A pessoa como sujeito

download A pessoa como sujeito

of 16

Transcript of A pessoa como sujeito

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    1/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    16

    A pessoa como sujeito da experincia:um percurso na histria dos saberes psicolgicosThe person as subject of experience: a route in the history of psychologicalknowledge

    Marina MassimiUniversidade de So Paulo

    Miguel MahfoudUniversidade Federal de Minas Gerais

    Brasil

    ResumoDiscutem-se as definies de experincia da histria da cultura ocidental queinfluenciaram a constituio dos saberes psicolgicos: desde Aristteles at Wundt eJames. Originariamente entendida segundo dimenses diversificadas, experincia sereferia seja ao conhecimento sensorial e prtico das coisas, seja verificao e prova,seja ao conhecimento interior. Analisam-se nessa tradio as contribuies de Agostinho,Roger Bacon, Toms de Aquino e seus interpretes jesutas em mbito luso-brasileiro. Apartir da Idade Moderna, pela influncia das filosofias empiristas, experincia foi reduzida dimenso de conhecimento sensorial testado e comprovado conforme os critrios domtodo cientfico a prtica das coisas foi definida como senso comum tendo aceponegativa e o conhecimento interno foi restrito ao mbito determinado pelos parmetrosdo conhecimento externo. Separavam-se assim dimenses da experincia anteriormenteconcebidas de modo unitrio. Este conceito de experincia foi utilizado no sculo XIX noestabelecimento de domnio, mtodos e objetos da novaPsicologia cientfica.Palavras-chave : experincia histria das idias histria da psicologia.AbstractThe definitions of experience of Western culture that have influenced the development

    of psychological knowledge are discussed. Originally understood according to diversifieddimensions, experience referred either to the sensorial and practical knowledge of things,or to verification and proof, or to interior knowledge. In this tradition, the contributions ofAgustin, Roger Bacon, Aquinas, and their Jesuit interpreters are analyzed. As of theModern Age, due to influence of empiricist philosophies, experience was reduced to thedimension of tested sensorial knowledge proven by the criteria of scientific methods the

    practice of things was defined as common sense having a negative meaning andinternal knowledge was restricted to the ambit determined by the parameters of externalknowledge. Dimensions of experience previously conceived in a unitary way wereseparated. This concept of experience was used in the 19 th century in the establishmentof domain, methods, and objects of the newscientific Psychology.Keywords: experience history of ideas history of psychology.

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    2/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    17

    Redues contemporneas do conceito de experinciaNo contexto hodierno, encontram-se algumas redues da concepo de experincia(Molioli, 1992) que por sua vez fundamentam-se em alicerces tericos propostos pelasfilosofias modernas e contemporneas.Numa abordagem naturalista a experincia reduzida ao significado emocional, como

    algo que se adverte imediatamente e de modo espontneo. A qualidade emocionalcaracterizaria a experincia, sendo a emoo determinada pelo contexto, interno ouexterno. A experincia assim concebida apenas um estado emocional puro, nopossuindo rigor tico pelo fato de nela o sujeito no estar presente ativamente com sualiberdade e conscincia, apenas acusando de modo passivo os prprios movimentospsquicos.Em diversas outras abordagens a experincia vem a ser reduzida a experimentalismo eexperimentao. Tal reduo se fundamenta no pressuposto positivista de que verdadeiro apenas aquilo que verificvel ou falsificvel. Baseia-se na concepo de queo real identifica-se com o que passvel de ser testado pela experimentao, nopodendo ser a includos valores ou relacionamentos pessoais (a menos que o sujeito sesubmeta a eles). De modo que a experincia tomada como um provar sem razes.Noutras abordagens ainda a experincia entendida na forma de imediatismo: a partir

    da justa exigncia de uma relao imediata e direta com o mundo, superando todas asmediaes, pode-se porm incorrer numa metafsica da unidade do real (concebida emtermos pantestas, holistas, energia csmica etc.), onde a pessoa humana contingente sem consistncia, tomada como um acidente a ser superado e o outro vem a serconcebido como objeto, sem a possibilidade de relacionamento com um tupessoal.Utilidade de uma leitura histrica do conceito de experinciaUma leitura do processo histrico de constituio dos vrios sentidos da experincia nacultura ocidental permite-nos compreender melhor as razes da problemtica atual.Especificamente para a psicologia essa discusso decisiva. Com efeito, ao estabelecer odomnio, mtodos e objetos da novapsicologia cientfica, autores como W. Wundt (1900)e W. James (1989) utilizaram conceitos de experincia baseados na filosofia empirista enos postulados das cincias naturais.Nesta tica, diferenciavam e separavam dimenses da experincia que, na viso prpriada tradio ocidental (clssica, medieval e humanista) foram concebidas de modounitrio: originariamente entendida segundo dimenses diversificadas, o termoexperincia referia-se tanto ao conhecimento sensorial e prtico quanto verificao eprova, ou mesmo ao conhecimento interior. O empirismo, no incio da Idade Moderna,passa a reduzir a experincia dimenso do conhecimento sensorial a ser testado ecomprovado conforme os critrios do mtodo cientfico. A prtica das coisas passou aser definida como senso comum, tendo acepo negativa e o conhecimento interno foirestrito a um mbito que somente poderia ser determinado pelos parmetros doconhecimento externo. Esta reduo foi contestada por Brentano e posteriormente porHusserl, por ser uma naturalizao da experincia humana que inviabilizaria aconstruo da psicologia como cincia da pessoa.Percorreremos a seguir as principais etapas deste processo.A experincia segundo AristtelesAristteles discute o tema da experincia no primeiro captulo do primeiro livro daMetafisica(Aristteles, sculo IV a.C./ 1969) a partir da anlise da exigncia, implcita nanatureza humana, que a impele para as cincias supremas e a sabedoria. A cincia e aarte so possveis mediante a experincia. O desejo humano de saber universal e nose restringe ao conhecimento utilitrio. A experincia uma etapa da aquisio doconhecimento: vrias lembranas de uma mesma coisa chegam a constituir aexperincia, independentemente de sua veracidade que poderia vir a ser verificada pelointelecto.Vejamos como Aristteles concebe o dinamismo psquico de elaborao da experincia.

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    3/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    18

    Em Analticos posteriores(II, 19, 100 a 4) (citado por Abbagnano, 2003), o estagiritaafirma que, a partir da sensao, desenvolve-se o que chamamos de recordao, cujarepetio possibilita a experincia. Por isso, recordaes quantitativamente significativasconstituem a experincia como um conceito universal fixado na alma nos termos de umaunidade que transcende a multiplicidade: nica e idntica. Sua lembrana preservadapela imaginao e pela memria, em forma de imagens.

    De modo semelhante, na obra Parva Naturalia(Aristteles, sculo IV a.C./1993), afirmaque os objetos presentes no mundo produzem impresses no corpo atravs do rgo desentido, e impresses na alma a sensao como uma espcie de pintura conservada namemria. Potncia comum a todos os animais, a memria preserva os vestgios dasensao vivenciada.No De Anima(Aristteles, sculo IV a.C./2001), ao descrever as propriedades psquicas,Aristteles coloca a potncia da imaginao como intermediria entre a percepo e opensamento, implicando sempre a presena da percepo e alm disto, encontrando-seela prpria implcita no ato de julgar (p. 97). A imaginao no redutvel sensao:

    imaginar formar uma opinio exatamente correspondente a uma percepo direta(Idem). Da memria e da imaginao elabora-se ento a experincia que por sua vez dorigem s artes e s cincias. Da experincia surge tambm a inteligncia dos princpios,de modo tal que, por induo, a sensao leva ao universal.

    Todavia, a experincia constitui-se apenas numa etapa do processo de elaborao doconhecimento, sendo as artes um nvel mais elevado do mesmo. Com efeito, aexperincia serve ao homem para atestar que um certo fato aconteceu, mas no paradefinir o motivo de seu acontecer. Conforme o autor afirma na Metafsica: os homens deexperincia conhecem o fato, mas no o porqu os outros (os homens de arte)conhecem o porqu e a causa (Philippe, 2002, p. 162). Est nestes diversos nveis deconhecimento, por exemplo, a diferena de competncias entre o arquiteto e o pedreiro:o primeiro possui o logose a causa, o segundo a experincia.Cabe tambm lembrar que ao definir a experincia sensorial, Aristteles, em De sommo(2, 455, a 13), parte dos Parva Naturalia (sculo IV a.C./1993) introduz a potnciapsquica do senso comum, ou seja, a capacidade geral de sentir qual atribuda afuno de constituir a conscincia da sensao (ou seja de sentir o sentir) e deperceber as determinaes sensveis comuns aos vrios sentidos (por exemplo:movimento, repouso, tamanho, nmero, unidade, aspecto):

    existe tambm uma potncia comum que acompanhatodos os sentidos particulares, pela qual o animalpercebe que v e ouve, pois com certeza no pelaviso que v de ver nem pelo paladar ou pela vistaque pode-se julgar a diferena entre o branco e o doce,mas por meio de outra potncia comum a todos osrgos de sentido: (...) o senso comum (Aristteles,sculo IV a.C./1993, p. 86, trad. nossa).

    Por fim, importante considerar que, do ponto de vista semntico, Aristteles, aodenominar experincia, utiliza de trs palavras gregas diferentes: aisthesis a saber,sensao, sentimento e intuio , empeiria a saber, experincia no sentido dehabilidade e prtica e peira ou seja, prova e experimento (Fabris, 1997). Taldiversidade de termos indica a complexidade da concepo aristotlica de experincia

    alertando para um necessrio cuidado com o risco de simplificaes.A experincia e o conhecimento de si mesmo, segundo AgostinhoSanto Agostinho (386/1998), nos Solilquios, refere-se experincia em termos deconhecimento sensorial. No quarto captulo, ao tratar da cincia geomtrica, afirma queesta requer como ponto de partida inicial a experincia sensorial, mas logo superada emprol do entendimento:

    Nesse assunto, tenho experincia dos sentidos quasecomo de uma nave. Pois quando eles me conduziramao lugar do destino, onde os deixei, j como que em

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    4/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    19

    terra comecei a ponderar essas coisas com opensamento durante muito tempo vacilaram-me osps. Pelo que parece-me antes que se possa navegarna terra do que conseguir a cincia geomtricas com ossentidos, embora parea que estes sejam de algumaajuda para os que comeam a aprender (p. 26).

    A vivncia da experincia sensorial, porm, deve ser analisada em toda a suacomplexidade. A este respeito, Agostinho coloca, no captulo sexto, uma importantedistino entre olhare ver:

    as coisas so iluminadas pelo sol para que possam servistas, assim, como o a terra e tudo o que terrenomas Deus quem ilumina. Assim, eu, a razo, estounas mentes como a viso nos olhos, como tampoucoolhar e ver. Por isso, a alma precisa de trs coisas: terolhos dos quais possa usar bem, olhar e ver. O olhar daalma a mente isenta de toda mancha do corpo, isto ,

    j afastada e limpa dos desejos das coisas mortais, oque somente a f, em primeiro lugar, lhe podeproporcionar (p.30).

    Tais afirmaes implicam que toda experincia sensorial (olhar) possui uma dimensoracional (ver).No tratado A Trindade (399-422/2000, livro IV, captulo 20), Agostinho usa o termo

    experincia para referir-se a outro tipo de conhecimento que no o sensorial: oconhecimento do Verbo de Deus. Este pode ser conhecido e percebido pela capacidadeda alma racional, que tende para Deus ou j perfeita em Deus (2000, p. 183). Aqui, oautor usa o verbo percipitur que significa conhecimento experiencial (no sentido de

    cincia saborosa, ou seja de um entendimento que envolve tambm a sensao e oafeto). Na mesma obra, no livro IX (captulos quarto e sexto) dedicado ao conhecimentoda alma por si mesma (pressuposto tambm do conhecimento alheio), Agostinho afirmaque este assume duas facetas: o conhecimento que cada pessoa tem da prpriaexperincia interior e o conhecimento racional:

    uma coisa o que cada indivduo diz verbalmente, desua alma pessoal, quando est atento ao queexperimenta em seu interior: e outra coisa a definioque d a alma humana por um conhecimento,especfico ou genrico, que possua. Assim, quandoalgum me fala de sua prpria alma afirmando, porexemplo, que compreende ou no isto ou aquilo ouquer ou no isto ou aquilo eu acredito nele. Mas aocontrrio, quando algum me diz a verdade sobre aessncia especfica ou genrica da alma humana, eureconheo e aprovo (2000, p. 296).

    Em suma, o conhecimento pessoal da prpria experincia acarreta a certeza moral [verem si o que outro poder acreditar, embora sem o ver (Idem)] ao passo que oconhecimento racional da alma requer a verificao pela evidncia, a comprovao peloraciocnio e o consenso universal [contemplar na prpria verdade o que outro tambm

    pode ver to bem quanto ele (Idem)]. O primeiro tipo de conhecimento est sujeito smutaes dos tempos, o outro eterno e imutvel (Idem). Com efeito auniversalidade no se atinge por via do conhecimento sensorial [no h de ser por tervisto previamente muitas almas com nossos olhos corporais que alcanaremos porcomparao conhecimento geral ou parcial da mente humana (Idem)], mas atravs datentativa de definir de modo perfeito, o quanto podemos no qual seja o estado daalma de cada um, mas qual deva ser, conforme s razes eternas (Idem).Agostinho discute o conhecimento adquirido por experincia, no captulo quarto do livrodcimo do tratado, onde sustenta que, quando a alma procura conhecer racionalmente a

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    5/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    20

    si mesma, j sabe de ser alma e pelo conhecimento intelectual busca completar este seuconhecimento intuitivo dado pela experincia:

    Quando a alma procura conhecer-se, j sabe que alma caso contrrio ignoraria se procura a si mesma ecorreria o risco de procurar uma coisa por outra. (...)Como sabe que ainda no se encontrou toda, ela sabe

    qual a sua grandeza. E assim busca o que lhe falta aseu conhecimento (Agostinho, 2000, pp. 318-319).

    No captulo oitavo do mesmo livro, Agostinho afirma que este saber possui ascaractersticas da certeza, pois por si mesma a alma sabe de existir, de viver e deentender: o que existe de mais presente alma, do que a prpria alma? (2000, p.326). E, por fim, no nono captulo, coloca que quando exortamos a alma: conhece-te ati mesma, no mesmo ato em que ela entende: ti mesma, ela se intui, e no por outrarazo do que pelo fato de estar presente a si mesma (Idem).Agostinho a valoriza o conhecimento experiencial que a alma tem de si prpria, comoponto de partida de todo o processo intelectual. No captulo dcimo do livro dcimo,afirma que a alma sabe com certeza que existe, vive e entende. Por isto necessrio

    que a alma no acrescente nada ao conhecimento (isto , autoconscincia) que temde si mesma, quando ouve a ordem de se conhecer (2000, p. 327) e que ela deixe de

    lado o que pensa ou imagina de si e veja o que sabe, e fique com essa certeza (Idem).Este saber experiencial da alma acerca de si mesma no abarca apenas o campo do sere do entender mas tambm o da vontade [do mesmo modo toda alma humana sabe quequer (Idem)] e da memria [a alma sabe igualmente que se recorda (Idem)]. Trata-seporm de uma apreenso unitria de todo este dinamismo, pois a alma sabe igualmenteque para querer preciso ser, preciso viver e ela sabe que para recordar, precisoser, preciso viver (Idem). Portanto, o saber assim definido um conhecimentoimplcito que a alma tem dela mesma, ao passo de que o pensar um conhecimentoexplicito. Estes dois nveis de conhecimento so unidos entre eles pela vontade, ou seja oamor entendido como desejo de possuir o objeto a ser conhecido.No livro dcimo quarto (captulo stimo), Agostinho aprofunda esta distino entre sabere pensar. Uma coisa saber (ter notitia)e outra pensar (cogitare). O saber depende damemria, pois a alma tem conhecimento de tudo o que h na mente mesmo sem utilizaro pensamento, pela memria ao passo de que conhecer supe tambm o entendimentoe o amor pelo objeto.A experincia segundo Toms de AquinoToms de Aquino, ao comentar a passagem de A Trindade(Livro IV, captulo 20) que hpouco analisamos em que Agostinho se refere ao conhecimento experiencial de Deus,afirma que se trata de um conhecimento saboroso (Suma, I, qu. 43, 5,3), sendo que oconhecimento de Deus no um aperfeioamento qualquer do intelecto mas somentequando ele instrudo de tal modo que irrompe em afeio de amor (Aquino, 1267-68/2002, p. 685, vol. 1). E complementa:

    tambm Agostinho usa de termos significativos: oFilho, diz ele, enviado quando conhecido epercebido percepo significa, com efeito, umconhecimento experimental. E essa o que

    propriamente se chama sabedoria, ou cincia saborosa,segundo se declara no Eclesistico: A sabedoria dadoutrina segundo o seu nome (Idem).

    J em outras partes da Suma, Toms de Aquino refere-se ao termo experincia nosentido aristotlico de conhecimento pelos sentidos (Suma, v. II, Parte I, qu. 54, art.3):

    h com efeito em ns experincia enquanto conhecemos pelos sentidos as coisassingulares (2002, p. 155, vol. 2), tendo afirmado em pargrafo anterior que aexperincia vem da memria de muitas coisas, como se diz no livro primeiro daMetafsica (2002, p. 154, vol. 2).

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    6/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    21

    Para melhor compreender esta expresso fundamental lembrar que, segundo asistematizao da psicologia de Aristteles realizada por Toms de Aquino, os sentidosno so apenas os externos ligados aos cinco rgos sensoriais, mas tambm h quatrosentidos internos, a saber fantasia, cogitativa (ou ratio particularis), memria e sensocomum. Cada um deles assume uma funo especfica na produo do conhecimento: osenso comum realiza uma primeira unificao das informaes sensveis transmitidas

    pelos sentidos externos, a fantasia ocupa-se de sua unificao num quadro espao-temporal, a memria armazena e ordena as informaes em imagens e a potnciacogitativa proporciona uma primeira inteleco dos elementos no sensveis, realizandoum primeiro nvel de reconhecimento do universal no sensvel. A memria e a cogitativafundamentam a virtude da prudncia, a qual por sua vez discerne o bem e o mal esugere a escolha do bem concreto, orientando a ao.A experincia segundo a filosofia, a teologia e a mstica medievaisA colocao de Agostinho (399-422/2000) de que compreender exerccio dainteligncia ao passo de que saber algo significa realizar uma experincia mais complexaem que o sujeito implicado no apenas com a inteligncia mas tambm com aliberdade, a vontade, os afetos e a sensibilidade, acarreta uma concepo da relao coma verdade que supera a dimenso intelectual. Tal viso perpassa a teoria do

    conhecimento da cultura medieval, em seus diversos planos filosfico, teolgico emstico.No que diz respeito a esta ltima dimenso, destaca-se a contribuio de Bernardo deClaraval (1009-1145), segundo o qual o conhecimento de Deus e de si mesmo acontecepor experincia (Bernardo. Em: Lauand, 1998). Repetidamente, o monge refere-se nossermes experincia do gosto da contemplao divina e observa que somente podecompreender as verdades divinas quem fez experincias delas. Numa famosa pregaosobre o conhecimento (Sermo 36), por exemplo, ele estabelece uma analogia entre oconhecimento e a alimentao: numa certa altura afirma que basta um pouco deconhecimento de Deus para experimentar que Ele piedoso e solicito (...) Deus se d aconhecer nesta experincia e desta maneira salutar, a partir do momento em que ohomem se reconhea indigente e clame ao Senhor, e Ele o ouvir (Bernardo, 1998, p.270).No Sermo 84 sobre Cntico dos Cnticos, Bernardo ressalta a necessidade que oconhecimento de Deus seja baseado na experincia, prpria ou dos outros (Santos,2001).Reiteramos h pouco que a experincia um conhecimento no apenas intelectual. Comefeito, no Terceiro sermo da Ascenso, Bernardo frisa a importncia de que o esprito (ainteligncia) seja acompanhado pela alma (afetos), para que se possa fazer experinciade Deus. Se o afeto e, portanto, a vontade, no forem purificados, a alma ficainteiramente tomada pelas distraes, incapaz de receber as visitas do Senhor:

    Experimenta e vers que as duas [distraes e visitas] no podem jamais estar juntas(Santos, 2001, p. 171).Evidentemente, atingir profundamente este conhecimento possvel somente ao

    expertus pois quem disso tem a experincia haver de compreender melhor e demaneira mais feliz (idem, p. 168). Mesmo assim, trata-se de um conhecimento aindaparcial: na pregao sobre os Cnticos (32, 2-3), Bernardo refere-se ao fato de que

    nesta vida terrena, a alma devota pode experimentar com freqncia a alegria pelapresena do Esposo neste corpo, mas jamais de forma muito intensa (idem, p. 178).Desse modo, a mstica prepara a reviravolta conceptual que ser formulada pelo filosofomedieval Roger Bacon (1214-1292). Seguindo a tradio de Agostinho, este filsofoingls da Ordem dos Frades Menores, afirma em sua Opus Maior(IV,I, 1897-1900), quea alma no repousa no conhecimento da verdade se no a encontrar pela experincia,pois esta proporciona mente uma evidncia maior do que o raciocnio. Segundo Bacon,existem duas maneiras de conhecer: o raciocnio e a experincia. O primeiro permite aconcluso, mas no proporciona a segurana do esprito, ao passo que somente aexperincia proporciona a certeza. Pois, teoria e certeza no so sinnimos. Existem dois

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    7/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    22

    tipos de experincia: a interna e espiritual (vida interior, mstica) e a externa, adquiridapor meio dos sentidos. A primeira conhece as verdades sobrenaturais, a segunda asnaturais (cf. Reale e Antiseri, 1986). Pela primeira vez comparece na histria ocidental aconcepo segundo a qual a teoria deve necessariamente ser comprovada pelaexperincia: Nullus sermo in his potest certificare, totum enim dependet ab experientia (citado por Gilson, 1986, p. 598)Experincia na cultura da Reforma CatlicaA partir do sculo XVI, os jesutas foram entre os mais importantes porta-vozes dareforma catlica na Europa e em vrias reas geogrficas (inclusive na rea luso-brasileira). Neste mbito, encarregaram-se da difuso no meio das populaes, datradio do Ocidente cristo, atravs dos textos escritos mas sobretudo da transmissooral, pela pregao e pela conversao (peculiar prtica de apostolado recomendada porIncio de Loyola) (1).O tema da experincia, concebida no sentido tradicional do termo, freqente nosescritos jesuticos de diversa natureza e finalidade. Em primeiro lugar, a experincia dascoisas uma das categorias que comparecem nos Catalogos Segundus, documentoselaborados a cada trinio pelos Provncias da Companhia, onde descreve-se a situao decada membro e de cada residncia nos diversos locais de presena da Ordem (Massimi,

    2000).Em segundo lugar, o termo comparece nos escritos filosficos: por exemplo, nos Manuaisdos Conimbricences, com muita freqncia as afirmaes doutrinrias so comprovadaspelas seguintes afirmaes: comprova-se esta verdade por meio da experincia, comoa experincia quotidiana ensina, a experincia demonstra-o, confirma-se porexperincia (2).Em terceiro lugar, na correspondncia epistolar encontram-se expresses como v-sepela experincia, comecei a compreender pela experincia, a experincia obriga-me ater esta opinio (3).Parece, portanto, que os pensadores da Companhia utilizam o termo nos sentidosaristotlicos acima assinalados de empeiriae de peira.Num curioso sermo pregado no ano de 1665, em Salvador da Bahia, Brasil, pelo padre

    jesuta Loureno Craveiro (1665), tem-se o uso constante do termo experincia paracomprovar a veridicidade das receitas sugeridas pelo pregador. Trata-se de receitasmetafricas para o alimento da vida espiritual, baseadas em analogias referentes aoalimento da vida do corpo: aqui o termo experincia (empregado dez vezes ao longo dodiscurso) assume ambas as conotaes (que vimos presentes na tradio filosfica eteolgica, especialmente em Bernardo de Claraval) de: experimentar os efeitos dacomida pela via sensorial e de conhecimento espiritual (4).O termo final deste conhecimento por experincia a identificao com o objetoexperimentado: a unio mstica. O convite do pregador introduz os ouvintes paracomprovar suas palavras: a todos possvel adquirir pela experincia o conhecimentomais elevado possvel ao ser humano: o da prpria Pessoa divina. A nova concepo de experincia da Idade ModernaNa Idade Moderna assiste-se a um questionamento do valor da experincia assim comoentendido pela tradio ocidental. Conforme assinala H. Arendt (1999), a revoluo

    cientfica e o surgir da mentalidade da Idade Moderna comportam a entrada, na cena dahistria, do homo faber, capaz de fazer e de fabricar inclusive a si mesmo. Esta novaviso do mundo acarreta como conseqncia uma nova concepo do conhecimento,segundo a qual a verdade e a realidade no so dadas, nem se revelam imediatamentena aparncia. Se a concepo tradicional baseava-se no pressuposto de que o real serevela por si mesmo, sendo as faculdades humanas adequadas para reconhec-lo ereceb-lo, a Modernidade questiona a certeza de que os sentidos como um todointegram o homem a realidade que o rodeia (1999, p. 287). Conseqncia disto quese perde a ntida separao entre ser e aparncia.

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    8/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    23

    Ren Descartes (1596-1650), introduzindo a dvida metdica, resolve-a afirmando queos processos que se passam na mente do homem so dotados de certeza prpria epodem ser investigados, de modo que o homem, e no a realidade, passa a ser a fonteda certeza. O pressuposto implcito desta doutrina que a mente pode conhecer apenasaquilo que ela mesma produz e retm dentro de si, sendo a cincia matemtica o campoexemplar deste poder. O senso comum entendido como sentido de ajustamento de todos

    ao mundo, passa a ser uma faculdade interior: o que os homens tm em comum no mais o mundo, mas a estrutura da mente. Dilui-se a conexo entre pensamento eexperincia dos sentidos, substituda pelo mundo da experimentao cientfica.Desse modo, na Modernidade, o termo experincia passa a designar a concepo do realque o homem elabora atravs dos mtodos de conhecimento escolhidos para tanto,dentre os quais, o mais fidedigno o experimento cientfico.Significativo desta nova posio o pensamento do filsofo ingls David Hume (1711-1776). No Tratado da natureza humana(1749-40/1972), Hume (1972, p. 13) afirma serseu objetivo criar um mtodo para a filosofia que no decorresse da inveno mas daexperincia. Para isto, prope examinar seriamente a natureza do entendimentohumano, utilizando-se do esprito de exatido e do raciocnio (Idem). Coloca a hiptesede que a experincia humana, assim examinada, possa ser compreendida da mesmaforma que o mundo natural.

    Segundo Hume (1972, p. 148), a existncia de qualquer ser somente pode ser provadamediante argumentos derivados de sua causa ou de seu efeito, e estes argumentos sefundam inteiramente na experincia, e no no raciocnio a priori. Pois, se raciocinamosa priori, qualquer coisa pode parecer capaz de produzir qualquer coisa. A queda do seixopode, pelo que sabemos, extinguir o sol, ou a vontade de um homem controlar osplanetas e suas rbitas. Ao invs, unicamente a experincia que nos ensina anatureza e os limites da causa e do efeito, e permite-nos inferir a existncia de umobjeto partindo de um outro (Idem). Inclusive este conhecimento experimental abarcatambm os fenmenos humanos: Tal o fundamento do raciocnio moral que constitui amaior parte do comportamento humano e que a fonte de todas as aes ecomportamentos humanos (Idem).Tal crena leva Hume a rejeitar totalmente toda a tradio do conhecimento ocidental:

    Quando percorremos as bibliotecas persuadidos destesprincpios, que destruio deveramos fazer? Seexaminarmos por exemplo um volume de teologia oude metafsica escolstica e indagarmos: Contm algumraciocnio abstrato acerca da quantidade ou do nmero?No. Contm algum raciocnio experimental a respeitodas questes de fato e de existncia? No. Portanto,lanai-o ao fogo, pois no contm seno sofismas eiluses (1972, p. 148).

    Esta posio encontrar sua continuidade no sculo XIX na filosofia positivista (5) de A.Comte e H. Spencer, para os quais a cincia o nico saber que permite apreender aexperincia de modo unificado.Na Idade Moderna, porm, vrios so os pensadores que discordam da posiocartesiana e humeana no que diz respeito concepo de experincia. Dentre eles, oautor mais interessante Giambattista Vico (1668-1744), filsofo e docente de retrica.

    Vico (2005) aponta a insuficincia do mtodo cartesiano em campo filosfico: afirma queo cogito ergo sum constitui-se numa certeza psicolgica, mas no numa cincia nosentido pleno do termo, por atestar a existncia do pensamento e no de suas causas.Evidencia tambm os perigos derivantes da aplicao do modelo cartesiano que buscaafirmar a validade universal do mtodo matemtico para o conhecimento das cincias danatureza e das cincias morais, por no abarcar todos os aspectos da experincia domundo natural e humano (6). Alm do mtodo matemtico ser insuficiente para oconhecimento da natureza e do homem, baseia-se no procedimento cognitivo doraciocnio, que no o primeiro a se desenvolver no homem. Nesta perspectiva, nCincia Nova(1744) resgata a importncia da memria, da imaginao e da fantasia e a

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    9/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    24

    necessidade de uma educao intelectual atenta ao seu desenvolvimento e reafirma aimportncia do senso comum, definido como um juzo sem reflexo, comumente sentidopor toda uma ordem, todo um povo, toda uma nao, ou por todo o gnero humano(Vico, 1744 citado por Abbagnano, 2003 p. 873) (10). Com efeito, o conhecimento pelossentidos externos e internos, para Vico, pode constituir-se em sabedoria, ou seja numsaber voltado a regrar a ao humana de maneira que esta no seja o resultado da pura

    reatividade.A experincia na viso dos fundadores da psicologia modernaO fundador da psicologia cientfica, o mdico e filsofo alemo W. Wundt (1832-1920),na introduo de seu Compndio de Psicologia (1900), coloca a experincia como ocontedo da nova cincia que est propondo. Trata-se da experincia concebida nomolde do empirismo e do positivismo. Assim vejamos.Em primeiro lugar, segundo este autor, todo fenmeno natural pode ser objeto dapsicologia, na medida em que esta ocupa-se das representaes suscitadas em ns poresses fenmenos. O objetivo da psicologia o de explicar a formao destasrepresentaes e de sua relao com as demais, bem como o de explicar os processosque no se referem aos objetos externos como sentimentos e movimentos da vontade(1900, p. 2, traduo nossa).

    Assim Wundt rejeita a concepo tradicional acerca da formao das representaespsquicas. Nesta perspectiva, nega, em primeiro lugar, a existncia do senso internoconcebido pela psicologia aristotlico-tomista:

    Um senso interno que, como rgo do conhecimentopsquico, possa ser contraposto aos sensos externoscomo rgos de conhecimento da natureza, no existe.Pela ajuda dos sentidos externos, brotam seja asrepresentaes das quais a psicologia investiga aspropriedades, seja as representaes que do origemao estudo da natureza. Ao passo de que as excitaessubjetivas que so estranhas ao conhecimento naturaldas coisas, ou seja os sentimentos, as emoes e osatos da vontade, no nos so dadas por meio de rgosperceptivos especiais, mas ligam-se imediatamente ede forma definitiva s representaes que se referemaos objetos externos (1900, p. 2).

    Segundo Wundt, as expresses experincia interna e experincia externa no sereferem a duas coisas diferentes, mas constituem-se apenas em dois pontos de vistadiversos, utilizados no conhecimento e no uso cientfico da experincia, que por simesma nica. Estes pontos de vista diferentes originam-se na ciso imediata daexperincia em dois fatores: um contedoque nos dado e o nosso conhecimentodestecontedo. Chama-se o primeiro destes fatores: objetos da experincia e o segundo:sujeito cognitivo. A afirmao de que a existncia dos dois fatores contedo objetivodado e sujeito de conhecimento , no uma determinao lgica preexistente spesquisas nas cincias naturais e nas cincias do esprito, mas apenas conseqncia efruto delas, j que a experincia originria em si uma, leva Wundt a eliminar a relaosujeito e objeto como condio para a experincia anterior cincia.

    Daqui, portanto, partem duas vias para o estudo da experincia: a primeira a dacincia natural que considera os objetos da experincia em sua natureza pensadaindependentemente do sujeito a segunda da psicologia que investiga o contedo daexperincia em sua relao com o sujeito e nas qualidades que imediatamente o sujeitolhes atribuir. Por isso,

    o ponto de vista da cincia natural, sendo possvelapenas pela abstrao do fator subjetivo contedo emtoda experincia real, pode ser designado como o daexperincia mediata ao passo de que o ponto de vistapsicolgico, que elimina a abstrao e seus efeitos,

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    10/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    25

    pode ser denominado de experincia imediata (Wundt,1900, p.2).

    Segundo Wundt, a experincia imediata uma conexo de processos ou seja fatosgerais que acontecem em ns e de suas relaes recprocas fixadas por leis (1900, p.12).Todas as cincias do esprito que, segundo Wundt fundamentam-se, na psicologia,

    ocupam-se da experincia imediata. Wundt no limita a psicologia ao estudo do auto-conhecimento do sujeito mas quer que ela se ocupe tambm das relaes deste com omundo externo e os outros, pois a psicologia tem por objeto o inteiro contedo daconscincia em sua constituio imediata (1900, p. 4).Quanto ao mtodo, Wundt afirma que a cincia natural estuda a experincia fazendoabstrao dos elementos subjetivos das representaes (abstrao esta que pormimplica sempre integrao hipottica da realidade) ao passo que a psicologia deve seabster de todas estas abstraes e abordar a experincia assim como ela se apresentaimediatamente e intuitivamente (objetos e movimentos subjetivos).Ao tratar da psicologia, Wundt aponta as possibilidades de constituio deste campo desaber, historicamente dadas: a psicologia metafsica e a psicologia emprica. Declara quepsicologia emprica se ocupa da experincia segundo duas diversas abordagens: apsicologia do senso interno e a psicologia da experincia imediata. A referente ao senso

    interno toma os processos psquicos tidos como contedos de um domnio especial daexperincia, conectado experincia natural dada pelos sentidos externos, masabsolutamente diferente dela (1900, pp. 6-7). A abordagem referente experinciaimediata, pelo contrrio, no reconhece diferena alguma entre experincia interna eexterna, sendo esta distino devida ao diverso ponto de observao assumido aoconsiderar a experincia (por si mesma unitria). A psicologia do senso interno assumea posio de que as cincias naturais e humanas so fundadas na diversidade geral deseus objetos e mtodos, tendo como corolrio a afirmao de que existiria umadiversidade metodolgica entre as duas. Fundamenta-se no postulado metafsico acercada diferena ontolgica entre dados fsicos e psquicos. Deste modo, uma psicologiametafsica influiria sobre a pesquisa psicolgica - fato que Wundt quer absolutamenteimpedir.Wundt prope a unidade metodolgica entre cincias naturais e psicologia, de modo queos mtodos da psicologia experimental possam ser concebidos como anlogos aos dascincias naturais. O mesmo valeria para todas as cincias do esprito.A psicologia como cincia da experincia imediata cincia emprica, reintegrando ascincias naturais ao seu contexto originrio dado antes das operaes de abstrao.Como cincia das formas mais gerais da experincia humana imediata e de sua conexoconforme leis a psicologia seria o fundamento das cincias do esprito. Por se ocupar dascondies fundamentais do conhecimento, a psicologia seria a cincia que aborda osproblemas do conhecimento e neste sentido a cincia emprica preparatria para afilosofia.Em suma, no processo de fundao da psicologia moderna, a concepo wundtiana deexperincia elimina de sua gnese a relao entre sujeito e objeto do conhecimentoprocurando superar a viso da psicologia filosfica tradicional em que a relao sujeito-objeto acarreta a presena do sujeito ativo na elaborao da experincia (processadapelas suas potncias psquicas a partir da simples recepo da sensao pelo mundo

    externo).A experincia na perspectiva de William JamesSegundo James (1842-1910), experincia significa experincia de algo externo que sesupe ns nos impressione, seja espontaneamente, seja como conseqncia de nossasaes (1891/1989, p. 1045, traduo nossa). De modo que a experincia seria oproduto das impresses do mundo exterior que afetam a nossa mente por outro lado,porm, ela seria responsvel pelas formas do pensamento: A experincia nos molda acada hora e torna as nossas mentes um espelho das condies espao-temporais queexistem entres as coisas do mundo (1989, p. 1046).

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    11/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    26

    Ao elaborar esta concepo, James se apia em Spencer: deste cita um trecho ondeafirma que todas as relaes psquicas, com exceo das fixas, so determinadas porexperincias que correspondem a relaes externas e que como tais esto em harmoniacom elas (James, 1989, p. 1046) (7). O pensamento seria originado pela sucesso deestados psquicos, estes resultantes de experincias correlatas a impresses do mundoexterior.

    Analogamente a Wundt, James pretende fundamentar a teoria do conhecimento napsicologia, eliminando o papel ativo do sujeito na elaborao da experincia. O sujeito,concebido como mero receptor biolgico passivo das influncias do meio ambiente negado em seu ser pessoal.Buscando um significado definido da palavra experincia (1989, p. 1053, traduonossa), James afirma: restringirei a palavra experincia queles processos queinfluenciam a mente atravs da porta dianteira de associao e de hbitos simples(Idem). Nesta perspectiva, no h diferena qualitativa entre experincia acumuladapelos seres vivos atravs da cadeia de associaes e da estruturao dos hbitosmediante a repetio e a elaborao da experincia propriamente humana. Experincia segundo BrentanoA reduo da experincia humana a pura reao ao mundo exterior - em termos de

    experincia indiferenciada animal questionada pelo filsofo austriaco Franz Brentano(1838-1917), na obra Psicologia do ponto de vista emprico(1874/1997).No primeiro captulo, Brentano fala em experincia interna como o meio que permite oacesso vida da psique: O uso lingstico atual entende por psique o sujeito dasapresentaes e das demais propriedades que podem ser percebidas de modo diretosomente mediante experincias internas (1997, p. 69, trad. nossa). O autor afirmaaderir a este uso da palavra e passa a definir a psicologia como a cincia que nos ensinaa reconhecer as propriedades e as leis da psique que, por meio da experincia interna,descobrimos de modo direto em ns, e por analogia, nos outros (Idem).No segundo captulo do tratado, dedicado ao mtodo da psicologia e em particular experincia que constitui-se em fundamento dela, aprofunda a questo, colocando que

    percepo e experincia constituem a base tanto dapsicologia quanto da cincia natural. A fonte principaldo conhecimento psicolgico , sem dvida, apercepo interna de nossos prprios fenmenospsquicos. Quaisquer coisas sejam a apresentao e o

    juzo, a alegria e a dor, desejo e repulso, esperana etemor, coragem e desespero, deciso e vontade nunca poderamos ter conscincia delas, se a percepointerna no as apresentasse a ns (Brentano, 1997, p.93, traduo nossa).

    A categoria percepo interna reprope, ento, a funo ativa do sujeito noprocessamento da experincia. Nesta perspectiva, Brentano afirma que a primeira eessencial fonte da vida psquica a percepo interna, no a observao interna (Idem),fazendo uma ntida distino entre as duas. Tal distino rigorosa necessria devido confuso causada pelo empirismo, pois retomando uma posio kantiana , Brentanoentende ser a percepo interna incompatvel com a observao interna: de fato, ao

    realizar a observao interna, instantaneamente modifico a percepo interna. Aconfuso a este respeito, estabelecida na filosofia moderna, seria responsvel inclusivepela negao da percepo interna proclamada por vrios autores contemporneos (8). Aomisso de uma simples distino induziu grandes erros conclui Brentano.Portanto, na percepo interna que se funda a cincia psquica. Quanto aos limites daobservao interna assinalados, o autor sugere algumas formas de compens-los: umadelas a utilizao da memria. Com efeito, no caso de fenmenos recm ocorridos,podemos de alguma forma observ-los, concentrando a ateno nos traos ainda vivosna memria. Esta, porm, no se identifica com a percepo interna, no tendo a mesmaqualidade de infalibilidade. Alm disto, podemos ter um conhecimento indireto dos

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    12/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    27

    estados psquicos alheios, sendo que as manifestaes da vida psquica interna induzemvariaes perceptveis externamente.Experincia segundo HusserlHusserl (1959/2002) aprofunda e supera o caminho crtico de Brentano no que dizrespeito ao conceito de experincia, chegando a afirmar que o paralelismo experincia

    interna e experincia externa falso, pois fruto do dualismo cartesiano.Acompanhemos seus argumentos.A experincia no processo de conhecimento a modalidade unitria em que o mundo davida apreensvel. O dado da experincia no mundo da vida o pressuposto seja doconhecimento cientfico, seja do conhecimento prtico do homem no dia-a-dia. O mundo

    j dado na experincia mundo indeterminado cujo horizonte est sempre aberto aodesconhecido o horizonte sempre presente de todo conhecimento e nele no existenenhuma idealidade geomtrica (nem espao, tempo ou causalidade).Todavia, a cultura moderna, moldada pelo ideal galileiano, realizara uma sobreposio daidealizao do mundo matematizado experincia do mundo real, de modo que umanatureza idealizada substituda intuio pr-cientfica dada na experincia. A cinciamoderna impe experincia do mundo da vida um hbito ideal que no existenaturalmente nele e que acaba por ser confundido pelo seu verdadeiro ser, mesmo que

    na realidade seja apenas um mtodo.Uma das conseqncias desta reduo a subjetivao das qualidades sensveis,retomada pelos empiristas: se o mundo intuitivo da vida, assim como experimentado, meramente subjetivo, todas as verdades da vida pr-cientfica e extra-cientfica, no tmvalor. A verdade est alm do mundo da experincia. O mundo em si, o mundo daexperincia, assim dividido em mundo subjetivo, psquico, e mundo real,matematizvel, objetivo.Surge ento a psicologia como cincia paralela s cincias naturais psique atribudoum modo de ser anlogo ao do mundo da natureza. As primeiras dificuldades donaturalismo revelaram-se justamente na rea da psicologia cientfica. A subjetividadeassim concebida aparece inatingvel, produzindo assim um ceticismo que atinge noapenas a cincia mas tambm o mundo quotidiano. A psicologia criou um paralelismoentre psique e corpo uma concebida como apndice do outro.

    O errneo princpio de querer considerar seriamentehomens e animais como realidades dplices comounio de duas realidades de gneros diferentes e aindaassim iguais em seu sentido e portanto de consideraras almas pelo mtodo prprio da cincia dos corpos,numa dimenso causal natural, como os corpos espao-temporais suscitou a presumida obviedade de ummtodo determinvel de modo anlogo ao das cinciasnaturais. (Husserl, 2002, p. 241, traduo nossa)

    Esta posio, definida por Husserl como naturalismo, estendeu-se para alm da cincia,j que implicou tambm a considerao de corpo e alma como duas camadas reais naprpria maneira de conceber a experincia. Com efeito, a diviso entre a experinciainterna e a experincia externa, foi conseqncia deste falso paralelismo. Os doisconceitos permaneceram obscuros e em ambos os casos,

    as experincias so pensadas como se fossem atuadaspor meio da funo teortica: a cincia da naturezadeve fundamentar-se na experincia externa, ao passode que a psicologia na experincia interna: na primeiratemos a natureza fsica, na segunda o ser psquico, oser da alma. Portanto, experincia psicolgica torna-se uma expresso equivalente a experincia interna(Husserl, 2002, p. 252, traduo nossa).

    Husserl critica, neste sentido, a definio brentaniana de percepo interna, por serexpresso destas abstraes paralelas: A ingenuidade de considerar estes dados da

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    13/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    28

    experincia psicolgica iguais aos da experincia corporal, leva a sua coisificao(Idem). Chegou-se assim a conceber o dado interno como um tomo psquico ou comoum conjunto de tomos, as faculdades psquicas, ou disposies psquicas anlogas sforas fsicas (Idem), considerando-se paralelos tambm os objetivos das duas cincias.A adeso experincia, ento, se torna suposio ilusria.Para superar este impasse, Husserl ressalta a necessidade de voltar experincia real,

    anterior s verses teorticas, que determina originariamente o sentido daquilo que dado fisicamente e psiquicamente no mundo da vida e que depois torna-se objeto dascincias exatas (2002, p.236, traduo nossa). Esta simples experincia em que dadoo mundo da vida, o fundamento ltimo de qualquer conhecimento objetivo.Correlativamente: este mesmo mundo, aquilo que ele para ns (originariamente)devido experincia pr-cientfica, prope todos os temas da investigao cientfica(Idem).ConclusoNo percurso aqui proposto, uma leitura do processo histrico de constituio dos vriossentidos de experincia na cultura ocidental nos permitiu compreender que as hodiernasconcepes reducionistas tm suas matrizes em algumas filosofias da Modernidade,fundamentando posies difundidas na Psicologia contempornea. Tais filosofias

    separaram dimenses da experincia que, na viso prpria da tradio ocidental(clssica, medieval e humanista) foram concebidas de modo unitrio.Vimos que para Aristteles e Toms de Aquino, a experincia se constitui numa etapa doprocesso de elaborao do conhecimento, atestando a ocorrncia de um certo fato pelapercepo sensorial e pela memria. Reconhecemos no pensamento de Agostinho ummarco fundamental na conceituao de experincia como conhecimento que a alma temde si prpria, ponto de partida de todo o processo intelectual e que sua definio deste

    saber experiencial no abarca apenas o campo do ser e do entender mas tambm o davontade da memria. A partir disto, Agostinho diferenciara o saber assim definido, dopensar como exerccio da inteligncia, sendo que tal viso perpassou a teoria doconhecimento na cultura medieval, em seus diversos planos filosfico, teolgico emstico. Seu desfecho no sculo XIII foi a doutrina de Roger Bacon de que oconhecimento da verdade se fundamenta na experincia, a qual proporcionaria menteuma evidncia maior do que o raciocnio, devendo a teoria necessariamente sercomprovada pela experincia. Vimos que a difuso destas concepes no se restringiuapenas cultura europia, sendo introduzidas tambm em outros contextos culturais,como por exemplo na cultura brasileira dos sculos XVI e XVII, por obras dos jesutas.Observamos que por obra de alguns filsofos da Idade Moderna (Descartes e Hume)ocorreu um questionamento do valor da experincia assim como entendido por estatradio, diluindo-se a conexo entre pensamento e experincia sensorial, substitudapelo mundo da experimentao cientfica, de modo que o termo experincia passara adesignar a concepo do real que o homem elabora atravs dos mtodos deconhecimento escolhidos para tanto, dentre os quais, o mais fidedigno o experimento.Verificamos que no processo de fundao da psicologia moderna - especialmente aelaborao wundtiana -, ocorreu a eliminao da relao entre sujeito e objeto doconhecimento na gnese da experincia e portanto o ocultamento da presena do sujeitoativo na elaborao da mesma. De modo anlogo, observamos que W. James elimina o

    papel ativo do sujeito na elaborao da experincia, sendo este concebido como meroreceptor biolgico passivo das influncias do meio ambiente e sendo negado em seu serpessoal.Esta reduo da experincia humana a pura reao ao mundo exterior - em termos deexperincia indiferenciada animal foi questionada por Brentano e por Husserl, o qualtematiza a volta experincia real, anterior s verses teorticas, que determinaoriginariamente o sentido daquilo que dado no mundo da vida, fundamento ltimo dequalquer conhecimento objetivo.Parece-nos que no contexto atual, o resgate de concepes mais abrangentes deexperincia, propostas ao longo da histria, seja necessrio para alicerar uma Psicologia

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    14/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    29

    voltada para a pessoa humana e enxertada na cultura. A retomada da experincia comolugar de encontro entre subjetividade humana e mundo real foi realizada por Husserl e

    justamente percorrendo seu caminho que se poder proceder de modo rigoroso nestaempreitada.

    Referncias bibliogrficasAbbagnano, N. (2003). Dicionrio de filosofia (A. Bosi I. C. Benedetti, Trads.). So

    Paulo: Martins Fontes (Original publicado em 1971).

    Agostinho, S. (1998). Solilquios e a vida feliz (A. Fiorotti, Trad.). So Paulo: Paulus.(Original de 386 d.C.).

    Agostinho, S. (2000). Trindade (A. Belmonte, Trad.). So Paulo: Paulus. (Original de

    399-422 d.C.).Aquino, T. de (2002). Suma Teolgica. Volume 2. (C. P. Pinto de Oliveira, Trad.). So

    Paulo: Loyola. (Original de 1267-68).

    Arendt, H. (1999). A condio humana (R. Raposo, Trad.). Rio de Janeiro: ForenseUniversitria. (Original publicado em 1958).

    Aristteles (1969). A Metafsica (L. Vallandro, Trad.). Porto Alegre: Globo. (Original dosculo IV a.c.).

    Aristteles (1993). Parva naturalia(J. Serrano, Trad.). Madri: Alianza Editorial. (Originalde sculo IV a.C.).

    Aristteles (2001). Da alma(C. A. Gomes, Trad.) (Textos filosficos). Lisboa: Edies 70.(Original de sculo IV a.C.).

    Bernardo de Claraval, Sermo 36. Em: J. L. Lauand, (Org.) (1998). Cultura e educaona Idade Mdia: Textos do sculo V ao XIII(J. L. Lauand, Trad.). pp. 262-271. SoPaulo: Martins Fontes.

    Bernardo de Claraval. Pequena antologia. Em: Santos, L. A. R. (2001). Un monge que seimps a seu tempo: Pequena introduo com antologia da vida e da obra de SoBernardo de Claraval. pp. 147-191. Rio de Janeiro: Editora Lumen Christi.

    Brentano, F. (1997). Psicologia dal punto di vista empirico. vol.1, (L. Albertazzi, Trad.).Bari: Edizioni La Terza. (Original publicado em 1877).

    Craveiro, L. (1665). Merenda eucharistica e sermo que pregou o padre LourenoCraveiro da Companhia de Jesus, da Provncia do Brasil, do Colgio da Bahia, noterceiro dia das quarenta horas tarde em 16 de fevereiro de 1665. Deu estampao P. Fr. Antonio Craveiro pregador e religioso capucho da Ordem de Nosso SerficoPadre So Francisco da Provncia de Granada. Lisboa: Oficina de Francisco da Silva.

    Fabris, A. (1997). Esperienza e mistica. Em A. Molinaro E. Salman (Org.). Filosofia emistica: itinerari di un progetto di ricerca (pp. 13-28). Roma: Pontificio AteneoSantAnselmo.

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    15/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    30

    Gilson, E. (1986). A filosofia na Idade Mdia (E. Brando, Trad.). So Paulo: MartinsFontes. (Original publicado em 1986).

    Hume, D. (1972). Investigaes acerca do entendimento humano(A. Aiex, Trad.). Rio deJaneiro: Companhia Editora Nacional So Paulo: Edusp. (Original publicado em

    1739).

    Husserl, E. (2002) La crisi delle scienze europee e la fenomenologia transcendentale: Perun sapere umanistico (E. Paci, Apresent. E. Filippini, Trad.). Milano: Net Tascabili.(Original publicado em 1959).

    James, W. (1989). Princpios de psicologia (Ag. Barcena, Trad.). Mexico: Fundo deCultura Econmica. (Original publicado em 1891).

    Massimi, M. (2000). La psicologia dei temperamenti nei Cataloghi Triennali dei gesuiti inBrasile. Physis, Rivista Internazionale di Storia della Scienza, 37,137-150.

    Molioli, G. (1992). Lesperienza spirituale: lezioni introduttive. Milano: Glossa.

    Philippe, M. D. (2002). Introduo filosofia de Aristteles(G. Hibon, Trad.). So Paulo:Paulus. (Original publicado em 1956).

    Reale, M. & Antiseri. G. (1986). Il pensiero occidentale dalle origini ad oggi. V. 1.Brescia: Editrice La Scuola.

    Santos, L. A. R. (2001). Un monge que se imps a seu tempo: Pequena introduo comantologia da vida e da obra de So Bernardo de Claraval. Rio de Janeiro: EditoraLumen Christi.

    Vico, G.B. (2005). Cincia nova. (J. Vaz de Carvalho, Trad.). Lisboa: Fundao CalousteGulbenkian. (Original publicado em 1744).

    Wundt, W. (1900) Compendio di Psicologia(L. Agliardi, Trad.). Torino: Clausen. (Originalpublicado em 1896).

    Notas(1) A discusso desta contribuio encontra-se nos textos de Caeiro, F. G. (1982). Opensamento filosfico do sculo XVI ao sculo XVIII em Portugal e no Brasil. Em Acta, lCongresso Luso-Brasileiro de Filosofia (pp. 51-90). Braga: Revista Portuguesa deFilosofia. Veja tambm em: Caeiro, F. G. (1989). El problema de las races histricas,em: E. M. Barba J. M. P. Prendes A. U. Pietri J. V. Serro S. Savala (Eds.). Iberoamerica, una comunidad(pp. 377-389). Madrid: Ediciones de Cultura Hispnica.

    (2) Tais expresses encontram-se nos seguintes tratados dos filsofos jesutas deCoimbra: Gis, M. (1957). Disputas do curso sobre os livros da tica a Nicmaco, deAristteles em que se contm alguns dos principais captulos da Moral (A. B. Andrade,Trad.). Lisboa: Instituto de Alta Cultura (Original publicado em 1593) Gis, M. (1607).Commentarii Collegii Conimbricensis Societatis Iesu in Libro de Generatione etCorruptione Aristotelis Stagiritae nunc recens omni diligentia recogniti et emendati.Venezia: Vincenzo Amadino Gis, M. (1593). Commentarii Collegii ConimbricensisSocietatis Iesu, in Libros Aristotelis qui Parva Naturalia appellantur.Lisboa: Simo LopesGis, M. (1602). Commentarii Collegii Conimbricensis Societati Iesu, in tres Libros deAnima, Venezia: Vincenzo Amadino.

  • 7/22/2019 Apessoacomosujeito

    16/16

    Massimi, M. & Mahfoud, M. (2007). A pessoa como sujeito da experincia: um percurso na histriados saberes psicolgicos. Memorandum, 13, 16-31. Retirado em / / , da World WideWeb http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/massimimahfoud01.pdf

    Memorandum 13, novembro/2007Belo Horizonte: UFMG Ribeiro Preto: USP

    ISSN 1676-1669http://www fafich ufmg br/~memorandum/a13/massimimahfoud01 pdf

    31

    (3) Exemplos destas expresses utilizadas nas cartas jesuticas se encontram em:Massimi, M. Mahfoud, M. Silva, P. C. J. & Avanci, S. H. S. (1997). Navegadores,colonos, missionrios na Terra de Santa Cruz: Um estudo psicolgico da correspondnciaepistolar. So Paulo: Loyola.(4) Se as almas febricitantes, enfermas, comerem esta galinha desta sorte adubada,

    serlhesha muy proveytosa: pizem e mortifiquem o corpo, esqueaose das delicias, eregalos do mundo, que quizerem tomar o gosto a este regalado bocado, e acharo porexperiencia. Que a quem mortifica o corpo, e se esquece do mundo, he muito gostosa eproveytosa iguaria o Divino Sacramento (Craveiro, 1665, p.6).(5) A respeito consultar: Vanni-Rovighi, S. (1999). Histria da filosofia contempornea(A. P. Capovilla, Trad.). So Paulo: Loyola (Original publicado em 1980).(6) Sobre Vico ver: Reale & Antiseri (1986).(7) Cf. Spencer, H. Principles of psychology: 189, 205 e 208.(8) Cf. Psicologia do ponto de vista emprico: primeiro volume, captulo 2: Brentano(1997/1877) se refere ao Curso de Filosofia Positiva (1930) de Comte, o qual afirmara aimpossibilidade de conhecimento quando o rgo observante e o observado sejamidnticos.

    Nota sobre os autoresMarina Massimi, formada em psicologia pela Universidade de Padova (Itlia), mestra edoutora em Psicologia pela Universidade de So Paulo, docente junto ao Departamentode Psicologia e Educao da Faculdade de Filosofia Cincias e Letras da Universidade deSo Paulo, Campus de Ribeiro Preto especialista em histria da psicologia e das idiaspsicolgicas. Contato: [email protected] Mahfoud formado em Psicologia, Mestre e Doutor pela Universidade de SoPaulo, professor adjunto do Departamento de Psicologia na Faculdade de Filosofia eCincias Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, Brasil.Coordenador do Laboratrio de Anlises de Processos em Subjetividade (LAPS) junto mesma instituio. Suas pesquisas referem-se s reas de memria, cultura esubjetividade. lder dos Grupos de Pesquisa Estudos em Psicologia e CinciasHumanas: Histria e Memria e Histria da Psicologia e Contexto Scio-cultural.Contato: [email protected]

    Data de recebimento: 16/ 12/ 2006Data de aceite: 30/ 12/ 2007

    mailto:[email protected]:[email protected]