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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO APLICAÇÃO DO SISTEMA LWD EM POÇOS HORIZONTAIS MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO MATHEUS DA ROSA PAES Niterói, fevereiro de 2013.

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

APLICAÇÃO DO SISTEMA LWD EM POÇOS HORIZONTAIS

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO

MATHEUS DA ROSA PAES

Niterói, fevereiro de 2013.

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

MATHEUS DA ROSA PAES

APLICAÇÃO DO SISTEMA LWD EM POÇOS HORIZONTAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Engenharia de Petróleo da Universidade

Federal Fluminense, como requisito parcial

para a obtenção do título de Bacharel em

Engenharia de Petróleo.

Orientador: Alfredo Moisés Vallejos Carrasco

Niterói, fevereiro de 2013.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, pois sem Ele nada seria possível e foi graças a

Ele que muitas vezes tive forças para continuar. Agradeço também aos meus pais Olmes e

Soraya e ao meu irmão Gabriel pelo amor incondicional e por serem meu porto seguro.

Sempre que preciso estão lá para me ajudar e me colocar no caminho certo. Amo vocês!

Agradeço à minha namorada Nicolle, que esteve comigo tanto nos momentos bons

quanto nos ruins me fazendo sorrir mesmo quando eu queria chorar e sempre me ajudando

a conquistar todos os meus objetivos, sem cobrar nada em troca. Te amo!

Gostaria de agradecer também ao professor Alfredo Carrasco pelo total apoio

fornecido ao longo da realização desse trabalho com valiosos conselhos, além de

disponibilizar materiais de consultas essenciais. Aos amigos da faculdade pelos melhores

cinco anos da minha vida. Entramos na faculdade meninos e meninas e saímos homens e

mulheres formados. E com laços de amizade que durarão para sempre. E também agradeço

a todos os professores da Universidade Federal Fluminense por todos os ensinamentos.

Ensinaram-me não apenas conhecimentos técnicos, mas também pessoais e de relação

que me ajudaram a crescer como futuro profissional e, principalmente, como pessoa.

Muito obrigado a todos!

Dedico esse trabalho aos que sempre me

apoiaram e incentivaram

incondicionalmente: meus pais Olmes e

Soraya, meu irmão Gabriel e minha

namorada Nicolle.

RESUMO

A indústria do petróleo é, sem dúvida, uma das mais complexas e, por isso, exige

uma constante evolução tecnológica das ferramentas que são utilizadas. Uma das etapas

mais importantes do processo é a avaliação da formação realizada pela perfilagem de

poços. Nessa área a inovação tecnológica é muito importante visando sempre uma melhor

avaliação das formações rochosas, com menores danos e custos possíveis, para que o

poço fique posicionado corretamente e, com isso, a produção seja otimizada.

Entre as técnicas de perfilagem destacam-se o Wireline (perfilagem a cabo) e o LWD

(logging while drilling) que é a perfilagem durante a perfuração, em tempo real. O Wireline

surgiu primeiro e foi amplamente utilizado por anos. Porém com a utilização cada vez maior

de poços horizontais em ambientes de difícil acesso essa técnica tem se tornado ineficaz

sendo substituída pelo LWD, que consegue realizar a perfilagem de locais antes

inacessíveis com bons resultados e em tempo real.

A tecnologia de LWD começou sendo utilizada apenas para correlação devido a uma

série de fatores, mas com o desenvolvimento tecnológico já está sendo usada realmente

para realizar a avaliação da formação, além do geosteering (geodirecionamento) do poço.

Essa técnica utiliza a transmissão de dados através da telemetria por pulsos de lama,

tornando possível a leitura dos perfis em tempo real.

Vários estudos realizados nos últimos anos indicam a melhoria causada pela

introdução do LWD. As principais funcões dessa técnica são a avaliação da formação e o

geosteering, mas devido aos excelentes resultados, obtidos em tempo real, as aplicações

são diversas. Realizando a corrida do LWD várias vantagens são conseguidas como, por

exemplo, a realização da perfilagem de locais considerados inacessíveis, além da

modificação da trajetória do poço enquanto ele está sendo perfurado.

Portanto, a tendência é que o LWD seja utilizado cada vez mais para gerar economia

no processo (com dias de sonda, por exemplo) e otimização na produção. Os avanços

tecnológicos continuam visando a realização cada vez melhor da avaliação da formação

para superar todos os futuros desafios que aparecerão.

Palavras-chave: LWD, perfilagem, telemetria por pulsos de lama, geosteering.

ABSTRACT

The oil industry is, undoubtedly, one of the most complex industries in the world and,

therefore, requires a constant evolution of the used tools. One of the most important stages

in the process is the well logging. Technological innovation in this area is very important for a

better formation evaluation and correct positioning of the well, resulting in optimized

production.

The two most commons techniques are Wireline and LWD (logging while drilling in

real time). The Wireline came first and was widely used for years. However, with the increase

in using drilling horizontal wells to reach difficult places, this technique has become

ineffective being replaced by LWD, which can logging wells in difficult places with good

results in real time.

The LWD technology started being used only for correlation due to a number of

factors, but with the technological development is now being used to make a better formation

evaluation, besides the geosteering aspect of the well. This technique uses data

transmission through mud pulse by telemetry, making possible the reading of the logs in real

time.

In recent years, several studies indicate the improvement caused by the introduction

of LWD. The main functions of this technique are formation evaluation and geosteering, but

due to the excellent results obtained in real-time, their applications are diverse. Several

advantages are achieved performing LWD such as logging areas considered inaccessible,

and the possibility of modifying the trajectory of the well while it is being drilled.

The tendency is the increasing use of LWD for saving money in the process and

production optimization. Technological advances continue to achieve better formation

evaluation to overcome any future challenges.

Keywords: LWD, logging, mud pulse telemetry, geosteering.

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Esquematização de poço onshore ........................................................................ 16

Figura 2.2 - Esquematização de poço offshore ........................................................................ 16

Figura 2.3 - Esquematização dos três tipos de poços quanto ao posicionamento .................... 17

Figura 2.4 - Tipos de poços direcionais de acordo com a sua trajetória ................................... 18

Figura 2.5 - Exemplo de poço multilateral ................................................................................ 19

Figura 2.6 - Estrutura de um poço horizontal antes da completação ........................................ 23

Figura 2.7 - Tipos de poços horizontais de acordo com o raio ................................................. 23

Figura 3.1 - Exemplo de quatro ferramentas de perfilagem ...................................................... 26

Figura 3.2 - Arenitos e folhelhos com dispositivo de resistividade em poços vertical e HA....... 33

Figura 3.3 - Conjunto de respostas adquiridas por ferramentas de Wireline em um poço

horizontal antigo ...................................................................................................................... 34

Figura 4.1 - Princípio de funcionamento da telemetria por pulsos de lama positivos ................ 40

Figura 4.2 - Princípio de funcionamento da telemetria por pulsos de lama negativos .............. 40

Figura 4.3 - Princípio de funcionamento da telemetria por pulsos de lama contínuos .............. 41

Figura 4.4 - As três possibilidades quando o poço horizontal sai da payzone para o folhelho .. 43

Figura 4.5 - As quatro possibilidades quando um poço se move para cima ou para baixo do

arenito para o folhelho ou vice-versa ....................................................................................... 44

Figura 4.6 - Ferramentas do Sistema Rotary Steerable Push the Bit (A) e Point the Bit (B) ..... 45

Figura 4.7 - Ferramenta Push the Bit ....................................................................................... 46

Figura 4.8 - Ferramenta Geo Pilot realizando o processo do Point the Bit ............................... 46

Figura 4.9 - À esquerda um perfil de resistividade para o reservatório de Grane, derivado de

perfis de poço vertical. À direita o modelo da resposta de seis medições de resistividade

calculados em várias posições horizontais no reservatório ...................................................... 47

Figura 5.1 - Exemplos primários das partes da ferramenta LWD ............................................ 50

Figura 5.2 - As duas configurações possíveis de um típico BHA com LWD primário ............... 50

Figura 5.3 - Ferramenta Density Neutron Standoff Caliper (a) e ferramenta Compensated

Wave Resistivity Gamma Directional (b) .................................................................................. 53

Figura 5.4 - Exemplo de uma combinação de ferramentas da terceira geração do LWD ......... 54

Figura 5.5 - Cronologia da introdução das medições de LWD de uma companhia de serviços 55

Figura 5.6 - Exemplo de um dos primeiros perfis gerados com a tecnologia de LWD .............. 57

Figura 5.7 - Exemplo de um perfil realizado pelo sistema de LWD atual .................................. 57

Figura 5.8 - Principais decisões para correlação atuais usando LWD ...................................... 58

Figura 5.9 - Receita total das duas técnicas entre os anos de 1999 e 2006 ............................. 60

Figura 5.10 - Diferença substancial entre as medições de resistividade realizadas pelo LWD

e por Wireline........................................................................................................................... 61

Figura 5.11 - Pulso de nêutrons da ferramenta NeoScope....................................................... 62

Figura 5.12 - Patentes pelas maiores operadoras e quatro maiores prestadores de serviço

de 2000 a 2005 ........................................................................................................................ 66

Figura 5.13 - Tendência que indicou que mais dados foram adquiridos na última década do

que nos cinquenta anos anteriores .......................................................................................... 67

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 - Comparativo entre as três gerações das ferramentas de LWD ............................ 52

SUMÁRIO

I. APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ..................................................................................... 12

1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12

1.2 OBJETIVO ................................................................................................................... 14

1.3 MOTIVAÇÃO ............................................................................................................... 14

1.4 METODOLOGIA .......................................................................................................... 15

II. POÇOS HORIZONTAIS ...................................................................................................... 16

2.1 POÇOS HORIZONTAIS – UTILIZAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO .......................... 16

III. PERFILAGEM (PERFIS ELÉTRICOS, RADIOATIVOS E ACÚSTICOS)............................ 25

3.1 PERFILAGEM .............................................................................................................. 25

3.2 PROPRIEDADES DA ROCHA E DO FLUIDO PRESENTE.......................................... 26

3.3 TIPOS DE PERFILAGEM ............................................................................................ 29

3.3.1 PERFILAGEM ELÉTRICA ................................................................................... 29

3.3.2 PERFILAGEM NUCLEAR ................................................................................... 30

3.3.3 PERFILAGEM ACÚSTICA .................................................................................. 30

3.4 PERFILAGEM PARA POÇOS HORIZONTAIS E COM GRANDES ÂNGULOS DE

INCLINAÇÃO ..................................................................................................................... 31

3.4.1 DIFERENÇAS ENTRE POÇOS ........................................................................... 32

3.4.2 RESPOSTAS DAS MEDIÇÕES .......................................................................... 33

3.4.2.1 RESISTIVIDADE ........................................................................................ 35

3.4.2.2 DENSIDADE ............................................................................................... 36

3.4.2.3 NEUTRÔNICO............................................................................................ 36

3.4.2.4 OUTRAS MEDIÇÕES ................................................................................. 37

IV. CONCEITOS INICIAIS LWD .............................................................................................. 38

4.1 TELEMETRIA .............................................................................................................. 38

4.1.1 TELEMETRIA POR PULSOS DE LAMA ............................................................. 38

4.1.1.1 ATENUAÇÃO DOS PULSOS ..................................................................... 41

4.2 GEOSTEERING ........................................................................................................... 42

V. SISTEMA LWD ................................................................................................................... 49

5.1 LWD, HISTÓRICO E INTERAÇÃO COM MWD ........................................................... 49

5.2 LWD X WIRELINE ....................................................................................................... 59

5.3 AVANÇOS TECNOLÓGICOS E DESAFIOS FUTUROS .............................................. 61

VI. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 71

CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

1.1. INTRODUÇÃO

O petróleo é a principal fonte de energia mundial constituindo a base da economia do

planeta e, por isso, tem uma importância inigualável. Hoje em dia é dificil saber de alguma

coisa que não depende direta ou indiretamente do petróleo. E o mercado vive um ótimo

momento com grandes reservas sendo descobertas, além dos diversos investimentos em

tecnologia e capacitação que geram competitividade e inovações cada vez mais

significantes.

A cadeia produtiva do petróleo é uma das mais complexas e o sucesso das

operações depende de diversas variáveis como segurança e eficiência. Essa cadeia

produtiva é dividida em exploração, desenvolvimento e produção. Cada uma dessas etapas

possui objetivos distintos e, com isso, é necessária a interação de uma grande equipe de

diferentes profissionais competentes como engenheiros, geofísicos, geólogos, químicos,

entre outros.

Primeiramente se realiza um estudo sísmico, subdividido em aquisição,

processamento e interpretação para analisar os sismogramas das bacias sedimentares e

determinar a possibilidade que a formação tem de conter hidrocarbonetos. Ou seja, com a

sísmica, não é possível garantir a existência de hidrocarbonetos na formação. Apenas

depois da perfuração do poço que é possivel confirmar a existência do reservatório de

petróleo.

Porém uma série de fatores nas propriedades das rochas e dos fluidos devem ser

detalhadamente analisados para saber a viabilidade econômica do poço. Essas análises,

que podem ser realizadas durante ou após a perfuração, são feitas através de métodos para

definição de camadas potencialmente produtoras.

Entre esses métodos destaca-se a perfilagem, que é o mais conhecido e é definida

como sendo o levantamento completo dos perfis referentes ao poço para a produção de

petróleo. O perfil de um poço é a imagem visual, em relação à profundidade, de uma ou

mais características ou propriedades das rochas perfuradas, que é obtido através de

ferramentas que são descidas no poço. Com a perfilagem podemos mapear o poço com

gráficos ou figuras que nos mostram as áreas de interesse a serem trabalhadas, no entanto,

é bom deixar claro que ela não se mostra auto-suficiente, pois necessita de técnicas

auxiliares que se complementam para cumprir essa meta.

13

Os primeiros relatos sobre a utilização da perfilagem ocorreram em 1927 e, desde

então, essa técnica vem sendo muito utilizada e desenvolvida. E, cerca de 40 anos atrás,

surgiram as primeiras perfilagens durante a perfuração, o chamado Logging While Drilling

(LWD) que é foco desta monografia, principalmente quando utilizado em poços horizontais.

Poços horizontais são aqueles em que as estruturas e o posicionamento dos

equipamentos são próximos de 90° em relação à vertical. A tecnologia de poços horizontais

começou seu estágio de desenvolvimento no início da década de 80, mas a sua utilização

ainda era limitada. No Brasil, a tecnologia de poço horizontal foi utilizada pela primeira vez

no ano de 1990. Esse tipo de poço gera uma série de vantagens sendo a principal o

aumento da área exposta ao fluxo de hidrocarbonetos.

LWD é a tecnologia de medições das propriedades da formação durante o processo

de perfuração. Essa tecnologia tem grandes vantagens como, por exemplo, a habilidade de

conseguir realizar o perfil em poços horizontais e com grandes desvios, além de fornecer

dados enquanto o poço está sendo perfurado.

A técnica de LWD é relativamente nova e cara, sendo mais comumente aplicada em

poços de acesso mais difícil, principalmente os poços horizontais. Poços horizontais se

diferenciam dos poços verticais em diversos aspectos. Os poços horizontais, que se

originaram a partir dos direcionais, são mais caros, porém, por terem maior área de contato

com a região produtora, acabam melhorando a produtividade na maioria dos casos. Então é

fundamental saber as diferentes características dos tipos de poço para saber que tipo de

operação será melhor para realizar.

A técnica de LWD utiliza como sistema de transmissão a telemetria por pulso de

lama na qual instrumentos geram a informação no fundo do poço que, pela lama, é então

transmitida para a superfície onde os sinais são decodificados por uma série de

equipamentos e, com isso, o operador é capaz de realizar alterações na perfuração. A

grande vantagem deste tipo de telemetria é a capacidade de realizar a transmissão sem

parar a perfuração, ou seja, em tempo real. Esse fato só foi possível graças ao MWD a partir

dos anos 70.

Todos os esforços são voltados para a melhoria da produtividade do óleo em

qualquer cenário com a diminuição dos custos, se possível. E, por isso, todas as análises

devem ser levadas em consideração para aumentarmos consideravelmente a probabilidade

de sucesso das operações.

14

1.2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho de conclusão de curso é analisar e tornar de fácil

compreensão as principais características do sistema de medição LWD que é realizado

durante a perfuração de poços, especialmente quando é utilizado para poços horizontais.

Existem outros objetivos mais específicos, necessários para que o objetivo principal

seja alcançado, que serão abordados durante o desenvolvimento como, por exemplo,:

definição e diferenciação dos perfis, explicação sobre poços horizontais, detalhamento sobre

a telemetria por pulsos de lama e características dos sistemas MWD e Wireline para

comparação com o LWD.

Portanto antes de saber o que é e como funciona o LWD, é preciso entender bem

sobre as características geólogicas da formação e como elas são medidas com os

diferentes tipos de perfilagem. Além disso, é fundamental conhecer os tipos de poços

existentes na indústria do petróleo e saber as suas diferentes características para se utilizar

a melhor ténica para aquisição dos dados.

1.3. MOTIVAÇÃO

Esse é um assunto relativamente novo que ainda não possui muita informação

pública, por isso a justificativa para a realização deste projeto é ter conhecimento sobre os

avanços que estão sendo realizados usando esta técnica, assim como na utilização de

poços horizontais e sistemas de telemetria. Além de gerar material de pesquisa e estudo

sobre o tema em português.

O tema em questão atraiu bastante meu interesse principalmente quando recebi uma

proposta de estágio em uma grande empresa prestadora de serviços na área de perfuração

e fui pesquisar as atividades a serem desenvolvidas. É um assunto novo, como já dito

anteriormente, onde o avanço tecnológico tem sido fudamental para o aumento crescente

dessa técnica.

Além disso, é um assunto pouco abordado durante a Faculdade de Engenharia de

Petróleo na Universidade Federal Fluminense.

15

1.4. METODOLOGIA

A metodologia e estruturação aplicadas seguem uma ordem baseada em:

i. Capítulo 1: Com apresentação e contextualização do trabalho

ii. Capítulo 2: Poços horizontais. No capítulo em questão serão abordados os

diferentes tipos de poços (vertical, direcional, multilateral e horizontal). Será

dada uma ênfase nos poços horizontais, na qual serão destacadas sua história,

características, vantagens e desvantagens e aplicações.

iii. Capítulo 3: Características da sonda com a explicação dos perfis elétricos,

radioativos e acústicos. Nesse capítulo será realizado um estudo comparativo

desses tipos de perfis, destacando vantagens e desvantagens de cada fazendo

com o que o entendimento da técnica de LWD, que virá mais na frente, seja

mais fácil.

iv. Capítulo 4: Conceitos Iniciais de LWD. Antes do estudo específico da técnica é

necessário ter o conhecimento sobre alguns conceitos importantes que são

utilizados no LWD. Entre esses conceitos os principais são a telemetria por

pulsos de lama e o geosteering.

v. Capítulo 5: Sistema LWD. É o capítulo principal da monografia, onde a técnica

de LWD será realmente aprofundada. Primeiramente sua história, em seguida

todas as suas características e estruturações com a sua interação com o

sistema MWD, uma comparação com a técnica de Wireline e, por fim, uma

análise sobre os avanços tecnológicos e desafios futuros.

vi. Capítulo 6: Conclusão

CAPÍTULO II – POÇOS HORIZONTAIS

2.1. POÇOS HORIZONTAIS – UTILIZAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO

Um poço de hidrocarboneto pode ser definido como sendo uma perfuração realizada

através de um conjunto de camadas rochosas com o objetivo de extrair óleo e/ou gás

contido em uma acumulação sub-superficial. O poço de petróleo é o elemento de ligação

entre a formação rochosa e a superfície. Portanto, a atividade de perfuração é bastante

complexa com diversas divisões.

Os poços petrolíferos podem ser classificados de diferentes formas:

i. Quanto a sua finalidade:

- pioneiro – verifica estrutura mapeada.

- estratigráfico – obtém mais informações sobre a Bacia.

- de extensão ou delimitação – perfurados para ampliar ou delimitar os limites do

campo.

- de injeção – perfurados com a intenção de injetar fluidos na rocha reservatório

visando melhorar a recuperação do óleo.

- de produção – para a produção dos hidrocarbonetos propriamente dita.

ii. Em relação à sua localização:

- onshore (em terra), (Figura 2.1)

- offshore (no mar), (Figura 2.2)

Figura 2.1 – Esquematização de poço onshore Figura 2.2 – Esquematização de poço offshore Fonte: PetroleoInfonet. Fonte: Melchíades.

17

iii. De acordo com o seu posicionamento

- Vertical

- Direcional

- Horizontal

- Multilateral

Figura 2.3 – Esquematização dos 3 tipos de poços petrolíferos Fonte: Rocha et al. (2006).

O foco será a classificação dos poços de petróleo em relação ao seu

posicionamento. Desde o início da indústria, com a perfuração do primeiro poço em 1859,

na Pensilvânia-EUA, realizada pelo Cel. Drake, e até a década de 1970, a maioria dos

poços era vertical. O poço vertical é aquele em que a sonda e a zona de interesse estão na

mesma direção, como podemos observar na figura 2.3. Poços verticais continuam sendo

extremamente utilizados em todo mundo devido a sua facilidade e economia de instalação,

além do fato dos profissionais envolvidos já serem familiarizados com eles.

Na realidade, nenhum poço é realmente vertical, devido às heterogeneidades

litológicas das formações, que não possuem composição uniforme na disposição das

camadas e, com isso, geram um pequeno desvio na verticalidade. Esse fato, aliado com o

desenvolvimento de tecnologia, deu origem aos poços direcionais e, na sequência, aos

poços horizontais.

Um poço direcional é aquele em que o objetivo da perfuração não se encontra na

mesma vertical da cabeça do poço, sendo necessário técnicas e equipamentos especiais.

Essa distância horizontal entre o objetivo e a cabeça do poço é chamada de afastamento.

As principais utilizações dos poços direcionais são:

- Para controlar ou acessar trechos de poços verticais;

- Quando o objetivo é inacessível à perfuração vertical;

- Em cenários geológicos com estruturas múltiplas;

- Quando se tem a necessidade de poços de alívio;

- Em poços que evitem cruzar rios ou massas de água.

18

Os poços direcionais também podem ser classificados de acordo com a trajetória:

Tipo I ou Slant, Tipo II ou S e Tipo III. Os três tipos estão exemplificados na figura 2.4.

Figura 2.4 – Tipos de poços direcionais de acordo com sua trajetória. Fonte: Disponível em Unisanta

E alguns poços direcionais, como os tipos I e III mostrados na Figura 2.4 passaram a

ter um raio de curvatura muito alto seguido de um trecho sem curvatura, que se tornaram

realmente horizontais, dando origem aos poços horizontais propriamente ditos. O raio de

curvatura de um poço é definido como o ângulo formado a partir do ponto do inicio da

curvatura (kick off point) até o inicio da trajetória reta, sendo este valor próximo a 90° para

os horizontais.

Poços multilaterais são uma das aplicações mais comuns de poços direcionais. É

uma técnica que visa a perfuração sob a forma de ramificações, a partir de um poço

principal que atua como uma base guia para a perfuração dos poços, além de alojar a

cabeça dos mesmos (como apresentado na Figura 2.5). Com isso, se otimiza as linhas de

produção com a junção de vários poços em uma única linha de produção conectada a

plataforma, economizando tempo e dinheiro.

Os objetivos dos poços multilaterais são:

- Reutilizar poços já perfurados e em vias de serem abandonados;

- Aumentar a exposição do reservatório;

- Aumentar produção e recuperação de um único poço diminuindo o número de poços;

- Interceptar diversas zonas produtoras;

- Perfurar poços em reservatórios de pequena espessura, dispostos ao longo de um

poço cuja explotação isolada seria antieconômica (Vidal, 1999).

19

Figura 2.5 – Exemplo de poço multilateral. Fonte: Rocha et al. (2006).

Pelas figuras 2.3 e 2.5 é possível perceber que poços horizontais são aqueles em

que os ângulos da perfuração, de suas estruturas e do posicionamento dos equipamentos

são próximos de 90° em relação à vertical, como já dito anteriormente.

A tecnologia de poços horizontais começou seu estágio de desenvolvimento no início

da década de 80, mas a sua utilização ainda era limitada. A partir da década seguinte, essa

tecnologia conseguiu amadurecer tendo uma maior aceitação na indústria, aumentando

significativamente a sua utilização. No Brasil, a tecnologia de poço horizontal foi utilizada

pela primeira vez no ano de 1990.

Joshi (1987) realizou uma revisão geral dos poços horizontais na qual afirma que o

método de perfuração utilizado deve ser escolhido de acordo com as considerações do

reservatório, do custo, do espaço e da condição mecânica do poço vertical. Ele também

citou diversos exemplos onde a introdução do poço horizontal significou aumento da

produtividade.

Nessa revisão, Joshi, apresentou diversos parâmetros que podem ser calculados e

que influenciam na performance do poço vertical e chegou as seguintes conclusões:

- A tecnologia para perfuração e completação dos poços horizontais já era

disponível;

- Poços horizontais podem ser vistos como fraturas de condutividade infinita;

- A estimulação dos poços horizontais estava em desenvolvimento;

- Os exemplos de campo evidenciaram o sucesso dos poços horizontais em

aumentar a produção de reservatórios de baixa produtividade e em reduzir

problemas de cone de gás e de cone de água.

Em seguida, Lacy et al. (1992) também apresentaram uma revisão do histórico de

produção e aplicações de poços horizontais em diferentes reservatórios no mundo. Nesse

estudo, vários exemplos foram estudados onde se comprovou que a utilização de poços

20

horizontais gerou um aumento na produtividade de, no mínimo duas vezes, comparado aos

poços verticais. E, nos casos mais extremos, esse aumento chegou a ser de vinte e cinco

vezes.

Coffin (1993) analisou 82 poços horizontais perfurados entre 1980 e 1992 em 13

países diferentes. Com essa análise a conclusão foi de que cerca de 84% dos poços foram

classificados como bem sucedidos e as reservas desenvolvidas com poços horizontais

apresentaram-se duas vezes e meia maior em relação àquelas desenvolvidas com poços

verticais.

Leon-Ventura et al. (2000) realizaram uma avaliação da produção dos poços

horizontais. Eles afirmam que para aumentar a produção, em campos onde se utilizam

poços verticais, podemos adicionar outros poços verticais, criar fraturas artificiais ou realizar

estimulações para melhorar a permeabilidade efetiva nas vizinhanças do poço. Mas que, em

muitos casos, a alternativa mais econômica consiste no uso de poços horizontais que

aumenta a comunicação com o reservatório.

Nessa avaliação os autores ainda fizeram análises comparativas entre poços

horizontais, verticais e inclinados (direcionais). Eles lembraram da importância de falar que a

produtividade de poços horizontais é fortemente dependente da razão de permeabilidade

(KV/KH). Quanto maior for essa razão (mais próxima de 1), maior será a produtividade dos

poços horizontais. E a conclusão foi de que poços horizontais apresentam excelentes

condições iniciais de produção, comportando-se como poços com condutividade infinita e

por isso satisfazem o requerimento básico de sua concepção. Esses resultados indicam que

poços horizontais são uma boa alternativa para a exploração de reservatórios.

O surgimento dos poços horizontais foi de grande valor para a indústria, pois a

maioria das rochas reservatório são horizontais ou sub-horizontais e, com isso, o poço

horizontal tem mais área de superfície na zona de produção do que um poço vertical, tendo

maior taxa de produção. O uso desse tipo de perfuração tornou possível chegar a

reservatórios localizados quilômetros de distância da sonda, permitindo a produção de

hidrocarbonetos de áreas, antes consideradas inacessíveis.

A perfuração de poços horizontais teve considerável aumento nos últimos anos e

atualmente, juntamente com os poços direcionais, constitui o padrão de perfuração e

implementação utilizado na indústria para poços de desenvolvimento. O aumento da

perfuração de poços horizontais é consequência do desenvolvimento de técnicas de

perfuração somado ao fato destes poços permitirem o aumento da recuperação total das

reservas.

21

Atualmente, com o objetivo de aumentar a produtividade, muitos poços petrolíferos a

serem perfurados são planejados para serem horizontais. O questionamento não é mais se

poços horizontais devem ser perfurados e, sim, onde e quando esses poços devem ser

perfurados.

Uma série de razões tem contribuído para esse aumento, em todo o mundo, do

número de poços horizontais perfurados. As principais razões para se perfurar um poço

horizontal são:

- Aumentar a área exposta ao fluxo de hidrocarbonetos;

- Reduzir quedas de pressão;

- Propiciar maior interceptação das fraturas verticais em reservatórios naturalmente

fraturados e baixas permeabilidade e porosidade;

- Viabilizar a exploração de formações com baixas porosidades ou que contenham óleo

pesado, por aumentar a área exposta ao fluxo;

- Aumentar a eficiência das técnicas de recuperação secundária, já que uma maior área

de drenagem pode responder melhor à injeção de vapor ou de água;

- Retardar o avanço do contato óleo-água ou gás-óleo;

- Viabilizar economicamente a exploração de campos offshore, onde o posicionamento

das plataformas marítimas de produção é crítico devido às condições adversas do mar.

Para obtenção de sucesso dos projetos que envolvem poços horizontais é

necessário ter bem definido quais os objetivos do gerenciamento. A utilização dos poços

horizontais vem sendo realizada para, principalmente, três objetivos: aumentar a produção,

acessar reservas antes não alcançadas e reduzir o número de poços injetores e produtores.

No objetivo de aumentar a produção, os poços horizontais são eficientes já que a

partir de um mesmo custo, sem investimento adicional, pode melhorar a produção (fato

muito importante principalmente em áreas remotas e em campos marítimos) devido a sua

maior área de contato com o reservatório.

Os poços horizontais, como já citado anteriormente, conseguem acessar reservas

que antes não eram alcançadas, seja por questões ambientais ou econômicas, devido ao

longo trecho horizontal. Existem poços que, inclusive, produzem reservas localizadas sob

cidades sem gerarem perturbações na superfície.

O último motivo principal da utilização de poços horizontais é o fato de reduzir o

número de poços injetores e produtores. Isso se dá de forma lógica devido à maior

capacidade de produção e injeção do poço horizontal em relação ao vertical. Assim, apesar

do maior investimento inicial, os custos de operação serão menores.

22

Os poços horizontais são utilizados em qualquer fase da recuperação para atingir,

principalmente, os objetivos mencionados acima. Porém, a aplicação desta técnica é

comprovadamente maior em reservatórios que apresentem as seguintes características:

1. Problema de formação de cone de água e/ou gás

Os poços horizontais tendem a atrair o contato óleo/água ou óleo/gás de modo mais

uniforme, formando não um cone como poços verticais, mas sim uma crista. Tem-se,

então, uma maior produção de óleo para uma mesma produção total de líquido. Por isso

a redução do problema de formação de cone de água ou gás é uma das principais

vantagens da utilização de poços horizontais.

2. Reservatórios naturalmente fraturados

As fraturas naturais tendem a elevar a produção de óleo e gás, pois fornecem um

caminho natural para o fluxo dos fluidos. Os poços horizontais fazem com que essa

tendência aumente já que a probabilidade da interceptação dessas fraturas é maior.

3. Reservatório de baixa permeabilidade

Neste tipo de reservatório os poços verticais não são capazes de produzir com uma

vazão suficientemente alta e por isso os poços horizontais são usados para otimizar a

produção do reservatório, criando um caminho para o fluxo através da formação.

4. Reservatórios delgados (pouco espessos)

Devido ao fato dos poços horizontais possuírem uma maior extensão do poço em

contato com a camada produtora, eles acabam tendo uma maior capacidade de produzir

a taxas economicamente viáveis em zonas de pequena espessura, em comparação aos

poços verticais (Nakajima, 2003).

Os poços horizontais são dividos em três seções: primeiro existe uma parte vertical

como qualquer poço, em seguida vem a seção com raio de curvatura para então se chegar

à horizontal. O diâmetro do poço diminui de acordo com essas seções e com a

profundidade.

Um exemplo de poço horizontal com as três seções destacadas é apresentado na

Figura 2.6 a seguir.

23

Figura 2.6 – Estrutura de um poço horizontal antes da completação. Fonte: David (2009).

Costuma-se classificar os poços horizontais de acordo com o raio, que é um fator

decisivo no estabelecimento da arquitetura do poço horizontal. Os poços podem ter raio

curto, médio, intermediário ou grande. A Figura 2.7 a seguir apresenta o comparativo destes

tipos, indicando quantos graus o poço ganha a cada 30 metros e o comprimento do seu raio:

Figura 2.7 – Tipos de poços horizontais de acordo com o raio. Fonte: UNISANTA.

Como podemos observar na figura 2.7, os poços de raio curto são aqueles cujo raio

de curvatura está entre 9 e 29 metros e a seção horizontal do poço poderá estender-se até

1.500 pés. Este tipo de poço é ideal nas perfurações de pouca profundidade, facilitando a

re-entrada em um poço existente.

Os poços de raio médio possuem um raio de curvatura entre 29 e 58 metros e sua

seção horizontal pode atingir os 3.500 pés de comprimento. E os poços de raio grande são

perfurados com raio de curvatura entre 214 e 860 metros, com seção horizontal entre 2.000

e 5.000 pés. Sua perfuração é mais complexa e requer a utilização de ferramentas de

24

perfuração mais modernas, tal como o sistema de navegação de perfuração que usa

motores de perfuração dirigíveis (stearable motor) e MWD.

A interação dos poços horizontais com o reservatório é mais complicada, pois

envolve uma maior quantidade de parâmetros e com isso o estudo é mais complexo.

Portanto, o custo de um poço horizontal pode alcançar até três vezes mais que o custo de

um poço vertical convencional. Por isso a aplicação ótima dos poços horizontais tem uma

grande importância econômica e deve ser muito bem analisada.

A comparação entre a performance produtiva de poços horizontais e verticais é,

portanto, inevitável e necessária, pois possibilita avaliar o ganho que pode ser obtido ao

incluir um poço horizontal em uma estratégia de recuperação de um campo.

Como a interação dos poços horizontais com o reservatório é mais complicada, as

tecnologias utilizadas devem ser diferentes e mais modernas para que a perfuração seja a

mais apropriada possível. E o posicionamento correto do poço, com uma boa interseção

com a zona produtiva (pay zone), é fundamental para a obtenção dos resultados esperados.

E essa tecnologia está cada vez mais atrativa, tornando a diferença entre os custos dos dois

tipos de poços cada vez menor.

Quanto à perfilagem dos poços, em poços verticais é comum fazer o uso da técnica

de Wireline (mas isso também está começando a mudar, como será explicado no capítulo

5), onde são medidos e analisados perfis elétricos, sônicos e radioativos. Assim é possível

determinar se o poço está bem posicionado ou não. Esses perfis são usados em conjunto

para avaliar as propriedades petrofísicas das rochas. Mas, em poços com condições de

poço mais difíceis (poços direcionais e horizontais), a técnica de Wireline se torna pouco

eficiente e o uso de ferramentas de LWD (Logging While Drilling) é mais aconselhável.

CAPÍTULO III – PERFILAGEM (PERFIS ELÉTRICOS, RADIOATIVOS E ACÚSTICOS)

3.1. PERFILAGEM

Para se determinar a viabilidade econômica de um poço de petróleo, diversos

parâmetros das propriedades das rochas e dos fluidos devem ser analisados. Essas

análises são feitas através de métodos para definição de camadas potencialmente

produtoras e podem ser realizadas durante ou após a perfuração.

O tipo de análise mais conhecido e utilizado é chamado de perfilagem de poços. O

termo perfilagem veio do francês “carottae electrique” e significa perfuração com medição

elétrica, que é uma descrição exata da primeira técnica de perfilagem utilizada em 1927.

Porém, de acordo com Ellis e Singer (2008), uma melhor tradução para perfilagem é “um

registro das características da formação rochosa realizado através de dispositivos de

medição que vão por dentro do poço”.

Na perfilagem é realizado um levantamento completo dos perfis referentes ao poço

para a produção de petróleo. O perfil de um poço é a imagem visual, em relação à

profundidade, de uma ou mais características ou propriedades das rochas perfuradas, que é

obtida através das ferramentas que são descidas no poço.

Entretanto, perfilagem tem significados diferentes para cada profissional envolvido,

do seguinte modo:

- Geólogo – é uma técnica de mapeamento para explorar a subsuperfície;

- Petrofísico – é a oportunidade de avaliar o potencial de produção de hidrocarbonetos

de um reservatório;

- Geofísico – é uma fonte de dados complementares para análises sísmicas da

superfície;

- Engenheiro de reservatório – ferramenta para suprir os dados necessários para

serem usados em um simulador.

Como dito anteriormente, o nascimento da perfilagem ocorreu em 1927, qundo H.

Doll e os irmãos Schlumberger fizeram uma medição de resistividade semicontínua no

campo de Alsace. A operação foi realizada com um dispositivo rudimentar que consistia em

um cilindro de baquelite (resina sintética, quimicamente estável e resistente ao calor, que foi

o primeiro produto não plástico. É a junção do fenol com o formaldeído, formando um

polímero chamado polifenol) com um par de eletrodos metálicos no exterior. Conectando o

dispositivo à superfície através de um cabo/arame (wire), que deu origem ao nome Wireline

Logging.

26

Wireline se refere ao cabo blindado pelo qual os dispositivos de medições são

descidos e retirados do poço e, com os arames blindados isolados no interior do cabo,

fornece poder elétrico ao dispositivo e meios para a transmissão dos dados até a superfície.

Mais recentemente, os dispositivos tem sido encapsulados no comando de perfuração (drill

collar) e o efeito da transmissão através da coluna de lama no procedimento conhecido

como Logging While Drilling (LWD).

Os dois principais objetivos da perfilagem de poços são: correlação e avaliação dos

reservatórios e, por isso, as funções da perfilagem estão voltadas para a identificação de

rochas reservatório e a determinação de suas características (principalmente porosidade e

permeabilidade), bem como a natureza do fluido presente. Na Figura 3.1 abaixo, são

apresentados quatro tipos de ferramentas de perfilagem.

Figura 3.1 – Exemplos de quatro ferramentas de perfilagem. À esquerda um dipmeter na posição extendida, seguido de uma ferramenta de perfilagem sônica e depois um dispositivo de densidade

com o suporte hidráulico ativado. À direita outra versão do dipmeter com múltiplos eletrodos em cada bloco.

Fonte: Allaud et al. (1977), Schlumberger.

3.2. PROPRIEDADES DA ROCHA E DO FLUIDO PRESENTE

A natureza intergranular dos poros que constitui a rocha reservatório é fundamental.

Acima de tudo, a rocha tem que ser porosa. Porosidade é a porção da rocha em volume que

é ocupada por espaço poroso (%). A porosidade de um reservatório, dependendo da

litología, pode estar no intervalo de 10 a 30%. O produto da porosidade, saturação, área e

espessura do reservatório dá o volume de fluido que o reservatório contém. A porosidade

pode ser determinada a partir dos perfis de ressonância magnética nuclear, velocidade

acústica (sônico), densidade e nêutron.

27

Uma outra propriedade importante é o grau em que os poros estão interconectados,

isto é, a permeabilidade que é medida em darcy. Um darcy é a permeabilidade que permitirá

um fluxo de um mililitro por segundo de fluido de uma viscosidade centipoise atravessar um

centímetro quadrado sobre um gradiente de pressão de um atmosfera por centímetro e um

reservatório comercial possui a permeabilidade de poucos darcy a milidarcy.

A rocha pode ser limpa, que em si é um importante parâmetro, ou conter argilas que

podem afetar as leituras dos perfis e também têm um impacto muito importante na

permeabilidade que, como citado acima, é a medida da facilidade de extração dos fluidos do

espaço poroso. A rocha pode ser consolidade ou não-consolidada, sendo uma propriedade

mecânica que vai influenciar as medições acústicas realizadas e impactam na estabilidade

das paredes do poço assim como na habilidade da formação de produzir fluidos.

A formação pode ser homogênea, fraturada ou laminada (em camadas) alterando,

assim, a permeabilidade significativamente. A detecção de fraturas e a predição da

possibilidade de fraturamento são bem importantes e em formações laminadas, as camadas

individuais podem ter uma grande variedade de permeabilidades e espessuras que podem

variar de uma polegada a 10 pés, tornando a identificação de finas camadas rochosas um

desafio.

A superfície interna da rocha reservatório é usada para avaliar as possibilidades de

produzir fluidos do espaço poroso e está relacionada com a natureza granular, que pode ser

descrita pelo tamanho do grão e sua distribuição.

Embora as propriedades da rocha sejam de extrema importância, é, geralmente, o

fluido contido que é de interesse comercial. Na maioria dos reservatórios de hidrocarbonetos

somente parte dos espaços porosos é preenchida por hidrocarboneto e, por isso, é crucial

distiguirmos eles da salmoura (água salgada) que, normalmente, também ocupa os poros.

Um termo frequentemente usado para descrever a proporção desses elementos é

“saturação”: a saturação da água é a porcentagem da porosidade ocupada pela salmoura,

em vez de hidrocarboneto.

Outra etapa importante é distinguir os hidrocarbonetos entre líquido e gás, já que

isso pode ser de importância considerável não apenas para o processo de produção final,

mas também para a interpretação das medições sísmicas, já que formações preenchidas de

gás produzem reflexões distintas das preenchidas de líquido.

A pressão e a temperatura do fluido contido são importantes tanto para perfuração

quanto para produção. Regiões de excesso de pressão devem ser identificadas e levadas

em consideração para evitar blowouts (fluxo descontrolado de fluidos da formação para a

28

superfície, devido ao desbalanceamento entre a pressão hidrostática da lama de perfuração

ou fluido de completação e a pressão da formação), enquanto que a temperatura pode ter

um grande efeito na viscosidade do fluido: abaixo de certa temperatura os fluidos podem ser

muito viscosos que não conseguem escoar, segundo Ellis e Singer (2008).

A lama (fluido de perfuração) injetada durante a perfuração também causa distúrbios,

denominada invasão. A determinação da invasão é essencial à interpretação, pois é a

região da rocha que produzirá um maior efeito nos parâmetros originais, resultando em

valores anômalos.

A perfilagem desempenha um papel central no desenvolvimento de um reservatório

através da avaliação da formação. E os objetivos dessa avaliação podem ser resumidos

pela resolução de quatro questões de interesse primário na produção:

1. Existe algum hidrocarboneto, e se existe é óleo ou gás?

Primeiro, é necessário identificar ou inferir a presença de hidrocarbonetos nas formações

atrevessadas pelo poço.

2. Onde estão os hidrocarbonetos?

A profundidade das formações que contêm acumulações de hidrocarbonetos deve ser

identificada.

3. Quanto hidrocarboneto está contido na formação?

Primeiro aspecto é uma aproximação inicial para quantificar o volume de fluidos

disponível. O segundo aspecto é para quantificar a fração de hidrocarboneto (fluidos

contidos na rocha matriz). E o terceiro consiste na extensão da área do leito que contem

o hidrocarboneto.

4. Quão produzíveis são os hidrocarbonetos?

De fato tudo se resume a essa questão que, infelizmente, é a mais difídil de responder

através das propriedades inferidas da formação. O dado de entrada mais importante é a

determinação da permeabilidade. Muitos métodos são usados para extrair esse

parâmetro dos perfis com uma grande variedade de sucesso. E outro fator essencial é a

viscosidade do óleo, frequentemente pouco referido como em óleo pesado ou leve.

Um grande número de dispositivos de medição e técnicas de interpretação estão

sendo desenvolvidas. Elas fornecem, principalmente, valores de porosidade e saturação de

29

hidrocarboneto, em função de profundidade, usando o conhecimento da geologia local e

propriedades dos fluidos que estão acumulados em um reservatório em desenvolvimento.

Devido a grande variedade de formações geológicas subsuperficiais, muitas

diferentes ferramentas de perfilagem são necessárias para dar a melhor combinação

possível de medições para o tipo de rocha antecipadamente.

Independente da disponibilidade deste grande número de dispositivos, cada um

fornecendo informações complementares, as respostas finais são principalmente três: a

localização das formações em que se encontram o óleo e/ou o gás, uma estimativa da

produtividade, e uma aproximação da quantidade de hidrocarboneto no reservatório.

3.3. TIPOS DE PERFILAGEM

Na maioria das aplicações diretas, o propósito da perfilagem de poços é fornecer

medições que podem ser relacionadas à fração volumétrica e tipo de hidrocarboneto

presente nas formações porosas. Técnicas de medição são usadas a partir de três

fundamentos físicos: elétrica, nuclear e acústica. Geralmente a medição é sensível tanto às

propriedades da rocha quanto ao fluido presente nos poros.

3.3.1. Perfilagem Elétrica

A primeira técnica desenvolvida foi a medição de condutividade elétrica. Uma

formação porosa tem uma condutividade elétrica que depende da natureza do eletrólito que

está preenchendo o espaço poroso. Muito simples, a rocha matriz é não-condutora e o fluido

usual saturado é uma salmoura condutora. Por isso, contrastes de condutividade são

produzidos quando a salmoura é substituida por um hidrocarboneto não-condutor. Medições

de condutividade elétrica geralmente são feitas a baixas frequências. A medição de

potencial espontâneo é feita para determinar a condutividade da salmoura.

Outro fator que afeta a condutividade de uma formação porosa é a sua porosidade.

Rochas com saturação de salmoura de diferentes porosidades terão também diferentes

condutividades; em baixa porosidade a condutividade será muito baixa, e em altas

porosidades ela pode ser bem maior. Para interpretar corretamente medições de

condutividade e para estabelecer a importância do possível hidrocarboneto a ser produzido,

a porosidade da formação deve ser conhecida.

3.3.2. Perfilagem Nuclear

30

Várias medições nucleares são sensíveis à porosidade da formação. A primeira

tentativa de medir porosidade da formação foi baseada no fato de que interações entre

nêutrons de alta energia e hidrogênio reduzem a energia do nêutron de forma muito mais

eficiente do que outros elementos da formação. Entretanto, foi verificado mais tarde que

uma ferramenta de porosidade baseada no nêutron é sensível a todas as fontes de

hidrogênio da formação, não apenas nas contidas nos espaços porosos. Isso levou a

complicações em formações com argila, já que hidrogênio associado com argila mineral é

visto pela ferramenta do mesmo jeito que o hidrogênio no espaço poroso. A captura de

nêutrons de baixa energia pelos elementos da formação produzem raios gamas de energias

características. Pela análise da energia desses raios gamas, análises químicas de seleção

da formação podem ser feitas. Isso é especialmente útil na identificação de minerais

presentes na rocha. Interação de nêutrons de alta energia com a formação permite a

determinação direta da presença de hidrocarbonetos através de átomos de carbono para

átomos de oxigênio.

Como uma alternativa, atenuações de raio gama são usadas para determinar a

densidade “bulk” da formação. Com o conhecimento do tipo da rocha, mais especificamente

a densidade do grão, é simples converter essa medida em um valor de porosidade

preenchida pelo fluido.

Ressonância magnética nuclear é sensível a quantidade e distribuição dos prótons

livres na formação. Prótons livres ocorrem apenas nos fluidos, então a sua quantidade

fornece outro valor para porosidade. A sua distribuição, em pequenos ou grandes poros,

leva a determinação de uma média do tamanho do poro e, consequentemente, através de

várias transformações empíricas, a predição da permeabilidade. A viscosidade do fluido

também afeta a movimentação dos prótons durante a ressonância, então os dados podem

ser interpretados para darem a viscosidade, de acordo com Ellis e Singer (2008).

3.3.3. Perfilagem Acústica

Medições acústicas de velocidades de compressão e de cisalhamento (shear

velocities) podem ser relacionadas à porosidade e litologia da formação. Na reflexão,

medições acústicas podem revelar imagens da parede do poço e impedância da formação.

Análises de onda flexural do revestimento podem ser usadas para medir a integridade do

revestimento e cimentação.

Usando transmissores de baixa frequência, a excitação da onda de Stoneley é um

caminho para detectar fraturas ou gerar perfil relacionado à permeabilidade da formação.

31

Técnicas para análise de ondas shear e sua dispersão fornecem imporantes entradas

geomecânicas resguardando o stress perto do poço. Isso é usado em programas de

perfuração para evitar quebra (desmoronamento) do poço ou fraturas induzidas pela

perfuração.

Uma impressão que deve ser retirada das descrições acima é que ferramentas de

perfilagem não medem os parâmetros desejados, fornecendo apenas medições indiretas as

de real interesse. É por essa razão que existe um domínio separado associado com

perfilagem conhecido como interpretação. Interpretação é o processo que tenta combinar o

conhecimento da resposta da ferramenta com geologia, para fornecer uma figura

compreensiva da variação da importância petrofísica dos parâmetros com a profundidade do

poço.

3.4. PERFILAGEM PARA POÇOS HORIZONTAIS E COM GRANDES ÂNGULOS DE

INCLINAÇÃO

Para todos os tipos de perfilagem citados, considerou-se, quando mencionado, que o

poço era vertical e as camadas da formação horizontais e desde o surgimento e aumento da

perfuração desses poços horizontais, a partir de 1990, a perfilagem tem que ser de acordo

com o tipo do poço.

Em uma formação homogênea e grossa a inclinação do poço não deve importar.

Porém, formações nunca são homogêneas e elas possuem limites e inclinações.

Heterogeneidades e anisotropia afetam as medições de poço horizontal de maneira

diferente das de poço vertical, enquanto que os limites entre formações também atuam de

maneira diferente. E, mesmo os princípios básicos da perfilagem sendo iguais, a

interpretação pode ser muito diferente.

De acordo com Ellis e Singer (2008) os primeiros poços horizontais foram

desenvolvidos a partir de poços perfurados em reservatórios bem conhecidos. Logo foi

percebido que as variações geológicas ao longo do caminho do poço eram muito maiores do

que o esperado. Os poços foram perfilados por ferramentas de wireline e, portanto, apenas

após a perfuração do poço que foi possível saber onde realmente ele ficou posicionado no

reservatório. Isso levou a novas aplicações para medições de perfilagem conhecidas como

geosteering ou geodirecionamento, no qual as medições de dispositivos de LWD foram

usados para alterar o curso do poço durante a perfuração. O sucesso dessa técnica tem

sido a maior causa do aumento do número de poços horizontais.

32

Entre outros fatores, esse sucesso tem levado os poços horizontais a serem

perfurados não apenas para desenvolvimento, mas também para avaliação e exploração.

Isso requer um maior conhecimento das respostas da ferramenta de perfilagem.

3.4.1. Diferenças entre poços

Segundo Passey et al. (2005), podemos definir o tipo do poço da seguinte maneira:

- Poço vertical - aquele em que o ângulo de desvio aparente é menor do que 30° e,

com isso, os perfis precisam de poucas correções.

- Poço moderadamente desviado - tem ângulo de desvio aparente entre 30 e 60° em

que perfis de resistividade e acústicos precisam de correção, mas isso pode ser feito

com procedimentos de rotina.

- Poço altamente desviado (HA – high angle) - possui ângulo de desvio entre 60 e 80°

nos quais a maioria dos perfis é afetada e o ângulo deve ser bem conhecido.

- Horizontal – possui ângulo de desvio aparente maior do que 80° em que todos os

perfis são afetados e onde o ângulo deve ser acuradamente bem conhecido para

interpretação quantitativa.

Essas definições se referem ao ângulo relativo entre o poço e a camada da formação

que tem dois efeitos principais nas medições de perfilagem: um devido às camadas que o

envolvem e outro devido à anisotropia, ambos ilustrados na Figura 3.2, que mostra um

escopo de arenitos e folhelhos com um dispositivo de resistividade sobreposto.

Quando a ferramenta é vertical, a medição responde principalmente às resistividades

horizontais (Rh) e, nessa posição, é improvável que a corrente encontre grandes mudanças

na resistividade já que isso é incomum no plano horizontal.

Quando a ferramenta é horizontal, a corrente na bobina não flui horizontalmente e as

medições de resistividade são então afetadas tanto por Rh quanto por Rv (resistividade

vertical) e podem ter fortes mudanças na formação acima ou abaixo das bobinas. Outras

medições também são afetadas por essas mudanças, embora geralmente o contraste seja

menor.

33

Figura 3.2 - Arenitos e folhelhos com dispositivo de resistividade em poços vertical (a) e HA (b). Fonte: Passey et al. (2005).

Outro efeito do ângulo relativo é que a medida em que ele aumenta, falhas e

fraturas, que são comumente sub-verticais, são mais facilmente encontradas. Por exemplo,

na figura acima, as grandes fraturas vistas na esquerda e na direita da figura serão

certamente encontradas por um poço HA, mas com bem menos certeza em um poço

vertical. A geometria do poço/formação é a maior causa da diferença entre perfis de poços

verticais e horizontais ou HA, mas não é a única. O ângulo do poço em si também tem um

efeito, devido à invasão e outras mudanças no ambiente do poço quando ele é quase

horizontal. Em um poço vertical assume-se que a invasão é azimutalmente simétrica em

torno do poço. Isso é razoável já que o efeito da gravidade no filtrado da lama será o mesmo

em todos os azimutes.

Em poços horizontais esses mesmos dois efeitos podem causar invasão assimétrica.

A gravidade pode fazer com que o filtrado afunde abaixo do poço na presença de

hidrocarbonetos leves enquanto que a invasão pode ser elíptica, já que a permeabilidade

vertical é muitas vezes menor do que a permeabilidade horizontal.

Invasão assimétrica pode causar dificuldades em todas as medições, mas

principalmente em dispositivos focados em leituras rasas como a densidade. Finas camadas

aparecem como camadas de alta porosidade com significante efeito na medição.

Finalmente, uma diferença prática entre perfis em poços verticais e horizontais ou

HA é o meio de transmissão utilizado: um mistura de wireline e LWD em poços verticais e

quase que exclusivamente LWD em horizontais. Se existem diferenças entre perfis desses

poços em uma área, o efeito do uso de LWD ou wireline deve ser examinado.

3.4.2. Respostas das medições

Um perfil esperado para um poço perfurado horizontalmente em um reservatório são

linhas com valores constantes. No meio de um reservatório, de espessura uniforme isso é

verdade, porém na maioria dos casos eles parecem com os perfis da Figura 3.3, que foram

registrados pelo método de Wireline em um poço horizontal antigo e ilustra algumas

características típicas dos perfis em poços HA ou horizontais. Eles estão longe de ser em

34

linhas retas a medida em que o poço se move para dentro ou para fora de finas camadas de

arenito e folhelho.

Figura 3.3 – Conjunto de respostas adquiridas por ferramentas de wireline em um antigo poço horizontal. O desvio do poço é maior do que 80° chegando a 90º em 7360 pés e depois se mantém.

Fonte: Singer (1992).

É importante definir os termos usados para as profundidades em perfis de poços HA

ou horizontais:

- Profundidade Medida (MD) - profundidade medida pelos perfis ao longo do poço.

- Profundidade Verdadeira Vertical (TVD) - distância vertical entre qualquer ponto do poço

com a superfície verticalmente acima dele. Essa profundidade é calculada levando em

consideração a direção e o desvio ao longo do poço em relação à superfície.

- Espessura Vertical Verdadeira (TVT) - distância que será viajada por um poço vertical

perfurado através da formação.

- Espessura Estratigráfica Verdadeira (TST) - distância perpendicular do dip (ângulo

formado entre a camada que deslizou e a que não deslizou; ângulo da fratura) da

formação.

- Espessura da Profundidade Vertical Verdadeira (TVDT) - diferença entre os TVDs nos

pontos em que o poço entra e deixa a formação.

35

A mudança de vertical para horizontal afeta diferentes medições em diferentes

aspectos, dependendo principalmente da sua profundidade de investigação e se a medida

está azimutalmente focada ou não.

3.4.2.1. Resistividade

Em poços verticais, a anisotropia pode ser ignorada já que dispositivos de indução e

propagação convencionais são sensíveis apenas a Rh, enquanto que dispositivos de

eletrodo são apenas levemente dependentes de Rv. O efeito teórico da anisotropia em

medições de resistividade ocorre já que a condutividade medida perpendicularmente ao

dispositivo de perfilagem varia.

Quando comparamos poços verticais e horizontais, que resistividade devemos usar?

Para fins de correlação é normal se usar Rh já que é mais disponível em poços verticais.

Para fins de avaliação é melhor usar ambos, e ligar a anisotropia a uma causa petrofísica

como arenitos laminados. Com um modelo adequado, a saturação de água em camadas

produtoras pode ser determinada.

Em geral, os efeitos não podem ser considerados isolados de outros efeitos do

ambiente como invasão. Uma descrição apropriada de todos esses efeitos envolve um

modelo inteiro 3D, que é então invertido para encontrar os diferentes parâmetros.

Andersons et al. (1999) mostram exemplos da aplicação do modelo 3D para entender a

resposta dos perfis de indução em poços horizontais. Entretanto esses estudos são

genericamente limitados a casos particulares de perfis anômalos. Ainda não é prático aplicar

essas inversões rotineiramente devido à lentidão da computação e porque muitas soluções

diferentes são possíveis. A situação é mais fácil para perfis de LWD já que, em muitos

casos, a invasão na hora da perfilagem é pequena o suficiente para ser ignorada e efeitos

dielétricos são insignificantes.

Para medições de eletrodo LWD, o efeito das camadas adjacentes na resposta é

geralmente menor do que em dispositivos de propagação. Isso ocorre porque as

profundidades de investigação são apenas algumas polegadas, e também porque as

camadas adjacentes tendem a ser menos resistivas do que o reservatório em que o poço foi

perfurado (afetando, portanto, mais os dispositivos de propagação que medem a

condutividade do que os dispositivos de eletrodo, medidores de resistividade).

36

3.4.2.2. Densidade

A grande vantagem dos dispositivos de densidade de LWD em poços HA e

horizontais é a habilidade de medir em diferentes azimutes. Nesses poços a melhor leitura é

muitas vezes no quadrante inferior já que é lá que a medição tem mais chance de estar em

contato com a formação. Entretanto, vários fatores podem complicar a interpretação: a

presença de cascalhos, que podem causar uma lenta leitura da densidade na parte inferior

do trecho horizontal, se forem espessos; a tendência durante a rotação da coluna de

perfuração de subir um lado, que causa algum impasse na densidade inferior; e o efeito da

invasão e do limite da camada.

No caso de perfilagem vertical, a resolução da medição é determinada pela

resolução da ferramenta vertical que é na ordem do espaçamento fonte-detector. Para

camada de espessura muito menor do que essa dimensão (30-40 cm) o dispositivo apenas

retorna a densidade média das camadas contidas com esse espaçamento, enquanto que

para uma ferramenta quase paralela às camadas laminares, é a profundidade de

investigação que controla a medição e a ferramenta vai ler a densidade correta da camada

de apenas algumas polegadas de espessura se ela estiver próxima à parede do poço

horizontal. A porosidade das camadas areníticas estimadas da medição horizontal serão

mais representativas das propriedades do reservatório do que as derivadas da medição de

densidade vertical.

Um próximo uso para medição de densidade LWD é para identificação de camadas e

do mergulho (dip) relativo (ângulo entre as camadas), segundo Ellis e Singer (2008).

3.4.2.3. Neutrônico

O dispositivo de nêutron compensados tradicional é relativamente desfocado.

Entretanto o poço e o ambiente da formação podem fazer com que a medição responda

primariamente em uma direção. Com ferramentas de LWD esse efeito é muito menor porque

o anular entre coluna de perfuração e a formação é pequeno. Se existir um pequeno

contraste em volta do poço, a medição neutrônica de LWD é aproximadamente média das

propriedades azimutais. Isso não é verdade se existir um grande contraste na vizinhança do

poço – por exemplo, uma formação portadora de gás mesmo a uma considerável distância

(aproximadamente 20 cm) abaixo no lado inferior do poço horizontal.

37

E ainda de acordo com Ellis e Singer (2008), a resposta para a discrepância está no

fato de que os nêutrons podem viajar relativamente sem impedimentos (chamado streaming)

na porção da formação com o maior comprimento de desaceleração. Quando a ferramenta

está em uma zona de gás em um poço horizontal, os nêutrons não penetram facilmente e

viajam na zona próxima que contém bastante hidrogênio. Por outro lado, quando a

ferramenta está em um poço em uma formação com alto teor de hidrogênio, uma formação

de gás próxima vai gerar um streaming para alguns raros nêutrons que conseguirem

alcançá-la.

3.4.2.4. Outras medições

Os parâmetros medidos pelos dipositivos acústicos padrão viajam perto da parede

do poço e não são azimutalmente focalizados. Eles vão medir a média da formação em volta

do poço e praticamente não serão afetados pelas camadas ao redor. Entretanto, medições

acústicas são sensíveis à anisotropia. Thomsen (1986) caracterizou a dependência das

velocidades das ondas com anisotropia e ângulo relativo por três parâmetros e o desafio é

determinar esses parâmetros.

Dispositivos acústicos com grandes separações transmissor-receptor e múltiplos

receptores têm sido desenvolvidos para fazer medições de reflexão do poço, na maneira de

pesquisa sísmica de superfície. A profundidade mais rasa de investigação das ferramentas

NMR impossibilita a leitura de muitos efeitos de geometrias estranhas que atrapalham as

respostas das ferramentas elétricas, por exemplo. Os maiores problemas dizem respeito à

condição do poço no seu inferior.

A maioria dos dispositivos de raio gama não é sensível ao azimute (embora alguns

sejam construídos especificamente para focarem em uma direção), e dão respostas

similares se corridos por wireline ou drill collar. Perfis de raio gama, portanto refletem uma

média da formação em volta do poço, com profundidade de investigaçao na ordem de 18

cm, segundo Ellis e Singer (2008).

Com o conhecimento das técnicas de perfilagem e suas características, o

entendimento da técnica de LWD, foco da monografia e que será analisada nos próximos

capítulos, acontecerá de forma mais natural.

CAPÍTULO IV - CONCEITOS INICIAIS LWD

O estudo das ferramentas de LWD envolve uma série de parâmetros que precisam

ser bem conhecidos e estudados para que a aplicação seja bem feita. Alguns parâmetros,

como a perfilagem e os poços horizontais, ambos fundamentais para o entendimento do

LWD, já foram explicados e, a seguir, outros conceitos iniciais importantes serão analisados.

4.1. TELEMETRIA

Telemetria é a técnica de obtenção, processamento e transmissão de dados à

distância. Essa técnica é fundamental para a indústria de petróleo, principalmente na parte

de perfilagem de poços. Os sinais transmitidos sofreram evolução com o tempo e passaram

de sinais pneumáticos, passando por analógicos, até chegarem aos sinais digitais usados

hoje em dia.

Para o ramo de petróleo, a telemetria surgiu juntamente com a perfilagem em 1927.

Na ocasião foi realizada a telemetria a cabo (o chamado Wireline), na qual os perfis eram

registrados e enviados para a superfície por esse cabo. Com os anos, diversos tipos de

telemetria surgiram. Os principais tipos de telemetria usados para a perfilagem de poços

são:

- Telemetria a cabo;

- Telemetria por tubos flexíveis (Coiled Tubing);

- Telemetria com coluna de tubos de perfuração (Toolpusher);

- Telemetria por ondas eletromagnéticas;

- Telemetria por tubos inteligentes (Wired Drill Pipes);

- Telemetria por pulsos de lama.

O sistema de LWD utiliza a telemetria por pulsos de lama e, por isso, a ênfase será

para este tipo de telemetria.

4.1.1. Telemetria por pulsos de lama

Telemetria por pulsos no fluido de perfuração (chamado de lama) é a mais utilizada

em todo o mundo e surgiu devido à necessidade da comunicação com as ferramentas no

fundo do poço em um sistema rotativo, onde a utilização de cabo elétrico era inviável.

Instrumentos geram a informação no fundo do poço que, pela lama, é então

transmitida para a superfície onde os sinais são decodificados por uma série de

39

equipamentos e, com isso, o operador é capaz de realizar alterações na perfuração. Esse

conceito foi patenteado em 1929 por Jakosky e a primeira transmissão deste tipo foi

comercializada em 1965 pela B. J. Hughes Inc. com o nome de teledrift e teleorienter,

segundo Honório (2007).

A grande vantagem deste tipo de telemetria é a capacidade de realizar a transmissão

sem parar a perfuração, ou seja, em tempo real. Esse fato só foi possível graças ao LWD a

partir dos anos 70.

É importante dizer que a função principal da lama é a limpeza do poço com a

remoção dos cascalhos resultantes da perfuração e não a transmissão dos sinais em tempo

real. Porém, muitas vezes, as alterações nas propriedades da lama para a melhor realização

da limpeza acabam impactando a telemetria.

Ainda de acordo com Honório, hoje em dia, com o desenvolvimento tecnológico,

várias medições são oferecidas comercialmente por poderem ser transmitidas em tempo

real, como por exemplo: inclinação, vibração, azimute, raios gama, torque sobre a coluna,

peso sobre a coluna, velocidades sônicas, fator fotoelétrico, neutron-porosidade, densidade,

entre outras.

O fluido de perfuração é bombeado por dentro da coluna, sai pelos orifícios da broca

e retorna pelo anular (espaço entre o tubo e a parede do poço). As medições são realizadas

perto da broca, onde “sopros” de lama geram diferenças de pressão. O sinal correspondente

a essa alteração de pressão é então transmitido para a superfície percorrendo o sentido

inverso ao da lama, onde será decodificado.

De acordo com Silva (2009) existem, usualmente, três métodos para a geração do sinal

nesse processo:

1. Telemetria por pulso positivo

Ocorre um aumento na pressão na lama causada por uma restrição de fluxo.

Essa restrição ocorre devido ao modo de operação da válvula (aberta ou fechada)

que fica localizada no eixo do transmissor em frente a uma abertura por onde o fluido

circula. Quando a válvula está aberta ocorre uma leitura de pressão menor, pois

quando ela é fechada, gerando uma restrição ao fluxo, registra-se um aumento de

pressão. A Figura 4.1 ilustra o princípio de funcionamento desse sistema.

40

Figura 4.1 – Princípio de funcionamento da telemetria por pulsos de lama positivos. Fonte: Silva (2009).

2. Telemetria por pulso negativo

Nesse caso a válvula atua de maneira contrária ao caso da telemetria por

pulso positivo: primeiramente ela está inoperante e, em seguida, ela é aberta

redirecionando o fluxo e não mais restringindo, gerando assim uma redução de

pressão dentro dos comandos. Os pulsos negativos são gerados por essa redução

de pressão. A abertura da válvula ocasiona comunicação entre coluna e espaço

anular fazendo com que parte do fluido do interior da coluna migre para o anular

gerando o decréscimo no registro da pressão. A Figura 4.2 mostra esse mecanismo

de funcionamento.

Figura 4.2 – Princípio de funcionamento da telemetria por pulsos negativos. Fonte: Silva (2009).

3. Telemetria por pulso contínuo

Esse sistema de telemetria é patenteado pela Schlumberger Oilfield Services

e é baseado em uma válvula rotatória (chamada de modulador). É um conjunto de

estator e rotor, que gira progressivamente abrindo e fechando a vazão através do

conjunto de forma contínua. E a medida que o fluido circula no interior da coluna cria

uma onda de pressão contínua.

De acordo com Rennie e Boonen (2007), com esse tipo de telemetria consegue-se

uma maior taxa de comunicação em relação aos outros dois sistemas (positivo e

41

negativo), pois é possível realizar a técnica de modulação por frequência (envio dos

dados continuamente alternando a fase do sinal e detectando essa mudança na

superfície). A Figura 4.3, abaixo, ilustra esse mecanismo.

Figura 4.3 – Princípio de funcionamento da telemetria por pulsos de lama contínuos. Fonte: Sampaio (2012).

Atualmente, para otimizar o processo de perfuração dando suporte às tomadas de

decisão, a utilização dessa tecnologia de pressão modulada através da lama (fluido

de perfuração) para a obtenção de dados em tempo real é muito comum, pois tornou

a perfuração mais segura e eficiente, obtendo uma maior taxa de transmissão de

dados.

Com todos esses desenvolvimentos tecnológicos, agora, é possível tomar decisões

em tempo hábil para navegar e/ou direcionar o poço na zona de interesse, já que os

diversos parâmetros são registrados e memorizados pela perfilagem e uma parte desses

dados é enviada para a superfície em tempo real.

4.1.1.1. Atenuação dos pulsos

Com o LWD, as seguintes propriedades que podem influenciar a taxa de transmissão

dos dados em tempo real é controlada:

- Taxa de penetração;

- Rotação;

- Peso sobre a broca;

- Vazão das bombas.

Quando a taxa de transmissão é excedida ocorre uma atenuação do sinal

(relacionada à amplitude e ruído), dificultando a interpretação. Muitas vezes os dados

obtidos da memória durante as manobras podem resolver esse problema.

42

A atenuação aumenta de acordo com a quantidade de gases dissolvidos,

viscosidade e compressibilidade do fluido já que ela é diretamente proporcional à

profundidade, frequência do sinal, diâmetro do tubo e condição do tubo (Schlumberger,

2011). Por exemplo, as ondas transmitidas são mais atenuadas nos fluidos à base de óleo

do que nos fluidos à base de água, devido a maior compressibilidade do óleo, na mesma

profundidade.

Quando a broca precisa ser trocada a ferramenta de perfilagem é retirada do fundo

do poço e desconectada do BHA na superfície, onde dados são descarregados (registro de

Memória – RM). E, de acordo com Paiva (2009), os dados RM do LWD não fornecem as

informações em profundidade, mas sim em tempo.

4.2. GEOSTEERING

Outro conceito importante é o “geosteering” ou geodirecionamento, que significa o

controle direcional intencional do poço baseado no conhecimento da geologia e em

medições realizadas durante a perfuração.

Ao invés de se perfurar para alcançar um objetivo predefinido, o curso do poço é

alterado de acordo com as formações encontradas durante a perfuração para manter o poço

direcional dentro de uma determinada zona de interesse.

Três componentes são medidos em qualquer ponto do poço a fim de determinar a

sua posição: a profundidade do ponto (profundidade medida), a inclinação no ponto e o

azimute no ponto. Estes três componentes combinados são referidos como um

posicionamento tridimensional do poço dentro da camada. Uma série de posicionamentos

da localização do poço é necessária para acompanhar o seu andamento (ROCHA et al.,

2006).

A constatação de que os poços de petróleo e/ou poços de água não eram

necessariamente verticais levou à utilização das técnicas de geosteering. Este fato ocorreu

gradualmente na história da indústria do petróleo e apenas no final da década de 20

começou a ser considerada.

Essas ferramentas de pesquisa e projetos de BHA (Botton Hole Assembly) tornaram

a perfuração direcional possível, porém, era visto como algo pouco conhecido. Somente na

década de 1970 a perfuração direcional teve um grande avanço, quando sistemas rotativos

de perfuração de poços tornaram-se mais comuns.

43

À primeira vista o funcionamento do geosteering parece simples: detectar através de

um dispositivo de LWD quando o poço sai da pay zone para o folhelho não deve ser difícil.

Entretanto é necessário saber em que direção o poço deixou o arenito. O problema básico

está ilustrado na Figura 4.4. O poço teria deixado o arenito do topo ou da base, ou acertou

uma falha?

Figura 4.4 – As três possibilidades quando o poço horizontal sai da pay zone para o folhelho. Fonte: Schlumberger (1997).

O segundo problema, prático, é que para fazer isso com sucesso as medições

devem ser feitas o mais perto possível da broca, caso contrário a broca terá ido longe

demais antes que qualquer mudança possa ser detectada e realizada.

Para examinar mais a fundo podemos considerar as quatro possibilidades: o poço

entrando no folhelho ou no arenito, tanto pelo topo quanto pelo fundo, como mostrado na

Figura 4.5. Se o poço estiver entrando em um folhelho, como no lado esquerdo da figura, o

poço deve ser virado para readentrar o arenito. Com duas medidas não-azimutais, como

raio gama e a propagação da resistividade, não é possível saber se o arenito está agora

acima ou abaixo do poço. Com duas medidas direcionais, tanto resistividade ou densidade,

é possível dizer, observando, se a medição de cima muda antes ou depois da medição de

baixo. Com apenas uma medida azimutal, ainda é possível separar os casos pela

44

observação se a mudança ocorre no início ou no fim do declive em uma medição não-

azimutal.

Nos outros dois casos, de poço adentrando o arenito, o curso atual pode ser

mantido, mas pode ser melhor virar e correr paralelo à fronteira arenito-folhelho. No caso de

falha, as duas medições não-zimutais devem responder à mesma profundidade. Imagens

completas de medições de múltiplos azimutes vão fornecer uma figura muito mais clara caso

o poço esteja passando por uma fronteira ou alguma outra característica (veja a parte de

baixo da figura 4.5).

Figura 4.5 – As quarto possibilidades quando um poço se move para cima ou para baixo do arenito para o folhelho ou vice-versa, mostrando a resposta de medições não-azimutais, medições

focalizadas e imagens de resistividade (cor clara é alta resistividade). Fonte: Imagens adaptadas de Rasmus et al. (1999).

Infelizmente nem todas as situações são simples como as mostradas na Figura 4.5.

Existem múltiplas camadas arenito-folhelho, sendo difícil de saber qual está sendo

penetrada. Além disso, os botões de resistividade e detectores de densidade que fazem as

medições azimutais são todos dispositivos de leitura rasa, respondendo à mudanças a

poucas polegadas acima ou abaixo dos comandos (drill collar). Dispositivos de propagação

da resistividade enxergam poucas dezenas de polegadas longe do drill collar, mas não são

azimutalmente focados.

45

O sistema rotativo denominado Rotary Steerable surgiu na década de 90 e, segundo

Rocha et al. (2006), a grande vantagem é que este sistema permite que a coluna de

perfuração gire durante todo o tempo, inclusive durante os trechos de ganho de ângulo e

alteração da direção. A indústria classifica os sistemas Rotary Steerable em dois grupos:

push the bit (empurrar a broca) e point the bit (apontar a broca), com os dois sistemas

usando motores de fundo, como apresentado na Figura 4.6.

Figura 4.6. - Ferramentas do sistema Rotary Steerable push the bit (A) e point the bit (B). Fonte: Rocha et al. (2006).

No sistema push the bit uma força é aplicada contra o poço para se conseguir levar a

broca para a inclinação e direção desejadas. Esta ferramenta possui três patins retráteis,

também conhecidos como pads. Ao receber um comando da superfície, os patins, através

de pulsos enviados pelo fluido de perfuração, saem impulsionando a broca na direção

oposta, mantendo-a, assim, dentro da zona de interesse.

Um exemplo de uma ferramenta com esse tipo de sistema é mostrado na Figura

4.7 a seguir.

46

Figura 4.7 - Ferramenta push the bit. Fonte: Schlumberger (2002).

No outro método, denominado point the bit, a broca é capaz de formar ângulos em

relação ao resto da coluna para que seja atingida a trajetória desejada. Estes ângulos são

formados por dois colares assimétricos que giram em torno da coluna, direcionando a broca

para a posição desejada, de acordo com Porto (2009).

Na Figura 4.8 abaixo está ilustrado o Geo Pilot que é um dos tipos de ferramentas

que realiza este processo e é a única que funciona em poços desmoronados.

Figura 4.8 - Ferramenta Geo Pilot realizando o processo do Point the bit. Fonte: Schlumberger (2002).

Durante a perfuração do poço o registro atual dos perfis são comparados com os

perfis simulados. Já que a trajetória atual e a geologia podem ser diferentes do planejado,

as simulações devem ser atualizadas à medida que a perfuração prossegue. Se os perfis

registrados correspondem aos simulados, é razoável assumir que o poço está na meta

(embora que em qualquer exercício de modelagem não existam soluções únicas).

47

Se uma diferença começa a se desenvolver, os perfis registrados podem ser

comparados com o banco de dados de cenários alternativos para se tentar entender o que

pode ter acontecido; por exemplo, teria o poço saído do alvo em um folhelho acima, ou está

apenas cruzando um fino “stringer” no meio do reservatório?

O resultado de um geosteering bem sucedido é que o poço é mantido dentro do

reservatório. É normalmente impossível provar que o resultado é o melhor que poderia ter

sido alcançado, mas um exemplo do reservatório de Grane na Noruega, citado por Darwin

V. Ellis e Julien M. Singer no livro Well Logging for Earth Scientists, dá alguma confirmação.

O lado esquerdo da Figura 4.9 mostra um típico perfil de resistividade do reservatório

como visto em um poço vertical. Para melhor aproveitamento, estudos mostram que poços

horizontais devem ser perfurados nove metros acima do contato óleo-água: mais para baixo

pode ocorrer cone de água; mais para cima o gás injetado pode romper do topo.

Figura 4.9 – À esquerda um perfil de resistividade do reservatório de Grane, derivado de perfis de poço vertical e à direita a resposta de 6 medições de resistividade calculadas em várias frequências e

profundidades. Fonte: Iversen et al. (2004).

48

Os poços podem ter até 3000 metros de seção horizontal, mas no momento em que

a perfuração está próxima de 2000, a posição do poço não pode ser medida com uma

acurácia melhor do que ±6 metros na parte inferior do poço e ±12 na superior.

Melhor acurácia pode ser alcançada pelo geosteering. Na direita da Figura 4.9 é

apresentado o resultado da modelagem de seis medições de resistividade em várias

posições desde abaixo do contato óleo-água (OWC) até acima do topo da rocha. Outros

modelos eram construídos para o efeito do folhelho abaixo do poço, que em algumas partes

do reservatório sobe mais que o contato óleo-água.

As diferentes medições têm diferentes sensibilidades para a distância acima do

contato óleo-água (OWC – oil-water contact) ou para o fundo do folhelho. Quando medidos

durante a perfuração, eles podem ser invertidos para fornecer essa distância.

Juntamente com o desenvolvimento de ferramentas MWD (usando a telemetria de

pulso de lama ou telemetria eletromagnética, que permite ferramentas do fundo do poço

enviar dados direcionais de volta à superfície sem perturbar as operações de perfuração), a

perfuração direcional se tornou mais fácil.

E, com esses conceitos, a análise das ferramentas de LWD, realizadas no capítulo

seguinte, serão mais facilmente compreendidas.

CAPÍTULO V – SISTEMA LWD

5.1. LWD, HISTÓRICO E INTERAÇÃO COM MWD

LWD, como já dito, é a abreviatura do inglês “Logging While Drilling”, que caracteriza

a perfilagem realizada durante o processo de perfuração, em tempo real. As ferramentas de

LWD realizam essa operação de medição dos diversos parâmetros através da geração de

perfis que devem ser bem interpretados.

LWD é um tipo de perfilagem de poço que incorpora as ferramentas de perfilagem à

coluna de perfuração (abaixo do BHA) administrando e transmitindo medições da formação

em tempo real para a superfície.

As principais funções do LWD são realizar, em tempo real, a avaliação da formação

e a capacidade de geosteering. Mas, por ser uma técnica tão importante e por conseguir

perfis em tempo real, as aplicações são diversas. Essa tecnologia tem grandes vantagens

como, por exemplo, a habilidade de conseguir realizar o perfil em poços horizontais e com

grandes desvios, além de fornecer dados enquanto o poço está sendo perfurado, como é

apresentado por Moake et al. (1997).

Ferramentas de MWD (Measurements While Driling) surgiram antes das de LWD. O

MWD, atualmente, faz parte da ferramenta de LWD, sendo a responsável direta pela

transmissão em tempo real dos dados medidos pelas demais partes dessa ferramenta. Essa

transmissão ocorre continuamente sem a presença de cabos.

Measurement While Drilling (MWD), de acordo com Hansen & White (1991), é uma

tecnologia mais antiga capaz de realizar as medições em tempo real da direção e da

inclinação do poço. Também é capaz de gerar correlação em tempo real com utilização do

raio gama e de sensores de resistividade.

É possível observar que existia uma necessidade de ferramentas mais complexas e

elaboradas além do MWD. Com isso surgiu o LWD, mas que, para não perder a qualidade

de transmitir os dados em tempo real, deveria ser utilizado juntamente com o MWD.

Um exemplo primário da ferramenta de LWD, que consistia na combinação do MWD

com as ferramentas de CDN (Compensated Density Neutron) e CDR (Compensated Dual

Resistivity Tool), é apresentado nas Figuras 5.1 e 5.2.

50

Figuras 5.1 e 5.2 – Exemplo primário das partes da ferramenta de LWD e as duas configurações possíveis de um típico BHA, respectivamente.

Fonte: Adaptada de Hansen & White (1991)

Com o desenvolvimento da tecnologia de perfuração, a tecnologia de perfilagem

também evoluiu com a introdução das ferramentas de LWD para complementar o tradicional

MWD. O LWD é capaz de fornecer acurácia, medições quantitativas de resistividade,

espectro natural do raio gama, porosidade neutrônica e densidade da formação. E quando o

51

LWD é utilizado combinado com o MWD é possível realizar todas essas medidas em tempo

real.

Hansen & White (1991) afirmam que o MWD é mais usado para correlação, mas a

combinação LWD/MWD atua como uma ferramenta geológica usada para posicionar melhor

verticalmente o poço horizontal. Esse posicionamento vertical do poço horizontal é

fundamental para maximizar a produtividade e minimizar fases indesejadas.

Os autores ainda complementam dizendo que a utilização do sistema combinado

LWD/MWD durante a perfuração de poços horizontais oferece ao usuário, em tempo real,

medições sobre as capacidades de direcionamento geológico (geosteering) bem como as

avaliações primárias da formação.

As medições de LWD surgiram há mais de 40 anos e desde então elas estão

progredindo e se adaptando, tornando-se cada vez mais úteis. Até pouco tempo atrás essas

medições eram usadas apenas para correlações, como é citado por Tollefsen et al. (2007),

devido a uma série de fatores, incluindo a falta de contabilização dos efeitos ambientais,

mudanças de formação e evolução das capacidades das ferramentas.

De acordo com Bargach et al. (2000), as ferramentas de LWD já estavam, nessa

época, na terceira geração. A tabela 5.1 faz o comparativo entre as três gerações de

ferramentas de LWD. É notório que as medições de LWD continuam evoluindo rapidamente

para conseguirem se adaptar a todas as dificuldades e desvantagens existentes.

Na primeira geração o LWD era formado por um conjunto composto de três partes ou

ferramentas, de acordo com Hansen & White (1991), como citado acima: CDR, MWD e

CDN. O Compensated Dual Resistivity (CDR) era responsável pela medição da resistividade

superficial (Rps), por medidas de resistividades profundas (Rad) e pelo espectro natural do

raio gama (GR).

A ferramenta de Measurement While Drilling (MWD) era responsável pela medição

geométrica da direção do poço bem como a sua inclinação, além de transmitir esses dados

e os de LWD para a superfície em tempo real, através de telemetria de pulso de lama. E o

Compensated Density Neutron (CDN) realizava medições de compensação térmica de

porosidade neutrônica, da densidade da formação e do fator fotoelétrico.

52

Tabela 5.1 – Comparativo entre as 3 gerações das ferramentas de LWD.

Geração 1ª (1988 a 1992) 2ª (1993 a 1996) 3ª (1997 a 2000)

Tipo de Serviço

Ferramentas Resposta Ferramentas Resposta Ferramentas Resposta

LWD CDN Densidade maxima

AND Densidade do quadrante

VISION475, 675, 825

Imagens de densidade

CDR Resistividade quantitativa

Caliper Ultrasônico

INFORM APWD Primeira vista do VISION

Anisotropia ISONIC Tela de Geosteering

Ferramenta de avaliação da porosidade

INFORM 3D

Rápida visão da avaliação da formação

ARC5 Tela de correlação

RAB ARC312, ARC900 GeoSteering IMPulse Sísmica Drill-Bit MACH-1 Sísmica MWD

Inovação Avaliação da formação durante a perfuração

Leituras azimutais Acurácia melhorada

Resistividade compensada do poço

Imagens de resistividade Gama maior no tamanho do poço

Resistividade duplamente espaçada

Ordem de resistividade Fonte não-química

Resistividade densidade-neutrônica

Resistividade da broca Imagens em tempo real

Motor instrumentado Segurança melhorada

MWD DWOB MEL MVC Alarmes inteligentes

VIPER PERFORM

BTOR SPIN RWOB Alerta rápido

AIM

PERT IWOB Lavagem de drillpipe

Slim 1 SHARP Cone de broca preso

SlimPulse

M1-M3 PowerPulse Anticolisão TR Monitor

PowerDrilling

Sistema de controle da superfície

FAST IDEAL

Taxa máxima de telemetria, bits por segundo

3 6 a 10 12 a 16

Comunicações Fax InterACT Testemunho InterACT Web

Aplicação primária

Correlação Geosteering bem sucessido no reservatório

Decisões em tempo real para eficiência da perfuração e gestão de risco

Avaliação da formação Avaliação da formação Geosteering para melhor parte do reservatório

Reconhecimento

Fonte: Adaptado de Bargach et al. (2000).

53

Portanto, essa primeira ferramenta, introduzida na década de 1980, fornecia a base

direcional e medições de avaliação de formação e serviu como perfis de segurança de

poços verticais e com desvio. De acordo com Bargach et al. (2000), as principais aplicações

na época foram correlações estratigráfica e estrutural com poços nas proximidades e

avaliação de formação básica. O LWD assegurava a aquisição dos dados básicos

necessários para determinar a produtividade, comercialidade e para reduzir o risco de

perfuração.

A segunda geração surgiu devido à pequena aceitação das ferramentas da primeira

geração que tinham uma acurácia limitada, segundo Moake et al. (1997). Essa nova

geração de LWD visava o encontro e correção dos problemas das ferramentas anteriores.

Ainda de acordo com Moake et al. (1997), o sistema era composto por duas ferramentas

diferentes (resistividade e neutrônica), mostradas na Figura 5.3, que podiam funcionar

independentes ou combinadas.

Figura 5.3 – Ferramenta Density Neutron Standoff Caliper (a) e ferramenta Compensated Wave Resistivity Gamma Directional (b).

Fonte: Moake et al. (1997).

54

A resistividade, o raio gama natural e as medições direcionais eram feitos pela

ferramenta Compensated Wave Resistivity Gamma Directional (CWRGD). Enquanto que as

medições de densidade e porosidade neutrônica eram feitas com a ferramenta Density

Neutron Standoff Caliper (DNSC).

Essa segunda fase no desenvolvimento do LWD, em meados da década de 1990,

refletiu na evolução com a introdução de medições azimutais, imagens do poço, motores

com fios instrumentados e programas de modelagem para alcançar o posicionamento bem

preciso através da técnica de geosteering.

E a terceira geração adicionou uma dimensão nova para os esforços da indústria

visando a construção de poços mais eficientes e econômicos, já que com o aprimoramento

das capacidades os riscos são menores e é possível um posicionamento bem mais preciso.

Como resultado, o Logging-for-Drilling em tempo real está rapidamente se tornando uma

realidade.

Bargach et al. (2000) apresentam a nova geração das ferramentas, com as quais é

possível um aprimoramento do posicionamento do poço com uma visão de múltiplas

profundidades e o geosteering mais efetivo para o aumento da produção. A Figura 5.4 ilustra

um exemplo dessa nova geração, na qual ainda é possível reconhecer e prevenir problemas

utilizando, inclusive, imagens em tempo real.

Figura 5.4 – Exemplo de uma combinação de ferramentas da terceira geração do LWD. Os dados são trasmitidos via satélite e várias opções de ferramentas de medições existem: densidade,

resistividade (dois tipos), inclinação, geosteering. Fonte: Bargach et al. (2000).

A Figura 5.5 ilustra a cronologia da evolução das ferramentas de LWD de uma

companhia de serviço, na qual, é possível relacionarmos as tecnologias com as três

gerações citadas acima.

55

Figura 5.5 – Cronologia da introdução das medições de LWD de uma companhia de serviços. Fonte: Adaptada de Tollefsen et al. (2007).

De acordo com Bargach et al. (2000), as chaves para a redução dos custos de

exploração e desenvolvimento são:

- Eficiência da perfuração;

- Gerenciamento de riscos;

- Preciso posicionamento do poço.

O LWD em tempo real atualmente realiza medições avançadas de resistividade,

porosidade, tempo de trânsito acústico, imagens do poço, depressões, pressão anular, teste

de pressão de fratura (leakoff) e testes de integridade da formação.

Segundo Tollefsen et al. (2007), ao se realizar a operação de LWD consegue-se os

seguintes benefícios:

- Garantia da captação de dados caso algo aconteça para impedir a análise por Wireline.

- Redução dos custos operacionais com menos dias de perfuração.

- Avaliação da formação com alterações reduzidas devido à invasão, fuga ou fratura.

- Uma linha de "enquanto perfura" base de medições para apurar se os efeitos de

perfuração têm alterado após resultados de perfis.

- Uma melhor compreensão das propriedades da formação antes dos resultados do

Wireline.

56

- Medições únicas que não estão disponíveis através do Wireline após a avaliação de

perfuração.

- Geosteering.

- Perfis de tempo base (perfis múltiplos).

- Correlação.

Husband et al. (1994) dizem que o LWD vem sendo utilizado rotineiramente para:

- Otimizar projetos de perfuração;

- Melhorar qualidade dos perfis;

- Geosteering em alvos horizontais complexos;

- Garantir a perfilagem em difíceis ambientes de perfuração.

E ele ainda conclui dizendo que:

- LWD diminui significativamente o tempo de operação na plataforma e os custos de

avaliação, além de diminuir o risco de não obter dados de perfis que sejam utilizáveis em

poços com ambientes complexos.

- LWD fornece melhores perfis, inclusive com a identificação das zonas próprias para

invasão, além de conseguir informações adicionais como movimento de fluidos e

dinâmica da parede do poço.

- Geosteering em poços horizontais com LWD melhora a produção.

Prilliman & Allen (1995) falam que em um poço analisado no Golfo do México, cujo

nome não foi citado, o LWD permitiu que a parede do poço horizontal fosse posicionada

acuradamente em alvos difíceis. Afirma ainda a capacidade da ferramenta de antecipar os

problemas e conclui com a constatação de que esse poço foi perfurado com sucesso em

múltiplos compartimentos.

Adolph et al. (2005) mostram que, com essa nova ferramenta de LWD, tem-se um

novo padrão de segurança e eficiência que diminui a incerteza na avaliação da formação.

Portanto deve-se usar o LWD não mais apenas como correlação e sim como a principal

análise durante a perfuração capaz de realizar uma avaliação de riscos precisa e, com isso,

conseguir uma perfilagem mais segura, mais rápida e mais inteligente.

As Figuras 5.6 e 5.7 exemplificam as evoluções que ocorreram no sistema de LWD.

Na Figura 5.6 tem-se um dos primeiros perfis realizados com LWD, cerca de 40 anos atrás,

enquanto que na Figura 5.7 mostra um perfil atual com grande acurácia e riqueza de

detalhes.

57

Figura 5.6 – Exemplo de um dos primeiros perfis gerados com a tecnologia de LWD. Apenas medições de raio gama, resistividade e condutividade em uma malha de duas dimensões.

Fonte: Tollefsen et al. (2007).

Figura 5.7 – Exemplo de um perfil realizado pelo sistema de LWD atual, com muita acurácia e riqueza de detalhes, no qual diversos parâmetros são medidos.

Fonte: Tollefsen et al. (2007).

58

Portanto, é possível perceber a incrível evolução dessas ferramentas, que estão em

constante desenvolvimento para fornecer uma avaliação da formação cada vez melhor,

além da capacidade de geosteering visando a maximização da produção.

Atualmente é possível medir uma série de parâmetros com o LWD, como por

exemplo: raios gama natural (total, spectral, azimutal ou próximo a broca), densidade, fator

fotoelétrico, porosidade neutrônica, caliper do poço (azimutal ultra-sônico), resistividade

(atenuação, mudança, próxima à broca e direcional profunda), capacidades sônicas (ondas

compressionais ou de cisalhamento), imagens do poço (de resistividade), teste de formação,

testemunho, pressão da formação, ressonância magnética nuclear (NMR) e sísmica durante

a perfuração.

E as decisões de LWD atuais geram grandes opções para correlação em tempo real,

como ilustrado na Figura 5.8. Obter informações durante a perfuração permite um maior

tempo para planejar necessidades downstream. Por exemplo, o conhecimento da formação

afeta a seleção da bomba para amostragens de Wireline.

Com as medições do LWD o operador tem a segurança de que os dados críticos

serão adquiridos e, se as condições planejadas para o Wireline forem limitadas, correr o

LWD fornece os dados críticos.

Figura 5.8 – Principais decisões para correlação atuais usando LWD. Fonte: Adaptado de Tollefsen (2007).

59

5.2 LWD X WIRELINE

É comum comparar a perfilagem de LWD com a de Wireline. Wireline são as

ferramentas de perfilagem a cabo convencionais que, em poços com boas condições e de

fácil acesso, são amplamente utilizadas e bem eficientes. A tendência em poços com

condições mais difíceis é que exista a substituição do Wireline pelo LWD, porém essas duas

tecnologias não são diretamente substituíveis. De acordo com Jackson e Heysse (1994) é

necessário examinar as diferenças entre elas focando principalmente nos seguintes tópicos:

- Diferenças nos sensores físicos;

- Correções ambientais.

São essenciais, pois em certas condições as diferentes ferramentas podem fornecer

respostas bem diferentes antes das correções ambientais. É necessário saber que o

ambiente vai afetar as edições da ferramenta e, elas já são criadas tendo o conhecimento

disso e são capacitadas a remover esses efeitos, mas devem ser utilizadas com cuidado.

- Referência básica padrão.

- Efeitos da invasão do filtrado.

A técnica de Wireline sofre mais invasão do que a de LWD e, para que as leituras

das duas técnicas sejam as mesmas seria necessário que os efeitos de invasão

fossem os mesmos.

- Alteração da formação.

Em casos onde a qualidade dos dados obtidos pelo LWD for duvidosa, o operador,

se for possível, deve realizar o registro por Wireline para solucionar a dúvida. Por exemplo,

em situações em que a transmissão via telemetria por pulsos de lama sofre muitas

atenuações, deve-se requisitar a corrida do Wireline.

O LWD, como já explicado anteriormente, é amplamente mais utilizado em poços

horizontais. Até pouco tempo atrás o LWD não era necessário para os poços verticais e isso

explica a Figura 5.9 que mostra a receita total do LWD e de Wireline entre os anos de 1999

e 2006.

Mas isso está mudando e, hoje em dia, em poços verticais exploratórios de alto custo

o LWD é utilizado para obter informações antecipadas das rochas que estão sendo

perfuradas e a tendência de substituição do Wireline pelo LWD para realização da

perfilagem do poço para uma melhor avaliação da formação é evidente e crescente.

60

O LWD é fortemente recomendado, pois fornece economia de recursos à empresa

operadora já que orienta no posicionamento adequado do poço na zona de interesse

(payzone).

Com essa técnica é possível saber a hora de parar a perfuração por ter chegado à

zona de interesse ou quando e para onde alterar a trajetória para a otimização do poço.

Com isso, dias de sonda podem ser economizados e uma futura produção também será

otimizada, algo impossível de ser feito pelo Wireline.

E o fato da medição ser realizada e transmitida em tempo real também gera

benefícios e uma maior exatidão como no exemplo ilustrado na Figura 5.10, onde a

comparação dos perfis de LWD com os de Wireline comprova o melhor resultado obtido via

LWD.

Figura 5.9 – Receita total das duas técnicas entre os anos de 1999 e 2006. Ambas tiveram um crescimento, sendo de 14% para o Wireline e 12% para o LWD.

Fonte: Tollefsen et al. (2007)

61

Figura 5.10 – Ilustra uma diferença substancial entre as medições de resistividade realizadas pelo LWD e por Wireline. Sem o LWD, as medições de Wireline apenas com raios gamas e resistividade

cometeriam um erro em relação a zona de hidrocarboneto. Fonte: Tollefsen et al. (2007)

5.3. AVANÇOS TECNOLÓGICOS E DESAFIOS FUTUROS

O sistema de LWD, desde sua origem, está em crescente desenvolvimento, visando

uma perfeita avaliação da formação, entre outros objetivos. Os desafios futuros podem ser

divididos em duas frentes: desafios técnicos e comerciais. E esses desafios estão

inteiramente ligados aos avanços tecnológicos, que buscam atender as demandas que são

cada vez mais exigentes.

62

Além dos desafios técnicos e comerciais, uma outra questão relevante é em relação

ao meio ambiente, ja que devido à crescente preocupação ambiental, com leis mais rígidas,

as empresas estão tendo que desenvolver ferramentas eficazes e que agridam o meio-

ambiente da menor maneira possível. Cada empresa prestadora de serviço desenvolve a

sua tecnologia individualmente, mas todas buscando o mesmo objetivo: realizar a avaliação

da formação sem gerar danos ao ambiente.

Um exemplo é uma nova ferramenta da Schlumberger, chamada de NeoScope, que

é a primeira na indústria que elimina a necessidade de uma fonte química para a realização

do LWD. Ela funciona com uma tecnologia geradora de pulsos neutrônicos disponível no

LWD, como mostrado na Figura 5.11, que possibilita cumprir o objetivo reduzindo os riscos.

Com isso é possível realizar a perfilagem em locais não-convencionais reduzindo também o

tempo de plataforma em qualquer operação de perfuração.

Figura 5.11 – Pulso de nêutrons da ferramenta NeoScope. Fonte: Schlumberger.

Os desafios, tanto técnicos quanto comerciais, foram detalhados por Lofts et al.

(2005). Esse artigo foi feito pelas três maiores empresas prestadoras de serviços no ramo

de petróleo, também chamadas de parapetroleiras (Schlumberger, Baker Hughes e

Halliburton), em conjunto (cada um dos autores era diretor ou gerente de uma dessas

empresas).

Nesse artigo os autores citaram e explicaram os desafios técnicos e comerciais

chaves encarados pelas empresas, tanto para as prestadoras de serviços quanto para as

operadoras, em disponibilizar a avaliação da formação por LWD nos complexos ambientes

de perfuração atuais. Aumentando o desenvolvimento das ferramentas e realizando um

cruzamento das fronteiras disciplinares, ou seja, fazendo um estudo multidisciplinar com

várias áreas em conjunto, mais questões surgem e os desafios aumentam.

Entre os principais desafios técnicos estão:

63

i. O desafio do tempo real

O desafio é conseguir obter o máximo da perfuração do poço e da avaliação

da formação no sistema de medição durante a perfuração. Fornecer precisas

avaliações em tempo real, econômicas e eficientemente viáveis é o objetivo de

qualquer equipe.

Com o aumento na complexidade de medição e da aceitação das medições de

LWD nos últimos anos, eles tornaram-se os perfis de registro e são, muitas vezes, os

dados responsáveis por sérias tomadas de decisões. O desafio existe para usar os

dados efetivamente em tempo real, ou seja, conseguir os dados certos para a

superfície na prioridade certa e com a taxa adequada para tomar decisões valiosas e

em tempo real.

O sistema está integrado e fornece benefícios para todos os membros da

equipe. Portanto a capacidade tem que satisfazer às necessidades de todos os

interessados. Isso está em contraste com a tradicional seleção de fornecedores de

Wireline (fortemente influenciados apenas pelo grupo Geólogo e Geofísico - G&G) e

de MWD (geralmente feitas diretamente apenas pelo Departamento de Perfuração).

O desafio da perspectiva da empresa de serviço é “cobrir todas as bases” no

desenvolvimento de necessidades e fornecer suporte e apoio operacional para todos

os responsáveis pelas tomadas de decisões para assegurar o melhor resultado

possível.

ii. O efeito causado na qualidade do perfil devido à rápida perfuração feita pelos

sistemas direcionais rotacionais (rotary steerable systems - RSS)

Desde sua introdução, os sistemas direcionais rotacionais - Rotary Steerable

Systems (RSS) – têm crescido constantemente. Isso é especialmente verificado em

áreas offshore de alto custo. A maioria dos RSS usados nas seções do reservatório

possui um avançado sistema de medição de LWD. Os RSS’s têm tido muitos

impactos na qualidade das medições LWD. Em geral, a qualidade do poço é melhor

quando há melhores medições com poucas correções ambientais.

O aumento do uso de RSS nos últimos anos gerou o aumento da eficiência

da perfuração desses sistemas. A metragem média de perfuração por hora de

circulação de RSS tem aumentado nos últimos anos. Esse aumento é devido às

taxas mais rápidas de penetração (ROP) e ganhos de eficiência global.

64

No ambiente de LWD, a velocidade de perfilagem é controlada pelo processo

de perfuração através do controle da taxa de penetração (ROP). O RSS tem

aumentado a ROP, tornando o processo de perfuração muito mais eficiente. O

impacto destes ROP’s mais rápidos pode ser resumido em duas áreas principais:

taxa de amostragem e precisão nuclear.

Taxa de amostragem: medições LWD são registradas em tempo real no poço

e, mais tarde, como arquivos de profundidades na superfície. A taxa de verificação

ou tempo de amostragem, combinado com a ROP determina o eventual número de

medições por pé registradas no perfil. Quanto mais rápida a ROP, mais rápida

também deverá ser a taxa de verificação para manter o mesmo espaçamento de

profundidade. Com o aumento da taxa de verificação é preciso um aumento da

memória requerida da ferramenta para manter as mesmas horas de operação.

Precisão nuclear: de todas as medições petrofísicas básicas, as medições

nucleares são as mais afetadas pelo aumento da velocidade da perfilagem. O

principal efeito é de precisão: isso é devido à natureza estatística da medição. O

exemplo analisado pelos autores mostrou que a precisão em 100 pés/hr é apenas +-

0.25pu enquanto que em 400 pés/hr muda para +-0.50pu para uma base de 20% de

porosidade.

iii. Evolução do time de assistência dos operadores, e as empresas de serviços

operando como um time. Conflitos entre os objetivos da perfuração, geológicos e

geofísicos e os efeitos desses conflitos no planejamento e comunicação do sistema

LWD

Durante a última década ou mais houve uma evolução na maneira que

operadores formam equipes para encontrar, desenvolver e produzir recursos de

petróleo e gás. A “Equipe Ativa” (The Asset Team), na maioria dos casos, tornou-se

a norma, reunindo um grupo multidisciplinar das áreas de G&G, Perfuração,

Reservatório e Engenharia de Produção em um time focado que pode executar mais

efetivamente. A evolução dessa equipe de ativos coincidiu com o rápido

desenvolvimento e aumento na aceitação das medições LWD.

É importante, do ponto de vista da empresa de serviço, descobrir

rapidamente em qual estágio de desenvolvimento o Asset Team está. Quando

representantes da empresa de serviços encontram-se em uma função de facilitador

de comunicação através de departamentos da empresa operadora isso pode

representar um real desafio organizacional e operacional.

65

Para uma prestadora de serviços, uma equipe de desempenho oferece uma

boa oportunidade para, efetivamente e rapidamente, comunicar capacidades e

planos operacionais. Isto tem um efeito positivo tanto sobre o tempo de ciclo quanto

sobre o resultado de um projeto e a boa performance do Asset Team ocorre quando

as pessoas certas, com a informação certa e um plano de fundo correto, debatem

diversas probabilidades, revisam e validam cenários “e se” fornecidos pelo

engenheiro da área em questão e estabelecem uma linha de decisão se as

informações em tempo real do LWD indicarem partidas de altas probabilidades.

Desenvolver um Asset Team permite que empresas prestadoras de serviços montem

modelos de geosteering de forma mais fácil e efetiva, economizando tempo

enquanto otimiza o resultado.

E entre os principais desafios comerciais citados estão:

i. Retorno do investimento em tecnologia LWD

Da perspectiva da companhia de petróleo, aquisição de dados LWD para um

serviço de combo quádruplo (quad combo), por poço, é cerca de duas vezes o do

Wireline. A companhia de petróleo pode justificar isso em ambientes offshore com

economia de tempo de plataforma mais os benefícios das tomadas de decisões em

tempo real. O negócio é geralmente claro – por isso o LWD tem substituído o

Wireline em desenvolvimento de poços offshore.

Da perspectiva da companhia de serviços, o capital investido para adquirir os

dados desse serviço em um poço com três seções é de 3 a 5 vezes mais alto para

LWD do que para Wireline. Isso inclui dois conjuntos de ferramentas cobrindo todos

os diâmetros do poço. Adicione a isto:

- Pessoal extra para operar o LWD para trabalhos de longa duração (turnos de

12 horas);

- Reparo e manutenção LWD custa cerca de 3 a 4 vezes o de Wireline;

- Compra de equipamentos para segurar o colar é uma ordem de magnitude

mais cara;

- Logística e custos de transporte são muito mais elevados;

- Programações de depreciação maiores devido à alta frequência de reposição.

A maior fratura conseguida, gerando uma maior recuperação, é mais do que

compensada por esses custos mais elevados. Para melhorar sua proposta de valor,

companhias prestadoras de serviços LWD deverão aumentar a geração de receita e

66

ao mesmo tempo introduzir uma nova tecnologia e inovação para reduzir custos

operacionais.

ii. Redução dos gastos de pesquisa e desenvolvimento operacional (R&D) e a mudança

para empresas de serviços: o efeito sobre as tendências e oportunidades para o futuro

Novos serviços de avaliação de formação são caros para desenvolver e

comercializar. A maioria das companhias de serviços gastam cerca de 5 a 7% das

receitas em R&D. Tecnologia nova é a principal fonte de criação de valor em nossa

indústria. Desde 1991, a parte da indústria de R&D financiada pelas companhias

operadoras caiu de cerca de 90% do montante total para 50%. A figura 5.12 ilustra

uma tendência similar identificando a crescente diferença entre as patentes

concedidas para as prestadoras de seriços e operadores, respectivamente.

Figura 5.12 - Patentes pelas maiores operadoras e prestadores de serviço de 2000 a 2005. Fonte: Lofts et al. (2005).

A queda no financiamento de operadoras R&D não é necessariamente

negativa, mas esse aumento nos gastos e inovações das prestadoras de serviço em

medições e transporte está em risco. Até agora a maioria de R&D gasto em LWD

tem sido para embalar sensores de Wireline para ambientes de perfuração. Wireline

tem sido a fonte de inovação para a maioria das medições LWD, mas essa prática

está afunilando.

As empresas de serviços precisarão balancear o gasto disponível para R&D

entre reduzir os custos de serviço de entrega e inovação. Para alcançar um rentável

equilíbrio, prestadoras de serviços e operadoras terão que trabalhar juntas para fazer

desenvolvimentos tecnológicos mais eficientes.

67

iii. Wide-scale bulk tendering (tendência de grande escala em massa): Isso sempre agrega

valor ao operador?

Wide-scale bulk tendering é uma estratégia de aquisições que começou como

um meio para obter preços mais baixos através de garantia de um escopo de

trabalho crescente para as empresas de serviços. Presumiu-se que economias de

escala seriam passadas da prestadora para a operadora. Na realidade, entretanto,

isso levou a limitação de nova tecnologia nessas tendências em massa.

É possível perceber a complicação crescente na área e a necessidade cada vez

maior de novas tecnologias com o uso de equipes multidisciplinares cada vez maiores e

mais qualificadas. A Figura 5.13 mostra que no final da última década o volume de dados

adquiridos foi maior do que nos últimos 50 anos anteriores e a tendência é só aumentar. Os

desafios são sérios e se a indústria conseguir sanar todas essas questões será uma grande

vitória e garantia de sucesso.

Figura 5.13 – Tendência que indicou que mais dados foram adquiridos na última década do que nos 50 anos anteriores.

Fonte: Lofts et al. (2005).

VI. CONCLUSÃO

Com o presente trabalho foi possível demonstrar as características do sistema LWD,

principalmente quando aplicado em poços horizontais, destacando suas características,

aplicações, vantagens e desvantagens. Para se conseguir esse entendimento também foi

necessário estudar alguns conceitos importantes que estão envolvidos no processo como,

por exemplo, os poços horizontais, perfilagem, telemetria por pulsos da lama e geosteering.

No capítulo II foi realizada uma análise dos poços horizontais. Os poços de petróleo

podem ser verticais, direcionais, multilaterais ou horizontais (os mais comuns). Um poço

horizontal é aquele que possui ângulo de desvio aparente superior a 80° podendo chegar a

90°. Essa tecnologia surgiu na década de 80 e a primeira utilização no Brasil foi em 1990.

O surgimento dos poços horizontais foi de grande valor para a indústria, pois eles

conseguem uma maior área de superfície na zona de produção causando maior exposição

ao fluxo de hidrocarbonetos. Além dessa vantagem principal, existem outras razões para se

perfurar um poço horizontal como, por exemplo: reduzir quedas de pressão, propiciar maior

interceptação das fraturas verticais, viabilizar a exploração de formações com baixas

porosidades, retardar o avanço óleo-água ou gás-óleo, conseguir realizar a produção em

reservatórios antes considerados inacessíveis, entre outras.

Porém a interação dos poços horizontais com o reservatório é mais complicada

sendo necessário uma avaliação para a sua utilização ótima, já que os custos de um poço

horizontal podem ser até três vezes maior do que os de um poço vertical. E, devido a essa

interação mais complicada, as tecnologias utilizadas devem ser diferentes e mais modernas.

Para a perfilagem de poços mais difíceis (direcionais e horizontais) o uso do LWD é mais

aconselhável do que a perfilagem a cabo tradicional.

No capítulo III o assunto em questão é a perfilagem que, de acordo com Ellis e

Singer (2008), é “um registro das características da formação rochosa realizado através de

dispositivos de medição que vão por dentro do poço”. O surgimento dessa técnica ocorreu

em 1927 e, desde então, ela vem sendo desenvolvida para atender, da melhor forma

possível, os seus dois objetivos: correlação e avaliação dos reservatórios.

Para a realização dessa avaliação do reservatório é necessária a análise das

propriedades da rocha e também do fluido presente. As principais propriedades são

porosidade que é a porção da rocha em volume ocupada por espaço poroso (em %) e

permeabilidade (grau em que os poros estão interconectados). Porém, o interesse comercial

é o fluido contido e, por isso, um fator importante a ser estudado é a saturação de água

(porcentagem da porosidade ocupada pela salmoura, em vez de hidrocarboneto).

69

A avaliação feita pela perfilagem busca saber se existe hidrocarboneto (óleo ou gás)

na formação, onde eles estão, quanto está contido nessa formação e quão produzíveis eles

são. Para isso, são realizados diversos tipos de perfilagem, sendo as mais comuns as

perfilagens elétrica, nuclear e acústica, que sofrem influência do tipo de poço. Portanto

essas avaliações devem ser feitas cuidadosamente para poços horizontais e com

ferramentas mais modernas capazes de remover os erros, como as ferramentas de LWD.

No capítulo IV o sistema LWD, foco do trabalho, começa a ser analisado com o

estudo de alguns conceitos iniciais fundamentais para o entendimento da técnica. Os dois

conceitos mais importantes, que praticamente formam esse capítulo, são a telemetria por

pulsos de lama e o geosteering.

Telemetria é a técnica de obtenção, processamento e transmissão de dados, sendo

fundamental para o processo de perfilagem. Os seguintes tipos de telemetria são usados na

indústria do petróleo: a cabo, por tubos flexíveis (Coiled Tubing), com coluna de tubos de

perfuração (Toolpusher), por ondas eletromagnéticas, por tubos inteligentes (Wired Drill

Pipes) e por pulsos de lama (mais comum e utilizada no sistema LWD).

A telemetria por pulsos de lama surgiu devido à necessidade de comunicação com

as ferramentas no fundo do poço em um sistema rotativo onde a utilização de cabo elétrico

era inviável, e sua primeira transmissão foi comercializada em 1965. Instrumentos geram a

informação no fundo do poço que, pela lama, é então transmitida para a superfície onde os

sinais são decodificados. A grande vantagem é a capacidade de realizar a transmissão em

tempo real graças ao LWD a partir dos anos 70. É o tipo mais comum de telemetria, embora

a função principal da lama seja a limpeza do poço e não a transmissão dos sinais.

O outro conceito importante abordado nesse capítulo foi o geosteering ou

geodirecionamento que é o controle direcional intencional do poço baseado no

conhecimento da geologia e em medições realizadas durante a perfuração para manter o

poço direcional dentro de uma determinada zona de interesse. O funcionamento dessa

técnica parece simples, pois é apenas a detecção através de dispositivo do LWD quando o

poço sai da pay zone, porém existem dois problemas: saber em que direção o poço deixou a

zona de interesse e as medidas devem ser feitas o mais perto possível da broca, para que

ela não vá longe demais antes que qualquer mudança possa ser detectada e realizada.

Finalmente, no capítulo V, o sistema LWD foi detalhado. Logging While Drilling é a

perfilagem realizada durante o processo de perfuração, em tempo real. As principais

funções do LWD são realizar a avaliação da formação e a capacidade de geosteering, mas

as aplicações são diversas. A técnica de MWD (Measurement While Drilling) surgiu primeiro

70

e, em seguida, foi incorparada ao LWD que consegue realizar a perfilagens de poços com

alto ângulo e horizontais, mantendo-os dentro da zona de interesse.

Realizando a operação de LWD consegue-se diversos benefícios, como por

exemplo: garantia da captação de dados caso algo aconteça para impedir a análise por

Wireline; redução dos custos operacionais com menos dias de perfuração; avaliação da

formação com alterações reduzidas devido à invasão, fuga ou fratura; uma melhor

compreensão das propriedades da formação antes dos resultados do Wireline; medições

únicas que não estão disponíveis através do Wireline após a avaliação de perfuração;

geosteering; perfis de tempo base (perfis múltiplos) e correlação.

Com essa obtenção dos dados em tempo real é possível a antecipação da tomada

de decisões em poços exploratórios, reduzindo-se o tempo da operação e,

consequentemente, os custos elevados do aluguel diário de uma sonda de perfuração.

Estes dados, quando comparados aos dados registrados na memória da ferramenta, tem

obtido uma excelente repetibilidade.

O LWD vem sendo utilizado rotineiramente para otimizar projetos de perfuração,

melhorar qualidade dos perfis, geosteering em alvos horizontais complexos e garantir a

perfilagem em difíceis ambientes de perfuração. E, como a maior parte dos poços

exploratórios é horizontal, o LWD vem ganhando espaço aumentando cada vez mais a sua

utilização.

Os custos de uma operação com LWD são altos, mas são compensados em relação

ao Wireline, pois o valor pago para manter a sonda de perfuração por mais tempo seria

muito maior. E existem alguns desafios ambientais, técnicos e comerciais que precisam ser

superados pelo LWD, mas essa é a tendência e a técnica deve se desenvolver ainda mais

para que a avaliação da formação se torne, um dia, uma etapa livre de problemas e que

ajude a trazer soluções visando sempre a otimização da produção.

71

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