Antro Polo Gia

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    Sumrio CAPTULO 1 ANTROPOLOGIA GERAL 1.1 Conceitos Gerais CAPTULO 2 ANTROPOLOGIA CULTURAL 2.1. Conceituando Cultura 2.2. Aculturao 2.3 Objeto da Antropologia Cultural 2.4 Antropologia da Religio 2.5 Etnoteologia 2.6 Antropologia Cultural e a Bblia 2.7 Cosmoviso e Contextualizao CAPTULO 3 MITOS E TEORIAS DA CRIAO 3.1. A narrativa mitolgica 3.2 Modelos de mitos cosmognicos 3.3 A Teoria Big Bang CAPTULO 4 A BBLIA E A CRIAO 4.1 Como a Criao Bblica considerada? 4.2 A Teoria Geolgica da Criao (TGC) 4.3 A Teoria da Lacuna 4.4 Exposio Bblica da Criao

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    CAPTULO 5 TEORIAS DA ORIGEM DO HOMEM 5.1 A Teoria da Evoluo 5.2 Teorias Criacionistas CAPTULO 6 A CONSTITUIO DO HOMEM 6.1 Descrio Bblica 6.2 A Doutrina da Natureza do Homem 6.3 A Metafsica da Criao do Homem 6.4 Funes respectivas do Corpo, Alma e Esprito CAPTULO 7 A QUEDA DO HOMEM 7.1 A ocorrncia da queda 7.2.Esprito, alma e corpo aps a queda CAPTULO 8 O HOMEM SOB TRS ASPECTOS 8.1 O Homem natural 8.2 O Homem espiritual (1Co 2.15) 8.3 O homem carnal CAPTULO 9 A ORIGEM DA ALMA E DO ESPRITO DO HOMEM 9.1 Introduo 9.2 Teoria do Preexistencialismo 9.3 Teoria do Criacionismo 9.4 Teoria Traducionista 9.5 Consideraes finais

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    Captulo 1 ANTROPOLOGIA GERAL Por mais isoladas entre si que tenham vivido as diferentes sociedades humanas sempre souberam, salvo rarssimas excees, que alm de suas fronteiras havia "outros homens": homens que viviam de forma diversa, cuja pele era talvez de outra cor, que no adoravam os mesmos deuses, que pensavam de outra maneira. A curiosidade de conhecer esses homens e povos "diferentes" motivou o nascimento da antropologia, que atualmente no estuda apenas "os outros", mas todos os seres humanos. 1.1. Conceitos gerais Entre as muitas cincias que tm por objeto o ser humano, a antropologia -- "cincia do homem", segundo a etimologia -- o estuda do ponto de vista das caractersticas biolgicas e culturais dos diversos grupos em que se distribui o gnero humano, pesquisando com especial interesse exatamente as diferenas. O nascimento da antropologia como cincia ocorreu a partir dos grandes descobrimentos realizados por navegadores e viajantes europeus. A curiosidade de conhecer povos exticos, de saber como viviam e pensavam homens de culturas to distantes da europia, de descobrir que aspecto fsico e que costumes tinham, levou classificao e ao estudo dos dados recolhidos in loco -- isto , no lugar de origem -- por exploradores, comerciantes e missionrios chegados quelas terras longnquas. Os primeiros antroplogos tinham como caracterstica comum a distncia do objeto de seu estudo, o qual consistia sempre em homens pertencentes a culturas distintas da europia e dela geograficamente afastadas. A moderna antropologia, no entanto, estende sua pesquisa s sociedades industriais e at mesmo s grandes concentraes urbanas. Mas seus instrumentos de trabalho se foram aos poucos delineando justamente no estudo das sociedades "primitivas", mais simples e com um processo de mudana menos vertiginoso que o das sociedades modernas. Com freqncia, os antroplogos do sculo XIX relacionavam as caractersticas biolgicas dos povos com suas formas culturais. Mais tarde, estabeleceu-se que os traos biolgicos e os culturais tinham menos ligao entre si do que se acreditara. Isso levou a uma primeira subdiviso das cincias antropolgicas em antropologia fsica e antropologia cultural, esta ltima comumente assimilada ao conceito de etnologia. Desde a segunda metade do sculo XIX a antropologia cultural comeou a ser considerada uma cincia humana, com as limitaes e ambigidades prprias dessa categoria cientfica, enquanto a antropologia fsica continuou desenvolvendo seus mtodos de trabalho -- medio e estabelecimento de correlaes entre as medidas encontradas -- como uma cincia natural. Hoje os dois campos esto totalmente

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    diferenciados e poucos so os pesquisadores que trabalham ao mesmo tempo em ambos. 1.1.1. Antropologia e outras cincias Duas disciplinas muito relacionadas com a antropologia so a arqueologia pr-histrica e a lingstica. A arqueologia, necessria para conhecer o passado das sociedades, pode esclarecer em grande escala seu presente. A terminologia arqueolgica, anterior da antropologia, proporcionou a esta ltima muitos vocbulos teis. Por outro lado, a prpria antropologia til arqueologia, na medida em que estuda ao vivo sociedades muitas vezes semelhantes -- por exemplo, no desconhecimento dos metais -- a outras j desaparecidas, sobre as quais pode lanar abundante luz. Tambm a lingstica de grande importncia para a antropologia, no s porque o conhecimento do idioma se faz necessrio ao antroplogo nas pesquisas de campo, isto , feitas no local de origem, mas tambm porque muitos conceitos elaborados pelos lingistas so fundamentais para a anlise de determinados aspectos das sociedades: por exemplo, a concepo da sociedade como uma rede de comunicao, a anlise estrutural ou a forma em que se organiza a experincia vital do sujeito de uma comunidade em estudo. A sociologia, por sua vez, pode at certo ponto ser considerada uma "irm gmea" da antropologia. Em princpio, o que distingue as duas cincias o objeto de seu interesse: enquanto o socilogo se dedica ao estudo das sociedades modernas, o antroplogo comumente pesquisa as sociedades primitivas, embora o estudo das sociedades coloniais e de seu rpido processo de aculturao e modernizao social tenha desenvolvido um campo intermedirio no qual fica difcil estabelecer os limites entre o trabalho sociolgico e o trabalho antropolgico. Nesse terreno intermedirio surgiu a chamada antropologia social. O desenvolvimento da psicologia permitiu antropologia cultural utilizar novas bases para o estudo da relao entre o indivduo e a sociedade em que vive, da formao da personalidade e de outros aspectos que interessam igualmente s duas cincias. A psicanlise, em particular, impulsionou o desenvolvimento do conceito de cultura a partir de novas bases. A histria proporcionou aos antroplogos muitos dados impossveis de obter pela observao direta, assim como a antropologia ps disposio dos historiadores novos mtodos de trabalho, como os que se aplicam anlise da tradio oral. Quanto geografia humana, coincide com a antropologia na importncia que atribui aos diferentes usos do espao por parte do homem, transformao do habitat natural etc. Ambas as cincias esto, alm disso, relacionadas com a ecologia humana. No de estranhar que muitos dos primeiros antroplogos tenham vindo do campo da geografia.

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    1.1.2. Quem o Homem? ... Que o homem, para que faas caso dele, para que te ocupes dele, para que o inspeciones cada manh e o examines a cada momento?" "O homem a medida de todas as coisas". "Muitas so as coisas grandiosas dotadas de vida, mas a mais grandiosa de todas o homem". A primeira dessas trs frases uma das perguntas que J dirige a Deus; a segunda, uma reflexo do pensador grego Protgoras; e a terceira, uma fala da tragdia Antgona, de Sfocles. A elas poderiam reunir-se milhares de outras sobre o mesmo tema, de todas as pocas e civilizaes, o que mostra que nada preocupa tanto o homem quanto a condio humana, e nenhum espetculo mais atraente para o homem do que o prprio homem. Em sentido amplo, homem qualquer membro da espcie humana. Assim ele entendido pela filosofia e abordado, em cada um de seus aspectos particulares, pela biologia, antropologia, histria, medicina e outras disciplinas que o tm por objeto. A tarefa de definir homem, consiste em procurar respostas para algumas perguntas essenciais: qual a natureza ou a essncia do homem? Como se distingue ele dos outros seres orgnicos, especialmente dos animais superiores? Essa distino essencial e absoluta, ou apenas uma variao de grau? Qual o lugar do homem no mundo? Qual sua misso ou seu destino? Como se relaciona com Deus ou com absoluto? 1.1.3. Abordagem filosfica A noo ocidental de homem como indivduo tem como ponto de partida o pensamento grego. Para Scrates e Plato, cada ente s pode ser definido se todos os seres do universo estiverem classificados segundo certas articulaes lgicas e ontolgicas. Definir um ente consiste ento em tomar a categoria qual ele pertence e situar essa categoria no lugar ontolgico que lhe corresponde. Esse lugar ontolgico determinado por dois elementos de carter lgico: a categoria prxima e a diferena especfica. Por eles se chega definio de Aristteles: o homem um animal racional. Animal a categoria prxima, na qual se inclui o homem; racional a diferena especfica, por meio da qual se distingue conceitualmente o homem dos outros animais. Para a filosofia grega, o homem um "ser racional", ou melhor dito, um animal que possui razo. Essa definio implica dizer que o homem uma coisa cuja natureza consiste em poder dizer o que so as outras coisas. Ou seja, a razo permite ao homem definir-se e definir o conjunto do universo. Os gregos admitem que o homem tenha sido "formado", e tambm que sua formao tenha obedecido a condies especiais em relao aos demais seres, mas rejeitam a hiptese da criao. A viso do homem como ser criado comum ao judasmo e ao cristianismo e exerceu forte influncia sobre todas as concepes filosficas relacionadas com essas religies e tambm com o islamismo. O homem seria, ento, uma criatura, ou seja, um ser cuja realidade no prpria, mas que foi criado " imagem e semelhana de Deus", o que lhe confere superioridade em relao aos

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    outros seres. Para os gregos, o homem vive em dois mundos: o mundo sensvel, que ele apreende pelos sentidos, e o mundo inteligvel, que apreende pela razo, e onde se confirma sua realidade como ser racional. Na concepo judaico-crist, o homem tambm se acha suspenso entre dois mundos: o finito e infinito, o que ope em uma mesma natureza a insignificncia e a imensa grandeza. Afirma Pascal que "... a natureza do homem pode ser considerada de duas maneiras: uma, segundo seu fim, e ento grande e incomparvel; outra, segundo a multido, como se aprecia a natureza do cavalo e do co, e ento abjeto e vil. Esses so os dois caminhos que levam a julgamentos to diversos do homem, e a tantas discusses dos filsofos". 1.1.4. Abordagem biolgica Para as cincias naturais, a dificuldade de definir o que seja "homem" consiste em escolher entre dois pontos de vista: o da estrutura anatmica e o que se refere s faculdades reflexivas. No primeiro caso, o homem encontrar-se-ia imerso em sua animalidade; no segundo, estaria pairando sobre o mundo, isolado da natureza. Uma definio mais abrangente e completa de homem deveria levar em conta, portanto, tudo o que nele seja suscetvel de constatao positiva, isto , alm da conformao anatmica, preciso considerar a faculdade de pensar. Dessa dupla abordagem se depreende a originalidade do fenmeno humano. O mais exterior dos caracteres humanos sua tnue diferenciao morfolgica, dada por especializaes anatmicas (a face menor que o crnio, a postura vertical etc.) e fisiolgicas (o desamparo em que se encontra o ser humano nos primeiros meses de vida, a sexualidade aperidica etc.). Mesmo assim, dentro dos critrios adotados pela biologia para classificar os seres vivos, pode-se dizer que, por sua estrutura orgnica, o homem no pode aspirar seno a um lugar modesto na taxionomia animal: ele pertence ao subfilo dos vertebrados, ordem dos primatas e a uma famlia formada por um nico gnero, Homo. Mas outra caracterstica zoolgica do homem evidencia prontamente sua originalidade: a capacidade de expanso e conquista. Apesar da homogeneidade do grupo humano, o homem conquistou em relao ao conjunto do globo um sucesso vital sem precedentes, que se explica, pelo menos em parte, pela apario, com o homem, de uma nova fase na histria da vida: o uso de instrumentos artificiais, mais uma caracterstica do fenmeno humano. As tentativas de inserir o homem dentro da ordem dos primatas no primam pela preciso, uma vez que as diferenas de detalhes so complexas e controversas. O tamanho, e mais ainda, a complexidade do crebro humano em relao ao dos primatas no-humanos constitui o principal ponto de diferenciao anatmica. A postura ereta tambm um aspecto importante. Outras caractersticas anatmicas que distinguem o homem dos outros primatas, seja dos macacos antropides, seja dos primatas inferiores, alm do tamanho absoluto e relativo do crebro, so: o p, que serve de suporte e no prensil; o primeiro dedo do p, que no oponvel; os maxilares, de tamanho reduzido e pouco salientes; a ausncia de caninos salientes e

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    interpostos; curva lombar, bacia e pelve formadas ou modificadas para atender s funes de equilbrio e suporte do corpo na posio ereta; membros inferiores hipertrofiados, adaptados para o andar bpede; membros superiores mais curtos e aperfeioados, com mos grandes e prenseis, dotadas de dedos curtos e polegar oponvel; nariz saliente com pontas e asas bem desenvolvidas; ausncia completa de pelos tteis ou tentculos; escassez acentuada de plo secundrio no corpo, exceto na cabea, regies axilares e pbica e no rosto dos adultos masculinos; e presena de lbios cheios, invertidos e membranosos. 1.1.5. Abordagem psico-sociolgica Permanece vaga e ambgua a correlao entre as dimenses fsica e cultural do homem. Tal ambigidade levanta a dvida quanto ao problema de ser o homem causa ou resultado, criatura ou criador de seu patrimnio cultural. A questo do determinismo ou da liberdade da condio humana extrapola o mbito da antropologia e convoca a uma perspectiva inovadora no campo das cincias humanas, trazida pela psicologia: o conceito psicanaltico de inconsciente. Essa noo, que foi a principal descoberta de Sigmund Freud, veio mostrar que o psiquismo no redutvel ao consciente e que certos contedos psquicos s se tornam acessveis conscincia depois de vencidas certas resistncias. Para a sociologia, o homem, como ser social, resultado de processos sociais e de cultura que antecedem ao aparecimento do indivduo. O homem nasce com uma base orgnica, que o permite desenvolver-se em pessoa. Seus rgos e sentidos estabelecem o contato entre o que verdadeiramente hereditrio, natural e individual, e a vida social e a cultura. O comportamento humano d-se num quadro de circulao permanente de informao. Cada homem recebe ininterruptamente estmulos diversos e diversamente organizados, aos quais responde por comportamentos. Se isso verdadeiro para qualquer ser vivo, no homem se distingue pelas propriedades de sistematizao, de transferncia e de significao. 1.1.6. Abordagem antropolgica A classificao dos seres vivos proposta por Lineu e George-Louis Leclerc Buffon, no sculo XVIII, permitiu pela primeira vez integrar o homem numa srie zoolgica e estud-lo pelo mtodo das cincias naturais. A espcie Homo sapiens faz parte do gnero Homo, o que deixa aberta a possibilidade de existncia de outras espcies. O prprio gnero Homo pertence famlia dos homindeos, ordem dos primatas, classe dos mamferos, ao subfilo dos vertebrados e ao filo dos cordados. Dentro da espcie, pode-se distinguir os grupos (negro, branco, pigmeu etc.) e dentro de cada grupo as raas (nrdica, alpina, australiana etc.), depois as sub-raas, os tipos etc. A classificao do homem a partir do modelo zoolgico introduziu o conceito diferencial de raa e, ao mesmo tempo, tornou possvel definir a espcie por outros aspectos que no a racionalidade. Homo sapiens no necessariamente sinnimo de animal racional. Os critrios anatmicos e fisiolgicos que foram considerados com

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    maior rigor para a diferenciao da espcie. A antropologia preocupou-se tambm com os problemas da origem e da filiao da espcie. O Homo sapiens no seno o elo atual de uma ou vrias longas cadeias de ancestrais homindeos e pr-homindeos e talvez smios. Mas a reao taxionomia positivista acabou por impor um modelo que, sem desprezar os traos anatomo-fisiolgicos, restituiu antropologia geral as dimenses mentais do homem -- psicolgicas, culturais etc. Outra contribuio ao aprofundamento da perspectiva antropolgica foi o estudo da herana cultural. Em muitos aspectos, ela que permite ao homem moldar uma vida adaptada variedade de ambientes naturais e possibilita, dentro das limitaes ambientais, tipos de vida que tanto podem resultar de uma escolha como de uma determinao psicolgica interna. A herana cultural a transmisso das caractersticas culturais pelo ensino e aprendizagem. A cultura se transmite sob forma de padres explcitos e implcitos de comportamento e em suas materializaes. O homem , portanto, um animal portador de cultura, seja pelo domnio da linguagem, seja pelos padres de organizao familiar, pelo uso de ferramentas, enfim, pelo controle de um vasto domnio de conhecimento emprico e pela presena de elementos de ordem simblica, como tabus, mitos, rituais religiosos etc.

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    Captulo 2 ANTROPOLOGIA CULTURAL 2.1. Conceituando Cultura Em antropologia, a palavra cultura tem muitas definies. Coube ao antroplogo ingls Edward Burnett Tylor, nos pargrafos iniciais de Primitive Culture (1871; A cultura primitiva) oferecer pela primeira vez uma definio formal e explcita do conceito: "Cultura... o complexo no qual esto includos conhecimentos, crenas, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptides e hbitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade." J o antroplogo americano Melville Jean Herskovits descreveu a cultura como a parte do ambiente feita pelo homem; Ralph Linton, como a herana cultural, e Robert Harry Lowie, como o conjunto da tradio social. No sculo XX, o antroplogo e bilogo social ingls Ashley Montagu a definiu como o modo particular como as pessoas se adaptam a seu ambiente. Nesse sentido, cultura o modo de vida de um povo, o ambiente que um grupo de seres humanos, ocupando um territrio comum, criou na forma de idias, instituies, linguagem, instrumentos, servios e sentimentos. S o homem portador de cultura; por isso, s ele a cria, a possui e a transmite. As sociedades animais e vegetais a desconhecem. um complexo, porque forma um conjunto de elementos, inter-relacionados e interdependentes, que funcionam em harmonia na sociedade. Os hbitos, idias, tcnicas, compem um conjunto, dentro do qual os diferentes membros de uma sociedade convivem e se relacionam. A organizao da sociedade, como um elemento desse complexo, est relacionada com a organizao econmica; os dois entre si relacionam-se igualmente com as idias religiosas. O conjunto dessa inter-relao faz com que os membros de uma sociedade atuem em perfeita harmonia. A cultura uma herana que o homem recebe ao nascer. Desde o momento em que posta no mundo, a criana comea a receber uma srie de influncias do grupo em que nasceu: as maneiras de alimentar-se, o vesturio, a cama ou a rede para dormir, a lngua falada, a identificao de um pai e de uma me, e assim por diante. proporo que vai crescendo, recebe novas influncias desse mesmo grupo, de modo a integr-la na sociedade, da qual participa como uma personalidade em funo do papel que nela exerce. Se individualmente o homem age como reflexo de sua sociedade, faz aquilo que normal e constante nessa sociedade. Quanto mais nela se

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    integra, mais adquire novos hbitos, capazes de fazer com que se considere um membro dessa sociedade, agindo de acordo com padres estabelecidos. Esses padres so justamente a cultura da sociedade em que vive. A herana cultural no se confunde, porm, com a herana biolgica. O homem ao nascer recebe essas duas heranas: a herana cultural lhe transmite hbitos e costumes, ao passo que a herana biolgica lhe transmite as caractersticas fsicas ou genticas de seu grupo humano. Se uma criana, nascida numa sociedade bororo, levada para o Rio de Janeiro, passando a ser criada por uma famlia de Copacabana, crescer com todas as caractersticas fsicas -- cor da pele e do cabelo, forma do rosto, em especial os olhos amendoados -- de seu grupo bororo. Todavia, adquirir hbitos, costumes, a lngua, as idias, modos de agir da sociedade carioca, em que se cria e vive. Alm desses hbitos e costumes que recebe de seu grupo, o homem vai ampliando seus horizontes, e passa a ter novos contatos: contatos com grupos diferentes em hbitos, costumes ou lngua, os quais faro com que adquira alguns desses hbitos, ou costumes, ou modos de agir. Trata-se da aquisio pelo contato. Foi o que se verificou no Brasil do sculo XIX com hbitos introduzidos pelos imigrantes alemes ou italianos; o mesmo sucedeu em sculos anteriores, com costumes introduzidos pelos negros escravos trazidos da frica. Tais costumes vo-se incorporando sociedade e, com o tempo, so transmitidos como herana do prprio grupo. certo que essa transmisso pelo contato no abrange toda a cultura do outro grupo. Somente alguns traos se transmitem e se incorporam cultura receptora. Esta, por sua vez, se torna tambm doadora em relao cultura introduzida, que incorpora a seus padres hbitos ou costumes que at ento lhe eram estranhos. o processo de transculturao, ou seja, a troca recproca de valores culturais, pois em todo contato de cultura as sociedades so ao mesmo tempo doadoras e receptoras. Dessa forma, o homem adquire novos elementos culturais, e enriquece seu tipo cultural. Esses elementos, que compem o conceito de cultura, permitem mostrar que ela est ligada vida do homem, de um lado, e, de outro, se encontra em estado dinmico, no sendo esttica sua permanncia no grupo. A cultura se aperfeioa, se desenvolve, se modifica, continuamente, nem sempre de maneira perceptvel pelos membros do prprio grupo. justamente isso que contribui para seu enriquecimento constante, por meio de novas criaes da prpria sociedade e ainda do que adquirido de outros grupos. Graas s pesquisas em jazidas arqueolgicas, tem sido possvel recompor ou reconstruir as culturas, o que permite conhecer o desenvolvimento cultural do homem, sobretudo no campo material. mais difcil, porm, conhecer o desenvolvimento da cultura espiritual, embora muita coisa j se tenha podido esclarecer. De qualquer forma o que se sabe que, nascida com o homem, a cultura, sofreu modificaes ao longo dos tempos, enriquecendo-se de novos elementos e

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    adquirindo novos valores. A cultura acompanha, pois, a marcha da humanidade; est ligada vida do homem, desde o ser mais antigo. Com a expanso do homem pela Terra, ocupando os grupos humanos novos meios ambientes, a cultura se ampliou e se diversificou em face das influncias impostas pelo meio, cujas relaes com o homem condicionaram o aparecimento de novos valores culturais ou o desaparecimento de outros. 2.1.1 Sentidos de cultura Assim, dentro do conceito geral de cultura, possvel falar de culturas e, por isso, se identificam sentidos especficos segundo os quais a cultura antropologicamente considerada. So quatro, a saber: O primeiro sentido apresenta aqueles elementos de cultura comuns a todos os seres humanos, como a linguagem (todos os homens falam, embora se diversifiquem os idiomas ou lnguas faladas). So aqueles hbitos -- o de dormir, o de comer, o de ter uma atividade econmica -- que se tornam comuns a toda a humanidade. No segundo sentido, encontram-se os elementos comuns a um grupo de sociedades, como o vesturio chamado ocidental, que comum a franceses, a portugueses, a ingleses. So diversas sociedades que tm o mesmo elemento cultural; um exemplo o uso do ingls por habitantes da Inglaterra, da Austrlia, da frica do Sul, dos Estados Unidos, que, entre si, entretanto, tm valores culturais diferentes. O terceiro sentido formado pelo conjunto de padres de determinada sociedade, por exemplo, aqueles padres culturais que caracterizam o comportamento da sociedade do Rio de Janeiro; ou as peculiaridades que assinalam os habitantes dos Estados Unidos. O quarto sentido de cultura refere-se a de modos especiais de comportamento de um segmento de sociedade mais complexa. Uma dada sociedade possui valores culturais comuns a todos os seus integrantes. Dentro, porm, dessa sociedade encontram-se elementos culturais restritos ou especficos de determinados grupos que a integram. So certos costumes que, dentro da sociedade multplice do Rio de Janeiro, apresentam os habitantes de Copacabana, os de uma favela ou de um subrbio distante. A esses segmentos culturais de uma sociedade complexa, d-se tambm o nome de sub-cultura. So esses sentidos que permitem verificar a diferenciao de cultura entre os diversos grupos humanos. Tal diferenciao resulta de processos internos ou externos, uns e outros atuando de maneira diversa sobre o fenmeno cultural. Entre os processos internos, encontram-se as inovaes, traduzidas em descobertas e invenes, que, s vezes, surgem em determinado grupo e depois se transmitem a outros grupos, no raro sofrendo modificaes ao serem aceitas pela nova sociedade. Os processos externos explicam-se pela difuso: a transmigrao de um elemento cultural de uma sociedade a outra. Em alguns casos o elemento cultural mantm a mesma forma e funo; em outros, modifica-as ou mantm apenas a forma e modifica a funo. 2.2. Aculturao

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    O termo aculturao usado em antropologia para designa o contato entre duas ou mais culturas diferentes, bem como as transformaes decorrentes em cada uma delas, por fora desse contato. Os antroplogos, especialmente Bernard Siegel, conceituam a aculturao como "uma mudana de cultura que se inicia pela conjugao de dois ou mais sistemas culturais autnomos". Para eles, os sistemas culturais de caractersticas prprias j esto por si mesmos em contnua transformao e, se dois ou mais se aproximam, surgem estmulos tanto para maiores mudanas internas de cada um como para outras, recprocas, no conjunto que se formou. Como indicadores dessas modificaes e dos significados que assumem, esses antroplogos apontam etapas como a da "transmisso intercultural" e a das "adaptaes reativas", do ajustamento por assimilao ou fuso. Tratam ainda de dois fatos sociolgicos inerentes ao processo, o papel e a comunicao interculturais. Por papel intercultural entendem a funo desempenhada pelos indivduos que entram em contato, os quais, pelo fato de jamais dominarem todos os aspectos da prpria cultura, transmitem apenas parte do inventrio cultural. Comunicao intercultural seria "o arcabouo da trama de papis interculturais" que prov linhas de comunicao e de transmisso entre duas culturas. 2.2.1 Modalidades Vrios autores se detm no exame das diferentes modalidades de ao e reao no processo aculturativo. Em linhas gerais, so contemplados casos-padro como os que se seguem. Na aceitao, com maior ou menor cuidado e resistncia, adotam-se componentes da cultura alheia (no necessariamente a dominante: o tabaco, por exemplo, entrou na Europa a partir do contato com as culturas amerndias). Na adaptao, uma cultura se altera para incorporar componentes culturais tomados de emprstimo a outro ou outros povos e de presena constante, inevitvel. o caso dos cultos dos aborgines de ilhas do Pacfico; muito sobrevoados pelos avies, passaram a integr-los em seus cultos, preparando-lhes rituais "de aterrissagem" e levando-lhes oferendas. No corte, os agentes de uma cultura aceitam uma parcela relativamente grande de componentes culturais alheios, o que leva ao surgimento de dois padres coexistentes de comportamento, usados alternativamente conforme a situao. O corte cultural tpico do Japo contemporneo. Na oposio, as reaes vo do desprezo ou hostilidade s influncias estrangeiras at um messianismo que se ope ao novo, como a rebelio de Canudos e outros movimentos do sculo XIX, no Brasil. Na fuga uma cultura tenta ignorar a outra e isolar-se ao se ver ameaada, seja restabelecendo costumes do passado, seja buscando refgio geograficamente favorvel, como seria o caso da "cidade perdida" de Machu Pichu, no Peru, uma

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    provvel maneira de ocultar dos espanhis importantes remanescentes da civilizao incaica. Na destruio os representantes de uma cultura se esforam, direta ou indiretamente, para exterminar aquela ou aquelas que lhe causem estorvo. Todas as culturas amerndias, por exemplo, foram destrudas, total ou parcialmente, aps contato com as europias. 2.3 Objeto da Antropologia Cultural A antropologia cultural estuda o homem integrado em seu contexto social, psicolgico, biolgico, fsico e teolgico, apreciando o seu comportamento, valores, hbitos, lngua e crena. O conceito chave da Antropologia Cultural a cultura, mostrando a sua beleza, singeleza, simplicidade, complexidade e arquitetura relacional. A antropologia cultural o espelho do homem refletido na sociedade; ela apanha todo o sistema de valores, de comportamento, de atitudes e expresses e reflete tudo isto numa expresso cultural distinta. 2.4 Antropologia da Religio o ramo da antropologia que dedicado ao estudo das crenas religiosas do povo. A religio a maior expresso da crena de um povo. A religio uma das instituies sociais universal em todas as culturas. Toda sociedade conhecida pratica alguma forma de religio. A palavra religio vem do latim, e que dizer religar, dando a idia de lao, aliana, pacto. Religio a ligao do homem com Deus. Para a antropologia, religio, so todas as crenas e prticas em forma de doutrinas e rituais de uma religio. 2.5 Etnoteologia Etnoteologia a rea de estudo relacionada com a apresentao do evangelho e os modelos culturais relevantes na cultura receptora. Etnoteologia a disciplina concernente a desculturalizao (separao da cultura) e contextualizao da teologia. Cada cristo aprende sua teologia num conjunto cultural e logo comea a ver seu comportamento como um comportamento cristo. 2.6 Antropologia Cultural e a Bblia A Bblia a nica Regra de F e Prtica, e a nica fonte de confiana do cristo. A veracidade e autoridade final da Bblia sobrepem a todas outras cincias e argumentos. A nica fonte fidedigna que temos sobre Deus e as coisas relacionadas a Ele, a Bblia. A Bblia a revelao divina, possui inspirao divina e tem autoridade divina. Deus se revelou a si mesmo na Bblia (2Tm 3.16). Revelao divina Deus comunicando a verdade para o homem, e inspirao divina a influncia

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    divina que garante a transferncia fiel daquela verdade revelada. A Antropologia Cultural confere ao estudante da Bblia conceitos e ferramentas para compreender a cultura em que a Bblia foi escrita e consequentemente entender melhor a passagem bblica. No campo da etnoteologia, a antropologia cultural ajuda-nos a estabelecer uma teologia verdadeira intercultural e totalmente relevante cultura local, fornecendo ferramentas para a contextualizao da mensagem. Este estudo da etnologia mostra que a Bblia sagrada e infalvel, mas a transmisso da mensagem est atada cultura. preciso ento distinguir o que uma verdade bblica absoluta, e o que um aspecto cultural expresso na passagem bblica. 2.7 Cosmoviso e Contextualizao Cosmoviso a maneira pela qual as pessoas vm ou percebem o mundo, a maneira pela qual elas entendem o mundo ao seu redor e percebem sua participao e localizao neste mundo. a compreenso pessoal da realidade ao redor e do que elas so. Na cosmoviso animista a viso que a terra governada por espritos, e devido esta percepo do mundo tudo regulado por esta crena, a plantao, a colheita, a arquitetura de suas casas, os rituais, a religio, as festas e os modos de expulsar os maus espritos. Na cosmoviso Hind, a vida no est num tempo linear comeando com o nascimento e terminando com a morte, mas num tempo circular, onde os indivduos renascem centenas e milhares de vezes. Para eles, a morte apenas um ponto de reiniciar o processo circular da vida, visto que ir nascer e comear outras vezes. Na cosmoviso esprita, a reencarnao e contato com os mortos e espritos algo natural. Na cosmoviso catlica romana, Maria a personagem principal no cristianismo e a que assume a memria cultural constantemente. Na cosmoviso humanstica, o homem o centro de todo saber e de todas as coisas. Na cosmoviso islmica, ocorre uma substituio das idias do cristianismo, onde Maom a autoridade mxima, o alcoro o livro de regras, f e prtica, e Deus um juiz impessoal que julgar sem d alguma. Entender a cosmoviso o ponto de partida para estabelecer uma ponte naquela cultura pessoal e naquela mentalidade formada, a verdade transcultural do evangelho de Cristo. A cosmoviso de um povo reflete as suas suposies, valores e entendimento a respeito da vida e do mundo onde eles vivem. Por isto necessrio participar da vida e das experincias de um povo com entendimento para entender esta sua cosmoviso. Da, a necessidade de uma contextualizao, ou seja, a de apresentar a mensagem ajustvel ao ponto de vista, contexto e estilo cultural local. A Comunicao Transcultural vem, pois a ser, uma comunicao contextualizada, onde necessrio ter os conhecimentos da antropologia cultural para entender a cultura e a cosmoviso de um povo. Partindo do campo da Antropologia entramos no campo da Teologia, que o estudo de Deus, sendo a Bblia um documentrio

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    histrico da revelao de Deus aos homens. Teologia a idia, o pensamento, o conhecimento que o homem tem acerca de Deus, e a religio a prtica, nela o homem expressa em atitudes, aes e hbitos o que esse conhecimento de Deus produziu nele. Cada sistema cultural e religioso traa um caminho para o homem expressar sua crena e prtica religiosa. Na Etnoteologia vemos que cada cristo aprende sua teologia num conjunto cultural. A Bblia o mapa cultural e teolgico do povo de Deus e nela est contido o ensino de toda a teologia, padres culturais e comportamento aplicvel ao povo de Deus. Ela um manual teolgico e antropolgico aos adoradores do nico Deus vivo e verdadeiro. Captulo 3 MITOS E TEORIAS DA CRIAO 3.1. A narrativa mitolgica Um mito uma narrativa tradicional com carter explicativo e/ou simblico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou religio. O mito procura explicar os principais acontecimentos da vida, os fenmenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heris (todas elas so criaturas sobrenaturais). Pode-se dizer que o mito uma primeira tentativa de explicar a realidade. A explicao mtica contrria explicao filosfica. A Filosofia procura, atravs de discusses, reflexes e argumentos, saber e explicar a realidade com razo e lgica enquanto que o mito no explica racionalmente a realidade, procura interpret-la a partir de lendas e de histrias sagradas, no tendo quaisquer argumentos para suportar a sua interpretao. Ao mito est associado o rito. O rito o modo de se pr em ao o mito na vida do Homem (ex: cerimnias, danas, oraes, sacrifcios...). O termo "mito" , por vezes, utilizado de forma pejorativa para se referir s crenas comuns (consideradas sem fundamento objetivo ou cientfico, e vistas apenas como histrias de um universo puramente maravilhoso) de diversas comunidades. No entanto, at acontecimentos histricos se podem transformar em mitos, se adquirem uma determinada carga simblica para uma dada cultura. Na maioria das vezes, o termo refere-se especificamente aos relatos das civilizaes antigas que, organizados, constituem uma mitologia - por exemplo, a mitologia grega e a mitologia romana. Todas as culturas tm seus mitos, alguns dos quais so expresses particulares de arqutipos comuns a toda a humanidade. Por exemplo, os mitos sobre a criao do

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    mundo repetem alguns temas, como o ovo csmico, ou o deus assassinado e esquartejado cujas partes vo formar tudo que existe. Mito no o mesmo que fbula, conto de fadas, lenda ou saga. 3.2 Modelos de mitos cosmognicos Apesar de sua diversidade, as concepes mticas da origem do mundo recorrem, de modo geral, a dois modelos bsicos. Criao por um ser supremo. Os estudiosos do sculo XIX pensavam que o tema da criao por um ser supremo era inerente a um estgio cultural avanado. Pesquisas posteriores, no entanto, observaram essa crena entre povos primitivos da frica, ilhas do norte do Japo, Amrica, Austrlia central e em muitas outras partes do mundo. A natureza desse ser supremo, que freqentemente acompanhado de algum outro, hierarquicamente inferior, difere de cultura para cultura. A criao se realiza mediante seu pensamento, sua palavra - como na Bblia e no Popol Vuh - e, s vezes, com certo sentido de emanao, com seu calor e suor. Todos esses mitos, porm, possuem caractersticas comuns: (a) o ser supremo onisciente e todo-poderoso; (b) o ato de criao consciente, deliberado, planejado e livre, j que a divindade no fica vinculada criao; (c) a divindade desaparece at que se produza algum acontecimento catastrfico; (d) a criao um paraso que se desfaz por causa de um pecado. Nas concepes mticas sobre a criao por um ser supremo no cabe, no entanto, falar de criao a partir "do nada" no sentido filosfico e religioso da expresso. Supe-se nelas uma matria - geralmente o oceano ou as guas primeiras, consideradas como o caos - a partir da qual se realiza a criao. Criao por diviso de uma matria primordial. O segundo modelo de mito cosmognico corresponde queles que, mesmo apresentando certas similitudes com os anteriores, j que podem confundir-se com um deus ou ser supremo, so resultados de toda a nfase na prpria energia interna da matria, em manifestaes como um caos amorfo, um ovo primevo ou um primeiro casal. Um mito dos dogs, povo da frica ocidental, narra que o ser divino criou, originalmente, um ovo em que havia dois gmeos. Um destes, fugindo com parte da substncia existente para produzi-lo e cri-lo, resultou imperfeito. Nesse tipo de mito o ovo representa a androginia - macho e fmea - , a perfeita totalidade, que se desfaz com a separao dos gmeos. Os maoris das ilhas da Oceania acreditavam que de incio o cu e a Terra estavam estreitamente ligados e seus filhos, oprimidos pela escurido, cortaram os tendes que os uniam, fazendo o cu afastar-se, com o que a luz entrou. Uma

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    variao desses mitos seria a criao por desmembramento de um gigante, que simboliza a matria. A esse modelo deve corresponder o sacrifcio de Purusha, narrado no Rig Veda hindu: de sua cabea saiu o Sol, de seus ps a Terra, de sua conscincia a Lua, de sua respirao o vento. 3.2.1 A Cosmogonia Germnica No incio dos tempos, no existia nada alm do Ginnungagap. Nem areia, mar, cu ou terra, haviam sido criados. Depois de muito tempo, um novo reino ao sul emanou, um reino chamado Muspellheimr, feito de fogo, brasas ardentes e calor abrasador. No norte uma segunda regio, chamada Niflheimr, surgiu, e que consistia de ventos amargos, gelo e neve. Ginnungagap ficava entre estes dois reinos, e as guas dos onze rios da fonte Hvergelmir ali fluam. No meio do vcuo tudo era moderado, at um dia em que os elementos de fogo e gelo colidiram, ao norte a brisa fria de Niflheimr comeou a congelar o vcuo, enquanto a parte meridional foi degelada pelo calor que emanava de Muspellheimr. Tudo era desordem. Mas das gotas deste grande caos, a vida emergiu, na forma de um gigante de gelo. Seu nome era Ymir e os gigantes de gelo so seus descendentes. Certa vez, enquanto Ymir estava adormecido, o primeiro homem e mulher nasceram do suor da sua axila esquerda, e suas pernas deram luz a um filho. Enquanto isso, o gelo em Ginnungagap continuava derretendo, at que a vaca Auumla (Audumla) emergiu. Esta alimentou o gigante Ymir com suas quatro tetas e se sustentou lambendo seu gelo. Quando Auumla passou trs noites sucessivas lambendo os blocos de gelo salgado, outro ser apareceu, seu nome era Buri, e seu filho Bor casou com Bestla, e desta unio surgiram V, Vili e inn (Odin), os primeiros deuses (os dois primeiros so provavelmente correspondentes a Loki e Hoenir, respectivamente). Os filhos de Bor sentiam um dio tremendo pelo gigante Ymir, e ento engendraram sua morte. Os trs irmos tomaram o cadver de Ymir e o levaram ao centro de Ginnungagap e o cortaram em vrios pedaos. Com o descomunal corpo do gigante, V, Vili e inn criaram o mundo, de sua carne fizeram a terra, e dos ossos as montanhas. Das partes esquelticas quebradas de Ymir, dentes, e dedes dos ps criaram rochas, pedregulhos e pedras. O sangue que flua de Ymir deu lugar aos rios, lagos, e mar. Larvas cresceram da carcaa de Ymir, e estas foram amoldadas em anes. V, Vili e inn ergueram o crnio de Ymir to alto que este alcanou o fim dos limites da terra, isto eles chamaram de cu, e para sustent-lo sobre a terra, os filhos de Bor colocaram quatro anes, Norri (Nordri), Suri (Sudri), Austri, e Vestri, um em cada um dos quatro quadrantes, ou seja, correspondem respectivamente aos quatro pontos cardeais, Norte, Sul, Oeste e Leste. Os trs irmos arrebataram brasas ardentes do reino de Muspellheimr e formaram o sol, a lua, e as estrelas. Estes globos foram colocados sobre o mundo para iluminar a terra e para algumas estrelas foram determinados pontos fixos no cu, enquanto para outras foi dada permisso para danarem livremente.

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    V, Vili e inn criaram o mundo em forma esfrica, e um corpo de gua cercou a terra. Eles designaram a parte do mundo, chamada Jtunheimr, para a raa conhecida como os gigantes de gelo e pedra. Devido maldade dos gigantes sobre os humanos, os irmos levaram as sobrancelhas de Ymir para formar um muro protetor ao redor do centro da terra. Isto abrigou a rea que foi chamada Migarr (Midgard), e que abrigaria os humanos. O crebro de Ymir foi arremessado aos cus, pelos trs deuses e com eles formaram as nuvens. Um dia, enquanto os filhos de Bor caminhavam por Migarr, apreciando sua criao, perceberam que algo faltava, ao encontrarem dois troncos de rvore cados, um de Freixo e o outro de Olmo, inn criou o primeiro homem e mulher e lhes deu a essncia da vida, Vili lhes deu raciocnio e sentimentos, enquanto V lhes deu a habilidade para ouvir, falar e ver. Seus nomes eram Askr e Embla. V, Vili e inn ainda criaram os meios para medir e gravar o tempo, as fases claras e escuras da terra que eram governadas pela deusa Nott (noite) e por seu amante Dag (dia). inn fixou-os nos cus em carruagens que circulam o mundo todo a cada dois meio dias. A carruagem de Nott puxada por um cavalo de nome Hrimfaxi e a carruagem de Dag por uma gua de nome Skinfaxi. Um homem teve um filho ao qual deu o nome de Mni e uma filha qual deu o nome de Roull (Rodull). 3.2.2 Gneses Grega Os gregos conheciam diversas lendas sobre a origem do mundo. Homero considerava o tit Oceano a origem dos outros deuses; as doutrinas rficas, a julgar por testemunhos tardios, mencionavam Nix como o princpio de todas as coisas; para Hesodo, tudo havia comeado com Caos e Gaia. Fercides de Siros (sc. -VI) sustentava que Zeus, Crono e Gaia haviam existido sempre e, portanto, no teria ocorrido propriamente uma criao. Outras fontes mencionam, ainda, a origem a partir de um "ovo primordial"... Todas as foras que haviam atuado no momento da criao, todavia, e em qualquer das verses conhecidas, eram divinas para os gregos. A cosmogonia de Hesodo. A verso contida na Teogonia de Hesodo , dentre todas, uma das mais coerentes e bem estruturadas, alm de didtica. , tambm, a mais conhecida: Caos Gaia Trtaro Eros rebo Nix No princpio, existia apenas o Caos (gr. ....), vazio primordial e escuro que precedeu toda a existncia; depois, surgiu Gaia, a "me de todos", e a seguir vieram Trtaro e Eros, e rebo e Nix. Essas poderosas divindades primitivas comearam a existir, aparentemente, a partir de simples desdobramentos, sem a ajuda de qualquer unio sexual. Originaram,

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    posteriormente, os deuses propriamente ditos atravs de mais desdobramentos ou, ento, "unidos em amor"... (Hes.Th. 125). Eros e Trtaro. Assim como Caos, essas duas entidades eram mais conceituais do que corpreas e refletem o gosto dos antigos gregos pelas abstraes. Eros (gr. E...), o amor, "o mais belo dentre os deuses imortais", representa o impulso amoroso que compeliu as primeiras divindades a se unir para gerar descendncia. Esse Eros no deve ser confundido com o "travesso" filho de Afrodite; trata-se, aqui, de uma fora primordial capaz de formar o mundo atravs da unio de elementos individuais. O Trtaro (gr. ...ta...) era uma espcie de abismo distante, localizado bem abaixo de Gaia. Era uma regio de trevas profundas e eternas, onde os deuses encarceravam em geral seus maiores inimigos, como por exemplo os derrotados tits. Muito tempo depois da criao do mundo, quando Zeus era j a divindade suprema, Trtaro uniu-se a Gaia e gerou o monstruoso Tfon. Depois do Perodo Clssico, Trtaro tornou-se praticamente um sinnimo de Hades, nome do local para onde iam as sombras dos mortos. Gaia. Pois bem, no princpio nasceu Caos; depois, Gaia de amplo seio, a eterna base de tudo (Hes.Th. 116-117). Gaia ou G (gr. Gaa / G), a terra, "me" dos deuses e dos homens, personificava a inesgotvel capacidade geradora da terra; as linhagens divinas mais importantes, os piores monstros e tambm todos os homens descendem dela. Sua participao nas lendas se caracteriza pelas infalveis profecias, ou ento simplesmente pela capacidade de ter filhos. 3.2.3 A Cosmogonia da Mesopotmia Os povos mesopotmicos, em especial sumrios e babilnios, desenvolveram uma cosmogonia completa que se preservou em textos como o Poema de Gilgamesh e o Enuma elish, com mitos consolidados durante o terceiro e o segundo milnios antes da era crist. Entre esses povos representava-se o incio da criao como um processo de procriao: os deuses teriam sido os elementos naturais que formaram o universo, muitas vezes por meio de lutas contra foras desagregadoras. Os babilnios, numa epopia sobre a criao, glorificavam a vitria de Marduk, o nico deus bastante forte para derrotar o drago Tiamat, personificao do caos e das guas do mar. Em linhas gerais, a mitologia mesopotmica apresentava como princpio do mundo Abzu e Tiamat, elementos masculino e feminino das guas, origens do universo celeste e terrestre. Tiamat produziu o cu, de que nasceu Ea (o conhecimento mgico), que engendrou Marduk. Este derrotou os outros deuses e dividiu o corpo de Tiamat, separando assim o cu da Terra e, com o sangue de um monstro derrotado, produziu o primeiro homem. 3.2.4 A Cosmogonia da Amrica

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    Os onondagas, povo que habitava a regio que posteriormente seria o estado de Nova York, nos Estados Unidos, elaboraram uma cosmogonia mtica inteiramente particular. Em essncia, o relato pode assim se resumir: o grande cacique das pradarias celestiais cansou-se de sua mulher e lanou-a s infinitas guas turvas. Ela pediu ajuda aos animais marinhos para que retirassem o barro do fundo do mar. O sol secou o barro e pde instalar-se nele a Mulher celestial, ou a grande me Terra. Entre os povos americanos foram provavelmente os maias que desenvolveram um mito mais coerente sobre a origem do mundo. Sua explicao remonta ao princpio ltimo e concebe a criao em 13 etapas. Na primeira, Hunab Ku, o deus uno, fez-se a si mesmo e criou o cu e a terra. Na dcima terceira, tomou terra e gua, misturou-os e desse modo foi moldado o primeiro homem. Mesmo assim, os maias consideravam que vrios mundos se haviam sucedido e que cada um deles se acabou em conseqncia de um dilvio. O Popol Vuh, dos povos maias, constitui uma extraordinria narrativa cosmognica e se refere criao do primeiro homem a partir do milho. Em outras religies amerndias, as crenas e mitos csmicos tambm se relacionam com os elementos da natureza. Para os incas, o lugar da criao do homem pelo deus Huiracoch situava-se perto do lago Titicaca, nas proximidades de Tiahuanaco. Os astecas, segundo o Cdigo matritense, situavam em Teotihuacan a catstrofe csmica que ps fim idade anterior. Nesse lugar, os deuses se reuniram para deliberar quem se lanaria na fogueira para transformar-se em Sol, o que foi conseguido pelo humilde Nanahuatzin. No Brasil, a cosmogonia dos ndios se reporta a um criador do cu, da Terra e dos animais (o Mon dos tupinambs) e a um criador do mar, Am Atupane, talvez Tup, entidade mtica que os jesutas consideraram a expresso mais adequada da idia de Deus surgida nos domnios da catequese. 3.3 A Teoria Big Bang O Universo no surgiu em uma grande exploso - pelo menos no da forma como uma bomba explodiria. O termo big-bang - ("grande exploso", em ingls) foi escolhido como a mais simples definio do modelo cientfico que afirma que, h bilhes de anos, todo o Universo estava concentrado em um espao to exguo que faria qualquer partcula parecer gigantesca. De um incio muito mais quente que o inferno e incrivelmente mais apertado que um nibus s 6 da tarde, o cosmo passou a se expandir e a esfriar rapidamente. Essa "exploso" teria ocorrido em todos os pontos do Universo ao mesmo tempo. O segundo erro ainda mais grave: nenhum cientista capaz de dizer o que existia antes do big-bang. Pode at ser que realmente no houvesse nada, mas no impossvel que existisse alguma coisa. O fato que essa questo ainda desafia as mentes mais brilhantes do planeta. Para chegar at aqui, a astronomia precisou de milnios de pesquisa e perspiccia. Mas, nos bastidores, a histria de uma das maiores teorias de todos os tempos tambm

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    traz relatos de intriga, vaidade, fugas espetaculares, bobagens. 3.3.1 100% Periferia Para conhecer a histria completa do big-bang, preciso voltar ao sculo 4 a.C. Isso porque o primeiro passo em direo a ele foi dado por um filsofo grego, Aristarco, que props uma idia ousada: a Terra no seria o centro do Universo, mas giraria em tomo do Sol. O modelo foi considerado ridculo e ficou esquecido por 2 mil anos, at que um polons atrevido escreveu Sobre as Revolues das Esferas Celestes. Nicolau Coprnico, o autor do tratado, voltou-se contra a teoria dominante do grego Ptolomeu, segundo a qual a Terra estaria no centro de tudo. A obra de Coprnico saiu em 1543 - e s ento ele percebeu uma terrvel traio. No prefcio, escrito sem o seu consentimento, sua teoria era apresentada como "no necessariamente verdadeira nem ao menos provvel" e a hiptese de que o Sol estava no centro do Universo era considerada "absurda". A punhalada s foi possvel porque, durante a impresso do livro, ele estava de cama se recuperando de uma hemorragia. Morreu no dia em que recebeu a edio. Ao longo das dcadas seguintes, na Dinamarca, um astrnomo chamado Tycho Brahe havia ganho tanta reputao que o rei Frederico II deu a ele uma ilha e dinheiro para construir um observatrio. Apesar das lunetas, a especialidade da ilha eram as festas. Pessoas importantes eram convidadas para cerimnias animadssimas, que contavam com a presena de Jeep, um ano que fazia as vezes de bobo da corte. Em 1588, com a morte do rei, Brahe perdeu seus privilgios. Acabou tendo de abandonar o castelo (e a badalao) e migrou para Praga, onde conheceu o alemo Johannes Kepler. Era uma dupla perfeita: Brahe fazia as mais precisas observaes da poca. E Kepler, que seria o melhor intrprete desses dados, descobriu trs coisas fundamentais: os planetas no se movem em crculos, mas em elipses; a velocidade desses planetas varia continuamente e o Sol no est exatamente no centro dessas rbitas. A suspeita se confirmou com as pesquisas do italiano Galileu Galilei, um catlico devoto que tirou proveito das recm-inventadas lunetas. Ele percebeu que havia luas em tomo de Jpiter, o que era uma prova incontestvel de que a Terra no era o centro do Universo. Acabou condenado pela Inquisio priso domiciliar. 3.3.2 Contra Einstein Antes de se tomar o mais famoso fsico de sua poca - e uma referncia para os sculos seguintes -, o ingls Isaac Newton teve uma infncia conturbada. Seu pai havia morrido trs meses antes do seu nascimento. A me se casou com um homem mais velho, que no permitiu que o garoto Isaac morasse com eles. Abandonado, Newton se tomou um homem amargo e s vezes cruel a ponto de, quando se tornou inspetor da Casa da Moeda britnica, mandar enforcar e esquartejar os falsificadores que tiveram o azar de passar pela sua frente. Mesmo assim, construiu as fundaes de uma nova cincia. A sua lei da gravidade, de 1666, ensina que todo objeto no Universo atrai outro objeto.

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    O poder da frmula resumir tudo o que Coprnico, Kepler e Galileu vinham tentando explicar sobre o sistema solar, escreveu o ingls Simon Singh em Big Bang, um livro que descreve a histria dessa exploso. Ou seja, uma ma cai no cho no porque se dirige ao centro do Universo, mas porque a Terra e a ma tm massa. Assim, a lei explicava, por exemplo, por que os planetas fazem uma rbita elptica em torno do Sol o que havia sido demonstrado por Kepler. As descobertas permitiam que os cientistas entendessem o funcionamento de quase todas as estrelas que conseguiam ver na poca, mas no dava a mnima pista de onde saiu aquilo tudo. Um grande passo nessa direo veio em 1915, quando o alemo Albert Einstein, ento j famoso e acostumado a revolucionar a fsica, resolveu mudar tudo de novo e apresentou sua teoria da relatividade geral. No centro dela estava a noo de que tanto o tempo como o espao so flexveis e deformveis por fatores como velocidade, energia e gravidade. S tinha um problema: como o Universo era molengo e as estrelas se atraam todo o espao j deveria ter se curvado e desabado sobre si mesmo. A idia parecia ridcula. "Einstein tinha idias em cosmologia completamente reacionrias. Era um homem do sculo 19, quando todos achavam que o Universo tinha um fim e estava parado desde sempre", diz o fsico Mrio Novello, presidente do Instituto Nacional de Cosmologia, Relatividade e Astrofsica. Einstein elaborou ento o que ele mesmo depois considerou a maior bobagem de sua carreira: alterou as equaes para que elas se encaixassem na sua viso de um Universo que no cresce nem diminui. O problema que essa limitao de Einstein dificultou a vida dos outros. Dois estudiosos - o russo Alexander Friedmann e o belga George Lemaitre - acharam uma soluo para o impasse: se o Universo estivesse se expandindo, possvel que ele nunca entrasse em colapso. A gravidade de tudo o que existe no conseguiria faz-lo se curvar porque o Cosmos esticaria e se manteria estvel. Mas quando Friedmann foi buscar a beno de Einstein, este lhe disse que a idia parecia "suspeita". Lemaitre - que conseguia levar duas profisses aparentemente antagnicas de padre e cosmologista - insistiu, at porque suas idias tinham um tempero a mais. Ele no s estava convicto de que a teoria de Einstein implicaria um Universo em expanso como acreditava em um "momento da criao". Tudo teria comeado em uma regio pequena e compacta que "explodiu" e cresceu. Ele chegou at a cunhar a expresso "tomo primordial" para descrever a provvel aparncia do Universo em seu comeo, que seria "um hoje sem ontem". Mas o belga no teve mais sucesso do que Friedmann ao buscar o apoio de Einstein - j ento capaz de construir e destruir reputaes no meio cientfico. Em 1927, ouviu deste um veredicto nada animador: "Seus clculos esto corretos, mas a sua fsica abominvel". A teoria teria de esperar mais alguns anos antes que fosse aceita - inclusive por Einstein. 3.3.3 Tudo se Expande O comeo do sculo 20 foi marcado no apenas pelo surgimento da relatividade, mas tambm pela construo de telescpios grandes e modernos. O americano Edwin

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    Hubble foi o nome mais conhecido dessa safra de observadores. Em 1923, trabalhando no Observatrio de Monte Wilson, na Califrnia, Estados Unidos, ele identificou uma cefeida (um tipo de estrela) em uma nebulosa e mostrou que ela estaria localizada muito longe da Via Lctea. Isso provou que no habitamos a nica galxia do Universo. Mas o passo mais importante comeou a ser dado em 1929, quando Hubble percebeu que as estrelas mais afastadas da Terra so aquelas que esto se afastando mais rapidamente. O Universo estaria, portanto, se expandindo. Hubble, no entanto, deixou claro que o problema dele era coletar os dados - e nunca se props a teorizar sobre isso. Ele preferia os holofotes de jornais e TVs, pois agora tambm era uma celebridade. Com a prova de que o Universo estava se expandindo nas mos, o trabalho dos tericos passou a ser "retroceder no tempo" para tentar descobrir como exatamente chegamos at aqui. O ucraniano George Gamow era uma das figuras centrais dessa "arqueologia do cosmos", mas a interferncia poltica dos governantes soviticos nas pesquisas cientficas fez com que ele e a mulher resolvessem fugir de seu pas. Depois de duas tentativas fracassadas - na primeira, pretendiam atravessar o Mar Negro em um caiaque - eles finalmente conseguiram e, em 1940, chegaram aos Estados Unidos. Interessado em pesquisar a fsica das partculas, o ucraniano percebeu que ali no havia mais ningum estudando o tema seriamente s depois soube que todos os outros crebros da rea haviam sido cooptados para o Projeto Manhattan, que levaria construo da bomba atmica americana. Junto com seus colegas Ralph Alpher e Robert Herman, Gamow constatou que os primeiros momentos do Universo seriam to quentes que quebrariam qualquer tomo e transformariam tudo em uma sopa de prtons, nutrons e eltrons (as menores partculas conhecidas at ento). E, quando ele esfriasse, essas partculas formariam apenas os menores tomos possveis, os de hidrognio e hlio - o que explicava por que esses elementos hoje compem 99,9% de toda a matria que vemos no Universo. Eles tambm previram que 300 mil anos depois da exploso teria havido a liberao de uma enorme quantidade de luz que faria um "eco luminoso" no Universo. E isso poderia ser percebido hoje. Foi ento que o debate se acirrou. Para uns, o Universo estaria se expandindo a partir de um momento inicial e, para outros, ele era eterno e provavelmente infinito. Um dos maiores defensores da segunda hiptese, o ingls Fred Hoyle, chegou a dizer em um programa da Rdio BBC que no via "nenhuma boa razo para preferir essa idia de big-bang". O intuito de Hoyle era ironizar, mas era a primeira vez que algum usava esse termo para se referir teoria - e o apelido pegou. Para o azar de Hoyle, "essa idia de big-bang" s ganhou evidncias a partir da. Uma das principais descobertas foi feita por Arno Penzias e Robert Wilson, dos Laboratrios Bell, em meados dos anos 1960. Eles detectaram um rudo nos seus aparelhos de radioastronomia. Como isso no os deixava trabalhar, eles foram atrs da razo. Acabaram descobrindo que se tratava da radiao csmica de fundo - o "eco" do big-bang previsto por Gamow. "A confirmao dessa radiao deu credibilidade ao modelo. Desde ento, ele tem sido refinado com inmeras observaes", diz o fsico brasileiro Marcelo Gleiser, do Dartmouth College, Estados Unidos.

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    3.3.4 E Antes? As teorias sobre a gravidade no bastavam para ir alm das descobertas de Gamow. O incio do Universo seria to quente e pequeno que, para entend-lo, era necessrio usar os conhecimentos da mecnica quntica, que descreve o comportamento das coisas nessa escala. medida que os cientistas descobriam quarks, lptons, msons e um enorme nmero de partculas subatmicas, novos elementos foram encaixados no retrato do incio de tudo. Hoje, os cientistas acreditam ter esclarecido como era o Universo at 10-43 segundos depois do big-bang (isso significa o nmero 1colocado 43 casas depois da vrgula, ou um tempo to pequeno que nem vale a pena tentar visualizar). A situao se complica mais cada vez que algum traz novas evidncias. No final dos anos 1990, por exemplo, descobriu-se que o Universo no s aumenta, como est acelerando. Alguma fora - at agora chamada de "energia escura" - est empurrando o cosmo, mas ningum sabe muito bem o que , nem o que ela fez desde o big-bang. O retrato atual que os pesquisadores tm do passado e do futuro do Universo o que aparece no quadro acima. O grande mistrio agora outro: o que havia antes do big-bang? "Para Einstein, s existia o nada. Mas, segundo a mecnica quntica, possvel criar novos espaos - tempos. Isso significa que pode ter havido alguma coisa", diz o fsico lcio Abdalla, da USP. Nesse ponto, a discusso comea a tornar-se cada vez menos cientfica e parece at voltar a um estgio anterior aos gregos, quando os mitos explicavam todo o Universo. Para a cincia deste comeo de sculo 21, parece um fim de linha. Mas esses obstculos so sempre provisrios.

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    Captulo 4 A BBLIA E A CRIAO 4.1 Como a Criao Bblica considerada? Como considerar a descrio da criao pela Bblia? Cincia, fbula ou revelao? Se, por cincia, entendermos a disposio sistemtica dum ramo do saber, diremos, ento, que a descrio nada tem de "cientfico". E ainda bem, pois se fosse utilizada a linguagem cientfica do sculo XX, como a entenderiam os leitores dos sculos precedentes? E mesmo os atuais necessitariam duma adequada preparao cientfica. Nesse caso ainda, no seria de prever que passados cem ou duzentos anos fosse j considerada antiquada aquela linguagem? A narrao do Gnesis no foi, portanto, redigida em moldes cientficos, talvez para melhor mostrar a sua inspirao divina. Poderamos, no entanto, fazer a seguinte interrogao: -- No sendo cientfica quanto forma, ser a descrio do Gnesis cientfica quanto substncia, ou quanto ao contedo? Graves conflitos tm surgido entre prematuras concluses da cincia e supostas dedues cientficas da Escritura. Mas estudos ulteriores tm vindo provar que, por um lado, no eram vlidas as concluses cientficas, ou, ento, por outro, eram mal interpretadas no texto as afirmaes cientficas. Quanto a supor-se uma fbula a narrao do Gnesis, quer no sentido popular, quer no sentido clssico, no fcil de admitir-se. Pois no primeiro caso tratar-se-ia duma obra puramente imaginria, e no segundo duma exposio simblica dum fato com certas verdades abstratas, que de outro modo seriam incompreensveis. Trata-se, sim, duma narrao dos acontecimentos que no seriam compreendidos, se fossem descritos com a preciso formal da cincia. neste estilo simples mas expressivo que a divina sabedoria se manifestou claramente aos homens, indo assim ao encontro das necessidades de todos os tempos. Os fatos apresentam-se numa linguagem abundante e rica, que possvel incluir todos os resultados das pesquisas cientficas. O primeiro captulo do Gnesis no h dvida que supe a revelao divina. Pelas muitas verses, alguma delas correntes j entre os pagos da Antigidade, fcil concluir-se que esta revelao anterior a Moiss. No deve, no entanto, considerar-se como uma nova verso das tradies politestas dos fencios ou dos babilnicos; porque acima de tudo a obra criadora de Deus s por Deus poderia ser revelada. E essa revelao no deixou de ser preservada de qualquer contaminao pag ou corrupo supersticiosa, encontrando-se perfeita e inviolvel nos cinco livros de Moiss. 4.2 A Teoria Geolgica da Criao (TGC) O Livro do Gnesis, captulos 1 e 2, revelou a origem do mundo mais de dois milnios antes que a cincia viesse a decifr-la e de acordo com os tericos da Teoria

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    Geolgica da Criao os dias da semana so divises do tempo, da mesma forma que anos e eras e que a substituio de um pelo outro no altera em nada o sentido do texto, cujo foco colocar Deus como origem da criao. Segundo os tericos da TGC o autor quer dizer que Deus criou o mundo e no como Deus criou e em quanto tempo a criao foi consumada. A ao criadora em seis dias e o descanso no stimo tem por objetivo claro a instituio sagrada do repouso dominical (sbado para o judasmo), no o tempo gasto por Deus para fazer os elementos da Criao. Quando se entender que os dias foram utilizados para descrever as fases da criao, cada uma perdurando milhes de anos, nota-se que a descrio do Gn 1 est perfeitamente de acordo com a ordem em que o mundo foi criado, segundo a Cincia. A inteno do autor clara como elemento teolgico: Tudo vem de Deus, para quem o tempo eterno. Supem que considerando-se Gn 1 no como relato jornalstico preocupado em descrever como Deus criou, mas como uma afirmao de f do autor sobre quem criou o mundo e o que o homem, o texto inspirado ganha abrangncia e no conflita com os conhecimentos atuais que atestam a existncia do mundo h 13,7 bilhes de anos e o aparecimento do homem no mundo h cerca de 70-100 milhes de anos. O tempo na Bblia um tempo lgico, no cronolgico. A diviso das aes divinas em dias e noites outra evidente forma literria, fcil de ser percebida, visto que o autor fala em primeiro, segundo e terceiro dia, antes que estes existissem. Ao sistematizarem suas opinies os tericos da TGC concordam que o dia e a noite surgiram no quarto dia com a separao da luz e das trevas, o que se pode entender perfeitamente como a formao do sistema solar e do movimento dos astros que o compem. Se entendermos, afirmam, a separao das aes de Deus no ao p da letra em dias, mas em fases que duraram milhes e milhes de anos notaremos que por inspirao divina o autor do Gnese se antecipou s cincias em muitos sculos. No incio s havia a matria informe, que o autor chama de caos. Houve o big bang, uma exploso de infinitas propores, e o espao celeste se encheu de corpos celestes e de vapor oriundo do calor gerado pela grande exploso, que deu origem ao calor, a luz e a uma multido de corpos voando no espao. Foi a primeira fase (primeiro dia), que durou milhes de anos. Depois a massa gasosa foi se condensando e os corpos se separando em trajetrias diferentes, segunda fase (segundo dia). Com o esfriamento da terra e a separao de terra e gua comeam a surgir formas primitivas de plantas, h luz e sombras, a terceira fase (terceiro dia). Depois os corpos celestes comeam a se organizar em sistemas, galxias, constelaes e estrelas. A terra captada pelo sol e se movimenta em sua rbita e em seu prprio eixo, formando o dia e a noite. a quarta fase (quarto dia). Na quinta fase graas formao da atmosfera, dos ventos e das chuvas a vida se espalha primeiro nas plantas, depois surgem os animais. a quinta fase da criao (quinto dia).

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    Na sexta fase (sexto dia), depois de milhes de anos que existiam seres vivos na terra surge o homem, no como evoluo natural, mas atravs da ao direta de Deus. A ao de Deus se manifestara em todas as fases da criao, diz o autor sagrado. Mas a criao do homem representou uma culminncia na criao. Deus faz algo que passa alm da vida material. como se Deus se apaixonasse por suas obras e quisesse fazer parte delas atravs de um ser capaz de viver em comunho com Ele. 4.3 A Teoria da Lacuna Baseados em motivos meramente tericos, vrios comentadores supem que a criao original de Deus foi destruda por uma terrvel catstrofe. Assim o verso 1 descreve o ato inicial de Deus, que deu a existncia ao universo; o verso 2 o estado desse universo arruinado "sem forma e vazio", se bem que no se faa qualquer aluso catstrofe provocadora dessa runa; os restantes versos fazem uma anlise da obra de Deus na reconstituio desse universo. Trata-se duma teoria, ainda hoje muito seguida, para resolver certos problemas que, no fim de contas, continuam insolveis, e contestada por fortes argumentos lingsticos. A chamada teoria da "lacuna" no assenta em bases firmes e desmentida pela prpria Geologia. 4.4 Exposio Bblica da Criao So duas as palavras com que a Escritura designa a ao criadora de Deus: bara' (criar) e 'asah (fazer). A primeira , sem dvida, a mais importante, e aparece, sobretudo nos versculos 1,21,27, ou seja, quando se pretende frisar o incio de todos os seres em geral, dos seres animados e dos seres espirituais, respectivamente. O certo que no h possibilidade de exprimir, por palavras humanas, essa obra maravilhosa de Deus, que transcende toda a cincia, por muito profunda e completa que seja. O significado exato de bara' no fcil de determinar. Numa das suas formas significava originariamente "cortar, separar" e passou a ser utilizada apenas para indicar a ao divina de trazer existncia algo inteiramente novo. No vers. 1 a idia de criao exclui materiais j existentes, podendo ento dizer-se que as coisas foram produzidas "do nada". Mas nos vers. 21 e 27 nada obsta a que se tenham utilizado materiais preexistentes. O principal sublinhar o significado de bara' que apenas supe a produo dum ser, completamente novo, que antes no existia. 4.4.1 Os dias da Criao E que dizer dos "dias" em que se operou a criao? H quem suponha tratar-se de dias de 24 horas, uma vez que se mencionam tardes e manhs, ou ento admitir-se apenas uma viso dramtica, j que a histria se apresentou a Moiss numa srie de revelaes, que duraram seis dias. Sugestes interessante e curiosas, sem dvida, mas que no passam de conjeturas, o mesmo sucedendo teoria moderna, segundo a qual o "dia" representaria uma idade geolgica. Para isso supunha-se que o sol, supremo regulador do tempo planetrio, no existia durante os primeiros trs dias; de resto, a palavra "dia" em 2.4 estende-se aos seis dias da criao; por outro lado, em diferentes textos da Escritura o mesmo vocbulo refere-se a perodos de tempo ilimitado, como no Sl 90.4. A principal dificuldade que se levanta contra esta ltima interpretao a

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    aluso a "tarde" e a "manh", mas pode admitir-se que a obra da criao figuradamente seja caracterizada por pocas bem definidas. espiritual e religioso o objetivo da narrao de Gn 1. A formao dos seres vem manifestar as relaes entre Deus e as criaturas de sorte que s a f as compreender devidamente: "Pela f entendemos que os mundos pela Palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se v no foi feito do que aparente" (Hb 11.3). S o crente, portanto, compreender o alcance da narrao; mas no admira que por vezes surjam hesitaes, perante as dificuldades de interpretao. Mas a narrativa tem ainda um segundo objetivo: o de pr o homem em contato com toda a criao, ou melhor, o de coloc-lo em posio de primazia perante todos os seres criados. Por isso vemos Deus a agir gradualmente na Sua obra criadora, que atinge, com a formao do homem, o ponto culminante dessa obra-prima de Deus. No Princpio, Criou Deus (v.1). A expresso No princpio enftica, e chama a ateno para o fato de um princpio real. Outras religies antigas, ao falarem da criao, afirmam que esta ocorreu a partir de algo j existente. Referem-se histria como algo que ocorre em ciclos perptuos. A Bblia olha para a histria de modo linear, com um alvo final determinado por Deus. Deus teve um plano na criao, o qual Ele levar a efeito. Declarao sinttica que introduz os seis dias da atividade criadora. A verdade desse versculo magnfico foi afirmada com jbilo por poetas (Sl 102.25) e profetas (Is 40.21). No princpio Deus. A Bblia sempre toma por certo e jamais discute a existncia de Deus. Embora todas as coisas tenham tido um comeo, Deus sempre existiu (SI 90.2). No princpio. Jo 1.1-10, que ressalta a obra de Cristo na criao, inicia com a mesma expresso. Deus criou. O substantivo hebraico Elohim est no plural, mas o verbo est no singular - esse uso gramatical comum no Antigo Testamento quando h referncia ao Deus nico e verdadeiro. No Antigo Testamento hebraico, o verbo traduzido por "criar" usado no tocante atividade divina, nunca humana, os cus e a terra. todas as coisas (Is 44.24). O fato de Deus ter criado tudo ensinado tambm em Ec 11.5; Jr 10.16; Jo 1.3; Cl 1.16 e Hb 1.2. O ensino positivo e gerador de vida do v. 1 maravilhosamente resumido em Is 45.18. Terra (2). O centro desse relato, sem forma e vazia. Essa locuo, que s ocorre depois em Jr 4.23, d estrutura ao restante do captulo. O "separar" e o "ajuntar" que Deus realizou do primeiro ao terceiro dia produziu a forma; o "fazer" e o "encher" do quarto ao sexto dia eliminaram o vazio. trevas [...] abismo. Completa o quadro de um mundo que aguarda a palavra de Deus para fazer raiar a luz, produzir ordem e gerar a vida. E, ou "mas". O quadro impressionante (e aterrorizante para o homem primitivo) do estado original da criao visvel amenizado pela proclamao majestosa de que o poderoso Esprito de Deus se move sobre a criao. Essa proclamao antecede as palavras criadoras que Deus profere em seguida. Esprito de Deus. Estava atuante na criao, e seu poder criador continua at hoje (v. J 33.4; SI 104.30). se movia sobre. Como uma ave que sustenta seus filhotes e os protege (v. Dt 32.11; Is 31.5). A figura de linguagem pode tambm evocar o disco alado do sol, que em todo o antigo Oriente Mdio era smbolo da majestade divina.

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    Sem forma e vazia (v. 2). A expresso hebraica (tohu wabhohu) contm algo de onomatopico que parece significar: desolao e vacuidade. Em Is 45.18, onde aparece o termo bohu no contradiz aquele significado e d a entender que Deus no abandonou a terra que criou: "No a criou vazia, mas formou-a para que fosse habitada". O caos era um meio, no um fim. Disse Deus (3). Pela palavra do Senhor foram feitos os cus" (Sl 33.6). Cfr. Jo 1.1-3. Luz (3). O carter primrio da luz, mesmo antes do sol, um dos postulados da cincia moderna. A palavra hebraica para luz `or, e refere-se s ondas iniciais de energia luminosa atuando sobre a terra. Posteriormente, Deus colocou luminares (hb. ma`or, literalmente luzeiros , v.14) nos cus como geradores e refletores permanentes das ondas de luz. O propsito principal desses luzeiros servir de sinais demarcadores das estaes, dias e anos (vv. 5,14). Era boa a luz (4). Sete vezes Deus declara que aquilo que Ele criara era bom (vv. 4,10,12,18,21,25,31). Cada parte da criao por Deus efetuada, executou plenamente a sua vontade e propsito. Deus criou o mundo para revelar a sua glria e para ser um lugar onde a raa humana pudesse compartilhar da sua alegria e vida. Note como Deus executou a obra da criao de conformidade com um plano e uma ordem: A tarde e a manh (5). Atendendo linguagem potica do texto, "manh" no deve significar, aqui, a segunda metade do dia. O dia comeava de manh; seguia-se a tarde, e depois a manh que seguia a tarde era o comeo do segundo dia, que por isso terminava o primeiro. E foi a tarde e a manh: o dia primeiro. Essa identificao repetida seis vezes neste cap. (vv. 5,8,13,19,23,31). A palavra hebraica para dia yom. Normalmente significa um dia de vinte e quatro horas (cf. 7.17; Mt 17.1), ou a poro em que h luz, nas vinte e quatro horas (dia em contraste com noite, Jo 11.9). Mas tambm pode referir-se a um perodo de tempo de durao indeterminada (e.g., tempo da sega, Pv 25.13). Note-se que em 2.4, os seis dias da criao so designados como no dia. Muitos entendem que os dias da criao eram de vinte e quatro horas, pois sua descrio diz que consistiam em uma tarde e uma manh (v. 5; x 20.11). Outros crem que tarde e manh simplesmente significa que uma determinada tarde encerrou algum ato especfico da criao, e que a manh seguinte iniciou novo ato. Expanso (6). a formao da atmosfera, ou o firmamento. Produza (11). Embora se trate da criao intermdia, no se exclui a interveno divina. Segundo a sua espcie (11). Comparando este vers. com os 12,21,24,25, fcil interpret-lo como se dissesse: "em todas as suas variedades", duma variedade dentro de certos grupos gerais. Para sinais (14). Tomem-se aqui estes sinais no sentido astronmico e no astrolgico, pois os corpos celestes determinam as estaes e dividem o tempo. 4.4.2 A Revelao de Deus e a Criao

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    Deus se revela na Bblia como um ser infinito, eterno, auto-existente e como a Causa Primria de tudo o que existe. Nunca houve um momento em que Deus no existisse. Conforme afirma Moiss: Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu s Deus (Sl 90.2). Noutras palavras, Deus existiu eterna e infinitamente antes de criar o universo finito. Ele anterior a toda criao, no cu e na terra, est acima e independe dela (1Tm 6.16; Cl 1.16). Deus se revela como um ser pessoal que criou Ado e Eva sua imagem (Gn 1.27). Porque Ado e Eva foram criados imagem de Deus, podiam comunicar-se com Ele, e tambm com Ele ter comunho de modo amoroso e pessoal. Deus tambm se revela como um ser moral que criou tudo bom e, portanto, sem pecado. Ao terminar Deus a obra da criao, contemplou tudo o que fizera e observou que era muito bom (Gn 1.31). Posto que Ado e Eva foram criados imagem e semelhana de Deus, eles tambm no tinham pecado (Gn 1.26). O pecado entrou na existncia humana quando Eva foi tentada pela serpente, ou Satans (Gn 3; Rm 5.12; Ap 12.9). 4.4.3 Atividade de Deus na Criao Deus criou todas as coisas em os cus e a terra (Gn 1.1; Is 40.28; 42.5; 45.18; Mc 13.19; Ef 3.9; Cl 1.16; Hb 1.2; Ap 10.6). O verbo criar (hb.bara) usado exclusivamente em referncia a uma atividade que somente Deus pode realizar. Significa que, num momento especfico, Deus criou a matria e a substncia, que antes nunca existiram (Gn 1.3). A Bblia diz que no princpio da criao a terra estava informe, vazia e coberta de trevas (Gn 1.2). Naquele tempo o universo no tinha a forma ordenada que tem agora. O mundo estava vazio, sem nenhum ser vivente e destitudo do mnimo vestgio de luz. Passada essa etapa inicial, Deus criou a luz para dissipar as trevas (Gn 1.3-5), deu forma ao universo (Gn 1.6-13) e encheu a terra de seres viventes (Gn 1.20-28). O mtodo que Deus usou na criao foi o poder da sua palavra. Repetidas vezes est declarado: E disse Deus... (Gn 1.3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26). Noutras palavras, Deus falou e os cus e a terra passaram a existir. Antes da palavra criadora de Deus, eles no existiam (Sl 33.6,9; 148.5; Is 48.13; Rm 4.17; Hb 11.3). Toda a Trindade, e no apenas o Pai, desempenhou sua parte na criao. O prprio Filho a Palavra (Verbo) poderosa, atravs de quem Deus criou todas as coisas. No prlogo do Evangelho segundo Joo, Cristo revelado como a eterna Palavra de Deus (Jo 1.1). Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez (Jo 1.3). Semelhantemente, o apstolo Paulo afirma que por Cristo foram criadas todas as coisas que h nos cus e na terra, visveis e invisveis... tudo foi criado por Ele e para Ele (Cl 1.16). Finalmente, o autor do Livro de Hebreus afirma enfaticamente que Deus fez o universo por meio do seu Filho (Hb 1.2).

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    Semelhantemente, o Esprito Santo desempenhou um papel ativo na obra da criao. Ele descrito como pairando (se movia) sobre a criao, preservando-a e preparando-a para as atividades criadoras adicionais de Deus. A palavra hebraica traduzida por Esprito (ruah) tambm pode ser traduzida por vento e flego. Por isso, o salmista testifica do papel do Esprito, ao declarar: Pela palavra do Senhor foram feitos os cus; e todo o exrcito deles, pelo esprito (ruah) da sua boca (Sl 33.6). Alm disso, o Esprito Santo continua a manter e sustentar a criao (J 33.4; Sl 104.30). 4.4.4 O Propsito e o Alvo da Criao Deus criou os cus e a terra como manifestao da sua glria, majestade e poder. Davi diz: Os cus manifestam a glria de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mos (Sl 19.1; cf. 8.1). Ao olharmos a totalidade do cosmos criado desde a imensa expanso do universo, beleza e ordem da natureza ficamos tomados de temor reverente ante a majestade do Senhor Deus, nosso Criador. Deus criou os cus e a terra para receber a glria e a honra que lhe so devidas. Todos os elementos da natureza e.g., o sol e a lua, as rvores da floresta, a chuva e a neve, os rios e os crregos, as colinas e as montanhas, os animais e as aves rendem louvores ao Deus que os criou (Sl 98.7,8; 148.1-10; Is 55.12). Quanto mais Deus deseja e espera receber glria e louvor dos seres humanos!

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    Captulo 5 TEORIAS DA ORIGEM DO HOMEM 5.1 A Teoria da Evoluo A teoria da evoluo, tambm chamada evolucionismo, afirma que as espcies animais e vegetais existentes na Terra no so imutveis, mas sofrem ao longo das geraes uma modificao gradual, que inclui a formao de raas e espcies novas. At o sculo XVIII, o mundo ocidental aceitava a doutrina do criacionismo, segundo a qual cada espcie, animal ou vegetal, tinha sido criado independentemente, por ato divino. O pesquisador francs Jean-Baptiste Lamarck foi dos primeiros a negar esse postulado e a propor um mecanismo pelo qual a evoluo se teria verificado. A partir da observao de que fatores ambientais podem modificar certas caractersticas dos indivduos, Lamarck imaginou que tais modificaes se transmitissem prole: os filhos das pessoas que normalmente tomam muito sol j nasceriam mais morenos do que os filhos dos que no tomam sol. Chegava, mesmo, a admitir que era a necessidade de adaptar-se ao ambiente que fazia surgir nova caracterstica, a qual, uma vez adquirida pelo indivduo, se transmitiria a sua prole. Em contraposio, a inutilidade de um rgo faria com que ele terminasse por desaparecer. A necessidade de respirar na atmosfera teria feito aparecer pulmes nos peixes que comearam a passar pequenos perodos fora d'gua, o que teria permitido a seus descendentes viver em terra mais tempo, fortalecendo os pulmes pelo exerccio; as brnquias, cada vez menos utilizadas pelos peixes pulmonados, terminaram por desaparecer. Assim, o mecanismo de formao de uma nova espcie seria, em linhas gerais, o seguinte: alguns indivduos de uma espcie ancestral passavam a viver num ambiente diferente; o novo ambiente criava necessidades que antes no existiam, as quais o organismo satisfazia desenvolvendo novas caractersticas hereditrias; os portadores dessas caractersticas passavam a formar uma nova espcie, diferente da primeira. A doutrina de Lamarck foi publicada em Philosophie zoologique (1809; Filosofia zoolgica), e teve, como principal mrito, suscitar debates e pesquisas num campo que, at ento, era domnio exclusivo da filosofia e da religio. Estudos posteriores demonstraram que apenas o primeiro postulado do lamarckismo estava correto; de

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    fato, o ambiente provoca no indivduo modificaes adaptativas; mas os caracteres assim adquiridos no se transmitem prole. Em 1859, Charles Darwin publicou The Origin of Species (A origem das espcies), livro de grande impacto no meio cientfico que ps em evidncia o papel da seleo natural no mecanismo da evoluo. Darwin partiu da observao segundo a qual, dentro de uma espcie, os indivduos diferem uns dos outros. H, portanto, na luta pela existncia, uma competio entre indivduos de capacidades diversas. Os mais bem adaptados so os que deixam maior nmero de descendentes. Se a prole herda os caracteres vantajosos, os indivduos bem dotados vo predominando nas geraes sucessivas, enquanto os tipos inferiores se vo extinguindo. Assim, por efeito da seleo natural, a espcie aperfeioa-se gradualmente. Entretanto, o sentido em que age a seleo natural determinado pelo ambiente, pois um carter que vantajoso num ambiente pode ser inconveniente em outro. Os indivduos que tm o corpo recoberto por uma espessa camada de plos levam vantagem num clima frio, mas esto menos adaptados a um clima quente. Se uma espcie tem indivduos dos dois tipos (peludos e desprovidos de plos), a seleo natural far com que venham a predominar os primeiros nas regies frias e os outros nas regies quentes. Isso ser o incio da diferenciao de duas raas que, tornando-se cada vez mais diferentes, acabaro por constituir espcies distintas. O darwinismo estava fundamentalmente correto, mas teve de ser complementado e, em alguns aspectos, corrigido pelos evolucionistas do sculo XX para que se transformasse na slida doutrina evolucionista de hoje. As idias de Darwin e seus contemporneos sobre a origem das diferenas individuais eram confusas ou erradas. Predominava o conceito lamarckista de que o ambiente faz surgir nos indivduos novos caracteres adaptativos, que se tornam hereditrios. Um dos primeiros a abordar experimentalmente a questo foi o bilogo alemo August Weismann, ainda no sculo XIX. Tendo cortado, por vrias geraes, os rabos de camundongos que usava como reprodutores, mostrou que nem por isso os descendentes passavam a nascer com rabos menores. Weismann estabeleceu tambm a distino fundamental entre clulas germinais e clulas somticas. Nas espcies de reproduo sexuada, todas as clulas de um indivduo provm da clula inicial nica que lhe deu origem. No entanto, durante o desenvolvimento diferenciam-se no corpo duas partes, com destinos biolgicos diversos. As clulas reprodutivas (gametas) transmitem aos descendentes as caractersticas dos ancestrais. As clulas somticas, que constituem o resto do corpo (soma), no passam prole: morrem com o indivduo, o que explica por que as modificaes produzidas no soma pelo ambiente no passam prole.

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    Complementando as idias de Weismann, em 1909 o geneticista dinamarqus Wilhelm Ludvig Johannsen demonstrou que a variabilidade dos indivduos dentro de uma espcie , em parte, produzida por diferenas nos genes que os indivduos possuem e, em parte, por influncia do meio. O fentipo, ou aspecto do indivduo resulta da ao do gentipo, modificada por fatores ambientais. S o gentipo, ou conjunto de genes, passa para a prole. Se o ambiente varia, o indivduo passa a ter um fentipo diferente, sem que o gentipo se altere. O carter adquirido em resultado da adaptao individual no passa, portanto, prole. As variaes hereditrias tm origem diferente. Baseando-se em estudos feitos com a planta denominada Oenothera lamarckiana, o botnico holands Hugo de Vries elaborou em 1901 a teoria das mutaes. De vez em quando, os genes sofrem modificaes espontneas, no relacionadas com a influncia do ambiente, e passam a determinar novos caracteres hereditrios. Essas mutaes quase nunca so adaptativas; entretanto, pode acontecer, por acaso, que uma delas venha a ser til a seu portador, num determinado ambiente. Nesse caso, tal indivduo leva vantagem na competio com os demais e tem maior probabilidade de deixar prole numerosa, a qual herdar o gene mutado. O novo carter vai, aos poucos, predominando, podendo mesmo vir a substituir o antigo numa populao, dando incio a uma variedade que pode, por um mecanismo semelhante, transformar-se numa espcie nova. Os citologistas do fim do sculo XIX tinham descrito o comportamento dos cromossomos durante a mitose e a meiose. Esses conhecimentos, combinados com as leis de Mendel, mostravam claramente que os fatores hereditrios antagnicos no se fundem no hbrido, de modo que os caracteres surgidos por mutao, ainda que muito raros, no se diluem por efeito dos cruzamentos que se processam ao longo das geraes subseqentes, como pensava Darwin. Se o gene que sofreu mutao determina um carter inconveniente, ser eliminado por seleo natural; mas se, por acaso, a mutao benfica, a freqncia do gene correspondente aumentar nas geraes sucessivas, e o gene no perder suas caractersticas por coexistir com seus alelos nos indivduos hbridos. Outra fonte de variao hereditria, ao lado das mutaes, a recombinao entre os genes. O estudo da meiose e da segregao mendeliana mostrou que, ao passar de uma gerao para a seguinte, os genes so, por trs vezes, reagrupados ao acaso. Na prfase da meiose, os cromossomos trocam pedaos e ficam, assim, com certos alelos diferentes dos que possuam. Na metfase, os cromossomos homlogos se separam e vo formar, nos gametas, conjuntos haplides em que figuram cromossomos maternos e paternos em qualquer proporo. Finalmente, na fecundao, os cromossomos assim reorganizados vo-se juntar com os provenientes de um outro indivduo. O nmero de gentipos diferentes que podem surgir em conseqncia da recombinao de genes extraordinariamente grande.

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    5.1.1 O que sugere a teoria da evoluo? O mundo que nos rodeia revela dois aspectos notveis. Em primeiro lugar, existe uma surpreendente variedade de plantas e animais centenas de milhares de espcies diferentes, mais organizadas em ordem perfeita, com uma clara diviso em famlias que compartilham certas qualidades. Cada espcie existente possui caractersticas invariveis que lhe so prprias. Em segundo lugar, existe um certo objetivo na existncia do mundo. Todos os aspectos de cada criatura, como a sua conduta, esto destinados a um