Aplicações de Musicoterapia e Práticas Integrativas

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APLICAÇÕES DE MUSICOTERAPIA E PRÁTICAS INTEGRATIVAS Thiago Hoerlle Sumário Aplicações de musicoterapia e práticas integrativas nas práticas Psicopedagógicas: perspectivas a partir de uma abordagem histórico-social O presente artigo aponta para a relevância da musicoterapia e outras terapias integrativas para as práticas psicopedagógicas, dentro de um novo espectro de compreensão de humanidade e realidade. Apresenta um panorama sintático das fronteiras da ciência frente às comprovações das terapias integrativas. Descreve sucintamente acerca do atual paradigma científico ocidental e suas repercussões negativas da concepção no modelo educacional e na realidade humana. Aborda os estudos recentes sobre música e musicoterapia, aplicados em ambientes educacionais. Apresenta sugestões de atividades práticas do fazer musical nas práticas educacionais e psicopedagógicas. Palavras-chave: psicopedagogia; diagnóstico psicopedagógico; intervenção psicopedagógica; dificuldades de aprendizagem; musicoterapia; terapias integrativas. ABSTRACT: APPLICATIONS OF MUSIC THERAPY AND INTEGRATIVE PRACTICES IN PSYCHOPEDAGOGICAL PRACTICE: PERSPECTIVES PERSPECTIVES FROM A HISTORICAL AND SOCIAL APPROACH This article points to the relevance of music therapy and other integrative therapies for psychopedagogical practices within a new spectrum of understanding of humanity and reality. It presents an overview of the syntactic boundaries of science to forward evidence of integrative therapies. Describes briefly about the current Western scientific paradigm and its negative impact on the design of educational model and human reality. Discusses the recent studies about music and music therapy, applied in educational settings. Presents suggestions for practical activities of music making in educational and psychopedagogical practices. Keywords: psychopedagogy, psychopedagogy diagnosis; psychopedagogical intervention; learning disorders; music therapy; integrative therapies. 1. VISÃO GERAL A Psicopedagogia, enquanto novo ramo de estudo e prática das dinâmicas de ensino-aprendizagem, com base em várias correntes epistemológicas, busca problematizar o não aprender, alicerçando-se em uma teia interdisciplinar, propondo novas óticas acerca das dificuldades de aprendizagem que os sujeitos possam apresentar, bem como na (re) construção do processo didático-metodológico visando à plena realização do sujeito aprendente a partir de uma dinâmica educacional que possibilite processos mediativos para a promoção do desenvolvimento global do sujeito. Frente a essa concepção interdisciplinar e dinâmica, faz-se necessário buscar alternativas em novas fontes de conhecimento que se apresentem coerentes e colaborativas para a promoção do aprendizado. Dentre elas, a Música mostra-se uma excelente modalidade através da qual é possível estabelecer relações diferenciadas com o conhecimento sobre todas as

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APLICAES DE MUSICOTERAPIA E PRTICAS INTEGRATIVASThiago HoerlleSumrio

Aplicaes de musicoterapia e prticas integrativas nas prticas Psicopedaggicas: perspectivas a partir de uma abordagem histrico-social

O presente artigo aponta para a relevncia da musicoterapia e outras terapias integrativas para as prticas psicopedaggicas, dentro de um novo espectro de compreenso de humanidade e realidade. Apresenta um panorama sinttico das fronteiras da cincia frente s comprovaes das terapias integrativas. Descreve sucintamente acerca do atual paradigma cientfico ocidental e suas repercusses negativas da concepo no modelo educacional e na realidade humana. Aborda os estudos recentes sobre msica e musicoterapia, aplicados em ambientes educacionais. Apresenta sugestes de atividades prticas do fazer musical nas prticas educacionais e psicopedaggicas.Palavras-chave: psicopedagogia; diagnstico psicopedaggico; interveno psicopedaggica; dificuldades de aprendizagem; musicoterapia; terapias integrativas.

ABSTRACT:APPLICATIONS OF MUSIC THERAPY AND INTEGRATIVE PRACTICES IN PSYCHOPEDAGOGICAL PRACTICE: PERSPECTIVES PERSPECTIVES FROM A HISTORICAL AND SOCIAL APPROACHThis article points to the relevance of music therapy and other integrative therapies for psychopedagogical practices within a new spectrum of understanding of humanity and reality. It presents an overview of the syntactic boundaries of science to forward evidence of integrative therapies. Describes briefly about the current Western scientific paradigm and its negative impact on the design of educational model and human reality. Discusses the recent studies about music and music therapy, applied in educational settings. Presents suggestions for practical activities of music making in educational and psychopedagogical practices.Keywords: psychopedagogy, psychopedagogy diagnosis; psychopedagogical intervention; learning disorders; music therapy; integrative therapies.

1. VISO GERALA Psicopedagogia, enquanto novo ramo de estudo e prtica das dinmicas de ensino-aprendizagem, com base em vrias correntes epistemolgicas, busca problematizar o no aprender, alicerando-se em uma teia interdisciplinar, propondo novas ticas acerca das dificuldades de aprendizagem que os sujeitos possam apresentar, bem como na (re) construo do processo didtico-metodolgico visando plena realizao do sujeito aprendente a partir de uma dinmica educacional que possibilite processos mediativos para a promoo do desenvolvimento global do sujeito.Frente a essa concepo interdisciplinar e dinmica, faz-se necessrio buscar alternativas em novas fontes de conhecimento que se apresentem coerentes e colaborativas para a promoo do aprendizado. Dentre elas, a Msica mostra-se uma excelente modalidade atravs da qual possvel estabelecer relaes diferenciadas com o conhecimento sobre todas as coisas. Particularmente, a Musicoterapia, um ramo teraputico da Msica apresenta-se como parceiro ideal na quase totalidade dos casos de dificuldades de aprendizagem. A Musicoterapia, acompanhada de outras terapias integrativas, j aceitas pelos rgos governamentais de sade (BRASIL, 2006), tais como Acupuntura, Qigong e outras, trazem um novo paradigma de tratamento e uma nova concepo do ser humano.

2. AS NOVAS PROPOSTASA humanidade, em constante evoluo, seja atravs da Cincia ou da conscincia, sempre encontra novos caminhos e paradigmas para resolver novos e antigos problemas. Nas ltimas dcadas, estudos das mais diversas reas questionaram muitos paradigmas estabelecidos, inclusive a prpria viso do que seja Cincia.A aproximao de diferentes culturas, ocidental e oriental, proporcionada pelas ferramentas de informao e comunicao, tem expandido enormemente os conceitos humanos, seja sobre cincia, educao ou espiritualidade. Novas descobertas, dentre elas a mecnica quntica, tem colocado os antigos dogmas cientficos em saia justa, frente a evidncias assombrosas e sem resposta. Novas pesquisas acerca de campos qunticos (VEDRAL, 2010) e (MOYER, 2012), bioftons (KOROTKOV, 2009), energias sutis (MCCRATY et al, 1998) e (TILLER, 1997), meditao (LAZAR, 2005), (NEALE, 2006) e (MENEZES e DELL AGLIO, 2009), yoga (SILVA e LAGE, 2006), acupuntura (OMS et al, 2003) e musicoterapia (ROCHA E BOGGIO, 2013) tm mostrado evidncias irrefutveis de existncia de fatores ainda no considerados pela comunidade cientfica.A sociedade, especialmente a ocidental, est se dando conta de que faltam muitas peas no mosaico que chama realidade. A intrigante questo da conscincia e sua origem tem despertado de maneira crescente o interesse dos pesquisadores, ainda mais curiosos com a descoberta de energia escura dentro do crebro humano (RAICHLE, 2010). A ressignificao do ser humano traz impacto sobre todas as reas de conhecimento, e as pedaggicas e psicopedaggicas no fogem regra.

2.1. O Paradigma Cientfico e a Desarmonia HumanaO paradigma ocidental, com enfoque no indivduo e na separao das partes, bem como o dogma materialista das evidncias para a construo das comprovaes cientficas tem trazido inegavelmente enormes avanos em vrios ramos do conhecimento, seja da Fsica, Medicina, Telecomunicaes etc. No entanto, outros ramos do conhecimento, no menos importantes, deixaram de avanar junto com suas coirms: o autoconhecimento, a sabedoria, a espiritualidade, a relao do homem consigo mesmo, com o prximo e com o cosmos.Segundo Pozatti (2012, p.2), nos moldes atuais, a humanidade chega a uma espcie de dissociao, refletida pelos processos educacionais e prticas de cuidado, e estas "(...) cada vez mais se afastam do humano integral, voltadas que esto para uma viso de mundo materialista." O engessamento do atual paradigma cientfico foi evidente, conforme o autor descreve experincias de sua formao acadmica em Medicina:

"Uma nova viso de mundo foi tornando-se visvel para mim ao perceber que o curso de Medicina tinha bases paradigmticas bem definidas, porm, havia outras possibilidades de vises de mundo. Com isso, mudei o foco da dissertao para o estudo de paradigmas da Medicina. Percebi, nesta poca, que estvamos buscando novas tcnicas e mtodos de cuidados para a sade sem, entretanto, modificarmos o paradigma vigente. A viso de mundo e o paradigma mdico eram os mesmos, dentro e fora do hospital. Apesar da contribuio e da dedicao dos que trabalhavam pela sade e por uma educao libertadora, pouca coisa realmente mudando. Com o mestrado passei a perceber que a viso de mundo que orientava nossa maneira de viver estava ameaando cada um de ns, a sociedade, os outros habitantes deste planeta, o prprio planeta e o Universo (Capra, 1986)." (POZATTI, 2012, p. 3).

Uma das caractersticas do mtodo de construo do conhecimento na sociedade ocidental a construo do conhecimento em pequenos blocos, meticulosamente verificados para que sejam base de conhecimento para novas descobertas a partir dele. No entanto, seu contraponto mostra-se com o fato de que h grande resistncia quando esse conhecimento posteriormente apresenta falhas e precisa ser repensado. Por outro lado, casos que no se encaixam nas teorias postuladas, ou at mesmo as contradizem, so desconsiderados, colocados na vala comum do desconhecido. Carvalho [s/d] j aponta para isso, quando comenta sobre a verdade cientfica ser diretamente subordinada influncia histrica e seus inerentes jogos de poder:

"Em que pese ser a verdade [cientfica] constituda para a ao, ela necessita de algo que a torne vlida como uma verdade socialmente relevante e aceitvel. A verdade histrica, ou seja, tem carter relativo; no perene, pois o jogo de poder ameaa sua estabilidade, posto que a coloca sob a influncia da histria, numa luta cerrada para permanecer credenciada. A verdade instituda pode entrar em conflito com outra divergente, a nova verdade, esta ltima, por sua vez, tem por meta desconstruir a primeira para que ento possa se auto-afirmar. As verdades no surgem isoladamente, elas se articulam em sentido mais amplo atravs da construo de um discurso" (CARVALHO, [s/d], p.1).

2.2. Msica e NeurocinciaEstudos recentes corroboram o postulado de que a msica sempre esteve presente nas manifestaes humanas, sendo, inclusive "anterior prpria linguagem e agricultura" (LEVITIN apud ROCHA, 2013, p. 1). Para Haguiara-Cervellini (2003, p.80) "a msica faz parte da nossa vida desde o nascimento" seja pela afetividade da me quando cantarola e fala com seu beb, seja por este comunicar-se atravs de "gritos, choro, vocalizaes diferenciadas". Ainda segundo a autora:

"Existe uma reciprocidade entre movimento e canto, provavelmente influenciada pela respirao e pelo ritmo cardaco. A criana canta mais livremente quando est em movimento, ou brincando sozinha. Seus intentos musicais estariam associados explorao sonora, ou seja, percutem objetos, escutam seus sons, repetem o que ouviram, reproduzindo inflexes de altura e timbre, assim como combinaes voclicas, consoantes, sons guturais e outros.A qualidade da produo sonora de uma criana diferente se ela teve contato com a msica. O desenvolvimento corporal, afetivo e psquico tambm estimula o desejo infantil de cantar. Quando comea a aprender a andar e a adquirir novos conhecimentos, comea a separar a fala do canto." (2003, p.80).

Na rea de linguagem, estudos de Koelsch (apud ROCHA, 2013) apontam que atravs do componente N400, tipicamente relacionado ao processamento semntico da linguagem verbal encontrado de forma semelhante durante o processamento de informao semntica no-verbal (musical). Com isso, estreita-se a relao entre aspectos bsicos do processamento de informao verbal e musical. Esse mesmo componente analisado (N400) tambm est relacionado a incongruncias semnticas musicais, sugerindo que a compreenso semntica de msica deve ser semelhante compreenso semntica de textos. Interessante notar que Vygotsky (1984, p.23) j notara a correlao com linguagem e percepo, afirmando que "mesmo nos estgios mais precoces do desenvolvimento, linguagem e percepo esto ligadas".Na rea de integrao cerebral, Zatorre, Chen e Penhume (apud ROCHA, 2013, p.2-3) explicam que as reas percepo rtmica e motora do crebro esto envolvidas, independente do indivduo ser ouvinte ou executante, indicando mecanismos de integrao multissensorial e motora. Ainda, segundo os autores, tanto a parte de percepo rtmica quanto a meldica so desempenhadas em vrios nveis hierrquicos pelo crebro, "por isso o envolvimento de um grande nmero de estruturas cerebrais. Quanto mais complexo o padro rtmico ouvido, maior a atividade neural de quem ouve".Na rea de memorizao, a msica tem papel preponderante, tanto que ela e os recursos auditivos so amplamente usados pelos meios de comunicao para estabelecer contato mais direto com seu pblico alvo. Uma das razes para isso possivelmente se d pelo compartilhamento de contedo semntico entre linguagem e msica.Rocha (2003, p.7) relata ainda que h evidncias de que "a boa discriminao de altura e ritmo em msica possa contribuir para boa discriminao fonolgica e para desenvolvimento precoce da leitura", sendo percebidas correlaes entre o ensaio musical e memria verbal.Alm das vantagens j expressas h, ainda, a contribuio na rea educativa para formao e desenvolvimento da personalidade da criana, pela ampliao cultural, enriquecimento da inteligncia e pela evoluo da sensibilidade. "A msica uma linguagem que, se compreendida desde cedo, ajuda o ser humano a expressar com mais facilidade suas emoes, sentimentos e principalmente ser criativo" (GES, 2010, p. 6).

2.2. MusicoterapiaA definio do termo Musicoterapia ainda controversa. Segundo Ruud (1990, p.13) "a musicoterapia frequentemente definida de acordo com o grupo especfico de tratamento, grupo etrio ou filosofia teraputica especfica do terapeuta que se incumbe da definio". No entanto, preconiza que "a msica est prestes a ser reconhecida como um instrumento valioso tanto em psicoterapia quanto em educao especial, assim como em algumas reas da medicina somtica".Como ramificaes ou especializaes da musicoterapia, so considerados quatro caminhos possveis: musicoterapia baseada no modelo mdico; musicoterapia psicodinmica; musicoterapia baseada na teoria da aprendizagem e vrias abordagens sob a orientao da psicologia humanista.Rodrigues (2009, p.4) alerta para o fato de o indivduo que tem dificuldades de se comunicar pode precisar de interao. A falta de comunicao pode comprometer o aprendizado. "A incluso de msicas, brincadeiras orais, leituras com entonao apropriada, poemas e parlendas ajuda a desenvolver a oralidade". J para Carvalho (2008, [s/p]) "as atividades com msica permitem que a criana conhea melhor a si mesma, desenvolva sua noo de esquema corporal e tambm permitem a comunicao com o outro", tendo inestimveis benefcios para o reforo no desenvolvimento cognitivo, psicomotor e scio-afetivo da criana. Ressalta, ainda, que "a msica pode melhorar o desempenho e a concentrao, alm de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemtica, leitura e outras habilidades lingusticas nas crianas".

3. IMPLICAES EDUCATIVAS E SOCIAISApesar de no aparentar ser necessrio abordar as outras modalidades de terapias integrativas, bem como as novas descobertas e questionamentos sobre as atuais prticas cientficas, pincelados no incio do artigo, fundamental que sejam considerados aspectos de ampla abrangncia para a realizao completa do ser humano.Assim, no se pode esquecer que os paradigmas propagados pela cincia, bem como os vrios dogmas religiosos e ideologias sociais tm repercusso direta e indireta sobre como a sociedade molda sua cultura e realidade. Haja vista que at hoje grandes centros universitrios possuem ligao com alguma instituio religiosa, que h algumas dcadas reprimia com mos de ferro os avanos cientficos que estivessem contrrios aos seus dogmas. Sobre o fator social e o aprendizado, Vygotsky (1984, p. 58), comenta:

"A internalizao de formas culturais de comportamento envolve a reconstruo da atividade psicolgica tendo como base as operaes com signos. Os processos psicolgicos, tal como aparecem nos animais, realmente deixam de existir; so incorporados nesse sistema de comportamento e so culturalmente reconstitudos e desenvolvidos para formar uma nova entidade psicolgica. O uso de signos externos tambm reconstrudo radicalmente. As mudanas nas operaes com signos durante o desenvolvimento so semelhantes quelas que ocorrem na linguagem. Aspectos tanto da fala externa ou comunicativa como da fala egocntrica "interiorizam-se", tornando-se a base da fala interior. A internalizao das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui a aspecto caracterstico da psicologia humana; base do salto qualitativo da psicologia animal para a psicologia humana. At agora, conhece-se apenas um esboo desse processo."

Baquero (1998, p.110) tambm mostra que a cultura na qual o indivduo est inserido ser determinante acerca de seu aprendizado, j que "(...) no mesmo processo em que o sujeito se apropria dos objetos culturais, a cultura "se apropria" do sujeito, o forma, o forma como "humano", na expresso de Leontiev". E complementa com um grave alerta:

"(...) o dispositivo escolar suscetvel de ser analisado segundo o regime de suas prticas; regime que define, como uma espcie de "macro suporte", o carter das atividades que se desenvolvem em seu seio. De outra perspectiva, permite analisar a prtica pedaggica como "prtica de governo" do desenvolvimento dos sujeitos implicados no regime de trabalho escolar. Dito de outra forma, pode-se considerar a escola como um dispositivo cultural orientado a produzir certos tipos de desenvolvimento, para gerar Zonas de Desenvolvimento Proximal, nos sujeitos que se incorporam a seu regime de prticas, com relativa independncia das orientaes didticas que se desenvolvem." (BAQUERO, 1998, p. 119).

Pozatti (2012, p. 10), por sua vez, afirma que se um processo educacional "altamente centrado na realidade consensual pode afastar o indivduo das dimenses mais sutis do ser" Ainda, citando Martinelli:

"Os atuais sistemas educacionais dissociaram o aspecto material do espiritual, fragmentaram o conhecimento e comprometeram o desenvolvimento integrado da personalidade dos alunos. Inibiram a criatividade e o sentido de percepo superior (Martinelli, 1996, p. 9)"

Seria adequado questionar, ento, at que ponto os sistemas educacionais tm sido sutilmente balizados de maneira a formar uma cultura onde assuntos indesejados fossem evitados socialmente, seja por governos, teorias epistemolgicas, religies e outros sistemas de poder, visto que sabido que "o aprendizado humano pressupe uma natureza social especfica e um processo atravs do qual as crianas penetram na vida intelectual daqueles que a cercam" (VIGOTSKY, 1984, p. 100).Ingo Swann (1999), em sua pesquisa histrica acerca de bioenergias, inseridas no mesmo ramo das terapias integrativas, entre elas a Musicoterapia, que hoje j contam com respaldo da cincia, mostra que possvel verificar o quanto estas foram estigmatizadas e colocadas ao largo pelas estruturas de poder, que incutiam medo, escndalos infundados e desprezo, utilizando o ridculo e outros mtodos ardilosos como ativa ferramenta social para manipular suas massas. Ainda segundo SWANN (2000, p.5):

"No pode haver dvida de que os esforos contrrios de auto-empoderamento precisam ocorrer dentro de contextos sociais que contenham formas e meios para desarmar esse empoderamento, uma atividade que um objetivo central de todos os jogos de poder. No nvel social, esses modos e meios tm uma histria longa, mas muito escondida, e muitos dos mtodos envolvidos tornaram-se no somente institucionalizados, mas mantidos em segredo. No demasiado falar, ento, que os formatos de educao socialmente aprovados contero vcuos de conhecimento em relao a qualquer coisa que explicitamente ou implicitamente tenham a ver com empoderamento ou desempoderamento. (...) Com excees, (...) ento possvel que a teia de segredos que previnem acesso ao conhecimento de empoderamento seja sutilmente implementada via parmetros deliberadamente selecionados da educao socialmente aprovada. De forma amplamente aceita, humanos geralmente inquestionavelmente presumem a autenticidade e a veracidade relacionadas educao proveniente das fontes sociais de poder aprovadas. O que quer que seja que NO aprendido por tais fontes ser considerado como irreal para elas e elas iro castiga-los como tal. Isto significa que se os oficialmente educados de uma dada estrutura de poder no aprenderam sobre a existncia dos processos de empoderamento e desempoderamento, ento eles, por eles prprios, sero de tremenda assistncia em negar a possibilidade da existncia de tais processos".

Ainda que o momento atual aparente uma maior aceitao de um ou outro mtodo antes considerado charlatanismo, chegado o momento em que se deve pensar na integralidade do ser humano, independente de ideologias ou dogmas religiosos. Sem esse cuidado, essas modalidades so ceifadas de suas razes, para minguarem sob rtulo de pseudocincia ou serem distorcidas com o tempo. Um exemplo disso a Medicina Tradicional Chinesa, conhecida pela sua histria milenar de observao. No entanto, outro detalhe que a tradio oriental tem a ensinar ocidental a inseparabilidade entre cincia, ser humano e espiritualidade.

2.1. Propostas PrticasApesar dos aspectos acima exposto serem um tanto desalentadores, h esperanas para a mudana dessa realidade, pois "se modificarmos os instrumentos de pensamento disponveis para uma criana, sua mente ter uma estrutura radicalmente diferente" (VYGOTSKY, 1984, p. 157). O pragmatismo dessa viso de Vygotsky serve como intenso elemento motivador para propor mudanas profundas na educao e condicionamentos cientficos, religiosos e sociais.A ideia de aproveitamento da msica em diversos momentos da aprendizagem no nova. No entanto, a maneira de fazer msica, sua concepo, pode englobar aspectos alm dos propostos. Ges (2010, p. 4) relata o carter funcional da msica em eventos escolares e atividades de sala de aula, tais como festividades, datas comemorativas, memorizao de contedos traduzidos em canes. No entanto, "isso refora o aspecto mecnico, estereotipado da imitao, no deixando espao para as atividades de crianas ligadas percepo e conhecimento das possibilidades e qualidades expressivas nos sons". A prtica musical deve ser um meio de expresso, conhecimento e linguagem. Momentos musicais devem ser estimulados de forma criativa, intuitiva, expressiva, se quisermos que os adultos do futuro assim sejam, conforme postula Vygotsky (1984, p.162) ao afirmar que

"no brinquedo [e na msica], a criana projeta-se nas atividades adultas de sua cultura e ensaia seus futuros papis e valores. Assim, o brinquedo antecipa o desenvolvimento que s pode ser completamente atingido com assistncia de seus companheiros da mesma idade e mais velhos".

Alm disso, o ambiente escolar deve estimular a prtica musical e a criatividade, pois "faz com que as crianas iniciem seu processo de musicalizao de forma intuitiva" (RON, 1998 apud GES, 2010). A ludicidade no contexto educacional deve sempre ser contemplada, mas no com caractersticas somente de recreio. Aulas de musicalizao devem ser pautadas em todas as idades escolares, pois, de acordo com Chiarelli (apud SANTOS [s/d]), ela contribui para o desenvolvimento cognitivo/ lingustico, psicomotor e scio-afetivo da criana, alm de deixar o ambiente escolar mais alegre e receptivo.Conforme Santos [s/d, p.9], a prtica da Musicoterapia "estimula o desenvolvimento, a autopercepo e a significao de comportamento", sendo recomendada como meio de amenizar problemas de aprendizagem na leitura e na escrita.Outra atividade de fundamental importncia a prtica do canto coletivo, que desenvolve valores de socializao, desinibio, pertencimento e muitos outros. Novas descobertas acerca de neurnios espelho com a msica (primeiramente descobertos em macacos e depois verificada a existncia de sistema anlogo no crebro humano) (MOLNAR-SZACKACS; OVERY, 2006 apud ROCHA, 2013) trazem nova luz s motivaes do canto coletivo, bem como processo de imitao e possivelmente aquisio de linguagem pelos serem humanos.Assim, o canto em conjunto pode trazer inmeros benefcios atravs da ativao de neurnios espelho nos indivduos participantes, de forma a disparar formas de entendimento, comunicao e aprendizado que a cincia outrora chamava de "intuitivo".

4. CONSIDERAES FINAISPensar no tratamento psicopedaggico sem considerar o aspecto holstico do ser humano, como pensar em cuidar das dificuldades do aprendente sem pensar em seu passado, futuro e convvio social. dever do psicopedagogo utilizar-se de todas as ferramentas ao seu alcance para no somente remover as falhas no aprendizado do indivduo, mas promover sua realizao integral, tanto individual quanto socialmente.Quanto validade das modalidades teraputicas, atualmente denominadas integrativas, h um crescente nmero de estudos e publicaes de alta reputao atestando sua eficcia, apesar da resistncia de parte comunidade cientfica e do prprio sistema social estabelecido. preciso avanar o modelo de ser humano, levando em conta valores universais e csmicos, sem quimeras, misticismos e utopias. A realidade da humanidade est sendo transformada nas mais diversas reas e fundamental que a viso completa do ser humano, abordando todas as suas potencialidades, conhecidas ou ainda por se conhecer, seja uma prtica comum em todas as reas de conhecimento, inclusive psicopedaggicas.No mais admissvel que novas descobertas da cincia sejam barradas e passadas obscuridade por antigos dogmas cientficos ou religiosos, os ltimos ainda mais perniciosos evoluo da humanidade. Se atualmente h um vislumbre duma aproximao entre cincia e religio, essa se dar pela expanso dos conceitos da segunda pela primeira, ao passo que a primeira usar a intuio e elevao de conscincia da segunda para no mais utilizar seus feitos para o poder e ignorncia.

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