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www.epoca.com.br www.epoca.com.br TECNOLOGIA O relógio da Apple é um computador amarrado ao pulso O LIBERAL “O governo deve privatizar as estatais”, diz João Amoedo, fundador do Partido Novo O AMBIENTALISTA “Tenho a ver com um monte de coisas”, diz Eduardo Jorge, do PV > UM DEPOIMENTO EXCLUSIVO REVELA O ELO ENTRE OS DOIS ESQUEMAS > POR QUE O EX-DIRETOR PAULO ROBERTO COSTA DECIDIU ABRIR O JOGO 15 SETEMBRO 2014 I Nº 850 I R$ 10,90 CARGA TRIBUTáRIA APROXIMADA 3,65% A PETROBRAS E O MENSALãO

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o liberal“O governo deve privatizaras estatais”, diz João Amoedo,fundador do Partido Novo

o ambientalista“Tenho a ver com ummonte de coisas”, dizEduardo Jorge, do PV

> um Depoimentoexclusivo revela

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paulo robertocosta DeciDiu

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15 setembro 2014 i Nº 850 i r$ 10,90

CArgA TribuTáriA APrOximAdA 3,65%

a petrobrase o mensalão

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INVESTIGAÇÃOTEMPO

doisenredos,osmesmospersonage

Um depoimento à polícia revelacomo o ex-deputado José Janene,o ex-diretor da Petrobras PauloRoberto Costa e o doleiro AlbertoYoussef levaram para a estatalparte do esquema do mensalão

Montagem sobre foto de Lula Marques/Folhapress

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s dois períodos de Lula naPresidência foram marca-dos por crescimento eco-nômico, disseminação de

programas sociais – e também por doisgrandes escândalos de corrupção. Noprimeiro mandato, reinou o mensalão.Ele acabou na prisão de seus principaisoperadores e articuladores, depois dejulgados e condenados pelo SupremoTribunal Federal (STF). No segundomandato – soube-se nos últimos me-ses, por meio de investigações da PolíciaFederal (PF) e do Ministério PúblicoFederal (MPF) –, floresceu um esquemade pagamento de propina em troca decontratos bilionários com a Petrobras(leia detalhes na reportagem da página36), esquema que continuou duranteo governo de Dilma Rousseff. Nestemomento, as autoridades investigam aconexão entre os dois escândalos. Já sesabia que parte da estrutura financeirado mensalão fora usada no esquema daPetrobras. As últimas investigações vãoalém da questão financeira e se debru-çam sobre os personagens comuns aosdois enredos. O ex-deputado federalJosé Janene (que morreu em 2010), s

Hudson corrêa e Raphael Gomide

O

gensElO

O ex-deputadoJosé Janene, quemorreu em 2010.Em depoimento,

o empresário HermesMagnus afirma que

o esquema de propinada Petrobras foiuma “extensãodo mensalão”

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INVESTIGAÇÃO

o doleiro Alberto Youssef e o executi-vo Paulo Roberto Costa aparecem nomensalão e no esquema da Petrobras.

Um depoimento dado no dia 22 dejulho deste ano – revelado por ÉPOCAem primeira mão e disponível em vídeoem epoca.com.br –, ajuda a detalhar opapel dos atores que participaram dosdois esquemas. O autor do depoimentoé o empresário Hermes Freitas Magnus,de 43 anos. Ele reafirma a participaçãodo mensaleiro Janene – deputado doPP que, em troca de apoio político,embolsou R$ 4,1 milhões do mensalãopetista – como figura central que ligaos dois escândalos. Magnus foi sóciode Janene – e, segundo diz no depoi-mento, frequentava sua casa e ouviaconfidências dele. Segundo Magnus, oesquema da Petrobras “era a extensãodo mensalão, um cala-boca para que(Janene) permanecesse quieto”. Janenesempre dizia, segun-do o depoimento deMagnus, que pode-ria “derrubar Lula”,porque sabia do es-quema do PT tantoquanto o ex-ministroda Casa Civil JoséDirceu, condenadopor corrupção.

Segundo Mag-nus, na hierarquiados dois esquemas,Janene estava acima do doleiro Alber-to Youssef e do ex-diretor de Abaste-cimento da Petrobras Paulo RobertoCosta. De acordo com o depoimentode Carlos Alberto Pereira da Costa,advogado de Youssef – revelado comexclusividade na última terça-feira porepoca.com.br –, foi Janene quem apre-sentou Youssef a Paulo Roberto. O triooperou junto em dois momentos. Yous-sef ajudou Janene a lavar o dinheiro domensalão. Ainda no primeiro mandatode Lula, Janene indicou Paulo Robertoà Diretoria de Abastecimento da Petro-bras. No segundo mandato de Lula, ostrês operaram juntos no esquema daPetrobras. Investigações da OperaçãoLava Jato revelam que Youssef interme-diava pagamento de propina na estatal.Por meio de empresas de fachada, Yous-sef recebia dinheiro de empreiteiras in-teressadas em assinar contratos com a

quando o escândalo de corrupção naPetrobras ainda era desconhecido.Concluiu a história com riqueza de de-talhes no depoimento de julho passado.Ele parece ter credenciais para falar. AOperação Lava Jato teve início justa-mente a partir da investigação sobreum negócio de Magnus com Janene.De acordo com o MPF, Janene lavoudinheiro do mensalão ao investir parteda quantia recebida na Dunel Indústriae Comércio, fabricante de componen-

SEGUNDOESCAlÃOO doleiro AlbertoYoussef. Deacordo comHermes Magnus,ele estava umdegrau abaixode Janene nahierarquiado esquema

Petrobras. Usando um emaranhado dedepósitos bancários feitos por laranjas,fazia o suborno chegar a Paulo Roberto,o homem que tinha a caneta para fazeras contratações – e, agora preso, começaa entregar os participantes do esquema.Enquanto isso, Janene, por ser guardiãodos segredos do PT, ganhava espaço naPetrobras. Ele continuou como deputa-do apenas no início do segundo gover-no Lula. Por causa de uma doença nocoração, Janene arrancou em 2007 umaaposentadoria por invalidez na Câmarados Deputados, embora já respondes-se à acusação de receber dinheiro domensalão. Continuou ativo na política,agindo nos bastidores.

O relato que Magnus fez à JustiçaFederal revela o grau de influência delena Petrobras.“Lá, mando eu”, costuma-va dizer Janene, conforme o relato deMagnus – embora houvesse outros par-

tidos e esquemas naPetrobras. “Algunsdeputados federaisqueriam falar comdiretores da Petro-bras sem a interven-ção de José Janene,e não conseguiam.Então, entravam emcontato com Janenepelo telefone”, afir-mou Magnus. Eledisse ainda que pre-

senciou uma performance debochadade Janene ao telefone. Ele ironizava umparlamentar que tentara contato semsua ajuda. “E aí, a espera tá grande?”Segundo Magnus, Janene tinha “acessolivre” e intermediava negócios entre aPetrobras e empresas de grande porte,como as construtoras Camargo Corrêae Queiroz Galvão. Ele não deu deta-lhes que possam identificar que tiposde contrato seriam ou se houve algumtipo de ilegalidade. Procurada, a cons-trutora Queiroz Galvão afirmou quenão há “irregularidades nem ilegalida-des” em seus contratos, que são nego-ciados “dentro das regras estabelecidaspela legislação e sem a intermediaçãode terceiros”. A Camargo Corrêa disseque só presta serviços à Petrobras pormeio de licitações públicas.

Magnus começou a contar o quesabia à Polícia Federal ainda em 2009,

O esquemada Petrobras eraum cala-boca paraque Janeneficasse quietoHermes Magnus, empresário

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soluções rápidas e práticas, quase umsonho para quem precisava de uma in-jeção de capital. “Olha, podemos via-bilizar seu negócio: se quiser dinheirodo Estado do Espírito Santo para cima,tenho a opção do Banco do Nordeste.Se não quiser se meter com banco, te-mos uma solução mais tranquila, umrecurso nosso. Se quiserem, coloco 1milhão de início”, disse Janene.

As imagens do depoimento obtidaspor ÉPOCA mostram que, no momen-to em que Magnus conta essa história,Youssef senta-se ao lado do advogadodele e, apontando para Magnus, recla-ma: “Ele está mentindo, ele é menti-roso”. O juiz Sérgio Moro, que ouviaMagnus, interrompe Youssef. Ele só secala quando é ameaçado por Moro deser retirado da sala. Em pouco tempo,Magnus foi alijado da Dunel e virou,como ele mesmo se definiu, uma es-pécie de zumbi na firma. Os equipa-mentos encomendados não chegavam,e a produção emperrava. Ao consultarum advogado, Magnus descobriu queestava no meio de uma trama de la-vagem de dinheiro. Resolveu procurara PF para contar o que sabia. Afirmaque Janene o ameaçou de morte e que,na época, um incêndio misterioso des-truiu uma casa dele.

Youssef, mais uma vez, se deu bem.Lavou o dinheiro para Janene e, aindanaquele ano de 2008, estreitou relaçõescom Paulo Roberto, o executivo dosgrandes contratos da Petrobras. Mal selivrara de uma condenação a sete anosde reclusão graças a uma delação pre-miada, Youssef reincidia em sua espe-cialidade, a lavagem de dinheiro. Tinhao amigo e sócio Janene como cliente.Juntos, tinham um hotel, uma agênciade viagens em Londrina e uma locado-ra de automóveis. A proximidade dadupla ia além dos negócios. Os dois sevisitavam e se tratavam pelos títulos decompadre e padrinho.“Youssef chega-va à casa de Janene e era padrinho pracá, padrinho pra lá... Compadre pra cá,compadre pra lá. E era muito íntimona lida das coisas”, afirmou Magnus àJustiça Federal. Numa dessas reuniões,Janene prometeu pagar o que chamoude “lua de mel” na Europa para Yous-sef e a mulher. Em seguida, explicoua ele o motivo da generosidade: s

* Segundo Magnus, Janene dizia que “só ele e José Dirceu derrubavam Lula”

tes eletrônicos que pertencia a Magnus.Janene usou a empresa de fachada CSAProject Finance, uma sociedade man-tida pelo doleiro Youssef, para aplicarR$ 1,16 milhão dos R$ 4,1 milhões queganhara no mensalão na Dunel. Issoocorreu em julho de 2008.

Era mais um golpe aparentementeperfeito idealizado por Janene. Mag-nus tinha as características de vítimaideal para operadores experientes domercado negro. Sua firma de eletrôni-

cos automotores precisava de dinheiropara crescer, e ele buscava um inves-tidor. Janene e Youssef estavam atrásde uma oportunidade para esquentardinheiro frio de corrupção. O primeiroencontro com Magnus foi em junho de2008, na sede da CSA, em bairro nobrede São Paulo. Acompanhado de Yous-sef, o afável Janene – já ex-deputado– chegou abraçando afetuosamente ofuturo sócio, ou melhor, a futura víti-ma. O doleiro e o mensaleiro traziam

Foto: Joedson Alves/Estadão Conteúdo

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“Ela só não pode pensar que você vaifazer aqueles câmbios para mim naFrança. Não deixe ela sonhar que vocêestá fazendo isso”.

Os desvios de dinheiro por meio decontratos superfaturados na Petrobrasidentificados até agora ocorreram de2009 a 2014. A morte de Janene por in-farto, na fila do transplante de coração,em 2010, não interrompeu a afinadae conveniente parceria entre Youssef ePaulo Roberto. Ao contrário, os laçosficaram ainda mais estreitos. Durantea Operação Lava Jato, a PF interceptou

O depoimento de Magnus reiterauma conclusão: o mensalão e o escân-dalo da Petrobras são dois esquemasdistintos, mas com métodos, causas econsequências semelhantes. A causa éo fisiologismo: garantir apoio no Con-gresso usando cargos que deveriam serpreenchidos por critérios estritamentetécnicos. O método: desvio de dinheiropúblico para financiar campanhas ouenriquecer os políticos envolvidos. Aconsequência: corrupção. Com a des-coberta do mensalão, em 2005, quandoo primeiro mandato de Lula se apro-ximava do fim, foi preciso assegurara fidelidade dos mesmos partidos – edos mesmos políticos – ao governo doPT. Com a reeleição de Lula, o governocontinuaria a precisar de apoio no Con-gresso. E o Congresso não mudara. Asregras de Brasília também não. Lula e oPT acomodaram-se às práticas políticasde sempre. E distribuíram aos partidosda base os cargos que os políticos tantoqueriam. São aqueles que servem tãosomente para gerar favores e dinheiro,seja para campanhas, seja para o bolsode quem está no esquema. Nenhumcargo era tão desejado pelos políticosquanto uma diretoria na Petrobras, amais rica e poderosa empresa do país.No segundo mandato de Lula, a Petro-bras, mais que qualquer outra estatal,ocupou o vácuo deixado pelo mensalão.

Janene está morto, não pode maisameaçar nem delatar ninguém. Pa-rentes seus são réus com Youssef naação penal sobre a lavagem de dinhei-ro do mensalão. Um deles é MeheidinJenani, primo de Janene. Magnus, oex-sócio de Janene, afirma que Mehei-din é especialista em assar carneiros eia constantemente do Paraná a Bra-sília para preparar carneiros para aentão ministra da Casa Civil, e hojepresidente Dilma Rousseff. Procuradopor ÉPOCA, Meheidin desconversou.Procurada por ÉPOCA, a assessoria doPlanalto disse que Dilma Rousseff nãoconhece Meheidin, muito menos era fãde carneiros preparados por ele. u

DEBOCHEO empresário Hermes Magnus.Segundo ele, Janene zombava dedeputados que procuravam diretoresda Petrobras sem sua intermediação

INVESTIGAÇÃO

e-mails recebidos por Youssef. Uma dasmensagens veio de um ressentido JoãoClaudio Genu, ex-chefe de gabinete deJanene e um dos condenados do mensa-lão. Genu expressava seu “inconformis-mo” com a aproximação de Youssef ePaulo Roberto. Aparentemente, àquelaaltura, o doleiro e o diretor da Petrobrastinham estabelecido uma linha direta,sem intermediários, e Genu perdera seuquinhão no esquema. Paulo Roberto setornara milionário. A Justiça descobriuque ele mantinha R$ 51,3 milhões em12 contas secretas na Suíça.

Foto: reprodução

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investigação

Por quePauloRobertodecidiuabrir o jogo

No camburão, o ex-diretor da Petrobrasavisou o doleiroYoussef que nãoresistiria. Comofoi o caminho até lá

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o deixar o prédio da JustiçaFederal no Paraná, após umaaudiência de testemunhas con-

vocadas para ser ouvidas no caso daOperação Lava Jato, em julho, Paulo Ro-berto Costa e o doleiro Alberto Youssef,ex-parceiros de negócios e colegas decela, aproveitaram a viagem de cambu-rão até a Superintendência da PolíciaFederal (PF) em Curitiba para conver-sar. Paulo Roberto comentou com Beto,apelido de Youssef, que estava propensoa fazer um acordo de delação premia-da com o Ministério Público Federal(MPF). Ele tentara, sem êxito, suspen-der a ação penal contra ele no SupremoTribunal Federal (STF). Dias depois, nacela em que dividiam na cadeia, PauloRoberto voltou a comentar com Youssefque realmente buscaria o acordo.Youssefdesejou apenas boa sorte ao amigo. Des-de o dia 29 de agosto, Paulo Roberto temrevelado a procuradores da República edelegados da PF detalhes do esquemade corrupção que desviou milhões dereais dos cofres da maior estatal do país.

Uma semana antes, a PF e uma força-tarefa do MPF vasculharam casas e es-critórios das filhas e dos genros de Pau-lo Roberto. Os investigadores buscavammais provas depois de uma devassa nosigilo fiscal das empresas dele, de seusfamiliares e laranjas. Como ÉPOCArevelou, o principal deles era MarceloBarboza Daniel. Os documentos desco-briram 18 empresas de consultoria, quereceberam R$ 17 milhões de 13 emprei-teiras. O objetivo da operação na rua erafazer Paulo Roberto falar. Deu certo. En-quanto Paulo Roberto fala, em sua celaYoussef espera. A exemplo da família dePaulo Roberto, a de Youssef quer que elecolabore com as investigações em trocade algum benefício.

Por enquanto, Youssef e seu advoga-do, Antonio Basto, preferem aguardar.Apostam que a colaboração de PauloRoberto exigirá informações que sóYoussef poderá dar. Sua estratégia étornar-se necessário, para negociar umacordo. Basto teme a possibilidade devazamento de alguns pontos da delação,como aconteceu com Paulo Roberto.“(As autoridades) Falharam”, afirma.“A colaboração processual deveria es-tar totalmente protegida pelo sigilo. O

relutantePaulo roberto

Costa, ex-diretorde abastecimento

da Petrobras. elenão queria entrar

no esquema dedelação premiada

Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

réu ficou completamente exposto como vazamento dessas informações.” Aestratégia de defesa de muitas emprei-teiras passa pela tentativa de invalidar adelação de Paulo Roberto por causa dovazamento. Os procuradores ainda re-lutam também em aceitar Youssef comocolaborador. Ele fez uma delação pre-miada em 2004, quando foi preso peloenvolvimento no caso Banestado, masdescumpriu o trato. Entregou apenasinformações que não o comprometiame, pior, voltou à atividade anterior.

Paulo Roberto fez de tudo para nãoter de apelar à delação. Foi justamentepor medo de estar nessa situação quetomou atitudes desesperadas quandoos policiais federais chegaram a seuapartamento no condomínio RiomarIX, na Barra da Tijuca, no final de mar-ço. Àquela altura, ele era um prósperoconsultor de grandes empreiteiras comnegócios com a Petrobras. Os policiaisque bateram à sua porta tinham a mis-são de prendê-lo como cliente do do-leiro Youssef, alvo de uma operação porlavagem de dinheiro, batizada de LavaJato. Sem saber que era monitorado pelapolícia, assim que soube que seria preso,Paulo Roberto correu para o telefonee ordenou que familiares fossem a seuescritório e destruíssem computadorese documentos. Os federais não sabiamque Paulo Roberto não era um merocliente de Youssef. Não sabiam que elefora um poderoso ex-diretor de Abaste-cimento da Petrobras entre 2004 e 2012,bancado por um consórcio formadopor PT, PMDB e PP, detentor de tantossegredos incômodos da Petrobras e dealgumas das maiores empresas do país,aquelas que movem o fluxo de caixa decampanhas eleitorais. Ao rastrear os te-lefonemas dados por ele no momentode desespero, uma equipe da PF foi aoescritório e encontrou tudo vazio. Asimagens feitas por câmeras internasidentificaram que duas filhas e genrosde Paulo Roberto saíram do local carre-gando um vasto material. Recuperados eesmiuçados pela polícia e pelo MPF, osarquivos agora obrigam Paulo Robertoa contar às autoridades tudo o que sabee a incriminar políticos e seus antigosclientes, para escapar de uma pena quepode chegar a 50 anos de cadeia. s

AMacelo Rocha

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investigação

No ano passado, antes mesmo dePaulo Roberto ser preso ou do iníciode qualquer investigação oficial ser de-flagrada, ÉPOCA começou a revelarcom exclusividade casos escabrosos naPetrobras. Era o início de uma longa in-vestigação sobre os obscuros negóciosna estatal. No primeiro caso, a Petro-bras pretendia vender parte da Petro-bras Argentina, uma de suas subsidiáriasno exterior, por US$ 900 milhões, umvalor questionado pelo mercado. O maisestranho era o comprador. Apesar detrês concorrentes qualificados, o favo-rito para fechar o negócio era Cristó-bal López, um empresário do ramo decassinos, que chegara ao ramo petrolí-fero graças à ajuda do casal presiden-cial Néstor (morto em 2010) e CristinaKirchner. Meses depois, a Petrobras de-sistiu da venda. A motivação de negóciosdesse tipo ficou clara quando o lobistaJoão Augusto Henriques fez revelações aÉPOCA. Numa conversa surpreendente,ele contou como trabalhava para inter-mediar negócios entre grandes empre-sas e a Petrobras. Ele afirmou que, dosnegócios que fechava, precisava entregarcomissões ao PMDB. João Augusto disseque, se a refinaria San Lorenzo, partedo patrimônio da Petrobras Argentina,fosse vendida ao empresário CristóbalLópez, teria de entregar uma comissãode R$ 5 milhões ao PMDB.

O mais surpreendente estava numcontrato maior, que renderia dividendosao PT. Segundo João Augusto, a emprei-teira Odebrecht deu uma contribuiçãoequivalente a US$ 8 milhões ao caixadois da campanha eleitoral da entãocandidata Dilma Rousseff em 2010, porter sido escolhida para fazer um traba-lho de segurança ambiental de ativosda Petrobras no exterior, por US$ 825milhões. João Augusto afirmou tambémque o PMDB lucrou na operação. O par-tido ganhou, segundo ele, uma comissãopara encerrar a CPI da Petrobras quecorria no Senado na ocasião. Com basena reportagem de ÉPOCA, o MPF noRio de Janeiro denunciou João Augusto,o ex-diretor Jorge Zelada e um executivoda Odebrecht pelo acordo Petrobras-Odebrecht. A presidente da estatal, Ma-ria das Graças Foster, cortou pela meta-de o valor do contrato. Procurada porÉPOCA, a Odebrecht, por meio de nota,

disse que a afirmação de João Augustonão corresponde à verdade, que a em-presa faz doações eleitorais, em respeitoabsoluto à legislação e que estão publi-cadas nos tribunais eleitorais.

A prisão de Paulo Roberto, um ho-mem que participava das entranhas denegócios suspeitos, desencadeou umaonda de terror em Brasília. Surgiramnomes que sempre atuaram na sombra,como os lobistas Jorge Luz, Pedro PauloLeoni Ramos, o PP, e Fernando Soares.Conhecido como Fernando Baiano, elefoi um dos intermediários entre a direto-ria de Paulo Roberto e empresas interes-sadas em fazer negócios com a Petrobras.Após a prisão de Paulo Roberto, governoe oposição começaram a se enfrentar noCongresso para abrir ou impedir umaCPI para investigar os negócios da Petro-bras. Paulo Roberto fora indicado peloex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,que o chamava de “Paulinho”. Deviafavores às bancadas de PP, PT e PMDB– todos, obviamente, dispostos a evitarCPIs. O presidente do Senado, RenanCalheiros, era uma das forças contráriasà CPI. Renan nega ser padrinho políticode Sérgio Machado, presidente da Trans-petro, cuja indicação lhe é atribuída há11 anos. Na Transpetro, uma auditoriarecente mostrou que empresas contra-tadas por milhões não prestaram osserviços acordados. A resistência à CPIcontava ainda com os deputados petis-tas Vander Loubet, Cândido Vaccarezzae André Vargas e do senador FernandoCollor, todos padrinhos de diretores daBR Distribuidora, uma subsidiária daPetrobras. Os parlamentares temiama revelação de casos como da Jaraguá,fornecedora da Petrobras que distribuiucontribuições de campanha a deputadosdo PP em 2010. Logo depois, abocanhouum contrato de R$ 200 milhões para aconstrução da Refinaria Abreu e Lima,comandada por Paulo Roberto.

Nenhuma das duas CPIs instaladasproduziu um fiapo de informações sobrea corrupção na Petrobras. As investiga-ções da PF, no entanto, revelam as razõespara a falta de empenho dos parlamen-tares.Planilhas apreendidas pela PF suge-rem pagamentos da empreiteira CamargoCorrêa (Consórcio CNCC), da Sanko-Sider, da OAS, da Galvão Engenharia,da Jaraguá e da Odebrecht (Consórcio

Tudo pelo óleoda PetrobrasOs principais personagensenvolvidos em diversosepisódios suspeitosna estatal

Ex-dirEtorEsLobistasJoÃo aUGUsto HENriQUEsResponsável por intermediar negóciosna área internacional e captarpropinas para o PMDB e o PT

FErNaNdo baiaNoIntermediário entre Paulo Roberto Costae empresários interessados em fazernegócios na Diretoria de Abastecimento

rENaN CaLHEirosPMDB-al

Presidente do SenadoSustentou Paulo Roberto

Costa após o escândalo domensalão

PoLÍtiCos

Mario NEGroMoNtEPP-Ba

Ex-ministro das CidadesUm dos padrinhos de Paulo

Roberto Costa, recebeucontribuições de empresasenvolvidas com empresasligadas ao doleiro Youssef

PEdro PaULo LEoNi raMosAmigo de Collor, tem influência na BRDistribuidora. Uma de suas empresas pagouR$ 4,3 milhões à MO Consultoria

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Conest) à MO Consultoria e à GFD In-vestimentos, empresas do doleiro AlbertoYoussef. Nos papéis, os pagamentos sãoclassificados como“repasses”ou“comis-são”.A PF suspeita que seja simplesmente“propina”. A polícia identificou pelo me-nos R$ 31 milhões em“pagamentos comsuspeita de ilicitude”.A Odebrecht afirmaque o consórcio Conest não fez depósitospara a GFD e que todos os contratos deprestação de serviços à Petrobras estão daacordo com as disposições legais.

Paulo Roberto e Youssef eram deta-lhistas e organizados, por isso a políciaconseguiu descobrir a extensão de seusnegócios. ÉPOCA revelou que, em maiode 2013, Youssef fez um relatório sobrequatro contas secretas mantidas em con-junto com Paulo Roberto no exterior:uma no banco UBS de Luxemburgo;outra no banco Lombard Odier, na Suí-ça; uma terceira no banco Itaú, não sesabe em que país; e a última no RoyalBank of Canada, nas Ilhas Cayman. Orelatório não é exato sobre o valor acu-mulado nessas contas. Somando apenaso saldo de algumas delas aos depósitospagos naquele momento pelas empre-sas com negócios na Petrobras, chega-se ao total de US$ 3,7 milhões. A contano Itaú referia-se, segundo o relatório,à empreiteira Alusa e tinha saldo de R$127.400 em agosto de 2011, quando Pau-lo Roberto estava na Petrobras. A Alusafirmou contratos de R$ 3,5 bilhões coma Petrobras nos últimos anos. O maiordeles, de R$ 1,5 bilhão, foi firmado em2010. Em 2008, a Alusa fechara um con-trato de R$ 966 milhões para fazer obrasna Refinaria Abreu e Lima. A conta commaior saldo – US$ 2,42 milhões – está noRBC das Ilhas Cayman.A PF apurou queesse dinheiro é fruto de propina arreca-dada entre fornecedoras da Petrobras naobra do Complexo Petroquímico do Riode Janeiro (Comperj). Depois disso, aSuíça bloqueou US$ 23 milhões em con-tas bancárias de Paulo Roberto no país.

Ao deixar a Petrobras, Paulo Robertose tornou consultor. Planilhas apreendi-das com sua filha Arianna Costa detalha-vam a contabilidade da Costa Global, suaempresa de consultoria. Paulo Robertochegou a ter ao menos 81 contratos comfornecedores da Petrobras. Há provas deque ele recebeu milhões de 23 empreitei-ras,na maior parte das vezes sem prestars

PaULo robErto CostaDiretor de Abastecimentoentre 2003 e 2012É suspeito de receberpropina de AlbertoYoussef para favorecerempresas em contratosna Petrobras e deintermediar pagamentoa partidos e políticos

FErNaNdo CoLLorPtB-alSenador

Padrinho de dois diretoresda BR Distribuidora. Seuamigo Pedro Paulo LeoniRamos tem influência em

negócios da Petrobras

EdisoN LobÃoPMDB-Ma

Ministro de Minas e EnergiaReuniu-se com Paulo

Roberto Costa e um lobistapara defender a entradade uma empresa chinesanuma refinaria no Ceará

CÂNdido VaCCarEzzaPt-sP

Deputado federalLigado a Jorge Luz,

lobista na Petrobras,participou da indicação

de Andurte Duarte, diretorda BR Distribuidora

JoÃo PizzoLattiPP-sC

Deputado federalAssim como Negromonte,apadrinhou Paulo Roberto

e recebeu contribuiçõesde campanha de empresas

do esquema de Youssef

roMEro JUCáPMDB-rr

SenadorAjudou a enterrar a CPI

da Petrobras em 2009 e ésuspeito de ter intermediado

um negócio bilionário daPetrobras com a Odebrecht

rosEaNa sarNEyPMDB-Ma

GovernadoraLiberou precatórios demais de R$ 100 milhões

para a UTC, uma dasmaiores fornecedoras

da Petrobras

NEstor CErVErÓDiretor da Área Internacional entre 2003 e 2008Comandou, em 2006, a comprada refinaria Pasadena por US$ 1,2 bilhão

JorGE zELadaDiretor da Área Internacional entre 2008 e 2012Em sua gestão, o lobista João Augusto atuou na venda de ativosna Argentina e na África, num esquema suspeito de ter rendidopropina a PT e PMDB

Fotos: Jonathan Campos/AGP/Folhapress, CB /D.A Press (5)Folhapress (2),Estadão conteúdo e AG Petrobras

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investigação

nenhum serviço. Para a PF, há indícios deque esses contratos eram apenas acertosde conta por favores feitos nos temposde Petrobras. É o caso de contratos comempreiteiras como Engevix, Iesa, Quei-roz Galvão e, num dos casos, tambémda Camargo Corrêa. A relação com asempreiteiras era tão próxima, que foia elas que a turma recorreu na hora doaperto. Em depoimento dado no dia 5de setembro, a ex-contadora de AlbertoYoussef, Meire Poza, disse à Justiça querecorreu às empreiteiras para bancar des-pesas com advogados quando o chefe foipreso na Operação Lava Jato.“Não tinhadinheiro para nada”, afirma. Segundo ela,João Procópio Prado, um dos acusadosde fazer parte do grupo criminoso, disseque iria até a Camargo Corrêa e que elase encarregaria de recorrer à UTC/Cons-tran.“O Augusto Pinheiro, da Constran,disse que ajudaria sim, que não teriaproblema”, diz Meire. Ela diz que JoãoProcópio recebeu da Camargo Corrêaa promessa de que ajudariam a resolvero problema. “João me disse para tentar-mos conseguir algum dinheiro. Ele dis-se que iria até a Camargo Corrêa, paratentar alguma coisa, e me pediu para iraté a UTC”, diz Meire.“Eu tinha contatocom o Valmir e com o Augusto (Pinhei-ro, diretor), da Constran, em função dealguns negócios. Eu tinha o celular dele,liguei e ele me recebeu lá na Constran.Fui até lá para pedir R$ 500 mil, queajudariam a pagar os advogados.” Nopróprio depoimento, Meire afirma quea UTC não atendeu a seu pedido. O ad-vogado Ricardo Berenguer, que defendeJoão Procópio, disse que não teve aces-so ao depoimento de Meire e que nãopoderia fazer comentários a respeito. AUTC informou, por meio de nota, que“ninguém da UTC ou da Constran foiencarregado de conversar com pessoasligadas ao senhor Alberto Youssef paraviabilizar auxílio financeiro ao grupoinvestigado pela Polícia Federal”. A Ca-margo Corrêa, por intermédio de suaassessoria de imprensa, nega que tenhasido procurada por pessoas ligadas aYoussef interessadas em ajuda financeira.

Na última quarta-feira, perto das 15horas, Nestor Cerveró, ex-diretor daárea Internacional da Petrobras, che-gou relaxado e sorridente a sua terceiravisita ao Congresso desde que os s

Um pré-sal de corrupçãoA enorme reserva de desvio de recursosda Petrobras descoberta nos últimos meses

Petrobras argentina (Pesa)Valor do contrato: US$ 900 milhões

O grupo Indalo, do argentino CristóbalLópez, amigo da presidente CristinaKirchner, fez um acordo confidencialcom a Petrobras para comprar 33%da Pesa e virar sócio da estatal.Em 2002, a Petrobras pagara US$1,1 bilhão para entrar no negócio einvestiu US$ 2,4 bilhões. O negóciocom López não foi finalizado

MaerskValor do contrato: US$ 300 milhõesSuspeita de propina: US$ 6,2 milhões

A Maersk fechou um contratode US$ 300 milhões parafornecer quatro naviosà Petrobras. De cada pagamentofeito pela Petrobras à Maersk,segundo a PF, 1,25% eradevolvido a Paulo Robertona forma de propina

odebrechtValor do contrato: US$ 825 milhõesSuspeita de propina: US$ 8 milhões

O lobista João Augusto diz que o contratointernacional firmado entre a Petrobras ea Odebrecht para reforma e reabilitaçãode refinarias em dez países foi feitomediante o pagamento de US$ 8 milhõespara o caixa da campanha eleitoral deDilma Rousseff em 2010. A Odebrechtnega com veemência a acusação

abreu e LiMaValor do contrato: R$ 8,9 bilhõesSuspeita de propina: R$ 31 milhões

ÉPOCA revelou que, segundoinvestigações da Polícia Federal,Paulo Roberto Costa intermedioudiversos negócios relacionados àconstrução da Refinaria Abreu e Lima,em Pernambuco. Entre os “repasses” e“comissões”, a PF desconfia que pelomenos R$ 31 milhões sejam “propina”

PasadenaValor: prejuízo de US$ 792 milhões

Em 2006, a Petrobras comprou 50%da refinaria americana por US$ 360milhões – no ano anterior, a belgaAstra Oil pagara apenas US$ 42,5milhões pela refinaria completa. Depoisde brigar com a Astra na Justiça, aPetrobras ainda foi forçada a comprara outra metade da refinaria, com seusestoques, por mais de US$ 820 milhões

Fotos: reprodução[slopes] (2), Willem Oldenburg/shipspotting,Clelio Tomaz e Dave Fehling/Stateimpact Texas

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escândalos na Petrobras começaram apipocar. Era como se Cerveró acreditasseque sua atuação na compra da refinariade Pasadena, um negócio que rendeu umprejuízo de US$ 792 milhões, perderaimportância. Agora que Paulo Roberto,seu ex-colega da diretoria de Abasteci-mento, começou a delatar os meandrose os integrantes do esquema mais am-plo de corrupção na Petrobras, Pasadenaparece um assunto distante. Tanto que,ao depor na CPI mista da Petrobrasna semana passada, numa sala lotada,a primeira celeuma instalada entre osparlamentares foi para definir em quecondição Cerveró estava ali. Testemu-nha ou acusado? O presidente da CPI,senador Vital do Rêgo, titubeou:“Ele estáaqui como investigado... Estamos inves-tigando a participação dele no negócio”.O deputado tucano Carlos Sampaio,promotor de carreira, contestou. “Se elenão está indiciado, deveria depor comotestemunha.Até para ser obrigado a falara verdade.”Vital do Rêgo resistiu. Cerve-ró depôs na condição de “investigado”.

O relator da CPI, o deputado petistaMarco Maia, fez perguntas por mais deuma hora. Quando a palavra finalmentefoi passada aos deputados e senadores,um jogo de bate-assopra se iniciou. Um aum, os inquiridores primeiro criticavamCerveró por seu papel num escândaloque representa muito dos desmandos naestatal. Em seguida, os mesmos parla-

mentares passavam a acarinhar Cerveróe a tentar seduzi-lo a entregar maracu-taias que tivesse presenciado. O depu-tado Fernando Francischini, do Solida-riedade, disse: “Vossa Senhoria deixaráque sua cabeça seja colocada em umabandeja? Vossa Senhoria deveria fazeruma delação premiada”. Cerveró seguiaimpassível, de queixo erguido. Depois,foi a vez de Carlos Sampaio: “Podemosfazer uma sessão reservada, secreta, paraque Vossa Senhoria fique à vontade paranos contar o que sabe”. Cerveró mal semexia. Foram três horas de depoimento.Nenhuma informação nova veio à tona.O que pairava na sala era apenas a sensa-ção de que ainda há muito a desvendar.A presidente Dilma Rousseff afirma terfeito uma limpeza na estatal e diz que“se houve sangria, ela já foi estancada”.

Todas as empresas envolvidas negamrelações irregulares com Youssef e PauloRoberto. A Sanko-Sider diz ter contra-tado a Costa Global, de Paulo Roberto,e as empresas de Youssef para trabalhostécnicos e de representação comercial– e nega irregularidades. Não foi possí-vel encontrar representantes da JaraguáEquipamentos, que está em recuperação

judicial.A empresa já afirmara que os de-pósitos para a MO, de Youssef, se referema um contrato para realizar consultoriacomercial na licitação da Refinaria Abreue Lima, em Pernambuco. A Iesa afirmater pagado R$ 300 mil à Costa Global, dePaulo Roberto.“Foram realizadas diver-sas reuniões com a Costa Global e comempresa de engenharia conceitual e iden-tificados potenciais parceiros fornecedo-res de tecnologia para o fornecimentode minirrefinarias modulares”, diz a Iesa.O Consórcio CNCC (Camargo Corrêae CNEC) afirma que não tem nenhumrelacionamento com as empresas de Pau-lo Roberto e Youssef. A Odebrecht negatambém ter feito contrato com o lobistaJoão Augusto. Sobre a auditoria inter-na, a Transpetro afirma que “recebeu asdenúncias em questão e as encaminhoupara apuração” e que “as não conformi-dades encontradas foram devidamentesanadas e seis colaboradores foram afas-tados da Companhia”. Em nota, a Men-des Júnior afirma que seus contratos sãofeitos de acordo com as normas legais eque é prestadora de serviços de engenha-ria da Petrobras desde os anos 1970. Dizainda que faz doações para campanhaseleitorais segundo a legislação vigente.

O ministro Edison Lobão confirmaque teve uma audiência com Paulo Ro-berto. O senador Fernando Collor não semanifestou sobre o lobista Pedro PauloLeoni Ramos, o PP. O senador RomeroJucá nega ter colaborado para enterrar aCPI da Petrobras em 2009.Os deputadosMário Negromonte e João Pizzolatti nãoforam encontrados. O deputado Cân-dido Vaccarezza afirma que é amigo dodiretor da BR Distribuidora Andurte deBarros e, com outros deputados, o indi-cou para o cargo. Vaccarezza nega “pe-remptoriamente ter recebido recursos”de Paulo Roberto Costa. Em nota, a go-vernadora do Maranhão,Roseana Sarney,disse que nunca participou de nenhumesquema de corrupção nem solicitou“ao ex-diretor da Petrobras recursos dequalquer natureza”. “Tomarei todas asmedidas cabíveis para resguardar minhahonra e minha dignidade”, diz Roseana.A advogada de Paulo Roberto Costa,Beatriz Catta Preta, foi procurada, masnão respondeu.O lobista Fernando Baia-no não foi encontrado.Pedro Paulo LeoniRamos preferiu não se manifestar. u

se houvesangria,

ela já foiestancada

Dilma Rousseff

faxinaa presidente Dilma

Rousseff. ela dizque, em seu

governo, houveuma limpeza na

Petrobras

Foto: João Carlos Mazella/AgÍncia JCM/Fotoarena

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