Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

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APOGEU E QUEDA DA DEMOCRACIA MEDIADA Notas sobre Sociologia da Comunicação & Política Pós Moderna Marcelo Bolshaw Gomes 1 RESUMO: Este texto resume o pensamento dos principais teóricos atuais em torno do enquadramento político e sociológico da mídia na democracia contemporânea. Discute-se aqui a relação entre cidadania moderna e posição ideológica, ancorado na filosofia político de Norberto Bobbio e na proposta de uma ‘política de terceira via’ defendida por Anthony Giddens. Em seguida, apresenta-se as noções de Eleitor- consumidor (proposta por Flavio Silveira), de Democracia Deliberativa Mediada e de Imagem Pública (elaboradas por John Thompson). Também se problematizam a noção de inteligência coletiva, criada por Pierre Levy e desenvolvida por Henry Jenkin; e o surgimento das Redes Sociais e Digitais com os novos movimentos sociais, descritos por Manuel Castells;. PALAVRAS-CHAVE: Ciências Sociais Aplicadas1; Comunicação midiática2; Sociologia das mídias3; ABSTRACT: This paper summarizes the major current theoretical thinking about the political and sociological framework of media in contemporary democracy. We discuss here the relationship between modern citizenship and ideological position, anchored in the political philosophy of Norberto Bobbio and the proposal of a 'third way politics' advocated by Anthony Giddens. Then, it present the notions of Voter-Consumer (proposed by Flavio Silveira), Deliberative Democracy Mediated and Public Image (prepared by John Thompson). Also problematize the notion of collective intelligence, created by Pierre Levy and developed by Henry Jenkin; and the emergence of Social and Digital Networks with the new social movements, described by Manuel Castells;. KEYWORDS: Social Sciences Aplicadas1; Media Communication2; Sociology of medias3; 1. INTRODUÇÃO Na revolução francesa, os girondinos sentaram à direita; e os jacobinos, à esquerda. Para Noberto Bobbio (2001), tal fato caracterizou ideologicamente toda história política que se seguiu. A direita representa os que defendem a liberdade individual acima da igualdade social entre indivíduos; a esquerda corresponde aos que advogam a primazia da igualdade de todos sobre a liberdade de cada um. Os dois lados políticos são assim polos da contradição moderna entre liberdade e igualdade. Assim, por exemplo, pode-se dizer que Nietzsche é um filósofo existencialista 'de direita' quando afirma que os homens são diferentes perante Deus e Estado; que a igualdade jurídica entre indivíduos é uma mentira (1998). Por outro lado, também se pode dizer que Sartre é um existencialista 'de esquerda' porque acredita que cada homem é um 'universal singular', uma miniatura diferenciada do universo, ao lado de outros universos singulares (2014). 1 Professor de Sociologia da Comunicação no Departamento de Comunicação Social (DECOM) e de Estudos Narrativos no Programa de Pós Graduação em Estudos da Mídia (PPGEM) da UFRN. Doutor em Ciências Sociais.

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texto da disciplina sociologia da comunicação, do prof. Marcelo

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APOGEU E QUEDA DA DEMOCRACIA MEDIADA

Notas sobre Sociologia da Comunicação & Política Pós ModernaMarcelo Bolshaw Gomes1

RESUMO: Este texto resume o pensamento dos principais teóricos atuais em torno do enquadramentopolítico e sociológico da mídia na democracia contemporânea. Discute-se aqui a relação entre cidadaniamoderna e posição ideológica, ancorado na filosofia político de Norberto Bobbio e na proposta de uma‘política de terceira via’ defendida por Anthony Giddens. Em seguida, apresenta-se as noções de Eleitor-consumidor (proposta por Flavio Silveira), de Democracia Deliberativa Mediada e de Imagem Pública(elaboradas por John Thompson). Também se problematizam a noção de inteligência coletiva, criada porPierre Levy e desenvolvida por Henry Jenkin; e o surgimento das Redes Sociais e Digitais com os novosmovimentos sociais, descritos por Manuel Castells;.

PALAVRAS-CHAVE: Ciências Sociais Aplicadas1; Comunicação midiática2; Sociologia das mídias3;

ABSTRACT: This paper summarizes the major current theoretical thinking about the political andsociological framework of media in contemporary democracy. We discuss here the relationship betweenmodern citizenship and ideological position, anchored in the political philosophy of Norberto Bobbio andthe proposal of a 'third way politics' advocated by Anthony Giddens. Then, it present the notions ofVoter-Consumer (proposed by Flavio Silveira), Deliberative Democracy Mediated and Public Image(prepared by John Thompson). Also problematize the notion of collective intelligence, created by PierreLevy and developed by Henry Jenkin; and the emergence of Social and Digital Networks with the newsocial movements, described by Manuel Castells;.

KEYWORDS: Social Sciences Aplicadas1; Media Communication2; Sociology of medias3;

1. INTRODUÇÃO

Na revolução francesa, os girondinos sentaram à direita; e os jacobinos, à

esquerda. Para Noberto Bobbio (2001), tal fato caracterizou ideologicamente toda

história política que se seguiu. A direita representa os que defendem a liberdade

individual acima da igualdade social entre indivíduos; a esquerda corresponde aos que

advogam a primazia da igualdade de todos sobre a liberdade de cada um. Os dois lados

políticos são assim polos da contradição moderna entre liberdade e igualdade.

Assim, por exemplo, pode-se dizer que Nietzsche é um filósofo existencialista

'de direita' quando afirma que os homens são diferentes perante Deus e Estado; que a

igualdade jurídica entre indivíduos é uma mentira (1998). Por outro lado, também se

pode dizer que Sartre é um existencialista 'de esquerda' porque acredita que cada

homem é um 'universal singular', uma miniatura diferenciada do universo, ao lado de

outros universos singulares (2014).

1 Professor de Sociologia da Comunicação no Departamento de Comunicação Social (DECOM) e deEstudos Narrativos no Programa de Pós Graduação em Estudos da Mídia (PPGEM) da UFRN. Doutor emCiências Sociais.

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Porém, a contradição política entre direita e esquerda não é apenas discursiva

(e filosófica); ela é ideológica e está encravada na prática política, nas formas de

representação da sociedade moderna. Na verdade, pode-se dizer que toda política

moderna se baseia na luta entre essas duas práticas políticas contrárias.

Para Bobbio, que era liberal e socialista, quando uma sociedade pendia demais

para esquerda, tornava-se totalitária em nome da igualdade; e, quando se fixava na

direita, se tornava injusta e desigual em nome da liberdade. O ideal, então, seria o

equilíbrio complementar entre as duas práticas, o centro, a fraternidade, a única capaz

de observar qual a melhor posição no momento para cada situação (movimento

pendular) e de negociar pragmaticamente soluções e compensações caso a caso. O

centro seria assim menos ideológico e mais prático, ou mais responsável e orientado

por objetivos e estratégias do que por convicções e valores, para citar as éticas políticas

de Weber (2004, 112-116).

Também é preciso lembrar que, como princípios norteadores da ação política

moderna a partir da revolução francesa, a liberdade e a igualdade são mediadas pela

fraternidade. Mas que, como sociabilidade arcaica, a fraternidade é anterior à luta

política pela liberdade e pela igualdade - movimentos colaterais opostos recentes.

Entendida como princípio de reciprocidade (não fazer aos outros, o que não se deseja

para si próprio), a fraternidade é um preceito universal, presente em todas as religiões

e filosofias éticas. Pode-se até atribuir a versão normativa de sua inversão – a lei de

talião: “olho por olho, dente por dente” – à primeira regulamentação da vida social.

Em relação ao modelo de democracia deliberativa, pode-se dizer: que a

igualdade jurídica entre indivíduos é representada pelo Estado; que a liberdade é um

atributo e uma exigência do Mercado; e que a Sociedade Civil encarna o princípio da

solidariedade fraterna. O tripé da estrutura política moderna oscila entre as tentativas

do Mercado de segmentar a Sociedade Civil e do Estado de ampliar a esfera pública

através das comunidades. Na verdade, a ideia de fraternidade relativizar a igualdade

jurídica entre indivíduos e limitar a liberdade de ação de sujeitos individuais e coletivos

também vem crescendo e se modificando com decorrer do tempo.

2. A Era Giddens

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Anthony Giddens2 retoma a reflexão de Bobbio, mas, socialdemocrata, discorda

no movimento pendular do centro, apontando para uma ‘terceira via’: nem a

regulamentação econômica com anarquia moral – como quer a esquerda; nem a

anarquia econômica com fortes controles morais – como deseja a direita.

ESQUERDA DIREITA

Defende intervenção econômica do Estado Liberdade de Mercado

Liberdade total para vida sexual e familiar Moralismo tradicional, regulamentação da vida civil

O crime é produto da desigualdade socialO crime resulta da desagregação familiar resultante da entrada

das mulheres no mercado de trabalho.

Com a proposta de uma Política de Terceira Via (2001a, 2001b), Giddens elabora

uma resposta ao impasse entre a socialdemocracia tradicional (o keynisianismo e o

estado do bem-estar social) e o neoliberalismo (ou o estado mínimo e aberto às trocas

externas) com a ampliação do papel desempenhado pela Sociedade Civil. Nem a auto

regulação selvagem dos mercados, nem o Estado inoperante e falido; apenas

democratização da democracia pode mediar o conflito entre os interesses econômicos

e políticos. A política de terceira via seria essa despolarização pragmática do modelo

esquerda x direita, em que planejamento e a liberdade se combinem criativamente.

Este realinhamento dos extremos desemboca na ideia de uma política sem inimigos.

Para esquerda, os maus são os capitalistas, o mercado, as grandes corporações, os EUA,

etc; para direita, os maus são: o estado inchado, o relativismo cultural, os imigrantes e

os criminosos. “Mas não há uma fonte concentrada dos males do mundo: temos que

deixar para trás a política de redenção” (GIDDENS, 2001a, p.45). E essa 'política sem

inimigos', acima da direita e da esquerda, é também um forte argumento eleitoral.

Muitos são os que minimizam a importância das ideias de Giddens, mas a

verdade é que ela é enorme tanto diretamente - no Partido Trabalhista britânico, no

Partido Democrata dos EUA e em todos os partidos socialdemocratas ocidentais que

seguem explicitamente sua orientação; como indiretamente, através de imitadores

inconfessos de diferentes tipos, professando ‘novas políticas’ sem os velhos polos

extremos opostos ideológicos.

2 Anthony Giddens é sociólogo, diretor da London School of Economics e professor da Universidade deCambridge. Também é professor visitante de instituições importantes, como as universidades deHarvard, Standford, Roma, Sorbonne. O pensador tem 31 livros, publicados em 22 países.

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Navegando entre a autonomia cosmopolita e a dependência fundamentalista,

entre o público e o privado, entre a socialdemocracia e o neoliberalismo (e entre

outros opostos); a política de terceira via ajudou a terceirizar o estado (diminuir seus

custos sem prejuízo do setor social), através de organizações não governamentais,

políticas público-privadas e redes de agentes temporários. Por outro lado, também

inspirou reformas previdenciárias e flexibilizações nas legislações trabalhistas,

sequestrando direitos de trabalhadores e aposentados em todo mundo.

Giddens (2003) analisa dois grupos de pensamento sobre Globalização o

fenômeno: os ‘céticos e/ou fundamentalistas’, que acham que a globalização não traz

nada de novo: é apenas o desenvolvimento imperialismo norte-americano; e os

‘radicais cosmopolitas’, que acreditam que ela está mudando tudo, destacando a onda

mundial de adaptação econômica dos ‘países em desenvolvimento’ à dinâmica do

mercado global, bem como a influência cultural desses países em relação aos ‘países já

desenvolvidos’. A essa contra influência o autor denomina de ‘colonização inversa’.

Com a globalização, as ações não são mais locais, mas têm repercussões mundiais.

Repercussões que, ao mesmo tempo em que mudam as estruturas sociais, interferem

na identidade do cidadão que se encontra no cerne da luta entre dependência e

autonomia, entre fundamentalismo territorial e cosmopolitismo sem raízes.

Porém, a principal deficiência da política de terceira via é a incompreensão sobre

o novo comportamento político mediado e na transformação do cidadão moderno em

um consumidor de informação. Giddens até reconhece (2003) a importância dos meios

de comunicação para o funcionamento da democracia, mas não compreende sua

relação com o sistema de representação e seu efeito no comportamento político.

3. O eleitor-consumidor e a cidadania midiática

Flávio Silveira (1998) subdivide os comportamentos políticos em três grupos:

comportamento não racional tradicional (baseado na lealdade, na tradição e em

relações de dependência duráveis); comportamento racional (ideologicamente

orientado, com ênfase em objetivos e estratégias); e novo comportamento não

racional (baseado na sensibilidade individual de caráter instável e volúvel). Segundo o

autor, este terceiro tipo de comportamento político desenvolvido a partir da linguagem

da mídia, está se generalizando e tende a se tornar dominante.

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A diferença entre os antigos e os novos tipos de comportamentos não racionais

é que, enquanto o comportamento tradicional é uma relação durável, repetida,

contínua, com laços de lealdade; o novo comportamento midiático é instável, mutável,

descontínuo, volátil. O primeiro se baseia em uma interação social que envolve

dependência, subordinação e até coerção; o segundo implica em uma autonomia

individual relativa e em uma liberdade de decisão limitada. O antigo comportamento

não racional implicava em uma perda da identidade, no qual se tinha uma confiança

incondicional; enquanto o novo comportamento eleitoral não racional é uma

afirmação da própria identidade, uma consulta à sensibilidade, que pode levar ao

apoio ou à reprovação circunstancial dos atores políticos.

Outra distinção sustentada por Silveira é a diferença entre o comportamento

racional e o novo comportamento não racional. O comportamento de tipo racional é

aquele que defende seus interesses de forma lógica, geral, tomando decisões

calculadas a partir de conteúdos políticos; enquanto, “a nova escolha não racional” é

formada por decisões imediatas e volúveis, motivada a partir de imagens e símbolos,

uma compulsão ao apelo emocional travestido de uma consulta à sensibilidade e ao

bom gosto do eleitor. Silveira afirma que o comportamento racional é resultante de

critérios objetivos universais, enquanto o comportamento midiático é fruto de critérios

subjetivos, singulares; que, enquanto um crê na representação conceitual da realidade

e na veracidade dos fatos de forma abstrata, geral e homogênea, o outro constrói uma

representação simbólica do mundo com base na autenticidade de várias referências

concretas e heterogêneas.

Na verdade, Silveira faz uma interpretação das ideias de Max Weber, traçando

uma correspondência entre as “formas de dominação legítima – tradicional, legal e

carismática” (WEBER, 1992, p. 349-359) - com seus tipos de comportamento político

eleitoral. Max Weber acreditava na crescente burocratização das sociedades modernas

e no predomínio da racionalidade por objetivos, em detrimento das formas de

dominação legítimas tradicionais, enquanto Silveira observa um crescente predomínio

do comportamento midiático ou de uma dominação legítima do tipo carismática – o

que, segundo o autor, ameaça à democracia representativa, ou seu modelo

parlamentar baseado na racionalidade política. (SILVEIRA, 1998, 230)

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O eleitor-consumidor não vende seu voto por favores ou dinheiro; nem

tampouco acredita em partidos políticos e nos seus programas eleitorais. Ele vota na

imagem do candidato, vota na pessoa humana em que mais confia, vota no que vê na

mídia e no que conversa com os amigos. O novo comportamento não racional proposto

por Silveira é apoiado em pesquisas de opinião quantitativa e de volatilidade eleitoral,

que apontam para uma crescente imprevisibilidade (que não havia nos

comportamentos clientelistas e de identificação partidária).

O novo comportamento midiático passou a se reorganizar parcialmente pela

gramática específica da linguagem dos meios de comunicação (com ênfase na

novidade, no inusitado e em padrões estéticos), produzindo uma cultura política

centrada no consumo de imagens, gerando novas competências, como marketing (que

adapta a política às preferências do público através de pesquisas) e se baseia na

similitude aparente entre audiência e eleitorado (entre a opinião pública e o mercado

consumidor). A mídia promoveu uma des-ideologização da política, do paradigma

direita-esquerda e os programas se tornaram muito semelhantes em suas propostas

práticas (organizados a partir de pesquisas de opinião sobre as preferências do eleitor).

O critério principal do voto passa então a ser ‘quem’ e não ‘o que’ – uma vez

que todos dizem praticamente a mesma coisa. Houve uma personalização da política; a

confiabilidade e a honestidade se tornaram pré-requisitos decisivos nas escolhas

eleitorais – e não a posição do candidato. Há ainda vários outros aspectos negativos

dessa des-ideologização carismática da política: a redução das diferenças a gostos, a

imagem como inimiga do pensamento abstrato, a linguagem da TV como empecilho à

polêmica argumentativa.

O resultado? O crescente desinteresse do público mais informado; o caráter

artificial da opinião pública; a perda de autenticidade dos agentes e das instituições de

representação política; e, principalmente, a substituição parcial dos partidos e das

instituições políticas representativas pelos meios de comunicação no debate e na

defesa dos interesses da população. A mídia, na modernidade, sequestrou o 'lugar da

fala' da autoridade pública e religiosa. Nas culturas pré-modernas, a informação era

distribuída unicamente a partir dos estados e das igrejas.

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Ao se estabelecerem instituições de mediação com autonomia relativa (a

ampliação da esfera pública de Habermas), o 'monopólio da fala' foi terceirizado.

Assim, a mídia é, ao mesmo tempo, um campo aberto para o diálogo direto

entre os atores políticos e o público; e também mais um ator político com interesses

próprios em um contexto social mais amplo. Ela é simultaneamente um campo para os

agentes políticos e um agente social invisível que seleciona, hierarquiza e dá

visibilidade aos acontecimentos.

Os campos da Política e da Comunicação se interpenetram numa relação

recíproca, mais ambos preservam suas especificidades; nem a política se submete

completamente à visibilidade da mídia, nem os meios de comunicação são meros

instrumentos ideológicos do poder. Os domínios da comunicação e da política são

insuficientes para explicar o fenômeno da cidadania midiática, é preciso conhecer seu

contexto social e as motivações estruturais dos atores e instituições. Esta ampliação

econômica e sociológica extrapola o âmbito discursivo da perspectiva do “duplo

domínio”, permitindo abordar a questão de um ângulo mais abrangente e sociológico.

E a equivalência ideológica entre o consumidor e o cidadão, ou melhor, entre o

mercado consumidor e a opinião pública é a grande intercessão entre os campos da

política, da comunicação e da economia. Na cidadania midiática, todos são iguais

perante o mercado, embora alguns tenham liberdade de consumir mais que os outros.

Por um lado, a política vira um negócio: o candidato torna-se um produto; o voto, uma

venda; a eleição, uma liquidação. Mas, por outro lado, a própria noção de cidadania se

amplia em seus direitos básicos (educação, saúde, etc) e na capacidade de fazê-los

valer, com o direito do consumidor. O consumo nos tornou cidadãos mais fortes!

4. A utopia democrática

Noberto Bobbio (2000) também considera que a democracia faz parte de um

mesmo processo histórico de secularização das tradições, que ela é meia-irmã da

burocracia weberiana. Para ele, o pluralismo democrático dos grupos em relação ao

Estado acabou com a democracia social entre os indivíduos.

Bobbio acredita que a democracia moderna nasceu de uma concepção

individualista de sociedade, em que a vontade coletiva é produzida pela regra de

maioria e acatada por todos formando uma unidade de ação “de forma centrípeta ou

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monocrática”, porém, na verdade, sempre vivemos em uma policracia, em que os

grupos (e não os indivíduos) lutam para preservar seus interesses de forma centrifuga.

Assim há uma flagrante contradição entre a representação do interesse público (da

vontade da maioria formada por indivíduos) com a representação dos interesses

privados coletivos em vários níveis: regionais, corporativos e pessoais.

Ele elabora um eufemismo interessante para analisar democracias

representativas atuais: suas “promessas não cumpridas”, isto é, aquilo que as

democracias representativas gostariam de ser idealmente, mas que efetivamente não

são. As “promessas não cumpridas” são: a democracia promete defender o interesse

público (mas apenas negocia acordos dos interesses privados); a democracia promete

acabar com os privilégios das elites, tratando todos os indivíduos de forma igual (mas

há uma persistência das oligarquias e do tratamento desigual); a democracia promete

ainda educar o povo para cidadania, transformando súditos em cidadãos, aumentando

a participação ativa de todos sobre tudo (mas, o que se constata é a crescente apatia

política dos jovens de melhor instrução e renda); a democracia promete, através da

imprensa livre, acabar com o poder invisível (mas a transparência não venceu a

privacidade dos acordos particulares); para citar apenas as promessas principais.

Mas apesar dessas críticas, em nenhum momento Bobbio desiste da

democracia em si como sendo a melhor (ou, por baixo, “a menos pior” – como disse De

Gaulle) forma de governo. Sua crítica visa antes levantar as deficiências institucionais

da democracia para aperfeiçoa-la, através de uma passagem gradativa da

democratização do Estado à democratização da sociedade e das instituições (da escola,

da fábrica, dos bairros).

Giddens chama este processo histórico-institucional de “democratização da

democracia”, miniaturizando ainda mais a noção de democracia, entendida agora não

como uma 'forma de governo', mas como um método de relacionamento entre pais e

filhos, entre grupos de amigos, entre marido e mulher (GIDDENS, 2003: p.61). A

democracia como método não consiste simplesmente na regra de maioria (pois assim

seria impossível existir democracia entre duas pessoas com interesses diferentes) ou o

direito ao dissenso, mas sim na negociação dos interesses divergentes e das próprias

regras de negociação.

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A democracia vista desse modo não é o predomínio formal da maioria, mas a

tomada de decisões através das regras negociadas entre os diferentes pontos de vista

que formam uma unidade de ação.

Giddens não acredita na secularização absoluta das tradições e sim que a

modernidade e a democracia (como um regime de regras negociadas) convivem com o

poder simbólico de modo diferente. Para Giddens, não existe uma estrutura social fixa

e permanente como pensava o estruturalismo e o funcionalismo, ela é processual e

histórica. Não há uma única estrutura social, mas sim um processo de estruturação em

que as relações sociais não são rígidas, mas sim dinâmicas e relativas no tempo e no

espaço, práticas recursivas. ‘Reflexibilidade’ é a capacidade de retroalimentação

realidade cultural e a vida social, ‘uma recursividade indireta’.

Para pensar o conceito de reflexividade, Giddens realiza um contraponto entre

as sociedades tradicionais e as sociedades modernas. A vida social tradicional era

voltada para o passado, para repetição de ciclos históricos; a modernidade e a

democracia iniciam uma nova concepção de tempo-espaço em que a reflexividade é

voltada para o presente e para o futuro: a sociedade de risco.

Segundo Giddens (2003, p.33), risco corresponde a “infortúnios ativamente

avaliados em relação a possibilidades futuras”.

O risco é a dinâmica mobilizadora de uma sociedade propensa à mudança,que deseja determinar seu próprio futuro em vez de confia-lo à religião, atradição ou aos caprichos da natureza. O capitalismo moderno difere de to-das as formas anteriores de sistema econômico em suas atitudes em relaçãoao futuro. Os tipos de empreendimento de mercado anteriores eram irregu-lares ou parciais. As atividades dos mercadores e negociantes, por exemplo,nunca tiveram um efeito muito profundo na estrutura básica das civilizaçõestradicionais, que permaneceram amplamente agrícolas e rurais (GIDDENS,2003, p.34)

Nesse sentido, a aceitação da existência do risco corresponde a uma forma cal-

culista de ver o mundo, através da qual, simulam-se várias reações possíveis aos acon-

tecimentos. Quanto mais a tecnologia interfere na vida social, quanto mais a objetivi-

dade científica torna-se senso comum, mais o homem reflete a existência do risco e

adota psicologicamente o ‘princípio do acautelamento’, em que se sustenta a incerteza

científica (a dúvida sistemática).

Apesar de a modernidade ser mais aberta ao conhecimento, ela também gera

inseguranças pela pluralidade de opções que detém. Essa falta de certeza e de

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segurança, por sua vez, aumenta ainda mais a reflexibilidade da simulação de situações

de risco. A democracia, assim vista, é 'a' utopia (o projeto futuro de uma sociedade

perfeita sempre inacabada) por excelência. Os mitos estão sempre ancorados no

passado imemorial, na tradição, na origem anterior à história; a utopia, ao contrário,

está projetada no futuro, em um tempo que ainda não chegou no 'fim da história'. E,

no presente, na reflexibilidade moderna, a democracia real é sempre imperfeita e

imprevisível, arriscada e manipulada pelo poder simbólico.

A “reflexividade cultural exacerbada pelo risco” produz comportamentos

individualistas. A única saída para democracia é se democratizar ainda mais, fazendo

com que todos sejam responsáveis e tenham o máximo de autonomia individual. Ou

seja: a globalização gera o individualismo e a necessidade de aprofundá-lo ainda mais,

através de políticas públicas contra a dependência, seja química, social, familiar,

emocional, econômica ou cultural.

E, em outro oposto, Giddens também acredita que “o mundo precisa de mais

governo”, isto é, que o público governe mais o privado – considera inclusive que isso o

define como sendo ‘de esquerda’. Na verdade, a terceira via leva apenas à exacerbação

dos dois extremos ideológicos clássicos em uma mesma proposta voltada para a

globalização – o hiper-individualismo e o governo social em parceria com o terceiro

setor; e não a superação prática e teórica da polaridade entre as perspectivas da direita

e da esquerda, como promete.

Desta contradição nasce “o paradoxo da democracia”: quanto mais as pessoas

se individualizam, menos participam das decisões coletivas. Giddens prova o paradoxo

estatisticamente e suspeita que a mídia seja parcialmente responsável pelo problema,

uma vez que ela frequentemente desqualifica os políticos e a política parlamentar.

E, assim, algumas perguntas cruciais permanecem sem resposta: Qual papel dos

meios de comunicação no contexto da modernidade e da democracia representativa?

Como é a relação entre a tradição (ou poder simbólico) e a democracia, entendida

como método de decisões negociadas?

5. A democracia mediada.

Quem pretende responder essas perguntas é John B. Thompson (1995, 1998,

2002), que foi aluno de Giddens e tenta aprofundar alguns pontos de suas ideias,

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principalmente, sobre a relação cultural entre tradição e modernidade; e sobre o papel

da mídia na democratização social da democracia representativa.

Em Ideologia e Cultura Moderna, Thompson retoma a questão da teoria liberal

sobre a imprensa livre – o “quarto poder”, situando estruturalmente a mídia entre o

Estado e o Mercado e postulando, por um lado, a separação do poder estatal e o

princípio do pluralismo regulado dos meios de comunicação para que eles, e por outro

lado, que eles não atendam aos interesses do mercado (1995: p. 337).

No último capítulo de Mídia e Modernidade (1998), Thompson aprofunda mais

a questão, abordando-a agora de um ponto de vista mais normativo e menos analítico,

com seu aperfeiçoamento da proposta de uma “democracia deliberativa” feita por

Habermas e desenvolvida por Giddens. A proposta de democracia deliberativa

aperfeiçoada por Thompson consiste em uma reforma institucional do atual modelo de

democracia representativa, com o fortalecimento da mídia (e da Sociedade Civil

politicamente organizada) em relação ao mercado e em relação ao Estado.

SOCIEDADE CIVIL / COMUNIDADEMEIOS DE COMUNICAÇÃO

ESTADO / PÚBLICO MERCADO / PRIVADO

Outro aprofundamento do pensamento de Giddens por Thompson é a

persistência discreta da tradição durante a modernidade, contrariando a ideia de que

iluminismo foi uma ruptura radical. Para demonstrar seu ponto de vista, Thompson faz

uma distinção operacional em quatro aspectos da tradição: hermenêutico, normativo

do cotidiano, legitimador do poder e identificador cultural.

No aspecto normativo, a tradição é um sistema de normas que orienta a Ação

Social segundo o passado. De forma que as rotinas reproduzem a memória e a

memória produz as rotinas cotidianas. No aspecto legitimador, a tradição é também

ideologia que autoriza o exercício do poder. Thompson, nesse ponto, segue Weber, que

crê no declínio da legitimidade tradicional e o predomínio da legitimidade legal

(através de leis e regras) e da nova legitimidade carismática (através da personalidade

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e do magnetismo pessoal) gerada pela mídia. No aspecto hermenêutico, a tradição é

uma estrutura de interpretação. Assim, pode-se dizer que a ciência é uma tradição de

interpretar os acontecimentos como fatos objetivos. E no aspecto de identificador, a

tradição é ainda um fator de auto formação cultural de identidade coletiva e individual,

do ‘Self’ de um determinado grupo ou população. E a identidade de pertencimento

territorial, profissional e/ou religioso.

Segundo Thompson, a globalização acabou com os aspectos Normativo e

Legitimador das tradições, mas os aspectos Hermenêutico e Identificador Cultural

permanecem vivos na cultura moderna. (THOMPSON: 1998; p. 165) O poder simbólico

tradicional não normatiza mais o cotidiano nem legitima autoridades impostas pela

força, mas continua vivo como sistema de interpretação e formação cultural.

Thompson dá destaque, principalmente, à mudança do aspecto identificador e ao fato

de que a nova experiência do Eu (Self) em um mundo mediado apontar para uma nova

ancoragem das tradições e para a cidadania global. A comunicação mediada

globalizada torna o processo de auto formação dos indivíduos muito mais aberto e

reflexivo que na relação face a face. Por outro lado, ela não somente enriquece e

transforma o processo de formação do Self, mas também troca da experiência vivida

pela experiência mediada, gerando uma situação antes inexistente, um novo tipo de

relação carismática, a “intimidade não recíproca à distância” ou Imagem Pública.

6. Imagens e escândalos

‘Imagem Pública’ (ou imagem de marca) é o conceito utilizado para definir uma

representação social comum aos seus agentes e à sua audiência. Diferencia-se tanto da

‘imagem semiótica’ (uma foto, por exemplo) quanto da ‘imagem cognitiva’ (a

imaginação simbólica), embora guarde uma proximidade estreita com ambas.

A Imagem Pública tem um lado conceitual, proposto pelos agentes; um lado

simbólico em sua recepção; e um lado codificado em uma linguagem. Aliás, ela é

resultante de uma tripla representação: a representação do ator, a representação do

diretor (e da linguagem) e a representação do público.

No livro A mídia e a modernidade – uma teoria social da mídia (1998), John

Thompson para definir Imagem Pública ou ‘intimidade à distância não recíproca’ dá um

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exemplo curioso: uma senhora que tem fantasias sexuais com um astro do cinema

enquanto faz amor com seu marido. Ela se sente culpada, mas depois, entra um fã

clube, onde encontra mulheres com imaginações semelhantes. Para o autor, trata-se

de uma curiosidade (se apaixonar unilateralmente por um desconhecido), mas, para

nós, o curioso é que esse tipo de relação imaginária (hoje em dia muito comum, para

não dizer ‘normal’) não existia há cento e cinquenta anos. Há cento e cinquenta anos

também era bastante raro que individuo conhecesse cerca de cem pessoas. As pessoas

viviam suas vidas isoladas, conhecendo outras pessoas apenas presencialmente.

Em outro livro, O escândalo político: poder e visibilidade na era da mídia (2002),

Thompson advoga a tese de que as Imagens Públicas transitam sempre entre o público

e o privado. Apesar de classificar os tipos de escândalos pela transgressão-gatilho (de

abuso de poder, sexuais, financeiros), Thompson chama a atenção para o fato de que o

que realmente alimenta em longo prazo o escândalo midiático não é a gravidade da

transgressão principal que o gerou, mas sim “transgressões de segunda ordem”:

mentiras, desmentidos, ocultamentos. O que fomenta os escândalos durante mais

tempo é a tentativa dos agentes de manter invisível algo que se tornou público.

O escândalo é esse ‘desmascaramento’ dos agentes e de sua confiabilidade.

Enquanto se diz algo publicamente; dos fundos de sua vida privada emergem fatos,

pessoas, situações, que contradizem o que está sendo dito. A verdade aparece nas

costas dos agentes, desmentindo-os por de trás, no fundo que os enquadra. O efeito

das transgressões secundárias – as discrepâncias entre significado e significante da

imagem – tanto pode reforçar (por complementariedade entre figura e fundo) ou

destruir (por contradição entre o dito e o visto).

Nesse contexto, os escândalos têm se tornado um elemento central na forma

de se fazer política nas democracias modernas. É claro que sempre existiram

escândalos; mas, na contemporaneidade, eles se tornaram constantes e até mesmo

periódicos e obrigatórios. Mais do que eventos esporádicos e excepcionais, os

escândalos se tornaram uma constante da prática política em muitos países

Page 14: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

democráticos em que a mídia goza de liberdade investigativa, a ponto de vários autores

falarem da “cultura do escândalo” ou da “política de escândalos” permanentes. 3

O surgimento das imagens públicas passou a ter mais relevância do ponto de

vista artístico, desportivo e político do que do ponto de vista religioso, embora o

comportamento do fã da cultura de massas seja essencialmente o mesmo do fanático

religioso em um ambiente mediado.

Uma das características marcantes do regime de visibilidade da mídia é a

necessidade constante de produção de conteúdo. ‘Ficar e se manter em evidência’. E os

escândalos além de desmascarar a imagem dos poderosos, também criam e ampliam

Imagens Públicas. Modelos e atrizes que tem fotos comprometedoras roubadas por

hackers, bandidos que conquistam celebridade pelos seus crimes, atletas desleais,

injustiças, etc. Por mais tristes, desagradáveis ou cruéis sejam os acontecimentos, eles

celebram seus personagens; por mais reprováveis sejam as ações e que desabonem

política e moralmente seus agentes, elas ainda assim os popularizam. 4

Gomes (2006) estudou a Imagem Pública de Luís Inácio Lula da Silva nas

eleições de 1989, 2004, 2008 e 2002. O trabalho ressalta que as três primeiras

derrotas foram fundamentais para o candidato alcançar visibilidade nacional e,

modificando sua Imagem através de técnicas de marketing, ganhar a quarta eleição. 5

7. Metodologia tríplice

Thompson, no entanto, não considera a experiência mediada como sendo uma

interação (pois não tem reciprocidade) e estuda a Imagem Pública apenas na ótica da

3 SILVA (2013) apresenta um panorama da pesquisa sobre escândalo político no Brasil e no exteriorentre os anos de 1998 e 2008. No levantamento junto a bases internacionais, revistas e congressosnacionais de área, a pesquisadora identifica o crescente interesse que o tema desperta entrepesquisadores, especialmente da área da comunicação.

4 A Imagem Pública pode inclusive ser reforçada pela sua própria sombra. Os ‘defeitos’, erros ouquaisquer pontos negativos de alguém podem ser interpretados de modo favorável, dando ainda maisconfiabilidade ao agente da Imagem Pública. Assim, o ‘despreparado’ se torna ‘humilde em suaignorância’; o ‘arrogante’ vira ‘verdadeiro’; e o ‘autoritário’ é vendido como alguém que chama para sitoda responsabilidade, solitariamente, ‘isolado e incompreendido’.

5 Aliás, a Imagem Pública de Lula mereceria um estudo aparte no que diz respeito à habilidade doagente, tanto em reverter propaganda negativa dos inimigos eleitorais, quanto a se manter ‘blindada’em função dos escândalos, como o do ‘mensalão’, durante seus dois mandatos. Talvez porque a ImagemPública da Lula, vista como uma mediação de intimidade não recíproca à distância, seja um pouco maisíntima e um pouco menos não recíproca do que a maioria, dialogando publicamente com seus aspectosnegativos, falando com diferentes públicos segundo seus modos particulares.

Page 15: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

comunicação de massas. Para isso, ele prescreve uma metodologia hermenêutica não

como uma alternativa aos outros métodos de análise já existentes, mas sim como um

referencial metodológico geral, dentro do qual alguns desses métodos e técnicas

específicas podem ser correlacionados entre si.

Emissor Mensagem Receptor

OBJETOAnálise sócio-histórica da produção e transmissão

Análise Formal ou DiscursivaAnálise sócio-histórica da apropriação

METODOS

Situações espaço-temporais

Campos de interação

Instituições Sociais

Estrutura Social

Meios técnicos de transmissão

Análise semiótica

Análise de conversação

Análise sintática

Análise narrativa

Análise argumentativa

Interpretação das Mensagens

Mapa das diferentes interpretações

Re-interpretação da interpretação

RESULTADO Síntese Hermenêutica

Por entender que os processos de compreensão e de interpretação devem ser

vistos não como uma dimensão metodológica que exclua radicalmente uma análise

formal ou objetiva, mas antes como uma dimensão que está no início e no final do

conhecimento ao mesmo tempo, Thompson: a) parte da compreensão imediata que se

tem de uma determinada forma simbólica na vida cotidiana, b) analisa objetivamente

esta interpretação preliminar (consorciando vários métodos), e c) reinterpreta o

significado da forma simbólica. A esta metodologia geral de interpretação dos discursos

dos meios de comunicação, chama-se “enfoque tríplice”. (THOMPSON, 1995: 355)

Inicialmente (1995, 366), o objetivo da análise sócio histórica é reconstruir as

condições sociais e históricas de produção, circulação e difusão das formas simbólicas.

As maneiras como essas condições influenciam podem variar de acordo com a situação

e o objeto pesquisado. Thompson propõe alguns níveis de análise: as situações de

tempo/espaço em que as formas simbólicas são produzidas; os campos de interação

(face a face, interação mediada); as instituições sociais; a estrutura social (as classes

sociais, as relações entre gêneros e outros fatores sociais permanentes) e os meios

técnicos de transmissão de mensagens (a fixação material e a reprodução técnica dos

sinais). Em um segundo momento (1995: 369), toma-se a forma simbólica como um

texto, isto é, uma estrutura narrativa relativamente autônoma de sua produção e de

seu consumo. Neste sentido, a análise simbólica implica em uma abstração

metodológica das condições sociais e históricas de produção e recepção das formas

Page 16: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

simbólicas. Thompson adota vários métodos de análise discursiva: semiótica, sintática,

narrativa, argumentativa, etc.

Finalmente (1995: 375), na última fase de sua hermenêutica, Thompson leva

em conta a interpretação criativa do significado das formas simbólicas em diferentes

contextos de recepção, inclusive no próprio contexto do analista/enunciador da

interpretação. A análise dos diferentes contextos de recepção demonstra que por mais

rigorosos que sejam os métodos e técnicas, eles não podem abolir a liberdade de

interpretação dos públicos e das situações em que se encontram inseridos.

Aliás, temos, dentro da proposta do enfoque tríplice, uma síntese entre três

tipos de estudos distintos da área de comunicação:

a) A sociologia dos meios de comunicação (os estudos centrados no contexto detransmissão – seja na versão crítica que denuncia a indústria cultural ou nafuncionalista que enaltece a comunicação de massa);

b) a semiótica (e os vários tipos de estudos em torno da linguagem verbal e visual,retórica, filosofia analítica, analise discursiva e a própria hermenêutica);

c) e, finalmente, os diferentes tipos de estudos de recepção (pesquisas de opiniãoquantitativas e qualitativas, pesquisas de agendamento e de análise bibliográficaespecializada).

Thompson considera que em estudos midiáticos, ao contrário da hermenêutica

literária tradicional, a “autonomia semântica das mensagens” é secundária diante dos

contextos históricos de transmissão e recepção. E com essa ênfase sociológica nos

contextos históricos dos interlocutores, Thompson não está apenas ampliando o

alcance discursivo da hermenêutica, mas também adaptando a teoria da interpretação

para a comunicação de massas.

Com as redes sociais e digitais, no entanto, deixou-se de ter um único contexto

de transmissão e vários contextos de recepção para se tornar um conjunto de múltiplos

contextos mistos de transmissão/recepção dentro de um único contexto virtual em

regime de simultaneidade de tempo.

Hoje, estamos vivendo a desfragmentação da cultura de massas, promovida

pela segmentação e pela interatividade das Redes Digitais, e as questões em torno da

noção de Imagem Pública se tornaram ainda mais complexas, se multiplicando e

dividindo de diferentes modos, democratizando e pulverizando a visibilidade em

universos culturais variados e simultâneos.

Page 17: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

Com a segmentação, houve uma pulverização dos fluxos sociais e o surgimento

de ‘micro imagens públicas’: celebridades setoriais, tribais, transnacionais e até

celebridades locais virtuais. Houve uma democratização relativa da visibilidade. A

Imagem Pública pessoal das redes pode ser vista como uma miniatura da Imagem

Pública de massas. Há inclusive vários tipos de sobreposição entre as duas: escândalos

das grandes Imagens Públicas através das redes digitais, celebridades virtuais que

chegam à grande mídia, etc.

Com a interatividade, a intimidade à distância deixou de ser ‘não-reciproca’,

aumentou o retorno da audiência na construção da Imagem Pública e no

comportamento dos agentes. A visibilidade tornou-se uma relação pessoal de micro

poder. Em tempos de hipervisibilidade das redes, todos tem uma Imagem Pública, quer

queiram ou não, para zelar como patrimônio pessoal.

A popularidade, o carisma e o personalismo sempre existiram; porém no regime

de hipervisibilidade promovido pelas mídias esses elementos assumem um caráter

decisivo na vida social. A noção de Imagem Pública reúne, sintetiza e globaliza várias

categorias analógicas (reputação, prestigio, honra, status quo, etc.) que antes existiam

de forma fragmentada em diferentes graus, variando segundo a cultura de cada

sociedade. E com as redes digitais, essas imagens técnicas pessoais se miniaturizaram e

se multiplicaram em escala infinitesimal.

8. Inteligência coletiva

Para executar uma sinfonia musical com precisão e sensibilidade, uma

orquestra precisa que seus integrantes desenvolvam certas habilidades psicológicas e

competências subjetivas (além da excelência das qualidades técnicas e artísticas), tais

como: afinidade emocional, capacidade de sincronia intuitiva, criatividade coletiva,

improviso em conjunto, tolerância com erros secundários e gentileza nas correções

necessárias. Essas mesmas habilidades também são necessárias para a produção

colaborativa em rede de, por exemplo, narrativas audiovisuais, que envolvem vários

tipos de artistas e técnicos. Atualmente, cada vez mais ‘grupos’ estão se tornando

‘equipes’ nas mais diversas atividades profissionais, principalmente na área da

educação. A diferença entre o ‘grupo’ e a ‘equipe’ é que a última ultrapassa a soma das

habilidades de seus integrantes através da inteligência coletiva, da capacidade de

Page 18: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

interagir criativamente em conjunto. Imagine várias equipes espalhadas no espaço que

passam a se coordenar umas em relação às outras de forma descentralizada, sincrônica

e horizontal – sem uma hierarquia vertical que as centralize. Cada equipe local seria,

então, um integrante de uma equipe nacional ou internacional. O resultado desta

interação participativa entre cada um e o conjunto é a ‘Inteligência Coletiva’.

Para Pierre Levy (2007), principal elaborador do conceito, a inteligência coletiva

é um conceito que descreve um tipo de inteligência compartilhada que surge da

colaboração de muitos indivíduos em suas diversidades. É uma inteligência distribuída

por toda parte. A internet é uma forma de inteligência coletiva, resultante de um

processo social de inteligência coletiva, que, por sua vez, abriga vários outros projetos

de inteligência coletiva dentro de si (como o movimento de softwares livres). Na

verdade, a internet não é a ‘causa’ das mudanças sociais de comportamento, ela é o

produto e a ferramenta da inteligência coletiva para sua ampliação exponencial e a

configuração de uma inteligência global.

Segundo Levy, a oralidade anterior à escrita é baseada no modelo de interação

presencial 'um-um'; a comunicação através da escrita e dos meios de comunicação de

massa corresponde à interação 'um-muitos' (um contexto de emissão e vários

recepção); e a inteligência coletiva é resultante de uma novo modelo de interação

social: a relação 'muitos-muitos'. Levy acredita que a internet e as novas formas de

interatividade nos levarão de volta à democracia participativa e ao voto direto: a

tecnodemocracia ou ecologia cognitiva. Segundo Levy, ecologia e solidariedade passam

mais por um redimensionamento das desigualdades cognitivas que de uma

redistribuição material das riquezas ou de uma reorganização política das relações de

força.

A principal diferença entre as propostas de Thompson e Levy é a questão da

legitimidade dos mecanismos de representação do poder na cultura atual. Thompson

acredita na racionalização dos interesses sociais através de uma mídia democrática;

Levy deseja, a partir do controle social através da informação, reorganizar as relações

sociais em uma nova organização do tempo social e um novo regime visual de

simultaneidade: a inteligência coletiva.

Page 19: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

Para Thompson, no entanto, a comunicação mediada é uma 'quase-interação'.

Ele não desconhece a ideia de que a Internet permite uma interação múltipla face-a-

face, mas não vê este modelo como um paradigma cultural estruturante das relações

sociais nas sociedades em rede e considera o retorno à democracia direta participativa

uma ilusão 'plesbicitária' e não uma ameaça real à democracia representativa.

SOCIABILIDADE ORGANIZAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

Anomia (Caos social) Consciência Coletiva < Consciência Individual

Solidariedade Mecânica Consciência Coletiva > Consciência Individual

Solidariedade Orgânica Consciência Coletiva = Consciência Individual

Inteligência Coletiva Consciência Coletiva + Consciência Individual

Para Durkheim, nas sociedades primitivas a consciência coletiva predominava

sobre a individual e a solidariedade entre seus integrantes é mecânica.

Imagine-se, por exemplo, em um jogo de futebol em que todos os jogadores de

cada time atacam e defendem em bando sem nenhuma preocupação tática com as po-

sições. Há uma completa desorganização, em que cada um tenta sozinho, através de

sua técnica pessoal, ganhar o jogo. Teríamos aqui uma situação de anomia ou caos.

No entanto, se o esquema tático do time tolher as habilidades pessoais, com

cada jogador preso a uma posição e com jogadas sempre previsíveis baseadas no de-

sempenho físico, estaríamos em uma situação de solidariedade mecânica.

Nesta lógica, a solidariedade orgânica será aquela em que as duas formas de

consciência – a individual e a coletiva – se mantiverem equilibradas, ou seja, que cada

jogador dessa partida imaginária tiver uma visão de conjunto e alguma liberdade tática

de movimento. A noção de Inteligência Coletiva representa um nível de organização

mais aperfeiçoado do que a solidariedade orgânica porque ao invés de um equilíbrio

entre formas de consciência concorrentes entre o todo e as partes, ela representa a in-

teração em uma única consciência que, além de ser coletiva e individual simultanea-

mente, é também espontânea e intuitiva.

Page 20: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

Em relação ao nosso jogo de futebol, é quando o futebol deixa de ser técnico e

tático, para ser artístico; quando sem nenhum planejamento anterior, armam-se tabe-

las de passes imprevisíveis e as jogadas acontecem como “se fossem por mágica”. E

essa sinergia, descentralizada e sincrônica, é a inteligência coletiva.

Segundo o professor Henry Jenkins (2008), a inteligência coletiva não é mera-

mente uma redistribuição quantitativa das informações de todas as culturas. Ela deve

ser sobretudo qualitativa, no sentido de inventar e formar novas competências para

própria rede. A Internet não é a ‘causa’ das mudanças sociais de comportamento, ela é

o produto e a ferramenta da inteligência coletiva para sua ampliação exponencial e a

configuração de uma inteligência global.

Vários autores utilizam o termo ‘inteligência coletiva’ para designar fenômenos

específicos diferentes6. Outros pensadores generalizam bastante o conceito, retirando-

o do contexto contemporâneo7.

Segundo Jenkins, a Inteligência Coletiva, como advento histórico das sociedades

mediadas, interdepende de dois outros acontecimentos importantes: a cultura partici-

pativa (a segmentação interativa da mídia) e a convergência corporativa e tecnológica

da mídia em escala planetária. A cultura participativa se refere ao fato da audiência mi-

diática ter se tornado integrante ativa do processo comunicacional e a inteligência cole-

tiva à nova sinergia social resultante (a transmediação) da convergência midiática e da

cultura participativa.

Por um lado, com a desmassificação da comunicação, as pessoas querem cada

vez mais interferir, opinar, participar; por outro, há também uma concentração de re-

cursos tecnológicos e financeiros convergindo no sentido de produzir uma sociabilida-

de grupal mais inteligente. Para Jenkins, a inteligência coletiva é definida por esses dois

parâmetros.

6 Tais como a colaboração involuntária através de dados em site LinkedIn, uma rede de integraçãoprofissional que sugere parcerias e negócios; ou o PageRank do Google, um algoritmo que atribuipopularidade a links (endereços eletrônicos) segundo seu acesso diário, citação por outros links e outroscritérios.

7 Howard Bloom (1995), por exemplo, tem discutido a possibilidade de inteligência coletiva do nível dafísica quântica (comportamento coletivo das partículas subatômicas) ao nível da evolução biológica dasespécies (comportamento coletivo das bactérias, plantas, animais e sociedades humanas).

Page 21: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

As redes sociais são formadas por unidades autônomas interligadas em arranjos

temporários (unidades globais e locais ao mesmo tempo, dotados de inteligência

coletiva, isto é, da capacidade de agir simultaneamente em conjunto sem hierarquia

vertical). E essa sinergia entre os grupos e pessoas, descentralizada e sincrônica, é a

inteligência coletiva.

9. Movimentos sociais e Redes Digitais

Diferencie-se aqui a noção de ‘Rede Social’, referente à ação comum, sincrônica

e descentralizada de agentes semelhantes não presenciais durante algum tempo (rede

de apoio ao Tibete e ao Dalai Lama – por exemplo); da noção de ‘Redes Digital’, que

correspondem às redes intercomunicação dentro e fora da internet (incluindo os sites

de serviço de compartilhamento de arquivos e mensagens, como o Facebook). As

Redes Sociais, assim, são anteriores, em todos os sentidos, às Redes Digitais.

Muitas vezes, no entanto, essas definições se confundem. Pois, se o

acontecimento é realizado por uma Rede Social, a representação do acontecimento

pela Rede Digital é quem o torna visível; e se foram as necessidades sociais de

comunicação dos grupos que geraram as Redes Digitais, essas estão potencializando a

organização da toda sociedade em Redes Sociais.

Recentemente, o sociólogo Manuel Castells (2013) estudou vários movimentos

sociais organizados através da internet a partir de 2010 (Tunísia, Islândia, a revolução

egípcia, os indignados da Espanha, o Occupy Wall Street em Nova York e os protestos

de junho de 2013 no Brasil) e identificou vários aspectos em comum - o caráter

espontâneo, pluralista, apartidário e heterogêneo das manifestações - formando ‘um

padrão rizomático emergente’, uma ‘cultura da autonomia’. Os movimentos descritos

por Castells foram populares, dirigidos por si mesmos, organizados autonomamente

pela internet por ativistas sem militância, sem direção única ou coordenação

centralizada, sem o controle de organizações políticas ou entidades civis, nem o apoio

dos meios de comunicação tradicionais. Foram movimentos pluralistas e heterogêneos,

com motivações, bandeiras e palavras de ordem as mais variadas e até contraditórias.

O sentido mais geral das manifestações coloca em xeque a própria estrutura do sistema

de representação política. Algumas foram contra o que o parlamento e os partidos

representam, mas sem intenção de substituí-los ou extingui-los.

Page 22: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

Castells se tornou internacionalmente conhecido devido sua trilogia A

Sociedade em Rede (1999), em que analisa as mudanças contemporâneas em um tripé:

a nova economia-política (as relações sociais de produção se desindustrializam e

passam a se organizar em redes de unidades autônomas); nova relação de tempo-

espaço em função da linguagem da mídia; e as novas 'relações de experiência' nas

vidas pessoais, no cotidiano.

No primeiro livro da trilogia, Castells faz uma homenagem a McLuhan como

pioneiro no entendimento das mudanças de percepção instituídas pela televisão (e

multiplicadas pelo computador), mas também o relativiza, uma vez que ele leva em

conta apenas um terço dos fatores estruturais que estão modificando a sociedade,

sendo preciso ainda avaliar as transformações existentes no mundo do trabalho e das

relações de gênero.

Quinze anos depois (e não por acaso os quinze anos em que a internet se

desenvolveu e se estabeleceu) pode-se dizer o modelo de organização em rede foi do

mercado corporativo à sociedade civil organizada, chegando agora à esfera pública da

política. Redes de indignação e esperança (2013) é um livro que aponta para falência

da organização política tradicional dos partidos e dos parlamentos atuais.

E, principalmente, esbouça uma nova concepção de liberdade e de igualdade,

própria da democracia inerente a esses novos movimentos sociais em rede.

10.Conclusão

Que lições se pode tirar da leitura desses autores? Será que a sociedade em

rede colocará fim à democracia mediada? Ou a tornará mais interativa? E o mais

importante: o que aprendemos com a democracia das Redes Sociais?

Somos iguais por dentro e diferentes por fora? Os homens são objetivamente

diferentes uns dos outros, mas todos são subjetivamente semelhantes. Ou seria o

contrário: os homens são iguais (ou biologicamente equivalentes) enquanto seres e

variados do ponto de vista psicológico. Não importa. Em ambos os casos, somos todos

especiais. Não apenas iguais ou diferentes. Somos semelhantes e diferenciados - tanto

cultural como geneticamente.

Page 23: Apogeu e Queda Da Democracia Mediada

E uma segunda conclusão derivada desta primeira é que precisamos criar um

mínimo de regras que garantam liberdade e igualdade, a todos e a cada um, segundo

seu esforço e capacidade, tanto do ponto de vista quantitativo como no aspecto

qualitativo. Não basta que se garantam direitos “iguais” a todos, é preciso também

tratar todos como “pessoas especiais”. O ‘Paradoxo da Democracia’ de Giddens

(segundo o qual quanto mais se individualizam, menos as pessoas participam); exclui a

solidariedade fraterna e a cooperação livre entre iguais como fundamento da

sociabilidade. Pois é não é apenas na diversidade e na autonomia das relações entre os

grupos sociais e os indivíduos que repousa hoje a possibilidade de uma democracia

cada vez mais múltipla, complexa e produtora de singularidades. É, sobretudo, na

compreensão e na reciprocidade que podemos construir a nova sociabilidade

democrática das redes.

Bibliografia

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