API X70
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108
4
METODOLOGIA
A metodologia utilizada na dissertação é explicada nesta seção. Foi utilizada
uma metodologia de elementos finitos [76, 77, 78, 79] para simular o curvamento
do duto e a presença do enrugamento. O programa usado para a modelagem em
elementos finitos foi o Abaqus®.
4.1
MODELO DE MATERIAL
O material utilizado é o aço API 5L grau X70. A Tabela 3 mostra a
composição química deste tipo de aço ensaiado por Silva et al. [80] e as
composições químicas propostas pelo API. Estes aços são de laminação
controlada na faixa de temperatura de 720° a 800° C para se obter grãos
austeníticos finos ou altamente deformados, que durante o processo de
resfriamento se transformarão em pequenos grãos de ferrita, promovendo o
aumento da tenacidade e aumentando o limite de escoamento.
Foram executados ensaios de tração em corpos de prova deste material e as
propriedades mecânicas à temperatura ambiente (20° C) foram extraídas. Um
resumo das propriedades medidas pode ser visto na Tabela 4. Os resultados
encontrados estão de acordo com os propostos pelo API 5L, que define valores
mínimos para limite de escoamento e limite de ruptura.
Para caracterização do material foi determinado o Limite de
Proporcionalidade do material em estudo (API 5L X70) a partir da curva do
ensaio de tração.
Capítulo 4. Metodologia 109
Tabela 3 – Composição Química do Aço API 5L X70 dada pelo código e
determinado por ensaios [80]
Componente API (PSL2)
[11] Ensaio [80]
C 0,12 0,10
Si 0,45 0,17
Mn 1,70 0,56
Al - 0,021
Nb Nota 1 0,052
V Nota 1 0,028
Cr 0,50 0,12
Ni 0,50 0,20
Mo 0,50 -
Ti Nota 1 0,013
N - -
Cu 0,50 0,002
P 0,025 0,021
S 0,015 0,003
Nota 1: A soma das concentrações de nióbio (N), vanádio e titânio deve ser menor
que 0,15%.
Tabela 4 – Propriedades mecânicas aço API 5L X70 pela especificação, e
obtidos em teste [80] – unidades em MPa (ksi)
API 5L mínimo
[11]
Ensaio na referência
[80]
Limite de Escoamento 485 (70,3) 503 (72,9)
Limite de Resistência a Tração 570 (82,7) -
Capítulo 4. Metodologia 110
O Gráfico 4 mostra os pontos obtidos com o ensaio de tração uniaxial para
um corpo de prova do aço API 5L X70 (curva tensão X deformação de
engenharia).
0
100
200
300
400
500
600
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16 0,18 0,2Deformação Total (εt)
Ten
são
Eng
enha
ria
(MP
a)
Gráfico 4 – Dados obtidos a partir do ensaio de tração com corpo de prova API
5L X70
A partir de uma curva de engenharia é possível obter uma curva real de
acordo com as equações de relação entre elas, mostradas nas eq. (39) e (40) [81,
82].
( )1ln += dreal εε (39)
( )1+×= dreal εσσ (40)
Estas equações podem ser utilizadas para obter a curva real de tensão-
deformação a partir da curva de engenharia até a deformação na qual o
empescoçamento se inicia [81].
O Gráfico 5 mostra os pontos obtidos no ensaio de tração uniaxial
corrigidos, tensão X deformação verdadeira, de forma a eliminar a influência da
variação da geometria do corpo de prova no resultado obtido.
Capítulo 4. Metodologia 111
0
100
200
300
400
500
600
700
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1Deformação Verdadeira (εv)
Ten
são
Ver
dad
eira
(M
Pa)
Gráfico 5 - Dados obtidos corrigidos do ensaio de tração com corpo de prova API
5L X70
O valor da literatura para o módulo de elasticidade do aço à temperatura
ambiente é de 207.000 MPa, o valor encontrado neste trabalho foi de 205.000
MPa a partir do ensaio do material. As características utilizadas no modelo desta
dissertação estão mostradas na Tabela 5, nela são apresentados os valores de
Limite de Proporcionalidade e Módulo de Elasticidade. O valor do Coeficiente de
Poisson, também mostrado na Tabela 5, foi retirado da literatura para o aço
carbono.
Tabela 5 – Características do Material Modelado API X70
Material Características Valor
Limite de Proporcionalidade ( P ) 485 MPa
Módulo de Elasticidade ( E ) 205 GPa X70
Coeficiente de Poisson (υ ) 0,29
Foram introduzidos 10 pares de tensão-deformação no software Abaqus®
para caracterizar o comportamento plástico do material. Estes pontos estão
mostrados na Tabela 6. O primeiro ponto deve ser o limite de proporcionalidade
do material, onde ainda não há deformação plástica. Os pontos subseqüentes
devem possuir valores de tensão crescente e o último ponto deve ser aquele de
máxima tensão verdadeira (ponto de início do empescoçamento).
Capítulo 4. Metodologia 112
Tabela 6 – Pares tensão-deformação selecionados para caracterização do
material – unidade de tensão em MPa
Tensão de
engenharia
Deformação
de engenharia
Tensão
verdadeira (1)
Deformação
verdadeira
Deformação
Plástica (1)
484,8 0,0024 485,9 0,0024 0,0000
502,5 0,0164 510,8 0,0024 0,00138
519,9 0,0220 531,3 0,0025 0,0191
543,7 0,0315 560,9 0,0026 0,0283
558,4 0,0396 580,5 0,0026 0,0360
571,7 0,0510 600,9 0,0027 0,0468
582,2 0,0662 620,8 0,0028 0,0610
586,0 0,0763 630,7 0,0029 0,0704
589,3 0,0969 646,4 0,0032 0,0853
589,7 0,1072 652,9 0,0033 0,0987
Nota: (1) Valores usados do programa Abaqus® para caracterização do material.
A deformação plástica apresentada na Tabela 6 foi calculada segundo
orientação do Abaqus® [83], de acordo com a eq. (41).
Eteltpl
σεεεε −=−= (41)
onde, plε é a deformação plástica verdadeira, tε é deformação total verdadeira,
elε deformação elástica verdadeira e σ a tensão verdadeira correspondente.
Os pares tensão-deformação utilizados podem ser vistos no Gráfico 6.
Capítulo 4. Metodologia 113
0,0
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
600,0
700,0
0,0000 0,0100 0,0200 0,0300 0,0400 0,0500 0,0600 0,0700 0,0800 0,0900 0,1000Deformação Plástica
Ten
são
(MP
a)
Gráfico 6 – Pares de tensão-deformação plástica usados para caracterização
do material
Caso a tensão aplicada em um material tenha seu sentido alterado (tração
para compressão, por exemplo), a tensão necessária para reverter este sentido terá
magnitude inferior do que a tensão necessária para continuar o deslizamento na
direção original – este fenômeno se chama Efeito Bauschinger e não será
considerado no modelo de material usado nas análises desta dissertação [62, 84].
4.2
CARACTERÍSTICAS DO TUBO E CASOS PROPOSTOS
O diâmetro externo do tubo modelado possui 711,2 mm (28”) com
espessura variando entre 7,11 mm (0,28”) e 35,56 mm (1,40”) para se obter
relações D/t variando entre 20 e 100 aproximadamente. As características
geométricas do tubo para os casos estudados são apresentados na Tabela 7.
São apresentadas na Figura 37 as características geométricas do tubo:
diâmetro (D) e espessura (t). Assim como as características do enrugamento:
extensão circunferencial (a); comprimento (L); e altura (d).
Capítulo 4. Metodologia 114
Tabela 7 – Apresentação dos casos estudados – unidades em mm (pol.)
Caso Diâmetro Externo Espessura
Diâmetro Interno
Relação D/t Comprimento
I 35,56 (1,40) 640,08 (25,20) 20 1.422,4 (56)
II 17,78 (0,70) 675,64 (26,60) 40 1.422,4 (56)
III 11,94 (0,47) 687,32 (27,06) 60 1.422,4 (56)
IV 10,16 (0,40) 690,88 (27,20) 70 1.422,4 (56)
V 8,89 (0,35) 693,42 (27,30) 80 1.422,4 (56)
VI
711,2
(28)
7,11 (0,28) 696,98 (27,44) 100 1.422,4 (56)
As características das rugas geradas durante o curvamento estudadas neste
trabalho são:
• extensão circunferencial (a);
• o número de rugas formadas (RN);
• os parâmetros geométricos:
• razão entre profundidade da ruga e diâmetro do tubo (d/D),
• razão entre o comprimento de onda da ruga com sua
profundidade (L/d);
• razão entre profundidade da ruga e espessura do tubo (d/t);
• razão entre comprimento circunferencial da ruga e
circunferência do tubo (a/C);
• razão entre diâmetro e espessura do tubo (D/t).
Para efeitos de comparação geométrica entre comprimento circunferencial
(a) da ruga e a circunferência do tubo ( DC ×= π ), a/C, Rosenfeld [21, 22] obteve
a seguinte relação de C
a com
t
d mostrada na eq. (42). Neste trabalho, ela será
utilizada como comparação para a geometria do enrugamento encontrado.
144,0108,0 +
×=
t
d
C
a (42)
Capítulo 4. Metodologia 115
Figura 37 – Geometria do tubo e do enrugamento
Algumas normas [46, 54] determinam que o raio mínimo de curvamento
deva ser 30D (30 vezes o diâmetro nominal do tubo), mas para agravar a condição
do enrugamento nesta dissertação será considerado o valor de raio mínimo de
14D. Para a geometria do modelo isto implica um ângulo de 8° para cada um dos
casos estudados, conforme a eq. (43).
c
t
R
L
×
×=
πα
180 (43)
onde, α é o ângulo descrito, tL o comprimento do tubo e cR o raio de
curvamento.
Os valores correspondentes ao ângulo de curvatura dado ao tubo nos casos
em estudo podem ser vistos na Tabela 8, assim como o valor em graus do
curvamento por diâmetro de tubo (°/D).
Foi realizado um levantamento de valores junto à literatura [85] de tubos
que apresentaram enrugamento e suas características. Estas informações estão
apresentadas na Tabela 9.
Capítulo 4. Metodologia 116
Tabela 8 – Valores para raio de curvatura nos modelos
Caso Ângulo Imposto
Raio de Curvatura
°/D
I 8° 14D 4°
II 8° 14D 4°
III 8° 14D 4°
IV 8° 14D 4°
V 8° 14D 4°
VI 8° 14D 4°
A partir das informações contidas na Tabela 9 foi possível avaliar a
formação do enrugamento em diversos diâmetros, espessuras, limite de
escoamento, tipo de solda longitudinal e na presença de revestimento ou não. Com
estas informações foi determinado o ângulo a ser estudado (8°), pois era
necessário um ângulo onde houvesse a formação do enrugamento e que o
enrugamento apresentasse severidade na sua geometria.
Capítulo 4. Metodologia 117
Tabela 9 – Levantamento de casos de enrugamento [85]
Grau D x t Solda da
costura
Revestimento
FBE
Relação
D/t
Ângulo da
curva (°/D)
Tubos que desenvolveram enrugamento em baixos ângulos de curva
Grau B 24 X 0,25 Espiral
DSAW Sim 96 <1,2
X42 8 X 0,172 ERW Sim 50 1,5
X42 8 X 0,188 ERW Sim 46 <1,0
X42 12 X 0,203 ERW Sim 63 0,5
X42 12 X 0,25 ERW Sim 51 0,3-0,6
X52 12 X 0,25 ERW Sim 51 0,5
X52 24 X 0,375 DSAW Sim 64 <1,5
X60 24 X 0,25 DSAW Sim 96 <1,5
X60 24 X 0,25 ERW Sim 96 Não
X65 10 X 0,188 ERW Sim 57 Não
X65 36 X 0,312 DSAW Sim 115 1,3
X65 36 X 0,346 DSAW Sim 104 0,4
X65 36 X 0,450 DSAW Sim 80 Não
X65 40 X 0,440 DSAW Sim 91 1,4
X70 36 X 0,334 DSAW Sim 108 Não
Tubos que foram curvados no campo sem apresentarem problemas
X42 8 X 0,172 ERW Não 50 5,5
X42 10 X 0,188 ERW Sim 57 >3,5
X42 12 X 0,203 ERW Não 63 >1,0
X65 30 X 0,281 DSAW Sim 107 1,5
X65 36 X 0,438 DSAW Sim 82 1,9
X70 36 X 0,312 DSAW Sim 115 Não
Nota: ERW (eletric resistance welding) e DSAW (Double Submerged Arc
Welded) são processos de soldagem utilizados para solda longitudinal (costura do
tubo). ERW é uma solda por resistência elétrica e DSAW é uma solda dupla por
arco submerso.
Capítulo 4. Metodologia 118
4.3
MODELAGEM
Um modelo, sólido, de elementos finitos, não-linear (elásto-plástico e de
grandes deslocamento e deformações) utilizando o programa ABAQUS® foi
elaborado para avaliar o comportamento de enrugamentos, obtidos a partir do
curvamento de tubos API 5L de alta resistência mecânica e alta razão diâmetro
espessura, sob pressão interna. Foi utilizado um modelo multilinear representativo
de ensaio de tração uniaxial, com valores corrigidos para tensão-deformação
verdadeira (Tabela 6).
O software Abaqus utiliza o método Newton-Raphson [86] para obter a
solução de problemas não-lineares [83].
A seguir são apresentadas as decisões tomadas quanto à geometria do
modelo, condições de contorno e a malha utilizada.
4.3.1
GEOMETRIA
O material foi caracterizado como um modelo multilinear representativo do
ensaio de tração uniaxial, e os valores foram corrigidos para tensão verdadeira,
conforme já mostrado na Tabela 6.
Uma vez definido o material, é necessário que a geometria a ser analisada
seja modelada.
O modelo confeccionado é um sólido deformável e utiliza geometria
tridimensional, para permitir a obtenção de efeitos localizados na espessura da
parede. Foi criado a partir de uma seção extrudada.
A geometria inicial é uma seção de 180° de tubo reto, devido à simetria de
forma, para aumento da eficiência computacional. Possui 1.422,4 mm (56”) de
comprimento, para se aproximar do comprimento do tubo sobre o berço. A razão
D/t varia de acordo com o caso em estudo, como já mostrado na Tabela 7.
Na Tabela 10 são apresentados os dados construtivos inseridos no Abaqus®
para que fosse construído o modelo.
Capítulo 4. Metodologia 119
Tabela 10 – Dados construtivos para o Abaqus® – unidades em mm (pol.)
Caso Raio Externo Raio Interno Comprimento D/t
I 355,6 (14”) 320,04 (12,6”) 1.422,4 (56”) 20
II 355,6 (14”) 337,82 (13,3”) 1.422,4 (56”) 40
III 355,6 (14”) 343,66 (13,53”) 1.422,4 (56”) 60
IV 355,6 (14”) 345,44 (13,6”) 1.422,4 (56”) 70
V 355,6 (14”) 346,71 (13,65”) 1.422,4 (56”) 80
VI 355,6 (14”) 348,49 (13,72”) 1.422,4 (56”) 100
A seguir é apresentado um esquema descrevendo o enrugamento criado
durante o processo de curvamento, Figura 38. Os pontos de estudo são descritos
através de letras.
Figura 38– Representação do enrugamento criado em FEM
As regiões neste enrugamento são descritas da seguinte forma:
• A – região longe do enrugamento;
• B – região do tubo próximo à mudança de geometria do
enrugamento – lado interno;
• C – pico/vale do enrugamento – lado interno;
• D – região do tubo próximo à mudança de geometria do
enrugamento – lado externo;
• E – pico/vale do enrugamento – lado externo.
Na seção 5, os resultados serão apresentados localizando-os segundo os
pontos aqui descritos.
Capítulo 4. Metodologia 120
4.3.2
CONDIÇÕES DE CONTORNO
As condições de contorno aplicadas ao modelo foram definidas com o
objetivo de representar as condições reais de aplicação do curvamento e para
evitar deformações decorrentes do modo de aplicação da rotação imposta.
No modelo foi aplicado um deslocamento prescrito, através de uma rotação
imposta em uma das extremidades. Na outra extremidade foram impostas
limitações cinemáticas, aproximando-se do ocorrido durante o processo de
curvamento a frio de campo (Figura 39).
Figura 39 – Modelo para análise de tubo submetido a uma rotação
A técnica para a modelagem das condições de contorno e carregamento
pode interferir no comportamento do tubo flexionado, como sugere a Figura 40.
Figura 40 – Deformação devido a erro no processo de modelagem
O deslocamento imposto, assim como as restrições na outra extremidade do
tubo, são aplicados no centro e distribuídos ao longo das extremidades do modelo
em vários nós, como mostrado na Figura 41.
Capítulo 4. Metodologia 121
Figura 41 – Modelo de condição de contorno
A introdução de restrições nos graus de liberdade relacionados à ovalização
na seção oposta a que recebe a carga concentrada simula a existência de um
enrijecedor na extremidade do modelo, como o imobilizador ou o mandril
pneumático no curvamento a frio, evitando a distorção observada por Brazier [35].
Essa técnica, também utilizada na extremidade de aplicação da rotação, permite
uma distribuição mais uniforme do carregamento ao longo de toda a superfície,
aproximando assim, a condição de carregamento do estado de flexão pura.
O modelo passa por duas condições distintas de carregamento: rotação e
pressão interna. A condição de contorno também é distinta para cada uma das
condições.
Para o passo de rotação do modelo, as condições de contorno são aplicadas
em 3 pontos da geometria. O modelo geométrico é simétrico no planos 2-3 como
apresentado na Figura 42 e as condições de contorno de simetria restringem um
grau de liberdade de deslocamento e dois de rotação no plano perpendicular da
direção de deslocamento prescrito (U1=UR2=UR3=0). A simetria no plano 1-2
não é aplicada já que a ovalização não é objeto de estudo deste trabalho, desta
forma o tubo foi engastado (U1=U2=U3=UR1=UR2=UR3=0) no ponto criado na
linha de centro de uma das faces.
Capítulo 4. Metodologia 122
Figura 42 – Condições de contorno do modelo no passo de rotação
A rotação prescrita, necessária para o efeito de curvamento ou flexão do
tubo, é aplicada na direção UR1, como mostrado na Figura 42. Esta rotação,
conforme já mencionado, é aplicada em um ponto do centro da face externa do
tubo que se conecta à face do tubo por meio de acoplamentos, de forma a
distribuir a rotação em toda a face. A face fica então restrita aos deslocamentos e
rotações a que o ponto central de referência está sujeito. A rotação é aplicada de
forma crescente (rampa) ao longo do passo em questão.
Após aplicada a rotação foi criada uma etapa para que o efeito mola do tubo
(springback) pudesse ocorrer. As condições de contorno permanecem as mesmas,
com exceção ao momento aplicado, que agora é retirado de forma gradual ao
longo do passo.
Para dos passos de aplicação de pressão interna, a condição de contorno de
simetria do tubo permanece, assim como a condição de engaste na face do tubo. A
face onde foi aplicada a rotação nestes passos tem sua condição de contorno
alterada para engaste (U1=U2=U3=UR1=UR2=UR3=0), de forma a não permitir
movimentação das extremidades do tubo, pois um tubo enterrado e longo não
Capítulo 4. Metodologia 123
possui movimentação de suas extremidades devido à alteração da pressão, ver
Figura 43.
Foram criados três passos de ciclo de pressão e dois de alívio da aplicação
desta pressão. As pressões foram aplicadas em toda a superfície interna do tubo de
forma gradual (rampa), assim como seu descarregamento.
Foram associadas coordenadas cilíndricas locais para que os resultados não
fossem alterados pela rotação do modelo. À medida que o duto flexiona, o sistema
de coordenada local acompanha a mudança de direção do duto, sempre medindo o
valor de deformação longitudinal na direção alinhada com o eixo do duto.
Figura 43 – Condições de contorno do modelo no passo de aplicação de pressão
4.3.3
MALHA E ELEMENTOS
Foram utilizados elementos sólidos 3D com o objetivo de capturar
detalhadamente os efeitos de flambagem localizada. A malha empregada deve ser
suficientemente refinada para capturar efeitos localizados com precisão.
Capítulo 4. Metodologia 124
A malha considerada no modelo executado foi do tipo hexagonal (elemento
tridimensional).
O algoritmo de discretização é o conjunto de regras adotado para a
construção da malha. Na escolha dos algoritmos existem duas opções, o medial
axis e o advancing front. O algoritmo utilizado é o medial axis que, inicialmente,
decompõe a região a ser discretizada em grupos de regiões mais simples. O
algoritmo então usa técnica de malha estruturada para preencher cada região mais
simples com elementos. Se a região a ser discretizada é relativamente simples e
possui um grande número de elementos, o algoritmo medial axis gera a malha
mais rápido que o algoritmo advancing front. Este gera malhas com elementos
quadriláteros nos limites da região e continua a gerar elementos quadriláteros
conforme a geração da malha se move sistematicamente para o interior da região
[83].
Dentre as possíveis técnicas para geração da malha no modelo, estruturada e
sweep, optou-se pela técnica sweep. Este tipo de técnica de malha é muito
utilizada para sólidos complexos e regiões de superfície [83]. Aqui foi utilizada a
técnica sweep, para que a malha já não iniciasse com uma deformação inicial
devido à diferença de raio entre as superfícies interna e externa do tubo, como
ocorreria se a técnica estruturada fosse utilizada, pois, nesta técnica uma topologia
de malha simples pré-definida é gerada.
O elemento utilizado é de primeira ordem. Elementos de segunda ordem
oferecem maior precisão do que os de primeira ordem para problemas que não
envolvam condições complexas de contato, impacto ou distorções severas de
elementos.
O elemento utilizado possui integração reduzida (reduced integration) que
faz uso de uma integração de menor ordem para determinação da rigidez do
elemento [87]. Essa opção foi escolhida para que fosse reduzido o tempo de
processamento.
Considerando todos os fatores já descritos, a malha utilizada nas análises é
constituída de elementos sólidos hexaédricos de 8-nós do tipo “C3D8R”, com
integração reduzida. Este é um elemento linear que, com uma boa resolução de
malha, representa de forma eficiente os efeitos de flambagem necessários sem
comprometer o tempo de solução. O comprimento médio dos elementos utilizados
foi de 25,4 mm, perfazendo um total de 56 elementos ao longo do comprimento
Capítulo 4. Metodologia 125
do tubo. Na curvatura da seção do modelo foram definidos 80 elementos, para que
fosse obtida uma boa representatividade de sua circunferência.
Para a espessura de parede do duto, Casos III a VI, foram utilizadas 4
camadas de elementos, suficientes para descrever com precisão as tensões e
deformações ao longo da espessura de parede do tubo. Os Casos I e II, de maior
espessura, foram utilizadas 7 camadas de elementos.
O número de pontos de integração ao redor da seção transversal do tubo foi
definido empiricamente com base no alcance de um patamar, onde os
refinamentos não implicam alteração substancial nos resultados obtidos, como
será visto na próxima seção, na análise de sensibilidade de malha.
4.3.4
PASSOS
Foram realizados 7 passos ou steps para cada caso estudado. Cada passo
possui subpassos (step time) necessários para a convergência do método
numérico. A realização do curvamento ocorre no passo 1; o passo 2 é o efeito
mola do curvamento; no passo 3 é aplicada sobrepressão equivalente à tensão
circunferencial produzida de 100% de SMYS; o passo 4 correspondente ao alívio
da sobrepressão; no passo 5 ocorre a primeira aplicação de pressão igual a 80% de
SMYS; o alívio desta aplicação de pressão corresponde ao passo 6; e, por fim, a
segunda aplicação de pressão igual a 80% SMYS, que corresponde ao passo 7.
Um resumo dos passos necessários à simulação podem ser vistos na Tabela 11.
Capítulo 4. Metodologia 126
Tabela 11 – Descritivo dos passos realizados em FEM
Passo Subpasso Descrição
1 0-1 Curvamento
2 1-2 Efeito Mola
3 2-3 Sobrepressão
4 3-4 Alívio
5 4-5 Pressão 1
6 5-6 Alívio
7 6-7 Pressão 2
4.4
ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE MALHA
O resultado do curvamento e aplicações de pressão subseqüentes foram
obtidos após a análise do modelo descrito. Entretanto, existe a possibilidade do
resultado ser dependente da malha que discretiza o sólido. Para certificar que a
discretização da malha não influencia o resultado obtido, foi realizado um teste de
sensibilidade de malha com o Caso IV. Neste teste a malha pode ser aumentada ou
diminuída para verificar o quanto ela influencia no resultado. No caso estudado, a
opção escolhida foi refinar a malha utilizada, aumentando o número de elementos
ao longo do tubo e também na espessura.
No modelo refinado foram utilizadas 8 camadas de elementos na espessura e
80 elementos por camada ao longo do comprimento do tubo. Este refinamento
gerou um total de 99.840 elementos, quase 6 vezes a quantidade de elementos do
caso não refinado.
O Gráfico 7 mostra a superposição dos dois casos, que apresentam pouca
variação em seus resultados.
Capítulo 4. Metodologia 127
0,00E+00
5,00E+05
1,00E+06
1,50E+06
2,00E+06
2,50E+06
0 1 2 3 4 5 6 7 8Ângulo (°) - Passo 1 - Momento
Mom
ento
(N
x m
)
Momento Caso IV - 17.600 Elementos
Momento Caso IV - 99.840 Elementos
Gráfico 7 – Comparação do momento Caso VI para as duas discretizações de malha
O ponto com maior diferença de momento entre os dois casos analisados,
malha refinada e malha utilizada, possui erro menor que 11% e se encontra após o
momento máximo. Até o ponto de momento máximo há pouca variação entre os
dois refinamentos de malha. No ponto de máximo momento a diferença entre
momentos é próxima a 0% e a diferença entre ângulos obtidos neste ponto é de
7%.
O valor de momento máximo encontrado é importante pois é o ponto de
máximo limite já explicado na seção 2.3.4. A ele se seguem o ponto de início
catastrófico da redução da capacidade de momento e a região de suavização.
4.5
TIPOS DE ANÁLISE
Nesta dissertação serão executadas análises quanto ao ponto de iniciação do
enrugamento, resistência ao carregamento estático e análise de vida em fadiga.
Nas seções seguintes os estudos realizados em cada um destes casos são
explicados. Não foram realizadas análises quanto a instabilidade à flexão, ponto
Capítulo 4. Metodologia 128
de bifurcação ou acompanhamento da instabilidade ocorrida durante a flexão do
modelo.
4.5.1
COLAPSO
Será analisado o ponto de início de formação do enrugamento com relação
a:
• D/t X Momento aplicado;
• D/t X ângulo;
• aplicadoMomentoângulo× ;
• 01 M
icadoMomentoapl
K
ângulo× [31, 33, 88].
Este último é um método de adimensionalização do momento e da curvatura
porposto por Kyriakides et al. [31, 33, 88]. Os momentos e curvaturas obtidos são
divididos pelos valores encontrados na eq. (44), para momento ( 0M ), e na eq.
(45), para curvatura ( 1K ), respectivamente.
( ) ttDSMYSM ×−×=2
0 (44)
( )21tD
t
−=Κ (45)
Os valores encontrados serão comparados com valores propostos pela
literatura para colapso plástico, por Superb [42] e pela DNV [45]. Os valores de
momento também serão comparados entre os diversos casos, assim, optou-se por
utilizar o mesmo valor de diâmetro para todos os casos. O único caso
adimensional de momento e curvatura analisado será o proposto por Kyriakides
(01 M
icadoMomentoapl
K
Ângulo× ).
Capítulo 4. Metodologia 129
4.5.2
CARREGAMENTO ESTÁTICO
Neste trabalho a verificação quanto a carregamentos estáticos será realizada
através da aplicação de uma sobrepressão correspondente à tensão circunferencial
nominal produzida de 100% de SMYS, e aplicações subseqüentes de pressões que
induzem à uma tensão circunferencial de 80% de SMYS. Os valores de pressão
aplicados foram determinados utilizando a eq. (46) para tensão circunferencial
( cσ ) em tubos de parede fina [67, 81].
t
DPc
×
×=
2σ (46)
Os valores de pressão para cada caso podem ser vistos na Tabela 12 para o
material API X70.
Tabela 12 – Pressões utilizadas – unidades em MPa (ksi)
Caso Relação D/t Pressão de Teste Pressão de Projeto
I 10 48,3 (7,00) 38,6 (5,60)
II 20 24,1 (3,50) 19,3 (2,80
III 40 16,2 (2,35) 13,0 (1,88)
IV 60 13,8 (2,00) 11,0 (1,60)
V 80 12,1 (1,75) 9,7 (1,40)
VI 100 9,6 (1,40) 7,7 (1,12)
Nota: Material API X70
A geometria do enrugamento formado será registrada e sua influência como
fator concentrador de tensão também será analisada.
Capítulo 4. Metodologia 130
4.5.3
VIDA EM FADIGA
A análise de vida em fadiga no presente trabalho se dará pela aplicação do
método de Markl [74], determinação de SCFR para aplicação na regra de Neuber
[68] e Manson [68] (método εN de iniciação da trinca) e a verificação de vida em
fadiga segundo o código ASME seção VIII divisão 2 [71], com as tensões obtidas
pelo método de elementos finitos aqui proposto e pelo SCFR proposto por
Rosenfeld et al..
Verificam-se também estimativas para vida em fadiga segundo as equações
de Markl e Markl modificada segundo Rosenfeld, utilizando a variação de tensão
encontrada por elementos finitos.
Markl define a vida em fadiga (N) utilizando a eq. (47), para C=245.000,
i=0,5 e S a amplitude de tensão supostamente elástica pela aplicação de E a ∆ε,
que pode ser plel εε ∆+∆ .
CNSi =××2,0 (47)
A eq. (48) é uma modificação na equação anterior onde ES ×∆
=2ε
.
5
2
01655,0
∆=
εN (48)
A eq. (49) é aproximadamente a equação proposta por Rosenfeld et al. [21,
22], deduzida pela autora desta dissertação, a partir de informações e dados
apresentados no artigo.
×××≈E
SCFFSiN
01655,0
9,2 (49)
Capítulo 4. Metodologia 131
onde, para a eq. (49), i=3, FS é a amplitude da tensão circunferencial aplicada,
obtida a partir de um fator multiplicado ao limite de escoamento do material.
Serão avaliados 2 SCF. O SCFFEM da tensão encontrada, por elementos
finitos pela metodologia proposta pela presente dissertação, com a tensão
circunferencial de um tubo reto de parede fina, dado que o ângulo gerado no tubo
é tão pequeno que a aproximação para tubo reto não gera grandes diferenças. E
também o SCFR encontrado por Rosenfeld para um tubo enrugado, eq. (50).
874,2014,0783,0055,1815,0
122,0−−
×
×
×
×
×=
C
a
d
L
t
d
D
d
t
DSCFR (50)
A tensão na região crítica pode ser calculada pela eq. (51), onde SCFFEM é
fator de concentração de tensão, que depende da geometria do componente e da
descontinuidade [62], σ é tensão nominal e σc a tensão crítica encontrada por
elementos finitos.
σσ ×= FEMc SCF (51)
Os 2 SCF calculados terão a vida em fadiga avaliada segundo o ASME [71].
O SCFR ainda terá uma avaliação da sua vida em fadiga segundo a equação das
Inclinações Universais de Manson (eq. (31)).
Sempre que aqui for mencionado o SCF este não tem qualquer relação com
fator de intensificação de tensão (SIF, do inglês stress intensification factors)
utilizados nos códigos ASME B31. O SCF é baseado na relação entre a tensão
crítica (máxima) encontrada e a tensão nominal.