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Ao final desta aula, você deverá:
• perceber o reflexo de fatores sociais nos usos das estruturas linguísticas;
• verificar que a variação pode ser resultante do cruzamento de diferentes fatores sociais;
• compreender a importância do estudo de uma língua no seu contexto social.
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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO PB:INFLUÊNCIA DE FATORES EXTRALINGUÍSTICOS
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AULA 4VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO PB:
INFLUÊNCIA DE FATORES EXTRALINGUÍSTICOS
1 INTRODUÇÃO
Como você já sabe, a variação linguística é uma propriedade
inerente das línguas naturais. Também já sabe que a variação, ao
contrário do que muitos pensam, não é caótica, imprevisível e irregular.
Podemos descrever e analisar a variação linguística considerando a
influência de agentes internos e externos ao sistema linguístico, pois
são eles que regem os usos que os falantes fazem de sua língua.
Nesta aula, especificamente, você verá a relevância de alguns agentes
externos, isto é, fatores extralinguísticos que interferem nos usos
diferenciados do falar brasileiro. São eles: gênero/sexo; escolaridade;
idade; contexto e espaço geográfico. Também verá que esses fatores
não agem isoladamente, mas operam num conjunto de correlações
que influenciam nos usos das estruturas linguísticas.
Linguística II: sociolinguística
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Variação linguística no pb: influência de fatores extralinguísticos
2 O FATOR GÊNERO/SEXO
Certamente, você tem consciência de que, fisiologicamente,
homens e mulheres não falam da mesma forma. Também deve
concordar que há diferenças no tocante ao comportamento
comunicativo não-verbal. Estou falando da direção do olhar, da
postura do tórax e da cabeça, dos gestos, da aproximação física... Do
ponto de vista linguístico, também não é diferente. Vamos entender
melhor isso!
Você já deve ter ouvido expressões do
tipo: “isso não soa bem na fala de uma mulher”,
ou mesmo “na fala de um homem”. Já ouviu?
Quer ver mais diferenças? Por exemplo: em que
fala você acha que encontrará mais naturalmente
formas diminutivas: na do homem ou na da
mulher? Acredito que haverá consenso de que
seja na da mulher. Estou certa? Vamos a outra
diferença: quem fala “melhor” a sua língua:
homem ou mulher? Se você respondeu que é
também a mulher, acertou! Diversos estudos
sociolinguísticos comprovam que, de modo
geral, as mulheres, ao contrário dos homens,
têm preferência por formas linguísticas mais
prestigiadas socialmente.
A propósito, o primeiro que correlacionou
a variação linguística e o fator gênero/sexo foi
Fischer (1958, apud PAIVA, 2003), num estudo
intitulado “influências sociais na escolha de
variantes lingüísticas”. O autor constatou que, em inglês, o sufixo
formador de gerúndio ora era representado pelo –ing (talking,
walking), ora pelo –in (talkin, walkin). A primeira forma (variante de
maior prestígio social) era muito mais recorrente na fala de mulheres
do que na fala de homens, que, por sua vez, usavam mais a segunda
forma (variante de menos prestígio social).
Essa constatação de Fischer também é corroborada em estudos
sobre o português falado no Brasil. Por exemplo, no que se refere à
aplicação da regra da concordância nominal, Scherre (1996, p. 254)
verificou que a mulher é quem mais a aplica: 63% em oposição a 45%
correspondentes à fala dos homens. Resultado semelhante também
mostrou Vazzata-Dias (2000), quando estudou a concordância de
número em predicativos e em particípios/passivos na fala do sul do
Brasil. Ou seja, é também a mulher quem mais realiza a concordância:
VOCÊ SABIA?
Há várias línguas no mundo em que homens e mulheres falam dialetos bastantes distintos, dadas as funções de cada um. Conforme Cesário e Votre (2008, p. 148-149),
uma das razões desta diferenciação é reportada ao tabu: determinadas palavras só podem ser proferidas pelos homens e outras, apenas pelas mulheres. Por exemplo, em zulu, uma língua falada na África, a mulher é proibida de dizer o nome do sogro, o nome dos irmãos deste e o nome do genro, quer estejam vivos ou mortos, e também não pode falar uma palavra semelhante ou derivada: uma mulher cujo genro chame-se Umánzi com o radical mánzi (água), por exemplo, deverá evitar todos os vocábulos em que se apresenta a palavra mánzi e os complexos fônicos semelhantes.
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47% em oposição a 38% referentes à
fala dos homens. Em se tratando de
variação fonética, também se verifica
que a mulher é quem mais privilegia
a variante considerada padrão. Por
exemplo, Battisti (2000) pesquisou
sobre a redução variável dos ditongos
nasais átonos, [órgão] X [órgu];
[homem] X [homi]; [nylon] X [nylu];
[garagem] X [garage], e constatou
que, realmente, os homens aplicam
mais a regra de redução do que as
mulheres.
De modo geral, as pesquisas sociolinguísticas revelam que
se a variação não representa um caso de mudança em andamento,
em que duas variantes convivem juntas, uma estigmatizada (aquela
que não é considerada como a “melhor”, a “correta”) e uma padrão,
a mulher tende a escolher a última, aquela que é mais prestigiada
socialmente. No entanto, quando se trata de processo de mudança,
o homem tende a ser mais conservador do que a mulher no que
se refere aos usos das estruturas linguísticas. Por exemplo, Omena
(1996) constatou que o pronome nós, variante conservadora, é mais
recorrente na fala dos homens do que na das mulheres, que, por sua
vez, usam mais a forma inovadora, a gente. Conforme Paiva (2003,
p. 36) “não raro, as mulheres tendem a liderar processos de mudança
lingüística, estando, muitas vezes, uma geração à frente dos homens”.
Com o que foi exposto até agora e com essas palavras de
Paiva, você pode chegar à seguinte conclusão: a mulher desempenha
um papel importante no uso social de uma língua: se esta não passa
por um processo de mudança, ela tende a ser mais conservadora;
se passa, ela é inovadora. Mas, atenção! Não se pode tomar isso
como verdade absoluta. As pesquisas estão aí e evidenciam também
o contrário: homens também lideram processo de mudança. Por
exemplo, Oliveira (1982, apud PAIVA, 2003) observou que os
homens tendem a apagar mais o /r/ final (estamos falando de beber
X bebê; amar X amá; correr X corrê) do que as mulheres. Ou seja,
o apagamento (forma inovadora) está sendo impulsionado pelos
falantes do sexo masculino. Portanto, mulheres e homens evidenciam
comportamentos diferenciados quanto aos usos da língua.
Esses resultados, todavia, podem não corresponder à realidade
de fato, dada a investigação isolada do agente gênero/sexo. Como verá
na última seção desta aula, as diferenças entre homens e mulheres
SAIBA MAIS
A propósito da redução variável dos ditongos nasais, se você leu o livro A língua de Eulália: novela sociolingüística de Bagno (2008), deve estar se lembrando do texto quem era o home que eu vi onte na garage? Nele, o autor aborda o fenômeno e nos mostra que várias palavras do português atual, originadas do latim, são resultantes de tal processo. Vamos relembrar algumas! abdome > abdômen; legume > legumen; volume > volumen; regime > regimen; nome > nomen; exame > examen; estrume > estrumen. Portanto, cabe aqui destacar: o que um estudo como o de Battisti (2000) revela é que a língua está seguindo um “curso natural” de desnasalização da vogal, um processo normal da língua.
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Variação linguística no pb: influência de fatores extralinguísticos
podem ser mais significativas se considerarmos outros fatores ao
mesmo tempo. Estamos falando da importância do cruzamento de
fatores, uma prática necessária na pesquisa sociolinguística.
SAIBA MAIS
A propósito da diferença dos comportamentos entre homens e mulheres, é interessante destacar o que revela Paiva (2003, p. 39-40):
O fato de as mulheres se revelarem lingüisticamente mais conservadoras ou mais orientadas para variantes de prestígio em algumas comunidades de fala pode ser, em grande parte, resultado de um processo diferenciado de socialização de homens e mulheres e da dinâmica de mobilidade social que caracteriza cada comunidade de fala. [...] A preferência feminina pelas formas lingüísticas socialmente prestigiadas [...] reflete a rigidez da separação entre os papéis sociais atribuídos a homens e mulheres, a maior ou menor amplitude das redes sociais de que eles participam e as restrições de mobilidade social impostas à mulher.
Que isso é verdade, não podemos negar! No entanto, vale lembrar que os padrões de correlação não são fixos. Qualquer explicação a ser dada para as diferenças linguísticas entre homens e mulheres deve ser relativizada em função do grupo social a ser considerado. Novamente, aqui, ressalta-se a importância de se considerar a atuação de outros fatores na investigação dos comportamentos sociais dos indivíduos.
3 O FATOR ESCOLARIDADE
Certamente, você tem consciência do papel da escola na vida
das pessoas, principalmente quando se trata de usos linguísticos.
Para esse veículo, o falante ideal é aquele que faz uso da língua em
sua modalidade “padrão”, isto é, que segue as normas prescritas e
reguladas pelas gramáticas normativas. Um falante que não as segue
não é visto “com bons olhos”.
Conforme Votre (2003, p. 52),
(...) o modo de comunicação das pessoas desprovidas de prestígio econômico e social tende a ser coletivamente avaliado como estigmatizado. A forma estigmatizada é interpretada como inferior, em termos estéticos e informativos, pelos membros da comunidade discursiva.
Claramente, temos aí o chamado estigma social. Os falantes
das formas sem prestígio, das formas estigmatizadas, dos chamados
vícios de linguagem, dos solecismos, dos barbarismos, são
rotulados, muitas vezes, de ignorantes, de desconhecedores da língua
padrão.
Infelizmente, essa é uma concepção que vigora em nossa
sociedade. Mas, atenção! Todas as estruturas linguísticas, sejam elas
VOCÊ SABIA?
Solecismo ou barbaris-mos são formas ou cons-truções que não são gera-das pelas regras julgadas corretas de uma língua. São vícios de linguagem caracterizados por erros nas pronúncias, nas gra-fias, na sintaxe ou na sig-nificação. É interessante também destacar que bar-barismo se aplica também aos termos que provêm de línguas estrangeiras Você tem consciência de quantos solecismos ou barbarismos você produz?! Com certeza, não são poucos!!! Confor-me Ilari e Basso (2006, p. 209), “a verdade é que os barbarismos acabam por naturalizar-se, e muitos puristas ficariam assusta-dos se soubessem quantas palavras e expressões a lín-gua portuguesa já recebeu de línguas estrangeiras.”
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de prestígio ou não, são passíveis de serem descritas e analisadas.
É claro que é previsível uma relação direta entre escolarização e uso
de formas consideradas de prestígio. Num estudo sociolinguístico,
pode-se verificar até que ponto a escola está influenciando ou não
nos fenômenos linguísticos de uma língua. Para ilustrar isso, veja os
resultados das pesquisas de Dal Mago (2000), Vazzata Dias (2000) e
Hora e Baltor (2007).
Dal Mago (2000), ao estudar o fenômeno da vocalização
do /l/ pós-vocálico ([sal] X [saw]; [ma]l X [maw]; [maltratar] X
[mawtratar]), observou: falantes com menor grau de escolarização
inibem a vocalização. Já os falantes com mais escolaridade usam
mais o /l/ vocalizado.
Vazzata-Dias (2000) constatou o esperado: falantes mais
escolarizados - colegial (ensino médio) - realizam mais a concordância
de número em predicativos e em particípios/passivos do que falantes
menos escolarizados (primário / fundamental I): 64% X 21%,
respectivamente.
Hora e Baltor (2007), no estudo variacionista do objeto direto
anafórico no falar pessoense, constataram: falantes sem nenhuma
escolarização tendem a usar mais o pronome lexical na posição
de objeto (Aí botei ela; pra ver ela; vou desprezar ele) do que os
universitários: 42% X 13%, respectivamente. Com relação ao objeto
nulo, verificaram, por outro lado, uma diferença não muito grande:
44% (falantes sem escolarização) e 53% (universitários). Isso indica
que o objeto nulo faz parte tanto da gramática dos indivíduos com e
sem escolarização.
De modo geral, as pesquisas indicam que a escola é realmente
propagadora das formas prestigiadas socialmente. No entanto, deve-
se ter consciência de que as outras formas produzidas são também
regulares, passíveis de serem estudadas, tanto quanto as de prestígio.
Deve-se também ter em mente que a regularidade é decorrente da
frequência de uso. Conforme Votre (2003, p. 52) “o uso cristaliza,
fixa, por repetição, as expressões preferidas pelos membros da
comunidade”. E é isso que as pesquisas de cunho sociolinguístico
revelam: os indivíduos são os próprios responsáveis pelas mudanças
que se processam no âmbito das línguas.
4 O FATOR IDADE
Os estudos sociolinguísticos têm revelado que o fator idade
ocupa um papel crucial no tocante ao processo de mudança linguística.
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Variação linguística no pb: influência de fatores extralinguísticos
De modo geral, têm indiciado que formas inovadoras predominam na
fala de indivíduos mais jovens, e as conservadoras, na fala dos mais
velhos.
Tavares (2000), ao analisar o condicionamento da idade sobre
o uso, por exemplo, de aí, daí, na função de conector, constatou:
falantes mais jovens (de 15 a 24 anos) empregam mais essas formas
como conectoras do que falantes mais velhos (+ de 50): 31% X 20%,
respectivamente, para a forma aí, e 16% x 1%, respectivamente, para
o daí. Observe que esta última forma, como conector, praticamente
não ocorre na fala dos indivíduos mais velhos. De modo geral, nessa
função, aí e daí são consideradas formas estigmatizadas.
Loregian (1996), no estudo da concordância verbal com o
pronome “tu” em diferentes localidades do sul do Brasil, constatou
que os falantes mais jovens (15 a 24) aplicam menos a regra da
concordância (28%), e que, ao contrário, os falantes mais velhos
(+ de 50) a aplicam mais (38%). Ou seja, estes últimos tendem a
produzir a variante normalizada, em oposição aos jovens, que tendem
a usar a forma inovadora.
Pedrosa (2000), todavia, estudando o mesmo fenômeno na
fala de João Pessoa, constatou o contrário: falantes mais jovens
são os que mais utilizam a concordância: 63% em oposição a 14%,
valor este equivalente aos falantes mais velhos. Essa diferença de
comportamento, para ser mais exata, pode ser diagnosticada a partir
do cruzamento de outros fatores, como você verá na última seção. O
que as pesquisas indicam é que, muitas vezes, não se pode considerar
apenas um fator, mas um conjunto de fatores. É o que suscita a
pesquisa de Pedrosa, já que, de modo geral, são os mais jovens os
responsáveis pelas mudanças e pelos usos inovadores.
5 O FATOR CONTEXTO
Você deve saber que, enquanto falante de uma língua, pode
mudar o seu repertório linguístico a depender da situação em que
se encontra. Por exemplo, em situações mais descontraídas, entre
pessoas com quem tem mais intimidade, certamente você faz um uso
mais natural de sua língua, sem muita preocupação, por exemplo, com
variantes de prestígio. Já em situações que requerem formalidade,
entre pessoas que você não conhece, é capaz de adaptar sua forma
de se comunicar, aproximando-a mais da chamada língua culta, ou
variante de maior prestígio.
Com relação às pesquisas sociolinguísticas, Labov foi o
Para saber mais sobre a influência do fator idade, veja os resultados de Cos-ta (2007), para o fenômeno da vocalização, no seguinte endereço:
http://www.revel.inf.br/site2007/_pdf/9/
artigos/revel_9_analise_variacionista_da_vocalizacao.pdf
SAIBA MAIS
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primeiro a investigar a influência do contexto sobre a realização
de um elemento linguístico. Lembra da pesquisa do /r/ variável no
final de sílaba do inglês de Nova York, realizada por ele, que já foi
mencionada em aula anterior? Pois é, o autor investigou se as lojas
eram representantes de situações sociais distintas. Comprovou que,
de fato, nas lojas de nível mais alto, os falantes usavam mais a forma
de prestígio. Seus resultados confirmaram que as diferenças de
contexto formal e informal influenciaram também no uso dos estilos
também formal e informal, respectivamente.
Sobre o português brasileiro, o primeiro estudo a focalizar a
influência do grau de formalidade foi o de Naro e Lemle (1977, apud
MACEDO, 2003, p. 61), sobre o uso variável da concordância verbal.
Eles utilizaram amostras de entrevistas com alunos do MOBRAL do
Rio de Janeiro, realizadas em diferentes situações. Por exemplo, em
situações de discurso formal, verificaram 46% de presença da marca
de concordância; já, em situações de contexto familiar, 15,8%; e,
em casos de gravação secreta (quando o informante desconhece da
gravação), 2,8%.
Desde o estudo de Naro e Lemle, vários outros também
investigaram o comportamento do contexto sobre o uso da linguagem.
Um deles foi desenvolvido por Mollica (1989, apud MACEDO, 2003).
Ela investigou os chamados queísmo e dequeísmo. Sabe o que
seria isso? São estruturas que contêm os seguintes elementos em
destaque:
a) Eu estou com a impressão de que o senhor é candidato... (norma).
b) Tenho certeza que entre mim e o povo há muita coisa em comum (queísmo).
c) Eu poderia provar de que houve fraude nas eleições passadas (dequeísmo) (MACEDO 2003, p. 62).
Compreendeu o fenômeno? Queísmo e dequeísmo
correspondem a situações em que o uso do que não está correto,
ou seja, não é usado como prescreve a gramática normativa. Mollica
observou esses usos, que, aliás, são bastante comuns no português
do Brasil, em amostras de corpora diferentes: Censo (menos formal),
NURC – diálogos (informal) – elocuções formais. Os resultados foram
respectivamente: 80%, 61% e 52%. Ou seja, nas duas situações
menos formais, o fenômeno foi mais recorrente.
O que você está vendo nesta seção corresponde ao que
estudou na aula 2, sobre a variação diafásica ou estilística, lembra?
Nós podemos direcionar os nossos comportamentos linguísticos
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Variação linguística no pb: influência de fatores extralinguísticos
ATENÇÃO
SAIBA MAIS
de maneira mais consciente ou menos consciente, a depender da
situação em que nos encontramos. Lembra daquilo que Bagno (2007)
chama de monitoramento estilístico: “é uma escala contínua, que vai
do grau mínimo ao grau máximo [...] opera não só na língua falada,
mas também na escrita” (p. 45). O autor lembra, e você sabe, com
certeza, que “não escrevemos um bilhete para o namorado da mesma
maneira como escrevemos uma carta de apresentação onde estamos
tentando obter uma vaga para trabalhar” (p. 45).
6 O FATOR ESPAÇO GEOGRÁFICO
Como você viu na aula 2, é fato que uma língua pode variar
quanto ao espaço geográfico: numa mesma região, num mesmo
estado, num mesmo país, ou em países diferentes. Para ilustrar
isso, recorremos à pesquisa de Bispo (2004), na qual examinou
o uso variável da preposição introdutora do dativo/objeto indireto
(Eu ensinei a tarefa ao João X Eu ensinei a tarefa para o João) no
português brasileiro (PB) e europeu (PE). A autora constatou que, no
PE, o uso da preposição a é categórica, não ocorrendo variação. Já,
quando contrastou o dialeto dos cariocas e dos paraibanos, encontrou
um resultado bastante interessante: os paraibanos se comportam
como os portugueses em relação ao uso da preposição a: não varia.
Já com os cariocas ocorre o contrário: há variação e a preposição para
é favorecida. Interessante essa diferença, não? Entre dois extremos
do país, a diferença é bastante marcante.
Esse tipo de diferença pode ser observado nos trabalhos de
Loregian (1996) e Pedrosa (2000), já mencionados nesta aula. No
sul do Brasil, Loregian constatou que a concordância verbal com o
pronome “tu” é praticamente inexistente na capital gaúcha (tu vai? tu
foi?), enquanto que, na capital do estado de Santa Catarina, ainda se
mantém com frequência o uso da concordância (tu vais? tu fostes?).
Em João Pessoa, Pedrosa verificou que os falantes, em sua maioria,
favorecem o uso da não-concordância.
Aqui estamos destacando trabalhos que focam regiões
distantes uma da outra. No entanto, vale lembrar que as diferenças
podem ocorrer numa mesma região. Pense no caso de nosso estado:
quantos lugares, quantos falantes, quantas influências... Certamente,
tem ideia de quantas variações vão encontrar pelo caminho...
Para saber mais sobre a pesquisa de Bispo (2004), basta acessar o seguinte endereço:
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno14-02.html
Nesta aula, discutimos sobre a relevância de apenas 5 agentes exter-nos. Vale lembrá-lo (a) da importância de ou-tros agentes, tais como: etnia; status socioeco-nômico; ocupação so-cial; forma de interação social, entre outros.
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7 SOBRE O CRUZAMENTO DE VARIÁVEIS EXTRALINGUÍSTICAS
Como já foi mencionado, resultados em que se considera um
fator isolado podem não corresponder inteiramente à realidade. Do
cruzamento de uma determinada variável, por exemplo, escolaridade,
com outras variáveis, chamadas tecnicamente de independentes,
podem emergir padrões de correlação diferenciados. Para entender
isso, recorremos a uma das pesquisas já destacadas nesta aula, a de
Vazzata-Dias (2000).
A fim de depreender nuances mais significativas com relação
à concordância de número em predicativos e em particípios passivos,
a pesquisadora cruzou os seguintes fatores sociais: escolaridade e
idade, escolaridade e sexo e sexo e idade.
Do primeiro cruzamento constatou: os informantes mais
velhos (+ de 50 anos) e com mais escolaridade privilegiam a forma
padrão. Segundo a pesquisadora, “isso parece trazer evidências mais
contundentes de que esse tipo de concordância sofre estigmatização
e que a escola tem assumido a postura de ‘censurá-lo’” (p. 223).
Do segundo cruzamento, também verificou a influência
considerável do fator escolaridade. As mulheres com mais escolaridade
aplicam mais a regra de concordância do que os homens. Embora
a diferença entre os dois diminua consideravelmente à medida que
vão se escolarizando, a mulher é sempre a que mais usa a forma de
prestígio.
Do terceiro cruzamento, observou, por um lado, que tanto a
mulher quanto o homem mais velhos realizam mais a concordância
do que os mais jovens, indicando realmente que os mais jovens são
usuários de formas inovadoras. Por outro, não se notou diferença
entre homem e mulher mais jovens quanto à aplicação da regra.
Percebeu a importância de se considerar o entrelaçamento
de outros fatores na investigação do fenômeno linguístico? Por meio
do cruzamento, é possível chegar a conclusões mais significativas,
mais pontuais a respeito das variáveis investigadas. Na próxima aula,
ainda falaremos sobre isso, mas envolvendo outro tipo de agente. Até
lá!
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ATIVIDADES
1 Uma das diferenças mais evidentes que se observa na fala de homens e mulheres se processa no âmbito lexical. Procure relacionar, pelo menos, dez palavras ou expressões que são usadas particularmente por cada um deles.
2 O /l/ pós-vocálico, aquele que ocorre em palavras como sal, palma, Valter, maltrata, soldado... é variável na língua portuguesa. Ora ocorre como [l], ora como [w]. Procure observar, na sua região, em quais falas a forma não-vocalizada [l] ocorre mais: se na fala de indivíduos mais velhos ou mais novos; se na fala de indivíduos com mais ou menos escolaridade. Procure comparar os resultados com os dos seus colegas.
3 Observe e compare a fala de apresentadores de diferentes programas televisivos e faça uma análise do grau de formalidade dos itens lexicais. Procure também verificar se eles fazem ou não uso de gírias.
4 Muitos casos de regência não previstos pela norma padrão imperam na língua falada no Brasil. Eis alguns casos: assisti o filme (forma correta: assisti ao filme); fui na feira (forma correta: fui à feira); pisou no meu pé (forma correta: pisou o meu pé); obedeceu o pai (forma correta: obedeceu ao pai). Procure listar pelo menos mais cinco casos de regência variável, que seja comum em sua localidade, sua região.
RESUMINDO
Nesta aula, você viu que:
• A variação linguística pode ser explicada tendo em vista diferentes fatores extralinguísticos: gênero/sexo; escolaridade, idade, contexto e localização geográfica.
• De modo geral, as pesquisas indicam que as mulheres usam mais as formas de prestígio se a variação não representa um caso de mudança; se representa, elas são responsáveis pelos usos das formas inovadoras; que a escola é propagadora das formas de prestígio e inibidora das formas estigmatizadas; que os falantes mais jovens fazem mais uso de formas inovadoras do que os mais velhos.
• Resultados e conclusões mais significativos podem ser depreendidos se mais de um fator for correlacionado.
LEITURA RECOMENDADA
Para complementar esta aula, recomendo a leitura do artigo em anexo: A monotongação do ditongo [ow], de QUEDNAU; AMARAL (1997). Nele, as autoras mostram a influência de alguns dos agentes
estudados nesta aula.
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BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
BATTISTI, E. A redução variável dos ditongos nasais átonos no português do sul do Brasil. In: LETRAS de Hoje: A variação no sistema. Porto Alegre: EDIPUCRS. V. 35, nº1, 2000, p.256-273.
BISPO, K. C. F. I. A sintaxe do dativo no português. http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno14-02.html. Acesso em: 20 fev. 2010.
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Variação linguística no pb: influência de fatores extralinguísticos
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Linguística II: sociolinguística
110 Módulo 2 I Volume 3 EAD
Variação linguística no pb: influência de fatores extralinguísticos
Suas anotações
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