ANTONIO GREGÓRIO DA SILVA

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iv UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E ENSINO MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMAÇÃO DE PROFESSORES ANTONIO GREGÓRIO DA SILVA Ensino de Geografia na era digital: Uma experiência em sala de aula. Campina Grande - PB 2014

Transcript of ANTONIO GREGÓRIO DA SILVA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E ENSINO

MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES

ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Ensino de Geografia na era digital

Uma experiecircncia em sala de aula

Campina Grande - PB

2014

v

ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Ensino de Geografia na era digital

Uma experiecircncia em sala de aula

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Formaccedilatildeo de Professores da

Universidade Estadual da Paraiacuteba como

requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Educaccedilatildeo

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Letramento Digital

Orientador Prof Dr Marcelo Gomes Germano

Campina Grande - PB

2014

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vii

viii

DEDICATOacuteRIA

Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez

avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me

dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo

ix

AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes

Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela

orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa

Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de

realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar

A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia

muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual

As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva

Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de

Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da

Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes

Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu

precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com

distinccedilatildeo e profissionalismo

Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola

Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em

sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito

Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura

e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho

A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta

pesquisa

A todos meu muito obrigado

x

ldquoOu escreves algo que valha a pena ler

ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

44

passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

46

vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

48

este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

49

da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

50

luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

52

Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

ANTUNES C Novas maneiras de ensinar novas formas de aprender Porto Alegre Artmed 2002 172p

BARBETTA P A O planejamento da coleta dos dados IN Estatiacutestica Aplicada agraves Ciecircncias Sociais 5ordf ed Florianoacutepolis(SC) Editora da UFSC 2003 pp 19-40 BRASIL Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais Geografia Ensino de quinta a oitava seacuteries Brasiacutelia 1998 156 p

BACON F Vida e Obra In Os pensadores Traduccedilatildeo e notas Joseacute Aluysio Reis de Andrade Satildeo Paulo Nova Cultural 2005 pp 5-21

96

CAMBOIM S P SANTOS R O Explorando el Google Earth Revista InfoGEO pp 15-17 ano 2 nordm 4 abrilmaiojunho 2006 CASTELLS M A Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo In A Sociedade em Rede Traduccedilatildeo Roneide Venacircncio Majer v 1 Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 pp 49-86 COUTO M E S Alfabetizaccedilatildeo e letramento digital Revista Estudos IAT Salvador v2 n1 p 45-62 janjun 2012

FERREIRO E Alfabetizacioacuten digital iquestDe que estamos hablando Satildeo Paulo Educaccedilatildeo e Pesquisa v 37 n 2 p 423-438 maioago 2011

FREIRE P A Importacircncia do Ato de Ler em trecircs artigos que se completam 41 ed Satildeo Paulo Cortez 2001 87 p

GERMANO M G Uma nova ciecircncia para um novo senso comum Campina Grande (PB) EDUEPB 2011 397p GONCcedilALVES A R ANDREacute I R N AZEVEDO T S GAMA V Z Analisando o uso de Imagens do ldquoGoogle Earthrdquo e de mapas no ensino de geografia Arcne Revista electroacutenica de recursos en Internet sobre Geografiacutea y Ciencias Sociales [En liacutenea] Barcelona Universidad de Barcelona nordm 97 1 de junio de 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwubesgeocritaracnearacne-097htmgt Acesso em 01 fev 2014 HOBSBAWM E Era dos Extremos o breve seacuteculo XX 1914-1991 Traduccedilatildeo Marcos Santarrita Satildeo Paulo Companhia das Letras 2ordf ed 40ordf reimpressatildeo 2009 598p IBGE Censo Demograacutefico 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250090ampsearch=paraiba|araragt Acesso em 04 set 2013 INEP Matrizes da Prova Brasil e do SAEB 2010 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=209ampItemid=326gt Acesso em 04 de setembro de 2013 KIMURA S Geografia no ensino baacutesico questotildees e propostas 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 KLEIMAN A Texto e leitor aspectos cognitivos da leitura 8ordf ed Campinas SP Pontes 2002 LACOSTE Y Liquidar a geografia Liquidar a ideia nacional In Geografia e Ensino Textos Criacuteticos 3ordf ediccedilatildeo Campinas SP Papirus 1994 p 31- 82

97

LEacuteVY Pierre Cibercultura Trad Carlos Irineu da Costa Satildeo Paulo Editora 34 2009 LOCH R E N Cartografia representaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de dados espaciais Florianoacutepolis UFSC 2006 MATTOS C L G Estudos etnograacuteficos da educaccedilatildeo uma revisatildeo de tendecircncias no Brasil In ______ Etnografia e educaccedilatildeo conceitos e usos Campina Grande(PB) EDUEPB 2011 p 25-48 MOITA F M G S C Os games e o ensino de histoacuteria uma reflexatildeo sobre possibilidades de novas praacuteticas educativas Salvador(BA) Plurais v 1 n 2 p 115-130 maioago2010 MORAN J M A educaccedilatildeo que desejamos Novos desafios e como chegar laacute Campinas SP Papirus 2007 174 p PALFREY J GASSER U Nascidos na era digital entendendo a primeira geraccedilatildeo de nativos digitais Porto Alegre Artmed 2011 (trad Magda Franccedila Lopes) 352 p PASSINI E Y Aprendizagem significativa de graacuteficos no ensino de geografia In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 173-192 PEREIRA J S SILVA R G S O ensino de geomorfologia na educaccedilatildeo baacutesica a partir do cotidiano do aluno e o uso de ferramentas digitais como recurso

didaacutetico Revista de Ensino de Geografia Uberlacircndia v 3 n 4 p 69-79 janjun

2012 ISSN 2179-4510 Disponiacutevel em ltwwwrevistaensinogeografiaigufubrgt acesso em 02 fev 2014 PNUDAtlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 Perfil do Municiacutepio de Arara PB Disponiacutevel em ltwwwatlasbrasilorgbr2013perfil_printarara_pbgt acesso em 10 fev 2014 PNUDUNESCOUNICEFBANCO MUNDIAL Declaraccedilatildeo mundial sobre educaccedilatildeo para todos (Conferecircncia de Jomtien-1990) Plano de accedilatildeo para satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem UNICEF Brasiacutelia sd Disponiacutevel em httpwwwuniceforgbrazilptresources_10230htm Acesso em 07 set 2013 PRENSKY M O aluno virou especialista In Revista Eacutepoca ldquoOn linerdquo Satildeo Paulo nordm 634 ediccedilatildeo de 10 de julho de 2010 Disponiacutevel em lthttprevistaepocaglobocomRevistaEpocagt acesso em 02 nov 2012 PAPERT S A Escola In A famiacutelia em rede Ultrapassando a barreira digital entre geraccedilotildees Traduccedilatildeo Fernando Joseacute Silva Nunes Lisboa Reloacutegio DrsquoAacutegua Editores 1997 pp 205-239 SANDRONI L C MACHADO L R A crianccedila e o livro Guia praacutetico de estiacutemulo agrave leitura 4ordf ed Satildeo Paulo Aacutetica 1998

98

SANN J G Le Metodologia para introduzir a geografia no ensino fundamental In Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 95-118 SANTOS M Teacutecnica espaccedilo tempo globalizaccedilatildeo e meio teacutecnico-cientiacutefico informacional SP Hucitec 1994

SENNA L A G Reflexotildees sobre miacutedias e letramento In OLIVEIRA I B ALVES N BARRETO R G (Org) Pesquisa em educaccedilatildeo meacutetodos temas e linguagens Rio DPampA 2005 p161-174

SIMIELLI M E O mapa como meio de comunicaccedilatildeo e alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 71-93 SILVA C N O ensino de cartografia na era da (Geo)informaccedilatildeo In Revista Conhecimento Praacutetico Geografia Satildeo Paulo Escala Educacional Ediccedilatildeo nordm 40 p24-27 maiojun 2011 SILVA F G CARNEIRO C D R Geotecnologias como recurso didaacutetico no ensino de geografia experiecircncia com o Google Earth Caminhos da Geografia Uberlacircndia v 13 n 41 mar2012 p 329-342 Disponiacutevel em lthttpwwwigufubrrevistacaminhoshtml gt Acesso em 19 julho 2012 SILVA M Sala de Aula Interativa Rio de Janeiro Quartet 3ordf ed 2002 220 p SOARES JUacuteNIOR F C A produccedilatildeo histoacuterica do ensino da geografia no Brasil 2002 Trabalho apresentado ao II Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Natal (RN) 3 a 6 de novembro de 2002 Disponiacutevel em lt httpsbheorgbrnovocongressoscbhe2pdfsTema70743pdfgt Acesso em 07 set 2013 TARDIF M Os professores enquanto sujeitos do conhecimento In Saberes docentes e formaccedilatildeo profissional Traduccedilatildeo Francisco Pereira Petroacutepolis(RJ) Vozes 2011 pp 222-244 TRIPP D Pesquisa-accedilatildeo uma introduccedilatildeo metodoloacutegica Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 31 n 3 p 443-466 setdez 2005 Traduccedilatildeo Loacutelio L de Oliveira VLACH V Carlos Miguel Delgado de Carvalho e a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo em geografia In Geografia e Ensino textos criacuteticos Campinas Papirus 1994 p149-160

99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

v

ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Ensino de Geografia na era digital

Uma experiecircncia em sala de aula

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Formaccedilatildeo de Professores da

Universidade Estadual da Paraiacuteba como

requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Educaccedilatildeo

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Letramento Digital

Orientador Prof Dr Marcelo Gomes Germano

Campina Grande - PB

2014

vi

vii

viii

DEDICATOacuteRIA

Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez

avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me

dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo

ix

AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes

Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela

orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa

Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de

realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar

A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia

muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual

As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva

Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de

Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da

Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes

Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu

precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com

distinccedilatildeo e profissionalismo

Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola

Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em

sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito

Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura

e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho

A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta

pesquisa

A todos meu muito obrigado

x

ldquoOu escreves algo que valha a pena ler

ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

44

passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

46

vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

48

este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

49

da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

50

luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

52

Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

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99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

vi

vii

viii

DEDICATOacuteRIA

Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez

avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me

dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo

ix

AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes

Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela

orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa

Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de

realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar

A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia

muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual

As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva

Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de

Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da

Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes

Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu

precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com

distinccedilatildeo e profissionalismo

Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola

Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em

sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito

Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura

e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho

A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta

pesquisa

A todos meu muito obrigado

x

ldquoOu escreves algo que valha a pena ler

ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

44

passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

46

vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

48

este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

49

da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

50

luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

52

Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

ANTUNES C Novas maneiras de ensinar novas formas de aprender Porto Alegre Artmed 2002 172p

BARBETTA P A O planejamento da coleta dos dados IN Estatiacutestica Aplicada agraves Ciecircncias Sociais 5ordf ed Florianoacutepolis(SC) Editora da UFSC 2003 pp 19-40 BRASIL Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais Geografia Ensino de quinta a oitava seacuteries Brasiacutelia 1998 156 p

BACON F Vida e Obra In Os pensadores Traduccedilatildeo e notas Joseacute Aluysio Reis de Andrade Satildeo Paulo Nova Cultural 2005 pp 5-21

96

CAMBOIM S P SANTOS R O Explorando el Google Earth Revista InfoGEO pp 15-17 ano 2 nordm 4 abrilmaiojunho 2006 CASTELLS M A Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo In A Sociedade em Rede Traduccedilatildeo Roneide Venacircncio Majer v 1 Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 pp 49-86 COUTO M E S Alfabetizaccedilatildeo e letramento digital Revista Estudos IAT Salvador v2 n1 p 45-62 janjun 2012

FERREIRO E Alfabetizacioacuten digital iquestDe que estamos hablando Satildeo Paulo Educaccedilatildeo e Pesquisa v 37 n 2 p 423-438 maioago 2011

FREIRE P A Importacircncia do Ato de Ler em trecircs artigos que se completam 41 ed Satildeo Paulo Cortez 2001 87 p

GERMANO M G Uma nova ciecircncia para um novo senso comum Campina Grande (PB) EDUEPB 2011 397p GONCcedilALVES A R ANDREacute I R N AZEVEDO T S GAMA V Z Analisando o uso de Imagens do ldquoGoogle Earthrdquo e de mapas no ensino de geografia Arcne Revista electroacutenica de recursos en Internet sobre Geografiacutea y Ciencias Sociales [En liacutenea] Barcelona Universidad de Barcelona nordm 97 1 de junio de 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwubesgeocritaracnearacne-097htmgt Acesso em 01 fev 2014 HOBSBAWM E Era dos Extremos o breve seacuteculo XX 1914-1991 Traduccedilatildeo Marcos Santarrita Satildeo Paulo Companhia das Letras 2ordf ed 40ordf reimpressatildeo 2009 598p IBGE Censo Demograacutefico 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250090ampsearch=paraiba|araragt Acesso em 04 set 2013 INEP Matrizes da Prova Brasil e do SAEB 2010 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=209ampItemid=326gt Acesso em 04 de setembro de 2013 KIMURA S Geografia no ensino baacutesico questotildees e propostas 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 KLEIMAN A Texto e leitor aspectos cognitivos da leitura 8ordf ed Campinas SP Pontes 2002 LACOSTE Y Liquidar a geografia Liquidar a ideia nacional In Geografia e Ensino Textos Criacuteticos 3ordf ediccedilatildeo Campinas SP Papirus 1994 p 31- 82

97

LEacuteVY Pierre Cibercultura Trad Carlos Irineu da Costa Satildeo Paulo Editora 34 2009 LOCH R E N Cartografia representaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de dados espaciais Florianoacutepolis UFSC 2006 MATTOS C L G Estudos etnograacuteficos da educaccedilatildeo uma revisatildeo de tendecircncias no Brasil In ______ Etnografia e educaccedilatildeo conceitos e usos Campina Grande(PB) EDUEPB 2011 p 25-48 MOITA F M G S C Os games e o ensino de histoacuteria uma reflexatildeo sobre possibilidades de novas praacuteticas educativas Salvador(BA) Plurais v 1 n 2 p 115-130 maioago2010 MORAN J M A educaccedilatildeo que desejamos Novos desafios e como chegar laacute Campinas SP Papirus 2007 174 p PALFREY J GASSER U Nascidos na era digital entendendo a primeira geraccedilatildeo de nativos digitais Porto Alegre Artmed 2011 (trad Magda Franccedila Lopes) 352 p PASSINI E Y Aprendizagem significativa de graacuteficos no ensino de geografia In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 173-192 PEREIRA J S SILVA R G S O ensino de geomorfologia na educaccedilatildeo baacutesica a partir do cotidiano do aluno e o uso de ferramentas digitais como recurso

didaacutetico Revista de Ensino de Geografia Uberlacircndia v 3 n 4 p 69-79 janjun

2012 ISSN 2179-4510 Disponiacutevel em ltwwwrevistaensinogeografiaigufubrgt acesso em 02 fev 2014 PNUDAtlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 Perfil do Municiacutepio de Arara PB Disponiacutevel em ltwwwatlasbrasilorgbr2013perfil_printarara_pbgt acesso em 10 fev 2014 PNUDUNESCOUNICEFBANCO MUNDIAL Declaraccedilatildeo mundial sobre educaccedilatildeo para todos (Conferecircncia de Jomtien-1990) Plano de accedilatildeo para satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem UNICEF Brasiacutelia sd Disponiacutevel em httpwwwuniceforgbrazilptresources_10230htm Acesso em 07 set 2013 PRENSKY M O aluno virou especialista In Revista Eacutepoca ldquoOn linerdquo Satildeo Paulo nordm 634 ediccedilatildeo de 10 de julho de 2010 Disponiacutevel em lthttprevistaepocaglobocomRevistaEpocagt acesso em 02 nov 2012 PAPERT S A Escola In A famiacutelia em rede Ultrapassando a barreira digital entre geraccedilotildees Traduccedilatildeo Fernando Joseacute Silva Nunes Lisboa Reloacutegio DrsquoAacutegua Editores 1997 pp 205-239 SANDRONI L C MACHADO L R A crianccedila e o livro Guia praacutetico de estiacutemulo agrave leitura 4ordf ed Satildeo Paulo Aacutetica 1998

98

SANN J G Le Metodologia para introduzir a geografia no ensino fundamental In Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 95-118 SANTOS M Teacutecnica espaccedilo tempo globalizaccedilatildeo e meio teacutecnico-cientiacutefico informacional SP Hucitec 1994

SENNA L A G Reflexotildees sobre miacutedias e letramento In OLIVEIRA I B ALVES N BARRETO R G (Org) Pesquisa em educaccedilatildeo meacutetodos temas e linguagens Rio DPampA 2005 p161-174

SIMIELLI M E O mapa como meio de comunicaccedilatildeo e alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 71-93 SILVA C N O ensino de cartografia na era da (Geo)informaccedilatildeo In Revista Conhecimento Praacutetico Geografia Satildeo Paulo Escala Educacional Ediccedilatildeo nordm 40 p24-27 maiojun 2011 SILVA F G CARNEIRO C D R Geotecnologias como recurso didaacutetico no ensino de geografia experiecircncia com o Google Earth Caminhos da Geografia Uberlacircndia v 13 n 41 mar2012 p 329-342 Disponiacutevel em lthttpwwwigufubrrevistacaminhoshtml gt Acesso em 19 julho 2012 SILVA M Sala de Aula Interativa Rio de Janeiro Quartet 3ordf ed 2002 220 p SOARES JUacuteNIOR F C A produccedilatildeo histoacuterica do ensino da geografia no Brasil 2002 Trabalho apresentado ao II Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Natal (RN) 3 a 6 de novembro de 2002 Disponiacutevel em lt httpsbheorgbrnovocongressoscbhe2pdfsTema70743pdfgt Acesso em 07 set 2013 TARDIF M Os professores enquanto sujeitos do conhecimento In Saberes docentes e formaccedilatildeo profissional Traduccedilatildeo Francisco Pereira Petroacutepolis(RJ) Vozes 2011 pp 222-244 TRIPP D Pesquisa-accedilatildeo uma introduccedilatildeo metodoloacutegica Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 31 n 3 p 443-466 setdez 2005 Traduccedilatildeo Loacutelio L de Oliveira VLACH V Carlos Miguel Delgado de Carvalho e a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo em geografia In Geografia e Ensino textos criacuteticos Campinas Papirus 1994 p149-160

99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

vii

viii

DEDICATOacuteRIA

Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez

avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me

dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo

ix

AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes

Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela

orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa

Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de

realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar

A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia

muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual

As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva

Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de

Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da

Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes

Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu

precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com

distinccedilatildeo e profissionalismo

Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola

Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em

sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito

Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura

e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho

A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta

pesquisa

A todos meu muito obrigado

x

ldquoOu escreves algo que valha a pena ler

ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

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passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

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vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

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este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

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da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

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luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

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Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

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99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

viii

DEDICATOacuteRIA

Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez

avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me

dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo

ix

AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes

Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela

orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa

Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de

realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar

A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia

muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual

As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva

Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de

Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da

Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes

Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu

precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com

distinccedilatildeo e profissionalismo

Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola

Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em

sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito

Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura

e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho

A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta

pesquisa

A todos meu muito obrigado

x

ldquoOu escreves algo que valha a pena ler

ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

44

passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

46

vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

48

este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

49

da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

50

luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

52

Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

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BACON F Vida e Obra In Os pensadores Traduccedilatildeo e notas Joseacute Aluysio Reis de Andrade Satildeo Paulo Nova Cultural 2005 pp 5-21

96

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FERREIRO E Alfabetizacioacuten digital iquestDe que estamos hablando Satildeo Paulo Educaccedilatildeo e Pesquisa v 37 n 2 p 423-438 maioago 2011

FREIRE P A Importacircncia do Ato de Ler em trecircs artigos que se completam 41 ed Satildeo Paulo Cortez 2001 87 p

GERMANO M G Uma nova ciecircncia para um novo senso comum Campina Grande (PB) EDUEPB 2011 397p GONCcedilALVES A R ANDREacute I R N AZEVEDO T S GAMA V Z Analisando o uso de Imagens do ldquoGoogle Earthrdquo e de mapas no ensino de geografia Arcne Revista electroacutenica de recursos en Internet sobre Geografiacutea y Ciencias Sociales [En liacutenea] Barcelona Universidad de Barcelona nordm 97 1 de junio de 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwubesgeocritaracnearacne-097htmgt Acesso em 01 fev 2014 HOBSBAWM E Era dos Extremos o breve seacuteculo XX 1914-1991 Traduccedilatildeo Marcos Santarrita Satildeo Paulo Companhia das Letras 2ordf ed 40ordf reimpressatildeo 2009 598p IBGE Censo Demograacutefico 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250090ampsearch=paraiba|araragt Acesso em 04 set 2013 INEP Matrizes da Prova Brasil e do SAEB 2010 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=209ampItemid=326gt Acesso em 04 de setembro de 2013 KIMURA S Geografia no ensino baacutesico questotildees e propostas 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 KLEIMAN A Texto e leitor aspectos cognitivos da leitura 8ordf ed Campinas SP Pontes 2002 LACOSTE Y Liquidar a geografia Liquidar a ideia nacional In Geografia e Ensino Textos Criacuteticos 3ordf ediccedilatildeo Campinas SP Papirus 1994 p 31- 82

97

LEacuteVY Pierre Cibercultura Trad Carlos Irineu da Costa Satildeo Paulo Editora 34 2009 LOCH R E N Cartografia representaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de dados espaciais Florianoacutepolis UFSC 2006 MATTOS C L G Estudos etnograacuteficos da educaccedilatildeo uma revisatildeo de tendecircncias no Brasil In ______ Etnografia e educaccedilatildeo conceitos e usos Campina Grande(PB) EDUEPB 2011 p 25-48 MOITA F M G S C Os games e o ensino de histoacuteria uma reflexatildeo sobre possibilidades de novas praacuteticas educativas Salvador(BA) Plurais v 1 n 2 p 115-130 maioago2010 MORAN J M A educaccedilatildeo que desejamos Novos desafios e como chegar laacute Campinas SP Papirus 2007 174 p PALFREY J GASSER U Nascidos na era digital entendendo a primeira geraccedilatildeo de nativos digitais Porto Alegre Artmed 2011 (trad Magda Franccedila Lopes) 352 p PASSINI E Y Aprendizagem significativa de graacuteficos no ensino de geografia In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 173-192 PEREIRA J S SILVA R G S O ensino de geomorfologia na educaccedilatildeo baacutesica a partir do cotidiano do aluno e o uso de ferramentas digitais como recurso

didaacutetico Revista de Ensino de Geografia Uberlacircndia v 3 n 4 p 69-79 janjun

2012 ISSN 2179-4510 Disponiacutevel em ltwwwrevistaensinogeografiaigufubrgt acesso em 02 fev 2014 PNUDAtlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 Perfil do Municiacutepio de Arara PB Disponiacutevel em ltwwwatlasbrasilorgbr2013perfil_printarara_pbgt acesso em 10 fev 2014 PNUDUNESCOUNICEFBANCO MUNDIAL Declaraccedilatildeo mundial sobre educaccedilatildeo para todos (Conferecircncia de Jomtien-1990) Plano de accedilatildeo para satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem UNICEF Brasiacutelia sd Disponiacutevel em httpwwwuniceforgbrazilptresources_10230htm Acesso em 07 set 2013 PRENSKY M O aluno virou especialista In Revista Eacutepoca ldquoOn linerdquo Satildeo Paulo nordm 634 ediccedilatildeo de 10 de julho de 2010 Disponiacutevel em lthttprevistaepocaglobocomRevistaEpocagt acesso em 02 nov 2012 PAPERT S A Escola In A famiacutelia em rede Ultrapassando a barreira digital entre geraccedilotildees Traduccedilatildeo Fernando Joseacute Silva Nunes Lisboa Reloacutegio DrsquoAacutegua Editores 1997 pp 205-239 SANDRONI L C MACHADO L R A crianccedila e o livro Guia praacutetico de estiacutemulo agrave leitura 4ordf ed Satildeo Paulo Aacutetica 1998

98

SANN J G Le Metodologia para introduzir a geografia no ensino fundamental In Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 95-118 SANTOS M Teacutecnica espaccedilo tempo globalizaccedilatildeo e meio teacutecnico-cientiacutefico informacional SP Hucitec 1994

SENNA L A G Reflexotildees sobre miacutedias e letramento In OLIVEIRA I B ALVES N BARRETO R G (Org) Pesquisa em educaccedilatildeo meacutetodos temas e linguagens Rio DPampA 2005 p161-174

SIMIELLI M E O mapa como meio de comunicaccedilatildeo e alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 71-93 SILVA C N O ensino de cartografia na era da (Geo)informaccedilatildeo In Revista Conhecimento Praacutetico Geografia Satildeo Paulo Escala Educacional Ediccedilatildeo nordm 40 p24-27 maiojun 2011 SILVA F G CARNEIRO C D R Geotecnologias como recurso didaacutetico no ensino de geografia experiecircncia com o Google Earth Caminhos da Geografia Uberlacircndia v 13 n 41 mar2012 p 329-342 Disponiacutevel em lthttpwwwigufubrrevistacaminhoshtml gt Acesso em 19 julho 2012 SILVA M Sala de Aula Interativa Rio de Janeiro Quartet 3ordf ed 2002 220 p SOARES JUacuteNIOR F C A produccedilatildeo histoacuterica do ensino da geografia no Brasil 2002 Trabalho apresentado ao II Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Natal (RN) 3 a 6 de novembro de 2002 Disponiacutevel em lt httpsbheorgbrnovocongressoscbhe2pdfsTema70743pdfgt Acesso em 07 set 2013 TARDIF M Os professores enquanto sujeitos do conhecimento In Saberes docentes e formaccedilatildeo profissional Traduccedilatildeo Francisco Pereira Petroacutepolis(RJ) Vozes 2011 pp 222-244 TRIPP D Pesquisa-accedilatildeo uma introduccedilatildeo metodoloacutegica Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 31 n 3 p 443-466 setdez 2005 Traduccedilatildeo Loacutelio L de Oliveira VLACH V Carlos Miguel Delgado de Carvalho e a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo em geografia In Geografia e Ensino textos criacuteticos Campinas Papirus 1994 p149-160

99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

ix

AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes

Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela

orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa

Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de

realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar

A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia

muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual

As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva

Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de

Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da

Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes

Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu

precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com

distinccedilatildeo e profissionalismo

Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola

Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em

sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito

Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura

e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho

A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta

pesquisa

A todos meu muito obrigado

x

ldquoOu escreves algo que valha a pena ler

ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

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passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

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vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

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este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

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da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

50

luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

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transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

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Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

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99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

x

ldquoOu escreves algo que valha a pena ler

ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

44

passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

46

vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

48

este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

49

da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

50

luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

52

Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

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exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

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Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

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descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

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privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

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acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

ANTUNES C Novas maneiras de ensinar novas formas de aprender Porto Alegre Artmed 2002 172p

BARBETTA P A O planejamento da coleta dos dados IN Estatiacutestica Aplicada agraves Ciecircncias Sociais 5ordf ed Florianoacutepolis(SC) Editora da UFSC 2003 pp 19-40 BRASIL Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais Geografia Ensino de quinta a oitava seacuteries Brasiacutelia 1998 156 p

BACON F Vida e Obra In Os pensadores Traduccedilatildeo e notas Joseacute Aluysio Reis de Andrade Satildeo Paulo Nova Cultural 2005 pp 5-21

96

CAMBOIM S P SANTOS R O Explorando el Google Earth Revista InfoGEO pp 15-17 ano 2 nordm 4 abrilmaiojunho 2006 CASTELLS M A Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo In A Sociedade em Rede Traduccedilatildeo Roneide Venacircncio Majer v 1 Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 pp 49-86 COUTO M E S Alfabetizaccedilatildeo e letramento digital Revista Estudos IAT Salvador v2 n1 p 45-62 janjun 2012

FERREIRO E Alfabetizacioacuten digital iquestDe que estamos hablando Satildeo Paulo Educaccedilatildeo e Pesquisa v 37 n 2 p 423-438 maioago 2011

FREIRE P A Importacircncia do Ato de Ler em trecircs artigos que se completam 41 ed Satildeo Paulo Cortez 2001 87 p

GERMANO M G Uma nova ciecircncia para um novo senso comum Campina Grande (PB) EDUEPB 2011 397p GONCcedilALVES A R ANDREacute I R N AZEVEDO T S GAMA V Z Analisando o uso de Imagens do ldquoGoogle Earthrdquo e de mapas no ensino de geografia Arcne Revista electroacutenica de recursos en Internet sobre Geografiacutea y Ciencias Sociales [En liacutenea] Barcelona Universidad de Barcelona nordm 97 1 de junio de 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwubesgeocritaracnearacne-097htmgt Acesso em 01 fev 2014 HOBSBAWM E Era dos Extremos o breve seacuteculo XX 1914-1991 Traduccedilatildeo Marcos Santarrita Satildeo Paulo Companhia das Letras 2ordf ed 40ordf reimpressatildeo 2009 598p IBGE Censo Demograacutefico 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250090ampsearch=paraiba|araragt Acesso em 04 set 2013 INEP Matrizes da Prova Brasil e do SAEB 2010 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=209ampItemid=326gt Acesso em 04 de setembro de 2013 KIMURA S Geografia no ensino baacutesico questotildees e propostas 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 KLEIMAN A Texto e leitor aspectos cognitivos da leitura 8ordf ed Campinas SP Pontes 2002 LACOSTE Y Liquidar a geografia Liquidar a ideia nacional In Geografia e Ensino Textos Criacuteticos 3ordf ediccedilatildeo Campinas SP Papirus 1994 p 31- 82

97

LEacuteVY Pierre Cibercultura Trad Carlos Irineu da Costa Satildeo Paulo Editora 34 2009 LOCH R E N Cartografia representaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de dados espaciais Florianoacutepolis UFSC 2006 MATTOS C L G Estudos etnograacuteficos da educaccedilatildeo uma revisatildeo de tendecircncias no Brasil In ______ Etnografia e educaccedilatildeo conceitos e usos Campina Grande(PB) EDUEPB 2011 p 25-48 MOITA F M G S C Os games e o ensino de histoacuteria uma reflexatildeo sobre possibilidades de novas praacuteticas educativas Salvador(BA) Plurais v 1 n 2 p 115-130 maioago2010 MORAN J M A educaccedilatildeo que desejamos Novos desafios e como chegar laacute Campinas SP Papirus 2007 174 p PALFREY J GASSER U Nascidos na era digital entendendo a primeira geraccedilatildeo de nativos digitais Porto Alegre Artmed 2011 (trad Magda Franccedila Lopes) 352 p PASSINI E Y Aprendizagem significativa de graacuteficos no ensino de geografia In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 173-192 PEREIRA J S SILVA R G S O ensino de geomorfologia na educaccedilatildeo baacutesica a partir do cotidiano do aluno e o uso de ferramentas digitais como recurso

didaacutetico Revista de Ensino de Geografia Uberlacircndia v 3 n 4 p 69-79 janjun

2012 ISSN 2179-4510 Disponiacutevel em ltwwwrevistaensinogeografiaigufubrgt acesso em 02 fev 2014 PNUDAtlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 Perfil do Municiacutepio de Arara PB Disponiacutevel em ltwwwatlasbrasilorgbr2013perfil_printarara_pbgt acesso em 10 fev 2014 PNUDUNESCOUNICEFBANCO MUNDIAL Declaraccedilatildeo mundial sobre educaccedilatildeo para todos (Conferecircncia de Jomtien-1990) Plano de accedilatildeo para satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem UNICEF Brasiacutelia sd Disponiacutevel em httpwwwuniceforgbrazilptresources_10230htm Acesso em 07 set 2013 PRENSKY M O aluno virou especialista In Revista Eacutepoca ldquoOn linerdquo Satildeo Paulo nordm 634 ediccedilatildeo de 10 de julho de 2010 Disponiacutevel em lthttprevistaepocaglobocomRevistaEpocagt acesso em 02 nov 2012 PAPERT S A Escola In A famiacutelia em rede Ultrapassando a barreira digital entre geraccedilotildees Traduccedilatildeo Fernando Joseacute Silva Nunes Lisboa Reloacutegio DrsquoAacutegua Editores 1997 pp 205-239 SANDRONI L C MACHADO L R A crianccedila e o livro Guia praacutetico de estiacutemulo agrave leitura 4ordf ed Satildeo Paulo Aacutetica 1998

98

SANN J G Le Metodologia para introduzir a geografia no ensino fundamental In Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 95-118 SANTOS M Teacutecnica espaccedilo tempo globalizaccedilatildeo e meio teacutecnico-cientiacutefico informacional SP Hucitec 1994

SENNA L A G Reflexotildees sobre miacutedias e letramento In OLIVEIRA I B ALVES N BARRETO R G (Org) Pesquisa em educaccedilatildeo meacutetodos temas e linguagens Rio DPampA 2005 p161-174

SIMIELLI M E O mapa como meio de comunicaccedilatildeo e alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica In ALMEIDA RD de (Org) Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 71-93 SILVA C N O ensino de cartografia na era da (Geo)informaccedilatildeo In Revista Conhecimento Praacutetico Geografia Satildeo Paulo Escala Educacional Ediccedilatildeo nordm 40 p24-27 maiojun 2011 SILVA F G CARNEIRO C D R Geotecnologias como recurso didaacutetico no ensino de geografia experiecircncia com o Google Earth Caminhos da Geografia Uberlacircndia v 13 n 41 mar2012 p 329-342 Disponiacutevel em lthttpwwwigufubrrevistacaminhoshtml gt Acesso em 19 julho 2012 SILVA M Sala de Aula Interativa Rio de Janeiro Quartet 3ordf ed 2002 220 p SOARES JUacuteNIOR F C A produccedilatildeo histoacuterica do ensino da geografia no Brasil 2002 Trabalho apresentado ao II Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Natal (RN) 3 a 6 de novembro de 2002 Disponiacutevel em lt httpsbheorgbrnovocongressoscbhe2pdfsTema70743pdfgt Acesso em 07 set 2013 TARDIF M Os professores enquanto sujeitos do conhecimento In Saberes docentes e formaccedilatildeo profissional Traduccedilatildeo Francisco Pereira Petroacutepolis(RJ) Vozes 2011 pp 222-244 TRIPP D Pesquisa-accedilatildeo uma introduccedilatildeo metodoloacutegica Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 31 n 3 p 443-466 setdez 2005 Traduccedilatildeo Loacutelio L de Oliveira VLACH V Carlos Miguel Delgado de Carvalho e a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo em geografia In Geografia e Ensino textos criacuteticos Campinas Papirus 1994 p149-160

99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

xi

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula

Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

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espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

38

uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

39

Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

41

Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

42

Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

43

CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

44

passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

45

Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

46

vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

48

este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

49

da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

50

luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

52

Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

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98

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99

Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

101

Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

104

ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV

xii

Siacutentesis

Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth

xiii

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33

FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37

FIGURA 3 ndash

FIGURA 4 ndash

FIGURA 5 ndash

FIGURA 6 ndash

Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de

dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira

fase da dissertaccedilatildeo

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda

fase do trabalho

Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira

fase do trabalho

79

80

83

84

xiv

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42

FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino

participantes da pesquisa

77

FOTO 3 ndash

FOTO 4 ndash

FOTO 5 ndash

FOTO 6 ndash

Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto

nos exerciacutecios de cartografia

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para

os alunos

Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no

laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google

Earth

Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para

averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros

semanais

78

81

82

84

xv

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

21

GRAacuteFICO 2 ndash

GRAacuteFICO 3 -

GRAacuteFICO 4 ndash

GRAacuteFICO 5 ndash

GRAacuteFICO 6 ndash

GRAacuteFICO 7 -

Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes

puacuteblica e privada (2010)

Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino

fundamental entre 2002-2012

Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em

relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio

Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para

os dois grupos de alunos avaliados

Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as

aulas de Geografia

39

40

41

86

87

88

xvi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a

seacuterie frequentada

61

TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem

adequada a seacuterie frequentada

62

xvii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79

CAPIacuteTULO V

xviii

51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104

15

INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido

no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um

lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se

desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um

inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a

simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam

adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada

resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos

nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade

de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional

e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo

didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela

deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais

intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio

A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos

conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos

professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento

pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por

isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo

observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos

tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses

conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave

formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe

porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo

Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte

consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede

municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm

16

formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato

tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a

formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo

Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo

tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo

superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em

nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda

mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar

Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das

ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema

GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das

pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar

um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo

Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta

pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute

que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem

mais significativa

Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas

para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas

digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos

alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do

municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se

trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo

dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia

Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)

quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a

educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e

aprendizagem

Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de

informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos

caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos

constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa

17

nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa

desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo

cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do

antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um

sujeito construtor de sua aprendizagem

O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas

observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem

cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e

importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da

criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o

mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de

pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a

linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol

das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo

Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes

associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a

eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros

recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas

A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro

capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao

tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os

conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola

na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma

praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de

sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes

dos professores de Geografia

O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando

alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do

Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes

norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de

Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de

formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia

18

O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala

de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e

poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se

poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se

aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do

mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se

os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de

pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas

desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental

atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode

favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e

procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que

os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as

abstraccedilotildees cartograacuteficas

Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de

trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada

agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso

maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as

inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive

enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores

Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e

interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre

territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute

muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa

linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para

a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido

utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos

atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente

19

Capiacutetulo I

ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo

Johann Goethe

1 REVISAtildeO DA LITERATURA

No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos

professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos

ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os

materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica

essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das

redes sociais Afinal o que eacute leitura

Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni

e Machado definem a leitura como sendo

Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)

Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes

da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser

diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar

todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja

viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e

que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade

11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada

Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da

forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres

20

fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia

do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica

consciente

Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da

leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo

onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de

paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo

da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um

sujeito

A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)

Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser

desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas

palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto

professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-

nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos

do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo

estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que

realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel

de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo

Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os

conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas

matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia

16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para

a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que

665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de

21

se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que

sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico

Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia

escolar

Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo

Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos

alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da

Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da

Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo

para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar

matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas

cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno

e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)

12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um

bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis

Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na

experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos

pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia

Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam

resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o

22

espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos

os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em

nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos

Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos

complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do

pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de

espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica

procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar

os aspectos da cartografia digital

Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de

diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como

referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a

qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a

natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o

constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico

corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades

ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que

vivem

A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos

anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a

introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de

ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele

uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia

do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo

em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste

referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)

foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a

ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro

Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento

filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica

Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo

experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais

resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos

23

ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma

nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do

espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse

processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se

afasta do projeto inicial

A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)

Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo

do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo

Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI

Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)

A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria

da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola

alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do

homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt

(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha

havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser

uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e

aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso

[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)

Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se

afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro

de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso

Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel

24

desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um

desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade

tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o

impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de

Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente

importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo

das espeacutecies

O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)

Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos

(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que

possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles

inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do

mundo contemporacircneo

Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo

eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em

contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico

local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo

Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar

que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais

esse espaccedilo se ampliou consideravelmente

13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal

No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo

globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma

credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma

constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada

telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo

bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos

exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e

1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento

25

compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute

possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar

Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de

sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a

alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas

o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de

participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que

ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das

tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova

aldeia global que se descortina

131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos

conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar

alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo

atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento

ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo

nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia

digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)

ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e

transformaacute-la)

Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar

presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo

acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento

A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)

Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande

2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa

familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado

26

desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos

nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja

latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute

fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita

tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia

Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees

sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute

preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que

pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros

termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia

A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)

O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o

papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute

pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as

coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis

Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos

passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem

exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e

passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na

intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo

diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no

contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos

compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)

Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que

O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e

4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que

gerou o sistema de coordenadas cartesianas

27

projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)

E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para

entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade

extremamente penosa

Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento

por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando

extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas

informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu

de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um

complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a

interaccedilatildeo com os outros

Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura

resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo

com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo

Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute

naturalmente o papel da escola

Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)

aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo

entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento

linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos

conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem

que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam

ao alcance da nossa visatildeo

Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo

as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas

dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos

dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram

corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse

potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de

sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-

aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia

28

Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que

se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano

consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das

hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que

desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o

exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas

puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador

Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das

pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados

atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem

que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino

fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas

estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando

niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e

matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde

apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em

matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das

crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem

aprender o esperado pela sociedade

Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar

por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um

quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente

A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona

mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo

ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica

educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em

grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente

Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o

uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo

necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens

leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das

redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute

que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada

pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura

29

de mundo natildeo procede

Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo

complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de

aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem

as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores

tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os

compreender seu lugar no espaccedilo

14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital

No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com

inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando

assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras

utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees

sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo

veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se

tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma

planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se

acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees

demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas

temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de

bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos

nos noticiaacuterios locais

O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas

digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta

amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os

desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado

possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas

pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a

informaccedilatildeo geograacutefica

Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees

geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de

mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de

informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende

30

principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute

muito aqueacutem da ideal

Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)

Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser

incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que

viabilizam a leitura de mundo

Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do

mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo

o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo

contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo

que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma

forma que lemos textos e nuacutemeros

15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas

Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees

por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e

imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das

miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees

a partir dos dados expostos

Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da

aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como

livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando

que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em

formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de

plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de

ensino e aprendizagem

31

Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para

possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas

habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo

institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais

despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de

objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias

digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados

enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o

seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar

Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio

virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela

geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a

liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura

do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos

tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem

cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade

Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona

Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)

Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da

anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na

era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes

poucos conhecimentos

16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque

Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de

urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar

a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as

ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que

todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples

interpretaccedilatildeo de um mapa

32

Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do

segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de

alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa

notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital

disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer

parte da terra

Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido

por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No

ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado

muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar

por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir

distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada

localidade

Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os

mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth

mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os

usuaacuterios de empresas

Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza

dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em

tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos

trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina

Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os

municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a

rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais

apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)

[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros

Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma

tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir

as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou

qualquer parte da terra que se deseja visualizar

33

Figura 1 Tela inicial do Google Earth

Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014

Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth

apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo

da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do

aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das

representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se

torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo

Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua

linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das

crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que

encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees

transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos

preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva

Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao

ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e

dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no

cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos

mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e

expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito

34

no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo

do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel

ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso

explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth

Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir

plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de

mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico

mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as

desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute

natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza

atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias

para sua formaccedilatildeo pessoal

No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico

com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma

vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos

alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e

interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas

Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo

no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes

dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-

aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva

pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito

mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o

supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees

Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo

os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato

de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo

vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu

na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que

Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)

35

E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos

professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo

acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de

construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino

Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de

compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os

niacuteveis de ensino

Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como

corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no

processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais

interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse

processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-

las em desigualdades

Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos

conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na

formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo

superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais

seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador

Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus

alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de

conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas

satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o

mercado de trabalho

17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino

Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo

doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo

agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo

das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e

materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de

planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural

tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano

36

letivo

Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre

representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de

ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as

suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no

espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que

O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias

O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que

nos rodeia

A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da

capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da

aprendizagem interativa

O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula

os alunos para estudar cartografia

Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna

essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das

escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica

Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a

cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da

realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como

auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem

dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas

impressos submetem aos alunos

Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de

mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar

o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir

da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a

compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados

37

18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute

Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2

representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio

brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando

55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir

de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste

Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba

Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013

181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais

O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico

realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo

8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute

de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento

Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407

numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)

Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino

fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e

aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de

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uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs

niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria

Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo

da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-

Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no

periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria

entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu

2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo

acompanharam esses iacutendices

No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo

Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327

crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio

Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam

diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino

preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio

Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o

percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912

no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial

quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de

graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a

deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31

dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada

esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute

interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da

rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram

superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas

(Graacutefico 2)

5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os

anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e

com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes

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Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos

matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que

no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia

nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de

Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam

3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu

uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos (Graacutefico 3)

40

Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos

Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013

Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave

duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o

Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave

Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela

assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se

permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De

acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo

Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de

Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para

combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de

pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal

Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio

observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da

ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal

transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)

do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013

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Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos

147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do

Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa

de Transporte Escolar (PNATE)

Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio

Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)

Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais

acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de

trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados

exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das

escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na

educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados

182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo

A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a

rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as

crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento

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Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)

(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)

O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo

matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do

Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor

representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as

bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias

no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no

transcurso das seacuteries posteriores

A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas

seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo

acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro

didaacutetico

Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia

escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos

alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui

reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro

encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa

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CAPIacuteTULO II

2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil

No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de

pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos

educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o

crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e

industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma

reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram

estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em

Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano

Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo

em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias

21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial

A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de

155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo

baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre

os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia

Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital

produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do

niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada

que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um

exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho

Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas

da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de

evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)

associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as

agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD

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passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do

Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos

estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia

das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional

brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se

implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb

ENEM dentre outros)

Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os

setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de

educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo

Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien

e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de

analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo

brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas

nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia

ficar excluiacuteda desse contexto

22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria

Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel

desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da

Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica

essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa

atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste

[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)

7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o

Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais

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Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como

ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes

1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-

prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do

espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos

aprendidos nas escolas elementares

Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses

como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram

sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias

ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam

este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao

ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-

escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana

No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma

que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para

servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino

elementar

Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)

Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na

formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no

iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram

buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles

povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia

escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a

construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma

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vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais

humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos

utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de

unidade territorial

Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como

ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na

Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico

aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes

que interessavam as classes dominantes

Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)

Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser

requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um

saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores

numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que

foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu

de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido

inclusive nos domiacutenios coloniais

23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil

O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer

uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que

as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas

exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e

consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que

atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas

transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo

inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos

devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-

47

aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram

muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade

No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser

lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837

depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas

brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da

disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era

ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente

a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas

a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto

Alegre

Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas

vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e

culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai

da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia

brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos

geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de

geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e

Rio de Janeiro

No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a

geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de

formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao

ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao

meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos

para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade

mundial

Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma

importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os

professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas

uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo

intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o

que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para

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este ofiacutecio

Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de

colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do

Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos

geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas

televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas

redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas

engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade

Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute

faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)

ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que

geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo

baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do

saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou

mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso

se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no

Ensino Baacutesico

Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda

formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a

medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de

geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do

conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia

demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e

muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma

como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar

o conhecimento

Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem

sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele

eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e

ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes

ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de

manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula

para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto

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da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso

Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de

geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-

natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de

apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos

humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias

24 Novas maneiras de aprender

O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia

geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de

espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as

geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias

correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem

no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim

excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia

escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma

metodologia proacutepria

A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google

Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a

inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a

previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da

emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos

atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos

diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana

das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo

veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute

estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais

Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor

a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no

cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia

Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato

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luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)

Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais

satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos

tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo

do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem

sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente

de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades

Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que

dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que

este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute

conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal

caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional

orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no

ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo

Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a

facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso

do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas

digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)

Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de

forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa

atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de

melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma

escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos

vivem

Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios

51

transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na

sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim

de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a

cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem

tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo

25 Foco nas TICs o computador como aliado

O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de

comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais

diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do

conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo

tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam

localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as

novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se

estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da

formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de

aula

Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida

Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das

transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado

se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e

terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e

profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da

tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a

sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos

acontecimentos

52

Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-

cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e

analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este

modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no

acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico

Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)

Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel

do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo

Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)

Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de

um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no

final desse periacuteodo

O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)

Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor

passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por

Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute

possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo

ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na

53

economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza

estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton

Santos (1994)

Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo

eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)

Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel

na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram

historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade

26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital

Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos

digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde

as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica

do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o

desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos

alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho

docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das

deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua

formaccedilatildeo

Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de

referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo

configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina

a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois

tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados

em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma

como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao

8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital

Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo

54

cotidiano

O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo

tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama

de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo

Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)

Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que

computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa

geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e

falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte

natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de

forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um

mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais

O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as

geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se

desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu

cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela

digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um

novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os

europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez

pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo

de imigrantes digitais

Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre

manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para

conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto

eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais

55

No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo

daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo

pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser

categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que

eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a

humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois

nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os

imigrantes e para os nativos

Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa

ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs

Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)

Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses

recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem

disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico

Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo

a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em

meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio

para o professor que natildeo domina essas tecnologias

27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs

A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para

auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel

global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que

reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais

a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um

9 Ingecircnuo simples cacircndido

56

instrumento a serviccedilo dos interesses do capital

Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da

geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por

apatias

Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)

Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os

cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado

meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e

global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das

contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos

conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade

soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute

traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar

desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute

frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo

interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas

Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia

mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar

de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar

distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos

vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a

partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas

escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o

pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e

adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das

fragilidades do processo de ensino-aprendizagem

57

Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para

compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o

qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e

desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma

mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume

apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na

linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que

Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)

A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma

superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de

representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma

representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre

10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no

aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com

incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser

adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no

decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em

constante mutaccedilatildeo

Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em

vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino

fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem

Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do

global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a

importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em

diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo

geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)

Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf

seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute

58

havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios

sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa

deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos

abordam a temaacutetica da cartografia escolar

Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar

um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de

um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do

seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos

modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a

educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do

professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem

considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu

cotidiano

Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira

finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde

meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas

perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por

alunos quanto por professores

59

CAPIacuteTULO III

3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais

Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais

escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a

respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes

tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir

dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em

desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e

canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das

lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para

facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade

das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando

Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute

denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc

Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes

digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo

cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute

que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos

digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes

sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem

Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que

usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para

a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade

e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais

tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo

tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes

sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias

logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais

Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano

desses nativos digitais

60

Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional

passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo

o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada

ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees

ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo

inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como

professores e os uacuteltimos como aprendentes

Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se

utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos

nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes

da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry

DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum

motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line

Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das

salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as

incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila

na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em

que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das

avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)

Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo

sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group

(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir

61

Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem

adequada em

matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

40

42

36

35

9ordm ano

(Fundamental)

27

32

169

254

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10

(adaptado pelo autor)

Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais

esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as

crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua

portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se

analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental

cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam

dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta

estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do

Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de

aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados

pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si

soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que

eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei

contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual

leciono

Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em

todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto

10

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-brasil-em-2011html

62

Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista

Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame

de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que

as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os

recantos do paiacutes

Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto

em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm

ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de

estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os

alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC

Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em

matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos

alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso

isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do

desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta

imposta pelo MEC

Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada

Seacuterie avaliada

(Ano 2011)

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em liacutengua portuguesa

META

Desempenho dos

alunos com

aprendizagem adequada

em matemaacutetica

META

5ordm ano

(Fundamental)

216

20

186

66

9ordm ano

(Fundamental)

74

7

24

56

Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11

(adaptado pelo autor)

Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante

nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo

11

Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-

adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html

63

exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles

da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas

74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice

irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional

Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de

aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute

intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos

que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito

aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011

Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros

destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da

educaccedilatildeo brasileira

A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes

deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o

posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta

para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e

administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora

Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)

Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no

decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os

meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo

sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que

elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida

cotidiana

64

Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)

Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel

compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos

finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm

ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica

docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os

professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e

prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade

de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-

aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo

objeto desta pesquisa

31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios

Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do

seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute

um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais

globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute

um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais

considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo

educacional

Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo

sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o

mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana

faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos

na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno

desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado

nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que

adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se

65

descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas

desmotivadas e alunos indisciplinados

Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias

digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar

todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples

introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente

porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser

utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do

professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e

preferencialmente com muito planejamento

As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm

evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a

escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro

lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas

ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em

centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos

estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo

Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde

os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-

se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma

LAN house a cada esquinardquo

Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto

afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias

a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os

supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores

Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)

Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa

forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo

virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de

66

privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos

passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das

redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees

ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo

Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados

Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e

naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no

mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute

escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados

para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda

Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma

rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990

Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)

Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as

desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que

podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses

pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o

pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs

Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-

aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a

praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores

(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim

aprender juntos

Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter

acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre

conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos

ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do

estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo

o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma

67

acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio

da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor

como agente mediador do conhecimento

Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na

utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a

internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira

gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma

podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo

necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e

aprendentes

Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir

como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma

compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees

cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem

desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um

click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores

32 Cartografia escolar e ferramentas digitais

Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas

Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de

aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das

praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com

intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem

cartograacutefica escolar com as TICs

A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves

dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm

ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica

como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas

contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim

sugerem

A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos

68

para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)

Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as

ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais

da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e

escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase

escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em

junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram

consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente

para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro

atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo

atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de

aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento

nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo

Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam

perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores

natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa

digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos

poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um

processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem

esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino

Meacutedio

Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem

a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos

desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de

69

ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios

mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google

Earth e Google maps

Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de

ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos

nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos

(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se

promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica

A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de

alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida

em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como

controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes

suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de

espaccedilo geograacutefico

Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google

Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano

do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na

linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles

pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees

cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas

33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia

Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os

professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos

conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de

compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o

espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e

consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global

Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois

representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de

diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as

70

transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de

leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um

cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)

Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)

Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio

deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de

transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos

Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e

interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos

Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas

habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com

os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que

natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo

atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes

em rios (anexos 1 a 5)

Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo

deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos

do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras

pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno

estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem

maior niacutevel de abstraccedilatildeo

Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos

estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise

criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas

jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos

e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois

cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de

vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico

Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)

71

ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a

partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais

sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de

sateacutelites

Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a

contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo

reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais

o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo

eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda

de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime

Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse

processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que

por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute

utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das

ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser

compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma

maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente

encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil

aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais

O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente

plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do

que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas

dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos

podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala

de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a

praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se

adequarem as sugestotildees dos PCNs

Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave

alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da

Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro

Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas

72

vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)

12

Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar

todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino

e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de

ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais

disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores

Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas

palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia

para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a

ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo

N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a

alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos

tecnoloacutegicos nesses tempos modernos

12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo

de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor

73

CAPIacuteTULO IV

4 Caminhos metodoloacutegicos

Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades

realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico

desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao

objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar

ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais

atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso

das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino

usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na

mesorregiatildeo do Agreste paraibano

Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de

um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero

feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos

dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28

com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia

Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa

etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior

quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de

novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as

ferramentas digitais

Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos

com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os

alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)

enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em

papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se

tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em

sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o

grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de

informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta

74

comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma

mais confiaacutevel

Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns

alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir

positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso

primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um

questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia

anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao

domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu

que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth

41 Natureza da Pesquisa

A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da

unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-

metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo

do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e

livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do

presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde

este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo

Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser

implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus

problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que

eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o

aprendizado de seus alunos

Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de

desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das

preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana

envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem

contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um

burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de

seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops

Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois

75

modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as

verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos

doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de

encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo

conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os

fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo

O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute

receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias

sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo

A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo

Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de

recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida

entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo

participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO

planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que

A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)

Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros

durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos

aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por

turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de

classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina

Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)

Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em

pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros

ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do

76

programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do

projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis

no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua

milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4

42 Local e universo da pesquisa

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da

rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se

que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18

turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram

formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)

A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas

aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital

que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem

refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas

no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute

compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira

fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento

A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar

serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por

se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as

classes sociais representadas na comunidade local

43 Instrumentos da pesquisa

Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem

foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees

fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das

ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para

comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar

propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o

processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel

classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no

77

primeiro e uacuteltimo dia de encontro

Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa

Imagem do arquivo pessoal do autor set2013

No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo

puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as

falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam

a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa

procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em

relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem

analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a

carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e

ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos

44 Metodologia das intervenccedilotildees

Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para

abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia

especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa

78

Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das

questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno

matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do

Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas

impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)

Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos

resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas

modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais

(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos

durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas

Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo

compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos

que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em

relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-

se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps

79

45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa

Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs

etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta

teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a

compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na

criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar

as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir

Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades

envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e

Grupo usuaacuterio de mapas)

Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios

(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com

professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um

no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia

Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades

Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema

Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos

80

matutino e vespertino

Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em

comparaccedilatildeo com o Google Maps

Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute

havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial

teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na

oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo

cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar

Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de

equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade

Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos

modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em

seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno

matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas

impressos para os alunos do turno da tarde

81

Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos

Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013

Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades

Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro

semestre nas aulas de Geografia

Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos

alunos da turma

Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os

dois grupos de alunos

Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo

atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de

alunos um a cada turno

Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas

Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas

de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de

cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs

questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos

distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas

milimeacutetricas e papel A-4

82

Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth

Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013

Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum

participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da

turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos

computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio

teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os

participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa

enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento

das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica

Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees

do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com

mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do

primeiro grupo que usou as ferramentas digitais

83

Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades

Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do

programa em sala de aula

Entrevistas com os professores das turmas

Anaacutelise dos resultados

Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para

atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google

Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da

aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de

percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei

para a fase de anaacutelise

84

Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos

apresentados durante os encontros semanais

Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013

Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim

distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)

e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a

escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio

de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz

agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado

Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho

Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind

85

CAPIacuteTULO V

51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica

foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos

os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O

objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel

para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com

Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco

alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a

distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)

Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos

sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do

primeiro semestre letivo

A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas

digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o

grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem

apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder

interpretaacute-las

Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste

mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor

apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por

algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no

laboratoacuterio de informaacutetica

Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos

e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google

Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a

atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas

digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)

abaixo

86

Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano

52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais

Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas

avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a

primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados

pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que

usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel

A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que

usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo

qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais

nas aulas de Geografia

Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a

familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada

foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo

(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo

87

Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa

representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da

cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos

utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes

de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os

professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado

e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais

detalhada

Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que

vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para

ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se

aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no

laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que

concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a

acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que

supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da

possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar

que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse

e gosto pelos conteuacutedos ministrados

88

Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia

Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano

Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida

comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de

Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia

(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como

uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro

poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de

ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando

nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital

Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de

resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor

atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem

duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O

grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver

as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora

antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as

respostas a procura de soluccedilotildees

Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em

formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as

89

questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs

apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer

novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da

informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a

simulaccedilatildeo de voos

Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio

cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo

Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)

onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda

assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de

aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os

recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se

que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute

nasceram imersos na cibercultura

Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de

interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos

computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os

jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio

de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de

informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem

computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na

lan house

Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em

que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo

identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem

utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os

entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer

pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles

afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google

Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais

13

IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014

90

colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos

alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse

a falta de habilidade para com a leitura

Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio

(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)

Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola

buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras

formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem

constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer

do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que

cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de

informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos

e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo

submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse

os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas

91

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas

digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a

partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais

presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da

massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de

telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de

inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de

computadores

O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no

espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco

anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala

impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede

Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da

comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das

operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento

exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar

Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia

mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de

hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees

dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua

importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o

Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-

aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o

espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras

habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos

da segunda fase do Ensino Fundamental

Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar

14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014

92

cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais

facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento

necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de

48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino

Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por

sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos

das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram

com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais

resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos

O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia

escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo

2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo

encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos

de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24

participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que

trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear

com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da

disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel

a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para

as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio

sobre escalas geograacuteficas

Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que

o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em

comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve

melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma

relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma

constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil

de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs

dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram

capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos

Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o

desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se

possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos

envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois

93

grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma

amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas

em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba

Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta

de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa

constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos

envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era

trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas

A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o

que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem

dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante

ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca

escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para

todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias

coloridas em folhas avulsas

O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que

este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores

de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do

ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de

computadores a partir de outros ambientes

Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de

estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do

Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o

laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no

interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito

agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre

despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados

Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na

escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de

Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio

que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o

computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma

interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso

pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula

94

por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram

nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais

jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza

Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital

partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta

inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa

sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler

comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e

aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012

p 47)

No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino

de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da

alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes

posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)

Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir

as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma

cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o

suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas

de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital

Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia

desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e

especificidades que surgem desse novo cenaacuterio

95

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro ago 2002 ______NBR 6027 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - sumaacuterio ndash apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro jan 2013 ______NBR 14724 informaccedilotildees e documentaccedilatildeo - trabalhos acadecircmicos - apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro mar 2011 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 1994 90 p ALMEIDA R D Uma proposta metodoloacutegica para compreensatildeo de mapas geograacuteficos In _____ Cartografia Escolar 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 145-171 ALMEIDA R S O uso do google maps e google earth para o estudo do meio e trabalho de campo no parque municipal de Maceioacute 2011 Trabalho apresentado ao 1ordm Coloacutequio Internacional de Educaccedilatildeo e Contemporaneidade Eixo 8 Tecnologias Miacutedias e Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo-SEBrasil 21 a 23 de setembro de 2011 ISSN 1982-3657 ALVES A J O planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeo Satildeo Paulo Cadernos de Pesquisas v 77 maio1991 p 53-61 ALVES G A Cidade Cotidiano e TV In CARLOS A F(org) A geografia na sala de aula In DUARTE M de B (et all) Reflexotildees sobre o espaccedilo geograacutefico a partir da fenomenologia Revista eletrocircnica Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196 UFU 2005 ALVES R A alegria de ensinar Campinas SP Papirus 2000 93 p

ANTUNES C Novas maneiras de ensinar novas formas de aprender Porto Alegre Artmed 2002 172p

BARBETTA P A O planejamento da coleta dos dados IN Estatiacutestica Aplicada agraves Ciecircncias Sociais 5ordf ed Florianoacutepolis(SC) Editora da UFSC 2003 pp 19-40 BRASIL Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais Geografia Ensino de quinta a oitava seacuteries Brasiacutelia 1998 156 p

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96

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GERMANO M G Uma nova ciecircncia para um novo senso comum Campina Grande (PB) EDUEPB 2011 397p GONCcedilALVES A R ANDREacute I R N AZEVEDO T S GAMA V Z Analisando o uso de Imagens do ldquoGoogle Earthrdquo e de mapas no ensino de geografia Arcne Revista electroacutenica de recursos en Internet sobre Geografiacutea y Ciencias Sociales [En liacutenea] Barcelona Universidad de Barcelona nordm 97 1 de junio de 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwubesgeocritaracnearacne-097htmgt Acesso em 01 fev 2014 HOBSBAWM E Era dos Extremos o breve seacuteculo XX 1914-1991 Traduccedilatildeo Marcos Santarrita Satildeo Paulo Companhia das Letras 2ordf ed 40ordf reimpressatildeo 2009 598p IBGE Censo Demograacutefico 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250090ampsearch=paraiba|araragt Acesso em 04 set 2013 INEP Matrizes da Prova Brasil e do SAEB 2010 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=209ampItemid=326gt Acesso em 04 de setembro de 2013 KIMURA S Geografia no ensino baacutesico questotildees e propostas 2ordf ed Satildeo Paulo Contexto 2010 KLEIMAN A Texto e leitor aspectos cognitivos da leitura 8ordf ed Campinas SP Pontes 2002 LACOSTE Y Liquidar a geografia Liquidar a ideia nacional In Geografia e Ensino Textos Criacuteticos 3ordf ediccedilatildeo Campinas SP Papirus 1994 p 31- 82

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Apecircndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais

Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito

100

7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um

guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas

geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas

Muito obrigado por ter respondido

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Apecircndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel

1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as

cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22

centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km

a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente

a) 506 km

b) 2550 km

c) 3850 km

d) 5060 km

e) 10120 km

2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute

localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica

constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute

aprendeu em Geografia calcule e responda

QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES

a) 400 km

b) 1000 km

c) 1500 km

d) 3000 km

e) 4000 km

102

3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital

da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)

Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule

e marque a resposta correta

A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de

aproximadamente

a) 15 km

b) 585 km

c) 900 km

d) 1500 km

e) 6500 km

Vamos ao desafio

103

Apecircndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA

Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital

1ordf PARTE

1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as

cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)

Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia

2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e

descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)

A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York

3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza

A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km

2ordf PARTE

1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth

( ) Sim ( ) Natildeo

2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de

informaacutetica para ensinar a interpretar mapas

( ) Concordo ( ) Natildeo concordo

Muito obrigado

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ANEXO I

105

ANEXO II

106

ANEXO III

107

ANEXO IV