“TALENTO É DOM PRA VENCER. PRE- CONCEITO …...melhor carnavalesco do Grupo Especial, vencendo em...

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Pra tudo não se acabar na quarta-feira, assim se passaram

15 anos do Plumas & Paetês Cultural. Utilizando alguns dos

mais belos versos, os quais todos nós fomos presenteados

no carnaval de 2019, não precisei criar frases mirabolantes

para expressar o quanto esta rica cultura popular engrandece às mentes,

aos ouvidos e aos corações de uma nação que almeja dias melhores.

Sabedor e consciente dos desafios que se renovam a cada ciclo, rara-

mente me veio o sentimento de desistir dos propósitos e objetivos comuns.

Muito pelo contrário. Ao refletir sobre a própria existência e resistência a

que este projeto se propõe, não nos limitamos a ser uma simples celebra-

ção, mas sim, desde o início, uma busca constante pela preservação e

valorização dos artistas da folia.

Diante de todas as adversidades, vaidades encontradas e tensões po-

líticas o Plumas & Paetês Cultural transformou-se, ouvindo as vozes dos

heróis dos barracões, o povão que ficou fora da jogada. Motivado por ques-

tionamentos que se encontram até hoje sem respostas, dentro deste que é

o maior segmento da economia criativa do mundo.

Muitos foram os votos para que continuássemos a nossa trajetória. De

boa parte desses qualificados profissionais, que honrosamente tivemos o

privilégio de conhecer de perto e perceber no olhar e na fala o quanto são

gigantes e capazes de se reinventar mesmo diante de inúmeras dificulda-

des. É a história que a história não conta, o avesso do mesmo lugar, na

luta é que a gente se encontra. Cabe agradecer aos Alexandres, Fábios,

Ricardos, Leandros, Edsons, Joãos, Jacks, as Priscillas, Rosas e tantos

outros que nos representam e se fazem presente.

Críticas afiadas sempre farão parte diante de toda competição, onde

ninguém quer sair perdendo. Mas, com uma pequena mudança na men-

talidade, deixando pra lá a individualidade, que ainda faz o concorrente

parecer inimigo – quando, ao contrário, deveria ser visto como o grande

incentivador capaz de desafiar cada um a crescer, ganhar força e experiên-

cia, teremos um cenário muito mais favorável para todos.

Conceitos e preconceitos devem ser reavaliados e muitas vezes extin-

guidos. O segmento em que a nossa maior festa está inserida exige mui-

ta ousadia, diversidade, capacidade de gestão e criatividade, sempre em

constante renovação, pois, do contrário, o preço pode ser o fracasso e ou

o descrédito. Os desafios são muitos, mas sabemos que nunca é tarde pra

sonhar, vamos lá, a hora é essa!

Quem me viu chorar, vai me ver sorrir, pode acreditar, o amor está

aqui...

José Antônio Rodrigues FilhoGestor do Prêmio Plumas & Paetês Cultural

REvistA PLUMAs & PAEtês CULtURAL10ª Edição - março 2019tiragem: 10.000 exemplaresCirculação Gratuita - venda proibidawww.plumasepaetescultural.com.br

/plumaepaetescultural/

PRODUÇÃO:Diretor Executivo: José Antônio RodriguesJornalista Responsável: tiago Ribeiro (REG. 4412/RJ)

REDAÇÃO:Editor: tiago RibeiroProdutor e Projetista Gráfico: Levi CintraRevisor: André Camargo (JP.24067-RJ)Produção e Cobertura de Mídias:Bruno Mariozz, Flávio Nogueira, Gabriel Belino e Rafael PrevotTextos: André Camargo, Clinton Paz, José Antônio Rodri-gues Filho, José Mauricio tavares, Leonardo Antan, Luiz Ricardo Leitão, Rafael Bacelo e tiago Ribeiro.Fotografias: Acervo UNEsA, Acervo Riotur, Berg silva, Bruno Motta, Cristina Frangelli, Edimar silva, Maickell Abreu, Marcos Mello, Robson talber, sérgio Lobato e Wigder Frota. Foto de Capa: Marcos MelloFigurinos: Marinus Puro Linho

Impressão: MAVI Artes GráficasRua Dr. Garnier 686 Rocha - RJCNPJ: 02.822.810/0001-59

Agradecimentos: Baródromo, Dominique Marceau, Jean Claudio santana, Jorge Rodrigues, Mariana Ribas, Ma-rinus Puro Linho, Ricardo Lopes e site Carnavalizados.

todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade dos respectivos anunciantes. todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores, não refletindo a opinião do Plumas & Paetês Cultural.

“TALENTO É DOM PRA VENCER. PRE-CONCEITO NÃO PODE CALAR. FOI PRECISO ACREDITAR”

Acompanhe a agenda do Terreirão em nosso site www.rio.rj.gov.br/web/smc

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ASCOM SMC

CULTURA

Programação Nota 10, o ano inteiro...

Terreirãodo Samba

Carnaval 2019

35.907espectadores

a mais que nos dias do

Carnaval 2018

15%128 mil

pessoas de janeiro a

dezembro

2018

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| Mensagem |

Quando o Carnaval carioca desfila seus encantos para pla-

teias de todo o mundo, mais do que enredos, fantasias,

alegorias e sambas passam pelas avenidas. inúmeros ar-

tistas, produtores e gestores também estão ali desfilando,

invisíveis aos olhos do público, formando uma das mais poderosas redes

de profissionais de nossa economia criativa.

O mérito e a originalidade do Prêmio Plumas & Paetês estão jus-

tamente em voltar os holofotes para esses profissionais, tirando-os da

invisibilidade e valorizando seus talentos e técnicas. Artistas de barra-

cões, ateliês, ferrarias, carpintarias e serralherias são alçados ao estrela-

to, equiparados em arte e importância aos que dançam, tocam, cantam

e compõem.

Apoiar o Plumas & Paetês é materializar nossa filosofia de valorizar,

antes de tudo, o ser humano que dedica sua vida, energia e história para

construir o maior carnaval do planeta e fortalecer o maior patrimônio

imaterial desta cidade. Mais do que espetáculo, para a secretaria Muni-

cipal de Cultura, o Carnaval e samba são sinônimos de cultura.

Mariana Ribassecretária Municipal de Cultura do Rio de Janeiro

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| Sumário |

EdiçõEs antEriorEsbAIxE O qR READER

16

Miro Ribeiro e os 20 anos do vai dar samba

14DEU SAMbA!

tradição, espetáculo e diálogo

23qUANDO OS DESFILES ROMPEM A AVENIDA

Conheça Belisário Cunha, o premia-do do Plumas como melhor gestor de ateliê 2019

27O ARTISTA NA SUA INTIMIDADE

Os MiLLENNiALs E O CARNAvAL

O papel da juventude e das novas tecnologias nas

escolas de samba

FEstA DE DEBUtANtEs: Conheça a trajetória de

alguns dos maiores premiados do Plumas & Paetês

Cultural

Aluísio Machado, sambista de fato, rebelde por direito

20E VERÁS qUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA, AO SOM DO bUMbUM PA-TICUMbUM

Manoel Gonçalves Filhoassessor chefe do secretário de Cultura do

estado do Rio de Janeiro

O sambista, galhofeiro e contestador conta sua história e deixa a sua marca

ALUÍSIO MACHADO S/A

24

10

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8 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

9

| Galeria 2018 |

Confira as imagens dos premiados da 14ª edição do Prêmio Plumas

& Paetês Cultural em homenagem ao compositor Wilson Moreira. A

premiação ocorreu em 28 de abril no Teatro Carlos Gomes, e reuniu

os artistas a imprensa especializada e representantes dos segmen-

tos da economia criativa.

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10 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

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| Capa | Por: André Camargo

Festa deDEBUTANTES

Em 2019 o Plumas & Paetês chega a sua 15ª edi-

ção. Para celebrar, convidamos alguns dos maiores

premiados em todo este tempo para compartilhar

um pouco das suas trajetórias e entendermos a im-

portância da premiação para os artistas da folia. Alguns recordistas

foram selecionados para representar os mais de 933 premiados: os

carnavalescos Fábio Ricardo, João vitor, Edson Pereira, Alexandre

Lousada e Jack vasconcelos, além do maquiador Jorge Abreu e do

casal de coreógrafos Rodrigo Negri e Priscilla Motta.

O primeiro deles é Alexandre Louzada, recordista do prêmio de

melhor carnavalesco do Grupo Especial, vencendo em 2006, pela

vila isabel, em 2007, pela Beija-Flor, e 2017, pela Mocidade. Ele,

que estreou na Portela em 1985, possui seis títulos de campeão

do Grupo Especial do Rio de Janeiro e dois em são Paulo. Com

uma trajetória de dar inveja, Louzada já trabalhou em dezenas de

agremiações, com desfiles marcantes, que lhe renderam mais dois

troféus do Plumas & Paetês Cultural: Melhor Figurinista, em 2005,

pela Porto da Pedra, e Melhor Pesquisador do Grupo Especial, pelo

enredo sobre Portinari, na Mocidade, em 2012.

Entre os carnavalescos da nova geração destacamos Fábio Ri-

cardo, dono de sete troféus do Plumas. sua estreia em nosso palco

foi em 2006, como Melhor Figurinista do Grupo Especial, ano em

que era assistente de Max Lopes, na Mangueira – parceria que durou

oitos anos: “Foi o meu primeiro prêmio no carnaval. Uma surpresa.

Nunca tinha imaginado que as pessoas me observavam atrás dos

bastidores, então para mim foi um marco, um incentivo para conti-

nuar a fazer a arte popular do carnaval”.

Fabinho, como é conhecido, já trabalhou ao lado de outros gran-

des mestres, como Joãosinho trinta, mas seria em 2008 que sua

carreira como carnavalesco começaria, pela Acadêmicos da Roci-

nha, numa estreia muito premiada: “cada enredo é como filhos que

criamos e nos emocionamos. Mesmo aqueles encomendados, patro-

cinados, amamos do mesmo jeito e o carinho é igual. O primeiro en-

redo, desfile e filho a gente nunca esquece”, garante o carnavalesco,

afirmando que o desfile de 2008 ficará sempre em sua lembrança.

Apaixonado pela arte e pelo carnaval, ele atribui a paixão à pre-

sença marcante de sua mãe, que sempre o incentivou – e o levou às

lágrimas ao assistir o seu primeiro desfile, em 2008. Fábio Ricardo,

que já recebeu os troféus de Melhor Carnavalesco do Grupo Especial,

em 2014, pela Grande Rio, e do Acesso, em 2009 e 2010, pela Ro-

cinha, já faturou também os prêmios de Melhor Figurinista do Grupo

Especial em 2012 e 2013, pela são Clemente, e Revelação do Car-

naval em 2008. Sobre estas homenagens afirma: “Hoje poucos são

conscientes em agradecer ao carnavalesco, ao figurinista, ao ferreiro,

aos aderecistas, às costureiras. Eles são essenciais, pois sem eles

FICHA TÉCNICA:

Fotos: Marcos Mello.

Figurinos: Marinus Puro Linho

Nossos debutantes: Fábio Ricar-

do, Edson Pereira, Alexandre

Lousada, Jack vasconcelos,

Rodrigo Negri e Priscilla Motta.

não fazemos carnaval. Às vezes essas pessoas só querem um ‘muito

obrigado’, um aperto de mão, um abraço de coração. Como dizem: a

gratidão é o único tesouro dos humildes. Por isso esse reconhecimen-

to feito pelo prêmio Plumas & Paetês é muito importante”

Recém contratado pela Paraíso do tuiuti, para o carnaval 2020,

João vitor é dono de cinco troféus do Plumas & Paetês Cultural. O

carnavalesco, que considera 2017 como seu ano de renascimento,

após o sucesso de seu trabalho na Acadêmicos da Rocinha, conta

que a premiação é um incentivo para pensar e buscar realizar um

trabalho sempre melhor que do ano anterior: “Ganhar o carnaval

de 2014 pela viradouro foi uma das melhores sensações da minha

vida. Mas retornar à sapucaí desacreditado, em uma escola que pas-

sava por uma situação financeira complicada, buscando fazer um

carnaval para se manter no grupo, e chegar na hora, deixar toda

Avenida boquiaberta, realmente não tem preço. O carnaval de 2017

me emociona até hoje. Foi o meu renascimento em todos os senti-

dos. Disseram que eu não conseguiria fazer mais nada e eu provei

o contrário”.

sua trajetória começou na Portela, no ano 2000, quando entrou

num barracão pela primeira vez, aos 15 anos: “Era período de férias

escolares e tudo o que eu queria era trabalhar para levantar uma gra-

na extra para comprar os meus livros. Fui levado por um amigo que

me disse que a escola estava um pouco atrasada e estava precisan-

do de aderecistas. Eu já era apaixonado por carnaval e já desfilava,

mas não fazia ideia de como era feito tudo aquilo que eu admirava”.

Depois dessa experiência, João vitor passou cinco carnavais como

aderecista na Mangueira, viradouro e Rocinha. Nesta última, sua

carreira deu uma grande virada: “passei a exercer a função de car-

navalesco da escola mirim da Rocinha (Borboleta Encantada) e a

direção artística da ‘escola mãe’ até o início do processo de criação

para o carnaval de 2013, que foi o ano do ‘tudo ou nada’ para mim”.

Depois de uma experiência frustrada no Grupo Especial, em

2015, pela viradouro, João vitor está de volta à elite da festa já de

olho no sexto troféu do Plumas: “O mais bacana disso tudo é que fui

premiado em todas as escolas em que eu trabalhei. tenho todos eles

expostos na estante do meu escritório. Eu me sinto muito honrado

por ter sido premiado cinco vezes. Até hoje me lembro da sensação

que senti em todas as edições do Plumas & Paetês de que eu partici-

pei. O prêmio é de extrema importância! Essa valorização do profis-

sional que trabalha nos bastidores é necessária, afinal, carnavalesco

não trabalha sozinho. Nossa lista de colaboradores é extensa. Quem

ganha um ano, quer ganhar sempre! É uma felicidade fazer parte

deste ranking luxuoso!”.

Provando que no carnaval não se faz nada sozinho, destacamos

agora uma dupla, Priscilla Motta e Rodrigo Negri, pentacampeões

ConheçA A TrAjeTóriA de AlGuns dos MAiores PreMiAdos do PluMAs & PAeTês CulTurAl

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12 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

2015 e 2017, pela Unidos de Padre Miguel, e

em 2018, pela viradouro; Melhor Carnavalesco

do Acesso B, em 2008, e Melhor Desenhista do

Acesso A, em 2014, ambos pela Unidos de Pa-

dre Miguel. Mas lembra que não fez nada disso

sozinho: “Aquilo que eu penso para a plástica de

um desfile precisa ser executado e o Plumas &

Paetês mostra que os profissionais que sonham

junto comigo têm talento para levar

isso para a Avenida. Quando passo

minhas ideias para o papel, preciso

de pessoas que caminhem junto co-

migo e que façam aquilo ser possível.

É uma extensão total do meu trabalho

e eu não faço nada sem eles. vê-los re-

cebendo prêmios por executarem seus

ofícios em prol da minha arte é um re-

conhecimento muito gratificante”.

Entre estes artistas mais presentes

nos bastidores da festa destaca-se Jorge

Abreu, pentacampeão do Plumas como

Melhor Maquiador Artístico, quatro de-

las pelo Grupo Especial (2014, 2015,

2016 e 2018) e outra pelo Acesso A

(2018), por escolas como viradou-

ro, Estácio de sá, Unidos da tijuca,

União da ilha e vila isabel. “sem dú-

vida esse reconhecimento me trouxe

notoriedade e muito mais respeito,

principalmente no meio do carna-

val, nos bastidores do povo que faz

carnaval. isso é de uma importância

sem tamanho”, ressalta Jorge, que foi várias vezes consi-

derado um dos cinco melhores maquiadores artísticos do

Brasil pelo Prêmio Avon.

Artista plástico de formação, com atuação em vários

segmentos como cenografia, adereços e figurinos, Jorge

relembra seu início: “Comecei minha vida no carnaval com

os concursos de fantasias do Hotel Glória. Daí para a Sa-

pucaí foi um pulo. Através do carnavalesco Jaime Cesário embarquei

nas grandes escolas do Grupo Especial e de Acesso”.

Recordista em sua categoria, Jorge Abreu lembra com carinho

sua estreia no Plumas: “Acho que foi uma das maiores emoções

que eu tive. ser reconhecido pelo meu trabalho, independente de

qualquer outra coisa, era um prêmio. Acho que nunca esquecerei

da categoria Melhor Coreógrafo do Grupo Especial (2010,

2011, 2012 e 2014, pela Unidos da tijuca, e 2015, pela

Grande Rio). Ela começou como componente da comissão

de frente da tradição em 2005 e se tornou assistente de

coreografia da Unidos da Tijuca no ano seguinte, antes de

assumir a abertura da escola. Ele foi assistente na tradi-

ção em 2005, dançou no salgueiro em 2006,

assinou como um dos coreógra-

fos na Portela em 2007 e só em

2008, na escola tijucana, iniciou

a parceria que dura até hoje.

Casados há 12 anos, Rodrigo

e Priscilla alcançaram a atenção

do grande público em 2010, com a

famosa comissão que trocava de rou-

pas em segundos, no enredo “É segre-

do”. A comoção foi tanta que o grupo

realizou mais de 300 apresentações

extras, no Brasil e em países como

Canadá, itália e Angola. Dedicando

todos os seus prêmios aos seus bai-

larinos, o par afirma: “É uma honra

pra nós figurar ao lado de tantos

artistas competentes e justamente

premiados”.

Formado em Belas Artes, o

carnavalesco Edson Pereira iniciou

sua carreira artística na década de

90, na equipe de cenografia da

Rede Globo, onde conheceu

Chico Espinosa, que o levou

para trabalhar na União da

ilha do Governador. Mas seria

em 2005 que assinaria seu

primeiro carnaval, na Unidos

de Padre Miguel. Depois ain-

da passaria pela União de

Jacarepaguá, viradouro, Re-

nascer de Jacarepaguá, Mocidade independente,

até chegar na vila isabel, onde já se prepara para o carnaval 2020.

“Em todas estas agremiações eu aprendi algo que me enriqueceu

como artista e trago um carinho muito grande por esses pavilhões”.

Atual vencedor da categoria Melhor Carnavalesco do Grupo Es-

pecial, pela vila isabel, em 2019, Edson possui mais cinco troféus

do Plumas: tricampeão como Melhor Carnavalesco do Acesso A, em

ANDRÉ CAMARGO é jornalista, graduado em letras e revisor da revista do prêmio Plumas & Paetês Cultural

isso” e completa: “O Plumas & Paetês mudou a minha história den-

tro do carnaval. A visibilidade, a credibilidade no meu trabalho, que

foi atestado como um dos melhores, me avalia como um profissio-

nal que deve ser respeitado. isso é o que todos buscam em suas

áreas de atuação. O prêmio é como se ganhássemos um carimbo

de qualidade, de respeito, de credibilidade. São profissionais sendo

reconhecidos pela excelência apresentada. Para mim, esse é o maior

reconhecimento do nosso trabalho”.

Por fim, mas não menos importante, ele que é o maior premiado

da história do Plumas & Paetês Cultural, com o impressionante nú-

mero de 12 troféus, Jack vasconcelos. Formado na Escola de Belas

Artes, fez sua estreia como carnavalesco no império da tijuca, em

2005, pelo então Grupo B. De lá pra cá foi campeão duas vezes

no Acesso A (2009 pela União da ilha e 2016 pela tuiuti) e vice-

-campeão do Grupo Especial em 2018, também pela tuiuti, num

desfile histórico.

Recém contratado pela Mocidade para desenvolver o carnaval

2020 sobre a cantora Elza soares, Jack vasconcelos, mostrou ao

longo dos 15 anos do Plumas o seu caráter polivalente, sagrando-se

vencedor nas categorias Carnavalesco do Grupo Especial, em 2018,

Pesquisador do Grupo Especial, em 2017 e 2018, Pesquisador do

Acesso A, em 2010, 2015 e 2016, Figurinista do Acesso A, em

2010, 2014 e 2016, e Desenhista do Acesso A, em 2013, 2015 e

2016. Diante de tantos louros, Jack lembra mesmo é da alegria de

estar junto dos seus: “Na mesma premiação tem o carpinteiro que

trabalhou comigo, a costureira que eu vi trabalhando desde que eu

era assistente, e ver ela subindo no palco recebendo o prêmio é sen-

sacional! É uma premiação que olha pro profissional do barracão e

que, muitas vezes, o público não tem acesso àquele nome. Quem faz

realmente esse sonho acontecer são esses profissionais e o Plumas

nasceu olhando pra eles”.

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14 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

15

Por: rafael Bacelo

RAfAel BACelO é sambista e filho de Miro ribeiro

Quem sintoniza, de segunda a sexta, na rádio 94

FM, às 20h, sabe: toda edição do vai dar samba

é iniciada com uma louvação às velhas guardas,

aqueles que construíram a história que temos

hoje. Da mesma maneira, para falar sobre os 20 anos do programa,

nada mais justo do que homenagear aquele que iniciou essa tra-

jetória, o radialista Miro Ribeiro;

Nascido em uma família humilde do subúrbio carioca, morado-

ra de Guadalupe, Abolição e Piedade, Miro é o terceiro de quatro

filhos da dona Eunice e Sr. Almiro Barcellos Ribeiro. Ele, que cres-

ceu achando que seria psicólogo - até tentou o vestibular -, acabou

cursando Comunicação social. A contragosto, quem diria. Graduado,

tomou prazer pela profissão e acabou pós-graduado em Jornalismo

Cultural.

A paixão pelo rádio apareceu ainda nos tempos de faculdade,

quando foi convidado a participar de um programa radiofônico vol-

tado aos estudantes, onde continuou mesmo após o fim da atração.

Em seguida, foi para a Rádio Bandeirantes em um programa cha-

mado Ciranda dos Clubes. Durante este período, ao participar de

um concurso na faculdade, conseguiu uma vaga de estágio na então

tv tUPi. Lá foi repórter da área de esporte e do jornalismo, mas

abdicou da carreira de locutor esportivo, negando o convite de Carlos

Lima. seu negócio era mesmo a boemia e o samba.

Dono de uma voz diferenciada, forte e considerada de autorida-

de, Miro Ribeiro tem feito a festa na radiofonia brasileira, já tendo

passado por quase todas as emissoras do Rio de Janeiro - incluindo

algumas comunitárias -, além de atuar como comentarista de carna-

val nas tvs Bandeirantes, sBt e CNt. Miro, que foi também locutor

da são Clemente, foi convidado pelo radialista Luiz Felipe Melo, en-

tão presidente da Rádio Roquette Pinto, para fazer o vai Dar samba,

em 1999, e nunca mais deixou o programa.

No início, o vai dar samba ia ao ar apenas nas noites de sábado.

Ao longo dos anos, foi ganhando audiência e mais espaço na pro-

gramação, em um momento em que o samba não tocava em FM.

O programa passou também pela Rádio Manchete, por oito anos,

divulgando o dia-a-dia das agremiações de todos os grupos, bandas,

blocos, livros, filmes e tudo o que se refere à cultura do carnaval. Na

programação, sambas de enredo, entrevistas com presidentes, dire-

tores, carnavalescos, intérpretes, escultores, aderecistas, famosos e

anônimos: um espaço aberto e permanente para o mundo do samba,

suas “mumunhas e remandiolas”.

Além de Miro, que também apresenta a cerimônia de premia-

ção do Plumas & Paetês Cultural desde 2010, a equipe do vai dar

samba, atualmente, é formada por Paulo Coutinho, Miguel Ângelo e

Marcelo Pacífico. Profissionais que, assim como em uma escola de

samba, são os responsáveis por manter viva esta cultura.

Deu Samba!Miro Ribeiro e os 20 anos do Vai dar Samba

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16 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

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| Homenagem |

Se você chegar na quadra do império serrano e procurar

por Alcides Aluísio Machado, ninguém conhece. É o

próprio quem diz. Da mesma maneira, se o tal é vis-

to sem o seu chapéu, marca registrada de sua figura,

também passa desapercebido. E foi justamente para conhecer mais

o homenageado do Plumas & Paetês Cultural 2019, sem deixar pas-

sar nenhum detalhe importante, que fomos até a sua casa, para uma

boa dose de conversa, regada à cantoria.

Nascido no dia 13 de abril de 1939, em Campos dos Goyta-

cazes, no bairro Guarus, como gosta de frisar, Aluísio Machado é

o sétimo e último filho do casal Maria Augusto Machado e Alcides

Machado. Ele, mineiro e sanfoneiro. Ela, capixaba e lavadeira. Os

dois se conheceram no Espírito santo e rumavam ao Rio de Janeiro

quando a gravidez chegou a tal ponto que forçou a pausa na viagem.

instalados na cidade, Aluísio veio ao mundo num dia em que Dona

Maria levava uma trouxa de roupas para as madames da região. A

bolsa estourou e ela acabou dando à luz embaixo de uma árvore.

Mas embora seja grande o carinho pela cidade natal do caçula, a

Por: Tiago ribeiro

família só esperou Aluísio crescer um pouco, cerca de um ano, para

seguirem para a então capital federal, em busca de melhores opor-

tunidades de trabalho.

No Rio, ele, que é Alcides em homenagem ao pai e Aluísio por

sugestão de sua madrinha, fez morada na região de Madureira e

bairros próximos, tais como Campinho, Cavalcanti, Ricardo de Al-

buquerque e Oswaldo Cruz. seria nessa região, ainda na infância,

que começaria a brincar de compor, de modo intuitivo, tendo como

sua primeira musa inspiradora uma então namoradinha dos tempos

do colégio, para a qual escreveu uma canção em formato de bilhete,

intitulada “A Carta”.

Com os estudos não teve muito como avançar: “Filho de pobre,

14 anos, fez o primário? carteira de menor e trabalho”. seu pai,

pedreiro, queria lhe ensinar o ofício de servente, mas o menino fugia.

Acabou como aprendiz de estofador, numa tapeçaria em Copaca-

bana, profissão que lhe rendeu boas histórias, como a que envolvia

uma cliente fogosa, que, anos mais tarde, inspiraria a canção “Artifí-

cio”, sobre um amor proibido, escondido.

Filho de sanfoneiro numa casa sem nenhum outro músico, foi

através do seu irmão, Milton, que conheceu sua inspiração definitiva,

o Império Serrano, num tempo em que os desfiles ainda ocorriam na

Presidente vargas, com o cortejo cercado por cordas: “Meu irmão

desfilava em ala e era um cara que guardava as fantasias de um ano

para outro. tudo bonitinho, no plástico. Como a gente tinha o mesmo

porte físico, quando chegava o carnaval, ele botava a fantasia nova,

eu ia no armário dele e pegava uma roupa do ano anterior. Eu dei-

xava ele ir, depois ia atrás, mas ficava do lado de fora, porque com

fantasia velha não podia desfilar. Quando o diretor de harmonia se

afastava, eu passava pro lado de dentro da corda. Foi assim que eu

comecei”. O ano era 1954, o desfile “O Guarani de Carlos Gomes” e

Aluísio tinha 14 anos.

Enquanto dava os primeiros passos no samba, mudou de empre-

go, indo trabalhar em uma loja de tecidos na Gomes Freire, Centro

do Rio. seria no percurso trabalho-casa que daria um outro passo

importante: “Eu estava na Rua da Constituição, em direção à Pra-

ça tiradentes pra pegar a condução, quando escutei um ritmo de

tambor, atabaque, num sobrado. Um dia eu subi, cheguei lá, era o

teatro Popular Brasileiro, de solano trindade. Ele logo me convidou

a participar, mas eu disse que não, que eu só tinha ido assistir. Ele

insistiu: não quer experimentar? Eu experimentei e gostei da coisa,

aprendi muito ali”. No total, Aluísio ficou cerca de dez anos na Cia,

se apresentando por todo o brasil, dançando ritmos como congo, ma-

racatu, frevo, cateretê e caxambu, e só não foi para o exterior porque,

na época, era menor de idade. Além disso, dançou nos filmes “Rio,

40 graus”, “Orfeu Negro” e “Meus Amores no Rio”.

Enquanto conciliava o trabalho na loja e o teatro de solano trin-

dade (saía do serviço entre 17h e 18h, com o ensaio começando às

19h), Aluísio continuava no império serrano. saiu em ala, na bateria

(tocando reco-reco, porque, segundo ele, o instrumento mais fácil),

e foi passista, antes de escrever sambas para a escola: “Eu já com-

punha no império, mas pra entrar pra ala de compositores era difícil,

porque, no meu tempo, você tinha que fazer um estágio de dois anos

pra poder entrar pra ala. Além disso, você tinha que apresentar uma

música, o samba de terreiro, que hoje em dia chamam de samba de

quadra, mas quadra é lugar de basquete, vôlei, o nome é samba de

terreiro”.

Foto

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arco

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Aluísio Machado S/A

o sAMBisTA, GAlhoFeiro e ConTesTAdor ConTA suA hisTóriA e deixA A suA MArCA

Page 10: “TALENTO É DOM PRA VENCER. PRE- CONCEITO …...melhor carnavalesco do Grupo Especial, vencendo em 2006, pela vila isabel, em 2007, pela Beija-Flor, e 2017, pela Mocidade. Ele, que

18 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

Amante do samba, antes de qualquer coisa, aceitaria o convite

para ser mestre-sala da imperatriz Leopoldinense, em 1963, quando

a escola ainda desfilava no segundo grupo. A ideia partiu de Maurílio

da Penha Aparecida e silva, o Bidi, compositor do samba daquele

ano, “As três capitais”, que também era fundador do grupo Originais

do samba: “ele gostava de me ver dançar. E a imperatriz não era

essa que você vê hoje, mas uma escola pequenininha. Pra você ver,

o ensaio era no Morro do Alemão, no terreno da casa do Zé Katimba,

não tinha nem quadra. Houve uma briga lá com o mestre-sala e o meu

compadre me chamou pra eu dançar. Aí saí um ano só”.

seria ainda nos anos 1960 que o sambista entraria para a dis-

putada ala dos poetas da serrinha. Desta vez, a musa do seu samba

seria vera Lúcia Couto dos santos, segunda colocada no Miss Brasil e

terceira no Miss Beleza internacional, em 1964, a mesma que inspi-

rou João Roberto Kelly a fazer a marchinha “Mulata Bossa Nova”: “ela

marcou uma visita ao império, que ela gostava muito. Como ninguém

pensou em homenageá-la, então eu fiz, sozinho, um boi-com-abóbora,

uma água com açúcar. Cantei lá no dia e assim abriram-se as portas

pra eu entrar pra ala de compositores”.

O sucesso como compositor no império serrano demoraria um

pouco mais a chegar, uma vez que seu ídolo, silas de Oliveira, ganha-

ria todas as disputas de samba de enredo nos anos seguintes, até o

final da década. Ao mesmo tempo, com o início de carreira de Aluísio

na noite, impulsionada pelo jornalista do Última Hora, Roy Sugar, os

horários passaram a conflitar, levando o compositor a ser expulso da

ala pelo presidente irani Ferreira: “os compositores tinham que assinar

ponto. Quando eu chegava já estava quase no fim do ensaio”. Após a

sua saída do império, no início dos anos 1970, por intermédio de um

colunista do jornal O dia, o sambista foi apresentado a Martinho da

vila, que o aceitou na ala de compositores da vila isabel. Lá, mesmo

conseguindo chegar à final da disputa em uma das ocasiões, tam-

bém não obteve vitória: “eles não me deixavam ganhar, eram muito

bairristas. Não é igual agora que ganha gente de tudo que é lugar. E

eu como era de fora, fiz vários sambas que, eu sei, tenho autocrítica,

podia ganhar”.

Aluísio teria sua primeira composição gravada em 1972, “Gente”,

por Miriam Batucada, mas sua carreira começou a deslanchar mesmo

em 1974, quando venceu o concurso do programa “A Grande Chan-

ce”, de Flávio Cavalcanti, na tv tupi, com a música “Aí Então...”. O

produtor do programa, Arthur Faria, o apresentou ao Renato Barros

do “Renato e seus Blue Caps”, que produziu o primeiro LP de Aluísio

Machado, em 1975, pela CBs, intitulado “Apesar dos Pesares”. O

nome não poderia ser mais emblemático: “o cara era de rock, colocou

na minha gravação oboé, 16 violinos, Raul de Barros no trombone...,

mas eu querendo gravar, fiquei quieto. Poxa, fiquei feliz, mas eu não

sou Emílio santiago. Eu sou mais compositor do que cantor, eu

interpreto o que eu canto”.

Neste meio tempo, durante a ditadura militar, seria chamado

a prestar esclarecimentos no 1º Batalhão de Polícia do Exército,

como subversivo, acusado de cantar músicas de protesto nas

“Noitadas de samba” do teatro Opinião. Contestador por nature-

za, Aluísio abusou das metáforas para manter sua rebeldia, como

fez em mais uma de suas canções, “Minha filosofia”: “essa é uma

música de protesto, mas pensam que é romântica”.

Nos anos seguintes, seria gravado por grandes nomes como

Beth Carvalho e Alcione, em 1981, mesmo ano em que retornaria

ao Império Serrano, afinal, “um filho do verde-esperança não foge

à luta, vem lutar”. A escola passava por uma de suas maiores

crises, seria rebaixada e passaria por novas eleições. O vencedor

do pleito, Jamil salomão Maruff, o Jamil Cheiroso, tratou de reunir

todos os imperianos afastados, trazendo da vila isabel tanto Alu-

ísio Machado quanto Beto sem Braço: “ele mandou um diretor

lá no Bola Preta, onde eu cantava, pra me chamar pro império.

Quando chegamos, ficamos de calça curta porque todo mundo já

tinha sua parceria. Por sugestão do próprio Jamil, nós formamos

uma dupla”. A parceria seria não só a campeã, como o império

serrano, mantido na primeira divisão, também: “quando o portão

se abriu pra gente entrar na Passarela, o povo já estava cantando”.

O samba, “Bum bum paticumbum prugurundum”, sucesso até

hoje – e toque de celular do compositor –, guarda alguns segredos,

tais como uma homenagem a silas de Oliveira: “ele era um cara

que, antes de fazer a letra do samba-enredo, fazia uma introdução.

Então eu pensei: vou fazer desse jeito também porque é bonito”.

Além disso, a letra do samba gerou uma divergência sobre a es-

trofe final da composição: “o Beto não queria de jeito nenhum que

colocasse o verso ‘super escolas de samba s/A...’, porque a gente

estava fazendo em cima da Beija-Flor, que vinha com aquelas ale-

gorias grandes e a gente com aqueles carrinhos de pipoca”, mas a

rebeldia de Aluísio venceu mais uma vez.

De lá pra cá foram 13 vitórias em disputas de samba enredo

no império serrano. Além do célebre “Bum bum”, estão: “Mãe

baiana, mãe”, de 1983, “Eu quero”, de 1986, “Com a boca no

mundo, quem não se comunica se trumbica”, de 1987, “Jorge

Amado, axé Brasil”, de 1989, “império serrano, um ato de amor”,

de 1993, “Verás que um filho teu não foge à luta”, de 1996,

“Aclamação e coroação do imperador da Pedra do Reino: Ariano

suassuna”, de 2002, “E onde houver trevas que se faça a luz”, de

2003, “O império do divino”, de 2006, “ser diferente é normal: o

império serrano faz a diferença no carnaval”, de 2007, “A benção,

vinícius”, de 2011, e “silas canta serrinha”, de 2016.

TiAGO RiBeiRO é jornalista, doutorando em Artes pela uerj e editor da revista do prêmio

Plumas & Paetês Cultural.

Destaca-se entre estes carnavais o de

1989, ano em que iniciou sua segunda

grande parceria musical: “o Beto um dia fa-

lou ‘tem um cara tocando cavaco - não era

nem banjo ainda - e como eu não toco, nem

você, chama ele’... aí entrou o Arlindo Cruz

pro império, com a minha anuência. E esse

foi o primeiro samba que ganhamos jun-

tos”. Além disso, um mês antes do desfile, o

mestre-sala do império serrano seria assas-

sinado, levando Aluísio a tomar uma decisão

corajosa, rendendo uma de suas maiores

emoções na Avenida, dançando ao lado da

sua filha, a porta-bandeira Andrea Machado:

“Como eu tinha o mesmo porte físico, era

mestre-sala nos ensaios, na ausência dos

oficiais, e o Império ficou apavorado... en-

tão falei ‘eu danço’. Aí entrei no lugar”. Além

de Andrea, filha da também porta-bandeira

Celina dos santos, do salgueiro, Aluísio tem

outros cinco filhos, dez netos e oito bisnetos,

dentre eles, tatiana, que dançou pela União

da ilha, e o neto Matheus Machado, atual

mestre-sala da Lins imperial.

Ao longo destes quase 80 anos de vida,

recebeu muitas homenagens e prêmios por

sua carreira na música e fora dela. É dono de

seis Estandartes de Ouro, foi Cidadão sam-

ba, em 2014, mesmo ano em que recebeu

do tribunal marítimo o diploma de bronze

pelos 17 anos de serviços prestados. teve

sua vida contada no DvD “O famoso Aluísio

Machado”, na biografia “Aluísio Machado:

sambista de fato, rebelde por direito”, de

2015, e foi tema de enredo do então blo-

co Coroado de Jacarepaguá, campeão em

2014. Desapegado, doou boa parte de seus

troféus: “na minha parede não tinha mais

lugar, dei tudo para o Museu do samba. Es-

tou com 79 anos agora, daqui a pouco, meu

tempo de validade passa... deixei num bom

lugar”.

Gravado por artistas como Zeca Pagodi-

nho, Martinho da vila, Neguinho da Beija-

-Flor e Dominguinhos do Estácio, em parce-

rias com Davi Correa, serginho Meriti, Acyr

Marques, Nei Lopes, entre outros, Aluísio

Machado não para, continua fazendo shows

e afirma que a sua melhor música ainda não

compôs. Defensor ferrenho do ritmo, afirma

que o samba corresponde a 80 ou 90% de

um desfile: “Se você tem um bom samba, o

jurado fica cego, esquece alegoria, esquece

a fantasia...”. Ativo, faz academia e nas ho-

ras vagas gosta de assistir History Channel

e namorar. Oposição da atual administração

do império serrano, já não disputa samba

na sua escola desde antes de a agremiação

decidir adaptar a canção “O que é, o que

é?”, de Gonzaguinha, para este carnaval. Em

2019, assina o samba da G.R.E.s. Unidos

da Barra da tijuca, pelo Grupo E, com o en-

redo “Eu não sei se você é, mas eu sei que

eu sou, Barra da tijuca, meu amor!”.

Legítimo representante da malandra-

gem, poeta do mais alto gabarito, dono

de um samba no pé inconfundível, Aluísio

Machado traduz em qualquer bate papo o

caráter contestador e galhofeiro de sua arte.

E se, ao final da entrevista, na hora da foto,

trata logo de buscar seu panamá pra colocar

na cabeça, nós do Plumas & Paetês Cultu-

ral, lhe dedicamos mais uma de suas jus-

tas homenagens recebidas, tirando o nosso

chapéu.

19 Revista Plumas & Paetês Cultural

2018

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20 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

| Homenagem |

Quem vê de longe o seu Alcides Aluísio Machado,

o sambista de fato imperiano nascido há quase

80 anos à beira do Rio Paraíba do sul, lá em

Campos, não logra imaginar o quanto de arte

e fabulação habita aquele personagem. A figura franzina, de ex-

pressão ora maliciosa, ora entediada, que se move sempre de um

“jeito teatralmente correto”, conforme retratou com raro engenho

seu compadre Nei Lopes, guarda na bagagem um currículo que

raros artistas do século XXi sonham em exibir.

Para início de conversa, com menos de 18 anos o então apren-

diz de estofador iniciou-se na dança com a Companhia de solano

trindade, o saudoso ator, poeta e dramaturgo pernambucano. sola-

no, nos anos 50, dirigia o teatro Popular Brasileiro (tPB), difundin-

do os ritmos do folclore brasileiro ao lado de sua companheira Mar-

garida trindade e do sociólogo Édison Carneiro – e foi com ele que

o moleque pé de valsa pôde desenvolver seus dotes de dançarino.

Quem vê o mestre-sala de perto durante suas entradas lite-

ralmente coreográficas em cena, logo se dá conta de que, assim

como o samba, a dança sempre foi uma paixão avassaladora de

Aluísio. Nas aulas ministradas no tPB, ele pôde travar contato com

os ritmos mais expressivos da cultura popular brasileira, sobretudo

aqueles de forte tradição no Nordeste, terra natal de solano. E,

assim, conheceu a fundo uma infinita gama de sons e coreografias,

como o bumba-meu-boi, o frevo, o maracatu, o coco, o jongo e o

candomblé.

Não fossem as inesperadas presepadas em que o próprio sam-

bista se enredava, ainda bem jovem, seu aprendizado teria sido

concluído nos palcos africanos e europeus, onde o grupo de solano,

ao final da década de 50, se exibiu em grande estilo. Que o diga

a temporada em são Paulo com a companhia, abreviada brusca-

E verás que um filho teu não foge à luta, ao som do bumbum paticumbum

Aluísio MAChAdo, sAMBisTA de FATo, reBelde Por direiTo

Por: luiz ricardo leitãomente por conta de uma aventura com uma formosa paulistana, que

resultou em enorme dor de cabeça para o libidinoso Aluísio.

vale a pena relembrar o causo... tudo começou no concorrido

baile do “som de Cristal”, que o campista com manha de carioca

quis conhecer para espairecer um pouco – e só terminou na manhã

seguinte, com um desfecho digno de comédia pastelão. Ao final do

arrasta-pé, o casal foi para o quartinho onde a moça, empregada em

um casarão de sampa, se alojava. A madrugada prometia, mas um

vizinho xereta flagrou a visita “indesejada” e avisou o dono da casa,

um Juiz de Menor em são Paulo – que, obviamente, expulsou os dois

pombinhos do ninho...

O Brasil e o mundo perderam um dançarino, mas o império

serrano e o samba ganharam um de seus maiores compositores. O

“vestibular” do calouro se deu enquanto ele prestava serviço militar

em um quartel de Campinho. O recruta serelepe arrumava um jeito

de driblar a marcação do oficial para não perder os pagodes que os

mestres organizavam, como os célebres piqueniques em Paquetá,

que o seu império serrano, a Aprendizes de Lucas e a turma do

quitandeiro-sambista samuel realizavam uma vez por ano.

tempos românticos do samba... Às sete horas da matina, a bar-

ca já saía da Praça Xv lotada de bambas, que não paravam de cantar

e jogar o “samba duro”, tratando de esquivar-se da pernada que o

outro lhe pretendia desferir. Acompanhando a ruidosa caravana, ha-

via ainda um conjunto de baile, que dividia os passageiros em dois

grupos: quem gostava de samba ficava de um lado da embarcação;

já quem não gostava... Embalados pelo suave balanço das ondas, os

músicos seguiam tocando do Rio até Paquetá, onde, ao desembar-

car, a turma ia a pé até a Praia da Moreninha, com os instrumentos

a todo vapor.

SambiSta De fato, rebelDe por Direito

Cumprido a “quarentena” na caserna, o samba mandou chamá-

-lo e ele estava pronto para assumir sua missão, mesmo sem vis-

lumbrar àquela época qual seria a trilha mais indicada a tomar. Aos

19 anos, o recruta da batucada apanhava o ônibus 638 (Marechal

Hermes – Saens Peña) em Madureira, dava a volta ao mundo pela

Zona Norte e descia no ponto final, na Rua General Roca, na Tijuca,

para subir o salgueiro, onde dançava de mestre-sala no ensaio de

mestre Calça Larga e flertava com as cabrochas de alta linha.

Um compromisso mais sério, porém, logo se sobrepôs. Aluísio

enrabichou-se por uma jovem cor de jambo que conheceu no trem,

sem saber que a tal Matilde era dama de companhia de Alzira vargas

do Amaral Peixoto, a filha de Getúlio Vargas, casada com outra figura

de peso na política nacional, o cacique fluminense Ernâni do Ama-

ral Peixoto. sem dinheiro sequer para o aluguel de uma meia água

onde pudesse viver com a futura esposa, o destemido campista não

pestanejou e disse sim ao padre. se o casamento não durou quase

nada, o presente que a madrinha Alzira pediu ao marido Ernâni foi

uma dádiva terrena: um emprego no serviço público, algo que raros

sambistas puderam ter na vida.

A partir daí, a carreira do recruta decolou. Ao final dos anos 60

e início dos 70, ele cantava na Churrascaria Belvedere do Méier, no

teatro Opinião e em outras casas da Zona sul, entre elas as boates

sucata, Degrau, Colt 45 e Cassino Royale. Além disso, Aluísio era

atração constante da feijoada do clube Helênico, no Catumbi. E, cla-

ro, marcava sempre presença na “Casa de Bamba” da vila isabel,

cujo Ala de Compositores o imperiano rebelde integrou depois de se

recusar a “bater ponto” nas reuniões da verde e branca da serrinha.

Essa veia libertária se tornaria deveras perigosa depois que ele

assumiu tons bem “vermelhos” em suas composições. Odiado nos

anos 70 pelos militares, a quem seus versos soavam como uma

‘heresia’, o rebelde por direito desconversava, dizendo, com boa dose

de picardia, que seu partido era apenas o glorioso partido-alto. Na

verdade, desde os tempos da “Noitada de samba” do teatro Opinião,

ele tornou-se um cronista da história moderna do Brasil, cantando

em seus sambas os “anos de chumbo”, a ambígua “abertura”, o fim

da ditadura e a luta pela democracia plena em meio à onda neolibe-

ral nos anos 90.

Para quem desconhece essa faceta de Aluísio, vale a pena con-

ferir uma estrofe do samba “A Humanidade”, mais aguda e didática

que muito ensaio sociológico da academia:

Quem tem muito quer ter maisQuem não tem resta sonharQuem não estudou é escravoDe quem pode estudarOs direitos humanos são iguaisMas existem as classes sociais

Como diria mestre Nei Lopes, “quem é que disse que a vanguar-

da do protesto na música popular brasileira foi do rock’n roll?” A aura

de subversivo tornou-se ainda mais lendária depois que um soldado,

sambista da Portela, o viu entrar no quartel do DOi-CODi, na tijuca

(aonde fora tratar de temas do serviço público), mas não o viu sair.

Pronto! Lá em Madureira, o boato de que os militares tinham gram-

peado Aluísio subiu e desceu os morros, sem que o marrento cidadão

fizesse a menor questão de desmentir a prisão.

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22 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

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Do bumbum para o munDo

Já nos tempos da “distensão lenta e gradual”, na virada dos anos

80, os ares ficaram mais leves para o compositor. Em 1981, no

histórico LP Na fonte, Beth Carvalho inclui “Escasseia”, música sua

em parceria com Beto sem Braço e Zé do Maranhão; e nesse mes-

mo ano, Alcione registra “Minha filosofia”. Em 1982, Aluísio e Beto

despontam para o Brasil e o mundo com a onomatopeia mais famo-

sa dos sambas de enredo (“Bumbum Paticumbum Prugurundum”),

denunciando o abandono da gente bamba, engolida pela hipertrofia

visual e o gigantismo voraz das agremiações. Entre o lírico e o épico,

os versos finais da canção são a súmula do “hino” que até hoje ecoa

em nossa memória musical:

Superescolas de Samba S/ASuperalegoriasEscondendo gente bambaQue covardia!

Após faturar o primeiro dos seis Estandartes de Ouro da carreira,

ele seguiu arrepiando corações e mentes com sucessos como “Eu

Quero” (1986), que vocalizava as esperanças populares após 21

anos de ditadura. E em 1996, emplacou, em parceria com Arlindo

Cruz & Cia (Beto sem Braço falecera três anos antes), outro canto

de lírica rebeldia – “E verás que um filho teu não foge à luta” –, sam-

ba dedicado ao guerreiro Betinho, “o irmão do Henfil”, cujo refrão

marcou época na avenida:

| Gestão de Carnaval |

TrAdição, esPeTáCulo e diáloGo

Por: leonardo Antan

Desde que nasceram, as escolas de samba então

morrendo simbolicamente, gingando entre a tradi-

ção e a modernidade. A famosa máxima “no meu

tempo era melhor” enche de saudosismo uma ma-

nifestação que sempre teve como força o seu poder de negociação.

Em seus mais de 80 anos, as escolas de subúrbios distantes e fave-

las saíram do palco da pequena folia de então ao posto de atração

principal da festa carnavalesca, de singelas agremiações a donas

de um espetáculo visto pelo mundo inteiro. Da idílica Praça Onze

ficou a saudade dos tempos idos, nunca esquecidos, que moldam

instituições vivas e mutáveis que souberam muito bem se adaptar

as demandas de cada tempo e se reinventarem. Mas até quando?

Em meio a uma crise política e econômica no país, as agremia-

ções carnavalescas sofrem em um cenário que parecia impensável

décadas atrás. Acusadas de espetaculares e divorciadas da cidade

e da grande massa popular, a tensão do espetáculo segue amedron-

tando o desfile há décadas. Desde os anos 1960, pelo menos, quan-

do as entidades se aproximaram de profissionais oriundos das artes

institucionalizadas, as escolas de samba seguiram um processo de

transformação que as transformaram em um espetáculo único no

mundo, que reúne diversos saberes artísticos diante de um público

amplo e apaixonado.

Foi esse processo, aliando turismo e negócio à lógica da ma-

nifestação nascida “popular”, que ajudou a alçar as escolas como

principal produto cultural da cidade do Rio de Janeiro. Mas qual foi

o preço dessa transformação?

Entre altos e baixos, mais altos que baixos, as escolas vivem

nos últimos anos. Os ingressos não vendem mais como antes, não

contagiam o povão.... Povão que sempre se interessou pela festa,

vide os ensaios técnicos que reuniram enorme público presente nos

seus últimos anos. Lugar de disputa e tensão, as escolas são palcos

da história da cidade. O Rio é uma cidade com vocação cultural

e artística indiscutível e as nossas escolas de samba se fizeram o

maior empreendimento inventivo cultural dessa cidade. Mas como

reafirmar o valor cultural dessas agremiações? A melhor solução é

realmente vende-las como empresas e produtos simplesmente do

turismo?

O carnaval sobrevive hoje em uma lógica empresarial que não

se sustentou, que lotou camarotes na sapucaí e fez o público dar as

costas para a Avenida, ao som de cantores sertanejos. Os turistas

chegam e não levam uma boa experiência da festa, que sofre com

atrasos, erros de administração e sérios problemas de infraestrutura.

Apesar de espetaculares, as escolas não parecem saber aproveitar

isso como deveriam. Poucos se interessam pelos desfiles, pela histó-

ria da festa, pelo cultural e seus personagens.

As escolas de sambas são arte em estado bruto. Reúnem ar-

tistas das mais diversas áreas, entre dança, teatro, música, escul-

tura, pintura e até literatura. seja num enredo, em uma comissão

de frente, na bateria, nas alegorias e fantasias, na voz do intérprete

e no bailado do casal de mestre-sala e porta-bandeira, uma escola

de samba trasnborda arte durante o ano inteiro, em suas quadras e

seus barracões.

Valorizar os desfiles das escolas de samba é aumentar seu alcan-

ce e público, dialogar com outras instituições, fazendo circular uma

produção tão rica artística e culturalmente. seja na literatura, em

exposições de artes, filmes e todo tipo de produto cultural. Daí a ne-

cessidade de criar selos voltados a publicação de livros sobre a folia,

promover exposições e homenagens aos grandes nomes que forma-

ram e definiram as agremiações brasileiras. De levar também essa

história e personagem para dentro da academia, onde se pesquisa a

fundo nas mais diversas áreas o legado cultural dessa manifestação.

O carnaval precisa ocupar novos espaços, reafirmar sua impor-

tância como parte da História da Arte brasileira. Ao misturar diversas

formas de expressão, as escolas de samba criaram uma linguagem

artística única no mundo. A importância de nomes como Rosa Ma-

galhães, Fernando Pinto e Joãosinho trinta se dá além da pista dos

desfiles. Faz o país que somos e que queremos ser.

Quando os desfilesrompem a Avenida

Eu me embalei pra te embalarNo balancê, balancearVem na folia Chegou a hora de mudarO meu Império vem cobrar democracia

Mesmo declarando que não tinha filosofia ou ideologia e que

tampouco pensava em “desafiar a política ao compor um samba”,

Aluísio sabia que um gênero musical tão genuíno era um “espaço

democrático para o registro dos costumes do povo”, conforme ele

próprio expressou ao Museu do samba há alguns anos. Eleito Cida-

dão samba 2014, após uma acirrada disputa com bambas do naipe

de Monarco e Nélson sargento, o sambista de fato continua a postos,

sob a guarda de um anjo torto, o olhar cúmplice dos orixás e o sorriso

carinhoso das musas.

sem dúvida, seu Alcides é mais um baluarte do nosso samba. Do

alto dos seus quase 80 anos, ele nos prova que, mesmo bombardea-

da pelo pastiche sertanejo da mídia e outros gêneros da sociedade de

consumo, a boa e velha batucada resiste. Para os mais pessimistas,

vale lembrar que “o santo que faz milagre também castiga”; e tudo

que dá em abundância, inclusive as pragas mais nefastas – desde o

som pasteurizado desta era dita biocibernética até o pau de selfie –,

um dia escasseia. Evoé, Aluísio!

luiz RiCARDO leiTãO é escritor e professor associado da uerj. doutor em estudos literários pela universidad de la habana (Cuba)

leONARDO ANTAN é mestrando em Artes na uerj e um dos diretores do projeto Carnavalize.

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24 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

Por: josé Maurício Tavares

M arcadas por transformações que têm

levado a redução de componentes em

importantes segmentos, tais como

velha-guarda, baianas e compositores,

na busca por uma maior renovação, as escolas de samba,

atentas a esta nova realidade, já estudam a mudança de

seus estatutos, possibilitando assim, a entrada de sócios e

componentes mais jovens. A chamada geração Millennials

ou Y, nascidos a partir dos anos 80, e, portanto, a primeira

criada com facilidades tecnológicas como computadores, in-

ternet, smartphones e redes sociais tem sido a energia mais

do que necessária para a sobrevivência destas agremiações

tão tradicionais da cultura brasileira.

É bem verdade que o papel dessa juventude não é novi-

dade, uma vez que, aquela que é considerada a primeira das

escolas de samba, a Deixa Falar, foi fundada por um grupo de

jovens sambistas, dentre os quais ismael silva, quando este

tinha apenas 23 anos. Mas de lá pra cá os desfiles mudaram

muito e a cada ano as escolas de samba se esforçam para

mostrar algo surpreendente na Avenida, algo que esta geração

moderna pode ajudar.

Exemplo dessa fluidez no mundo contemporâneo do car-

naval é a criação de sambas de enredo criados por meio do

aplicativo WhatsApp. A letra e a própria melodia são constru-

ídas com a interação a distância entre os participantes. No

máximo um ou dois encontros presenciais são marcados para

o refinamento do hino que será cantado por quase quatro mil

componentes na Avenida. Outra grande mudança nas Escolas

de samba está acontecendo nas posições de liderança e ges-

tão. Como exemplos de Escolas de samba que concentram

em suas posições estratégicas jovens da geração Millennials

estão a Unidos do viradouro, a Mocidade independente de

o PAPel dA juvenTude e dAs novAs TeCnoloGiAs nAs esColAs de sAMBA

Padre Miguel e a Beija-Flor de Nilópolis. Nos três casos os

jovens Millennials são descendentes de fundadores e de fami-

liares que frequentam as agremiações carnavalescas.

E os resultados não demoraram a aparecer. Campeã em

1997 com um dos desfiles mais marcantes da história do

carnaval, “trevas! Luz! A explosão do universo”, de autoria do

revolucionário Joãosinho trinta, a Unidos do viradouro viveu

nos últimos nove anos um sobe e desce constante, mas a

vontade de acertar sempre foi um objetivo a ser atingido. Com

inovação e ousadia, características típicas dos Millennials, a

Unidos do viradouro conectou-se rapidamente as novas ge-

rações, investindo em carnavalescos como João vitor, Jorge

Silveira e Edson Pereira, profissionais contemporâneos da era

digital que são considerados pela crítica especializada como a

geração substituta de nomes como Rosa Magalhães, Renato

Lage e Max Lopes. Marcelo Calil, atual presidente da agre-

miação, e a vice, susie Bessil, enfatizaram após assumirem

a Escola que “é importante mostrar a beleza e a grandeza do

carnaval, mas isso tem que ser fruto de uma estrutura interna,

focando no fortalecimento do todo”. É a lógica do empreende-

dorismo na busca do crescimento a longo prazo, e que, pelo

jeito vem dando certo.

Na Mocidade independente de Padre Miguel a história não

foi diferente. Com um passado de títulos nos anos 80 e 90, a

escola ficou um longo período sem figurar entre as campeãs,

mas em 2017 foi alçada ao título de campeã, junto com a

Portela. O seu “Aladim” sobrevoando a Marques de sapucaí,

acoplado a um drone, mostrou que tradição, ousadia e tec-JOsÉ MAuRiCiO TAvARes é historiador com especialização em arte,

cultura, figurino e carnaval

nologia podem caminhar juntas e atender as expectativas do

público que também mudou, como apontou Rodrigo Pacheco,

vice-presidente da Mocidade, logo após o desfile de 2017.

Na Beija-Flor, a entrada de Gabriel David, de 20 anos,

causou um certo alvoroço no mundo do samba. Muitos se

perguntavam como um jovem poderia comandar uma das Es-

colas de samba mais consagradas do carnaval. A resposta

também veio em forma de título no ano de 2018 e o discurso

adotado a partir de então dentro da agremiação é deixar a

Beija-Flor mais “leve” e conectada com a atualidade na forma

de apresentação, buscando assim uma comunicação mais as-

sertiva com o público.

Claro que essa relação nem sempre é tranquila, mas já

existe uma consciência de ambas as gerações sobre o resulta-

do positivo e agregador para as Escolas de samba. Em levan-

tamento realizado pelo Plumas & Paetês Cultural em 2018,

verificou-se que a presença dos jovens Millennials já é uma

realidade na chamada “periferia do samba” que reúne os des-

files de agremiações na Intendente Magalhães. Em menos de

cinco anos surgiram cinco novas agremiações carnavalescas,

a Unidos da Barra da tijuca, a imperadores Rubro Negros, a

Coração Glorioso, a Guerreiros de Jacarepaguá e a Unidos de

Queimados, além de uma associação cultural, a Amigos do

samba. todas com jovens presidentes, diretores de carnaval

e carnavalescos, ajudando-nos a crer que o samba agoniza,

mas não morre.

| Gestão de Carnaval |

Os Millennials e o carnaval

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| Gestão de Carnaval | Por: Clinton Paz

ConheçA BelisáRiO CuNhA, o PRe-MiAdo do PluMAs CoMo Melhor GesTor de ATeliê 2019

Belisário Cunha é, hoje, um dos grandes nomes do car-

naval carioca e com fama internacional. Com quase 30 anos

de serviços prestados à folia, conhecido por vestir grandes

musas, este carioca, nascido no Méier, abriu o seu coração

e ateliê para conversar sobre sua vida, profissão e seu papel

como gestor.

Ex-servente de caminhão, bailarino na casa de show

Regine’s e manequim em eventos e programas de auditório,

como o de Flávio Cavalcante, Belisário Cunha passou por uma

mudança brusca de atividade quando começou a trabalhar

em lojas de tecidos como as famosas Casa Luiz e Casa Costa.

A partir daí a migração para o corte e costura do carnaval foi

um pulo. sua estreia se deu em 1991, reproduzindo fantasias

de passistas, através do carnavalesco Max Lopes, então na

Unidos do viradouro. Não parou mais. No ano seguinte foi

para o salgueiro, onde permanece até hoje.

Contabilizando inúmeros grandes trabalhos ao longo des-

ses 28 anos, o Gestor de Ateliê premiado pelo Plumas em

2019 relembra alguns dos seus momentos de realização e

êxtase profissional, quando pôde conhecer de perto e produzir

figurinos para estrelas como Sabrina Sato – então musa do

salgueiro, fazendo suas fantasias por três anos – as rainhas de

bateria Carol Castro e Luana Piovani, e a cantora internacional

Beyoncé, quando veio ao Rio gravar um clipe com Alicia Keys,

em 2010. sem falar no prazer em poder contribuir para a re-

alização de sonhos dos carnavalescos e ver a alegria de cada

folião, na Marquês de sapucaí.

Rodeado de profissionais/amigos, como o ferreiro Júnior,

a costureira Marilena e a aderecista simone, que o acompa-

nham há cerca de duas décadas, Belisário é consciente do

seu papel de responsável pelo orçamento familiar dos vários

artistas que emprega, direta e indiretamente, no período que

O Artista na sua intimidade

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Revista Plumas & Paetês Cultural 2019

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antecede o carnaval. Por isso, é um grande defensor de

melhores relações de trabalho entre agremiações e contra-

tados, valorizando estes trabalhadores, muitas das vezes,

anônimos. Graças a essas boas relações e respeito que

construiu, pessoal e profissionalmente, Belisário já viajou

para países como Grécia, suíça e Finlândia representando

o talento e a criatividade dos inúmeros artistas da folia.

Com essa trajetória tão extensa, não poderia passar em

branco pelo Plumas & Paetês Cultural. Ele, que estreou em

2018 a categoria Melhor Estilista do Grupo Especial, já

foi, também, de certa maneira, premiado nas três ocasiões

em que Maria Helena Cadar venceu os prêmios de Melhor

Destaque de Luxo Feminino do Grupo Especial em 2013,

2014 e 2018, uma vez que é o responsável por materia-

lizar, há 16 anos, suas deslumbrantes fantasias. Porque

um artista que sabe valorizar a sua equipe e aparece no

carnaval através de suas criações, também merece a luz

dos holofotes.

CliNTON PAz é mestre em história pela uFrj e jornalista

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