordel teve decisiva importância como canal de diálogo e de cultura entre o povo.

Ruth Brito Lemos Terra (1983, p. 17) destaca como a literatura de cordel estava

imbricada na identidade cultural nordestina:

Os poetas populares são herdeiros da temática da literatura oral, e de certo modo, das cantorias que ocorriam no Nordeste desde pelo menos meados do século XIX. A temática dos folhetos é, contudo, mais ampla. O poeta popular, além de detentor da tradição comum à literatura oral, qual o cantador, urde desafios e, da sua parte, tematiza o cotidiano. Por outro lado, o poeta gozava de uma independência econômica desconhecida do cantador, enquanto este vivia geralmente sob a tutela dos fazendeiros, promotores de cantorias, aquele podia contar com a venda de folhetos para o seu sustento.

Quando Tomé de Souza, o primeiro governador-geral da colônia, desembarcou no

porto da Barra, em 29 de março de 1549, trouxe consigo “aproximadamente mil homens,

entre soldados, degredados, funcionários da administração, trabalhadores braçais e

religiosos” (DIEZ, 1998, p. 52). Depois disso, com a divisão das capitanias hereditárias, afirma

Albani Galo Diez que só a família do português Garcia D´Ávila tornou-se “proprietária do

maior latifúndio de que se tem notícia no mundo: 800 mil quilômetros quadrados” (DIEZ,

1998, p. 27). Sua família colonizou Mata de São João, onde construiu famoso castelo.

Quatro séculos depois, em Mata de São João, vamos encontrar um jovenzinho,

magrelo, mestiço, que vivia livre nas imediações da mata atlântica, caçando passarinhos e

tomando banho no rio Jacuípe. Seu nome é Antônio Alves da Silva. Mata de São João foi seu

berço natal. Nasceu no dia 7 de junho de 1928, filho de Ambrosio Prudêncio da Silva,

motorneiro de bonde, e de Leonor Ives do Nascimento, lavadeira.

2 OS PRIMEIROS ANOS EM MATA DE SÃO JOÃO

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Antônio Alves viveu sua infância em Mata de São João, cidade do recôncavo baiano,

não muito distante de Salvador. Nasceu e se criou na Rua do Veludo, nas imediações do

centro da cidade, numa casa humilde, de taipa, coberta de palha de pindoba. Logo cedo

Antônio Alves ficou órfão de mãe. Ela falecera quando ele contava 5 anos de idade. De Mata

de São João2, famosa por suas belíssimas praias e o Castelo Garcia D’Ávila, Antônio Alves

herdou seu pendor pelas tradições populares. Observe-se o que se informa, em site oficial

(2007, [n.p.]), acerca do cadinho cultural de Mata de São João:

Mata de São João é assim: um lugar de gente simples, uma população alegre e hospitaleira. Sua gente faz valer a fama dos baianos: orienta, informa, conduz. Brinca e faz festa para que todos fiquem à vontade e se sintam em casa. Quem mora em Mata de São João faz questão de manter as tradições culturais e apresentá-las sempre que necessário: capoeira, samba de roda, maculelê. Manifestações passadas de geração para geração. Aqui misturam-se tradições e heranças do povo africano e dos índios e caboclos que primeiro habitaram o lugar. Mistura que se reflete, por exemplo, na arte de transformar a piaçava em bolsas, tapetes e objetos de decoração, além de outros artesanatos, como esculturas em madeira ou barro e acessórios femininos de todos os tipos, dos mais simples aos mais sofisticados.

Um episódio de infância que marcou a vida de Antônio Alves aconteceu em 1935

quando, com alguns amigos, tomava banho no rio Jacuípe e, não sabendo nadar, quase

morreu afogado. Foi salvo por uma jovem veranista, da capital, que ia passando pelo local.

Esse episódio mais tarde foi trabalhado na ficção, ao escrever o folheto intitulado: “O drama

da minha vida”.3

Em Mata de São João, Antônio Alves estudou até a 3ª série primária. Mesmo depois

que se mudou para Salvador, ainda tentou dar continuidade aos seus estudos regulares,

mas, por não dispor de recursos para comprar o uniforme escolar, desistiu definitivamente

da escola. Tinha vergonha de ir à escola trajando roupas e chinelos tão rotos e pobres.

Tornou-se autodidata. Aprendeu como aprendem os andarilhos: percorrendo o mundo,

conhecendo novas culturas, convivendo com as pessoas, estudando por conta própria. E não

é sem motivos que esse é um dos grandes pilares da poética popular de Antônio Alves.2 Cidade antiga da Bahia, fundada em 1549, quando a comitiva de Tomé de Souza chegou ao Brasil, trazendo o português Garcia D´Ávila. Garcia D´Ávila construiu a Casa da Torre ou Castelo Garcia D´Ávila, em 1551, na enseada de Tatuapara (hoje Praia do Forte), como posto estratégico de comunicação e defesa da colônia (2007).

3 O autor vendeu os direitos autorais dessa obra a uma editora de Salvador, no Pelourinho, mas não chegou a ser publicada. Nem o próprio autor, hoje, possui uma cópia dela.

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3 NOMADISMO E EXPERIÊNCIAS MIGRATÓRIAS: EM SALVADOR E REGIÃO

Aos 12 anos, Antônio Alves deixou sua cidade natal e foi morar em Salvador. Sua

irmã, Railda Alves do Nascimento, o levara. Seu pai, nessa época, residia no Bonfim, na

capital, e trabalhava como motorneiro de bonde. Seu pai vivia mudando frequentemente de

residência, em decorrência de apertos financeiros.

Seu pai, num certo dia, voltando para casa, passou no

Mercado Modelo, na Cidade Baixa, comprou uma grande

quantidade de folhetos de cordel e presenteou a seu filho.

Antônio Alves ficou fascinado. Devorou avidamente aquelas

histórias. Lembra-se ainda hoje do primeiro que leu e o decorou:

“O príncipe e a fada”, daquele que seria uma das grandes

inspirações de sua vida: Leandro Gomes de Barros.4

Aos 17 anos, Antônio Alves foge para Água de Menino. Aqui começa, de fato, sua

vida de andarilho. Seu pai foi procurá-lo, mas ele se escondeu no mato. De lá partiu para

Candeias em busca de oportunidade de trabalho. Lá morou por mais de um ano, até ser

transferido para Salvador e depois, Água Fria. De Água Fria mudou-se para Alagoinhas. Mais

ou menos aos 18 anos, por brincadeira, começou a rabiscar algumas trovas. Sua primeira

4 Leandro Gomes de Barros (1865-1918) nasceu no município de Pombal, sertão da Paraíba. Tem sido considerado o pioneiro da literatura de cordel no Brasil. Horácio de Almeida ( ibid., p. 3) afirma que “Leandro Gomes de Barros não foi apenas o primeiro, foi o maior de todos os poetas populares do Brasil. Desbravador de uma seara nova, a da publicação dos folhetos, nenhum outro lhe arrebatou a palma na quantidade e qualidade da obra divulgada”. Luís da Câmara Cascudo (2005, p. 347) ainda acrescenta: “Fecundo e sempre novo, original e espirituoso, é o responsável por 80% da glória dos cantadores atuais”. Câmara Cascudo afirma que Leandro Gomes escreveu cerca de mil folhetos, com aproximadamente dez mil edições ( ibid., p. 347). Horácio de Almeida contesta essa estatística, considerando-a apenas como “força de expressão” (ibid., p. 5), e declara: “Ninguém sabe ao certo o montante de sua obra, porque muita coisa se perdeu, mas orça por algumas centenas: Também não se sabe quando saiu publicado o seu primeiro folheto de cordel” ( ibid., p. 5). Mais adiante, Horácio de Almeida (ibid., p. 5) acrescenta: “A Bibliografia Prévia de Leandro Gomes de Barros, publicada pela Biblioteca Nacional em 1971, relaciona 237 títulos de sua obra, em edições autênticas. A maior porção pertence ao Centro de Pesquisas da Casa de Rui Barbosa”. No site oficial da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, é possível ler um dos seus folhetos mais famosos: “O cavalo que defecava dinheiro” (2008), que serviu de inspiração a Ariano Suassuna na composição de sua conhecida obra: “Auto da compadecida” (1970).

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Ilustração 1 - foto de AAS Fonte: Arquivo do autor

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obra foi: “A vingança de Elias”, com 16 páginas5. Não se refere ao Elias das Escrituras

Sagradas, mas a um caminhoneiro de Alagoinhas.

Em Alagoinhas, Antônio Alves também escreveu o folheto: “Dezinha, a mulher que

bateu na mãe e virou lobisomem”, a pedido insistente de um amigo chamado Manoel Três

Dedos. Fato interessante aconteceu no lançamento dessa obra: Antônio Alves estava

vendendo-a numa praça, no centro comercial de Alagoinhas. O povo aglutinava ao seu

redor. Ele lia, fazendo aquele alarde, aquele drama, exagerando na performance6, e o povo

se divertia. Acontece que Dezinha não era uma personagem de ficção: era uma antiga

moradora da cidade. Um dos seus parentes comprou o folheto e o denunciou na delegacia.

Escoltado por policiais, Antônio Alves é levado para a delegacia. O povo o acompanhava. O

delegado, muito sério, perguntou-lhe: “O senhor tem provas de que dona Dezinha se

transforma em lobisomem?” Antônio Alves respondeu: “Provas de que ela se transforma em

lobisomem, eu não tenho, doutor, mas que ela bateu na mãe, isso todo mundo sabe”. As

pessoas, que o acompanhavam, riram, bateram palmas, confirmando o episódio. O delegado

disse: “Tudo bem, vá vender suas obras”. No dia seguinte, Antônio Alves estava no mercado

municipal vendendo suas obras. Foi um sucesso. Vendeu todos os folhetos.

Pouco tempo depois, Antônio Alves retorna para Salvador. Nessa época, conhece o

cordelista alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante,7 que vem a se tornar seu parceiro de

trabalho, grande amigo e incentivador, a quem vendeu grande parte de suas obras. Rodolfo

5 Obra não publicada, da qual o autor perdeu os originais.6 Para Paul Zumthor, a performance está intimamente relacionada com a poesia popular, dado o seu caráter de poesia oral. Para Zumthor (2005, p.55), “a performance é a materialização (a ‘concretização’, dizem os alemães) de uma mensagem poética por meio da voz humana e daquilo que a acompanha, o gesto, ou mesmo a totalidade dos movimentos corporais. Hoje, o fato de que muitos artistas perfomem seus textos nos conduz a uma prática que era normal na Idade Média”. Em outra importante obra, Paul Zumthor (2007, p. 39) acrescenta: “A performance não apenas se liga ao corpo mas, por ele, ao espaço. Esse laço se valoriza por uma noção, a de teatralidade (sem explorar todas as virtualidades), que me chegou muito tempo antes de pensar a ‘performance’”.7 Rodolfo Coelho Cavalcante (1917) nasceu em Rio Largo, Alagoas. O poeta José Antônio dos Santos (conhecido como Zé Antônio), em sua obra: “A história comentada da literatura de cordel”, sobre Rodolfo Cavalcante, escreveu: “Outro poeta-repórter/Eu cito neste instante:/Foi o Rodolfo Coelho/Sobrenome Cavalcante/Radicado em Salvador (BA)/ Poeta intinerante [sic]./Mais de um mil e quinhentos/Cordéis ele escreveu/Mais de um milhão de exemplares/Na feira ele vendeu/Da obra: Virou Cachorra/A Moça que na Mãe Bateu” (SANTOS, 2003, p.10). Na revista Jangada Brasil (online), acrescenta-se que Rodolfo Cavalcante deixou a casa paterna aos treze anos de idade “e percorreu todo o norte e nordeste do Brasil como palhaço e camelô, lembrando os jograis dos séculos XI e XII. Jornalista, trovador e poeta popular. Membro de várias associações literárias, realizou na Bahia o I Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, em 1955. Fundou alguns periódicos como A voz do trovador, O trovador e Brasil poético. Escreveu mais de uma centena de folhetos, entre eles, O barulho de Lampião no inferno, A chegada de Getúlio Vargas no céu e seu julgamento, O boi de sete chifres, O desastre do trem em Peri-Peri, O cordão dos puxa-sacos, Defensor do povo baiano, Novo ABC do amor e A vaca que pariu uma criança em Salvador”(2008, [n.p.]).

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Cavalcante ajudou Antônio Alves a montar a sua barraca no mercado de Sete Portas, no

centro comercial de Salvador. Aos poucos, sua carreira como cordelista vai-se firmando.

4 NO RIO DE JANEIRO, CONSOLIDANDO A VOCAÇÃO DE POETA POPULAR

Aos 24 anos, com mais dois companheiros de trabalho, embarcam num navio com

destino ao Rio de Janeiro. Vai trabalhar na construção civil como servente de pedreiro.

Permanece lá por cerca de três anos e meio.

No Rio de Janeiro, Antônio Alves continua escrevendo novas histórias de cordel.

Nesse período, dentre as que escreveu, destaca-se a obra: As mil e uma noites de tormento

[s.d.], com 32 páginas, publicada pela editora Luzeiro, considerada pelo próprio autor como

sua obra-prima.

As mil e uma noites de tormento é um romance8 com aqueles ingredientes que

marcarão o veio poético de Antônio Alves: amor, justiça e bravura, narrados sempre com

certo gracejo. A obra é escrita toda em sextilhas, com versos em redondilha maior. Conta a

história trágica de um triângulo amoroso entre os irmãos: Manoel (protagonista) e Rafael

(antagonista), que amavam a mesma mulher: Estela.

Manoel foi vítima de uma crudelíssima trama urdida por seu irmão e Estela. Manoel

era noivo de Estela. Uma cigana, porém, vaticinou um futuro brilhante para Manoel. Estela

ficou exasperada ao saber disso, pois percebeu que poderia perder seu grande amor. Em seu

desespero, planejou trair o noivo com Rafael, para desviar “o destino tão tirano” (SILVA,

[s.d.], p. 7). Dito e feito. Em seguida pôs a culpa em Manoel. E este, por sua vez, homem de

caráter firme, não titubeou: “ - Não devo nada a Estela/ Posso jurar fielmente/ Isso foi pura

traição/ Em tudo estou inocente” (SILVA, [s.d.], p. 9).

Acontece que pelas leis da Suécia, onde esse episódio sucedeu, nesses casos de

desonra, a punição era passar mil e uma noites na prisão, sob condições muito duras.

Manoel foi condenado. Após cumprir sua pena, foi exilado na Ilha do Formigueiro, onde

salvou da morte certa a Princesa Margarida, com quem, após muitos atos de bravura e de

8 Na literatura de cordel, um texto de 8 ou 16 páginas é chamado de folheto; as histórias a partir de 32 páginas, de “romances”.

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reconhecido mérito, veio a desposá-la. Tornou-se o rei daquela nação. Viveram felizes para

sempre:

Longos anos de ternuraAos seus encontros vieramPorque ele e sua esposaViver pelo bem souberamForam meigos e felizesE muitos filhos tiveram (SILVA, [s.d.], p. 32).

O romance termina com um acróstico, muito comum na literatura de cordel:

A sorte é triste e sagradaNos ocasos da quimeraTem uma parte apagadaOutra que ufana e aceleraNão acha-se sempre pertoIndo brilhar num desertoOnde a fantasia gera (ibid., p. 32).

Acerca do acróstico, Manoel Diégues Júnior (1975, p. 9) reconhece que:

Uma das maneiras que tinham os poetas para fazer sentir que os versos eram seus, encontrava-se no uso de um acróstico nos versos finais. Encontramos numerosos exemplos de literatura de cordel onde o acróstico final identifica o autor, o que, às vezes, passava despercebido ao grosso público. Outra forma era incluir o próprio nome no último verso da sextilha final de que usou....

Enquanto Antônio Alves se encontra no Rio, seu pai, na Bahia, adoece gravemente,

vindo a falecer pouco tempo depois. Antônio Alves, então, retorna a Salvador. A situação

não estava nada boa. Sua madrasta estava com as malas prontas para transferir-se para o

Rio de Janeiro. Ele, em decorrência disso, não pensa duas vezes: acompanha-a de volta ao

Rio.

Pela segunda vez, Antônio Alves vai trabalhar na construção civil, na mesma

construtora que o contratara. Permanece nesse trabalho por onze meses. Pede demissão.

Decide dedicar-se inteiramente ao cordel. Com o dinheiro da

rescisão contratual, compra uma “radiola”, com alto falante

portátil, e começa a vender seus folhetos nas praças do Rio de

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Janeiro, principalmente nas feiras de São Cristóvão. É justamente nesse período que Antônio

Alves conhece o famoso poeta José João dos Santos, conhecido como Mestre Azulão9, de

quem vai se tornar amigo e companheiro por toda a sua vida.

Ilustr. 2 - Mestre Azulão *Enquanto viveu no Rio de Janeiro, Antônio Alves se hospedou na residência do

Mestre Azulão. Dessa convivência surgiu uma amizade imorredoura. Mais tarde Antônio

Alves escreve o folheto, em forma de desafio10: “Peleja do Mestre Azulão com o negro dos

pés redondos”. No final da peleja, Antônio Alves escreveu:

Essa peleja lendáriaEu fiz pra meu companheiroQue é o Mestre AzulãoCordelista e violeiroEle é o maior poetaQue há no Rio de Janeiro (SILVA, [s.d.]).

A amizade dos dois foi eternizada nesse soneto, escrito por Antônio Alves, em que

ele, saudoso, rememora sua militância pela cultura popular e ainda lembra de fatos triviais,

mas marcantes, de sua convivência com a família Santos:

AO AMIGO AZULÃO

Azulão, caro amigo menestrel,

9 Encontra-se no site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (2008, [n.p.]) o seguinte resumo biográfico de José João dos Santos, o Mestre Azulão: “Natural de Sapé, Paraíba, onde nasceu aos 8 de janeiro de 1932. Cantador de viola e poeta de bancada, autor de mais de 100 folhetos, vive há vários anos no Rio de Janeiro e atuou na famosa Feira de São Cristóvão, abrindo caminho para outros poetas nordestinos que lá se estabeleceram. É um dos poucos cantadores vivos que ainda cantam romances, sendo freqüentemente convidado para apresentações em universidades brasileiras e até do exterior. Tem trabalhos publicados pela Tupynanquim Editora”.

* Foto disponível no site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel: http://www.ablc.com.br/historia/ hist_cordelistas.htm.

10 O desafio é uma “luta poética travada entre dois cantadores” (TERRA, 1983, p. 60). Também recebe o nome de peleja, combate, debate, discussão, encontro. Ruth Brito Lemos Terra (ibid., p. 64-65) ainda diz: “A luta verbal caracteriza a peleja. Luta que resulta do desafio do ‘saber’ (tentativa de vencer pelo conhecimento) ou da ‘força’ (tentativa de vencer pela ameaça verbal ao adversário)”. O duelo também se trava tanto em torno do conteúdo, exigindo muita argúcia de raciocínio, como no domínio da estrutura: nesse folheto, por exemplo, o debate começa em sextilhas, com versos em redondilha maior; de repente o negro, percebendo que já começa a perder para o Mestre Azulão, muda para o martelo, com versos decassílabos. No final volta para as estrofes de seis pés.

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Nos conhecemos no Rio de JaneiroVivendo lado a lado o ano inteiroDivulgando a cultura de cordel.

Para mim foste um amigo fielPara ti fui um fiel companheiroSem a ganância de ganhar dinheiroSempre remando no mesmo batel.

Você se lembra das belas peixadasToda segunda-feira, preparadasPor sua esposa, pelas matinais?

Eu e Jacira, Você e CelinaDo rio Gandu fazíamos piscinaNaqueles tempos que não voltam mais (SILVA, 1999).

O Mestre Azulão, por sua vez, em correspondência datada de 20 de junho de 1998,

escreve para Antônio Alves agradecendo pelos folhetos e o livro de sonetos que este lhe

enviara, e declara11:

(...) você é o maior poeta da Bahia tanto em poesia popular com lírica pois seu linguajar é clássico e muito inspirado.... você nem pense que eu vou me esquecer de você nunca pois é você o único amigo que eu tenho na Bahia e sempre me correspondeu em todas fases da minha vida e me acompanhou como grande amigo e fiel companheiro nas nossas andansas (sic) em busca do pão de cada dia através da poesia, pessoa como você é difícil se achar entre os homens de hoje... (SANTOS, 1998).

Sobre o Rio de Janeiro, Antônio Alves canta, embevecido, numa linguagem poética

envolvente e melodiosa: “Rio de Janeiro: seu povo e sua história” (SILVA, [s.d.]).12 O autor

demonstra conhecer não somente os aspectos geográficos do Rio, como também o espírito

do povo carioca. Escreveu ele:

Todo brasileiro almejaVisitar o ‘Grande Rio’Nadar nas praias de Búzios,Passear em Cabo Frio.Quem não pode fazer istoSente no peito um vazio.(...)O carioca é um povo

11 Transcrito como no original, com algumas supressões. 12 Folheto publicado, sem data, pela Prefeitura Municipal de Feira de Santana, através do Museu de Arte Contemporânea.

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Feliz, alegre e gentil.Por demais hospitaleiroSem preconceito servil,A cidade é a meninaDos olhos, do meu Brasil.

(...)As garotas de IpanemaDe pele alva e maciaQue Tom Jobim decantavaNa mais doce melodiaTrazem consolo pra alma,Aos olhos mais poesia (SILVA, [s.d.], p. 2-3).

À semelhança de muitos nordestinos, que migraram para o sul-sudeste, Antônio

Alves não esquece de sua Bahia. Bate forte a saudade. Também ouve falar de Feira de

Santana, maior cidade do interior baiano, a 108 km de Salvador. As feiras livres semanais,

que ocupavam as principais avenidas (tais como: Av. Getúlio Vargas, Av. Senhor dos Passos,

Rua Marechal Deodoro, Rua Sales Barbosa, etc.) de Feira de Santana, eram a grande

novidade vinda da Bahia. Elas atraíam viajantes, comerciantes, camelôs, vendedores de toda

sorte de mercadorias, inclusive da literatura de cordel.

A esse respeito, Franklin Maxado (2005, p.232), conhecido poeta feirense, expõe as

estratégias de venda dos folhetos:

Nessas feiras livres, os folheteiros, como camelôs, chegam cedo. Primeiro, marcam o local de expor suas malas e, mais tarde, abre-as, atraindo uma roda de curiosos. Começam a mostrar as novidades em livretos de ocasião, geralmente exibidos dependurados em barbantes ou mesmo no chão, em cima de um jornal. Há folhetos sobre casos acontecidos que fogem do comum, como crimes bárbaros, ataques de cangaceiros, sermões de beatos etc.

Edilene Matos (2006, p. 59) também chama a atenção para “o jogo de cintura”, a

performance, do cordelista, em seu afã de vender suas obras:

No poeta popular, quase sempre vendedor ele próprio de seus folhetos, o corpo–voz é também corpo – participa da ação de dizer, desde o tom anasalado da voz, passando pela marcação rítmica, até a expressão corporal, que se manifesta nos movimentos das mãos (sempre com o folheto aberto), na troca significativa de olhares, na curvatura do corpo, na sua dança de um lado para o outro, o compasso mesmo da narrativa em versos.

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5 EM FEIRA DE SANTANA, A CONSAGRAÇÃO

Aos 35 anos, Antônio Alves transfere-se para Feira de Santana a fim de se dedicar ao

cordel. Eram os primeiros anos da década de 60. Uma época extraordinária. Nas praças se

ouviam os discursos inflamados de Francisco Pinto, mais tarde cassado pela ditadura de 64.

O Município de Feira de Santana contava com um pouco mais de 140 mil habitantes 13. O

Colégio Santanópolis, fundado em 1933 pelo Prefeito Heráclito Dias de Carvalho, era o

grande reduto da intelectualidade feirense. Esse prefeito também criou os Currais Modelo,

conhecidos como Campo do Gado (PINTO, 1971, p. 83-84). O Campo do Gado ficava nas

imediações do centro da Cidade, onde hoje funciona o Museu de Arte Contemporânea, e se

tornou não apenas um dos mais importantes centros comerciais do interior baiano, como

também um dos palcos de atuação dos cordelistas. Ao lado disso, a grande feira semanal no

centro da Cidade favorecia a venda do cordel, e só veio a ser mudada em 10 de janeiro de

1977, por decreto municipal, no governo de José Falcão da Silva (MOREIRA,1986, p.113).

Na época, escritores populares faziam muito sucesso no mercado, nas feiras livres,

nas praças da Cidade, vendendo, lendo, cantando ou performatizando seus cordéis. Nancy

Oliveira (2003, p.3), em reportagem no jornal Tribuna Feirense, em seu suplemento cultural,

afirma que Antônio Alves, ao voltar do Rio de Janeiro,

[...] na Bahia, seus esteios foram Minelvino Francisco, Antônio Teodoro dos Santos – o Garimpeiro, Erotildes Miranda e João Ferreira. Já em Feira de Santana, onde se muito peleja para manter viva a chama do cordel, são os poetas Franklin Maxado, Caboclinho, João Ramos e Antônio Silva que ajudam a compor seu lúdico imaginário.

Logo que volta do Rio, Antônio Alves hospeda-se na Pensão Jacobina, que ficava na

Rua Conselheiro Franco. Lá conhece Rosa Maria da Silva, cozinheira da Pensão, com quem se

casa em 1964. A princípio vão morar no bairro Olhos d´Água, depois, mudam-se para o

Jardim Cruzeiro, onde residem até hoje. Desse duradouro relacionamento nasceram seis

filhos: Marilene, Miriam, Misael, Marivaldo, Marinádia e Miraci.

13 Segundo o IBGE, em 1960 a cidade de Feira contava com 61.612 habitantes, e o Município, com 141.757 (apud PINTO, 1971, p.99).

12

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Embora se afirme, no Dicionário de autores baianos, que Antonio Alves “ganhou a

vida como mascate de confecções, ao mesmo tempo em que comercializava seus cordéis”

(2006, p.344), isso só aconteceu por um certo período de sua vida. Ao voltar do Rio, veio

decidido a dedicar-se ao cordel.

Antônio Alves nunca tocou nenhum instrumento e, por causa disso, sempre

carregava a tiracolo sua radiola com alto falante. Mesmo quando não dispunha de sua

radiola, ele cantava seus cordéis. Em entrevista à jornalista Nancy Oliveira (2003, p. 3),

Antônio Alves afirmou: “O cordel precisa ser cantado. A sonoridade da leitura atrai as

pessoas. Se não cantasse os meus versos, nada venderia”.

Franklin Maxado levanta a discussão em torno dos folhetos pornográficos que

circulavam em Feira de Santana a partir da década de 50. Um deles, intitulado: Aragão, o

Desmarcado, não se sabe realmente quem foi o seu autor. O próprio Antônio Alves garante

que não o escreveu. Por outro lado, quanto ao folheto João Desmarcado, Franklin Maxado

(2005, p.233-234) escreve:

Ele é apógrifo, claro, temendo a censura e a repressão policial. O poeta Antônio Alves da Silva, que estava em plena atividade na década de 50, não

13

Ilustr. 3 - Casamento de AAS e Maria Rosa Fonte: Arquivo do autor

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sabe informar quem é o autor desses folhetos eróticos ou pornográficos. Ele é um famoso poeta nascido em Mata de São João, mas residente em Feira de Santana desde rapaz...

Na verdade, Antônio Alves assumiu a autoria desse folheto. Franklin Maxado atribui a

atitude de Antônio Alves de destruir o seu acervo de obras pornográficas à sua conversão

religiosa: “entrou para a ‘lei de crente’ na década de 70, e achava que não devia fazer mais

aquilo e ainda mais mentir para o povo” (MAXADO, 2005, p. 238). É certo que isso contribuiu

para Antônio Alves tomar essa decisão, mas, outro fator decisivo foi a influência de Rodolfo

Coelho Cavalcante, que passou a escrever suas obras com um tom mais moralizante. O

próprio Franklin Maxado reconhece isso quando afirma que “Rodolfo chegou a escrever

folhetos pornográficos, que depois ele renegou, achando que sentiu fazer mal para a

formação dos jovens” (MAXADO, 2005, p. 236).

Comentando certo folheto acerca de Lampião, Mário de Andrade (1975, p. 108)

destaca o desinteresse dos poetas populares pela sexualidade:

Se percebe desde logo que um pudor, ou milhor [sic], um certo lado grego destes rapsodos nordestinos faz eles se desinteressarem dos casos de sexualidade, e se preocuparem mais com as lutas e as grandes linhas trágicas em que o Fado dum herói tem uma finalidade mais social, mais coletiva.

Mário de Andrade tem toda a razão. Essa declaração também pode ser aplicada

perfeitamente tanto a Rodolfo Coelho como a Antônio Alves.

Luís da Câmara Cascudo (2005, p.17-18), por sua vez, também ratifica essas

ponderações, quando declara:

A ausência do verso obsceno é no sertão um índice de pureza. A sátira é visível em todos os versos, de todos os ciclos mas a intenção pornográfica não existe. O poeminha sujo coincide com a civilização. Luz elétrica, cinema, rádio, automóvel, revistas ilustradas são os elementos que anunciam a produção sotádica. Dantes havia a fábula, o ‘pelo-sinal’ em pé-quebrado, a décima irônica. Naturalmente haverá um versejador de pornografias humorísticas cujas produções correm na memória dos rapazes alegres. O poeta Cezion, de Açu, nada devia a Manuel Maria Barbosa du Bocage. Era um poeta tremendo. Continua inédito. Esses poetas constituem exceção. Um ou dois em cada cidade. Noutros lugares, não há notícia. Depois que a civilização chega para melhorar as inteligências e humanizar os costumes, o caso é outro...

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No que diz respeito à literatura de cordel, é possível verificar algumas práticas –

espúrias, diga-se de passagem –, principalmente no que diz respeito à confusão de autoria.

Franklin Maxado (2005, p. 234) afirma:

Antonio Alves foi incentivado a escrever folhetos por Rodolfo Coelho Cavalcante. Revelou que, naquele tempo, muitos poetas jovens ainda não tinham nome e escreviam estórias que vendiam para outros colegas publicarem com seu próprio nome.

Quando se trata de um produto de baixo preço, lançado sem muito alarde, sem

documentação, sem registros públicos, à semelhança do que ocorre com as tradições

populares, como diz Silvio Romero (1997, p. 38): “As tradições populares não se demarcam

pelo calendário das folhinhas; a história não sabe do seu dia natalício; sabe apenas das

épocas de seu desenvolvimento”; considerando que na maioria das vezes essas obras são

encomendadas a autores consagrados ou a editores, que também são escritores do mesmo

ramo, é comum haver essa confusão de autoria. Ao ver, por exemplo, em Légua & Meia:

Revista de Literatura e Diversidade Cultural (2005, p.247), uma cópia em fac-símile da obra:

O bicho que está aparecendo em Feira de Santana, apresentando Rodolfo Coelho Cavalcante

como seu autor, Antônio Alves espantou-se e disse: “Esta obra é minha. Eu que a escrevi!”

Umberto Peregrino discute também essa questão, afirmando ser uma prática antiga

e generalizada entre os cordelistas. Umberto Peregrino cita o caso de João Martins de

Athayde, e analisa as denúncias de supostas apropriações indevidas de obras alheias.

Defendendo a honradez de Athayde, Umberto Peregrino (1984, p.145) justifica, dizendo:

[...] verifica-se assim que o editor muitas vezes trabalhava contra a sua própria autoria no ato de editar-se a si próprio. Tudo se define, portanto, como simples desordem da maneira de conduzir o relacionamento autor x editor.

Ademais, talvez por questão de sobrevivência, Antônio Alves enviava os originais para

a Editora Luzeiro e mais tarde, mandava também para outras editoras, às vezes mudando o

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título, a capa, ou fazendo algumas adaptações no enredo. Esse fato não passou

despercebido a Franklin Maxado (2005, p. 235):

Antônio Alves da Silva me informou que vendeu muitos originais para a Editora Luzeiro, de São Paulo, que os publica em formato maior e com capas coloridas. Também escreveu outras versões para vender à Folheteria Santos, do Sr. Waldemar, no Pelourinho, de Salvador, cujas publicações imitavam aquelas do Luzeiro. Além disso vendeu originais a Rodolfo Cavalcante, que editava muito. Às vezes, mudava apenas o título das novas versões. Antônio Alves da Silva é muito prolixo e gosta de escrever muito, preferindo temas de princesas, monstros e romances de 32 ou mais páginas.

Outro problema que é possível observar, no âmbito da literatura de cordel, refere-se

à prática generalizada de não se colocar a data de publicação nos folhetos. Os folhetos de

Antônio Alves da Silva geralmente não vêm datados. Isso traz alguns percalços à história e

crítica literárias, pois, dentre outras limitações, perde-se o contexto original da época em

que a obra foi escrita. Quando, por exemplo, se pensa que o folheto Maria Besta Sabida

(2005) é atual, como os demais que dão prosseguimento a sua saga (como: Novas proesas

(sic) de Maria Besta Sabida, O seqüestro de Maria Besta Sabida e Francisco Mão de Seda

filho de Maria Besta Sabida), constata-se através de pesquisas que é muito antigo. Encontra-

se na última página do folheto Entre o amor e o perigo [s.d.], uma das obras mais antigas de

Antônio Alves da Silva, publicado pela Tipografia e Livraria Bahiana, uma propaganda de

Maria Besta Sabida.

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Ilustr.4 - Propaganda do folheto Maria Besta Sabida, nesse que é um dos mais antigos folhetos de AAS.

A despeito dessas falhas, Antônio Alves firmou-se em Feira de Santana como um dos

seus mais importantes cordelistas. A nova geração, que ainda atua nesta grande Cidade,

quase toda é a ele devedora. Tem sido considerado como “o mestre dos mestres da

Literatura de Cordel feirense”. No referido Dicionário de autores baianos (2006, p.343), dele

se diz:

Poeta laureado, é uma das maiores expressões em literatura de cordel, com mais de cem títulos em seu currículo e vários trabalhos premiados pela Fundação Cultural do Estado da Bahia na década de 80. Em 1998 ganhou o primeiro lugar no Concurso Nacional de Cordel sobre Lampião, promovido pela Universidade Estadual de Feira de Santana.

Realmente, no jornal A Tarde (1998, p.7), sob a epígrafe: “Baiano vence concurso

sobre Lampião”, saiu a seguinte notícia:

Com o folheto ‘A vingança de Lampião contra Zé Pereira, na Paraíba’, o baiano Antônio Alves da Silva foi o vencedor do Concurso Nacional de Literatura de Cordel sobre Lampião, promovido pela Casa do Sertão, órgão da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).

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Também foi noticiado que “o primeiro colocado terá mil exemplares do seu folheto

publicado... Os trabalhos serão editados pela Casa do Sertão e impressos na Universidade de

Feira” (A TARDE, 1998, p. 7).

O cordelista Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de

Literatura de Cordel, em correspondência datada de 4 de maio 1998, escreveu para Antônio

Alves, dizendo:

Li com grande interesse seus poemas, todos de excelente qualidade, quer do acabamento gráfico como do comportamento ortográfico. Os versos são claros e brilhantes, sendo que muitos deles chegam a ser até mesmo primorosos. A Academia precisa ter todos os seus títulos, um de cada. Traga-os, quando vier, ou mande-os pelo correio, com preços e forma de pagamento (SILVA, 1998).

Antônio Alves escreve com frequência. Suas histórias parecem brotar

espontaneamente na forma (ô) poética. Sua imaginação é fértil e prodigiosa. Seu estilo

chega quase à perfeição no domínio da métrica. É hábil tanto com as quadras (estrofes com

quatro versos) populares quanto com o martelo. Seus enredos são muito bem construídos,

muitas vezes com uma lógica impecável. É um mestre que domina não apenas o verso

escrito, mas também o repente. Nesse sentido, ele é muito versátil. Ao vivo, diante de seu

auditório, cria, adapta, modifica, parodia, canta, suas histórias, com a mesma facilidade com

que escreve seus folhetos. Incursionou14 também nos meandros da literatura clássica,

escrevendo uma obra de sonetos. Não é sem motivos que seu pseudônimo é Flor da Poesia.

Antônio Alves da Silva é um escritor cuja verve literária é perpassada pelo humor.

Mesmo abordando temas heroicos ou trágicos seu senso de humor está presente, como se a

comicidade fosse uma característica inerente à literatura de cordel. Por humor, deve-se

entender o seguinte, segundo Vladimir Propp (1992, p. 152):

O conceito de ‘humor’ foi frequentemente definido por diferentes estéticas. Em sentido lato podemos entender por humor a capacidade de perceber e criar o cômico. [...] O humor é aquela disposição de espírito que em nossas relações com os outros, pela manifestação exterior de pequenos defeitos,

14 À semelhança do poeta conhecido como Patativa de Assaré, Antônio Alves também escreveu poemas nos

moldes clássicos, com a obra: “De volta ao começo - sonetos” (1998).

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nos deixa entrever uma natureza inteiramente positiva. Este tipo de humor nasce de uma inclinação benevolente.

Falando de si mesmo, Antônio Alves da Silva (2003, p. 15) canta:

A cultura do cordelPara nós cai muito bem.Lá para as bandas do SulNão sobrou para ninguém,Só o que foi exportado,Mas em Feira ele é criadoE mostra a força que tem!

E eu que sou pioneiroDo cordel aqui em Feira,Por mais de quarenta anosHasteio a nossa bandeira,Para que nossa culturaNão vá para sepulturaNesta cidade fagueira!

Antônio Alves afirma que suas histórias surgem “como um estalo, e a inspiração

chega”. Nesse sentido, Max Berenson (1972, p.19), dissertando sobre o processo criativo do

artista, afirma:

O artista tem sua ideia em um lampejo. O que o lampejo apresentará ou revelará é o resultado não só dos dons que ele trouxe consigo ao nascer, mas de tudo que absorveu de seu ambiente e sua experiência: de seu ‘condicionamento’, sua educação, seus pais, seus companheiros, seus casos amorosos, leituras e viagens – em resumo, de sua existência inteira até o momento de êxtase criador, no qual tem a visão da obra de arte que está para produzir.

Sua vida, à semelhança do que diz Jorge Amado, em epígrafe à obra de Tereza Batista

Cansada de Guerra (1978),15 ressalvadas as devidas diferenças, é também uma história de

cordel. Considerando, entretanto, que esta dissertação não é somente sobre o autor, mas

sobretudo sobre algumas de suas obras, é preciso ficar por aqui. Ademais, como diz Gaston

Bachelard (2001, p.175), “os livros, e não os homens, são assim os nossos documentos, e

todo o nosso esforço ao reviver o devaneio do poeta consiste em experimentar o caráter

operante”. Também diz Mário de Andrade (apud BANDEIRA, [s/d], p. 19): “Para mim a 15 “Peste, fome e guerra, morte e amor, a vida de Tereza Batista é uma história de cordel” (AMADO, 1978, p.10).

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melhor homenagem que se pode prestar a um artista é discutir-lhe as realizações, procurar

penetrar nelas, e dizer francamente o que se pensa”.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antônio Alves da Silva continua operante, escrevendo profusamente, com a maestria

que lhe é peculiar, seus novos folhetos de cordel. Sem muito alarde, mas brava e

persistentemente, AAS e outros companheiros (Ademário José de Araújo, Asa Filho, Carlos

Melo, Franklin Maxado, Joaquim Gouveia, Jurivaldo Alves da Silva, Patrícia Oliveira da Silva,

etc.) marcam a sua presença na cultura local: juntos, não a deixam morrer, pois, caso isso

venha a acontecer, perder-se-ia a mais genuína expressão da voz, do canto e da cultura

popular.

Há uma beleza inerente ao canto do povo na voz do cordel. Sua estética literária foi

objeto de análise no segundo capítulo desta dissertação. Compartilha-se com Edilene Matos

quando também reconhece a importância do cordel na contemporaneidade:

Não estou de acordo, pois, com aqueles que consideram tais manifestações como algo ingênuo, de reduzido valor etnográfico, produções exóticas destinadas apenas a exposições e museus. Vejo-as, antes, como algo dinâmico, movente, de grande valor estético e expressivo; como exemplos eloquentes da riqueza e do alto nível de nossa cultura e arte populares (MATOS, 2006, p. 61).

É certo que em nossa época, mais ainda do que na de Walter Benjamin, dominada

pela técnica, pelos meios de comunicação de massa, pela indústria cultural e pelo estresse

decorrente das pressões do mercado de trabalho contemporâneo, a comunicação de

experiência e o ato de contar histórias resistem, nadando contra maré; grandes contadores

de história, como Antônio Torres, João Ubaldo, Franklin Maxado, Antônio Alves da Silva,

dentre outros, à semelhança de Sherazade, das Mil e um noites, quais arautos da esperança,

engendram novas formas de sobrevivência.

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