Ao gas
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mariaverde1995 -
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Transcript of Ao gas
E saio. A noite pesa, esmaga. NosPasseios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocadurasUm sopro que arrepia os ombros quase nus.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu pensoVer círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,Em uma catedral de um comprimento imenso.
As burguesinhas do CatolicismoResvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,As freiras que os jejuns matavam de histerismo.
Num cutileiro, de avental, ao torno,Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
E eu que medito um livro que exacerbe,Quisera que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
Longas descidas! Não poder pintarCom versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,
E a vossa palidez romântica e lunar!
Que grande cobra, a lúbrica pessoa,Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.
E aquela velha, de bandós! Por vezes,A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.
Desdobram-se tecidos estrangeiros;Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós de arroz pairam sufocadores,E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentesOs candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
"Dó da miséria!... Compaixão de mim!..."E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,Meu velho professor nas aulas de Latim!
Apóstrofe- “Ó moles hospitais! Sai das embocaduras” Enumeração- “Com santos e fieis, andores, ramos, velas,” Ironia- “Em uma catedral de um comprimento imenso.” Sinestesia- “Um cheiro salutar e honesto a pão forno” Tripla adjetivação- “Com versos magistrais, salubres e sinceros” Metáfora- “Que grande cobra, a lúbrica pessoa” Dupla Adjetivação- “E nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso”
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos APasseios de lajedo arrastam-se as impuras. BÓ moles hospitais! Sai das embocaduras BUm sopro que arrepia os ombros quase nus A
A terceira parte de “O Sentimento dum Ocidental” inicia se com o retomar da digressão noturna do sujeito poético, interrompida, no final de “Noite Fechada”, com a entrada numa cervejaria.
1- Apresenta uma explicação para o subtítulo desta secção do poema. 2- Na sua deambulação, o sujeito poético continua a sofrer os efeitos opressivos do ambiente da cidade.
2.1- Transcreve os verbos que, nas duas primeiras estrofes, os mencionam. 3- Destaca a importância de que se reveste a quarta estrofe, atendendo à oposição temática que estabelece com
as restantes quadras do texto. 4- Face às circunstâncias presentes, o sujeito poético deseja concretizar uma obra com um objetivo particular.
4.1- Refere-o4.2- Indica os meios que lhe permitirão atingi-lo
5- Assim como em “Ave Marias”, em “Ao Gás” o mundo citadino é descrito através de processos linguísticos e estilísticos que aproximam a poesia de Cesário Verde da pintura impressionista. 5.1- Identifica no poema exemplos de cada um dos recursos expressivos usados para representar a realidade de forma fragmentária e dela apresentar, em primeiro lugar, a impressão que provoca.
a- metáforab- sinestesiac- hipálaged- expressões de cariz sensitivo
6- Refere os processos fonológicos que se verificam na evolução de cada uma das palavras seguintes, do latim para o português
a- PLANUM > chãob- PLORARE > chorar