Aplicac3a7c3a3o Do Whoqol 100

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33 Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública VOLUME 33 NÚMERO 2 ABRIL 1999 © Copyright Faculdade de Saúde Pública da USP. Proibida a reprodução mesmo que parcial sem a devida autorização do Editor Científico. Proibida a utilização de matérias para fins comerciais. All rights reserved. Revista de Saúde Pública Journal of Public Health p. 198-205 Aplicação da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100)* Application of the portuguese version of the instrument for the assessment of the quality of life of the World Health Organization (WHOQOL-100) Marcelo P. A. Fleck, Sérgio Louzada, Martha Xavier, Eduardo Chachamovich**, Guilherme Vieira**, Lyssandra Santos**, Vanessa Pinzon** Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS - Brasil FLECK Marcelo P. A., Sérgio Louzada, Martha Xavier, Eduardo Chachamovich**, Guilherme Vieira**, Lyssandra Santos**, Vanessa Pinzon** Aplicação da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100)* Rev. Saúde Pública, 33 (2): 198-205, 1999 www.fsp.usp.br/~rsp

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  • 33Universidade de So PauloFaculdade de Sade Pblica

    VOLUME 33NMERO 2ABRIL 1999

    Copyright Faculdade de Sade Pblica da USP. Proibida a reproduo mesmo que parcial sem a devida autorizao do Editor Cientfico.Proibida a utilizao de matrias para fins comerciais. All rights reserved.

    Revista de Sade PblicaJournal of Public Health

    p. 198-205

    Aplicao da verso em portugus do instrumentode avaliao de qualidade de vida da OrganizaoMundial da Sade (WHOQOL-100)*Application of the portuguese version of theinstrument for the assessment of the quality of life ofthe World Health Organization (WHOQOL-100)Marcelo P. A. Fleck, Srgio Louzada, Martha Xavier, Eduardo Chachamovich**, GuilhermeVieira**, Lyssandra Santos**, Vanessa Pinzon**

    Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do RioGrande do Sul. Porto Alegre, RS - Brasil

    FLECK Marcelo P. A., Srgio Louzada, Martha Xavier, Eduardo Chachamovich**, Guilherme Vieira**, LyssandraSantos**, Vanessa Pinzon** Aplicao da verso em portugus do instrumento de avaliao de qualidade de vida daOrganizao Mundial da Sade (WHOQOL-100)* Rev. Sade Pblica, 33 (2): 198-205, 1999 www.fsp.usp.br/~rsp

  • Correspondncia para/Correspondence to:Marcelo P. A. FleckRua Ramiro Barcellos, 2350 - 4 andar -90035-003 Porto Alegre, RS - BrasilE-mail: [email protected]

    Aplicao da verso em portugus doinstrumento de avaliao de qualidade de vidada Organizao Mundial da Sade(WHOQOL-100)*Application of the portuguese version of theinstrument for the assessment of the quality oflife of the World Health Organization(WHOQOL-100)Marcelo P. A. Fleck, Srgio Louzada, Martha Xavier, Eduardo Chachamovich**, GuilhermeVieira**, Lyssandra Santos**, Vanessa Pinzon**

    Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS - Brasil

    Resumo

    IntroduoO Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolveu um instrumento de avalia-o de Qualidade de Vida, o WHOQOL-100 que est traduzido para 20 idiomas(WHOQOL GROUP, 1998). A aplicao do instrumento na verso em portu-gus o objetivo do trabalho.Mtodos

    Foram aplicados em 250 pacientes provenientes de quatro grandes reas mdi-cas (psiquiatria, clnica, cirurgia e ginecologia) de um hospital de clnicas dePorto Alegre, RS, e em 50 voluntrios-controles o Instrumento de Avaliao deQualidade de Vida da OMS (WHOQOL-100), o Inventrio de Beck para a de-presso (BDI) e a Escala de Desesperana de Beck (BHS).Resultado e Concluses

    O Instrumento mostrou bom desempenho psicomtrico com caractersticassatisfatrias de consistncia interna, validade discriminante, validade de crit-rio, validade concorrente e fidedignidade teste-reteste. Concluiu-se que o ins-trumento est em condies de ser usado no Brasil, sendo importante avaliar seudesempenho em outras regies e em diferentes amostras de indivduos.

    DescritoresOrganizao Mundial da Sade.Qualidade de vida.Avaliao, escala

    * Financiado pela FIPE-Hospital de Clnicas de Porto Alegre (Processo n 96134).**Alunos de graduao.Recebido em 13.3.1998. Reapresentado em 24.8.1998. Aprovado em 28.10.1998.

    198 Rev. Sade Pblica, 33 (2): 198-205, 1999www.fsp.usp.br/~rsp

  • Abstract

    ObjectiveThe WHOQOL group have developed an instrument to evaluate Quality of Life,the WHOQOL-100, available in 20 different languages (WHOQOL Group,1998). The field trial of the portuguese version of the instrument is presented.

    Methods

    Two hundred and fifty patients from four main medical areas (Psychiatry, Clini-cal, Surgery and Ginecology) of the Hospital de Clnicas de Porto Alegre and 50controls were evaluated with the Portuguese version of the WHO Quality of LifeInstrument (WHOQOL-100), Beck Depression Inventory (BDI) and Beck Hope-lessness Scale (BHS) in Porto Alegre, south Brazil.

    Results and ConclusionThe instrument showed a good psychometric performance with good internalconsistency, discriminant validity, criterion validity, concurrent validity and re-liability. The authors conclude that the intrument is ready for use in Brazil, itbeing important to evaluate its performance in other regions and with differentsamples.

    KeywordsWorld Health Organization.Quality of life.Evaluation.

    INTRODUO

    A Organizao Mundial da Sade definiu sadecomo um estado de bem-estar fsico, mental e sociale no meramente a ausncia de doena. No entanto,as diferentes reas da medicina sempre priorizaramo estudo da doena e das formas de avaliar sua fre-qncia e intensidade (Orley et al.8, 1998).

    Recentemente tem-se buscado desenvolver ins-trumentos que avaliem bem-estar e qualidade de vida(Gill e Feinstein5, 1993; Guyatt et al.6, 1993). Na suagrande maioria esses instrumentos so desenvolvi-dos nos Estados Unidos ou na Inglaterra e traduzi-dos para utilizao em diferentes pases (WHOQOLGROUP11, 1995; Bullinger2, 1994). A utilizao des-ses instrumentos em culturas diferentes tem sidoobjeto de crticas (Fox-Rushby e Parker4, 1995) econsideraes (Bullinger et al.1, 1993; Patrick et al.9,1994).

    A constatao de que no havia nenhum instru-mento que avaliasse qualidade de vida dentro de umaperspectiva transcultural motivou a OrganizaoMundial da Sade a desenvolver um instrumento comestas caractersticas (WHOQOL GROUP11, 1995) .O grupo de Qualidade de Vida da OMS, sob a coor-denao de John Orley, definiu qualidade de vidacomo a percepo do indivduo de sua posio navida no contexto da cultura e sistema de valores nosquais ele vive e em relao aos seus objetivos, ex-

    pectativas, padres e preocupaes (WHOQOLGROUP10, 1994). Nesta definio fica implcito queo conceito de qualidade de vida subjetivo, multidi-mensional e que inclui elementos de avaliao tantopositivos como negativos.

    O Instrumento de avaliao de qualidade de vidada OMS (WHOQOL*-100) est atualmente dispon-vel em 20 idiomas diferentes (WHOQOL GROUP12,1998). O desenvolvimento da verso em portugusseguiu a metodologia proposta pela Organizao Mun-dial da Sade e foi descrita em outra publicao (Flecket al.3, 1999).

    O objetivo do presente trabalho mostrar a apli-cao do teste de campo do WHOQOL-100 em umaamostra de pacientes da cidade de Porto Alegre, Suldo Brasil.

    MTODOS

    Entre os meses de julho e dezembro de 1996, foramaplicados em uma amostra de 250 pacientes de um hospi-tal de clnicas de Porto Alegre e em 50 voluntrios-con-troles os seguintes instrumentos: verso em portugus doInstrumento de Avaliao de Qualidade de Vida da OMS(WHOQOL-100), inventrio de Beck para a depresso(BDI) e a Escala de Desesperana de Beck (BHS).

    A amostra de pacientes foi constituda a partir dos se-guintes critrios: a) os pacientes deveriam ser adultos (ida-de acima de 18 anos ou exercendo papel social de adulto);b) 50% da amostra deveria ter idade menor que 45 anos; c)

    * World Health Organization Quality of the Assessment.

    Aplicao da verso em portugus do WHOQOL-100Fleck MPA et al.

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  • Aplicao da verso em portugus do WHOQOL-100Fleck MPA et al.

    200 Rev. Sade Pblica, 33 (2), 1999www.fsp.usp.br/~rsp

    50% da amostra deveria ser do sexo feminino: c) a metadedeveria ser constituda por pacientes hospitalizados (p.exdiabetes descompensado) e a outra metade por pacientesem tratamento ambulatorial (p.ex. infeces respiratrias)ou em contato com o servio de sade por condies desade mais leves (p.ex. hipertenso arterial). Os pacientesforam recrutados das quatro grandes reas de atendimentomdico: clnica mdica, cirurgia, ginecologia e psiquiatria

    Assim, dos 250 pacientes, 121 (48%) eram pacientesambulatoriais e 129 (52%) estavam internados. Os pacien-tes provinham das seguintes reas bsicas: clnica (104pacientes), cirurgia (65 pacientes), ginecologia (29 pacien-tes) e psiquiatria (52 pacientes).

    Os 50 indivduos-controles foram selecionados entreos funcionrios da Universidade Federal do Rio Grandedo Sul e deveriam apresentar resposta negativas s trsperguntas que se seguem: (a) Voc tem alguma doenacrnica ? (b) Voc usa algum remdio de forma regularatualmente ? (c) Voc consultou algum mdico ou profis-sional de sade no ltimo ms (exceo feita s consultasde preveno, por exemplo revises em ginecologia )?

    Com o objetivo de avaliar a percepo subjetiva dasade foi feita a pergunta Como est sua sade. Ospacientes distriburam-se da seguinte forma: 6,7% consi-deraram muito ruim; 9,7%, fraca; 33,3%, nem ruim nemboa; 38%, boa e 12,3% muito boa.

    As demais caractersticas da amostra encontram-se naTabela 1.

    Tabela 1 - Caractersticas gerais da amostra.

    Variveis N

    Idade: mdia (dp) 43,8 (15,7)Sexo (mulheres/homens) 149/151Estado civil

    Solteiros 80 (26,7%)Casados 179 (59,7%)Separados 27 (9,0%)Vivos 14 (4,7%)

    Nvel de escolaridadeAnalfabeto 8 (2,7%)I Grau 145 (48,3%)II Grau 81 (27,0%)III Grau 66 (21,9%)

    Todos os indivduos foram informados sobre os obje-tivos da pesquisa e confidencialidade dos dados. Tambmfoi assinado consentimento de participao avaliado pelaComisso de tica em Pesquisa do hospital estudado.

    Os entrevistadores eram estudantes de medicina daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, previamentetreinados para a aplicao do questionrio.

    Como o WHOQOL-100 um instrumento de auto-ava-liao, ele auto-explicativo. Quando o respondente noentendia o significado de alguma pergunta o entrevistadorrelia a pergunta de forma lenta (aplicao assistida). Noforam utilizados sinnimos ou dadas explicaes em ou-tras palavras da questo, para evitar a modificao do sen-

    tido original da questo. Quando o respondente no tinhacondies de ler o questionrio em funo de suas condi-es de sade ou de alfabetizao, o questionrio era lidopelo entrevistador (aplicao administrada). Assim, em re-lao forma de administrao do questionrio, 48,7% fo-ram auto-administrados, 32,3% foram assistidos peloentrevistador e 19% foram administrados pelo entrevistador.

    O WHOQOL-100 um instrumento que possui seisdomnios (psicolgico, fsico, nvel de independncia,relaes sociais, ambiente e espiritualidade). Cada dom-nio constitudo por facetas que so avaliadas por quatroquestes. Assim, o Instrumento composto por 24 facetasespecficas descritas na Tabela 2 e uma faceta geral queinclui questes de avaliao global de qualidade de vida.

    RESULTADOS

    Consistncia Interna

    A consistncia interna do WHOQOL-100 para asfacetas, domnios, domnios + facetas e questes foi

    Tabela 2 - Domnios e facetas do Instrumento de Avaliaode Qualidade de Vida da OMS (WHOQOL).

    Domnio I - Domnio fsico1. Dor e desconforto2. Energia e fadiga3. Sono e repouso

    Domnio II - Domnio psicolgico4. Sentimentos positivos5. Pensar, aprender, memria e concentrao6. Auto-estima7. Imagem corporal e aparncia8. Sentimentos negativos

    Domnio III - Nvel de independncia9. Mobilidade

    10. Atividades da vida cotidiana11. Dependncia de medicao ou de tratamentos12. Capacidade de trabalho

    Domnio IV - Relaes sociais13. Relaes pessoais14.Suporte (Apoio) social15. Atividade sexual

    Domnio V - Ambiente16. Segurana fsica e proteo17. Ambiente no lar18. Recursos financeiros19. Cuidados de sade e sociais : disponibilidade e

    qualidade20. Oportunidades de adquirir novas informaes e

    habilidades21. Participao em, e oportunidades de recreao/

    lazer22. Ambiente fsico: (poluio/rudo/trnsito/clima)23. Transporte

    Domnio VI - Aspectos espirituais/religio/crenaspessoais

    24. Espiritualidade/religio/crenas pessoais

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    avaliada pelo coeficiente de fidedignidade deCronbach e apresentada na Tabela 3.

    O coeficiente de Cronbach mostra valores eleva-dos quando se tomam as questes, as facetas e osdomnios individualmente, atestando a boa consis-tncia interna do Instrumento.

    Tabela 3 - Coeficiente de fidedignidade de Cronbach dasfacetas, domnios, domnios + facetas, 100 questes.

    Itens Coeficiente Nmero Nmero

    considerados de de deCronbach casos itens

    Facetas 0,83 288 25Domnios 0,82 297 6Domnios + facetas 0,89 288 31100 questes 0,93 246 100

    Validade Discriminante

    Para avaliar a validade discriminante, comparou-se o escore mdio de cada um dos 6 domnios entreo grupo de pacientes (n=250) e de controles (n=50).Com exceo do domnio 6 (espiritualidade/religio/crenas pessoais) em que a probabilidade de F foi

    limtrofe (p=0,06), nos demais domnios os pacien-tes tiveram piores escores de qualidade de vida doque entre os controles (Tabela 4).

    A Tabela 5 mostra a anlise de varincia dos dife-rentes domnios em relao a especialidade em queos pacientes foram atendidos. Observa-se que os pa-cientes da psiquiatria tm uma tendncia a ter os pio-res escores independente dos domnios, com exceodo domnio 3 (nvel de independncia) em que os pa-cientes da clnica tem escores inferiores. Por outrolado, os controles apresentam os melhores escores.

    Validade de Critrio

    Nas Tabelas 6 e 7 sero apresentados os dadosreferentes a anlise da validade de critrio.

    A Tabela 6 apresenta uma regresso linear mlti-pla dos domnios em relao faceta que avalia aqualidade de vida geral. Observa-se que, com exce-o do domnio 6, todos os domnios aparecem nummodelo linear explicando 60,5 da varincia.

    Tabela 5 - Anlise de varincia dos 6 domnios em relao origem do paciente.

    Origem Domnio 1 Domnio 2 Domnio 3 Domnio 4 Domnio 5 Domnio 6(Fsico) (Psicolgico) (Nvel indep) (Rel sociais) (Meio-amb) (Espiritual)

    Psiquiatria 11,63 12,71 13,13 12,91 12,73 14,52

    Clnica 12,14 13,8 4 13,0 14,44 12,84 15,4Ginecologia 12,2 14,0 13,5 14,8 13,4 16,0Cirurgia 13,2 14,8 14,3 15,4 13,8 16,0Controle 14,65 15,25 17,15 15,76 14,06 16,3

    Diferena significativa entre os grupos (Duncans multiple range test =0,05):1 Psiquiatria < todos os demais grupos2 Psiquiatria < Ginecologia, Cirurgia e Controle3 Psiquiatria < Cirurgia e Controle4 Clnica < Cirurgia e Controle5 Controle > todos os demais grupos6 Controle > Psiquiatria e Clnica

    Tabela 4 - Comparao dos escores dos domnios em relao presena de doena (controle x paciente).

    Mdia (dp)t ProbabilidadeDomnio

    Controle Paciente de t

    Domnio 1 14,6 12,3 5,3 0,0001(Fsico) (2,4) (2,9)

    Domnio 2 15,2 13,8 4,8 0,0001(Psicolgico) (1,8 (2,3)

    Domnio 3 17,1 13,4 11,0 0,0001(Nvel de independncia) (1,8) (3,4)

    Domnio 4 15,7 14,4 3,9 0,0001(Relaes sociais) (2,0) (2,6)

    Domnio 5 14,0 13,1 3,0 0,003(Meio-ambiente) (2,0) (1,8)

    Domnio 6 16,3 15,4 1,9 0,062(Espiritualidade/religio/crenas (2,8) (3,0)

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    Tabela 7 - Coeficiente de correlao entre os diferentes domnios na amostra total (n=300).

    Domnio Domnio 1 Domnio 2 Domnio 3 Domnio 4 Domnio 5 Domnio 6(Fsico) (Psicolgico) (Nvel indep.) (Rel. sociais) (Meio-amb.) (Espiritual)

    Domnio 1 (Fsico) 0,67 0,71 0,41 0,51 0,22Domnio 2 (Psicolgico) 0,67 0,55 0,67 0,62 0,46Domnio 3 (Nvel de independncia) 0,71 0,55 0,37 0,43 0,18 *Domnio 4 (Relaes sociais) 0,41 0,67 0,37 0,53 0,40Domnio 5 (Meio-ambiente) 0,51 0,62 0,43 0,53 0,33Domnio 6 (Espiritualidade) 0,22 0,46 0,18 * 0,40 0,33

    * p = 0,002 Demais p < 0,0001

    Tabela 6 - Regresso linear mltipla entre os diferentes domnios em relao qualidade de vida de vida geral - (faceta 25).

    Domnio B T Significncia T

    Domnio 1 (Fsico) 0,17 2,66 0,0083Domnio 2 (Psicolgico) 0,25 2,79 0,0056Domnio 3 (Nvel de independncia) 0,11 2,32 0,0210Domnio 4 (Relaes sociais) 0,20 3,23 0,0014Domnio 5 (Meio-ambiente) 0,51 6,44 0,0001Domnio 6 (Espiritualidade/crenas) 0,41 1,03 0,3028Constante -3,7965 -4,217 0,0001

    Percentagem da varincia explicada (R quadrado): 60,5%

    Tabela 8 - Coeficiente de correlao entre os escores dos domnios e o escore total do Inventrio de Beck para depresso eEscala de desesperana de Beck na amostra total (n = 300).

    Instrumentos Domnio 1 Domnio 2 Domnio 3 Domnio 4 Domnio 5 Domnio 6(Fsico) (Psicolgico) (Nvel indep.) (Rel. sociais) (Meio-amb.) (Espiritualidade)

    Inventrio de Beck para depresso - 0,61 - 0,70 - 0,54 - 0,50 - 0,43 - 0,32Escala de desesperana de Beck - 0,37 - 0,59 - 0,35 - 0,47 - 0,38 - 0,43

    p < 0,0001

    Na Tabela 7 so apresentados os coeficientes decorrelao dos domnios entre si. Observa-se que to-dos os domnios apresentam coeficientes de correla-o significativos. O domnio 6 apresenta oscoeficientes de correlao mais baixos em relaoaos demais domnios. Os melhores coeficientes decorrelao encontram-se entre nvel de independn-cia e domnio fsico, domnio fsico e domnio psico-lgico, relaes sociais e domnio psicolgico, meioambiente e domnio psicolgico.

    Validade Concorrente

    Todos os domnios apresentam coeficientes decorrelao significativos com os BDI e BHS confor-me mostra a Tabela 8. O correlao inversa na me-dida em que o escore maior, na medida de qualidadede vida, indica uma melhor qualidade de vida. Nosdois outros instrumentos o escore maior significamais depresso e mais desesperana.

    Fidedignidade Teste-reteste

    Nas Tabela, 9 a 11 so apresentados os dados refe-rentes aos 50 pacientes em que foram aplicados o

    reteste, aproximadamente 4 semanas aps. Nessespacientes no foi possvel controlar a evoluo de suadoena, isto alguns poderiam ter seu estado inalte-rado, melhorado ou piorado. A Tabela 9 mostra a com-parao da mdia entre os escores nos diferentes do-mnios entre o teste e reteste. Observa-se que no hou-ve diferena significativa nas mdias entre os domniosquando se considera o teste e o reteste.

    Tabela 9 - Comparao teste-reteste entre os escores nosdomnios (n = 50).

    Domnio Mdia Probabilidadede T

    Domnio 1 Teste- 13,5 0,40(Fsico) Reteste 13,0

    Domnio 2 Teste- 14,2 0,39(Psicolgico) Reteste 13,7

    Domnio 3 Teste- 14,9 0,27(Nvel indep.) Reteste 14,2

    Domnio 4 Teste- 14,1 0,80(Rel sociais) Reteste 14,0

    Domnio 5 Teste- 13,3 0,50(Meio-amb.) Reteste 13,0

    Domnio 6 Teste- 14,7 0,86(Espiritualidade) Reteste 14,8

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    No entanto, o coeficiente de correlao entre amedida do teste e reteste mostram-se baixos e nosignificativos sugerindo que no houve estabilidadena medida caso a caso (Tabela 10). Isto poderia serdevido a uma instabilidade do estado dos pacientes(os pacientes alteraram sua qualidade de vida no in-tervalo entre as duas medidas) ou por uma instabili-dade do instrumento.

    Na Tabela 11 so apresentadas as correlaesentre a variao dos escores entre os escores do testee reteste. Com exceo do domnio 6 em relao aosdomnios 1 e 3, as diferenas dos escores entre o tes-te e reteste apresentaram coeficientes de correlaosignificativos entre todos os domnios. Isto sugereque a qualidade de vida dos pacientes variou e que oinstrumento atravs de seus diferentes domnios va-riou de forma correlacionada.

    DISCUSSO

    Conforme j mencionado, o presente estudo re-fere-se ao teste de campo da verso em portugus doInstrumento de Avaliao de Qualidade de Vida daOrganizao Mundial da Sade, verso integral com100 questes (WHOQOL-100). Como tal, no foidesenhado para testar hipteses, nem compararsubpopulaes de pacientes. Em relao constitui-o da amostra, foram selecionados pacientes pro-venientes das diferentes especialidades atendidas nohospital bem como os diferentes regimes de atendi-

    mento (ambulatorial e internado). As eventuais com-paraes mostradas no presente estudo tm por ob-jetivo investigar de forma inicial algumas caracte-rsticas de validade discriminante do instrumento.Foge aos presentes objetivos testar reais diferenasentre as diferentes subpopulaes de pacientes.

    As caractersticas psicomtricas do WHOQOL-100 preencheram os critrios de consistncia inter-na, validade discriminante, validade concorrente evalidade de contedo bsicos em uma avaliao pre-liminar.

    O WHOQOL-100 apresentou boa consistnciainterna, medidos pelo coeficiente de Cronbach,quer se tomem as 100 questes ou as 24 facetas, ouainda os 6 domnios.

    A capacidade de discriminar pacientes de indiv-duos-controles (validade discriminante) foi observa-da em todos os domnios exceto no domnio 6 (es-piritualidade/religio/crenas pessoais) que obtevenvel de significncia limtrofe. A no-discrimina-o por parte desse domnio pode ser entendido porfatores referentes ao instrumento ou a amostra estu-dada. Por ser um domnio composto por apenas umafaceta e avaliado por 4 questes, possvel que eletenha um poder de discriminao menor se compa-rado com outros domnios do instrumento. Por outrolado, possvel que a espiritualidade, religio oucrenas pessoais no estejam necessariamente afe-tadas pela condio de doena. Pode-se supor queesse domnio possa estar mais afetado em doentes

    Tabela 10 - Coeficiente de correlao dos escore dos diferentes domnios entre o teste e reteste.

    Domnio Coeficiente de correlao Probabilidade deTeste-reteste T

    Domnio 1 (Fsico) 0,1 0,73Domnio 2 (Psicolgico) -0,1 0,50Domnio 3 (Nvel de Independncia) 0,1 0,60Domnio 4 (Relaes sociais) 0,2 0,23Domnio 5 (Meio-ambiente) -0,0 0,93Domnio 6 (Espiritualidade) 0,1 0,84

    Tabela 11 - Coeficiente de correlao entre a diferena dos escores dos domnios entre o teste e reteste (n = 300).

    Domnio Domnio 1 Domnio 2 Domnio 3 Domnio 4 Domnio 5 Domnio 6(Fsico) (Psicolgico) (Nvel indep.) (Rel. sociais) (Meio-amb.) (Espiritual)

    Domnio 1 (Fsico) 0,64 0,74 0,51 0,50 0,17*Domnio 2 (Psicolgico) 0,64 0,61 0,74 0,65 0,61Domnio 3 (Nvel indep.) 0,74 0,61 0,47 0,48 0,21*Domnio 4 (Rel. sociais) 0,51 0,74 0,47 0,57 0,54Domnio 5 (Meio-amb.) 0,50 0,65 0,48 0,56 0,47Domnio 6 (Espiritualidade) 0,17* 0,61 0,21* 0,54 0,47

    * Correlao no significativa para p = 0,05Demais correlaes significativas para p < 0,001

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    terminais ou pela percepo de uma doena grave.Na medida em que o WHOQOL-100 propem-se aser um instrumento geral de Qualidade de Vida e noapenas um instrumento para avaliar Qualidade deVida relacionada sade (Health-related quality oflife), o domnio espiritualidade/religio/crenaspessoais pode eventualmente ser til para avaliarqualidade de vida em outras situaes que no a desade-doena,

    Quando os pacientes foram divididos segundo asua origem (clnica, cirurgia, ginecologia e psiquia-tria) houve uma tendncia aos pacientes psiquitri-cos apresentarem os escores mais baixos em todosos domnios (exceto nvel de independncia). Nooutro extremo, os indivduos controles apresentaramos melhores escores em cada um dos domnios. Anoo de que os pacientes psiquitricos, especialmen-te pacientes deprimidos, tm uma qualidade de vidae de funcionamento social inferiores ou semelhantesa doenas clnicas graves tem sido evidenciada emoutros estudos (Wells et al.13, 1989).

    Para estudar a validade de critrio do WHOQOL-100, realizou-se uma regresso linear mltipla dosdomnios em relao faceta que avalia a qualida-de de vida geral. Observou-se que 5 dos 6 domniosfizeram parte do modelo, explicando 60,5 % davarincia. Assim, podemos inferir que com a exce-o do domnio 6 (espiritualidade/religio/crenaspessoais) os demais domnios foram importantes nadefinio de qualidade de vida numa amostra de pa-cientes com doenas de diferentes naturezas e seve-ridades.

    Quando se comparou a correlao entre os dife-rentes domnios entre si, observou-se que todos elesapresentaram coeficientes de correlao significati-vos entre si. Novamente, o domnio 6 (espirituali-dade/religio/crenas pessoais) foi o que apresen-tou coeficientes de correlao mais baixos. O dom-nio 2 (psicolgico) apresentou coeficientes decorrelao com os demais domnios acima de 0,5 (ex-ceto com o domnio 6).

    O fato de todos os domnios apresentarem um co-eficiente de correlao significativo remete necessa-riamente questo da possibilidade ou no de se po-der utilizar um escore total de qualidade de vida parao WHOQOL-100 . O WHOQOL-100 foi desenvolvi-do a partir da premissa de que qualidade de vida umconstruto multidimensional (Orley7, 1994) e de que

    somar itens relativos ao domnio psicolgico comitens do domnio de meio ambiente , por exemplo,seria como adicionar laranjas a bananas. Desta for-ma, haveria mais sentido em considerar cada domnioe seus escores individualmente. Dentro deste mesmoenfoque, os escores por domnios trariam muito maisinformaes, na medida em que um determinado tra-tamento ou poltica de sade poderia afetar um deter-minado domnio e no outro, ou ainda, afetar os do-mnios em sentidos opostos, e o escore total, assim,ficaria inalterado. Por outro lado, a possibilidade deum instrumento ter um escore total til do ponto devista de anlise de dados, pois simplifica sua interpre-tao, muito embora com os riscos de perda de infor-maes. Os dados iniciais do presente estudo no per-mitem responder a esta questo, pois os coeficientesde correlao entre os domnios, embora sejam esta-tisticamente significativos, tm valor intermedirio(entre 0,4 e 0,7) na sua maioria.

    O BDIe o BHS foram utilizados como instrumen-tos de avaliao indireta de validade concorrente.Tanto um como o outro apresentaram os maiorescoeficientes de correlao com o domnio psicolgi-co. O domnio psicolgico apresentou coeficientemais alto em relao ao BDI (r=0,70) do que para oBHS (r=0,59). Este achado coerente com a propo-sio do domnio que o de avaliar os aspectos psi-colgicos envolvidos na qualidade de vida em quefacetas como sentimentos negativos, auto-estimae concentrao so avaliadas. J o BHS apresen-tou coeficiente de correlao mais alto que o BDIpara o domnio 6 (espiritualidade /religio /crenaspessoais). Na medida em que este domnio avalia-do por uma faceta que examina as crenas pessoaise como elas afetam a qualidade de vida (WHO14,1995), coerente esperar que uma escala que avaliaespecificamente desesperana, esteja mais correla-cionada do que a que avalia depresso.

    Finalmente quando foi avaliado a fidedignida-de teste-reteste, observou-se que no houve dife-rena significativa entre as mdias. No entanto,como houve coeficiente de correlao estatistica-mente no significativo entre os escores do teste edo reteste, no foi possvel discriminar se isto eradevido a uma no-estabilidade do instrumento ouuma no-estabilidade da condio em estudo (qua-lidade de vida). Como estes pacientes eram avalia-dos um ms aps, no havia como prever se suacondio mrbida iria manter-se igual, piorar ou

  • Aplicao da verso em portugus do WHOQOL-100Fleck MPA et al.

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    melhorar e nem como qual seria o impacto sobresua qualidade de vida. O estudo das diferena entreo escore do teste e do reteste mostrou que estas dife-renas eram bastante correlacionadas entre os dife-rentes domnios, com exceo do domnio 6 em re-lao aos domnios 1 e 3.

    Em concluso, o teste de campo da verso emportugus do Instrumento de Avaliao de Qualida-de de Vida da OMS na sua verso original de 100itens (WHOQOL-100) mostrou um bom desempe-nho psicomtrico quando estudado a partir de umaamostra de pacientes e indivduos-controles na cida-de de Porto Alegre, na regio Sul do Brasil. O ins-trumento apresentou caractersticas satisfatrias deconsistncia interna, validade discriminante, validadede critrio, validade concorrente e fidedignidadeteste-reteste.

    O presente estudo uma aplicao inicial do ins-trumento e est longe de responder s inmeras ques-tes referentes aplicao de um instrumento de

    avaliao de qualidade de vida no meio brasileiro.Variveis culturais regionais, diferenas sociocultu-rais e peculiaridades de algumas situaes especfi-cas merecem ser estudadas em profundidade para queesse instrumento possa ter a abrangncia a que ele seprope. No entanto, a metodologia utilizada para odesenvolvimento do instrumento e sua verso emportugus (Fleck et al.3, 1999), bem como o presen-te estudo, indicam que esse instrumento tem papelimportante no estudo da qualidade de vida no Brasil,alm de possibilitar comparao com dados de ou-tros pases.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem a todos os componentesdo WHOQOL. O Grupo WHOQOL compreende umgrupo coordenador, investigadores colaboradores noscentros originais, investigadores colaboradores dosnovos centros e um painel de consultores.

    REFERNCIAS

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